a internacionalização do ensino secundário e da formação

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação A internacionalização do ensino secundário e da formação dos sujeitos educacionais (1931-1961) Fabio Marques de Oliveira Neto Natal − Rio Grande do Norte 2021

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Page 1: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

A internacionalização do ensino secundário e da

formação dos sujeitos educacionais (1931-1961)

Fabio Marques de Oliveira Neto

Natal − Rio Grande do Norte

2021

Page 2: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Fabio Marques de Oliveira Neto

A internacionalização do ensino secundário e da formação dos

sujeitos educacionais (1931-1961)

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como requisito

para obtenção do título de Doutor em

Educação.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marta Maria de Araújo

Natal − Rio Grande do Norte

2021

Page 3: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Oliveira Neto, Fabio Marques de.

A internacionalização do ensino secundário e da formação dos sujeitos

educacionais (1931-1961) / Fabio Marques de Oliveira Neto. - Natal, 2021.

102 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de

Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Marta Maria de Araújo.

1. Ensino secundário no Brasil - Tese. 2. Internacionalização do ensino

secundário - Tese. 3. Recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública - Tese. I. Araújo, Marta Maria de. II. Título.

RN/UF/BS/CE CDU 37.014

Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-804/15

Page 4: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Fabio Marques de Oliveira Neto

A Internacionalização do ensino secundário e da formação dos sujeitos educacionais

(1931-1961)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Educação da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como requisito para obtenção do título de

Doutor em Educação.

Banca Examinadora

_____________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Marta Maria de Araújo (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Hercília Maria Fernandes (Titular)

Universidade Federal de Campina Grande

_____________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Alessandra Cristina Furtado (Titular)

Universidade Federal Rural da Grande Dourados

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Walter Pinheiro Barbosa Júnior (Titular)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Mário Lourenço de Medeiros (Titular)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Fernando César Ferreira Gouvêa (Suplente)

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

_____________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Crislane Barbosa de Azevedo (Suplente)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Page 5: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Dedico a minha irmã, Vaneska, por seu carinho e

por partilhar comigo sua inteligência; a minha

esposa, Waleska, pelo apoio em cada momento de

minha vida profissional e acadêmica; e a meus pais,

Dinarte e Luzinete, por terem despertado em mim o

gosto pelos estudos.

Page 6: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Agradeço a minha orientadora, Marta Maria de

Araújo, por sua disponibilidade e pelo rigor

científico desta tese.

Page 7: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Resumo

Este trabalho de doutorado, concernente à temática − reformas públicas

e políticas educacionais para o ensino secundário provenientes das

recomendações das Conferências Internacionais de Instrução Pública e

do Seminário Interamericano de Educação Secundária− elegeu como

objeto de estudo as políticas escolares e educativas apropriadas pelas

autoridades educacionais do Brasil a partir das recomendações

pertinentes ao nível de ensino secundário aprovadas naquelas

Conferências Internacionais de 1931 a 1961, principalmente. O objetivo

precípuo foi, por um lado, refletir sobre a realização das reformas públicas

para o ensino secundário e as respectivas políticas educacionais; por

outro, analisar as específicas apropriações pertinentes ao ensino

secundário no Brasil, no período de 1931 (Reforma do Ensino Secundário

mediante o Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931) a 1961 (aprovação

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024 de 20 de

dezembro de 1961). A análise do corpus documental da pesquisa −

documentação referente às recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública (1932 a 1961) e do Seminário

Internacional de Educação Secundária (1955), os relatórios constantes

dos Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1933 a 1961), além

da legislação federal produzida pelos representantes do Poder Executivo

e do Poder Legislativo − teve como referências, essencialmente, os

estudos sobre os processos de interações, de apropriações, de práticas e

de formalidades das práticas de conformidade com Michel de Certeau

(1982), Roger Chartier (1990; 1995; 2007) e Peter Burke (2010). A tese

defendida é que a história da internacionalização do ensino secundário

brasileiro, em seus pressupostos teóricos, pedagógicos e políticos, pode

ser situada no tempo distante da primeira Conferência Pan-Americana

(1889-1890), que lançou as bases da União Pan-Americana (criada em

1910), posteriormente Organização dos Estados Americanos (1948), além

da criação da Organização Educativa, Científica e Cultural das Nações

Unidas (1947), principal promotora, juntamente com o Bureau

Internacional de Educação, das Conferências Internacionais de

Instrução Pública. Finalmente, constatou-se que a história da

internacionalização do ensino secundário brasileiro, por meio de

pressupostos teóricos, pedagógicos e políticos de organismos de

hegemonia norte-americana, é, sem dúvida, a história das apropriações

das recomendações oriundas das Conferências Internacionais de

Instrução Pública, especialmente no período de 1931 a 1961.

Palavras-chave: Ensino secundário no Brasil. Apropriações.

Internacionalização do ensino secundário. Recomendações das

Conferências Internacionais de Instrução Pública.

Page 8: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Abstract

This doctoral dissertation with regard to the theme − public reforms and

educational politics to secondary education originated from

recommendations approved at the International Conferences of Public

Instruction, and at the inter-American Seminar on Secondary Education –

has indicated as the object of study the school and educational policies

appropriated by Brazilian educational authorities of recommendations

from the International Conferences of Public Instruction, mainly. Its main

objective was to consider, on one hand, the accomplishment of public

reforms in secondary education and its associated educational policies,

on the other hand, to analyze the specific appropriations related to

secondary education in Brazil from 1931 (reform of secondary education

by means of Decree number 19.890 from April, 18th, 1931) to

1961(approval of the Educational Law, Law number 4.024 from December

20th, 1961). The analyzes of the documentary corpus of the research –

documents regarding recommendations from the international

Conferences on Public Instruction (1932 a 1961) and from the inter-

American Seminar on Secondary Education (1955), the reports published

on the International Yearbook of Education (1933 a 1961), as well as

federal laws approved by members of Executive and Legislative Powers −

was based, essentially, on the studies about the processes of interactions,

appropriations, practices and formalities of practices by Michel de

Certeau (1982), Roger Chartier (1990; 1995; 2007) and Peter Burke

(2010).The thesis defended is that the history of the internationalization of

Brazilian secondary education, in its theoretical, pedagogic and politic

assumptions, can be situated at the distant time of the first Pan-American

Conference (1889-1890), which has laid the foundations for the Pan-

American Union (founded in 1910), subsequently the Organization of

American States (1948), as well as the foundation of the United Nations

Educational, Scientific and Cultural Organization (1947), main promoters,

in addition to the International Bureau of Education of the International

Conferences on Public Instruction. The final conclusion is that the history of

the internationalization of Brazilian secondary education, by means of its

theoretical, pedagogic and politic assumptions from North-American

hegemony organizations is, undoubtedly, the history of appropriations of

recommendations from the International Conferences of Public

Instruction, especially from 1931 to 1961.

Key-words: Secondary education in Brazil. Appropriations.

Internationalization of secondary education. Recommendations from the

International Conferences of Public Instruction.

Page 9: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Sumário

Capítulo Um 9

Ensino secundário, recomendações internacionais e pesquisa histórica

Capítulo Dois 29

As bases institucionais da internacionalização do ensino secundário

(1931-1939)

Capítulo Três 49

Políticas de cooperação para as reformas do ensino secundário (1942-

1952)

Capítulo Quatro 64

Políticas públicas de ensino secundário e interamericanismo (1953-1961)

Conclusão 85

Referências 88

Page 10: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Capítulo Um

Ensino secundário, recomendações internacionais e pesquisa histórica

Na transição entre a fase de criança e a adolescência, comecei

a conhecer e estudar a língua inglesa e, por extensão, a cultura inglesa.

Nesse período, concluí o Primeiro Grau no Centro Educacional Maristella,

de Natal, e ingressei na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte,

onde tive a oportunidade de me aperfeiçoar no Inglês Técnico, disciplina

que viria a lecionar anos mais tarde.

No primeiro ano do curso de Mecânica, da Escola Técnica

Federal do Rio Grande do Norte, fui aluno da professora Haydée Nóbrega

Simões, que me incentivou a seguir a carreira diplomática desde que

aprimorasse a escrita e a fluência em inglês e em francês, para, assim,

submeter-me à seleção do Instituto Rio Branco. Não segui a carreira

diplomática, mas a língua inglesa contribuirá para a pesquisa empírica

desta tese de Doutorado.

Na fase da adolescência, cultivei o hábito de ouvir e cantar as

músicas dos Beatles tocadas na Rádio Cabugi, de Natal, no programa

musical Flash Back, apresentado pelo radialista Tim Kawazaki.

Concomitantemente, assistia ao programa veiculado pela TV

Universitária Clip Clip, provavelmente precursor da Music Television,

centrado na divulgação de músicas nacionais e internacionais; estas

últimas, porém, sempre me chamaram mais a atenção, devido às

composições do grupo musical sueco ABBA e do grupo australiano Bee

Gees.

Dessa forma, meu pai, funcionário da Escola Técnica Federal do

Rio Grande do Norte (técnico em planejamento), começou a me

presentear com álbuns de John Lennon, dos Rolling Stones e de Elvis

Presley, o que me fez cultivar o hábito de escutar, e também cantar,

aquelas músicas, diariamente, na radiola de marca Phillips que havia

Page 11: A internacionalização do ensino secundário e da formação

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em minha casa. Em regra, os álbuns, contendo um encarte com as letras

das músicas, levavam-me à tradução das composições.

Em decorrência de meu gosto musical por esses cantores ingleses,

suecos e australianos, meus pais me matricularam no primeiro estágio do

curso básico da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos (com sede em

Natal), dirigida por professores da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Nos cinco anos do curso de Inglês nessa escola, para aprender a

falar e escrever em língua inglesa, fazíamos, constantemente, a leitura de

textos sobre a cultura americana, educação, esporte, cinema, família,

religião e mercado capitalista. A leitura desses textos aperfeiçoava meu

conhecimento da língua inglesa e, consequentemente, do modo de

vida estadunidense, principalmente no que dizia respeito ao cotidiano

dos norte-americanos nos aspectos de alimentação, esporte,

religiosidade, trabalho e hábitos de consumo.

Em minha casa, havia, portanto, um ambiente propício ao

aprendizado do idioma, que se somava aos estudos da Escola Técnica

Federal do Rio Grande do Norte e, igualmente, aos estudos da

Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos.

A biblioteca da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos era

composta de livros acadêmicos e culturais, além de revistas, como a Time

e a Newsweek, para estudo e pesquisa dos alunos. Havia um cinema,

que exibia filmes americanos todos os dias, com os atores Terence Hill,

Budd Spencer, Jerry Lewis e outros, para que assimilássemos a linguagem

correta americana.

A aprendizagem da língua inglesa, mediante a leitura de livros,

textos, filmes, músicas e a sociabilidade com homens e mulheres

americanos, possibilitava o aperfeiçoamento do conhecimento do

idioma. Assim, concluí (1981) o curso de inglês da Sociedade Cultural

Brasil – Estados Unidos como o melhor aluno da turma, título que

possibilitou, imediatamente, meu ingresso no Teacher’s Training Course

dessa instituição.

Page 12: A internacionalização do ensino secundário e da formação

11

O Teacher’s Training Course era destinado aos alunos que

desejassem vir a ser professores na Sociedade Cultural Brasil - Estados

Unidos. Ao concluí-lo, com nota dez, já ingressei como professor do nível

básico dessa instituição.

Nesse ínterim (1983), concluí o curso técnico de Mecânica, pela

Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. No ano seguinte, fui

aprovado, em primeiro lugar, para o curso de Letras da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, com habilitação em língua inglesa,

língua portuguesa e respectivas literaturas. O curso de Letras, por sua vez,

aperfeiçoou, mais ainda, minha formação na docência da Língua

Inglesa, principalmente por meio das disciplinas Língua Inglesa e

Literatura Anglo-Americana.

O aperfeiçoamento de minha formação na docência de Língua

Inglesa permitiu-me lecionar em instituições educacionais da cidade de

Natal como o Colégio Marista, o Colégio Imaculada Conceição, o

Instituto Maria Auxiliadora, o Dinâmico Colégio e Curso, o Hipócrates

Colégio e Curso, além do Colégio e Curso Ferro Cardoso. Como professor

de Inglês do ensino médio, minha concepção de ensino e de

aprendizado da língua inglesa compreendia o diálogo entre o professor

e os alunos e entre os alunos, na aula, por meio do método audiolingual

e comunicativo.

No ano seguinte à conclusão do curso de Letras (1989), decidi

fundar uma escola de inglês (Watford), com material didático próprio.

Passados trinta anos de sua existência, a escola é parceira da Oxford

University Press e da National Geographic e utiliza materiais pedagógicos

e didáticos produzidos por essas instituições.

Entre 1998 e 2016, além das atividades docentes supracitadas,

dediquei-me à formação e atuação jurídicas, consubstanciadas na

graduação em Direito (1998), especialização em Direito Público (2000),

Especialização em Ministério Público, Direito e Cidadania (2007) e

Mestrado em Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Page 13: A internacionalização do ensino secundário e da formação

12

(2007), com dissertação intitulada Dignidade da pessoa humana e

medidas sócio-educativas do Estatuto da Criança e do Adolescente. A

partir da mencionada graduação em Direito, atuei como advogado nas

áreas cível e trabalhista por dezoito anos (1998-2016) e como professor

da disciplina Direito Civil na Universidade Potiguar (2001-2002).

Em 2016, fui aprovado no curso de Especialização em Língua

Inglesa, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Em decorrência desse curso, escrevi um artigo científico de título Using

WhatsApp to develop L2 oral production, que discute a utilização do

aplicativo WhatsApp para o uso em sala de aula de Língua Inglesa. O

artigo foi publicado na Revista Leitura, do Programa de Pós-Graduação

em Letras e Linguística da Universidade Federal de Alagoas.

A continuidade de minha formação acadêmica fez com que, em

2016, eu me submetesse à seleção do doutorado em Educação do

Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte (UFRN), na Linha de Pesquisa Educação e Inclusão

em Contextos Educacionais. Fui aprovado na prova escrita, mas não

logrei êxito no projeto de pesquisa, avaliado como não pertinente para

a referida linha de pesquisa.

Nesse ano de 2016, candidatei-me ao Processo Seletivo

Simplificado para Professor Substituto de Língua Inglesa da Escola

Agrícola de Jundiaí, da UFRN, sendo aprovado em primeiro lugar para

lecionar Inglês Técnico nos cursos de Agroindústria, Agropecuária,

Aquicultura e Informática. No segundo semestre, fui selecionado, na

condição de aluno com matrícula especial da disciplina Educação

Brasileira, ministrada pela Prof.ª Maria Marta de Araújo. Nessa disciplina,

realizei leituras de obras clássicas de pensadores do século XIV ao XX

(Martim Lutero, Desidério Erasmo, João Amós Comênio, Jean-Jacques

Rousseau, Johann Heinrich Pestalozzi, John Dewey, Paulo Freire e outros).

O ano de 2017 revelou-se, portanto, magnificente para minha

profissionalização e formação acadêmica. Fui aprovado (em segundo

Page 14: A internacionalização do ensino secundário e da formação

13

lugar) no concurso público de provas e títulos para o cargo de professor

efetivo das disciplinas de Língua Inglesa e Língua Portuguesa da Escola

Agrícola de Jundiaí. Concomitantemente, fui aprovado (em terceiro

lugar) no concurso público de provas e títulos para o cargo de Professor

Efetivo de Língua Inglesa do Instituto Federal de Educação Ciência e

Tecnologia do Rio Grande do Norte. Ademais, fui aprovado na seleção

do doutorado do Programa de Pós-Graduação da UFRN, para a linha de

pesquisa Educação, Estudos Sócio-históricos e Filosóficos, com o projeto

de tese de doutorado de título: Conferências Internacionais de

educação e as políticas educacionais no Brasil (1931-1961).

A par desse projeto de tese de doutorado, iniciei o levantamento

de uma bibliografia pertinente à discussão do objeto de estudo: as

políticas escolares e educativas apropriadas pelas autoridades

educacionais do Brasil a partir das recomendações pertinentes ao nível

de ensino secundário aprovadas nas Conferências Internacionais de

Instrução Pública de 1931 a 1961, principalmente. Para isso, recorri aos

trabalhos de Santos (2004), Dulci (2008), Kuhlmann Junior (2001), Warde

(2000), Gouvêa (2018) e Lourenço Filho (1978; 2004).

Exatamente no século XIX, inicialmente por preocupações com

ameaças externas e, posteriormente, com o propósito da implantação

do Pan-Americanismo, por interesse político e econômico dos Estados

Unidos, foram realizados os Congressos Interamericanos no Panamá

(1826), Lima (1847-1848), Santiago (1856), Washington (1856), Lima (1864-

1865), Lima (1877-1879) e Montevidéu (1888-1889).

Esses congressos, em regra, eram convocados por causas

imediatas específicas − a busca mexicana de apoio contra o

expansionismo territorial estadunidense ou a reação ao ataque da frota

espanhola a portos do Chile e do Peru, por exemplo. Entretanto os

representantes das nações americanas debatiam temas recorrentes,

como a união dessas nações, a criação de um organismo de

Page 15: A internacionalização do ensino secundário e da formação

14

coordenação entre as nações, a efetivação da arbitragem como

solução pacífica para os conflitos e a defesa contra ameaças externas.

Com base na documentação da Chancelaria brasileira e da

biblioteca da Organização dos Estados Americanos em Washington, o

diplomata e historiador Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos analisou a

ideia de interamericanismo esboçada nos congressos interamericanos.

Conforme Santos (2004. p. 31), a ideia de interamericanismo pode ser lida

“[...] como a tentativa de criação de um vínculo que reuniria todos os

povos americanos em uma nação de dimensões continentais e a

fragmentação da América em Estados independentes seria um atestado

do fracasso”. Doravante, o interamericanismo reverteu-se num “[...]

projeto de cooperação e apoio mútuo entre as diversas nações

americanas, em especial em face de ameaças extracontinentais”.

Portanto, um apoio para cada projeto nacional.

Na análise das recomendações desses congressos, Santos (2004,

p. 100) destaca a coincidência de assuntos recorrentes que se tornaram

“[...] a essência das propostas interamericanas discutidas pelas

repúblicas hispânicas [...]”. Entre essas recomendações, estavam a união

entre os Estados americanos, a criação de um organismo permanente de

coordenação entre os Estados americanos e a solução pacífica das

controvérsias entre esses Estados, por meio da arbitragem e da defesa

coletiva contra agressões externas.

Por outro lado, Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos analisou,

especialmente, as recomendações da Primeira Conferência Pan-

Americana, realizada em Washington (1889-1890), por ter sido esta a

única Conferência com a participação de diplomatas representantes do

governo imperial brasileiro.

A Primeira Conferência Pan-Americana (convocada pelos

Estados Unidos), realizada em Washington de 2 de outubro de 1889 a 19

de abril de 1890, foi a que lançou as bases do sistema interamericano

cuja entidade representativa seria a União Pan-Americana (criada em

Page 16: A internacionalização do ensino secundário e da formação

15

1910), que foi sucedida pela Organização dos Estados Americanos (OEA)

em 1948.

Uma das recomendações dessa Primeira Conferência Pan-

Americana, de Washington, foi a instalação de um escritório de comércio

para as nações americanas. Quando criado, esse escritório esteve

subordinado ao Departamento de Estado Norte-Americano, para,

depois, (1910) tornar-se a União Pan-Americana e, posteriormente, na

Conferência Pan-Americana de Bogotá (1948), ser transformada na OEA.

Além do mais, era a institucionalização de uma área de livre comércio

para as Américas. Segundo Santos (2004), desde a Primeira Conferência

Pan-Americana (1889-1890), a diplomacia brasileira era pouco confiante

em relação aos benefícios de um sistema americano que formasse uma

União Aduaneira Americana, objeto de discussão dos delegados

presentes à Conferência.

