crenças e religiões - cap. 6 - livro

Upload: leonardo-chagas

Post on 11-Jul-2015

92 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

FONTE: AMORIN, Cleyde R; SILVA, Eronildo J. Crenas e Religies in Valria Soares de Assis. (Org.) Antropologia, cultura e educao. Editora EDUEM, Maring-PR, 2009, p.105-138. CAPTULO 6 CRENAS E RELIGIES Cleyde Rodrigues Amorim e Eronildo Jos Silva O Sagrado, o Pensamento Religioso A busca de respostas para o inexplicvel a partir de um pensamento simblico e religioso pode ter origem nos primeiros humanos. Pesquisas arqueolgicas levantam a hiptese de que nossos ancestrais da pr-histria j estariam representando smbolos religiosos em suas pinturas rupestres (em cavernas e rochas), datando de, pelo menos, 10.000 anos a.C. Apesar de no se saber ao certo quando surgiu o pensamento simblico e religioso, a concepo da existncia do sagrado acompanha a condio humana desce muito cedo. Por que? Porque ns somos animais com conscincia da transitoriedade por este mundo, o que, aliado capacidade de simbolizao e inteligncia humana, nos faz procurar por alternativas precariedade de nossa condio fsica e emocional, diante dos desafios a que somos submetidos. Temos a capacidade de produzir smbolos, representaes, a partir da realidade vivida ou imaginada. Se na pr-histria os desafios eram mais materiais e vinculados sobrevivncia fsica (obteno de alimentos, proteo contra outros animais e contra as intempries da natureza), hoje, apesar do desenvolvimento tecnolgico, enfrentamos desafios tambm difceis e as angstias humanas no cessaram, por isso continuamos produzindo respostas a elas. Segundo um dos primeiros estudiosos sobre religies, mile Durkheim (1989), no h religies que sejam falsas. Todas so verdadeiras sua maneira: todas respondem, ainda que de maneiras diferentes, a determinadas condies da vida humana. (idem, idem: 31). Por isso, todas so comparveis. Assim, os sistemas de crenas e dos cultos apresentam representaes fundamentais e atitudes rituais que, apesar da diversidade, caminham para o mesmo significado objetivo, e exercem as mesmas funes, e so estes elementos que constituem o que existe de permanente na religio (idem, idem: 33). Assim este autor demonstra que os principais sistemas de representaes que o homem produziu do mundo e de si mesmo, como as noes de tempo, espao, de gnero, de nmero, de causa, de substncia, de personalidade, etc. so de origem religiosa. Na Antiguidade, as religies assumiam papis importantes, regulando condutas, tica e moral, legislando, educando, ou seja, cumprindo funes de diferentes instituies que temos hoje. Para se pensar sobre as religies necessrio ter em mente que elas se estruturam sobre um pensamento religioso, sobre smbolos sagrados e se efetivam atravs de rituais religiosos. Para que o pensamento sagrado se transforme em ao necessrio que siga uma srie de procedimentos mgicos por meio dos quais se acredita operar a alterao da realidade, do imediatamente visvel, no plano simblico. Estes procedimentos so os rituais que podem contar com diversos elementos: a expresso verbal (pronunciar palavras, o canto de hinos, mantras), a expresso corporal (gestos, imposio de mos, danas e performances), a

manipulao e/ou ingesto de lquidos (gua, vinho, poes com ervas), alimentos e outros elementos a que se atribui uma fora, uma energia, um poder que est, naquele momento acompanhando tais elementos ou a essncia deles (a fora vital, o ax, o mana). O que transforma todos esses elementos e procedimentos em sagrados o pensamento sagrado, expresso pela f, pela crena. Tal pensamento simblico tambm envolve a sacralizao e profanizao de lugares reais (cu, matas, rios) ou imaginrios (cu, inferno, den, etc). Os lugares imaginrios partem em geral de concepes mitolgicas, envolvendo noes e conceitos fundamentais para as crenas religiosas. Os lugares reais onde as aes religiosas se desenvolvem tambm tm uma forte dimenso simblica, e por serem considerados ideais ou ritualmente preparados para esse fim que tornaram-se sagrados. o caso dos locais de culto, onde so feitas as atividades religiosas, os rituais (templos e outros lugares onde se processam os ritos). Os rituais religiosos envolvem a magia, presente em todas as religies. atravs da magia que determinados elementos e objetos adquirem carter sagrado ou tornam-se sagrados (imagens, mantos, alimentos, bebidas e outros) fazendo com que sejam sempre necessrios ao ritual. Para Durkheim, as representaes religiosas so representaes coletivas que exprimem realidades coletivas; os ritos so maneiras de agir que surgem unicamente no seio de grupos reunidos que se destinam a suscitar, a manter, ou a refazer certos estados mentais desses grupos (idem:38). Por que saber sobre religies? Alm das questes colocadas acima, ou seja, da importncia do pensamento religioso para entender como a humanidade pensa e se organiza, sabido que cerca de 85% dos conflitos e guerras que acontecem no mundo so motivados por razes tnicas e/ou religiosas. Sabemos tambm que a intolerncia se alimenta da ignorncia e do etnocentrismo. Para tentar minimizar esta questo segue uma apresentao breve, iniciando pelas primeiras religies conhecidas, seguindo-se pelas grandes religies que se espalharam e pelo planeta e das quais derivaram-se muitas outras. O TOTEMISMO, O ANIMISMO E O XAMANISMO As primeiras formas religiosas estudadas so o totemismo, o animismo e o xamanismo. Em termos gerais, o totemismo parte da crena na existncia de um relaes particulares, vnculo de afinidade, ancestralidade ou parentesco de um grupo de pessoas, de uma tribo ou cl com uma espcie determinada de coisas materiais os totens. Os totens podem ser animais, elementos da natureza ou objetos criados para representar esses elementos. a crena na existncia do sagrado que faz com que o grupo atribua foras mgicas e sobrenaturais ao totem e tambm crie tabus quanto sua ingesto (no caso de animais e plantas), manipulao (criando a proibio de aes e usos), e contaminao (distinguindo o estado de pureza e agindo contra a impureza por meio de rituais de purificao). Segundo Durkheim, O animismo tem por objeto os seres espirituais, os espritos, almas, gnios, demnios, divindades, agentes animados e conscientes como o homem, mas que se distinguem dele pela natureza dos poderes

que lhe so atribudos e pela caracterstica particular de no afetar os sentidos da mesma maneira: normalmente so perceptveis ao olho humano (idem, idem: 80). No se sabe ao certo se o animismo seria a religio mais primitiva, ou se ela teria derivado do culto da natureza (naturismo). Ambas estariam na base do que hoje se conhece como Xamanismo que se configura como prtica religiosa envolvendo a magia, a cura, e a relao com seres mticos e sobrenaturais, representados por espritos ou almas. Por apresentar semelhanas com as prticas religiosas dos indgenas brasileiros, o Xamanismo frequentemente associado pajelana, pois ambos se realizam a partir da presena de um sacerdote incumbido de realizar curas e males fsicos ou de outras origens - o Xam e o Paj. Estima-se que existiam Brasil, at da chegada dos colonizadores europeus, cerca de cinco milhes de indgenas. E, do que se pode investigar sobre suas religies, h algumas caractersticas gerais que seriam mais freqentes, como o culto natureza deificada, a existncia do paj com poder de cura e acesso ao mundo dos mortos, a antropofagia e o uso de adornos, instrumentos mgicos e fumaa, com funo ritualstica. Acredita-se que mesmo convertidos, os ndios no abandonaram suas crenas, o que fez com que a converso tolerasse ou mesmo incorporasse elementos das religiosidades indgenas, fazendo surgir manifestaes religiosas como a santidade, no sc. XVI. Na Pajelana, o sacerdote se utiliza de diversos elementos para as prticas mgicas e teraputicas: instrumentos musicais (marac, zunidores) para captura e afastamento de espritos malignos, tabus e restries sociais e alimentares, alm de uma srie de prticas teraputicas que incluem: o uso do tabaco (cachimbos) e outras plantas psicoativas, fumaa/ defumao, manipulao do corpo do doente com a imposio de mos, frices, extrao da doena por suco/ vmito, escarificao no corpo do doente com dentes de animais ou fragmentos de cristais. Atualmente, mesmo entre tribos que j tem bastante contato com os no-ndios, sobrevivem as prticas religiosas tradicionais que, em muitos casos associam elementos, religiosos ou no, de outros grupos com os quais convivem (medicamentos e outros processos de cura). AS RELIGIES MAIS CONHECIDAS NO MUNDO ISLAMISMO O Islamismo uma das grandes religies do mundo atual, foi fundada por Mohammad (Maom) no sculo VII d.C. Os adeptos da religio Islmica so chamados de Muulmanos os quais acreditam que s existe um nico deus que Allah, e Mohammad seu profeta. A palavra Islamismo procede de Isl, que significa submisso a Deus; a expresso Muslin (muulmano) designa o crente ou fiel, ou seja, aquele que submete (a Deus). Mohammad nasceu na cidade de Meca no ano de 570. Filho de uma famlia de comerciantes passou parte da juventude viajando e conhecendo diferentes culturas e religies. Com 25 anos casa-se com a viva que o havia contratado para conduzir suas caravanas. Com o casamento Mohammad ganhou prestgio e riqueza dando-lhe tranqilidade material. Mesmo desenvolvendo as atividades profissionais paralelamente comeou a fazer retiros espirituais sendo que em um

