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Page 1: TÉCNICA DA DRENAGEM LINFÁTICA ATIVADA POR

ALMEIDA-LOPES L*

LOPES A**

INTRODUÇÃO

A palavra laser é um acrônimo (ou seja, palavra formada pela inicial de cada um dos segmentos sucessivos de uma locução). É um acrônimo com origem na língua inglesa que significa: Light Amplification by Stimu-lated Emission of Radiation, cuja tradução seria: “amplificação de luz por emissão estimulada de radiação”. Esta radiação é do tipo eletromagnético, não ionizante.

São justamente as características especiais desse tipo de luz que lhe con-ferem propriedades terapêuticas importantes. As radiações ópticas produzi-das pelos diversos tipos de laseres têm basicamente as mesmas característi-cas, entretanto, pode-se trabalhar com o laser buscando resultados clínicos bastante específicos, pois, o que determina sua interação com o tecido é a densidade de potência óptica do sistema, e seu comprimento de onda.

CAPÍTULO ?TÉCNICA DA DRENAGEM LINFÁTICA ATIVADA POR LASERTERAPIA

* Coordenadora do NuPEn e Pesquisadora-colaboradora da UFSCar – São Carlos – SP** Professor-titular da Disciplina de Patologia Oral da UniCastelo – São Paulo – SP

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Atualmente o laser é classificado baseado em sua interação com o tecido alvo em questão. A célula tem um limiar de sobrevivência, quando trabalhamos com o laser respeitando esse limiar, oferecemos à célula uma baixa intensidade de energia, e trabalhamos com o la-ser operando em baixa densidade de potência.

Entretanto, com o mesmo laser, podemos tra-balhar de formas distintas, buscando interações teciduais bastante específicas. A primeira delas é quando oferecemos densidade de energia baixa, mas suficientemente alta para que a célula alvo a utilize de maneira a estimular sua membrana, ou suas orga-nelas. Dessa forma, estaremos induzindo essa célula à biomodulação, ou seja, ela procurará restabelecer o estado de normalização da região afetada. A partir de 1998, Ohshiro e Calderhead, passaram a chamar esse tipo de terapia de Laser Therapy, que passou a ser aceita como terminologia internacional para esse tipo de tratamento com laser. Também no Brasil, as primeiras publicações adotando a terminologia “La-serterapia” começaram a aparecer (Almeida-Lopes, 1999), e o laser empregado para tanto (laser de bai-xa intensidade), passou a ser conhecido como laser terapêutico. Sua principal indicação são todos os quadros patológicos onde se gostaria de lograr me-lhor qualidade e maior rapidez do processo repara-cional, quadros de edema instalado ou nos quadros de dor (crônica e aguda).

Quando, ao contrário, aplicamos uma densida-de de energia tão alta, a ponto de essa energia causar dano térmico e ultrapassar o limiar de sobrevivência da célula, levando-a a uma lise, e conseqüentemen-te à sua morte, estaremos utilizando o laser com

finalidade cirúrgica. Esse laser estará operando em alta intensidade de energia ou em alta densidade de potência. Com esse tipo de aparato podemos des-truir o tecido, removendo cáries, fazendo incisões, excisões ou vaporizações. A isso denominamos Laser Cirurgia. Nesse trabalho abordaremos somente a utilização e efeitos do Laser Terapêutico.

FUNDAMENTOS FÍSICOS

A luz pode ser descrita como uma emissão eletromagnética, e como tal tem algumas caracterís-ticas que a identificam plenamente. Essas emissões são conhecidas por radiações ou ondas eletromag-néticas, e estão contidas em uma grande banda ou faixa, que está subdividida de acordo com algumas características físicas peculiares. Existem as que não podemos ver, tais como as ondas sonoras, e existem aquelas que podemos ver, tais como as luminosas (compostas por fótons) tais como a luz emitida pelas lâmpadas dos lustres das casas. As emissões estão organizadas segundo o que se chama de “Espectro de Radiações Eletromagnéticas” (Figura 1), baseado em uma característica particular: o Comprimento de Onda. Esse espectro é composto por radiações infravermelhas, radiações visíveis, radiações ultra-violetas, radiações ionizantes, além de outros tipos de radiação que não dizem respeito a este trabalho. Os laseres utilizados para tratamento médico e odontológico (aquilo que chamamos de “Ciências da Vida”) emitem radiações que estão situadas na faixa das radiações visíveis, infravermelha e ultravioleta próximo e não são ionizantes.

