a perspectiva do setor privado...
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Corrupção no Brasil: A perspectiva do setor privado, 2003 Claudio Weber Abramo� Abril de 2004
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 2 Percepções .................................................................................................... 2 Experiência .................................................................................................... 2 Comportamento ............................................................................................. 3
PERCEPÇÕES................................................................................................... 4 EXPERIÊNCIA ................................................................................................... 8
Licitações públicas...................................................................................... 8 Impostos e taxas.......................................................................................... 9 Licenças ..................................................................................................... 10 Eleições ...................................................................................................... 11
COMPORTAMENTO ........................................................................................ 13 Uso do direito de contestação .................................................................. 15
PERFIL DAS EMPRESAS RESPONDENTES ................................................. 19
� Diretor executivo, Transparência Brasil. www.transparencia.org.br.
INTRODUÇÃO
Este relatório apresenta os resultados de uma pesquisa sobre percepções e experiências com corrupção no setor privado brasileiro, realizada em 2003 no âmbito de uma colaboração entre a Kroll Brasil e a Transparência Brasil. Trata-se da segunda edição de levantamento feito pela primeira vez em 2002. Ambas pesquisas tinham como foco tanto a corrupção (tratada aqui) quanto a fraude interna às empresas. O relatório incluindo os resultados a respeito de fraude pode ser encontrado em http://www.transparencia.org.br/docs/kroll-final-2003.pdf.
Quatro mil empresas foram convidadas a responder à pesquisa. O questionário foi disponibilizado em um sítio na Internet (www.antifraude.com.br). Cada respondente recebeu uma senha pessoal, que era desativada após o questionário ser enviado (impedindo assim o uso da mesma senha). Um total de 78 empresas participou do levantamento sobre corrupção, a maioria sediada no estado de São Paulo (ver o perfil dos respondentes na seção final deste relatório).
O questionário sobre corrupção foi dividido em três partes: Percepções, experiência da empresa e comportamento da empresa.
Percepções
Para 74% dos respondentes, a corrupção é vista como um obstáculo muito importante para o desenvolvimento empresarial no Brasil; outros 22% a consideram importante.
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O nível geral de corrupção nos setores de atuação das empresas consultadas é visto como moderado. A média das empresas considera que o problema da corrupção não está piorando nem melhorando com o passar dos anos, e não melhorará no futuro.
A cobrança de propinas e o nepotismo ocorrem com alta freqüência em licitações públicas para 87% dos respondentes; na fiscalização tributária, a porcentagem é de 83%. A área menos vulnerável, na percepção dos respondentes, é a de privatizações, com 56%.
Experiência
Cerca de 70% das empresas afirmam gastar até 3% de seu faturamento com o pagamento de propinas. Para 25% das empresas, esse custo se situa entre 5% e 10%.
Metade das empresas da amostra participa ou já tentou participar em licitações públicas. Destas, 62% relatam já terem sido sujeitas a pedidos de propinas relativas a algum aspecto do certame ou do contrato.
Um quarto das empresas sofreu esses pedidos em relação a licenças concedidas pelo poder público.
Mais de metade afirma já ter sido objeto de achaques por fiscais tributários.
O imposto mais vulnerável, para 78% das empresas, é o ICMS (estadual), e o principal “favor” que fiscais corruptos prestam é relaxar fiscalizações e inspeções.
O problema da corrupção em licitações, impostos e licenças é visto como indiscriminadamente grave nos planos federal, estadual e municipal.
2
Mais de um quarto das empresas relata ter sido constragido a contribuir com campanhas eleitorais. Metade destas afirma que a doação é feita mediante promessa de troca de favores.
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Oferecer presentes e outras gentilezas a agentes públicos é o principal método de obter tratamento diferenciado para 86% das empresas. Em segundo lugar, com 77%, vem a contribuição para campanhas eleitorais, e com 74% o nepotismo.
29% das empresas admitem que ameaçar e constrager agentes públicos é forma de obter vantagens.
Comportamento
21% das empresas afirmam que a corrupção é aceita tacitamente pelas políticas gerenciais.
78% das empresas possuem código de ética que proíbe o pagamento de propinas. Todas as que respondeream afirmativamente ao item anterior têm código de ética.
56% das empresas contam com um mecanismo de denúncia de suspeitas de corrupção, das quais 89% protegem o denuciante de represálias.
