a morte da formosura

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http://www.creativeminorityreport.com/2011/12/death-of-pretty.html A morte da formosura Este post é uma espécie de lamento, por um aspecto da nossa cultura que está a mor- rer, e que poderá nunca mais ressurgir. É a formosura. A formosura está a morrer. Há muitas definições de for- mosura. Por mim, defino-a, aqui e agora, como uma com- binação equilibrada, e mutua- mente enriquecedora, de bele- za e inocência. Noutros tempos, as mulheres gostavam de projectar uma imagem de inocência. Não pre- tendo com isto idealizar o pas- sado, nem, sendo a concupis- cência o que é, tenho quais- quer ilusões acerca das virtu- des dos nossos avós. Mas, nou- tros tempos, as coisas eram diferentes. Em primeiro lugar, quase todas as mulheres boni- tas gostavam de projectar em público independentemente dos seus estados de alma uma imagem de inocência e de virtude. E é essa combinação de beleza e inocência que defi- ne a formosura. De uma maneira geral, e por natureza, esta combinação traz à superfície as melhores quali- dades dos homens, mais ainda, o melhor que há neles. Esta combinação de beleza e ino- cência, a formosura, suscita nos homens o desejo de a de- fender e a proteger. As jovens de hoje não parecem aspirar à formosura, preferin- do ser picantes. Ora, ser pican- te é uma coisa completamente diferente. E, quando as mulhe- res preferem ser picantes a ser formosas, é porque se vêem com determinados olhos; con- sequentemente, os homens também olham para elas dou- tra maneira. Como já observei, a formosura traz à superfície os mais no- bres instintos masculinos, que são proteger e defender. A for- mosura é apreciada. Já o pi- cante é um produto, cujo valor é temporário e destinado a ser usado. É um bem de consumo. Não há domínio em que este deficit de formosura seja tão manifesto como no das «estre- las», aquelas pessoas que ele- vamos ao nível do «ideal». As estrelas dos anos 50 cometiam indubitavelmente os mesmos pecados que as estrelas nossas contemporâneas; as estrelas dos anos 50 não eram ideais, mas visavam um ideal público diferente do dos nossos dias. Não é nada difícil perceber as vantagens do picante relati- vamente ao formoso e nem era preciso terem feito um mu- sical a explicá-las, mas até fi- zeram. Ninguém pode esque- cer a formosura de Olivia Newton John no começo de Brilhantina. Olivia era bela e inocente. Mas o desejo de ser desejada fá-la repudiar o que nela tinha valor, na vã expecta- tiva de captar as atenções de um rapaz. Pelo caminho, des- trói a sua inocência e destrói a formosura. Fica apenas o pi- cante. E o picante é um bem de consumo, que consome en- quanto é consumido, mas que não aquece por dentro. Em geral, as raparigas já não querem ser formosas (quando percebem o que isso quer dizer). É uma ironia que 40 anos de emancipação feminina apenas tenham conseguido transformar as mulheres num bem de consumo, numa coisa que se usa e se deita fora. Naturalmente que os homens também desempenharam um papel neste processo, mas as mulheres deviam ser mais cau- telosas, como aliás sempre foram. Antigamente, as rapa- rigas distinguiam o tipo de mulheres com quem os ho- mens saem do tipo de mulhe- res com quem se casam; hoje em dia, já não fazem essa dis- tinção. Mas a verdade é que, na sua maioria, os homens preferem a formosura ao picante. Eu ain- da andava no 6º ano, e já detestava a Olivia Newton John «picante», e tinha pena que ela tivesse tido de se degradar daquela maneira. E ainda tenho. O nosso problema é que a so- ciedade deixou de dar valor à inocência, real ou imaginada. Já ninguém aspira a ser ino- cente. As raparigas já não que- rem ser tidas por inocentes, por boas meninas; não querem ser formosas, querem ser pi- cantes. Mas eu ainda tenho a esperan- ça de que a formosura volte a estar na moda, embora me pareça que não será para bre- ve: por cada Taylor Swift, há hoje uma centena de Megan Fox, Lindsay Lohan, Miley Cyrus, etc. Meninas, por favor, recuperem a formosura.