Por sua vez, a nação brasileira mantinha relações diplomáticas e

comerciais com a Argentina, o Chile, o Paraguai e o Uruguai. No entanto,

para Santos (2004, p. 118), o governo imperial considerava de pouca

vantagem “[...] participar de um arranjo comercial que fosse além desses

países e, naturalmente, dos Estados Unidos, que a essa altura já tinha se

tornado o principal destino de nossas exportações”.

Com o regime republicano e federativo, o Estado brasileiro foi

desistindo de uma oposição sistemática às iniciativas interamericanas.

Assim, conforme Santos:

Passava-se de uma situação marcadamente isolada e

contrária a qualquer avanço no plano interamericano

para uma atuação de destaque, consoante com o peso

que o Brasil passaria a ter nas iniciativas futuras no âmbito

da União Pan-Americana e, depois, na Organização dos

Estados Americanos (SANTOS, 2004, p. 128-129).

No final do século XIX e parte do século XX, o Brasil, como partícipe

da União Pan-Americana, integrou, efetivamente, as Conferências Pan-

Americanas idealizadas pelos Estados Unidos, realizadas em Washington

Page 17: A internacionalização do ensino secundário e da formação

16

(1889-1890), México (1901-1902), Rio de Janeiro (1906), Buenos Aires

(1910), Santiago (1923), Havana (1928), Montevidéu (1933), Lima (1938) e

Bogotá (1948). Nessa última, como assinalado, foi criada a Organização

dos Estados Americanos.

A pesquisadora Tereza Maria Spyer Dulci (2008), em seu trabalho

de mestrado, analisa as manifestações brasileiras nas Conferências Pan-

Americanas entre 1889 e 1928. Para Dulci (2008, p. 20), as Conferências

Pan-Americanas estruturadoras do projeto pan-americanista dos Estados

Unidos “[...] foram a origem das grandes assembleias diplomáticas do

continente e seu maior objetivo era a união das nações americanas por

meio do fortalecimento político e do comércio na América [...]”.

Portanto, devido à hegemonia estadunidense ou a seu “papel

civilizatório” sobre os países latino-americanos, as sessões e reuniões

preparatórias, com as respectivas proposições, na sede da União Pan-

Americana, eram de absoluta ingerência dos Estados Unidos sobre as

nações americanas para implantar uma unidade dita de civilização em

todo o continente americano. A hegemonia dos Estados Unidos era para

fazer valer, segundo Dulci (2008, p. 36), “[...] o seu poderio econômico

para forçar o estabelecimento da sua agenda de política externa para

as Américas”. Por conseguinte, os Estados Unidos viriam a concorrer com

a hegemonia europeia sobre os países latino-americanos.

De maneira geral, segundo Dulci, as recomendações e as

convenções dessas Conferências Pan-Americanas possibilitaram: a

institucionalização da União Pan-Americana (órgão responsável pela

coleta e divulgação de informações gerais sobre o continente, relatórios

estatísticos, anuários, boletins sobre comércio de produtos); o

estabelecimento da Organização dos Estados Americanos (órgão

gerenciador da União Aduaneira e das Câmaras de Comércio e

Propaganda); a institucionalização do Código Sanitário Pan-Americano

(órgão para difusão de ideias científicas relacionadas com ações de

saúde pública e de normas de combate às doenças transmissíveis), além

Page 18: A internacionalização do ensino secundário e da formação

17

de convenções gerais interamericanas de propriedade literária e

artística, de patentes, de marcas de fábrica e de comércio de produtos

agrícolas, entre outros.

De acordo com Dulci (2008), para fortalecer a nação republicana

e federativa e seu caráter nacional, os diplomatas brasileiros defendiam

a ideia da proximidade diplomática do Brasil tanto com os Estados Unidos

quanto com a Europa.

Antes e durante as Conferências Pan-Americanas, conforme o

trabalho de Moysés Kuhlmann Junior (2001), os Estados Unidos e a Europa

promoveram Exposições Internacionais em Londres (1851), Paris (1855),

Londres (1862), Paris (1867), Viena (1873), Filadélfia (1876), Paris (1878),

Buenos Aires (1882), Antuérpia (1883), Paris (1889), Chicago (1883), Paris

(1900), Luisiana (1904), Milão (1906), Bruxelas (1910), São Francisco (1915)

e Brasil (1922).

Essas Exposições Internacionais propagavam os progressos da

produção industrial, tecnológica, artística e novidades educacionais. Os

objetos industriais expostos eram agrupados por seções: educação e

ensino (livros didáticos, jogos educativos, carteiras); nações (Estados

Unidos, Alemanha, França, Inglaterra, Brasil); instituições (Ministérios da

Instrução Pública, Associações Científicas, Associações Literárias,

Associações Industriais); pinturas e fotografias.

A Exposição Internacional de Viena (1873) foi a que, pela primeira

vez, apresentou uma seção de educação. A Exposição Internacional de

Paris (1878) trouxe uma seção de pedagogia. Para Kuhlmann Junior

(2001, p. 70), a educação foi então apresentada “[...] como pilar da

civilização ocidental moderna, desdobrando-se o tema em seus

aspectos materiais, institucionais e metodológicos, articulando-o com as

outras dimensões da modernidade – expressas pelos diferentes grupos”.

As recomendações dessas Exposições Internacionais eram

dirigidas, principalmente, para uma universalização da produção

industrial, com suas convenções de livre comércio e de cooperação

Page 19: A internacionalização do ensino secundário e da formação

18

internacional para nações que eram partícipes da concepção

organizativa dessas exposições, igualmente dirigidas para a inserção no

“concerto das nações civilizadas”.

A historiadora da educação Mirian Warde, no artigo

Americanismo e Educação: um ensaio no espelho, observa que as

Exposições Internacionais foram matéria de apreciação de Marx e

Engels, Walter Benjamin, Michelle Perrot. Segundo Warde (2000), Marx e

Engels denominaram a Primeira Exposição (Londres, 1851) de espécie de

Panteão da moderna Roma, onde a burguesia exibia os seus deuses.

Walter Benjamin qualificou essas exposições como lugares de

peregrinação ao fetiche que é a mercadoria. Ainda segundo Warde,

Michelle Perrot considerou-as como grande espetáculo, oferecido ao

mundo pelo capitalismo.

É oportuno lembrar que, para Warde (2000, p. 41), nessas

Exposições Internacionais ou nesse concerto das nações, encontrava-se

o Brasil com seus stands “[...] de minérios e plantas exóticas, e com o

folclore de seus negros e índios”. Nelas, os representantes oficiais do Brasil

tinham a recomendação de encomendar cadeiras ergométricas,

aparelhos para estudos de frenologia, criminalística, antropometria e

também cartilhas para alfabetização de crianças.

Como bem caracteriza Warde, há uma tênue linha fronteiriça

entre as Exposições Internacionais, os objetos industriais expostos,

(principalmente os da educação e do ensino) e a ideia de

americanismo. Conforme Warde, no Brasil,

[...] o americanismo constituiu-se em cultura, moldou

formas de pensar, sentir e viver; tornou-se parâmetro de

progresso, felicidade, bem-estar, democracia, civilização

[...] plantou nos corações e nas mentes a silhueta do

‘homem novo’ – racional, administrado e industrioso

(WARDE, 2000, p. 43).

Conforme exposto, no influxo dos Congressos Interamericanos,

das Conferências Pan-Americanas e das Exposições Internacionais,

seriam, concomitantemente, institucionalizadas a União Pan-Americana,

Page 20: A internacionalização do ensino secundário e da formação

19

a Organização dos Estados Americanos e seus órgãos auxiliares, além de

esboçadas as ideias de interamericanismo e de americanismo, para fins

de recomendações desses acontecimentos internacionais.

Em 1919, um dos órgãos auxiliares dessas instituições, fundado nos

Estados Unidos, foi o Institute of International Education, sob a liderança

de Nicholas Murray Butler, presidente da Columbia University. Para

Gouvêa (2018), uma das missões centrais do Institute of International

Education, era

[...] catalisar o intercâmbio educacional no plano

internacional pela necessidade de contato e fonte de

informação tanto para os estudantes do Ensino Superior

dos Estados Unidos quanto para os discentes e as nações

estrangeiras interessadas em desenvolver laços

educacionais com o país (GOUVÊA, 2018, p. 34).

Para isso, o Institute of International Education publicou guias de

referências, destinadas ao estímulo de intercâmbios educacionais, além

de criar uma rede de clubes de relações internacionais nos campi

universitários, para uma aproximação entre estudantes estrangeiros.

Ademais, esse instituto fundou entidades internacionais, como a

Associação Internacional de Educadores e o Conselho de Intercâmbio

Internacional de Educação, entre outras.

Como forma de reforçar as ideias de interamericanismo e de

americanismo, em 5 de agosto de 1947, o Congresso dos Estados Unidos

aprovou a Lei Pública 369, que criou um órgão chamado Institute of Inter-

American Affairs (Instituto de Assuntos Interamericanos). A seção 2 da

referida Lei explicitava os propósitos desse órgão de caráter

transnacional:

Promover o bem-estar geral e fortalecer a amizade e o

entendimento entre os povos das Repúblicas Americanas

através da colaboração com outros governos e agências

governamentais das Repúblicas Americanas em planejar,

iniciar, auxiliar, financiar, administrar e executar programas

e projetos técnicos, especialmente nos campos da saúde

pública, saneamento, agricultura e educação (INSTITUTE

OF AMERICAN AFFAIRS, 1949, p. 2-3).

Page 21: A internacionalização do ensino secundário e da formação

20

Em maio de 1958, na cidade de San Juan (Porto Rico), houve a

Reunião Preparatória para Criação do Conselho de Educação Superior

nas Repúblicas Americanas, entidade de caráter pan-americano com a

participação de especialistas estadunidenses (cinco representantes do

Institute of International Education, dois da Carnegie Coorporation, um

do American Council of Learned Societies, três presidentes de

universidades norte-americanas) e de educadores de países latinos

(Anísio Teixeira, Brasil; Jaime Benitez, Porto Rico; Risieri Frondizi, Argentina;

Rodrigo Facio Brenes, Costa Rica; e Juan Gomes Millas, Chile). Por sua vez,

o Conselho de Educação Superior nas Repúblicas Americanas promoveu

conferências anuais em Porto Rico (1958), México (1959), Chile (1960),

Estados Unidos (1961), Brasil (1962), México (1963), Peru (1964), Brasil

(1965), Venezuela (1966), Chile (1967), Peru (1968), Colômbia (1969),

Argentina (1970), Peru (1971), Guatemala (1973), Venezuela (1974),

México (1975), Brasil (1976) e México (1978).

Em março de 1958, o educador brasileiro Anísio Teixeira foi

convidado pelo Secretário-Geral do Comitê Executivo do Conselho de

Educação Superior nas Repúblicas Americanas, Keneth Holland (que

havia sido presidente da Fundação Interamericana de Educação, de

1945 a 1946, e primeiro representante permanente norte-americano na

Unesco, de 1948 a 1950), para representar o Brasil na composição do

referido comitê, formado, em princípio, por educadores da América do

Norte e da América Latina. Entre 1958 e 1963, esse educador pertenceu

ao Comitê Executivo do Conselho de Educação Superior nas Repúblicas

Americanas.

Segundo Gouvêa (2018), no organograma desse Conselho de

Educação Superior nas Repúblicas Americanas constavam as

Conferências Anuais, a Reunião do Comitê Executivo, os Seminários e os

Encontros Especiais. Esses últimos eram, precipuamente, destinados ao

estudo de problemas educacionais de interesse, primeiramente, dos

Page 22: A internacionalização do ensino secundário e da formação

21

Estados Unidos e, secundariamente, da América Latina e da América

Central, com recomendações mais específicas para o ensino superior

das nações latino-americanas.

Pelas pesquisas de Gouvêa, uma das principais recomendações

preconizadas pelo Comitê Executivo do referido Conselho foi o Estudo

Comparativo da Educação Superior, espécie de projeto-síntese, que

incluía viagens de intercâmbio de educadores norte-americanos para a

América Latina e de educadores latino-americanos para os Estados

Unidos, além de

[...] pesquisas, levantamentos, compilação de dados,

material bibliográfico, documentos, marcos regulatórios e

visitas às universidades de vinte e um países das Américas

a fim de elaborar um quadro comparativo do Ensino

Superior (GOUVÊA, 2018, p. 156).

O estudo comparativo da educação superior foi, portanto, o

projeto prioritário do Conselho de Educação Superior nas Repúblicas

Americanas, que demandou cinco anos (1959-1964) e um aporte de

recursos financeiros elevado, além da publicação do livro A Educação

Superior nas Repúblicas Americanas, como não poderia deixar de ser em

línguas inglesa, espanhola e portuguesa. Para Gouvêa, o ensino superior

dos Estados Unidos foi o modelo a ser seguido pelos países estudados

comparativamente (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa

Rica, Cuba, El Salvador, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, México,

Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai,

Venezuela e Estados Unidos).

Ainda segundo Gouvêa, para o alargamento das

recomendações do Conselho, paulatinamente, o Banco Interamericano

de Desenvolvimento (BID), o Departamento de Estado Norte-americano

e a United States Agency for International Development (USAID) atuaram

como órgãos associados desse Conselho, concedendo, por meio do

governo americano, bolsas de estudos para graduandos e pós-

graduandos brasileiros e latinos, de maneira geral.

Page 23: A internacionalização do ensino secundário e da formação

22

Ao questionar sobre a existência de uma articulação entre as

recomendações do Conselho de Educação Superior nas Repúblicas

Americanas com as reformas no ensino superior dos países-membros,

Gouvêa levanta a seguinte hipótese:

[...] existe a possibilidade de correlação ao verificarmos

que os membros latinos do Comitê Executivo eram reitores

de universidades de destaque em seus países, Ministros da

Educação ou representantes de instituições

governamentais, como o caso de Anísio Teixeira. Na

prática, tinham condições de tornar as recomendações

em ações concretas (GOUVÊA, 2018, p. 199).

Assevera Gouvêa que os intercâmbios educacionais entre os

Estados Unidos e a América Latina assinalaram, no primeiro momento,

uma genuína cooperação, para, no momento posterior, inscreverem-se

numa dependência ao modelo institucional do Institute of International

Education. Essa dependência, portanto,

[...] impediu quaisquer formas de cooperação igualitária

na base de trocas de mão dupla num ir e vir de

informações e de decisões, pois os estágios de

desenvolvimento eram desiguais menos por

incompetência latina e mais pelas próprias políticas norte-

americanas de “doações”, empréstimos e tratados de

cooperação (GOUVÊA, 2018, p. 207).

No intervalo entre 1919 (fundação do Institute of International

Education) e 1958 (criação do Conselho de Educação Superior nas

Repúblicas Americanas), foram instituídos outros órgãos internacionais

vinculados à educação, como discute Lourenço Filho (1978). Conforme

esse educador, em 1925, a Sociedade das Nações estabeleceu uma

Comissão Internacional de Cooperação Intelectual, responsável pela

instalação do Bureau Internacional de Educação, órgão criado (1925)

pelo Instituto Rousseau, para, no ano de 1929, tornar-se a primeira

instituição internacional e intergovernamental em educação. Entre seus

fins, sobressaía a organização da documentação pedagógica relativa à

Page 24: A internacionalização do ensino secundário e da formação

23

educação pública, além da promoção das Conferências Internacionais

de Instrução Pública, realizadas a partir de 1932.

Lourenço Filho (1978, p. 25) retrata os primeiros anos dessa

instituição observando: “Esse Bureau, que tinha por fim proceder a

levantamentos sistemáticos de documentação pedagógica ampliou

mais tarde suas funções [...].”

No parecer de Lourenço Filho (2004, p. 25), as intenções mais

amplas do Bureau Internacional de Educação consistiam em “[...] servir

como centro de informação em tudo quanto dissesse respeito a aspectos

políticos internos, religiosos e filosóficos de cada nação; organizar

documentação relativa à educação e promover Conferências

Internacionais de Instrução Pública”.

Entre 1933 e 1947, o Bureau Internacional de Educação publicou,

unicamente em língua francesa, o Anuário Internacional de Educação e

Ensino. A partir de 1948, o Anuário passou a ser publicado nas línguas

francesa e inglesa. Conforme Lourenço Filho (2004, p. 28), o Bureau

Internacional de Educação reuniu, no ano de 1942, em Londres, a

primeira Conferência de Ministros da Educação, “[...] na qual veio a

acordar-se a conveniência de um plano conjunto, não apenas em

matéria de cooperação intelectual, mas quanto a estudos de interesse

prático”.

Passados três anos (1945), na cidade de Londres, foi promovida

uma Conferência especial para a fundação da Organização Educativa,

Científica e Cultural das Nações Unidas (Unesco), instalada em 1947,

como órgão especializado das Nações Unidas, com sede definitiva em

Paris. Segundo Lourenço Filho, para os trabalhos preparatórios destinados

à fundação e organização da Unesco colaboraram os educadores

brasileiros Anísio Teixeira e Abgar Renault. Nessa Conferência de Londres,

foi assinado, por trinta e sete países, o Ato Constitutivo da Unesco, que

entrou em vigor em novembro de 1946.

Page 25: A internacionalização do ensino secundário e da formação

24

Para Lourenço Filho (2004, p. 28 e 30), a Unesco reuniria “[...] os

propósitos de estudos da Educação Comparada e os de propulsão de

ação política internacional, através da educação, da ciência e da

cultura [...], além de promoção das Conferências Internacionais de

Instrução Pública”. Estas foram realizadas, anualmente, em Genebra

(Suíça), inicialmente promovidas pelo Bureau Internacional de

Educação, de 1932-1946 (com exceção dos anos de 1940-1945, devido

à Segunda Guerra Mundial), e, posteriormente, pela Unesco e pelo

Bureau Internacional de Educação, conjuntamente, de 1946 a 1961.

Não obstante, as recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública (1932 a 1939 e 1946 a 1961) foram

postulantes de apropriações de princípios e práticas, de convenções e

de formalidades entre organismos internacionais e governos nacionais

para a materialização de reformas públicas da educação

articuladamente com políticas educacionais realizadas por iniciativa das

nações partícipes da Unesco, como o Brasil.

Desde pelo menos a década de 1970, historiadores e historiadores

da educação estão dedicando seus estudos aos processos de

interações, de apropriações, de práticas e de formalidades das práticas

como fazem Michel de Certeau (1982), Roger Chartier (1990; 1995; 2007)

e Peter Burke (2010). Os estudos dos referidos processos referenciam

teórica e metodologicamente a análise das fontes documentais deste

trabalho de tese.

O historiador Michel de Certeau (1982, p. 66), ao refletir sobre o

que denominou operação histórica ou operação historiográfica, remete

para “[...] a combinação de um lugar social, de ‘práticas científicas’ e

de uma escrita”. Portanto, toda operação histórica ou historiográfica

deve articular-se com o lugar de produção, seja educacional, seja

cultural, seja socioeconômico, que já enuncia um conjunto de práticas.

Para Certeau (1982, p. 72), cada resultado individual desse

conjunto de práticas se inscreve “[...] numa rede cujos elementos

Page 26: A internacionalização do ensino secundário e da formação

25

dependem estritamente uns dos outros, e cuja combinação dinâmica

forma a história num momento dado”. Por sua vez, esse conjunto de

práticas é o que permite apreender as combinações de antes e de

depois, e as que se seguem.

Explica Certeau (1982, p. 160) que esse conjunto de práticas

define, com efeito, “[...] o campo onde se efetua o deslocamento que

irá refluir sobre as ideologias”. A dinâmica do deslocamento do conjunto

das práticas se inscreve em outros procedimentos gerais e específicos.

