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1 A influência da drenagem linfática manual no pós- operatório imediato de cirurgia vascular de membros inferiores Tatiana Priscila de Alencar 1 Dayana Priscila Maia Meja ² [email protected] Pós-graduação em Fisioterapia Dermato Funcional Faculdade Ávila Resumo A drenagem linfática pode ser definida como uma técnica de massagem especializada, representada por um conjunto de manobras que visam drenar o excesso de líquido acumulado no interstício. Este estudo teve como propósito analisar a intervenção fisioterapêutica com utilização da drenagem linfática no pós-operatório imediato de cirurgia vascular de membros inferiores a fim de provar a efetividade do tratamento demonstrando que a mesma não deve ser lembrada somente para fins estéticos, e também, para prevenção e tratamento de patologias, melhorando assim a circulação sanguínea, nutrição tecidual e defesa do sistema linfático. Dado o exposto, este estudo teve como objetivo geral demonstrar os benefícios da drenagem linfática no pós-operatório imediato de cirurgia vascular de membros inferiores; e os objetivos específicos revisar a anatomia e fisiologia do sistema linfático, verificar o efeito da Drenagem linfática na diminuição ou abolição da dor e analisar os efeitos da drenagem linfática no edema. Como procedimento metodológico foi aplicado a técnica de drenagem linfática manual em sete atendimentos com 45 minutos de duração. Os resultados mostraram que a drenagem linfática é eficaz no tratamento de patologias do sistema vascular, mantendo o equilíbrio das pressões tissulares e hidrostáticas atuando na prevenção das complicações provenientes do processo cirúrgico. Palavras-chave: Fisioterapia; Drenagem linfática; Cirurgia vascular. 1. Introdução A fisioterapia dermato-funcional é uma área nova que se encontra em constante evolução. Tendo por principal objetivo a apresentação de diversos recursos destacando-se dentre eles a drenagem linfática manual (GUIRRO; GUIRRO, 2002). Segundo Godoy e Godoy (1999), a drenagem linfática manual é uma técnica de massagem específica representada por um conjunto de manobras especificas que seguem o trajeto do sistema linfático visando drenar o excesso de líquido do interstício celular, restaurando o equilíbrio e a capacidade de transporte do sistema linfático. Essa técnica foi desenvolvida em 1932 pelo dinamarquês Vodder e sua esposa, utilizada inicialmente em pacientes com infecções de vias aéreas superiores que se encontravam com os gânglios da região cervical edemaciados e duros. De acordo com Guirro e Guirro (2002), a drenagem linfática manual vem sendo representada por duas técnicas: a de LEDUC e a de VODDER. Ambas baseadas no trajeto do sistema linfático, associado a três categorias de manobras: a captação realizada no segmento edemaciado, onde haverá aumento da captação de linfa pelos capilares linfáticos; reabsorção 1 Pós-graduando em fisioterapia Dermato-Funcional. ² Fisioterapeuta, especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestranda em Bioética e Direito em Saúde da Mulher.

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A influência da drenagem linfática manual no pós- operatório

imediato de cirurgia vascular de membros inferiores

Tatiana Priscila de Alencar1

Dayana Priscila Maia Meja ²

[email protected]

Pós-graduação em Fisioterapia Dermato Funcional – Faculdade Ávila

Resumo

A drenagem linfática pode ser definida como uma técnica de massagem especializada,

representada por um conjunto de manobras que visam drenar o excesso de líquido

acumulado no interstício. Este estudo teve como propósito analisar a intervenção

fisioterapêutica com utilização da drenagem linfática no pós-operatório imediato de cirurgia

vascular de membros inferiores a fim de provar a efetividade do tratamento demonstrando

que a mesma não deve ser lembrada somente para fins estéticos, e também, para prevenção e

tratamento de patologias, melhorando assim a circulação sanguínea, nutrição tecidual e

defesa do sistema linfático. Dado o exposto, este estudo teve como objetivo geral demonstrar

