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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUISTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL Rosa Cristina Pereira Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo ALTA FLORESTA/2013

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUISTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA

PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA

A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL

Rosa Cristina Pereira

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

ALTA FLORESTA/2013

AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUISTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA

PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA

A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL

Rosa Cristina Pereira

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.”

ALTA FLORESTA/2013

Á Deus, pois sem ele nada seria possível.

AGRADECIMENTOS

A minha família, pelo apoio e compreensão.

RESUMO

O ensino da oralidade não pode ser visto isoladamente, isto é, sem relação

com a escrita, pois elas mantêm entre si relações mútuas e intercambiáveis. A

escola pesquisada está instalada no bairro Vila Nova, no município de Alta Floresta-

MT. O presente trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória. A técnica de coleta

de dados mais apropriada para esse fim foi a observação direta extensiva, através

de anotações das observações feitas em sala de aula, atividades vivenciadas e

escritas feitas pelos alunos. O pesquisado teve sua identidade preservada para se

obter êxito nos resultados. Para fundamentação teórica recorreu-se aos autores:

TERRA, FÁVERO entre outros. Após análise dos resultados verificou-se que a

oralidade não é trabalhada em sala de aula, o que interfere negativamente na escrita

do aluno. Observou-se ainda que o mesmo não tem conhecimento sobre a

diversidade de formas de comunicação da língua materna. Verificou-se também que,

a fala do aluno faz com que o mesmo apresente marcas de sua linguagem coloquial

na escrita.

Palavras-chave: Oralidade. Língua Materna. Linguagem Escrita.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 06

1 LÍNGUA E LINGUAGEM ....................................................................................... 08

1.1 LÍNGUA ESCRITA E LÍNGUA FALADA .............................................................. 09

1.2 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS .............................................................................. 10

1.3 ORALIDADE E ESCRITA DE ACORDO COM OS PCN’S .................................. 12

2 A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA ................................................... 15

2.1 A ORALIDADE E A ESCRITA NA ESCOLA ........................................................ 17

3 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................ 20

3.1 COMPILAÇÃO DAS INFORMAÇÕES................................................................. 21

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 28

ANEXOS ................................................................................................................... 29

INTRODUÇÃO

O ser humano é necessariamente um ser que deseja se comunicar. Ao

contrário dos animais, o ser humano tem um mundo psíquico, não é só instintivo;

tem experiências de memória, de sentimentos, de imaginação, que exigem uma

forma especial de comunicação. Além disso, a sociedade atual tem, cada vez mais,

exigido do ser humano maior capacidade de comunicação (falar, escrever e

interpretar) para sua participação efetiva na sociedade.

Existem várias razões para justificar as diferenças entre a língua falada e a

escrita. De modo geral, discute-se que ambas apresentam distinções porque diferem

nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, transmissão e

recepção, nos meios através dos quais os elementos de estrutura são organizados.

A escolha do tema justifica-se, devido a linguagem oral e escrita serem

elementos de comunicação importantíssimos ao desenvolvimento intelectual dos

seres humanos e a capacidade escritora em especial de cada um vai depender

muito do ambiente.

A escola pesquisada está instalada no bairro Vila Nova, no município de Alta

Floresta-MT. O presente trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória, com o

objetivo de verificar a influência da oralidade na escrita do aluno, pois a fala do aluno

faz com que o mesmo apresente marcas de sua linguagem coloquial na escrita

interferindo negativamente na escrita do aluno.

A apresentação do trabalho foi disposta em capítulos, sendo que o primeiro

explana sobre a língua e linguagem, língua falada e a língua escrita, variações

linguísticas e a oralidade e a escrita de acordo com os PCN’s. No segundo capítulo

apresenta-se a influência da oralidade na escrita e a oralidade e a escrita na escola.

No terceiro capítulo apresenta-se os resultados obtidos na pesquisa e a reflexão

feita a partir da confrontação destes com o referencial literário pesquisado. O

embasamento teórico para abordagem do tema, foi feito através dos autores

TERRA, FÁVERO entre outros.

Acredita-se que os objetivos primordiais do educador e da escola é otimizar

o uso da linguagem oral e escrita, uma vez que a fala e a escrita tornam possível a

comunicação, a troca de ideias, de experiências, de emoções e sentimentos, ao

mesmo tempo que oportunizam e possibilitam a criação de valores proporcionando

assim diferentes formas de construir a vida.

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1 LÌNGUA E LINGUAGEM

A língua é a identidade de um povo e tem caráter social. Além disso, a

língua é um código formado por palavras e regras adotadas por uma sociedade. A

língua portuguesa é o código adotado no Brasil e em muitos outros países que se

comunicam utilizando-se dessa mesma língua.

É através desse código que os indivíduos se comunicam. Vale lembrar que a

língua representa a força de uma nação e se esta tem uma língua forte, madura e

independente assim também serão os membros desta nação.

Segundo TERRA (1997), a língua que se fala é um bem, se for levado em

consideração que ela tem um caráter individual (bem privado) e de uso social (bem

público). A língua que você fala é um bem retornando ao conceito de bem (bens são

aquelas coisas que, por serem úteis ao homem, são objeto de apropriação), verifica-

se que a língua que você fala é um bem, por se encaixar perfeitamente na definição

apresentada. Segundo TERRA (1997, p. 8-9),

Em primeiro lugar ela é útil e vantajosa ao homem. Esse primeiro aspecto é inquestionável, pois a língua que falamos é nosso principal veículo de comunicação e não conseguimos viver em sociedade sem nos comunicar.

