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Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1
ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765
A INSERÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA AULA DE INGLÊS – UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
BARRETO, Maria Irisdene Batista PROLING – UFPB
BARRÊTO, Agda Franco UFCG – CAMPUS V
RESUMO
É através da linguagem que o ser humano tem acesso aos significados da cultura em que vive, estabelece relações entre as informações e constrói sentido para si e para o mundo. De acordo com os PCNs (1998), o ensino de Língua Estrangeira (doravante LE), sendo norteado pelos gêneros de texto, deve ser trabalhado de modo que desenvolva a reflexão e a criticidade. O presente trabalho parte de uma experiência com a realização de um projeto de leitura em uma escola pública e tem como objetivo mostrar a relevância da utilização do gênero textual história em quadrinhos (doravante HQ’s), como uma ferramenta eficaz na aula de leitura de Língua Inglesa (doravante LI) no Ensino Fundamental II, para a construção de significados de forma lúdica e prazerosa. Fundamentando-se nos trabalhos de Chianca (1999), Bortoni (1987), Freire (2001), dentre outros, este estudo reflete a eficiência do processo de ensino e aprendizagem na perspectiva intercultural. A partir de uma abordagem qualitativa analisa-se através da observação e entrevistas o aspecto motivador das histórias em quadrinhos na aula de inglês que leva professor e aluno a interagirem e partilharem conhecimentos socioculturais.. Os resultados evidenciaram que a inserção das histórias em quadrinhos na aula de língua inglesa contribui positivamente para desenvolver as competências comunicativas interculturais, à medida que, sendo mediadas pelo professor, favorece as trocas comunicativas, desperta o gosto pela leitura, desenvolve a capacidade crítico-reflexiva e o respeito à cultura do outro e à cultura materna, tornando o aprendizado mais eficiente.
Palavras-chave: Leitura. Histórias em quadrinhos. Língua Inglesa.
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1. INTRODUÇÃO
A nova visão que reflete o ensino de línguas como aspecto fundamental para a
inserção do aluno no mundo da globalização contribui, ao mesmo tempo, para uma
apreciação dos costumes e valores de outras culturas e para desenvolver a percepção
da própria cultura. Aprender uma LE, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais –
o PCN – contribui para o processo educacional como um todo, indo muito além da
aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas. Leva a uma nova percepção da
natureza da linguagem, aumenta a compreensão de como a linguagem funciona e
desenvolve maior consciência do funcionamento da própria Língua Materna
(doravante LM).
A compreensão intercultural contribui para desenvolver a alteridade, o respeito
e a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e comportamento. Sendo a
educação imprescindível para o desenvolvimento individual e coletivo, torna-se
decisiva na construção da cidadania e na formação da consciência da dignidade
humana. Nesta visão, Freire (2001) reafirma o papel da educação com o propósito de
ser libertadora, aquela que se apoia no diálogo para transformar o educando em
sujeito da sua própria História. Adaptando a teoria Freiriana ao ensino da LE, podemos
considerar a LI como libertadora tanto profissional quanto culturalmente, já que esta
contribui para desenvolver a percepção de si e do outro.
Partindo do princípio que é através da linguagem que o ser humano tem acesso
aos significados da cultura em que vive, estabelece relações entre as informações e
constrói sentido para si e para o mundo, reconhecemos que o ensino de LE, do mesmo
modo o ensino da LM, incorpora a questão de como as pessoas agem na sociedade por
meio da palavra, construindo o mundo social, a si mesmos e os outros a sua volta,
como afirma os PCN (1998).
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Ao perceber que sua cultura é parte constituinte de um mundo multicultural,
espera-se que o aprendiz se identifique como um ser dotado de habilidades e
potencial comunicativos dentro de sua LM e dessa forma, tem a possibilidade de
interagir com outras culturas e inserir-se no mundo multicultural. Dessa forma,
aprendendo uma LE, o indivíduo vai aumentar o conhecimento sobre sua LM, por meio
de comparações com a LE em vários níveis, possibilitando a construção de significados
em outras Línguas, tornando-se um ser discursivo no uso da LE.
