a importÂncia do ministÉrio da pregaÇÃo para a igreja cristÃ

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A IMPORTNCIA DO MINISTRIO DA PREGAO PARA A IGREJA CRIST Paulo Rogrio Petrizi

Vivemos dias onde o papel da Igreja na sociedade, quando questionado, provoca ponderaes em diversas direes. Para mim, entretanto, a Igreja est no mundo para fazer diferena nos lugares onde sua influncia chega - ela deve cuidar dos interesses de Deus na terra: adorando-o, pregando o Evangelho, ensinando sua Palavra e atentando para os "rfos e vivas". O cumprimento de todo este papel exige da Igreja inconformismo (no sentido de Romanos 12:2) "no vos conformeis a este mundo"). Ela no pode acomodar-se, aquietar-se, nem omitir-se; sua guerra contra o pecado, a injustia e contra as "hostes espirituais da iniqidade" (Efsios 6:12) e, para tanto, necessita de santidade, orao e dependncia do Esprito. A sociedade continua to sedenta de Deus quanto em qualquer outra poca da histria. Cada vez maior o nmero de pessoas desesperadas. Fala-se em 400 mil suicdios por ano no mundo! As pessoas procuram sustentao espiritual, da tantas religies que surgem e conquistam adeptos, o que confirma quo grande a carncia do mundo. Se o mundo continua o mesmo em matria de sede de Deus, a Igreja, por sua vez, sobretudo os evanglicos chamados histricos, necessitam de reflexo sobre seu papel. Penso que a crise de integridade que afeta o evangelicalismo do primeiro mundo j alcana nosso pas e tende a agravar-se. Acredito que a Igreja precisa, hoje, de um avivamento real. Avivamento viver o Cristianismo com integridade. O problema da Igreja em grande parte reside na pobreza de vida crist que se vive: so multides de crentes nominativos, meros freqentadores semanais de cultos que, quando muito, contribuem financeiramente com suas Igrejas. H um descompromisso com a Palavra, com a tica e a moral crists. A Igreja um corpo que encarna Cristo e como tal no poderia passar despercebida. Em suma, falta a conscincia de discipulado cristo nos membros de nossas Igrejas. Concordo com Juan Carlos Ortiz, que no seu livro "O Discpulo" fala da Igreja como sendo um orfanato cheio de bebs e que ns, os pastores, passamos grande parte de nosso tempo correndo atrs de "bebs" para dar-lhes "leite". A Igreja somente pode cumprir seu papel em meio sociedade se prezar pela qualidade de vida crist. Tenho certeza de que crentes verdadeiramente avivamos so capazes de revolucionar uma sociedade, uma nao, um pas inteiro. Para que a Igreja possa alcanar sua estatura ideal, nos termos de Efsios 4:12 e 13, o ministrio da pregao fundamental. Verdadeiramente a pregao prioridade na Igreja Crist. Concordo com Lloyd-Jones, que no livro "Pregao e Pregadores" relaciona o declnio da Igreja ao empobrecimento e desprestgio do plpito. O grande nmero de crentes nominativos em nossas Igrejas conseqncia dos plpitos insossos, sem uno, vida, nem criatividade. Para que a Igreja cumpra seu papel no mundo imprescindvel que os pregadores desempenhem seu ministrio eficientemente e faam com que a pregao da Palavra volte a ser o momento mais importante do culto. Para que a pregao readquira seu grau de importncia imperativo que os pregadores tenham um preparo adequado, tanto espiritual como intelectualmente. O pregador deve ser vocacionado por Deus para a mais importante tarefa do mundo e, consciente de sua excelente misso, dispor-se nas mos de Deus buscando a direo do Esprito em todas as reas de sua vida. A vida do pregador precisa referendar seus sermes. Ele deve viver o que prega, ser exemplo de vida, de santidade, amor, orao, honestidade, chefe de famlia. O preparo intelectual igualmente importante. mistr que o pastor seja homem dado aos estudos, primeiramente das Escrituras, mas no somente conhecimento bblico fundamental ao bom pregador. Ele precisa ter boa formao teolgica, conhecimento histrico, filosfico, psicolgico, antropolgico, dentre outras reas, e isto exigir do