É impossível pensar em convivência social sem pensar em linguagem, pois

não há comunicação sem ela. Há varias formas de codificar a língua dentro de

diversas linguagens. A língua que se fala faz parte da cultura, dos bens adquiridos

desde os primeiros dias de vida quando se balbucia a primeira linguagem do ser

humano, o choro do recém nascido é uma forma de linguagem e muitas vezes eficaz

já que transmite uma mensagem de dor, fome, desconforto, sono. E a evolução

dessa depende do meio em que está inserido, com quem, como é a cultura ao seu

redor. Pois é através da cultura do meio em que estão inseridos os falantes que se

dá a evolução e a transformação da língua. Possibilitando a comunicação e a

interação.

Entre os tipos mais comuns de linguagem estão a linguagem verbal sendo

aquela que tem por unidade a palavra. A linguagem não verbal tem outros tipos de

unidade, como gestos, o movimento e a imagem. Há também a linguagem mista

como as histórias em quadrinhos, o cinema e a TV que utilizam a imagem e a

palavra, sinalização de trânsito, bandeirinhas do futebol, entre outras. Para TERRA

(1997, p. 12), “Damos o nome de linguagem a todo sistema de sinais convencionais

que nos permite realizar atos de comunicação.” E o mais dinâmico dentre todos os

atos de comunicação está o ato da fala que é a própria concretização da língua e

tem caráter individual. Pode-se dizer que os indivíduos têm uma mesma língua,

utilizam a mesma linguagem, porém não possuem a mesma fala.

Segundo TERRA (1997), a fala por outro lado possui um caráter privado, ou

seja, pertence exclusivamente a cada indivíduo que a utiliza. Assim cada falante tem

o domínio da língua que fala e pode usá-la como bem quiser, dentro das regras

estabelecidas com os demais falantes.

1.1 LÍNGUA ESCRITA E LÍNGUA FALADA

A língua escrita é mais elaborada menos econômica e por não dispor dos

recursos da língua falada é estática. E isso se dá devido ao fato de que na fala pode

se utilizar outros recursos como a entonação, as pausas, os gestos, os olhares,

fazendo da linguagem oral a modalidade mais expressiva, mais criativa, mais

espontânea e natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e

evoluções.

A língua escrita é, foi e sempre será mais bem elaborada que a língua falada, porque é a modalidade que mantém a unidade linguística de um povo, além de ser a que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, se processam lentamente e em número consideravelmente menor, quando cotejada com a modalidade falada (SACCONI, 1994, p. 46).

É nas escolas onde costuma se ensinar a língua falada com base na língua

escrita, por ser considerada superior. E ao professor cabe ensinar as duas

modalidades, mostrando as características e as vantagens de uma e outra, sem

deixar transparecer nenhuma superioridade ou inferioridade, que em verdade não

existem. Isso não quer dizer que se deve admitir tudo na linguagem dos alunos.

Importante é fazer o educando perceber que o nível da linguagem deve

variar de acordo com a situação em que está fazendo uso da linguagem já que o

ambiente determina o nível da linguagem a ser empregado. E isso deve ser mais

enfático no Ensino Médio, já que dele deverão sair aqueles os calouros das

Faculdades e lá não terão tempo para serem alfabetizados.

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Mostrar aos alunos a diferença e ensiná-los a respeitá-las é parte essencial

no desenvolvimento da linguagem. Para SACCONI (1994), desde os primeiros

passos escolares, passando pelo ensino fundamental, médio e superior deverão ser

orientados de maneira a aceitarem a sua própria língua e as diversidades que nela

ocorrem. Assim os alunos certamente teriam um problema a menos na convivência

social, o de se desfazerem dos preconceitos que têm com as diferentes formas de

comunicação oral que encontraram, conheceram e utilizaram. Caberia então a

escola somente acrescentar mais uma, a língua culta.

1.2 VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS

Entende-se que variação linguística é aquela em que uma dada língua sofre

transformação no tempo e no espaço. LUFT (1997: 65), diz que a "língua deve ser

vista, analisada e ensinada como entidade viva." Se ela é variável, então não é

morta, porque, além disso, sofre modificações de acordo com a situação e com o

seu contexto. Vê-se com isso, que é um engano pensar que haja certos ou errados,

pois o que nos parece certo e correto hoje; daqui alguns anos não será mais, por

causa do efeito de transformação e evolução da língua.

Há razões suficientes advindas de pesquisas científicas e históricas para

que comunidades inteiras se expressem de uma forma e não de outra. E rotular que

só existe uma forma de usar a língua e que todos devem empregar a mesma

linguagem seria um desrespeito às diferenças culturais que cada um traz consigo.

Para POSSENTI (2000), cada cidadão tem sua própria linguagem e cada

situação de comunicação não é única, é característica então dela ser dinâmica e

variável. Isso na maioria das vezes não é uma transformação induzida pelo homem,

mas pela própria natureza da língua, ou seja, pela própria necessidade que tem para

evoluir. Quando a variação é induzida pelo ser humano, isso ocorre por ela ser

passível de mudança, devido o homem se deparar em determinadas situações por

ele vividas.

Por ser a língua considerada um fato social, ao mesmo tempo em que ela é

variável, é conservadora no sentido de que precisa e necessita manter uma forma

para que se possa permitir a comunicação em uma dada comunidade linguística.

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Assim, conforme a mobilidade da língua, não há uma forma única e fechada de se

falar. Novas formas e novos usos vão surgindo a todo o momento, prevalecendo

uns, desaparecendo outros.

