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THIAGO NAKAJI SUZUKI A PRAÇA COMO CORAÇÃO DA CIDADE: Uma proposta de centralidade para o Capão Raso em Curitiba Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I, do Curso Superior de Arquitetura e Urbanismo do Departamento Acadêmico de Construção Civil– DACOC – da Universidade Tecnológica Federal do Paraná– UTFPR, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Profa. Dra. Yumi Yamawaki CURITIBA 2016

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THIAGO NAKAJI SUZUKI

A PRAÇA COMO CORAÇÃO DA CIDADE: Uma proposta de centralidade para o

Capão Raso em Curitiba

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I, do Curso Superior de Arquitetura e Urbanismo do Departamento Acadêmico de Construção Civil– DACOC – da Universidade Tecnológica Federal do Paraná– UTFPR, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientadora: Profa. Dra. Yumi Yamawaki

CURITIBA

2016

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TERMO DE APROVAÇÃO

PRAÇA COMO CORAÇÃO DA CIDADE: UMA PROPOSTA DE CENTRALIDADE PARA O

CAPÃO RASO EM CURITIBA Por

THIAGO NAKAJI SUZUKI

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 25 de fevereiro de 2016 como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. O candidato foi arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Alexandre Ruiz da Rosa, Esp. UP

Prof. Armando Luis Yoshio Ito, MSc. UTFPR

Prof. Orlando Pinto Ribeiro, MSc. UTFPR

Profª. Yumi Yamawaki, Drª. (Orientador) UTFPR

 

 

   

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁPR

Ministério da Educação UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Campus Curitiba - Sede Ecoville Departamento Acadêmico de Construção Civil

Curso de Arquitetura e Urbanismo

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Aos meus pais Mario e Leoni e a minha irmã Thiele que me possibilitaram ter a formação que desejei sempre me apoiando e dando suporte.

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A praça é do povo como o céu é do condor.

Antônio Frederico de Castro Alves

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RESUMO

SUZUKI, Thiago. A PRAÇA COMO CORAÇÃO DA CIDADE: Uma proposta

de centralidade para o Capão Raso em Curitiba, 2015. Trabalhos de Conclusão de

Curso (Graduação no Curso de Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Graduação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2015.

A pesquisa realiza uma análise do setor estrutural sul de Curitiba. Com foco

em entender as necessidades da área de maneira a propor um espaço público urbano

de caráter de encontro casual. Esse projeto, também objetivou a criação de uma nova

centralidade para uma área até então esquecida em meio a evolução urbana da

cidade. A investigação objetiva iniciar um processo de avaliação de seu uso e

ocupação socioespacial para realimentar propostas com diretrizes projetuais com o

mesmo enfoque. Assim, aqui estudasse as formas de uso e apropriação pelos seus

usuários no espaço do raio definido como o entorno imediato do Terminal Capão Raso

em Curitiba. Este trabalho pretende, dessa forma contribuir para criar um banco de

dados sobre a complexa temática da centralidade e do coração da cidade enquanto

experiências de urbanidade legitima, a partir de um projeto significativo a ser realizado

nestas áreas de estudos, constituindo-se numa reflexão sobre propostas de

intervenção projetual de preservação e indução de crescimento que contemplam a

manutenção da memória e a recuperação de áreas urbanas degradadas e

subutilizadas.

Palavras-chave: Centralidade, Coração da Cidade, Espaço público, Espaço

intra-urbano, Praça.

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ABSTRACT

SUZUKI, Thiago. THE SQUARE AS THE CITY HEART A proposal of

centrality to Capão Raso in Curitiba, 2015. Term paper (Graduation in Architecture and

Urbanism) - Graduate Program of the Federal Technological University of Paraná.

Curitiba, 2015.

The research makes an analysis of the southern structural sector of

Curitiba. Focusing on understanding the needs of the area in order to propose an urban

public space embed with chance encounter features. This project also aimed to create

a new centrality to a hitherto forgotten area in the midst of the urban city evolution. The

investigation aims to initiate a process of evaluation of its use and socio occupation to

feed back proposals of projects with the same focus guidelines. So, here to study the

ways of use and appropriation within the radius space defined as the immediate

surroundings of the Capão Raso Terminal in Curitiba. This work aims contributing to

create a database on the complex issue of centrality and the city heart as a legitimate

urban experience, starting from a significant project to be carried out in these fields of

study, constituting a reflection on projetual intervention proposals for preservation and

induction of growth that includes the maintenance of the memory and the recovery of

degraded and underused urban areas.

Keywords: Centralization, City Heart, Public Space, Intra-urban Space,

Square.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Esquema de Transporte e Terminais em Curitiba .................................................................. 10 

Figura 2 Evolução da ocupação urbana no município de Curitiba (IPPUC, 2012) ............................... 11 

Figura 3 - Ilustração dos diversos níveis de local central ..................................................................... 27 

Figura 4: Esquema da escala média de um quilômetro quadrado. ...................................................... 29 

Figura 5: Distancia ideal para pedestres segundo Richard Rogers ...................................................... 29 

Figura 6: Relação das três praças de Siena. ........................................................................................ 42 

Figura 7: Piazza del Campo: Layout (SUN ALEX,2008) Destacasse aqui além do próprio espaço aberto

da praça também os onze acessos que garantem a chegada até o espaço sendo cinco sob uma

arquitetura e seis deles a céu aberto, os acessos quase sempre são estreitos. ................................. 43 

Figura 8: Implantação a partir de vista superior .................................................................................... 46 

Figura 9: Fonte central cortada pela passarela que liga os eixos Norte-Sul ........................................ 47 

Figura 10: Pavilhão Piccadilly Projeto de Tadao Ando ......................................................................... 47 

Figura 11: Cafés Abrigados pelo Pavilhão Coberto de Ando ............................................................... 48 

Figura 12: Pavilhão que se fecha para si mesmo ................................................................................. 48 

Figura 13: Detalhe da parede do Pavilhão evidenciando a marcação das placas de concreto ........... 49 

Figura 14: Representação artística do antigo Jardins Vitoriano Afundado ........................................... 50 

Figura 15: Piccadilly Gardens na década de 1940 ............................................................................... 50 

Figura 16:Exemplo da arborização do Jardim ...................................................................................... 51 

Figura 17: Proposta de Parede verde feita pelo Arquiteto Tadao Ando ............................................... 53 

Figura 18: Área gramada dos jardins atualmente degradada ............................................................... 54 

Figura 19: Bancos degradados – .......................................................................................................... 55 

Figura 20:Galeria de Arte proposta no atual espaço do Piccadilly Gardens ........................................ 56 

Figura 21: diagrama de concepção da praça ........................................................................................ 59 

Figura 22: Praça do Sony Center em Berlim ........................................................................................ 60 

Figura 23: Praça com iluminação e grelhas no piso ............................................................................. 61 

Figura 24: Espelho d'água central em balanço com canteiros em três níveis emoldurando ................ 61 

Figura 25: Corte da praça mostrando a conexão entre o lobby inferior, o espelho d'água em balanço, a

praça e a cobertura. .............................................................................................................................. 62 

Figura 26: Sony Center no contexto urbano com saída do metrô a direita. ......................................... 62 

Figura 27:Sony Center com as entradas sobre a arquitetura em todas as direções ............................ 63 

Figura 28: Croqui de concepção de implantação. ................................................................................. 63 

Figura 29: Earth Virtual ......................................................................................................................... 64 

Figura 30: Berlim e Distrito de Friedrichstadt 1710. .............................................................................. 65 

Figura 31: Berlim em 1810 destaque ao muro que envolvia a nova cidade expandida. ...................... 66 

Figura 32: Potsdamer Platz 1945 .......................................................................................................... 67 

Figura 33: Mapa com a matriz urbana de Curitiba evidenciando a região Sul – 1857. ........................ 70 

Figura 34: Malha urbana de Curitiba de 1857 (em vermelho) sobreposta ao mapa atual. .................. 71 

Figura 35: Mapa de Curitiba em 1894. .................................................................................................. 72 

Figura 36: Esquema teórico do Plano Diretor – Plano Agache 1943. .................................................. 73 

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Figura 37: Esquema do Plano Diretor para integração das atividades................................................. 74 

Figura 38: Esquema dos eixos estruturais de transporte de Curitiba ................................................... 76 

Figura 39: Esquema do sistema trinário com adensamento ................................................................. 76 

Figura 40: Setor estrutural com proposta de adensamento .................................................................. 77 

Figura 41: Mapara de evolução de ocupação urbana do município de Curitiba com eixos estruturais,

destque a regiao sul e aos bairros Portão, Novo Mundo, Capão raso e Pineheirinho ......................... 78 

Figura 42: Esquema do funcionamento básico do transporte público dentro dos terminais urbanos de

Curitiba .................................................................................................................................................. 79 

Figura 43: Mapa de zonas de influência dos terminais do Eixo Estrutural Sul de Curitiba .................. 81 

Figura 44: Mapa de análise do entorno imediato do terminal Portão, em destaque o sistema trinário

com o eixo estrutural em vermelho e as vias de trânsito rápido em azul ............................................. 82 

Figura 45 Mapa de análise do entorno imediato do terminal pinheirinho, em destaque o sistema trinário

com o eixo estrutural em vermelho e as vias de trânsito rápido em azul ............................................. 83 

Figura 46 Mapa de análise do entorno imediato do terminal capão raso, em destaque o sistema trinário

com o eixo estrutural em vermelho e as vias de trânsito rápido em azul ............................................. 84 

Figura 47 Zoneamento com círculos propostos por Richard Rogers (150m e 300m) .......................... 85 

Figura 48 Mapa de cheios e vazios proposto para o entendimento de ocupação da área .................. 86 

Figura 49 Fluxos de ônibus segundo categorias (URBS) ..................................................................... 87 

Figura 50 Fluxo de pedestres, automóveis e ponto de parada de táxi ................................................. 88 

Figura 51 Áreas verdes da área de estudo proposta ............................................................................ 89 

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SUMÁRIO 1.  Introdução .................................................................................................. 9 

1.1.  Justificativas ............................................................................................. 10 

1.2.  Objetivos .................................................................................................. 12 

1.2.1.  Objetivos Especificos ............................................................................... 12 

1.3.  Metodologia .............................................................................................. 13 

1.3.1.  Escolha da Área de Intervenção .............................................................. 13 

1.3.2.  Fluxo de desenvolvimento do projeto ....................................................... 16 

1.3.2.1.  Análise do Entorno: .................................................................................. 16 

1.3.2.2.  Análise do Terreno: .................................................................................. 17 

2.  Conceituação Temática ............................................................................ 18 

2.1.  A Evolução do Pensamento da Cidade .................................................... 18 

2.2.  Espaço Urbano, Espaço público e Lugar ................................................. 21 

2.3.  Centro, Centralidade, o Lugar Central e o Coração da Cidade. ............... 26 

2.4.  Urbanidade Como Centro Potencializador de Trocas e Encontros e a

Cidade ...................................................................................................... 32 

2.5.  4 Links Urbanos, a dinâmica na cidade atual e a Estrutura Intra-Urbana . 36 

3.  A Praça ..................................................................................................... 39 

4.  Estudos de Caso ...................................................................................... 46 

4.1.  Piccadilly Gardens .................................................................................... 46 

4.1.1.  Sobre a Praça .......................................................................................... 46 

4.1.2.  Sobre o Pavilhão: ..................................................................................... 48 

4.1.3.  Processo de composição ......................................................................... 49 

4.1.4.  Estudo de Caso - Análise Pós ocupação ................................................. 52 

4.1.5.  Sobre o jardim e seu real uso: análise ..................................................... 57 

4.2.  Sony Center ............................................................................................. 59 

4.2.1.  Sobre a Praça .......................................................................................... 59 

4.2.2.  Sobre os Edificios ..................................................................................... 63 

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4.2.3.  Aspectos Históricos e de Inserção Urbana ............................................... 64 

4.2.4.  Análise Pós Ocupação ............................................................................. 68 

4.2.5.  Sobre a praça e seu real uso: análise ...................................................... 69 

5.  Interpretação da Realidade ...................................................................... 70 

5.1.  A cidade de Curitiba ................................................................................. 70 

5.2.  O Sitema de Transporte público em Curitiba ............................................ 76 

5.3.  Análise do Entorno ................................................................................... 85 

6.  Diretrizes de Projeto ................................................................................. 91 

7.  Considerações Finais ............................................................................... 98 

8.  Referencia .............................................................................................. 100 

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho, que permeia as disciplinas de TCC1 e TCC2, tem

como intuito reforçar por meio de um projeto urbano, o conceito que parte da transição

da visão de cidade em sua plenitude em direção a uma escala menos abrangente.

Trata-se aqui da ideia do VIII CIAM (1955) de rompimento com o urbanismo

modernista, quando surge o conceito de “coração da cidade” que deixa de lado a

análise urbana baseada em parâmetros e ruma o espaço público no sentido de

comunidade (ABRAHÃO,2008). Aliado a esses pontos centralizadores se busca

estabelecer links entre pontos da cidade definidos por Montaner (2008), como

“patterns” urbanos básicos, que costuram o tecido urbano e enaltecem os fluxos nos

seus mais distintos níveis reforçando por exemplo linhas e eixos de transporte, que

estruturam o desenvolvimento em um sentido longitudinal na cidade (FIGLIOLINO,

2013).Desse desenvolvimento surgem segundo Ascher (2010), as “errâncias”, a

cidade deixa de ter uma complexidade apenas interna para passar a uma escala que

rompe barreiras legais de complexidade onde tudo se encontra unido através de

informações e dinâmicas as quais os espaços acabam se adaptando.

Aliado aos eixos e conexões busca-se não só a dinâmica, mas também a

permanência e nela a sensação que Netto (2008) define como urbanidade, situação

ligada a condição urbana e a experiência da cidade em si, bem como do espaço que

se está vivenciando.

Partindo dessas escalas em direção a um ponto que faz parte da dinâmica,

mas ainda assim, um espaço de permanência e encontro, está o espaço da praça

definido por Sun Alex (2008) como a última instância entre as diversas escalas entre

o que é público e o que é privado. É na busca deste local entre os espaços que a

proposta deste trabalho surge, na transição dos espaços. Esta pesquisa tem, portanto,

o objetivo de produzir um espaço legitimamente intraurbano de caráter público–

privado partindo da escala pública como ponto de definição principal, em direção ao

espaço privado, permeando por um meio transitório que atenue a diferença existente

entre os dois pontos, conectando o usuário ao projeto como participante ativo e agente

integrador de espaços. Um dos pontos chave está em readaptar a escala ao nível do

usuário trazendo o todo do espaço público urbano de volta para perto do pedestre.

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1.1. JUSTIFICATIVAS

O caráter de uma praça, é definido por Sun Alex (2008) como dual no

espaço, pois ao mesmo tempo é um elemento construído, uma vez que de alguma

forma altera o espaço natural; mas também é um vazio pois não se qualifica como um

edifício. No entanto, vale aqui ressaltar que a proposta não se enquadra como um

espaço urbano aberto alterado livremente, a maior intenção está na produção de um

centro social de convívio integrado ao tecido urbano.

A Escolha do ponto de intervenção se vale da criação e estruturação viária

de Curitiba, onde a proposta dos eixos estruturais de transporte e canaletas de ônibus

tomaram grande força e real uso. Em decorrência disso ao longo dos trechos se

formaram diversos terminais de ônibus que se distribuem segundo uma lógica de

bairro e centralização de transporte conforme a figura 1.

Figura 1 Esquema de Transporte e Terminais em Curitiba

Fonte: URBS, 2015

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O corredor norte-sul criado a partir de 1974 (URBS,2015), escolhido aqui

como o ponto para a intervenção tem como justificativa o crescimento mais recente

da cidade no sentindo sul (IPPUC,2012) conforme mostra a figura 2. Para a

determinação da área de intervenção serão analisados os terminais da região sul da

cidade e sua conexão direta com o espaço público urbano e o entorno, e como um

espaço público aberto ou semiaberto propicia um maior uso e integração do terminal

com o bairro.

Desta maneira se propõe aqui uma análise de caráter investigativo voltada

para os terminais da região sul da cidade, sendo aqui escolhidos como objetos de

estudo os terminais Portão, Capão Raso e Pinheirinho.

Figura 2 Evolução da ocupação urbana no município de Curitiba (IPPUC, 2012)

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1.2. OBJETIVOS

O objetivo geral dessa pesquisa consiste em produzir espaços públicos que

se integrem ao tecido urbano da cidade, formando novas centralidades, com foco no

respeito a escala do usuário de forma a garantir um espaço democrático.

1.2.1. OBJETIVOS ESPECIFICOS

Entender a Cidade de Curitiba, sua dinâmica e como o espaço público

influencia na formação das centralidades urbanas, elencando quais os

pontos que a qualificam.