Para que o processo de construção de significados na perspectiva interacional
seja possível, são utilizados três tipos de conhecimento: conhecimento sistêmico,
conhecimento de mundo e conhecimento da organização dos textos. Esses
conhecimentos compõem a competência comunicativa do aluno e o preparam para o
engajamento discursivo. Estando engajado discursivamente, o aluno terá a
possibilidade de comunicar-se com adequada competência.
2. AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS – UMA ABORDAGEM SIGNIFICATIVA NA AULA DE LÍNGUA INGLESA
A prática da leitura, interpretação e produção e textos têm sido um grande
desafio da escola. Neste aspecto, os Parâmetros Curriculares Nacionais fundamenta-se
no pressuposto de que
O processo de ensino e aprendizagem da LE deve se construir em uma atividade significativa para alunos e professores, criando possibilidades de negociação e engajamento discursivo na língua-alvo que façam com que a língua não seja somente para compreender o mundo, mas, principalmente, para interagir com e agir sobre ele, promovendo, desta forma, a construção do pensamento crítico e da cidadania (PCNs, p.86).
A partir desta discussão, o professor de LE, ao refletir sobre a sua prática,
percebe a possibilidade de trazer para o contexto escolar propostas pedagógicas
significativas que envolvam o aluno e privilegiem o desenvolvimento da habilidade de
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leitura. Assim, é possível pensar que a aula de LE possibilita uma compreensão da
cultura enquanto normas de interpretação de sentidos, que são, inevitavelmente,
historicamente situadas. Mas, como se ensina a construir um pensamento crítico na
sala de aula? Quais as estratégias que devem ser ativadas para que o aluno desperte o
gosto pela leitura e torne-se um leitor competente?
A necessidade de refazer a prática docente e buscar alternativas didáticas
motivadoras justifica este trabalho, visto que, os alunos do 7º ano, público alvo
envolvido no projeto de leitura, apresentam dificuldades para se engajarem no
discurso intercultural, embora já tenham os conhecimentos linguísticos da LM falta-
lhes o conhecimento necessário para socializar-se com outras comunidades
discursivas.
As práticas desmotivadoras, que tem trazido consequências sérias como o
fracasso da leitura na escola, têm sua origem nas concepções errôneas de texto e
leitura, e, portanto de linguagem. Uma das concepções questionáveis sobre o texto
sustentadas pela escola é tê-lo como um conjunto de elementos gramaticais, onde o
professor o utiliza para desenvolver uma série de atividades, analisando, para isso, a
língua enquanto conjunto de classes e funções estruturais, frases e orações. Uma outra
visão é aquela do texto como repositório de mensagens e informações. Acredita-se
aqui, que o papel do leitor consiste em apenas extrair tais informações, através do
domínio das palavras. Essa atitude traz como consequência a formação de um leitor
passivo, que quando não consegue construir o sentido do texto acomoda-se
facilmente a essa situação.
Assim, tendo como foco a pedagogia culturalmente sensível (Bortoni, 1987), a
escola tem o compromisso de prover aos alunos meios necessários para que não
assimilem o saber como resultado, mas apreendam o processo de sua produção, bem
como as tendências de sua transformação. A escola tem o papel de informar, mostrar,
desnudar, ensinar regras, não apenas para que sejam seguidas, mas principalmente
para que possam ser modificadas. Espera-se que a aula de língua estrangeira constitua
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um espaço para que o aluno reconheça e compreenda a diversidade linguística e
cultural, de modo que se engaje discursivamente.
Como afirma Chianca
[...] os aprendentes são convocados a desempenhar um papel ativo numa pedagogia intercultural na qual os protagonistas são levados a se interrogar tanto sobre eles mesmos como sobre os outros, quanto sobre os comportamentos dos “dominantes” quanto sobre os comportamentos dos “dominados”, numa verdadeira reciprocidade das perspectivas.