Porém esta evolução não pode ser feita de qualquer jeito, ela tem de

respeitar regras para que se possa interagir com um outro falante, pode-se citar aqui

o uso da gramática que tem por objetivo organizar a língua de forma lógica e

sequencial de forma que todos possam decodificá-la da melhor forma em

determinada situação.

Diante disso, vê-se que a variação linguística esta associada às diferenças

que são observadas na linguagem de diferentes grupos sociais. Para POSSENTI

(2000), podem ser por critérios variados, como: fatores e condições de níveis sócias

do falante, grau de escolaridade, níveis culturais, região do falante, a situação da

fala em que é utilizada, de etnia, de sexo, de idade. Tudo isso influencia a maneira

de cada falante, num processo de transformação e diferenciação. A cada situação,

em cada lugar, através de cada meio cultural e social, para cada individuo, vai-se

mudando o modo de se dizer coisas.

Toda língua, além de variar geograficamente, no espaço, também muda com o tempo. A língua que falamos hoje no Brasil é diferente da que era falada aqui mesmo no início da colonização, e também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos ou quatrocentos anos! É por isso, que nós linguistas dizemos que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo e varia no espaço [...] E é por isso também que não existe só a língua portuguesa. (BAGNO, 2003, p. 23).

Dentre esses critérios de variação, vê-se que a variação geográfica ou

regional refere-se às diferenças de vocabulário, ou seja, de pronúncia ou sotaque e

referentes à construção gramatical das frases, observadas entre falantes de

diferentes regiões que utilizam a mesma língua.

Já com relação à influência social e do grau de escolaridade, pode-se dizer

que existe uma oposição de variantes linguísticas que se dá entre a chamada

linguagem culta (ou padrão) e a linguagem popular.

Para POSSENTI (2000), a variação estilística relaciona-se às diferenças

observadas na fala de um mesmo indivíduo, de acordo com a situação em que ele

se encontra, por exemplo, o assunto tratado, o tipo de ouvinte que está lhe

escutando, o grau de intimidade entre os interlocutores, o estado emocional do

falante, o grau de formalidade para quem se vai falar. Assim, de acordo com a

situação, o indivíduo “escolhe” o tipo de linguagem que julga mais adequado.

11

Percebe-se, então, que existe um nível de fala no qual predomina a

linguagem culta, e um nível de fala coloquial ou informal que predomina no

vocabulário da linguagem popular. É necessário sim, que exista dentro de uma

sociedade uma linguagem padrão, pela qual, todos se adaptem a uma regra a

seguir. Se assim fosse, este padrão fixo e estável, não haveria problema. Porém

esta estabilidade é uma utopia, só existe na visão daqueles que são ignorantes no

assunto.

Para POSSENTI (2000), há de se considerar as várias formas de uso da

língua e, logicamente, que não fuja à organização sequencial que possa

impossibilitar o entendimento da linguagem. A língua popular ou coloquial

dificilmente reage às varias mudanças que ocorrem, desde que, essa mudança não

prejudique a interação.

Embora a sociedade use de preconceito contra esta variante de linguagem,

não há erro e sim inadequação de situação. Já a língua culta, ao contrário, cria um

ideal. Não podendo alterar em nada a norma estabelecida pela gramática normativa.

Portanto, a correção consiste em obedecer à norma lingüística que rege as camadas

superiores da sociedade.

1.3 ORALIDADE E ESCRITA DE ACORDO COM OS PCN’S

Segundo os PCNs (BRASIL,1997), o ensino de língua portuguesa na escola

desde o começo dos anos 50 tem sido o ponto principal da discussão sobre a

necessidade de melhoria na qualidade da educação no Brasil. O centro dessa

discussão tem sido a respeito da leitura e da escrita, que apontam a necessidade de

encontrar maneiras de garantir realmente essa aprendizagem.

Com respeito à linguagem oral, não se trata de ensinar a fala "correta", mas

sim a fala adequada ao contexto do uso. Os esforços para mudar a alfabetização

escolar consolidaram-se nos últimos dez anos, em práticas de ensino que têm como

o centro de atenção o uso da linguagem. Pode-se dizer que os PCNs

(BRASIL,1997), representam avanços concretos no tratamento do ensino de língua

oral, já que a partir de sua organização estrutural, é possível vislumbrar

possibilidades de bons currículos no campo da oralidade.

O domínio da língua tem estreita ligação com a plena participação social. É

através dela que o homem se comunica e tem acesso à informação. Cabe à escola

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promover a ampliação do conhecimento progressivamente a todos os seus alunos,

para o exercício da cidadania, direito garantido a todos.

A linguagem é uma forma de agir interindividual de acordo com a finalidade

específica, um processo de conversão, realizado nas práticas sociais, nos variados

grupos da comunidade e nos diferentes momentos da história. Dessa maneira, se

produz linguagem tanto em uma conversa entre amigos, quanto ao fazer uma lista

de compras, dependendo das práticas sociais das quais se participa:

A língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Portanto, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas seus significados culturais e o modo como as pessoas em seu meio cultural a entendem (BRASIL, 1997, p. 38-39).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,1997), colocam que a

linguagem verbal fornece meios ao homem de expor a realidade física e social,

quando aprendida, mantêm um vínculo muito grande com o pensamento. Levando

as pessoas a comunicarem suas ideias, pensamentos e intenções de várias

maneiras, não importando se há o uso da gramática padrão ou não, assim,

produzindo-se a linguagem, aprende-se a linguagem.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), consideram o

ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa na escola em três variáveis: o aluno, a

língua e o ensino. O aluno é o sujeito do ato de aprender, é quem age sobre o objeto

de conhecimento. A língua; tal como se fala e se escreve fora da escola, é a que se

fala em instâncias públicas e a existente nos textos escritos que circulam

socialmente. O ensino; é a prática educacional que organiza a medição entre sujeito

e objeto do conhecimento. Para acontecer essa mediação o professor precisa

planejar e dirigir as atividades didáticas, orientando e apoiando o esforço de ação e

reflexão do aluno.