pregador constante apego aos estudos e pesquisas. Destaco o preparo homiltico do pregador. fundamental que este se aperfeioe homileticamente, que estude, que se aprofunde na homiltica a fim de conhecer tcnicas, mtodos e formas sermnicas que enriquecero seu trabalho. Concordo com aquilo que ouvi, que o bom sermo aquele que "conforta os abatidos e incomoda os acomodados", pois creio que o sermo deve constituir-se num instrumento de Deus para falar ao seu povo. Assim, quero destacar alguns aspectos que creio serem importantes na preparao dos sermes: a) Dependncia do Esprito. O pregador deve encher-se dEle continuamente (Efsios 5:18), pois o Esprito foi quem o escolheu e quem o capacitar para a sua tarefa. b) Orao. fundamental a todo cristo, principalmente ao pregador que, atravs da orao, poder trilhar o caminho do ministrio da pregao com eficincia. c) Estudo da Bblia. Meditao e estudo so imprescindveis. O pregador precisa alimentar-se da Palavra, ouvir os conselhos de Deus para sua vida antes de transmiti-los aos seus ouvintes. d) Viso. O pastor precisa ter viso de onde pretende chegar com seu rebanho. Como Igreja, temos uma Misso tremendamente abrangente e a viso do pastor orientar o rebanho na parcela que lhe caber dentro dessa Misso. A partir da viso, de onde se quer chegar, e da conscincia de onde se est no momento, o pregador estabelecer um programa de pregao que vise alimentar e conclamar seu rebanho na direo certa. Este programa deve ser previamente elaborado e dosado de criatividade e variedade, haja visto que a monotonia prejudicar a comunicao. e) Tcnicas de comunicao e homiltica. O pregador precisa especializar-se a fim de eficientemente comunicar-se com seu povo. Para isso, pode buscar reciclar-se atravs de leituras ou aperfeioar-se com cursos de ps-graduao. Este aperfeioamento importante para que consiga transmitir idias contidas nos sermes com clareza de modo a serem absorvidas pelos ouvintes. Este cuidado levar o pregador a ter sempre um objetivo especfico em cada sermo e a saber como alcana-lo mediante a pregao. f) Conhecimento da natureza humana. O pregador que busca a eficincia em seu trabalho precisa conhecer seu povo e reconhecer suas carncias. Se o sermo no for relevante, tambm no ser interessante ao povo. A Bblia no pode ser usada a pretexto, pois a pregao eficiente bblica e contempornea. Concordo com L. M. Perry e Charles Sell que no livro "Pregando Sobre os Problemas da Vida" afirmam que de nada vale falar de detalhes da vida do sculo I e nada dizer sobre a vida do sculo XX. g) Boa administrao do tempo. Em geral os pregadores se envolvem com diversas atividades, mas o bom pregador algum que reconhece a preciosidade da obra que tem a desempenhar e investe a parcela necessria de tempo neste trabalho. Vale ressaltar que a preguia uma terrvel inimiga da eficincia do pregador. h) O celeiro de idias. uma prtica igualmente importante. Uma simples agenda pode registrar idias para sermes e ilustraes que o pregador leu, ouviu ou mesmo viveu e que futuramente podero lhe servir para enriquecer seu trabalho. i) Criatividade e variedade. O pastor nunca deve ser tido como repetitivo e previsvel em seu trabalho como pregador. Deve surpreender sua congregao ao usar de inteligncia e criatividade, podendo alcanar isto variando as formas homilticas de apresentar seus sermes. Sermes narrativos, segmentados, monlogos, biogrficos, dentre outros, podero compor o calendrio de pregao.

j) Avaliao. Destaco a necessidade do pregador avaliar-se e, para tanto, acredito que uma pessoa de confiana do pastor pode auxili-lo (quase sempre a esposa uma pessoa indicada). Sugiro tambm que todo pregador vez por outra grave seus sermes e depois os oua a fim de avaliar-se. Os rumos que a Igreja dever seguir daqui para a frente dependero dos seus plpitos. Se os pregadores forem aptos a discernir a vontade de Deus e dedicados a transmiti-la aos seus ouvintes, viveremos tempos de colheita abundante.

