a nova realidade de fazer contabilidade no brasil

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Ano X - Nº 77 - Julho/Agosto de 2014 Profissionais da Contabilidade deverão assinar prestações de contas das eleições Ampliação do Simples Nacional impulsionará o crescimento econômico

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Page 1: A nova realidade de fazer contabilidade no Brasil

Ano X - Nº 77 - Julho/Agosto de 2014

IFRSA nova realidade de fazer Contabilidade

no Brasil

Profissionais da Contabilidade deverão assinar prestações de contas das eleições

Ampliação do Simples Nacional impulsionará o crescimento econômico

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8. Revista Fecontesp - Julho/Agosto de 2014

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iFrs altera a forma de fazer Contabilidade no brasil

As Normas Internacionais foram criadas para garantir a transparência na elaboração das demonstrações contábeis

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Há sete anos da implantação das International Fi-nancial Reporting Standards - IFRS (Normas Interna-cionais de Contabilidade) no Brasil, ainda muito se debate sobre sua efetividade na aplicação da Con-tabilidade nas empresas. Fato é que o crescimento da economia global proporcionou uma maior inte-gração entre os diferentes mercados mundiais, o que realçou a necessidade da adoção de padrões contá-beis unificados.

As IFRS são normas internacionais de relatórios fi-nanceiros, emitidas pelo International Accounting Standards Boards – Iasb (Comitê de Pronunciamen-tos Contábeis Internacionais). O principal objetivo dessas regras é desenvolver um modelo único de padrões contábeis internacionais de alta qualidade, que garanta a transparência na elaboração das de-monstrações contábeis.

As Normas Internacionais de Contabilidade começa-ram a alterar a forma de como as empresas brasileiras emitem suas demonstrações financeiras. A mudança se baseia em regras de uma Contabilidade conceitua-da em princípios, aumentando o grau de julgamento dos responsáveis pela elaboração das demonstrações contábeis. Do mesmo modo, a exigência de divulga-ção completa adequada das políticas e estimativas consideradas críticas tornam as informações impor-tantes para o usuário desses balanços.

Uma das principais mudanças com a adoção das IFRS foi o aumento do grau de informações forne-cidas pelas empresas aos seus usuários externos. “A forma de analisar a Contabilidade mudou e todos os gestores das companhias passaram a entender que deveriam discutir entre as diversas áreas, para ade-quar as suas demonstrações financeiras apresenta-das ao público, de maneira que refletissem o mais próximo possível a forma como os seus administra-dores enxergam e gerem os seus negócios”, disse Ha-roldo Reginaldo Levy Neto, coordenador do Grupo de Estudos de Notas Explicativas do Comitê de Orienta-ção para Divulgação de Informações ao Mercado e do Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC.

Em outras palavras, o novo padrão contábil passou a exigir um grau de julgamento por parte dos respon-sáveis pela elaboração e divulgação das demonstra-ções contábeis.

Para Luciano Perrone, especialista em IFRS, Estra-tégia Empresarial, Gestão de Pessoas e processos nas áreas contábil e financeira, a Contabilidade dei-xou de ser objetiva e passou a ser feita levando em conta alguns aspectos subjetivos. “Hoje, as demons-trações contábeis são mais gerenciais do que fiscais, porque estão sendo consideradas premissas como o valor justo, por exemplo. Com isso, o balanço finan-ceiro reflete um sentido muito mais financeiro do que fiscal”, afirmou.

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As IFRS começaram a alterar a forma de como as empresas brasileiras emitem demonstrações financeiras,

baseando-se em regras de uma Contabilidade

conceituada em princípios, aumentando o grau de

julgamento dos contadores.

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Haroldo Reginaldo Levy Neto, coordenador do Grupo de Estudos de Notas Explicativas do Comitê de Orienta-

ção para Divulgação de Informações ao Mercado e do Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC

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de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras - Fipecafi.Já Perrone falou que a lei tem a função unificar o Sis-

tema Público de Escrituração Digital - Sped, as IFRS e o Imposto de Renda, mas que surgiu após a Receita Fede-ral do Brasil - RFB perceber a necessidade de regulamen-tar a implantação das Normas Internacionais, aprovadas em 2008. “Essa lei surgiu de forma tardia e foi aprovada somente depois que a Receita Federal perdeu volume de arrecadação, porque as empresas começaram a fazer distribuição de lucro e gerar juros sobre capital próprio com base nas IFRS”, contou o especialista.