Buscar entender a urbanidade e como esta influencia as atividades urbanas

e as ligações da cidade como um todo, analisando criticamente espaços

urbanos que se propõe a requalificar ou potencializar uma área.

Diagnosticar os problemas e carências em termos de espaços públicos

urbanos na região sul do setor estrutural de Curitiba.

Eleger o ponto de intervenção mais adequado para a implantação de um

espaço público que centralize e crie nova dinâmica a uma área,

identificando os potenciais usos do entorno que viabilizam e impulsionam a

proposta.

Propor um projeto que incentive a retomada do espaço público urbano

como área de convívio e permanência, readaptando a escala da região em

função de um ponto de influência a ser proposto, um programa que atenda

às necessidades dos usuários.

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1.3. METODOLOGIA

1.3.1. ESCOLHA DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

Pré Análise:

Onde e para quem desenvolver os projetos?

Que tipo de projeto deve ser desenvolvido?

Quais os diferentes tipos de espaços públicos que podem ser

criados?

Como diagnosticar os problemas e carências em espaços públicos

da região do eixo estrutural sul de Curitiba?

Quais as potencialidades existentes garantem que a escolha da área

de intervenção é a melhor?

Analisados os pontos elencados seguiram as seguintes diretrizes de pesquisa:

01. Definir um perímetro de alcance baseado no estudo prévio de

autores.

02. Realizar um mapeamento dos pontos de interesse (levando em

consideração o uso do espaço, seus moradores e a circulação de

transporte público e pedestres). Inicialmente o levantamento contém:

Áreas verdes: Praças e parques

Equipamentos significativos: Educação, Cultura e Lazer, Esportes,

Saúde, Comércio, Institucional, Transportes, Religiosos, Serviços

Ruas de comércio específico

Atividades Noturnas: Restaurantes, Bares, Cafés, Casas Noturnas,

Cinemas, Teatros e atividades culturais, Hotéis

Outros usos Significativos

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03. Identificar áreas com diferentes demandas no entorno próximo a fim

de desenvolver um projeto que possa atender a necessidade da

maior parte da população do entorno considerando:

Áreas carentes de Equipamentos:

Áreas carentes de equipamentos de cultura, lazer, e esportes, pode ser

uma prioridade para a instalação de espaços públicos que ofereçam essas atividades.

Se o uso do entorno imediato for notadamente residencial a condição de localidade

será ainda mais beneficiada. Pode ainda se optar por adicionar atividades a espaços

públicos já consagrados.

Áreas carentes de Espaços Verdes:

Áreas verdes e a sua porcentagem de existência são um fator de grande

importância para os principais índices que medem a qualidade no espaço urbano.

Pode ser aqui considerado o plantio em praças e parques como também em sobras

do planejamento urbano. Na falta ou ausência de possibilidade de criação ou

manejamento de áreas verdes pode ser previsto um programa de arborização urbana

dos passeios.

Ruas de alto tráfego de pedestres e ciclistas

Definir rotas principais de grande circulação de pedestres e ciclistas para

direcionar investimentos em infraestrutura em espaços públicos e áreas de apoio.

Especial atenção a áreas comerciais de grande procura, busca pelo conceito de traffic

calming com passeios largos ou ciclofaixas e ciclovias segregadas da circulação de

veículos.

Áreas de Conflito entre Pedestres e Carros

Pontos específicos no entorno onde ocorrem acidentes e atropelamentos

que podem ser requalificados por meio de inserção de elementos como sinalização

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adequada ou mesmo passarelas e travessias elevadas para os pedestres. Deve se

mapear essas áreas para verificar se um espaço público nesta região não irá apenas

piorar o conflito já existente

Ruas de Alto tráfego de veículos motorizados

Buscar uma preocupação com a segurança do pedestre e do ciclista

visando estratégias para minimizar os ruídos e a poluição que o tráfego intenso

acabam causando. Pensar em elementos de segurança para ruas e praças próximas

a estes trechos, áreas que merecem especial atenção devido a degradação envoltória

por meio de poluição sonora, atmosférica e mesmo visual da cidade

Espaços de estar ao ar livre

Aglomerados humanos e áreas de acumulo natural de pessoas de uma

maneira geral são ótimas escolhas para a aplicação de melhorias e requalificações de

infra-estrutura urbana. Projetar para uma demanda já existente, é sempre melhor

pensar no bem estar social e no convívio urbano natural, significa melhorar a

qualidade de vida para todos os usuários.

Bloqueios de circulação do pedestre no passeio público

A restruturação do passeio no ambiente público urbano se inicia pela

retirada de obstáculos que interferem na passagem e interferem a circulação do

pedestre, sendo esse um dos problemas mais identificados em todas as cidades

brasileiras. A equação de ambiente bloqueado e desfavorável mais deficientes físicos

quase sempre resulta em um ambiente sem preocupação humana.

Espaços Subutilizados – Abandonados

Espaços subutilizados ou abandonados são quase sempre um problema

para uma grande área e não somente seu entorno imediato dado que ao mesmo

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tempo que guardam um grande potencial não são aproveitados para nenhum tipo de

uso em benefício da população.

Sobras de Planejamento sem uso

Frutos de obras viárias mal planejadas ou planejamento em malha irregular

gerador de espaços residuais, as sobras de planejamento devem sempre ser

levantadas como alvo de estudo para viabilização de uma destinação publica benéfica

a comunidade retirando estes ambientes ermos e os enchendo de vida.

1.3.2. FLUXO DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

1.3.2.1. ANÁLISE DO ENTORNO:

Identificar todas as interferências positivas e negativas pré e pós ocupação

assim como a integração do projeto a cidade como um todo e como isso interfere na

qualidade de vida

01. Pontos Focais:

Edificações importantes ou lugares e paisagens localizados no entorno

imediato ou próximo da área de intervenção que sejam interessantes de serem

relacionados ao novo espaço proposto (A-definir visuais a valorizar, preservar e

esconder; B-mapear os equipamentos e lugares de interesse, históricos,

arquitetônicos ou atividades especificas)

02. Fluxos e Deslocamentos:

A análise dos fluxos e deslocamentos é muito importante na hora da

definição da setorização e da definição do programa visto que esta irá estar

diretamente relacionada com a receptividade e percepção do novo ponto de

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intervenção urbana. (A- não motorizados – pedestres e ciclistas; B- motorizados –

transporte coletivo, automóveis e motos)

03. Apropriação do espaço público:

É importante realizar também um mapeamento das atividades corriqueiras,

ocasionais e sazonais que acontecem no local o no entorno da intervenção, como

bares, bancas, determinados trechos do passeio, etc.

04. Problemas urbanos:

Acúmulo de lixo, segurança baixa ou inexistente, assim como iluminação

pública deficitária ou excessos de tráfego podem ser importantes fatores que

degradam a área e seu entorno e devem ser seriamente considerados dentro da

proposta.

1.3.2.2. ANÁLISE DO TERRENO:

Depois da análise geral do terreno o limite deve ser reduzido a ponto das

relações específicas do terreno a ser estudado o que definirá os pontos de

intervenção, o programa e mesmo a setorização do novo espaço. Trata-se da

realidade identificada aplicada sem ser algo perceptivo pessoal.

01. Fluxos e deslocamentos:

Quando se tratam de fluxos internos a área do terreno, devem ser

analisados com maior minúcia para que se estabeleça um padrão de apropriação de

percursos e permanências que seja condizente interna e externamente a área de

intervenção

02. Usos atuais e apropriação do espaço:

Deve se considerar os usos já existentes ou consagrados em outras épocas

na área de intervenção para tentar respeitar essas qualidades quando possível e

benéfico ao projeto novo. Potencializar um uso já existente é quase sempre uma boa

receita para o sucesso do projeto

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03. Estruturas existentes:

Após a análise da ocupação do espaço em si é também interessante

levantar todas as estruturas existentes na área do terreno como pisos, equipamentos

e mesmo prédios abandonados ou degradados para que se possa avaliar a

demolição, retirada ou permanência dos objetos implantados.

04. Topografia:

Base do início do projeto básico, estabelece as relações diretas e indiretas

relacionadas aos níveis do terreno com o entorno e do próprio terreno em si.

05. Vegetação existente:

Localizar e catalogar a vegetação por porte, e espécie além da possiblidade

de corte ou viabilidade de permanência é sempre um quesito importante de análise

na área a se intervir.

06. Drenagem:

Sempre é importante também localizar os pontos passiveis de

permeabilidade na área a se intervir, para que se possa viabilizar um projeto de

contenção ou mesmo o cálculo da permeabilidade adequada para o sistema de

infraestrutura da região.

2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

2.1. A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO DA CIDADE

Rossi (2001) em sua teoria apresentada no livro Arquitetura da Cidade

(2001) defende a ideia da concepção da cidade sendo composta de duas partes a

totalidade e a possibilidade de se aproximar da totalidade. O autor defende que o

conteúdo social da cidade permite uma análise da evolução urbana bastante precisa,

sendo possível entender o todo de uma malha urbana através de pequenos trechos

analisando a relação entre a tipologia edificatória e a morfologia urbana.

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Para Corrêa (1995) as cidades são nada mais que produtos da atuação de

diversos grupos sociais, como os proprietários dos meios de produção, os promotores

imobiliários, o Estado e os grupos social excluídos. A ocupação e ordenação do

território e a organização destes diversos grupos sociais compete aos mais diversos

profissionais, arquitetos e urbanistas, geógrafos, advogados e sociólogos, fruto do

caráter interdisciplinar da arquitetura e do urbanismo em si. Caberia ao arquiteto e

urbanista como ponto centralizador da ordem de planejamento urbano prover

espaços, serviços e tudo mais o que compreende uma boa cidade atendendo aos

clamores e anseios dos diversos usuários da cidade, do bairro e da rua, buscando

sempre a compreensão inerente aos conflitos de usos da ocupação do espaço público

urbano.

A visão de Corrêa se mostra então como tecnocrata demais pensando que

a produção da cidade é muito mais complexa do que o controle do arquiteto pode

alcançar, tendo isto em vista, Rodrigues (2013) afirma que ainda hoje é muito distante

essa centralização de poder de mudança, criação e atendimento da demanda urbana.

Hoje a preocupação está muito mais na ênfase do aspecto artístico da criação

inovadora e revolucionária que no atendimento dos anseios do usuário do espaço em

que se está intervindo.

Ainda quanto a produção urbana, Milton Santos (1992) argumenta que o

espaço da cidade não pode ser apenas formado pelos objetos geográficos naturais e

artificiais, definindo-o como natureza e sociedade, ele deve sim ser considerado como

um fator de evolução social. São diversos os elementos que compõem o espaço

(homens, firmas, instituições, infraestrutura e “meio ecológico”), e quando uma dessas

variáveis altera seu movimento, o todo também se altera. A partir do impacto individual

ou de uma série deles, a totalidade age sobre o conjunto dos elementos formadores,

modificando-os, o que de certa forma inibe o poder de mudança dito de

responsabilidade somente do urbanista, uma vez que enquanto indivíduo que compõe

o sistema em somente uma parte não pode responder pelo todo.

A cidade não é e não pode ser um problema nem do urbanista e nem para

si mesma, ela precisa ser a solução dos problemas, quando se analisa uma questão

urbana como a violência por exemplo, percebemos que cidades com uma qualidade

de vida melhor tendem a ter menores índices de violência. Para se entender as

cidades é preciso olha-las através de suas pessoas, dos trabalhadores, crianças,

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idosos, ricos e pobres, para que o espaço urbano seja bom todos devem se sentir

parte dele (LERNER, 2011).

Tendo em vista o urbanismo como é feito nos últimos tempos se percebe

que muito se perdeu ao longo da história no que diz respeito a criação de boas cidades

e parte disso se deve ao movimento moderno que na área de planejamento urbano

passou a negligenciar a dimensão humana em seus projetos. A tentativa do

movimento moderno foi a de ordenar o caos setorizando a cidade de acordo com suas

funções primordiais, o que rompia radicalmente com qualquer modelo de cidade visto

antes ao longo da história. Esse espraiamento urbano decorrente de uma distribuição

de funções e zonas de densidade controlada que negam o princípio da cidade mista

na era pós-industrial é justamente o que hoje tenta se buscar no planejamento urbano,

uma cidade mista complexa e densa (PEREIRA, 2000).

Ghel, (2013) define o que acontece hoje com as cidades que nasceram ou

foram afetadas pelo modernismo com o que ele chama de “Síndrome de Brasília”. Na

década de 1960 ninguém sabia o que era o conceito de cidades para pessoas e assim

os urbanistas acabaram por projetar uma cidade toda que foi planejada para ser vista

da janela de um avião, ao invés do planejamento ser ao nível do solo ela toma uma

vista superior que nada reflete as necessidades das pessoas e os ambientes em solo.

A hierarquia de planejamento parte dos prédios para os espaços públicos e só então

para as pessoas, e em meio a tantas ideias confusas nasce Brasília e tantas outras

depois dela que teriam características muito semelhantes ainda que em menor escala.

É justamente esta hierarquia de planejamento que esta pesquisa busca

inverter, para que o projeto parta das pessoas, em direção ao espaço público para só

então serem os prédios o objeto de reflexão. Para que isso possa ser alcançado

algumas análises de produção e entendimento da cidade foram produzidas, sendo

apresentadas nos capítulos seguintes iniciando pela definição do espaço em si.

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2.2. ESPAÇO URBANO, ESPAÇO PÚBLICO E LUGAR

Espaço urbano segundo Roberto Corrêa (1995) pode ser entendido como

um conjunto de pontos, linhas e áreas que formam a cidade, ainda podendo ser

descrito como conjuntos de diferentes usos de terras e terrenos justapostos entre si.

Estas áreas definidas pela distribuição da cidade ao longo do que se denomina espaço

acabam por setorizar a mesma de acordo com determinados parâmetros, estes

geralmente relacionados ao uso ou a ocupação do solo, isso garante as cidades

diferentes áreas e setores, sendo um exemplo o bairro centro, que por essência é o

ponto de convergência e existência de atividades do setor comercial, de serviços e

mesmo de gestão. O mesmo parâmetro ainda é responsável por definir áreas

residenciais, indústrias, e assim por diante, como distintas em termos de forma e

conteúdo social.

Ao conjunto de usos da terra se atribui o valor de organização espacial da

cidade em termos urbanos, ou simplesmente o espaço urbano fragmentado

(CORREA, 1995).

Segundo Ester Limonad (2009) a muito tempo o espaço vem sendo

negligenciado enquanto categoria de análise não somente no campo da arquitetura e

urbanismo, mas pelas teorias sociais de uma maneira geral, particularmente as

ciências sociais exceto raras exceções. Há muito tempo a produção do espaço e a

maneira como isso acontece estão desconectadas do estudo da sociedade que a

pratica. O que torna o espaço um elemento frágil visto que está sendo construído sem

uma preocupação maior de análise por quem o produz.

A abordagem do estudo do espaço, segundo Limonad (2009)

historicamente teria como regra encarar o espaço como uma consequência e fruto da

superestrutura social, ou seja, o espaço não precisaria ser inteligível anteriormente a

sua produção pois seria apenas mais um elemento cultural na composição social, o

que acaba por negligenciar a criação, pensamento e reflexão sobre a produção do

espaço.

Se pensarmos, portanto, inverter o fator de espaço como uma

consequência e passarmos a tratá-lo como um elemento responsivo, passamos a

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entender que o espaço não se resumiria a apenas um reflexo das relações sociais e

da produção urbanística, ao mesmo tempo que a cidade cresce, se expande e altera

o espaço, este mesmo espaço cresce por si só e condiciona a sociedade sendo a

construção do espaço uma relação de mão dupla entre as duas partes, sociedade e

espaço (LEFEBVRE, 1972).

Para Gehl (2013) o espaço urbano nada mais é que um arcabouço

cotidiano da vida na cidade, este espaço urbano se relaciona diretamente ao

significado de lugar, que nada mais é que o espaço onde a vida urbana é

proporcionada pela apropriação que o homem cria sobre o espaço comum, que é

atrativo pois convida ali a estar pela permanência de outras pessoas.

Dentro do espaço público sempre se deve estar atento a escala e a

participação do indivíduo sobre ele. Uma cidade para pessoas, como o autor defende

deve, ser propiciadora de deslocamentos curtos para tarefas cotidianas, estes feitos

por percursos repletos de áreas de convívio onde se possa ver e ser visto e onde o

espaço urbano apareça tão ou mais atraente que as próprias casas dos indivíduos

que o compõe. A cidade que propõe Ghel (2013) deve ser pensada na escala e para

o pedestre como principal componente.

A cidade deve sempre proporcionar espaços para convívio que instiguem

o usuário a utilizar o ambiente urbano de forma opcional em que seja mais

interessante permanecer e realizar suas tarefas localmente que a grandes distâncias

(GHEL, 2013).