1. Definio de "material ilustrativo" A palavra "ilustrar" vem do latim, ilustrare, e significa "lanar luz ou brilho, ou tornar algo mais evidente e claro". Os educadores reconhecem que uma das principais leis de ensino, para alcanar a mente e o corao a ASSOCIAO DE IDIAS. O material ilustrativo tem sido comparado a janelas, que deixam a luz entrar e iluminar uma casa. A ilustrao visa ajudar os ouvintes a "VER A VERDADE". 2. O uso de material ilustrativo na Bblia Nat: usou a ilustrao de um homem pobre com uma cordeirinha para levar o Rei Davi a condenar-se a si mesmo (II Sm 12:1-14); Aas: rasgou a sua roupa nova em doze pedaos e deu dez para Jeroboo, representando o fato de que Deus havia determinado que dez das doze tribos de Israel seriam tiradas de Reoboo (I Rs 11:26-40); Isaas: enquanto pregava durante certa poca de seu ministrio, andou descalo e despido como sinal de como o povo de Deus seria levado preso pelos Assrios, Egpcios e Etopes (Isaas 20:1-6); Jeremias: usou muitos sermes visuais, como a parbola do cinto de linho (13:1-11), o jarro quebrado (13:12-14), o vaso do oleiro (18:1-17), a botija quebrada (19:1-15), os canzis simblicos (27:1-22), alm da compra de um terreno que simbolizava a esperana na restaurao de Israel depois do exlio (32:1-25); Ezequiel: usou tanto o mtodo visual e ilustrativo que chegou a se queixar com Deus: "Ah Senhor Deus! eles dizem de mim: no este um fazedor de alegorias?" (20:49) Jesus Cristo: quase sempre usava material ilustrativo para apresentar profundos conceitos de natureza espiritual. As parbolas (52% do Evangelho de Lc composto de parbolas). O uso de uma moeda para ensinar o dever do bom cidado (Mt 22:19). A pregao significativa atravs de uma bacia e de uma toalha (Jo 13:1-17). Jesus tambm falou das aves dos cus, dos lrios do campo, do po, da gua. Jesus, tambm usou uma criana para mostrar que preciso se tornar como uma criana para entrar no Reino de Deus. (vide o comentrio de Mateus ao uso das parbolas por Jesus: Mt 13:34-35, 53-54) 3. Os propsitos para o emprego de material ilustrativo a) despertar o interesse e prender a ateno dos ouvintes. b) aclarar, iluminar e explicar as verdades apresentadas. c) confirmar, fortalecer os argumentos apresentados e persuadir os ouvintes a aceitarem estas verdades. d) ajudar os ouvintes a gravarem bem as idias do sermo.

