a poesia como mediadora para um estudo crÍtico da · 2014-04-22 · este artigo está respaldado...
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A POESIA COMO MEDIADORA PARA UM ESTUDO CRÍTICO DA
TEXTUALIDADE
Autora: Luzia Aparecida Rufato1 Orientadora: M.sª Daniela Zimmermann Machado2
Resumo
Este artigo está respaldado na necessidade de conhecer o motivo pelo qual os
alunos da 1ª série do Ensino Médio encontram dificuldades em ler e interpretar
diferentes gêneros textuais, dentre eles o gênero poético. Diante disso, o presente
artigo tem o objetivo de relatar a aplicação da pesquisa realizada no projeto PDE,
além de analisar o desenvolvimento das habilidades de leitura e a análise crítica
discursiva dos gêneros textuais, por parte dos educandos. A aplicação do projeto foi
despertando o senso critico do educando, por meio da leitura e compreensão de
textos, tendo como recurso os textos poéticos, o que levou os alunos a pensar num
processo de transformação e ampliação dos horizontes. O projeto cumpre com os
anseios que vem ao encontro da proposta das Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa (2008). Neste artigo, trabalhamos com o tema da implantação do
projeto, abordando o estudo da poesia com o auxilio do Método Recepcional,
proposto por Bordini (1988), em que o aluno, buscando seus conhecimentos prévios
sobre poema e poesia, passa a desenvolver uma responsabilidade ideológica, o que
intervém de forma positiva nas relações pessoais e contribui para uma melhora na
leitura e na interpretação de diferentes gêneros textuais.
Palavras-chave: Gênero Poético; Método Recepcional; Análise; Leitura.
1 Graduada em letras pela FAFIU e em Pedagogia pela Universidade do Oeste Paulista e pós-graduada em Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Patrocínio. Professora PDE 2010 2 Graduada em Letras pela UFSM, mestre em Letras Estudos Linguísticos pela UFPR. Professora do Curso de Letras da FAFIPAR.
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1 INTRODUÇÃO
A relevância do presente artigo apresenta resultados do projeto de
intervenção pedagógica intitulado “A Poesia como Mediadora para um Estudo
Crítico da Textualidade”, aplicado na 1ª série do EM. O projeto veio suprir as
dificuldades encontradas no que diz respeito à leitura e à interpretação de
diferentes textos, principalmente, os textos poéticos. Diante das dificuldades
apresentadas, a poesia, por ser uma arte literária e uma das atividades mais
primitivas das artes, pois já existia desde a era medieval onde os trovadores
cantavam os poemas e eram acompanhados de instrumentos musicais e de
dança, constitui um gênero que desperta interesse nos leitores, em especial,
nos educandos. Embora, muitas vezes, distancia-se do leitor e passa
despercebida, principalmente em uma época onde o ato de ler se encontra, em
via de regra, pouco familiarizado, por parte dos educandos, mesmo no âmbito
escolar.
Constata-se que é possível fazer um aprofundamento teórico e didático
acerca do tema. Formar leitores é um dos anseios que veio ao encontro do
papel do professor e da proposta das Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa para os anos finais do ensino fundamental e ensino Médio (2008).
O projeto A Poesia como Mediadora para um Estudo Crítico da Textualidade,
baseado no Método Recepcional de Bordini (1988), condicionou ao aluno o
desenvolvimento de uma responsabilidade ideológica, o que interveio nas
relações pessoais, de forma que isso contribuiu para uma melhor interpretação
de poesias e uma melhora na prática de leitura (de diferentes gêneros).
Paralelamente, trabalhou-se também com a musicalização e a
intertextualidade, aspectos presentes nas poesias e que auxiliam muito na
constituição desse tipo de texto.
A poesia, ao ser trabalhada pelo Método Recepcional, proposto por
Bordini (1998), aguça o mágico e o lúdico. Partindo da realidade dos alunos, o
professor pode desenvolver estratégias que os levem à compreensão dos
clássicos. Pode-se pensar também na prática de leitura e na análise de
poemas, observando o discurso literário por meio dessa atividade de leitura e
de análise. Pudemos observar, com a aplicação do projeto de leitura poética,
que os educandos passaram a fazer relações, elaborar hipóteses, chegando às
interpretações e às compreensões feitas sem a interferência direta de um leitor
mais experiente. Essa condição de autonomia, sem dúvidas, era o propósito
maior do projeto. O aluno pôde refletir sobre suas próprias práticas de
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linguagem e refletir sobre as informações explícitas e implícitas presentes no
texto, bem como por meio da intertextualidade presente nesses textos. Por
meio de análise e estudo de poemas, poesias, música.
2 FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA
2.1 Discutindo a noção de poesia
Segundo Bordini (1988), “a poesia é um jogo verbal em uma construção
de frases, explora significados de criação semântica e sonora, com recursos
estilísticos para reconhecer, criar e interpretar com base no método
recepcional” (p. 54). O autor nos permitiu a abertura à troca de ideias e
mudanças na maneira de ler e de interpretar poesia.