deles aos 40 anos de idade recebe a visita do anjo Gabriel que lhe transmitiu a existncia de um nico Deus e os princpios bsicos da religio Islmica. Mohammaad tinha que guardar na memria as orientaes divinas, pois no sabia ler nem escrever. Valer lembrar que o analfabetismo abrangia quase a totalidade da populao (SOUZA, 2001:54). A partir da revelao, comea sua fase de pregao da doutrina monotesta, na cidade de Meca, local controlado pela tribo Coraixita a qual era guardi da Caaba (local onde est a pedra que Allah enviou do cu), porm encontra grande resistncia e oposio dos comerciantes, pois as tribos rabes adeptos da religio politesta, adoravam vrios deuses tribais e a cidade de Meca era um centro de homenagem a esses deuses com um grande fluxo de pessoas. Em Meca os comerciantes aproveitavam este fluxo para comprar e vender e, portanto no aceitavam a pregao de Mohammad que os deuses eram falsos dolos e que s existia um nico Deus. No ano de 622 em funo das perseguies teve que emigrar para a cidade de Yatrib. Nessa cidade Mohammad consegue apoio em funo das tribos serem rivais dos Coraixitas. Este acontecimento conhecido como Hgira e marca o incio do calendrio muulmano. Em Yatrib a religio muulmana se consolidou e a cidade passou a se chamar Medina (cidade do profeta). Nessa poca pregava que o islamismo deveria triunfar por meio da Guerra Santa (Djihad) e foi assim que no de 630 Mohammad atacou e conquistou a cidade de Meca. Aps a conquista ordenou a destruio de todos os dolos da antiga religio politesta, preservando apenas a Caaba. A guerra no um objeto do Islo, nem a aco normal dos muulmanos. s uma soluo ltima, utilizada nas circunstncias mais extraordinrias, quando todas as outras medidas fracassam. Este o verdadeiro estatuto da guerra no Iso. O Islo a religio da paz: o seu significado paz; um dos nomes de Deus paz; a saudao diria dos muulmanos paz; o paraso a casa da paz; o adjetivo quer dizer . A paz natureza, o significado, o estandarte e o objetivo do Islo. (ABDALATI, 1989:229) A religio Islmica criada no sculo VII teve um papel fundamental, pois representa a unio poltica e a criao do mundo rabe onde todas as tribos se uniram em torno de um ideal comum, a religio. Aps a morte de Mohammad, dois grupos se formaram no Oriente Mdio: os xiitas e o sunitas. So chamados de xiitas aqueles que seguem o Alcoro ao p da letra, so mais rigorosos e defendem uma forma governo extremamente rgida enquanto os sunitas alm do alcoro seguem tambm o Sunna, livro em que esto registrados as idias e atos do profeta sendo mais moderados e flexveis. Os Sunitas eram partidrios de um chefe de Estado eleito pelos crentes e sustentavam que o Sunna, livro dos ditos e atos de Maom, era uma importante fonte de verdade para o islamismo. Os xiitas, por sua vez, defendiam um ideal absolutista de Estado, tendo como chefe religioso e poltico um descendente do Profeta, s admitindo o Coro como fonte de ensinamentos. (VICENTINO,1997:120-121) O livro sagrado para os muulmanos o Alcoro ou Coro, livro que rene as revelaes que Mohammad recebeu do anjo Gabriel.

O Alcoro tambm registra tradies religiosas, passagens do Antigo Testamento judaico e cristo. Os muulmanos acreditam na vida aps a morte e no Juzo Final, com a ressurreio de todos os mortos. A outra fonte religiosa dos muulmanos a Suna que rene os dizeres e feitos do profeta. Os preceitos religiosos que todo mulumanos deve praticar so: crer em Al como seu nico Deus e Mohammad como mensageiro de Deus; fazer cinco oraes dirias curvado em direo a Meca; pagar o zakat (contribuio para ajudar os pobres); fazer jejum no ms de Ramad (nono ms do calendrio muulmano) e peregrinar para Meca pelo menos uma vez na vida. Deus prescreveu estas prticas de maneira a servirem os fins espirituais e satisfazerem as necessidades. Algumas destas prticas devem fazer-se diariamente; outras, uma vez por semana; outras so anuais; e outras exigem-se pelo menos uma vez na vida. Portanto, elas abrangem todos os dias da semana, todas as semanas do ms, todos os meses do ano e todos os anos da vida e, o que mais importante, marcam a vida de cada ser com um toque divino, se ele cumpre o que Deus prescreveu. (ABDALATI, 1989:93) JUDASMO Na antiguidade ocidental a maioria das manifestaes religiosas eram politestas (existncia de vrios deuses). A primeira religio considerada monotesta (existncia de apenas um Deus) o judasmo. De acordo com o judasmo o povo Hebreu foi escolhido por Deus prometendo-lhes a terra prometida. Atualmente a f judaica praticada em vrias regies do mundo, porm no estado de Israel que se concentra um grande nmero de praticantes. Os livros sagrados para os judeus so chamados de Tanach (Bblia judaica) registram a histrias do povo Judeu (parte esta no Antigo Testamento). Nestes livros esto a criao do mundo (Gnesis), o xodo, a formao do Reino de Jud, sua diviso, as sucessivas ocupaes, a expulso da Palestina entre outras informaes. (CISALPINO, 1994:52) O Tanach composto pela Tora (leis), Neviim (profetas), Ktuvim (escritos: Salmos, Provrbios e o Livro de J), as cinco Meguilot (Cnticos dos Cnticos, Ruth, Lamentaes, Eclesiastes, Ester) e os Livros histricos (Daniel, Esdras, Neemias, Crnicas I e II). Alm do Tanach existe o Talmude, livro que rene muitas tradies orais e dividido em quatro livros: Mishnah, Targumin, Midrashim e Comentrios. Neles esto contidos as regras bsicas e as orientaes aos fiis sobre higiene e limpeza, casamento, contribuies financeiras, sacrifcio de animais, alimentao e festividades. Os cultos judaicos so realizados num templo chamado de sinagoga e so comandados por um sacerdote conhecido por rabino. Nas sinagogas, existe uma arca, que representa a ligao entre Deus e o povo Judeu. Nesta arca so guardados os pergaminhos sagrados da Tor. Os homens judeus usam a kippa, pequena touca, que representa o respeito a Deus no momento das oraes. A histria do povo Hebreu datada de 1.800 a.C. quando Abrao recebe um sinal de Deus para abandonar o politesmo e adotar o monotesmo e determina que eles devam partir em busca da terra prometida chamada Cana (atual Palestina).

O episdio da sada das tribos hebraicas do Vale Ur em busca da Terra Prometida inaugura, por assim dizer, o fenmeno da unio de povos pela fora em um deus nico. A afirmao de que todas as tribos hebraicas, que viviam de forma bastante autnoma at ento, deveriam unir-se e empreender uma longa jornada em nome da vontade de Deus , sem dvida, um momento marcante do monotesmo. (CISALPINO, 1994:51) Segundo a histria Isac, filho de Abrao tem filho chamado Jac que por ordem de Deus muda seu nome para Israel. Jac (Israel) teve 12 filhos e dos quais daro origem as 12 tribos que vo formar o povo Judeu. Por volta de 1.700 o povo Judeu migra da Palestina para o Egito. Em sua estada no Egito so escravizados pelos faras. A escravido dura aproximadamente 400 anos quando Moises comanda a fuga (xodo) do povo Hebreu para a atual Palestina. O perodo de retorno dura 40 anos e durante este perodo que Moises recebe a revelao dos 10 mandamentos. O judasmo comea com Abro que parte de Ur da Caldia, na Babilnia, para Cana e depois para o Egito, por volta de 1700 a.C. So tidos como patriarcas Abrao e Isaac e Jac. Jac estabeleceu-se no Egito e seu filho Jos se torna primeiro ministro do Fara. Mais tarde, oprimidos, constrangidos ao penoso trabalho de fabricar tijolos para construes reais, os israelitas fugiram, guiados por um deles, Moiss. Penetram no deserto onde viveram 40 anos. Chegados ao Sinai Moiss recebeu de Deus a Lei, o Declogo. (WILGES, 1982:52) Ao se fixaram na Palestina aps o xodo, os Hebreus alteram a sua forma de organizao nmade para uma fixa e coletivista. Em funo das conseqentes disputas com outros povos (cananeus, moabitas, meianitas, amalicitas, amonitas) que j habitavam o local os Hebreus necessitam de chefes com capacidade de unir o povo em torno de um objetivo comum. Esses chefes eram chamados de juzes os quais eram escolhidos pelo seu prestigio no campo militar, poltico e religioso. (NADAI, 1987:60) Com a chegada dos filisteus na Palestina uma nova forma de organizao foi adotada para combater o invasor. Implantou-se uma monarquia que possibilitasse a unio das 12 tribos que na verdade era a unio territorial. O primeiro Rei foi Saul, no entanto quem fez a monarquia se tornar unitria de fato foi Davi. Davi foi responsvel por conquistar o territrio palestino organizando um exercito permanente, constitudo por mercenrios. Tornou Jerusalm a capital e organizou a administrao. (NADAI, 1987, 61) Seu sucessor foi Salomo. No reinado de Salomo foi um perodo de ambulante riqueza, principalmente na capital. Com a sua morte encerrou a monarquia unitria e o reino foi dividido em dois: Reino de Jud e Israel. Comea uma longa histria de enfraquecimento poltico. Ao longo dos sculos os Hebreus foram dominados por vrios povos assrios, egpcios, babilnios, persas, macednios, selucidas e finalmente pelos romanos. A primeira dispora judaica ocorre com a invaso babilnica em 721. O imperador babilnico destri o templo de Jerusalm e deporta grande parte da populao judaica. A segunda dispora ocorre no sculo II d.C. com os romanos que destrem a cidade e provocam a sada dos judeus para diversas partes do planeta. Embora estando espalhados pelo mundo os Judeus preservaram a sua cultura e religio e em 1948, o povo Judeu retoma o carter de unidade aps a criao do estado de Israel. CRISTIANISMO

