a internaÇÃo compulsÓria do usuÁrio de ... - tcc on...

50
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ELIZANE RIBAS VELOSO MORO A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DO USUÁRIO DE CRACK E O DIREITO À AUTONOMIA EM RELAÇÃO AO SEU CORPO CURITIBA 2014

Upload: dangthuan

Post on 14-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ELIZANE RIBAS VELOSO MORO

A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DO USUÁRIO DE CRACK E O

DIREITO À AUTONOMIA EM RELAÇÃO AO SEU CORPO

CURITIBA

2014

ELIZANE RIBAS VELOSO MORO

A INTERNAÇÃO CONPULSÓRIA DO USUÁRIO DE CRACK E O

DIREITO À AUTONOMIA EM RELAÇÃO AO SEU CORPO

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientadora: Profª.Doutora.Helena de Souza

Rocha

CURITIBA

2014

TERMO DE APROVAÇÃO

ELIZANE RIBAS VELOSO MORO

A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DO USUÁRIO DE CRACK E O

DIREITO À AUTONOMIA EM RELAÇÃO AO SEU CORPO

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,___ de ___________de 2014.

__________________________________________

Prof. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Faculdade de Ciências Jurídicas

Orientadora: _________________________________________

Profª. Doutora. Helena de Souza Rocha

Universidade Tuiuti do Paraná

__________________________________________

Prof. Doutor

Universidade Tuiuti do Paraná

__________________________________________

Prof. Doutor

Universidade Tuiuti do Paraná

Agradecimentos

Ao Deus presente em todos os momentos da minha vida. Ele sempre esteve

comigo nos momentos que eu mais precisei, me deu forças, me levantou, me

encorajou e colocou pessoas no meu caminho a contribuírem para que eu seguisse

essa caminhada.

Ao meu querido e amado pai que embora não esteja mais presente entre nós,

foi a minha grande inspiração, como um homem sábio, com a visão de que o estudo

é a maior herança que se pode deixar a um filho.

À minha orientadora, Helena Rocha, a quem admiro muito pela sua

intelectualidade e capacidade didática na transmissão do seu conhecimento. Através

das suas magníficas aulas me despertou o interesse em apresentar este tema.

Agradeço sua dedicação e auxílio que foram indispensáveis para concretização

desta monografia.

À minha filha Yasmin, a quem eu amo incondicionalmente, a qual mesmo

sentindo minha ausência sempre esteve ao meu lado me apoiando.

À minha mãe e toda minha família que mesmo distante me deram força, me

incentivaram e intercederam por meio de orações e de palavras animadoras.

Ao meu irmão Samuel que me ajudou imensamente nos momentos que eu

precisei.

À minha amiga Darlene, que foi como um anjo que Deus colocou no meu

caminho durante esses cinco anos.

Aos meus amigos, pelo carinho e compreensão nos momentos em que a

dedicação aos estudos foi exclusiva, eles me entenderam, a todos que direta ou

indiretamente contribuíram para a concretização deste estudo.

Dedico esta monografia, primeiramente a Deus por tudo o que

fizeste na minha vida e para minha filha Yasmin, pela sua

compreensão e apoio.

“Faça de maneira que a máxima de tua vontade

possa ser o tempo todo princípio de uma lei geral”

Immanuel Kant

RESUMO

O presente trabalho busca analisar como o aumento do consumo de

substâncias psicotrópicas, especificamente o crack, e as políticas públicas para

enfrentar este problema podem resultar em violações do princípio da dignidade da

pessoa humana e do princípio bioético da autonomia pessoal. O elevado consumo

de crack na sociedade brasileira contribuiu para considerá-lo como uma epidemia,

em razão de seu prognóstico preocupante, e em decorrência do seu poder lesivo e

epidemiológico. Frente a esse prognóstico, foi dada uma interpretação e aplicação

da medida de internação compulsória prevista na Lei n 10.216/01 sobre a reforma

psiquiátrica de forma a possibilitar o uso desta medida para dependentes químicos,

fundamentando-a numa suposta proteção do seu direito à saúde e seu resgate

social. Porém, essa intervenção do Estado no direito à autonomia do dependente

químico em relação seu corpo é muito polêmica e possui divergência de

posicionamentos entre os doutrinadores. A pesquisa abordará esse conflito de

direitos fundamentais analisando-o à luz dos princípios da bioética e do princípio da

dignidade da pessoa humana.

Palavras chave: Crack, internação compulsória, autonomia, bioética,

dignidade humana, saúde mental.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS PSICOTRÓPICAS .................................................... 11

2.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO A LEGALIDADE DO USO DA SUBSTÂNCIA ........ 11

2.1.2 Classificação quanto à ação ou efeito que a droga causa ao cérebro. ............ 12

2.2 CONSEQUENCIAS DO USO .............................................................................. 12

2.2.1 Dependência Química ...................................................................................... 12

2.2.2 Outras doenças que podem ser causadas pelo uso das drogas ...................... 13

2.3 CONTEXTO HISTÓRICO DA PROIBIÇÃO DO USO DAS SUBSTÂNCIAS

PSICOTRÓPICAS ..................................................................................................... 14

2.4 TRATAMENTO AO USO DE SUBSTÂNCIA QUÍMICA NO BRASIL ................... 16

2.5 Políticas Pública Redução de Danos .................................................................. 17

2.6 CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE O CRACK ..................................................... 18

2.6.1 Efeitos e consequências do uso de crack ........................................................ 19

3 A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA ........................................................................ 22

3.1 O HISTÓRICO DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA ........................................... 22

3.1.1 TRATAMENTO DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA NO BRASIL ................... 24

3.1.2 A Lei nº 10.216/2001 e a internação compulsória ............................................ 26

3.3 O USO DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA PARA O DEPENDENTE DE CRACK

NO BRASIL ............................................................................................................... 27

4.O TRATAMENTO DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA À LUZ DA BIOÉTICA E

DO BIODIREITO ...................................................................................................... 33

4.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ........................................ 32

4.2 A internação Compulsória de usuário de crack a partir dos princípios da bioética

.................................................................................................................................. 33

4.2.1 Princípio da autonomia ..................................................................................... 37

4.2.2 Princípio da beneficência ................................................................................. 38

4.2.3.Princípio da não maleficência ........................................................................... 41

4.2.4 Princípio da justiça ........................................................................................... 42

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 46

9

1 INTRODUÇÃO

A Constituição Federal como lei maior deve ser respeitada e necessariamente

servir de base norteadora aos operadores de Direito no momento de interpretar as

normas no caso concreto. De forma que garanta a todo cidadão o seu direito

assegurado constitucionalmente e que esse mesmo direito não incidam restrições

abusivas por parte do Estado. Contudo, há situações em que o operador do direito

se depara com tamanha complexidade, pois por um lado garante um direito tutelado

constitucionalmente, porém para alcançá-lo terá que restringir outro direito ou

garantia constitucional, é preciso que essa restrição seja limitada de maneira que se

respeite o princípio da dignidade humana.

O presente estudo tem por escopo examinar a intervenção do Estado no

direito à autonomia da vontade do usuário de crack em relação ao seu corpo. Com a

justificativa de proteger a vida e resgatar o dependente químico ao convívio social

sob a afirmação de que esse usuário de drogas se encontra numa situação que já

não detém a capacidade racional de decidir por si. O Estado acaba interferindo na

sua vida, essa interferência tem ensejado muita polêmica e divergência de

posicionamentos entre os especialistas da psiquiatria, da psicologia e os aplicadores

do direito. Com esta pesquisa pretende- se compreender as argumentações

pautadas na defesa e na contrariedade da aplicação do instituto no Brasil, bem

como a tomada de uma posição pessoal.

Desta forma, no primeiro capítulo o presente trabalho abordará o conceito

das substâncias químicas psicotrópicas e o seu contexto histórico no mundo e no

Brasil. Além disso, será feito um estudo do crack, desde o seu surgimento no Brasil

e também sobre a facilidade com que essa droga chega até as pessoas de todas as

classes sociais e econômicas. Também será apresentado o histórico da tutela

estatal dos usuários de entorpecentes desde a Idade Média até a atualidade,

passando pelas regulamentações e políticas públicas adotadas para combater e

tratar o vício no âmbito mundial e nacional.

No segundo capítulo, demonstrar-se-á que o instituto da internação

compulsória já existe desde a Idade Média, quando as pessoas com hanseníase

(leprosos) eram afastadas da sociedade. Essa prática foi repetida em outras

pessoas acometidas de doenças infectocontagiosas, como as doenças venéreas.

10

Eventualmente a prática de segregação foi estendida para doentes mentais, que

passaram a receber o status de estorvos do avanço econômico e jurídico. Nesta

análise histórica, serão apresentadas as diversas normativas de Direito

Internacional, brasileiro e comparado sobre a temática, centrando a análise nas

mudanças trazidas a partir da reforma psiquiátrica do Brasil e no novo paradigma e

tutela a doentes mentais inseridos no ordenamento jurídico brasileiro.

No terceiro capítulo, a polêmica central e objeto da pesquisa: a possibilidade

da internação compulsória de usuário de crack e o impacto desta medida nos

direitos fundamentais do usuário. Para tanto, será examinado o princípio da

dignidade da pessoa humana e analisado a internação compulsória a luz dos

princípios da bioética. Assim como apresentado argumentos dos especialistas que,

de um lado, defendem a medida como necessária para manutenção da ordem

pública e para garantir o direito à saúde do usuário e seu resgate social. Por outro

lado, identificam-na com uma medida autoritária de higienização das cidades,

descomprometida com a garantia efetiva dos direitos destes cidadãos e violatória de

sua dignidade e autonomia.

Por fim, com todo conteúdo teórico sobre a temática, assevera-se que a

discussão reside justamente no fato de que quando há um conflito de bens tutelados

constitucionalmente e dificilmente haverá uma solução que assegure de forma

ampla, a proteção de ambos os direitos fundamentais. O que os profissionais da

saúde e os operadores do direito fazem é buscar nos princípios constitucionais e na

bioética amparo para justificar sua defesa ou oposição a aplicação da internação

compulsória.

11

2 SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS PSICOTRÓPICAS

A existência das drogas é secular e a utilização dessas substâncias que

ensejam a mudança na condição de consciência de um indivíduo é um elemento

cultural que será influenciado de acordo com diversos contextos, sejam eles: sociais,

econômicos, religioso, psicológico e ritual. (CARTILHA DOBRE O CRACK, 2011 p.7)

A substância química seja ela de forma natural ou sintética, uma vez

aplicada ou administrada no organismo de um indivíduo enseja alterações no seu

funcionamento. A terminação droga recebe diversas interpretações, mas usualmente

está ligada a idéia de droga proibida, uso ilegal. O seu poder lesivo enseja a

mudança de humor, de percepções e modificações de conduta dos seus usuários.

Já as substâncias psicotrópicas desenvolvem modificações mentais e de

comportamento, porque afetam o sistema nervoso central de um individuo.

Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo modifica suas funções. As drogas naturais são obtidas através de determinadas plantas, de animais e de alguns minerais. Exemplo a cafeína (do café), a nicotina (presente no tabaco), o ópio (na papoula) e o THC tetrahidrocanabiol (da maconha). As drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso técnicas especiais. O termo droga presta - se a várias interpretações, mas comumente suscita a idéia de uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções, as sensações, o humor e o comportamento. As drogas estão classificadas em três categorias: as estimulantes, os depressores e os perturbadores das atividades mentais. O termo droga envolve os analgésicos, estimulantes, alucinógenos, tranquilizantes e barbitúricos, além do álcool e substâncias voláteis. As psicotrópicas são as drogas que tem tropismo e afetam o Sistema Nervoso Central, modificando as atividades psíquicas e o comportamento. Essas drogas podem ser absorvidas de várias formas: por injeção, por inalação via oral,injeção intravenosa ou aplicadas via retal (supositório). (CONSELHO NACIONAL DE ANTIDROGAS 2011).

2.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO A LEGALIDADE DO USO DAS SUBSTÂNCIAS

QUÍMICAS

As substâncias químicas podem ser qualificadas como ilícitas e lícitas,

sendo que a primeira é classificada entre outras como: maconha, cocaína, heroína,

ecstasy, ácido lisérgico (LSD), e o crack. Elas não podem ser consumidas e muito

menos comercializadas, pelo menos com a anuência do Estado, cujo consumo

causa modificações mentais.