É importante ressaltar que não existe espaço urbano sem o homem, pois

são as pessoas que geram a vida urbana e movimentam a cidade em seus mais

diversos usos. No entanto essa apropriação e criação de espaço ocorrem somente se

o espaço urbano possuir qualidades convidativas e uma gama variada de opções e

formas de uso. São exemplos, espaços para “jogar conversa fora”, caminhar, sentar,

fazer compras GHEL (2013).

De acordo com Fani Carlos (2011) o processo de construção do espaço é

uma relação de dupla determinação uma vez que o homem se objetiva construindo

um mundo real e concreto e ao mesmo tempo se subjetiva no processo ao passo que

ganha determinada consciência sobre essa produção. Considerando a afirmação

pode-se dizer que as relações sociais ocorrem, portanto em um lugar determinado

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sem o qual não se concretizam juntamente com um tempo que determine a duração

da ação. Portanto a vida social só existe na concretude do espaço, ou seja, nos

lugares onde se realiza a vida humana. Fani Carlos (2011) define, portanto, o espaço

em seu conteúdo social e histórico como uma “produção inacabada da civilização” que

assim como a própria civilização não possui um fim claro, nesse sentido o produtor e

o produto se equivalem em criação e permanência simultaneamente.

Considerando o tempo como regulador do entendimento do espaço pode-

se dizer que o estudo e o entendimento dos espaços livres se inicia logo no pós-guerra

sobre um ponto de vista da revalorização. O impacto tanto político quanto econômico

que a Segunda Guerra Mundial causou, levou os arquitetos da época a produzirem

uma nova formulação teórica: a partir deste momento, o “coração da cidade”, em que

se permitiu acomodar as diferentes vertentes das três gerações sociais. Ou seja, neste

ponto não mais haviam espaços só para jovens ou só para adultos, tudo se criava de

acordo com a necessidade de toda a população visto que quase tudo onde se foi

destruído teve que ser reconstruído inteiramente (ABRAHÃO, 2008).

Seguindo o percurso histórico sabe-se que nas últimas décadas muitos

autores e estudiosos tratam o espaço público urbano como lugares de manifestação

da esfera pública, da vida pública, da realização da cidadania, assim o espaço deixa

de ser somente espaço para possuir uma materialidade aliada a uma realização

sociopolítica (ABRAHÃO, 2008), isso evidencia aqui a necessidade de se esclarecer

algumas questões desta ordem para melhor entender a concepção do espaço.

Primeiro se deve entender que o ambiente nominado público só existe uma

vez que existe um ambiente privado, e que a harmonia entre os dois quase sempre é

um equilíbrio saudável. Nos últimos anos nas cidades ocidentais criou-se uma

tendência em privilegiar o espaço privado em detrimento do público o que acaba em

transformar o espaço público em um território de declínio (ARANTES, 1995).

Sennet (1974) afirma em seu livro “O Declínio do Homem Público” que a

partir do século XIX a “esfera pública” sofreu um grande estreitamento, enquanto a

vida privada sofreu uma grande interiorização e um alargamento considerável. Nesse

contexto a rua passa a ser um lugar quase que obrigatório com caráter de passagem,

mero caminho de ligação e transporte da casa para o trabalho, sem qualquer

significação social mais expressiva.

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Considerando o espaço em suas duas esferas e enquanto característica da

vida humana, Fani Carlos (2011) defende que a condição da reprodução do espaço

se realiza em dois planos principais, o individual (que se revela pleno, no ato de

habitar) e o coletivo (um plano de realização da sociedade, que toma espaço na

cidade), ela termina por definir o espaço como condição indissociável da vida humana.

Pode se dizer que quanto ao uso a cidade se define quase sempre entre a

relação público x privado. Em se tratando de melhor entender esta relação e

estabelecer uma conexão com o uso, em 1978 Jaime Lerner publicou um artigo que

tratava sobre esta relação de proporção entre público e privado que estava se

perdendo nas novas cidades. Em um artigo publicado na Revista Brasileira de

Planejamento, Lerner propõe a retomada da “rua tradicional, linearmente definida,

garantidora da continuidade nas cidades, lugar de encontro e da descoberta”. Para

ele esse urbanismo dito novo que estava então se implantando devia também

entender a escala do pedestre e buscar na história o porquê dos homens começarem

a se agrupar em comunidades no princípio, entendendo assim os valores adormecidos

que traziam os primeiros agrupamentos humanos.

Diferentemente do proposto na “Carta de Atenas” Lerner se contrapõe a

todos os princípios modernistas de criação de cidades e urbanização, para ele as

funções como moradia, lazer e trabalho deveriam estar estreitamente interligadas tudo

em função de propiciar a única e mais importante função da cidade segundo o

arquiteto, ser um local de encontro entre pessoas.

Já em 1955 Sert defende a ideia de que um espaço aberto não qualifica

um “coração”, assim como não basta as pessoas presentes nos espaços se verem e

serem vistas, tão pouco acompanhar o desenvolvimento de um tipo de vida, para que

haja um “coração” o espaço precisa possuir uma escala humana entre o espaço livre

e o espaço construído.

De acordo com Duarte (2002) o espaço pode ser dividido em concebido,

vivido e percebido, sendo o concebido o dominante de uma sociedade, vivido o

carregado de simbolismo, nem sempre identificado por quem o vivencia, e o percebido

que seria onde a sociedade deposita os seus valores. A noção de apreensão do

espaço é bastante variável e leva em conta fatores desde biológicos até culturais.

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No mesmo contexto de Duarte (2002) o lugar se constrói através da

significação, organização e hierarquização dos elementos espaciais, tudo isso ligado

a ressignificação que cada indivíduo atribui ao espaço. Dada a complexidade cultural

que se vivencia nos centros urbanos pode se dizer que o lugar nada mais é que um

espaço dotado de um significado individual ou coletivo.

Toma-se aqui como segunda opinião a respeito do tema a visão de Fani

Carlos (2011) que prega que o espaço surge a partir do conceito de distância ou seja,

quando o espaço para de remeter estritamente ao geométrico e passa a se nutrir nas

mais diversas lógicas sociais, surge então o par lugar/área o que reafirma a posição

de Duarte na escala de significado coletivo.

Ainda sobre o Lugar se deve sempre tomar cuidado com o seu oposto o

“Não lugar”. Segundo Mocellin (2009) o “não-lugar” é aquele que alheio ao lugar

sempre será o mesmo, um lugar se define pelas relações e identidades a ele

vinculadas. O não lugar é o espaço que inibe relações de identidade especificas.

Entenda-se aqui, portanto que espaço ao decorrer do trabalho será uma

referência ao ambiente projetado ou espontâneo que tenha sua expressão em um

meio urbano, já o lugar será entendido como o sentido de um significado coletivo

atribuído a um espaço, vale ressaltar que o lugar aqui não será simplesmente um

adjetivo que qualifique certo espaço, mas sim uma condição de qualidade atribuída

por mérito próprio de uma evolução dotada de simbolismo.

Concluída e definidas as questões do espaço e do lugar se parte para um

refinamento do conceito no espaço em uma escala mais pontual representada através

do centro e da centralidade descritos no capítulo seguinte.

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2.3. CENTRO, CENTRALIDADE, O LUGAR CENTRAL E O

CORAÇÃO DA CIDADE.

No que diz respeito a uma definição daquilo que hoje se compreende como

centro, Silva (2013) define o centro como uma área determinada que sofre a ação de

forças centrípetas. Deve se deixar claro aqui que o centro não é uma simples realidade

material determinada. Se trata de um processo de produção continuado que através

do acúmulo de causas e elementos ou “forças” ao longo de um determinado período

de tempo variável; se relaciona a vários fatores como o usuário, os meios, o acesso,

etc.

Deve se entender que por essência nenhuma área pode ser considerada

centro, pois trata-se do fruto de um processo e de um movimento que pode ou não

permanecer (VILLAÇA, 1998).

Vale aqui afirmar que o centro é uma forma espacial gerada a partir de um

processo de centralização podendo ser gerado a princípio em qualquer ponto no

interior do espaço urbano, desde que seja um local de convergência de fluxos e

concentração de fixos - sendo aqui os fixos os comércios, serviços e outros setores

de interesse da população - não sendo necessariamente o centro geográfico do

município ou do centro urbano. Geralmente ele converge para o ponto histórico onde

a cidade teve início, sendo um lugar de convergência e divergência de pessoas, um

nó no sistema de transporte e um local para onde as pessoas tendem a se dirigir

pendularmente o que atribui ao centro a qualidade de integrador e ao mesmo tempo

de dispersor (SPOSITO, 1991).

As centralidades podem ser entendidas a partir do centro uma vez que se

expressam através dele como sendo a sua capacidade de concentrar e atrair

atividades e pessoas sendo o polarizador de uma área. Deve se entender então que

centralidade é uma característica de um centro, mas não somente o centro possui

essa característica. A centralidade portando existe quando está ligada ao conteúdo e

ao simbolismo do local (SILVA, 2013).

Christaller (1933) propôs a Teoria dos Lugares Centrais onde definiu

centralidade como a condição que algumas cidades possuem ao manter uma estreita

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relação de complementariedade com suas vizinhas cabendo aqui ressaltar que a

relação é de uma certa dependência dado que não existe uma cidade central se não

existirem cidades a sua volta.

O autor define ainda o local central que surge a partir da ideia de

centralidade na qual as densidades econômicas e populacionais são maiores que em

suas regiões complementares. Christaller afirma que este local central facilmente

poderia possuir diversos tamanhos mantendo a ideia da região complementar o que

de certa forma estabelece uma hierarquia de primeira segunda e terceira ordens

(figura 03). Ainda vale ressaltar que segundo a teoria quanto maior a centralidade ou

importância do lugar central maior será a sua região complementar (CHRISTALLER,

1933).

Segundo Tineu (2009), podemos definir os usos que produzem níveis de

centralidade diferentes:

Centralidade Alta: lojas de departamentos, lojas especializadas,

universidades, serviços de consultoria e assessoria, clínicas

Figura 3 - Ilustração dos diversos níveis de local central

Fonte: ABLAS, 1982.

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especializadas, teatros, museus, prédios públicos, hospitais

especializados.

Centralidade Média: escolas privadas e públicas, clínica e posto de

saúde, cartório e serviços especializados, supermercados.

Centralidade Baixa: correio, igreja, escolas infantis, negócios

pequenos, farmácias, clínicas dentárias, padarias, pequenos

comércios.

Ressalta-se aqui que esses modelos não são precisos para classificações

de lugares centrais, são sim um guia de referência para termos comparativos ao longo

da pesquisa.

Atualmente pode se dizer que a centralidade não é mais um atributo do

centro de uma cidade desenvolvida, tendo em vista a complexidade tanto urbanística

quanto econômica, social e mesmo cultural. Podem existir além do centro

propriamente dito da cidade outras diversas centralidades ao longo do tecido urbano

(TINEU, 2007).

No sentido deste novo entendimento de centralidade Tourinho (2006)

afirma que a partir dos anos 90 houve uma ruptura bastante contundente na teoria de

Christaller sobre a definição de centralidade que agora não mais seria somente um

atributo de um local central, ou seja, do centro, passando a ser um atributo de outros

vários pontos do tecido urbano.

Centros e via de regra centralidades tendem quase sempre a tomarem uma

escala mais reduzida que tem em média cerca de 1 a 1,5 km de raio ou não mais que

alguns quilômetros quadrados, essa seria a escala da caminhada a escala que

garante qualidade e conforto ao pedestre que pode acessar a maior parte dos serviços

a uma distância agradável de se percorrer a pé (GHEL, 2013).

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Rogers (2001) defende que a distância ideal para pedestres é limitada por

150 metros, sendo essa a distância ótima a ser percorrida a pé, sendo a distância

máxima deve ser de 300 metros. O autor ainda defende que tais centros sejam

acessíveis por vias de conexão e vias de transporte público.

Figura 4: Esquema da escala média de um quilômetro quadrado.

Fonte: GHEL, Jan. Cidade para pessoas, 2013.

Figura 5: Distancia ideal para pedestres segundo Richard Rogers

Fonte: Rogers (2011).

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Historicamente falando no VIII CIAM (1955) se defendeu o conceito de

“coração da cidade”. José Luís Sert ressaltou no evento a necessidade de se discutir,

definir, analisar e clarificar os conceitos em torno dos núcleos centrais, muito da

discussão se devia claramente ao fato de grande parte dos membros do próprio CIAM

estarem reconstruindo e planificando cidades arrasadas pela guerra, alterando e

criando áreas centrais sem um conhecimento urbanístico realmente aprofundado no

sentido de entender as dinâmicas destas áreas (ABRAHÃO,2008).

O VIII CIAM (1955) foi um importante ponto de rompimento na linha de

pensamento urbanístico do modernismo, qualquer forma de sistematização e mesmo

quantificação foi abandonada para que pudesse surgir o conceito de “coração da

cidade” uma vez que este não comportava a possibilidade de uma análise cientifica

baseada em parâmetros, a intenção dele é por essência ser um local onde o sentido

de comunidade toma uma dimensão física expressa por meio de relações e usos

(ABRAHÃO,2008).

O coração da cidade de certa forma é uma evolução da relação centro-

centralidade. A partir de um espaço público definido como centro, a centralidade atua

como uma qualidade de tal espaço, que está diretamente relacionado a integração do

usuário como o serviço, partindo disso o “coração da cidade” parte da vivencia entre

pessoas que acontecem em um centro. Ou seja, o conceito de “coração da cidade” é

associado ao sentimento, não pelo espaço público em si mas, pelas relações ali

geradas.

Sert (1955) em sua palestra “centro para a vida da comunidade”

apresentada no VIII CIAM (1955) defende a ideia de que os “corações” deveriam ser

destinados exclusivamente para o pedestre, no texto ele exemplifica como um

exemplo bem sucedido de espaço voltado ao pedestre as praças italianas. Como

Boton (2015) define como boas praças, pois, conforme o autor, a praça ideal não deve

ser grande, que ultrapasse trinta metros de diâmetro, pois desta forma o usuário passa

ser pequeno em relação ao ambiente em que se encontra gerando assim uma

sensação de alienação. Sendo assim a praça ideal deve possibilitar que as pessoas

tenham visão ampla das extremidades da praça.

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Para Sert o excessivo individualismo em propagandas de comércios e

serviços nos edifícios do entorno do espaço público acabam descaracterizando o

conjunto urbano em prol da propaganda individual.

A receita para a criação ou adaptação de um espaço público era bastante

simples, a circulação de veículos motorizados é inibida e letreiros são colocados de

maneira controlada sem exacerbações, assim o conjunto arquitetônico unificado é

livrado dos excessos da livre concorrência do mercado SERT(1955).

Giedion (1955) em sua palestra sobre “Precedentes históricos” realizada

no VIII CIAM (1955) reafirma a importância dos “corações da cidade” como um

elemento estruturador físico do espaço urbano, porém adiciona o fator mais social do

espaço enquanto modelador do comportamento humano e estruturador não somente

do espaço físico como também da moral das cidades. Cabe aqui reafirmar que na

conclusão do evento do CIAM e em individual reafirmação de Giedion os “corações”

da cidade jamais devem ser confundidos com espaços públicos de jardins com

edifícios perdidos pelo espaço, tão pouco um conjunto de construções monumentais.

Desta forma para o estudo proposto parte-se do princípio abordado por

Rogers (2011) para auxiliar o recorte da área, tendo como intenção criar um espaço

vinculado ao transporte público, a serviços e tenha facilidade de acesso de pedestres,

ou seja um espaço que conecte a densa malha urbana com o vazio urbano, sem deixa

de abordar os ideias de uma boa praça que Boton (2014) defende.

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2.4. URBANIDADE COMO CENTRO POTENCIALIZADOR DE

TROCAS E ENCONTROS E A CIDADE

O homem facilmente se identifica com sua própria casa como sendo o seu

lar mas dificilmente se consegue uma identificação com a cidade da qual faz parte. A

sensação de pertencimento é uma necessidade básica do homem. O “pertencer” é

um dos sentidos mais enriquecedores da urbanidade Grupo Team X (1955).

A muito se discute o conceito de urbanidade, suas causas e suas

consequências, por vezes nem mesmo este nome é utilizado por todos os autores

mas o conceito quase sempre permanece em sua essência, o que não seria nada

mais que um desejo de conferir qualidade ao espaço urbano de qualquer natureza

(RODRIGUES, 2013).

Para Netto (2008) a urbanidade é um dos poucos conceitos em urbanismo

que aspira tocar a condição urbana e a experiência da cidade em si, o autor defende

ainda a ideia de urbanidade como uma trama de relações entre os atores, atos e

espaços.