Por sua vez, para Certeau (1982, p. 162), estes obedecem “[...] a critérios,

classificam-se segundo categorias, visam a objetivos que mudam [...]” o

campo e que revelam formalidades das práticas. Em síntese, teoriza

Certeau:

Esta formalidade das práticas está mais ou menos de

acordo com os discursos oficiais ou teóricos; ela os

questiona já que organiza também [...] as práticas destes discursos, sem falar das práticas que eles esquecem ou

exilam (CERTEAU, 1982, p. 162).

Para o historiador francês Roger Chartier (1990), o conjunto de

práticas é o que permite as diversas formas de apropriações das

recomendações, dos códigos e dos modelos, segundo as distinções

próprias de cada grupo social. Nos termos desse historiador,

A apropriação, tal como a entendemos, tem por objetivo

uma história social das interpretações, remetidas para as

suas determinações fundamentais (que são sociais,

institucionais, culturais) e inscritas nas práticas específicas

que as produzem (CHARTIER, 1990, p. 26).

Afirma Chartier (1995, p. 184) que, em toda sociedade, “[...] as

formas de apropriação dos textos, dos códigos, dos modelos

compartilhados são tão ou mais geradoras de distinção que as práticas

próprias de cada grupo social”. Assim, a noção de apropriação, para

Chartier (1990, p. 136), pode “[...] permitir pensar diferenças na divisão,

porque postula a invenção criadora no próprio cerne dos processos de

Page 27: A internacionalização do ensino secundário e da formação

26

recepção”. Considera Chartier que essa perspectiva também procura

identificar as diferenças socialmente enraizadas, além de caracterizar as

práticas comuns e diferentemente apropriadas.

Para o historiador inglês Peter Burke, os processos de interações

culturais e de práticas de apropriações existem há muito tempo. Segundo

Burke (2010), na história do Ocidente, um dos entendimentos de

interação cultural é a ideia de imitação e, posteriormente, de

apropriação nos processos de transferências culturais por cooperações e

intercâmbios internacionais entre nações.

Menciona Burke que o entendimento de interação cultural traz

consigo a ideia de que nenhuma cultura é isolada. Todavia, desde há

muito tempo, todas as tradições culturais estão em contato mais ou

menos direto com propostas inovadoras em suas diferenças e

semelhanças, que, de alguma forma, são objetos de apropriação.

Para escrever uma história da educação do ensino secundário no

Brasil associada às reformas públicas da educação como decorrência

das políticas educacionais do período de 1931 a 1961, é indispensável

considerar, por um lado, a hegemonia dos Estados Unidos sobre os países

latino-americanos; por outro lado, as recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública e do Seminário Inter-Americano de

Educação Secundária (dirigidas para o ensino secundário) e que serão

discutidas nos capítulos seguintes.

No rigor da escrita de uma tese de doutorado, a pesquisa

referente à temática – reformas públicas e políticas educacionais para o

ensino secundário provenientes das recomendações daquelas

Conferências e Seminário Internacional – contribuiu para a definição do

objeto de estudo – as políticas escolares e educativas apropriadas pelas

autoridades educacionais do Brasil a partir das recomendações

pertinentes ao nível de ensino secundário aprovadas nas Conferências

Internacionais de Instrução Pública de 1931 a 1961, principalmente.

Page 28: A internacionalização do ensino secundário e da formação

27

Em face das distinções seletivas de apropriações por parte das

nações formalmente partícipes desses eventos internacionais, o objetivo

precípuo é, por um lado, refletir sobre a realização das reformas públicas

para o ensino secundário e as respectivas políticas educacionais; por

outro, analisar as específicas apropriações pertinentes ao ensino

secundário no Brasil, no período de 1931 (Reforma do Ensino Secundário

mediante o Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931) a 1961 (aprovação

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024 de 20 de

dezembro de 1961).

O corpus para a escrita desta tese de doutorado diz respeito à

documentação referente às recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública (1932 a 1961) e do Seminário

Internacional de Educação Secundária (1955), os relatórios constantes

dos Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1933 a 1961), além

da legislação federal produzida pelos representantes do Poder Executivo

e do Poder Legislativo. Esse corpus documental foi pesquisado no portal

do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira,

na Biblioteca Digital (Digital Library) da Organização Educativa, Científica

e Cultural das Nações Unidas (Unesco), no site do Bureau Internacional

de Educação (International Bureau of Education), no portal do Congresso

Nacional, Câmara dos Deputados e no Repositório da Legislação do

Ensino Secundário no Brasil – 1837-1971, principalmente.

A tese defendida é que a história da internacionalização do

ensino secundário brasileiro, em seus pressupostos teóricos, pedagógicos

e políticos, pode ser situada no tempo distante da primeira Conferência

Pan-Americana (1889-1890), que lançou as bases da União Pan-

Americana (criada em 1910), posteriormente Organização dos Estados

Americanos (1948), além da criação da Organização Educativa,

Científica e Cultural das Nações Unidas (1947), principal promotora,

juntamente com o Bureau Internacional da Educação, das Conferências

Internacionais de Instrução Pública.

Page 29: A internacionalização do ensino secundário e da formação

28

Esta tese de doutorado é um dos produtos do Projeto de Pesquisa

Ensino Secundário no Brasil em Perspectiva Histórico-Comparada, do

Grupo de Pesquisa História da Educação, Memória e Sociedade.

Para o alcance do que se propõe, esta tese de doutorado está

estruturada em quatro capítulos.

Capítulo Um − Ensino secundário, recomendações internacionais

e pesquisa histórica– compreende a revisão bibliográfica, o referencial

teórico-metodológico, a temática, o objeto de estudo, o objetivo, o

corpus documental, o período da investigação e a proposta da tese

propriamente dita.

O Capítulo dois – As bases institucionais da internacionalização do

ensino secundário (1932-1939) – reflete sobre os processos

interinstitucionais de interações entre as autoridades internacionais e

nacionais, com propósitos de uniformidade nas reformas públicas do

ensino secundário e, igualmente, das políticas públicas desse nível de

ensino, com as respectivas apropriações.

O Capítulo três – Políticas de cooperação para as reformas do

ensino secundário (1942-1952) – trata do conjunto dos procedimentos

formalizadores dos ideais de interamericanismo para a

internacionalização das reformas públicas e, igualmente, das políticas do

ensino secundário, em princípio levando em consideração as

Conferências Internacionais de Instrução Pública, no período seguinte à

Segunda Guerra Mundial.

O Capítulo quatro – Políticas públicas de ensino secundário e

interamericanismo (1953-1961) – reflete sobre as recomendações

concernentes ao ensino secundário em comum acordo com os ideais do

americanismo provenientes do Seminário Interamericano do Ensino

Secundário e das Conferências Internacionais de Instrução Pública.

Page 30: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Capítulo Dois

As bases institucionais da internacionalização do ensino secundário

(1931-1939)

Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Dornelles Vargas foi

empossado na chefia do Governo Provisório da República dos Estados

Unidos do Brasil, anunciando, em seu discurso de posse, um Programa de

Reconstrução Nacional, no qual a educação escolar e a saúde

sobressaíam como políticas públicas. O chefe do Governo Provisório

resumiu, assim, as ideias centrais do Programa de Reconstrução,

especialmente no tocante à educação de imediata utilidade:

[...] a difusão intensiva do ensino público, principalmente

técnico-profissional, estabelecendo, para isso, um sistema

de estímulo e colaboração direta com os Estados. Para

ambas as finalidades, justificar-se-ia a criação de um

Ministério de Instrução e Saúde Pública, sem aumento de

despesas; a instituição de um Conselho Consultivo,

composto de individualidades eminentes, e sinceramente

integradas na corrente das ideias novas (DISCURSO

PRONUNCIADO PELO DR. GETÚLIO VARGAS..., 1930, p. 18).

Em 14 de novembro de 1930, o chefe do Governo Provisório criou

uma Secretaria de Estado com a denominação de Ministério da

Educação e Saúde Pública (Decreto nº 19.402, de 14 de novembro de

1930), com atribuição de estudos e decisões em todos os assuntos

relativos ao ensino (primário, secundário, superior e outros), à saúde

pública e à assistência hospitalar. Especialmente, os assuntos relativos ao

ensino seriam da responsabilidade do Departamento Nacional do Ensino.

Para ministro da Educação e Saúde Pública, Getúlio Vargas

nomeou o educador mineiro Francisco Luís da Silva Campos. Na gestão

do ministro Francisco Campos (1930-1932), foi oficializada a reforma do

ensino secundário (Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931), dispondo

sobre a organização desse nível de ensino, com um curso fundamental

(cinco anos) e um curso complementar (dois anos, obrigatório apenas

Page 31: A internacionalização do ensino secundário e da formação

30

para a matrícula nos cursos superiores de Direito, Medicina, Farmácia,

Odontologia, Engenharia e Arquitetura); bem como sobre a seriação das

disciplinas dos dois cursos e inspeção federal, exame de admissão para

o ingresso na primeira série do ensino secundário fundamental. Por sua

vez, subordinado ao Departamento Nacional do Ensino, era criado o

serviço de inspeção das instituições de ensino secundário.

A consolidação da reforma no ensino secundário foi matéria do

Decreto nº 21.241, de 4 de abril de 1932. Por um lado, reafirmavam-se os

dois cursos (fundamental e complementar), a seriação das treze

disciplinas no fundamental (incluindo Inglês, Francês e Latim) e das

dezoito no complementar (incluindo Inglês ou Alemão e Latim, e o exame

de admissão para o ingresso na 1ª série do ensino secundário

fundamental; por outro lado, estabeleciam-se normas sobre o regime

escolar, o serviço de inspeção, o registro de professores e o Conselho

Nacional de Educação, órgão com o encargo das decisões sobre o

ensino secundário, entre outras atribuições.

Na Exposição de Motivos que acompanhou o Decreto de 1931,

oficializando a reforma do ensino secundário, o ministro Francisco

Campos expôs que a reforma desse nível de ensino conferia-lhe, de

modo distinto e acentuado, um caráter eminentemente educativo. Os

fins últimos do ensino secundário seriam, então, formar a juventude

[...] para todos os grandes setores da atividade nacional,

construindo no seu espírito todo um sistema de hábitos,

atitudes e comportamentos que o habilitem a viver por si

mesmo e a tomar, em qualquer situação, as decisões mais

convenientes e mais seguras (EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS,

1931, p. 6950).

Por conseguinte, com a crescente complexidade da vida em

sociedade industrial, cada vez mais universalizada, devido à agilidade

nos processos de interações e de trocas entre autoridades

governamentais nacionais e internacionais, era indispensável, dali por

diante, um ensino secundário essencialmente educativo e renovado,

visando formar a juventude para “[...] que venha a ser efetivamente útil

Page 32: A internacionalização do ensino secundário e da formação

31

no manejo futuro das realidades sociais e dos fatos da vida prática [...]”,

sempre em reconstrução em todas as nações (EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS,

1931, p. 6951).

O objetivo do presente capítulo é, justamente, refletir sobre os

processos interinstitucionais de interações entre as autoridades

internacionais e nacionais, com propósitos de uniformidade nas reformas

públicas do ensino secundário e, igualmente, das políticas públicas desse

nível de ensino e respectivas apropriações.

Como visto no primeiro capítulo, o Brasil, como partícipe da União

Pan-Americana, esteve, efetivamente, nas nove Conferências desse

órgão, idealizadas pelos Estados Unidos (1889-1948), que liderou a

institucionalização da União Pan-Americana, entidade destinada à

coleta e à divulgação de informações e de dados gerais sobre o

continente, além de orientar as convenções gerais e permutas

interamericanas.

No intuito de efetivar os referidos processos de interações e de

trocas entre governos nacionais e organismos internacionais −

precipuamente pela União Pan-Americana – o então diretor-geral desse

órgão, Leo Stanton Rowe, fez (possivelmente em 1931), um apelo ao

governo brasileiro (intermediado pela Embaixada Brasileira em

Washington) para que fosse criado o Serviço Nacional de Intercâmbio

Bibliográfico.

No atendimento a esse apelo, na gestão do ministro Francisco

Campos, o chefe do Governo Provisório emitiu o Decreto nº 20.529, de 16

de outubro de 1931, instituindo o Serviço Nacional de Intercâmbio

Bibliográfico, em cumprimento da Convenção de Bruxelas, de 15 de

março de 1886, em princípio com proposições internacionais e

competências nacionais.

Instituir, nas sedes da Sociedade das Nações, da União

Pan-Americana e das demais entidades internacionais,

depósitos oficiais, com as especializações que convierem

Page 33: A internacionalização do ensino secundário e da formação

32

das publicações editadas pela administração federal

brasileira.

Angariar, por meio de um movimento sistematizado de

permutas, os necessários elementos para que se formem,

na Biblioteca Nacional, na Biblioteca da Secretaria de

Estado do Ministério da Educação e Saúde Pública, e

demais livrarias das repartições e serviços federais,

estações completas, segundo os fins de cada uma, da

bibliografia oficial editada tanto no país, pela própria

União, pelos Estados e pelos municípios, como pelos países

estrangeiros.

[...]

Promover o concurso das administrações estaduais e

municipais, bem assim o da iniciativa particular, ao

enriquecimento das estações bibliográficas brasileiras que

se instituírem no exterior.

À Biblioteca Nacional caberia, portanto:

O envio regular da totalidade das publicações oficiais do

Governo Brasileiro:

a) Aos países aderentes a Convenção de Bruxelas, de 15

de março de 1886.

b) À Biblioteca da União Pan-Americana (secção

brasileira), ao Secretariado Geral da Sociedade das

Nações e às demais entidades a quem o Governo

Brasileiro, por decreto, resolva de futuro fazer idêntica

concessão.

Para o alargamento da distribuição da bibliografia oficial

brasileira, em conformidade às exigências do intercâmbio bibliográfico

com a Biblioteca da União Pan-Americana e com o Secretariado Geral

da Sociedade das Nações Unidas, entre outras instituições internacionais,

a Biblioteca Nacional conjuntamente com a Diretoria Geral de

Estatísticas e Divulgações do Ministério da Educação e Saúde Pública,

teriam como encargos:

As remessas de publicações, depois de obtida a prévia

autorização do Ministro da Educação, que solicitarem

entidades nacionais e estrangeiras [...] por intermédio de

repartições e serviços federais, tendo em vista facilitar a

essas repartições e serviços a consecução dos peculiares

objetivos de cooperação e intercâmbio intelectual ou

administrativo.

[...]

Page 34: A internacionalização do ensino secundário e da formação

33

As remessas das publicações para o exterior da República

[...], que se fará por intermédio do Serviço de Permuta

Internacional [...].

[...]

A distribuição para todas as entidades oficiais ou

particulares, nacionais ou estrangeiras, às quais, pelo

próprio interesse dos seus serviços, as repartições

distribuidoras se julguem obrigadas a fornecer os impressos

publicados.

[...]

As remessas de publicações por entidades públicas,

empresas, sociedades ou indivíduos, destinadas ao Serviço

de Intercambio Bibliográfico [...].

As bibliotecas públicas das unidades políticas da Federação

brasileira deveriam tornar-se responsáveis por:

Criar, em benefício da cultura e da administração

brasileiras, centros adequados, para depósito, nos Estados,

da bibliografia do Governo Federal.

[...]

Ofertar as principais publicações brasileiras oficiais ou

particulares, na conformidade dos recursos de que

dispuser, e visando fins de propaganda do país,

desenvolvimento da cultura nacional e cooperação

intelectual, ou o enriquecimento, por meio de permuta,

das suas coleções bibliográficas.

Por conseguinte, para o cumprimento das proposições

internacionais, bem como das competências nacionais e daquelas das

unidades políticas da Federação brasileira, de conformidade com o

Decreto nº 20.529, de 16 de outubro de 1931, o Ministério da Educação e

da Saúde Pública encarregar-se-ia de elaborar instruções

complementares para a efetivação do Serviço Nacional de Intercâmbio

Bibliográfico.

Nesse mesmo ano de 1931, o chefe do Governo Provisório

juntamente com o ministro da Educação e Saúde Pública assinaram o

Decreto nº 19.850, de 11 de abril de 1931, criando o Conselho Nacional

de Educação (órgão consultivo do Ministério da Educação e Saúde

Pública nos assuntos relativos ao ensino). Uma das atribuições

fundamentais desse Conselho consistia em fixar as diretrizes gerais do

Page 35: A internacionalização do ensino secundário e da formação

34

ensino primário, do secundário, do ensino técnico e do superior, visando,

acima de tudo, ao estado então presente da civilização e da cultura do

país. Determina essa legislação:

Art. 1º Fica instituído o Conselho Nacional de Educação,

que será o órgão consultivo do ministro da Educação e

Saúde Publica nos assuntos relativos ao ensino.

Art. 2º O Conselho Nacional de Educação destina-se a

colaborar com o Ministro nos altos propósitos de elevar o

nível da cultura brasileira e de fundamentar, no valor

intelectual do indivíduo e na educação profissional

apurada, a grandeza da Nação.

[...]

Art. 3º O órgão de que tratam os artigos anteriores será

constituído de conselheiros, nomeados pelo Presidente da

República e escolhidos entre nomes eminentes do

magistério efetivo ou entre personalidades de

reconhecida capacidade e experiência em assuntos

pedagógicos.

§ 1º Os membros do Conselho Nacional de Educação

serão escolhidos de acordo com os seguintes itens:

[...]

IV - Um representante do ensino secundário federal; um do

ensino secundário estadual equiparado e um do particular

também equiparado.

[...]

Art. 5º Constituem atribuições fundamentais do Conselho:

[...]

Firmar as diretrizes gerais do ensino primário, secundário,

técnico e superior, atendendo, acima de tudo, os

interesses da civilização e da cultura do país (DECRETO Nº

19.850, DE 11 DE ABRIL DE 1931).

A determinação de firmar diretrizes gerais, especialmente para o

ensino secundário, atendendo, prioritariamente, aos interesses da

civilização e de uma cultura educativa internacionalizada seria, em

princípio, derivada das recomendações das Conferências Internacionais

de Instrução Pública, inicialmente, no período de 1932 a 1939,

promovidas pelo Bureau Internacional de Educação, na cidade de

Genebra (sede do Instituto Rousseau), como visto a seguir.

Page 36: A internacionalização do ensino secundário e da formação

35

Conferências Internacionais de Instrução Pública (1932-1939)

Em julho de 1932, o Bureau Internacional de Educação (órgão

criado pelo Instituto Rousseau, em 1925, conforme destacado no primeiro

capítulo) promoveu a primeira Conferência Internacional de Instrução

Pública – segundo a publicação da Unesco (1979) The International

Bureau of Education in the service of educational development –

especialmente com ministros da Educação Pública das nações-

membros do Bureau: Checoslováquia, Equador, Egito, Suíça, Polônia e

Espanha), sob a presidência do Conselho da Entidade.

Para essa primeira Conferência, as autoridades educacionais de

trinta e cinco nações remeteram relatórios condizentes com seus sistemas

educacionais, que foram, formalmente, apresentados pela secretária-

geral do Bureau, Miss Marie Butts. Ao diretor do Bureau Internacional de

Educação, o suíço Jean William Fritz Piaget, coube a exposição de vinte

e quatro relatórios das nações que integravam o Anuário Internacional

de Educação e Ensino (1933), publicação, já referida, do Bureau

Internacional de Educação.

Em julho de 1933, o Bureau Internacional de Educação promoveu

a segunda Conferência Internacional de Instrução Pública, igualmente

destinada aos integrantes das nações-membros do Bureau

(Checoslováquia, Equador, Egito, Suíça, Polônia e Espanha), novamente

presidida pelo Conselho da entidade. Para essa Conferência, as

autoridades educacionais de, aproximadamente, vinte nações

enviaram relatórios sobre seus sistemas educacionais, os quais

constituíram, apenas, matéria de debate da Conferência.