12

Enquanto as substâncias lícitas que são: tabaco, álcool e cafeína, essas

drogas são comercializadas com anuência do Estado, porém há controle do Estado

sobre a venda dessas substâncias. Como exemplo, o álcool que pode ser

comercializado, porém sua venda é proibida em diversos países para menores de 18

anos e proibido seu consumo em escolas. Assim, como há o controle na venda

daqueles medicamentos que embora contenham um potencial elevado de

nocividade em seu uso são indicados por médicos para tratamentos.

A base para determinar, quais drogas são lícitas e quais são ilícitas são

mais culturais do que científicos, porque irá depender que cada atributo e valor

colocado por cada país que irá influenciar para se ter o conceito de droga e que

esse conceito pode variar com o decorrer dos anos e de casa Estado.

Essa separação pode ensejar a idéia de que as drogas lícitas são boas, e

que as drogas ilícitas são mais perigosas e lesivas, porém deve se verificar que as

drogas lícitas também podem levar a doenças e mortes. (ALBERT EINSTEN, 2009)

2.1.2 Classificação quanto à ação ou efeito que a droga causa ao cérebro.

As drogas estimulantes são aquelas que aumentam a atividade cerebral

deixando seus usuários ativos e ligados, como a aceleração de pensamento.

Enquanto as substâncias depressoras tornam seus usuários mais lentos,

sonolentos, desatentos, ensejando a redução da atividade cerebral, além de também

servir como analgésico. Já as substâncias perturbadoras são aquelas que estão

ligadas ao quadro de alucinações, e delírios normalmente visual. Ou seja, não tem

caráter de acelerar ou reduzir a atividade cerebral, mas o cérebro passa a funcionar

anormalmente. (ALBERT EINSTEIN, 2009).

2.2 CONSEQUENCIAS DO USO

2.2.1 Dependência Química

A consequência do consumo de substância química caracteriza - se de um

estado de necessidade físico ou psicológico, que o usuário desencadeia com do uso

de drogas em maiores quantidades para se obter os mesmos efeitos. O uso

contínuo das substâncias ocorre pelo envolvimento com o sistema nervoso central

do usuário. Há risco de morte súbita, paranóia, agressividade e parada cardíaca.

13

Quando os usuários ficam um tempo sem usar a droga se sentem depressivos. As

drogas exercem diferentes efeitos no organismo dos usuários (BOA SAÚDE, 2006).

A dependência química é uma doença decorrente de mais de um problema,

na química cerebral do que um colapso de caráter. A dependência se caracteriza

pela perda do controle do uso de drogas, e assim, causa danos nas diversas esferas

da vida: pessoal, familiar, trabalho, lazer, judicial, etc.

A Dependência Química é uma doença decorrente mais de uma pane na química cerebral do que um colapso do caráter. A Organização Mundial da Saúde – OMS define a dependência química como um estado psíquico e físico que sempre incluem uma compulsão de modo contínuo ou periódico, podendo causar várias doenças crônicas físico-psíquicas, com sérios distúrbios de comportamento. Pode também, ser resultado de fatores biológicos, genéticos, psicossociais, ambientais e culturais, considerada hoje como uma epidemia social, pois atinge toda gama da sociedade, desde a classe social mais elevada a mais baixa. A Classificação Internacional de Doenças – CID-10 define-a como transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas. (DEPENDÊNCIA QUÍMICA, 2007).

2.2.2 Outras doenças que podem ser causadas pelo uso das drogas

Existem inúmeras doenças que são causadas pelo uso abusivo das drogas, o

dano que a droga pode ensejar e a gravidade das doenças irá depender do tipo de

droga utilizada e a quantidade ingerida pelo usuário. Dentre as várias doenças e as

complicações causadas pelo consumo descontrolado dessas substâncias estão: a

AIDS, as doenças venéreas, a endocardite infecciosa, hepatite, HPV, o enfisema

pulmonar, comprometimento cerebral, cirrose e câncer no fígado, insuficiência renal,

distúrbios comportamentais, desnutrição e lesões na pele causadas pelo

envelhecimento precoce.

As drogas que são inaladas provocam complicações graves nos pulmões,

enquanto as injetadas na corrente sanguínea ou ingeridas ensejam infecções que

lesionam todo organismo. As lesões provocadas pelo uso abusivo das drogas

comumente é freqüente nos indivíduos que consomem drogas por longo período e a

cura somente acontece se os usuários deixam de usar as substâncias (PORTAL DA

DEPENDÊNCIA QUÍMICA, 2013).

O uso impróprio de drogas institui um fator de ascensão dos inúmeros casos

de doenças graves como a AIDS e as infecções causadas pelo vírus B-HBV e C-

HCV da hepatite, em decorrência do uso comum de seringas por usuários de drogas

injetáveis. Entre 1986 e 1999, a dimensão de usuários de drogas injetáveis (UDI), no

14

total de casos de AIDS noticiado ao Ministério da Saúde, cresceu de 4,1% para

21,7%. No início dos anos 90, esse percentual chegou a 25%. (CONSELHO

NACIONAL ANTIDROGAS, 2011, p.6)

Segundo o Ministério de Saúde (2004, p.12 apud OMS, 2001) em média 10%

das populações que vivem nos grandes centros urbanos em todo mundo utilizam

substâncias psicotrópicas disjunto de cor ,sexo ,grau de instrução ou classe social

,além de identificar que 25% dos casos de AIDS tem relação direta ou indiretamente

com a utilização de drogas injetáveis devido a troca de seringas pelos usuários de

drogas .

.

2.3 CONTEXTO HISTÓRICO DA PROIBIÇÃO DO USO DAS SUBSTÂNCIAS

PSICOTRÓPICAS

De acordo com o entendimento de Ribeiro (2013, p.23) o consumo de

substância psicoativa ganha intensidade no período das grandes navegações no

século XVI, quando essas drogas passaram a ser consideradas produtos valiosos e

utilizados tanto para fins médicos como recreativos. O comércio intensificou-se de tal

modo que durante o século XIX a Europa e os Estados Unidos já tinham acesso a

uma imensa variedade de novas drogas.

A Guerra do Ópio (1839 -1841) marcou esse processo. Os ingleses detinham

o monopólio internacional desse mercado, intensificando o comércio das

substâncias psicotrópicas em vasta escala. Com a expansão e a introdução dessas

substâncias em novos países, as drogas tornaram-se mais populares, o que

acarretou vários impactos sociais, como intoxicações, overdoses, e muitas

complicações para a saúde.

Até então não havia nenhum tipo de política pública que cuidasse dessa

questão, estas substâncias não eram proibidas, razão pela qual incentivava seu

consumo. Ante ao impacto de danos causados a saúde de muitos desses usuários

emerge a necessidade de se criar políticas públicas com objetivo de solucionar esse

problema da massificação do consumo dessas substâncias.

O modelo proibicioista que se exalou na metade do século XIX era fundado

nos aspectos morais e religiosos e políticos, conforme ensina Ribeiro (2013, p.25).

Na segunda metade do século XIX a mentalidade proibicionista se difundiu em vários campos da sociedade norte – americana. Em

15

1869, foi fundado o partido proíbicionista .Surgiram diversas sociedades e ligas da Sociedade Nova Iorquina para supressão do vício .A Liga das Senhoras Cristãs (1873) e as Ligas Antissalooon (1893) .

Os Estados dentro de um espírito sanitarista e aproveitando o momento

propício no início do século o tema. Nos Estados Unidos em 1906, foi aprovada a

regulamentação Pure Food and Drug Act, essa norma exigia a minúcia da

composição dos medicamentos. Em 1914 foi criada a regulamentação Harrison

Narcotics Act que previa a proibição da cocaína, ficando determinado que essas

substâncias só pudessem ser utilizadas sob prescrição médica.

Alguns anos após o consumo de álcool foi banido pela aprovação da 18ª

Emenda constitucional dos Estados Unidos ou Voustead Act. Essa medida ficou

conhecida como “Lei Seca”, a qual foi um fracasso e somente toou no caso concreto

para fortalecer as máfias e dar início a internacionalização do crime organizado.

Com o fim da lei seca, os mafiosos resultantes de toda aquela proibição, foram

buscar outro mercado ilegal: o da heroína.

A morfina e a cocaína, não eram objeto de preocupação, pois eram

substâncias de uso da elite. Com o fim da Primeira Guerra Mundial ,quando seus

usuários passaram a consumir eram as pessoas menos favorecidas ,passaram a ser

vistas com “olhos punitivos”.

A ação de proibição se pautava em dois fundamentos, o primeiro pela ordem

moral e religiosa, e o segundo pela questão higienista, partiam do ideal que seria um

mundo livre das drogas, sendo a partir daí proibido o uso, o comércio e a produção

de substâncias ilícitas, sendo também as condutas a serem tipificadas como crime

tendo como sanção pena privativa de liberdade e penas corporais em alguns países

(RIBEIRO, 2013, p.27).

A primeira convenção que determina a proibição do ópio e cannabis ocorreu

em Nova Iork pela Liga das Nações. Em 1971 a Liga das Nações em nova

convenção realizado em Viena estabelece-se a banimento do LSD. A terceira

convenção que e é realizada também em Viena pelas Nações Unidas fortaleceu o

modelo proibicionista – punitiva como medida de combate ao crime organizado.

Segundo leciona Ribeiro (2013, p.27) desde que os Estados modernos

iniciaram políticas públicas para o combate a questão das drogas, o modelo que

16

prevaleceu foi o proibicionista - punitivo que ainda se perdura nos modelos de

políticas públicas atuais.

2.4 TRATAMENTO JURÍDICO SOBRE O USO DE SUBSTÂNCIA QUÍMICA NO

BRASIL

Em consonância com Ribeiro (2013, p. 31) a primeira legislação que tratará

sobre a questão das drogas é a Ordenações Filipinas 1 que regulou a venda de

remédios. Ainda na fase imperial foi sancionado código imperial em dezembro de

1830, esta regulamentação representou o primeiro sistema que ficou marcado pelo

primeiro ato de a proibição de venda e o uso da maconha. No século XIX, as drogas

foram consideradas pela norma ameaças à saúde coletiva e individual, e o código

penal de 1890 considerava crime contra a saúde pública, expor a venda, ministrar

substâncias venenosas em seu artigo 159.

A sistematização legal da questão das drogas no Brasil é baseada nos

acordos internacionais. Em 10 de fevereiro de 1915 foi criado o Decreto n.11.481

que estabelece que seja cumprido o acordo firmado na Conferência Internacional de

Ópio, a qual foi realizada em Haia em 1912, o Brasil foi signatário. Após esse

período por quase meio século vigorou o modelo de política criminal sanitarista.

Segundo ensina o mesmo autor supracitado a criminalização pela posse ilícita

foi disposta pelo Decreto n. 20.930 criado em 1932, enquanto o consumo das drogas

passou a ser tipificado como crime por meio do Decreto - Lei n.891, de 25 de

novembro de 1938. Porém, com a criação do Código Penal de 1940 ocorre a

revogação de todos os dispositivos. O golpe militar de 64 contribuiu de certa forma

para a criação do modelo de política criminal designada de bélico.

O Decreto-Lei n.385, de 26 de dezembro de 1968 altera o artigo 281 do

Código Penal equiparando a conduta do usuário de drogas à do traficante. Anos

depois pela Lei de Entorpecentes n 6.368 de 01 de outubro de 1976 que vigeu até

2006 trouxeram em seu bojo a distinção do usuário (art.16) e traficante (art.16).

O aumento e o fortalecimento dos traficantes ,assim como o clamor público

por segurança e a pressão internacional contribuíram para o recrudescimento do

1 As Ordenações Filipinas dispõe em seu livro V título 89 que “Nenhuma pessoa tenha em

casa para vender rosalgar branco, nem vermelho, nem amarelo,nem solimão, nem escamonéa , nem ópio,salvo se for boticário examinado e que tenha licença para ter botica e usar do ofício”.