Jane Jacobs (2000) em seu livro morte e vida das grandes cidades traz

uma visão quase poética do urbis identificando de forma simples as características da

cidade tomando em particular o aspecto da vivacidade das mesmas como seu

principal objeto de estudo. Jacobs apresenta o conceito de “olhos da rua”. Os “olhos

da rua” são quem garante a segurança das pessoas no espaço público e tem seu

conceito aplicado em estratégias urbanas que garantem a qualidade de vida na nas

cidades como é o exemplo da fachada ativa, ou seja, estruturas com portas e janelas

com intuito comercial voltadas para a rua (FIGUEREDO, 2010). É de extrema

importância que os edifícios sempre estejam em constante diálogo com a rua e vice-

versa, a vigilância se torna mais natural.

Para Ghel (2010), Jacobs foi “a primeira voz forte para uma mudança

decisiva na maneira como construímos a cidade” apesar de Jacobs em seu livro Morte

e Vida das Grandes cidades nunca realmente citar o termo “urbanidade” em seu

conceito de qualificação do espaço urbano acaba justamente definindo o termo sem

explicitá-lo (RODRIGUES, 2013).

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No conceito brasileiro Frederico Holanda (2002) refere-se ao conceito de

“urbanidade” como a qualidade de cortês ou afável, podendo também significar

civilidade e gentileza que quando aplicados ao desenho urbano acabam gerando a

preservação e o aumento da qualidade de vida com o foco sempre nos usuários ou

seja, nas pessoas.

Vale aqui destacar a importância na conceituação de urbanidade e uso da

urbis a questão do encontro, para que haja uma urbanidade é preciso não somente

produzir espaços urbanos bons, se faz necessário produzir bons espaços de encontro.

Sem que haja uma troca entre os usuários da urbis não há espaços genuinamente

urbanos (FIGUEIREDO, 2010).

O encontro nem sempre se refere a interação entre as pessoas do espaço,

muitas vezes a experiência de exploração e permanência em um espaço cercado de

desconhecidos e descobertas é tão interessante quanto uma conversa rotineira com

um vizinho. Participar como observador das costumeiras conversas de pessoas

acostumadas a outro modo de vida pode ser uma experiência extremamente

enriquecedora (FIGUEREDO,2010).

Saindo da questão do encontro e trazendo a urbanidade a um conceito

mais restrito, pode se dizer que ela acontece quando o ambiente construído e todas

suas estruturas auxiliares de apoio e infraestrutura permitem e mesmo potencializam

encontros e coexistência dos mais diversos públicos e estilos de vida em um espaço

que seja legitimamente público tendo em vista que pessoas com necessidades e

mesmo destinos dispares acabam tornando um espaço urbano específico em parte

de seu cotidiano (FIGUEREDO, 2010; RODRIGUES, 2013).

Espaços que propiciam trocas e apreciação do cotidiano de outras pessoas

muito se explicam pela necessidade que as pessoas tem de contato (GHEL, 2013). A

dinâmica da cidade e dos espaços públicos provém quase sempre da necessidade de

estimulo contínuo e mútuo, ou seja, pessoas atraem outras pessoas, o que estimula

o uso do espaço e faz com que mais pessoas sejam atraídas e assim o círculo se

repete indefinidamente.

No looping de uso do espaço e atração de pessoas por pessoas vale

destacar que as atividades humanas têm um importante papel no uso do espaço

público, contatos mesmo que triviais com certas atividades e serviços acabam

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gerando a confiança mútua e mesmo o respeito entre aqueles que partilham de um

espaço na cidade e a inexistência de uma confiança entre os usuários acaba sendo

um desastre para a rua, praça ou espaço (JACOBS, 2010).

As cidades são lugares onde as atividades são as mais diversificadas, é

nelas que as pessoas trabalham, se locomovem, se divertem, moram, mas acima de

tudo a cidade deve ser um lugar onde as pessoas se encontram, hoje cada vez mais

os meios de comunicação se diversificam e com isso as pessoas se distanciam e não

mais se encontram, é preciso propiciar espaços de qualidade para que o encontro

possa acontecer mais naturalmente e em maior frequência (GEHL, 2013). Formas de

comunicação podem suplementar encontros, mas não os substituir totalmente, porém

para que haja encontro é preciso haver bons espaços e principalmente vitalidade

urbana.

Diferente do propagado e proposto pelo urbanismo modernista a intenção

de foco nas novas correntes de pensamento e desenho urbano se focam muito mais

no presença e escala humana e menos na técnica e racionalização do território.

Qualidades menos tangíveis a todo momento são colocadas como valores muito mais

interessantes a produção urbana por diversos autores (GHEL, 1936; JACOBS, 2000;

HOLANDA, 2002; FIGUEIREDO, 2010).

Um fator recorrente de análise de qualidade e existência de urbanidade é

a questão do uso misto presente em várias das cidades tradicionais europeias por

exemplo (ALAIN DE BOTTON, 2014). Muito do que se vê hoje no interesse pelo

espaço público está associado as múltiplas frentes que geram a coexistência de

idades e classes sociais distintas em um mesmo espaço. O uso múltiplo ainda

proporciona a vitalidade e fluxo intermitentes ao longo de todo o dia (RODRIGUES,

2013).

A localidade deve possuir pelo menos duas atividades distintas que

propiciem um espaço mais rico sem ser necessariamente caótico, propor uma

coexistência pacífica (JACOBS, 2000).

A busca pela preservação da identidade local sem uma descaracterização

pela proposta de uma intervenção de objetos impessoais e segregadores como

estacionamentos serviços e comércios de grande porte sempre deve guiar um projeto

urbano. Deve-se sempre ter o cuidado com o “Não Lugar”, ou seja, lugares onde a

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troca e o encontro existem, mas a sensação de urbanidade é falsa, como são exemplo

os shoppings ou condomínios fechados que em sua essência não são lugares

públicos e, portanto, não são pontos de urbanidade (RODRIGUES, 2013).

A busca do espaço intra-urbano dotado de urbanidade é o que motiva e

direciona essa pesquisa no sentido da produção de um projeto que se adeque e

garanta a urbanidade em sua essência. Em sequência a esse entendimento se busca

compreender como esses pontos se ligam e conectam através de links a serem

tratados no capítulo seguinte.

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2.5. 4 LINKS URBANOS, A DINÂMICA NA CIDADE ATUAL E A

ESTRUTURA INTRA-URBANA

Os links são segundo Montaner (2008), patterns urbanos básicos, portanto

nada mais são que nós de grande densidade que de certa forma costuram o tecido

urbano e reforçam os fluxos nos seus mais distintos níveis introduzindo novas seções

urbanas, suturando descontinuidades e reforçando linhas e eixos de transporte, são

essencialmente desenvolvidos em um sentido longitudinal na cidade (FIGLIOLINO,

2013).

O movimento que hoje o mundo presencia muito está relacionado a

dinâmica e a links de certa forma. Segundo Ascher (2010), mais do que relações o

que estabelece o mundo hoje são as “errâncias”, a cidade deixa de ter uma

complexidade apenas interna para passar a uma escala mundial de complexidade

onde tudo se encontra unido através de informações e dinâmicas que nos ligam

ferozmente.

Com a sensação de movimento cada vez mais é árdua a tarefa de transmitir

a sensação de pertencimento ao usuário do espaço público, uma vez que as opções

de dinâmicas são tantas e por vezes muito mais atraentes que é difícil estabelecer um

interesse em um ponto fixo de espaço. A dinâmica da cidade que atrai também pode

ser o maior desafio na criação de um novo espaço urbano visto que o estático hoje

perdeu muito do interesse do “cidadão do mundo” que reside hoje nos centros urbanos

(ASCHER,2010).

Bogéa (2009), em seu Livro Cidade Errante afirma que o movimento nas

cidades hoje é um conceito errante à figura do arquiteto e do planejador urbano, pois

ainda não sabem como lidar com o movimento nas cidades pois isso significa alterar

e reformular toda a concepção de cidade que trazem a tanto tempo como correta e

única. No entanto a dinâmica urbana e de seus participantes influi na maneira como a

cidade vive e a necessidade de adequação é eminente.

Se a vida num conceito urbano está ligada ao encontro a cidade deve servir

de elemento agregador para que esse encontro possa ocorrer e cabe ao arquiteto

configurar o espaço para que o imprevisto possa ser previsto (BOGÉA,2009).

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Bógea (2009) afirma ainda que a cidade dinâmica que queremos construir

não é a da informação, mas sim a do conhecimento, a informação é comum a cidade

e o conhecimento é torna-la inteligível. Traduzindo isto em termos de espaço é sabido

que a cidade é um ponto de conversão encontro e dinâmica, e que cabe ao arquiteto

processar esta informação e produzir o espaço urbano adequado para que ela ocorra,

seja em ruas, parques ou praças.

Constant Nieuwenhuys propôs em (VERIFICAR ANO) a Nova Babilônia um

conceito de projeto urbano utópico que se baseava em grande parte no ambiente

imaginário, mas que trazia o interessante conceito do cidadão como participante ativo

na construção do ambiente urbano que não mais era inerte, mas sim dinâmico e

nômade assim como sua população (NIEUWENHUYS, 2013).

O Conceito da nova babilônia pode ser utópico, no entanto, mostra-se atual

tendo em mente a dinâmica e conexão entre as cidades que cada vez mais possuem

links entre todo o mundo. Com isso o interesse do usuário do espaço é menor pela

contemplação e maior pela real participação no processo de construção da urbe

(FIGLIOLINO, 2013).

É sabido que a sociedade ocidental vive hoje um momento de muitas

mutações nos mais diversos campos de estudo e áreas de conhecimento o que afeta,

influi e gera a necessidade de transformações importantes seja na concepção,

produção e mesmo gestão das cidades e do próprio território (ASCHER, 2010).

Segundo Villaça (1998) a dinâmica de uma metrópole pode ser facilmente

entendida ao se analisar o espaço intra-urbano que está compreendido em sua

estrutura territorial. Em uma análise objetiva dos termos pode se dizer que os

elementos da cidade sempre se correlacionam gerando um desenho do movimento

comum das metrópoles. Os movimentos defendidos por Villaça são, os estruturais,

estes ligados ao território ou os superestruturais, ligados a estrutura política

econômica e ideológica, ou seja, não estão ligados ao território.

Villaça (1998) defende ainda que a cidade a muito não é estudada em seu

contexto total e correlacionado, produzem-se estudos demográficos de densidade, de

áreas industriais, de áreas comerciais e não mais se estabelecem relações intra-

urbanas, ou seja, não há um real avanço nas investigações sobre o conjunto da cidade

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e a articulação de suas áreas funcionais o que fragiliza a compreensão do conjunto

da cidade.

Tratar esta relação descrita em parágrafos anteriores como intra-urbana

não é uma mera formalidade, poderia aqui ser utilizado o termo espaço urbano

descrito anteriormente para definir o objeto de estudo principal deste trabalho, porém

aqui se optou pela escolha do termo intra-urbano, definido por Villaça (1998), na

justificativa de que o termo espaço urbano hoje toma uma proporção de caráter

regional, não sendo a escala a se abordar neste trabalho.

Aquilo que hoje é abordado na literatura espacial progressista como espaço

urbano, se refere ao processo de urbanização de forma genérica ou então a espaços

regionais, nacionais, continentais e mesmo planetário (VILLAÇA,1998).

Como uma evolução das definições de Espaço anteriormente

apresentadas e tendo em mente a noção de espaço intra-urbano, pode-se ainda se

defender a ideia de que o espaço é um atributo material de todos os valores de uso.

O espaço pode ser um atributo de um automóvel de uma pessoa, de uma mesa, de

uma casa ou mesmo de um conjunto de edifícios até uma cidade inteira. Harvey (1982)

ainda afirma que “o trabalho útil concreto produz valores de uso em determinados

lugares”. Esses valores de uso têm também o seu consumo aliado a determinados

lugares então a noção e ideia de espaço pode se dividir em duas a dos objetos em si

(sejam estes manufaturados ou não) e a dos locais onde esses objetos são produzidos

e consumidos.

Se considerarmos que objetos e local de consumo e produção são dois

espaços diferentes pode-se considerar que os espaços podem também ser divididos

quanto ao deslocamento ou seja os que envolvem deslocamentos (localização) e os

que não envolvem (objetos).

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3. A PRAÇA

No modelo proposto por Ortega y Gasset (2002) ao analisar a cidade-

estado grega e romana acabou definindo o processo de formação da cidade como um

rompimento do homem com o cosmos geobotânico. Espacialmente esse rompimento

se traduzia em uma parcela do espaço infinito do campo rompida por um muro, ou

seja por um surgimento daquilo que representaria uma grande inovação no repertório

humano, o ponto inicial de criação da polis ou urbe, a praça, a partir da qual se

desenvolveria a cidade.

Ainda segundo Ortega (2002) a praça, enquanto espaço civil, pode ser

tratada como meio para a formação de uma nova sociedade, um espaço provedor de

comunhão do homem para com o homem.

Historicamente a praça sempre foi o tradicional ponto focal da vida na

cidade, como tal sempre a importância de fator definidor da identidade urbana. A praça

ao longo do tempo ainda adquiriu a função de atender o polo oposto a função inicial,

sendo um lugar onde as crianças brincam e se desenvolvem enquanto cidadãos, um

local onde as pessoas se encontram, uma clareira urbana onde a democracia se vê

exercida, em essência a praça é o lugar de um programa de paradoxos

(ALVICO,2013).

Para Sun Alex (2008) uma praça pública deve ser a última instância entre

as diversas escalas entre o que é público e o que é privado, um espaço que deva ter

as qualidades de um ícone e que possa ser acessado por todos. O espaço público é

por definição uma área acessível a todos que a quiserem acessar a todo e qualquer

momento o que gera no espaço público de uma praça a necessidade de uma

responsabilidade coletiva (HERTZBERGER,1999).

O grande desafio da praça hoje é encontrar justamente o equilíbrio de

tornar o espaço seguro e ao mesmo tempo estar sempre acessível e livre de grades.

Hoje a situação em muitas das praças urbanas é desestimulante devido ao acesso

restritivo, seja em horários ou usuários. Muito do que se aprova como segurança

pública no espaço de praça hoje tem como objetivo livrar através de uma segregação

de uso o indivíduo que Bauman (2009) define como “supérfluo”, ou seja, aqueles que

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ficam fora das classes sociais, não desempenham nenhuma tarefa aprovada pela

sociedade e não contribuem para aquilo que se entende como vida social.

Kevin Lynch (2011) defende a construção de bons ambientes embasados

nas seguintes características que aqui se aplicarão a uma praça, são elas

apresentadas na seguinte tabela:

Tabela 1: Construção de bons ambientes segundo Kevin Lynch.

Fonte: Criada pelo autor.

Retomando a ideia do que é uma praça e tendo em mente alguns princípios

para a criação de bons ambientes pode se entender que a praça é simultaneamente

uma construção, uma vez que altera o espaço natural, mas também é um vazio uma

vez que não se enquadra em um edifício propriamente dito. A praça não se trata porém

de um espaço urbano aberto alterado livremente, refere-se sim a um centro social

integrado ao tecido urbano (ALEX, 2008)

Lynch (2011) descreve o modelo que historicamente, segundo o autor, mais

funcionou enquanto espaço público de convívio a “plaza” que seria um foco de

atividades no coração de alguma área “intensamente” urbana. Essa “plaza”

tipicamente segundo o autor seria pavimentada e definida por edificações de alta

densidade, eram caracterizadas por ruas circundando o espaço ou em contato direto

com ele. O que atrai as pessoas até esses espaços são justamente os elementos que

facilitam o encontro como fontes, bancos, abrigos, etc.

Presença Direito de acesso de um lugar, sem ela

uso e ação não são possíveis

Uso e Ação Refere-se a habilidade das pessoas de

utilizarem o espaço proposto

Apropriação Processo no qual o usuário toma posse

do lugar simbólica ou fisicamente

Modificação É o direito de alterar o espaço de modo

a facilitar o seu uso

Disposição Possibilidade de desfazer-se de um

espaço público urbano

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Mesmo que a plaza descrita por Lynch (2011) seja atraente por todas as

características acimas descritas, um ponto fundamental escapa a descrição, o acesso,

é fundamental para que um espaço público tenha uso que ele tenha um acesso que

propicie um convite ao possível usuário. O Acesso tem por essência três grandes

áreas (ver tabela) (ALEX, 2008):

Acesso Físico

Ausência de Barreiras, espaciais e

arquitetônicas, para se entrar e sair do

lugar, aqui devem ser analisadas

também aberturas e percursos

Acesso Visual

É a qualidade do primeiro contado

visual do usuário que mesmo a

distância deve entender o lugar como

um todo ampliando o campo visual ao

máximo possível

Acesso Simbólico

São os sinais sutis ou ostensivos que

definem usos e usuários do espaço,

convidam ou afastam ao uso, controlam

e mesmo setorizam um espaço

Tabela 2: Tipologias de acesso segundo Sun Alex.