A participação efetiva no processo de ensino e aprendizagem requer que os
professores atuem de forma engajada enquanto relacionam o trabalho pedagógico
com as descobertas pessoais e interpessoais dos aprendentes visando o
desenvolvimento de uma competência comunicativa que possibilita preparar o
aprendente para estabelecer trocas conversacionais.
Ao possibilitar ao aprendente que usem uma língua estrangeira em situações
de comunicação (produção e compreensão de textos verbais e não-verbais) a escola
estará inserindo-os na sociedade como participantes ativos. De acordo com o PCN
(1998), a LE deve ser trabalhada de modo que desenvolva o letramento crítico e o
ensino norteado pelos gêneros de textos – sendo as HQ’s um desses gêneros.
Este gênero tem sido estudado e trabalhado como um eficiente recurso
pedagógico em aulas de ensino-aprendizado de LM e de LE porque nas Histórias em
Quadrinhos coexistem a linguagem verbal e a linguagem não-verbal, facilitando a
compreensão, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e incentivando o
gosto pela leitura.
Considerando que são inúmeras as possibilidades de trabalho com as HQ’s em
sala de aula algumas estratégias são necessárias para o trabalho pedagógico. Envolver-
se em um trabalho interdisciplinar é uma das estratégias que colabora para a inserção
do aluno no mundo intercultural como afirma Vygotsky (1998, p.128) “todas as
matérias escolares básicas atuam como uma disciplina formal, cada uma facilitando o
aprendizado das outras”. Através da abordagem de temas transversais, como meio
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ambiente, orientação sexual, ética, pluralidade cultural, saúde, trabalho e consumo, a
escola deve trazer a vida do aluno para a sala de aula e discutir a realidade de forma a
estreitar as relações entre as diferentes áreas do conhecimento. A LE, portanto, passa
a desempenhar um papel tão importante como as demais disciplinas, e sua
responsabilidade aumenta quando a ela também compete discutir temas sociais, como
violência, drogas, desemprego, fome, preconceito e muitos outros.
Nesta visão que descreve a concepção de língua como prática social e mostra a
importância da “leitura de mundo” como ensina Freire (1994) constatamos que o
desenvolvimento do potencial de leitura está relacionado à qualidade de descobertas
e experiências vivenciadas ao longo da vida. A compreensão do texto é resultado da
mobilização dos conhecimentos de cada leitor que determinará o momento certo de
acontecer.
Conforme nos mostra Solé (1998), para atingir o objetivo de encontrar o
sentido do texto, o professor poderá, antes da leitura do texto em si, induzir os alunos
a levantar hipóteses sobre o conteúdo do texto, a utilização de estratégias de predição
ou previsão, fase em que o leitor levanta hipóteses sobre o conteúdo do texto,
trabalhando com representações mentais que encontram seu ponto de apoio na
relação que estabelecem entre as informações novas (apresentadas no título, por
exemplo) e aquelas guardadas em sua memória de longo prazo (conhecimentos
anteriores).
Em relação às HQ’s, é preciso ter uma maior atenção com a linguagem, já que
ao combinar texto e imagem, vários elementos compõem este gênero como imagens,
onomatopeias, palavras e a sequência de painéis. Desse modo, ao se deparar com um
texto em quadrinhos, é possível que o aluno não tenha conhecimento desses aspectos
que são necessários para processá-lo cognitivamente, o que pode ocasionar desvios de
compreensão ou má interpretação desse texto – problemas que podem ser
extremamente agravados quando a HQ exposta ao aluno está em LE, neste caso o
Inglês.
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Diante do fato, nota-se que os educadores de LE modernos são receosos
quanto à utilização deste recurso em sala de aula, optando por utilizar principalmente
a abordagem sistêmica e estrutural da Língua com aplicação de atividades mecânicas,
desvinculando o Inglês da realidade do aluno. Dessa forma, cabe ao professor deve ser
o mediador entre o aluno e o texto, explicando antes de tudo os elementos
característicos deste gênero a fim de atrair o leitor e motivar o interesse e o prazer
pela leitura.