17

processo penal ,tanto que em 25 de março de 1990 cria-se a chamada Lei n 8072 de

crimes hediondos, em 1995 a lei n.9.034/95 que trata sobre os meios de repressão e

prevenção de organizações criminosas, assim como a lei n.9.613/98 que dispõe

sobre os crimes de lavagem de dinheiro. E por último a lei n. 11.343/06 a nova

regulamentação sobre drogas, que apesar de manter a conduta daqueles usuários

de substâncias psicotrópicas, reduz o controle penal sobre o uso, adotando-se uma

política criminal proibicionista moderada e dispõe sobre o respeito à autonomia e a

liberdade do dependente químico (RIBEIRO, 2013, p.36 e 37).

Conforme ensina Passos, (2011, p.54) com a epidemia do vírus da AIDS na

década de 70, os pesquisadores identificaram um grande número de usuários de

drogas injetáveis, principalmente na cidade de Santos que ganhou destaque na

época por ser sua localização estratégica.

Esse fato causou um imenso impacto na saúde pública municipal que em

1988 liderou o ranking de casos de AIDS. Frente a esse quadro em 1989 criou-se o

primeiro Programa de Redução de Danos, associado ao uso de drogas injetáveis,

como foco para reduzir os riscos. Esse novo modelo de política pública será

estudado no próximo capítulo.

2.5 Políticas Pública Redução de Danos

Para Passos (2011, p.54) no Brasil as ações de políticas públicas

caminharam lentamente, em virtude de rearranjos políticos que mantiveram as

práticas autoritárias mesmo num país democrático. O panorama brasileiro

enfrentado na atualidade se deu pelo fato do alto índice de inflação, muitas pessoas

que vieram para os grandes centros urbanos e com isso aumentando a pobreza, a

periferia.

O novo modelo de política pública visa o bem estar do usuário que fizer uso

de droga que seja com os devidos cuidados e precauções para evitar danos maiores

a sua saúde física, psíquica e familiar. Ele afirma que nos países que há anos já

adotam essa política de redução de danos, a polícia identificou uma redução na

criminalidade ligada ao uso e comércio clandestino das substâncias psicoativas.

Não carecendo de imposição de abstinência ou punição.

O mesmo autor aponta que esse novo paradigma se tem por fundamento a

dignidade humana do dependente químico que precisa ter seus direitos

18

constitucionais garantidos. Conforme Passos (2011, 154 apud Mesquita, 2011) no

Brasil, a primeira iniciativa com relação ao programa de Redução de Danos, se deu

na Cidade de Santos – São Paulo, no início da década de 1990, como uma medida

estratégica de início como forma de combater a transmissão do HIV, o qual

apresentava alto índice de transmissão da doença pelo uso de drogas injetáveis. Foi

criado o Programa da Troca de Seringas.

Em 2003 o programa de Redução de Dano deixa de ser uma medida para

combate ao HIV, mas passa a ser uma medida política do Ministério de Saúde para

atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas, assim como de saúde de

mental.

2.6 CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE O CRACK

O crack é visto como uma nova forma de administração da cocaína, que até

então era cheirada, e sua absolvição em quantidades menores de forma lenta pelas

membranas nasais alcançando o cérebro e o sangue aos poucos. Enquanto o crack

que é fumado e chega ao pulmão, à corrente sanguínea e depois ao cérebro muito

rápido e praticamente de uma só vez, semelhantemente quando a droga é injetada.

O crack é formado a partir da mistura do cloridrato de cocaína com o

bicarbonato de sódio, formando uma pedra como (cristal) própria para ser fumado,

mas seus efeitos são mais intensos e mais rápidos, provocando grande fissura e

compulsão pelo emprego de nova dose. O seu baixo custo e fácil acesso, além do

volume reduzido pelo fato da substância ser produzida a partir da cocaína e ainda

pode ser vendida em pedras, tudo isso contribuiu para a dilatação do comércio e

popularidade da droga. (RIBEIRO, 2013, p.79).

Para Laranjeiras (2010, p.37) o crack é tido como uma droga em alta

concentração e toxidade, sendo uma mistura de cocaína, e bicarbonato de sódio e

fica semelhante a pedras de cristais que pode ser fumada colocando - as em

cachimbo. Seus efeitos são amplamente mais intensos, e pelo fato de ser fumado

são imensamente mais rápidos.

O crack surge na década de 80 nos Estados Unidos nos bairros pobres das

cidades de Nova York, Miami e Los Angeles, os primeiros consumistas identificados

foram os jovens negros e origem hispano-americana.

19

No Brasil, no final da década de 80, os primeiros casos relatados de usuários

de crack, emergiram na periferia, mas que com sua rápida expansão, logo estava

presente nos grandes centros urbanos e na atualidade já está presente em diversas

classes socioeconômicas e a cada dia ganhando mais adeptos da classe média.

Segundo o Centro Brasileiro de Informações - CEBRID, os primeiros usuários eram

homens de baixa renda, que não tinham vínculos sociais e familiares, no decorrer do

tempo, as mulheres passaram a consumir a droga e para manter seu vício passaram

a traficar e se prostituir.

As pessoas experimentam pelo anseio do prazer que a droga pode causar,

porém, seu poder de dependência é tão extenso que em pouco tempo se tornam

escravos dessa droga e em decorrência desse vício muitos sujeitos abandonam sua

vida e se voltam para o mundo do crime, da prostituição para nutrir seu vício.

Além do alto poder de vício dessa substância, o dano que ela causa em

decorrência do seu uso freqüente psíquica é comprometedor para a função física e

psíquica do usuário que sob o efeito da droga perde todo seu controle sobre si.

(SENADO FEDERAL, 2011).

2.6.1 Efeitos e consequências do uso de crack

O crack é uma substância altamente lesiva e seus efeitos além de atingir

rapidamente o cérebro altera seu funcionamento normal, e a durabilidade dos efeitos

como a sensação de prazer, euforia entre outros, passa muito rápido e em

decorrência disso o uso passa a ser descontrolado de maneira que seus cada vez

mais o dependente químico irá consumir mais crack para a prolongação dos efeitos.

Ao ser fumado, é absolvido pelo pulmão e chega ao cérebro em 10 segundos. Após a “pipada”, (ato de inalar a fumaça) o usuário sente grande prazer, intensa euforia, sensação de poder ,insônia ,perda de sensação de cansaço,excitação ,falta de apetite .O uso passa a ser compulsivo ,pois o efeito dura de 5 a 10 minutos e a fissura (vontade ) em usar novamente a droga torna-se incontrolável .Segue-se repentina e profunda depressão e surge o desejo intenso de uso repetido imediato.Assim,serão usadas muitas pedras para manter o efeito estimulante.(CARTILHA SOBRE O CRACK,2011,p.9)

Em relação às conseqüências provocadas em decorrência do consumo do

crack são destruidoras, tanto fisicamente como psicologicamente, na parte física

conforme ensina a Cartilha sobre o crack,( 2011, p.10) as danificações são inúmeras

20

dentre elas: o dano ao pulmão, bronquite, asma, risco de causar um acidente

vascular cerebral, além da ausência de fome ,degeneração muscular ,e ainda sofre

queimadura nos lábios ,dedos e nariz.Enquanto, as lesões psicológicas que a

substância causa ao usuário é altamente nocivas, de maneira que ele se torna um

risco a si mesmo e para sociedade.

Psicológicas: Fácil dependência após uso inicial. Grande desconforto durante abstinência gerando depressão, ansiedade e agressividade contra terceiros. Há diminuição marcante do interesse sexual. A necessidade do uso frequente acarreta delitos, para obtenção de dinheiro, venda de bens pessoais e familiares, e até prostituição, tudo para sustentar o vício. A promiscuidade leva à grave risco de se contrair AIDS e outras DST (doenças sexualmente transmissíveis). O usuário também apresenta com frequência atitudes bizarras devido ao aparecimento de paranóia (“nóia”), colocando em risco a própria vida e a dos outros.

Mediante o exposto verifica-se que o consumo de substâncias químicas

psicotrópicas sempre existiu. A proibição do consumo dessas substâncias passou a

ser tratada como política criminal na metade do século XIX pelo fato de que o abuso

das drogas ensejava a criminalidade e a violência. O clamor da sociedade por

segurança e o aumentos das grandes máfias contribuiu para a manutenção do modo

baseado na repressão. Somente a partir do início do século XXI é que em

decorrência do impacto epidemiológico que o uso abusivo causou aos usuários é

que mudou – se o entendimento de que a problemática do crack não se trata apenas

de uma questão criminal, mas também de saúde pública.

O tratamento jurídico no Brasil sobre a questão do uso de substâncias

químicas repercutiu este histórico, o que pode verificar pelas mudanças na

legislação penal sobre a matéria. Contudo, verifica-se por meio de dados que o

aumento de dependentes químicos que consomem regularmente o crack é

gigantesco e que conforme exposto anteriormente os danos altamente lesivos que a

droga pode causar a seus usuários sejam eles físicos ou psicológicos.

Segundo os números apresentados pela Fiocruz (2013) constatou-se que

80% dos usuários de crack utilizam a droga em locais públicos, isso não importa em

dizer que esse percentual seja dos usuários de crack que vivem nas ruas somente e

que não tem moradia fixa, mas sim pelo fato de que as pesquisas precisam ser

realizadas também nesses espaços públicos, não somente em domicílios.

Os usuários regulares de crack e/ou de formas similares de cocaína fumada (pasta-base, merla e oxi) somam 370 mil pessoas nas 26 capitais brasileiras

21

e no Distrito Federal. Considerada uma população oculta e de difícil acesso, ela representa 35% do total de consumidores de drogas ilícitas, com exceção da maconha, nesses municípios, estimado em1 milhão de usuários.

Todos os fatores decorrentes do uso de crack, mencionados anteriormente

neste estudo, contribuíram para enfatizar e a direcionar o poder estatal a pensar a

respeito da internação compulsória que será abordada no próximo capítulo.

22

3 A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA

Neste capítulo será abordado o contexto histórico do instituto da internação

compulsória, demonstrando que ela não é uma prática recente no âmbito mundial,

mas que já existe desde a Idade Média. Para tanto serão expostas as diversas

normativas que trataram a matéria no decorrer do tempo até a atualidade

ressaltando a importância da Lei nº 10.216/01 conhecida como a Reforma

Psiquiátrica que possibilitou a internação compulsória do usuário de crack no Brasil.

3.1 O HISTÓRICO DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA

A internação de uma pessoa se dá pelo fato dela ser retirado da sociedade

para receber tratamento, o que implica numa restrição ao seu direito a liberdade de

movimento. A internação compulsória, além da sua remoção física para o

tratamento, há ainda a restrição ao seu direito de ir e vir, baseado em algum motivo

considerado relevante, e a restrição a sua autonomia da vontade, por isso

compulsória.

Segundo leciona Foucault (2004, p.8) o instituto da internação compulsória

surgiu na Idade Média, quando as pessoas acometidas com hanseníase eram

isoladas da sociedade e internadas nos chamados leprosários, como medida para

impedir que a doença se alastrasse na sociedade. Contudo, não havia qualquer tipo

de preocupação com esses indivíduos, não havia tratamentos, eles não eram

submetidos a tratamento que visasse a sua cura ou melhora,eram retirados do

convívio social para benefícios de outros No final da Idade Média, os leprosários

foram esvaziados.

As próximas pessoas a serem excluídos da sociedade seriam as pessoas

infectadas por doenças venéreas, as quais eram afastadas da sociedade e isoladas

em espaço coletivo, que foram construídos para este fim. Esses indivíduos agora

seriam isolados da sociedade, mas a exclusão agora seria moral, no sentido de que

doença venérea não se transmitia e o isolamento era pela questão moral, e com a

distinção de que seriam submetidos a tratamento médico, com acompanhamento

dos profissionais. Diversamente dos leprosos que foram excluídos do espaço físico

para que a doença não fosse transmitida e não tiveram tratamento médico.

23

No século XVII pessoas identificadas como loucas também foram

submetidas à exclusão social conforme leciona Foucault (2004, p.8):

Foi será necessário um longo momento de latência, quase dois séculos, para que esse novo espantalho, que sucede a lepra nos medos seculares, suscite como ela reações de divisão, de exclusão, de purificação que, no entanto, lhe são aparentadas de uma maneira bem evidente. Antes de a loucura ser denominada, por volta da metade do século XVII, antes que se ressuscitem, sem seu favor, velhos ritos, ela tinha estado ligada obstinadamente, a todas as experiências maiores da renascença.