Fonte: Alex, 2008.

Sun Alex (2008) descreve em seu livro, o que seriam diferentes tipos de

praça, toma o exemplo de Siena para definir o processo de formação da praça no

contexto medieval, a primeira praça era a da catedral que representava o poder

institucional, uma segunda era a praça-mercado que era um local de trocas, serviços

e atividades sócias. Pode se dizer que ao todo Siena possuía três praças importantes

a religiosa Piazza del Duomo, essa regular e ortogonal, a cívica e central Piazza del

Campo, um polígono em forma de leque, e por fim a Piazza del Mercato, um espaço

aberto trapezoidal.

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Siena é formada por diversas vias de circulação que criam aberturas e

alargamentos que acompanham a topografia da cidade como um todo resultando em

uma grande variedade de resultados de espaços espontâneos que se ajustam as

necessidades que acabam se desenvolvendo ao longo do tempo.

Aqui deve-se dar o destaque devido a Piazza del Campo que possuía as

proporções mais amplas tanto para abrigar o mercado quanto a reuniões e cerimônias

públicas, a forma de trapézio com cantos arredondados possuía dimensões de 85 m

e 150 m nas bases e 100 m na altura. O terreno ainda garantia com sua suave

inclinação a função da praça como um grande anfiteatro aberto (ver figura) (ALEX,

2008)

Figura 6: Relação das três praças de Siena.

Fonte: SUN ALEX, 2008.

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Podemos então definir praça como um espaço público aberto, seja ele

construído ou adaptado a um vazio urbano ou mesmo aberto no espaço urbano que

possui um uso definido por fatores desde o seu entorno aos prédios que a compõe

enquanto conjunto e mesmo a análise adquirida por sua topografia e do entorno dela

como condicionantes de uso (PINTO, 2003).

Quanto a tipologia Krier (1975) define os grupos, praças retangulares (com

alguma variação, como cantos chanfrados); praças ortogonais; praças circulares

(entrando aqui as ovais); praças triangulares; praças angulares; praças com sistemas

geométricos complexos.

Figura 7: Piazza del Campo: Layout (SUN ALEX,2008) Destacasse aqui além do próprio espaço aberto da praça também os onze acessos que garantem a chegada até o espaço sendo cinco sob uma arquitetura e seis deles a céu aberto, os acessos quase sempre são

estreitos.

Fonte: Sun Alex, 2008.

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Kostof (1992) descreve ainda o início da formação das cidades em que

muitas vezes a praça que servia para o comércio, a praça que servia como centro

cívico e as outras categorias de praça todas se misturavam no mesmo espaço, a

separação de função por espaços diferentes ocorre com a própria evolução e

crescimento das cidades, a partir disso Kostof divide as praças em 5 categorias

principais conforme a tabela seguinte:

Praça do Mercado

É uma praça aberta onde as pessoas se

reúnem para trocar, vender e comprar

mercadorias, e oferecer serviços dos mais

diversos

Praça Cívica

É uma praça de entorno marcado por

importantes prédios públicos, sendo um

palco das exposições públicas de poder (a

partir do século XX essa se dispersa por

várias praças)

Praça das Armas

É uma praça de demonstração de poder e

repressão da população, geralmente são

de grandes dimensões e um monumental

símbolo do poder no centro geométrico

Praça dos Jogos

Praça que surge doa hábitos adquiridos

pela população, consideradas como

inocentes enquanto espaço público

Praça de Tráfego

Essencialmente uma praça que surge

isolada em meio a cruzamentos

movimentados, ou seja surgem em função

de ordenação e circulação

Tabela 3: Divisão tipológica de praça segundo Kostof.

Fonte: Pinto, 2003.

Pinto (2003) vê como necessário acrescentar outras três categorias mais

atuais as já propostas por Kostof descritas na tabela a seguir

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Praça Lúdica

É uma praça com uma concentração de

pessoas destinadas ao lazer, diversão,

cultura.

Zona de Passagem

É uma praça que existe apenas enquanto

espaço público na malha urbana como

local de passagem, onde não há

permanência.

Zona Temporal

É uma praça que é utilizada como terminal

para o transporte coletivo público, que

depende quase que exclusivamente do

tempo de chegada e saída dos transportes

Tabela 4: Revisão da tipologia de Kostof, segundo Pinto.

Fonte: Pinto, 2003.

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4. ESTUDOS DE CASO

4.1. PICCADILLY GARDENS

Equipe Responsável e Engenharia: ARUP

Planejamento e Projeto Urbano: EDAW

Arquiteto: Tadao Ando

Fonte: http://www.edaw.co.uk

Endereço do projeto: Piccadilly Gardens. Manchester, Reino unido.

4.1.1. SOBRE A PRAÇA

Piccadilly Gardens é hoje ponto de confluência de fluxos de rotas que

atravessam o município de Manchester, tanto no sentido leste-oeste quanto norte-sul

(ver figura 8).

A característica mais dominante no redesenho dos Jardins é uma grande

fonte elíptica, que é visível a partir de todas as áreas do jardim. A superfície da fonte,

que é de aproximadamente 50m por 25m é feita de granito preto e está rodeada por

Figura 8: Implantação a partir de vista superior

Fonte: Arquivos EDAW

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um branco em concreto pré-moldado e um caminho de granito branco. A fonte é

cortada perto de sua borda ocidental por uma passarela (ver figura 9), parte da

principal rota norte-sul através da praça.

Finalmente, há ainda no jardim o abrigo de 130 m de Tadao Ando, o

Pavilhão Piccadilly que ocupa as bordas sul e leste da praça. O pavilhão abriga um

café e pequenas lojas, sendo o primeiro projeto de Ando na Inglaterra (ver figura 10).

Figura 9: Fonte central cortada pela passarela que liga os eixos Norte-Sul

Fonte: Arquivos EDAW

Figura 10: Pavilhão Piccadilly Projeto de Tadao Ando

Fonte: Arquivos CABE

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4.1.2. SOBRE O PAVILHÃO:

O pavilhão de Ando em Piccadilly Gardens é uma parede de concreto

suavemente curva, de 130 metros de comprimento, com um espaço coberto no lado

côncavo que serve de abrigo para cafés e usuários. O pavilhão é um elemento

importante para uma remodelação total do jardim da praça em 2002, para coincidir

com o período que Manchester iria sediar os “Jogos da Amizade”.

Figura 11: Cafés Abrigados pelo Pavilhão Coberto de Ando

Fonte: Galinsky, 2015.

Figura 12: Pavilhão que se fecha para si mesmo

Fonte: Galinsky, 2015.

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O pavilhão de Ando desliga o centro de transportes a partir dos jardins,

criando um espaço fechado para a praça em si mesmo (ver figura 10).

A parede em si é feita a partir da marca registrada de Ando, concreto pré-

moldado, em blocos de proporção 2 para 1(ver figura). Na obra de Ando estes

normalmente se têm o tamanho padrão japonês de 1.8m por 0.9m, mas foi ampliado

no Reino Unido a 2m por 1m. Como seria de esperar de Ando, a parede de concreto

foi projetada e construída com cuidado impressionante e atenção aos detalhes.

4.1.3. PROCESSO DE COMPOSIÇÃO

Após a bomba de 1996 e a nomeação de EDAW como o responsável pela

reconstrução, Piccadilly Gardens se tornou o objeto de um concurso de arquitetura.

Os membros do EDAW uniram-se com engenheiros da ARUP, ao arquiteto Tadao

Ando, aos arquitetos Chapman Robinson (que eram para ser a interface de Ando no

Reino Unido), e finalmente o engenheiro de iluminação Peter Fink. A equipe EDAW /

Arup, que foram um dos seis pré-selecionados, sendo pronunciados vencedores da

competição em 1998.

O objetivo da equipe era entregar um espaço 24 horas. Isso aconteceu

porque eles sentiram que esta área central de Manchester estava perto de ser um

Figura 13: Detalhe da parede do Pavilhão evidenciando a marcação das placas de concreto

Fonte: Galinsky, 2015.

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ponto 24 horas com os vários distritos circunvizinhos de China Town, o Gay Village, a

área de comércio e, em seguida, o planejado, agora concluído, Millennium Quarter.

O jardim vitoriano afundado existente (ver figura 10 e 11) construídos a

partir de uma multiplicidade de pequenas flores plantadas regularmente, implicavam

em uma circulação dificultada em torno do espaço; além disso, o jardim havia sido

negligenciado, degradado e estavam comumente associados a um comportamento

antissocial e hostil. Assim, em uma tentativa de abordar estas questões e para

introduzir um novo grau de espaço acessível verde no centro da cidade, decisão foi

tomada para trazer tudo para o nível da rua e trazer áreas de circulação de volta para

o domínio público.

Figura 14: Representação artística do antigo Jardins Vitoriano Afundado

Fonte: Kingandmcgaw, 2015.

Figura 15: Piccadilly Gardens na década de 1940

Fonte: Carrental Manchester Airport

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A grade que fornece a estrutura para a praça foi estabelecida, respeitando

as diferentes rotas que cruzam a área. Estas são, a principal rota norte-sul que liga

através do pavilhão com as estações de ônibus e trem eléctrico na Parker Street, e a

rota leste-oeste principal que liga a Estação Piccadilly com a área de comércio.

Algumas coisas tiveram que ser respeitadas como a Estátua da Rainha Victoria, pré-

existente na praça.

As espécies arbóreas foram escolhidas para sobreviver e prosperar em

condições urbanas e ao clima de Manchester, o posicionamento detalhado foi

considerado na seleção final. No extremo norte foram usados Álamos de Londres,

pela sua capacidade de resistir a compactação das raízes, a sua associação como

árvores de rua e também porque seu tamanho é adequado para os edifícios do

entorno. No lado oeste do terreno de onde as árvores são plantadas entre as linhas

do trem elétrico e atrás do Pavilhão, carvalhos e peras floração, Pyrus "Galo" foram

escolhidos por sua forma colunar que não iria interferir com os movimentos do trem

elétrico e ainda, os grandes carvalhos e magnólias no gramado leste foram escolhidos

para seu interesse botânico e pelo sentido de drama que dão ao projeto.

Figura 16:Exemplo da arborização do Jardim

Fonte : Arquivos CABE

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4.1.4. ESTUDO DE CASO - ANÁLISE PÓS OCUPAÇÃO

Neste capítulo foram analisados artigos jornalísticos a respeito do espaço

de praça/jardim proposto por Tadao Ando e o EDAW com o objetivo de identificar a

percepção dos usuários e a condição de usabilidade do espaço. A importância do

capitulo está em analisar o projeto a partir da opinião dos usuários e especialistas para

que se possa ter uma real impressão de uso do espaço.

O muro de concreto cinza (Pavilhão Piccadilly) projetado por Ando, como

parte de uma reforma da praça pública (Piccadilly Garden) em 2002 posteriormente a

sua construção acabou se tornando motivo para a criação da campanha “green over”

pela população local (centro de Manchester) que propunha paredes verdes para cobrir

o pavilhão de Ando, os moradores e usuários diziam que o edifício era muito austero,

sombrio e deprimente.

Em uma entrevista ao Manchester Revening News Tadao Ando

(responsável pelo projeto do Pavilhão Piccadilly implantado no Piccadilly Gardens),

ressalta que apoiaria a ideia de cobrir o pavilhão como um todo com vegetação e em

resposta a sugestão da população, o arquiteto disse que a adição de plantas, de

grama, flores e folhas, contribuiria muito para o projeto e seria muito bem-vinda. Ele

declarou para a associação de moradores:

"Eu acho que é muito interessante e importante que os

moradores estejam fazendo esse movimento. Eu iria apoiar de uma ou outra

maneira porque todo mundo tem diferentes perspectivas e visão sobre

qualquer coisa que exista. Eles podem ter opiniões muito fortes ou podem ser

afetados por tendências ou pessoas ao redor. Eu respeito todos eles".

(MANCHESTER REVENING NEWS, 2013)

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O jornal acrescenta ainda que o pavilhão, que abriga uma série de cafés e

restaurantes, tem dividido opiniões entre pessoas locais e especialistas de arquitetura.

Sobre o fato Ando declarou que o plano proposto pela população está em consonância

com o seu próprio interesse recente no uso de vegetação - incluindo um projeto atual

para cobrir um arranha-céus em Osaka com uma parede "verde", conforme a figura

17.

Em conclusão de sua entrevista Ando declarou:

"Para mim, só porque o edifício é construído, não significa que

ele seja concluído na sua forma final. Arquitetura evolui e nós, como os

arquitetos, devemos cuidar dos edifícios e nutri-los. Para muitos de meus

projetos concluídos, eu vou acompanhar trabalhos de manutenção e faço

sugestões ao proprietário do edifício ou ao contratante de como fazer uma

manutenção adequada. Nós também tomamos a iniciativa de plantar árvores

e vegetação em torno da arquitetura para harmonizar com a natureza do

entorno. Por mais de uma década venho trabalhando para criar paredes

verdes na costa de Nakanoshima em Osaka para trazer uma atmosfera

pacífica" (MANCHESTER REVENING NEWS, 2013).

Piccadilly Gardens é a única obra britânica de Ando. É vice-campeã do

prêmio de Melhor Edifício Público de 2003. Mesmo assim uma petição contra as

Figura 17: Proposta de Parede verde feita pelo Arquiteto TadaoAndo

Fonte: Manchester Revening News, 2015.

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"paredes de concreto feias”, lançada por um grupo de moradores do centro da cidade

e trabalhadores que se autodenominam Piccadilly People, atraiu centenas de

assinaturas.

Quanto as condições de uso e estado de conservação em 20 de Abril de

2014 O Jornal Manchester Confidencial publicou a reportagem Piccadilly Gardens:

“Ações pelo menos” do jornalista Jonathan Schofield. Nela o jornalista ressalta que já

se questiona em análise há sete anos por artigos e entrevistas, sobre o real sucesso

do Piccadilly Gardens na sequência de sua "reforma" para os Jogos da

Commonwealth.

No artigo relatado ainda são ressaltadas as condições de preservação

debilitadas como um ponto nos gramados dos jardins que se tornou um pântano

desprovido de grama; os bancos que apodreceram e se tornaram perigosos para se

sentar; a base da estátua, onde está a Rainha Vitória, está suja ou grafitada; e o dito

infame “Wall” (Pavilhão) que foi manchado pela fumaça de monóxido de carbono.

Sobre isso o jornalista relata que então um grupo de moradores decidiu agir.

Figura 18: Área gramada dos jardins atualmente degradada

Fonte: Manchester Confidential, 2015

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O grupo de moradores do centro da cidade representados pelo porta-voz e

conselheiro Pat Karney, disse em entrevista ao jornal:

"Estamos criando um grupo de trabalho, presidido por mim, para

ver como podemos melhorar a área e todos os comentários são bem-vindos

assim como todas as sugestões e esperamos ter as coisas em movimento

nos próximos meses. Já temos reparos para os bancos em curso e as áreas

gramadas foram replantadas. Queremos agora olhar para o “Wall”, que

Infelizmente arrendamos por 250 anos aos proprietários do One Piccadilly e

que foi comprado por outro acionista. Custaria muito para comprar o Muro de

volta então estamos pensando em ideias criativas para torná-lo melhor" (PAT

KARNEY, CONSELHEIRO E PORTA-VOZ DA COMUNIDADE CENTRAL DE

MANCHESTER, 2014).

O que nos mostra a insatisfação da população quanto ao espaço e a

iniciativa que parte dos moradores para a retomada do mesmo. Karney diz em relato

ao mesmo jornal que quer começar com algumas “ideias para muitas paredes” onde

o conselheiro propõe uma série de instalações temporárias e intervenções sobre a

estrutura monótona com obras de arte, projeções de luz e assim por diante. Não

poderia haver iniciativas separadas para seções separadas do “Wall”

Jonathan Schofield repórter responsável pela matéria declara que quanto

ao resto do Piccadilly Gardens parece que a força-tarefa dos moradores terá pouco

Figura 19: Bancos degradados –

Fonte: Manchester Confidential, 2015

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dinheiro para implementar qualquer mudança real, o que ele diz ser triste já que ao

seu ver o lugar todo precisa ser repensado o que demonstra não só a insatisfação do

espaço por parte dos usuários mas também dos espectadores menos assíduos dele.

Quando mencionamos “Grandes Praças Europeias” nunca relacionamos a áreas

gramadas com vegetação feia cinco pés acima do chão, perfeita para se despejar lixo.