Para a terceira Conferência Internacional de Instrução Pública

(julho de 1934) o diretor do Bureau Internacional de Educação expediu

um convite formal da entidade para que as nações se fizessem

representar por meio de seus ministros da Educação. Assim, fizeram-se

presentes delegados de 53 nações. A nação brasileira foi representada

Page 37: A internacionalização do ensino secundário e da formação

36

por Carlos de Carvalho e Souza, funcionário do Ministério das Relações

Exteriores.

As principais recomendações dessa terceira Conferência

Internacional de Instrução Pública, especialmente aquelas dirigidas para

o ensino secundário, diziam respeito à articulação entre o ensino primário

e os ensinos secundários, além da gratuidade deste nível de ensino.

Maior coordenação entre o ensino primário e os ensinos secundários de maneira a permitir − sobretudo durante os

primeiros anos de estudos − passagem facilitada de uma

categoria de ensino a outra.

[...]

Apesar da complexidade que a gratuidade apresenta em

seus diversos aspectos nos diferentes países, julga que as

anuidades escolares nunca deveriam ser empecilho para

o aluno cursar estudos secundários (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 2, 1934, p. 3).

Na quarta Conferência Internacional de Instrução Pública (1935),

somente delegados de 47 nações compareceram. O Brasil foi um dos

países que não estava representado nessa Conferência.

Por sua vez, considerando-se as Resoluções do Bureau

Internacional de Educação, da Comissão Internacional de Cooperação

Intelectual e Reuniões Pedagógicas Internacionais e que, na maioria dos

países partícipes dessas Conferências Internacionais, o ensino secundário

encontrava-se em reformas, as recomendações para esse nível de ensino

no tocante à preparação pedagógica e à formação geral dos futuros

professores estão assim sintetizadas:

Os futuros professores secundários necessitam adquirir uma

formação científica bastante desenvolvida, ministrada em

instituições universitárias ou em estabelecimentos de

ensino superior; por conseguinte, lembra que essa

formação científica comporta obrigatoriamente

especialização.

[...]

Os futuros professores necessitam do conhecimento da

teoria pedagógica, cuja importância convém salientar,

Page 38: A internacionalização do ensino secundário e da formação

37

abrangendo a psicologia do adolescente e métodos

modernos de avaliação da aprendizagem.

[...]

A formação dos futuros professores do ensino secundário

feminino deve levar em conta a influência que as alunas

irão exercer no lar e que a formação e os programas do

ensino secundário feminino compreendam a economia

doméstica, a higiene, a puericultura e a educação

familiar.

[...]

A duração dos estudos deve favorecer conciliação entre

as exigências do preparo geral e as de preparo

pedagógico teórico e prático (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 5, 1935, p. 7).

Na quinta Conferência Internacional de Instrução Pública (1936),

seja pelos convites formalizados às autoridades nacionais, seja pela

discussão sobre as reformas públicas da educação e, igualmente, sobre

as políticas públicas com elas condizentes, estiveram presentes 52

representantes de nações. O Brasil, mais uma vez, não esteve

representado. No entanto, essa quinta Conferência não se deteve na

discussão sobre o ensino secundário, consequentemente na indicação

de recomendações para esse nível de ensino.

Na sexta Conferência Internacional de Instrução Pública (1937),

os 57 delegados das nações partícipes (com exceção da nação

brasileira), priorizaram como recomendação para o ensino secundário,

por um lado, a formação psicológica dos futuros educadores, integrada

com os estudos da formação pedagógica no preparo didático do

ensino:

Aos futuros educadores seja proporcionada sólida

formação psicológica integrada nos estudos de formação

pedagógica geral e em particular, no preparo didático

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 12, 1937, p. 17).

Por outro lado, promover o aperfeiçoamento profissional dos

inspetores do ensino secundário, bem como sua liberdade de atuação:

Page 39: A internacionalização do ensino secundário e da formação

38

Que sejam oferecidas facilidades aos inspetores para se

manterem a par dos programas da pedagogia moderna,

por meio de viagens ao estrangeiro, estágios e cursos

especiais, de colaboração com os professores de Institutos

Pedagógicos e de Escolas Normais.

[...]

Que reuniões e conferências de Inspetores sejam

realizadas, a fim de definir pontos de vista compatíveis

com a liberdade de ação de cada um (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 10, 1937, p. 15).

Na sétima Conferência Internacional de Instrução Pública (1938),

os delegados de 61 nações (o Brasil não indicou delegado), observando

a premissa de que cada povo deve conhecer as civilizações que

exerceram influência sobre sua própria história humana e social,

recomendaram:

Na medida em que o permitirem as exigências das

humanidades modernas e os estudos de caráter científico,

deve-se reservar tempo suficiente para o estudo das

civilizações que exerceram influência marcante sobre a

cultura do país interessado.

[...]

Em todos os países ligados inteira ou parcialmente à

civilização ocidental, deve ser atribuída importância

relevante ao estudo das civilizações antigas.

[...]

Esse estudo não deve compreender apenas o

conhecimento da arte da civilização através de seus

vestígios arquitetônicos; supõe igualmente a

compreensão do modo de vida e de pensar, consignados

nas obras escritas (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE

INSTRUÇÃO PÚBLICA, RECOMENDAÇÃO Nº 14, 1938, p. 21).

Os delegados dessa Conferência, observando que os manuais de

ensino, para todas as matérias de todos os níveis, eram auxílio

indispensável aos mestres, recomendaram a produção desses manuais e

as atribuições relativas ao aperfeiçoamento e à fiscalização para o

devido uso.

Os manuais de ensino devem corresponder a três

categorias de exigências: pedagógicas (fundamentação

científica e métodos), técnicas (condições materiais de

Page 40: A internacionalização do ensino secundário e da formação

39

elaboração e de impressão) e econômicas (preço de

venda).

Nos países em que o ensino é dirigido ou controlado pelo

Estado, deve caber a esse as medidas próprias a assegurar

o aperfeiçoamento dos manuais de ensino, bem como a

fiscalização de seu uso. Esse encargo, nos outros países,

cabe às autoridades às quais as escolas estão

subordinadas (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE

INSTRUÇÃO PÚBLICA, RECOMENDAÇÃO Nº 14, 1938, p. 22).

A oitava Conferência Internacional de Instrução Pública (1939), a

última realizada antes da II Guerra Mundial (1939-1945), teve a presença

de delegados de 60 nações, entre eles, o delegado brasileiro, Francisco

de Aquino Correia (arcebispo de Cuiabá, Mato Grosso). Nessa

Conferência, em princípio, foi abordada a igualdade de condições de

trabalho e de vencimentos de professores e professoras do ensino

secundário. As recomendações para o ensino secundário foram

concernentes aos direitos socioeducacionais e trabalhistas e ao ingresso

em cursos de aperfeiçoamento e em intercâmbios, além de subsídios

para viagens de estudos em outras nações.

Em função das possibilidades financeiras do país, os

professores devem receber remuneração condizente à

importância de sua função, igualando-os aos funcionários

de nível social correspondente (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 16, 1939, p. 24).

As autoridades escolares devem favorecer o

aperfeiçoamento dos professores [do ensino secundário],

concedendo-lhes subsídios para viagens ao estrangeiro,

estabelecendo intercâmbio de professores e organizando

cursos de férias (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE

INSTRUÇÃO PÚBLICA, RECOMENDAÇÃO Nº 18, 1939, p. 29).

As recomendações dessas Conferências Internacionais de

Instrução Pública (1932-1939), submetidas às autoridades das nações

partícipes de entidades internacionais (Organização dos Estados

Americanos, Bureau Internacional de Educação, por exemplo), podem

ser qualificadas, como induz Chartier (1990), como um conjunto de

Page 41: A internacionalização do ensino secundário e da formação

40

disposições formalizadoras de práticas educacionais remetido às

apropriações das autoridades nacionais, visando, essencialmente, à

uniformidade nas reformas públicas do ensino em geral e, igualmente,

nas políticas públicas adotadas pelas nações, o que será averiguado

tanto nos Anuários Internacionais da Educação e do Ensino, publicados

pelo Bureau Internacional de Educação, quanto na legislação

educacional brasileira do ensino secundário de 1931 a 1941.

Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1933-1939)

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino − publicação

anual do Bureau Internacional de Educação (1933-1946) e

posteriormente, do Bureau Internacional de Educação em conjunto com

a Organização de Educação, Ciência e Cultura das Nações Unidas

(1947-1969) – prioritariamente, destinava-se a divulgar os relatórios das

autoridades governamentais das nações partícipes das Conferências

Internacionais; ou seja, as específicas apropriações das recomendações

para a educação e o ensino em geral.

Em face da dimensão histórica desta tese de doutorado, faz-se

necessário, mediante os Anuários Internacionais da Educação e do

Ensino, centrar-se nas convenientes apropriações das recomendações

das Conferências Internacionais de Instrução Pública, especialmente

para o ensino secundário, por parte das autoridades brasileiras.

Conforme assinalado, o primeiro Anuário Internacional da

Educação e do Ensino (1933) publicou os relatórios de 35 nações, exceto

da nação brasileira, que não enviou relatório. Na introdução do primeiro

Anuário, o diretor-adjunto do Bureau Internacional de Educação, Pedro

Rosselló, assim se expressou:

Esta primeira edição do Anuário não pode ser mais do que

um experimento e um ensaio. Nos próximos anos,

esperamos poder fornecer dados mais completos, não

apenas com um número maior de países, mas também

Page 42: A internacionalização do ensino secundário e da formação

41

com mais estatísticas, que estão muito incompletas este

ano. As sugestões de nossos leitores − que desejamos

sejam muitas − nos ajudarão a melhorar as edições futuras

(ROSSELLÓ, 1933, p. 6).

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1934) difundiu

os relatórios de 53 nações partícipes das Conferências Internacionais de

Instrução Pública. O relatório enviado pelas autoridades brasileiras para

essa publicação apresentava dados quantitativos (embora incompletos)

referentes à matrícula de alunos e alunas das escolas públicas e

particulares do ensino secundário em todo o Brasil (no ano de 1932),

almejados pelo Bureau Internacional de Educação.

Conforme esse Anuário (1934), o registro da matrícula do ano de

1932 nas 394 escolas de ensino secundário (58 públicas e 336 particulares)

em todo o Brasil computou 56.208 alunos (46.087 homens e 10.121

mulheres). As 58 escolas públicas secundárias matricularam 15.903

estudantes (12.633 homens e 3.270 mulheres), enquanto as 336 escolas

particulares secundárias matricularam 40.305 estudantes (33.454 homens

e 6.851 mulheres). Em termos percentuais, as matrículas nas escolas

públicas de ensino secundário corresponderam a 28,30% de alunos

(79,44% homens e 20,56% mulheres) e a das escolas particulares 71,70%

(83% homens e 17% mulheres).

A apreciação das autoridades brasileiras concernente às

dificuldades do desenvolvimento da educação pública e de sua

expansão nacional foi matéria desse Anuário Internacional da Educação

e do Ensino:

Os problemas da educação, que atingem em todos os

países de importância considerável, no Brasil uma questão

crucial, e poderíamos acrescentar que o desenvolvimento

da educação e da educação pública é, sem dúvida, seu

problema de capital. Além disso, o governo brasileiro fez

todos os esforços para aumentar e melhorar a educação

em todos os estados, apesar das grandes dificuldades que

surgem da nossa extensão territorial enorme, e nossa

população esparsa. [...] As dificuldades financeiras do

presente momento contribuem também para impedir a

Page 43: A internacionalização do ensino secundário e da formação

42

ação do governo federal (O MOVIMENTO EDUCATIVO,

1932/1934, p. 72).

Considerando que as reformas públicas do ensino secundário

foram objeto de discussão da segunda Conferência Internacional de

Instrução Pública (1935), as autoridades brasileiras ressaltaram, no

relatório divulgado pelo Anuário (1934), a reforma do ensino secundário

promovida em 1931(Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931).

Na correspondência entre recomendação e apropriação para o

nível secundário, o relatório das autoridades brasileiras discorreu sobre a

consolidação da reforma desse nível de ensino (Decreto nº 21.241, de 4

de abril de 1932), promovida na época de Francisco Campos no

Ministério da Educação e Saúde Pública. Uma das disposições

dissertadas teria sido os cursos seriados constantes da nova organização

do ensino secundário daquele ano de 1931:

[Os] dois cursos divididos em série são: o curso

fundamental e o curso complementar. O primeiro inclui um

período de 5 séries, considerado indispensável do ponto

de vista geral. O curso complementar em duas séries deve

ser orientado de acordo com a faculdade superior que o

aluno propõe seguir (O MOVIMENTO EDUCATIVO,

1932/1934, p. 74).

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1935)

socializou, integralmente, os relatórios enviados por 47 nações. O relatório

das autoridades brasileiras elegeu a política de expansão do ensino

secundário do ano de 1933, considerando os registros das matrículas

gerais.

Conforme o relatório das autoridades brasileiras, a matrícula nas

412 escolas de ensino secundário em todo o Brasil (63 públicas e 349

particulares) foi de 66.420 estudantes (52.909 homens e 13.511 mulheres).

Nas 63 escolas públicas secundárias, matricularam-se 17.693 estudantes

(13.063 homens e 4.630 mulheres). Por sua vez, as 349 escolas particulares

secundárias especificaram 48.727 estudantes (39.846 homens e 8.881

Page 44: A internacionalização do ensino secundário e da formação

43

mulheres). Em termos percentuais, a matrícula, nas escolas públicas de

ensino secundário, correspondeu a 26,64% do total de matrículas (74%

homens e 26% mulheres) e, na rede particular de ensino, a 73,36% (73,83%

homens e 26,17% mulheres).

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1936) divulgou

os relatórios de 52 nações, incluindo o da nação brasileira, que se

centrou, mais uma vez, na política de expansão do ensino secundário

relativa à matrícula do ano de 1934.

Em 1934, a matrícula geral nas 447 escolas de ensino secundário

no Brasil (72 públicas e 375 particulares) foi de 76.740 estudantes (55.786

homens e 20.954 mulheres). As 72 escolas públicas secundárias

matricularam 22.049 estudantes (13.623 homens e 8.426 mulheres). As 375

escolas particulares secundárias matricularam 54.691 (42.163 homens e

12.528 mulheres). Em termos percentuais, a matrícula, nas escolas

públicas de ensino secundário, equivaleu a 28,73% do total de alunos

(61,79% homens e 38,21% mulheres), enquanto, nas escolas particulares,

foi 71,70% (77,09% homens e 22,91% mulheres).

Nesse relatório das autoridades brasileiras, há o registro

concernente à recomendação sobre a gratuidade no ensino secundário

(matéria da Conferência Internacional de Instrução Pública de 1934),

apropriada para todos os níveis e graus do ensino público no Brasil.

O plano nacional de educação estipula o ensino primário

gratuito e obrigatório; a educação pós-primária também

deve ter como objetivo a educação gratuita. Sujeito às

disposições da legislação federal, a liberdade de

educação é garantida em todos os ramos e em todos os

graus (ENSINO GRATUITO, 1936, p. 88).

Os Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1937 e 1938)

levaram ao conhecimento público os relatórios de 57 e de 61 nações,

respectivamente. Pelo fato de o Brasil não haver enviado relatórios nesses

anos, o Comitê Executivo do Bureau Internacional de Educação reeditou

o relatório do ano de 1936.

Page 45: A internacionalização do ensino secundário e da formação

44

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1939),

publicado anteriormente à deflagração da Segunda Guerra Mundial

(1939-1945), difundiu os relatórios de 53 nações, incluindo o relatório

brasileiro. Por esse Anuário, fez-se conhecer uma das apropriações

relativas à inspeção do ensino secundário brasileiro referente a seu

gerenciamento eficiente (matéria da Conferência Internacional de

Instrução Pública de 1937). Nos termos desse relatório brasileiro,

Se o novo regime inaugurado pela Lei 378, de 13 de janeiro

de 1937 [que dava uma nova organização ao Ministério

da Educação e Saúde Pública] ainda não pode concluir

seu trabalho criando delegações escolares, pelo menos

no que diz respeito à educação do ensino secundário em

um país tão vasto [esse regime] foi capaz de alcançar os

benefícios de um gerenciamento mais seguro e eficiente

[sistema de inspeção] base essencial para a eficácia da

educação formalizada (ENSINO SECUNDÁRIO, 1939, p.

101).

O relatório das autoridades da nação brasileira (enviado pelo

ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema Filho),

conforme o Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1939)

manteve a divulgação da política de expansão da matrícula geral e do

ensino secundário nas escolas públicas e particulares no ano de 1936.

A progressiva política de expansão da matrícula do ensino

secundário apresentava relação mútua com o aumento da rede escolar,

principalmente das escolas particulares. Nesse ano de 1936, a matrícula

geral, nas 510 escolas de ensino secundário, no Brasil (96 públicas e 414

particulares), respondeu por 104.403 estudantes (68.571 homens e 35.832

mulheres). Em relação às 96 escolas secundárias públicas, a matrícula foi

de 31.079 estudantes (17.365 homens e 13.714 mulheres), enquanto, nas

414 escolas secundárias particulares, totalizou 73.324 estudantes (51.206

homens e 22.118 mulheres). Os valores percentuais, para a primeira

(pública), são 29,74% (55,9% homens e 44,1% mulheres) e, para a segunda

(particular), 70,23% (69,84% homens e 30,16% mulheres).

Page 46: A internacionalização do ensino secundário e da formação

45

Nos anos de 1932 a 1934 e 1936, a política de expansão do ensino

secundário, em todo o Brasil, pode ser, assim, representada em valores

absolutos e relativos, segundo os dados de matrículas: 1932, 56.208

estudantes; 1933, 66.420 estudantes (15,38% a mais em relação a 1932);

1934, 76.740 estudantes (13,45% a mais em relação a 1933); 1936, 104.403

estudantes (26,50% a mais em relação a 1934). Assim, no período

compreendido entre 1932 (56.208 estudantes) e 1936 (104.403

estudantes), a política de expansão do ensino secundário no Brasil

configurou um aumento de 48.195 estudantes, ou 85,74%.

O Censo Demográfico do Brasil de 1940 trazia os valores absolutos

e os percentuais da população na faixa etária de 15 a 19 anos do ano

de 1920: 4.217.917 ou 13,17% da população geral. Já em 1936, havia

104.403 jovens matriculados no ensino secundário, o que representava

apenas 2,47% da população escolar daquela faixa etária.

Os relatórios das autoridades da Argentina e do Chile –

publicados nos Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1937 e

1939) – traziam, até para fim de comparação no plano internacional,

dados quantitativos da matrícula geral (ano 1935), principalmente das

escolas públicas de ensino secundário. Na Argentina, nas 53 escolas

secundárias públicas havia uma matrícula de 22.226 alunos. No Chile, nas

86 escolas secundárias públicas havia uma matrícula de 28.117 alunos.

Enquanto isso, no Brasil (ano 1936), nas 96 escolas secundárias públicas, a

matrícula foi de 31.079 alunos.

Indiscutivelmente, a publicação de estatísticas educacionais,

para o fim de comparação entre nações, conforme Popkewitz e Lindblad

(2001), é um fenômeno simultâneo, posterior e também anterior à

Segunda Guerra Mundial. Pelas explicações dos autores,

Elas visam construir uma fonte comparativa de dados a

respeito da interação aparente de sociedades

diversificadas. [A estatística] comparativa que tem

‘traduzibilidade’ torna mensuráveis os diversos arranjos

sociais [...] (POPKEWITZ; LINDBLAD, 2001, p. 119).