O cristianismo nasceu na Palestina, que fica no Oriente Mdio correspondendo hoje ao Estado de Israel. Nessa regio vivia o povo Judeu (Hebreu) e era dominada pelos romanos. A raiz do cristianismo est alicerada no judasmo, por isso comum se falar em religio judaico-crist. De acordo com a religio judaica e as profecias, nasceria um descendente do Rei Davi o qual seria o Messias libertador e restaurador do Reino de Israel. Foram muitos que declararam ser o Messias, mas s um conseguiu provocar um impacto histrico e cultural no ano I, Jesus Cristo. O Cristianismo surgiu no sculo I da Era Crist, com Jesus e um grupo de pessoas, na maioria judeus da Galilia (Norte de Israel). Eles seguiam a Jesus e ele lhes ensinava a lei do amor e a Boa Nova (o anncio da salvao). Surgiu, assim, como um movimento de pobres, como uma associao de pessoas humildes (os apstolos e os discpulos) que proclamavam Jesus como o verdadeiro Messias prometido no Antigo Testamento. O Cristianismo, destarte, religio fundada em Jesus Cristo, sob as bases do judasmo, e bastante preocupada em realizar a fraternidade entre as pessoas. (SOUZA,2001:47) Acredita-se que Jesus Cristo nasceu numa famlia judaica e pobre. Seu pai, Jos, era carpinteiro. Durante a sua vida, Jesus viveu sempre em companhia de pessoas pobres, no discriminava ningum, nem ladres, pessoas com doenas contagiosas (lepra) ou mesmo as prostitutas. Sobre a juventude de Jesus nada se sabe, o que se tem informao que com 30 anos de idade ele iniciou as suas pregaes na Palestina. Anunciava que era o Messias to esperado pelos Judeus. As suas mensagens no eram apenas destinadas ao povo judeu, mas a todos os homens de f e boa vontade. Pregava que seu reino no era o da terra, mas o do cu, em funo de ser filho de Deus. Seus ensinamentos agradavam as pessoas excludas e oprimidas, o que gerava irritao a muitas pessoas poderosas que controlavam o poder local, principalmente as autoridades judaicas que o consideravam um apstata (abandono da f uma igreja). A mensagem de Jesus quebrava a essncia do Imprio Romano ao separar a f e o Estado na frase A Csar o que de Csar e a Deus o que de Deus. No podemos afirmar que os cristos constituam um perigo para o Estado, no entanto podemos dizer que introduziam uma nova viso da poltica, que deveria aparecer como subersiva s autoridades imperiais. (MELO&PIRATELI, 2006:38) Tendo uma grande rejeio das autoridades, Jesus Cristo, foi trado por um de seus apstolos, conhecido como Judas. Foi preso e condenado morte por crucificao por volta no ano 30 ou 32 da nossa era. Seus seguidores enfrentaram dura oposio poltico-religiosa, tendo sido perseguidos e martirizados, pelos lderes religiosos judeus, e, principalmente, pelo Estado Romano. O cristianismo manifestava, em sua viso de mundo, dois elementos que o distanciava do mundo cultural romano. O primeiro trata-se de uma distino entre religio e poltica, ou seja: no reconhecia o imperador como chefe supremo da religio (a autoridade civil perdia a sacralidade que lhe dava plenos poderes nos campos religioso e poltico). O segundo refere-se reinvindicao da liberdade de conscincia no relacionamento com Deus. Os cristo foram os primeiros a defenbder a liberdade de concincias e a laicidade do Estado ( a recusa de culturar o imperador era apenas consequncia de uma questo mais ampla). MELO&PIRATELI, 2006:38)

Os princpios bsicos do Cristianismo so: crena em um nico Deus (monotesmo), igualdade de todos perante Deus (carter universal), amor ao prximo, crena da ressurreio dos corpos e no julgamento final e a certeza da salvao para todos aqueles que cumprirem os mandamentos da f. A histria de Jesus e a sua doutrina ento contida no livro chamado Novo Testamento distribudo em quatro evangelhos (Lucas, Marcos, Mateus e Joo), os quais foram escritos entre os anos 70 e 90. Todas as informaes contidas nestes evangelhos foram recolhidas das tradies transmitidas oralmente pelas primeiras comunidades crists. Os principais divulgadores da doutrina crist aps a morte de Jesus Cristo foram os apstolos em funo de serem as principais testemunhas da vida de Jesus e seus ensinamentos e partiram para pregar a nova mensagem circunscrita inicialmente apenas para o povo Judeu. No entanto a expanso do cristianimo fora do mundo Judeu deve ser creditada a Paulo de Tarso. Tarso nasceu no inicio do sculo I e quando se encontrava em misso anticrist, Cristo apareceu-lhe no caminho de Damasco. Aps este encontro se converteu e tornou-se o apstolo dos gentios, empreendendo longas viagens pela sia Menor, Chipre, Grcia, Macedonia e Roma. Morreu mrtir entre 62 e 64. Sua cartas representam o documento mais antigo e mais importante da igreja primitiva, refletindo as crises do cristianismo nascente. (NADAI, 1987:163) Com isto a doutrina crist espalhou rapidamente pela sia, Europa e frica, principalmente entre a populao mais simples e carente, pois eram mensagens de paz, amor e respeito. A religio fez tantos seguidores que no ano de 313, da nossa era, o imperador Constantino concedeu liberdade de culto. No ano de 392, o cristianismo transformado na religio oficial do Imprio Romano. A Bblia o livro sagrado para os cristos e est divida em duas partes; Antigo e novo testamento. Na primeira parte contada a criao do mundo, as tradies judaicas, as leis, a vida dos profetas e vinda do Messias e na segunda parte trata exclusivamente sobre a vida do Messias. Os cristos tm como principais festas religiosas: Natal (nascimento de Jesus), Pscoa (ressurreio de Cristo) e Pentecostes (descida e uno do Esprito Santo aos apstolos). Por divergncias culturais, polticas e teolgicas, o cristianismo sofreu vrias divises. Em 431 surge a Igreja Sria Oriental, em 451 a Igreja Copta Ortodoxa e Igreja Sria Ortodoxa. Em 1054 ocorre um grande cisma (diviso) da Igreja. A igreja ocidental Romana ficou com o nome de Catlica e a Igreja oriental Bizantina como ortodoxa. No sculo XV nova ruptura ocorre, surgindo a reforma protestante. Surge a Igreja Luterana, Presbiteriana (calvinista) a qual posteriormente se divide em Presbiteriana Independente, Presbiteriana do Brasil, Presbiteriana Conservadora, Presbiteriana Fundamentalista, Presbiteriana Renovada e Presbiteriana Unida do Brasil e a Igreja Anglicana. A igreja Batista surge no sculo XVII e no sculo XVIII a Igreja Medotista e Adventista. No sculo XX surge um movimento de renovao na Igreja com objetivo de despertar o entusiasmo religioso. Esse movimento conhecido como Pentecostalismo. Costuma-se classificar as Igrejas Pentecostais em: clssicas (Assemblia de Deus, Congregao Crist do Brasil) e pentecostais da segunda gerao (Igreja do Evangelho Quadrangular, Brasil para Cristo) e Neopentecostais (Nova Vida, Deus Amor, Universal do Reino de Deus, Internacional da Graa de Deus, Luz do Mundo, Volta de Cristo, Maranata, Sara Nossa Terra, Renascer em Cristo entre outras).

