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MARILAINE BRASIL DA SILVA A PROPOSTA CURRICULAR DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS. CANOAS 2008

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MARILAINE BRASIL DA SILVA

A PROPOSTA CURRICULAR DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS.

CANOAS

2008

MARILAINE BRASIL DA SILVA

A PROPOSTA CURRICULAR DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO F UNDAMENTAL

DE NOVE ANOS

Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Pedagogia – Supervisão Educacional do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia – Supervisão Educacional, sob orientação da Profª. Sônia Veríssimo.

CANOAS

2008

MARILAINE BRASIL DA SILVA

A PROPOSTA CURRICULAR DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO F UNDAMENTAL

DE NOVE ANOS

Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Pedagogia – Supervisão Educacional do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia – Supervisão Educacional.

____________________________________

Professora Orientadora Sônia Veríssimo

Canoas, 28 de novembro de 2008.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos profissionais da educação, como inspiração

para refletirem suas práticas diante deste novo desafio: o ensino

fundamental de nove anos.

Agradecimentos!

Dedico este trabalho às pessoas, que, de uma forma ou de,

outra, sempre estiveram ao meu lado.

Fazer uma dedicatória em um trabalho de conclusão é um

pouco complicado, pois é saber que depois de um longo

período está finalmente caminhando em direção a meta

proposta.

Durante este período, convivi com pessoas que realmente

fizeram diferença. Professores dedicados que algumas vezes

incomodavam, mas percebi que era por uma boa causa, a do

meu próprio crescimento profissional.

Gostaria de fazer um agradecimento especial a minha

família, que muito me apoiou para não desistir e por

compreender os períodos em que estive ausente.

Mãe, muito obrigado, pois você sabe que isto só foi

possível por que você me ajudou!

Ao meu marido Anderson, por ter sempre confiado em

mim e me apoiado nos momentos de fraqueza.

Ao meu filho peço desculpas, pois sei que muitas vezes

deixei de dar atenção em busca deste meu objetivo.

A minha professora orientadora, Sônia Veríssimo, por me

auxiliar em diferentes momentos, e transmitir a serenidade de

que tudo daria certo!

Pescadores de vidaPescadores de vidaPescadores de vidaPescadores de vida

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para descobrir o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram Aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar,tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!

Eduardo Galeano.

RESUMO

Este trabalho foi elaborado a partir da lei n° 11.1 14, que alterou a Lei Federal n° 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelecendo a matrícula obrigatória no primeiro ano do ensino fundamental às crianças de seis anos completos até o início do ano letivo. A partir desta mudança da legislação surgem as seguintes questões: o que muda no currículo dos anos iniciais no ensino fundamental, agora com nove anos de duração? É para alfabetizar ou não? Neste trabalho busco algumas respostas para estas dúvidas, procurando elucidar que este acréscimo de um ano não deve ser algo descontextualizado, e sim as instituições de ensino devem estar atentas para estas mudanças, fazendo as adaptações necessárias para oferecer uma educação de qualidade a estes novos alunos que ingressam, agora mais cedo, na escola.

Palavras-chave: Anos Iniciais. Legislação. Alfabetização

ABSTRACT

This work was developed from the Law No. 11,114, which amended the Federal Law No. 9394/96 - Law of Guidelines and Bases of National Education to establish mandatory registration in the first years of elementary school children from six years to complete the top of the school year. From this change in legislation the following questions arise: what changes in the curriculum of the early years in elementary school, now with nine years' duration? It's for teaching or not? In this work seek some answers to these questions, trying clarify that this increase of one year should not be something decontextualized, but the institutions of education should be attentive to these changes, making the adjustments necessary to provide a quality education to these new students who enter, now early in the school. Keywords: early years. Legislation. Literacy

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................8

2 O QUE DETERMINA A LEGISLAÇÃO SOBRE O ENSINO FUNDA MENTAL DE NOVE ANOS..............................................................................................................10

3 A CRIANÇA DE SEIS ANOS E O CURRÍCULO DO ENSINO FU NDAMENTAL DE NOVE ANOS..............................................................................................................15

3.1 Alfabetização e Letramento...............................................................................19

3.1.1 Alfabetização................................................................................................20

3.1.2 Letramento...................................................................................................21

3.2 E como é feita a avaliação nesta etapa inicial do Ensino Fundamental?.............................................................................................................22

3.3 A formação do professor para o aluno de seis anos no Ensino Fundamental ..............................................................................................................24

4 E POR QUE NÃO ENSINAR BRINCANDO?................. ........................................26

4.1 Estágios no desenvolvimento da brincadeira...................................................30

5 ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: PRIMEIROS PASSOS ...................33

5.1 Criança de seis no Ensino Fundamental...........................................................33

5.2 A Criança e o Brincar........................................................................................35

5.3 Alfabetização e Letramento...............................................................................36

5.4 Objetivos para o primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental de nove anos............................................................................................................................37

5.5 Critérios de avaliação para o primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental...............................................................................................................38

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................. .......................................................41

REFERÊNCIAS CONSULTADAS............................ .................................................43

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho visa elucidar a questão do currículo dos primeiros anos do

ensino fundamental, com ênfase nos dois primeiros anos. A partir das leis n °

11114/2005 de 16 de maio de 2005 e °n° 11274/2006 d e 6 de fevereiro de 2006, a

criança deve ser matriculada no primeiro ano do ensino fundamental, agora com

nove anos de duração, com 6 (seis) anos completos até o início do ano letivo.

Este tema despertou interesse por se tratar de uma nova lei, que determina o

acréscimo de um ano no currículo do ensino fundamental. Em um primeiro momento,

era uma solução para oportunizar o ingresso de um maior número de alunos no

ensino obrigatório, já que muitos não tinham acesso à educação infantil e quando

ingressavam na escola, além de aprender a ler e escrever na primeira série, o

professor tinha que propiciar atividades que desenvolvessem a coordenação motora

e a adaptação ao ambiente escolar.

Ao se planejar sua implantação surgem também muitas indagações: uma

criança de seis anos ao ingressar no primeiro ano deve ser alfabetizada ou não?

Este primeiro ano segue a proposta curricular da antiga 1°série?

Este trabalho tem por objetivo esclarecer algumas dúvidas em relação a esta

nova lei, se significa apenas um acréscimo de um ano, ou uma reformulação do

currículo do ensino fundamental, focando nos anos iniciais.

No primeiro momento, farei uma breve reflexão sobre o que determina a

legislação.

A seguir abordarei algumas considerações sobre as alterações necessárias

na escola para atender a estes alunos, como: espaço físico adequado, mobiliário e

equipamentos, materiais didáticos, adequação do projeto pedagógico, recursos

humanos (docentes e de apoio)...

Uma criança de seis anos de idade está naquela fase inquieta, onde ao

mesmo tempo em que tem curiosidades, não consegue concentrar-se por muito

tempo dentro de uma sala de aula, onde, muitas vezes, o único material oferecido a

ela é o lápis e o caderno. Fica aqui então um convite: e porque não ensinar

brincando?

Abordo também a questão da alfabetização e letramento, ou seja, entre

outros, este é um dos principais tópicos desta mudança, um período mais longo para

que a criança não aprenda somente a ler, mas sim a interpretar e construir seus

próprios textos.

E por último a proposta da Smed de Ijuí, que explicita a reformulação de

currículo organizada pelas equipes pedagógicas e professores da rede municipal

que atuam nesta etapa do ensino fundamental. Nesta, fica claro o compromisso

destes profissionais em buscar informações, visando o bem estar do aluno,

realizando as alterações necessárias conforme os princípios do ensino fundamental

de nove anos.

Este trabalho está organizado a partir de pesquisa bibliográfica, sendo, na

sua, maioria, publicações do Ministério de Educação.

2 O QUE DETERMINA A LEGISLAÇÃO SOBRE O ENSINO FUNDA MENTAL DE

NOVE ANOS.

O debate sobre a ampliação do ensino fundamental para nove anos, com o

ingresso do aluno aos 6 anos de idade, vem ocorrendo na sociedade brasileira há

algum tempo. O objetivo principal dessa ampliação do ensino fundamental é garantir

a todas crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades

de aprender e, assim, ter uma aprendizagem mais ampla. O Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Básica (Saeb)2003 comprova que crianças que ingressam

em instituições escolares antes dos sete anos de idade, apresentam resultados

superiores em sua maioria, em testes de proficiência em leituras, além de

comprovarem que alunos oriundos da educação infantil apresentam um melhor

desempenho nas séries iniciais do ensino fundamental, pelo desenvolvimento da

coordenação motora, socialização, maturidade...