os benefícios da drenagem linfática no pós-operatório imediato de cirurgia vascular de

membros inferiores; e os objetivos específicos revisar a anatomia e fisiologia do sistema

linfático, verificar o efeito da Drenagem linfática na diminuição ou abolição da dor e

analisar os efeitos da drenagem linfática no edema. Como procedimento metodológico foi

aplicado a técnica de drenagem linfática manual em sete atendimentos com 45 minutos de

duração. Os resultados mostraram que a drenagem linfática é eficaz no tratamento de

patologias do sistema vascular, mantendo o equilíbrio das pressões tissulares e hidrostáticas

atuando na prevenção das complicações provenientes do processo cirúrgico.

Palavras-chave: Fisioterapia; Drenagem linfática; Cirurgia vascular.

1. Introdução

A fisioterapia dermato-funcional é uma área nova que se encontra em constante evolução.

Tendo por principal objetivo a apresentação de diversos recursos destacando-se dentre eles a

drenagem linfática manual (GUIRRO; GUIRRO, 2002).

Segundo Godoy e Godoy (1999), a drenagem linfática manual é uma técnica de massagem

específica representada por um conjunto de manobras especificas que seguem o trajeto do

sistema linfático visando drenar o excesso de líquido do interstício celular, restaurando o

equilíbrio e a capacidade de transporte do sistema linfático. Essa técnica foi desenvolvida em

1932 pelo dinamarquês Vodder e sua esposa, utilizada inicialmente em pacientes com

infecções de vias aéreas superiores que se encontravam com os gânglios da região cervical

edemaciados e duros.

De acordo com Guirro e Guirro (2002), a drenagem linfática manual vem sendo representada

por duas técnicas: a de LEDUC e a de VODDER. Ambas baseadas no trajeto do sistema

linfático, associado a três categorias de manobras: a captação realizada no segmento

edemaciado, onde haverá aumento da captação de linfa pelos capilares linfáticos; reabsorção

1Pós-graduando em fisioterapia Dermato-Funcional.

² Fisioterapeuta, especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestranda em Bioética e Direito em Saúde da

Mulher.

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onde as manobras se dão nos pré-coletores e coletores linfáticos responsáveis pelo transporte

da linfa capitada anteriormente pelos capilares linfáticos e a evacuação que ocorrerá nos

linfonodos provocando escoamento de linfa proveniente dos coletores linfáticos.

A drenagem linfática possui um conjunto de manobras específicas e complexas devendo ser

realizadas de maneira suave e superficial obedecendo a pressão cujo valor sugerido é de 30 a

40 mmHg e respeitando a trajetória do sistema linfático para que não haja colapso linfático

(GODOY; GODOY, 1999).

Segundo Lacerda (2007), uma drenagem linfática bem feita é capaz de alcançar os mais

diversos resultados que vão de estéticos como cura anti-estresse, anti-celulite, anti-

envelhecimento, pré e pós-parto a terapêuticos como otimização dos resultados pós-

operatórios, tratamentos e preparação para todas as cirurgias estéticas, tratamento de cicatrizes

recentes, retenção de líquido, linfedema, má circulação e dismenorreia.

Ainda segundo Lacerda (2007), todas as pessoas deveriam se submeter a aplicação da técnica

de drenagem linfática manual regularmente a fim de promover prevenção de patologias no

sistema imunológico, entretanto há algumas contra- indicações na aplicação desta técnica tais

como todo tipo de processos inflamatórios, trombose venosa profunda , descompensação

circulatória, erupções de pele, extremos de idade, neurites, na vigência de infecções ou

ferimentos , doenças malignas e etc.

Este estudo teve como propósito analisar a intervenção fisioterapêutica com utilização da

técnica de drenagem linfática no pós-operatório imediato de cirurgia vascular de membros

inferiores a fim de provar a efetividade do tratamento demonstrando que a mesma não deve

ser lembrada somente para fins estéticos, e também para prevenção e tratamento de

patologias, melhorando a circulação sanguínea, nutrição tecidual e defesa do sistema linfático.

