a interiorização da metrópole - maria odila.pdf
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UNIVERSIDADE GAMA FILHO
Nome: Luiz Felipe de Oliveira Santos
Disciplina: Brasil II
Professor(a): Marcos Sanches
Data: 21/11/2013
Roteiro do texto “A interiorização da metrópole (1808-1853)” de Maria Odila
Maria Odila “possui graduação em História pela Universidade de São Paulo
(1961), mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (1965) e doutorado
em História Social pela Universidade de São Paulo (1972). Realizou estágios de
pesquisa no British Museum, na Bodleian library da Universidade de Oxford, na
Universidade de Yale e na Library of Latin American Studies da Universidade do
Texas, em Austin. Foi bolsista pesquisadora da John Simon Guggenheim Foundation e
Visiting Professor da Fundação Tinker. Atualmente é professora titular aposentada da
Universidade de São Paulo, onde mantém atividades de orientação de mestrado e
doutorado e professora associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Colonial e
Império, atuando principalmente nos seguintes temas: historiografia, teoria da história,
história social, história urbana, escravidão, relações de gênero, da cultura.”1
No texto “A interiorização da metrópole”, Maria Odila desenvolve sua idéias em
torno do processo histórico de “independência” do Brasil (1822) e no período de
transição de colônia para império. Apresentado um trabalho que contesta a visão
tradicional que vincula o processo de formação da nacionalidade brasileira com um
1 Site: http://historia.fflch.usp.br/docentes/modila
suposto antagonismo entre metrópole e colônia, a autora expõe o processo de
interiorização da metrópole para nos indicar o que, para ela, parece ser a “chave para o
estudo da „nacionalidade‟ brasileira”2.
Logo no início do texto a autora aborda a primeira de suas idéias: “desvincular o
estudo do processo de formação da “nacionalidade” brasileira no decorrer das primeiras
décadas do século XIX da imagem tradicional da colônia em luta contra a metrópole”3.
Para a elaboração desse pensamento, a autora cita Caio Prado Jr. para indicar que os
conflitos internos embarravam o surgimento de uma consciência nacional. Além disso,
para Odila, esse caráter nacionalista da “independência” foi um erro que quiseram
atribuir para ela e que sua importância para a evolução de colônia para metrópole era
bem menos expressiva do que a vinda da Coroa (1808) ou a abertura dos povos. Temos
o seguinte trecho: “O fato em si da separação do reino em 1822 não teria tanta
importância na evolução da colônia para Império. Já era fato consumado desde 1808
com. A vinda da Corte e a abertura dos portos e por motivos alheios à vontade da
colônia ou da metrópole”4. Após apresentar essa idéia, a autora aborda o problema do
apego a visão de luta entre colônia e metrópole que acaba por colocar no esquecimento
processos que são pilares de extrema importância na sua obra: o processo interno de
ajustamento de interesses portugueses e, sobretudo, o processo de interiorização da
metrópole no Centro-Sul da Colônia.
2 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.180.
3 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p. 161.
4 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.165.
Outro ponto forte da obra é a análise e exposição das divergências e conflitos
internos que haviam tanto no Brasil quanto em Portugal, que originaram as condições
para a separação política e, o que pode ter sido, as origens da “nacionalidade” brasileira.
No período da vinda da Coroa, Portugal estava sendo abatido por muitos malês que
contrastavam com uma perspectiva otimista do Brasil. Assim, alguns ilustrados do reino
perceberam no Brasil a salvação do reino, porém também percebeu-se que as estruturas
econômica e social de Portugal deveriam ser modernizadas para não sobrecarregar a
colônia, mesmo pensamento do Príncipe Regente.O motivo deste pensamento é
abordado como uma preferência de D. João VI para não prejudicar a Corte que
começava a se enraizar no Centro-Sul. Ligando a um contexto internacional (em que
Portugal era pressionado pela Inglaterra e da luta de interesses mercantilistas contra os
economistas liberais), a autora demonstra que esse projeto modernizador não agradava a
todos, inclusive a nova Corte que priorizava a manutenção do império no Brasil. Em
função das modernizações as tensões aumentaram, resultando na revolução do Porto.
No Brasil, as elites políticas temiam as tensões internas. A desigualdade abria
um abismo social muito grande e as províncias não eram unidas. Havia um grande
temor de conjurações iguais a de Santo Domingo ou da perda de territórios. Porém, os
políticos da época tinham consciência das tensões. A nova Corte se empenhou em
centralizar o poder em decorrência da separação política do reino e para o florescimento
da consciência nacional. Todo esse empenho, guardava “(...) a vontade de se constituir e
de sobreviver como nação civilizada européia nos trópicos, apesar da sociedade
escravocrata e mestiça da colônia, manifestada pelos portugueses enraizados no Centro-
Sul e que tomara a si a missão de reorganizar um novo império português”5. Portanto,
5 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.170.
como já dito, a nova Corte empenhou-se em centralizar as províncias, pois se
necessitava a imagem de um estado forte para controlar as tensões internas como havia
com Portugal. Este contexto é utilizado pela autora como porta de entrada de suas
abordagens sobre as origens do “nacionalismo” brasileiro e da “independência”.