Tambm fazem parte outras igrejas de inspirao crist (Testemunhas de Jeov, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos ltimos Dias (Mrmon) e Catlica Apostlica Brasileira). Segundo Joo Dcio Passos em sua obra Pentecostais origens e comeo, a histria do pentecostalismo pode ser dividida em trs fases distintas: Outros dividem a histria em trs fases distintas, marcadas por contextos histricos especficos, dos quais decorrem formaes religiosas diferentes. Paul Freston utiliza o termo onda para designar essas fases: 1 onda, que vais da fundao dcada de 1950 (igrejas Assemblias de Deus e Congregao Crist no Brasil); 2 onda, da dcada de 1950 dcada de 1970(inmeras denominaes, sendo as mais expressivas a Evangelho Quadrangular; O Brasil para Cristo e Deus Amor); 3 onda, da dcada de 1970 a nossos dias (Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graa, Renascer em Cristo e Sara nossa Terra so as principais) representantes). (PASSOS, 2005:54) XINTOSMO Os dois principais livros que retratam a histria do Xintosmo so: Kojiki (anais das coisas antigas, de 712 a.C.) e o Nihongi (crnicas do Japo, de 720 a.C.). Estes dois livros retratam a origem do Japo e dos deuses que fazem parte da cultura japonesa. O xintosmo no teve um fundador, ele surge no Japo por volta do ano 500 a.C. com ritos e prticas simples, sem cdigo moral, sem mandamentos e sem instituio. Segundo o xintosmo todas as coisas e todos os seres foram criados pelos deuses, bem como todas as ilhas que compem o Japo. A palavra Shint que d origem ao termo xintosmo significa o caminho dos deuses e demarca a oposio entre xintosmo e o caminho de Buda. Para os xintostas os mortos se tornam deuses e seus espritos (os kamis) passam a ter uma grande representao para os vivos, por isso o culto dos antepassados um dos rituais de grande significao para os japoneses. (WILGES, 1982:37-38) O Xintosmo enquanto religio se tornou to importante que o imperador construiu no Palcio Imperial um santurio, onde se venera a deusa solar, os antepassados do imperador e os kami de todo o povo japons. Atualmente pelo seu valor histrico e religioso considerado o santurio mais importante do Japo. A religio Xintosta por longos anos foi a religio oficial no Japo, s aps a segunda guerra mundial que deixou ser oficial dando liberdade de cultos as todas as outras religies. Das doutrinas Xintosta e Budista direta ou indiretamente surgiram novas religiosas que hoje so chamadas de novas religies japonesas. Estas novas religies se propagaram por vrios pases, inclusive o Brasil. No Brasil as novas religies japonesas que aqui chegaram, vieram atravs dos imigrantes nipnicos que desembarcaram no Brasil. Inicialmente restritas apenas aos integrantes da comunidade nipo-brasileira, tais religies - pelo menos, parte delas experimentou uma importante expanso entre pessoas sem ascendncia japonesa a partir dos anos 70. (TOMITA, 2004:88-102) Dentre as religies japonesas com maior representatividade no Brasil temos: Igreja Messinica ou Johrei Center, Seicho-no-Ie, Perfect Liberty, Tenrikyo e Mahikari.

HINDUSMO O Hindusmo uma das religies mais antigas. No tendo um fundador, a religio hindusta se formou da unio de crenas de outros povos com a crena dos habitantes da ndia. O Hindusmo, na verdade, se compe de toda uma interseco de valores, filosofias e crenas, derivadas de diferentes povos e culturas. Na sociedade Hindu tudo que existe, desde a natureza at a diviso da sociedade em castas, justificada pela religio. A religio Hindu est alicerada em duas fases: a primeira fase Hindusmo Vdico e a segunda, Hinduismo Bhramnico. Na primeira fase do Hindusmo, que recebe o nome de Hindusmo Vdico, a mais antiga, quando a tradio oral do hinduismo era registrada em livros chamados Vedas (CISALPINO, 1994:27). Na religio Hindu existe um grande nmero de deuses. No perodo Vdico temos o culto aos deuses Dyaus, ou Dyaus-Pitar (Deus do Cu, em snscrito), que era o deus supremo, consorte da Me Terra. Doador da chuva e da fertilidade, ele gerou todos os outros deuses. No perodo Vdico se tinha como base e referencial a valorizao do conhecimento, do saber. Acrescentase ainda ao Vedismo o significativo valor aos sacrifcios em favor dos antepassados e aos deuses. Com a evoluo da religio hindusta e tendo influncia de outros povos principalmente dos rias (indoeuropeus povos considerados nobres), tem-se uma nova fase chamada de Bhramanismo. Esta resultado de um desenvolvimento do vedismo. Aos valores j existentes agrega-se o conceito de reencarnao, ou seja, as condutas e prticas da pessoa determinam a sua reencarnao (karma) e a salvao que para os Hindus se chama nirvana (libertao). A salvao ocorre quando alma se liberta dos ciclos de reencarnao e reencontra-se com o todo, o absoluto, Bhrama. (CISALPINO, 1994:27-28). Nessa fase ocorre ascenso de Brahma, a divindade que simboliza a alma universal. Brahma um dos deuses que compem o Trimurti (Trindade) do Hindusmo. Ele representa a fora criadora. Os dois outros deuses so Vishnu, o preservador, e Shiva, o destruidor. Neste momento, surge a figura dos brmanes, que compem a casta sacerdotal da tradio hindu. Os rituais ganham uma srie de componentes mgicos e elaboram-se idias mais complexas acerca do Universo e da alma. Outros deuses fazem parte da cultura Hindu como Indra, senhor dos deuses, representado como um touro, Aurora, me de todas as criaturas, representada como uma vaca, entre outros. CISALPINO, 1994:26). A partir do sculo XI a ndia invadida pelos muulmanos e durante aproximadamente 500 anos, o Isl se desenvolveu na ndia e na maior parte do tempo foi intolerante com a religio hindusta. Atravs do contato com a religio muulmana surgiu na ndia uma nova religio chamada Sikhismo que uma ramificao do Hinduismo e do Islamismo. BUDISMO O termo buda significa sbio, iluminado, pessoa que conheceu a verdade. Desta palavra adveio o termo budista para os praticantes desta religio.

O budismo uma doutrina criada pelo prncipe Sidharta Gautama no sculo VI a.C., filho do rei da tribo de Sakya e pertencente a uma famlia nobre foi educado no hinduismo brmane, embora rejeitasse alguns pilares do bramanismo, como por exemplo, a diviso da sociedade em castas. Aos 29 anos abandona a sua posio e sua riqueza e passa a viver com extrema simplicidade buscando compreender porque o povo sofre. Na busca por compreender estudou com vrios mestres e desenvolveu vrias praticas tais como: jejuar, sacrifcios e castigos corporais. Estas prticas no lhe deram as respostas e nem responderam as sua dvidas e por isso deixou de pratic-las. Um dia sentou-se sob uma figueira sagrada e aps longas horas de meditao, atingiu a iluminao e a descoberta da verdade. (CISALPINO, 1994:30). Sidharta Gautama no deixou nada escrito, todas as suas pregaes foram reunidas e codificadas no ano 253 a.C. A doutrina budistas tm como base as Quatro Nobres Verdade e no caminho sagrado das oito direes. As quatro verdades so: A vida cheia de dor; a origem da dor o desejo; o fim dar dor s possvel com o fim do desejo e a superao do sofrimento se alcana atravs do sagrado caminho das oito direes, que conduz perfeio do ser. Os caminhos sagrados das oito direes so: a) F pura: a verdade o guia do homem; b) Vontade pura: ser sempre calmo e nunca fazer dano a nenhuma criatura; c) Palavra pura: nunca mentir, nunca difamar ningum e nunca usar a linguagem grosseira ou spera; d) Ao pura: nunca roubar, nunca matar e nunca fazer nada de que uma pessoa possa mais tarde arrepender-se ou envergonhar-se; e) Meios de existncia: nunca escolher uma ocupao que seja m, tal como a falsificao, manejo de coisas roubadas, usura e semelhantes; f) Ateno pura: procurar sempre o que bom e afastar-se do que mau; g) Memria pura: ser sempre calmo e no permitir-se pensamentos que estejam dominados pela alegria ou tristeza; h) Meditao pura: consegue-se quando todas as outras regras foram seguidas e a pessoa atingiu o nvel de paz perfeita. (WILGES, 1982:52) Na doutrina budista no h a crena em um deus e nem Buda um deus. A salvao budista feita pelo prprio homem, pois segundo a doutrina todos os seres podem chegar a atingir o estgio de Buda, ou seja, de iluminao, basta praticar as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Sagrado das oito direes. Na religio budista se pratica o culto aos antepassados, atravs de altares chamados de Butsudan. No Butsudam so assentados os antepassados da famlia os quais recebem oraes dirias com objetivo de evolurem. Para os budistas a pessoa est sujeita as sucessivas reencarnaes que podem ser boas ou ms, ou seja, tudo depender das aes e prticas que realizou na sua vida anterior. Embora o Budismo tenha nascido na ndia, ele se propagou em outros pases: Sri Lanka, Mianmar, Laos, Tailndia, Camboja, Tibet, Monglia, Manchria, Rssia, Nepal, Japo, China e tambm em muitos outros pases do Ocidente. O Budismo se dividiu em vrias correntes. As principais so: o Budismo Hinayama, o Budismo Mahayama, o Budismo Vajrayana e o Budismo Lamasmo. TAOSMO Lao Ts foi o fundador do taosmo. A palavra tao significa caminho, principio universal da vida, razo suprema, procedimento correto.(CISALPINO, 1994:37) A religio Taosta em seu inicio por ser mais uma filosofia