Mas a investigação de casos de suspeita de corrupção já aconteceu em apenas 22% das empresas. A presença de código de ética e mecanismo de denúncia não resulta em diferença significativa na freqüência de casos.
A punição de funcionários culpados aconteceu em 14% das empresas.
Empresas que participam de licitações usam pouco o direito de contestação: apenas 23% já entraram com recurso administrativo junto aos órgãos responsáveis, 5% solicitaram investigação a Tribunais de Contas e 5% foram aos tribunais.
[Exceto se explicitamente informado em contrário, a base é de 78 empresas.]
3
PERCEPÇÕES
A corrupção é considerada o segundo mais sério obstáculo ao desenvolvimento empresarial no Brasil numa lista de 14 fatores, ficando atrás apenas da alta carga tributária. Destacam-se ainda como presentes entre as principais preocupações das empresas o sistema judicial inadequado, a má distribuição de renda e a inadequação dos métodos de coleta de impostos, todos com mais de 50% de assinalações “Muito importante”.
Obstáculos para o desenvolvimento empresarial
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Exce
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Não importante Secundário Importante Muito importante NS
Em sua opinião, quais são os obstáculos mais sérios para o desenvolvimento empresarial no Brasil?
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Não importante 31% 3% 1% 1% 3% 3% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 0% 0% Secundário 42% 32% 24% 24% 18% 9% 10% 13% 10% 8% 10% 5% 4% 3% Importante 23% 40% 32% 33% 37% 46% 45% 38% 40% 40% 28% 29% 22% 14%Muito importante 3% 24% 35% 41% 41% 41% 45% 47% 49% 51% 60% 65% 74% 82%NS 1% 1% 8% 0% 1% 1% 0% 1% 1% 1% 0% 0% 0% 1%
4
As empresas foram perguntadas a respeito de sua percepção sobre o nível de corrupção praticado em seu setor de atuação três anos no passado, “Hoje” (isto é, na época da pesquisa, entre meados e final de 2003) e dois anos no futuro. As respostas eram dadas numa escala de seis níveis, de “Muito baixo” a “Muito alto”. O gráfico seguinte resume os resultados.
Qual é o nível geral de corrupção em seu setor?(percepção, escala de seis níveis)
0% 5% 10% 15% 20% 25%
Muito baixo
2
3
4
5
Muito alto
Hoje 3 anos atrás Daqui a 2 anos
Empregando-se a média ponderada dos resultados, obtêm-se as seguintes “notas” para as três perguntas (quanto mais alta a “nota”, pior a percepção). A mesma pergunta, feita na pesquisa Kroll/TBrasil de 2002, levou às “notas” descritas na coluna da direita:
Em sua opinião, qual é o nível geral de corrupção em seu setor (2003)? 2002
3 anos atrás 3,4 4,4 Hoje 3,1 3,6 Daqui a 2 anos 3,2 3,5
Dessa forma, e levando-se em conta a imprecisão dos números, pode-se afirmar que a percepção das empresas não se alterou significativamente de 2002 para 2003. Se alguma diferença houve, foi no otimismo relativo observado na pesquisa de 2002 (uma atribuição maior de corrupção para o passado em relação ao “presente” e ao futuro), que não se observou no levantamento de 2003.
5
Embora as “notas” médias atribuídas ao nível geral de corrupção nos setores de atuação das empresas se situem em patamares intermediários, o mesmo não se verifica quando as perguntas focalizam áreas específicas de atuação do Estado. O gráfico a seguir resume os resultados. A avaliação de todas as
áreas é bastante desfavorável. A área vista com menos desconfiança é a de Privatizações, mas mesmo assim, na opinião dos respondentes, nelas a cobrança de propinas e o nepotismo acontecem “Um tanto freqüentemente” ou “Muito freqüentemente” para um total agregado de 56% dos respondentes. A tabela abaixo resume os mesmos dados, agregando-se as opções “Nunca”, “Raramente” e “Às vezes” na categoria “Freqüência baixa” e as outras duas opções na categoria “Freqüência alta”. As três colunas mais à direita exibem os números correspondentes obtidos na pesquisa de 2002.