FIG. 1

Espectro de oscilações eletromagnéticas.

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FIG. 2

Mensuração do comprimento de uma onda eletromagnética.

Para podermos identificar em que parte do es-pectro está classificada uma determinada radiação, precisamos conhecer seu comprimento de onda (Fi-gura 2), que nada mais é do que a distância medida entre dois picos consecutivos desta trajetória. A uni-dade utilizada para expressar essa grandeza é uma fração do metro, normalmente o nanômetro, que é equivalente a 10-9 do metro.

O laser nada mais é do que luz, e portanto tem o comportamento de luz, ou seja, pode ser refletido, absorvido ou transmitido, sofrendo ou não espa-lhamento no processo. Entretanto, é uma luz com características muito especiais.

O laser é um tipo de luz cujos fótons se propa-gam sobre trajetórias paralelas, diferentemente da luz comum, onde fótons de comprimentos de onda diversos são emitidos e se propagam de forma caóti-ca, em todas as direções (Figura 3). É ainda uma luz coerente, onde os picos e vales de todas as trajetórias em forma de ondas dos diferentes fótons que a com-põem, coincidem em termos de direção e sentido, amplitude, comprimento e fase. São esses aspectos que a difere da luz comum, onde não existe sincro-nia entre os fótons emitidos (Figura 4). Como todos os fótons emitidos por um aparato laser padrão são idênticos, se propagam segundo trajetórias, direção, sentido, amplitude e fase idênticos. Portanto, são dispositivos capazes de emitir luz com comprimento de onda único e definido. Podemos, então dizer, que esses fótons são de cor pura (Figura 5).

Para a produção de um laser, são necessá-rias algumas condições especiais. Primeiramente necessita-se de um “Meio Ativo”, composto por substâncias (gasosas, líquidas, sólidas, ou ainda por

FIG. 3

O laser é uma luz passível de sofrer colimação, ou seja, caminha de maneira “paralela”. Diferente da luz comum, que se perde no tempo e no espaço.

FIG. 4

O laser é uma luz coerente.

FIG. 5

O laser é uma luz monocromática.

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suas associações), que geram luz quando excitadas por uma fonte de energia externa. Os meios ati-vos mais comumente empregados na confecção de laseres terapêuticos são os semicondutores (diodo laser). Eles são os emissores de menores dimensões existentes e podem ser produzidos em grande esca-la. Graças à sua eficiência e pequeno tamanho são especialmente adequados para utilização em clinica odontológica.

Os laseres de diodo mais utilizados em Odonto-logia têm como meio ativo o composto de GaAlAs, com comprimento de onda variando entre 760 e 850 nm (o mais utilizado atualmente é o de 830 nm), que está situado na faixa do infravermelho próximo, com potência variando entre 20 e 250 mW. Outro tipo de meio ativo utilizado é o composto de InGaAlP, que produz luz com comprimento de onda variando entre 635 e 690 nm, que está situado dentro da faixa visível do espectro de luz, mais pre-cisamente na região da cor vermelha, com potência variando entre 1 e 100 mW.

Grandezas físicas

Irradiância é o termo usado como sinônimo para densidade de potência (DP), que é definida como sen-do a potência óptica útil do laser em Watts, dividida pela área irradiada expressa em cm2. É através do controle da irradiância que o cirurgião pode cortar, vaporizar, coagular ou “soldar” o tecido, quando da utilização de laseres cirúrgicos. A densidade de potência apropriada pode também gerar foto-ativa-ção com o laser de baixa intensidade de energia, ou terapêutico.