Fonte: Alencar, 2011

Figura-1: Aplicação da técnica da drenagem linfática

2. Sistema circulatório

Para que haja melhor compreensão da drenagem linfática manual, é necessário ter noções

sobre o sistema linfático e circulatório já que ambos estão ligados.

Segundo Guyton e Hall (2006), a circulação é de suma importância para o organismo,

desempenhando um grande papel, sendo responsável por suprir as necessidades dos tecidos

corporais, propiciando o transporte de nutrientes necessários à vida, eliminado os resíduos

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metabólicos e levando hormônios de uma parte a outra, melhorando o ambiente para seu

funcionamento.

O coração é um órgão cardiovascular, localizado centralmente no mediastino, entre os dois

pulmões (MADY; IANNI; ARTEAGA, 1999).

Ele funciona como uma bomba capaz de se contrair aproximadamente três bilhões de vezes,

impulsionando cerca de cinco a seis litros de sangue de uma maneira estável e unidirecional

por todo o organismo, garantindo o suprimento para todas as células (GUYTON; HALL,

2006).

O sistema circulatório é um circuito fechado formado por diversas estruturas, todas de

tamanhos variados, a fim de garantir a realização de suas funções (GODOY; GODOY, 1999).

Compreende-se em duas circulações: a pequena circulação ou circulação pulmonar que

corresponde à saída do sangue venoso, do coração pela artéria pulmonar em direção aos

pulmões e a grande circulação ou circulação sistêmica, que corresponde à saída de sangue

arterial dos pulmões pela veia pulmonar em direção ao coração, e em seguida, o sangue é

ejetado do coração pela artéria aorta em direção a todos os órgãos e tecidos (GARDNER;

GRAY; O’RATILLY, 1988).

3. Sistema linfático

Segundo Moore (1994), intimamente ligado ao sistema circulatório, há o sistema linfático,

que é um sistema de baixa pressão formado por uma extensa rede de capilares, linfonodos,

troncos, ductos linfáticos e tecidos linfóides cuja função é referente à drenagem do excesso de

líquido dos tecidos corporais e defesa do organismo contra microorganismos patogênicos,

substâncias invasoras e condução da linfa como parte do sistema circulatório.

A linfa do organismo é um líquido semelhante ao plasma sanguíneo, exceto pela sua baixa

concentração proteica. Ela é altamente enriquecida por anticorpos e que serão responsáveis

não somente por resistir à invasão de corpos estranhos, como também os identificando e

destruindo (GUYTON; HALL, 2006).

A inicialização do sistema linfático se dá nos capilares linfáticos também conhecidos como

capilares iniciais. São descritos como os menores vasos condutores de linfa do sistema,

apresentando-se com fundo de saco, formados por uma única camada de células com

extremidades alargadas permitindo que esse sistema seja unidirecional (GARTNER; HIATT,

2003).

Os capilares confabulam-se para formar vasos ainda maiores conhecidos como coletores

linfáticos (GODOY; GODOY, 1999).

Os pré-coletores apresentam basicamente a mesma estrutura dos capilares, são intimamente

revertidos, elementos elásticos e musculares, que são a sede das contrações dos vasos

(LEDUC; LEDUC, 2000).

Os coletores linfáticos são compostos de três camadas distintas: a túnica íntima, que é a

camada mais interna onde a disposição longitudinalmente de fibras elásticas, túnica média

que compõe a maior parte da parede do coletor, formada por músculos lisos, espiralados

acompanhando a contratilidade do vaso e a túnica adventícia camada mais externa e espessa

formada por colágeno disposto em direção longitudinal (GUIRRO; GUIRRO, 2002).

Segundo Godoy (1999), a junção dos vasos linfáticos forma os troncos linfáticos, que saíram

de grupos de linfonodos para formar os troncos linfáticos correspondentes. Ao todo são no

numero de onze e cada tronco é responsável pela drenagem de uma área especifica do corpo.