e) tocar nos sentimentos dos ouvintes. f) dar mais vida ao sermo. g) ornamentar e embelezar o sermo. h) tornar o sermo mais agradvel, proporcionando descanso mental aos ouvintes. i) ajudar com a repetio da verdade. 4. Tipos de ilustraes e fontes de bom material ilustrativo i. a prpria Bblia um verdadeiro tesouro de ilustraes. Elas do at mais autoridade ao sermo. So autnticas e atuais! ii. o mundo da literatura: a) biografias e autobiografias; b) obras de fico; c) poesia; d) dramas (como de Shakespeare), mitologia (egpcia, grega, romana), fbulas, lendas e folclore relacionadas vida de pases e regies, etc. iii. a histria. Aquilo que aconteceu no passado e tambm aquilo que est acontecendo em nossos dias, como aparece nos jornais, revistas como Veja, etc. iv. experincias pessoais. v. a cincia e a medicina. vi. obras de arte, como pinturas de quadros e obras de escultura servem como ilustrao. Exemplo: Miguel ngelo certa vez encontrou uma grande pedra que tinha sido jogada fora num terreno baldio. Ele inspecionou a pedra e depois mandou remov-la para o seu estdio, onde fez daquela pedra suja de mrmore uma famosa obra de escultura: a esttua de Davi! Deus muitas vezes v em algum uma obra de arte escondida em uma pedra suja como aquela, e a transforma em uma obra prima de Sua graa e misericrdia. vii. citaes que ouvimos ou lemos. viii. artigos que lemos ou outros sermes que ouvimos. ix. acontecimentos esportivos. x. o trabalho secular do povo da igreja e da comunidade. xi. a leitura em geral de jornais, revistas e livros. xii. ilustraes criadas por ns mesmos. 5. Advertncias quanto ao uso de ilustraes a) no necessrio ilustrar as coisas bvias. b) ilustraes que tem pouco a ver com o ponto que est sendo focalizado no sermo ou cuja relao com ela vaga, ou que esclarece pouco, no devem ser utilizadas. c) evite ilustraes cujas bases no tm nenhuma relao com a vida dos ouvintes. d) evite ilustraes que parecem exageradas ou improvveis, mesmo que tenham acontecido. e) no faa o seu sermo somente de ilustraes. f) evite ilustraes que exijam muitas explicaes para entend-las. g) no use ilustraes somente para mostrar o seu grande conhecimento ou impressionar os ouvintes. h) no bom destacar uma s ilustrao ao ponto de deixar o resto do sermo prejudicado. i) no se deve usar uma ilustrao somente para fazer o povo rir. j) no utilize ilustraes que no entenda bem. Tenha certeza dos detalhes das suas ilustraes. (Dr. Key fez referncia a um sermo que ouviu, onde o pregador contou de um soldado, do sculo 16, que saiu para uma batalha com a metralhadora na mo!) l) nunca conte a experincia de outrem como se fosse sua. m) tenha muito cuidado em elogiar pessoas no crentes em suas ilustraes. n) evite o se desculpar pelo uso de qualquer ilustrao pessoal. o) varie o tipo de ilustrao que voc utiliza. p) tenha cuidado com ilustraes "enlatadas".

PLANO DE SADE GRTIS! Plnio Cavalheiro

No so os que tm sade que precisam de mdico, mas sim os doentes. (Mateus 9:12) Mdico aquele profissional que luta para conservar ou restituir a sade de seus pacientes, aplicando para isso todo o seu conhecimento e esforo. Pelo menos isso que se espera de algum que se preparou para salvar vidas. Dentre tantos ttulos que podemos dar a Jesus, est o de Mdico dos mdicos. Durante seu ministrio, Ele no s ensinava, pregava e realizava maravilhas, mas tambm curava todo tipo de enfermidade. At a morte no era problema para Jesus. Ele chegou a ressuscitar um homem j morto h quatro dias! Mas muitas pessoas no se beneficiam do tratamento que Jesus oferece porque no se reconhecem doentes espiritualmente. A Bblia nos conta que Jesus escolheu alguns homens para estarem mais prximos dEle, como discpulos. Um desses homens chamava-se Mateus. Ele era coletor de impostos para os romanos e, por isso, no gozava de boa reputao no meio do povo. Mas, Jesus no se importando, sentou-se mesa com Mateus e com outros tidos como publicanos e pecadores. Os fariseus se escandalizaram com a atitude de Jesus, que prontamente respondeu: No so os que tm sade que precisam de mdico, mas sim os doentes. Jesus olhava para aquelas pessoas com olhos de mdico, diagnosticava a enfermidade delas e se preocupava em atend-las com rapidez e eficincia. Mateus foi chamado, atendeu ao chamado e, por causa disso foi curado por Jesus e tornou-se um dos 12 apstolos. Jesus continua seu ministrio hoje. Ele chama pessoas, no importando a sua raa, profisso ou condio social. Ele poderoso para curar toda enfermidade do corpo, da alma e do esprito. Voc no necessita pagar um plano de sade para ter direito ao atendimento. Basta querer e reconhecer que Ele o nico capaz de solucionar qualquer problema, inclusive o maior de todos eles que se chama pecado. O pecado a maior de todas as enfermidades e quando no tratado e socorrido pelo dr. Jesus, o doente no resiste, ele vai com toda certeza a bito. A Bblia diz que o salrio do pecado a morte, mas o dom gratuito de Deus a vida eterna por Cristo Jesus, nosso Senhor. Pense nisto: O maior doente aquele que no reconhece a sua enfermidade, exatamente como aqueles fariseus que questionaram Jesus. Reconhea-se necessitado e marque uma consulta hoje mesmo com Jesus, grtis!