que busca a integrao do individuo a ordem universal pela compreenso da essncia do universo no possua cultos sistematizados e nem uma hierarquia sacerdotal, com o passar dos anos passa a se constituir como uma religio de salvao edificando igrejas hierarquizadas com sacerdotes que dirigem os cultos. Ao se constituir como uma igreja de salvao o taosmo se afasta do taosmo original. A base do pensamento Taosta se encontra no livro Tao-te Ching. Nesse livro consta que o universo inteiro feito por dois princpios fundamentais: Yin e Yang. Yin e Yang so princpios opostos. O yin o principio feminino da realidade. Dessa forma, so: Yin o frio, o molhado, o escuro, o dio, o esttico etc. O Yang o oposto de Yin. Ele o princpio masculino: o quente, o seco, o claro, o amor, o dinmico etc. (SCHIMIDT,1999:125) Para Lao-ts o princpio da harmonia estava em equilibrar o Yin e o Yang e estes esto em todas as coisas. Esse princpio para Lao-Tse o Tao. atravs do Tao que se consegue vencer uma batalha, ter uma boa comida, ter boas relaes, evitar doenas, trabalhar com alegria e disposio etc. (SCHIMIDT, 1999:125) Um das formas de se atingir o Tao e pelo caminho da meditao. A meditao profunda leva a compreenso das duas foras opostas que esto em todas as coisas e seres do mundo. Para o Taosmo a desordem, a confuso, a destruio e a doena se da quando no se consegue equilibrar as duas foras opostas. Quando isso ocorre deve se buscar recuperar o equilbrio, o Tao para que tudo volte ao estado de verdadeiro equilbrio. Neste aspecto o taosmo uma doutrina a respeito da felicidade. A pessoa perde a felicidade quando rompe sua ligao harmnica com a unidade, ou seja, com o Tao. CONFUCIONISMO O fundador do confucionismo foi Kung-fu-tzu (conhecido como Confcio no Ocidente) no era propriamente um lder religioso, mas suas idias exerceram profundas influencia na religio chinesa a partir do sculo V a.C. O Confucionismo est mais voltado para uma filosofia que atua sobre a ordem social, moral e governamental, do que propriamente para uma religio. O confucionismo tornou-se religio oficial da China entre 1644 e 1912 e exerceu uma forte influencia na sociedade chinesa, principalmente porque objetivava reformar os costumes da poca e libertar a sociedade da degradao moral, que segundo Confcio era o motivo que levava as guerras e a destruio. O fundador do Confucionismo defendia que a harmonia na sociedade chinesa seria alcanada quando toda a populao fosse educada para obedecer s tradies. O processo de obedincia pressupe o respeito a hierarquia, ou seja, filho deve obedecer o pai em silencio, o aluno deve obedecer o mestre sem questionar, o homem comum deve obedecer o imperador sem contestar e o campons deve obedecer o nobre sem resistncia. (SCHIMIDT,1999:127) Tradio e obedincia se tornaram um imperativo na China. Estas deveriam estar aliadas a um programa educacional intenso, pois para Confcio, a ignorncia era o pior obstculo para melhorar o carter. De acordo com a doutrina de Confcio a ordem social e manuteno do Estado so adquiridas quando o principio de lealdade praticado na sociedade. O filho deve ser leal ao pai, assim como o sdito deve ser leal ao soberano. Por

outro lado tanto o pai como rei devem ter como principio a justia. Agindo assim tanto o filho como sdito sero leais. (CISALPINO, 1994:39) Se todos agirem desta forma a sociedade no entra em desequilbrio. Confcio defendia a justia para todos como o fundamento da vida em um mundo ideal devendo prevalecer os princpios de humanismo, cortesia, piedade filial, virtudes da benevolncia, retido, lealdade, integridade do carter e a condenao da vaidade. (SOUZA, 2001:34) Segundo a doutrina de Confcio, o ser humano composto por quatro dimenses: o eu; a comunidade; a natureza; o cu (fonte da auto-realizao definitiva). O eixo central da doutrina Confcio o caminho do cu (Tao) o qual todas as pessoas deveriam procurar seguir. Para alcanar tal objetivo a sua vida diria deveria ser pautada nas cinco virtudes morais. Essas virtudes essenciais para homem so: benevolncia, retido, decncia, sabedoria e sinceridade. (WILGES, 1982:33) Na China desde os tempos mais remotos sempre teve uma preocupao com os antepassados. A venerao aos antepassados era uma forma de demonstrar a sua gratido e respeito, pois se acredita que eles sendo respeitados poderiam demonstrar a sua gratido ajudando, influenciando e iluminando os imperadores, governantes e o povo. A doutrina de Confcio encontra-se nas compilaes chamadas Cinco Clssicos (Wu Ching) e nos Quatro Livros (Shih Shu) os quais so: Os Cinco Clssicos Shu Ching (Livro dos Documentos), sobre a organizao poltica de cinco dinastias da China; I Ching (Livro das Mutaes), sobre a metafsica; Li Ching (Livro das Cerimnias), sobre a viso social; Shi Ching (Livro das Poesias), sobre a antologia secular e religiosa; Chun-Chiu (Anais das Primaveras e Outonos), sobre a histria da China. (SOUZA, 2001:36-37) Os Quatro Livros Ta Hsio (Grande Aprendizado), ensinamentos sobre a virtude; Chung Yung (Doutrina do Meio), ensinamentos sobre a moderao perfeita; Lun Yu (Anacletos), coleo das mximas de Confcio, seus princpios ticos; Meng-Tze (Mncio), obra do grande expositor de Confcio. RELIGIES E RELIGIOSIDADES AFRICANAS No continente Africano havia e ainda h vrias religiosidades e religies, fruto da existncia de centenas de etnias, da influncia de povos de outros lugares, a exemplo dos rabes, europeus, e de outros fatores. Diversos pesquisadores europeusi, considerados clssicos, e resgatados pela pesquisa de BASTIDE (1971), apontam aspectos gerais das religies africanas at o sc. XVI, e que consistem em: o As religies eram ligadas famlia, envolvendo ancestralidade e relaes de parentesco; havendo o culto aos antepassados; em algumas regies, como no antigo reino do Congo, ficava evidente a ancestralidade dos deuses sobre os homens e sobre seus familiares. Os deuses foram os fundadores das dinastias, justificando o surgimento dos reinos. A transmisso era hereditria pela linha de descendncia masculina; o H muitas referncias ao animismo, vinculao do sagrado s foras da natureza, compondo uma mitologia que explica o surgimento do mundo, e dos deuses e divindades;

o o o

Em algumas regies (Moambique, por exemplo), o deus ancestral do rei ou do chefe da tribo era Os deuses tinham atributos e funes especficas, para os quais eram chamados, independente Entre os iorubs e os daomeanos, todo homem descendia de uma divindade e ao ancestral do

