a natureza e as artes marciais

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A Natureza e as Artes Marciais Sérgio Ildefonso

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Page 1: A natureza e as artes marciais

0 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

A Natureza

e as Artes

Marciais

Sérgio Ildefonso

Page 2: A natureza e as artes marciais

1 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

“Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” (Antoine Lavoisier).

Page 3: A natureza e as artes marciais

2 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

As Artes Marciais O termo Artes Marciais está associado à mitologia greco-romana através da associação

ao Deus Marte (Deus da guerra/combate), tendo sido adoptado ocidentalmente como

abrangendo todas as artes de combate. No oriente utilizam-se os termos Bu-Shi-Do

(traduzido para japonês: o caminho do guerreiro) e Whu-Shu (traduzido para

mandarim: a arte da guerra), entre outros.

Desde sempre se pergunta sobre a origem das artes marciais. Conta-se que há cerca de

1500 anos existia um tipo de luta na região da Índia. Sabe-se que por volta do ano de

520, um monge indiano de nome Bodhidarma viajou até um mosteiro de nome

Shaolin, província de Honan, a norte dos Himalaias - em Cantão da China - onde

introduziu, entre outros, o budismo Zen, a prática do yoga e transmitiu os rudimentos

da arte marcial indiana, criando um estilo próprio da mesma. Os monges budistas

desse mosteiro, eram conhecidos pela eficácia dos seus punhos e saíam dos mosteiros

a pregar pelas terras, trazendo consigo os seus saberes, tanto espirituais como físicos

ensinando-os de terra em terra. Como monges budistas que eram, também eram

defensores do equilíbrio energético universal (Yin e Yang) e adoptaram na sua arte de

defesa, várias técnicas baseadas nos movimentos dos seres e compostos da Natureza.

O conjunto dessas técnicas deu origem à mãe das artes marciais actualmente chamada

de TaiChi-Chuan. Estes conhecimentos foram expandidos por quase toda a Ásia sendo

adaptados e transmitidos tradicionalmente às descendências.

Ao longo dos tempos e devido a vários factores (guerras, migrações, viagens, etc.)

estes conhecimentos foram sendo expandidos à escala mundial. Actualmente, por

todo o mundo as artes marciais são estudadas e praticadas por pessoas de todas as

faixas etárias. E são praticantes pelos mais variados motivos, tais como melhorias no

condicionamento físico, defesa pessoal, melhorias na coordenação física, desenvol-

vimento de disciplina, lazer, etc.

Ilustração 1: Praticante de TaiChi-Chuan

Page 4: A natureza e as artes marciais

3 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

A prática de uma arte marcial propicia o extravazamento da tensão do dia-a-dia,

focalizando o praticante positivamente e contribuindo para uma harmonia do seu

organismo. O trabalho da respiração promove no praticante, tanto benefícios físicos

(diminuição do cansaço, flexibilidade de movimentos, etc.) como psicológicos

(desenvolvimento de auto-consciência e tranquilização). Através do treino é gerando

um conjunto de sinais instintivos que, numa situação de perigo - onde o pensamento

racional cede o seu espaço ao instinto "animal" - melhoram a capacidade de reacção.

Estas relações funcionam como se o cérebro fosse um computador onde são

programadas instruções automáticas (instruções batch) em que, quando se activa o

“programa”, este é executado automaticamente, sem que seja necessário qualquer

comando adicional. Assim, inconscientemente, o cérebro do praticante constrói

relações entre estímulos visuais, sonoros, tácteis, auditivos ou até olfactivos e as

combinações das sequências de técnicas.

Page 5: A natureza e as artes marciais

4 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

A Natureza A Natureza actualmente é o resultado de milhões de anos de evolução. Nela todas as

espécies passaram por vários processos de adaptação e de aperfeiçoamento de

características inatas, tais como a velocidade, a precisão, a força, o equilíbrio, a

fuga/esquiva, a postura, etc. Estas características continuaram a ser adaptadas e

aperfeiçoadas pelas suas descendências fazendo com que se assegure a sua

sobrevivência e descendência. Estas características podem também ser observadas nas

artes marciais, pois, tanto na Natureza como nas artes marciais, são características que

foram sofrendo aperfeiçoamentos e adaptações ao longo dos tempos.