A poesia pode ser definida como “a ordenação rítmica ou simétrica da
linguagem, a acentuação eficaz pela rima ou pela assonância, o disfarce
deliberado do sentido, a construção sutil e artificial das frases”. (Huizinga,
2008, p.98)
O poema, diferentemente da poesia, é um gênero textual que faz o autor
e o leitor refletirem, pensarem, sentirem, com a finalidade de “viajar”, de sentir
a musicalidade, o ritmo, as metáforas, edificando a arte e a estética. Marcuschi
(2008) afirma que: há diferença entre poema e poesia. O autor acrescenta:
“Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos”. São “formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas”. (MARCUSCHI, 2008, p.41)
A poesia é um gênero textual, que possibilita ao leitor sentir a
musicalidade, as metáforas, a arte e a estética. Muitas vezes materializada em
nosso cotidiano de várias formas: novela, crônica, música, mensagem e outros.
Fazer poesia é ter os olhos voltados para a realidade do mundo sob a
ótica nem sempre objetiva. Segundo Manoel de Barros (1982), a poesia se
constrói pelo imprevisto, esculpe palavras, brinca com elas e ignora as leis
gramaticais, deixando de lado conectivos, modificando regências e, assim, a
poesia insere um ritmo ao seu jogo imagético. Ou seja, a poesia é a arte das
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palavras que busca a expressão e a comunicação, enquanto o poema seria a
estruturação do texto. Foi por esse motivo que escolhemos trabalhar com a
poesia, pois ela caracteriza-se por ter uma constituição que permite uma ampla
variedade de interpretações e leituras.
O poeta deve ser como a criança, livre, criativo, com seu olhar voltado para o simples, mas enxergando o belo na simplicidade, e o fazer poético deve ser tal como as atitudes de um infante, ter sua lógica desconexa, cometer seus “despropósitos”, fazer suas “peraltagens”. (BARROS apud ALBUQUERQUE, 1982, p.3).
A poesia possui outros recursos como o ritmo, a musicalidade, as
imagens e os símbolos. Em função dessa natureza simbólica da linguagem
poética, não se pode instantaneamente compreendê-la, por se tratar de uma
linguagem por vezes ambígua, conotativa, subjetiva, diferente da linguagem
encontrada na leitura de uma notícia de jornal, por exemplo.
Lyra (1998) afirma, sobre a poesia, que esta se conceitua ora como uma
complexa substância imaterial, anterior ao poeta, e não depende do poema
nem da linguagem, ela apenas se materializa. De acordo com Eco (1974), a
poesia se configura enquanto:
[...] “bens imateriais”, se alinhado a outros valores úteis, mas não no sentido pratico funcional. Pontuando as muitas funções da literatura, o critico ressalta o papel que ela desempenha na manutenção da língua como patrimônio coletivo e na apresentação de uma organização ética da linguagem que, extrapolando finalidades meramente informativas, convida o leitor ao exercício da imaginação e da recriação de significados. Nesta perspectiva, a poesia, assim como toda a literatura oferece-nos a possibilidade de contato com nossa tradição literária e cultural, permitindo ao mesmo tempo o resgate de nossas condições de criação, uma vez que nos convida a imaginar, a produzir sentidos e a estabelecer relações entre a palavra e o mundo.” (ECO, 1974, p. 51)
Com base nessas reflexões, constatamos que a poesia é um dos meios
pelo qual o ser humano pode sair da realidade e ver o mundo de outra maneira.
Há uma necessidade de reinventar o mundo, ou seja, de saber confrontar seus
conhecimentos com a poesia. Ela é que fala dos sentimentos, da realidade do
mundo, explora o real e o imaginário. Com base na breve discussão,
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assumimos aqui a caracterização de nosso trabalho, o estudo da poesia
presente nos poemas.
2.2 A poesia e o método recepcional
Segundo Bordini (1988), o Método Recepcional, que é proposto pelas
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa, para os finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio (2008), é um caminho a percorrer para tornar as
aulas de leitura e as análises críticas mais práticas e agradáveis, pois a
Estética da Recepção tem como um de seus pressupostos a leitura como
prazer. Nesse contexto, tomamos como ponto de partida o que o aluno já
conhece e, a partir de seu conhecimento, damos condições para que ele seja o
construtor de sua própria história e de sua própria interpretação, adquirindo
novos conhecimentos.