Page 47: A internacionalização do ensino secundário e da formação

46

À luz desses autores, quando se lêem os relatórios de estatísticas

nacionais e internacionais vinculados às políticas de expansão do ensino

secundário divulgados nos Anuários Internacionais da Educação e do

Ensino, as pretensões últimas eram tanto uniformizar os sistemas

educacionais quanto impulsionar os estudos comparativos da educação

em geral.

Um dos propósitos do Bureau Internacional de Educação e da

Unesco era promover estudos comparativos da educação em geral,

conforme ratificou Lourenço Filho (2004, p. 29), para quem a Unesco seria

“[...] um centro de informações e de estudos comparados, conferências

sobre problemas gerais e seminários para estudo de problemas

regionais”.

Sucede que, na própria introdução do Anuário Internacional da

Educação e do Ensino (ano de 1936), o diretor-adjunto do Bureau

Internacional de Educação, Pedro Rosselló (1936, p. 6), ressaltava os

propósitos desse órgão em relação aos estudos comparados, que seriam

“[...] fonte de documentação para autoridades escolares, educadores e

interessados nos problemas da pedagogia comparada”. É claro que,

ainda, para fins de estudos comparativos, no plano internacional, das

apropriações das recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública levadas a efeito por parte das nações.

Apropriações das recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública para o ensino secundário no Brasil (1932-1939)

Tendo em vista mencionar as específicas apropriações das

recomendações das Conferências Internacionais de Instrução Pública

por parte das autoridades da nação brasileira para o ensino secundário

(1932 a 1939), foi elaborado um painel associando cada recomendação

(minimamente transcrita) com a respectiva política pública de

educação formalizada mediante disposições legais.

Page 48: A internacionalização do ensino secundário e da formação

47

Ano Recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública Disposições legais

1934

A gratuidade é apresentada em

seus diversos aspectos nos

diferentes países. Julga-se que as

anuidades escolares nunca

deveriam ser empecilho para o

aluno cursar estudos secundários.

Decreto n° 22.784, de 30 de maio de

1933. Reduz as taxas de

emolumentos nos estabelecimentos

federais de ensino secundário e

superior e dá outras providencias.

1938

Na medida em que o permitirem as

exigências das humanidades

modernas, deve-se reservar tempo

suficiente para o estudo das

civilizações que exerceram

influência marcante sobre a cultura

do país interessado.

Reforma do Ensino Secundário

(Decreto nº 19.890, de 18 de abril de

1931) – as disciplinas pertinentes ao

estudo das civilizações passam a

compreender

História da Civilização (1ª a 5ª séries)

e História Natural (3ª a 5ª séries),

formalizadas nessa reforma do

ensino secundário de 1931.

1938

Os manuais de ensino devem

corresponder a três categorias de

exigências: pedagógicas técnicas e

econômicas.

Decreto-Lei n° 1.006, de 30 de

dezembro de 1938. Estabelece as

condições de produção,

importação e utilização do livro

didático.

Decreto-Lei nº 1.417, de 13 de julho

de 1939. Dispõe sobre o regime do

livro didático.

Portaria nº 253 de 24 de dezembro

de 1940. Baixa instruções para

funcionamento da Comissão

Nacional do Livro Didático.

1938

Nos países em que o ensino é

dirigido ou controlado pelo Estado,

devem caber a esse as medidas

próprias a assegurar o

aperfeiçoamento dos manuais de

ensino bem como a fiscalização de

seu uso.

Decreto-Lei n° 1.417 de 13 de julho

de 1939. Dispõe sobre o regime do

livro didático.

Decreto-Lei n° 3.580, de 3 de

setembro de 1941. Dispõe sobre a

Comissão Nacional do Livro

Didático e dá outras providências.

Fonte: Repositório da Legislação do Ensino Secundário no Brasil (1837-1971)

As referidas apropriações das recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública, por parte das autoridades da nação

brasileira, para o ensino secundário (1932 a 1939), corresponderiam, pois,

Page 49: A internacionalização do ensino secundário e da formação

48

a índices de legitimidade conferidos aos organismos internacionais

promotores dessas Conferências Internacionais – o Bureau Internacional

de Educação e a Organização Educativa, Científica e Cultural das

Nações Unidas.

Ademais, as apropriações, em geral, das recomendações

envoltas de substratos teóricos liberais e de fundamentos da Pedagogia

Nova (por exemplo) representavam fator de uniformidade consentâneo

às políticas públicas de educação por parte das nações-membros

daqueles organismos internacionais.

Essa uniformidade de políticas públicas representava os processos

de interações relativas às recomendações internacionais e às legislações

nacionais, como teorizou o historiador francês Roger Chartier (2007, p. 81),

ao discutir as interações culturais entre as ideias globais e as locais no

sentido de uma “[...] união indissociável do global com o local, levando

alguns a propor a noção de ‘glocal’, que é o processo de apropriação

das referências locais e globais, partilhadas”.

Para Chartier (1995), diferentes fenômenos globais resultam dos

processos de recepção distintos por parte das nações. Portanto, as

diversas formas de apropriações das recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública seriam produzidas em virtude de um

conjunto de práticas distintas promovidas por cada nação específica,

como o Brasil.

As recomendações das Conferências Internacionais de Instrução

Pública (1942-1952) e as apropriações a que se destinavam as nações em

concordância com os ideais de interamericanismo serão objeto de

estudo do próximo capítulo.

Page 50: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Capítulo Três

Políticas de cooperação para as reformas do ensino secundário

(1942-1952)

Em 9 de abril de 1942, na gestão do ministro da Educação e

Saúde, Gustavo Capanema Filho, entrava em vigor a Lei Orgânica do

Ensino Secundário (Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942),

estabelecendo as novas bases da organização do ensino secundário

para as novas gerações estudantis: a princípio, um curso ginasial (quatro

anos) e um colegial (compreendendo os cursos clássico e científico, com

a duração de três anos).

No curso ginasial, os discentes deveriam estudar três línguas

estrangeiras: inglês, francês e latim. No curso clássico do colegial, eles

cumpririam os estudos de cinco línguas estrangeiras: inglês, francês,

espanhol, latim e grego; já no curso científico do colegial, as línguas

estrangeiras estudadas seriam inglês, francês e espanhol.

Conforme essa Lei Orgânica do Ensino Secundário, os professores

de Educação Moral e Cívica deveriam levar a efeito a principal

finalidade do ensino secundário,

[...] formar as individualidades condutoras, pelo que força

desenvolver nos alunos a capacidade de iniciativa e de

decisão e todos os atributos fortes da vontade, [...] a

compreensão da continuidade histórica do povo

brasileiro, de seus problemas e desígnios, e de sua missão

em meio aos outros povos (LEI ORGÂNICA DO ENSINO

SECUNDÁRIO, 1942, p. 5798).

Na Exposição de Motivos que acompanhou o Decreto-Lei nº

4.244, de 1942, oficializando a reforma do ensino secundário, o ministro

da Educação e Saúde assim exaltava a destinação da preparação das

individualidades condutoras por meio desse nível de ensino, isto é,

daqueles homens

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50

[...] que deverão assumir as responsabilidades maiores

dentro da sociedade e da nação, dos homens portadores

das concepções e atitudes espirituais que é preciso

infundir nas massas, que é preciso tornar habituais entre o

povo. Ele [o ensino secundário] deve ser, por isto, um

ensino patriótico por excelência, e patriótico no sentido

mais alto da palavra, isto é, um ensino capaz de dar aos

adolescentes a compreensão da continuidade histórica

da pátria, a compreensão dos problemas e das

necessidades, da missão dos ideais da nação [...], além

disto, de criar, no espírito das gerações novas, a

consciência da responsabilidade diante dos valores

maiores da pátria, a sua independência, a sua ordem, o

seu destino (EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS, 1942, p. 5798).

Concomitante às reformas no ensino secundário (por

recomendação das Conferências Internacionais de Instrução Pública),

as novas bases das políticas internacionais eram discutidas e, ademais,

acordadas por ministros de Negócios das Relações Exteriores de

repúblicas latino-americanas. Assim, nesse mesmo ano (em 15 de janeiro

de 1942), foi realizada, na cidade do Rio de Janeiro, a III Reunião de

Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas

Americanas, com chanceleres da Argentina, do Brasil (ministro Oswaldo

Aranha), do Chile, da Costa Rica, dos Estados Unidos, do Haiti, da

Nicarágua, do Panamá, da República Dominicana, de São Salvador, do

Uruguai e da Venezuela.

Um dos itens da pauta dessa III Reunião de Chanceleres não seria

outro senão a cooperação mútua para o fortalecimento político e

econômico das nações americanas durante e após a Segunda Guerra

Mundial (1939-1945). O chanceler Argentino Ruiz Guinazu – um dos

entrevistados pelo Jornal Correio da Manhã (14 de janeiro de 1942), do

Rio de Janeiro – fez referência ao programa de fortalecimento

econômico, com seus projetos comuns visando ao desenvolvimento das

nações americanas.

Outro item da pauta dessa Reunião de Chanceleres foi a

ratificação da criação do Serviço Especial de Saúde Pública, instituído

durante a Segunda Guerra Mundial (1942), por meio de um convênio

Page 52: A internacionalização do ensino secundário e da formação

51

entre o Estado brasileiro e o norte-americano, este representado pelo

Instituto de Assuntos Interamericanos. No parecer de Hochman (2001),

esse convênio entre as duas nações reforçava a intensificação da

presença e da força política americana tanto no contexto da Segunda

Guerra Mundial quanto na América Latina.

Já no Reino Unido (1942), o presidente do Conselho de Educação,

Richard Austen Butler, e o presidente do Conselho Britânico, Sir Malcolm

Robertson, coordenaram, na cidade de Londres, a Conferência de

Ministros Aliados da Educação, com representantes da França, da União

Soviética, dos Estados Unidos e do próprio Reino Unido, conforme o

programa da Conference of Allied Ministers of Education (publicado no

site de arquivos históricos da Unesco). Essa Conferência de Ministros

Aliados da Educação visaria, daí em diante, discutir as reformas públicas

e o fortalecimento dos sistemas de ensino das nações americanas e das

aliadas − comumente matéria de estudo, apreciação e recomendação

por parte do Bureau Internacional de Educação, da Comissão

Internacional de Cooperação Intelectual e das Conferências

Internacionais de Instrução Pública.

Por sua vez, com a instalação da Organização das Nações Unidas

(ONU, 1945), da Organização Educativa, Científica e Cultural das Nações

Unidas (Unesco, 1947) e da Organização dos Estados Americanos (OEA,

1948), além dos empreendimentos do Bureau Internacional da

Educação, vigoraria, com mais intensidade, a cooperação mútua para

a concordância de ideais de interamericanismo na amplitude dos

sistemas educacionais nacionais. Para isso, mediante os acordos de

cooperação com o Bureau Internacional da Educação, foram

reiniciadas as Conferências Internacionais de Instrução Pública após o

término da Segunda Guerra Mundial.

O objetivo do presente capítulo é, justamente, refletir sobre o

conjunto dos procedimentos formalizadores dos ideais de

interamericanismo para a internacionalização das reformas públicas e,

Page 53: A internacionalização do ensino secundário e da formação

52

igualmente, das políticas do ensino secundário, em princípio levando em

consideração as Conferências Internacionais de Instrução Pública, no

período seguinte à Segunda Guerra Mundial.

Conferências Internacionais de Instrução Pública (1946-1952)

Em julho de 1946, na cidade de Genebra, o Bureau Internacional

de Educação promoveu a nona Conferência Internacional de Instrução

Pública, convidando a Unesco para ser partícipe, a qual foi representada

por Howard Wilson (vice secretário-geral) e por Kuo Shou (conselheiro

sênior).

Na nona Conferência, estiveram presentes delegados de 35

nações (na Conferência Internacional de Instrução Pública de 1939 havia

delegados de 60 nações). O Brasil foi uma das nações não representadas

nessa Conferência.

As recomendações dessa Conferência Internacional de Instrução

Pública, direcionadas para o ensino médio em geral e para o ensino

secundário especialmente, voltaram-se para a efetivação do princípio

da igualdade social de todos os jovens quanto ao direito a esse nível de

ensino. Nesse sentido, diz-se:

[...] deve dar-se grande importância à atribuição de uma

ajuda financeira eficaz aos alunos bem dotados que não

disponham de recursos necessários; não só se deve

conceder-lhes matrículas gratuitas e outorgar empréstimos

ou bolsa de estudo que cubram a maior proporção

possível o custo dos estudos [...] e pôr-se-á ao alcance

destes alunos os meios complementares de cultura e

informação que não encontram no meio em que vivem

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 19, 1946, p. 31).

Na décima Conferência Internacional de Instrução Pública (1947),

com delegados de 44 nações (o Brasil não designou delegado), em

razão do princípio da educação integral e do desenvolvimento

harmônico do aluno do ensino secundário, foi recomendada a

Page 54: A internacionalização do ensino secundário e da formação

53

obrigatoriedade da prática de educação física como valor indispensável

à formação humana integral do adolescente. Em face dessa exigência

escolar, a recomendação era:

A Educação Física deve ser ministrada obrigatoriamente

em todas as classes de ensino secundário, em qualquer

tipo de escola a que pertençam.

[...]

É necessário que as escolas secundárias disponham de

salas de ginástica, e ginásios suficientes para jogos e

esportes, adequados e que satisfaçam as mais modernas

exigências higiênicas (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE

INSTRUÇÃO PÚBLICA, RECOMENDAÇÃO Nº 22, 1947, p. 35-

36).

Na décima primeira Conferência Internacional de Instrução

Pública (1948), com 44 delegados de nações (o Brasil não indicou

delegado), os representantes, considerando que uma das principais

finalidades da educação moderna era a preparação do estudante para

se tornar partícipe na construção de uma comunidade mundial, com

propósitos comuns, propuseram, como recomendação para a

educação da juventude dos cursos secundários e médios, o seguinte:

Que todo o ensino contribua para a educação do

sentimento e da idéia de solidariedade internacional.

[...]

Que os sentimentos de solidariedade internacional no

tempo e no espaço, baseados no respeito mútuo dos

povos, sejam cultivados por todos os meios possíveis, tais

como a comemoração da memória dos grandes pioneiros

do progresso humano, e a celebração de outras datas e

instituições de interesse universal.

[...]

Que fora da escola, todas as instituições locais, como

bibliotecas públicas, museus, clubes da juventude, grupos

de conselheiros, etc., participem, em colaboração com as

autoridades do ensino, para formar nos jovens o espírito de

solidariedade, e nesse quadro seja focalizada a

apresentação de múltiplos aspectos das Nações Unidas,

de suas instituições especializadas e organizações

conexas

[...]

Que os Ministérios da Instrução Pública e as organizações

de ensino em geral contribuam por todos os meios

Page 55: A internacionalização do ensino secundário e da formação

54

adequados, com seu encorajamento e sua ajuda, para

formação de uma consciência internacional na juventude

e para conhecimentos das organizações internacionais

destinadas a assegurar a paz mundial (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 24, 1948, p. 38-39 e 40).

Na décima segunda Conferência Internacional de Instrução

Pública (1949), estiveram presentes 44 delegados (o delegado brasileiro

foi o deputado estadual do Estado do Espírito Santo, Enrico Aguiar Salles).

Com base no relatório redigido por especialistas franceses para essa

décima Conferência e de acordo com o Seminário de Educação

Internacional sobre o Ensino de Geografia (promovido pela Unesco,

1951), a principal recomendação dos delegados foi:

[...] desenvolver o sentimento de interdependência e de

unidade moral do gênero humano, ficando bem

entendido que toda educação deve conciliar o amor da

pátria com a compreensão de outros países e com o

respeito de sua soberania num mundo onde todas as

nações devem ser consideradas com igualdade de

direitos.

[...]

Designar, o mais cedo possível, os especialistas que, em

1950, participarão do Seminário da Unesco de modo que

eles possam preparar-se longa, ativa e utilmente, tendo os

contatos necessários com os diferentes meios de ensino do

seu próprio país (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE

INSTRUÇÃO PÚBLICA, RECOMENDAÇÃO Nº 26, 1949, p. 42).

Na décima terceira Conferência Internacional de Instrução

Pública (1950), 43 nações fizeram a indicação oficial de seus delegados.

Não obstante, para fazer-se representar a nação brasileira, o ministro da

Educação e Saúde Pública, Clemente Mariani Bittencourt (1946-1950),

remeteu um relatório evidenciando o desenvolvimento das políticas

educacionais em geral e do ensino secundário em particular.

Nessa Conferência, os delegados, devido ao fortalecimento dos

programas de intercâmbio internacional entre nações americanas,

priorizaram as missões de intercâmbio de educadores. Nesse sentido, a

Page 56: A internacionalização do ensino secundário e da formação

55

recomendação, submetida aos Ministérios de Instrução Pública,

contemplaria:

Assegurar ampla publicidade aos programas de

intercâmbio e de missões no estrangeiro, junto a

instituições governamentais ou privadas, como também às

entidades profissionais interessadas em educação e na

melhoria da compreensão internacional.

Dar atenção muito especial, no programa de

encorajamento das relações culturais internacionais, à

troca de educadores e à criação de missões temporárias

de educadores estrangeiros.

Estender, quando possível, esses planos de intercâmbio e

de missões a outros países e regiões, expandindo-os de

modo a abranger todas as categorias de professores

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 29, 1950, p. 47).

Conforme consta no primeiro capítulo, uma das instituições

promotoras do intercâmbio internacional de educadores seria o Comitê

Executivo do Conselho de Educação Superior nas Repúblicas

Americanas (Anísio Teixeira foi o representante brasileiro). Pelas diretrizes

desse Comitê, precipuamente, as missões de professores universitários

latino-americanos seriam para os Estados Unidos e as de professores

universitários norte-americanos, igualmente, para a América Latina.

Nessa décima terceira Conferência, os fundamentos das ciências

da educação colaborariam na orientação de fazer valer todas as

possibilidades de desenvolvimento completo e harmonioso do

adolescente do curso secundário, sendo as atividades educativas

manuais uma dessas possibilidades. Nessa intenção, a recomendação,

aprovada para apreciação dos Ministérios de Instrução Pública

concernente às atividades educativas manuais, deveria levar em

consideração os próprios fundamentos das ciências da educação em

seus princípios, interesses, necessidades das disciplinas escolares, além de

intercâmbios de experiências entre estudantes, incentivados por

autoridades educacionais e instituições escolares. Assim, evidencia-se a

necessidade de que

Page 57: A internacionalização do ensino secundário e da formação

56

[...] os métodos empregados estimulem a liberdade

criadora do adolescente, sugerindo-lhe a realização de

objetos perfeitos e utilizáveis, adaptados aos interesses de

sua idade, a suas capacidades individuais e às

necessidades das diversas disciplinas.

Havendo condições, as classes de trabalhos manuais do

ensino secundário se encarreguem da confecção de

objetos úteis para sua escola ou de material didático

elementar que possa ficar à disposição de escolas pré-

primárias ou primárias, construindo dessa forma um elo e

um espírito de cooperação entre os diversos graus de

ensino.

No propósito de favorecer o intercâmbio de experiências,

sejam promovidas exposições nacionais e internacionais,

como a Exposição Permanente do Bureau Internacional

de Educação, que as autoridades escolares facilitem

visitas a outras escolas, mesmo no estrangeiro; que as

trocas de trabalhos executados pelos alunos sejam

encorajadas entre as escolas dos diferentes países

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 30, 1950, p. 49-50).