Elas podem ter algumas árvores estranhas, certamente terão fonte e estátuas, mas

não são categoricamente espaços verdes. (SCHOFIELD, 2014)

Por outro lado, quando se menciona “grande jardim urbano” sempre surge

a imagem de Piccadilly Gardens que segundo o repórter “É um oxímoro, um equívoco,

uma mistura mutilada de um erro histórico agravado e continuado por uma ligação

sentimental com um involuntário e centenário erro. ”

Houveram no espaço da praça não somente propostas para uma praça ou

espaço verde, em análises históricas jornalísticas se descobriu durante a pesquisa

uma proposta para uma galeria de arte (ver figura 20) no espaço que hoje abriga a

praça, após a demolição da enfermaria que ali existia anteriormente, que nunca

passaram do plano das ideias.

O resultado é que as pessoas mais velhas agora vão olhar para trás sobre

os jardins com carinho, mesmo que eles nunca tenham sido destinados a serem

permanentes.

Figura 20:Galeria de Arte proposta no atual espaço do Piccadilly Gardens

Fonte: Manchester Confidential, 2015.

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Karney afrma em continuação a entrevista sobre o Piccadilly Gardens:

“Tornou-se praça de memória. As pessoas têm uma ligação emocional ao fato de estar

em um jardim e relacionam ao fato de existirem poucos espaços verdes

remanescentes na cidade”.

O jornal declarou como sua opinião a respeito do jardim:

“Manchester vem confundindo praças com parques e chegando

com um compromisso que não agrada a ninguém. Dada a natureza e

localização de Piccadilly Gardens devemos esquecer que eles eram jardins

(eles estiveram um lixo por duas décadas) e re-projetar o espaço como um

disco de pavimentação por toda parte, além de bancos e espaços que

propiciem um bem estar. Piccadilly é uma área pequena para um espaço

verde adequado, nunca poderá ser um central park para a cidade, mas é

grande o suficiente para ser uma Piazza del Campo, como a de Siena. Vamos

por esse caminho, em vez do caminho do jardim. "(JORNAL CONFIDENTIAL

UK, 2014)

O repórter conclui a reportagem declarando:

“Embora respeitando as memórias das gerações mais velhas, as

cidades têm de avançar. Em algum momento no futuro não muito distante,

uma força-tarefa para aplicar remendos para a maior área pública no centro

da cidade, não será suficiente”.

4.1.5. SOBRE O JARDIM E SEU REAL USO: ANÁLISE

Mesmo sendo um projeto de premissas excelentes e qualidade espacial

proposta em projeto realmente agradável o espaço não vai de encontro as

necessidades que a maior parte dos usuários gostariam para ele, vale aqui ressaltar

a importância da experiência do usuário para que se possa mensurar realmente a

qualidade do espaço. Há no espaço presentes dos princípios de Lynch relatados no

capítulo “A Praça”, a presença, com o acesso garantido a todo e qualquer usuário e

do uso e a ação uma vez que o espaço proposto é hábil para o uso que se propõe.

Por outro lado a apropriação é um princípio que está se buscando por parte dos

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moradores porém ainda não é uma realidade assim como o direito a modificação que

também ainda não se aplica.

O acesso físico a praça é garantido de modo adequado, porém o visual

está danificado uma vez que o pavilhão forma uma barreira vista com maus olhos

pelos usuários segundo relatos apresentados. Simbolicamente muito se perdeu na

praça a partir de sua configuração original e apesar disso ainda existe a vontade por

parte do usuário em se reapropiar do espaço.

Na categoria expandida de Kostof proposta por Pinto (2003) a praça não

se enquadra como uma zona temporal uma vez que tem um perfil de centralização de

transporte coletivos públicos e nasce principalmente entre as chegadas e saídas dos

transportes.

Em conclusão a praça apesar de ter intenções projetuais bastante

interessantes acaba por não se adequar a real necessidade do local

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4.2. SONY CENTER

Planejamento e Projeto Paisagístico: Peter Walker

Arquiteto: Murphy Jahn

Fonte: http://potsdamerplatz.de/en/history/beginnings/

Endereço do projeto: Sony Center. Berlim, Alemanha.

4.2.1. SOBRE A PRAÇA

Sony Center é um complexo de sete edifícios de uso misto, organizados

em torno de uma praça central. Três destes edifícios são sedes de empresas,

localizados cada um em um dos cantos da praça (ver figura x e x).

Figura 21: diagrama de concepção da praça

Fonte: Aeccafe, 2015.

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A cobertura da praça é um guarda-chuva elíptico que proporciona

sombreamento e proteção contra os elementos naturais. É uma exibição heroica do

mais recente do estado da arte, com cabos e uma membrana e vidro. Um terço do

telhado é feito em vidro, garantindo vista para o exterior, a construção foi

extremamente ecológica e econômica. Os outros dois terços da cobertura são

compostos por uma membrana de fibra de vidro reforçada com cabos assegurando a

transparência, leveza, longa duração e economia. O telhado da praça tem um efeito

atenuante no ambiente e nos edifícios circundantes.

Outra característica paisagística da praça é seu pavimento com grelhas de

aço fundido e granitos tradicionais de uma região próxima de Berlim que se alternam.

As grades de metal funcionam como o sistema de drenagem da praça. Em algumas

situações a água é drenada para uma canaleta padrão, enquanto em outros locais a

grade é aberta para uma canaleta de solo contínuo na qual as árvores são plantadas.

Também localizado abaixo da grade há uma rede elétrica para apoiar a iluminação do

Figura 22: Praça do Sony Center em Berlim

Fonte: Aeccafe, 2015.

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piso. A grade oferece ainda fácil acesso a todos os elementos de manutenção e

inspeção (ver figura 23).

O elemento característico da praça é um espelho d'água circular em

balanço sobre uma grande abertura emoldurada por canteiros de buxinho em três

níveis. Olhando para baixo através do fundo de vidro do espelho d’água, os visitantes

sobre o nível da praça podem ver o lobby do cinema no andar inferior, enquanto a

partir do lobby inferior os visitantes do teatro olham através do espelho a cobertura

tensionada (ver figuras 24 e 25).

Figura 23: Praça com iluminação e grelhas no piso

Fonte: Pwpla, 2015.

Figura 24: Espelho d'água central em balanço com canteiros em três níveis emoldurando

Fonte: Pwpla, 2015.

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Em um contexto urbano ele faz parte do conjunto do Potsdamer Platz sendo

seu exterior diretamente conectado com uma saída de uma das estações de metrô

(ver figura x), a praça possui ainda diversas saídas/entradas para todo o entorno por

sobre a arquitetura dos edifícios que a envolvem (ver figura 26).

Figura 25: Corte da praça mostrando a conexão entre o lobby inferior, o espelho d'água em balanço, a praça e a cobertura.

Fonte: Pwpla, 2015.

Figura 26: Sony Center no contexto urbano com saída do metrô a direita.

Fonte: Aeccafe, 2015.

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4.2.2. SOBRE OS EDIFICIOS

Cada um dos edifícios da praça deriva a sua identidade e forma a partir da

situação urbana, geometria e composição local do conjunto. As formas se flexionam

em direção as entradas da praça. Variações sobre as peles de vidros promovem a

individualidade dos edifícios, enquanto maximizam a luz do dia e a relação entre

interno e externo.

Figura 27:Sony Center com as entradas sobre a arquitetura em todas as direções

Fonte: Aeccafe, 2015.

Figura 28: Croqui de concepção de implantação.

Fonte: Aeccafe, 2015.

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O conceito de construção compreende a aplicação de uma série de

componentes. Deve se enfatizar o aspecto de transparência, leveza e camadas além

do uso da tecnologia do estado da arte. As peles de vidro empregam sofisticadas

tecnologias de aço leve.

4.2.3. ASPECTOS HISTÓRICOS E DE INSERÇÃO URBANA

Potsdamer Platz é um espaço público histórico situado próximo ao centro

de Berlim, Alemanha (ver figura x). Desde a sua origem mais de 400 anos atrás, como

uma confluência de algumas estradas rurais ela cresceu para se tornar a praça mais

movimentada da Europa até ser destruída durante a Segunda Guerra Mundial. Depois

da guerra, houve esforço para voltar a ser um centro de comércio só para se tornar

mais uma vítima abandonada de uma Alemanha dividida e a subsequente Guerra Fria.

Hoje, após a queda do Muro de Berlim e a reunificação alemã, quase uma década de

obras de remodelação tornaram novamente a praça em um grande centro urbano de

renome internacional, mas não sem contraversões consideráveis.

Historicamente a Potsdamer Platz é nomeada em referência a cidade de

Potsdam localizada a aproximados 25 km ao sudoeste de Berlim e da estrada que

ligava as duas cidades. A evolução da praça começou com emissão do Edital de

Tolerância de 1685, o que permitiu a entrada de refugiados religiosos da Áustria e da

Figura 29: Earth Virtual

Fonte: Google maps, 2015

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França no país, aumentando a população de Berlim. As fortificações medievais que

limitam a cidade não estavam mais comportando seus habitantes, assim novos

distritos foram estabelecidos fora dos muros da cidade. O maior distrito foi nomeado

Frederick William II, mais conhecido como Frederico, o Grande (Figura 30, praça

local).

Pelos anos de 1700 o desenvolvimento de Friedrichstadt e os outros

distritos estavam completos e uma nova parede de madeira com 14 portões foi

construída para delimitá-los (Figura x). Mais tarde ela foi fortificada, mas seu propósito

primário era fornecer pontos de controle onde os impostos poderiam incidir sobre

mercadorias que entravam e saiam da cidade. Potsdam Straβe tornou-se a principal

rota de entrada da cidade no Portão de Potsdam. Uma vez dentro do portão a estrada

tornava-se Leipziger Straβe onde uma grande praça de parada octogonal foi

construída a Leipziger Platz.

Figura 30: Berlim e Distrito de Friedrichstadt 1710.

Fonte: SNEIDER, 1983

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A construção de uma estrada de ferro em 1838 entre Berlim e Potsdam

anunciava um novo período de crescimento para a cidade. Muitas das casas e

palácios nos arredores de Potsdamer Platz foram tomadas para uso do governo e

embaixadas estrangeiras se estabelecendo em muitos terrenos não ocupados. Na

década de 1920 e 1930 Potsdamer Platz havia se tornado um dos mais movimentados

centros de tráfego em toda a Europa, onde cinco ruas se encontravam: Königgrätzer

Strae (porção norte); Königgrätzer Strae (parte sul); Leipziger Strae; Potsdamer Strae;

e, Bellevuestrae. Recebeu os primeiros semáforos da Europa (copiados de Nova

Iorque), necessários para ajudar a manter desembaraçados 60.000 automóveis da

região e 40 linhas de bonde. Potsdamer Platz foi o coração de uma paisagem urbana

de prosperidade, que escritores chegaram a comparar com o Times Square de Nova

Iorque, em sua forma mais moderna, selvagem, ganancioso, jovem, excitante e

intensa (DAVEY 1999).

O auge da Potsdamer Platz chegou ao fim quando parte dos 1,5 milhões

de toneladas de bombas aliadas caíram sobre a Alemanha durante a Segunda Guerra

Mundial. No entanto, apenas alguns meses após o fim da guerra o comércio surgiu

dos escombros (ver figura x). O desenvolvimento de negócios foi prejudicado pelo

atrito entre leste e oeste, no entanto, com as áreas de controle americano, britânico e

soviético convergiam para a Potsdamer Platz.

Figura 31: Berlim em 1810 destaque ao muro que envolvia a nova cidade expandida.

Fonte: SNEIDER, 1983

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As condições de vida e trabalho na Alemanha do Leste Soviético

deterioraram sob o regime comunista e fomentaram o descontentamento entre a

classe trabalhadora. Em junho de 1953, um trabalhador foi brutalmente reprimido

pelos militares soviéticos na Potsdamer Platz. Com as tensões da Guerra Fria

aumentando, a linha invisível de separação finalmente se fez tangível pela construção

do Muro de Berlim em 1961. Esta barreira de concreto não só dividiu a paisagem

acima do solo, os trens que corriam através da praça foram proibidos de parar,

gerando a criação da Geisterbahnhofe, ou estação fantasma. O que havia sido o mais

movimentado distrito de rua e de negócios em toda a Europa se tornou um vazio na

paisagem urbana.

A queda do muro de Berlim, em 1989, criou novas oportunidades para a

reconstrução da Potsdamer Platz. Tanto geográfica e simbolicamente, acreditava-se

que ela seria a chave para reunificar a cidade. A firma de arquitetura alemã de Hilmer

& Sattler ganhou o concurso para o desenvolvimento de um plano diretor para a área,

que foi dividido em quatro partes destinadas para o desenvolvimento por grandes

Figura 32: Potsdamer Platz 1945

Fonte: Arquivos Nacionais do Canadá, 2015

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investidores comerciais, incluindo edifícios individuais projetados por arquitetos

notáveis. De 1992 a 2000, a remodelação de Potsdamer Platz tornou-se um dos

projetos mais ambicioso de construção comercial no mundo.

Uma das características mais marcantes de Potsdamer Platz é uma praça

enorme dentro do edifício do Sony Center, que se estende mais de 109 metros abaixo

de uma cobertura de cabos de aço tensionada e tecido. A praça foi projetada pelo

arquiteto paisagista americano Peter Walker e aberta a usos permitindo uma

variedade de ocupação bastante ampla. Logo abaixo do nível da praça há um lobby

para diversas salas de cinema, juntamente com cafés e restaurantes.

4.2.4. ANÁLISE PÓS OCUPAÇÃO

Avaliação: Neal Overstrom

O sucesso da Potsdamer Platz, de Berlim em unificar e reinventar uma

proeminente área urbana não tem sido universalmente aceito. Desde o início a

abordagem de estilo ocidental de desenvolvimento estava em desacordo com a visão

mais conservadora do governo da cidade para o futuro da praça, embora a

contragosto de muitos o projeto se realizou (LEHRER, 1999).

Howard Watson (2006) escreveu na revista “Architectural Design” que

Potsdamer Platz tem uma sensação de frio, pouco convidativa: o Platz agora carece

de qualquer identidade além da de um encontro de estradas enormes que poderiam

estar em qualquer lugar do mundo. Como uma paisagem que é tão desprovida de

carácter e separada da vitalidade urbana que parece inexistir na região sendo aplicado

nela o pior do planejamento americano. As secções em branco, cinza de

pavimentação que formam a parte pedonal da Platz são completamente sem

personalidade e seu único propósito é, aparentemente, para fornecer um ponto onde

se pode ver a mescla de arquitetura do perímetro. Keating, (2001) afirma que, apesar

de restrições de altura a escala dos edifícios é excessiva, desconectá-los de edifícios

circundantes e do tecido urbano.

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Talvez as críticas mais severas, no entanto, vão mais fundo do que a

arquitetura. Peter Marcuse (1999) considera preocupante o fato de que um dos

grandes espaços públicos alemães tenha sido parcelado e vendido para corporações

multinacionais privadas. O autor afirma existir um paradoxo no vidro transparente das

fachadas e portas fechadas, tomada de decisões dentro de suas salas de reuniões

corporativas. Marcuse afirma haver uma arrogância e extravagância na escala e

materiais do espaço que simbolizariam o poder do capitalismo de estilo ocidental

como a nova força motriz no cenário político, em sua opinião, é uma desvalorização

da cultura alemã.

4.2.5. SOBRE A PRAÇA E SEU REAL USO: ANÁLISE

O sucesso do Sony Center enquanto visitação e permanência parece ser

realmente intenso tendo em vista seu uso e suas atividades, em sua inserção no

conjunto da Potsdamer Platz parece também estar conectado e aberto a visitação,

mesmo assim segundo os especialistas e analistas urbanos sua vitalidade é de certa

forma falsa e muito se distancia da realidade urbana da rua o que leva o projeto tanto

da Potsdamer Platz quando da praça do Sony Center a perderem força visto que seu

urbanismo na realidade é interno e está alheio ao restante da cidade.

Na praça, dos princípios propostos por Lynch e elencados aqui no capítulo

“A Praça” podem ser observada presença uma vez que o acesso é democrático e

amplo, o uso e a ação são garantidos também uma vez que as pessoas são facilmente

habilitadas a utilizarem o espaço, a apropriação ocorre dentro da praça do Sony

Center em especifico e em outros pontos internos porém é de certa forma deficitária

na Potsdamer Platz como um todo. Quanto a modificação e disposição não existem

uma vez que os espaços ao longo do conjunto são em sua maioria privados.

Os acessos tanto físicos quanto visuais e simbólicos estão sempre

garantidos de forma bastante adequada. Enquanto conjunto a praça não se encaixa

em nenhuma das categorias definidas por Kostof e nem em sua expansão proposta

por Pinto (2003).