“O método recepcional é contrário às tradicionais teorias dominantes uma vez que o ponto de vista do leitor é fator imprescindível, e defende a ideia do relativismo histórico e cultural, que se apoia na mutabilidade do objeto, assim como da obra literária dentro de um processo histórico. Trata-se, portanto, de um método eminentemente social, pois há uma constante interação das pessoas envolvidas, considerando-as sujeitos da História. A obra literária é uma estrutura linguístico-imaginária, constituída por pontos de indeterminação e de esquemas de impressões sensórias, que- no ato da criação ou leitura- serão preenchidos e atualizados, transformando o trabalho artístico do criador em objeto do leitor. Estamos diante, portanto, de um ato de comunicação entre escritor-obra-leitor.” (CAMPOS, 2006, p. 42)
Com base no método da recepção, deve-se começar esclarecendo aos
alunos algumas questões que, muitas vezes, não são compreendidas e que os
próprios alunos não tem audácia de perguntar em sala de aula ao professor,
questões como, por exemplo: O que é poesia? O que é poema? Como ler
poesia? Qual a função do texto poético? É a partir desses questionamentos
que realizamos nossa proposta de mediar a prática de textualidade.
De início, já se pode afirmar, com base na constatação empírica, que a
definição de poema é muito menos discutível do que a poesia, mas são,
obviamente, diferentes, como esboçado na seção anterior.
Segundo Candido (1972), “a literatura é vista como arte que modifica e
humaniza o homem e a sociedade” (pag. 72). O autor determina várias funções
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à literatura: a social, a formadora e a psicológica, permitindo ao ser uma fuga
da realidade, pela qual se torna possível à reflexão, à determinação e à pureza.
Segundo Cândido (1972), “a literatura individualmente faz parte da
formação do sujeito, atuando como instrumento de educação, ao retratar
realidades não reveladas pela ideologia dominante”. (p.78). Não podemos
tratar o ensino da Língua Portuguesa sem relacioná-lo a terceira função: a
social, tendo em vista que os sujeitos, no caso, os educandos, devem aprender
num ambiente em que se considere o contexto social e de interação onde
estão inseridos.
Com base nos argumentos dos autores acima citados, propõe-se, nas
Diretrizes Curriculares (2008):
[...] que o ensino da literatura seja pensado a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção e da Teoria do Efeito, visto que essas teorias buscam formar um leitor capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com condições de reconhecer, nas aulas de literatura, um envolvimento de subjetividades que se expressam pela tríade obra/autor/leitor, por meio de uma interação que está presente na prática de leitura. A escola, portanto, deve trabalhar a literatura em sua dimensão estética. (DCE de Língua Portuguesa, 2008, p. 58)
A Estética da Recepção, teoria elaborada por Hans Robert Jauss em
1964, apresenta sete teses: a relação entre leitor e o texto, o saber prévio, o
horizonte de expectativas, a relação dialógica do texto, o enfoque diacrônico, o
corte sincrônico e o caráter emancipado. Essas teses serviram como base para
a articulação de nossa proposta de implantação, onde são amplamente
desenvolvidas na aplicação.
O método recepcional oportuniza ao leitor refletir, discutir e aprofundar,
no processo ensino-aprendizagem. Sendo assim, o leitor, em contato com
leituras diferentes, tem uma atitude participativa com gêneros diferentes como:
realizar leituras críticas e compreensivas; questionar sua própria leitura com
sua cultura; ser compreensivo a novas leituras de outrem; e alterar seus
próprios horizontes de expectativas bem como os da familiar e cultural.
Ao lado de Jauss (1964) e compartilhando a mesma teoria, Wolfgang
Iser (1996) traz à tona a Teoria do Efeito, que trata da consequência estética
da obra literária no leitor durante a recepção. Ou seja, as sensações, os efeitos
causados pela poesia, no receptor. Iser trabalha com os conceitos de “leitor
implícito”; “estruturas de apelo” e “vazios do texto”. À medida que o aluno vai
construindo sua história como leitor, as lacunas vazias passam a ser
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preenchidas por novas experiências, valores e conhecimentos de mundo. Isto
influência na construção dos sentidos nos textos.
Diante dos autores citados, o leitor, no momento da leitura, leva consigo
uma carga de ordem “histórico-sócio-cultural” mesmo que a interpretação
ocorra por meio do diálogo entre o leitor e o texto, tendo, o leitor, autonomia
para questionar, provar ou alterar suas expectativas, e é isto que tomamos
como respaldo no projeto de intervenção.
Para Iser (1996), o entendimento de leitor subentendido indica uma
estrutura do texto que antecede a presença do receptor.
De acordo com Bordini e Aguiar (1998), o método recepcional tem como
objetivos: condicionar aos educandos a prática de leituras compreensivas e
críticas; condicionar a receptividade a textos novos; proporcionar
questionamentos das leituras efetuadas em relação ao seu próprio horizonte
cultural; possibilitar transformar os próprios horizontes de expectativas, bem
como os do professor, da escola, da comunidade familiar e social. Segundo as
Diretrizes Curriculares (2008), para se trabalhar a poesia, tendo como
embasamento o método recepcional, será necessário desenvolver os cincos
passos que compõem o método:
1) Sondagem dos horizontes de expectativas;
2) Atendimento aos horizontes de expectativas;
3) Ruptura dos horizontes de expectativas;
4) Questionamento dos horizontes de expectativas
5) Ampliação dos horizontes de expectativas.