Na décima quarta Conferência Internacional de Instrução

Pública (1951), os 51 delegados de nações representadas (o Brasil não

indicou delegado, bem como não enviou relatório), observando a

premissa de que a insuficiência de recursos seria o mais sério dos

obstáculos à generalização da escolaridade obrigatória e que o

financiamento da instrução pública (em todos os graus) deveria ser

principalmente assegurado pelo orçamento dos poderes públicos,

recomendaram:

Não sendo os sistemas de administração fiscal os mesmos

para todos os países, um método único de financiamento

não deveria ser sugerido; ao passo que se torna necessária

em certos países a criação de impostos locais ou

nacionais, em outros serão tomadas resoluções diferentes,

seja destacando para este financiamento uma

porcentagem suficiente do orçamento ordinário da

instrução pública, seja prevendo um crédito extraordinário

cujo total será atingido progressivamente em determinado

número de anos (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE

INSTRUÇÃO PÚBLICA, RECOMENDAÇÃO Nº 32, 1951, p. 55).

Page 58: A internacionalização do ensino secundário e da formação

57

Os representantes das nações presentes à Conferência

Internacional de Instrução Pública (1951), considerando a necessidade

de maior liberdade de movimento entre o ensino secundário e os outros

níveis de ensino, recomendaram:

Uma coordenação eficaz deve existir entre os diversos

tipos de escolas de ensino de continuação (secundário

clássico e moderno, técnico e profissional, primário) de

modo a possibilitar a passagem de um tipo para outro e a

obter uma seleção e uma orientação mais racionais

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 32, 1951, p. 61).

Na décima quinta Conferência Internacional de Instrução Pública

(1952) estiveram 56 representantes de nações, de todos os continentes.

O Brasil não esteve representado nessa Conferência, tampouco enviou

relatório das apropriações efetuadas nos anos de 1951 e 1952.

Os delegados presentes à referida Conferência detiveram-se na

consideração de que o estudo das Ciências Naturais apresentaria real

valor para o desenvolvimento de qualidades morais, além de evidenciar

os resultados exitosos da colaboração internacional no domínio da

pesquisa científica, recomendando o ensino das Ciências Naturais para

o ensino secundário. Nesse sentido,

[...] é de desejar-se que o ensino de Ciências Naturais nas

classes secundárias seja também ampliado tanto quanto

possível, e que, em todos os casos, assegure, a todos os

alunos entre 11 e 15 anos, uma base comum de noções

fundamentais, e a certa categoria de alunos mais idosos,

conhecimentos mais amplos e mais profundos;

[...]

o ensino de Ciências Naturais nas classes secundárias deve

procurar dar aos alunos conhecimentos de base sobre o

mundo e o homem, exercitá-los nos métodos científicos,

enriquecer sua cultura geral e sua sensibilidade

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 35, 1952, p.71).

As recomendações dessas Conferências Internacionais de

Instrução Pública (1946-1952) pretendiam, precipuamente, a

uniformidade das reformas educacionais em nações partícipes de

Page 59: A internacionalização do ensino secundário e da formação

58

entidades internacionais (Organização Educativa, Científica e Cultural

das Nações Unidas e Organização dos Estados Americanos). Sob a ótica

de Chartier (2007), haveria um processo de apropriações partilhadas em

uma união indissociável do global com o local (no caso, a nação

brasileira), que será averiguado nos Anuários Internacionais da Educação

e do Ensino (publicados pelo Bureau Internacional de Educação) e na

legislação educacional brasileira do ensino secundário de 1942 a 1952.

Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1946-1952)

Conforme abordado no capítulo dois, o Anuário Internacional da

Educação e do Ensino foi publicado, exclusivamente, pelo Bureau

Internacional de Educação entre os anos de 1933 e 1946. A partir de 1947,

sua publicação foi dirigida conjuntamente, pelo Bureau Internacional de

Educação e a Organização de Educação, Ciência e Cultura das Nações

Unidas. Publicado em francês desde sua primeira edição, a partir de 1948

ganhou também uma versão em língua inglesa.

Assim, nos anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra

Mundial, o Anuário Internacional da Educação e do Ensino continuou a

publicar os relatórios das autoridades governamentais das nações

partícipes das Conferências Internacionais de Instrução Pública (1946-

1952), divulgando os estágios das reformas educacionais em geral,

parcial ou integralmente apropriadas das recomendações daquelas

Conferências.

Conforme expressou o diretor-adjunto do Bureau Internacional de

Educação, Pedro Rosselló, na introdução da segunda edição do Anuário

Internacional da Educação e do Ensino (1947), o primeiro Anuário

publicado após a Segunda Guerra Mundial foi de especial interesse para

as nações próximas dos ideais educacionais do interamericanismo, por

apresentar

Page 60: A internacionalização do ensino secundário e da formação

59

[...] uma imagem das reformas previstas na legislação

escolar na maioria dos países, após um dos maiores

transtornos pelo que a humanidade passou. Mas não

basta decretar transformações de estrutura, programas ou

métodos e inseri-los no relatório oficial, mas perceber os

ideais educacionais dos quais os reformadores foram

inspirados.

[...]

O ano de 1946-1947 viu várias reformas educacionais

enfrentarem suas primeiras provas. Desde o estágio

legislativo, eles passaram para aquele de aplicação

prática. Um grande número de governos tem tido a

coragem de realizar essa tarefa quando a reconstrução

do país já absorveu toda a sua energia. É isso que torna

cativante, apesar de sua natureza técnica e suas

deficiências, esta breve revisão do esforço educacional

pós-guerra (ROSSELLÓ, 1947, p. 6).

Portanto, tendo-se em vista à dimensão histórica desta tese de

doutorado, é imperioso pesquisar, nesses documentos internacionais, as

apropriações das recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública para o ensino secundário promovidas pela nação

brasileira de 1946 a 1952.

Os Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1946 e 1947)

levaram ao conhecimento público os relatórios de 35 e 44 nações,

respectivamente, relativos às apropriações concernentes ao ensino em

geral e, particularmente, ao secundário. As autoridades brasileiras,

porém, não enviaram relatórios para os referidos Anuários.

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1948) difundiu

os relatórios de 44 nações participantes das Conferências Internacionais

de Instrução Pública. As autoridades brasileiras, novamente, não

enviaram o relatório requerido pelo Bureau Internacional de Educação e

pela Unesco. Nessa edição, o Comitê Executivo do Bureau Internacional

de Educação explicitou os objetivos almejados por aquele órgão

internacional para a publicação:

[...] nosso objetivo é destacar, através de alguns exemplos

retirados do conjunto de relatórios recebidos de diferentes

países, alguns dos problemas concretos que estão sendo

Page 61: A internacionalização do ensino secundário e da formação

60

detectados em todos os lugares para encontrar uma

solução adequada. [...] Sem ignorar a importância de

outras questões, temos que nos limitar às que de uma

maneira mais geral dizem especificamente respeito à

administração e organização escolar e reformas

estruturais, programas e métodos dos vários graus de

educação; preparação profissional e as condições de

vida do corpo docente (O MOVIMENTO EDUCATIVO, 1948,

p. 7).

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1949)

socializou, integralmente, os relatórios enviados por 44 nações,

especialmente no tocante às apropriações do ensino secundário,

inclusive no Brasil. Diferentemente dos relatórios constantes nos Anuários

de 1934 a 1936 e 1939, nessa edição, as autoridades governamentais

brasileiras não apresentaram dados relativos à expansão do ensino

secundário, tendo-se limitado a descrever as duas seções do nível de

ensino secundário:

O curso de ensino médio (secundário) tem duas seções,

clássica e científica. A seção clássica é obrigatória para

todos os alunos desejando ingressar nas escolas superiores

de direito, filosofia, etc., a seção científica é para todos

aqueles que frequentariam escolas superiores de

medicina, engenharia etc. (ORGANIZAÇÃO ESCOLAR,

1949, p. 73).

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1950) reuniu

relatórios de 43 nações. O enviado pelas autoridades brasileiras

enfatizava os seguintes dados do ano de 1949, por ordem crescente:

1.204 escolas secundárias, 503 comerciais, 199 industriais, 538 normais, 28

agrícolas e 71 militares. O total de instituições de ensino médio era,

portanto, 2.543. Segundo esse documento, os fins das escolas de ensino

secundário, eram, especialmente:

[...] o pleno desenvolvimento da personalidade de um

adolescente e sua consciência nacional e humana, e sua

preparação para estudos mais avançados. Eles

compreendem duas etapas: a escola secundária de

quatro anos e a escola de três anos de estágio superior,

com suas seções clássica e científica (ESTABELECIMENTOS

SECUNDÁRIOS, 1950, p. 65).

Page 62: A internacionalização do ensino secundário e da formação

61

Nos Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1951 e

1952), foram publicados os relatórios de 49 e 56 nações respectivamente,

divulgando o que foi efetivado e/ou apropriado para o ensino

secundário no referido biênio; ou seja, os aspectos quantitativos, além

das reformas estruturantes de currículos e de métodos de ensino. As

autoridades brasileiras, no entanto, não enviaram relatório para nenhum

desses Anuários.

Por conseguinte, os Anuários Internacionais da Educação e do

Ensino (1946-1952) − por decisão do Comitê Executivo do Bureau

Internacional de Educação de não divulgar inventários, tampouco

sínteses das realidades escolares das nações concordantes com os ideais

de interamericanismo – centraram-se na divulgação dos estágios das

reformas educacionais em geral, integral ou parcialmente apropriadas

das recomendações daquelas Conferências.

Apropriações das recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública para o ensino secundário no Brasil (1934-1952)

Como forma de demonstrar as apropriações para o ensino

secundário, especificamente no tocante às recomendações das

Conferências Internacionais de Instrução Pública (1934 a 1952), por parte

das autoridades da nação brasileira, apresenta-se, a seguir, um painel

relacionando-as às políticas públicas de educação secundária

formalizadas mediante disposições legais de 1942 a 1952.

Page 63: A internacionalização do ensino secundário e da formação

62

Ano Recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública Disposições legais

1934

Maior coordenação entre os ensinos secundários de maneira a permitir −

sobretudo durante os primeiros anos

de estudos − passagem facilitada

de uma categoria de ensino a

outra.

Lei nº 1.076, de 31 de março de 1950.

Assegura aos estudantes que

concluírem curso de primeiro ciclo

do ensino comercial, industrial ou

agrícola o direito à matrícula nos

cursos clássico e científico e dá

outras providências.

1939

Em função das possibilidades

financeiras do país, os professores

devem receber remuneração

condizente com a importância de

sua função, igualando-os aos

funcionários de nível social

correspondente.

Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de

1942. Lei orgânica do ensino

secundário. Assegura aos

professores do ensino secundário

remuneração condigna, que deve

ser paga pontualmente.

1947

É necessário que as escolas

secundárias disponham de salas de

ginástica e de ginásios suficientes

para jogos e esportes, adequados e

que satisfaçam as mais modernas

exigências higiênicas.

Portaria nº 590, de 11 de novembro

de 1948. Dispõe sobre a prática de

exercícios físicos nos

estabelecimentos de ensino.

1950

Os métodos empregados devem

estimular a liberdade criadora do

adolescente, sugerindo-lhe a

realização de objetos perfeitos e

utilizáveis; havendo condições, as

classes de trabalhos manuais do

ensino secundário devem

encarregar-se da confecção de

objetos úteis.

Portaria nº 557, de 16 de novembro

de 1945. Expede programas de

trabalhos manuais e respectivas

instruções metodológicas, e

determina sua execução no curso

ginasial do ensino secundário.

Fonte: Repositório da Legislação do Ensino Secundário no Brasil (1837-1971)

A correspondência entre as recomendações propostas para o

ensino secundário pelos representantes das instituições internacionais e

delegados das nações partícipes das Conferências Internacionais de

Instrução Pública e suas apropriações, mediante procedimentos

legalmente formalizados pela nação brasileira, demonstram,

principalmente, a internacionalização das reformas públicas (e dos ideais

de interamericanismo) promovidas por organismos internacionais como

o Bureau Internacional de Educação e a Unesco.

Page 64: A internacionalização do ensino secundário e da formação

63

Assim, a referida internacionalização, mediante uma

formalização legal das apropriações, remete, sob a ótica de Chartier

(1990), para as determinações fundamentais (sociais, institucionais e

culturais) da nação brasileira, revelando, possivelmente, práticas comuns

às de outras nações do continente americano ou delas diferenciadas.

As recomendações das Conferências Internacionais de Instrução

Pública (1953-1961) e as apropriações a que se destinavam as nações

partícipes desses eventos internacionais serão objeto de estudo do

próximo capítulo.

Page 65: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Capítulo Quatro

Políticas públicas de ensino secundário e Interamericanismo (1953-1961)

No governo eleito do presidente Getúlio Dorneles Vargas (1951-

1954), especialmente na gestão do ministro Antônio Balbino de Carvalho

Filho (1953-1954) no Ministério da Educação e Cultura, foi instituída a

Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário

(CADES) − Decreto nº 34.638, de 17 de novembro de 1953. A referida

Campanha, entre outras políticas de alcance social, destinava-se à

expansão do ensino secundário para a população de jovens na faixa

etária de 15 a 19 anos, tendo o propósito de ampliar as oportunidades

socioeducacionais desde a primeira educação. Para o alcance desse

objetivo, foi determinado:

Haverá um fundo especial para custeio das atividades da

Campanha, constituído de contribuições que forem

previstas nos orçamentos da União, dos Estados, dos

Municípios e de entidades paraestatais e sociedades de

economia mista.

[...]

Organizar e administrar plano de concessão de bolsas de

estudo a alunos bem dotados e de poucos recursos.

[...]

Colaborar com os estabelecimentos de ensino secundário,

em fase de implantação ou reorganização,

proporcionando-lhes a assistência de técnicos

remunerados pela Campanha (DECRETO Nº 34.638, DE 17

DE NOVEMBRO DE 1953).

Os estudos levados a efeito na gestão do ministro Cândido Mota

Filho (1954-1955), conforme Araújo (2020), orientaram, no governo de

João Fernandes Campos Café Filho (1954-1955), a institucionalização do

Fundo Nacional do Ensino Médio (Lei nº 2.342, de 25 de novembro de

1954), para a cooperação financeira da União em favor do ensino

secundário. O referido Fundo era destinado à melhoria e ampliação do

sistema escolar desse nível de ensino, bem como à concessão de bolsas

Page 66: A internacionalização do ensino secundário e da formação

65

de estudos para os estudantes mais capazes entre os socialmente

necessitados.

Já na primeira mensagem do presidente Juscelino Kubitschek de

Oliveira (1956-1961) ao Congresso Nacional, em 1956, era enfatizada a

crescente matrícula de estudantes no curso secundário de todas as

camadas sociais, o que estava a exigir uma atenção especial das

autoridades públicas. De acordo com essa sua mensagem (1956, p. 258),

“Ao passo que, em 1955, o total de matrículas nas escolas técnicas e

industriais foi de 17.000 alunos e nas comerciais de 100.000, no ensino

secundário aquele número se elevou a cerca de 480.000.”

Em sua dimensão concreta, a quantidade elevada de matrículas

no ensino secundário estava simultaneamente atada a um índice

ampliado de evasão escolar. Por sua vez, o desequilíbrio entre a

matrícula inicial e a evasão nas séries seguintes do ensino secundário, por

um lado, e a assimetria entre o reduzido poder aquisitivo da maioria dos

estudantes e o elevado custo da educação, por outro, propiciaram a

divulgação, por parte do governo do presidente Juscelino Kubitschek, de

um programa de bolsas de estudos para alunos pobres do ensino médio

em geral, além de uma política ampliada do livro e do material didático

escolar. Nas palavras do presidente Kubitschek:

[compreendendo] não apenas o pagamento da

anuidade escolar, como ainda material de estudo,

vestuário e transporte, assistência médica-dentária e, em

alguns casos, internato e pensão. [...] Adotar medidas que

repercutam sobre a produção, importação e distribuição

do livro e do material didático escolar (MENSAGEM

APRESENTADA AO CONGRESSO NACIONAL..., 1956, p. 267

e 268).

O estágio do ensino secundário nas nações americanas,

igualmente à instituição de um fundo editorial para a produção e

publicação de livros, em comum acordo com as autoridades

governamentais e os organismos internacionais, foram matérias do

Seminário Interamericano do Ensino Secundário.

Page 67: A internacionalização do ensino secundário e da formação

66

O objetivo do presente capítulo é refletir sobre as recomendações

concernentes ao ensino secundário em comum acordo com os ideais do

americanismo provenientes do Seminário Interamericano do Ensino

Secundário (1955) e das Conferências Internacionais de Instrução Pública

(1953-1961).

Seminário Interamericano do Ensino Secundário (1955)

Em 1955, a Divisão de Educação da Organização dos Estados

Americanos promoveu o Seminário Interamericano do Ensino Secundário,

na cidade de Santiago (Chile, 3 a 22 de janeiro), com delegados de 18

nações americanas e européias, bem como representantes do Bureau

Internacional de Educação, da Organização das Nações Unidas (ONU),

da Organização Educativa, Científica e Cultural das Nações Unidas

(Unesco), da União das Universidades Latino-Americanas e do Instituto

Pan-Americano de Geografia e História.

Nesse Seminário Interamericano, a nação brasileira foi

representada pelo diretor do ensino secundário do Ministério da

Educação e Cultura, Armando Hildebrand, e pelo funcionário do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), professor Jayme

Abreu, conferencista que proferiu a exposição Educação secundária no

Brasil: Ensaio de identificação de suas características principais. As

recomendações atinentes ao ensino secundário e ao interamericanismo

foram publicadas na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (abr./jun.

1955) com o título: Considerações sobre o Seminário Inter-Americano de

educação secundária, de autoria do próprio Jayme Abreu.

Os partícipes desse Seminário Interamericano, reafirmando os

ideais de solidariedade entre nações americanas e reforçando o

entendimento da educação (conforme definiu o filósofo John Dewey)

como sendo um processo contínuo de reconstrução da experiência que

Page 68: A internacionalização do ensino secundário e da formação

67

se estende da infância à velhice, apresentaram uma variedade de

recomendações, entre as quais se destacam as seguintes:

A educação secundária hispano-americana, através de

sua história, tende a evoluir: a) de uma educação que só

conduz para a Universidade a uma ampla preparação

para a vida; b) de uma educação de classe a uma

educação democrática.

[...]

Elaboração de programas de estudo nos quais os

professores pudessem familiarizar-se com os documentos

pertinentes, nacionais e estrangeiros.

[...]

Incorporar, nos programas de ensino, de acordo com as

modalidades de cada país, o estudo dos princípios,

propósitos, instrumentos e realizações do Sistema

Interamericano das Nações Unidas e de suas agências

especializadas.

[...]

Em relação às bolsas de estudos e intercâmbios de

professores, sugere-se a utilização periódica, regular e

recíproca, de professores estrangeiros nos quadros

docentes nacionais, com prazos de permanência

prefixados, além de atuação mais frequente de missões

culturais, ficando esses bolsistas e professores

comissionados em missões, obrigados a apresentar um

informe geral de suas observações e experiências.

[...]

A instituição de um Fundo Editorial Pedagógico, pelo

Estado, publicando livros textos, manuais de professores,

entre os quais se incluiriam trabalhos premiados, feitos

especialmente por professores, para esse fim.

[...]

Sem menoscabo do inalienável direito de

autodeterminação na organização dos seus sistemas

educativos, estudem as nações latino-americanas

algumas bases comuns em seus planos de estudo e

programas.

[...]

Incorporar, nos programas de ensino, de acordo com as

modalidades de cada país, o estudo dos princípios,

propósitos, instrumentos e realizações do Sistema Inter-

Americano das Nações Unidas e de suas agências

especializadas (ABREU, 1955, p. 123, 143, 147, 161, 163).