A Lei Federal n°9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

reforça o artigo 288 da Constituição Federal de 1988, ao afirmar, no art. 5° que o

“acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer

cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade

de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o

Poder público para exigi-lo”.

A Lei Federal n°11.114 de 16 de maio de 2005 altero u os artigos 6,32 e 87 da

LDB que passarem a ter a seguinte redação:

Art. 6° “É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a

partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental”.

Art. 32° “O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório

e gratuito, na escola pública a partir dos seis anos, terá como objetivo a formação

básica do cidadão...”.

Em 6 de fevereiro de 2006 o Presidente da República sancionou a Lei Federal

n°11.274, que vinculou o ingresso obrigatório das c rianças a partir dos 6 anos de

idade ao ensino fundamental de 9 anos de duração.

Por sua vez, o Conselho Nacional de Educação ao estabelecer normas

nacionais para a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração,

manifestou-se pelo Parecer CNE/CEB n°6/2005, pela R esolução CNE/CEB

n°3/2005, pelo Parecer CNE/CEB n°18/2005. A Resoluç ão CNE/CEB n° 3/2005

assim estabeleceu:

Art.2° - A organização do ensino fundamental em 9 a nos e da Educação

Infantil adotará a seguinte nomenclatura:

Etapa de ensino Faixa etária prevista Duração

Educação infantil

Creche

Pré-escola

Até 5 anos de idade

Até 3 anos de idade

4 e 5 anos de idade

Ensino fundamental

Anos iniciais

Anos finais

Até 14 anos de idade

De 6 a 10 anos de idade

De 11a14 anos de idade

9 anos

5 anos

4 anos

O Conselho Nacional de Educação (no Parecer CNE/CEB n 18/05, exara as

seguintes considerações e orientações:

a) A antecipação da obrigatoriedade da matrícula e freqüência à escola a

partir dos seis anos de idade e a ampliação da escolaridade obrigatória são

importantes reivindicações no campo das políticas públicas de educação, no sentido

de democratização do direito à educação e de capacitação dos cidadãos para o

projeto de desenvolvimento social e econômico soberano da Nação Brasileira.

b) A matrícula e freqüência à escola a partir dos 6(seis) anos de idade, com a

ampliação do ensino fundamental obrigatório para 9(nove) anos de duração, para

todos os brasileiros, é uma política afirmativa da equidade social, dos valores

democráticos e republicanos. Para que possa consubstanciar-se, atendendo

também os princípios constitucionais e legais de provimento de ensino (CF, Art. 206

e LDB, art.3°), em especial o inciso I, que dispõe “a igualdade de condições para o

acesso e permanência na escola.,é preciso que se mobilizem, prontamente, todas

as instâncias do sistema de ensino, para que os educadores e as lideranças

comunitárias assumam papel de protagonistas na elaboração de um novo projeto

político-pedagógico do Ensino Fundamental, bem como para o conseqüente

redimensionamento da Educação Infantil.

c) o projeto político-pedagógico escolar, para o ensino fundamental de 9

(nove) anos, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade, deve

considerar com primazia as condições sócio-culturais e educacionais das crianças e

da comunidade e nortear-se para a melhoria da qualidade da formação escolar,

zelando pela oferta eqüitativa de aprendizagens e o alcance dos objetivos do ensino

fundamental, conforme definidos em norma nacional.

d) A organização federativa garante que cada sistema de ensino é

competente e livre para construir, com a respectiva comunidade escolar, seu plano

de universalização e de ampliação do Ensino Fundamental, com elevação do padrão

de qualidade do ensino e com matrícula e freqüência obrigatória a partir dos seis

anos de idade. Cada sistema é também responsável por refletir e proceder a

convenientes estudos, com a democratização do debate, envolvendo todos os

segmentos interessados, antes de optar pela(s) alternativa(s) julgada(s) mais

adequada(s) à sua realidade, em função dos recursos financeiros, materiais e

humanos disponíveis. O plano adotado pelo órgão executivo do sistema é

regulamentado, necessariamente, pelo respectivo órgão normativo, para o que as

Secretarias de Educação e os Conselhos de Educação precisam se articular, a fim

de que suas decisões e ações alcancem a devida validade. Já a legitimidade e a

efetividade desta política educacional vão requerer ações formativas da opinião

pública e das condições pedagógicas e administrativas; como também deve esta

merecer atento acompanhamento e avaliação, em todos os níveis.

Neste parecer fica claro que a organização do projeto político-pedagógico é

de incumbência da escola, de acordo com as condições sociais ao qual está

inserida. A matrícula é obrigatória aos seis anos de idade, como uma forma de

igualar diferenças sociais, proporcionar as crianças um maior período de convívio

escolar.

A lei n° 11.274 de 06 de fevereiro de 2006, altera a redação dos arts. 29,30,32

e 87 da Lei Federal n° 9.394 de 20 de dezembro de 1 996, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9(nove) anos

para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos seis anos de

idade::

Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos,

gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo

a formação básica do cidadão, mediante:

I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o

pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da

tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a

aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade

humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em

ciclos.

§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem

adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da

avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do

respectivo sistema de ensino.

§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa,

assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e

processos próprios de aprendizagem.

§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado

como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais.

§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo

que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no

8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente,

observada a produção e distribuição de material didático adequado.

No entanto com a implantação desta lei o currículo deve adequar-se a este

novo público alvo.

Os Municípios, os Estados e o Distrito Federal terão prazo até 2010 para

implantar a obrigatoriedade para o Ensino Fundamental disposto no art. 3° desta

nova lei.

A organização pedagógica da escola deve ser flexível, o conhecimento tende

ir ao encontro do interesse do aluno para que possa realmente ocorrer

aprendizagem. O conhecimento é uma construção coletiva e é na troca dos sentidos

desenvolvidos no diálogo e na valorização das diferentes vozes que circulam no

espaço de interação que vai se construindo a aprendizagem.

Surge também toda uma mudança administrativa na escola, como: a

reformulação do espaço físico, maior número de profissionais, mobiliários adaptados

aos pequenos, materiais didáticos..., para que possa suprir as necessidades desta

faixa etária. Também outro fator importante é a reformulação do currículo,

respeitando o processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos,

respeitando as características etárias, sociais, psicológicas e cognitivas.

3 A CRIANÇA DE SEIS ANOS E O CURRÍCULO DO ENSINO FU NDAMENTAL DE

NOVE ANOS

A matrícula de crianças de 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental

supõe uma mudança no currículo, não é somente um acréscimo descontextualizado

de um ano no ensino fundamental. Este novo currículo nas “séries iniciais” deve

visar um desenvolvimento geral do educando, dando ênfase ao interesse do aluno e

seu desenvolvimento pleno. Um currículo não é algo fechado, o mesmo está

sempre aberto a mudanças, levando em consideração o contexto social onde o

aluno está inserido. Deve se ter sensibilidade ao elaborá-lo, pois há necessidade de

observação do educador sobre os seus educandos.

Percebe-se que as escolas ainda têm uma visão de que a criança só aprende

dentro de uma sala de aula, diante de um lápis e um caderno na mão. A criança tem

as mais diversas formas de demonstrar seus conhecimentos, e cabe ao educador

estar atento a estas manifestações.

Borba (2007, p. 47).diz:

A dança, o teatro, a música, a literatura, as artes

visuais e as artes plásticas representam formas de expressão criadas pelo homem como possibilidades diferenciadas de dialogar com o mundo. Esses diferentes domínios de significados constituem espaços de criação, transgressão, formação de sentidos e significados que fornecem aos sujeitos, autores ou contempladores, novas formas de inteligibilidade, comunicação e relação com a vida, reproduzindo-a e tornando-a objeto de reflexão.

Há uma necessidade de incluir a dimensão artístico-cultural na formação de

crianças e adolescentes, como área de conhecimento que tem seus conteúdos

próprios, não aborda-la somente como uma forma de complemento ao conteúdo que

está sendo trabalhado, mas sim como uma forma de expressão e também de lazer.