Assim, quer na Natureza, quer na prática de artes marciais, através do

aperfeiçoamento e da adaptação destas características consegue-se atingir um

equilíbrio (uma harmonia) em que o ambiente envolvente é influenciado e influencia o

próprio ser (quer seja um animal selvagem, um praticante, etc.).

Ilustração 2: O Símbolo de Yin e Yang as 2 forças opostas de energia universal (ki) que estão presentes em todo o Universo, mantendo-o em harmonia com todos os seres.

Page 6: A natureza e as artes marciais

5 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

A velocidade Na Natureza, a velocidade dos animais determina a sua sobrevivência. Na caça, um

predador precisa de ser mais rápido que a presa, senão não obtém o alimento e não

sobrevive. Por outro lado, se a presa for mais rápida tem uma maior probabilidade de

sobreviver a um ataque de um predador. Nas lutas entre os animais a velocidade é um

factor importante no sucesso dos ataques e das defesas. Como exemplo podem-se

analisar os comportamentos da serpente. Ao nível da obtenção de alimento, a

serpente necessita de ser rápida (velocidade) e precisa (precisão). Muitos dos animais

que caça são mais pequenos que ela e têm uma maior capacidade de esquiva e fuga,

caso sejam mais rápidos. Estes ataques chegam a atingir velocidades perto dos 4

metros por segundo. A velocidade destas técnicas é um factor muito importante no

sucesso da sua execução. Tanto por parte das técnicas efectuadas com braços, pernas,

cabeça ou utensílios (armas), como pelos próprios deslocamentos corporais (avanços,

recuos, esquivas, etc.).

Ao nível da velocidade podem existir 2 tipos: a velocidade de acção e a velocidade de

reacção. A velocidade de acção corres-ponde à velocidade da execução por quem

toma a iniciativa num confronto. A velocidade de reacção corresponde à velocida-de

da execução por quem perde a iniciativa num con-fronto. Como acontece na natureza,

tanto a acção como a reacção se complemen-tam e muitas vezes trocam posições,

sendo que uma maior velocidade de execução terá uma maior probabilidade de

sucesso. Cientificamente a velocidade é caracterizada pela distância percorrida em

função do tempo gasto para a percorrer (velocidade = distância / tempo). Na natureza

um animal está mais apto para sobreviver se, para um certo mesmo tempo conseguir

percorrer uma maior distância, ou, por outro lado, para uma certa distância, a

conseguir percorrer em menos tempo. Ao nível das técnicas das Artes Marciais aplica-

se o mesmo princípio: Entre um ataque e uma defesa o que tem uma maior

probabilidade de sucesso é o que, para a mesma distância conseguir ser efectuado

Ilustração 3: Comparação do ataque da serpente à técnica de Karaté Mae-Te

Page 7: A natureza e as artes marciais

6 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

num menor espaço de tempo. Existem também situações em que para um mesmo

tempo quem conseguir percorrer uma maior distância terá mais sucesso (por exemplo,

no caso da quebra da distância de segurança - maai. O treino da velocidade está

relacionado com a coordenação entre os órgãos da visão (os olhos) e os membros

efectures (braços, pernas, cabeça) associados à repetição dos movimentos. Esta

repetição gera a chamada memória muscular. A memória muscular é um pré-

carregamento muscular em espera activa originado pela repetição do mesmo

movimento. Existindo este pré-carregamento muscular diminui-se o tempo de reacção

aos estímulos, uma vez que a duração da fase de carregamento muscular é diminuida.

Assim, aquando do kamae o pré-carregamento muscular ocorre naturalmente,

propiciando a execução de técnicas e deslocamentos mais rápidos.

Outro exemplo de velocidade são os ataques do louva-deus. Este animal é um

predador agressivo que utiliza os membros frontais para apanhar as suas vítimas

utilizando movimentos reflexos cuja duração ronda a média dos 25 milissegundos (4

vezes mais rápido que o piscar de um olho humano). A alimentação do louva-deus é à

base de insectos que são muitas vezes mais rápidos que ele. Para que tenha sucesso, o

louva-deus tem que ser paciente e estar concentrado para poder aproveitar as

oportunidades dadas pelas presas e diferir um ataque na velocidade máxi-ma.

O mesmo princípio acontece nas artes marciais.