A fluência é um conceito fundamental na biome-dicina, já o jargão da medicina e odontologia, para o mesmo conceito, é dose. Em antibioticoterapia, por exemplo, para que se obtenha determinado efeito medicamentoso, a dose terapêutica administrada é fundamental, ou seja, a prescrição de uma dose muito baixa de determinado medicamento por quilograma/peso do paciente, implica na não obtenção do resul-tado esperado. Já a prescrição de uma dose muito alta do mesmo medicamento pode levar o paciente a uma intoxicação, ou mesmo a um choque anafilático. Da mesma forma é feita a prescrição em terapia com laser de baixa intensidade, isto é, doses muito baixas não causam efeitos satisfatórios nos tecidos, enquanto que doses muito altas em tecido mole, por exemplo, podem levar a uma inibição do processo cicatricial. A fluência equivaleria então, à quantidade de energia necessária para ativar um determinado número de moléculas suficientes para levar o tecido a reagir de alguma maneira (a partir de um estimulo fotônico, teríamos uma foto-recepção e conseqüentemente uma

foto-resposta). Essa quantidade de energia vai estimu-lar o tecido cada vez que o excitem com uma dose satisfatória de laser.

O comprimento de onda é uma característica extremamente importante, pois é ela quem define a profundidade de penetração no tecido alvo. Dife-rentes comprimentos de onda apresentam diferentes coeficientes de absorção para um mesmo tecido. Os tecidos são heterogêneos do ponto de vista óptico e portanto, absorvem e refletem energia de maneira distinta. A importância da absorção acontecer de maneira diversificada segundo o tecido no qual a energia do laser é depositada, está no fato de que, dependendo do comprimento de onda, o tecido ab-sorverá essa energia mais superficialmente ou deixa-rá a luz passar e ir agir em um alvo instalado na in-timidade tecidual (geralmente a membrana celular). A isso denominamos “seletividade” do laser. Uma vez absorvida a energia por parte de uma célula, esta se converterá em outro tipo de energia. Quando utilizamos os laseres operando em alta intensidade de energia, na maioria das vezes, esta se converterá em calor. Quando utilizamos os laseres operando em baixa intensidade de energia, os comprimentos de onda baixos são capazes de excitar eletronicamente as moléculas, enquanto que para os comprimentos de onda mais altos haverá uma vibração celular através da excitação da membrana celular.

FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS

O laser operando em baixa intensidade de ener-gia foi considerado inicialmente um Bioestimulador. Naquela época, os terapeutas tinham excelentes re-sultados no tratamento de feridas e úlceras abertas, estimulando seu processo de cicatrização. Porém, com o passar do tempo, essa terapia começou a ser utilizada não só para estimular e acelerar processos, mas também para detê-los. Desta maneira, essa tera-pia passou a ser utilizada muitas vezes buscando-se efeitos antagônicos no tecido biológico. A partir de estudos clínicos e laboratoriais pôde-se concluir que esse processo terapêutico não somente acelerava de-terminados processos, mas também retardava outros, ou simplesmente modulava outros tantos. Os autores começaram então a entender que nesse tipo de terapia o laser desempenhava um papel de normalizador das funções celulares, portanto hoje ele é considerado um “Biomodulador das funções celulares”.

Existe no organismo animal uma função foto-re-guladora, baseada em certos foto-receptores capazes de absorver fótons de determinados comprimentos de onda, que chegam a provocar uma transformação na atividade funcional e metabólica da célula. Este mecanismo é importante nas aplicações dos laseres

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terapêuticos, a fim de obter-se um efeito biomodula-dor ou bioestimulador.

Diferença da ação entre a luz laser visível e infravermelha

A energia dos fótons constituintes de uma ra-diação laser absorvida por uma célula, será trans-formada em energia bioquímica e utilizada em sua cadeia respiratória. O mecanismo de interação do laser em nível molecular foi descrito primeiramente por Karu, em 1988, que verificou um mecanismo de ação diferente para os laseres emitindo radiação na faixa do visível e na faixa do infravermelho próximo (Figura 6).

A luz laser visível induz a uma reação foto-quí-mica, ou seja, há uma direta ativação da síntese de enzimas e essa luz tem como primeiro alvo os lisos-somos e as mitocôndrias das células (Figura 7).