Esse método pode se articular com o trabalho de intervenção, aqui
proposto: “A Poesia como Mediadora para um Estudo Crítico da Textualidade”.
Optou-se trabalhar com o gênero discursivo poema, por sabermos que a
música está presente na vida dos alunos do ensino médio, pelo fato de a
música privilegiá-los de sentimentos, denúncias, crítica social, facilitando ao
aluno a reflexão sobre si e sobre o mundo. É preciso perceber a poesia ou a
canção vinculada a um contexto sócio-histórico em que foram criados,
inserindo o leitor como participante no ato de sua leitura.
Sabemos que a leitura de um poema difere de outras leituras, portanto,
este estudo apontou as possíveis relações que um poema tem com o leitor.
Cujos resultados foram surpreendentes, os alunos puderam ver nas entrelinhas
do poema o que o autor sente e quer transmitir ao leitor e essa relação entre
autor e leitor fez com que os alunos percebessem que a poesia, muitas vezes,
retrata mais do que qualquer outra leitura, dando inúmeras possibilidades de
interpretação. Afirmamos que o Método Recepcional trouxe uma carga positiva
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para o trabalho com a poesia, devido a ele ser trabalhado por fases que
proporcionam momentos de debates e reflexões sobre a obra, possibilitando ao
aluno uma ampliação de horizontes.
2.3 A poesia enquanto um gênero textual
Marcuschi (2008) afirma que: “Os gêneros textuais são os textos que
encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões
sociocomunicativos. São formas textuais escritas ou orais bastante estáveis,
histórica e socialmente situadas”. (p. 155).
Acreditamos que, ao trabalharmos com os gêneros textuais, torna-se
possível favorecer a reflexão crítica, a prática do pensamento, a fruição
estética, o uso artístico da linguagem, construindo novos e melhor elaborados
textos.
No estudo dos gêneros textuais, faz-se necessário também uma reflexão
acerca dos diferentes suportes, os quais podem ser definidos como formas
textuais escritas ou orais que dão sustentáculo para fixar o gênero como texto.
Como exemplo: o e-mail, bate-papo de computador, outdoor, mural, placas.
Segundo Marcuschi (2008), há basicamente dois tipos de suporte: o
convencional e o incidental. O suporte convencional e os incidentais, ambos
podem ser usados como “veículo da poesia”, pois por intermédio deles, o
escritor (autor) pode transmitir seus sentimentos através das palavras.
Podemos citar como exemplo uma declaração de amor. Esse gênero pode
circular por forma de um bilhete, um recado na secretária eletrônica, um
outdoor, etc. O certo é que o conteúdo não muda, conclui-se que o suporte nos
leva a perceber como circulam os gêneros.
O suporte convencional é aquele cuja função é portar ou fixar textos,
como por exemplo, o livro, o livro didático, o jornal diário etc. O suporte
incidental é aquele que atua como suporte ocasional ou eventual, pois operam
com uma probabilidade infinda de realizações na relação com textos escritos,
de diferentes gêneros. Por exemplo: o corpo humano (quando porta uma
tatuagem).
Juntamente com a reflexão sobre os gêneros, chamamos atenção ao
fator de textualidade “intertextualidade”, que, segundo Koch (1997), pode ser
definida como o diálogo entre dois textos ou mais. Trabalhar com o gênero
poesia dentro da intertextualidade, diferenciá-lo em diversos suportes é muito
importante para os alunos. Eles puderam conhecer a poesia em diferentes
suportes, enriquecendo as formas de ler e de interpretar.
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Os gêneros estão presentes em nossas vidas a todo o momento;
portanto, o poema é um gênero textual que apresenta um veículo de
informação que possibilita ao leitor fazer uma “viagem”, sentir a musicalidade, o
ritmo e as metáforas, (figuras de linguagem).
Nos textos literários percebe-se uma “organização da linguagem”. O
leitor, diante do texto poético tradicional, sente atração imediata pela
sonoridade (ritmo, rima, por exemplo), normalmente capaz de relacionar as
manifestações isoladas ao todo significativo do poema.
A poesia, de acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa, passa então, neste sentido, como uma experiência especial, em
que a compreensão de mundo do leitor é colocada em relação à proposição
textual, com sua proposição, sua “percepção” de mundo, da vida e das
criaturas criadas pelo poeta.
A poesia como quaisquer outros textos, pode ocupar esse espaço, mas não só. O texto poético oferece ao leitor possibilidade para pensar a língua e sua carga expressiva. Ou seja, todo bom texto traz para o leitor uma carga de informação e, ao mesmo tempo, o conduz a uma reflexão mais ampla que envolve desde questões existenciais até o posicionamento do sujeito-leitor no seu grupo social. (MICHELETTI, 2000, p.24.).