Dissertao - Parte II - CONTEMPORANEIDADE NA HISTRIA DA PREGAOEstudando a pregao crist pela ptica da histria da Igreja, percebemos que os grandes pregadores tiveram como uma de suas caractersticas marcantes a contextualizao, a devida adaptao realidade scio-poltica-cultural. Tambm percebemos nestes grandes pregadores uma conscincia clara acerca da natureza humana, sendo esta condio bsica para que qualquer pregador possa colocar-se no plano da cultura do ouvinte e tornar relevante sua pregao. O Dr. J. W. Shepard, destacado missionrio, professor e reitor do Seminrio Teolgico Batista do Sul do Brasil, prestou excelentes servios, inclusive legando-nos um livro de sua autoria sobre a pregao. Tendo sido escrito na dcada de 20, sua obra enfatiza a necessidade de o pregador conhecer a natureza de seus ouvintes para falar-lhes com relevncia. O Dr. Shepard, asseverando sobre este assunto, menciona um comentrio de algum que fora ao culto para aprender o caminho ao cu, e aprendeu o caminho Palestina. A histria nos prova que os grandes pregadores foram homens que, mais do que geografia ou histria bblica, conheciam as necessidades do povo de suas respectivas pocas

1.1 A Contemporaneidade na Pregao ApostlicaQuando pensamos em pregao apostlica, tendo por fonte de pesquisa o Novo Testamento, ficamos restritos a dois expoentes na pregao da Igreja Primitiva: Pedro e Paulo. O primeiro muito mais pelo sermo pregado no Pentecostes (Atos captulo 2) e o sermo incompleto pregado na casa de Cornlio (Atos captulo 10). Com relao a Paulo, temos os sermes transcritos em Atos, o primeiro na sinagoga de Antioquia da Psdia (captulo 13), o segundo no Arepago, em Atenas (captulo 17) , o terceiro em Mileto, aos ancios da Igreja em feso (captulo 20) , o quarto ao povo judeu irado, em Jerusalm, o que na verdade no pode ser considerado um sermo, mas um testemunho pessoal (captulo 22) e o derradeiro na presena do rei Agripa (captulo 26). Alm disso, as treze epstolas atribudas autoria paulina igualmente podem nos auxiliar neste intento. Quanto pregao de Pedro, pouco podemos analisar face a falta de esboos. Entretanto, podemos assegurar que atingiu em cheio o objetivo da pregao pela resposta dada pela populao, conforme nos assevera a Bblia, quando quase trs mil almas se converteram seguida pela mesma resposta na casa do oficial romano. Sabemos ser improvvel que Lucas tenha registrado as palavras exatas de Pedro, mas, certamente, registrou a essncia do sermo pregado pelo apstolo. Tal sermo visou provar tanto pela profecia de Joel como pelo salmo de Davi que Jesus era verdadeiramente o Messias, e que este ressuscitara dentre os mortos. To bem sucedido foi o pregador que os ouvintes o inquiriram acerca de que atitude deveriam tomar.