A arte, a linguagem e o conhecimento de modo geral, são frutos da ação

humana sobre o mundo. Ao mesmo tempo em que criamos, agem sobre nós,

identificando-nos de muitas maneiras. Estas nos fazem sentir que pertencemos ao

mundo, que temos nossas maneiras pessoais de manifestarmos aquilo que somos.

O objetivo maior na educação é de alargar e aprofundar o conhecimento do ser

humano, possibilitando-lhe maior compreensão da realidade e maior participação

social. E motivar os alunos a participarem de exposições dos mais variados tipos,

assistirem a filmes, danças, ouvir músicas de diferentes compositores, estimula a

esta aprendizagem. Algumas escolas, muitas, vezes, não dispõem de recursos

financeiros, mas o professor deve buscar organizar as atividades com o que a

instituição dispõe. Este é um novo desafio que vem sendo lançado, requer uma

vontade de mudar, porém a satisfação no rosto dos pequenos é a garantia de que

vale a pena tentar.

Borba (2007, p. 52) diz:

Diferentes formas de expressão como desenho, pintura, dança, canto,

teatro, modelagem, literatura (prosa e poesia), entre outras, encontra-se presentes nos espaços de educação infantil (ainda que muitas vezes de forma reduzida e pouco significativa), nas casas e nos demais espaços freqüentados pelas crianças. E por que estão presentes? Porque são formas de expressão da vida, da realidade variada em que vivemos.

À medida que a criança avança no ensino fundamental, perde-se estas

possibilidades de expressão, leitura e produção com diferentes linguagens. Na

escola privilegia-se uma linguagem utilizada somente dentro de seu contexto,

servindo à produção dos conteúdos dos livros didáticos, mediante sua transmissão,

repetição e avaliação.

O professor precisa rever suas práticas educativas. Para que a aprendizagem

seja realmente significativa para o aluno, sua participação se faz pela ação que

reinterpreta, cria e transforma.

Uma das manifestações da criança diante do mundo dá-se através do

desenho. Estes, muitas vezes, expressam desejos, sonhos, angústias... e que são

desconsiderados conforme o aluno avança no ensino fundamental. Cabe à

educação das séries/anos iniciais valorizar as diferentes manifestações culturais, a

partir do interesse e conhecimento dos alunos, ampliando e expandindo-os em

projetos de trabalho interdisciplinares, ressaltando que a educação é um espaço de

humanização.

Corsino (2007, p. 67) diz:

Um trabalho de qualidade para as crianças nas diferentes áreas de currículo exige ambientes aconchegantes, seguros, encorajadores, desafiadores, criativos, alegres e divertidos nos quais as atividades elevem sua auto-estima, valorizem e ampliem as suas leituras de mundo e seu universo cultural, agucem a curiosidade, a capacidade de pensar, de decidir, de atuar, de criar, de imaginar, de expressar; nos quais jogos, brincadeiras, elementos da natureza, artes, expressão corporal, histórias contadas, imaginadas, dramatizadas, lidas etc. estejam presentes.Os espaços disponíveis para as atividades precisam ser compreendidos como espaços sociais onde nós, professores, temos papel decisivo, não só na organização e disposição dos recursos, mas também na distribuição do tempo, na forma de mediar as relações, de se relacionar com as crianças e de instiga-las na busca do conhecimento.

Esta citação deixa clara a importante função do educador dentro de sua sala

de aula. É ele quem coordena e organiza este espaço, de uma forma a contemplar

as necessidades de seus alunos. Existem leis, regras a cumprir, porém este espaço

é organizado pelo educador, com o principal objetivo da escola: atender as

necessidades de conhecimento de seus alunos.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental exaradas

(pelo Conselho Nacional de Educação, Resolução CEB nº 2, 1998) constitui o

documento legal que traça uma direção para que as escolas reflitam sobre suas

propostas pedagógicas. Como eixos das propostas pedagógicas das escolas, as

Diretrizes definem os seguintes princípios: “a) Princípios Éticos da Autonomia, da

Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; b) Princípios

Políticos dos Direitos e Deveres da Cidadania, do Exercício da Criticidade e do

Respeito à Ordem Democrática; c) Princípios Estéticos da Sensibilidade,

Criatividade e Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais”.

A partir desses eixos, é importante que o trabalho pedagógico com as

crianças de seis anos de idade, nos anos iniciais do ensino fundamental garanta um

estudo articulado entre:

• Ciências Sociais: Desenvolvimento da reflexão crítica sobre grupos

humanos, suas histórias, organizações em diferentes épocas e locais.

Propor atividades em que as crianças possam ampliar a compreensão

de sua própria história, da sua forma de viver e de se relacionar,

perceber o espaço em geral que está ao seu redor. Histórias

individuais e coletivas que participam da construção da história da

sociedade. Observar e compreender a natureza, os efeitos que o

homem causa sobre ela, reconhecer-se como parte integrante da

natureza e da cultura.

• Ciências Naturais: Instigar as crianças a levantar hipóteses e a

construir conhecimentos sobre os fenômenos físicos e químicos, sobre

os seres vivos e sobre a relação entre o homem e a natureza, e entre o

homem e as tecnologias. Adaptar o ambiente escolar de modo a

favorecer a observação, a experimentação, o debate e ampliação de

conhecimentos científicos, fazendo uma relação dos significados dos

saberes dessa área com suas ações do cotidiano.

• Noções Lógico-Matemáticas: Provocar as crianças a identificar

semelhanças e diferenças entre diferentes elementos, classificando,

ordenando e seriando; fazer correspondência/agrupamento; comparar

conjuntos; raciocinar sobre números e quantidades, operando com

quantidades e registros de situações-problema. É importante que as

atividades se dêem de uma forma lúdica, onde desenvolva o raciocínio

lógico.

• A Área das Linguagens: A criança desde pequena tem infinitas

possibilidades para o desenvolvimento de sua sensibilidade e de sua

expressão. Um dos grandes objetivos do currículo nessa área é a

educação estética, onde o foco é sensibilizar a criança para apreciar

uma pintura, uma escultura, assistir a um filme, ouvir uma música.

Nessa etapa é importante a criança vivenciar atividades em que possa

ver, reconhecer, sentir, experienciar, imaginar as diversas

manifestações da arte e atuar sobre elas.

A área das linguagens inclui possibilitar a socialização e a memória das

práticas esportivas e de outras práticas corporais. Em todas as áreas é essencial o

respeito às culturas, à ludicidade, à espontaneidade, à autonomia e à organização

das crianças, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento humano. O importante

nessa etapa é promover atividades que envolvam todos os alunos, para que se

trabalhe cedo a questão do respeito e da inclusão.

Dentro deste campo da linguagem também se destaca o da prática

pedagógica, onde sejam disponibilizadas ao aluno atividades discursivas de

diferentes gêneros textuais, orais e escritos, de usos, finalidades e intenções

diversos. Textos significativos para os alunos, produzidos em diferentes situações do

uso da linguagem oral e escrita, onde esses participem como locutores e como

ouvintes. É importante que no cotidiano dos anos iniciais sejam realizadas, com ,

freqüência ,atividades de produção e de recepção de textos orais e escritos, tais

como: escuta diária de textos diversos; produção de textos escritos, onde um colega

de sala mais experiente faça o registro; participação em jogos e brincadeiras que

envolvam a linguagem... A criança deve se sentir desafiada a pensar, discutir,

conversar e raciocinar a escrita alfabética, pois um dos principais objetivos nos anos

iniciais é a apropriação, por parte do aluno, sobre a natureza e funcionamento do

sistema de escrita, compreendendo e apropriando-se do uso desta.

3.1 Alfabetização e Letramento

Antes de se falar em alfabetização e letramento, farei uma breve reflexão da

língua e do ensino desta. A língua é um sistema que tem como centro a interação

verbal, ou seja, é o nosso meio de comunicação, sendo este efetivado através de

textos ou discursos, falados ou escritos. Isso significa que esse sistema depende da

interlocução (inter+locução= ação lingüística entre os sujeitos).

A partir desta concepção, uma proposta de ensino de língua deve valorizar o

uso desta em diferentes situações e contextos sociais, em sua diversidade de

funções e variedade de estilos e modo de falar. Uma proposta adequada para o

ensino da língua deve prever não só o desenvolvimento das capacidades

necessárias às práticas de leitura e escrita, mas também de fala e escuta

compreensiva nas suas mais diversas situações.