As organelas não absorvem luz infravermelha, apenas as membranas apresentam resposta a estímu-lo desse tipo (Figura 7). As alterações no potencial de membrana causadas pela energia de fótons na faixa do infravermelho próximo induzem efeitos foto-físicos e foto-elétricos, causando excitação de elétrons, vibração e rotação de partes das moléculas ou rotação de moléculas como um todo, que se tra-duzem intracelularmente no incremento na síntese de ATP. Por sua vez, esses incrementos que se produzem após a irradiação com laser, favorecem um grande

número de reações que interferem no metabolismo celular. O laser interfere no processo de troca iônica, acelerando o incremento de ATP, sobretudo quando a célula está em condição de estresse, ou seja, o teci-do ou órgão tratado com laser está afetado por uma desordem funcional ou alguma lesão tecidual.

Então, que comprimento de onda utilizar? Os laseres visíveis têm pouca penetração no tecido, enquanto que os laseres infravermelhos penetram vários centímetros. Por outro lado, os fibroblastos respondem melhor aos comprimentos de onda emi-tidos no visível. Entretanto, a eficácia terapêutica não corresponde somente ao nível de penetração, mas sim à interação entre a luz laser e os diferentes tecidos biológicos envolvidos. A penetração não é fator determinante para os efeitos gerados no tecido, pois os efeitos foto-químicos, foto-físicos e foto-biológicos gerados pelo laser afetam não só a área de aplicação, mas também as regiões circundantes desses tecidos. Além do comprimento de onda, é im-portante a potência óptica do laser a ser utilizado no tratamento, ou melhor dizendo, mais que a potência, a irradiância (ou intensidade) aplicada. Densidades de potências mais altas geram melhores resultados sobretudo do ponto de vista de analgesia nos teci-dos. De qualquer maneira, para lesões situadas na intimidade tecidual, teremos que optar por compri-mentos de onda emitidos na faixa do infravermelho; para lesões situadas superficialmente, ambos compri-mentos de onda são indicados.

FIG. 6

Modelo de Karu modificado por Smith. Ação foto-química do laser visível na cadeia redox da mitocôndria. Ação foto-física do laser infravermelho na membrana celular. Ambos desenca-deiam respostas celulares, que geram uma cascata bioquímica de reações.

FIG. 7

Diferença de ação dos diferentes comprimentos de onda do laser terapêutico em nível celular.

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Atuação da terapia com laser de baixa intensidade

Poderíamos simplificar, sumarizando então, que a absorção de fótons por parte da célula, seja diretamente por captação pelos crómoforos mitocon-driais ou por ação em sua membrana celular, produz estimulação ou inibição de atividades enzimáticas e de reações foto-químicas. Estas ações determinam alterações foto-dinâmicas em cascatas de reações e em processos fisiológicos com conotações terapêuticas. É importante ressaltar que a foto-sensibilidade celular é bastante complexa pois não existe um limiar que determine simplesmente se o laser sensibilizou ou não aquela célula. As células podem responder ao estímulo luminoso em vários graus e a magnitude da foto-resposta celular dependerá do estado fisiológico em que se encontra aquela célula previamente à ir-radiação, dessa forma, a resposta celular será fraca ou ausente quando seu potencial redox é ótimo, e a resposta será presente e forte quando seu potencial está alterado, por alguma razão.

Esses processos de foto-sensibilização e foto-resposta celular podem manifestar-se clinicamente de três modos. Primeiramente vão agir diretamente na célula, produzindo um efeito primário ou imediato, aumentando o metabolismo celular ou, por exemplo, aumentando a síntese de endorfinas e diminuindo a liberação de transmissores nosciceptivos, como a bradicinina e a serotonina. Também terá ação na estabilização da membrana celular. Clinicamente observaremos uma ação estimulativa e analgésica dessa terapia. Haverá, além disso, um efeito secun-dário ou indireto, aumentando o fluxo sangüíneo e a drenagem linfática. Dessa forma, clinicamente observaremos uma ação mediadora do laser na inflamação. Por fim, haverá a instalação de efeitos terapêuticos gerais ou efeitos tardios, e clinicamente observaremos, por exemplo, a ativação do sistema imunológico. Por isso também o laser é usado atual-mente para ativar a drenagem linfática.

