a informatização do processo judicial e seus reflexos na justiça brasileira - wesley estrela
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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE DIREITO
WESLEY DA SILVA ESTRELA
A INFORMATIZAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL E SEUS REFLEXOS NA JUSTIÇA BRASILEIRA
Salvador
2015
WESLEY DA SILVA ESTRELA
A INFORMATIZAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL E SEUS REFLEXOS NA JUSTIÇA BRASILEIRA
Monografia apresentada ao Curso de graduação em Direito da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientadora: Aliete Rodrigues Marinho
Salvador
2015
TERMO DE APROVAÇÃO
WESLEY DA SILVA ESTRELA
A INFORMATIZAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL E SEUS REFLEXOS NA JUSTIÇA BRASILEIRA
Monografia aprovada como requisito para obtenção de grau de Bacharel em Direito, UNIVERSO, pela seguinte banca examinadora:
Nome:_______________________________________________
Titulação e Instituição:__________________________________
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Titulação e Instituição:__________________________________
Nome:_______________________________________________
Titulação e Instituição:__________________________________
Salvador, de de 2015.
Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um
vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.
Tiago, 4:14, Bíblia Sagrada
RESUMO
O objetivo geral do presente trabalho é investigar os reflexos que a informatização do processo judicial traz para a justiça brasileira. O problema resumiu-se em saber quais os benefícios que a informatização do processo traz para o Direito e como isso pode ajudar a combater a morosidade e ineficácia do judiciário brasileiro. O atual trabalho monográfico propôs-se a responder essas questões, analisando variáveis como o número de servidores, de magistrados e de processos, e o investimento em informática e suas relações com a celeridade da justiça. Para tanto foi necessária a consulta de obras de autores ligados ao tema e de dados estatísticos fornecidos pelo Conselho Nacional de Justiça. Entrementes, ao proceder com a análise, foi verificado que a informatização da justiça não traz ainda influência significativa para a justiça brasileira devido ao excessivo número de processos físicos ativos, precisando ser adotadas medidas no sentido de aumentar o quadro de funcionários e redistribuí-los de acordo com a necessidade com o objetivo de zerar os processos físicos para em seguida intensificar a virtualização do processo como meio de reduzir o tempo de tramitação. Recomendam-se aos futuros trabalhos acadêmicos relacionados com o tema encontrar soluções viáveis para a melhoria da eficiência do processo na justiça brasileira com base na ideia da virtualização do processo.
Palavras – chave: Procedimento eletrônico. Virtualização do Processo.
Informatização da Justiça.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 6
1. ASPECTOS GERAIS ................................................................................ 8
1.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA .......................................................................... 9
1.2. O PROCEDIMENTO ELETRÔNICO E A LEI 11.419/2006 ........................ 12
1.3. CONCEITOS IMPORTANTES ................................................................... 14
1.4. APLICAÇÃO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS .............................. 17
1.5. SEGURANÇA JURÍDICA ........................................................................... 23
1.5.1. Requisitos ............................................................................................... 24
1.5.2. Assinatura Digital ................................................................................... 26
1.5.3. Prova Cibernética ou Eletrônica ........................................................... 27
1.6. APLICAÇÃO NO ATUAL CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO (LEI 5.869/1973) ........................................................................................................ 29
1.7. APLICAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO (LEI 13.105/2015) E ANÁLISE CRÍTICA ................................................................... 32
2. SISTEMAS ELETRÔNICOS DE PROCESSAMENTO DE AÇÕES JUDICIAIS (SEPAJ) ............................................................................................................ 35
2.1. PRINCÍPIOS .............................................................................................. 35
2.2. VANTAGENS E DESVANTAGENS ........................................................... 37
2.3. PRINCIPAIS SOFTWARES DESENVOLVIDOS NA BAHIA ...................... 40
2.3.1. PROJUDI ................................................................................................. 41
2.3.2. SAJ .......................................................................................................... 44
2.3.3. PJ-e .......................................................................................................... 47
3. O PROCEDIMENTO ELETRÔNICO E A EFICIÊNCIA PROCESSUAL ... 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 64
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 66
6
INTRODUÇÃO
A justiça brasileira é reconhecida pela morosidade no julgamento dos
processos, principalmente a baiana que é, segundo dados estatísticos, uma
das mais lentas e ineficazes do país. Mas o que de fato faz da justiça lenta?
Pode se dizer que seja o número elevado de processos, ou então a falta de
investimento em tecnologia por parte do Poder Público, ou ainda a quantidade
pequena de servidores e magistrados?
Para tentar solucionar esse problema foi que a Emenda Constitucional
nº 45 de 2004 implantou na Constituição Federal vigente os princípios da
celeridade processual e da razoável duração do processo.
Seguindo esses princípios o Congresso Nacional decretou a Lei Federal
nº 11.419 de 2006, a qual instituiu o chamado procedimento eletrônico, por
meio da informatização do processo. Essa lei desenvolveu também os
Sistemas Eletrônicos de Processamento de Ações Judiciais ou SEPAJ, como
importante instrumento no combate à morosidade e ineficácia da justiça.
O presente trabalho monográfico tem como finalidade investigar as
mudanças acompanhadas pela Lei 11.419 de 2006 no ordenamento jurídico
brasileiro e se elas trouxeram algum impacto significativo no tocante ao
cumprimento dos princípios da celeridade e da duração razoável do processo
sobre a justiça brasileira e, caso negativo, identificar qual seja o problema e
apontar as possíveis soluções.
As inovações tecnológicas advindas nos últimos anos no campo da
informática facilitaram e diminuíram o tempo gasto com atividades corriqueiras
da sociedade. Assim, por exemplo, se alguém desejasse pagar uma conta a
cerca de vinte anos atrás teria que se dirigir a uma agência bancária e pegar
uma fila enorme para pagar diretamente no caixa, era a única opção. Hoje,
essa mesma atividade pode ser realizada em qualquer lugar do mundo e de
modo instantâneo por meio de um aparelho celular com acesso a Internet.
É preciso que a justiça brasileira entre também nessa onda de
informatização, pois é a sociedade brasileira a destinatária dessas reformas.
Com o processo durando menos tempo e sendo mais eficaz todos ganham:
7
ganham os advogados que vão ter as suas causas julgadas mais rapidamente,
ganham os juízes e servidores que vão ter a carga de trabalho reduzida, ganha
a sociedade que vai se sentir mais segura e confiante nas suas relações
sabendo que a justiça será efetivamente aplicada.
Neste trabalho estuda-se o instituto do procedimento jurídico sob seu
aspecto formal; detalha-se a análise da Lei 11.419 e sua influência no Código
de Processo Civil vigente e no Projeto de Lei do Novo Código de Processo
Civil; analisam-se os mecanismos de segurança inerentes à Lei; conhecem-se
os principais Sistemas Eletrônicos de Processamento de Ações Judiciais
desenvolvidos na Bahia; e por fim, apresentam-se propostas no sentido de
melhorar a eficiência da justiça estadual baiana no âmbito cível.
Para tanto, desenvolve-se a pesquisa sobre duplo enfoque
metodológico, a saber: Pesquisa quantitativa, consistente na análise de dados
estatísticos coletados pelo Conselho Nacional de Justiça; e pesquisa
qualitativa, consistente no estudo de textos de diversos autores sobre o tema
deste trabalho.
Esse trabalho monográfico espera contribuir de forma significativa na
sociedade acadêmica no sentido de fomentar o uso de inovações tecnológicas
na justiça estadual e incentivar outros trabalhos acadêmicos a encontrar novos
meios para tornar a justiça mais célere e eficaz a partir do uso dessas novas
tecnologias.
8
1. ASPECTOS GERAIS DO PROCEDIMENTO ELETRÔNICO
A lei 11.419/2006 é comumente conhecida como a lei do processo
eletrônico, do processo virtual, do e-processo ou do procedimento eletrônico.
Porém, segundo Vianna apud Cristiano de Oliveira1, não existe propriamente
processo eletrônico, mas sim procedimento eletrônico, pois a essência do
processo é o contraditório e não o meio no qual é efetivado. De igual forma
pensa Sebastião Tavares Pereira, que partindo da clássica distinção entre
processo e procedimento, sustenta que seria mais pertinente à utilização da
expressão “procedimento eletrônico”, pois o que está em questão é o meio
extrínseco pelo qual se instaura, desenvolve-se e termina o processo2.
Henrique Gouveia da Cunha3 faz uma diferença entre processo e procedimento
eletrônico:
Segundo distinção clássica, pode-se afirmar, em um esforço de síntese, que o processo se caracteriza como relação jurídica entre as partes e o Estado, bem como por ser um conjunto de atos preordenados ao exercício da função jurisdicional no caso concreto, ao passo que o procedimento seria a forma como o processo se estrutura e se desenvolve, isto é, a forma ou modo como se encontram teleologicamente interligados e encadeados os atos processuais para que seja prestada a jurisdição.
Analisando-se a lei do procedimento eletrônico percebe-se logo em seu
primeiro artigo o uso do termo meio eletrônico, o que remete à ideia de que se
trata de uma nova roupagem dada ao processo, um novo meio - eletrônico -
onde o processo será desenvolvido e não um novo processo, como dá a
entender o terceiro capítulo dessa lei, haja vista que não houve alteração dos
atos processuais.
Portanto, seguindo a tecnicidade da doutrina especializada passa-se a
adotar neste trabalho monográfico a expressão procedimento eletrônico para
se referir à informatização do processo trazida pela lei 11.419/2006.
1 OLIVEIRA, Cristiano de. O “processo eletrônico” sob a ótica da instrumentalidade técnica e do aceso qualitativo da atividade jurisdicional. REVISTA DE PROCESSO, São Paulo: Revistas dos tribunais, v. 37, n. 2007, p. 435 – 456, mai. 2012. 2 CUNHA, Henrique Gouveia da. Sistema eletrônico de processamento de ações judiciais: princípios processuais. P. 95-112. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24). 3 Ibidem, p. 97.
9
1.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Para se falar em evolução histórica do procedimento eletrônico é
necessário antes fazer uma breve síntese da evolução do processo desde sua
origem até os dias de hoje.
Dantas Neto4 ensina que o processo judicial embrionário começou na
Roma Antiga, onde apesar de existirem escritos a forma oral era primordial em
detrimento da forma escrita. Esse processo caracterizava-se pela concentração
dos atos processuais, preferencialmente sem interrupções, utilizando-se da voz
como principal veículo de comunicação a fim de que em breve período de
tempo fosse solucionado o conflito. Após esse período foi criado o processo
comum medieval, mais parecido com o nosso atual, surgido com a criação das
Universidades principalmente da Universidade de Bolonha em 1.088 d.C., e
que tinha como características principais ser inteiramente escrito,
excessivamente lento e demorado. Não havia em regra comparecimento das
partes perante o juiz, e juízes diferentes podiam atuar nas várias fases
procedimentais, nas quais as partes se manifestavam por meio de depósito de
seus escritos.
Timóteo5 afirma que depois de um longo período de tempo o
procedimento eletrônico começou a ser fomentado academicamente no mundo
em 1949 com a publicação de um artigo publicado por Lee Leovinger na
Revista Minesota Law Review cujo título original é “Jurimetrics – The next step
foward”, Traduzido para o português significa “Jurimetria – O próximo passo a
frente”. Segundo este a jurimetria não se preocupava com matérias como a
natureza e fontes do direito, mas sim6:
[...] estaria voltada para temas com a análise quantitativa do comportamento judicial, a aplicação da teoria da comunicação e da informação ao intercâmbio jurídico, o uso da lógica matemática no direito, a recuperação dos dados jurídicos por meios eletrônicos e mecânicos, e a formulação de um cálculo de previsibilidade no âmbito do direito [...] representa um esforço para a utilização de métodos científicos na área do direito.
4 DANTAS NETO, Renato de Magalhães. Autos virtuais: o novo layout do processo judicial brasileiro. REVISTA DE PROCESSO, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 36, n. 194, p. 173 – 203, abr. 2011. 5 TIMÓTEO, Gabrielle Louise Soares. Informática jurídica: uma discussão atual, mas não recente. REVISTA DE DIREITO DO TRABALHO, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 39, n. 150, p. 215 – 224, mar/abr. 2013. 6 Ibidem, p. 217.
10
A sistematização teórica da jurimetria veio em 1963 com a obra
denominada Jurimétrica da qual era organizador Heans W. Baade, e segundo o
qual7:
A jurimetria se propunha (a) a aplicar modelos lógicos a normas jurídicas estabelecidas conforme critérios tradicionais; (b) a aplicar o computador à atividade jurídica; (c) a realizar a previsão das sentenças futuras do juiz.
A jurimetria nasceu nos EUA, país de Common Law, onde os
precedentes jurisprudenciais representam grande papel no ato de julgar.
Assim, a ideia inicial era que se fossem memorizados em computador todos os
precedentes jurisprudenciais do direito norte-americano, seria possível, por
comparação entre estes e dado caso concreto, determinar, estatisticamente, se
certo precedente seria ou não aplicado ao caso em questão, podendo o juiz
afastar-se dos julgados precedentes quando o caso for novo. Em decorrência
de fatores humanos e psicológicos que impedem a aplicação automática de
precedentes a casos sucessivos, a intenção de prever sentenças foi
abandonada nos EUA e também não chegou a ter desenvolvimento
significativo na Europa, tendo apenas a alteração do termo jurimetria para
juriscibernética proposta por Losano8.
No Brasil, o primeiro curso sobre informática aplicada ao direito foi
ministrado em 1973 na Faculdade de Direito do Largo São Francisco pelo
professor italiano Mario G. Losano a convite do professor Miguel Reale9.
A estruturação do procedimento eletrônico no poder judiciário brasileiro
começou de forma muito atrasada. A primeira lei a tratar do tema foi lei
8.245/91 (lei do inquilinato), a qual previu a utilização de um meio eletrônico
para os atos de comunicação processual, a saber, o fac-símile ou fax, senão
vejamos:
Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação, observar - se - á o seguinte: [...] IV - desde que autorizado no contrato, a citação, intimação ou notificação far-se-á mediante correspondência com aviso de recebimento, ou, tratando - se de pessoa jurídica ou firma individual, também mediante telex
7 Ibid., p. 218. 8 TIMÓTEO, Gabrielle Louise Soares. Loc. Cit. 9 TIMÓTEO, Gabrielle Louise Soares. Loc. Cit.
11
ou fac-símile, ou, ainda, sendo necessário, pelas demais formas previstas no Código de Processo Civil
Após surgiu a lei 9.800/99 permitindo a possibilidade de prática de ato
processual por meio eletrônico, novamente o fac-símile ou similar:
Art. 1º É permitida às partes a utilização de sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de atos processuais que dependam de petição escrita.
A lei 10.259/2001, lei dos Juizados Especiais Federais, por sua vez,
autorizou a prática de atos processuais por meio eletrônico sendo a primeira a
fazer referência expressa ao recurso da tecnologia da informação, tramitando
pioneiramente no estado do Rio Grande do Sul:
Art. 8º As partes serão intimadas da sentença, quando não proferida esta na audiência em que estiver presente seu representante, por ARMP (aviso de recebimento em mão própria). [...] § 2o Os tribunais poderão organizar serviço de intimação das partes e de recepção de petições por meio eletrônico.
A medida provisória 2200-2/2001 regulamentou o ICP-Brasil
(Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira), órgão que confere autenticidade
e segurança aos documentos e informações disponibilizados em forma
eletrônica:
Art. 1o Fica instituída a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras.
A lei 11280/2006 permitiu a realização de atos processuais
eletronicamente, alterando o artigo 154, parágrafo único do CPC para a
seguinte redação:
Art. 154[...]Parágrafo único. Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disciplinar a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP - Brasil.
Por fim, a lei 11.419/2006, dispôs sobre a informatização do processo
judicial constituindo o procedimento eletrônico propriamente dito.
12
1.2. O PROCEDIMENTO ELETRÔNICO E A LEI 11.419/2006
Parte minoritária da doutrina considera a lei 11.419/2006 como uma
“nova ferramenta para a solução dos conflitos de interesses que se
materializam no processo”10, um “novo suporte físico, meio para a prática,
assinatura, transmissão e intercomunicação de atos processuais”11. Já a
doutrina majoritária supracitada no início desse capítulo entende que a referida
lei tem natureza jurídica de procedimento eletrônico. Adota-se esse
entendimento classificando a referida lei como procedimento e não como
processo ou suporte físico.
Henrique Gouveia da Cunha12 ensina que um dos principais objetivos da
informatização, alcançada pela lei 11.419, é o de imprimir concretização no
princípio constitucional da razoável duração do processo, com a redução do
tempo de tramitação das ações judiciais, além de buscar um aproveitamento
mais racional e adequado dos recursos econômicos e naturais empregados no
serviço público de prestação da tutela jurisdicional, reduzindo seu custo e os
impactos ambientais negativos decorrentes do uso crescente do papel como
suporte físico de informações.