Podemos afirmar que Pedro utilizou-se exatamente das ferramentas adequadas para tratar com israelitas de diversas nacionalidades: ele os chama "israelitas" e no judeus, justamente porque a segunda forma de tratamento pressupunha que habitavam em Jud; alm disso utiliza argumentao puramente veterotestamentria para persuadi-los. Outro fato a destacar que o prprio Esprito Santo cooperou para que no houvessem barreiras na comunicao da Verdade, pois Ele deu a cada israelita estrangeiro a oportunidade de ouvir na sua prpria lngua o testemunho dos discpulos. No envio de Pedro casa de Cornlio, por obra do Esprito - que convenceu o apstolo reticente e lhe possibilitou compreender que o Evangelho era igualmente destinado aos gentios - encontramos outro exemplo de que o prprio Esprito Santo ensina o caminho da contextualizao. O material acerca da pregao do apstolo Paulo muito mais farto, justamente por que o livro de Atos lhe d especial destaque. Alm disso temos toda a sua produo literria constituda por suas epstolas que muito nos podem auxiliar na averiguao do estilo de pregao do apstolo. C. H. Dodd ressalta a riqueza de informaes que o Novo Testamento nos apresenta acerca de Paulo e, com base nestas informaes, enaltece a inteligncia e a versatilidade da pregao do apstolo. As cartas de Paulo so intensamente vivas - vivas como poucos documentos chegados at ns de to remota antiguidade. Elas nos do no um mero esquema de pensamento, mas um homem vivo. Era uma pessoa de extraordinria versatilidade e variedade.(...) Era igualmente algum capaz de aplicar a fria crtica da razo aos seus prprios sonhos, e de julgar com sereno equilbrio o valor verdadeiro dos fenmenos anormais da religio. (...) O seu pensamento forte e sublime, mais aventuroso que sistemtico. Possua uma inteligncia colhedora e uma faculdade de assimilar e usar as idias dos outros, o que um grande atributo para quem tenha uma nova mensagem para propagar; sabia pensar nos termos das outras pessoas. justamente esta habilidade ltima observada por Dodd, de que Paulo sabia pensar nos termos das outras pessoas, que ressalta a contemporaneidade de sua pregao. No congresso realizado na cidade sua de Lausanne, em 1974, o missilogo Michael Green asseverou dentre vrias caractersticas da evangelizao por parte da Igreja Apostlica, que esta era flexvel em sua mensagem. Para ele aquela Igreja adaptava-se ao pblico e s circunstncias, de acordo com a necessidade do momento, com a cultura, o lugar, o povo. Esta flexibilidade caracterstica na pregao do apstolo Paulo. Especificamente acerca da pregao do apstolo Paulo, o Dr. Shepard enaltece sua personalidade e a capacidade de adaptar-se s circunstncias, classificando-o como "o maior dos pregadores, exceto Cristo". Foi uma personalidade altamente enriquecida, tanto dos dons hereditrios como de educao aprimorada. Nos seus discursos, s vezes, a veemncia da natureza corre como o rio, avolumado por chuvas torrenciais; s vezes aparece to terna e mansa a sua palavra como o amor de me. O seu fim no trabalho foi a edificao do carter cristo. A sua habilidade de adaptar-se s circunstncias do seu ministrio parecia infinita. Os seus sermes eram a lgica personificada, uma correnteza de argumento e apelo que levava tudo de vencida, na sua fora irresistvel. (...) Majestoso pelo seu intelecto estupendo, versatilssimo, poderoso no uso da palavra, incansvel, infinito em adaptabilidade, esse gnio natural, reforado pelo preparo mais completo, entregue nas mos de Deus, representa nas cenas da histria o papel de verdadeiro gigante espiritual proeminente na lista dos heris da f... Assim, no resta dvidas de que um dos pontos altos da pregao de Paulo era sua habilidade em contextualizar-se para alcanar a relevncia junto a seus ouvintes. Podemos ainda destacar com relao pregao apostlica registrada no Novo Testamento, que era essencialmente bblica, referindo-se fartamente a textos do Antigo Testamento, que era Cristocntrica, pois a cruz de Cristo era o ponto central, alm de flexvel em sua forma. Sendo bblica e contextualizada, a pregao apostlica nos serve de modelo pois, justamente este binmio que entendemos ser fundamental pregao eficiente.