Os efeitos terapêuticos dos laseres sobre os diferentes tecidos biológicos são muito amplos, ao induzir efeitos trófico-regenerativos, antiinflamató-rios e analgésicos, os quais se têm confirmado tanto em estudos in vitro como in vivo, destacando-se os trabalhos que demonstram um aumento na micro-circulação local (Maegawa et al., 2000), ativação do sistema linfático (Lievens, 1991), proliferação de células epiteliais (Steinlechner, Dyson, 1993) e de fibroblastos (Almeida-Lopes et al., 2001) assim como aumento da síntese de colágeno por parte dos fibroblastos (Skinner et al., 1996). Também no que se refere à reparação óssea o laser mostra-se efetivo, seja em trabalhos in vitro, nos quais se observa au-

mento da atividade osteoblástica (Guzzardella et al., 2002), seja em trabalhos in vivo nos quais se observa ganho ósseo, tanto em trabalhos com animais (Li-meira-Júnior, 2001) como em humanos (Hernandez et al., 1997).

APLICAÇÕES CLÍNICAS

Devido às suas características de aliviar a dor, estimular a reparação tecidual, reduzir edema e hiperemia nos processos antiinflamatórios, prevenir infecções, além de agir em parestesias e paralisias, o laser de baixa intensidade tem sido empregado freqüentemente em múltiplas especialidades médicas e odontológicas.

Na clínica odontológica existe um grande nú-mero de aplicações, e o uso dessa terapia já se faz rotineira para bioestimulação óssea, em casos de im-plantes e cirurgia oral menor; para diminuir a dor e edema nos casos de pós-operatórios diversos, úlcera aftosa recorrente, herpes, nevralgias e hipersensibili-dades dentinárias; além de ativar a recuperação em quadros de paralisias e parestesias.

É indicado ainda, no tratamento de doenças sistêmicas com manifestação bucal, como o Líquen-Plano e as Mucosites de modo geral, bem como nas auto-imunes como o Lupus Eritematoso e o Pênfigo Vulgar. A manifestação bucal dessas doenças são lesões ulceradas, com exposição do tecido conjun-tivo e, portanto, extremamente dolorosas. Essas doenças causam grande desconforto aos pacientes, por ocasião do surto das lesões. Elas aparecem cicli-camente e, nessa ocasião, o paciente sente muita dor e desconforto, sendo necessária a utilização de me-dicação analgésica potente para que o mesmo possa deglutir e alimentar-se. Além disso, essas lesões têm comprometimento estético, daí a grande indicação do laser terapêutico para o tratamento durante sua cicatrização. Pelas mesmas razões recomenda-se esse processo terapêutico para o tratamento de pa-cientes imunodeprimidos portadores de mucosites, originadas pós-radioterapia ou quimioterapia. Seu uso está tão amplamente difundido que essas lesões muitas vezes são tratadas preventivamente, antes da infusão medular, para minimizar as reações adversas em mucosa, no início da quimioterapia preconizada nesses casos.

SISTEMA LINFÁTICO

Os vasos linfáticos originam-se, na sua grande maioria, a partir dos órgãos e tecidos oriundos dos capilares linfáticos. São constituídos por túbulos limitados por um endotélio muito fino, totalmente fechado, com um calibre um pouco maior do que

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os capilares sangüíneos. A função desses capilares linfáticos é recolher o excesso de líquido dos tecidos. Eles vão se unindo e se transformando em vasos de calibre cada vez maiores, providos de válvulas, e durante seu trajeto formam o tronco principal, cha-mado de ducto torácico. Por conseguinte, além do sistema circulatório fechado, através do qual circula o sangue, o organismo apresenta também outro sis-tema circulatório muito mais complicado, delicado e extenso, que é o sistema linfático. Ambos se inter-relacionam intimamente com os líquidos teciduais, pois se encontram de um lado em contato as raízes mais finas da parte inicial do sistema linfático e, por outro lado, sua parte final desembocando no sistema venoso por um ducto coletor principal. O líquido dos tecidos procedentes dos capilares sangüíneos re-gressa, só em parte, ao sangue de modo direto. Parte dele é transportada juntamente pelas vias linfáticas, que constituem, por assim dizer, uma via lateral cega do sistema venoso.