Dantas Neto13 conceitua procedimento eletrônico como:
[...] a alteração dos autos em papel para autos virtuais, compostos do encadeamento de documento eletrônicos, que seguem a mesma sequência de atos convencionais, modificando assim apenas sua aparência [...].
Henrique Gouveia da Cunha14, por sua vez, entende procedimento
eletrônico como forma ou modalidade de condução processual em mídia ou em
disco rígido do computador que constituirá o local para o armazenamento dos
10 ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz; SOARES, Marcele Carine dos Praseres. Processo Judicial eletrônico, acesso à justiça e inclusão digital: os desafios do uso da tecnologia na prestação jurisdicional. REVISTA DE DIREITO DO TRABALHO, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 39, n. 151, p. 187-206, maio/jun. 2013. 11 CUNHA, Henrique Gouveia da. Sistema eletrônico de processamento de ações judiciais: princípios processuais. P. 95-112. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24). 12 CUNHA, Henrique Gouveia da. Loc. cit. 13 DANTAS NETO, Renato de Magalhães. Op. cit., p.195. 14 CUNHA, Henrique Gouveia da. Loc. cit.
13
autos sob o formato de arquivos eletrônicos, incluindo textos, figuras e
elementos audiovisuais.
Tainy de Araújo Soares15 conceitua procedimento eletrônico como:
[...] a relação abstrata entre partes e juiz, submetida estritamente ao império da justiça e do contraditório em seu desenvolvimento, de forma eletrônica, que pode ser mais facilmente entendido como a completa substituição do meio físico papel pelos meios de armazenamento disponibilizados pela informática.
Desse modo pode-se chegar à conclusão que procedimento eletrônico
nada mais é que um procedimento jurídico realizado em forma eletrônica onde
tramitam os processos judiciais sendo respeitados seus princípios basilares e a
ordem sequencial dos atos processuais.
A lei 11.419, foi publicada no dia 20 de Dezembro de 2006, e entrou em
vigor no dia 20 de março de 2007, sendo composta por vinte e dois artigos,
organizados em quatro capítulos. Alguns pontos dessa lei merecem destaque,
são eles:
A forma de contagem do tempo foi modificada de modo que os atos
processuais podem ser praticados até o final do dia e não até às 18 horas
como é no processo físico. Além disso, a contagem do prazo processual terá
início no primeiro dia útil posterior ao da publicação dos atos judiciais no Diário
de Justiça eletrônico.
Os atos de comunicação judicial passam a ser realizados por meio
eletrônico, sendo que a intimação será automática se passados dez dias
corridos do seu envio para as partes que se encontrem previamente
cadastradas no sistema.
O próprio advogado pode protocolizar – distribuir e juntar – suas peças
processuais que serão todas em formato digital, tendo sua autenticidade
comprovada por meio do uso da assinatura eletrônica. Na hipótese de
inviabilidade do uso do formato digital, o causídico poderá apresentar o
documento em formato físico no cartório ou na secretaria no prazo de dez dias.
15 SOARES, Tainy de Araújo. Processo judicial eletrônico e sua implantação no Poder Judiciário brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3307, 21 jul. 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/22247>. Acesso em: 27 dez. 2014.
14
A lei do procedimento eletrônico sofreu veto parcial em alguns artigos,
dentre eles o que merece maior destaque é o artigo 21 o qual conferia a todos
os entes federativos competência para legislar sobre a informatização da
justiça. O Ministério Público, nas razões de veto expressa na Mensagem nº
1.14716, entendeu que não cabe à lei ordinária federal determinar a Estados e
Municípios que editem normas a respeito de alguma matéria, violando o pacto
federativo disposto no artigo 18 da Constituição Federal Brasileira ora vigente.
1.3. CONCEITOS IMPORTANTES
Adentrando um pouco mais na análise da lei 11.419, faz-se necessário
enfocar conceitos de termos presentes no artigo 1º, §2º e os dela
correlacionados, importantes para o entendimento e desenvolvimento deste
trabalho monográfico.
No inciso I, a lei define meio eletrônico como qualquer forma de
armazenamento ou tráfego de documentos e arquivos digitais. São formas de
armazenamento o disco rígido interno e externo, o pen drive, o cartão de
memória, entre outros. São formas de tráfego de documentos e arquivos
digitais a Internet e a Intranet, esta permite o uso restrito de informações na
Rede Mundial de Computadores e aquela permite o uso irrestrito.
No inciso II, a lei define transmissão eletrônica como toda forma de
comunicação a distância com a utilização de redes de comunicação,
preferencialmente a rede mundial de computadores. Essa transmissão pode
ser feita por meio do uso de cabos ou sem eles através da Internet sem fio,
conhecida como Wireless.
No inciso III, a Lei especifica os modos de assinatura eletrônica, porém
não a conceitua, cabendo à doutrina tal papel.
16 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/Msg/Vep/VEP-1147-06.htm. Acesso em: 30 dez. 2014.
15
Carreira Alvim e Cabral Júnior apud Cristiano de Oliveira17 definem
assinatura eletrônica como um “modo de garantir que o documento é
proveniente do seu autor e que seu conteúdo está íntegro” 18.
Mancacini apud Magalhães Nogueira na obra de Cristiano de Oliveira
elabora uma definição mais técnica do tema19:
[...] é o resultado de uma complexa operação matemática, que utiliza uma função digestora e um algoritmo de criptografia assimétrica, e em, como variáveis, a mensagem a ser assinada e a chave privada do usuário (ambas pelo computador como números).
Cristiano de Oliveira20, porém, estabelece uma distinção simples
afirmando que a assinatura é gênero da qual são espécies as senhas, os
códigos de acesso em geral, as técnicas biométricas, etc.
A assinatura eletrônica é, portanto um mecanismo de segurança que
confere autenticidade e garante o princípio do não repúdio (sobre eles será
abordado no tópico 2.4) à peça processual, documentos ou decisões juntados
de forma eletrônica. Vale lembrar que no processo físico a assinatura tem
também essa função, só que é feita mecanicamente do próprio punho do autor.
Agora que se sabe o que é e para que serve a assinatura eletrônica
analisar-se-á os modos pelos quais ela pode ser realizada segundo a Lei.
Na alínea ‘a’ desse inciso consta que a assinatura pode ser baseada em
certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da
lei específica. Primeiramente é necessário entender o significado de cada
termo para compreender o sentido dessa modalidade de assinatura.
Certificado digital nada mais é do que uma identidade virtual que permite
a identificação segura e inequívoca do autor de uma mensagem ou transação
feita em meios eletrônicos, como a web21.
17 OLIVEIRA, Cristiano de. O “processo eletrônico” sob a ótica da instrumentalidade técnica e do acesso qualitativo da atividade jurisdicional. REVISTA DE PROCESSO, São Paulo: Revistas dos tribunais, v. 37, n.207, p.435-456, mai. 2012. 18 Ibidem, p. 448. 19 Ibid., p. 449. 20 OLIVEIRA, Cristiano de. Loc. Cit. 21 http://www.iti.gov.br/perguntas-frequentes/1743-sobre-certificacao-digital. Acesso em: 30 dez. 2014.
16
O direito brasileiro reconheceu a validade da assinatura digital por meio
da Medida Provisória 2.200-2/2001, que instituiu a Infraestrutura de Chaves
Públicas Brasileira (ICP-Brasil).
De acordo com as lições de Marco Antônio de Barros22 e Mario
Furlaneto Neto e Fábio Dacêncio Pereira23, a ICP-Brasil compõe-se de um
grupo de autoridades certificadoras, que se submetem às diretrizes
estabelecidas pelo Comitê Gestor, em todos os níveis da cadeia de
certificação. No topo fica a Autoridade Certificadora-Raiz (AC-Raiz) e seu órgão
executor é o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), tendo a
responsabilidade de credenciar empresas, tornando-as aptas a fornecer
certificados padrão ICP-Brasil.
Num patamar hierarquicamente inferior está a Autoridade Certificadora
credenciada (AC) que tem a responsabilidade de fornecer meios para a criação
de chaves, emitir os certificados de assinatura, assegurar a respectiva
publicidade numa lista que possa ser consultada por qualquer interessado e
prestar outros serviços relativos a assinaturas digitais. Sua principal função é
garantir a autenticidade da operação, certificando que uma chave pública ou
um certificado digital pertence a uma determinada pessoa. A OAB só admite o
certificado eletrônico expedido pela própria entidade (AC-OAB), o qual somente
teve autorização a partir do dia 5 de Setembro de 2008.
Na base da pirâmide estão as Autoridades de Registro (AR), que são
vinculadas a uma AC e tem competência para identificar e cadastrar usuário
presenciais, encaminhar solicitações de certificados às ACs e manter registro
das operações eletrônicas. As entidades públicas e pessoas jurídicas de direito
privado podem ter a concessão de licenciamento para operar como AC ou AR.
Ante o exposto, conclui-se que essa modalidade de assinatura eletrônica
é chancelada por uma entidade pública ou pessoa jurídica de direito privado
credenciada pelo Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI).
22 BARROS, Marco Antônio de. Arquitetura preambular do processo judicial eletrônico. REVISTA DOS TRIBUNAIS, São Paulo: Revista dos tribunais, v. 98, n. 889, p. 427-460, nov. 2009. 23 FURLANETO NETO, Mário; PEREIRA, Fábio Dacêncio. Coassinatura na petição eletrônica: modelo a ser implantado. REVISTA SÍNTESE TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA, São Paulo: Síntese, v. 24, n. 294, p. 219-232, dez. 2013.
17
Passa-se agora ao estudo da outra modalidade de assinatura constante
na alínea ‘b’ do inciso III. Segundo ela, a assinatura pode ser feita mediante
cadastro de usuário no Poder Judiciário.
Marcos Antônio de Barros24, afirma que essa modalidade de assinatura
“tem finalidade certa, restrita, necessária no caso de impossibilidade de se
obter a assinatura pela via digital”. É, portanto menos usual sendo utilizada
somente de forma subsidiária no caso de uma eventualidade qualquer.
1.4. APLICAÇÃO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
O estudo dos princípios é de suma importância, pois são eles que dão
alicerce ao instituto do procedimento eletrônico e a partir deles é que são
desenvolvidos os SEPAJ.
Adorno Júnior e Soares25 afirmam que “O processo judicial eletrônico
deve consagrar os mesmos princípios e garantias constitucionais seguidos no
processo tradicional”.
Certamente o mais importante dentre todos os princípios constitucionais
aplicados à Lei 11.419 é o princípio do devido processo legal ou due process of
Law insculpido no inciso LIV, do artigo 5º da Constituição Federal Brasileira.
Nelson Nery Júnior26 aponta esse princípio como base de todos os
outros princípios e regras, é gênero do qual todos os demais são espécies27.
Ele afirma também que no sentido genérico, o princípio do devido processo
legal “caracteriza-se pelo trinômio vida-liberdade-propriedade”28, que para Luiz
Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini29 quer dizer que30:
[...] toda e qualquer consequência processual que as partes possam sofrer, tanto na esfera da liberdade pessoal quanto no âmbito de seu patrimônio,
24 BARROS, Marco Antônio de. Op. Cit. p. 445. 25 ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz; SOARES, Marcele Carine dos Praseres. Loc. cit. 26 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na constituição federal: processo civil, penal e administrativo. 9 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. 416 p. 27 Ibidem, p. 77. 28 Ibid., p. 79. 29 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: volume 1 teoria geral do processo e processo de conhecimento. 12. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos tribunais, 2011. 846p. 30 Ibidem, p. 67 e 68.
18
deve necessariamente decorrer de decisão prolatada num processo que tenha tramitado de conformidade com antecedente previsão legal e em consonância com o conjunto de garantias constitucionais fundamentais.
Por sua vez, analisando esse princípio no sentido processual, Nelson
Nery Junior31 entende que “nada mais é do que a possibilidade efetiva de a
parte ter acesso à justiça, deduzindo pretensão e defendendo-se de modo mais
amplo possível”. Já Wambier e Talamini32, entendem o devido processo legal
como “o processo cujo procedimento e cujas consequências tenham sido
previstas em lei e que estejam em sintonia com os valores constitucionais”.
Nelson Nery Júnior33 tenta delimitar a abrangência do devido processo
legal no mundo jurídico:
Pressupõe a incidência da isonomia; do contraditório; do direito à prova; da igualdade de armas; da motivação das decisões administrativas e judiciais; do direito ao silêncio; do direito de não produzir prova contra si mesmo e de não se auto incriminar; do direito de estar presente em todos os atos do processo e fisicamente nas audiências; do direito de comunicar-se em sua própria língua nos atos do processo; do direito ao julgador administrativo e ao acusador e juiz natural; do direito a juiz e tribunal independentes e imparciais; do direito de ser comunicado previamente dos atos do juízo, inclusive sobre as questões que o juiz deva decidir ex officio, entre outros derivados da procedural due process clause.
Visto a sua importância passa-se a analisar os princípios que decorrem
do devido processo legal e que tem maior relevância para a Lei 11.419/2006.
O princípio do contraditório está localizado no artigo 5º, inciso LV da
Constituição Brasileira e segundo Wambier e Talamini34 esse princípio significa
que:
[...] é preciso dar ao réu possibilidade de saber da existência de perdido, em juízo, contra si, dar ciência dos atos processuais subsequentes, às partes (autor e réu), aos terceiros e aos assistentes, e garantir a possível reação contra decisões, sempre que desfavoráveis.
Nelson Nery Junior35 entende que no processo civil para o contraditório
ser cumprido “é suficiente que seja dada oportunidade aos litigantes para se
fazerem ouvir no processo, por intermédio do contraditório recíproco, da
paridade de tratamento e da liberdade de discussão da causa”, assim para a
31 NERY JUNIOR, Nelson. Op. Cit. p. 83. 32 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Op. Cit. p. 68. 33 NERY JUNIOR, Nelson. Op. Cit. p. 90. 34 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Op. Cit. p. 68. 35 NERY JUNIOR, Nelson. Op. Cit. p. 209.
19
verificação do contraditório basta que o réu seja citado tendo a faculdade de
apresentar ou não contestação sem que isso configure ofensa ao princípio do
contraditório36.
Nelson Nery Junior37 ressalta que a ofensa ao princípio do contraditório
caracteriza cerceamento de defesa que causa anulação do processo ou
procedimento. Garante às partes o direito de proteção contra decisão-
surpresa38.
O princípio da ampla defesa está contido também no artigo 5º, inciso LV
da Constituição Federal sendo definido por Nelson Nery Junior da Seguinte
forma39:
Ampla defesa significa permitir às partes a dedução adequada de alegações que sustentem sua pretensão (autor) ou defesa (réu) no processo judicial (civil, penal, eleitoral, trabalhista) e no processo administrativo, com a consequente possibilidade de fazer a prova dessas mesmas alegações e interpor os recursos cabíveis contra as decisões judiciais e administrativas.
Para ele40:
A defesa para ser ampla deve ser patrocinada por profissional legalmente habilitado, que tenha capacidade postulatória, qualidade ostentada pelo advogado, defensor público, procurador da advocacia pública em geral e membro do Ministério Público. A defesa leiga, sem advogado, não é ampla, mas restrita.
Considerando a realidade da população brasileira observa-se que
grande parte dos cidadãos brasileiros não tem condições econômicas para
constituir advogado, ficando impedidos do acesso à Justiça. Foi pensando
nisso que a Constituição Federal instituiu a denominada assistência jurídica
gratuita no artigo 5º, inciso LXXIV, beneficiando todos aqueles que
comprovarem insuficiência de recursos.
O princípio da isonomia está localizado no caput do artigo 5º da
Constituição Federal e sua aplicação no processo civil consiste em conferir os
mesmos direitos às partes no processo observando que todos devem ser
tratados de modo igual na medida de sua igualdade e de modo diferente na
36 Ibidem, p. 209. 37 Ibid., p. 210. 38 Ibid., p. 230. 39 Ibid., p. 244. 40 Ibid., p. 246.
20
medida de suas diferenças. Cândido Rangel Dinamarco41 ilustra a aplicação
desse princípio processual dizendo que42:
O juiz pratica a isonomia dando oportunidades iguais quando concede prazos equivalentes a ambas as partes para apresentarem memoriais com alegações finais; ou quando, tendo diligenciado a obtenção de um meio de prova de interesse de uma das partes, tem o dever isonômico de diligenciar análogo elemento probatório de interesse da outra parte etc.==
O princípio do impulso oficial está localizado no artigo 262 do Código de
Processo Civil, e segundo Wambier e Talamini43, significa que “uma vez
instaurado o processo por iniciativa da parte ou interessado, este se
desenvolve por iniciativa do juiz, independente de nova manifestação de
vontade da parte”. Exemplo disso é quando da fase de saneamento do
processo o juiz fixa na audiência de conciliação quais serão as provas a serem
produzidas na audiência de instrução.