Freqüência de cobrança de propinas e prática de nepotismo
14%
24%
23%
23%
29%
33%
28%
29%
69%
63%
63%
60%
47%
46%
36%
27%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Fiscalização tributária
Licitações públicas
Fiscalizações técnicas
Polícia
Permissões
Comércio exterior
Judiciário
Privatizações
Nunca Raramente Às vezes Um tanto freqüentemente Muito freqüentemente NR
Freqüência de cobrança de propinas e prática de nepotismo (2003) 2002
Freqüência baixa
Freqüência alta NR Freqüência
baixa Freqüência
alta NR
Licitações 9% 87% 4% 9% 74% 17%Fiscalizações técnicas 13% 86% 1% Fiscalização tributária 15% 83% 1% 25% 64% 11%Polícia 15% 83% 1% 3% 86% 11%Comércio exterior 18% 79% 3% 21% 61% 18%Permissões 12% 77% 12% 3% 87% 10%Judiciário 33% 64% 3% 16% 75% 9% Privatizações 29% 56% 14% 36% 38% 26%
O risco de perda de faturamento e/ou posição de mercado por envolvimento em casos de corrupção é considerado alto em todas as diferentes circunstâncias indagadas. Ainda assim, é de se observar que cerca de um quinto das empresas não enxerga riscos nas mesmas circunstâncias:
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A empresa sofreria perda de faturamento e/ou posição de mercado se envolvida em pagamentos de propinas para:
21%
26%
23%
22%
22%
21%
79%
74%
77%
78%
78%
79%
Fiscais tributários
Outros fiscais (saúde, trabalho, meio ambiente etc.)
Direcionamento de licitações públicas
Obtenção de licenças
Obtenção de concessões
Integrantes do sistema Judiciário (policiais,escrivães, juízes etc.)
Não Sim
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EXPERIÊNCIA
Convidados a avaliar quanto as empresas de seus respectivos setores gastam no pagamento de propinas, os respondentes apontaram de forma amplamente majoritária (69%) níveis de até 3%. Contudo, um quarto das empresas estimam esses pagamentos entre 5% e 10%, e uma pequena parcela mais do que isso.
Estimativa da porcentagem do faturamentogasto com corrupção
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Até 3% De 5% a 10% Acima de 10%
A experiência das empresas com corrupção em suas interações com o Estado foi investigada em diversas áreas. Em cada caso, fizeram-se perguntas subsidiárias, incidentes apenas sobre aqueles respondentes que relataram ter tido as experiências focalizadas.
Licitações públicas
Pouco mais da metade (40) das empresas participa ou já tentou participar de licitações públicas. Destas, 25 (62%) afirmaram já terem sido sujeitas a pedidos de propinas ou outros pagamentos
8
49%62%
38%51%
Não participa Participa
Não foi sujeita Foi sujeita
Participa de licitações públicas, ou já tentou
participar?
Já foi sujeita a pedidos de propinas?
indiretos por parte de administradores públicos ou políticos com respeito ao certame, ao contrato, a pagamentos devidos e outros assuntos relacionados. O quadro que isso revela é alarmante.
Conforme as empresas, a gravidade do fenômeno é indiscriminada nas três esferas do Estado:
Em sua experiência, a corrupção em licitações é um problema grave no plano
Municipal Estadual Federal Não 10% 3% 8% Sim 90% 98% 93% 40 empresas que participam ou tentaram participar de licitações.
Impostos e taxas
Achaques por parte de agentes públicos na área tributária são também relatados por (41) 53% das empresas:
Sua empresa já foi sujeita a pedidos de propinas ou outros pagamentos indiretos por parte de administradores públicos ou
políticos com respeito a impostos e taxas?
Não47%Sim
53%
Quando perguntadas sobre quais tributos são mais vulneráveis, houve forte predominância do ICMS, com 78% de assinalações, seguido de tributos trabalhistas e do ISS. Observe-se, contudo, que mesmo o imposto menos vulnerável, o IPTU, recebeu 41% de assinalações.
9
Tributos mais vulneráveis(41 empresas vítimas)
22%
29%
32%
41%
44%
59%
78%
71%
68%
59%
56%
41%
Estadual: ICMS
Federal: depósitos, taxas e impostos trabalhistas
Municipal: ISS
Federal: taxas e impostos específicos do ramo deatividade
Federal: imposto de renda, PIS, PASEP etc.