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5. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE

5.1. A CIDADE DE CURITIBA

Com as buscas por ouro em meados do seculo XVII a região de Curitiba

recebeu desbravadores que vinham em busca de ouro, sendo os primeiros caminhos

de Curitiba - Graciosa, Itupava e Arraial. Embora a existencia do ouro na região tenha

sido pouca, deparava-se com uma região de relevo relativamente plano uma

vegetação típica das matas de altitudes. O potencial natural de circulação e de locais

ideais para assentamento foram as características que colaboraram com a ocupação

da área incialmente conhecida como “Campos de Curitiba”, a fertilidade das terras e

a adequação do planalto curitibano a pastagens gerou um nucleo de povoamento, que

em 1963 foi elevado a categoria de vila. A prosperidade só viria a partir de 1812, com

o tropeirismo. Sendo ponto estratégico do caminho do Viamão à São Paulo e às Minas

Gerais, o povoado desenvolveu o comércio com a passagem dos tropeiros. Embora

fosse uma região de estratégica o perímetro urbano da cidade ainda se resumia ao

entorno do Largo da Matriz - Praça Tiradentes. O ciclo da erva mate foi um importante

ciclo econômico, a planta natural da região se tornou o produto por excelência da

cidade. Nos anos de 1830, engenhos para o beneficiamento do mate começam a se

instalar em Curitiba (IPPUC, 2004).

Figura 33: Mapa com a matriz urbana de Curitiba evidenciando a região Sul – 1857.

Fonte: Elaborado por Humberto Fogaça com base em Duarte e Guinski, 2002, p.75.

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Através de políticas “open door”, em 1822, os primeiros imigrantes chegam

em Curitiba, sendo a partir de 1853 com a emancipação de politica do paraná e o

incentivo governamental à colonização na segunda metade do século 19, que a cidade

cresceu devida a intensa imigração europeia. Desta forma o quadro urbano foi

ampliado e iniciou-se o processo de hierarquização da cidade, representada pela

divisão dos locais de moradia conforme a classe social e atividades econômicas

(IPPUC, 2004).

O estado tornou-se Paraná Província independente de São Paulo, em

1853. Desta forma Curitiba, a capital, precisava se adaptar às transformações político-

administrativas exigidas pelo Império, para a nova condição de independência. Sendo

assim, em 1855, o engenheiro francês Pierre Taulois, contratado como inspetor geral

de medição das terras públicas foi enviado à província, acompanhado de

agrimensores, escreventes e outros necessários para dar começo aos trabalhos de

sua comissão. Conforme relatório de Taulois, a Curitiba de 1857 possuía somente

Figura 34: Malha urbana de Curitiba de 1857 (em vermelho) sobreposta ao mapa atual.

Fonte: Elaborado por Humberto Fogaça com base em IPPUC, 2009, p.76.

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duas ruas se cortavam em ângulo reto: a da Assembleia (hoje Doutor Muricy) e a do

Comércio (hoje Marechal Deodoro) todas as outras se afastavam dessa direção,

dessa forma, Taulois indicava meios de endireitá-las, pedindo a desapropriação

gradual por utilidade pública. Taulois foi indicando uma série de determinações no

sentido de deixar todas as ruas da cidade retas, mantendo um "paralelismo” com as

demais. Ruas como do Comércio, Fogo (São Francisco), Graciosa (Barão do Serro

Azul) e outras modificam seu traçado para apontar para uma cidade com forma

regular, quadrilátera, com cruzamentos em ângulos retos e bem definidos, já

denotando alguma preocupação com a circulação dentro da malha urbana (FOGAÇA,

2011; IPPUC, 2015).

Também teve influência francesa o segundo grande plano urbanístico de

Curitiba, encomendado em 1941 a firma paulista Coimbra Bueno & Cia, que por sua

vez contratou o arquiteto e urbanista francês Alfredo Agache. O plano foi entregue à

Prefeitura de Curitiba em 1943. Pelo Plano Agache, foi adotado um sistema radial de

vias ao redor do centro, o plano previa um crescimento radial da cidade, sendo

definidas áreas para habitação, serviços e indústrias, bem como reestruturação viária

e medidas de saneamento. O Plano Agache orientou as autoridades municipais até

1958, quando foi criado o Departamento de Urbanismo da Prefeitura, junto com a

Coplac - Comissão de Planejamento de Curitiba. Porem, segundo Fogaça (2011):

Figura 35: Mapa de Curitiba em 1894.

Fonte: IPPUC, 2014.

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O plano não foi executado integralmente; atualmente restam testemunhos

como a implantação do plano massa na Rua XV de Novembro (área central) e no

zoneamento proposto. Não houve proposta definida para uso do solo, adensamento

ou verticalização. A contribuição maior para a cidade foi ter propiciado a primeira

experiência sistematizada de planejamento urbano e um ambiente de discussão de

urbanismo (FOGAÇA, 2011).

Com o crescimento populacional de Curitiba e as dificuldades que o Plano

Agache apresentava diante do intenso crescimento fez-se necessário, em 1964 a

implementação de um novo plano para a cidade, desta forma o prefeito Ivo Arzua

promoveu a contratação do Plano Preliminar de Urbanismo, o qual foi transformado

em lei no ano de 1966 (GNOATO, 2014; FOGAÇA, 2011).

O plano diretor teve como diretriz o assentamento sobre o tripé: uso do

solo, transporte público e sistema viário. Consistia em definir o adensamento urbano

com a verticalização nos eixos viários principais sobre os quais corria o transporte de

massa (CURITIBA, 1966; IPPUC,2015). Conforme Gnoato (2014) O Plano estabelecia

uma concepção de crescimento linear, diferente, portanto, da proposta radiocêntrica

do Plano Agache. Baseava-se nos eixos tradicionais de entrada e saída da cidade,

induzindo para esses eixos – denominados eixos trinários – a expansão urbana.

Figura 36: Esquema teórico do Plano Diretor – Plano Agache 1943.

Fonte: IPPUC, 2014.

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Conforme o plano, a cidade foi cortada pelos eixos estruturais lineares a

partir do centro, compostos por três vias centrais: uma com caneleta central exclusiva

para o transporte coletivo, duas justapostas à central para o trânsito lindeiro e duas

vias laterais para trânsito rápido. Ao longo desses eixos havia o propósito de incentivar

o crescimento da cidade. Desta forma, segundo Fogaça (2011), a implementação

dessa proposta significava percorrer a cidade, nos sentidos Leste-Oeste e Norte-Sul,

contrariando, assim, o sistema urbano poli nuclear de formação de bairros tradicionais.

A partir da criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de

Curitiba - IPPUC em 1965, com a função de detalhar e implementar o Plano Diretor

de Urbanismo aprovado em 1966, o planejamento urbano vem acumulando novas

dimensões ao longo das últimas quatro décadas, em um processo de crescente

evolução (CURITIBA, 1966; IPPUC, 2014).

Em 2004 o Plano Diretor é produto da revisão do Plano de 1966 e sua

adequação às diretrizes e instrumentos instituídos pela Lei Federal n° 10.257 de 10

de julho de 2001 (ESTATUTO DA CIDADE, 2001; CURITIBA, 2004). Segundo Fogaça

(2011), o Plano mantém as diretrizes do plano anterior, redirecionado, porém, para

uma visão mais descentralizada e setorizada da administração pública.

O crescimento da cidade, direcionado segundo parâmetros urbanísticos

específicos estabelecidos a partir do Plano Diretor de 1966, contemplou a promoção

Figura 37: Esquema do Plano Diretor para integração das atividades.

Fonte: IPPUC, 2014.

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social, a habitação, o trabalho, o transporte, a circulação e o meio ambiente (IPPUC,

2015).

Ao Plano Diretor de Curitiba 2004 foram incorporadas algumas novidades

institucionais, que dão nova formatação legislativa a algumas práticas. Foi incluso, na

proposta de adequação do Plano Diretor de 1966 ao Estatuto da Cidade, todas as

diretrizes de gestão aplicadas e ampliadas ao longo do tempo. Foram propostos, seis

Planos Setoriais que viessem a aprofundar os fundamentos das políticas públicas de

maior importância estratégica, tanto para o município como para a Região

Metropolitana (IPPUC, 2004; CURITIBA, 2004). Os Planos Setoriais foram assim

contemplados:

Mobilidade urbana e transporte integrado

Habitação

Desenvolvimento econômico

Desenvolvimento social

Segurança pública e defesa social

Controle ambiental e desenvolvimento sustentável

Partindo da análise geral do desenvolvimento de Curitiba, notou-se que a

cidade expandiu a partir da delimitação dos eixos estruturais, que por sua vez

incentivaram a ocupação urbana do município. Conforme dados do IPPUC (2012) a

ocupação ao sul tem se mostrado mais expressiva. Para antever um adensamento

vertical que altere drasticamente a dinâmica do sul da cidade se propõe uma análise

das condicionantes de modo a produzir previamente um espaço público de reserva

para esse crescimento tendencial.

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5.2. O SITEMA DE TRANSPORTE PÚBLICO EM CURITIBA

O transporte público como conhecemos hoje em Curitiba com os eixos

estruturais tomou forma em 1966 (figura x) com a aprovação do Plano Diretor de

Curitiba, pela Lei 2828 que unia o planejamento urbano e sua aplicação em um tripé

que contemplava o uso do solo, sistema viários e transporte público, pensados todos

juntos.

A partir de 1970 se criou o sistema conhecido como trinário como fruto de

um detalhamento do projeto do setor estrutural, o sistema se baseia em um corredor

exclusivo de ônibus que é ladeado por vias de tráfego lento com sentidos opostos e

outras duas vias paralelas com trânsito rápido que também possuem sentidos

opostos.

Figura 38: Esquema dos eixos estruturais de transporte de Curitiba

Fonte: URBS, 2015

Figura 39: Esquema do sistema trinário com adensamento

Fonte: Adaptado de URBS, 2015

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Da proposta de unir e vincular o sistema de transporte ao zoneamento

surge aqui a ligação do eixo estrutural com a proposta de adensamento que o

zoneamento define como setor estrutural (SE) que nada mais são que os principais

eixos de crescimento da cidade, sendo legitimamente áreas de expansão do centro

tradicional e corredores comerciais, de serviços e de transportes. Em uma escala

proposta pelo zoneamento residencial, que segue na ordem do eixo estrutural em

direção ao bairro, as edificações se tornariam mais baixas conforme se afastassem

do eixo como demonstrado na figura 40.

O setor sul do eixo estrutural norte-sul se mostra como um ponto de grande

interesse enquanto urbanização hoje, muito devido ao fato do adensamento urbano

recente ter sua maior intensidade no sentido sul da cidade. Em destaque na região

existem três terminais que estão diretamente ligados ao eixo estrutural, são eles o

terminais do Portão, do Capão Raso e o do Pinheirinho, destacados na figura 42.

Partindo da análise do eixo estrutural em busca de espaços para convivio

e interação urbana casual, e tendo em mente a questão da centralidade e do coração

da cidade como o pontos para onde os fluxos convergem, foram analisados os

terminais e o setor estrutural interpretando-os como pontos de partida e chegada dos

principais fluxos do município de Curitiba. Em decorrencia da centralização e do

crescimento tendencial, os três terminais foram aqui escolhidos como objeto de estudo

para a pesquisa

Figura 40: Setor estrutural com proposta de adensamento

Fonte: adaptado de URBS,2015

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Figura 41: Mapa de evolução de ocupação urbana do município de Curitiba com eixos estruturais, destque a regiao sul e aos bairros Portão, Novo Mundo, Capão raso e Pineheirinho

Fonte: Adaptado de IPPUC, 2004; IPPUC, 2012.

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Sobre os terminais, previamente será realizada uma análise de sua

configuração de funcionamento básico para então discorrer sobre as especificidades

de cada um deles. A URBS (Urbanização de Curitiba) define terminal de integração

como equipamento urbano que permite a integração entre as diversas linhas que

formam a Rede Integrada de Transporte de Curitiba (expressas, alimentadoras, linhas

diretas e interbairros). Além da questão integração aliada ao transporte, os terminais

ainda são responsáveis diretos pela estruturação dos bairros e pela concentração de

atividades das mais diversas em seu entorno.

A dinâmica dentro do terminal pode ser verificada pela conexão das linhas

diretas (em cinza) ligadas as vias rápidas do sistema trinário. Os alimentadores e

interbairros (em laranja e verde respectivamente) circulam fora do sistema integrando-

se a ele radialmente e o eixo estrutural tem passagem direta e exclusiva.

Figura 42: Esquema do funcionamento básico do transporte público dentro dos terminais urbanos de Curitiba

Fonte: Adaptado de URBS, 2015.

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Em termos de uso do solo, pode-se interpretar o trecho entre as vias

rápidas e a canaleta exclusiva central como um eixo de ligação importante que

viabiliza a passagem para os diferentes comércios e serviços voltados para as duas

vias. Isso ocorre em função do zoneamento do setor estrutural que propõe e incentiva

o comércio nestas áreas.

Definida a tipologia básica dos terminais e trazendo a realidade do setor

estrutural sul de Curitiba, define-se aqui os raios de influência de cada um dos

terminais com o intuito de definir a zona de atingimento de cada um dos terminais.

Como parâmetro foi utilizado o princípio de Ghel (2013) para definir o raio de influência

de uso e deslocamento humanizado (1000 m), e de Rogers (2001) para definir os

deslocamentos diários de mais curto alcance (150 e 300m). A partir da análise, foi

gerado o mapa exposto na figura 44 onde há um destaque para o eixo estrutural que

liga e estabelece a conexão entre os terminais e as áreas de influência direta e indireta

para cada um deles.

Para início do estudo tipológico e análise de entorno escolheu-se o terminal

Portão (figura 46) e seu entorno imediato (aqui definido como uma quadra) para iniciar

o levantamento. Considerando o entorno, foram identificadas três praças de

dimensões que comportariam as atividades urbanas do entorno próximo (números

03,05 e 07). Elencaram-se três pontos institucionais enumerados na figura 44 com os

números 01, 02 e 10, sendo nessa ordem o Colégio Padre João Bagozzi, o 8º distrito

policial e a Igreja do Portão. Ainda foram identificados outros dois pontos de comércio

e atividade com caráter noturno nos dos shoppings do entorno enumerados como 06

e 08 na ordem nomeados como shopping Total e shopping Palladium.

Quanto a equipamentos, a área de abrangência é relativamente bem

provida, possuindo um parque infantil na praça Tito Schier (07), na praça

Desembargador Armando Carneiro (05) há diversos bancos e uma área de estar

urbano arborizada. Há ainda o MUMA e sua respectiva extensão, a praça Professora

Hildegard Schman (03), que funciona como recepção e chegada para o museu e

também como uma reserva de área verde pública para o bairro.

Identificou-se ainda um ponto de conflito significativo entre pedestres,

veículos e seus fluxos cruzados, identificado na figura 44 em amarelo. O principal

motivo é a conexão entre os dois shoppings e o terminal.

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Figura 43: Mapa de zonas de influência dos terminais do Eixo Estrutural Sul de Curitiba

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Dando sequência ao estudo tipológico dos terminais foi feita uma análise

do terminal Pinheirinho.

Foi identificado no entorno do terminal uma praça de uso intenso e

permanência devido a existência de quadras esportivas e áreas de apoio, a praça

enumerada na figura 45 como número 05, é uma extensão da rua da cidadania da

regional do Pinheirinho, que aqui se enquadra como equipamento significativo para

cultura, lazer, institucional e de serviços. Quanto a usos institucionais ainda há no

entorno quatro pontos de instituições voltadas ao público, são eles: a unidade de

saúde enumerada com o número 8 e o hospital do idoso Zilda Arns visto na figura 45

como o número 03, a escola especial Tomaz Edison de Andrade Vieira (09) e o

restaurante popular do pinheirinho elencado como o número 02 na figura.

Figura 44: Mapa de análise do entorno imediato do terminal Portão, em destaque o sistema trinário com o eixo estrutural em vermelho e as vias de trânsito rápido em azul

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Destacam-se ainda outros três equipamentos comerciais, os

supermercados, Big, Condor e Mufato (01,04,07). Outro uso que deve aqui ser

mencionados é a quadra industrial (06), voltada principalmente para a Linha Verde

(rua limite a direta da figura 45). Quanto a pontos de conflito entre pedestres e veículos

se identificou um ponto especifico marcado em laranja na figura 45 que está locado

no cruzamento partindo do terminal do Pinherinho em direção a Linha Verde,

passando pela via rápida do trinário de sentido centro.