O Princípio da publicidade está presente na constituição federal nos
artigos 5º, inciso LX e 93, IX. Esse princípio garante a publicidade do processo,
excetuando-se aqueles protegidos por segredo de justiça, exemplo de sua
aplicação prática é o Diário de Justiça eletrônico do Tribunal de Justiça do
Estado da Bahia, onde são publicados todos os atos judiciais e administrativos
próprios e dos órgãos a eles subordinados.
Outro princípio de grande aplicação no procedimento eletrônico é do da
celeridade processual presente no inciso LXXVIII do artigo 5º da Constituição
Federal. Esse princípio juntamente com o da razoável duração do processo foi
incluído recentemente na Constituição pela Emenda nº 45 de 2004, e segundo
ele os processos devem desenvolver-se em tempo razoável de modo a garantir
a utilidade do resultado alcançado ao final da demanda44.
Já o princípio da razoável duração do processo, que complementa o da
celeridade processual, pode ser sintetizado da seguinte forma de acordo com
Carbonar45:
41 DINAMARCO, Cândido Rangel. INSTITUIÇOES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL: Os Fundamentos e as Instituições Fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2001. 42 Ibidem, p. 43 43 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Op. Cit. p. 72 44 http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpios_constitucionais_do_processo_civil. Acesso em: 31 dez.2014. 45 CARBONAR, Dante Olavo Frazon. O princípio da razoável duração do processo: noções sobre o acesso qualitativo e efetivo ao judiciário. REVISTA DE PROCESSO, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 224, n. 38, p.93-120, out.2013. P. 100.
21
O processo deve ser uma sucessão de atos ordenados a produzir um resultado de forma célere, porém segura, de maneira mais econômica possível, onde são respeitadas todas as garantias do devido processo legal, sem dilações indevidas, de modo que ao seu fim será possível proferir uma decisão segura, eficaz e útil às partes, permitindo que sigam suas vidas adiante, sem danos provenientes de um processo excessivamente moroso.
Portanto, o processo deve-se desenvolver de forma rápida e segura,
sendo seu descumprimento passível de indenização paga pelo Estado como se
pode depreender dos seguintes artigos transcritos a seguir:
Artigo 37, parágrafo 6º da Constituição Federal:
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Artigo 133, inciso II do Código de Processo Civil:
Art. 133. Responderá por perdas e danos o juiz, quando:
[...]
II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte.
Artigo 22, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
Antes mesmo da edição da Emenda Constitucional nº 45, a
jurisprudência aplicava esse princípio como se pode observar da Apelação
Cível nº 70006474223, que tramitou perante a 6º Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, que condenou o município de Passo Fundo a
reparar um servidor em doze mil reais por danos morais devido ao
prolongamento excessivo do processo.
22
A título de curiosidade, Carbonar46 informa que o processo na Itália
também era bastante demorado como o brasileiro. Foi então que os países
membros da União Europeia pressionaram a Itália e em 24 de Março de 2001
foi publicada a Legge Pinto ou Lei de Pinto que alterou o artigo 375 do Código
de Processo Civil Italiano, possibilitando que os cidadãos italianos requeiram
indenizações perante a Corte italiana, em casos de danos sofridos decorrentes
da demora exacerbada na finalização dos processos judiciais.
Mas o que se entende por tempo razoável para a duração de um
processo? Carbonar47 mais uma vez elabora uma equação aritmética somando
os prazos de cada fase processual explicada da seguinte forma:
No caso de o processo seguir o procedimento ordinário com produção oral e pericial, sem a realização de audiência preliminar, o processo deve levar 244 dias. Se ocorrer a audiência preliminar e de instrução de julgamento o prazo será de 259 dias
Tem-se segundo essa fórmula um processo durando no máximo 259
dias, o que é algo que beira o impossível pensar nos dias de hoje devido a
mundialmente reconhecida morosidade da justiça brasileira. Luiz Guilherme
Marioni apud Carbonar48 entende de forma diferente. Segundo ele, a razoável
duração do processo não pode ser aferida por um número de dias exatos, pois
não se trataria de duração razoável, mas de duração legal. Assim, inúmeros
fatores influenciam na duração de cada processo, aumentando sua
complexidade, pelo que não é possível prever seu tempo exato.
Nesse sentido, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos estabeleceu
três diferentes critérios objetivos para se avaliar se a duração do processo foi
razoável, são eles49:
Complexidade do litígio – “Se se tratar de matéria unicamente de direito,
havendo inúmeros precedentes e jurisprudência pacificada, é razoável exigir
maior celeridade do que em outros processos que requerem produção de
provas” 50. São, portanto, fatores que aumentam a complexidade o número de
partes, a dificuldade de localizar testemunhas, a produção de prova pericial, a
46
CARBONAR, Dante Olavo Frazon. Loc. cit. 47 Ibidem, p. 104. 48 CARBONAR, Dante Olavo Frazon. Loc. cit. 49 CARBONAR, Dante Olavo Frazon. Loc. cit. 50 Ibidem, p. 105.
23
multiplicidade de incidentes processuais, o rito, o número de recursos
interpostos, a conexão de ações entre outros fatores.
Conduta pessoal da parte lesada – as partes não devem se utilizar das
normas disponíveis no ordenamento jurídico para fins desvirtuados, não pode
ter finalidade protelatória. Isso é algo raro de se encontrar na realidade forense
brasileira, em que as partes vencidas protelam ao máximo o cumprimento da
decisão por meio de recursos e outros meios permitidos ou não em Lei, sendo
um dos principais motivos pelo qual a justiça é lenta.
Conduta das autoridades envolvidas no processo – são situações nas
quais o Estado, representado por seus funcionários, deveria atuar com
presteza e não faz, como por exemplo, a produção de prova desnecessária e a
“etapa morta” do processo, que segundo Oliveira apud Madeira e Theodoro
Júnior51 é “todo aquele período destinado à prática dos atos
procedimentais/jurisdicionais em que não se observa o prazo legal fixado aos
agentes públicos”, isto é, é o tempo em que não há efetivamente nenhum ato
processual sendo praticado. Trazendo a realidade do processo físico é aquele
tempo que o processo fica parado na secretaria esperando ser autuado pelo
servidor daquela repartição. Essa é outra razão pela qual a justiça é lenta.
Portanto, vê-se que os princípios constitucionais são de extrema
importância para o desenvolvimento do procedimento eletrônico, conferindo-lhe
segurança jurídica e eficácia para os atos processuais praticados nesse tipo de
procedimento.
1.5. SEGURANÇA JURÍDICA
Uma das principais dúvidas quanto ao procedimento eletrônico é saber
se ele é realmente seguro. Recentemente foram veiculadas notícias de
invasões a diversos sistemas eletrônicos, como o caso da espionagem
americana no Brasil e em outros países provocada pela NSA em conjunto com
51 OLIVEIRA, Cristiano de. Loc. Cit. P. 443.
24
a CIA52. Diante dessas circunstâncias como garantir que no procedimento
eletrônico não ocorrerá à mesma situação?
Antes de responder essa pergunta é necessário olhar em nossa volta
para perceber que já existem serviços públicos prestados eletronicamente com
padrão de excelência, como por exemplo53: a declaração do Imposto de Renda
pela Receita Federal, a emissão eletrônica de certidões negativas de débitos e
as delegacias eletrônicas ou digitais.
Para garantir a segurança foram criadas as denominadas regras da
Heredia, que estabelecem regras para divulgação dos dados judiciais via
Internet e, garantindo o acesso das partes a todos os atos processuais,
assegurando sigilo sempre que necessário54.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no dia 5 de Outubro de 2010
editou a Resolução 121 que dispõe sobre a divulgação de dados processuais
eletrônicos na rede mundial de computadores entre outros55. Essa resolução
limita o acesso de informações processuais para quaisquer pessoas que não
integram a lide, tendo acesso somente a informações básicas do processo que
são: número, classe, assunto, nome das partes e de seus advogados,
movimentação processual, inteiro teor das decisões, sentenças votos e
acórdãos (artigo 2º). Há, portanto, uma mitigação do princípio da publicidade
em detrimento ao prestígio da proteção à intimidade dos litigantes, pois só
terão acesso aos atos do processo às partes litigantes e seus patronos,
impossibilitando acesso às informações do processo por terceiro56.
1.5.1. Requisitos
O Código de Processo Civil brasileiro, através da Lei 11280/2006 teve
incluído o parágrafo único do artigo 154, o qual estabelece os principais 52http://oglobo.globo.com/brasil/petrobras-foi-alvo-de-espionagem-do-governo-americano-9877320. Acesso em: 30 dez. 2014. 53 DANTAS NETO, Renato de Magalhães. Loc. cit. 54 NASCIMENTO, Luzia Nadja Guimarães. Ferramentas de TI e Gestão Eficiente na atividade Jurisdicional. A LEITURA, Belém: ESM-PA, v. 5, n. 9, p. 70-78, nov. 2012. 55http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12239-resolucao-no-121-de-5-de-outubro-de-2010. Acesso em: 02 jan. 2015. 56 ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz; SOARES, Marcele Carine dos Praseres. Loc. cit.
25
requisitos que devem ser observadas pelos Tribunais na aplicação do
procedimento eletrônico para garantir sua segurança:
Parágrafo único. Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disciplinar a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP - Brasil.
Os requisitos são, portanto: autenticidade, integridade, não repúdio ou
Irretratabilidade e validade jurídica57. A interoperabilidade da Infraestrutura é
um requisito do SEPAJ, que será estudado no próximo capítulo.
Por autenticidade entende-se que é a garantia de que o próprio autor
enviou o documento e não outra pessoa. Isso só é possível porque somente o
autor possui a chave privada de sua assinatura digital.
Por integridade entende-se que as informações não foram alteradas
após o seu envio podendo ser acessadas pela outra parte ou pelo magistrado
de modo exato e perfeito. Assim, qualquer alteração no documento eletrônico
faz com que a assinatura seja invalidada.
Por repúdio ou Irretratabilidade entende-se, de acordo com Dantas
Neto58, que “é a garantia de que o emissor de uma mensagem não poderá,
posteriormente, negar sua autoria nem o seu conteúdo”. Esse requisito
encontra respaldo no artigo 219 do Código Civil que diz o seguinte: “As
declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras
em relação aos signatários”.
Se houver má-fé de uma das partes no concernente a esse requisito, a
parte interessada poderá fazer uso do incidente de falsidade conforme consta
no artigo 390 do Código de Processo Civil.
Por validade jurídica entende-se que os documentos eletrônicos gozam
de presunção de veracidade jurídica garantidas pelo parágrafo primeiro do
artigo 10 da Medida Provisória 2.200-2:
§ 1o As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica produzidos com a utilização de processo de certificação disponibilizado pela
57 http://www.documentoeletronico.com.br/assinatura-digital.asp#1. Acesso em 02 jan. 2015. 58 DANTAS NETO, Renato de Magalhães. Op. cit. P. 186.
26
ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação aos signatários, na forma do art. 131 da Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916 - Código Civil.
Portanto, os requisitos de segurança do procedimento virtual estão
expressos no parágrafo único do artigo 154 do Código de Processo Civil
brasileiro devendo ser obedecido por todos os tribunais sob a jurisdição
brasileira.
1.5.2. Assinatura Digital
Agora que se sabe quais são os requisitos que o procedimento
eletrônico deve possuir para ser considerado seguro juridicamente faz-se
mister compreender o que é assinatura digital.
Segundo Barros59, a assinatura eletrônica é gênero de todo método de
identificação apropriado e confiável empregado na transmissão de dados
eletrônicos, que inclui a assinatura digital baseada em certificado digital emitido
por Autoridade Certificadora credenciada. Pode-se definir então assinatura
digital como “um mecanismo que identifica o remetente de determinada
mensagem eletrônica”60.
A assinatura eletrônica como um todo se utiliza do sistema de
criptografia que de acordo com o Instituto Nacional de Tecnologia da
Informação, autarquia vinculada à Casa Civil da Presidência da República, o
define como61:
Criptografia (do grego kryptós, "escondido", e gráphein, "escrita") é uma forma sistemática utilizada para esconder a informação na forma de um texto ou mensagem incompreensível. Essa codificação é executada por um programa de computador que realiza um conjunto de operações matemáticas, inserindo uma chave secreta na mensagem. O emissor do documento envia o texto cifrado, que será reprocessado pelo receptor, transformando-o, novamente, em texto legível, igual ao emitido, desde que tenha a chave correta.
59 BARROS, Marco Antônio de. Loc. cit. 60 http://www.iti.gov.br/perguntas-frequentes/1743-sobre-certificacao-digital. Acesso em: 02 jan. 2015. 61 http://www.iti.gov.br/perguntas-frequentes/1743-sobre-certificacao-digital. Acesso em: 02 jan. 2015.
27
Barros explica a estrutura e o funcionamento da assinatura digital da
seguinte forma62:
Essa modalidade de assinatura eletrônica baseia-se em sistema criptográfico assimétrico composto de um algoritmo, por força do qual é gerado um par de chaves, sendo uma privada e outra pública. A verificação da autenticidade é levada a cabo por uma entidade certificadora que estabelece um sistema de confirmação tecnicamente seguro, garantindo que a comunicação foi efetivamente expedida por quem diz tê-la expedido. Para cada nova assinatura cria-se um novo par de chaves. A chave privada é codificada, instala-se no computador, no qual permanece guardada e deve ser usada apenas pelo seu proprietário. Sua utilização necessita de uma password (senha, contrassenha), sendo que o emissor assina com a chave privada enquanto o receptor verifica a autenticidade com a chave pública do emissor. Por esse sistema, a confirmação da assinatura digital só se verifica quando a chave privada do remetente foi usada para assinar a mensagem, e quando a mensagem não foi alterada. Se esta operação não puder ser feita, o software vai identificar a verificação como falsa. (p.435).
Dessa forma, a assinatura eletrônica sem certificação digital e a
assinatura digitalizada, isto é escaneada, não são válidas dentro da dinâmica
do procedimento eletrônico. Portanto, segundo Dantas Neto63, “quando se diz
que o documento foi assinado digitalmente, significa que aquele documento
está criptografado juntamente com a informação de seus dados pessoais, que
estão contidos no certificado”. Em outras palavras, foi colocado num cofre e
trancado com uma chave de tal maneira que este cofre só poderá ser
destrancado por meio de outra chave encontrada no computador que
armazena os autos virtuais do processo.
1.5.3. Prova Cibernética ou Eletrônica
Outro tema relacionado com a segurança do procedimento eletrônico diz
respeito à produção de prova eletrônica e como ela se enquadra com o
ordenamento jurídico. Adorno Júnior e Soares64 definem o instituto como a
prova produzida no procedimento eletrônico e prevista no artigo 225 do Código
Civil brasileiro transcrito in verbis abaixo:
62 BARROS, Marco Antônio de. Loc. cit. P. 435 63 DANTAS NETO, Renato de Magalhães. Do papel ao Byte: a nova aparência do processo judicial do século XXI. REVISTA MAGISTER DE DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL, Porto Alegre: Magister, v. 7, n. 39, p. 56-80, nov/dez 2010. P. 190 64 ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz; SOARES, Marcele Carine dos Praseres. Loc. cit.
28
Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.
O Código de Processo Civil brasileiro, no artigo 365 também defende a
força probante da prova eletrônica:
Art. 365. Fazem a mesma prova que os originais:
[...]
V - os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, desde que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações conferem com o que consta na origem;
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento, público ou particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por advogados públicos ou privados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou durante o processo de digitalização.
§ 1o Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no inciso VI do caput deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o final do prazo para interposição de ação rescisória. .
§ 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou outro documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar o seu depósito em cartório ou secretaria.
Segundo Adorno Júnior e Soares65, a prova eletrônica possui dois
princípios, quais sejam: equivalência eletrônica do documento ao papel e força
probatória dos documentos eletrônicos. Pelo primeiro princípio, os documentos
eletrônicos são equivalentes ao papel e pelo segundo, os mesmos valem como
prova em processo judicial.
Lessa66 estabelece cinco regras básicas para a prova cibernética:
a) admissibilidade (ter condições de ser usada no processo); b)
autenticidade (ser certa e de relevância para o caso); c) completude
(não levantar suspeitas alternativas); d) confiabilidade (não devem
65 ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz; SOARES, Marcele Carine dos Praseres. Loc. cit. 66 LESSA, Breno Minucci. A invalidade das provas digitais no processo judiciário. CIÊNCIA JURÍDICA, Salvador: Ciência jurídica, v. 24, n 152, p. 49-84, mar./abr. 2010. P. 81
29
existir dúvidas sobre sua veracidade) e e) credibilidade (clareza, o
fácil entendimento e interpretação).