As crianças vivem em contato com a língua oral desde cedo, esta faz parte

das relações sociais. E ao chegar ao ensino fundamental já conseguem interagir

com autonomia, salvo algumas exceções. Na escola, se depara com diferentes

produções de textos orais. O mesmo ocorre com a escrita, a criança tem contato

com o mundo letrado, através de placas, outdoors, rótulos diversos, livros de história

que mesmo sendo lidos por outra pessoa, a criança visualiza a escrita.

Desde cedo a criança deve ter contato com materiais que possibilitem

visualizar a escrita alfabética, possibilitando uma melhor compreensão deste

enigmático alfabeto.

Desde a educação infantil é de extrema importância disponibilizar aos

alunos diferentes tipos de produção oral e escrita de textos, de diversos gêneros,

isto facilita no momento da alfabetização e letramento. Antes de se pensar em

alfabetizar deve-se pensar em um espaço que proporcione oportunidades em que a

criança se sinta desafiada a saber.

3.1.1 Alfabetização

Historicamente, o conceito de alfabetização se identificou ao ensino-

aprendizagem da “tecnologia da escrita”, ou seja, do sistema alfabético de escrita, o

que de uma forma geral significa, na leitura, a capacidade de decodificar os sinais

gráficos, transformando-os em sons, e na escrita, a capacidade de codificar os sons

da fala, transformando-os em sinais gráficos.

A partir dos anos 80, com o surgimento da psicogênese da aquisição da

língua escrita, particularmente com os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky,

o conceito de alfabetização ganha uma nova contribuição. A partir deste estudo, o

aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao domínio de correspondências

entre grafemas e fonemas (os termos “grafemas” e “fonemas” correspondem,

aproximadamente, a letras e sons, usados na língua corrente), mas sim como um

processo ativo por meio do qual a criança, desde seus primeiros contatos com a

escrita, construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da

língua escrita, compreendida como um sistema de representações. Surge então o

termo letramento, como uma forma de aprimorar a alfabetização, ou seja, a

nomenclatura dada no momento em que o indivíduo faz o uso e a interpretação da

leitura e escrita.

Com o surgimento dos termos alfabetização e letramento, muitos

pesquisadores passaram a distinguir um do outro. O termo alfabetização é

designado como o aprendizado inicial da leitura e escrita, da natureza e do

funcionamento do sistema de escrita. Já o letramento, reservava-se para designar

os usos (e as competências de uso) da língua escrita. Quando há a necessidade de

estabelecer distinções, tendem a utilização das expressões “aprendizado do sistema

de escrita” e “aprendizado da linguagem escrita”.

3.1.2 Letramento

É na segunda metade dos anos de 1980 que surge a palavra letramento no

discurso de especialistas das Ciências Lingüísticas e da educação. Sua tradução se

faz na busca de ampliar o conceito de alfabetização, chamando a atenção não

apenas para o domínio da habilidade de ler e escrever (codificar e decodificar), mas

também para os usos destas habilidades em práticas sociais em que escrever e ler

são necessários.

Pró-letramento ( 2008, p.11) diz:

“Letramento é pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como o resultado da ação de usar essas habilidades em práticas sociais, é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um individuo como conseqüência de ter-se apropriado da língua escrita e de ter-se inserido num mundo organizado diferentemente: a cultura escrita.”

Quando falamos que uma criança é letrada, isto significa que tem pleno

domínio da linguagem e interpretação da escrita alfabética. Alfabetização e

letramento são duas ações distintas, mas não inseparáveis, o ideal seria alfabetizar

letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura

e da escrita.

Muitos educadores ainda insistem em somente alfabetizar, desconsideram a

capacidade grandiosa das crianças de criar e interpretar seus próprios textos. A

criança necessita ser desafiada a pensar, ao invés de somente responder questões,

cujas respostas estão previamente estabelecidas em livros didáticos.

Enfim a questão, a criança, sim, pode iniciar sua alfabetização no primeiro

ano do ensino fundamental, desde que esta seja de uma forma lúdica, onde a

criança sinta-se instigada a conhecer, e não como uma forma de “despejo” de

conteúdos.

Esse primeiro ano constitui uma possibilidade para qualificar o ensino e a

aprendizagem dos conteúdos da alfabetização e do letramento. Mas, não se deve

restringir o desenvolvimento das crianças de seis anos de idade exclusivamente à

alfabetização. Por isso, é importante que o trabalho pedagógico assegure o estudo

das diversas expressões e de todas as áreas do conhecimento.

Os sistemas e todos os profissionais envolvidos com a educação de crianças

devem compreender que a alfabetização de algumas crianças pode requerer mais

de 200 dias letivos, e que é importante acontecer junto com a aprendizagem de

outras áreas de conhecimento. Muitas vezes é um trabalho árduo e que requer

paciência e bom senso.

O Ensino Fundamental de nove anos ampliou o tempo dos anos iniciais, de

quatro para cinco anos, para dar à criança um período mais longo para as

aprendizagens próprias desta fase, inclusive da alfabetização. Isto deve se dar de

uma maneira prazerosa, pois esta criança que agora chega a nossas escolas mais

cedo, está em uma fase de descobertas, onde ao mesmo tempo em que tem

curiosidades, não consegue manter-se parada por muito tempo em uma sala de

aula.

O profissional que trabalha com os anos iniciais do ensino fundamental

precisa ter um cuidado especial, pois estes podem deixar marcas positivas quanto

negativas, na vida destes pequenos estudantes.

3.2 E como é feita a avaliação nesta etapa inicial do Ensino Fundamental?

Na escola os alunos têm direito, entre outros, a aprender conteúdos das

diferentes áreas do conhecimento, que lhes assegurem cidadania no convívio dentro

e fora da escola. Para isto é fundamental que o professor se sinta desafiado a

repensar sua prática pedagógica. É de extrema importância que crianças e jovens

que freqüentam este ambiente não encontrem somente conceitos e teorias

desarticuladas das funções sociais.

Segundo Leal (2007, p.98), queremos que eles pensem sobre a sociedade,

interajam para transformá-la e construam identidades pessoais e sociais, vivendo a

infância e a adolescência de modo pleno.

A escola e o professor devem buscar saber mais sobre o seu aluno, o que ele

já sabe e o que gostaria de aprender A Avaliação não deve ter uma visão de

exclusão, onde esta serve somente para medir a aprendizagem e classificá-los. É

preciso que os educadores reconheçam a necessidade de avaliar com diferentes

finalidades. Entre elas:

• Conhecer as crianças e os adolescentes, considerando as

características da infância e da adolescência;

• Conhecer e potencializar as suas identidades, acompanhando o seu

desenvolvimento;

• Identificar os conhecimentos prévios dos alunos nas diferentes áreas, e

trabalhar a partir destes;

• Conhecer as dificuldades e planejar atividades que os ajudem a

superá-las;

• Buscar estar sempre atento à estratégia de ensino que está sendo

utilizada para constatar se está alcançando bons resultados;

A instituição também deve realizar sua auto-avaliação, ou seja, estar atenta

aos aspectos positivos e negativos, para que também esteja em constante

transformação. Para que a avaliação se dê de uma forma construtiva, à escola fica a

incumbência de contextualizar e recriar o currículo.

Todos os profissionais têm de ter clareza sobre as metas a serem atingidas,

traçar objetivos a serem alcançados em determinados períodos, para que isto seja

considerado quando se avalia um aluno, e durante o decorrer deste processo cabe

ao professor fazer registros significativos que apontem progressos e falhas a sanar.

Estes registros devem ser feitos periodicamente, visando o grupo em geral e o aluno

em particular. Como o professor não é uma máquina de memória, é interessante ir

guardando alguns trabalhos dos alunos, pois estes lhe auxiliam a perceber o

progresso do grupo, como uma espécie de portifólio. Examinando esses trabalhos,

percebem-se diferenças e metas que os alunos atingiram, e é um componente a

mais na avaliação do educando.

Quando se fala em avaliação é um erro dizer que são momentos isolados,

esta deve se dar diariamente. O educador pode organizar esta em diferentes

momentos, como: o diálogo entre eles, a narrativa oral de uma história, a produção

de um texto, a organização de idéias...