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Page 1: A morte da formosura

http://www.creativeminorityreport.com/2011/12/death-of-pretty.html

A morte da formosura

Este post é uma espécie de lamento, por um aspecto da nossa cultura que está a mor-rer, e que poderá nunca mais ressurgir.

É a formosura. A formosura está a morrer.

Há muitas definições de for-mosura. Por mim, defino-a, aqui e agora, como uma com-binação equilibrada, e mutua-mente enriquecedora, de bele-za e inocência.

Noutros tempos, as mulheres gostavam de projectar uma imagem de inocência. Não pre-tendo com isto idealizar o pas-sado, nem, sendo a concupis-cência o que é, tenho quais-quer ilusões acerca das virtu-des dos nossos avós. Mas, nou-tros tempos, as coisas eram diferentes. Em primeiro lugar, quase todas as mulheres boni-tas gostavam de projectar em público – independentemente dos seus estados de alma – uma imagem de inocência e de virtude. E é essa combinação de beleza e inocência que defi-ne a formosura.

De uma maneira geral, e por natureza, esta combinação traz à superfície as melhores quali-dades dos homens, mais ainda, o melhor que há neles. Esta combinação de beleza e ino-cência, a formosura, suscita nos homens o desejo de a de-fender e a proteger.

As jovens de hoje não parecem aspirar à formosura, preferin-do ser picantes. Ora, ser pican-te é uma coisa completamente diferente. E, quando as mulhe-res preferem ser picantes a ser

formosas, é porque se vêem com determinados olhos; con-sequentemente, os homens também olham para elas dou-tra maneira.

Como já observei, a formosura traz à superfície os mais no-bres instintos masculinos, que são proteger e defender. A for-mosura é apreciada. Já o pi-cante é um produto, cujo valor é temporário e destinado a ser usado. É um bem de consumo.

Não há domínio em que este deficit de formosura seja tão manifesto como no das «estre-las», aquelas pessoas que ele-vamos ao nível do «ideal». As estrelas dos anos 50 cometiam indubitavelmente os mesmos pecados que as estrelas nossas contemporâneas; as estrelas dos anos 50 não eram ideais, mas visavam um ideal público diferente do dos nossos dias.

Não é nada difícil perceber as vantagens do picante relati-vamente ao formoso – e nem era preciso terem feito um mu-sical a explicá-las, mas até fi-zeram. Ninguém pode esque-cer a formosura de Olivia Newton John no começo de Brilhantina. Olivia era bela e inocente. Mas o desejo de ser desejada fá-la repudiar o que nela tinha valor, na vã expecta-tiva de captar as atenções de um rapaz. Pelo caminho, des-trói a sua inocência e destrói a formosura. Fica apenas o pi-cante. E o picante é um bem de consumo, que consome en-quanto é consumido, mas que não aquece por dentro.

Em geral, as raparigas já não querem ser formosas (quando percebem o que isso quer dizer). É uma ironia que 40 anos de emancipação feminina apenas tenham conseguido transformar as mulheres num

bem de consumo, numa coisa que se usa e se deita fora.

Naturalmente que os homens também desempenharam um papel neste processo, mas as mulheres deviam ser mais cau-telosas, como aliás sempre foram. Antigamente, as rapa-rigas distinguiam o tipo de mulheres com quem os ho-mens saem do tipo de mulhe-res com quem se casam; hoje em dia, já não fazem essa dis-tinção.

Mas a verdade é que, na sua maioria, os homens preferem a formosura ao picante. Eu ain-da andava no 6º ano, e já detestava a Olivia Newton John «picante», e tinha pena que ela tivesse tido de se degradar daquela maneira. E ainda tenho.

O nosso problema é que a so-ciedade deixou de dar valor à inocência, real ou imaginada. Já ninguém aspira a ser ino-cente. As raparigas já não que-rem ser tidas por inocentes, por boas meninas; não querem ser formosas, querem ser pi-cantes.

Mas eu ainda tenho a esperan-ça de que a formosura volte a estar na moda, embora me pareça que não será para bre-ve: por cada Taylor Swift, há hoje uma centena de Megan Fox, Lindsay Lohan, Miley Cyrus, etc.

Meninas, por favor, recuperem a formosura.