Hoje em dia os níveis de leitura e da escrita são bem diferentes e mais

superiores que o de algum tempo atrás. Com o crescente progresso em que o

mundo se encontra essa exigência nos níveis de leitura e escrita tende a crescer

sempre mais. Para a escola, como espaço de conhecimento, atender a essa

demanda é necessário rever como está sendo praticado o ensino da língua, que

sempre é tratada como um monte de regras a serem aprendidas, sem vida e

emoção.

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Então cabe à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo de textos que

circulam socialmente, ensinando-os a produzir e a interpretar. Isso inclui o ensino de

textos em todas as disciplinas em que os alunos trabalham no seu dia-a-dia escolar.

Sobre a fala, no Brasil possui muitas variedades dialetais. Segundo PCNs

(BRASIL, 1997, p. 102),

na sociedade a linguagem oral é utilizada de formas diferentes: um cientista, um professor, um feirante, um repórter, enfim, todos que precisam falar em voz alta, usam a linguagem de acordo com as diferentes instâncias que essa prática exige.

À escola cabe ensinar o educando a usar a linguagem oral em diversas

situações comunicativas. Planejando e realizando entrevistas, debates, seminários,

dramatizações e outras, fazendo com que essas situações didáticas e atividades

façam sentido para o aluno.

Quanto à escrita cabe os professores trabalhar através de textos,

orientando-os na produção e interpretação. Ensinar a escrever textos torna-se uma

tarefa muito difícil fora do convívio com textos verdadeiros. Quando os textos que

circulam socialmente entram na escola, servem como modelo, ponto de referência,

diversidade para as atividades textuais. A variedade de textos que existe fora da

escola pode e deve ajudar no desenvolvimento do conhecimento letrado do aluno.

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2 A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA

A linguagem utilizada em sala de aula apresenta um perfil específico, pois, a

fala do professor, por ser de um sujeito letrado, abandona as marcas da oralidade e

se deixa impregnar pelas marcas do texto escrito. Assim, nas séries iniciais do curso

fundamental, o aluno oriundo das classes populares, que está iniciando sua

apropriação da escrita, e que, portanto, escreve como fala, tem de interagir com um

professor cuja fala é modelada pelas marcas do discurso escrito letrado, fala como

escreve / escreve sob pressão das normas gramaticais.

Consequentemente, segundo MARCUSCHI (1993), a falta de sintonia entre o

discurso do professor e o do aluno não se dá apenas pelo fato de terem origem em

grupos sociais distintos, mesmo porque nem sempre é assim, mas pelo fato de que

o discurso do professor, diferentemente do aluno, corresponde à fala de sujeitos já

letrados, fala impregnada pela escrita.

Uma abordagem complexa dos gêneros orais, segundo MARCUSCHI (1993),

pode ajudar a diminuir as distâncias que o ensino elitista impõe entre a vida social e

a produção escolar porque também pode fornecer bons modelos para que sejam

trabalhadas as variações, conceitos de desvios e de erros e, ao mesmo tempo,

valorizar e pôr em circulação uma produção textual que permita o sujeito assumir,

sem sentimento de inferioridade, suas performances orais e escritas.

Muitas pesquisas foram realizadas ultimamente sobre a língua falada, quer

nas ciências humanas, quer nas sociais e, ainda que um número crescente de

trabalhos compare-a com a modalidade escrita, pouco sabe-se sobre elas.

Embora o sistema linguístico seja o mesmo para a construção das frases,

MARCUSCHI (1993, p. 62), afirma que “as regras de sua efetivação, bem como os

meios empregados, são diversos e específicos, o que acaba por evidenciar produtos

diferenciados.”

Sociólogos, antropólogos, educadores, psicólogos e lingüistas têm se

debruçado sobre o assunto e diante de tanto interesse, era de se esperar que as

características da fala e da escrita já tivessem sido analisadas exaustivamente,

porém se há muitos trabalhos, a concordância entre eles é pequena. A escrita tem

sido vista como de estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a fala, de

estrutura simples ou desestruturada, informal, concreta e dependente do contexto.

Historicamente a escrita, segundo MARCUSCHI (1993), sempre foi

considerada a verdadeira forma de linguagem e a fala instável, não podendo

constituir objeto de estudo. Essa postura só começou a mudar no século passado

quando da fonética passa a disciplina autônoma,

Estes estudos, porém, não resultaram em comparação entre a fala e a

escrita, acentuando a especificidade de cada uma, mas a primeira é vista como

primária e a segunda como dela derivada. Segundo Mattoso Câmara, apud FAVERO

(2003: 10), “a escrita decorre da fala e é secundária em referencia a esta”.

As gramáticas tratam as relações entre a fala e a escrita tendo como

parâmetro a língua escrita. Este fato tem gerado uma postura polarizada e

preconceituosa. Segundo MARCUSCHI (1993, p. 63), “os gramáticos imaginam a

fala como o lugar do erro, incorrendo no equívoco de confundir a língua com a

gramática codificada.”