A partir da análise destes materiais, podem-se fazer os registros de

acompanhamento. Neste primeiro ano é fundamental este cuidado, são em

pequenas manifestações que os alunos mostram sua construção do pensamento, e

aprendizagens significativas.

Para que a avaliação se dê realmente de uma forma construtiva, é necessário

ter sempre claro os objetivos a atingir, o comprometimento de todos envolvidos

neste processo e a sensibilidade de querer sempre uma construção significativa do

conhecimento.

3.3 A formação do professor para o aluno de seis a nos no Ensino

Fundamental

É importante que o professor esteja atento a todas essas mudanças de

currículo e compreenda este novo aluno que chega à escola. Para isto é

fundamental assegurar ao professor programas de formação continuada,

privilegiando a especificidade do exercício docente em turmas que atendem a

crianças de seis anos, ou seja, nesta etapa é importante a troca de experiências

entre estes profissionais.

A troca de saberes fortalece o trabalho pedagógico. Esse fazer precisa ser

objeto de reflexão, de estudos, de planejamentos e de ações coletivas, no interior da

escola, de modo intimamente ligado às vivencias cotidianas. Todo o processo de

formação é infindável, não há saber pronto, devemos estar sempre em busca do

novo, do fazer com qualidade.

Nos cursos de formação inicial e continuada de professores há a necessidade

da realização de estudos que aprofundem e clarifiquem a concepção de infância,

alfabetização e letramento. A concepção de infância está em constante evolução,

assim o professor precisa ser preparado para desenvolver o trabalho direcionado

pela idéia de criança, que deve estar presente na proposta pedagógica da escola.

Estudos sobre reorganização de tempos e espaços escolares, materiais

didáticos, recursos e equipamentos, bem como, os ambientes adequados e sua

organização são de grande importância, na medida em que refletem a concepção de

educação da instituição escolar.

4 E POR QUE NÃO ENSINAR BRINCANDO?

O primeiro passo aqui é redescobrir a importância do brincar na infância. Esta

é a idade das brincadeiras, é através destas que a criança satisfaz, em grande parte,

seus interesses, necessidades e desejos , sendo um meio privilegiado de inserção

na realidade, pois expressa a maneira como a criança reflete, ordena, desorganiza,

destrói e reconstrói o mundo. O lúdico merece destaque como uma das maneiras

mais eficazes de envolver o aluno nas atividades, pois a brincadeira é algo inerente

na criança, é sua forma de trabalhar, refletir e descobrir o mundo que a cerca. O

importante é trazer o lúdico para dentro da educação como uma metodologia que

possibilita mais vida, prazer e significado ao processo de ensino e aprendizagem,

tendo em vista que é particularmente significativo para estimular a vida social e o

desenvolvimento construtivo da criança.

O brincar está se perdendo, nesta sociedade cada vez mais tecnológica. Os

pequenos estão cada vez mais detidos em frente a um computador, ou com

brinquedos que falam e se movimentam sozinhos, com a simples tarefa de somente

apertar um botão. Até mesmo as velhas motocas estão com motores, onde a criança

aprende a conduzir como se fossem pequenos carros. Onde está a infância dos

passeios de bicicleta no parque, os carrinhos e bonecos, jogos de quebra-cabeça?

A capacidade de brincar possibilita as crianças um espaço para resolução de

problemas que as rodeiam, este é mais que uma simples satisfação de desejos. É a

troca de experiências culturais, facilitando o crescimento, conduzindo

relacionamentos em grupos, possibilitando uma forma de comunicação consigo

mesmo e com os outros.

As crianças estão sendo “atropeladas” pelo conhecimento e tecnologia, e é

dever da escola, em parceria com a família, aceitar o desafio de reconduzir esta

geração, de modo a não perder a infância em sua plenitude. O lúdico permite um

desenvolvimento global e uma visão de mundo real. Por meio das descobertas e da

criatividade, a criança pode expressar, analisar, criticar e transformar a realidade. Se

o brincar for aplicado com objetivo claro, a educação lúdica poderá contribuir para a

qualidade na compreensão do conteúdo, quer na qualificação ou formação crítica do

educando, quer para redefinir valores, e para melhorar o relacionamento destes

pequenos cidadãos na sociedade. O lúdico é essencial porque desenvolve a

criatividade e ensina a solucionar os conflitos que irão surgindo. A criança expressa

no brincar suas angústias e desejos, e também aprende a lidar com as diferenças.

Quando falo aqui em trabalhar com o lúdico, não é simplesmente organizar um

pequeno espaço em sala de aula, ao quais as crianças têm dia e hora pré-

estabelecidos para utilizar-se deste espaço. É trazer jogos, brincadeiras que

envolvam a criança, que esta se sinta desafiada a participar, para que o

conhecimento se dê numa forma contextualizada, e não simplesmente como uma

mera memorização de conteúdos.

Tanto os pequenos como os adultos estão inseridos hoje num mundo mais

consumista. A mídia cada vez mais presente, onde aos poucos perdemos o

significado de professor para os canais de televisão, vídeo game, personagens

violentos que são vistos como heróis em historias em quadrinhos e desenhos

animados. O que se percebe atualmente, é que há uma pressão para que as

crianças sejam jovens cada vez mais cedo.

Também há o fato de que os pais vêem na escola um espaço para “aprender”

e não para brincar. Muitos destes até reconhecem que a brincadeira é importante

para a felicidade do filho, mas acreditam que isto deve ser feito fora do horário da

escola. O único momento destinado ao brincar é na hora do recreio, quando este

não lhe é tirado por não ter completado a tarefa em aula, ou por mau

comportamento.

Há a necessidade de distinguir o brincar lúdico do pedagógico. O brincar

lúdico gera prazer, é o correr, pular, sem preocupar-se com nada. Já o brincar

pedagógico visa atingir objetivos propostos anteriormente, é o desenvolver uma

brincadeira direcionada. A escola tem de proporcionar espaços para estes dois tipos

de brincar.

E não é só a criança que tem este direito, o adulto também tem de se permitir

a este tipo de lazer, de diversão. Tanto pais, como professores, poderiam se integrar

mais com as crianças, permitindo-se a viver neste encantado mundo de fantasias.

Talvez, consultórios médicos não estariam sempre lotados de pacientes

estressados. O brincar permite expor nossas angústias e desejos, e viver de uma

maneira mais livre.

O professor também pode participar das brincadeiras com as crianças, e não

somente observá-las de longe. Isto cria laços de carinho e respeito, falo aqui por

mim, pois percebo no olhar dos pequenos a felicidade de nos ter no mundo deles,

onde quem coordena a brincadeira são eles, como se nós, educadores,

estivéssemos sob o domínio da criança. Percebo que isto nos aproxima, e que tem

um significado valioso nesta faixa etária. Infelizmente a brincadeira está associada

somente à infância, e quando muitas vezes se vê um professor “brincando” em sala

de aula este é visto como um profissional que pouco trabalha. Dentro das atividades

curriculares deve-se ter um espaço para brincar e produzir cultura. Não é o brincar

por brincar, mas sim com objetivo claro, que contribua ao aprendizado. E porque

também não mobilizar a família? Reviver isto também é significativo, elaborar

projetos que envolvam a participação dos pais nas atividades, fazer pesquisas das

principais brincadeiras que brincavam em suas infâncias e ensinar a seus filhos.

O brincar, além dos benefícios como melhoria na aprendizagem e

desenvolvimento cognitivo, o aspecto mais importante é que este gera felicidade.

Também é um ponto positivo na medida em que estimula a inteligência, a

capacidade de criar. O espaço lúdico é um aliado para avaliação da criança, pois é

onde o professor pode perceber as angústias, aflições, a capacidade dos pequenos

de criar e resolver pequenos conflitos. Ao observar nossos alunos brincando

podemos conhecê-los melhor, pois parte de seus mundos e experiências, revela-se

nas ações e significados que constroem nas suas brincadeiras. Muitas vezes no

“brincar livre”, podemos observar situações rotineiras dos alunos e que podem trazer

uma grande contribuição para projetos a serem trabalhados, e que correspondam

aos seus interesses.