Esses troncos drenam o liquido intersticial para os vasos de maior calibre, denominados de

ducto linfático direito e ducto torácico.

Segundo Guirro e Guirro (2002), o ducto torácico recebe a linfa dos membros inferiores, do

hemicorpo esquerdo, região da cervical e cabeça. Ela se origina no abdome, na extremidade

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superior denominada cisterna do quilo, que é um saco alongado localizado na região anterior

da segunda vértebra lombar. O ducto linfático direito recebe a linfa do membro superior

direito, hemitórax direito, região cervical e cabeça. Esse ducto é formado pela junção de

tronco subclávio, jugular e broncomediastinal direito. Ambos os ductos conduziram a linfa

para o sistema venoso, para que dessa forma, possa percorrer por todo o organismo através

dos vasos sanguíneos.

O tecido linfático consiste em linfócitos de tamanhos variados, sustentados por fibras, células

reticulares, colágenas, elásticas e lisas. Dentre esses tecidos estão os linfonodos, timo e baço

(GARDNER; GRAY; O’RAHILLY, 1988).

Os linfonodos ou nodos linfáticos são estruturas em forma de feijão, encapsulados,

constituídos por tecidos linfóides que se localizam no trajeto dos vasos linfáticos onde filtra a

linfa do organismo. Os principais grupos linfonodais localizam-se no pescoço, na axila, na

virilha e zonas juncionais, onde há repouso anatômico (DIDIO, 2002).

O timo é um órgão achatado, localizado no mediastino, posteriormente ao esterno, ele possui

dois lobos que são envolvidos por uma cápsula de tecido conjuntivo denso. Sua função esta

relacionada com a resposta imunológica do organismo, resistindo a invasão de

microrganismos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 1999).

O baço consiste em grande parte do tecido linfático, é único órgão interposto ao sistema

sanguíneo, sendo o mais responsável pela filtração de sangue do que a linfa (GARDNER;

GRAY; O’RAHILLY, 1988).

4. Veias varicosas

As doenças vasculares estão intimamente relacionadas com alterações do sistema venoso,

acredita-se que mais de 24 milhões de pessoas sofram de veias varicosas. As veias varicosas

são atribuídas à perda de elasticidade e enfraquecimento de suas paredes gerando uma

incompetência das válvulas, que provocam uma pressão maior nas veias causando o seu

estiramento excessivo abaixo da pele, particularmente nos membros inferiores. A principal

causa dessa patologia esta relacionada com o fator hereditário e a ocupações que exijam

permanecer em uma posição por muito tempo. Gravidez e obesidade também contribuem para

o problema (O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004).

Fonte: Alencar,2011

Figura-2: Veias varicosas

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Segundo HAID (1999), as principais queixas relacionadas com a presença das veias varicosas

são a sensação de peso, cansaço, tensões, cãibras e dores referidas nos membros inferiores

independente da extensão das mesmas.

As varizes não possuem cura e sua tendência com o passar do tempo é aumentar. Neste

contexto entende-se que para eliminar esse mal é necessário a utilização de intervenção

cirúrgica (HAID, 1999)

5. Intervenção cirúrgica

As cirurgias são definidas como um processo onde o cirurgião tem como principal objetivo

corrigir as alterações ou imperfeições de um paciente, sendo ela por razões médicas ou por

razões estéticas. (LOPES, 2009)

Segundo Gomes (2002), as intervenções cirúrgicas de varizes estão cada vez mais modernas

eficazes e menos prejudiciais para os pacientes, possibilitando assim que os mesmos retornem

para suas atividades de vida diária mais rapidamente.

Segundo Lopes (2009), a escolha do tipo de cirurgia dependerá das veias atingidas, e apenas

um cirurgião vascular poderá indicar o melhor método.