Figura 45 Mapa de análise do entorno imediato do terminal pinheirinho, em destaque o sistema trinário com o eixo estrutural em vermelho e as vias de

trânsito rápido em azul

Fonte: Elaborado do autor

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Por último, analisa-se o terminal Capão Raso que se mostrou bastante

carente de áreas públicas abertas de praça, sendo identificado apenas o Jardim José

Sezanoski. Quanto a equipamentos significativos foram elencados um posto de

gasolina (03), o supermercado Mercadorama (01), uma auto-escola (04), uma

revendedora de carros (07), além do shopping Popular que está diretamente ligado

ao terminal Capão Raso inclusive com a integração temporal de passagem para uso

do shopping. Dos usos institucionais, elencou-se aqui apenas a faculdade Santa Cruz

(09) que influi diretamente na dinâmica da região inclusive em sua ligação para fins

de fluxo com o terminal. No que diz respeito a atividades noturnas o único ponto de

maior destaque levantado na região foi drive-in numerado na figura 46 como 06.

Foram ainda identificados dois pontos de conflito marcados em laranja (figura 46)

sendo eles na saída do terminal no encontro do eixo estrutural com uma das vias

perpendiculares, e o segundo no encontro de uma das vias que saem do terminal em

direção a via rápido sentido centro.

Figura 46 Mapa de análise do entorno imediato do terminal capão raso, em destaque o sistema trinário com o eixo estrutural em vermelho e as vias de trânsito rápido em azul

Fonte: Elaborado pelo autor.

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5.3. ANÁLISE DO ENTORNO

Dado o levantamento e considerando a análise definiu-se o terminal Capão

Raso como o melhor ponto para a implantação da intervenção, sendo assim mostra-

se como necessária uma intervenção no intuito da produção de um espaço público de

encontro que possa alavancar e induzir um crescimento e que caracterize e torne o

entorno do terminal Capão Raso em uma centralidade. Foi então definido o perímetro

de abrangência a partir do raio de deslocamento diário proposto por Rogers (2001),

dentro deste raio se escolheu um lote que comportaria a intervenção (lote destacado

com contorno preto – figura 47). Escolhido o lote foi então identificado o zoneamento

que incidia sobre ele. Na condição de proximidade ao terminal está caracterizado

como setor estrutural (SE). Sendo segundo o Decreto 190/2000 o setor de

prolongamento do centro da cidade, nele há a proposta de prover melhores condições

Figura 47 Zoneamento com círculos propostos por Richard Rogers (150m e 300m)

Fonte: Elaborado pelo autor.

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de atendimento a população. O coeficiente de aproveitamento é quatro, há incentivos

para a criação de torres comerciais e prestação de serviços. Há no zoneamento do

setor estrutural ainda a premissa de se garantir testadas comerciais voltadas para o

Eixo Estrutural através do Plano Massa que compreendem o embasamento (térreo e

sobreloja) com galerias na área do recuo voltadas justamente ao comércio e prestação

de serviços.

Após a análise de zoneamento se buscou entender as áreas e terrenos

livres para que se pudesse confirmar a melhor situação para implantação da proposta.

Notou-se na análise que as edificações existentes hoje, são de uma maneira geral

residências e comércios de gabarito baixo, de no máximo 2 e 3 pavimentos. Há ainda

muitos lotes subutilizados e em desuso, sendo baixo o adensamento.

Figura 48 Mapa de cheios e vazios proposto para o entendimento de ocupação da área

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Tendo uma noção dos cheios e vazios se buscou entender a dinâmica que

garante a fluidez do trânsito do transporte público que direciona e torna o terminal um

ponto de confluência de fluxos. Analisando a dinâmica da área, nota-se a

configuração clássica de todo o eixo estrutural com a canaleta ligando o terminal ao

restante do setor estrutural e as vias rápidas laterais dando vazão ao fluxo

paralelamente ao Eixo Estrutural. O destaque da análise se dá para as linhas de

ônibus alimentadores e interbairros (representados em laranja e verde

respectivamente) que fazem o papel de integrar o bairro e trazer o fluxo até o terminal

circulando nos sentidos leste-oeste e também em direção ao Sul (ver figura 51)

reafirmando o pertencimento do maior fluxo como relacionado ao bairro Capão Raso

e não ao Novo Mundo, bairro onde o terreno se encontra legalmente.

Figura 49 Fluxos de ônibus segundo categorias (URBS)

Fonte: Elaborado pelo autor.

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No quesito atendimento e facilidade de acesso ao transporte, atualmente

cerca de 99% da população dos bairros (Novo Mundo e Capão Raso) mora a uma

distância de até 250 m de uma linha de ônibus, o que qualifica o atendimento no

quesito transporte público em uma boa posição em relação a taxa de atendimento do

município (IPPUC,2013).

Buscou-se após o fluxo de transporte público entender os fluxos de

automóveis e de pessoas na região para que a proposta pudesse se adequar aos

percursos cotidianos.

Quanto aos fluxos de veículos se notou que ele se mostra intenso

(vermelho) nas vias rápidas do setor estrutural, tanto no sentido centro quanto no

Figura 50 Fluxo de pedestres, automóveis e ponto de parada de táxi

Fonte: Elaborado pelo autor.

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sentido bairro, o transito moderado (laranja) está principalmente localizado nas vias

que cortam o terminal perpendicularmente ao eixo estrutural, próximas ao terminal, já

o trânsito menos intenso está nas demais vias com caráter de deslocamento mais

local.

Os pedestres (linhas tracejadas em azul) na área se deslocam

principalmente da via estrutural a partir do terminal e em direção a ele, mesma

situação apresentada no shopping Popular (locado ao lado do terminal) e da faculdade

Santa Cruz que se mostra como um grande gerador de fluxo de pedestres na região.

Há ainda aqui que se destacar no quesito deslocamento o ponto de táxi que

existe conectado ao terminal na rua Catarina Scotti.

Figura 51 Áreas verdes da área de estudo proposta

Fonte: elaborado pelo Autor

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Foram ainda analisadas as áreas verdes, considerado o fato da quantidade

de terrenos sem uso e do perfil mais residencial do bairro Novo Mundo não espanta a

taxa de 100,28m² de área verde por habitante, ou em termos percentuais 11,5% da

área verde do município, tal situação se mostra bastante presente na área de estudo

também (figura 53) (IPPUC,2010). Vale aqui salientar o fato de que a maioria das

áreas verdes do entorno estão em lotes privados, logo não há um grande controle por

parte dos órgãos públicos para que se possa preservar essa área.

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6. DIRETRIZES DE PROJETO

O ponto de intervenção principal do projeto se encontra legalmente dentro

do bairro do Novo Mundo, em Curitiba, porém está na parte mais sul do bairro junto

ao limite com o bairro do Capão Raso que inclusive cede seu nome ao terminal.

O ponto chave é produzir um espaço legitimamente intraurbano que se

qualifique como um novo “coração da cidade” ressaltando suas características de

concentrador de fluxos - nesse caso, de transportes públicos e pessoas - se tornando

uma nova centralidade que se evidencie nos usos diversificados da praça.

Há ainda a intenção de se conceber o desenho que requalifique toda a área

do entorno imediato. A área de influência foi determinada de acordo com Ghel (2013)

e Rogers (2001) e repensado aqui para se adaptar a necessidade existente. Cada

umas das praças/terminal (terminal do Portão, sua praça lateral e o museu, e o

terminal do Pinheirinho com a rua da cidadania e sua praça adjacente) que está em

sequência ao Terminal do Capão Raso, (no eixo estrutural em ambos os sentidos,

norte e sul), determinam um raio de influência a partir de seu centro.

Para que a proposta se concretize, irá se buscar um espaço de caráter

público-privado que parta de uma praça e estenda seu desenho para um espaço semi-

público de transição, até um espaço privado voltados a prestação de serviços e

comércio.

O foco do projeto é promover um espaço que amplie o convívio social

urbano, não o limitando a um espetáculo desconectado do real uso. Para que isso se

concretize, há uma busca por realizar uma proposta realmente urbanística que atenda

as necessidades da coletividade.

A transição do espaço público para o privado se torna uma das principais

estratégias projetuais, uma vez que se busca produzir um espaço simbólico para uma

região até então esquecida da cidade, sem um tratamento que realmente faça crescer

no usuário a sensação de proximidade e interesse na permanência. Pode se dizer que

quando isso não ocorre, o senso de urbanidade se enfraquece assim como a

sensação de pertencimento.

Como espaço público, a intenção é ser um centralizador de dinâmicas o

que nos remete a noção de inserção urbana da praça, sendo que isso depende do

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local de implantação. Portanto, a referência para a produção deste, serão os principais

eixos de circulação que conectam o terminal ao entorno, sendo a faculdade Santa

Cruz e os comércios e instituições próximos (como lojas e a igreja da região), pontos

importantes de interesse no entorno. A partir da análise desses fluxos a intenção é

que o espaço da praça, seja um entroncamento de interesses para gere a

possibilidade do encontro casual.

A ideia do espaço é compor e interagir com o entorno sendo ligado de forma

mais direta ao terminal e ao shopping popular. A escala de predominância

preexistente do perfil horizontal das edificações dos dois bairros que compõe o raio

de abrangência, permitirá uma interação visual contínua e uma noção de unidade,

trazendo uma relação direta da centralidade com seu entorno.

Não somente será produzido um espaço que propicie o encontro casual,

mas sim um local em que se possa exercer a prática pública social com as mais

diversas finalidades, políticas, culturais, recreativas e outras possibilidades aqui não

explicitadas.

Enquanto ligação com o entorno, a proposta é tentar manter a relação de

forma mais direta com o nível das vias que tangem o terreno gerando uma modelagem

que atenda e respeite as condições de acessibilidade tanto física quanto visual e

simbólica. Deve-se aqui ressaltar que não serão aplicadas cercas ou qualquer outra

forma de barreira que dificulte o acesso ao espaço que será legitimamente público.

A relação de conexão visual com o entorno a partir da praça deve se propor

e incentivar a convivência conectada entre os dois meios, em que se possa ver e ser

visto de diversos pontos da praça, em uma relação interior exterior, uma vez que as

atividades propostas sempre irão depender da circulação das pessoas e do que

acontece na cidade.

A proposta irá contemplar vegetação, porém estas serão elementos de

composição e não de predominância. Há também o elemento da água como intenção

de colaborar na organização espacial dos ambientes, orientando os visuais internas e

externas e organizando as circulações, deve se dizer aqui e ressaltar o fato de que a

água terá um caráter de espelho e não de nascente ou fonte.

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Enquanto mobiliário público os assentos e espaços de convivência e

interação terão predominância sendo o sombreamento por vegetações mais

esporádico. A iluminação será um ponto de grande importância na nova proposta uma

vez que se tem a intenção de produzir um espaço de convivência e circulação de 24

horas/dia, entende-se aqui que a proposta luminotécnica deve se estender ao entorno

e não só ao espaço em si, uma vez que essa relação é de suma importância.

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7. PROPOSTA

A proposta surge, inicialmente através dos eixos e conexões estabelecidos

com base nos principais pontos do entorno do projeto criando ligações de caminhos

curtos entre os extremos da praça.

Como elementos principais no entorno se identificaram o Terminal do

Capão Raso, o Shopping Popular, o Setor residencial predominante de condomínios

localizado junto a avenida rápida de sentido bairro-centro, o Setor estrutural como um

todo e seu potêncial elevado de adensamento e a Faculdade Santa Cruz, agora

incorporada no projeto da praça como espaço privado de utilidade pública.

Com base nos pontos de interesse observados forram estabelecidos 1 eixo

no sentido norte-sul, que conectam a faculdade Santa Cruz ao Shopping Popular, 2

eixos no sentido Leste-Oeste que conectam o setor estrutural ao setor residencial,

além destes eixos ainda foram criados mais dois diagonais responsáveis por conectar

o setor estrutural a Avenida rápida sentido centro e o setor residencial de condomínios

ao terminal.

Figura 52 Eixos e conexões do terreno com o entorno imediato

Fonte: Do Autor

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Na sequência foram definidos os setores conforme a necessidade de

proximidade mútua e com o entorno, sendo divididos em 6 setores principais.

O de esportes, localizado junto a rápida com o objetivo de estabelecer uma

conexão com o setor residencial e criar uma barreira entre a praça e os carros em alta

velocidade como um ponto de interesse para uma área de pouco interesse de

permanência. O setor de acumulação setorial que serve como uma abertura da praça

para o eixo estrutural. O setor de Atividades de dança e teatro que estabelece uma

conexão direta com o setor de apresentações dotado de um grande palco e do setor

de área livre central (setor livre de arborização ou mobiliário destinado a multiplas

atividades). O último é o setor da Faculdade, o espaço privado que divide terreno com

o espaço público permanecendo em sua atual localização, porém em uma nova

conformação de edifício

A partir do cruzamento dos dados de eixos principais com os setores

estabelecidos foram feitos os devidos recortes em meio as áreas para que se pudesse

estabelecer o desenho e a dimensão dos espaços menores dentro dos setores.

Figura 53 Setores definidos para o projeto

Fonte: Do Autor

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A sobreposição dos dados geraram espaços das mais diferentes

dimensões fazendo com que os usos surgissem de forma mais natural dentro do

espaço considerando o porte das áreas disponíveis a serem ocupadas.

Visou-se dentro do contexto privilegiar os espaços abertos e amplos a fim

de transmitir uma maior sensação de domínio do espaço como um todo.

Após o cruzamento de dados entre eixos e setores e estabelecidas as

áreas ocupáveis dentro da praça foi estabelecida uma hierarquia entre os eixos

através de sua largura. Ficou estabelecido como principal caminho o eixo que liga a

praça no sentido norte-sul conectando a faculdade Santa cruz com o terminal e com

o Shopping. Estabeleceu-se ainda um eixo secundário que corta a praça na diagonal

sudoeste-nordeste para que se pudesse ter uma referência de conexão em um eixo

oposto ao principal hierarquicamente. Juntamente ao eixo principal foram

estabelecidos ainda os principais usos conectados de forma a serem facilmente

entendidos e encontrados dentro do contexto da praça

Figura 54 Sobreposição de eixos e setores

Fonte: Do Autor

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Como conclusão para o partido foram então definidas as áreas de

edificações, de espelhos d’água, áreas recobertas por vegetação e áreas livres

calçadas para acumulação e permanência estendida. O desenho e a ocupação

seguiram a lógica dos setores inicialmente criados em conjunto com as circulações

hierarquizadas estabelecidas posteriormente de acordo com a intensidade de fluxo.

Figura 55 Eixos Hierarquizados

Fonte: Do Autor

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como fechamento de uma etapa de pesquisa e projeto que se busca ainda

um aprimoramento, há aqui de se salientar as dificuldades e resultados encontrados

ao longo do processo de construção deste trabalho que permeia as disciplinas de

TCC1 e TCC2.

Com a evolução natural do pensamento da cidade que ainda não superou

o modernismo, enquanto única prática aplicável, se buscou então no espaço público

novamente a retomada da escala humana aplicada ao ambiente urbano se invertendo

a noção de valores de produção do espaço que passam a pertencer antes as pessoas

para depois se preocupar com o espaço público e só então com os edifícios.

Nesse sentido de produção do espaço baseado nas pessoas busca-se

então caracterizar um espaço enquanto centralidade e quais os valores nele

embutidos e enraizados, deste conceito de centralização e concentração de fluxos

surgiu em pesquisa o conceito de coração da cidade, que por sua vez, influenciou e

direcionou a pesquisa no sentido das relações mais sociais do espaço.

Procura-se então entender a origem dessas relações e como elas eram

tratadas em um meio urbano, dessa busca encontrou-se o conceito de urbanidade

como o garantidor do espaço urbano democrático e com real uso humano. Tendo em

mente esse fator humano de composição do urbano, se tem como objetivo enquanto

referencial teórico entender os fluxos e dinâmicas que a população produz na cidade

chegando assim ao conceito de links urbanos como formadores da dinâmica que

produz e direciona o crescimento das cidades em um sentido global.

Resumidamente tentando responder as perguntas elencadas na pré

análise observou-se que o público e a região do entorno do Capão Raso seriam o

ponto mais adequado para que um projeto que um novo espaço público de praça se

implantasse. A escolha não se liga tanto as potencialidades, está mais ligada nas

carências de desenvolvimento de infraestrutura e urbanidade na região.

Ao longo do processo de diretrizes de análise e pesquisa foi possível

encontrar o perímetro mais adequado a intervenção com base em autores como Ghel

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e Rogers que definiram parâmetros que tornar a cidade agradável a ser percorrida a

pé.

Conclui-se aqui que a pesquisa não representa um entendimento global do

espaço público intra-urbano, tão pouco um manual ou guia metodológico, ela é sim

um material direcionado e especifico para se atingir um ponto demarcado do tecido

urbano de Curitiba, o entorno do terminal Capão Raso.

O projeto proposto buscou ao máximo alcançar o proposto dentro da

pesquisa a partir de um entendimento da área de implantação não se afirmando ser

essa a melhor ou única escolha para a área, mas sim uma possibilidade.

Como dificuldades e pontos a se desenvolver vale aqui ressaltar a falta de

tempo hábil para realização de um detalhamento mais técnico para a implantação da

proposta do projeto em si.

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