Lessa67 afirma ainda que “um dos meios para se preservar as evidências
é a ata notarial”, que consiste em guardar as provas originais na Internet. E,
além disso, existe “uma técnica científica mundial, chamada computação
forense, para garantir a correta preservação jurídica da prova eletrônica”.
Respondendo à pergunta feita no início do tópico segurança jurídica,
pode-se afirmar, segundo Guelber de Mendonça68 que o processo de
codificação por meio da assinatura eletrônica é extremamente seguro, pois
antes da petição ser aberta pelo destinatário, a Autoridade Certificadora já terá
conferido a idoneidade da operação, e se por acaso alguém interceptar a
mensagem ela saberá da intromissão e a acusará, tornando a mensagem
inválida. Se houver falha da Certificadora, essa responderá civilmente pelos
danos causados (por esse motivo que elas celebram contrato de seguro).
Portanto, o risco de fraude é baixíssimo, tanto o é que grandes operações
financeiras se realizaram e se realizam pela assinatura e certificados digitais,
contudo é imprescindível o cuidado no ato de credenciamento e a conferência
atenciosa dos documentos apresentados. Essa forma de transmissão de
informações é mais segura e eficiente do que o e-mail, inclusive com o
fornecimento de protocolos digitais no exato instante do envio, o qual será a
garantia de envio do documento.
1.6. APLICAÇÃO NO ATUAL CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
BRASILEIRO (LEI 5.869/1973)
Anteriormente feito um estudo genérico da Lei 11419/2006, porém
deixou-se para este tópico o estudo dos artigos do Código de Processo Civil
que foram alterados ou introduzidos por esta Lei. Analisar-se-á também os
67 Ibidem, p. 80. 68 GUELBER DE MENDONÇA, Henrique. A informatização do processo judicial sem traumas. REVISTA DE PROCESSO, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 33, n. 166, p. 118-135, dez. 2008.
30
artigos que foram alterados por outras Leis, mas que guardam pertinência com
o procedimento eletrônico. Feita esta apresentação proceder-se-á com a
análise do atual código de processo civil brasileiro, Lei nº 5869 de 11 de
Janeiro de 1973, sob a ótica da aplicação do procedimento eletrônico.
Quanto aos atos e termos processuais, esses passam a poder ser
praticados de forma eletrônica. Assim, por exemplo, os atos de comunicação
que no processo tradicional são feitos fisicamente através de um oficial de
justiça ou de um carteiro, no procedimento eletrônico podem ser feitos de forma
inteiramente eletrônica. Em termos de comparação, o tempo gasto para se
obter resposta para uma carta precatória pode corresponder a meses ou anos
em se tratando de processo tradicional. Entretanto, essa mesma precatória
pode ser respondida em poucas horas ou dias em se tratando de procedimento
eletrônico. Isso significa, portanto, um grande avanço para o direito, uma vez
que reduz sensivelmente o tempo do processo gasto com esta “etapa morta”
desafogando um pouco a intensidade de trabalho dos técnicos judiciários e
tornando mais efetiva a aplicação da justiça. Essa mudança está prevista no
CPC nos artigos 154, §2º, 169, §§1º a 3º, 202, §3º, 221, IV e 237, parágrafo
único.
Quanto à produção de provas, estas passaram a poder ser produzidas
de forma eletrônica tendo a mesma força probante dos documentos físicos
geralmente reproduzidos em papel, inclusive a produção de prova testemunhal
a qual pode ser reduzida a termo ou gravada em documento eletrônico. Isso
representa redução de gasto com papel e diminuição do espaço necessário
para armazená-los, além de representar uma economia de tempo e de dinheiro
investidos pela Administração Brasileira na tramitação dos processos. Essa
mudança está prevista no CPC nos artigos 365, V e VI e §§ 1º e 2º, 399, §§ 1º
e 2º e 417, §§ 1º e 2º.
Quanto à validade dos atos produzidos de forma eletrônica, esses
passam a ser legitimados pelo uso da assinatura eletrônica através de
certificado emitido por Autoridade Certificadora. Isso representa uma maior
segurança para o processo, uma vez que enquanto no processo tradicional a
possibilidade de ocorrer fraude é considerável, no procedimento eletrônico
31
esse risco tende a zero. Essa mudança está prevista no CPC nos artigos 38,
parágrafo único, 164, parágrafo único e 556, parágrafo único.
Além da Lei 11.419 de 2006 houve outras duas leis que trouxeram forte
influência no CPC referente ao tema procedimento eletrônico.
A primeira delas é a Lei 11.341 de 2006. Ela permitiu que em sede de
Recurso Extraordinário e Recurso Especial, o recorrente poderá fazer prova da
divergência pela citação do repositório de jurisprudência em mídia eletrônica ou
pela reprodução de julgado disponível na Internet. Essa lei facilitou a coleta de
julgados pela Internet, o que representa um ganho de tempo e de dinheiro para
os advogados, que antes tinham que procurar julgados em revistas
especializadas de direito. Isso está previsto no CPC no artigo 541, parágrafo
único.
A segunda delas é a Lei 11.382 de 2006. Ela permitiu a realização de
penhora na modalidade on-line a ser realizada pelo Bacen-Jud, e também o
envio de carta precatória de forma on-line. Isso trouxe uma maior efetividade
para a fase de execução processual, uma vez que há maior probabilidade de o
exequente ficar satisfeito, ou seja, alcançar o objetivo pelo qual ingressou com
a lide. Essa alteração está prevista no CPC nos artigos 655-A, 689-A e 738,
§2º.
Vistos os artigos que foram introduzidos ou alterados de acordo com o
procedimento eletrônico chega-se a conclusão de que eles têm a capacidade
de promover uma redução no tempo do processo e diminuição nos seus gastos
com produção e manutenção. O CPC, além disso, estabelece uma norma em
branco ao outorgar implicitamente para as leis específicas baseadas na Lei
11.419 a regulamentação de institutos auxiliares permitindo que sejam
realizados aprimoramentos posteriores sem receio de contrariar alguma regra
de competência. Isso é um ganho para o Direito, pois possibilita que a
jurisdição, dever e monopólio do Estado, seja prestada de forma célere e
eficaz, gerando efeitos positivos para a sociedade brasileira.
32
1.7. APLICAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
BRASIELEIRO (LEI 13.105/2015) E ANÁLISE CRÍTICA
Em Setembro de 2009, o então presidente do Senado Federal José
Sarney deu iniciativa ao anteprojeto que visava criar um novo código de
processo civil. Os principais motivos determinantes para a tomada desta
decisão estão presentes no ato do presidente nº 379 de 200969 que são:
O Código de Processo Civil atualmente em vigor foi criado no período da
ditadura brasileira, e por isso os instrumentos processuais de proteção dos
direitos fundamentais não gozavam do mesmo desenvolvimento teórico que
desfrutam modernamente.
O surgimento dos princípios do acesso à justiça e da razoável duração
do processo, advindos com a promulgação da constituição federal e a emenda
constitucional nº 45, respectivamente, tiveram alcançado a condição de
garantias fundamentais.
O atual CPC entrou em vigor em 1975 e desde então sofreu inúmeras
mudanças nesse curto espaço de tempo, sendo necessário mantar a coerência
interna e o caráter sistêmico inerente ao código.
Sarney nomeou uma comissão de juristas responsáveis pela elaboração
do Novo Código de Processo Civil. Essa comissão apresentou o anteprojeto do
novo CPC, destacando como principais objetivos perseguidos, de acordo com
Jamil Zamur Filho70: estabelecer verdadeira sintonia fina com a Constituição
Federal; criar condições para que o juiz possa proferir decisão de forma mais
rente à realidade fática subjacente à causa; dar todo o rendimento possível a
cada processo em si mesmo considerado; imprimir maior grau de organicidade
ao sistema dando-lhe mais coesão; e simplificar, resolvendo problemas e
reduzindo a complexidade de subsistemas, como, por exemplo, o recursal.
Após mais de cinco anos tramitando no congresso, o Projeto de Lei do
Novo Código de Processo Civil foi aprovado pelo Senado Federal em 17 de
69http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/ATO%20DO%20PRESIDENTE%20N%BA%20379.pdf. Acesso em: 04 jan. 2015. 70 ZAMUR FILHO, Jamil. Processo Judicial Eletrônico: Alcance e efetividade sob a égide da lei nº 11.419, de 19.12.2006. 2011. 152f. Tese (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
33
Dezembro de 2014, e no dia 16 de Março de 2015 foi sancionado pela
Presidente da República.
Passa-se agora a analisar essa Lei sob a ótica do procedimento
eletrônico apontando as principais diferenças ocorridas se comparado com o
Código de Processo Civil atual.
A grande novidade presente no novo CPC é a unificação dos SEPAJ em
todos os tribunais sob a supervisão do Conselho Nacional de Justiça que
segundo o artigo 196 deve ser feita de forma progressiva seguindo os avanços
tecnológicos. Vejamos como ficou esse artigo na íntegra:
Art. 196. Compete ao Conselho Nacional de Justiça e, supletivamente, aos tribunais, regulamentar a prática e a comunicação oficial de atos processuais por meio eletrônico e velar pela compatibilidade dos sistemas, disciplinando a incorporação progressiva de novos avanços tecnológicos e editando, para esse fim, os atos que forem necessários, respeitadas as normas fundamentais deste Código.
Outra novidade é que os despachos, as decisões interlocutórias, o
dispositivo das sentenças e a ementa dos acórdãos passarão a ser publicados
no Diário de Justiça Eletrônico, conforme o artigo 205, §3º reproduzido abaixo:
Art. 205
[...]
§ 3o Os despachos, as decisões interlocutórias, o dispositivo das sentenças e a ementa dos acórdãos serão publicados no Diário de Justiça Eletrônico.
Outra novidade é referente aos atos processuais de intimação e de
penhora, que serão realizados preferencialmente de forma eletrônica,
consoante os artigos 270 e 882 transcritos abaixo, respectivamente:
Art. 270. As intimações realizam-se, sempre que possível, por meio eletrônico, na forma da lei.
Art. 882. Não sendo possível a sua realização por meio eletrônico, o leilão será presencial.
Essas são as principais alterações constantes no Novo Código de
Processo Civil que versam sobre o procedimento eletrônico. A comissão de
juristas responsável pela elaboração do novo CPC entendeu através do
34
parecer nº 1624 de 201071, que a nova lei processual relegou o tema referente
ao procedimento eletrônico para lei ordinária própria, a saber, lei 11.419, com a
justificativa de que a informática evolui muito rapidamente e que colocar
regulamentações acerca desse tema no novo diploma não seria adequado.
A respeito desse assunto cabe pontuar algumas criticas feita por Jamil
Zamur Filho72. Segundo ele o novo diploma não enfatizou o procedimento
eletrônico, repetindo o que diz a Lei 11.419, relegando, assim, as inovações no
procedimento eletrônico para discussões futuras; e que apesar de simplificar
processos, unificar institutos, alterar preclusões, reduzir recursos, retirar
excessos, etc. (problemas que são debatidos desde a década de 90) foi
“desenvolvido por processualistas da atual geração, conhecedores em
profundidade dos múltiplos problemas do direito processual, mas acostumados
com o processo-papel”.
No novo diploma processual civil ainda estão presentes termos próprios
do processo físico como termos de juntada, de vista e de conclusão, atos
datilografados ou escritos com tinta escura e indelével, o uso de taquigrafia e
estenotipia, numeração e rubrica de todas as folhas do auto pelo escrivão,
carga dos autos, entre outros.
Isso leva a conclusão de que o Novo Código de Processo Civil não trará
nenhuma mudança significativa para o procedimento eletrônico, mantendo a
estrutura do processo físico apenas com uma nova roupagem. Apesar de ser
bom por um lado, pois permite que o CNJ supervisione a criação de leis que
aperfeiçoem o procedimento sem nenhum impedimento, por outro lado, é
negativo, pois mostra que o Brasil continuará com os resquícios do processo
físico, inclusive com as etapas mortas do processo que tanto causam atrasos
no Judiciário.
71 http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=84992&tp=1. Acesso em: 04 jan. 2015. 72 ZAMUR FILHO, Jamil. Op. cit. P. 70.
35
2. SISTEMAS ELETRÔNICOS DE PROCESSAMENTO DE AÇÕES JUDICIAIS
(SEPAJ)
A marcha processual no Brasil é marcada pela excessiva morosidade e
pela baixa eficácia da prestação jurisdicional, o que torna a comunidade
descrente na Justiça brasileira trazendo impactos negativos do ponto de vista
social e econômico. Nesse mesmo sentido pensa Aguiar73:
A morosidade dos processos judiciais e a baixa eficácia de suas decisões retardam o desenvolvimento nacional, desestimulam investimentos, propiciam a inadimplência, geram impunidade e solapam a crença dos cidadãos no regime democrático.
Esse é o triste retrato atual da justiça brasileira. Pensando nisso
estudiosos do tema buscaram desenvolver as chamadas Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC’s) que nada mais são no dizer de Dantas
Neto74 do que:
[...] ferramentas adequadas para minimizar o esforço humano, simplificar processos e diminuir dificuldades de manipulação, fazendo com que menos pessoas façam o mesmo trabalho em menos tempo (diminuição das horas de trabalho) ou as mesmas pessoas façam mais trabalho no mesmo tempo (aumento da capacidade de trabalho).
As TIC’s foram introduzidas no ordenamento jurídico brasileiro através
do caput do artigo 8º da Lei 11.419/2006 com a denominação de Sistemas
Eletrônicos de Processamento de Ações Judiciais (SEPAJ), que nada mais são
do que programas de computador (softwares) desenvolvidos para dar
andamento aos processos eletrônicos ou parcialmente eletrônicos.
2.1. PRINCÍPIOS
O SEPAJ, assim como o procedimento eletrônico, segue os mesmos
princípios processuais como todo instituto processual (ver tópico 1.4), porém
73 AGUIAR, Ana Carolina Campos. Celeridade e processo: a Justiça que queremos e a informatização do processo judicial. P. 19-26. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24). P. 22. 74 DANTAS NETO, Renato de Magalhães. Op. cit. p. 62.
36
possui princípios específicos que orientam a sua aplicação seguindo os
princípios da Lei 11.419. Cunha75 enumera esses princípios, vamos a eles:
O princípio da máxima automação é aquele segundo o qual tudo o que
for passível de automação deve ser automatizado, respeitados os princípios
jurídicos materiais e processuais. Assim, a automação representa um
barateamento da produção de qualquer trabalho e aumento incomensurável da
produtividade, uma vez que usa o próprio computador para realizar as
chamadas etapas mortas do processo, e por isso deve ser buscada na
constituição de um software.
O princípio da imaginalização mínima pode ser entendido da seguinte
forma: se o dado existir em formato mais adequado para a instrução
processual, deve ser desprezada a imagem ou o dado deve chegar ao SEPAJ
na forma mais adequada para a máxima automação. Ou seja, para se alcançar
a máxima automação, os atos do processo devem estar num formato que
permita ao software “entender” o processo e praticar os atos necessários. Isso
só é possível com a virtualização do mesmo (e não com a digitalização). A
diferença entre virtualização e digitalização será abordada no próximo capítulo.
O princípio da extraoperabilidade é aquele no qual um SEPAJ deve ser
concebido como um subsistema autônomo e estruturalmente acoplado, isto é,
deve permitir a sua intercomunicação na dimensão mais ampla possível. Desse
modo, um bom software deve se comunicar com os demais processos
eletrônicos disponíveis na sociedade, nos quais se encontra grande quantidade
de informação necessária para as ações e decisões processuais. Acerca desse
tema pensa Pereira76:
Tem-se de quebrar o hermetismo secular cultuado pelo direito (o que não está nos autos não está no mundo). O paradigma novo, que se propõe para o ciberprocesso, é “o que não está nos autos, está no mundo ou num outro sistema.”.
75 CUNHA, Henrique Gouveia da. Sistema eletrônico de processamento de ações judiciais: princípios processuais. P. 95-112. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24). 76 PEREIRA, Sebastião Tavares. Processo eletrônico, máxima automação, extraoperabilidade, imaginalização mínima e máximo apoio ao juiz: ciberprocesso. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3275, 19 jun. 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/22047>. Acesso em: 10 nov. 2014.
37
O princípio da prioridade à função judicante ou da prioridade às funções
postulatória e judicante é aquele pelo o qual um SEPAJ deve conferir apoio
máximo ao exercício da função jurisdicional ajudando o julgador na sua função
diretiva básica que é a de julgar. Assim, da tarefa trivial de formatar
originalmente a sentença, até o fornecimento de informações relevantes para a
decisão, um SEPAJ pode ser o parceiro fiel do juiz.
O princípio da conexão é aquele segundo o qual o SEPAJ deverá está
conectado à rede mundial de computadores de modo que, a partir desse
ambiente, possa ser realizada a colheita de todo e qualquer dado ou
informatização útil ao exercício da atividade judicante, devendo ser interpretado
em conjunto com o contraditório e a ampla defesa.