Ainda discorrendo sobre o ensinamento do mesmo autor, a sua crítica à

internação dos loucos é por ser baseada em critérios discriminatórios, pois estas

pessoas não eram internadas nem para serem tratadas ou nem para restringir o

avanço de doenças contagiosas, mas sim porque eram vistos como uma ameaça ao

avanço da economia da Europa no século XVIII.

Somente no século XIX é que a loucura passa a ser relacionada com doença

mental e a ser ligada a tratamentos médicos especializados. A partir desse momento

surge à psiquiatria e os centros de internamentos, assim como os manicômios.

A França foi a primeira a criar uma regulamentação sobre a internação dos

loucos e os tratamentos médicos em 1838. Essa regulamentação acabou por

influenciar o mundo ocidental conforme leciona Brito (2004, p. 27).

A mesma autora afirma que a lei francesa foi de extrema importância para a

evolução da psiquiatria e para construção de um modelo de tratamento baseado no

asilo hospitalar. A lei francesa previa todos os procedimentos a serem adotados

sobre a internação do doente acometido de loucura. Dentre eles: os tipos de

tratamentos que seriam aplicados a essas vítimas da loucura ,assim como a

determinação da construção de lugares para abrigo desses indivíduos, os

procedimentos que seriam realizados aos internados e até mesmo a forma de

administração dos bens dessas pessoas.

Além de constar à responsabilidade do estado pela guarda e cuidado desses

doentes mentais. Descrevia também a sobre a documentação necessária para

internação e alta do paciente, além de constar que o médico emitiria um parecer

sobre a capacidade do doente quando iniciava o tratamento até a sua alta médica.

24

3.1.1 TRATAMENTO JURÍDICO DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA NO BRASIL

No Brasil a internação compulsória emerge em 1808 com a chegada da

família real, que consigo traz muitas pessoas, elas montam uma estrutura na capital

do Rio de Janeiro, toda essa estrutura contribui para o avanço da economia, em

alguns setores como o comércio e a indústria. Esse evento e o fato de na época a

vida econômica ser organizada por trabalhos escravo contribuiu para o aumento da

população.

Com o crescimento da população aparecem pelas ruas da cidade os loucos

que poderiam ou ser presos ou internados na Santa Casa da Misericórdia, esse local

era um abrigo, que não oferecia para esses indivíduos tratamento, mas servia como

forma de mantê-los afastadas da sociedade para a manutenção da ordem pública.

Eles recebiam tratamentos diferenciados dos demais internos, ficando presos em

porões e se ficavam agitados sofriam contenção física, além de ficarem propícios a

doenças infecciosas. (BRITO, 2004 p. 32).

De acordo com ensinamento de Rocha (1989, p.15) verifica-se que no Brasil

não foi diferente dos demais países em relação à forma de discriminar, de isolar

essas pessoas e mais sem oferecer qualquer tipo de tratamento, pelo contrário o

objetivo era a manutenção da ordem pública.

Segundo Rocha (1989, p.15) “é a psiquiatria que cria espaço próprio para o

enclausura mento do louco – capaz de dominá-lo e submetê-lo.” Esse quadro mudou

no Brasil por meio de manifestações de um grupo de médicos que fazia parte da

Sociedade de Medicina do Rio. (BRITO, 2013 apud AMARANTE, 2003) que

constatou por meio de pesquisa a precariedade enfrentada por estes loucos nos

hospitais, nas ruas e na prisão. Os médicos escreviam artigos criticando a forma em

que esses indivíduos eram tratados e visavam à construção de asilos que

garantissem higiene e tratamento humano e moral, assim como tratamentos

médicos.

Somente em 1852 foi inaugurado o primeiro asilo por intermédio de um

Decreto criado em 1841 da Fundação do Hospício Pedro II assinado pelo imperador

do mesmo nome e desde a sua inauguração surgiram às críticas porque, foi

administrado por um tempo pela Santa Casa e não havia profissional da psiquiatria,

faltavam médicos, além de aplicarem maus tratos aos alienados, situações que deu

ensejo a muita crítica de que o asilo não estava cumprindo o objetivo que era a cura.

25

Em 1890 com a instauração da República o Hospício Pedro II, tornou-se

Hospital Nacional de alienadas passou a ser dirigido pelo Estado.

Somente em 1903 influenciado pela Lei Francesa de 1938 é que o Brasil criou

o Decreto 1.132 que reorganiza a assistência a alienados, onde é criada uma

comissão formada pelo procurador da república ou o curador do órfão para fiscalizar

os estabelecimentos públicos e particulares de alienados. Além de buscar a

unificação da assistência psiquiátrica no país, e estimular à construção de abrigos

estaduais e a vedação do cerceamento de doentes mentais.Assim como,

determinava a humanização dos tratamentos, ao menos nos parâmetros do

pensamento da época (AMARANTE ET AL 1998,p.189).

O Decreto 24.559 de 1934 aboliu a anterior de 1903, essa nova

regulamentação tratou da fiscalização, da assistência e da proteção à pessoa e aos

bens dos psicopatas, assim como cuidou de fiscalizar os serviços psiquiátricos.

Outra inovação trazida pelo novo Decreto foi à modificação do termo “alienado” por

“psicopata” foi considerado que a denominação nova era mais vasta. A

incapacidade do doente mental foi reafirmada, sendo facilitado o recurso à

internação, válido por qualquer motivo que torne incômoda a manutenção do

psicopata em sua residência. (AMARANTE ET AL 1998 p.189).

Na década de 70 o movimento sanitário deu início a manifestações em favor

de mudanças nos modelos de gestão e nas práticas de saúde prestadas aos

trabalhadores e usuários dos serviços de saúde. Ou seja, a reforma psiquiátrica

emerge pela crise no modelo de assistência, centrado no hospital psiquiátrico e

também pela iniciativa e esforços dos movimentos sociais em busca dos direitos dos

pacientes psiquiátricos.

Em 1978 foi aprovada na Itália a chamada "Lei 180", ou "Lei da Reforma

Psiquiátrica Italiana". Essa lei foi incorporada a lei da reforma sanitária, a

regulamentação além de vedar a recuperação dos manicômios também proíbe a

construção de novos. A lei também reestrutura os recursos para, além de restituir a

cidadania, garantir o direito dos dentes mentais receberem tratamento psiquiátrico.

(BRITO, 2004 p.9).

26

Segundo Bisneto (2009), em 1989 foi apresentado o projeto de lei 2 3.653,

pelo Deputado Federal Paulo Delgado, que propôs uma nova ordem para a

prevenção, tratamento, e proteção dos doentes mentais, dos psicopatas e em geral

de todas as pessoas com transtornos mentais.

O mencionado Deputado se inspirou na lei nº 180 da Itália para criação do

projeto 3.653/89 o projeto 3de lei elencava a extinção dos manicômios, dessa forma

muitos interesses empresariais e econômicos seriam afetados, explicação para a

demora na aprovação da lei que só ocorre em 2001. Promulgada a lei 10.216/2001

lei da reforma psiquiátrica, que teve por base os modelos internacionais como a

psiquiatria, psicoterapia e principalmente a reforma psiquiátrica italiana e que trouxe

em seus dispositivos grandes avanços, e transformações, como por fim nos

manicômios e extinguir o estatuto de periculosidade do louco, além de dispor sobre

as formas de tratamento desses doentes e de inserção na sociedade. (BRITO, 2004,

p.75).

3.1.2 A Lei nº 10.216/2001 e a internação compulsória

Segundo leciona Filho (2013) a Lei n.10.216/01 o novo modelo de tratamento

aos portadores de transtornos mentais trazido pela lei 10216.01 diverge totalmente

do modelo anterior que excluía socialmente o portador de transtorno mental ,assim

como formou princípios basais ,direitos e as diretrizes para o novo paradigma

assistencial a saúde mental. A nova norma está fundada na democracia, de forma

que impõe um dever de respeito a todos os envolvidos na questão, sejam os

operadores de direito, sejam os profissionais da saúde.

Todo procedimento deve ser observado, o princípios da liberdade, da inclusão

social, da isonomia, ou seja, desdobramentos do princípio da dignidade humana. Por

trazer o portador de transtorno mental como um sujeito de direitos, a citada lei torna

a internação compulsória uma medida de exceção que deve ser utilizada apenas

quando o tratamento extra-hospitalar se mostrar insuficiente conforme dispõe o

2 O projeto lei de 1989. Nesse período entre a apresentação do projeto e a aprovação da lei,

alguns estados aprovaram leis próprias baseadas no projeto original do deputado Paulo Delgado e ficaram em vigor até o ano de 2001, com a aprovação da lei 10.216/2001.

3 O projeto de lei elencava a extinção dos manicômios, dessa forma muitos interesses

empresariais e econômicos seriam afetados, explicação para a demora na aprovação da lei que só

ocorre em 2001.

27

artigo 4° da mesma lei, além de dever ser devidamente motivada por um “laudo

médico circunstanciado”, como segue no art. 6°, ou seja, bem diferente dos modelos

anteriores.

Conforme ensina Brasil (2005) às inovações trazidas pela nova

regulamentação se deu pelo fato de que os tratamentos anteriores à reforma

psiquiátrica não ofereciam a cura aos doentes mentais, mas se mostraram

ineficientes, o que causava agravo na loucura dos doentes.

Outra questão se deu em razão do tempo em que o internado ficava isolado

até se comprovar que ele já não mais oferecia perigo à sociedade. Ou seja, essas

pessoas acometidas por doença mental não eram consideradas pessoas sujeito de

direito, mas mero objeto e que a partir do momento que se tornassem um risco de

ameaça a segurança pública e a ordem, poderiam ser recolhidas nos manicômios.

A nova lei também fala da responsabilidade do Estado nos tratamentos a

essas pessoas, além de estabelecer em se bojo as três espécies de internação

conforme leciona o artigo 6º da Lei nº 10.216/01:

Parágrafo único do artigo 6º. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; II – internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e III – internação compulsória: aquela determinada pela justiça.

Conforme ensinamento de Brito (2004, p. 8) a nova regulamentação

representou o início um início de humanização, de redução da discriminação e de

proteção a esses indivíduos que no passado eram tratados como meros objetos e

vistos como estorvos para o avanço da economia

3.3 O USO DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA PARA O DEPENDENTE DE CRACK

NO BRASIL

Segundo entendimento do doutrinador Filho (2013) a aplicação da internação

compulsória para os usuários de crack sob a justificativa de periculosidade e os

distúrbios de personalidade desse dependente não são convincentes, ele explica

que esse procedimento da internação obrigatória é cabível no processo penal como

a internação provisória nos termos do artigo 319 do diploma supracitado aplicar a

internação provisória como medida cautelar para garantia do processo ,assim como

uma medida de segurança na lei de execução penal nos termos do artigo 176 do e

28

também pode ser aplicado como medida protetiva no Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA .

Em primeiro lugar no processo penal, como medida cautelar prevista pelo art. 319, na redação que lhe conferiu a Lei 12.403/2011: a internação provisória, cabível como medida de garantia do processo nos casos de l crimes cometidos com violência ou grave ameaça contra a pessoa, desde que, no incidente de insanidade mental restem revelados a inimputabilidade ou semi-imputabilidade e o prognóstico desfavorável.A internação provisória, conforme se depreende de sua própria denominação, tem caráter temporário, pois serve apenas ao processo, e está sujeita à garantia constitucional da duração razoável do processo

]. Em segundo lugar a

internação compulsória clássica, qual seja, a medida de segurança. A medida de segurança de internação é de prazo indeterminado. Realmente, embora aplicada por prazo mínimo de 1 a 3 anos, a Lei de Execução Penal (LEP), em seu art. 176, prevê a possibilidade de verificação da cessação da periculosidade, desde que presente requerimento fundamentado, antes do decurso de tal prazo. Além disso, apesar de estabelecida por prazo mínimo, a sentença que a aplica não prevê o seu termo final. Em segundo lugar a internação compulsória clássica, qual seja, a medida de segurança. Admissível, também, em princípio, na jurisdição da infância e adolescência, quando caracterizado o transtorno mental, a internação compulsória como medida protetiva (art. 98, inciso III, c.c. 101, V e 112, § 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA Lei 8.069/90) ou como providência suspensiva da medida sócio-educativa (art. 64 da Lei 12.594/2011, que estabeleceu o SINASE). A internação compulsória, em tal hipótese, tem como limite a cessação da jurisdição da Vara da Infância e da Juventude (18 ou, excepcionalmente, 21 anos). (FILHO, 2013)

Segundo leciona Filho (2013) entende ser cabível legalmente somente nessas

três hipóteses supracitadas. Ele explica que os artigos 28 e 29 do Decreto 891/34

embora disponham sobre a internação obrigatória, mas que por ser conflitante com a

lei n.10.216/01 e com os dispositivos, 4º e 5º da lei 11.343/2011, não poderiam ser

aplicados. Mas, ainda há determinações de internação obrigatória com base no

decreto 224.59/34 que dispunha sobre a profilaxia, assistência e proteção à pessoa

e aos bens dos psicopatas e a fiscalização dos serviços psiquiátricos.