Por exemplo, no Karaté-do um nível de concentração mais elevado propicia a

percepção de uma situação de oportunidade que origina uma capacidade de execução

de uma técnica (seja ataque ou defesa) na velocidade máxima. Por outro lado, podem

também ser usadas existem técnicas e deslocamentos para se gerarem oportunidades,

como por exemplo deslocamentos de pernas (yori ashi, tsugi ashi, etc.) e quebras de

ritmo (tempos lentos, tempos rápidos, etc.).

Ilustração 4: Método de ataque do louva-deus: Espera a oportunidade e ataca com a velocidade máxima

Page 8: A natureza e as artes marciais

7 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

A força Na Natureza um animal forte é sinónimo de um animal com poder. Dentro da mesma

espécie, a maior parte dos os confrontos físicos entre os animais (guerras territoriais,

luta por parceiros de acasalamento, etc.) são muitas vezes resolvidos utilizando a

força. Esta força pode ser canalizada numa parte do corpo, ou pode ser utilizada na

projecção do próprio corpo gerando um impacto. O caso da metodologia de luta do

avestruz é um exemplo da projecção do próprio corpo gerando um impacto. Num

momento inicial o avestruz estuda o seu adversário e quando decide investir arranca a

uma velocidade máxima projectando o seu corpo contra o seu oponente (que

normalmente também utiliza a mesma metodologia). Este comportamento é visível

em algumas artes marciais, como por exemplo, no Sumo (uma luta de competição

japonesa) em que os dois lutadores (rikishi) competem num espaço limitado e em que

quando um deles é colocado numa situação debilitadora (ou toca no chão com uma

parte do corpo diferente dos pés, ou sai do espaço de competição), perde o combate.

No caso do avestruz acontece o mesmo: ou um dos animais é afogentado para fora do

território, perdendo-o para o outro, ou foge debilitado da luta.

Em ambos os casos o corpo dos intervinientes serve de arma e é projectado contra o

oponente. Pelas leis da física, mais em particular, as leis de Newton, o conjunto de

forças que actuam sobre um corpo a influenciam a sua aceleração e quanto maior for a

intensidade da força resultante, maior será a aceleração do mesmo. Desta lei podemos

concluír que em caso de impacto o corpo que tiver uma força de maior intensidade,

afectará mais o deslocamento do outro.

Na Natureza, nem sempre os confrontos são realizados com a projecção dos corpos.

Existem casos em que são utilizados apenas os membros (normalmente posteriores)

aos quais é canalizada a força do corpo. Um exemplo da canalização da força do corpo

nos membros posteriores é o ataque de garra do tigre (torade) ou o ataque da garra

do urso (kumade). Estes ataques normalmente são rotativos e empregam uma força

que podem atingir os 1000 kg de força por ataque. O tigre é um animal que domina o

Ilustração 5: Comparação entre o modo de combate do avestruz e do lutador de Sumo

Page 9: A natureza e as artes marciais

8 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

topo da cadeia alimentar devido à sua força natural. Os seus ataques são ataques

rápidos e fortes.

No caso das artes marciais o treino da força está relacionado com o treino dos

músculos.

A repetição de movimentos de enrigecimento e tensão destes músculos propicia um

aumento na força dos próprios músculos o que se reflecte numa maior força aplicada

nas técnicas.

Ilustração 6: Comparação entre o ataque da garra do tigre e o teisho uchi no Karaté-do (Shorin-Ryu)

Page 10: A natureza e as artes marciais

9 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

O equilíbrio Na Natureza, tanto em repouso, como em movimento, os animais tomam a sua

postura equilibrada. Este equilíbrio fisico-mecanico, além de suportar a postura do

esqueleto dos animais, propicia os mecanismos de deslocamentos e de esquiva. O

mesmo acontece nas artes marciais. Um dos exemplos mais reconhecidos do equilíbrio

em animais é o equilíbrio da Garça. Este animal tem a capacidade de se equilibrar

durante horas sobre uma perna, pois possui um líquido espinal com características de

controlo do equilíbrio. Como o ser humano não tem inatamente esse líquido apenas

através do treino é possível igualar a capacidade da garça. Existe um ponto do dorso

humano a partir do qual toda a massa é igualmente distribuída que tem o nome de

centro de gravidade. Este ponto está situado a 2 dedos abaixo do umbigo e permite ao

ser humano obter um equilíbrio do corpo. Para isso, o centro de gravidade necessita

de estar colocado numa posição acima da base de sustentação do próprio corpo

(normalmente, o pé).