Parece consenso que a língua falada deve ocupar um lugar de destaque no

ensino da língua. A motivação para que essa modalidade seja trabalhada com tal

relevo se dá de um lado, porque o aluno já sabe falar quando chega à escola e

domina, em sua essência, a gramática da língua. Por outro lado, a fala influencia

sobremaneira a escrita, principalmente no que se refere à representação gráfica dos

sons.

Certamente em termos de desenvolvimento humano, a fala é status primário. Culturalmente, os homens aprendem a falar antes de escrever e, individualmente, as crianças aprendem a falar antes de ler e escrever. Todas as crianças aprendem a falar (excluindo-se as patologias); muitas crianças não aprendem a ler e a escrever. Todas as culturas fazem uso da comunicação oral; muitas línguas são ágrafas. De uma perspectiva histórica e da teoria do desenvolvimento, a fala é claramente primária (BIBER, apud FAVERO, 2003, p. 11).

Quanto à escola não se trata obviamente de ensinar a fala, mas de mostrar

aos alunos a grande variedade de usos da fala, dando-lhes a consciência de que a

língua não é homogênea, trabalhando com eles os diferentes níveis (do mais

coloquial ao mais formal) das duas modalidades, escrita e falada. Na verdade vem-

se criando a consciência de que a oralidade tem um papel no ensino da língua.

A questão não é falar certo ou errado e sim saber que forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa. (BRASIL, 1997, p. 31).

16

Assim, a questão da oralidade é colocada como um problema de adequação

as diferentes situações comunicativas. Nessa perspectiva, o ensino da oralidade não

pode ser visto isoladamente, isto é, sem relação com a escrita, pois elas mantêm

entre si relações mútuas e intercambiáveis.

Portanto, oralidade e escrita são práticas e usos da língua com

características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois

sistemas linguísticos nem uma dicotomia. Ambas permitem a construção de textos

coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e

exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais e dialetais.

2.1 A ORALIDADE E A ESCRITA NAS ESCOLAS

O ensino da língua portuguesa nas escolas está mais centrado na escrita.

CAGLIARI (1992, p. 39), afirma que “há mais preocupação coma a aparência da

escrita do que com o que ela realmente faz e representa.” Tal atitude parece

completamente errada e fora de propósito. Torna-se indispensável apontar que a

língua escrita é mais uma modalidade da língua a ser aprendida. Não se pode, de

maneira nenhuma, desvalorizar e descriminar as habilidades orais que estão em uso

nos vários segmentos da sociedade, em todos os seus níveis. Neste contexto, deve-

se levar em conta a questão da adequação, cada circunstância determina de quem

nela está envolvido comportamento, vestimenta e linguagem adequados.

Para CAGLIARI (1992), a existência de distintas modalidades no uso da

língua e o domínio da língua padrão são pontos que preocupam todos os envolvidos

com o ensino da língua portuguesa. Apesar do consentimento dos diversos níveis

do uso da língua, o domínio do padrão culto escrito é condição imprescindível para o

aprimoramento cultural, moral e intelectual do indivíduo e o desenvolvimento do país

e da população. Portanto, é da escola, a responsabilidade de ensinar a norma culta

escrita sem desprezar as demais modalidades da língua consideradas “erradas” por

alguns segmentos tradicionalistas do sistema educacional.

O texto falado, de maneira geral, é criado na ocasião da conversação, não

tendo rascunho, como em regra acontece no texto escrito. Ele é planejado

localmente, isto é, esquematizado passo a passo, conforme se desenvolve a

conversação. O texto escrito pode ser esquematizado, examinado, rascunhado. O

17

texto falado oferece pouca elaboração em comparação ao texto escrito. Além do

mais, do ponto de vista sintático, o texto falado é bastante fragmentado, pois as

frases são cortadas, existindo, assim, por vezes, rupturas na construção à medida

que a frase muda de direção, tomando outro caminho sintático. Esse formato

fragmentado da modalidade oral, frases truncadas, etc, é a forma que distingui em

muito as duas modalidades.

Para CAGLIARI (1992), o texto escrito, apesar de poder ser reescrito, não

deixa entender, ao ser apresentado como acabado, as marcas de sua elaboração.

Ele se mostra pronto, lógico, com sequencia temporal. Existe, também, a questão do

planejamento, que na escrita começa no tema a ser desenvolvido, atingindo ao

planejamento linguístico. A modalidade escrita da língua implica a articulação de

conceitos e de aspectos linguísticos.

Portanto, a fala seria uma maneira de produção textual discursiva para o uso

da comunicação na modalidade oral, sem a obrigação de uma tecnologia além do

aparato disponível pelo próprio indivíduo. Caracteriza-se pelo uso da língua na sua

forma de sons ordenadamente articulados e expressivos, bem como os aspectos

prosódicos, envolvendo, também, uma série de recursos significativos de outra

ordem, tal como os movimentos do corpo, a mímica e a gestualidade.

A escrita seria um jeito de produção textual discursiva para fins de

comunicação com apropriadas especificidades materiais e se caracterizaria por sua

constituição gráfica, ainda que envolva igualmente recursos de ordem pictórica e

outros (situa-se no plano dos letramentos). Trata-se de uma habilidade de uso da

língua complementar à fala. A escrita é empregada em contextos sociais

fundamentais da vida cotidiana, em paralelo direto com a oralidade, como a escola,

o dia-a-dia, o trabalho entre outros.