Sendo assim, é preciso trabalhar a poesia para poder oportunizar a
leitura prazerosa e a interpretação da mesma; auxiliando e oportunizando na
formação de um “repertório de leitura” que inclua também autores consagrados
na literatura.
“Do mesmo modo que desenvolvemos uma competência linguística
quando apreendemos o código linguístico, desenvolvemos uma competência
sociocomunicativos quando apreendemos comportamentos linguísticos”.
(Gestar II. 2008, p. 24).
As Diretrizes Curriculares (2008) favorecem a reflexão crítica à pratica
de formas de pensamentos mais elaborado e abstrato, bem como o usufruto
dos recursos artísticos, a estética e a linguagem.
A ideia de trabalhar com gêneros textuais veio a contribuir para o desafio
de termos alunos leitores fluentes e escritores de bons textos. É preciso que
nós, educadores, proporcionemos condições de produção e de recuperação
dos textos, mas isto não quer dizer que o aluno precisa conhecer todos os
gêneros textuais (CURTO, MORILLO, TEIXIDÓ, 2001). Não precisamos saber
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produzir poemas, mas sim saber lê-los, e consciência para interpretá-los. É
preciso reconhecer a importância do texto, os recursos linguísticos, seus
efeitos de sentido e suas metáforas (versos e rimas). São dados a que vem
enriquecer a leitura. O trabalho com a poesia, a musicalidade e a
intertextualidade que a constitui vem como uma proposta interessante no trato
da interpretação dos textos. O professor precisa ajudar o aluno a perceber a
intenção do texto, aguçar as formas linguísticas utilizadas pelo autor, ter uma
reação ao texto, efetivando uma comunicação que realmente acontece.
É com base nessas considerações sobre o método recepcional, a teoria
dos gêneros textuais e os fatores de textualidade que embasamos a realização
do projeto que vem com a proposta primeira de mediar o ensino da
textualidade. Passamos agora aos procedimentos da ação desenvolvida no
projeto.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
As atividades do projeto de intervenção A Poesia como Mediadora para
um Estudo Crítico da Textualidade tem como proposta entrelaçar fios entre a
poesia, a intertextualidade que a constitui, bem como a orientação, a criticidade
no estudo da textualidade.
A intertextualidade também está presente em nosso trabalho, pois o
Método Recepcional oportuniza ao aluno fazer reflexões acerca de outros
textos, previamente conhecidos pelos alunos. A intertextualidade pode ser
entendida enquanto “o processo de incorporação de um texto em outro, seja
para reproduzir o sentido incorporando, seja para, transformá-lo (Fiorin e
Barros, 2003. p. 30)
O projeto foi desenvolvido com os alunos da 1ª série do EM (Ensino
Médio) da Escola Leôncio Correa, do município de Curitiba (Paraná), com o
objetivo de trabalhar com o gênero poético, como forma de estimular a leitura e
a interpretação de textos. Propondo, no projeto de intervenção, atividades que
levassem os educandos à compreensão dos clássicos, tornando-os capazes de
pensar na prática de leitura de poesias, observando o discurso literário.
O trabalho foi desenvolvido em 32 aulas no segundo semestre de 2011.
As aulas foram dividas em 08 unidades, sendo que cada unidade possuía um
tema, conforme sinalizado abaixo:
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Unidade 1: questionamento de sondagem
Unidade 2: Música “Olhos nos olhos” – (Autor: Chico Buarque) –
Unidade 3: Poema “A poesia Está Abandonada” (Autor: Augusto Federic
Schmidt).
Unidade 4: Rima ritmo, estrofe e métrica.
Unidade 5: Poema “Operário em Construção”- (Autor: Vinícius de Moraes).
Unidade 6: Música “Cidadão”- (Autor: Zé Ramalho).
Unidade 7: Poesia – “Eu, Etiqueta” – (Autor: Carlos Drummond de Andrade).
Unidade 8: Leituras.
Na Unidade 01, objetivou-se sondar os conhecimentos que os alunos
tinham sobre poesia, sendo realizado um questionário de sondagem do
horizonte de expectativas, em que os alunos puderam responder sobre os seus
conhecimentos referentes à poesia.
Grande parte dos alunos vê a poesia como um texto romântico, que trata
da paixão, do amor ferido e do conquistado. Poucos veem, na poesia, que o
autor evidencia sentimentos interiores que ele passa/passou ou que está
sentindo ou vivendo no momento, muitas vezes, provindos dos conflitos
interiores ou problemas sociais. Foi baseado nessas constatações que demos
início ao projeto de intervenção, percebendo que havia uma necessidade muito
grande, por parte dos alunos, de conhecerem e vivenciarem a poesia, para que
eles mais tarde pudessem entender os clássicos.
Iniciou-se um trabalho com o atendimento ao horizonte de expectativas
e pode-se observar que os alunos gostam de poesia, mas tem dificuldade de
entender o que o autor coloca nas entrelinhas. Tendo o resultado em mãos,
partiu-se para a aplicação do projeto de intervenção.