Verlag, 2001, considera os linfonodos como órgãos linfóides secundários. São constituídos por conglomerados mistos e linfócitos T e B, localiza-dos em regiões distintas e oriundas da proliferação de linfócitos. São formados pela cortical externa e medular interna. A corrente linfática é interrompida no linfonodo, quando a linfa penetra através dos vasos aferentes no seio marginal, situado embaixo da cápsula que envolve o linfonodo; desse ponto, a linfa se estende por toda a superfície da citada formação linfocítica. Cada linfonodo é dotado de uma cápsula envoltória (córtex) e uma parte interna (medula). Além de células, os linfonodos contêm macrófagos, mais numerosos na medular. Os lin-fócitos B (relacionados com a imunidade humoral) encontram-se principalmente nos folículos corticais, ao passo que os linfócitos T (relacionados com a imunidade celular) alojam-se nas áreas paracorticais e medular (Michalany, 1995). Basicamente, as fun-ções dos linfonodos seriam: a produção de linfócitos (linfopoiese) e a filtragem da linfa.

Não existe nenhuma parte do corpo destituída de vasos linfáticos. A distribuição dos linfonodos, entretanto, é bastante desigual através de todo o corpo. Existem regiões como as axilas, as virilhas, o mesentério e o viscerocrânio, que concentram maiores quantidades de linfonodos. Na região de cabeça e pescoço, as regiões pré-auriculares, paro-tídea, sub-mentual e sub-mandibular, são as mais ricas em aglomerados linfonodais. Além disso, nem todos os linfonodos são perceptíveis à palpação. A sua percepção táctil dependerá da espessura do panículo adiposo da pele, da idade do indivíduo, do seu estado de saúde, bem como das peculiaridades anatômicas de cada paciente. A presença de maiores

ou menores formações linfonodais definem e dão os nomes às cadeias respectivas e são estruturas bem definidas circundadas pela cápsula composta por tecido conjuntivo e algumas fibrilas elásticas.

O tamanho e a morfologia dos linfonodos são modificados pelas respostas imunológicas. Como se tratam de linhas secundárias de defesa, respondem continuamente a estímulos, mesmo que não haja manifestação clínica da doença. Por mínimas que sejam as agressões e infecções, ocorrem modificações quase imperceptíveis na histologia de um linfonodo. Obviamente, as infecções bacterianas e viróticas de maior repercussão inevitavelmente produzem au-mento significativo do linfonodo.

Os linfonodos normais têm o tamanho apro-ximado de uma ervilha, são indolores à palpação, lisos, móveis e de consistência macia.

Principais redes linfonodais palpáveis de cabeça e pescoço

Embora exista grande variação de distribuição, forma e número de linfonodos de indivíduo para indivíduo, a Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia (FCAT, 2000) agrupa as redes linfonodais regionais da cabeça e pescoço em dezesseis. As principais são: Occipital, Pré-Auricular, Submandibulares Direita e Esquerda, Submentual, Cervicais Laterais, Cervicais Superiores Profundas, Cervicais Profundas Inferiores, Mastóidea e Supra-clavicular, como observamos na Figura 8.

FIG. 8

Principais linfonodos palpáveis de cabeça e pescoço.

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Como esse é um trabalho essencialmente clínico, comentaremos a técnica de drenagem linfática ape-nas nas redes linfonodais que podem ser localizadas por apalpação e que desempenhem algum papel na drenagem de regiões que envolvam enfermidades ou iatrogenias de interesse odontológico. Na seqüência mostramos desenhos didáticos dessas cadeias e suas respectivas irradiações.

Descrição sucinta das principais cadeias de linfonodos palpáveis e de interesse odontológico

Linfonodos submentuais

Significa infecção ou alteração neoplásica no soalho da boca, ventre da língua e incisivos man-dibulares, além de sialoadenopatias das glândulas dessa região. Precedem sempre alterações inflamató-rias agudas do soalho, algumas muito graves, como a Angina de Ludwig. Nas Figuras 9A-B, podemos observar seu processo de irradiação.

Linfonodos submandibulares

São formados por duas cadeias simétricas: di-reita e esquerda. Denota infecção ou neoplasma no soalho bucal, ventre da língua e face vestibular do lábio inferior. São os mais comumente afetados nas infecções da língua, soalho bucal e molares maxila-res e mandibulares. Nas Figuras 10A-B, podemos observar seu processo de irradiação.