A relação entre imagem e língua permite que o leitor estabeleça uma relação
entre o contexto e os elementos linguístico-gramaticais apresentados nos quadrinhos,
fazendo com que seja possível uma ampliação de vocabulário por meio de algo que
está intrinsicamente ligado ao lazer – posto que o objetivo principal das HQ’s é o de
divertir o leitor. Ao adquirir o hábito de ler Histórias em Quadrinhos em Inglês, o leitor
poderá adquirir maior fluência na LE se fizer uma relação aos significados edificados
em sua LM, já que mesmo não atribuindo significado a itens lexicais desconhecidos é
possível compreender e interpretar uma HQ’s por meio das inferências e do empirismo
do leitor, que por sua vez fará, inicialmente, atribuições fragmentadas de sentido, mas
posteriormente no contexto perceberá o todo.
A utilização das HQ’s como instrumentos de ensino e aprendizagem podem
levar a práticas de produção e compreensão de textos variados, o que contribui para a
constituição da compreensão e produção escrita. A partir dessas considerações e da
concepção de que é possível construir novas propostas pedagógicas para inovar o
processo de ensino e aprendizagem de LE foi planejado um projeto de leitura
utilizando o gênero textual HQ’s com o objetivo de motivar a oralidade e desenvolver a
competência leitora.
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2.1. A inserção das histórias em quadrinhos através da aplicação do projeto Reading
comics under the trees – um relato de experiência
No período compreendido entre setembro e novembro de 2014, foi aplicado
um projeto chamado “Reading comics under the trees” – (Lendo gibis embaixo das
árvores), o qual teve como proposta inserir as HQ’s na metodologia de ensino do Inglês
em sala de aula e, ao mesmo tempo, abordar a importância desse gênero textual como
um recurso para uma aprendizagem lúdica.
O projeto teve a duração de 16 horas/aula e foi aplicado na turma do 7° ano do
Ensino Fundamental da EMEIEF Augusto Bernardino de Sousa, na cidade de Cajazeiras
– PB. Para a aplicação das atividades relativas a este trabalho foi necessária a divisão
em etapas bem definidas e distintas entre si. Tais atividades seguiram cronograma
previamente estabelecido para fins de organização do projeto. Então no primeiro
momento foi feito uma entrevista, em seguida conheceram o gênero gibi, tanto
impresso como na internet, depois todos foram convidados a ler uma história impressa
para a aquele momento, depois mediados pela professora fizeram juntos a
interpretação e discutiram sobre os elementos caraterísticos do gênero e por fim a
apresentação da história produzida.
A entrevista inicial abordou 04 questões, escritas em uma folha, em inglês, a
primeira pedia a identificação e as três últimas sobre o tipo de atividades que eles
gostavam de fazer nas aulas de Inglês, incluindo também perguntas sobre os gostos
pessoais de cada um. A professora leu as questões e explicou que as respostas
poderiam ser escritas em português, considerando que a intenção naquele momento,
os alunos não eram capazes de expressar suas opiniões em LI. Alguns conseguiram na
primeira pergunta What’s your name? (Qual o seu nome), dar respostas completas
como “My name is Lucas”, outros ainda acrescentaram alguns itens, como a idade ou a
sua nacionalidade, demonstrando conhecimento léxico-gramatical.
A segunda pergunta que indagava sobre What do you like to do in your English
classes? (O que você gosta de fazer na aula de inglês?), a resposta unânime foi: brincar,
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o que fez com quem a professora refletisse sobre a metodologia que estava sendo
aplicada em sala e que tipo de atividade era mais motivadora. Certamente, os alunos
se referiram aos games (jogos) como (hangman (forca), Simon says... (Simão diz...),
Bingo etc.) e songs (canções) que eram utilizados pela professora para fixar o
vocabulário da unidade temática ou para descontração.