Já na Unidade 02, foi proposto o trabalho com a música “Olhos nos
olhos” de Chico Buarque. Os alunos puderam apreciar a música na TV e
também tiveram posse da letra para fazer acompanhamento da música.
Disponível em: <http://letras.terra.com.br/chico-buarque/65962/> Acesso em:
13 / 06 / 2011 Vídeo: Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=piznex3ldmu&feature=related.> Acesso em:
13/ 06/ 2010.
A música contextualizou as atividades que buscam relacionar o modo de
tratar o tema com a construção do eu-lírico. Na canção, o amor é envolvente e
o eu-lírico aparece como parte envolvente.
A “Música e poesia são duas artes de comunicação que vivem do som,
da articulação da expressão (...)” (POMBO, Fátima. 2001 p. 40)
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Os alunos cantaram e fizeram análise da letra da música e concluíram
que não há fronteiras entre a música e a poesia, ambas estão entrelaçadas por
fios, criando ritmos e melodia, mesmo sendo textos de gêneros diferentes.
Ao fazer a análise da canção, os alunos concluíram que a letra da
música menciona a separação do casal e, nos primeiros versos, já introduz a
separação. O homem deixa a mulher dizendo “é o fim”, “tudo acabou” “que tu
sejas feliz”, “a vida continua”. A mulher, como de práxis, costuma obedecer,
mas a moça da canção é moderna, atualizada, dá a volta por cima e vai à luta.
Como diz a canção “E que venho até remoçando” “remoçar” que quer dizer
“recuperar a mocidade”, ela recupera sua autoestima e consegue ser feliz
mesmo só. No final da situação, a história se inverte: é ele quem precisa de
atendimento da ex-mulher, e ainda tem que aguentar vendo-a feliz.
Observamos que a intertextualidade ocorreu como uma forma de
diálogo, tanto na forma implícita como na explícita, oportunizando na
compreensão do texto e de novos conhecimentos de mundo.
Os alunos chegaram à conclusão final de que a mulher não é mais como
as de antigamente, que passavam a vida se lamentando pelas perdas, hoje
elas “dão a volta por cima” e conseguem superar até mesmo as perdas
amorosas.
O objetivo desta atividade foi alcançado com êxito, pois, como pudemos
observar anteriormente, na análise da canção, os alunos conseguiram fazer
uma releitura e avançar seus conhecimentos.
Na unidade 03, iniciou-se o trabalho com a poesia, “A Poesia está
Abandonada” de (Augusto Federico Schmidt), dando atendimento aos
horizontes de expectativas. Esta atividade fez com que os alunos pudessem
conhecer a diferença entre poema e poesia. O autor da poesia coloca que não
há uma definição objetiva, mas “a poesia expressa emoções, sentimento do
poeta, muitas vezes, assemelha-se a um apelo, uma canção. Caráter do que
emociona, toca a sensibilidade. Sugerir emoções por meio de uma linguagem”.
(FERREIRA, 2005, p. 87)
Os alunos puderam definir a diferença entre poema e poesia, enquanto
que a poesia emociona, sensibiliza e expressa emoções e sentimentos do
poeta, o poema é a obra em verso em que há poesia, destacando-se da
maneira como ele se dispõe na página, cada verso tem um ritmo específico e
ocupa uma linha, ambos Poema e poesia) se completam/complementam na
estrutura do texto. Essa organização do poema em verso é um traço que define
a diferença entre poema e poesia.
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Nesta atividade observamos o quanto os alunos se sentimentalizam por
meio das palavras, eles puderam perceber que vivenciam, com as palavras,
seus sentimentos e angustias.
Quanto à unidade 04, realizou-se a ruptura dos horizontes de
expectativas, buscando propor um grau maior de exigência sem fugir da
temática trabalhada.
Trabalhou-se com poema lírico/poema narrativo/poema dramático/a
versificação: Conheça as diferentes formas de escrever poesia, de autoria de
Jorge Viana de Moraes Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/portugues/versificaçao-rima.jhtm.> Acesso em:
10/07/11.
À medida que os alunos iam conhecendo a rima, estrofes, métrica e
versificação, eles tiveram um maior interesse pelo poema, muitos deles já
conseguiam construir seus próprios poemas e ler nas entrelinhas o que o poeta
diz.
Percebeu-se que a ruptura dos horizontes estava presente no processo
de ensino-aprendizagem, o trabalho oportunizou que o aluno se distanciasse
do senso comum que possui e ampliasse seus horizontes de expectativa.