o principalmente cultuado e servia como intermedirio para com os outros deuses; de serem o ancestral do grupo (Deus da chuva, protetor da agricultura, da cura pelas ervas...); grupo eram prestados servios. Havia um altar familiar, um sacerdote ou um preposto e, nos meios mais urbanos, um templo ou santurios para a realizao das festas e servios; Pesquisas mais recentes de PARS (2006), remontam a origem das diferentes designaes para os deuses africanos dentre as etnias que vieram para o Brasil. Entre os Iorubas, as divindades so denominadas orixs e entre demais grupos gb-falantes (rea do Golfo do Benin, do rio Volta ao rio Nger), o termo vodum mais freqente para referir-se s divindades. O ENCONTRO DE RELIGIES NO BRASIL E AS RELIGIES AFRO-BRASILEIRAS O Encontro dos Africanos com o Catolicismo no Brasil No sculo XVI inicia-se o trfico negreiro para o Brasil, e nos pores dos navios escravistas as vrias religies e religiosidades africanas se encontraram. Entretanto sabe-se que muitas delas j estavam em contato devido s conquistas e submisso entre os povos africanos. Essa amarga viagem promoveu a separao entre grupos de religies comuns, entre, etnias, grupos, familiares, cls. Aqui teria havido uma mistura entre idiomas africanos, com a prevalescncia de troncos lingsticos e surgimento de uma lngua em comum com relativo entendimento por vrias etnias. Aps a chegada ao Brasil, os africanos foram convertidos ao catolicismo, que era a religio oficial e obrigatria. O senhor tinha que batizar o escravo em, no mximo 5 anos aps a chegada, impondo-lhe um nome cristo. A Igreja tinha vrias formas de controle e represso. Uma delas e a mais violenta era o Tribunal do Santo ofcio da Inquisio, que visava punir praticantes de atos mgicos (bruxaria, feitiaria ou curandeirismo), de aberraes sexuais ou outras atividades pags, atribudas influncia do demnio. No Brasil, a Inquisio fez visitas (entre 1591 e 1768, na Bahia, Pernambuco, Par e Maranho), nas quais processou muitos brancos, ndios e negros, promovendo deportaes para julgamento pelos tribunais em Portugal. Apesar da converso, a religiosidade africana mantinha-se com os batuques nos canaviais e uma aparente assimilao dos santos brancos catlicos, ao lado da exaltao dos santos negros (So Benedito, Senhora do Rosrio), por vezes tidos como intermedirios com os ancestrais e/ou orixs. O Catolicismo neste perodo era mstico e mgico, com forte devoo aos santos, em especial aos santos guerreiros que aludiam a saga dos conquistadores no Novo Mundo: So Jorge, Santo Antonio, So Sebastio, So Miguel. Outros santos eram invocados para livrar das pestes e doenas tropicais: So Roque, So Lzaro, So Braz, N. Sra. das Cabeas (hidrocefalia). As Nossas Senhoras ajudavam nos momentos difceis: N. Sra. Das Dores, do Parto, da Conceio. A missa e sacramentos apresentavam a fora dos atos mgicos, com po e vinho bentos, rezas em latim, sinos e campnulas, trajes sacerdotais com cores fortes e imponentes, altar com relquias e uso de incensos. As capelas eram bem ornadas com anjos de expresses impressionantes e vivas

e os rituais para os mortos eram muitos. Os catlicos usavam vrios elementos com fins religiosos: fitas na cintura, medalhas, santinhos, oraes escritas debaixo do travesseiro ou junto ao corpo, gua benta, preces para afastar maus espritos. Todos estes fatores favoreceram o sincretismo com as religies indgenas e africanas. (BASTIDE, 1971). A partir do sc. XVII, o catolicismo brasileiro, at ento uma religio domstica e rural, passou a ser uma religio das cidades que se formavam ao redor dos engenhos de acar do litoral ou das minas de ouro do interior. As igrejas passaram a ser os centros aglutinadores das atividades religiosas e da comunidade. Posteriormente, com o crescimento das cidades decorrente da multiplicao das atividades econmicas (a partir do sc. XVIII), houve uma proximidade entre as classes intermedirias mestios, negros alforriados e escravos de ganho (que trabalhavam como vendedores, barbeiros e carreadores) e que se reuniam em associaes de ofcio e de lazer (danas, rodas de capoeira e de batuque). (idem,idem). Neste contexto a missa, e as festas religiosas ou cvicas que envolviam procisses, autos e folguedos quebravam a rotina de trabalho e eram momentos de reunio de toda a sociedade. Nelas os negros participavam, mas em espaos reservados a eles, como nos prticos, onde assistiam missa em p. Na nave principal as famlias senhoriais ocupavam os bancos de acordo com sua riqueza e prestgio. A participao do negro era marcada pela alegria, musica, dana e utilizao de instrumentos de percusso, fato que desagradava e chocava a sociedade conservadora colonial. Por isso, sob presso da aristocracia, a Igreja proibiu, em muitos casos, a realizao das cerimnias dos negros junto com as festas catlicas. Tal proibio deu origem a celebraes populares como as congadas, moambiques, folias de reis e o prprio carnaval. Outra forma de separao foram as irmandades dos homens de cor (associaes como as Confrarias, Ordem terceira, Santa Casa de Misericrdia), separadas segundo a cor da pele e a condio de escravo (reunidos por naes) ou liberto. Essas irmandades, criadas pelos jesutas em 1586, reuniam s vezes s homens ou s mulheres, organizando suas prprias cerimnias e festas e funcionavam tambm como associao de auxlio mtuo para comprar alforrias e assegurar um enterro cristo e digno aos seus filiados. Muitas irmandades construram suas prprias igrejas em vrias cidades do pas. CALUNDUS E BATUQUES Segundo os levantamentos de BASTIDE (idem), at o sc. XVIII o nome mais comum das manifestaes religiosas afro-brasileiras parece ter sido o Calundu, termo de origem banto, ao lado de Batuque abrangia danas, cantos, tambores e rituais. Os Calundus precederam os terreiros de candombl que existem hoje e tambm outras religies afro-brasileiras. Eram cultos que apresentavam uma organizao envolvendo a presena de um sacerdote e uma diversidade de cerimnias que continham: os elementos africanos (atabaques, transe por possesso, advinhao por bzio, trajes rituais, sacrifcio de animais, banhos de ervas, dolos de pedra, etc.), os elementos catlicos (crucifixos, anjos catlicos, sacramentos como o casamento) e o espiritismo e crenas populares de origem europia (advinhao por meio de espelhos, almas que falam atravs dos objetos ou incorporadas nos vivos, etc.). O sincretismo no modificava apenas o catolicismo, introduzindo ritos nas festas e procisses nos ptios de igrejas e reunies das irmandades, mas tambm foi elaborado dentro dos cultos africanos (SILVA, 2005).

Os primeiros calundus foram descritos em fazendas, nas matas e roas ou nos espaos contguos senzala o terreiro. Tais condies imprimiam muitas dificuldades aos cultos aos deuses africanos, que requerem uma srie de interdies, recipientes especiais e elementos naturais que os representam como gua, pedra, peas de ferro, etc.. tais elementos so tratados como coisas vivas (porque os deuses habitam neles), e devem ficar em local consagrado e de acesso reservado, onde so feitas oferendas de alimentos e sacrifcios de animais que renovam sua fora mgica e a de seus cultuadores. O crescimento das cidades e do nmero de libertos propiciou condies para as manifestaes religiosas se desenvolverem: os cultos passaram a ser feitos em moradias (muitas das quais eram coletivas, em casares abandonados), mais resguardados da represso policial. A vigilncia policial justificava-se pelo temor de que a reunio de negros corroborasse com a formao de quilombos e de insurreies, como a dos mals (feita por africanos islamizados). O Encontro de Religiosidades Africanas, Catlica e Indgenas Se a histria do Brasil marcada pelo encontro de diferentes povos e culturas, a histria das religies no Brasil no poderia ser diferente. Como vimos anteriormente, os ndios, mesmo submetidos converso religiosa, no abandonaram suas crenas e o encontro entre populaes indgenas, europias e africanas fez surgir religies e religiosidades bem peculiares. A primeira destas junes de crenas entre elementos da pajelana indgena com o catolicismo colonial parece ser a Santidade (reprimida pela Inquisio em 1591/2), que partia de um culto a um dolo de pedra chamado Maria, e contava com elementos que permaneceram no Catimb, religio iniciada no perodo de transio do campo para a cidade. CATIMB, CABULA E MACUMBA No Catimb (regio norte e nordeste) o culto indgena dos caboclos se une devoes catlicas e africanas. No altar com santos catlicos e crucifixo juntam-se elementos da magia indgena e africana. H o uso do fumo, e da jurema ou aju, como substncias que permitem o contato com o esprito dos mortos. Assim, as antigas divindades indgenas vo reunir-se aos espritos dos catimbozeiros clebres, dos quais alguns eram negros, e dos mestres africanos, para participar do reino dos encantados (divindades). A Cabula era praticada no Esprito Santo, em fins do sculo XIX, por negros, mas com a presena de alguns brancos. As cerimnias (engiras) secretas e noite eram realizadas em casas e mais frequentemente nas florestas, e conduzida pelo sacerdote chamado de embanda. Os fiis vestiam branco e preparavam a mesa (com toalha, velas e pequenas imagens), iluminada por uma fogueira. Entoavam cantos aos espritos e divindades, acompanhados por palmas. Nos rituais havia ainda o vinho, o incenso e o uso de plantas e de um p sagrado para afastar espritos inferiores e preparar o ambiente para a tomada do Sant incorporao do esprito protetor. A Macumba foi escrita por pesquisadores j no sculo XX, no Rio de Janeiro (especialmente A. Ramos em 1940) e se aproximavam muito das prticas da Cabula. O chefe tambm se chamava embanda, umbanda ou quimbanda e seus ajudantes cambono ou cambone. As iniciadas eram filhas de santo (influncia jeje-nag) ou