A terceira pergunta que versava sobre a preferência pela atividade de leitura,
Do you like Reading? Yes or No? Why? (Você gosta de ler? Sim ou Não? Por quê?),
observou-se que a maioria das respostas foi negativa. As justificativas dadas, com
maior relevância, foram “Eu não gosto de ler nem em português, quanto mais em
inglês”, “Eu não entendo nada em inglês”, deixando evidente que era preciso criar
atividades motivadoras para que os alunos sentissem prazer pela leitura. Além disso,
percebeu-se que eles tinham dificuldades para ler na língua materna, já que não se
mostravam motivados.
A quarta pergunta questionava sobre What do you like reading? (O que você
gosta de ler?) e as respostas foram bem diversificadas, porém as mais significativas
apontaram revistas, piadas, contos de fadas. Alguns responderam Nada. Diante das
respostas analisou-se que a maioria não tinha consciência que todos já eram leitores
na língua materna, já que os atos de leitura antecedem a leitura das palavras Freire.
Outro aspecto constatado foi que eles traziam poucas experiências da leitura com as
palavras, talvez por não ter incentivo no contexto familiar ou até mesmo na escola.
Durante a realização do projeto, os alunos foram bem receptivos com relação
ao tema. No período em que foram feitas as observações à turma foi possível
constatar que os alunos eram um pouco relutantes em relação ao aprendizado do
Inglês, embora gostassem. Ao longo das aulas desenvolvidas dentro do projeto, os
alunos puderam manusear diversas comic strips (gibis) em LI, o que inicialmente
provocou um estranhamento unânime, já que não é muito comum vermos gibis em
Inglês.
Em outro momento, a turma foi levada à sala de informática, sob a orientação
conjunta do professor de informática, entraram em contato com os softwares Open
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Office Draw, Photoscape e Comic Life. Essa etapa foi, na verdade, uma oficina com o
objetivo de orientá-los a cerca do manuseio dos programas na produção e edição de
HQ’s.
Assim, movidos pela curiosidade, os alunos tiveram contato pela primeira vez
com esses materiais diferentes. Na sequência, foram levados ao pátio da escola, com o
intuito de fazê-los habituarem-se gradativamente, já que na culminância do projeto
seria feita a produção artística de uma tirinha em Inglês. Em seguida, foram
trabalhadas também as figuras de linguagem próprias do gênero (onomatopeias,
metáforas...), os tipos de balões e também as interjeições – tudo isso interligado ao
conteúdo trabalhado na unidade que era o Simple Present Tense (Presente Simples).
Durante a prática percebeu-se que a turma mostrava-se mais interessada
enquanto trabalhavam em pequenos grupos e que também o conhecimento sobre o
tema do projeto já estava internalizado nos alunos ao ponto de dar-lhes segurança
suficiente para uma possível produção textual. Então, foi apresentada a proposta da
atividade de culminância em duplas: a criação de um pequeno diálogo sobre o tema
Foods and Celebrations (Comidas e celebrações). Alguns textos sobre a temática foram
lidos e discutidos, o que levou os alunos a conhecerem e confrontarem os aspectos
culturais, descobrindo as semelhanças e as diferenças entre a cultura materna e a
cultura alvo, no caso a LI. No último dia, os alunos trouxeram os trabalhos prontos e
apresentaram para outras turmas, relatando que a experiência tinha sido muito
interessante e motivadora.
Uma vez que tal artifício tem o potencial de beneficiar a produção de
conhecimento conforme a realidade das escolas públicas dessa região e possibilitar ao
professor maior dinamismo em suas atividades, relacionando a realidade local à sala
de aula e fazendo com que haja maior interesse de seus aprendentes no processo de
aprendizagem proposto.