A criança de seis anos de idade está naquela fase inquieta, de

descobertas, onde já não é mais uma criança pequena e ainda não é um

adolescente ou adulto. Do ponto de vista escolar espera-se que possa ser iniciada

no processo de alfabetização, visto que possui condições de compreender e

sistematizar determinados conhecimentos. Espera-se também um período maior de

concentração e assimilação de atividades. Isto varia de criança para criança e a

escola deve estar atenta a estas diferenças.

A experiência do brincar cruza diferentes tempos e lugares, passados,

presentes e futuros, sendo marcada ao mesmo tempo pela continuidade e pela

mudança. Uma das principais propostas do ensino fundamental de nove anos é

ensinar aos alunos de uma forma lúdica, não romper esta etapa importante na vida

de um ser humano, e sim contribuir para seu crescimento. Um dos grandes erros

que ocorre nos anos iniciais é o pouco período que os professores designam para

brincadeiras. Ainda os professores estão presos á prática de que a sala de aula

deve ser organizada, com cada aluno no seu lugar, em mesas e cadeiras

distribuídas em fileiras.

Esta criança de seis anos encontra-se no período de intersecção da educação

infantil com o ensino fundamental, ou muitas vezes são crianças adaptadas somente

ao ambiente familiar, onde nem sequer tinham contato com um ambiente escolar. O

importante nesta fase é que não haja rupturas da passagem da educação infantil

para o ensino fundamental, e sim uma continuidade do processo de aprendizagem.

As crianças que não freqüentaram espaços educativos infantis, cabe à escola

acolher estes alunos e mostrar-lhes que esta, é um espaço diferenciado de seus

lares, mas que podem continuar aprendendo criativamente.

Vygotsky (1989) defende que nesse novo plano de pensamento, ação,

expressão e comunicação, novos significados são elaborados, novos papéis sociais

e ações sobre o mundo são desenhados, e novas regras e relações entre os objetos

e os sujeitos, e desses entre si, são instituídas.

Não nascemos sabendo brincar, é algo que construímos e estabelecemos

com outros sujeitos, em uma troca mútua de respeito. E porque desconsiderarmos

isto quando uma criança ingressa no ensino fundamental? Por que não resgatarmos

este lado bom e único na vida de uma criança.

É através de atividades como o brincar que as crianças aprendem a usar o

próprio corpo, descobrem coisas novas e como elas são. A partir de determinadas

situações aprendem novas habilidades e experimentam diferentes situações. Além

das brincadeiras, o brinquedo é considerado um complemento imprescindível na

formação da criança, tanto que as escolas e clínicas infantis não podem prescindir-

los.

A brincadeira é algo que pertence à criança É através do brincar que a

criança experimenta, organiza-se, regula-se, constrói normas para si e para o outro.

Ela cria e recria, a cada nova brincadeira, o mundo que a cerca.

O brincar é uma forma de linguagem que a criança usa para compreender e

interagir consigo, com outro e com o mundo.

O brincar proporciona a troca de pontos de vista diferentes, ajuda a perceber

como os outros o vêem, auxilia a criação de interesses comuns, uma razão para que

possa interagir com o outro. O brincar tem uma função diferente e especial para

quem participa.

Os jogos e brincadeiras vão possibilitando às crianças a experiência de

buscar coerência e lógica nas suas ações, elas passam a pensar sobre suas ações

nas brincadeiras, sobre o que falam e sentem, não só para que os outros possam

compreendê-las, mas também para que continuem participando da brincadeira.

As crianças usam a brincadeira como uma forma de desenvolver um conceito

de eu (o que elas são). Elas desenvolvem o auto-conceito, experimentando os

papéis de outros. O conceito de outro generalizado, a visão de um indivíduo em um

contexto cultural no qual a socialização madura é construída, se desenvolve no

estágio seguinte, à medida que as crianças brincam com jogos. Os jogos são

baseados em regras e requerem, para serem jogados adequadamente, que elas

internalizem um entendimento dos papéis dos outros, bem como o de si mesmo.

Nesta etapa é importante se trabalhar com jogos, pois este é uma atividade de

ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e

espaço, seguindo regras livremente consentidas, mas obrigatórias. As regras podem

e devem ser elaboradas com os próprios alunos, para que o aluno sinta-se

desafiado.

4.1 Estágios no Desenvolvimento da Brincadeira

O comportamento de todas as crianças muda à medida que elas crescem,

incluindo suas brincadeiras.

Piaget (1998) identificou três estágios na brincadeira das crianças pequenas:

a brincadeira prática, a brincadeira simbólica e os jogos com regras, que são

paralelos aos três estágios do desenvolvimento intelectual identificados por ele: o

pensamento sensório - motor, o pré - operacional e o operacional concreto.

A brincadeira prática inclui as brincadeiras de manipulação dos bebês e das

crianças até a idade de começarem a caminhar. A brincadeira simbólica pode ser

vista nos jogos dramáticos das crianças da educação infantil ..Durante e após a

educação infantil as crianças gradualmente trocam o jogo dramático pelos jogos

mais formais.

As diferenças de gêneros nas brincadeiras das crianças têm se concentrado

na seleção dos brinquedos, nas brincadeiras de faz-de-conta, nas brincadeiras de

luta e nos jogos com regras.

Através de pesquisas Bettelheim (1992) mostra que os meninos se envolvem

mais em brincadeiras de luta e muitas vezes, parecem mais ativos que as meninas.

Os meninos também têm uma maior chance de brincar de super-heróis. Por outro

lado, as meninas têm mais chance de se envolverem em brincadeiras construtivas e

com materiais mais complexos, elas também mostram interesse em uma variedade

maior de brinquedos e materiais, as meninas tendem a preferir brincar em grupos

menores e a ter amigos imaginários mais freqüentemente do que os meninos,

ambos tendem a escolher companheiros do mesmo gênero.

O brinquedo pode criar uma zona de desenvolvimento proximal (capacidade

que a criança possui), pois na brincadeira a criança pode comportar-se num nível

que ultrapassa o que está habituada a fazer, funcionando como se fosse maior e

melhor do que é.

O jogo traz oportunidade para o preenchimento de necessidades irrealizáveis

e também a possibilidade para exercitar-se no domínio do simbolismo. Quando a

criança é pequena, jogo é o objeto que determina sua ação.

Sob o ponto de vista do desenvolvimento da criança, a brincadeira traz

vantagens sociais, cognitivas e afetivas. Segundo Vygotsky (1989) a brincadeira

possui três características: a imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes

em todas as brincadeiras infantis, tanto nas tradicionais, naquelas de faz-de-conta,

como ainda nas que exigem regras. Pode aparecer no desenho como atividade

lúdica.

Do ponto de vista psicológico, Vygotsky (1989), atribui ao brinquedo um papel

importante aquele de preencher uma atividade básica da criança, ou seja, ele é um

motivo para a ação.

Segundo Vygotsky (1989), a criança pequena tem uma necessidade muito

grande de satisfazer os seus desejos imediatamente. Quanto mais jovem é a criança

será o espaço entre o desejo e sua satisfação. Na educação dos pequenos há uma

grande quantidade de tendências e desejos não possíveis de serem realizados de

imediato e é nesse momento que os brinquedos são inventados, justamente para

que a criança possa experimentar tendências irrealizáveis. A impossibilidade de

realização imediata dos desejos cria tensão e a criança se envolve com o ilusório e o

imaginário, onde seus desejos podem ser realizados. É o mundo dos brinquedos,

conforme o educador. Tendo em vista a importância do brincar com as crianças, fica

aqui um convite: por que não ensiná-las brincando?

5 ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: PRIMEIROS PASSOS

Cadernos SMEd – IJUÍ/RS

Algumas experiências da implantação do ensino fundamental de nove anos

de duração já foram publicadas. Entre as estudadas, destaco a da Secretaria

Municipal de Educação de Ijuí.

A proposta surgiu a partir da dúvida: que criança é esta? Como ela aprende?

Inicia-se ou não o processo de alfabetização neste primeiro ano? Como trabalhar a

alfabetização sem esquecer a faixa etária, o lúdico, o jogo, a fantasia?...

A partir destes questionamentos houve a necessidade de repensar a proposta

curricular, buscar novos estudos junto com os professores alfabetizadores e as

equipes pedagógicas.

Num primeiro momento, foram ouvidos relatos de como se dava a

alfabetização com crianças de sete anos, e como se deverá fazer com as crianças

de seis anos. A partir destes registros, ocorreu uma contribuição significativa para a

elaboração da proposta curricular para o 1° e 2°ano do ensino fundamental.