Segundo CAGLIARI (1992), nestes contextos, as evidências e os objetivos

do uso da escrita são variados e diversificados. Relações inevitáveis entre escrita e

contexto precisam existir, fazendo aparecer gêneros textuais e formas

comunicativas, bem como terminologias e expressões típicas. Seria importante que

a escola soubesse um pouco mais sobre essa questão para enfrentar sua tarefa com

mais preparo e maleabilidade, servindo até mesmo de orientação na relação de

textos e definição de níveis de linguagem a trabalhar.

18

A oralidade é vista, diversas vezes, de uma maneira errada, portanto, a

gramática normativa está voltada para a língua escrita, mesmo quando tenta abordar

temas específicos da língua falada.

A língua falada, tomada como ponto de partida, indica um começo da produção textual que, aos poucos, busca novas formas de manifestação. São importantes: a leitura de conto de fadas e sua reescrita; a participação em entrevistas: a possibilidade do aluno falar sobre suas experiências etc., sempre em ambiente descontraído onde as várias formas de linguagem estejam presentes (LEMOS, 1996, p. 85).

O aluno vai querer ler e escrever e este seu desejo o motivará a pensar,

levantar hipóteses sobre como se organiza e funciona o jogo das letras, palavras e

histórias. Para produzir textos não existem fórmulas mágicas. A maioria dos autores

que explora, estuda e incentiva a escrita, são unânimes em afirmarem que não é

nada fácil colocar pensamentos em letra de fôrma, porém nada é melhor do que

sentir que a clareza da linguagem torna efetiva a comunicação humana.

Assim, acredita-se que um dos objetivos primordiais do educador e da

escola é otimizar o uso da linguagem oral e escrita, uma vez que a fala e a escrita

tornam possível a comunicação, a troca de ideias, de experiências, de emoções e

sentimentos, ao mesmo tempo que oportunizam e possibilitam a criação de valores

proporcionando assim diferentes formas de construir a vida.

19

3 ANÁLISE DOS DADOS

Existem várias razões para justificar as diferenças entre a língua falada e a

escrita. De modo geral, segundo FAVERO (2003), discute-se que ambas

apresentam distinções porque diferem nos seus modos de aquisição, nas suas

condições de produção, transmissão e recepção, nos meios através dos quais os

elementos de estrutura são organizados. A escrita é essencialmente um processo

mecânico, sendo necessárias a manipulação de um instrumento físico e a

coordenação consciente de habilidades específicas motoras e cognitivas. Assim, a

escrita é completa e irremediavelmente artificial, enquanto a fala é um processo

natural, fazendo uso dos meios assim chamados órgãos da fala. Verifica-se que a

língua falada não possui uma gramática própria, suas regras de efetivação é que

são distintas em relação à escrita. O que existe é maior iniciativa por parte de quem

fala.

Assim em meio às variedades existentes, a língua padrão é normalmente a

variedade sugerida para a escrita, por ser a língua padrão a empregada pelo grupo

social dominante.

A escrita é essencialmente um processo mecânico, sendo necessárias a manipulação de um instrumento físico e a coordenação consciente de habilidades específicas motoras e cognitivas. Assim, a escrita é completa e irremediavelmente artificial, enquanto a fala é um processo natural, fazendo uso dos meios assim chamados órgãos da fala (AKINNASO, apud FAVERO, 2003, p. 69-70).

Verifica-se que a língua falada não possui uma gramática própria, suas

regras de efetivação é que são distintas em relação à escrita. O que existe é maior

iniciativa por parte de quem fala.

É, pois, papel da escola formar indivíduos com sólidos conhecimentos e

habilidades de interpretação oral e escrita, ou seja, que saibam buscar, selecionar e

interpretar criticamente informações e comunicar idéias por diferentes linguagens;

bem como hábitos intelectuais e técnicas de trabalho que lhes permitam prosseguir

os estudos com competência, tenham hábitos adequados de estudo, saibam

trabalhar em grupo e tenham qualidades como empenho, organização, flexibilidade

e tolerância e que incorporem a importância do conhecimento e o prazer de

aprender.

3.1 COMPILAÇÃO DAS INFORMAÇÕES Através de anotações das observações feitas em sala de aula e das

atividades vivenciadas e escritas feitas pelos alunos, coletou-se as informações

sobre o tema pesquisado. Para identificação, cada aluno receberá a letra A seguida

de um número, A1, A2.

O trabalho solicitado aos alunos foi à observação de uma paisagem, seguida

de uma produção de texto, da qual retirou-se os seguintes dados:

“(...) depois de um dia tam canssativo, mas tem gente que nem liga para

esse probrema. Quando acabar a água talvez possão abrir os olhos e si perguntar

para si mesmo (...)” (A 1).

“(...) moro perto de um rio ondi esta se acabando pois tem pessoa que estão

o poluindo (...)cada um faz sua parte para termo tudo de bom” (A 2).

“Para se chegar lá, é muito dificiu, pois lá é, um labirinto (...) um índio que

incarou o labirinto (...)”(A 4).

“(...) se você não preservá isso pode acaba (...) o ar é muinto diferente e

refrescante” (A 5).

“A natureza é uma coisa linda de se vê, que pena que muitas pessoas

desmatam, mata passarinhos polui o riu e acaba com tudo (...) foi deixado por Deus

para nós cuidarmos e preservar” (A 6).

“Porfavor não faz poluição porque que vai morrer vai ser nós” (A 7).

“(...) sem as arvores e os frotos nos não vive não só nós mas também os

animas (...) por que sem as arvores nós não tem o fruto nem os animais. (...) sem

água nós morre seco e não tem peixes para nós pescar e os animas (...)” (A 8).