Municipal: IPTU
Não Sim
Com 83% de assinalações, o principal favor proporcionado por fiscais tributários corruptos é relaxar a fiscalização:
Favores que fiscais de impostos proporcionamcontra o pagamento de propinas
(41 empresas vítimas)
12%
22%
32%
41%
41%
44%
49%
83%
73%
63%
54%
54%
51%
46%
Relaxar fiscalizações e inspeções
Deixar de ameaçar a empresa
Deixar de notificar fraudes tributárias identificadas
Conselhos sobre possibilidades legais de reduzirobrigações
Cancelar multas já emitidas
Deixar passar valores não declarados
Concessão de isenções a que a empresa não temdireito
Não Sim NR
Licenças
A ocorrência de corrupção parece menos acentuada na concessão de licenças do que nos casos anteriores. Contudo, deve-se assinalar que não se aquilatou o tipo de licença envolvido. Como o funcionamento de muitas empresas não exige licenças especiais, isso pode ter influenciado os resultados. Ainda assim, o porcentual de 24% é elevado.
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Sua empresa já foi sujeita a pedidos de propinas ou outros pagamentos indiretos por parte de administradores públicos ou
políticos com respeito à concessão de licenças?
Não76%
Sim24%
As empresas vítimas de pedidos de propinas na concessão de licenças não discriminam entre as três esferas de governo quando aquilatam a gravidade da incidência do fenômeno:
Em sua experiência, a cobrança de propinas nas concessão de licenças e outros serviços é problemática na esfera
Municipal Estadual Federal Não 2 3 4 Sim 17 16 15 19 empresas vítimas, números absolutos.
Eleições
Indagadas se já se sentiram compelidas a contribuir com campanhas eleitorais, 74% das empresas assinalaram que não, e 26% que sim. O resultado contrasta com os números obtidos na pesquisa de 2002, talvez pelo fato de este último ter sido um ano eleitoral:
Sua empresa já se sentiu compelida a contribuir com campanhas eleitorais (2003)? 2002
Não 74% 58%
Sim 26% 25%
NR – 17%
Quando indagadas sobre se houve menção explícita a favores que seriam concedidos contra o financiamento eleitoral, as empresas dividiram-se igualmente entre respostas afirmativas e negativas. Diferentemente da pesquisa de 2002, em 2003 não havia opção de não responder às duas perguntas, o que talvez explique a diferença na distribuição de respostas.
11
Antes de fazer contribuições, há menção explícita de favores que serão prestados em troca (2003)? 2002
Não 50% 0 Sim 50% 58% NR 0 42%
De toda forma, contribuir para campanhas eleitorais é considerado um expediente importante para se obter tratamento diferenciado por quem toma decisões na administração pública, ficando atrás apenas do oferecimento de pequenos favores, presentes, viagens etc. É notável observar que 29% dos respondentes admitem que ameaçar e constranger funcionários públicos é um método de obter tratamento diferenciado.
Além do pagamento de propinas, quais outros métodos são comuns para se obter tratamento diferenciado por parte de quem
toma decisões na administração pública?(respostas múltiplas)
9%
18%
21%
65%
86%
77%
74%
29%
Dar presentes e oferecer gentilezasfreqüentes, como jantares e viagens
Contribuir para campanhas eleitorais
Nepotismo (empregar ou favorecer parentesdo administrador público)
Ameaçar e constranger administradorespúblicos
Não Sim NR
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COMPORTAMENTO
Além de aquilatar percepções e experiências, o levantamento procurou explorar o ambiente em que as empresas operam e seu comportamento em relação à prevenção e punição de atos de corrupção praticados por seus funcionários.
Verifica-se que para nada menos que 21% das empresas, as políticas gerenciais do setor em que atuam incorporam tacitamente a possibilidade de corrupção no trato com agentes do Estado:
A corrupção é aceita tacitamente pelas políticas gerenciais das empresas de seu setor?
Não60%
Sim21%
NS19%
Um dos mecanismos empregados para lidar com a corrupção é a adoção de códigas de ética que proíbam explicitamente a sua prática. As empresas majoritariamente adotam tais códigos, como mostra o gráfico:
Sua empresa conta com um código de ética que proíba explicitamente o pagamento de propinas?