O princípio da desterritorialização permite que os atos processuais
sejam praticados pelo magistrado, mesmo fora dos limites territoriais em que
exerce a jurisdição, havendo uma mitigação do princípio da aderência em favor
do princípio da eficácia. Verifica-se isso na hipótese de um Juiz substituto que
foi escalado para fazer plantão numa comarca longínqua do interior do Estado.
Para chegar a essa localidade ele gastaria um enorme tempo, porém o mesmo
efeito pode ser alcançado pelo SEPAJ, permitindo que seja realizado o plantão
da localidade em que se encontre, sendo apenas necessária sua presença
para realizar as audiências de instrução e outros atos que forem necessários.
2.2. VANTAGENS E DESVANTAGENS
De acordo com Arnaldo Pereira de Andrade Segundo77, a adoção do
procedimento eletrônico representa inúmeras vantagens. Para ele o tempo do
processo é distribuído da seguinte forma78: “70% é pura burocracia e apenas
30% é o tempo no processo propriamente dito”. Assim, de acordo com esse
autor, os benefícios da adoção do procedimento eletrônico são vários, tais
como:
77 SEGUNDO, Arnaldo Pereira de Andrade. Breve história do processo eletrônico no Brasil. P. 43 e 44. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24). 78 Ibidem, p. 44.
38
Combate à morosidade no processamento das ações judiciais, uma vez
que a distribuição e processamento dos atos são realizados com maior rapidez,
o que reflete no tempo de duração do processo. Pode-se constatar isso com
base nos seguintes dados constantes na obra de Dantas Neto79: No Estado de
Roraima os processos que levavam cerca de 160 dias para serem concluídos,
após o início do uso do procedimento eletrônico, tiveram seu tempo reduzido
para 45 dias em média; No TRF da 4º região, o tempo de tramitação de um
recurso em forma de autos digitais foi reduzido em 80%; No STJ enquanto o
processo físico leva, em média, 100 dias para ser distribuído, o procedimento
eletrônico chega ao gabinete do relator em apenas 6 dias; No TJ/CE o temo de
tramitação passou de 74 dias no processo tradicional para uma média de 64
dias no processo judicial.
Permite o acesso à Justiça em qualquer lugar, desde que haja Internet,
evitando-se assim que as partes se dirijam ao fórum, perdendo seu tempo e
tomando o tempo dos servidores, que ficam liberados para atuar diretamente
no processo.
Cumpre o princípio da transparência dos atos judiciais, uma vez que
garante o direito de acesso à informação descrito no artigo 5º da Lei
12.527/2011 por meio da publicação destas na Internet para o acesso de
qualquer pessoa que desejar, respeitados o segredo de justiça.
As informações são atualizadas em tempo real, haja vista que a juntada
de qualquer ato processual se dá de forma quase automática.
É econômico, considerando que o procedimento eletrônico é mais barato
do que o processo físico, inclusive para os advogados, para os quais tem um
custo mínimo, bem como o acesso aos autos em qualquer tempo e lugar.
Pode-se verificar isso com base no dado constante na obra de Carbonar80: No
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará o custo aproximado do processo caiu
de R$ 5,34 para R$ 3,17, o que representa uma economia de 40% em cada
processo que entra na Justiça através do Projudi.
É benéfico ao meio ambiente, pois basta verificar a enorme economia de
papel que isso representa com a substituição do papel físico pelo meio virtual
representado pelo formato PDF, evitando assim o desmatamento florestas. Em
79 DANTAS NETO, Renato de Magalhães. Loc. cit. 80 CARBONAR, Dante Olavo Frazon. Loc. cit.
39
2010, por exemplo, segundo informações de Carbonar81, o Poder Judiciário
usou quarenta e seis milhões de quilos de papel por ano. No aspecto micro
ambiental do trabalho evita a acumulação de poeira e ácaros além da
infestação de traças, bem como libera espaço físico nos cartórios judiciais e
reduz os gastos para conservação dos autos físicos.
Apesar de todas essas vantagens, existem na comunidade acadêmica
críticas a respeito dos Sistemas Eletrônicos de Processamento de Ações
Judiciais (SEPAJ), elas estão sintetizadas abaixo:
Atheniense82 afirma que o instituto não cumpriu o princípio da
interoperabilidade entre todos os órgãos do Poder Judiciário. De fato não existe
nenhum SEPAJ que cumpra esse princípio, porém o CNJ através do software
PJ-e tenta cumpri-lo, embora ainda esteja numa fase embrionária.
Alexandre de Azevedo Silva83 assevera que os SEPAJ, inclusive o PJ-e,
violam o devido processo legal pelo fato dos documentos digitalizados poderem
ser falsificados com facilidade. Realmente existe essa possibilidade, mas da
mesma forma que o processo físico, há a possibilidade da parte interessada se
valer do instituto do incidente de falsidade previsto nos artigos 225 do CPC
conjugado com o artigo 11, parágrafo 2º da Lei 11.419/06.
Arnaldo Pereira de Andrade Segundo84 considera que o SEPAJ não é
completamente seguro. De fato isso é verdade, porém não existe nenhum
procedimento no mundo que tenha total segurança. Entrementes, devido aos
inúmeros mecanismos de segurança que existem no procedimento eletrônico,
esse é muito mais seguro se comparado com o processo em meio físico. Só
para ilustrar, no processo físico existe a possibilidade dos autos serem
extraviados, o que não ocorre no procedimento eletrônico.
Moreia85 alega que no SEPAJ há dificuldade de manuseio e de sua
consulta. Essa afirmação procede em parte, pois existem alguns softwares com
81 CARBONAR, Dante Olavo Frazon. Loc. cit. 82 ATHENIENSE, Alexandre. Software livre pode uniformizar o processo eletrônico. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 3100, 27 dez. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/20724>. Acesso em: 7 nov. 2014. 83 SILVA, Alexandre de Azevedo. Processo judicial eletrônico PjE e o DUE process of law. REVISTA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, Porto Alegre: Magister, v. 79, n.3, p. 30-45, jul./set.2013. 84 SEGUNDO, Arnaldo Pereira de Andrade. Op. Cit. 85 MOREIRA, Diego Paes. Processo eletrônico – potencial de melhoria da eficiência da atividade jurisdicional. P. 63-73. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO
40
interface complexa que geram essas reclamações. Porém, em outros casos o
problema não está no sistema, mas sim nos seus operadores que tem
resistência em se adequar às inovações tecnológicas introduzidas no direito. A
título de exemplificação, quando o processo era todo manuscrito os operadores
tiveram resistência a usar a máquina de escrever, e quando o processo era
todo datilografado, os mesmos tiveram resistência de usar o computador,
usando-os como se fosse máquina de escrever.
Vistas as vantagens e as desvantagens, chega-se à conclusão de que
os SPAJ são uma importante ferramenta para o Poder Judiciário, pois ajudam o
Estado a cumprir os princípios constitucionais da duração razoável do processo
e da celeridade, além do livre acesso à Justiça. É claro que existem suas
desvantagens, mas essas podem ser contornadas na medida em que os
softwares desenvolvidos forem se aperfeiçoando.
2.3. PRINCIPAIS SOFTWARES DESENVOLVIDOS NA BAHIA
Flávio Spegiorin Ramos apud Alaor Piacini86 aponta que existem mais de
45 espécies disponíveis de sistemas adotados pelos tribunais. Essa situação
explica o caos vivido no procedimento eletrônico, onde cada tribunal possui
mais de um sistema com características bem diferentes uns dos outros
dificultando a fluidez do processo.
No Tribunal de Justiça do Estado da Bahia inúmeros softwares foram
desenvolvidos para cumprir a Lei 11.419/2006, mas somente três se
destacaram, são eles: Projudi, Saj e PJ-e.
2.3.1. PROJUDI
PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24). 86 PIACINI. Alaor. O processo eletrônico e a diversidade de sistemas. Sistema único e mudança legislativa. P. 15-18. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24).
41
O PROJUDI ou Processo Judicial Digital é um software mantido pelo
Conselho Nacional de Justiça e está presente em 19 dos 27 Estados
Brasileiros87.
Foi resultado de um projeto de conclusão de curso de dois estudantes
de Ciência da Computação da Universidade Federal de Campina Grande
(Paraíba), André Luis Cavalcanti Moreira e Leandro de Lima Lira. Seu nome
original era Prodigicon e foi implantado como um projeto piloto88. Inicialmente
era voltado exclusivamente para atuar no juizado do especial do consumidor,
porém sofreu inúmeras modificações passando a comportar outros tipos de
processos e tramitações.
Em 2005 seu nome foi alterado para PROJUDI, época em que foi
instalado no Tribunal de Justiça da Paraíba. Em Setembro de 2006 os autores
doaram o software para o CNJ, que o mantém desde então89.
Na Bahia, o PROJUDI foi regulamentado pela Resolução nº 14/2007 do
Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, só passando a entrar em operação no
dia 13 de Outubro de 2008, no Sistema de Automação da Justiça (SAJ)
instalados no shopping Iguatemi e no bairro da Boca do Rio, somando-se aos
serviços disponíveis nos Juizados Especiais de Defesa do Consumidor do
Núcleo de Assistência Jurídica (NAJ) e do bairro de Brotas, além das cinco
turmas recursais90. Atualmente é aplicado no âmbito dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais e Turmas Recursais.
Seu funcionamento é bastante simples e seguro91: Os advogados e os
cidadãos que desejem ingressar com alguma reclamação nos Juizados
Especiais podem utilizar a Internet ou se dirigir ao setor de atendimento dos
juizados. Esses pedidos serão registrados eletronicamente, com distribuição e
cadastramento automático do processo. A partir daí todos os atos serão
realizados utilizando-se o computador, com a eliminação do papel. A única
atividade permitida para o usuário que não possui login é a consulta sobre a
movimentação de processos.
87 http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/sistemas/projudi. Acesso em: 08 jan. 2015. 88 http://pt.wikipedia.org/wiki/PROJUDI. Acesso em: 08 jan. 2015. 89 http://pt.wikipedia.org/wiki/PROJUDI. Acesso em: 08 jan. 2015. 90 http://jus.com.br/artigos/30339/projudi-na-bahia-as-contribuicoes-para-o-acesso-a-justica-e-a-prestacao-jurisdicional. Acesso em: 08 jan. 2015. 91 http://www.tjba.jus.br/wiki/index.php/Informa%C3%A7%C3%B5es. Acesso em: 08 jan. 2015.
42
Os principais benefícios proporcionados por este sistema são92:
Automação de rotinas processuais; Rapidez na tramitação de processos;
Diminuição de despesas na administração dos processos; Facilidade de
acesso aos Juízes, que poderão resolver questões urgentes mesmo sem
comparecer à sede da Justiça; Acesso instantâneo aos dados dos processos
através da Internet; Os advogados poderão acessar os processos do seu
escritório ou mesmo em viagem, podendo praticar atos processuais, inclusive
com redução de custos.
Apesar desses benefícios, o software apresenta alguns problemas que
carecem de serem solucionadas, as principais críticas ao sistema são:
Carbonar93 acusa o PROJUDI de lentidão e instabilidade frequente,
provocando quedas constantes no sistema. De fato, isso é causado pela
deficiência da infraestrutura tecnológica do país, que é atrasada, sendo
necessário o investimento por parte do Poder Público em aprimoramento das
tecnologias de informação para solucionar essa deficiência.
Não é um software livre94, pois a distribuição do sistema é precedida de
um convênio entre o CNJ e o tribunal de interesse, não existindo uma licença
de uso amplamente divulgada para o sistema, o que resulta numa interpretação
restritiva dos direitos sobre seu uso. Assim, na realidade, o PROJUDI é um
software desenvolvido de forma fechada pelo CNJ, e pelos tribunais que detém
o seu código.
Caracteriza cerceamento da defesa e ofensa ao direito de acesso à
justiça devido ao fato de limitar o tamanho máximo dos arquivos juntados a 5
MB95. Tal acusação não merece prosperar, pois se no processo em meio físico
o juiz aplicando o artigo 384 do CPC pode mandar o autor emendar a inicial
que for prolixa, a fim de assegurar o direito de defesa do réu, tal entendimento
pode ser aplicado no procedimento eletrônico. Outros Tribunais estabelecem
limites diferentes de tamanho de arquivos que podem ser juntados aos autos
processuais eletrônicos, como por exemplo, tem-se que no Tribunal de Justiça 92 Cf. http://www.tjba.jus.br/wiki/index.php/Informa%C3%A7%C3%B5es. Acesso em: 08 jan. 2015. 93 CARBONAR, Dante Olavo Frazon. Loc. cit. 94 http://pt.wikipedia.org/wiki/PROJUDI. Acesso em: 08 jan. 2015. 95 BITTAR, Danilo Silva. A emenda da petição inicial em razão do excessivo número de páginas e sua repercussão no processo civil eletrônico. REVISTA JUDICIÁRIA DO PARANÁ, Curitiba: Associação dos Magistrados do Paraná, v. 8, n.5, p. 49-61, maio 2013, passim.
43
do Estado de Alagoas o tamanho máximo dos arquivos é 1MB, já no Tribunal
de Justiça do Estado de Minas Gerais o limite é de 3MB. Isso não ocorre
somente nos tribunais do Brasil, nos Estados Unidos, verbi gratia, também
existe essa limitação, assim no tribunal do Estado da Carolina do Sul o limite é
de 10MB, no tribunal do Estado de Nova York o limite é de 4MB, no tribunal do
Estado de Illinois o limite é de 5MB e no tribunal do Estado de Colorado o limite
é de 2MB. Cabe ressaltar também que o limite de 5MB é por cada arquivo
juntado aos autos, porém não há limite de arquivos que podem ser juntados,
logo o sistema não ofende qualquer princípio constitucional ou processual.
Não é padronizado96, pois cada tribunal tem uma versão própria do
PROJUDI modificada para atender suas peculiaridades. O Tribunal de Justiça
da Bahia, por exemplo, passou a adotar no dia 9 de Maio de 2009 a versão 1.9
do PROJUDI mineiro, num esforço de tentar padronizar o sistema, porém não
obteve êxito, continuando a existir diversas versões para o mesmo programa.
Não cumpre o princípio da imaginalização mínima, pois os atos
processuais juntados são digitalizados e não virtualizados o que impede a
concretização desse princípio. França97 tece uma distinção entre digitalização e
virtualização: Digitalização é o ato de se transportar algo de um meio físico não
eletrônico (papel) para outro eletrônico, não é possível a manipulação do
conteúdo; já a virtualização consiste na geração e armazenamento da
informação diretamente em meio eletrônico, permite a manipulação do
conteúdo.
Não cumpre o princípio da extraoperabilidade, uma vez que o programa
não está integralizado com outros como o BacenJud e o RenaJud.
Não cumpre o princípio da prioridade à função judicante, pois o
programa não fornece subsídios para o juiz na sua tarefa de julgar.
2.3.2. SAJ
96 http://pt.wikipedia.org/wiki/PROJUDI. Acesso em: 08 jan. 2015. 97 FRANÇA, Gleuso de Almeida. Processo eletrônico judicial – breves considerações. P. 85-93. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24).
44
Desenvolvido pela Softplan Planejamento e Sistema Ltda., o SAJ ou
Sistema de Automação da Justiça está presente em oito Tribunais de Justiça
estaduais e em mais de 500 comarcas que representam 60% dos processos
que tramitam na justiça estadual brasileira98.
Na Bahia, foi implantado pela Resolução nº 20, de 21 de Agosto de
201399 entrando em vigor no dia 20 de Setembro do mesmo ano. Essa
resolução delimitou a área de atuação do sistema para o primeiro e segundo
grau da justiça comum estadual. Atualmente está implantado na capital e em
28 comarcas do interior, com 240 unidades judiciais100.
Os seus principais benefícios apontados são101: celeridade e qualidade
na prestação jurisdicional, beneficiando diretamente a população;
Democratização, permitindo mais acesso das pessoas à justiça; Transparência,
por meio do portal de serviços voltados para os advogados e partes;
Modernização do ambiente de trabalho, valorizando os serventuários e
operadores do direito.
Segundo informações do desenvolvedor do programa102, a implantação
do sistema SAJ resulta em: 70% mais agilidade na tramitação de processos
digitais em relação aos tradicionais; 90% de redução no tempo de atendimento
a advogados e partes; 98% de redução no tempo de ajuizamento de processos
de execução fiscal em meio eletrônico; incremento de mais de 250% no
número de julgados com a implantação do SAJ no TJSC; mais de R$ 5 milhões
anuais de economia com a implantação do Diário da Justiça Eletrônico no
TJ/SP e dezessete toneladas de papel poupadas por dia; 70% de economia em
recursos com o processo digital; 70% de diminuição de espaço físico
necessário para instalação de novas unidades judiciárias.