Linfonodos cervicais

As cadeias linfonodais cervicais são divididas, para efeito metodológico, em Cervicais Superficiais e Cervicais Profundas. Ambas podem ser Superiores e Inferiores.

Os linfonodos Cervicais Profundos não podem ser facilmente palpáveis e por isso dispensam interes-se semiológico para o examinador, mas os superfi-ciais, tanto anteriores como os laterais, podem estar relacionados com infecções do couro cabeludo e algumas vezes com a boca ou a faringe. Nas Figuras 11A-B podemos observar o processo de irradiação.

FIG. 9A

Linfonodos submentuais.

FIG. 9B

Respectiva aplicação clínica.

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Técnica da Drenagem Linfática Ativada por Laserterapia 9CAPÍTULO ?

FIG. 10A

Linfonodos submandibulares.

FIG. 10B

Respectiva aplicação clínica.

FIG. 11A

Linfonodos cervicais laterais.

FIG. 11B

Respectiva aplicação clínica.

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E s t o m a t o l o g i a • P a c i e n t e s E s p e c i a i s • L a s e r10 SECÇÃO ?

Linfonodos pré-auriculares

A área de drenagem é limitada à superfície cutâ-nea, correspondente à ATM e à inserção do masseter no arco zigomático. Pode decorrer de repercussão de uma infecção ou trauma na ATM, ou representar a presença de terceiros molares mandibulares im-pactados ou inclusos. Nas Figuras 12A-B podemos observar seu processo de irradiação.

LASER NA DRENAGEM LINFÁTICA

A técnica aqui descrita visa ativar a drenagem lin-fática de uma região onde está estabelecido um quadro inflamatório. Essa ativação é feita com o laser tera-pêutico, cuja ponteira é colocada diretamente sobre os linfonodos responsáveis pela drenagem da região aco-metida, com a finalidade de estimulá-los diretamente.

Recomenda-se a utilização de um laser infra-vermelho. Aplica-se dose (energia) de cerca de 2 J utilizando fluência de 70 J/cm2 em cada linfonodo. O número de sessões varia de 2 a 6, com intervalo

de dois dias entre as sessões. O número de sessões variará em função do tempo de duração do quadro inflamatório.

Apesar de preconizarmos para essa técnica a uti-lização de um laser infravermelho, nas Figuras 9B, 10B, 11B e 12B utilizamos uma série de fotos em pacientes submetidos à drenagem linfática com um laser visível por razões didáticas, para que os leitores possam ter uma noção mais clara da técnica.

A vantagem dessa técnica é que não corremos o risco de ativar o microorganismo que infecta o local da lesão, no caso de lesões altamente contaminadas como nos casos de lesões apicais agudas ou puru-lentas (também em quadros de pericoronarires ou alveolites) nem de exacerbar as vesículas do herpes (quando o mesmo encontra-se nessa fase clínica). Em suma, essa técnica visa ativar a imunidade local do paciente, ativando a drenagem da região, fazendo com que o paciente passe pela fase de inflamação com quadro de menor edema, e conseqüentemente menos dor e desconforto (Almeida-Lopes, 2002; Almeida-Lopes et al., 2002).

FIG. 12A

Linfonodos pré-auriculares.

FIG. 12B

Respectiva aplicação clínica.

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Técnica da Drenagem Linfática Ativada por Laserterapia 11CAPÍTULO ?

REFERÊNCIAS

1. Almeida-Lopes L. Análise “in vitro” da Proliferação Celular de Fibroblastos de Gengiva Humana Trata-dos com Laser de Baixa Potência [Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica]. São José dos Campos: Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Univer-sidade Vale do Paraíba; 1999. Disponível na íntegra em: http://www.forp.usp.br/restauradora/laser/ Lucia-na/fibroblasto.html.

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8. Lievens PC. The effect of I.R. Laser irradiation on the vasomotricity of the lymphatic system. Laser Med Sci 1991;6:189-191.

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10. Michalany J. Anatomia Patológica Geral na Prática Médico-Cirúrgica. Brasil: Artes Médicas Ltda; 1995.

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