No caso da garça, esta tem um conjunto de músculos e tendões que, combinados,

fornecem a força para estabilizar (equilibrar) o esqueleto, quer estando estática, como

em movimento. No caso do ser humano existe uma parte do cérebro – o cerebelo –

que faz a coordenação geral da motricidade, a manutenção do equilíbrio e postura

corporal. Com o treino do equilíbrio esta parte do cérebro torna-se “moldada” de

modo a dar instruções naturais de equilíbrio. O treino do equilíbrio é uma evolução

constante que se inicia na infância quando a criança se tenta levantar, depois tenta

Ilustração 7: Comparação entre o equilíbrio da garça e um ser humano a executar um hiza geri (joelhada)

Page 11: A natureza e as artes marciais

10 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

manter-se em pé, tenta caminhar erecta, correr, etc. Em cada uma das tarefas de

obtenção de equilíbrio existem 3 factores importantes: a distribuição do peso do

corpo, o posicionamento do centro de gravidade e a base de sustentação do corpo.

Estes factores estão presentes no treino dos pontapés (geri-waza), tais como o mae-

geri (pontapé em frente), o mawashi-geri (pontapé rotativo) ou o hiza-geri (joelhada)

do Karaté-do. O equilíbrio obtém-se, então pois a projecção vertical do centro de

gravidade tem que estar dentro da área da base de sustentação.

Page 12: A natureza e as artes marciais

11 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

A precisão A precisão corresponde à capacidade de, em vários ataques, a maioria deles atingir

uma mesma área. Ou seja, cada ataque que é feito é direccionado para a mesma área

dos ataques anteriores. Na Natureza a precisão é uma característica vantajosa para os

animais. Por exemplo, os ataques a serpente são direcionados às áreas vitais

vulneráveis da presa ou do oponente, com o intuito de os debilitar ao máximo. É

necessária uma grande precisão para que à distância que é projectado o ataque da

serpente, seja atingida a área vital da sua presa ou oponente. Antes de efectuar um

ataque, a serpente coloca-se numa posição de preparação de ataque, mas mantendo a

sua segurança (mantendo a guarda), reduzindo a vulnerabilidade a possíveis contra-

ataques. Ao efectuar um ataque, a serpente rapidamente volta à sua posição de

segurança. Ao nível das artes marciais (Karaté-do, Aikido, Kendo, Judo, etc.), o compor-

tamento da serpente é igualado, uma vez existe uma posição e postura física de

guarda (um kamae) e é a partir dessa posição/postura que arrancam as técnicas de

ataques e defesas.

No caso da garça, a maior parte dos ataques são efectuados em vôo o que a obriga a

ter uma maior precisão. Os ataques das aves (as bicadas) aproveitam a forma

ergonómica do seu bico.

Ilustração 9: Comparação entre a técnica Washide e o mecanismo de pesca da garça

Ilustração 8: Postura de guarda em algumas artes marciais (Aikido, Karate-do, Kendo)

Page 13: A natureza e as artes marciais

12 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

No caso das artes marciais, para se fazer um ataque semelhante, o praticante deverá

utilizar os membros que mais se assemelham ao bico (por exemplo os dedos das

mãos). Nas artes marciais existem técnicas de ataque semelhantes, como por exemplo,

no Karaté-do, as técnicas de Yubi waza (técnicas com as pontas dos dedos), como

Washide (bico de pato), o Nukite (ponta da mão), etc.

Um exemplo notável de precisão an Natureza, é o louva-deus que executa os seus

ataques cum uma precisão elevada. Uma vez que se alimenta de insectos, ao longo dos

tempos teve que aprender a estudar os movimentos, os trajectos, as velocidades das

suas presas e planear instintivamente quais os métodos a utilizar para as capturar.

Da mesma maneira que o louva-deus, nas artes marciais, a precisão pode ser

aperfeiçoada através do treino.

Além dos órgãos efectores (os que realizam os movimentos e técnicas), os olhos são

órgãos muito importantes no treino da precisão, pois são eles que captam os

movimentos ou sinais do espaço em redor do praticante e os transmitem para o córtex

visual. Numa situação de combate o cérebro analisa os movimentos do oponente e

calcula os seus possíveis movimentos e deslo-camentos. Durante esse cálculo o

cérebro aperfeiçoa uma capacidade de gerar possíveis trajectos que o órgão efector irá

realizar. Ao estímulo momentâneo ou ao se aperceber de uma situação de

oportunidade, o pensamento é transformado em acção. Através da repetição deste

treino consegue-se uma maior precisão nas técnicas a efectuar.