mdiuns (influncia do espiritismo). As divindades como os orixs, inquices, caboclos e os santos catlicos eram agrupadas por falanges ou linhas (da Costa de Quimbanda, Umbanda, do Mar, de Cabinda, de Caboclo, Cruzada, etc). Nas cerimnias cultuavam-se diversas linhas. A abrangncia dos cultos sob o termo macumba parece ter sido um dos motivos de sua popularidade e de seu uso indiscriminado para se designar as religies afrobrasileiras em geral, junto ao fato do Rio de Janeiro, como capital da Repblica, ser grande difusor da cultura nacional. RELIGIES AFRO-BRASILEIRAS MAIS CONHECIDAS HOJE: CANDOMBL, UMBANDA, BATUQUE E TAMBOR DE MINA. Da juno de religies africanas se compe no Brasil o Candombl, cujos rituais prestam cultos a diferentes divindades: orixs, voduns ou inkices (pouco mais de uma dzia, dentre as centenas que existiam na frica) e tambm, em muitos casos, a divindades relacionadas ao Brasil, como Caboclos e Pretos-Velhos. Esta religio sofre variaes regionais e, dentro de uma mesma regio tambm se diversifica pelas influncias predominantes de origens ou de naesii, que definem diferenas no ritual (instrumentos, ritmos dos atabaques, lngua usada nos cantos, nome das divindades, ritual e concepes). Assim temos em parte do nordeste o Xang, e em outras regies o Candombl Jeje/nag (Keto), o Candombl Angola (banto, que teria sido o herdeiro da cabula, macumba e candombl de caboclo/BA). Os templos de candombl so conhecidos como terreiros ou roas e so conduzidos por um sacerdote (pai-de-santo ou me-de-santo). Diferente do que acontecia na frica, aqui o sacerdote une diferentes funes: as litrgicas, de advinho, de cura, aconselhamento, etc. Os fiis so chamados de filhos-de-santo e devem cumprir uma srie de preceitos e condutas transmitidas oralmente e ao longo do tempo em que realiza a sua formao religiosa. Nesse perodo passa por uma srie de rituais (iniciao, e outros). Nesse processo o fiel conhece sobre sua ancestralidade religiosa, sobre a religio e se prepara para prestar devoo s divindades, dentro dos cnones da religio. As atividades rituais compem-se de culto s divindades (principalmente os Orixs), que se incorporam pelo transe nos fiis iniciados, os quais so preparados para receb-los com a indumentria (roupas, colares de contas, chapus, coroas, e outros adereos) nas cores correspondentes divindade. No h exclusividade no transe, e o fiel pode receber mais de uma divindade em uma performance seriada. Os orixs tm uma mitologia relacionada frica, na qual apresentam seu arqutipo, sua natureza e estas caractersticas se apresentam nos fiis iniciados, em seu comportamento e sua trajetria dentro e fora da religio. A Umbanda uma religio presente em diversas regies do pas, e que tem origem no incio do sculo XX (BA, RJ e SP). Muitos autores remontam aos anos 1920, a partir da ciso de descontentes na macumba carioca e do espiritismo kardecista. Sua formao teria unido descontentes das duas religies, buscando uma sada para o estigma vinculado religiosidade negra e africana. H tambm informaes sobre o surgimento da religio em 1904 e 1908, datas que foram adotadas como marco histrico por adeptos e associaes. Para a Federao Internacional Afro-brasileira FIETRECA, a partir de 1904, comearam a surgir no Rio de Janeiro vrias casas de Umbanda denominadas de tendas. O termo tenda era utilizado para designar e distinguir a forma de culto adotado. J a Federao Brasileira de Umbanda, tem como referncia a data de 1908iii.

Na antiga capital da repblica, a umbanda sofreu com o impacto da perseguio policial e das influncias de outras religies. Assim, associa elementos de religiosidades africanas, indgenas, europias (catolicismo, Kardecismo) e tambm orientais. Entretanto, a umbanda retm os elementos essenciais da macumba ou do candombl, dos quais conserva o sistema de correspondncias msticas entre as cores, os dias, as foras da natureza, as plantas e os animais e manifesta grande influncia do espiritismo kardecista em seus aspectos doutrinrios. As divindades Caboclos, Pretos-Velhos, Crianas, Baianos, Exus e Pomba-giras, so agrupadas por linhas e falanges, relacionadas aos orixs. H o culto aos santos catlicos. Entretanto as divindades esto mais presentes nos rituais, por meio da incorporao nos fiis e apresentam a funo de fazer a caridade, auxiliando aos que as procuram. Os templos religiosos so conhecidos como terreiros, tendas ou centros espritas, nos quais as cerimnias so conduzidas por um ou mais sacerdotes (pais ou mes-de-santo ou mdiuns). Os fiis so chamados de filhos-de-santo ou de mdiuns e incorporam, atravs do transe, as divindades s quais se relaciona pela ancestralidade mtica, revelada durante sua formao religiosa. Em geral os fiis vestem-se de branco para os rituais e usam poucos adereos (colares de contas, teros). As divindades, prestam consultas a quaisquer pessoas que compaream ao templo, independente de suas convices religiosas, em geral de forma gratuita. Nestas consultas realizam benzimentos ou passes, aconselhamentos e curas de doenas usando ervas, bebidas (inclusive gua), oraes (inclusive catlicas) e tambm a magia religiosa para afastamento de maus espritos. H uma grande diversidade de ritos na Umbanda, a depender da maior ou menor influncia de outras religies como o candombl, a macumba, a cabula (das quais apresenta elementos), alm do kardecismo, catolicismo, das religies indgenas outras. O Batuque foi pesquisado a partir dos anos 1940, e uma religio bem conhecida e popular no Rio Grande do Sul, onde estima-se a existncia de 80 mil templos de religies afro-brasileiras, dentre estes o que se conhece hoje como Batuque puro, representa 15%, a linha cruzada (com elementos da umbanda), 80% e a umbanda pura, tambm conhecida como linha branca 5%. A maioria dos templos so pequenos e nem sempre muito visveis pela rua. O Batuque gacho apresenta a diversificao em torno das naes: Cabinda (bantos), Oio (povos Iorubas) e Jje(do atual Benin), demonstrando especificidades nos rituais e concepes. Como no Candombl, h uma correspondncia entre orix e dia da semana, e tambm com as cores; As atividades rituais so compostas de cerimnias de culto aos orixs e divindades e, como no candombl, h o sacrifcio de animais como oferendas aos orixs em rituais especficos (aniversrio do orix, rituais de iniciao ou de promoo do fiel, e outros). A iniciao do fiel inclui, alm dos rituais no terreiro, a participao em missa catlica. Nesta religio a hierarquia menos extensa que no candombl e tambm h um acmulo de funes ao pai-de-santo. O panteo acompanha o do candombl e, na linha cruzada, tambm o da umbanda. O Batuque expandiu-se para outros pases do cone sul, como Argentina, Uruguai e Paraguai, onde em geral, so denominados por Umbanda. O Tambor de Mina uma religio muito popular na regio Amaznica, especialmente no Par e Maranho. S no Par conta com cerca de 2.500 terreiros. Sua formao marcada por uma juno entre o as religies de origem indgena (especialmente o Catimb), de origem africana, de origem europia (catolicismo, espiritismo) e os afro-brasileiros. Assim, seu panteo se compe de orixs ou voduns, divindades brasileiras como os Caboclos, Pretos-Velhos, de santos catlicos e tambm com divindades (encantados) provenientes de outras

origens, como o caso dos Turcos (rei e princesas turcas). As divindades formam uma srie de linhas ou famlias, segundo sua origem tnica ou sua posio geogrfica na natureza. Nos templos as cerimnias so conduzidas pelo sacerdote (pai ou me-de-santo) e prestam culto s divindades. As divindades se manifestam por meio do transe, em fiis preparados (iniciados) para esta funo, adequadamente trajados, em especial nos dias de festa. A iniciao prxima do candombl, com o recolhimento do fiel, que sofre interdies alimentares, de aes e palavras e tambm do contato com a maioria das pessoas durante alguns dias. Nestes dias ele recebe orientao religiosa, alimentao especial, se submete a rituais de purificao e passa por uma espcie de renascimento, a partir do qual sua identidade religiosa ser revelada e fortalecida. Como se pode observar, as religies afro-brasileiras, bem como muitas religies orientais, no so exclusivas, ou seja o fiel, mesmo que iniciado, pode freqentar templos de outras denominaes religiosas. O que conta sua inteno de aproximar-se do sagrado. Assim, reconhecem a diversidade e a validade das diferentes formas de representao da f religiosa. O respeito liberdade religiosa est prescrito em nossa Constituio e os atos movidos pela intolerncia constituem-se em condutas ilegais. Mesmo se no fossem ilegais, iriam em desencontro formao da humanidade, composta por diferentes etnias e culturas, cada uma delas com sua forma de conceber o mundo e relacionar-se com ele, com suas crenas, com seus deuses e suas formas de cultu-los. Por isso importante saber um pouco sobre estas diferentes formas de pensamento religioso para combater a intolerncia de alguns que se acreditam superiores em sua crena, cor, origem e posio social e que por isso acreditam que devem impor seu modo de conceber o mundo aos demais. Tabelas da distribuio das religies no Brasil Tabela 1 As religies do Brasil em 2000Religio Catlicos romanos Evanglicos Protestantes histricos Pentecostais Outros evanglicos Espritas Espiritualistas Afro-brasileiros Umbanda Candombl Judeus Budistas Outras Orientais Muulmanos Hindustas Esotricos De tradies indgenas Outras religiosidades Sem religio Declarao mltipla BRASIL Nmero Absoluto 124.976.912 26.166.930 7.159.383 17.689.862 1.317.685 2.337.432 39.840 571.329 432.001 139.328 101.062 245.870 181.579 18.592 2.979 67.288 10.723 1.978.633 12.330.101 382.489 *169.411.759 % 73,77 15,44 4,23 10,43 0,78 1,38 0,02 0,34 0,26 0,08 0,06 0,15 0,11 0,01 0,00 0,04 0,01 1,17 7.28 0,23 100,0%