Ele afirma que esse Decreto além de também ser conflitante com a lei

10.216/01 também foi revogado pelo decreto 99.678/90. Ou seja, se a lei 10.216/01

não prevê a internação compulsória especificamente do usuário de crack e as

demais mencionadas estão tacitamente revogados por conflitarem com a reforma

psiquiátrica. Em decorrência do princípio da legalidade só pode ser admitido à

internação compulsória nas três hipóteses mencionadas acima. Porém o Estado de

São Paulo por meio do Decreto estadual n.53.427 aplicou o procedimento da

internação por falta de lei específica. O mesmo autor diz que admitir a internação

29

compulsória sem observar os pressupostos legais, há violação dos direitos e

garantias individuais ainda que o faça mesmo sob a justificativa do interesse da

coletividade ensejaria uma quebra do sistema jurídico vigente que está pautado num

caráter protetivo.

De acordo com Ribeiro (2013, p. 83) a aplicação da internação do dependente

químico no caso concreto, teve seu início no Estado do Rio de janeiro, quando a

Secretária Municipal de Assistência Social da Prefeitura que publicou e colocou em

prática a Resolução 20/20114 que determinou a internação compulsória de crianças,

adolescentes e menores de idade usuários de crack que moram na rua, ou seja,

esses sujeitos foram retirados em massa das chamadas cracolândias cariocas e

alojados em unidade de acolhimento.

A Resolução nº 20 da 5 SMAS/PCRJ - Secretária Municipal de Assistência

Social da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, na teoria tomou por base os

preceitos, objetivos e as diretrizes, legítimos fundados no Plano Nacional de Saúde

Mental que prevê a redução de danos dos usuários, contudo conforme ensina o

autor supracitado, com elementos opostos à lógica que tem sido aplicada, a do

confinamento como única medida de tratamento. (RIBEIRO, 2013 p.87).

A iniciativa da Prefeitura carioca ganhou adeptos como o Poder executivo de

São Paulo que se não fosse às manifestações das sociedades civis teria atuado

semelhantemente na cracolândia paulistana. Ocorreram várias audiências públicas

para discussão dessa medida que foi rejeitada. Com a ação antecipada do Estado

do Rio de Janeiro e o manifesto interesse do estado de São Paulo sobre essa

problemática, a Presidência da República noticiou o investimento de

4.000.000.000.00 (quatro bilhões de reais) para investimento do Programa Integrado

de Enfrentamento ao Crack e outras drogas.

Essa notícia política cooperou segundo Ribeiro (2013, p.85) para a

“demonização do crack “no Brasil, o CNM – Conselho Nacional dos Municípios como

uma conveniência política apresentou uma enquete de todos os prefeitos do Brasil

das cidades, esse levantamento não teve nenhum respaldo científico onde colocava

4 Resolução 20/2011 Protocolo de abordagem à Pessoa em situação de Rua

5 SMAS/PCRJ – Secretária Municipal de Assistência social da Prefeitura Municipal do Rio de

Janeiro.

30

o crack presente em 98 % das cidades. Ou seja, noticiou nacionalmente uma

epidemia forjada do crack.

Logo depois o Ministro da Saúde retomou o plano de enfrentamento ao crack

,mas agora com adequações ,e investimentos recebidos para aplicar no Sistema

Único de Saúde – SUS .Logo após essas mudanças o estado de são Paulo iniciou a

operação sufoco que consiste na retirada dos dependentes químicos das chamadas

cracolâncias paulistanas. A ocupação policial na cracolândia se deu com disparos de

projéteis de borracha, totalmente desnecessário provocando a violência, sem falar

no desrespeito aos direitos fundamentais da pessoa humana conforme leciona.

Maurides de Melo Ribeiro: (2013, p. 85)

A complexidade da questão das drogas – e do crack ,em especial exige uma intervenção diversificada contínua e baseada no humanismo e na tolerância ,não na segregação e no autoritarismo . O foco deve ser a saúde

e a reinserção social.

Conforme ensina o autor supracitado à questão das drogas no Brasil por

conveniências políticas se tornou uma epidemia forjada e como medida de combatê-

la se aplica uma ação coercitiva e autoritária, ou seja, o tratamento terapêutico é

uma segregação forçada. Verifica-se tamanha arbitrariedade e desvio do que

consagra lei 10.216/01 dentre outros direitos, o direito de ser tratado com

humanidade, respeito, objetivando a busca da saúde, da reinserção social.

A Comissão de Direitos humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP

2013 p.18) organizou a VII Conferência Nacional de Psicologia e Direitos humanos,

onde participaram dessa conferência vários profissionais da área da psicologia e

operadores do direito para discutir o assunto tendo como temática as drogas, os

direitos humanos e o laço social.Os profissionais debatem o assunto a respeito da

internação compulsória, é levantado à discussão e análise da internação

compulsória à luz dos direitos humanos, e se analisa o fato de que o dependente

químico está sendo considerado como um sujeito que não obedece as regras, os

limites impostos pelo poder dominante e por isso seria menos humano que àqueles

que obedecem aos limites e as regras atendendo aos anseios do poder

dominante,esses indivíduos seriam mais humanos ,essa análise é levantada durante

a conferência para se pensar nos direitos humanos não como tratados ,normas ,mas

como na concepção humana .

31

O psiquiatra Sérgio Braghini explica que a internação compulsória não existia

no texto original do projeto da Reforma Psiquiátrica, porém durante o período em

que ficou em análise para aprovação no Congresso Nacional acabou sendo inserido

na lei 10.216 no artigo 9º para atender aos anseios de alguns psiquiatras. (REVISTA

CONTATO, 2013).

O psiquiatra Dartiu Xavier leciona que a internação compulsória se justifica

para ser utilizado em um indivíduo com um quadro de transtornos mentais, como

psicose, riscos de suicídio, delírios, mas esses transtornos são mentais e não

decorrentes do uso de crack.(REVISTA CONTATO,2013).

O Cientista Mauricio Fiore explica que a lei 10.216/01 foi uma conquista no

que tange ao novo modelo de tratamento das pessoas portadoras de transtornos

mentais e que ficou marcado pela luta pelo não confinamento manicomial, razão

pela qual a aplicação da internação do dependente químico seria uma afronta a essa

lei. (REVISTA CONTATO, 2013).

Percebe-se que a internação obrigatória desde a sua aplicação no caso

concreto pelos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, ensejou muita discussão a

respeito. E pelo fato de se tratar de uma colisão de direitos fundamentais vem sendo

discutido em debates, causando muita polêmica e divergência de opiniões. No

próximo capítulo será examinado o tratamento da internação obrigatória à luz da

bioética e do biodireito ,tendo o principio da dignidade humana como parâmetro para

essas duas ciências e sendo elemento condutor nas suas tomadas e decisões.Ainda

serão apresentadas as justificativas favoráveis e contrárias a internação compulsória

do dependente químico.

32

4 O TRATAMENTO DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA À LUZ DO BIODIREITO E

DA BIOÉTICA

O Direito e a Bioética precisam caminhar juntos, cada um cumprindo o seu

papel, a Bioética no campo da obrigação moral e o direito elaborando as leis que

regulem as atividades humanas atendendo à proteção da vida. Assim, o Biodireito

torna-se basal para Bioética. Vale dizer, que o Biodireito embasar-se-á em princípios

constitucionais, gerais e peculiares, tendo como padrão o valor da pessoa humana.

A vida e a dignidade são os bens mais valiosos do ser humano, portanto urge

a necessidade do direito intervir nas questões biotecnológicas e biomédicas

considerando a gama de valores inerentes ao ser humano que merecem a tutela

jurídica. (FERREIRA, 1989, p.7) A autora supracitada define a bioética como sendo

“um estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e dos

cuidados da saúde, na medida em que essa conduta é examinada à luz dos valores

e princípios morais”, e o Biodireito como:

Um conjunto de normas esparsas que têm por objeto regular as atividades desenvolvidas pelas biociências e biotecnologias com o fim de manter a integridade e a dignidade humana frente ao progresso benefício ou não das conquistas científicas em favor da vida. (FERREIRA, 1989, p.7)

A Bioética pode ser definida como a “ciência da sobrevivência”, no sentido

inexistir comunicação entre a ciência e a humanidade, sendo a humanidade o

agente que coloca em perigo o futuro, e que para a sobrevivência da humanidade

seria necessário fazer uma ponte de entre essas duas culturas a fim de buscar uma

nova forma de atuar capaz de prover o conhecimento necessário em favor do

homem. O termo bioético, ressalta os dois elementos, o conhecimento biológico e

valores humanos (PINEIRO, 2013, apud POTTER, 2002).

A Bioética emerge num contexto cultural de intensas mudanças culturais, em

vista de grandes transformações na área da biotecnologia no meio do século XX, O

ser humano começa a se preocupar com as questões problemáticas que aconteciam

em decorrência de mutações culturais, os fatores relevantes que deram origem a

bioética foi segundo o autor supracitado o desenvolvimento tecno - científico, a

situação crítica dos direitos individuais, o pluralismo social e a relação médico

paciente.

33

Após a criação do termo bioética em 1974, o congresso norte americano criou

uma Comissão Nacional para Proteção dos Seres humanos em Pesquisas

biomédicas e Comportamentais, com a finalidade de buscar os princípios básicos

norteadores que serviriam de parâmetro nos casos e investigação envolvendo seres

humanos. Conclusos os trabalhos em 1978 foi criado o Relatório Belmont no qual

expunha os princípios éticos básicos que regeriam a relação médico paciente, o

mesmo autor ensina que os princípios não são precisos, portanto não estabelecendo

regras de ação, mas são princípios que constituem diretrizes gerais que acabam

dando margem para a sua apreciação no caso peculiar.

Esses princípios são introduzidos no ordenamento brasileiro por meio da

Resolução nº 196 6 que prevê os seguintes princípios em seu inciso I: “autonomia,

não maleficência, beneficência e justiça”.

A Bioética não possui novos princípios éticos fundamentais. "trata- se da ética

já conhecida, mas que deve fazer face aos novos desafios derivados do progresso

das ciências biomédicas” (PINEIRO, 2013, apud CLOTET, 2000) A Bioética procura

assegurar a dignidade humana de acordo com as circunstâncias e para isso, os

princípios orientadores serão referências do que se considera um comportamento

ético em relação à vida. Os princípios da bioética e suas diretrizes estão voltados em

procurar sempre o que é melhor para o ser humano e para humanidade. (OLIVEIRA,

2002, p.55).

Para isso, o princípio da dignidade humana toará como um parâmetro comum

entre a bioética e o biodireito sendo o elemento condutor nas decisões relacionadas

ao ser humano. No próximo demonstrar-se-á a importância do principio

constitucional da dignidade humana como fundamento para as decisões envolvendo

o ser humano.

4.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA

A Dignidade Humana se fortaleceu após a segunda guerra mundial, é um dos

princípios mais exalados das Constituições Mundiais. Na Constituição Federal

Brasileira esse princípio consta não apenas como direito fundamental, mas também

como princípio fundamental da República, ele se impõe como núcleo basilar e

6 Resolução n.196 de 10 de outubro de 1996, Plenário do Conselho Nacional de Saúde.

34

norteador de todo ordenamento jurídico, critério e parâmetro de valoração com o fim

de orientação e compreensão do sistema constitucional. (NETO, 2014, p.19 e 20).