5.1 Criança de seis anos no Ensino Fundamental

A criança vive em uma sociedade letrada, e muitas vezes mantêm contato

com diferentes tipos de leitura e escrita, para que serve e como é empregada.

Cabe ao professor fazer um levantamento de dados sobre esta interação da

criança com a escrita fora da escola, sabendo assim se a criança já conhece a

escrita e como adquiriu este conhecimento. Se a criança tem a oportunidade de

explorar e interpretar símbolos, ela expressa em seus desenhos, marcas deste

saber, e a partir destes referenciais o professor pode planejar o que ensinar.

A partir de dados coletados anteriormente, o professor tem base para

organização de seus objetivos, e assim desenvolver um trabalho significativo com o

grupo de seus alunos. Deve haver a sensibilidade e percepção de compreender o

que as crianças estão dizendo e mostrando, para que a aprendizagem se dê de uma

forma geral.

A partir deste novo processo, deve-se ter um olhar cuidadoso sobre a

avaliação. Esta deve se dar de uma forma a contribuir com o trabalho do docente, e

não somente como uma classificação do aluno. O professor deve buscar em

diferentes situações, elementos a auxiliar na relação ensino-aprendizagem do aluno.

Conhecer este melhor, levar em consideração o contexto ao qual está inserido, fazer

uma avaliação diagnóstica (conhecimentos adquiridos anteriormente).

A partir da avaliação diagnóstica (resultados), o educador tem elementos para

o planejamento a ser desenvolvido durante o ano letivo, considerando as etapas do

planejamento (anual e diário).

Smed – Ijuí (2006, p.12) diz:

O planejamento anual deve conter os objetivos gerais definidos a partir da avaliação diagnóstica e da proposta curricular adotada pela escola. O planejamento das atividades diárias compõe as ações do trabalho pedagógico; sua abordagem precisa contemplar o que se dará em sala de aula, voltado para a investigação, o desenvolvimento, retomada e a concretização da aprendizagem.

Mesmo com os objetivos organizados após avaliação diagnóstica, o professor

deve estar atento para novas situações que ocorrerão no cotidiano, e respeitar as

particularidades e ritmo de cada um de seus alunos.

Smed – Ijuí (2006, p.13) diz:

O que se propõe é uma reorganização da escola na sua forma de avaliar, sobretudo a avaliação diagnostica e processual, na perspectiva do desenvolvimento integral do educando. O importante é estabelecer um diagnóstico para conhecer cada criança e identificar as necessidades visando uma maior qualificação da aprendizagem da criança e do professor.

A avaliação diagnóstica e avaliação processual/formativa precisam estar

presentes durante todo o processo ensino-aprendizagem, para que realmente o

conhecimento se dê de uma forma significativa.

5.2 A criança e o brincar

O primeiro passo é compreender um pouco mais sobre esta importante fase

na vida do ser humano que é a infância. Hoje a criança é vista como um membro em

sua sociedade, digna de cuidados e respeito. Isto vem sido construído ao longo dos

anos, o que na antiguidade não acontecia. Quando crianças, este olhar era da

imagem de um mini-adulto. Não tinha sentimentos e muito menos era ouvida. Hoje

são muitas as ciências que nos auxiliam a compreendê-las melhor, tais como:

sociologia, filosofia, pedagogia, psicologia,... Nos dias de hoje a educação também

começa a ser pensada para os pequenos. Percebe-se um olhar diferenciado,

preocupado com o futuro destes cidadãos.

O educador deve compreender quem são estas crianças com o qual está

trabalhando, perceber o aluno dentro do seu contexto. Infelizmente a infância não é

igual para todos. Há crianças que trabalham para sobreviver, vítimas de maus tratos,

que são intimidadas e também intimidam, e pouco se sabe sobre elas na escola.

Também temos crianças de família economicamente privilegiada, cercadas de

cuidados e oportunidades.

A infância é uma categoria social em constante transformação. Estes

pequenos não vivem de uma forma homogênea, e a escola deve fazer uma reflexão

e investigação sobre quem são estes alunos que estão chegando ao ambiente

escolar. Torna-se fundamental trabalhar as singularidades, redefinir o pedagógico.

Muitas faces da infância estão presentes nos anos iniciais do ensino fundamental,

daí o desafio de lidar com a heterogeneidade, com as diferenças. O professor

precisa considerar essas diferenças no seu planejamento, pois cada um possui

necessidades e interesses próprios, que precisam ser trabalhados e respeitados.

A escola precisa estudar, encontrar alternativas de permitir que a criança viva

a sua infância, pois muitas delas não têm esta oportunidade em seu núcleo familiar.

Buscar a importância das experiências lúdicas dos educandos para o

desenvolvimento integral, tanto nos aspectos psicomotor, afetivo, cognitivo e social.

A partir disto ocorre à necessidade da escola reorganizar seu currículo, para

que esta etapa da infância possa ser vivida por todos no ambiente escolar,

reorganizando este espaço, oportunizando a criança a brincar, sentir, pensar,

compreender, dizer e fazer. Para que o planejamento priorize a infância e possibilite

o seu desenvolvimento, é preciso conhecer este aluno que agora ingressa mais

cedo em nossas escolas.

Smed – Ijuí (2006, p.26) diz:

A criança tem o direito de viver a sua infância e, efetivamente, ser criança. Viver experiências e aprender sobre o mundo pela atividade lúdica e pela experimentação. Brincar precisa ser reconhecido no trabalho pedagógico como oportunidade de aprendizagem, permeando o trabalho em todas as áreas do conhecimento.

5.3 Alfabetização e Letramento

Um dos elementos que vem sendo problematizados é a alfabetização. As

sociedades do mundo de hoje estão cada vez mais centradas na escrita, ser

alfabetizado, saber ler e escrever. É preciso fazer uso da leitura e da escrita no

cotidiano.

O processo de letramento inicia-se muito antes do processo de alfabetização.

A criança começa a letrar-se no momento em que nasce em uma sociedade letrada,

cercada de pessoas que usam a leitura e a escrita. A criança vai desde cedo,

conhecendo e reconhecendo praticas de leitura e escrita, independente do contexto

social ao qual está inserida, pois a escrita está presente em todos os lugares

(placas, out doors,...).

O termo alfabetização faz menção direta à aquisição do código escrito pelo

aprendizado das letras, ao qual o sujeito torna-se habilitado para ler e escrever

palavras, frases e textos. O conceito de letramento amplia a visão do que seja

“ingressar” neste universo, considerando as experiências anteriores à escolarização,

pois a criança de uma forma ou de outra, já teve oportunidades de contato com a

linguagem escrita. Sendo assim, a alfabetização pode ser considerada como um

momento dentro de um processo mais amplo, iniciado antes mesmo de ingressar na

escola.

Um ano na escola é insuficiente para a criança ser alfabetizada. Além do ler e

escrever, esta deve familiarizar-se com práticas sociais de leitura e escrita.

A alfabetização é um componente do letramento. Alfabetizar significa orientar

a criança para o domínio da tecnologia escrita, letrar significa levá-la ao exercício

das práticas sociais, da leitura e da escrita. Uma criança alfabetizada sabe ler e

escrever, e a criança letrada têm hábitos, habilidades de interpretar diferentes

gêneros de textos, em diversas situações, ela cria a sua própria história, faz

desenhos, rabiscos, e os interpreta. O ideal seria alfabetizar letrando, ou seja,

ensinar a ler e escrever em seus diferentes contextos, permitindo a criança a criar

nas diversas situações.

Smed – Ijuí (2006, p. 28) diz:

Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda ler e escrever, levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita através de livros, revistas, jornais e demais materiais que circulam na escola, na sociedade, criando situações que tornem necessárias e significativas às práticas de produção de textos.

5.4 Objetivos para o primeiro e o segundo anos do E nsino Fundamental de

nove anos

Oportunizar a alfabetização nas diferentes linguagens.

• Desenvolver as diferentes formas de expressão e comunicação.

• Oportunizar situações lúdicas que propiciem aprendizagens

significativas nas diferentes áreas do conhecimento.

• Propiciar situações em que a criança se posicione crítica e

argumentativamente.

• Despertar o gosto pela leitura propiciando a interação com o mundo da

escrita.