Não18%
Sim78%
NS4%
Em particular, todas as empresas que responderam afirmativamente à pergunta anterior (sobre a aceitação da corrupção como prática no setor de atuação) declararam contar com um código de ética desse tipo.
13
Outro mecanismo de combate à corrupção em empresas é a disponibilização de um procedimento de aviso de suspeitas. Mais da metade das empresas conta com tal mecanismo (e são 91% entre as que dispõem de código de ética que proíbe corrupção, mostrando que os dois andam juntos), e quase todas elas garantem que os denunciantes sejam protegidos de represálias.
44%
89%
11%
56%
Não possui Possui
Não protege Protege
Possui mecanismo de aviso de suspeita de
corrupção?
O mecanismo protege o denunciante de
represálias?
A existência de mecanismos formais precisa ser confrontada com a ocorrência efetiva de casos de investigação e punição de pessoas implicadas em casos de pagamento ou oferecimento de propinas a agentes públicos. Os resultados do levantamento indicam que o enforcement está aquém das intenções formais. Assim, quando perguntadas se já houve investigação de casos de funcionários suspeitos de participação em atos de corrupção, apenas 22% das empresas responderam afirmativamente:
É interessante observar a distribuição dessas respostas quando cruzadas com as respostas às perguntas anteriores, relativas à presença de código de ética e de mecanismos de denúncia:
Já houve em sua empresa casos de investigação de funcionários suspeitos de terem pago ou oferecido propinas a terceiros?
Não49%
Sim22%
NS29%
14
Já houve em sua empresa casos de investigação de funcionários suspeitos de terem pago ou oferecido propinas a terceiros?
Todas Com código de ética
Sem código de ética
Com mecanismo
Sem mecanismo
Não 49% 49% 57% 43% 56% Sim 22% 20% 36% 30% 32% NS 29% 31% 7% 27% 12% Totais 78 61 14 44 34
Assim, a presença de código de ética e de mecanismos de denúncia nas empresas não parece refletir-se em diferença significativa na freqüência de casos concretos investigados.
Além da investigação, há a punição daqueles considerados culpados. Apenas 14% das empresas reportaram tais punições: O cruzamento dessas respostas com as questões anteriores produz os seguintes resultados:
Já houve em sua empresa casos de punição de funcionários por terem pago ou oferecido propinas a terceiros?
Todas Com código de ética
Sem código de ética
Com mecanismo
Sem mecanismo
Houve investigação
Não houve investigação
Não sabe se houve investigação
Não 62% 59% 86% 57% 68% 47% 95% 17% Sim 14% 16% 7% 20% 6% 47% 5% 4% NS 24% 25% 7% 23% 26% 6% 0% 78% Totais 78 61 14 44 34 17 38 23
Uso do direito de contestação
O grau com que as empresas defendem seus direitos junto às instâncias formais existentes para isso fornece uma informação importante sobre a forma como se inserem no ambiente institucional. Três perguntas procuraram levantar dados a respeito. Os resultados são apresentados para o total da amostra e para os cruzamentos com a participação em licitações e se a empresa foi vítima de pedidos de propina relacionados aos certames.
15
Nos últimos dois anos, sua empresa formulou contestações administrativas junto a órgãos públicos de qualquer esfera contra atos percebidos como decorrentes de corrupção ou suspeitos de
configurar dirigismo em licitações públicas?
86%78% 72%
14%23% 28%
Todas (78) Participam delicitações (40)
Vítimas de pedidosde propina (25)
Não Sim
Todas Participa de licitações
Já foi sujeita a pedido de propina em licitações
Não 67 31 18 Sim 11 9 7 Totais 78 40 25 Números absolutos.
Nos últimos dois anos, sua empresa formulou pedidos de investigação/intervenção de Tribunais de Contas contra atos
administrativos de órgãos públicos percebidos como decorrentes de corrupção ou suspeitos de configurar dirigismo em licitações
públicas?
97% 95% 96%
4%3% 5%
Todas (78) Participam delicitações (40)
Vítimas de pedidosde propina (25)
Não Sim
16
Todas Participa de licitações
Já foi sujeita a pedido de propina em licitações
Não 76 38 24 Sim 2 2 1 Totais 78 40 25 Números absolutos.
Nos últimos dois anos, sua empresa entrou na Justiça para tentar reverter decisões administrativas de órgãos públicos percebidas
como decorrentes de corrupção ou suspeitas de configurar dirigismo em licitações públicas?