98 http://www3.softplan.com.br/saj/saj_resultados.jsf. Acesso em: 10 jan. 2015. 99http://www7.tj.ba.gov.br/secao/lerPublicacao.wsp?tmp.mostrarDiv=sim&tmp.id=11000&tmp.secao=4. Acesso em: 10 jan. 2015. 100 http://www5.tjba.jus.br/pjeinformacoes/?page_id=7. Acesso em: 10 jan. 2015. 101 http://www3.softplan.com.br/saj/saj_resultados.jsf. Acesso em: 10 jan. 2015. 102 http://www3.softplan.com.br/saj/saj_resultados.jsf. Acesso em: 10 jan. 2015.
45
Apesar desses dados estatísticos e benefícios apresentados, o sistema
desenvolvido pela Softplan apresenta alguns problemas que necessitam serem
solucionados, os principais pontos negativos são:
Não é um software livre, pois o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia
adquiriu o software com dispensa de licitação103 pelo valor global estimado de
R$39.082.000,00104, além de celebrar dois contratos com a empresa CPM
BRAXIS OUTSOUCING S.A. nos valores globais respectivos de R$
9.769.000,00105 e R$ 4.800.000,00106, visando à prestação de serviços
especializados e manutenção, suporte e sustentação e desenvolvimento do
sistema SAJ. Os contratos reunidos somaram um total de R$ 53.651,000, 00
para os cofres públicos. Os extratos dos contratos referidos estão transcritos in
verbis abaixo:
INSTRUMENTO DE CONTRATO Nº 17/11-S
Partes: O ESTADO DA BAHIA, por intermédio do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA e SOFTPLAN PLANEJAMENTOE SISTEMAS LTDA., CNPJ nº 82.845.322/0001-04, com sede no Santa Catarina, capital Florianópolis, situada na Rodovia SC 401 KM 1 PARQTEC ALFA, JOÃO PAULO. Objeto: Fornecimento, implantação e suporte de uma solução integrada de gestão de processos judiciais físicos e virtuais de primeira e segunda instâncias, denominada SAJ, consoante do PA 7184/ 2011. Valor global estimado R$39.082.000,00, dos quais R$24.943.800,00 será atendido no presente exercício, através da Unidade Orçamentária 410-FAJ, Unidade Gestora 289-SETIM, Atividade 4559, Elemento de Despesa 3.3.90.39, Subelemento 39.46-2 e Fonte 20. Data: 05.04.2011.
CONTRATO Nº 69/12-S
Partes: O ESTADO DA BAHIA, por intermédio do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA e CPM BRAXIS OUTSOUCING S.A., CNPJ nº 00.717.511/0001-29, sediada na Avenida Antônio Carlos Magalhães, nº. 3840, 3º andar, parte A, Ed. Capemi, Pituba, Salvador/Ba. Objeto: Prestação de serviços especializados de elaboração da estrutura de Governança com a instalação, treinamento e operação, em conformidade com a biblioteca ITIL, da Central de Serviço (Serviçe Desk) realizando atendimentos de 1º nível remoto e presencial, através de uma plataforma integrada de gerenciamento de serviços, implantando os processos de gerenciamento de incidentes e cumprimento de requisições de serviço, no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, consoante PA 33880/2011. Valor Global R$ 9.769.000,00, será atendido no exercício 2013, através da Unidade Orçamentária 2.04.410-FAJ, Unidade Gestora 289-SETIM, Atividade/Projeto 2000, Elemento de Despesa 3.3.90.39, Subelemento 39.46-2 e Fonte 20/13. Data: 27.12.2012.
103 http://www.tjba.jus.br/diario/diarios/438.pdf. Acesso em: 10 jan. 2015. 104 http://www.tjba.jus.br/diario/internet/download.wsp. Acesso em: 10 jan. 2015. 105 http://www.tjba.jus.br/diario/internet/download.wsp?tmp.diario.nu_edicao=867. Acesso em: 10 jan. 2015. 106 http://www.tjba.jus.br/diario/internet/download.wsp?tmp.diario.nu_edicao=867. Acesso em: 10 jan. 2015.
46
CONTRATO Nº 73/12-S
Partes: O ESTADO DA BAHIA, por intermédio do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA e CPM BRAXIS OUTSOUCING S.A., CNPJ nº 00.717.511/0001-29, sediada na Avenida Antônio Carlos Magalhães, nº. 3840, 3º andar, parte A, Ed. Capemi, Pituba, Salvador/Ba. Objeto: Prestação de serviços especializados e continuados de transferência, manutenção, suporte, sustentação e desenvolvimento do sistema SAJ, consoante PA 67433/2012. Valor Global R$ 4.800.000,00 será atendido no exercício 2013, através da Unidade Orçamentária 2.04.410-FAJ, Unidade Gestora 289-SETIM, Atividade/Projeto 5337, Elemento de Despesa 3.3.90.39, Subelemento 39.46-2 e Fonte 20. Data: 27.12.2012. (grifo nosso).
O sistema apresenta lentidão e instabilidade, dificultando o trabalho dos
operadores do direito. Esse problema, segundo técnicos da Softplan107, é
causado devido à lentidão da rede de Internet do Tribunal de Justiça do Estado
da Bahia, sendo necessário, portanto, um investimento em tecnologia por parte
do Estado. Cabe mencionar que esse mesmo problema ocorre com o
PROJUDI.
Acesso aos autos virtuais pelo cartório antes da digitalização das peças,
fazendo com que juízes despachem peças que não estão no sistema e intimem
o advogado a se manifestar sem ter ciência do que foi juntado. Isso macula o
princípio constitucional do devido processo legal e revela a vulnerabilidade
desse sistema.
Recentemente essa situação foi verificada no tribunal baiano, quando a
desembargadora Rosita Falcão denunciou que uma servidora do gabinete de
outra desembargadora entrou no sistema para alterar o voto de um de seus
processos durante a sessão plenária do tribunal108.
Incompatibilidade com o sistema Saipro109, impedindo a redistribuição do
processo com a mesma numeração, e não cumprindo o princípio da
extraoperabilidade devido ao fato de não está integrado com outros sistemas.
107http://www.bahianoticias.com.br/justica/noticia/46975-juizes-baianos-reclamam-de-problemas-com-e-saj-sistema-tem-deixado-justica-mais-lenta.html. Acesso em: 10 jan. 2015. 108http://www.bahianoticias.com.br/justica/noticia/51419-desembargadora-do-tj-ba-denuncia-invasao-de-sistema-por-servidores-para-alterar-votos.html. Acesso em: 27 mai. 2015. 109 SAIPRO - Sistema de Acompanhamento Integrado de Processos Judiciais é um sistema de dados informatizado que funciona coletando e distribuindo, de forma detalhada e atualizada, todas as informações relativas à tramitação processual. Entre outros recursos, o sistema oferece a juízes e servidores modelos de atos para preenchimento automático de dados e geração de relatórios diversos, automatizando etapas burocráticas e mecânicas, o que, além de agilizar a prestação jurisdicional, ainda imprime confiabilidade ao processo. O Saipro ainda
47
Não cumpre os princípios da imaginalização mínima e da prioridade à
função judicante pelos mesmos motivos do PROJUDI apontados acima.
Dificuldade de operação, pois o sistema SAJ é um sistema complexo do
qual, segundo o Juiz Gilberto Bahia110, a Softplan detém o monopólio do
conhecimento sobre o seu funcionamento e, de acordo com Nartir Weber111,
presidente da Associação dos Magistrados da Bahia, antes da migração do
sistema Saipro para o SAJ não houve capacitação suficiente aos magistrados e
o distanciamento da empresa responsável pelo sistema impede que os juízes
tirem dúvidas dos problemas enfrentados.
2.3.3. PJ-e
O PJ-e ou Processo Judicial Eletrônico é um software de gerenciamento
do procedimento eletrônico programado pelo CNJ em companhia dos demais
tribunais sendo lançado no dia 21 de Junho de 2011112.
Sua história começa em 2007113, quando o TRF-5 propôs à Infox
(Tecnologia da Informação Ltda.) a evolução do sistema Creta, também por
este desenvolvido, de forma que pudessem ser atendidas todas as varas
daquele tribunal, pois o Creta só atendia as necessidades dos Juizados
Especiais Federais.
A partir desta primeira experiência, a Infox propôs que fosse elaborado
um novo sistema em linguagem mais atualizada, usando uma arquitetura mais
escalável e que permitisse maior flexibilidade na configuração e adequação às
garante que, através da Internet, partes e advogados tenham acesso ao inteiro teor dos atos.=O SAIPRO ainda é utilizado em comarcas do interior. Entretanto, só permite a tramitação de processos físicos e por ser um sistema antigo, utiliza uma tecnologia ultrapassada que impossibilita a customização para inclusão do processo eletrônico. Fontes: http://www.tj.ba.gov.br/projetos/saipro/index0.htm. Acesso em: 10 jan. 2015; e http://www5.tjba.jus.br/pjeinformacoes/?page_id=7. Acesso em: 11 jan. 2015. 110http://www.bahianoticias.com.br/justica/noticia/46975-juizes-baianos-reclamam-de-problemas-com-e-saj-sistema-tem-deixado-justica-mais-lenta.html. Acesso em: 10 jan. 2015. 111http://www.bahianoticias.com.br/justica/noticia/46975-juizes-baianos-reclamam-de-problemas-com-e-saj-sistema-tem-deixado-justica-mais-lenta.html. Acesso em: 10 jan. 2015. 112 ATHENIENSE, Alexandre. Software livre pode uniformizar o processo eletrônico. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 3100, 27 dez. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/20724>. Acesso em: 7 nov. 2014. 113 ATHENIENSE, Alexandre, Loc. Cit.
48
constantes mudanças na Lei, demandas de Tribunais Superiores ou mesmo de
necessidade do próprio jurisdicionado.
Anos depois, o Conselho da Justiça Federal (CJF) decidiu criar um
sistema único para toda a Justiça Federal e com isso começou o projeto
denominado e-JUD. Este projeto não foi adiante e, com isto, foi retomando o
projeto PJe.
Retomado o desenvolvimento do PJe, sensivelmente dois anos depois
de ter sido interrompido, a Infox mostrou ao TRF-5 que tinha, como
investimento próprio, continuado o desenvolvimento do sistema, tendo já
evoluído para que este tivesse um motor de fluxos interno, controle de acesso,
diversos componentes de alto nível e infraestrutura atualizada
tecnologicamente.
Recomeçou então o desenvolvimento do PJe por parte da Infox para o
TRF-5, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) visitou vários tribunais,
entre eles o TRF-5, com o intuito de identificar um sistema capaz de ser
sugerido para todos como o sistema nacional da justiça. O PJe, entre muitos
outros, foi analisado e foi ele o escolhido pelo CNJ como a solução mais
apropriada para uniformizar o procedimento eletrônico.
Segundo o Tribunal de Justiça da Bahia114, o objetivo principal do CNJ é
manter um sistema de processo judicial eletrônico capaz de permitir a prática
de atos processuais pelos magistrados, servidores e demais participantes da
relação processual diretamente no sistema, assim como o acompanhamento
desse processo judicial, independentemente de o processo tramitar na Justiça
Federal, na Justiça dos Estados, na Justiça Militar dos Estados e na Justiça do
Trabalho.
A resolução nº 185 do CNJ publicada no dia vinte de Dezembro de 2013
prevê que os tribunais implantem em ao menos 10% de suas varas e câmaras
julgadoras, somando primeira e segunda instância, até o final de 2014, e atinja
100% até 2018115. Esse sistema está presente atualmente em vinte Tribunais
de Justiça estaduais116, sendo que na Bahia é adotado em 113 varas das
114 http://www5.tjba.jus.br/pjeinformacoes/?page_id=13#beneficios. Acesso em: 11 jan. 2015. 115 http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/resolucoespresidencia/27241-resolucao-n-185-de-18-de-dezembro-de-2013. Acesso em: 11 jan. 2015. 116 http://www5.tjba.jus.br/pjeinformacoes/?page_id=13#beneficios. Acesso em: 11 jan. 2015
49
comarcas do interior e na cidade de Salvador está implantado no Juizado
Especial da Fazenda Pública e na Vara de acidentes do Trabalho117.
Os benefícios esperados com a implantação desse Software apontados
pelo TJBA são118:
Celeridade processual: reduzir o tempo de tramitação dos processos no tribunal; Ampliação da capacidade de resposta dos tribunais: elevar a produção de julgados resultando em uma maior velocidade na resposta a demandas individuais e coletivas; Alcance na uniformização de julgados, evitando-se resultados diferentes para pleitos iguais: fator de aumento expressivo da demanda, bem como da perda de credibilidade do Judiciário; Visualização compartilhada do processo; Eliminação das tramitações físicas: movimentações físicas dos autos não são mais necessárias, permitindo o controle efetivo dos prazos processuais; Ausência de papel: desmaterialização dos autos processuais, com redução do impacto ambiental (papel, toner, equipamentos); Aprimoramento da comunicação com os jurisdicionados: atos processuais realizados totalmente em meio eletrônico, desde a petição inicial até o arquivamento, promovem a disponibilidade do acesso todos os dias, inclusive nos finais de semana e feriados, das 6h às 24h; Pesquisa em tempo real, pelos órgãos judiciais, da situação processual em todo o país, minimizando erros cartorários e de decisões de mérito; Baixo custo dos usuários em ter acesso à justiça.
Além desses benefícios, Carbonar119 acrescenta ainda que a principal
vantagem desse sistema é a interoperabilidade, pois os operadores do direito
podem trabalhar só com um sistema eletrônico; e Atheniense120 afirma que é
um software livre conforme o artigo 14 da Lei 11.419/2006.
O PJ-e, por fim, cumpre os princípios da máxima automação, uma vez
que permite o desenvolvimento automático programado pelo operador do
direito; da imaginalização mínima, uma vez que os atos processuais são
produzidos diretamente no sistema de forma virtual; da prioridade à função
judicante, pois auxilia o magistrado na sua tarefa de julgar oferecendo
mecanismos que facilitam o seu desempenho; da conexão, uma vez que está
conectado à Internet; e da desterritorialização, pois permite a prática de atos
processuais em qualquer local do planeta, desde que possua o sistema
instalado em qualquer dispositivo que tenha conexão com a Internet.
Entrementes, como nenhum sistema é perfeito, existem críticas ao seu
respeito, sendo a principal delas a dificuldade de acesso principalmente para
117 http://www5.tjba.jus.br/index.php?option=com_content&view=article&id=94254. Acesso em: 08 jun. 2015. 118 http://www5.tjba.jus.br/pjeinformacoes/?page_id=13#beneficios. Acesso em: 11 jan. 2015 119 CARBONAR, Dante Olavo Frazon. Loc. cit. 120 ATHENIENSE, Alexandre. Loc. cit.
50
os idosos e deficientes ao sistema121. Pensando nisso, a OAB nacional assinou
um termo de cooperação técnica com o CNJ para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento de plataforma integrada do Processo Judicial Eletrônico, que
atende a essa e mais vinte e uma demandas da advocacia brasileira, como por
exemplo, a criação do escritório virtual, painel que integrará o sistema e será
lançado em março de 2015122.
Ante o exposto, dentre os três principais Sistemas Eletrônicos de
Processamento de Ações Judiciais (SEPAJ) em aplicação no Estado da Bahia
analisados, somente o PJ-e cumpre com todos os princípios e com as
determinações da Lei 11.419/2066, sendo por isso, o mais indicado para ser
aplicado no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia e em todos os tribunais e
comarcas do país.
121 http://www.oab.org.br/noticia/27435/processo-eletronico-nao-permite-uso-por-advogados-e-juizes-deficientes?utm_source=3009&utm_medium=email&utm_campaign=OAB_Informa. Acesso em: 11 jan. 2015. 122http://www.oab.org.br/noticia/27879/oab-assina-convenio-com-cnj-sobre-pje?utm_source=3080&utm_medium=email&utm_campaign=OAB_Informa. Acesso em: 11 jan. 2015.
51
3. O PROCEDIMENTO ELETRÔNICO E A EFICIÊNCIA PROCESSUAL
Nos capítulos anteriores foi visto que os princípios constitucionais devem
estar presentes no desenvolvimento do procedimento eletrônico de modo a
conferir-lhe segurança jurídica aos atos praticados nesse tipo de procedimento.
Foi visto também os diversos benefícios que o procedimento virtual proporciona
como a redução do espaço para armazenamento dos processos, diminuição
dos gastos no gerenciamento do processo, redução dos impactos ambientais
com a diminuição do desmatamento e maior transparência dos atos
processuais praticados; e que dentre os principais Sistemas Eletrônicos de
Processamento de Ações Judiciais desenvolvidos e em uso no Estado da
Bahia, o PJ-e é o único que cumpre todos os requisitos inerentes a um SEPAJ
descritos na Lei 11.419/2006.