O título I da Constituição da República Federativa do Brasil estabelece quais

são os princípios fundamentais que deverão ser observados no Brasil e o seu art. 1º,

Inciso III traz entre eles, com bastante destaque a dignidade da pessoa humana.

O Princípio da dignidade humana como sendo um principio basilar norteador

das interpretações no mundo jurídico é um bem constitucional postulado

constitucionalmente que garante ao interpretador do direito invocá-lo quando se

deparar com uma colisão de direitos fundamentais como fundamento para solução

desse conflito (RIDOLA 2014, p.70).

O artigo 1º 7da Declaração dos Direitos Humanos instituída em 1948 dispõe

sobre o princípio da dignidade humana dispondo que todas as pessoas dotadas de

razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de

fraternidade. Fica evidenciado o reconhecimento da pessoa humana acolhido pelo

documento internacional e que a partir desse reconhecimento jurídico o ser humano

deixa de ser um mero objeto passando a ser um sujeito de direitos se tornando

titular de um valor considerável.

A Declaração universal dos Direitos Humanos segundo o entendimento do

filósofo e jurista italiano Norberto Bobbio (1192) pode se considerar como a maior

prova existente de consonância entre os seres humanos, além de representar um

resumo do passado para inspiração para o futuro.

Segundo o referido autor a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um

engenho e um norte para o crescimento da sociedade internacional, com o principal

escopo de torná-la Estado, e possibilitar aos seres humanos a igualdade e liberdade

os Direitos humanos garantem os direitos básicos de todos os indivíduos e também

a liberdade. Para Bobbio (1992), o homem tem que ser livre igual aos demais e ter

liberdade. E o socialismo- liberal de Bobbio almeja encontrar um caminho para tal

igualdade e liberdade.

A partir do advento do princípio da dignidade humana o indivíduo foi colocado

no centro das relações passando a ter um papel basal de sujeito que deve ser

7 O artigo 1º da Declaração dos Direitos Humanos instituída em 1948, leciona que: “todas as

pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem

agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade

35

considerado com um fim em si mesmo fundamental; e ele incumbido é considerado

deve considerado como um fim em si mesmo e não mais um meio. Contudo, o

princípio da dignidade humana é tão vasto que há dificuldades em ser efetivado no

caso concreto nas relações cotidianas. (KANT, 2004 p.294).

Conforme leciona Neto (2013, p.37 apud BUMKE 2000, p.56) a presença do

conceito de dignidade humana previsto na constituição pode-se dizer que o Estado

existe por causa do ser humano, ou seja, o Estado existe para proteger os

indivíduos contra as arbitrariedades garantindo aos cidadãos a proteção de seus

direitos.

O princípio da dignidade humana é um valor intrínseco da personalidade

humana, ou seja, cada pessoa é dotada do poder de autodeterminação de poder

escolher por levar a vida como quiser, em relação a sua intimidade, a privacidade

entre outros atributos da sua personalidade. O indivíduo que vive em sociedade está

restrito aos limites do Estado, contudo a sua independência deve ser garantida, ele

deve ser visto pela sociedade como uma pessoa dotada de valores inerentes a ela e

estes devendo ser respeitados com igualdade as demais pessoas, se o Estado não

respeitar a autonomia desse cidadão ele será um mero objeto e terá sua dignidade

infringida.

O indivíduo que não tem a sua autonomia respeitada pelo Estado pode ser

considerado como uma mera coisa, um objeto não dotado de racionalidade. O

mesmo autor explica que: as pessoas possuem o poder de autodeterminação e que

eles são insubstituíveis, significa dizer que cada pessoa responde por si, um

indivíduo não pode responder pelo outro sem seu consentimento. A escolha do

indivíduo deve ser feita livremente sem máculas, pois o Estado pode intervir nas

situações em que existirem mácula no consentimento de um indivíduo. (NETO, 2014

apud KLAUS).

Segundo Neto (2013 p.83apud DWORKIN, 2011 p.366 e 370) a dignidade

humana não está só pautada na vontade de uma pessoa, ele não vislumbra essa

visão voluntarista, para ele só haverá violação da dignidade humana de um sujeito

quando a ele negar a sua autodeterminação nas esferas básicas e essenciais da

vida.

A dignidade humana não está em jogo sempre que se contraria a vontade de um sujeito. Ele rejeita essa visão voluntarista, a fim de dizer que a dignidade só é violada É violada quando se nega a autodeterminação em esferas básicas e essenciais da vida de alguém.

36

O doutrinador Pardo (2013, apud SARLET) explica que a dignidade humana

tem função dúplice, significa dizer que o Estado pode intervir na dignidade humana

do cidadão, mas para assegurar a ele a proteção o resguardo de sua dignidade, esta

intervenção deve ser limitada para que não ocorra a transgressão da autonomia do

indivíduo.

Assim como a dignidade não deve ser vista apenas como um direito, mas

como um princípio fundamental que norteia e limita a ação estatal sobre a

sociedade, além de ter o Estado o dever de garantir aos cidadãos condições

existência e protegê-los de eventuais ofensas à autonomia.

De acordo com o ensinamento de Neto ( 2014, p.46 e 50) o ser humano deve

ser tratado com isonomia, independente das classes sociais, como raça, limitações

de ordem física, gênero isso porque, como titular de um direito constitucional da

dignidade ele, isso já confere a ele pela sua condição de ser humano esse direito

intrínseco. Isso implica em dizer que nenhum indivíduo é intrinsecamente melhor ou

pior que a outro indivíduo, portanto, o ser humano é titular da dignidade humana que

é inerente a ele, a dignidade é um predicado desvencilhado de qualquer situação

pessoal de um sujeito e, portanto nenhuma particularidade pessoal do ser humano

será justificativa para afastar o seu direito.

O ser humano espera das pessoas um respeito que já nasce consigo por

valor moral ou espiritual e a e a partir desse entendimento é que se espera o mútuo

respeito. Além de que essa dignidade está pautada também no poder de

autodeterminação que todo ser humano tem consigo a autonomia nas tomada de

decisões, cabendo ao ordenamento jurídico assegurar a proteção de seus direitos

fundamentais.

A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta regularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria e traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto ser humano. (Moraes, 2010, p.22)

4.2 A internação Compulsória de usuário de crack a partir dos princípios da bioética

Neste capítulo será abordado o impacto que a internação compulsória de

usuário de crack ensejou com a intervenção do Estado no direito à autonomia do

37

dependente químico em relação ao seu corpo, com a justificativa de suposta

proteção ao direito a vida e ao seu resgate social. Para tanto será analisado esse

procedimento a partir dos princípios da bioética, assim como as justificativas dos

doutrinadores favoráveis e contrários a internação forçada e jurisprudências.

4.2.1 Princípio da autonomia

O princípio da autonomia visa assegurar ao ser humano um tratamento digno,

o que implica em dizer que o ser humano deixa de ser visto e tratado como um mero

objeto na relação médico - paciente passando a figurar nessa relação como um

sujeito de direitos, responsável por seus atos e capaz de tomar decisões que afetem

sua vida, sua integridade físico-psíquica, suas relações sociais, ou seja, um ser

dotado de razão.

O direito moral do ser humano à autonomia gera nas outras pessoas e

também nos profissionais da saúde o dever de respeitar os valores morais e

religiosos com que cada pessoa ou seu representante detém, pois, se não houver o

respeito, mas existir imposição será considerado violação da intimidade. Esse

respeito à autonomia do ser humano está pautado no princípio da dignidade

humana. (Oliveira 2002, p.55).

Segundo Pineiro (2013, apud SILVA) o princípio da autonomia deixa de

privilegiar, apenas, um dos lados da relação médico-paciente. A vontade do paciente

ganha relevância que a autonomia da vontade significa que o "indivíduo é livre de,

pela declaração de sua própria vontade, em conformidade com a lei, criar direitos e

obrigações”.

Para Fortes (2000, p.1) a manifestação da essência da autonomia é o

consentimento esclarecido, isso, implica em dizer que o ser humano quando receber

as informações de maneira clara, compreensível sobre algum procedimento que

venha afetar a sua integridade física- psíquica, ele poderá decidir voluntariamente

consentindo tal ato. Esse consentimento precisa ser livre, voluntário, não permitindo

erros ou vícios e de forma alguma ser consentido mediante coação moral, física ou

através de práticas enganosas.

Ante o exposto verifica-se a necessidade do direito e a bioética andarem lado

a lado, isso porque, a bioética por meio de seus princípios assegurará o princípio da

dignidade humana como um valor moral enquanto o biodireito irá criar leis que

38

possam garantir a proteção desses direitos aos seres humanos. Para tanto a

bioética dispõe em seus princípios que norteiam o aplicador do direito de modo a

não ensejar a violação de um direito.

Portanto, ao analisar a internação compulsória de usuário de crack sob o

prisma do princípio bioético da autonomia no que tange a restrição ao direito à

autonomia em relação ao seu corpo. O CRESS/PR - Conselho Regional Estadual de

Serviço social do Paraná em conjunto com o Conselho Federal de Serviço Social

entende o Estado deve proteger e ao mesmo tempo ser limitado a não ofender a

autonomia do cidadão.

Neste sentido de proteção ao direito de autonomia do dependente químico,

esclarece seu repúdio contra a aplicação da internação compulsória, a conselheira

do CFESS- Conselho Federal de Serviço Social, Heleni Ávila, também integrante da

Frente Nacional Drogas e Direitos Humanos ilustra que internar o dependente

químico sem seu consentimento significa retomar uma política higienista e de

exclusão social como acontecia nas décadas passadas.Além de ser uma maneira

dos governantes retirar dos centros urbanos esses sujeitos principalmente para

atender aos anseios capitalista, para alcançar seus objetivos confina e reprime parte

da população ,sem ao menos pensar em criar-se políticas públicas que à essas

pessoas melhores condições de vida (CRESS PR ,2013).

Concorda com esse entendimento a assistente social e pesquisadora Cristina

Brittes do Conselho Federal de Serviço Social também se coloca contrária à

internação compulsória afirmando que essa aplicação viola os direitos e que o

problema enfrentado em relação às drogas no Brasil tem raízes históricas e é

complexo.

A retirada à força dessas pessoas sem o seu consentimento para a

internação não resolveria o problema, mas atenderia a os interesses econômicos e

políticos. A assistente ainda faz crítica à individualização de tratamento por acreditar

que esse é insuficiente no sentido de que carece de várias políticas sociais como

forma de combate ao crack e não apenas de um modelo carcerário como solução do

problema, restando claro a violação direitos desses cidadãos. (CRESS PR, 2013).

4.2.2 Princípio da beneficência

39

O Princípio da Beneficência significa dizer que todo procedimento, e

prestação de serviços, as instituições, os profissionais a saúde ,assim como os

pesquisadores devem ter a preocupação maior em zelar sempre pela saúde e bem

estar do ser humano ser humano ,a atuação profissional deve ser direcionada a

atender o paciente de acordo com as suas necessidades visando os benefícios da

melhora forma possível, sendo que toda ação na área a saúde deve estar

direcionada para o bem da pessoa evitando, portanto qualquer dano corporal ou

mental (PINEIRO, 2013, p.3).

Analisando a internação obrigatória do dependente químico sob o princípio da

beneficência deve ser considerado que o procedimento aplicado ao dependente

químico vise sempre o bem estar e a saúde do indivíduo. Nesse sentido o

posicionamento da senadora Ana Amélia concorda com esse princípio no sentido de

que internar o dependente químico é buscar a proteção a sua saúde, além de

proteger ele contra si e a sociedade.

O importante psiquiatra e professor da Universidade Federal de São Paulo

Ronaldo Laranjeira em entrevista para (PSIQUIATRIATRIA UNIFESP, 2013)

defende a facilitação da internação compulsória nos casos extremados e que após o

período de desintoxicação eles recebam todos os cuidados necessários. O professor

explica que a internação compulsória já vem sendo utilizada no Brasil pela classe

média e que logo após a fase inicial que é a mais crítica o dependente passa a ter

condições de analisar a sua situação e acaba aceitando o tratamento.