Em seguida, na Unidade 5 foi visto o vídeo: O operário em Construção
(Analogia ao poema de Vinicius de Moraes, por meio de figuras polêmicas,
cotidianas interessante) vídeo disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=vzoptj7s-> Acesso em: 03 jun.2011. Letra
disponível em: < http://letras.mus.br/vinicius-de-moraes/87332/> acesso em:
03. Jun.2011.
O estudo sobre o poema “Operário em Construção” de Vinicius de
Moraes propôs aos alunos uma reflexão a respeito do tema “Trabalho”. A partir
das questões propostas: 1. Qual o significado da palavra Trabalho,
segundo o dicionário Aurélio? 2. Diante do significado da palavra “Trabalho”,
podemos nos questionar sobre a citação “O trabalho enobrece e dignifica o
homem”. Você está de acordo com esta afirmação? Por quê? 3. Existem
infinidades de Trabalho, você acha que existem trabalhos mais importantes do
que outros e que, por isso, devem ter mais prestígio? 4. Qual é o melhor
Trabalho: aquele que traz ao trabalhador realização pessoal ou aquele que
propõe mais bens financeiros? 5. Em sua opinião, o trabalhador tem
consciência de seus direitos ou são alienados?
Em um primeiro momento, os alunos tiveram dificuldades em responder
quanto aos questionamentos propostos, mas, à medida que fomos trabalhando
o tema com pesquisas e releituras, como: dicionários, os principais direitos e
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deveres do trabalhador de acordo com a Lei - CLT (Consolidação das Leis do
Trabalho), eles ampliaram seus conhecimentos.
Já na releitura do poema, os alunos destacaram que o poema era
musicado com três estrofes que tínhamos versos alexandrinos (6+6) e versos
brancos. Ocorria rima por recursos estilísticos fônicos, léxicos e sintático-
semânticos usados pelo autor.
O protagonista do poema é um operário – tema é “construção”. E a
história descreve ao percurso dos versos como o fato ocorre. Um homem que
decide suicidar-se.
Os alunos perceberam que o poeta usou a música como um veículo
para fazer uma crítica da “realidade desumana” e “injusta” da qual o ser
humano não é “pacote” e muito menos “máquina”. Os alunos perceberam que
todos tem o direito de exercer a liberdade diante da sociedade e que o homem
deve ser visto como um ser integrante, participante e construtor da sociedade.
Dando sequência aos questionamentos de expectativas, propomos, na
Unidade 6, uma desagregação do ser humano, resultando em uma leitura
crítica e diferenciada. Com a música “Cidadão” de Zé Ramalho.
A música “Cidadão”, de Zé Ramalho, tece uma reflexão quanto à
discriminação socioeconômica, à migração e à discriminação do povo
trabalhador e sofrido de nosso país. Resultando que nem tudo está perdido, a
igreja está de portas abertas, e que nem Cristo conseguiu convencer o mundo
por completo.
Os alunos puderam perceber que a canção faz uma reflexão do
preconceito e da discriminação que muitos trabalhadores nordestinos sofriam
nas cidades grandes.
O êxodo rural era uma das consequências que o país vivia, péssimas
condição de trabalho, falta de oportunidade como a habitação e a educação
ocasionadas pela falta de ações politicas e públicas. A válvula de escape dos
problemas era a religião, usada como uma forma de fugir da realidade de
miséria e dor em que o trabalhador vive.
Esta reflexão fez com que os alunos conhecessem a essência da
música, do que ela transmitia que, muitas vezes, está entrelaçado com a
poesia que sempre tem algo a transmitir. Essa atividade possibilitou um
trabalho com a criticidade da textualidade.
Neste momento, os alunos concluíram que a música “Cidadão” trata a
respeito da “genericidade humana” que o homem não seja manipulado por
forças alheias, mas sim por seu “próprio ego”.
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O próprio título privilegia o indivíduo que goza os direitos políticos e civis,
enquanto que a sociedade burguesa considera as pessoas de baixo poder
aquisitivo “pobre” como “cidadãs”.
A música também retrata a triste realidade da educação nos anos 70 e
as desigualdades sociais; a busca do homem por um mundo digno de trabalho
e sobrevivência. Os alunos puderam concluir que, durante 40 anos, poucas
mudanças ocorreram, principalmente no que diz respeito à educação e ao
trabalho e que é preciso muitas mudanças socioeconômicas e políticas para
que tenhamos um país digno de trabalho e sobrevivência. E que nós vivemos
num país onde há diferenças entre o sul (rico) e norte (pobre).
A Unidade 7 apresenta a poesia “Eu Etiqueta” de Carlos Drummond de
Andrade, encontra-se vídeo Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=nUtOvvY0zfo&feature=relate> O poema
está na voz do ator Paulo Autran. Acesso em: 25. Maio. 2011.
Neste momento, os alunos puderam fazer uma reflexão crítica das ideias
abordadas na letra do poema e concluíram que a alienação à mídia e à
propaganda é um dos motivos que leva o indivíduo ao consumismo exagerado
e fazendo do mesmo um objeto de uso do produto.