Entretanto, apesar de todos esses avanços alcançados, não se pode
afirmar que o procedimento eletrônico trouxe uma redução significativa no
tempo de tramitação dos processos judiciais brasileiros, não cumprindo os
princípios constitucionais da celeridade e duração razoável do processo. A
justiça estadual baiana, por exemplo, é a segunda pior em produtividade no
país no ano de 2014 ficando a frente apenas do Estado do Piauí, segundo
dados do índice IPCJus que foi criado pelo CNJ para comparar a produtividade
de tribunais de um mesmo porte123. Para fiscalizar o processamento das ações
judiciais que tramitam nos tribunais do Brasil foi que o Conselho Nacional de
Justiça criou as metas nacionais e o indicador justiça em números.
As metas nacionais do CNJ124 foram criadas em 2009 no 2º encontro
nacional do judiciário realizado em Belo Horizonte. Inicialmente tinham o
objetivo de nivelar a justiça no país, mas se expandiu e passou a ter o objetivo
de acabar com o estoque de processos causadores de altas taxas de
congestionamento nos tribunais, definindo as prioridades. As principais metas
123http://www.oab-ba.org.br/single-noticias/noticia/tj-ba-e-o-segundo-pior-tribunal-em-produtividade-do-pais/?cHash=b163e856509221aeec8d7d03a9ee1b87&utm_source=e-goi&utm_medium=email&utm_term=Informativo&utm_campaign=OAB+Bahia. Acesso em: 13 jan. 2015. 124 http://www.cnj.jus.br/gestao-e-planejamento/metas. Acesso em: 13. jan. 2015.
52
referentes ao trabalho monográfico são125: Meta 2/2009, meta 4/2010 e meta
2/2012.
A meta 2/2009126 tem como escopo identificar os processos judiciais
mais antigos e adotar medidas concretas para o julgamento de todos os
distribuídos até 31 de Dezembro de 2005. Até o presente momento, 51% dos
tribunais cumpriram essa meta num panorama nacional, sendo que da Justiça
Estadual apenas 11% dos tribunais cumpriram a meta. No TJBA, somente
58,20% da meta foi cumprido, resultado que deixa o tribunal na última posição
em comparação com todos os tribunais estaduais e na penúltima posição em
comparação com todos os tribunais do país, ganhando apenas do Superior
Tribunal Militar que cumpriu 31,25% da meta.
A meta 4/2010127 tem como objetivo lavrar e publicar todos os acórdãos
em até 10 dias após a sessão de julgamento. Até a presente data, 66% dos
tribunais cumpriram essa meta no âmbito nacional, sendo que da Justiça
Estadual 41% dos tribunais a cumpriram. O Tribunal de Justiça do Estado da
Bahia cumpriu 83,88% da meta, ficando na décima sexta posição entre os vinte
e sete tribunais estaduais, e na sexagésima sétima posição entre os noventa
tribunais que existem no Brasil.
A meta 2/2012128 tem por finalidade, entre outras, julgar até trinta e um
de Dezembro de 2012, pelo menos, 90% dos processos distribuídos em 2007,
nas turmas recursais estaduais e no 2º grau. Na justiça estadual 67% dos
tribunais cumpriram a meta, tendo o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia
cumprido 77,08% ficando, com isso, na vigésima terceira posição dos tribunais
estaduais e na octogésima quinta posição entre os noventa tribunais existentes
no país.
Já o indicador “justiça em números” foi criado pelo CNJ através da
resolução nº4 de 16 de Agosto de 2005129, ele é um sistema de estatística do
poder judiciário que concentra e analisa os dados encaminhados
obrigatoriamente por todos os órgãos judiciários do país. Por meio desses
dados pode-se ter o retrato da justiça no Brasil.
125 Metas Nacionais do Poder Judiciário: 2009-2012/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2013.51p. 126 Metas Nacionais do Poder Judiciário: 2009-2012, op. cit., p. 50. 127 Metas Nacionais do Poder Judiciário: 2009-2012, op. cit., p. 40. 128 Metas Nacionais do Poder Judiciário: 2009-2012, op. cit., p. 10. 129 http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=2719. Acesso em: 13 jan. 2015.
53
Segundo dados desse índice, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia,
tomado como exemplo neste trabalho monográfico, anotou em 2003, ano do
primeiro registro, um índice de 85,55% de congestionamento dos processos
tramitando em primeiro grau130, no ano de 2013 esse índice foi de 85,70%131.
No relatório apresentado em 2014 referente ao ano-base de 2013132, o índice
de congestionamento em toda justiça estadual baiana foi de 78%, sendo
apontada como indicador ideal a marca de 54%133. Nesse mesmo relatório134, a
justiça estadual baiana tinha uma eficiência de 68,2% no ano de 2009, porém
no ano de 2013 atingiu o índice despencou para de 47,7%, sendo um dos
piores resultados entre todos os tribunais do país. No ano de 2013135 existiam
636 juízes, 13.294 servidores atuando no Tribunal de Justiça do Estado da
Bahia e foram investidos 97,7 milhões de reais em informática, representando
aproximadamente 5,7% da despesa total com a Justiça – aproximadamente 1,7
Bilhões de Reais –, que por sua vez representa 0,92% do PIB do Estado da
Bahia. Cabe mencionar que no ano de 2013136, 794.120 casos novos foram
registrados, e 554.158 foram julgados, representando um déficit de 209.962
processos e deixando um estoque de 1.862.021 processos em toda justiça
estadual baiana.
Por sua vez, nos Juizados Especiais do Estado da Bahia foram
registrados os melhores índices da justiça baiana, sendo que a taxa de
congestionamento em 2013 foi de 47,80%137. Cabe ressaltar que nos Juizados
Especiais existiam, no ano de 2013, 79 magistrados e 2053 servidores138.
Para efeito comparativo, no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,
que segundo o relatório de 2014 tem estrutura orçamentária e de servidores
próximos com o do Estado da Bahia139, foi registrada no ano de 2003 uma taxa
de congestionamento dos processos tramitando em primeiro grau de 77,
130 http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/relatorios/justica_numeros_2003.pdf. Acesso em: 13 jan. 2015. 131 http://www.cnj.jus.br/relatorio-justica-em-numeros/#p=2013_2_4. Acesso em: 13 jan. 2015. 132 Justiça em números 2014: ano-base 2013/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2014. 395p. 133 Justiça em números 2014: ano-base 2013. Op. Cit., p. 77. 134 Justiça em números 2014: ano-base 2013. Op. Cit., p. 74. 135 http://www.cnj.jus.br/relatorio-justica-em-numeros/#p=2013_1_4. Acesso em: 13 jan. 2015. 136 http://www.cnj.jus.br/relatorio-justica-em-numeros/#p=2013_2_4. Acesso em: 13 jan. 2015. 137 http://www.cnj.jus.br/relatorio-justica-em-numeros/#p=2013_2_4. Acesso em: 13 jan. 2015 138 http://www.cnj.jus.br/relatorio-justica-em-numeros/#p=2013_1_4. Acesso em: 13 jan. 2015. 139 Justiça em números 2014: ano-base 2013. Op. Cit., p. 72.
54
66%140, enquanto que no ano de 2013 esse índice foi de 72,4%141. No ano
relatório de 2014142 o índice de congestionamento em toda justiça estadual
paranaense foi de 68%, sendo apontada como indicador ideal a marca de 63%.
A justiça paranaense tinha uma eficiência de 83,5% em 2009 e no ano de 2013
atingiu 85,7% após alcançar 100% no ano de 2011143. No ano de 2013144
existiam 809 juízes, 14.930 servidores atuando no Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná e foram investidos cerca de 40 milhões de reais em
informática, representando 2,48% da despesa total com a Justiça – cerca de
1,6 Bilhões de Reais -, que por sua vez representa 0,57% do PIB do Estado do
Paraná. Cabe registrar ainda, que no ano de 2013145, 1.092.398 casos novos
foram registrados, e 1.038.005 foram julgados, representando um déficit de
54.393 processos e deixando um estoque de 3.131.735 processos em toda
justiça estadual paranaense.
Pensando na solução para o problema da ineficiência da justiça
brasileira, estudiosos apresentaram propostas tomando como base a sua
aplicação no ambiente do procedimento eletrônico, vamos a elas:
Jamil Zamur Filho146 propõe a criação de um painel de controle do
processo e a realização de mediação e conciliação eletrônica prévia. O painel
de controle funcionaria como um portal de transparência onde constarão as
informações do acervo do gabinete como o número de processos para
julgamento com a indicação destes e das datas de conclusão, bem como o
número de processos que ingressam no mês, de processos julgados neste
espaço de tempo e do prazo médio em que estes são resolvidos, com a
prestação de contras devida à sociedade. As mediações e conciliações
realizadas de forma eletrônica reduziria a carga de trabalho dos tribunais, uma
vez que o tempo dispendido para realiza-las seria redistribuído para a solução
de lides acumuladas.
140 http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/relatorios/justica_numeros_2003.pdf. Acesso em: 13. jan. 2015. 141 http://www.cnj.jus.br/relatorio-justica-em-numeros/#p=2013_2_17. Acesso em: 13. jan. 2015. 142 Justiça em números 2014: ano-base 2013, Op. Cit., p. 77. 143 Justiça em números 2014: ano-base 2013, Op. Cit., p. 72. 144 http://www.cnj.jus.br/relatorio-justica-em-numeros/#p=2013_1_17. Acesso em: 13. jan. 2015. 145 http://www.cnj.jus.br/relatorio-justica-em-numeros/#p=2013_2_17. Acesso em: 13. jan. 2015. 146 ZAMUR FILHO, Jamil. Loc. cit.
55
Manoel Matos de Araujo Chaves147 propõe o uso de formulários
eletrônicos pelos advogados na produção das iniciais e contestações. Segundo
ele, o próprio sistema eletrônico, a partir dos dados extraídos desses
formulários, se encarregaria de preencher os campos relativos ao relatório da
sentença liberando o julgador para se preocupar unicamente com os
fundamentos e o dispositivo. A adoção desses formulários, de acordo com o
autor, trás as seguintes vantagens: diminui a confusão da defesa e do juiz
quando tiverem longas iniciais; objetiva a contestação; e diminui os erros de
interpretação do juiz na sentença, facilitando a congruência e possibilitando ao
juiz que concentre mais tempo e energia na motivação da resolução.
Jorge Luiz Lopes do Canto148 propõe a criação de página individualizada
na Internet de cada órgão jurisdicional e de um e-mail setorial para
comunicação em cada página. Segundo ele149, “essa medida facilitaria o
acesso ao judiciário, bem como atenderia aos princípios da celeridade e
economia processual, tendo em vista que os usuários poderiam contatar
diretamente com a unidade que tivessem eventual interesse a ser solvido”.
Complementa o autor afirmando que150:
Tal medida também serviria para as comunicações por meio eletrônico, como remessa de petições (iniciais, recursos, por exemplo), dimunuido custos com correios e protocolo, além de evitar o retardo no processamento com a impressão imediata do documento encaminhado, cujos custos passariam a integrar as custas judiciais.
Canto151 afirma ainda que essa medida facilitação o agendamento de
audiência para conversar com os magistrados, com a informação prévia do
assunto e interesse a ser tratado, possibilitando até mesmo que estas
informações fossem encaminhadas de pronto por e-mail, quando
desnecessário o sempre profícuo contato pessoal.
147 CHAVES, Manoel Matos de Araujo. El processo electrónico y la sentencia a la luz del ordenamento jurídico español. REVISTA CEJ, Brasília: CEJ, v. 16, n. 58, p. 76-82, set./dez. 2012. 148 CANTO, Jorge Luiz Lopes do. Planejamento estratégico do Poder Judiciário – descentralização administrativa e gerencial – processo eletrônico. REVISTA DA ESCOLA NACIONAL DA MAGISTRATURA, Brasília: Escola Nacional de Magistratura, v. 7, n. 6, p. 105-108, nov. 2012. 149 Ibidem, p. 106. 150 CANTO, Jorge Luiz Lopes do, Loc. Cit. 151 CANTO, Jorge Luiz Lopes do, Loc. Cit.
56
As vantagens proporcionadas com a adoção dessa medida segundo
Canto152 seriam: redução de custos com a manutenção de quadro funcional e
com construção de prédios para a guarda de documentos e atendimento ao
público; e segurança jurídica, com cadastramento prévio dos usuários,
diminuindo assim o risco de ataque de “hackers” ou “crakers” ao sistema
informatizado.
Diego Paes Moreira153 propõe a racionalização do SEPAJ por meio de
um método de programação que permita a efetiva interação entre o sistema
eletrônico e o usuário permitindo a resolução de diversas questões,
aparentemente de extrema complexidade, em pouquíssimo tempo. Segundo
ele154:
Em vez de folhas acumuladas em sequência, as informações digitais deveriam ser organizadas de forma racional, permitindo ao usuário do sistema tomar ciência instantaneamente de tudo que é relevante conhecer naquele momento processual. Milhares de páginas poderiam ser racionalmente organizadas pelo programa eletrônico, de forma a permitir o acesso instantâneo à informação desejada. A possibilidade de ocorrência de nulidades poderia ser alertada pelo sistema eletrônico, de forma a chamar a atenção do magistrado sobre determinado fato relevante.
Marcelo Aguiar Machado155 propõe uma nova classificação dos atos
judiciais. Segundo ele156:
[...] boa parte do processamento se dará de forma concatenada e automática, através de atos materiais já previamente programados. Assim, haverá na verdade, a concentração dos atos do juiz no que se classifica atualmente como decisão e sentença, passando a marcha processual a sofrer influência não mais de um despacho, mas sim de uma programação previamente traçada e que, para sua modificação dependeria de decisão fundamentada [...].
Isso permitiria, segundo Machado157, que a distribuição e a qualificação
dos servidores fossem repensadas, com aumento da qualificação exigida para
o exercício do cargo e concentração de servidores no gabinete dos juízes.
152 CANTO, Jorge Luiz Lopes do, passim. 153 MOREIRA, Diego Paes. Processo eletrônico – potencial de melhoria da eficiência da atividade jurisdicional. P. 63-73. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24). 154 Ibidem, p. 71. 155 MACHADO, Marcelo Aguiar. Processo judicial eletrônico: desafios e repercussões. P. 145-152. I JORNADA SOBRE A TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO ELETRÔNICO. Brasília, DF: Tribunal Regional Federal; Escola de Magistratura Federal, 2014. 225p. (Coleção Jornada de Estudos ESMAF, 24). 156 Ibidem, p. 146 e 147. 157 MACHADO, Marcelo Aguiar, passim.
57
Sebastião Tavares Pereira158 propõe uma maior virtualização com o
objetivo de acelerar o processo decisório, alcançando os princípios da máxima
automação, da imaginalização mínima e da prioridade à função judicante. Ele
critica os SEPAJ atuais porque, apesar de ter sido mudada a mídia – do papel
para o disco rígido – as peças monolíticas, duras, permanentes, inteiras,
continuam nos autos, só que em formato PDF, formato adotado principalmente
para evitar a alteração dos conteúdos, que trabalha com a imagem do
documento e não com seus conteúdos. Assim, qualquer conteúdo
informacional contido naquela imagem continua a ser extraído pelo usuário,
visualmente, não mais a partir do papel, mas a partir da imagem exposta num
monitor.
Segundo ele159, um SEPAJ deve ter um editor de texto virtual que
permita a virtualização das peças processuais, que serão montadas no
momento da construção ou da consulta com o tamanho que precisarem ter, de
maneira inteligente e com o nível desejado, e programado, de “ciência” a
respeito dos conteúdos. Ele explica melhor160:
As peças poderão ter “visões” adequadas e convenientes para quem às está acessando: juiz, advogado, partes (foco no destinatário, o que não significa que um não possa ver a visão do outro!). Ver-se-á o que se desejar ver, no momento em que precisar ver, e, inclusive e se for o caso, nos limites do que for permitido ver (questão da publicidade!).
Assim, por exemplo, um juiz trabalhista por meio de um comando SQL161
pode pedir ao SEPAJ que liste os envelopes do empregado “X”, dos meses em
que houve o pagamento de horas extras e que apresente um total; depois ele
pode pedir que o mesmo mostrasse o envelope do mês em que houve maior
excesso de horas, e o sistema o exibe no monitor – ele monta, na hora, esse
envelope –.
158 PEREIRA, Sebastião Tavares. Processo eletrônico no novo CPC: é preciso virtualizar o virtual. Elementos para uma teoria geral do processo eletrônico. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3172, 8 mar. 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/21242>. Acesso em: 7 nov. 2014. 159 PEREIRA, Sebastião Tavares. Loc. Cit. 160 PEREIRA, Sebastião Tavares, Loc. Cit. 161 SQL- Structured Query Language, ou Linguagem de Consulta Estruturada, é a linguagem de pesquisa declarativa padrão para banco de dados relacional. A linguagem é um grande padrão de banco de dados, ela se diferencia de outras linguagens de consulta a banco de dados no sentido em que uma consulta SQL especifica a forma do resultado e não o caminho para chegar a ele. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/SQL. Acesso em: 18 jan. 2015.