Fonte: Alencar, 2011

Figura-3: Cirurgia vascular

Uma das técnicas mais utilizadas para a retirada das varizes é a micro-cirurgia, que é indicada

apenas para os pacientes que possuem varizes de pequeno calibre, é um procedimento

cirúrgico simples, que pode ser feito no próprio consultório médico e que consiste na

aplicação de anestesia local apenas no trajeto da variz a ser retirada, o cirurgião faz uma

pequena incisão com uma agulha sob a região anestesiada, com dois micro-instrumentos, o

cirurgião localiza as veias e com um pequeno micro-gancho (agulha de crochet) a variz é

retirada (FRANCISCHELLI, 1998).

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6. Edema

De acordo com Lacerda (2007), o sistema linfático é frágil e quando submetido a qualquer

tipo de intervenção cirúrgica tem seu funcionamento alterado ou comprometido.

Segundo Guirro e Guirro (2002), em estados fisiológicos a pressão hidrostática e oncótica do

liquido intersticial são relativamente constantes, quando o volume de líquido intersticial

excede a capacidade de drenagem dos linfonodos, haverá um excesso de líquido intersticial

nos tecidos subcutâneos sendo denominado edema.

O edema pode se subdividir em dois tipos distintos onde o primeiro está relacionado com o

excesso da quantidade de líquido que é proveniente de uma alteração no processo de

drenagem natural do organismo, este é de origem vascular apresentando-se juntamente com o

ninal de godjet. O segundo tem origem a partir de uma alteração no processo fisiológico de

evacuação, enquanto que o processo de filtração ocorre de maneira normal, essa patologia

recebe o nome de linfedema (LEDUC; LEDUC, 2000).

O excesso de líquido no interstício promoverá um aumento da pressão intersticial de modo a

promover compressão das estruturas adjacentes. Neste contexto haverá afastamento dos

capilares, distensão das células endoteliais e dos espaços intercelulares ocasionando uma

dilatação anormal das válvulas. Parte deste líquido será drenado pelas veias, no entanto as

proteínas de maior peso molecular não conseguiram retornar aos vasos e acumularam-se no

interstício. Esse excesso de proteína estimulará a formação dos fibroblastos e determinará a

formação de fibrose (GODOY; GODOY, 1999)

7. Materiais e Métodos

Este estudo de caso se caracteriza por ser descritivo, comparativo e com abordagem

terapêutica. Os atendimentos foram realizados em uma freqüência de seis vezes por semana,

durando em média quarenta e cinco minutos por atendimento, realizando-se nas dependências

da clínica Art’s corpo no período de outubro de 2009, com uma paciente do sexo feminino, 45

anos em pós-operatório imediato de cirurgia vascular. Foram excluídos do estudo pacientes

do sexo masculino e os que apresentaram alguma contra-indicação da técnica de drenagem

linfática, tais como carcinomas, processos inflamatórios, trombose venosa profunda, entre

outros.

Inicialmente, a paciente foi submetida à leitura e explicação do termo de consentimento livre

e esclarecido, onde ficou a par de sua participação no estudo. Após assinatura do mesmo, foi

realizada uma avaliação fisioterapêutica adaptada ao pós-operatório de cirurgia vascular

contendo perguntas subjetivas e objetivas onde foi colhido os dados pessoais da paciente,

história clínica, história da doença atual, história da doença pregressa e um questionário de

perguntas fechadas relacionadas a aplicação da técnica de drenagem linfática. O estudo foi

realizado em um local calmo e silencioso, onde a paciente foi orientada a utilização de um

vestuário correto e posicionada adequadamente de maneira confortável na maca.

A técnica de drenagem linfática utilizada foi a de LEDUC, que consistiu em cinco

movimentos que, combinados entre si, formam seu sistema de massagem: drenagem de

linfonodos, círculo com os dedos, círculo com o polegar, movimentos combinados e pressão

de bracelete obedecendo à direção do fluxo linfático e venoso.