Ilustração 10: Comparação entre a postura do louva-deus e um praticante de Kung-Fu na análise e planeamento de um ataque a um alvo

Page 14: A natureza e as artes marciais

13 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

A agilidade Ao longo dos tempos, e apontando à evolução da própria espécie, os animais na

Natureza aperfeiçoaram as suas capacidades de percepção do perigo, assim como

mecanismos instintivos de defesa e fuga. Nestas situações a agilidade é um factor que

pode determinar a sobrevivência do próprio ser. Por exemplo, o pangolim (Manis

temminckii) é um mamífero das zonas tropicais da África e da Ásia que tem como

mecanismo de defesa, o enrolar do próprio corpo. Este mecanismo pode ser

observado nas técnicas de esquiva a enrolar (ukemi) no Aikido e no Judo. O pangolim

utiliza esta técnica para se esquivar e proteger dos ataques dos predadores. Uma vez

fechado em O (em bola) é quase impossível que o predador consiga abrir a sua

protecção de escamas. No caso do ukemi do Aikido e do Judo é provocada uma queda

enrolada, colocado um braço na direcção do pé oposto ficando o corpo em forma de O

- como uma bola. Enrolando-se na esquiva, o pangolim protege as partes mais frágeis

do seu corpo (as partes inferiores do corpo), dando ao adversário as áreas escudo que,

mesmo numa situação de contacto, minimizarão qualquer dano que possa ser

causado.

Uma esquiva pode não obrigar a um deslocamento de pernas. Pode ser feita tendo as

pernas no mesmo local (mantendo a mesma posição). Quando a esquiva é feita

mantendo-se a mesma posição, é feita uma distribuição da massa do corpo para uma

direcção, sendo feita uma compensação com outras partes do corpo (princípio dos

pratos da balança).

Ilustração 11: Atemi do Aiki-do comparado com o enrolar do pangolim

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14 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

Conclusões Desde os primórdios dos tempos, todos os animais na Natureza se serviram dos seus

instintos e das suas as “armas” naturais para viver e sobreviver. Todos estes

mecanismos foram sofrendo alterações e aperfeiçoamentos, transmitindo

geneticamente essas características para as suas crias, de gerações em gerações.

O ser humano, dotado de uma grande capacidade de observação e aprendizagem

aproveitou os conhecimentos produzidos pela Natureza e adaptou-os ao seu dia-a-dia.

No que diz respeito às Artes Marciais, muitos dos mecanismos, técnicas, aplicações

foram introduzidos com base no que foi ensinado pela Natureza, também tendo sido

alvo de alterações, aperfeiçoamentos e adaptações.

Esta relação harmonizante entre Natureza – praticante, ao longo dos tempos tem

vindo a melhorar a qualidade de vida do próprio praticante, assim como a sua

envolvência como praticante no ambiente que o rodeia, tornando-os um só.

Ilustração 12: Prática de Mokuso (Contemplação silenciosa/estudo do vazio)

Page 16: A natureza e as artes marciais

15 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

Referências Velocidade - http://pt.wikipedia.org/wiki/Velocidade

Artes Marciais - http://pt.wikipedia.org/wiki/Artes_marciais

Kamae - http://en.wikipedia.org/wiki/Kamae

Memória – Quais os tipos? - http://www.medicinapratica.com.br/2009/02/17/saude-

medicina-pratica/memoria-quais-os-tipos/

Segunda Lei de Newton -

http://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7a#Segunda_Lei_de_Newton

Yin-Yang - The yellow emperor's classic of internal medicine, Huang Di

Mokuso - http://www.judoctj.com.br/mokuso-contemplacao-silenciosa/

Page 17: A natureza e as artes marciais

16 A Natureza e as Artes Marciais – Sérgio Ildefonso

Índice As Artes Marciais .............................................................................................................. 2

A Natureza ........................................................................................................................ 4

A velocidade ..................................................................................................................... 5

A força ............................................................................................................................... 7

O equilíbrio ....................................................................................................................... 9

A precisão ....................................................................................................................... 11

A agilidade ...................................................................................................................... 13

Conclusões ...................................................................................................................... 14

Referências ..................................................................................................................... 15