“Sé desmatar, as nacentes sé secam daí não vai te cachoeira rios. daí a

água não vai parar o reservatorio e não vai para o nosso copo para nos beber.

Vamos cuidar.fim” (A 9).

“(...) agua 1% nos podemos usar 1% ta pra discongela e 98% esta no mar”

(A 10).

“(...) quando nós formos banhar neles não vai ter como banhar por causa do

lixo” (A 11).

“(...) com caichoeira, arvores grandes (...)”(A 12).

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“(...) para nos não poluir a água sempre preservar a natureza (...) quando vc

fica perto de uma cachoera de arvore vc fica muito mas souto mas com prazer viver

com a natureza” (A 13).

“A água é pouca e ainda sim acontece o disperdicio um dia a água vai

acabar (...)”(A 14).

“(...) podemos nos prejudicar no futuro, nós mesmo (...)” (A 15).

Foram analisados vinte e cinco textos, sendo que apenas em oito não foram

encontrados traços de oralidade somente erros ortográficos. Ao término da análise

percebe-se que a oralidade influencia a escrita dos alunos.

Observa-se que a língua popular caracteriza-se pela economia das marcas

de gênero e número, como por exemplo, quando se fala “nóis vai, nos foi, eles veio,

eles foi. Segundo POSSENTI (2000), a língua também é caracterizada pela

simplificação gramatical com predomínio de frases simples, assim como o uso

excessivo de “aí”, “então”, predomínio das regências diretas nos verbos e do uso de

pronomes pessoais retos como objetos.

No aspecto vocabulário, pôde-se observar uma variedade maior na língua

padrão, com maior precisão no emprego de vocábulos técnicos, ou seja, termos ou

vocabulário mais rico. Enquanto na língua popular predomina um vocabulário mais

limitado, utilizado nos mais variados sentidos, como é o caso das gírias, vocabulário

mais pobre.

Com relação às diferenças das falas observadas na língua popular, verifica-

se que, embora não cheguem a prejudicar a comunicação, servem para marcar as

formas linguísticas de maior ou menor prestígio social. Como exemplo, citar as

seguintes formas na visão da “não padrão” como: pobrema, craro, falaro, oio, homi,

teia, paia, muié, dentre outros.

Segundo POSSENTI (2000), na oralidade, diversos modelos de estruturas

populares já fazem parte da língua comum, como por exemplo, não falar os “r” finais

dos verbos no infinitivo como (“falá” “dizê” “ comê” ), o “u” final de algumas formas

verbais do passado como exemplo (falô; cantô, parô), etc.

Assim em meio as variedades existentes, a língua padrão é normalmente a

variedade sugerida para a escrita, por ser a língua padrão a empregada pelo grupo

social dominante.

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É, pois, papel da escola formar indivíduos com sólidos conhecimentos e

habilidades de interpretação oral e escrita, ou seja, que saibam buscar, selecionar e

interpretar criticamente informações e comunicar idéias por diferentes linguagens;

bem como hábitos intelectuais e técnicas de trabalho que lhes permitam prosseguir

os estudos com competência, tenham hábitos adequados de estudo, saibam

trabalhar em grupo e tenham qualidades como empenho, organização, flexibilidade

e tolerância e que incorporem a importância do conhecimento e o prazer de

aprender.

A educação vai além, porém tudo depende da linguagem, da forma como se

expressar, de saber qual linguagem utilizar em cada momento, com cada pessoa,

em cada seguimento da sociedade. E formar pessoas que atuem de forma ativa na

vida social e cultural, requer uma atenção mais cuidada das escolas no preparo dos

adolescentes para a vida em sociedade. É na escola que será formada a linguagem

do aluno, desde os primeiros passos da vida escolar. É ela que dará estrutura e

conhecimento para utilizar sempre que necessário a língua culta.

Desta forma, segundo BRASIL (1997), ao ensinar Língua Portuguesa a

escola assume para si a responsabilidade de contribuir para assegurar aos seus

alunos o acesso aos saberes da fala e da escrita necessários para que cada um seja

capaz de interpretar os diferentes textos que circulam, de assumir a palavra, de

produzir textos eficientes nas mais diversas situações.

Assim, a fala do aluno faz com que o mesmo apresente marcas de sua

linguagem verbal na escrita, conforme os dados obtidos.

“(...) ele diseu na cachoeira e se encontrouse (...) começaro a banhar e

Tiago pediu para banha do outro lado da cachoeira. (...) Tiago tinha um probrema

ele fumava drogas (...) Nicole pediu expricação (...) Nicole falava que não tava afim

(...)Voceis pença que o fim vai ser felizes para sempre (...)” (A 3).

Segundo CAGLIARI (1992), o aluno traz para a escola a variedade

lingüística do meio em que vive, em que aprendeu a falar, e que deve ser respeitada

porque interfere diretamente no seu processo de aprendizagem. “No início da

escolarização a fala exerce influência sobre a escrita.” (MARCUSCHI, 1993, p. 13).

A oralidade não é trabalhada em sala de aula, o que interfere negativamente

na escrita do aluno.

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“(...) preserve oqui presiso ser preservado” (A 17).

À escola cabe ensinar o educando a usar a linguagem oral em diversas

situações comunicativas. Planejando e realizando entrevistas, debates, seminários,

dramatizações e outras, fazendo com que essas situações didáticas e atividades

façam sentido para o aluno. Assim, através de atividades o aluno deve ser

preparado para reconhecer e utilizar a língua de forma adequada a diferentes

conceitos.