Para avaliação da dor foi utilizado uma escala visual analógica (EVA) que quantificou a dor

de maneira mais fidedigna a partir de uma escala de zero a dez, cujo zero refere-se em não

sentir dor e dez a dor insuportável; para avaliar a perimetria e edema de membros inferiores

(MMII) foi utilizada uma fita métrica que é um instrumento simples e flexível que possui uma

graduação utilizada para medição; óleo para facilitação no deslizamento no momento da

aplicação da drenagem linfática manual e uso de uma máquina fotográfica Panasonic Lumix

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para obtenção de imagem da paciente no início e ao final do tratamento a fim de evidenciar

uma evolução mais fidedigna do tratamento.

Os dados foram obtidos a partir da analise dos dados através do Microsoft Office Excel 2007

e serão expostos e discutidos a seguir em gráficos.

8. Resultados e Discussão

O gráfico- 1 mostra a comparação da cirtometria do pré-operatório imediato e a cirtometria do

último atendimento após a aplicação da técnica de drenagem linfática onde se observou que a

paciente encontrava-se no pré-operatório com 22 cm na região de tornozelo em MMII, 34 cm

na região de gastrocnêmico em membro inferior direito (MID) e 35 cm no membro inferior

esquerdo (MIE), 34 cm na região infra patelar em MMII, 37 cm na região supra patelar em

MID e 38 cm em MIE, 45,5 cm na região da diáfise do fêmur no MID e 47 cm no MIE, 52 cm

na região superior da coxa em MID e 56 cm no MIE.

Após a técnica de drenagem linfática a paciente encontrava-se com 20,5 cm na região de

tornozelo em MMII, 31 cm na região de gastrocnêmico em MMII, 31 cm na região infra

patelar em MID e 32 cm em MIE, 35 cm na região supra patelar em MID e 37 cm em MIE,

43 cm na região da diáfise do fêmur no MID e 45 cm no MIE, 48,5 cm na região superior da

coxa em MID e 53,5 cm no MIE.

A escala visual análoga foi utilizada para estimar a intensidade da dor, segundo a paciente, no

início e no final das sete sessões, onde a mesma referiu dor 0 em todas as sessões, tanto no

início quanto ao término de cada sessão.

Cirtometria no Pré-Operatório e Último atendimento

0

10

20

30

40

50

60

Cm

Direito I 22 34 34 37 45,5 52

Esquerdo I 22 35 34 38 47 56

Direito F 20,5 31 31 35 43 48,5

Esquerdo F 20,5 31 32 37 45 53,5

Região do

Tornozelo

Gastrocne

meo

Infra

patelar

Supra

patela

Diáfise do

fêmur

Região

Superior

da coxa

Gráfico-1: Distribuição em cm das regiões analisadas pela cirtometria no Pré-Operatório e Último atendimento

Fonte: Alencar, 2011

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Fonte: Alencar, 2011 Figura-4: Escala visual analógica

Segundo Guirro e Guirro (2002), muitos cirurgiões mantêm os pacientes com enfaixamento

compressivo pelo menos 24 horas, com objetivo de diminuir as complicações provenientes do

processo cirúrgico, como mostra a figura 4.

Fonte: Alencar, 2011

Figura-5: Enfaixamento compressivo

A aplicação da técnica de drenagem linfática manual foi realizada por critério médico 72

horas após o processo cirúrgico. As manobras foram realizadas com cautela, de maneira

suave, pela extrema sensibilidade da região operada a fim de evitar o aumento das lesões

teciduais já instaladas, foram evitadas apenas as manobras de deslizamento visto que, as

mesmas tornam-se inadequadas para a fase de reparo contribuindo negativamente para a

cicatrização (GUIRRO; GUIRRO 2002).