Uma apreciação particular do professor Jayme Abreu (1955,

p.173) foi relativa à satisfação de estarem incluídos na bibliografia do

Seminário livros e trabalhos de educadores brasileiros, como Fernando de

Page 69: A internacionalização do ensino secundário e da formação

68

Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Carneiro Leão e outros, bem

como de “[...] ouvir, pessoalmente, frequentes considerações, as mais

solidárias, às obras desses educadores nacionais”.

A apreciação geral do professor Jayme Abreu (1955, p. 164)

concernente ao empenho dos delegados e dos representantes de

organismos e instituições internacionais nesse Seminário Interamericano

do Ensino Secundário foi o desejo de que, indispensavelmente, “[...] o

resultado de seus estudos e recomendações chegasse ao mundo

educacional das nações dele participantes [...]”.

Conferências Internacionais de Instrução Pública (1953-1961)

As Conferências Internacionais de Instrução Pública convocadas

pelo Bureau Internacional de Educação e pela Unesco foram retomadas

em julho de 1953, na cidade de Genebra, sendo igualmente destinadas

às nações associadas a órgãos internacionais como a Organização das

Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos.

Nesse ano de 1953, foi promovida a décima sexta Conferência,

com a participação de delegados de 60 nações (número análogo ao

da última Conferência que antecedeu à Segunda Guerra Mundial, no

ano de 1939). A nação brasileira não se fez representar, enviando o

ministro da Educação e Cultura um relatório circunstanciado referente,

por um lado, à expansão das escolas de ensino secundário públicas e

particulares, por outro às ações do Instituto Nacional de Estudos

Pedagógicos (Inep) – a promoção de cursos e missões educacionais e a

institucionalização da Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino

(Caldeme).

Os delegados submeteram às autoridades governamentais das

nações representadas nessa Conferência apenas uma recomendação

acerca do ensino secundário, restrita àquelas que dispensavam o nível

secundário completo à admissão nas instituições de formação

Page 70: A internacionalização do ensino secundário e da formação

69

pedagógica de professores para a educação primária − que foi a

seguinte:

Nos países onde o estudo secundário completo não é

exigido como condição de admissão nos

estabelecimentos de formação de professores primários,

todas as facilidades devem ser dadas aos diplomados no

ensino secundário para que recebam formação

pedagógica que, de nenhum modo, deve ser inferior à

exigida dos alunos-mestres que fazem o curso comum

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 36, 1953, p. 76).

Na décima sétima Conferência Internacional de Instrução Pública

(1954), com delegados de 63 nações, mais uma vez, o ministro da

Educação e Cultura da nação brasileira limitou-se a enviar um relatório,

igualmente circunstanciado.

Esses delegados, considerando o ensino secundário destinado a

uma educação harmoniosa da juventude no plano espiritual, intelectual,

físico e prático e considerando que os professores desse nível de ensino

deviam promover uma educação com semelhante humanismo,

aprovaram a recomendação de viagens de estudos, individuais ou

coletivas para outras nações, intermediadas por organizações

internacionais, nos seguintes termos:

É conveniente encarar a troca de professores do ensino

secundário entre dois países como um dos meios de

contribuir para seu aperfeiçoamento (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 38, 1954, p. 91).

Na décima oitava Conferência Internacional de Instrução Pública

(1955), entre os 69 delegados de nações de continentes diversos,

constava o representante da nação brasileira, Ítalo Zappa, vice-cônsul

do Brasil em Genebra.

Nessa Conferência, os delegados, considerando a

universalização e a obrigatoriedade da educação, em todos os níveis,

para crianças, jovens e adultos, bem como que todas as nações se

Page 71: A internacionalização do ensino secundário e da formação

70

favoreciam com o progresso econômico, social e humano, além das

políticas públicas de educação igualmente para todos, necessariamente

obrigatórias, sem distinção de raça, sexo, religião ou condição social,

recomendaram aos poderes públicos, no tocante ao ensino secundário:

[que]deveriam criar ou desenvolver atividades tais como:

auxílio de alimentação e vestuário, concessão de bolsas,

viagens e colônias de férias; é igualmente importante que

os poderes públicos e as organizações particulares

coordenem uma ação nesses diversos domínios [...]

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 40, 1955, p. 104).

Na décima nona Conferência Internacional de Instrução Pública

(1956), estiveram presentes 70 delegados das nações representadas. O

ministro da Educação e Cultura da nação brasileira restringiu-se a enviar

um relatório referente aos investimentos das políticas públicas de

educação e à extensão das oportunidades socioeducacionais dos

estudantes brasileiros.

Os delegados, considerando os ideais de um americanismo

globalizado e o ensino das artes, especialmente no ensino secundário, no

quadro do desenvolvimento da civilização em cada época,

recomendaram aos organismos internacionais

[...] organizarem conferências e cursos ou estágios de

aperfeiçoamento, no país ou no estrangeiro, para permitir

que os professores de artes plásticas aprimorem seus

conhecimentos e entrem em contato com as diversas

tendências que se manifestam no domínio do ensino e das

artes, e que troquem idéias sobre todas as questões

relativas à sua especialidade (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 41, 1956, p. 112).

Ademais, em razão dos progressos da matemática (em particular,

no ensino secundário) para o desenvolvimento científico, técnico,

econômico e social de todos os povos, os delegados recomendaram aos

poderes públicos, comissões e organismos internacionais de caráter

cultural e educacional:

Page 72: A internacionalização do ensino secundário e da formação

71

O estudo e desenvolvimento do ensino da Matemática

cabe promover, por todos os meios de que disponham

(publicações, palestras, reuniões, exibições, viagens de

estudo ao exterior etc.), a troca internacional de idéias, de

trabalhos, de pesquisa e dos resultados obtidos no ensino

de Matemática, de forma que a juventude de todo o

mundo possa beneficiar-se rapidamente com a

experiência e o progresso dos professores de todos os

países (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO

PÚBLICA, RECOMENDAÇÃO Nº 43, 1956, p. 124).

Na vigésima Conferência Internacional de Instrução Pública

(1957) estiveram 73 delegados de nações americanas e europeias, entre

outras. O ministro da Educação e Cultura da nação brasileira dirigiu um

relatório para o Comitê Executivo do Bureau Internacional de Educação.

Aqueles delegados, considerando que o aumento da população

escolar no ensino secundário, devido às migrações internas, conduzia,

ano a ano, ao acréscimo dos efetivos escolares e considerando que as

nações poderiam beneficiar-se da cooperação internacional para o

intercâmbio de concepções, ideias e experiências, recomendaram,

especialmente:

[...] conceber os estabelecimentos escolares não como

edifícios destinados a durar longos séculos, mas como

construções facilmente adaptáveis às transformações

demográficas e aos progressos pedagógicos e técnicos.

[...]

A cooperação internacional pode assumir a forma de

subvenções, de empréstimos em condições

particularmente favoráveis, até mesmo de contribuições a

um fundo internacional instituído sob os auspícios das

Nações Unidas e destinado a facilitar a construção escolar

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 43, 1956, p. 128 e 131).

Na vigésima primeira Conferência Internacional de Instrução

Pública (1958), compareceram 64 delegados de nações representadas.

O ministro da Educação e Cultura da nação brasileira dirigiu ao Comitê

Executivo do Bureau Internacional de Educação um relatório sobre o

desenvolvimento quantitativo e qualitativo da educação no Brasil. Os

Page 73: A internacionalização do ensino secundário e da formação

72

delegados privilegiaram, em suas recomendações, o ensino rural no

plano da cooperação internacional e nacional.

Na vigésima segunda Conferência Internacional de Instrução

Pública (1959), estiveram presentes 77 delegados de nações americanas,

europeias e outras. O ministro da Educação e Cultura da nação brasileira

apenas enviou um quadro expansivo das matrículas no ensino

secundário.

Nessa Conferência, em Genebra, os delegados, considerando

necessária a produção e a utilização de manuais escolares para o ensino

em geral (matéria da sétima Conferência Internacional de Instrução

Pública, de 1938) e que os manuais escolares eram, para os educandos,

um material imprescindível, recomendaram às organizações

internacionais e aos órgãos intergovernamentais:

As coleções internacionais de manuais tendem a realizar,

cada vez mais, grandes serviços aos autores e aos editores;

a existência destas coleções internacionais deveria ser

conhecida pelas autoridades escolares, mestres, autores e

editoras.

[...]

Em seus programas de assistência técnica, as

organizações internacionais e os órgãos

intergovernamentais deveriam prever o envio, para os

países que lhes solicitassem, de técnicos especializados na

elaboração e edição de manuais (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 49, 1959, p. 158).

Na vigésima terceira Conferência Internacional de Instrução

Pública (1960), estiveram presentes 77 delegados nacionais e

internacionais. Mais uma vez, o ministro da Educação e Cultura da nação

brasileira enviou um relatório referente aos progressos quantitativos e

qualitativos gerais do sistema educacional no Brasil e aos específicos do

ensino secundário.

Esses delegados, considerando que a concepção do ensino

secundário deveria ser baseada no justo equilíbrio entre formação

humanística e científica e considerando que os conhecimentos

Page 74: A internacionalização do ensino secundário e da formação

73

formativos avançavam tanto no domínio das ciências como no das letras

e das artes, recomendaram:

Para que se consiga esse equilíbrio [na formação

humanística e científica], convém não perder de vista

quando da elaboração dos programas, que cada

disciplina pode contribuir, sob formas diversas, não

somente para enriquecer os conhecimentos do aluno,

como também desenvolver sua personalidade e orientá-

lo diante do mundo que o cerca.

[...]

Devem estimular os conhecimentos de ordem prática e

profissional no ensino secundário, bem como ampliar os

conhecimentos de cultura geral [...] (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA,

RECOMENDAÇÃO Nº 50, 1960, p. 171).

Na vigésima quarta Conferência Internacional de Instrução

Pública (1961), compareceram 86 delegados de nações americanas e

europeias, principalmente. O ministro da Educação e Cultura do Brasil foi

representado por Sandra Martins Cavalcanti de Albuquerque, professora

do Instituto de Educação do Rio de Janeiro.

Na Conferência Internacional de Instrução Pública (1961), os

delegados debateram, preferencialmente, sobre a escola primária de

mestre único e o intercâmbio de documentos no âmbito dessa

modalidade de escola primária, com a recomendação de que

organismos como a Unesco e o Bureau Internacional de Educação,

principalmente, coordenassem o referido intercâmbio.

Sucede que, no decurso dessas nove Conferências Internacionais

de Instrução Pública (1953-1961) e do Seminário Interamericano do Ensino

Secundário (1955), as recomendações aprovadas e subscritas pelos

delegados de nações americanas, europeias, asiáticas e africanas

relativas ao ensino secundário, a partir de então dirigidas para os poderes

públicos nacionais, presumiam, evidentemente, processos de

transferências culturais na definição de políticas públicas e de repertórios

educacionais no plano do ensino.

Page 75: A internacionalização do ensino secundário e da formação

74

Essas recomendações do conjunto dos delegados, como matéria

política e pedagógica dos organismos internacionais, permitiriam, como

orienta Peter Burke (2010), a instituição de interações culturais, mediante

propostas inovadoras em suas diferenças e em suas semelhanças, que,

de alguma forma, remetem para apropriações mais ou menos comuns.

Tais interações culturais no nível do ensino secundário brasileiro, bem

como suas exclusivas apropriações, devem ser verificadas nos Anuários

Internacionais da Educação e do Ensino, publicados pelo Bureau

Internacional de Educação no período de 1953 a 1961.

Anuários Internacionais da Educação e do Ensino (1953-1961)

Por iniciativa do Bureau Internacional de Educação e da

Organização de Educação, Ciência e Cultura das Nações Unidas, o

Anuário internacional da Educação e do Ensino permaneceu divulgando

os relatórios das autoridades educacionais das nações partícipes das

Conferências Internacionais de Instrução Pública (1953-1961). Sob tal

consideração, é imperioso que sejam averiguadas, nos Anuários

Internacionais da Educação e do Ensino (1953-1961), as devidas

apropriações das recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública para o ensino secundário por parte da nação brasileira.

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1953) trouxe a

público os relatórios de 60 nações partícipes das Conferências

Internacionais de Instrução Pública que contribuíram para essa edição,

como a nação brasileira. O relatório da nação brasileira socializava o

quadro expansivo das escolas de ensino secundário de 1952 e 1953. No

ano de 1952, figuravam no relatório, 1.519 escolas secundárias e, em

1953, 1.655 escolas. Destas, 1.281 eram particulares e 374 públicas,

correspondendo, em termos percentuais, a 77,35% (particulares) e 22,58%

(públicas).

Page 76: A internacionalização do ensino secundário e da formação

75

Na reciprocidade entre recomendações e apropriações para o

ensino secundário, o relatório das autoridades educacionais brasileiras

(ano 1953) registrou o plano do Instituto Nacional de Estudos

Pedagógicos (Inep) para os cursos e as missões educacionais destinados

aos professores, diretores e inspetores do ensino secundário, mediante a

concessão de bolsas de estudo, pelo menos desde o ano de 1947.

Esforços [estão sendo feitos] em relação aos professores

em escolas secundárias, comerciais e outras. No ano em

questão [1953], por exemplo, foram organizados cursos

para inspetores, diretores e professores das escolas

aprovadas e reconhecidas, com duração de vários meses

e geralmente realizados durante as férias

(ADMINISTRAÇÃO, 1953, p. 84).

Uma recomendação recorrente das Conferências Internacionais

de Instrução Pública era a produção e socialização de livros didáticos e

manuais escolares para o ensino em geral e o ensino secundário em

particular, para, assim, enriquecerem-se os conhecimentos teóricos e

práticos de docentes e discentes. Nesse sentido, o relatório das

autoridades educacionais da nação brasileira (1953) reportou-se à

Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino (Caldeme), instituída

pelo educador e pensador Anísio Teixeira, quando assumiu a presidência

do Inep (1952). A respeito disso, o relatório referido acrescentou:

Houve um progresso considerável na impressão e

ilustração de livros didáticos, mas isso não pode ser dito do

conteúdo. A Campanha de Livros Didáticos [e Manuais de

Ensino] de professores e alunos (Caldeme) foi lançada

com o objetivo de remediar isso e diminuir os preços

(NOVOS LIVROS DIDÁTICOS, 1953, p. 84).

Estabelecendo uma comparação entre a recomendação de

ampliação das oportunidades educacionais (mediante ampliação da

rede escolar) e a apropriação dessa ampliação para os estudantes do

ensino secundário brasileiro, o Anuário Internacional da Educação e do

Ensino (1954) divulgou o relatório das autoridades educacionais do Brasil

(no conjunto dos 60 recebidos de nações diversas), socializando a

Page 77: A internacionalização do ensino secundário e da formação

76

quantidade de escolas de ensino secundário. Nesse ano (1954), o

relatório brasileiro fazia referência a 1.768 escolas secundárias, destas 616

situadas na capital do Distrito Federal (Rio de Janeiro) e nas demais

capitais brasileiras. Apenas 113 a mais que o total do ano anterior. Por

esse relatório, aproximadamente 80% eram escolas secundárias

particulares e 20% eram públicas.

Ademais, o Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1954)

trazia o registro da extensão da matrícula do ensino secundário: 500.000

estudantes (no ano de 1952 eram 387.762). Pelo Anuário Estatístico do

Brasil (1953), a população entre treze e dezesseis anos perfazia 4.590.306

jovens. Portanto, o percentual de jovens naquela faixa etária

matriculados no ensino secundário (1954) apenas atingia 10,89% dessa

população.

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1955) divulgou

os relatórios de 68 nações, além do relatório das autoridades

educacionais do Brasil. Neste, as autoridades educacionais discorreram

sobre a criação do Fundo Nacional do Ensino Médio, destinado,

principalmente, à concessão de bolsas de estudos para estudantes

pobres (especialmente do ensino secundário), para o aumento salarial

de professores, além da ampliação e da melhoria da rede de escolas

desse nível de ensino públicas e particulares, em correspondência com a

Lei nº 2.342, de 25 de novembro de 1954, que o institucionalizou. Nos

termos do relatório das autoridades educacionais brasileiras,

O Fundo [é] criado com base em um crédito orçamentário

equivalente a 1% da receita de impostos federais, e que

totalizará em 1956 aproximadamente 600.000.000 cruzeiros

[...] o que tornará possível a criação de bolsas de estudo

para alunos carentes e a concessão de subsídios para

escolas particulares (principalmente para aumentar os

salários de seus professores) e para ampliar e melhorar a

rede de escolas públicas e particulares (FINANCIAMENTO

DA EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA, 1955, p. 81).

Page 78: A internacionalização do ensino secundário e da formação

77

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1956) levou ao

conhecimento público os relatórios de 70 nações americanas e

europeias, entre outras, incluindo o do Brasil. Evidentemente, no

confronto entre a recomendação dos investimentos qualitativos e

quantitativos das políticas públicas de educação em geral e da

ampliação das oportunidades socioeducacionais para crianças e jovens,

no território brasileiro, o relatório das autoridades educacionais brasileiras

socializou a expansão da matrícula no ensino secundário nos anos de

1954 e 1955. No primeiro ano (1954), a matrícula abrangeu 560.902

estudantes; já no ano seguinte, foi de 579.781 alunos. Ou seja, o

percentual de matrícula nesse nível de ensino, de um ano para o outro,

progrediu em 3,25%.

Ademais, o relatório das autoridades educacionais deteve-se na

recomendação do investimento qualitativo e quantitativo das políticas

públicas no plano das atividades de educação física, por seu valor vital

na formação integral do adolescente (Conferência Internacional de

Instrução Pública – 1947), expressamente na particularidade do que se

segue:

A provisão legal foi feita em 1955 para a criação e

funcionamento de centros de educação física em

benefício de alunos de escolas secundárias oficiais ou

aprovadas. Nestes centros, os alunos têm instalações

adequadas para fazer exercício [...] (EDUCAÇÃO FÍSICA,

1956, p. 83).

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1957) trouxe a

público os relatórios de 73 nações que colaboraram com essa edição,

entre eles o das autoridades educacionais da nação brasileira. Na

possível equivalência entre recomendações e apropriações para o

ensino secundário, o relatório brasileiro divulgou os dados absolutos da

expansão da matrícula desse nível de ensino do ano de 1956: 619.019

estudantes matriculados. A expansão percentual de matrículas nesse

nível de ensino, de um ano (1955) para o outro (1956), evoluiu para 6,33%.

Page 79: A internacionalização do ensino secundário e da formação

78

A expansão da matrícula no ensino secundário havia sido matéria

de discussão da XII Conferência Nacional de Educação, promovida pela

Associação Brasileira de Educação (A.B.E.), na cidade de Salvador, em

julho de 1956, com o tema A contribuição da escola à compreensão e

utilização das descobertas científicas; a concepção atual de humanismo

e os processos da educação democrática nos diversos graus de ensino

e na vida extra-escolar. Nessa Conferência, não por acaso, havia

representantes da Organização Educativa, Científica e Cultural das

Nações Unidas (Unesco) e da Organização dos Estados Americanos

(OEA).

Evidentemente, a expansão da matrícula no ensino secundário,

em consonância com o princípio da ampliação das oportunidades

escolares para a juventude brasileira, não representava a

democratização desse nível de ensino para todos na nação brasileira,

devido à concentração das escolas secundárias nas capitais dos estados

e no Distrito Federal.

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1958) publicou

os relatórios de 63 nações, incluindo o das autoridades educacionais do

Brasil. No paralelo entre recomendações e apropriações para o ensino

secundário, o relatório brasileiro indicava uma expansão contínua da

matrícula no ensino secundário, que no ano de 1957, havia atingido

668.845 estudantes, enquanto, em 1956, perfez 619.019 alunos, progresso

de 7,45%.