No Brasil, as grandes empresas, principalmente as de capital aberto listadas em Bolsa e reguladas pela Comis-são de Valores Mobiliários - CVM já fazem suas demons-trações contábeis com base nas Normas Internacionais traduzidas pelo CPC.

Porém, a grande maioria das organizações que com-põe o cenário empresarial brasileiro é formada por pe-quenas e médias companhias, que não possuem con-dições estratégicas e estruturais para aplicar as IFRS integralmente. São empresas que faturam até R$3,6 milhões anuais, enquadradas no modelo para Pequenas e Médias Empresas - PME. Para atender a essa classe empresarial foi adotado um modelo simplificado, com

Mudança na práticaDesde 2010, o Brasil adotou balanços contábeis in-

dividuais e consolidados conforme as IFRS. Isso por-que as Normas Brasileiras de Contabilidade que são emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade - CFC estão em harmonia com as Normas Internacio-nais de Contabilidade. Essas normas são estudadas e traduzidas pelo Comitê de Pronunciamentos Con-tábeis – CPC, que emite os procedimentos técnicos configurados aos padrões globais.

Com a publicação da Lei nº 12.973/2014, as IFRS passaram a ser fundamentais para o planejamento tributário das empresas, na medida em que se con-sagrou que o lucro tributável começaria a partir do lucro líquido contábil, e este é apurado mediante a aplicação das IFRS/CPC.

“A Lei determina que os ajustes da própria empresa feitos em caráter excepcional não podem afetar o lu-cro tributável, da mesma forma que todo o efeito das IFRS é dedutível ou tributável”, explicou Nelson Car-valho, professor da Faculdade de Economia, Adminis-tração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA/USP e diretor de Pesquisas da Fundação Instituto

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Nelson Carvalho, professor da Faculdade de Econo-mia, Administração e Contabilidade da USP e diretor de Pesquisas da Fundação Instituto de Pesquisas Con-

tábeis, Atuariais e Financeiras - Fipecafi

foto: Assessoria de Comunicação do Sindcont-SPDivulgação

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base na Norma Brasileira de Contabilidade - NBC TG nº 1000, em 2010.

Luciano Perrone explicou ainda que existe mais um modelo de IFRS, destinado aos microempresários. “Qualquer empresa agora que não fizer o registro contábil em IFRS está descumprindo uma norma con-tábil. Por isso, o Conselho Federal de Contabilidade – CFC publicou um modelo simplificado para os micro-empresários, também com base na NBC TG nº 1000. A grande diferença dessa norma é que ela não precisa ser aplicada integralmente. É uma simplificação da simplificação”, ressaltou.

Nova realidade Os especialistas afirmaram que a adoção das IFRS ain-

da é um enorme desafio para os profissionais da Conta-bilidade e empresários em geral. “O objetivo é alcançar a consistência no entendimento e na aplicação dessas normas, para atingir maior transparência e comparabili-dade no relatório financeiro”, reforçou Perrone.

Por sua vez, Nelson Carvalho enfatizou que as empre-sas devem encarar as mudanças como uma grande melhoria no processo de gerar informações para os

usuários externos, principalmente credores e investi-dores. “Com a adoção das IFRS, a Contabilidade dei-xou de ser do contador e passou a ser da empresa. Os empresários brasileiros que de fato adotaram as novas normas tiveram de investir em treinamento de pessoal, novos sistemas e maior integração das demais áreas das empresas com os departamentos contábeis”, disse o diretor da Fipecafi.

Já Haroldo Levy destacou que o melhor caminho para se adequar às Normas Internacionais de Conta-bilidade é entender o conceito da essência sobre a forma, discutindo com todos os membros chave da companhia, o que inclui os conselheiros de adminis-tração em vários assuntos relevantes, para refletir a realidade nas suas informações a serem disponibili-zadas a todos os interessados.

“A capacitação é primordial para trilhar este novo caminho, pois a Contabilidade tradicional ficou para trás definitivamente. Com o contador realmente in-tegrado nestas discussões e com o auxílio de profis-sionais capacitados, como os próprios auditores, a companhia vai modificar o modo como administra os seus negócios”, afirmou o coordenador do Grupo de Estudos do CPC.

Luciano Perrone, empresário, especialista em Contabilidade Internacional e instrutor de Estra-

tégia Empresarial, Gestão de Pessoas e processos das áreas contábil e financeira