Ler e escrever não são tarefas extras que possam ser sugeridas aos alunos como lição de casa e atitude de vida, mas atividades essenciais que através delas se alcançará o objetivo do ensino da língua. Portanto, seu lugar privilegiado, embora não exclusivo, é a própria sala de aula (POSSENTI, 2000, p. 22).

Percebeu-se também, que o aluno não tem conhecimento sobre a

diversidade de formas de comunicação da língua materna.

“(...) duas meminas foram passiar pela floresta (...) mas tinha um pobema

não tinha agua nele (...) O riacho encheo e então ficou lindo (...)”(A 16).

FREIRE (1981, p.45), assinalava: "A linguagem tem a ver com as classes

sociais, sendo que a identidade e o poder de cada classe se refletem na sua

linguagem." Assim, faz-se necessário criar um ambiente onde todos aprendam a

utilizar a linguagem “ideal”, “adequada”, uma linguagem única e dentro de padrões,

normas e conceitos. Esse ambiente é a escola.

O ser humano é necessariamente um ser que deseja se comunicar. Ao

contrário dos animais, o ser humano tem um mundo psíquico, não é só instintivo;

tem experiências de memória, de sentimentos, de imaginação, que exigem uma

forma especial de comunicação. Além disso, a sociedade atual tem, cada vez mais,

exigido do ser humano maior capacidade de comunicação (falar, escrever e

interpretar) para sua participação efetiva na sociedade.

A linguagem oral e escrita são elementos de comunicação importantíssimos

ao desenvolvimento intelectual dos seres humanos e a capacidade escritora em

especial de cada um vai depender muito do ambiente.

Assim, acredita-se que os objetivos primordiais do educador e da escola é

otimizar o uso da linguagem oral e escrita, uma vez que a fala e a escrita tornam

possível a comunicação, a troca de ideias, de experiências, de emoções e

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sentimentos, ao mesmo tempo que oportunizam e possibilitam a criação de valores

proporcionando assim diferentes formas de construir a vida.

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CONCLUSÃO

A oralidade e a escrita na educação, recebem ênfase, devido a frequentes

sugestões para que a língua oral esteja presente nos currículos. Entretanto, são

poucas as possibilidades de engajar discussões verdadeiramente intensas para

colocar o tema no cotidiano escolar.

Assim, ao término deste trabalho percebe-se que a oralidade não é

trabalhada em sala de aula, o que interfere negativamente na escrita do aluno.

Percebe-se também que a fala do aluno faz com que o mesmo apresente marcas de

sua linguagem coloquial na escrita.

A linguagem utilizada em sala de aula apresenta um perfil específico, pois,

por ser de um sujeito letrado, a fala do professor abandona as marcas da oralidade e

se deixa impregnar pelas marcas do texto escrito. Assim, nas séries iniciais do curso

fundamental, o aluno oriundo das classes populares, que está iniciando sua

apropriação da escrita, e que, portanto, escreve como fala, tem de interagir com um

professor cuja fala é modelada pelas marcas do discurso escrito letrado, fala como

escreve / escreve sob pressão das normas gramaticais.

Consequentemente, a falta de sintonia entre o discurso do professor e o do

aluno não se dá apenas pelo fato de terem origem em grupos sociais distintos,

mesmo porque nem sempre é assim, mas pelo fato de que o discurso do professor,

diferentemente do aluno, corresponde à fala de sujeitos já letrados, fala impregnada

pela escrita.

Uma abordagem complexa dos gêneros orais, pode ajudar a diminuir as

distâncias que o ensino elitista impõe entre a vida social e a produção escolar

porque também pode fornecer bons modelos para que sejam trabalhadas as

variações, conceitos de desvios e de erros e, ao mesmo tempo, valorizar e pôr em

circulação uma produção textual que permita o sujeito assumir, sem sentimento de

inferioridade, suas performances orais e escritas.

Qualquer falante sabe intuitivamente que há uma diversidade de “modos de

falar e de escrever”, de gêneros, de tipos textuais, de formatações discursivas que

priva, interpõe restrições a seu potencial de fala.

Todavia, e importante salientar que para a língua escrita precisa-se respeitar

regras, pois na forma escrita da língua há um ensino bem mais elaborado e superior

do que a falada. Pois aquela pode ser organizada, respeitar regras e limites já que é

estática e esta é mais difícil para o aluno respeitar regras, limites e imposições visto

que é dinâmica e representa grande parte da bagagem cultural do estudante.

Isso não quer dizer que não se deva trabalhar a norma padrão na oralidade

com o intuito, ou com a desculpa de não desrespeitar a cultura do aluno. Deve-se

mostrar ao aluno que a língua tem diversidades, a linguagem pode ser melhorada,

despertando no aluno o desejo de aprender um novo meio de se expressar e a

importância deste para a vida em sociedade. O professor precisa mostrar também

ao aluno, que a fala e a escrita não podem ser dissociadas e que elas se influenciam

mutuamente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolingüística. São Paulo: Contexto, 2003. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC, Secretaria de Educação Fundamental, 1997. CAGLIARI, L. C. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1992. FÁVERO, Leonor Lopes. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino da língua materna. São Paulo: Cortez, 2003. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1981. LEMOS, C.T.G. A concepção da escrita pela criança. Campinas: Pontes, 1996. LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. São Paulo: Ática 1997. MARCUSHI, Luiz Antônio. Análise da conversão. São Paulo: Ática, 1993. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2000. SACCONI, Luiz Fernando. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1994. TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997.

ANEXOS

Modelo de Texto

Observe a figura acima. Agora escreva um texto sobre ela.

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