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1959) tornou

público os relatórios de 78 nações, entre os quais o das autoridades

educacionais da nação brasileira. Na comparação, no plano das

recomendações e das apropriações para o ensino secundário, o relatório

brasileiro apresentou os dados da matrícula no ensino secundário

referentes ao ano de 1958: 735.358 alunos. Em 1959, por seu turno, a

expansão da matrícula desse nível de ensino em um ano teria sido de

66.513 novos estudantes.

Page 80: A internacionalização do ensino secundário e da formação

79

Na edição desse Anuário, havia uma produção do Bureau

Internacional de Educação e da Unesco intitulada: Estudo Comparativo

do Progresso Educacional em 1958-1959, convergindo para a expansão

da matrícula escolar no ensino secundário de 37 nações. Visando

demarcar a expansão da matrícula do nível de ensino objeto deste

estudo, foram selecionados os percentuais trazidos referentes às

seguintes nações: Brasil (9,94%), Espanha (17,60%), Estados Unidos (5,41%),

França (13%), México (15%) e Portugal (11%). Entretanto não foi divulgado

o registro de dados absolutos desse nível de ensino para fins de outras

evidências.

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1960) divulgou

os relatórios de 77 nações, entre os quais o das autoridades educacionais

da nação brasileira. Na analogia entre recomendações e apropriações

para o ensino secundário, esse relatório brasileiro atendia, em parte, a

proposição do Seminário Interamericano do Ensino Secundário (1955)

quanto à primazia de uma educação democrática para todos.

O relatório brasileiro, tendo por suposto uma educação

democrática, observava o princípio da ampliação das oportunidades

escolares para a juventude no ensino secundário em todos os estados da

Federação. Nesse sentido, os registros oficiais indicavam que, em 1959, a

matrícula geral desse nível de ensino fora de 791.690 estudantes,

enquanto, no ano seguinte (1960), elevou-se para 868.178 alunos. Em suas

destinações, conforme o princípio da ampliação das oportunidades

escolares, a expansão da matrícula, nos anos considerados (1959 e 1960),

atingiu o percentual de 8,81%.

Nesse Anuário (1960), o Estudo Comparativo do Progresso

Educacional em 1959-1960, do Bureau Internacional de Educação e da

Unesco, publicizava a expansão da matrícula do nível de ensino

secundário daqueles anos, com os percentuais de 62 nações.

Com o objetivo de demarcar a supracitada política pública de

educação, mais uma vez, foram selecionados os percentuais da

Page 81: A internacionalização do ensino secundário e da formação

80

expansão da matrícula escolar do ensino secundário – nesses anos de

1959 e 1960 – igualmente do Brasil (9,7%), da Espanha (17,6%), Estados

Unidos (5,4%), França (11,86%), México (14,26%) e Portugal (8,46%). Pode-

se dizer que houve, por parte das autoridades governamentais dessas

nações, a observância do princípio da ampliação das oportunidades

escolares para a juventude, evidentemente que em proporções distintas,

considerando-se a população escolar de cada nação e os aspectos de

acesso contínuo à escolarização.

O Anuário Internacional da Educação e do Ensino (1961) – o

último a ser considerado nesta pesquisa de doutorado – propiciou a

socialização da expansão do ensino secundário de 85 nações e mais a

da nação brasileira. Na observância entre os dados da expansão da

matrícula do ensino secundário dos anos de 1959 e 1960, constatou-se

que autoridades educacionais brasileiras transcreveram os dados do

relatório de 1959, o que impossibilita uma comparação entre um e outro

ano relativa à expansão da matrícula desse nível ensino.

Especialmente nessa edição do Anuário (1961), o Bureau

Internacional de Educação e a Unesco, indo ao encontro da efetivação

do postulado democrático de ampliação das oportunidades escolares

para a juventude, lançou mão de percentuais da expansão das

matrículas no quinquênio de 1957 a 1961, considerando o conjunto das

nações partícipes das Conferências Internacionais de Instrução Pública.

A princípio, a expansão nesse quinquênio apresentou-se assim

ordenada: 1957 (8,75%); 1958 (10,05%); 1959 (12,09%); 1960 (11,45%) e 1961

(13%). Expandir a escolarização para todos era dever das nações tidas e

havidas como de regime democrático. Ademais, qualquer alargamento

na expansão da matrícula para a juventude, em todo o mundo era, em

si mesmo, um avanço no direito dela de estudar. Defendia Anísio Teixeira

(2007) a expansão das oportunidades para a população estudantil

visando, acima de tudo,

Page 82: A internacionalização do ensino secundário e da formação

81

[...] satisfazer a necessidade democrática de oferecer o

máximo de oportunidades educativas ao brasileiro e, por

outro lado, dar às diferentes classes e ocupações um certo

sentido de equivalência ou identidade de prestígio social

(TEIXEIRA, 2007, p. 107).

Já para o diretor-adjunto do Bureau Internacional de Educação,

Pedro Rosselló (1961, p. 12), a expansão do ensino secundário, ratificada

naquelas séries de percentuais e estudos comparativos, evidenciam as

“[...] tendências educacionais, [para] discernir a direção na qual a

educação está se movendo e estimar a velocidade e o ritmo das

transformações registradas”.

Apropriações das recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública para o ensino secundário no Brasil (1934-1961)

As recomendações das Conferências Internacionais de Instrução

Pública, seletivamente apropriadas pelas autoridades educacionais

brasileiras, não exatamente coincidiram com os anos das Conferências

(1953-1961). As seletivas apropriações constituíram, desde então, políticas

públicas da educação secundária, formalizadas mediante pertinentes

textos legais, conforme o painel que segue.

Ano Recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública Disposições Legais

1936

Na elaboração de planos de

construções escolares, além da

importância concedida às

necessidades arquitetônicas e

higiênicas, devem ser altamente

levados em conta os interesses

educacionais e a opinião das

autoridades escolares ou

pedagógicas.

Decreto nº 34.638, de 17 de

novembro de 1953. Institui a

Campanha de Aperfeiçoamento e

Difusão do Ensino Secundário

(CADES), que tinha entre suas ações

cooperar com os estabelecimentos

de ensino no estudo de projetos de

prédios, instalações e laboratórios.

Page 83: A internacionalização do ensino secundário e da formação

82

Ano Recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública Disposições Legais

1937

Devem ser realizadas reuniões e

conferências de inspetores, a fim de

definirem-se pontos de vista

compatíveis com a liberdade de

ação de cada um.

Decreto nº 40.050, de 29 de setembro

de 1956. Aprova o Regimento da

Diretoria do Ensino Secundário, que

criou as Inspetorias Regionais, às quais

competia promover reuniões dos

inspetores em exercício para exame

de assuntos referentes à inspeção.

1946

Deve dar-se grande importância à

atribuição de uma ajuda financeira

eficaz aos alunos bem dotados que

não disponham de recursos

necessários, concedendo-lhes

matrículas gratuitas e outorgando

empréstimos ou bolsas de estudo

que cubram, na maior proporção

possível, o custo dos estudos.

Decreto n° 39.080, de 30 de abril de

1956. Regulamenta a aplicação dos

recursos do Fundo Nacional do Ensino

Médio para bolsas de estudo para os

adolescentes mais capazes, dentre os

mais necessitados.

1947

A Educação Física deve ser

ministrada, obrigatoriamente, em

todas as classes de ensino

secundário, em qualquer tipo de

escola a que pertençam.

Portaria n° 168, de 17 de abril de 1956.

Consolida as disposições em vigor

sobre a prática da Educação Física

nos estabelecimentos de ensino

secundário, fiscalizados pelo

Ministério da Educação e Cultura.

1950 Estender, quando possível, os planos

de intercâmbio e de missões a

outros países e regiões.

Decreto nº 40.050, de 29 de setembro

de 1956. Aprova o Regimento da

Diretoria do Ensino Secundário do

Ministério da Educação e Cultura,

que, em suas finalidades, indica

promover o intercâmbio entre

professores do ensino secundário,

nacionais e estrangeiros.

1950

Conceder ajuda financeira aos

planos de intercâmbio e de missões

a outros países e regiões,

expandindo-as de modo a

abranger todas as categorias de

professores.

Decreto nº 34.638, de 17 de novembro

de 1953. Institui a Campanha de

Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino

Secundário (CADES), que tinha, entre

em suas finalidades, o incentivo e a

concessão de bolsas de estudo a

professores do ensino secundário

para a realização de cursos e

estágios em instituições nacionais e

estrangeiras.

Page 84: A internacionalização do ensino secundário e da formação

83

Ano Recomendações das Conferências

Internacionais de Instrução Pública Disposições Legais

1951

Estabelecer coordenação entre os

diversos tipos de escolas de ensino

(secundário, técnico e profissional)

de modo a possibilitar a passagem

de um nível para outro.

Lei nº 1.821, de 12 de março de 1953.

Dispõe sobre o regime de

equivalência entre diversos cursos de

graus médio, para efeito de matrícula

no ciclo colegial e nos cursos

superiores.

1955

Considerando que os sistemas de

educação bem organizados

favorecem o progresso econômico,

social e humano dos países que se

beneficiam desses sistemas, devem

todos os países aumentar os créditos

e recursos que consignam à

educação.

Lei nº 2.342, de 25 de novembro de

1954. Dispõe sobre a cooperação

financeira da União em favor do

ensino de grau médio e institui o

Fundo Nacional do Ensino Médio.

Fonte: Repositório da Legislação do Ensino Secundário no Brasil (1837-1971)

No Brasil, a formalização das políticas públicas de educação

secundária por parte das autoridades (mediante leis, decretos e

portarias) evidencia, pois, as seletivas apropriações das recomendações

das Conferências Internacionais de Instrução Pública, além de apontar

para a internacionalização desse nível de ensino no território brasileiro. É

de observar que no decurso das vinte e quatro Conferências

Internacionais de Instrução Pública (1932-1961), a nação brasileira fez-se

representada apenas em cinco delas. Nossa hipótese sobre essa

ausência é, portanto, que ela ocorreu devido à inconstância no cargo

dos ministros da Educação e Saúde Pública. É tanto que, nesse período

de vinte e nove anos, estiveram no cargo de ministro dezessete efetivos

e oito interinos.

Pode-se, então, lançar mão do entendimento de apropriação de

Chartier (1990, p. 26) que remete para “[...] determinações fundamentais

(que são sociais, institucionais, culturais) e escritas nas práticas específicas

que as produzem”. Em última instância, a materialização das políticas

públicas de educação secundária teria, a partir de então, as suas

determinações institucionais nas recomendações das Conferências

Page 85: A internacionalização do ensino secundário e da formação

84

Internacionais de Instrução Pública, mesmo com diferenciações de

alcance e pressupostos.

A formalização das políticas públicas de educação secundária

no Brasil − em suas intersecções com os pressupostos das recomendações

das Conferências Internacionais de Instrução Pública – pode ser

associada ao entendimento de Certeau (1982, p. 162) de estar “[...] mais

ou menos de acordo com os discursos oficiais ou teóricos”. Em outras

palavras, haveria uma relação de aproximação entre a formalização das

práticas em geral, bem como das práticas das políticas públicas em

particular e das representações de educação dos organismos

internacionais idealizadores das Conferências Internacionais de Instrução

Pública (1932-1961).

Page 86: A internacionalização do ensino secundário e da formação

Conclusão

O artigo “O estudo da educação comparada”, de autoria do

professor e pesquisador Isaac Leon Kandel (1956), do Instituto de

Educação da Universidade de Colúmbia (Estados Unidos), deteve-se,

principalmente, em afirmar os acordos de cooperação internacional na

área da educação, para fins do “[...] intercâmbio de idéias e o estímulo

ao estudo dos mesmos problemas, em vários países dotados de culturas

diversas, e o fomento dos mesmos objetivos humanos na educação”

(KANDEL, 1956, p. 29).

Nessa ótica, Kandel (1956, p. 31) chamava atenção para o ideal

norte-americano de pôr em prática o preceito de igualdade de

oportunidades do ensino secundário que “[...] estimulou esforços no

mesmo sentido em outros países, como aspecto inseparável do ideal

democrático, embora a solução norte-americana – escola secundária

para todos – não seja universalmente aceita”.

Em 1953, o diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos

(Inep), professor Anísio Teixeira, havia designado o professor Thales Mello

Carvalho (da Universidade do Brasil e do Instituto de Educação do Rio de

Janeiro) para a missão de estudar, nos Estados Unidos, a acreditação das

escolas secundárias, o que foi realizado em nove estados americanos:

Califórnia, Distrito de Columbia, Flórida, Illinois, Massachussetts, Nova York,

Ohio, Pennsylvania e Texas.

Pelo relatório do professor Thales Mello Carvalho (1953)

apresentado ao diretor do Inep, a finalidade precípua da acreditação

das escolas secundárias americanas, orientada por critérios e

procedimentos elaborados por uma comissão competente para isso, era

o progresso individual e social da juventude. Ou seja, de alunos e alunas

diplomados pelas escolas secundárias.

Page 87: A internacionalização do ensino secundário e da formação

86

Nessa missão de estudar a acreditação das escolas secundárias

americanos, o professor Thales Mello Carvalho esteve na instituição

Southern Association of Colleges and Secondary Schools, com um Comitê

para Assuntos Latino-Americanos designado pela Comissão de Escolas

Secundárias, a quem cabia, desde 1930, a acreditação de escolas desse

nível de ensino na América Latina, com o registro de pelo menos duas

escolas brasileiras. Na apreciação do professor Thales Mello Carvalho, a

proposta norte-americana da acreditação das escolas secundárias

poderia ser uma referência profícua para o sistema de ensino secundário

brasileiro.

Por sua vez, a acreditação do ensino secundário em escolas da

América-Latina por uma instituição norte-americana (Southern

Association of Colleges and Secondary Schools) já indica uma

hegemonia dos Estados Unidos ou seu “papel civilizatório” sobre os países

latino-americanos. Essa hegemonia, especialmente em relação à

orientação educacional, foi evidenciada pelo ministro da Educação

Gustavo Capanema, na Exposição de Motivos da Lei Orgânica do Ensino

Secundário (1942): “É determinada a adoção, em nosso ensino

secundário, da orientação educacional, prática pedagógica de grande

aplicação na vida escolar dos Estados Unidos.”

Pelas pesquisas de Araújo (2006), em 1959, o secretário de

Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte, Grimaldi Ribeiro,

foi convidado por Anísio Teixeira para integrar uma comitiva de

educadores brasileiros, dentre os quais Jayme Abreu (Inep), Ovídio de

Andrade e Eduardo de Carvalho (Capes), Luiz Henrique Tavares (Centro

Regional de Pesquisa Educacional de Salvador) e Raimundo José de

Mata (Universidade Federal da Bahia), para um curso de especialização

no Institute of Inter American Affairs, dos Estados Unidos, sobre métodos

pedagógicos adotados naquele país para o ensino secundário,

principalmente. Nessa missão pelo Inep, esses educadores estiveram nas

Universidades de Michigan e de Illinois.

Page 88: A internacionalização do ensino secundário e da formação

87

Em princípio, as recomendações das Conferências Internacionais

de Instrução Pública (1932-1939) para o ensino secundário evidenciavam

a importância de as autoridades educacionais das nações partícipes

dessas Conferências estabelecerem intercâmbios, estágios e cursos de

aperfeiçoamentos para diretores, inspetores, professores e estudantes.

Isso, mediante acordos de cooperação internacional com países

estrangeiros (leia-se: com os Estados Unidos).

As recomendações das Conferências Internacionais de Instrução

Pública (1946-1952) para o ensino secundário reforçariam, portanto, para

as autoridades educacionais, a necessidade de levarem a efeito

programas de intercâmbio com nações estrangeiras, em instituições

governamentais e não governamentais. Ademais, planos de intercâmbio

entre jovens secundaristas para serem partícipes de uma comunidade

mundial, com ideais comuns de solidariedade e de consciência

internacional.

Já as recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública (1953-1961) para o ensino secundário reiteravam, às

autoridades educacionais que deveriam levar adiante estágios e cursos

de aperfeiçoamentos para professores em países estrangeiros por meio

de programas de intercâmbio. Além do mais, essas recomendações

designavam a cooperação internacional em países estrangeiros para fins

de reciprocidade de concepções, ideias e experiências dos sujeitos

educacionais do ensino secundário (professores, estudantes, diretores,

orientadores, inspetores, entre outros) assim como a aquisição de

coleções internacionais de autores estrangeiros.

Por conseguinte, os relatórios constantes nos Anuários

Internacionais da Educação e do Ensino (1933-1961), da autoria de

autoridades governamentais das nações partícipes das Conferências

Internacionais de Instrução Pública representavam, a partir de então,

espécie de documento comprobatório das políticas públicas em

expansão, especialmente para o ensino secundário.

Page 89: A internacionalização do ensino secundário e da formação

88

Não obstante, as intenções últimas das apropriações dessas

recomendações tinham subentendido o caráter de uniformidade dos

sistemas educacionais nacionais, com a culminância nos estudos

comparativos de níveis de ensino entre nações-membros do Bureau

Internacional da Educação e da Organização Educativa, Científica e

Cultural das Nações Unidas.

Com Peter Burke (2010, p. 54), podem-se pensar as

recomendações das Conferências Internacionais de Instrução Pública

(1931-1961) como mediadoras de interações culturais no plano

educacional, em que “[...] às vezes uma tendência predomina, às vezes

a outra, mas elas alcançam certo equilíbrio no longo prazo”. Já pelos

empréstimos de Certeau (1982, p. 162), pode-se dizer que as

recomendações das Conferências Internacionais de Instrução Pública

“[...] se inscrevem numa rede [apropriações] cujos elementos dependem

estritamente um dos outros, cuja combinação dinâmica forma a história

num momento dado”. E pelos estudos de Chartier (1990, p. 26), admite-

se conceber as recomendações das Conferências Internacionais de

Instrução Pública como “[...] inscritas nas práticas específicas que as

produzem”.

Finalmente, a história da internacionalização do ensino

secundário brasileiro, por meio de pressupostos teóricos, pedagógicos e

políticos de organismos de hegemonia norte-americana, é, sem dúvida,

a história das apropriações das recomendações oriundas das

Conferências Internacionais de Instrução pública, especialmente no

período de 1931 a 1961.

Page 90: A internacionalização do ensino secundário e da formação

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de língua e literatura; b) secção de matemática e desenho; c) secção

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história; f) secção de filosofia, sociologia e pedagogia; g) secção de

metodologia das técnicas; h) secção de matérias do ensino primário; i)

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ANUÁRIO Internacional de Educação e Ensino. Ano 1950. Genebra:

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ANUÁRIO Internacional de Educação e Ensino. Ano 1958. Genebra:

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EDUCAÇÃO Física. Ano 1956. In: Anuário Internacional de Educação e

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ENSINO gratuito. Ano 1936. In: Anuário Internacional de Educação e

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ENSINO secundário. Ano 1939. In: Anuário Internacional l de Educação e

Ensino. Genebra: Bureau Internacional de Educação, 1939.

ESTABELECIMENTOS secundários. Ano 1950. In: Anuário Internacional l de

Educação e Ensino. Genebra: Bureau Internacional de Educação, 1939.

FINANCIAMENTO da Educação Secundária. Ano 1955. In: Anuário

Internacional de Educação e Ensino. Genebra: Bureau Internacional de

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NOVOS Livros Didáticos. Ano 1953. In: Anuário Internacional de Educação

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O MOVIMENTO educativo. Anos 1932-1934. In: Anuário Internacional de

Educação e Ensino. Genebra: Bureau Internacional de Educação, 1934.

O MOVIMENTO educativo. Anos 1947-1948. In: Anuário Internacional de

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ORGANIZAÇÃO escolar. Ano 1949. In: Anuário Internacional de

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