O “Eu” lírico apresenta o ter e o ser sujeito que perde sua identidade e
parte para o ter como sua identidade baseada no consumo. O poema gira em
torno do mundo capitalista: logomarcas, camiseta, produtos, vitrine, cigarros,
bebidas, estamparia, objetos e artigo industrial. Deleuze (1992) nos diz: “a
moda funciona como Aparelho de controle do Estado, dentro de uma sociedade
de consumo que é uma Sociedade de Controle”. (p. 220)
O poema “Eu, etiqueta” aguça o questionamento de expectativas, coloca
o aluno diante do consumismo abusivo na sociedade do quais todos fazemos
parte desse processo seja direta ou indiretamente como consumidor passivo e
ativo na maioria das vezes.
Nesta etapa, os alunos puderam desenvolver a capacidade de vivenciar
e ver “com outros olhos” a poesia, passando do senso comum para o senso
crítico, descobrindo um enriquecimento social, cultural e individual com o
objetivo de inteirar o autor e leitor com sua produção nos diversos gêneros,
apresentando fatos que acontecem no seu dia a dia.
Finalizando o projeto de intervenção com a Unidade 8, os alunos
tiveram a oportunidade de conhecer outros poetas e fazer uma leitura mais
profunda pelo autor escolhido. A leitura de poemas veio para ampliar os
horizontes de expectativas do educando, em que os alunos partem para a
busca de novas leituras que atendam suas expectativas com relação à leitura e
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à vida. O educando passa a ser agente de aprendizagem, definindo ele mesmo
prosseguir o processo ensino/aprendizagem num incessante enriquecimento
social e cultural.
Antes do projeto de intervenção, os alunos questionavam “porque tantos
livros de poesia na biblioteca da escola se ninguém gosta de poesia?”
Sabemos que o hábito da leitura por si é pouco cultivado em nossa cultura,
consequência de vários fatores políticos e socioculturais. Em se tratando de
poesia, a situação é um pouco pior, não se tem o hábito de ler poesia.
Constatamos que os alunos passaram a interagir na perspectiva
autor/leitor, compreendendo e recriando uma nova interpretação da leitura,
construindo novos horizontes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho desenvolvido, comprovamos que a Estética da Recepção
é um percurso possível para aprimorar os conhecimentos da leitura e análise
de poemas.
No percurso, pudemos observar que, para o aluno, não é fácil saber
para onde ir e como chegar sem embasamentos teóricos. Com as leituras,
análises de poemas e as orientações, o trabalho se realiza com resultados
satisfatórios. O método trabalhado durante o período do projeto de intervenção
apresentou vários pontos positivos.
Primeiramente, buscando o que o aluno já possui, de acordo com a
vivência, proporcionando uma ruptura e buscando novos questionamentos para
que se chegue a uma ampliação de novos horizontes com os estudos
propostos.
Surgiram dificuldades no percorrer da implantação. O método requer do
professor muita criatividade, planejamento, pesquisas e dinamismo para que
todas as etapas pudessem ser cumpridas. É fundamental ressaltar que o
método ocorre em cinco etapas, sendo que elas ocorrem quase que
concomitante, pois elas não sofrem divisões estanques como aparentam ser.
Por parte dos alunos, houve muito interesse e compromisso em
participar do projeto. Cada qual no seu limite de aprendizagem, interagindo e
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construindo uma aprendizagem da qual se obteve resultados valiosos, eles
passaram a ver na poesia o que há nas palavras, que ela, além de aguçar o
lúdico e o mágico, também traz uma carga de valores que, muitas vezes, está
implícita na música e na poesia. O projeto de intervenção trouxe uma
experiência gratificante e única, principalmente no ensino aprendizagem e na
prática como docente.
Trabalhar a poesia com o auxilio do Método Recepcional nos
oportunizou resultados positivos diante do trabalho dos alunos num
compromisso de reflexão, compreensão do meio diante da leitura de mundo e
da realidade. Essa proposta possibilitou também trabalhar com a criticidade da
textualidade.
Os alunos, no período de leitura de poemas, tiveram múltiplas leituras.
Observamos que muitos leram o mesmo poema, mas tivemos interpretações
amplas uma complementava a outra, ultrapassando a realidade de cada leitor.
Portanto, a leitura de texto poético deve ser compreendida como um
símbolo de liberdade, objeto de prazer. A leitura proporciona experiência e
condições para alavancar o crescimento do indivíduo, ampliando a reflexão
critica e a emancipação do sujeito.
Foi neste sentido que escolhemos a poesia e o Método Recepcional,
dando oportunidade ao aluno de aperfeiçoar seus conhecimentos e de construir
sua própria identidade diante da leitura de poesia, fazer dela um veículo de
construção e formação do cidadão, diante da grandiosidade que a poesia
oferece a todos e que, muitas vezes, está implícita ou camuflada.
Neste trabalho, pudemos dar nossa participação como agente ativo
inovando e fazendo com que o aluno pudesse ver a poesia nas entrelinhas e
compreender a distância do autor e do leitor na poesia, dando uma
continuidade ele mesmo ao processo de enriquecimento sociocultural.
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