Ele aponta que países democráticos como a Suécia e os Estado Unidos

estados utilizam esse procedimento, nos Estados através de pesquisas verificou- se

a eficácia do tratamento. O mesmo autor defende que a internação do usuário de

crack é um ato solidário. “Você tem que cuidar daquelas pessoas que estão

desmaiadas na rua (devido ao uso abusivo do crack). Isso é um ato de solidariedade

e não cárcere privado".

Em consonância com entendimento de que o Estado deve intervir nos direitos

fundamentais de um indivíduo quando o bem maior que é a vida tutelado

constitucionalmente estiver em jogo. Nesse sentido ensina o Conselheiro do

Conselho Federal de Medicina Emmanuel Fortes (CFM 2011) que a internação

compulsória está amparada constitucionalmente, porque visa à proteção da vida que

é um bem indisponível e que embora o Estado restrinja a autonomia do dependente

40

químico seria uma exceção a regra, mesmo porque a vida não é menos valorosa

que a liberdade do usuário de drogas.

“A vida é um bem indisponível. E a liberdade, embora tutelada pela Constituição, é uma conquista que não pode ser exercida de qualquer maneira. Existem restrições ao exercício da liberdade. A vida, a do indivíduo doente e as daqueles que estão expostos a sua ação, não tem valor menor do que a liberdade”,avaliou, Fortes. “É importante ressaltar que as garantias individuais são preservadas nessas situações: o paciente pode pedir revisão da internação, e todas as internações dessa natureza são comunicadas ao Ministério Público”, completou.

Neste mesmo raciocínio o Supremo Tribunal Federal negou provimento ao

recurso voluntário interposto pelo Município de Morro Agudo sob o argumento de

que é dever do Estado garantir à saúde do dependente químico conforme determina

o artigo 196 da constituição Federal.

Ação civil Pública – Internação de paciente dependente de substâncias químicas – Afastadas preliminares de ilegitimidade ativa do Ministério Público e ilegitimidade passiva ad causam do Município de Morro – Agudo Direito à saúde; dever do Estado, direito do povo – Art. 196 da Constituição da República, norma programática que não constitui promessa constitucional inconsequente (STF, 2ª T., AgRE 273834-4-RS, Rel. Min. Celso de Mello) – Ação julgada procedente – Sentença mantida – Recurso voluntário desprovido.A necessidade de internação compulsória em clínica especializada para tratamento de drogadição é imprescindível para a recuperação do autor, conforme documento médico e estudo social. A pretensão encontra fundamento em dispositivos constitucionais, já que a internação do dependente de substâncias químicas é medida protetiva, que busca o adequado tratamento médico, para salvaguardar a saúde e à integridade física e mental, tendo como alicerce a dignidade da pessoa humana. (BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação cível nº 0002324-59.2010.8.26.0374. Apelante: Prefeitura Municipal De Morro Agudo. Apelado: Ministério Público Do Estado De São Paulo. Relator: Ribeiro de Paula. São Paulo, 31 de agosto de 2011).

Sob o argumento de proteger a saúde do dependente químico e fundado na

lei n.10216.01 o Tribunal de justiça do Rio de Janeiro, deu provimento ao Agravo de

Instrumento com antecipação de tutela que foi indeferido pelo juiz monocrático sob o

argumento de que o laudo médico era insuficiente para determinação da internação

compulsória.

Agravo de Instrumento - Ação de obrigação de fazer. Filho da agravante portador de dependência química. Necessidade de internação e clínica especializada. Laudo médico tutela antecipada ..Deferimento .Presença dos requisitos legais .Decisão reformada.Recurso provido. 1. Interposição de recurso contra a decisão que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela, entendendo ser insuficiente o laudo médico, que não

41

permite vislumbrar a certeza da necessidade de internação compulsória do segundo agravado por dependência química. 2. A pretensão de internação do filho da agravante, dependente químico, em clínica especializada encontra amparo constitucional, segundo o disposto no art. 196 da Constituição Federal, estando tal situação regulamentada pela Lei nº 10.216/01, havendo risco de lesão grave e de difícil reparação não somente à sua saúde, mas à preservação de sua própria vida. 3. Verossimilhança do direito invocado a respeito da doença que acomete o filho da agravante, com prescrição médica atestando a dependência química (a doença), a necessidade de internação em clínica especializada ainda que de modo involuntário (o tratamento), (BRASIL, Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Agravo de instrumento agravo nº 0030173-17.2014.8.19.0000. Agravante: Rita de Cássia Batista Soares. Agravado: Município de Nova Iguaçu: Relator: Des. Elton M. C. Leme, Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2014).

4.2.3. Princípio da não maleficência

O mesmo autor ensina que a não maleficência revela o dever de que o

profissional da saúde faça seu trabalho objetivando excluir os riscos possíveis ao

paciente, e de maneira que oriente o profissional da saúde aja com cuidado,

consciência e de forma que cause menos sofrimento possível ao paciente. Importa

em dizer que todo procedimento ou tratamento aplicado ao indivíduo deve ser

analisado as formas de não causar riscos a saúde do mesmo.

Em consonância com esse princípio o psiquiatra e professor da Universidade

Federal de São Paulo Dartiu Xavier da Silveira se mostra contrário a aplicação da

internação forçada dizendo que o problema das cracolâncias é um problema social,

e não de saúde’. Afirma que a situação precária em que os moradores de ruas vivem

é conseqüência da omissão do Estado em não oferecer a essas pessoas o acesso a

moradia, a saúde e a educação.

Além de que a situação de vulnerabilidade e miserabilidade com que vivem os

torna suscetível a entrar no mundo das drogas. Explica que o tratamento mais eficaz

é a internação voluntária e que a internação sem o consentimento do paciente

somente é justificável em casos de psicoses, alucinações e risco de suicídio, mas as

pessoas acometidas por esses transtornos seriam por causa de problemas mentais

e não decorrência do uso do crak (PSIQUIATRIATRIA UNIFESP 2013).

Corrobora também com esse entendimento, Antonio Carlos Malheiros,

desembargador (INSTITUTO MUTARE, 2014) ele diz que a internação compulsória

não é eficaz e que a sociedade tem interesse na internação dessas pessoas

independente de ser boa ou ruim para o dependente químico, ele faz crítica

42

afirmando que 90% dos brasileiros não se preocupam com essas pessoas se

colocando favorável a essa medida higienista.

O que eu não quero mais é sair da Sala São Paulo, depois de assistir aquele belo concerto, e topar com essa multidão de zumbis na minha frente. Ou seja, se você desaparecer com eles amarrando uma pedra e jogando no fundo do mar, ta ótimo. Se você quiser levar pra sua casa, ta ótimo também. O que eu não quero é encontrar mais esse lixo humano na minha frente. Assim pensa 90% da população, esses mesmos 90% que querem a redução da maioridade penal e que não ligam a mínima pra saber porque, aquele cara se tornou tão violento. Então, a movimentação, se a gente deixar, é sempre higienista.

4.2.4 Princípio da justiça

O princípio da justiça significa dizer que todo ser humano deve ser tratado de

maneira igualitária de maneira que sejam divididos de forma igual os riscos e os

benefícios de todo tratamento, tratando de forma igual os iguais e de maneira

desigual os desiguais, assim como a constituição garante. Importa em dizer que o

profissional da saúde deve atuar com imparcialidade sem levar em consideração na

sua relação médico paciente, os aspectos religiosos, culturais e financeiros de cada

paciente, para que esses aspectos não sejam causas de interferência nessa relação

(PINEIRO, 2013).

Neste raciocínio de que todo ser humano tem o direito de ser tratado com

igualdade, o Conselho Federal de Psicologia (2013, p.20) demonstra sua posição

totalmente contrária à internação compulsória dos usuários de substâncias

psicoativas, fazendo críticas e sustentando ser um ato discriminatório e por violar os

direitos dessas pessoas, elas serão as próximas vítimas da vez, os dependentes

químicos em específico, os usuários de crack por se entender que no Brasil o crack

se tornou uma epidemia forjada e que uma solução de urgência é jogar fora a sujeira

que está fora do lugar. Ou seja, corrigir esses indivíduos de forma individualizada.

E a forma de tratamento adotada como ação de política pública é retroceder

ao modelo da Idade Média segregando essas pessoas e as afastando da sociedade

como forma de tratamento. Faz menção sobre os preparativos para a Copa do

Mundo 2014 e os jogos olímpicos de 2016, ou seja, a internação compulsória foi à

maneira encontrada segundo defende o Conselho Federal de Psicologia de manter

43

os viciados em crack afastados da sociedade, mantendo a cidade limpa, assim como

vinculando o tratamento a uma forma de castigo:

Preparação ”não se reduz à implementação de infra-instrutora metropolitana mas, principalmente, da reedição de um higienismo que tem como objetivo tornar a cidade “limpa”. Uma assepsia com foco em uma limpeza urbana que retire dos olhos, ouvidos e narizes da burguesia econômica o “lixo social” que a incomoda.

44

CONCLUSÃO

Assevera-se que o consumo sistemático das substâncias psicotrópicas

capazes de modificar o comportamento, a consciências e o humor do indivíduo é

milenar. A proibição do consumo dessas substâncias passou a ser tratada como

política criminal na metade do século XIX, pelo fato de que o abuso das drogas

ensejava a criminalidade e a violência. O clamor da sociedade por segurança e o

aumentos das grandes máfias contribuiu para a manutenção do modo baseado na

repressão.

A política pública criminal pautada no proibicionismo perdurou durante anos,

foi necessário o abuso ao uso das drogas causarem impacto social como mortes,

overdoses e a transmissão do vírus HIV para que o Poder Estatal vislumbrasse a

questão das drogas como um problema de saúde pública e criassem um modelo de

política pública social que versasse não somente na abstinência e na repressão,

mas também sobre a prevenção as drogas e aos danos que ela causava aos seus

usuários.

O Brasil seguiu a mesma linha na década de 70 , com a proibição da venda

das substâncias psicotrópicas, os usuários consumiam as drogas injetáveis como a

cocaína, fato esse que contribuiu para a transmissão do vírus do HIV entre os

dependentes químicos, a cidade de Santos no Estado de São Paulo foi à recordista

na época de pessoas infectadas com o vírus da AIDS, acontecimento esse que

ensejou a criação da política de redução de danos que tinha como medida a troca

das seringas para evitar a transmissão do vírus.

Toda essa repressão as drogas contribuiu de certa forma para o surgimento

do crack que por ser uma droga barata e de fácil acesso, na década de 80 surge no

Brasil, a princípio sendo consumida por moradores de ruas em São Paulo, porém na

atualidade já está presente em diversas classes sociais.

Os fatores do abuso ao consumismo do crack, o seu poder destrutivo, além

das doenças e os transtornos que a droga causa aos seus dependentes e a

criminalidade contribuiu para o Poder estatal mudar o modelo de política até então

adotada. Na atualidade a problemática das drogas vem sendo enfrentada como uma

epidemia. A partir de 2003 o Programa de Redução de Danos que até então versava

sobre a prevenção do vírus HIV, pelo Ministério da saúde passou a tratar a questão

das drogas como saúde pública, criando programas de atendimento aos usuários de

45

álcool e drogas. Com a promulgação da Lei n.10216/01 que dispõe sobre a

possibilidade de internar compulsoriamente o dependente químico que em

decorrência do uso de substância desencadeia transtorno mental. A partir de 2011, o

Estado do Rio de Janeiro iniciou a aplicação dessa medida retirando os usuários de

crack das cracolândias com a suposta justificativa de proteger a saúde e o seu

resgate ao convício social. A partir da iniciativa desse Estado, outros adeptos ,como

São Paulo adotaram essa medida , a qual foi motivo para ensejo de toda essa

polêmica e discussão a respeito.

Ante a todo conteúdo exposto, percebe-se que o que está sendo feito no

Brasil é utilizar a lei nº 10.216.01 por analogia, pelo fato de não existir uma lei

específica que trate sobre a questão. As normas existentes sobre a internação

compulsória conforme demonstrado conflita com a lei 10.216/01 e que, portanto, não

podem ser aplicadas, porque entende- se que tacitamente estão revogadas. Ou

seja, está sendo utilizada a lei 10.216/01 que é fundada no princípio da dignidade

humana como política de segurança, para se alcançar interesses políticos e

econômicos.