88% 95%76%
12% 5%
24%
Todas (78) Participam delicitações (40)
Vítimas de pedidosde propina (25)
Não Sim
Todas Participa de licitações
Já foi sujeita a pedido de propina em licitações
Não 76 38 24 Sim 2 2 1 Totais 78 40 25 Números absolutos.
Dessa forma, há tanto mais tendência de as empresas recorrerem aos mecanismos formais quanto mais elas percebem ser prejudicadas por atos da administração suspeitos de corrupção. Apesar disso, os números dominantes são os negativos: A contestação de atos administrativos, a formulação de denúncias aos Tribunais de Contas e o recurso ao Judiciário são muito pouco usados pelas empresas. Um dos fatores que pode explicar isso é a avaliação desfavorável que se faz da isenção com que os pleitos são examinados, com a notável exceção do Judiciário:
17
Em sua opinião, os pleitos foram examinados com isenção?
Não Sim Total Recursos administrativos 9 2 11 Tribunais de Contas 2 0 2 Judiciário 2 7 9 Números absolutos.
18
PERFIL DAS EMPRESAS RESPONDENTES
Mais de metade das empresas que responderam ao levantamento tinham mais de 500 funcionários e, na maioria dos casos, atuavam nos setores industrial (42%) e de serviços (36%). O capital era predominantemente fechado (72%) e o controle da maioria (52%) nacional (ver as tabelas a seguir; em todos os casos, o universo é o total de 78 empresas respondentes).
Número de funcionários # % Setor de atuação # % Até 50 18 23% Comércio 12 15% De 51 a 100 3 Indústria 33 42% De 101 a 500 13 17% Serviços (incl. Financeiro) 28 36% Acima de 500 44 56% Outros 5
Capital # % Controle # % Aberto 17 22% Estrangeiro 29 37% Fechado 59 76% Nacional 43 55% Não informado 2 Não informado 6 8%
As empresas forneciam principalmente ao setor privado, conforme mostram as duas tabelas seguintes, que refletem o faturamento proveniente dos dois setores:
Setor público # % Setor privado # % Até 10% 40 51% Até 10% 5 6% De 10 a 20% 8 10% De 10 a 20% 0 0% De 20 a 50% 7 9% De 20 a 50% 3 4% De 50 a 100% 9 12% De 50 a 100% 58 74% Não informado 14 18% Não informado 12 15%
As empresas respondentes distribuíram-se da seguinte forma quanto à origem do faturamento proveniente do setor público:
Porcentagem de faturamento proveniente do setor público
Total Federal Estadual Municipal
# % # % # % # % De 0 a 10% 40 51% 38 49% 38 49% 43 55% De 10% a 20% 8 10% 8 10% 3 4% 5 6% De 20% a 50% 7 9% 5 6% 11 14% 4 5% De 50% a 100% 9 12% 8 10% 3 4% 5 6% Não informado 14 18% 19 24% 23 29% 21 27%
Assim, a maioria das empresas depende pouco do fornecimento ao Estado. Além disso, no agregado, as empresas fornecem igualmente para as três esferas. As pequenas dimensões da amostra impedem
19
que se aprofunde a análise pelo cruzamento dessas informações com o porte das empresas e outras variáveis.
Em termos geográficos, as empresas respondentes situavam-se quase todas na região Sudeste, com forte concentração em São Paulo:
Estados Espírito Santo 1 Santa Catarina 1 Minas Gerais 5 Paraná 7 Rio de Janeiro 10São Paulo 54
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Coordenadores
Eduardo Sampaio Presidente da Kroll Brasil Claudio Weber Abramo Diretor executivo da Transparência Brasil Mônica Lau Gerente de Comunicação Corporativa da Kroll Brasil
Colaboradores Johann Graf Lambsdorff (Universidade de Passau, Alemanha): Versões
preliminares dos questionários.* Wilton de Oliveira Bussab (Fundação Getúlio Vargas, São Paulo): Versões
preliminares dos questionários.* Adauto Leva: Relatório preliminar. * Para os questionários de 2002, em parte aproveitados na edição 2003. A versão final dos
questionários, bem como o corte amostral, são de exclusiva responsabilidade da Kroll Brasil e da Transparência Brasil.
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