Antes de tratar sobre as questões do “nacionalismo”, Odila nos conta que a
emancipação política de 1882 “foi o que os acontecimentos europeus, a pressão inglesa
e a vinda da Corte tornaram possível”6. A “independência” era a alternativa de
continuidade das estruturas coloniais e o enraizamento da Corte no Centro-Sul é um
fator cinequanon para compreendermos a interiorização da metrópole. Segundo o
raciocínio de Maria Odila, que já foi abordado, se necessitava de uma centralização de
poder para controlar os conflitos internos que bastante amedrontavam as classes
dominantes. O procedimento adotado foi enraizar a nova Corte e estreitar vínculos de
interesses dela com as elites colônias. Assim, aqueles que estavam instigados a gerar
uma centralização de poder (a nova Corte) e aqueles que podiam apaziguar conflitos (as
classes dominantes) estavam sintonizados pelos interesses. A autora especifica esses
interesses. A nova Corte tinha interesses de garantir propriedades, estabelecimentos de
negócios, entre outros. Já as elites se interessavam pelo capital da nova Corte, títulos e
concessões para realização de edificações. Outro fator sobre a nova Corte que temos no
texto é sua imagem diante das classes menos favorecidas e das elites colônias. Ao não
haver um Príncipe Regente, pois D. João VI volta para o Reino, a nova Corte supria a
necessidade de uma figura carismática e que as classes dominantes queriam se apegar,
alem da segurança pela centralização. Com a nova Corte, o projeto de interiorização da
metrópole pode se concretizar: “A vinda da Corte com o enraizamento do estado
6 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.170.
português no Centro-Sul daria inicio à transformação em metrópole interiorizada”7. A
nova Corte conseguiu integrar as províncias. Até mesmos, outras províncias do
continente (Bahia e Nordeste) foram controladas pela corte do Rio. E também temos,
pela primeira vez, o que a autora denomina como “(...) preocupações próprias de uma
colônia de povoamento e não apenas de exploração (...)”8. Dessa maneira, há um
política de bem-estar.
Para falar das origens do “nacionalismo” e desvinculá-lo com a “independência”
a autora faz um paralelo com a America espanhola para abordar que no Brasil as elites
colônias não expulsaram os portugueses, na verdade, como já vimos, tivemos o oposto e
eles se enraizaram e estreitaram interesses com as elites colônias. Assim, temos o
primeiro fator que enfraquece o pensamento de antagonistas entre “brasileiros” e
portugueses no processo de “independência”. Odila continua desenvolvendo suas idéias,
destacando que mesmo após a “independência” os atritos entre as classes mais baixas
brasileiras e o português, “rico monopolizador do comercio e dos cargos públicos”9, não
se dissolveram. Por fim, a autora destaca que “(...) a semente da „nacionalidade‟ nada
teria de revolucionária: a monarquia, a continuidade da ordem existente eram as grandes
preocupações dos homens que forjaram a transição para o império (...). A semente da
integração nacional serial pois lançada pela nova Corte como um prolongamento da
administração e da estrutura colonial, um ato de vontade de portugueses adventícios,
cimentada pela dependência e colaboração dos nativos e forjada pela pressão dos
7 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.171.
8 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.181.
9 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.179.
ingleses que queriam desfrutar do comercio sem ter de administrar ... A insegurança
social cimentaria a união das classes dominantes nativas com a „vontade de ser
brasileiros‟ dos portugueses imigrados que vieram fundar um novo império nos
trópicos. A luta entre as facções levaria faltamente à procura de um apoio mais sólido
no poder central. Os conflitos inerentes à sociedade não se indentificam com a ruptura
política com a Mãe Pátria, e continuam como antes sendo relegados para a
posteridade”10
Com essa síntese, Maria Odila amarra os fatos e conclui com a exposição
das suas idéias. Porém, na ultima frase do capitulo a autora expõe uma informação
importante sobre o período posterior da independência em que o nacionalismo brasileiro
se consolida: “Alguma décadas após a independência (1838-1870) chegariam os
ilustrados brasileiros a definir seu nacionalismo didático, integrador e progressista e
uma consciência social eminentemente elitista e utilitária”11
Referência bibliográfica
DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA,
Carlos Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.160-
184.
10
DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.180.
11
11 DIAS, Maria Odila da Silva. “A interiorização da metrópole(1808-1853)”. In: MOTA, Carlos
Guilherme, org., 1822: Dimensões. São Paulo : Ed. Perspectiva, 1972, p.184.