Após os sete atendimentos propostos no início do tratamento, observou-se que, além da

técnica ter atenuado a formação do edema, a mesma recuperou um aspecto mais saudável e

normal da pele decorrente do transporte do líquido de volta para a circulação sanguínea,

promovendo a melhora na oxigenação e nutrição celular diminuído os hematomas

provenientes do processo cirúrgico (figura 5, 6 e 7). A drenagem linfática também

desempenhou um papel importante na reparação das incisões, dando origem a uma barreira

protetora das lesões favorecendo ainda mais o processo de cicatrização (GODOY; GODOY,

1999).

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Fonte: Alencar, 2011

Figura -6: Hematoma do 1 dia

Fonte: Alencar, 2011

Figura-6:Hematoma do 3 dia

Fonte: Alencar, 2011

Figura-8:Hematoma do 7 dia

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9. Conclusão

Entre os vários recursos encontrados na área da dermato-funcional, um dos recursos que mais

se destaca é a drenagem linfática manual, devido a sua variedade de técnicas, diversas formas

de aplicações e os mais diferenciados resultados. Entretanto, a drenagem linfática manual

desse ser utilizada com cautela, seguindo todos os parâmetros necessários para um bom

tratamento.

Quando se fala em drenagem linfática é necessário seguir algumas condições básicas em que

o profissional fisioterapeuta tenha um amplo conhecimento sobre a anatomia, histologia e

fisiologia do sistema linfático, conhecimento profundo de todas as técnicas e manobras a

serem executadas, conhecimento da patologia a ser tratada, aplicabilidade da técnica, contra-

indicação e os fundamentos básicos de uma drenagem linfática que são direção sempre a

favor do sistema linfático, pressão de 25 - 40mmHg, ritmo constante e velocidade lenta.

O sistema linfático como qualquer outro sistema do nosso organismo é extremamente frágil

devido sua localização superficial e complexibilidade de suas estruturas, quando ele é

submetido a qualquer tipo de intervenção cirúrgica, sendo ela de caráter invasivo ou não-

invasivo, indiscutivelmente leva o organismo a produzir uma série de alterações teciduais,

que desencadeiam reações locais de grande ou pequeno porte, gerando assim alterações em

todo o funcionamento normal, fazendo com que o sistema linfático torne-se comprometido

decorrente de sucessivas lesões em suas estruturas.

A intervenção fisioterapêutica é extremamente importante para que o processo cirúrgico seja

mais rápido e que haja resultados satisfatórios. Ela deve ter início logo no pré-operatório,

período que antecede o processo cirúrgico com o principal intuito de evitar as principais

complicações decorrentes do processo cirúrgico, tais como formação de linfedema, fibroses,

seromas, hematomas, necrose, cicatrizes hipertróficas ou queloideana, ou sofrimento cutâneo

devido a supressão do aporte sanguíneo no local entre outros.

Deve-se realizar uma avaliação minuciosa de maneira que possamos ter parâmetros para

continuar o tratamento na fase pós-operatória.

O tratamento pós-operatório deve ser aplicado em todos os pacientes que se submetem a

tratamentos cirúrgicos, sendo estéticos ou não.

O principal objetivo de um tratamento pós- cirúrgico é reforçar as funções do sistema linfático

reestabelecendo o equilíbrio dos líquidos, facilitando o processo de cicatrização e prevenindo

toda e qualquer complicação proveniente do processo cirúrgico. Neste contexto a fisioterapia

dermato-funcional com utilização da técnica de drenagem linfática manual torna-se

extremamente importante, pois, quando a drenagem linfática manual realizada por um

fisioterapeuta é bem executada, ela é capaz de alcançar os mais diversos resultados, reduzindo

substancialmente o período de recuperação pós-cirúrgica, reduzindo os riscos de alterações

cutâneas de modo a otimizar o resultado final do processo cirúrgico promovendo uma

prevenção de patologias do sistema imunológico e reduzindo assim o risco de insatisfações

provenientes a resultados insatisfatórios.

10. Referencias Bibliográficas

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Hemicorpo como forma para Redução de Medidas no Membro Contra- leteral. Projeto

de Monografia apresentado ao curso de fisioterapia da faculdade Assis Gurgacz.

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