Fonte: Censo demogrfico 2000. IBGE

(*) No inclui 387.411 casos de religio no declarada, 0,23% de residentes no pas com total em 2000 de 169.799.170. Tabela 2 Detalhamento das religies no Brasil em 2000 124.980.13 2 500.582 38.060 6.939.765 3.162.691 1.209.842 1.062.145 981.064 340.963 148.836 34.224 17.617.307 8.418.140 2.489.113 2.101.887 1.318.805 774.830 277.342 175.618 128.676 92.315 1.840.581 1.046.487 336.259 710.227 581.383 1.104.886 199.645 235.533 109.310 41.770 397.431 127.582 2.262.401 86.825 58.445 27.239 25.889 17.088 2.905 15.484 7.832 12.492.403 383.953 357.648

Catlica apostlica brasileira Catlica ortodoxa de misso (total) Batista Adventista Luteranas Presbiteriana Metodista Congregacional outras de origem pentecostal (total) Assemblias de Deus IGREJAS EVANGLICAS Congregao Crist no Total: 26.184.941 - 15,41 Brasil Universal do reino de Deus Evangelho quadrangular Deus amor Maranata Brasil para Cristo Casa da beno Nova vida outras sem vnculo institucional (total) de origem pentecostal outros outras religies evanglicas (total) Testemunhas de Jeov Outras crists Mrmon Total: 1.540.064 - 0,907 outras Messinica mundial Novas religies orientais Total: 151.080 - 0,089 outras Umbanda Religies Afro-brasileiras Candombl Esprita Judasmo Tradies esotricas Islmica Espiritualista Tradies indgenas Hindusmo Outras religiosidades Outras religies orientais Sem religio sem declarao no determinadas Fonte: Censo demogrfico 2000. IBGE

CATLICAS Total: 125.518.774 73,89%

Catlica apostlica romana

73,57 0,295 0,022 4,085 1,862 0,712 0,625 0,578 0,201 0,088 0,020 10,37 4,956 1,465 1,237 0,776 0,456 0,163 0,103 0,076 0,054 1,084 0,616 0,198 0,418 0,342 0,650 0,118 0,139 0,064 0,025 0,234 0,075 1,332 0,051 0,034 0,016 0,015 0,010 0,002 0,009 0,005 7,354 0,226 0,211

GLOSSRIO Alteridade Qualidade ou estado daquilo que diferente. A alteridade tambm uma atitude de reconhecimento do outro, seja ele uma pessoa, um grupo religioso, tnico, cultural, poltico, ou ainda pertencente a outra espcie. Doutrina um conjunto de princpios, afirmaes e preceitos de f de uma determinada religio. Espiritualidades so tcnicas e mtodos que permitem ao fiel ou adepto de uma determinada religio ou crena estabelecer uma relao imediata com o transcendente. Hierarquia - a organizao que divide as pessoas em classes, posies e as distribui em diferentes nveis, estabelecendo funes. Igreja a palavra igreja significa assemblia, congregao ou ajuntamento de pessoas reunidas em torno de uma determinada crena. Religiosidade a dimenso do ser humano pela qual ele vive uma experincia no sentido divino, sagrado, espiritual e transcendente da vida. Religio palavra de origem latina, derivada do termo religare, e significa ligar de novo, unir, juntar. Religio a re-ligao do ser humano com o transcendente. Ritos so gestos simblicos repetitivos, isto , que so realizados da mesma forma. Os ritos so gestos que expressam uma determinada crena, geralmente fazem parte de uma cerimnia ou ritual religioso. Rituais conjunto de ritos que acontecem em uma cerimnia religiosa e podem marcar uma transformao ou passagem para um novo estado de ser. Smbolos religiosos objetos e elementos que trazem lembrana algo ou algum que no est presente. Os smbolos religiosos so linguagens que comunicam idias sobre o transcendente. Tradio palavra que significa transmitir ou passar adiante. A tradio se constri por meio da repetio, por exemplo, determinados acontecimentos importantes para um grupo so celebrados sempre em uma determinada ocasio ou poca do ano. Tradio religiosa termo que designa uma determinada matriz religiosa. Transcendente o que est alm da materialidade, o que ultrapassa os limites da compreenso humana, o que inefvel, infinito, ser supremo ou Deus, como chamado por algumas tradies religiosas. Textos sagrados so textos considerados sagrados pelo seu contedo e por serem, segundo diferentes religies, inspirados pelo transcendente.

ABDALATI, Hammudah. O Islam em foco. Centro de divulgao do Islam para Amrica Latina. So Bernardo do Campo - SP,1989, p. 93. BASTIDE, Roger. As Religies Africanas no Brasil. So Paulo: Pioneira, 1971. (ed. em Francs: 1960) V. 1 e 2. CISALPINO, Murilo. Religies. So Paulo: Editora Scipione, 1994. DURKHEIM, Emile. As Formas Elementares de Vida Religiosa. So Paulo, Ed. Paulinas, 1989 (a primeira edio francesa de 1912).

JACOB, Csar Romero et al. Atlas da Filiao Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil. Rio de Janeiro: PUCRio; So Paulo: Loyola, 2003. MELO, Joaquim Pereira, PIRATELI, Marcos Roberto (org). Ensaios sobre o cristianismo na antiguidade: histria, filosofia e educao. Maring: Eduem, 2006. NADAI, Elza e NEVES, Joana. Histria Geral: antiga e medieval. So Paulo: Editora Saraiva, 1987. PARS, Luis Nicolau. A formao do candombl: histria e ritual da nao jeje na Bahia. Campinas, SP: Ed. UNICAMP, 2006. PASSOS, Joo Dcio. Pentecostais: origens e comeo. So Paulo: Paulinas, 2005, p. 54. SCHIMIDT, Mario Furley. Nova histria crtica. So Paulo: Nova Gerao, 1999, p. 125. SILVA, Vagner G. de, Candombl e Umbanda: caminhos da devoo brasileira.2 Ed. So Paulo: Selo Negro, 2005. SOUZA, Irivaldo Joaquim de. Introduo s Principais Religies. Histria, ecumenismo e dilogo interreligioso. Maring-PR: Editora Uem, 2001. TOMITA, Andra Gomes Santiago. As Novas Religies Japonesas como instrumento de transmisso de cultura japonesa no Brasil. Revista de Estudos da Religio N 3 / 2004 / pp. 88-102. WILGES, Irineu Slvio. Cultura religiosa: as religies no mundo. 8. ed. Petrpolis: Vozes, 1982 SITES DE INTERESSE: Sites de textos e revistas cientficas: www.scielo.br www.bv.fapesp.br/php/index.php www.anpocs.org.br www.pucsp.br/revistanures www.usp.br www.teses.usp.br www.usp.br/revistausp www.usp.br/tv/ www.iser.org.br Outros sites sobre religio Federao internacional de Estudos das tradies Religiosas e seus cultos aos ancestrais afro-brasileiros: www.fietreca.org.br Editora Pallas www.pallaseditora.com.br Faculdade de Teologia Umbandista: www.ftu.edu.br:8080 ATIVIDADES SUGERIDAS:

Pesquisa pela internet Discusso das seguintes questes: O que religio? Qual a importncia do pensamento religioso para a condio humana? Por que se atribui valor negativo algumas religies? Em que se baseia a intolerncia religiosa? Quais so as principais religies?

i

Frobenius, Parrinder, Kosler, Tolenare, Expilly, apud: BASTIDE, R.(1971) A nao, segundo PARES (2006), hoje uma modalidade de rito, ela foi formada a partir da identidade de grupo, que era multidimensional e estava articulada em diversos nveis (tnico, religioso, lingstico, poltico). Tal identidade decorria dos vnculos de parentesco das corporaes familiares que reconheciam uma ancestralidade comum. iii Conforme informaes divulgadas nos sites www. fietreca.org.br/umbanda.htm e fbu.com.br/fbu.htmii