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2.2. As HQ’s e a motivação nas aulas de Língua Estrangeira
Diante da experiência, fica evidente que a motivação é um princípio
fundamental para a eficiência do ensino e aprendizagem de LE, pois o aluno sente-se
intimidado ao deparar-se com uma nova língua. É nesse contexto que a importância
das HQ’s se insere: elas, quando sendo utilizadas como uma ferramenta para o ensino,
fazem com que o aluno sinta mais segurança e prazer em aprender.
E geralmente os aprendentes preferem a leitura de HQ’s e mangás, do que os
tradicionais livros de literatura, devido à atratividade do texto e o entretenimento que
este mesmo texto proporciona. Além disso, as HQ’s utilizam de uma poderosa
combinação: texto e imagem – o que pode ser considerado um facilitador aos
processos de compreensão e memorização.
Segundo Barbosa & Vergueiro (2004):
Palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais eficiente – a interligação do texto com a imagem, existente nas histórias em quadrinhos, amplia a compreensão de conceitos de uma forma que qualquer um dos códigos, isoladamente, teriadificuldades para atingir. (BARBOSA & VERGUEIRO, 2004, p.22.)
Os autores afirmam que a compreensão leitora acontece quando o aprendente,
ao ter contato com as HQ’s se depara com novas palavras em Inglês (e até mesmo com
as palavras já conhecidas em diferentes situações/usos), e ao relacioná-las com as
imagens, consegue por meio da associação, descobrir o sentido do texto, enfatizando,
dessa forma, a relação entre a língua e o contexto.
O educando, ao ter contato com as HQ’s, perceberá nelas o gosto pela leitura e
se sentirá motivado a aprender o Inglês, pois estabelecerá um vínculo entre a leitura
como prazer e a leitura como Inglês, pois estabelecerá um vínculo entre a leitura como
prazer e a leitura como fonte de conhecimento, além de construir significados partindo
do conhecimento estrutural – já arquitetado e internalizado – da LM. Deste modo,
buscará novas informações constantemente em diversos gêneros textuais que não
somente o das HQ’s.
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CONCLUSÃO
A prática constante de leitura através da inserção das HQ’s na aula de LE
contribui para que professor e aprendentes se envolvam na aprendizagem e sintam-se
motivados para construir o conhecimento de forma lúdica e prazerosa. O educando, ao
ter contato com as HQ’s, perceberá nelas o gosto pela leitura e se sentirá motivado a
aprender o Inglês, pois estabelecerá um vínculo entre a leitura como prazer e a leitura
como fonte de conhecimento, além de construir significados partindo do
conhecimento estrutural – já arquitetado e internalizado – da LM.
Para que tudo isso ocorra, é necessário também que a motivação seja
constante por parte do educador, sendo este o mediador entre o aluno e o
conhecimento, que se dará através das HQ’s. O papel do educador, além de mediar,
será o de enfatizar e incentivar a produção artística não apenas como instrumento
didático, mas como produção estética autônoma inserida na cultura e na sociedade,
contribuindo para que o aluno possa ser um ator importante na difusão do
conhecimento a partir de um processo que se inicia nos procedimentos didáticos e
culmina com a liberdade de expressão linguístico-artística, proporcionando uma nova
dimensão dialógica do processo de ensino-aprendizagem da LE.
O trabalho com as HQ’s realizado com a turma do ensino fundamental de uma
escola pública do sertão paraibano motiva-nos a acreditar em novas possibilidades
para ensinar uma LE, tendo como foco os parâmetros da pedagogia culturalmente
sensível.
Dessa forma, faz-se necessário a conscientização da necessidade de
proporcionar aos aprendentes novas formas de aprendizagem, novos contatos e
incentivá-los a buscar sempre adquirir mais conhecimento, e principalmente incentivá-
los a expressarem sua opinião e compreensão, tornando-os cidadãos conscientes e
críticos, capazes de lidar com qualquer situação que este possa vir a encontrar em sua
vida social e também no âmbito escolar.
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REFERÊNCIAS
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