• Criar diferentes situações que propiciem à criança o reconhecimento e

a valorização do corpo em todas as dimensões (física, social, mental,

cultural,...)

5.5 Critérios de avaliação para o primeiro e segun do anos do Ensino

Fundamental

Tendo em vista que a construção do conhecimento está pautada no

processo de desenvolvimento e de aprendizagem das crianças, suas

características sociais, cognitivas, psicológicas e culturais, são elementos

essenciais para a avaliação neste primeiro ano do ensino fundamental.

Considerando essas características, estabelecemos os critérios norteadores,

para orientar o planejamento do professor.

PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

• Reconhece as letras do alfabeto e seus respectivos sons;

• Reconhece letras iniciais e finais, percebendo sons semelhantes;

• Apropria-se progressivamente de novas palavras, ampliando o

vocabulário;

• Expõe suas idéias de forma clara e organizada, demonstrando lógica

no pensamento;

• Amplia gradativamente a compreensão da leitura e da escrita;

• Registra e organiza informações, estabelecendo relações com o

cotidiano e o aprendizado;

• Apresenta organização espacial, usando adequadamente espaços do

ambiente escolar, bem como a sala de aula, classe, cadernos e outros

materiais;

• Organiza-se temporalmente quanto a conceitos de duração,

simultaneidade e seqüência, revela a compreensão das noções

básicas em relação ao calendário, dias, semanas, meses, horário.

• Reconhece os numerais, suas respectivas quantidades e símbolos

matemáticos; relaciona-os.

• Resolve situações desafiadoras que envolvem o raciocínio e aplicações

matemáticas.

• Respeita e valoriza o meio em que vive; mantém coerência em suas

ações como ser social e ambiental.

• Reconhece o corpo como um todo, percebe a importância dos

cuidados com ele para o seu bem estar social, e com o ambiente que o

cerca.

• Apresenta boa convivência com colegas e professores; vivencia

valores e constrói regras necessárias para o progresso das

aprendizagens e da socialização.

• Concentra-se na realização das atividades, demonstrando interesse.

• Participa dos momentos de oralidade e de trabalhos coletivos.

SEGUNDO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

• Apresenta uma escrita alfabética, expressando com clareza e seqüência

lógica o seu pensamento na produção de frases, textos e nos demais

registros e atividades.

• Expõe suas idéias de forma clara e organizada.

• Demonstra gosto e hábito pela leitura.

• Lê e compreende textos, manifestando-se com clareza e fluência.

• Reconhece, relaciona e representa os numerais até 99 com suas

respectivas quantidades e símbolos matemáticos.

• Compreende as operações de adição e subtração, efetuando cálculos e

resolvendo situações problemas.

• Apresenta organização espacial no uso do seu caderno e nos espaços do

ambiente escolar.

• Manifesta as habilidades necessárias no uso do material escolar.

• Relaciona-se com o grupo, evidencia valores, hábitos e atitudes em

relação às regras propostas para um bom convívio.

• Aprecia a vida em sua diversidade, preserva os ambientes e

responsabiliza-se por eles.

• Reconhece o corpo como um todo, percebendo a importância dos hábitos

de higiene para uma vida saudável.

• Conhece e socializa diferentes atividades e brincadeiras recreativas e

participa delas.

• Adota atitude cooperativa e solidária para ampliar conhecimentos.

• Mantém controle sobre o corpo e o movimento.

Breve reflexão pessoal:

Ao conhecer esta proposta da SMED de Ijuí, decidi abordá-la, por ir ao

encontro do que eu acredito ser uma proposta para este ensino fundamental de

nove anos. Percebo que houve uma reflexão com responsabilidade, da real proposta

lançada pelo Ministério da Educação. Não é a inclusão descontextualizada de um

ano a mais, mas sim uma forma de garantir um período maior de convívio escolar, e

garantir uma melhor interpretação e domínio do código de leitura e escrita.

A organização e preparação para receber esta criança de seis anos, agora no

ensino fundamental, requerem uma preparação tanto da escola como dos

professores, pois estes pequenos alunos estão naquela fase inquieta, dispostos a

aprender e também a brincar. Nesta proposta, unificam-se as duas: o conhecimento

com o brincar, em todos os aspectos. Com professores preparados para esta nova

proposta, e com o projeto político-pedagógico adaptado a esta nova visão, fica a

perspectiva de que com responsabilidade e comprometimento a escola faz diferença

na vida do ser humano.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste trabalho para mim foi de extrema importância, pois elucidei

dúvidas das mudanças do currículo com a implantação de um ano a mais do ensino

fundamental.

Esta nova lei visa oportunizar um período maior de convívio escolar, como

uma forma de igualar diferenças e oportunizar um período mais longo para

apropriação do sistema alfabético. Com a matrícula agora obrigatória aos seis anos

de idade completos até o início do letivo, a criança tem oportunidade no primeiro e

segundo ano, para alfabetizar-se e letrar-se, ou seja, apropriar-se do sistema

alfabético e utilizá-lo com coerência.

Algo que não posso deixar de dar destaque é a questão do respeito à faixa

etária deste novo aluno, que agora ingressa no ensino obrigatório, mais cedo.

Enfatizo a importância do brincar e da aprendizagem com ludicidade.

A utilização de brincadeiras dirigidas e jogos que propiciem à criança

aprender de forma lúdica constituem-se em precioso recurso metodológico que deve

ser utilizado para promover a aprendizagem. Não é o brincar por brincar, mas sim o

brincar com objetivo.

O brincar na escola motiva, enriquece, promove a interação. Cabem as

escolas reformular seu currículo, de uma forma a abranger a todo este público alvo.

Fazer um estudo detalhado sobre estas mudanças, e preparar a equipe dos

profissionais que trabalham com esta faixa etária.

A escola precisa superar a idéia de que o 1° ano re presenta a ruptura entre

brincar e as atividades sérias. A transição da educação infantil para o ensino

fundamental, representa, não raro, o “engessamento da criança”. Muitas vezes é a

passagem da alegria, da expressividade, da descontração para a “seriedade” que

supostamente estaria ligada ao aprendizado.

A separação corpo e mente impõe um conflito entre o desejo de aprender e o

desejo do corpo que chama por movimento.

É importante que a metodologia adotada proporcione à criança a

possibilidade de ingressar no processo de escolarização de corpo inteiro e não só

com a cabeça e as mãos.

É a criança tendo espaço para criar e recriar, falar e repetir, brincar e

movimentar-se.

A ampliação do tempo destinado à escolarização obrigatória é importante

para atender os objetivos deste nível de ensino. Entretanto, a simples agregação de

um ano de escolarização sem reformular o currículo, especialmente os conteúdos e

a seqüência curricular dos conteúdos selecionados, sem proceder à

contextualização pedagógica, sem a utilização de metodologia que contemple a

etapa de desenvolvimento do aluno e sem a adoção de recursos e processos

avaliativos adequados à faixa etária pode resultar em medida, meramente,

quantitativa sem reflexos na qualidade da educação oferecida. Há igualmente a

necessidade de repensar a formação inicial e a formação continuada dos docentes

para que seja realizada uma transição articulada para o novo ensino fundamental, a

fim de que o aluno possa progredir no processo de escolarização de forma natural e

eficaz.

Toda mudança provoca um desequilíbrio, dúvidas, mas com certeza a

proposta desta nova lei, a partir de boas leituras e discussões sobre o tema, só tem

a contribuir com os maiores interessados: a criança brasileira.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro (org). Ensino fundamental de nove anos: um ano a mais é fu ndamental. 2ª ed. Brasília: Leograf, 2007. BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Resolução CEB nº 2 , 1998. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: abr. 2008. FERNANDES, Carine. A Escola Redescobre o Brincar. Revista Educação. Porto Alegre, Set/Out 2007. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Pró Letramento: Alfabetização e linguagem. Brasília, 2008. PIAGET, Jean. A Psicologia da Criança . Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. RIO GRANDE DO SUL, Conselho estadual de educação. Coletânea de leis, Decretos e Atos Normativos da Educação Federal e Es tadual . Porto Alegre: 7ª Coletânea, 2006. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Ensino Fundamental de Nove Anos: Primeiros Passos . Ijuí, gestão 2005/2008. VYGOTSKY, L. A Formação Social da Mente . São Paulo: Martins Fontes, 1989.