58
Segundo o autor162, isso não significa apenas empacotar ou formatar a
peça. Ao contrário, um editor de peça virtual vai garantir ao advogado, com
grande liberdade e simplicidade, manter a aparência da edição comum, com a
produção efetiva de uma peça virtual apta a permitir que o sistema processual
deixe de ser um mero estoquista de imagens para postar-se como efetivo
auxiliar dos operadores do direito.
Aliado a essas medidas não se pode olvidar da jurimetria como
importante mecanismo de apoio ao procedimento eletrônico. Conforme visto no
capítulo 1 supra, a jurimetria se propõe a prevenir a sentença por meio da
aplicação de modelos estatísticos baseados em precedentes jurisprudenciais.
O motivo de esse mecanismo ter falhado se deu em razão de fatores subjetivos
intrínsecos ao processo judicial que impede a aplicação automática de
precedentes a casos concretos, e também à evolução tecnológica da época
que não permitia seu desenvolvimento. Contudo, passados 66 anos de sua
criação a tecnologia evoluiu abruptamente de modo que diversas ideias que se
tinham naquela época consideradas impossíveis de se executar hoje são
perfeitamente possíveis, e entre elas está a jurimetria.
Para fins comparativos, na época que a jurimetria foi criada por Lee
Leovinger em 1949 o computador com a maior capacidade de processamento
de operações era o “ENIAC” – o primeiro computador elétrico digital eletrônico
de grande escala – que pesava 28 toneladas, ocupava uma área de 72 m²,
consumia 150 quilowatts, custava meio milhão de dólares e realizava 5 mil
operações por segundo163. Interessante notar que se comparado com os
computadores existentes atualmente, o poder de processamento do ENIAC
seria menor do que o de uma simples calculadora de bolso164 que custa em
torno de cinco reais e pesa aproximadamente 100 gramas.
Atualmente, o computador com a maior capacidade de processamento
de operações é o “Tianhe-2”, também conhecido como “Miliky Way-2”. Esse
computador consome 17,8 Megawatts, custou 390 milhões de dólares e realiza
33,86 quadrilhões de operações por segundo com uma capacidade máxima de
162 PEREIRA, Sebastião Tavares. Loc. Cit. 163 http://www.ufpa.br/dicas/net1/int-h194.htm#topo. Acesso em: 09 mai. 2015. 164 http://www.ufpa.br/dicas/net1/int-h194.htm#topo. Acesso em: 09 mai. 2015.
59
realizar até 54,9 quadrilhões de operações por segundo165166. No Brasil, o
computador com a maior capacidade de processamento é o “Grifo04” que
consome 365,5 quilowatts, custou 15 milhões de reais e realiza 251,5 trilhões
de operações por segundo com uma capacidade máxima de 563,364 trilhões
de operações por segundo167168.
O processador é o dispositivo físico (hardware) do computador
responsável por realizar os cálculos. Atualmente o melhor processador é a
“Intel Core i7 980-X Extreme Edition” que é capaz de realizar até 20,437
bilhões de operações por segundo169 a um custo médio de R$ 1.500,00170.
Da análise dessas informações pode-se perceber que a aplicação da
jurimetria ao SEPAJ é viável do ponto de vista estrutural, mas como é possível
a sua aplicação sob o ponto de vista prático?
Através da linguagem de pesquisa denominada “SQL” é possível
relacionar informações entre um banco de dados e outro. Assim, um acórdão
localizado num banco de dados referentes aos atos judiciais praticados pelo
julgador – Banco de dados “A” – pode corresponder a uma apelação localizada
em outro banco de dados referentes às peças processuais inseridas no sistema
pelos operadores do direito – Banco de dados “B” –. O que faz com que essas
informações sejam relacionadas através do SQL e produza um ato judicial
adequado ao caso concreto são os algoritmos 171, que nada mais são do que
instruções para realizar uma tarefa. Dessa forma, o processo judicial é também
uma espécie de algoritmo, pois segue uma sequência rígida de atos
processuais os quais, por sua vez, também tem uma forma pré-definida.
165http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/01/os-10-supercomputadores-mais-poderosos-do-mundo.html. Acesso em: 09 mai. 2015. 166 https://tecnoblog.net/133161/tianhe-2-supercomputador-mais-rapido/. Acesso em: 09 mai. 2015. 167 http://www.top500.org/system/177797. Acesso em: 09 mai. 2015. 168http://www.tecmundo.com.br/supercomputadores/25328-supercomputador-brasileiro-grifo04-e-o-68-na-lista-dos-mais-rapidos-do-mundo.htm. Acesso em: 09 mai. 2015. 169 http://www.maxxpi.net/pages/result-browser/top15---flops.php.Acesso em: 09 mai. 2015. 170http://www.kabum.com.br/cgi-local/kabum3/produtos/descricao.cgi?id=01:01:02:05:106&tag=i7. Acesso em: 09 mai. 2015. 171 Algoritmo é uma sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, cada uma das quais pode ser executada mecanicamente em um período de tempo finito e com uma quantidade de esforço finita. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Algoritmo. Acesso em 08 mai. 2015.
60
Mas como um SEPAJ poderia prever uma sentença adequada a um
caso concreto se em um processo judicial existem muitas variáveis a serem
analisadas?
A resposta para essa indagação está na Inteligência Artificial172. É por
meio dela que o sistema ao se deparar com um processo vai retirar
informações importantes dele e chegar à mesma conclusão que um juiz
chegaria se tivesse que apreciá-lo.
Imagine-se hipótese de um processo que se encontra concluso para
sentença onde se está discutindo a negativação do nome do acionante perante
os cadastros restritivos de crédito. Nesse tipo de processo o trabalho do
julgador se concentrará basicamente em verificar se os pressupostos
processuais estão presentes e analisar o documento comprobatório da
negativação, para depois verificar se a negativação é devida ou não e se
existem outras anteriores, em seguida apreciará as preliminares se houverem
e, por fim, julgará o mérito condenando ou absolvendo o acionado, e caso
condene, poderá arbitrar um valor de indenização pelos danos morais sofridos
pelo autor somente na hipótese de não existirem negativações legítimas
anteriores à discutida na lide, conforme súmula 385 do STJ173.
Essa hipótese é uma descrição sucinta de um algoritmo executado por
um juiz que por certo lhe demandará uma quantidade de tempo razoável.
Porém, essa mesma atividade se executada por um SEPAJ dotado de
inteligência artificial pode ser realizada num tempo muito inferior que uma
pessoa faria e obtendo o mesmo resultado.
Além dessa aplicação, várias outras atividades mecânicas realizadas
pelo julgador poderiam ser delegas para o sistema realizar por meio da
jurimetria como, por exemplo:
Julgar em bloco, ou seja, localizar todos os processos cadastrados que
estão conclusos para sentença, com o mesmo pedido e causa de pedir e
aplicar a mesma sentença adequando aos dados de cada processo.
172 Inteligência artificial (IA) (por vezes mencionada pela sigla em inglês AI - artificial intelligence) é a inteligência similar à humana exibida por mecanismos ou software. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncia_artificial. Acesso em 08 mai. 2015. 173http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&livre=s%FAmula+385&b=SUMU&thesaurus=JURIDICO. Acesso em: 09 mai. 2015.
61
Realização de pauta temática, isto é, separar os processos que serão
julgados de acordo com um tema em comum, verbi gratia: revisional de juros,
plano de saúde, telefonia, etc.
Aplicar sentença de extinção do processo sem resolução do mérito
imediatamente após uma petição inicial ser inserida no sistema nas hipóteses
do artigo 295 do Código de Processo Civil vigente.
Realizar o saneamento do processo enviando para o julgador somente
aqueles que não apresentem nenhum vício processual.
Publicar imediatamente os atos praticados pelo julgador dando ciência
às partes para as quais começarão a correr os prazos processuais.
Esses exemplos demonstram como a jurimetria, que é uma espécie de
automatização das atividades mecânicas realizadas pelo julgador, é importante
para a informatização do processo, podendo trazer benefícios principalmente
na redução de custos e do tempo tramitação do processo judicial.
Diferentemente da área jurídica onde as discussões sobre a
automatização de suas atividades se encontram ainda num estágio inicial, na
área da medicina observa-se a sua aplicação efetiva já existindo maquinas que
fornecem indicações e no máximo sugerem diagnósticos possíveis cabendo ao
médico interpretá-los do modo que for mais benéfico para o paciente174175.
Assim, se em uma profissão tão tradicional como a Medicina se admite o
uso de máquinas para auxiliar na prestação do serviço dos médicos, no Direito
tal medida deve ser adotada sob o risco da jurisdição prestada não cumprir sua
finalidade que é a de julgar a lide de modo eficaz.
Ante ao exposto, percebe-se que a justiça brasileira, e em especial a
baiana, é bastante morosa e isso se deve em grande parte pelo andamento do
processo no primeiro grau da justiça comum, que representa a maior parte dos
processos congestionados, aliada ao escasso número de magistrados e
servidores, que não conseguem cumprir a demanda processual. A esse
respeito se posiciona Nelson Nery Junior de forma crítica176:
[...] O excesso de trabalho, o número excessivo de processos, o número insuficiente de juízes ou de servidores, são justificativas plausíveis e aceitáveis para a duração exagerada do processo, desde que causas de
174 http://hypescience.com/computador-diagnostico/. Acesso em: 09 mai. 2015. 175 TIMÓTEO, Gabrielle Louise Soares. Loc. Cit. 176 NERY JUNIOR, Nelson. Op. Cit. p. 316.
62
crise passageira. Quando se tratar de crise estrutural do Poder Judiciário ou da Administração, esses motivos não justificam a duração exagerada do processo e caracterizam ofensa ao princípio estatuído na CF 5º LXXVIII.
Apesar do enorme investimento que o tribunal baiano, por exemplo, faz
na área da informática não foi verificado ainda resultados significativos no
gerenciamento dos processos. Isso se deve ao fato de grande parte dos
processos existentes estarem em formato físico, o que por si só demanda um
maior investimento em recursos humanos com a contratação de mais juízes e
servidores para dar andamento a esses processos. O tribunal paranaense, por
outro lado, seguiu esse entendimento e, mesmo com um investimento em
informática inferior se comparado ao baiano, tem um grau de eficiência maior
no gerenciamento dos processos.
Nelson Nery Junior177 tece uma análise precisa da circunstância atual
que envolve o judiciário brasileiro e aponta quais medidas estruturais devem
ser adotadas pelo Poder Público para se alcançar a celeridade e a razoável
duração do processo:
Leis nós temos. Boas e muitas. Não se nega que reformas na legislação processual infraconstitucional são sempre salutares, quando vêm para melhorar o sistema. Mas não é menos verdade que sofremos de problemas estruturais e de mentalidade. Queremos nos referir à forma com que são aplicadas as leis e à maneira como se desenvolve o processo administrativo e o judicial em nosso País. É necessário dotar-se o poder público de meios materiais e logísticos para que possa melhorar sua infra-estrutura (sic) e, ao mesmo tempo, capacitar melhor os juízes e servidores públicos em geral, a fim de que possam oferecer prestação jurisdicional e processual administrativa adequada aos que dela necessitam.
Mudança de paradigma, portanto, é a palavra de ordem.
A busca de celeridade e razoável duração do processo não pode ser feita a esmo, de qualquer jeito, a qualquer preço, desrespeitando outros valores constitucionais e processuais caros e indispensáveis ao estado democrático de direito. O mito da rapidez acima de tudo e o submito do hiperdimensionamento da malignidade da lentidão são alguns dos aspectos apontados pela doutrina como contraponto à celeridade e à razoável duração do processo que, por isso, devem ser analisados e ponderados juntamente com outros valores e direitos constitucionais fundamentais, notadamente o direito ao contraditório e à ampla defesa.
O que deve buscar não é uma “justiça fulminante”, mas apenas uma “duração razoável do processo”, respeitados os demais valores constitucionais.
177 NERY JUNIOR, Nelson. Op. Cit. p. 318.
63
Logo, para a justiça brasileira, e também a baiana, se tornar mais célere
e efetiva mister se faz redistribuir seus gastos no orçamento, reduzindo os
gastos com a informatização do processo – através da adoção do PJ-e como
sistema único e implantação das medidas apontadas acima –, e aumentando
os gastos com material humano – contratando mais servidores e juízes e os
redistribuindo onde sua presença seja realmente necessária como nas varas e
tribunal da justiça comum –.
Somente após a baixa definitiva de todos os processos em formato físico
é que se pode ter uma noção real do impacto da virtualização do processo na
justiça brasileira como um todo, e especificamente na baiana.
64
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De tudo que se viu nesse trabalho monográfico chega-se à conclusão de
que a Lei nº 11.419/2006 apesar de trazer diversas melhorias no
gerenciamento do processo, ainda não causou impacto relevante no tocante ao
cumprimento dos princípios constitucionais da celeridade e da razoável
duração do processo, e isso decorre do fato de existirem milhares de
processos em formato físico ativos espalhados pelos tribunais brasileiros,
especialmente no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia que registra um dos
piores índices nesse quesito.
Convém ressaltar que esses benefícios ocasionados com o advento do
procedimento virtual só se aplicam para os processos recentes tramitando em
tribunais que adotem um Sistema Eletrônico de Processamento de Ações
Judicias (SEPAJ), e não para os que já se encontram ativos. Logo é preciso
baixar definitivamente todos esses processos ativos para então verificar uma
eventual redução no tempo de tramitação dos processos judiciais ajuizados no
Brasil.
Ao longo deste presente trabalho monográfico verificou-se a origem do
procedimento eletrônico, a evolução histórica do processo desde sua fase
originária e estritamente oral em Roma, até a sua fase atual e estritamente
escrita adotada no Brasil, e como isso o influenciou; analisou-se a lei
11.419/2006, sua adequação aos princípios constitucionais e os impactos
causados por ela no Código de Processo Civil atual, trazendo inovações como
a penhora on-line e o pregão eletrônico; em seguida avaliou-se o Novo Código
de Processo Civil, onde se constatou que não apresentou mudança
significativa se comparado ao código processual vigente, tendo delegando à
Lei 11.419 a responsabilidade de regular as eventuais modificações a respeito
da informatização da justiça.
Foi observado também os Sistemas Eletrônicos de Processamento de
Ações Judicias, seus princípios e os benefícios que ocasiona, como a redução,
em tese, do tempo da tramitação dos processos pela via eletrônica em
comparação com a via física; destruição das fronteiras espaciais podendo a
65
justiça ser acessada em qualquer lugar pela Internet; redução de gastos com
papel, serviços de transporte e espaços destinados ao armazenamento dos
processos; e a conservação da natureza. Foi ponderado também as críticas
feitas a esse sistema as quais são compreensíveis considerando o fato da
introdução recente da informatização no âmbito jurídico brasileiro. Por fim,
foram examinados os principais softwares adotados na Bahia e chegou-se a
conclusão de que o PJ-e é o único que cumpre fielmente todos os princípios
inerentes a um SEPAJ.
Por fim, ficou constatado que apesar dos benefícios causados pela
adoção dos SEPAJ nos tribunais brasileiros não houve redução na tramitação
dos processos, que são em sua imensa maioria em formato físico, sendo a
causa principal da demora no julgamento dessas ações, tomando o Estado da
Bahia como paradigma, se deve a justiça comum, mais especificamente ao
primeiro grau, onde foi registrada a maior taxa de congestionamento de
processos judiciais, e isso se dá porque é no primeiro grau onde se concentram
todos os tipos de ações de conhecimento e de execução, sobrecarregando os
servidores e os magistrados, que já são escassos e não conseguem cumprir a
demanda de processos. Foram examinadas as propostas da doutrina
especializada no sentido de combater a morosidade da justiça com base na
integração cada vez maior dos recursos de informática na justiça brasileira,
mas para que elas surtem algum efeito necessário se faz baixar todos os
processos físicos ativos.
Outras formas de melhorar a justiça brasileira podem ser alcançadas em
outros trabalhos acadêmicos a partir de uma reforma na organização judiciária
que descongestione os processos e do uso de ferramentas tecnológicas como
a virtualização em massa do processo judicial.
Por fim, deve-se ter em mente que a tecnologia dever ser utilizada para
melhorar o processo e não para desvirtuá-lo, de forma que deve se adequar
aos princípios e à garantia de todos os atores processuais, e não estes a ela.
Assim, o procedimento eletrônico da ação judicial não substitui a função
jurídico-criativa dos operadores do direito, pelo contrário, facilita o seu trabalho
com a transferência das atividades mecânicas e repetitivas para os softwares,
tornando-o mais produtivo e racional.
66
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67
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