Embora esses usuários sejam considerados indivíduos vulneráveis e em

decorrência do uso de drogas tenham sua capacidade diminuída no que diz respeito

a sua autonomia, isso não significa que essas pessoas devem ser afastadas do

convívio da sociedade como única medida de tratamento, mesmo porque já há um

consenso entre os especialistas que essa medida de internação forçada não é

eficaz.

Concordando com entendimento do psiquiatra Dartiu Xavier, a questão do

crack é a conseqüência da omissão do Estado para com essas pessoas que vivem

em situações degradantes, precárias e que os leva para o mundo do crime e do

consumo abusivo as drogas, e não a causa do problema

Ou seja, se a própria lei 10.216/01 está pautada no princípio da dignidade da

pessoa humana e que dispõe um tratamento humanitário, aplicar essa citada lei para

internar os dependentes químicos por analogia, além de ser inconstitucional é ilegal

pois , segundo a teoria Kantiana o homem deve ser considerado um fim em si

mesmo e não pode ser tratado como um mero instrumento para fins alheios.

46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERT EINST. Álcool e Drogas sem Distorção: Albert Einstein Sociedade beneficente Israelita Brasileira. Disponível em: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/drogas_classificacao.htm#. Acesso em: 18 out. 2014. AMARANTE, Paulo. Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998. . AZEVEDO. Roberto, C. S. Saberes e Práticas Científicas. XVI Encontro Regional de história da Anpuh. Disponível em: http://www.encontro2014.rj.anpuh.org/site/anaiscomplementares.Acesso em: 27 out.2014. BESERRA, Fernando, Rocha. Substâncias psicoativas ilícitas no Rio de Janeiro nos séculos XX e XXI: medicalização, criminalização e resistências. Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro. 2010.

BISNETO, José Augusto. Serviço social e saúde mental: uma análise institucional da prática. São Paulo: Editora Cortez, 2009. BOA SAUDE. Os efeitos do abuso da drogas ilícitas na saúde. Junho/2006 Disponível em: http://boasaúde.uol.com.br/lib/. Acesso em: 25 ago. 2014. BOBBIO. Norberto. A Era dos Direitos. Tradução: Carlos Nelson Coutinho. Editora Campus , Rio de Janeiro: 1992. BRASIL. Lei nº. 10.216, de 06 de abril de 2001. Lei da Reforma Psiquiátrica Disponível em:<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 02 ago. 2014. BRASIL. Decreto nº 1.132, de 22 de dezembro de 1903. Reorganiza a assistência aos alienados. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-1132-22-dezembro-1903-585004-publicacaooriginal-107902-pl.html. Acesso em: 13 out.2014. BRASIL. Decreto nº 24559, de 03 de julho de 1.934. Dispõe sobre a profilaxia mental, assistência e proteção á pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos e outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D24559impressao.htm. Acesso em: 13 out.2014. BRASIL. Decreto – Lei nº 891/38 de 25 de novembro de 1938. Fiscalização de Entorpecentes. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del0891.htm. Acesso em: 22 out. 2014.

BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação cível nº 0002324- 9.2010.8.26.0374. Apelante: Prefeitura Municipal De Morro Agudo. Apelado: Ministério Público Do Estado De São Paulo. Relator: Ribeiro de Paula. São Paulo: 31 de agosto de 2011.

47

BRASIL TV. Roda viva drogas tráfico: internação compulsória conselho nacional do desenvolvimento. Disponível em: http//tvbrasil.ebc.com.br. Acesso em:12 de agosto de 2014.

BRITTO, Renata Corrêa. A internação psiquiátrica involuntária e a lei Nº 10.216/01: Reflexões acerca da garantia de proteção aos direitos da pessoa com transtorno mental. Mestrado em saúde pública – Escola nacional de Saúde pública. Rio de Janeiro. 2004.

CANOTILHO, J. J. GOMES. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 4. Ed. Coimbra Almeida, 1998, p.1124. CARTILHA SOBRE O CRACK. Conselho Nacional de Justiça. Disponível em: www.cnj.jus.br. Acesso em: 19 out. de 2014. COMISSÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA: ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Relatório de visitas aos abrigos especializados para crianças e adolescentes. Rio de Janeiro 2012. Disponível em: http://www.alerj.rj.gov.br/common/noticia_corpo.asp?num=41027.Acesso em: 12 out.2014.

CONFERÊNCIA REGIONAL DE MEDICINA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL. 15 anos depois de Caracas, Brasília. Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil, Brasília, 2005. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/ >. Acesso em: 10 ago. 2014. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Rede dos Conselhos de Medicina. Disponível em: http://portal.cfm.org.br/index.php? option =com_content&view=article&id=22559:conselheiro-defende-internacao-involuntaria-de-dependentes-de-drogas-em-audiencia-no-senado&catid=3 .Acesso em:13 out.2014. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, Drogas, Direitos Humanos e Laço Social. - Brasília: CFP, 2013.160 pISBN: 978-85-89208-52-91. Psicologia 2. Direitos Humanos. Internação compulsória 4.Drogas I. Título. CONSELHO NACIONAL DE ANTIDROGAS. Política Nacional Anti Drogas. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PNAD_VersaoFinal.pdf. Acesso em: 19 de out.2014. COSTA, Ileno , Izídio: Debate internação compulsória : Problematizações a eficácia a internação compulsória no tratamento da drogadição : Brasília,2013 . LOPES, Caho. Cara a cara com as drogas: guia prático para entender sobre e enfrentar a complexidade da dependência. Porto Alegre. Sulina, 1997. CREMESP. Questões éticas e práticas envolvem a internação compulsória de menores usuários de crack. Disponível em http://www.cremesp.org.br. Acesso em: 17 ago. 2014.

48

CULTURA VERDE. Dartiu Xavier, Docente da Unifesp. Fala sobre a atual política de internação compulsória. Disponível em: http://culturaverde.org/2013/04/07/dartiu-xavierdocente-da-unifespfala-sobre-a-atual-politica-de-internacao-compulsoria/ Acesso em: 14 set. 2014. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Biblioteca virtual de direitos Humanos da Universidade de São Paulo. Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br. Acesso em: 25 out.2014. DELGADO, Paulo Gabriel Godinho. Abaixo a Barbárie. Disponível em: http://www.paulodelgado.com.br/ revista-cidadania/abaixo-a- barbárie />. Acesso em: 25 out.2014. DEPENDÊNCIA QUÍMICA MT. Disponível em: http://dependenciaquimicamt.com.br/07_dependencia_quimica.html. Acesso em: 11 out.2014. DICIONÁRIO Michaelis. Dicionário Online Michaelis. Disponível em:<http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 19 ago. 2014. FERREIRA, Jussara, S A,B,N .Bioética e Biodireito. Coordenadora do Curso de Mestrado em Direito Negocial.Universidade Estadual de Londrina .1999. FILHO. Antonio Carlos Santoro. Internações involuntárias ou perpétuas: a questão da unidade experimental de saúde. Disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/internaçoes-involuntárias-ou-perpétuas-questão-da-unidade-experimnetal-de-saúde. Acesso em: 26 out.2014. FIOCRUZ. Estimativa do número de usuários de crack e/ou similares nas capitais do país. Disponível em: http://www.icict.fiocruz.br/content/ministerio-da-justica-e-fiocruz-divulgam-resultado-da-maior-pesquisa-sobre-crack-no-mundo. Acesso em: 26 out.2014.

FOUCAULT, Michel. História da loucura na idade clássica. São Paulo: Editora 7ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.

LARANJEIRA, Ronaldo. O tratamento do usuário de crack. Avaliação clínica, psicossocial, neuropsicológica e de risco, terapias psicológica, farmacologia e reabilitação, ambientes de tratamento. São Paulo: Editora Casa leitura médica. 2010. KANT. Emmanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. Leopoldo. Holzbach. São Paulo: 2004. MACRAE. Edward. Drogas e Culturas novas perspectivas: novas perspectivas. Salvador: Editora Edufba, 2008. MALHEIROS. Antonio C. Coragem e vontade política. Mutare Instituto. Disponível em: http://institutomutare.com.br/dr-malheiros. Acesso em: 06 out. 2014.

49

MATOS, Tânia Regina de. Sobre a Internação Compulsória. Disponível em: http://Tânia defensora. blogspot.com. br/2012/05/v-behaviorurldefaultvmlo.html. Acesso em: 15 ago. 2014. MINISTÉRIO DA SAÚDE. A Política do ministério da saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília, DF, 2004. MORÃES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Ed atlas, 26 edição 2010. NETO, João Costa. Dignidade Humana: Visão do Tribunal Constitucional Federal, do STF e do Tribunal Europeu. São Paulo: Editora, Saraiva, 2014. NETO, Francisco de Abreu Franco. O problema do crack: emergência, respostas e invenções sobre o uso do crack no Brasil. 92 p. Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca.Rio de Janeiro ,2013. OLIVEIRA. Fátima. Bioética: uma face da cidadania. São Paulo: Editora Moderna, 2013. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária da ONU: declaração após a conclusão de sua visita ao Brasil, Março 2013. Disponível em: http://www.onu.org.br/grupo-de-trabalho-sobre-detencao-arbitraria-declaracao-apos-a-conclusao-de-sua-visita-ao-brasil-18-a-28-marco-de-2013/. Acesso em: 11 out. 2014. PARDO, David Wilson de. Casos Constitucionais em destaque: princípios fundamentais. Brasília: Editora, Centro de estudos Judiciários, 2013. PASSOS, E. H.& Souza T.P. Redução de Danos e Saúde Publica: condições e alternativas a vida global de guerras as drogas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v23n1/a17v23n1.pdf. Acesso em: 05 out. 2014. PORTAL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA. Doenças e Complicações pelo Uso das Drogas. Disponível em: http://portaldadependenciaquimica.blogspot.com.br/2013/03/doencas-e-complicacoes-pelo-uso-de.html. Acesso em: 19 out.2014. PROJETO VENCENDO DROGAS. Disponível em: htttp://www.vencendoasdrogas.com/DROGAS.htm. Acesso em: 06 set. 2014. PSIQUIATRIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO. Internação à força de viciados divide especialista. Disponível em: http://www.psiquiatria.unifesp.br/sobre/noticias/exibir/?id=195. Acesso em: 13 out. 2014. REVISTA CONTATO. Curitiba: Conselho Regional de Psicologia do Paraná, 2013. Bimestral.

50

SENADO FEDERAL REVISTA DE AUDIÊNCIAS PÚBLICAS. Dependência Química: Crack assusta e revela um Brasil despreparado. Brasília, 2011. Disponível em: http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/. Acesso em: 12 out. 2014. RIBEIRO, Maurides de Melo. Drogas e Redução de Danos: os direitos das pessoas que usam drogas. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. RIDOLA, Paulo. A Dignidade Humana e o Princípio Liberdade na Cultura Constitucional Européia. Porto Alegre: Editora, Livraria do Advogado, 2014. SEIBEL, S. D. Drogas: a hegemonia do cinismo. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 1977. SENADO FEDERAL: PORTAL DE NOTÍCIAS. Ana Amélia defende internação compulsória para dependentes químicos. Disponível em: http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2013/01/21/ana-amelia-defende-internacao-compulsoria-para-dependentes-quimicos. Acesso em: 24 ago. 2014 SILVEIRA, D. X. MOREIRA, F. G. Panorama atual de drogas e dependência. São Paulo: Editora Ateneu, 2006. TERRA, Osmar. Projeto Lei 7663/2010. Disponível em: http://s.conjur.com.BR. dl PL - lei - drogas- deputado- Osmar - terra.pdf . Acesso em: 08 out. 2014. TVBRASIL. .Roda viva drogas tráfico: internação compulsória conselho nacional do desenvolvimento. Disponível em: http//tvbrasil.ebc.com.br. Acesso em:12 ago. 2014.

Vade Mecum Compacto /obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Cunha e Livia Céspedes e Juliana Nicoletti – 9 ed.atual.e ampl. – São Paulo: Editora Saraiva , 2013.