A flexibilidade da mensagem se expressa muito bem tambm nos sermes pregados por Pedro, Estevo, alm dos pregados por Paulo em Atos e nas cartas endereadas s vrias Igrejas. Aos judeus o tema da mensagem foi "Jesus o Messias e o Servo Sofredor", isto claramente posto na pregao de Pedro no Pentecostes e no discurso de Estevo. Aos romanos a temtica foi a "justificao e o senhorio de Cristo", conforme bem podemos perceber na epstola aos Romanos; e aos gregos o tema da pregao foi "a ressurreio dos mortos " e "O Logos de Deus". Isto tambm observado por Orlando Costas, ao afirmar que todo pregador necessita ter em conta a cultura de seus ouvintes se que deseja comunicar-se eficazmente. Ele nota nos pregadores bblicos a capacidade de refletir profundamente sobre a cultura de seu tempo e cita como exemplos os apstolos Paulo e Joo: Paulo se acerca dos filsofos esticos em Atenas fazendo uso das prprias categorias deles, lhes fala do deus desconhecido e capta sua ateno. Da passa ao problema bsico dos gregos: a ressurreio dos mortos, e especificamente, a ressurreio de Cristo (Atos 17). Joo toma emprestado um termo da filosofia clssica grega (logos) para comunicar a f crist, usando, pois, os smbolos caractersticos de sua cultura, e expe ante seu mundo a mensagem crist. Desta forma, o Novo Testamento nos oferece elementos para dizermos que a Igreja Primitiva cumpria seu papel de pregao da Palavra eficientemente, porque era bblica e, ao mesmo tempo, flexibilizava a mensagem, levando em conta a realidade dos ouvintes.

1.2 A Contemporaneidade na Pregao Ps-ApostlicaSegundo G. Burt, o perodo que seguiu o dos pais apostlicos foi assinalado por uma decadncia. Ele afirma que o material homiltico dos trs sculos seguintes ao apostlico, muito escasso. Mesmo assim cita algumas instrues de Clemente de Roma, Igncio e Dionsio, no primeiro sculo, Aniceto no segundo e Cipriano, no terceiro. L. M. Perry e C. Sell referem-se a Clemente de Roma (30-100 AD) como um pregador de objetivos ticos e que conseguia, atravs de suas mensagens, propiciar "consolo para as pessoas que atravessavam tribulao". Outro pregador deste perodo destacado por estes autores Tertuliano ( 150-220 AD). Este teria sido um pregador exmio atravs de mensagens acerca da pacincia e da penitncia. Um perodo de ascenso da oratria na Igreja iniciou-se no quarto sculo, quando a partir de ento floresceram Ambrsio, Baslio, Gregrio, Crisstomo e Agostinho, os mais clebres pregadores da Igreja Antiga. Outros pegadores dos primeiros sculos, dignos de serem citados, so Orgenes, Lactncio, Jernimo e Cirilo de Alexandria, dentre outros, dos quais temos somente discursos e homilias. Destes pregadores, conforme Burt, destacam-se Crisstomo e Agostinho, que trouxeram relevante contribuio literatura Homiltica. A obra Peri Hierosynes, ou "De Sacerdcio", de Crisstomo, escrita no incio de seu ministrio, expressa, ainda que indiretamente, alguns preceitos fundamentais para a Homiltica da poca: 1. O clrico - ou ministro - deve ser prudente e douto; 2. Deve possuir alocuo fcil; 3. Deve conhecer as controvrsias entre gregos e judeus; 4. Deve ser hbil na dialctica (como Paulo, no menos grande na arte de falar do que nos escritos e aes); 5. H necessidade de um longo e srio preparo para o ministrio;

6. indispensvel o desdm pelos aplausos humanos; 7. Cada sermo deve ser um meio de glorificar a Deus. Parece-nos que a capacidade de flexibilizar a mensagem a ponto de torn-la adequada ao contexto dos ouvintes ainda que no esteja explicitamente anunciada acima, pode ser compreendida nas entrelinhas destas afirmaes. Entretanto, parece bvio que a maior preocupao era para com a oratria e a dialctica. Ao referir-se a este mesmo pregador o Dr. Shepard ressalta que ele foi proeminente entre os principais pregadores de todos os tempos. Refere-se sua instruo na cincia do direito, do seu intelecto extraordinrio e de seu despontamento como mestre no discurso argumentativo e da retrica. Ainda sobre Crisstomo, Shepard destaca que "conhecia a natureza humana e nos seus discursos jamais se esqueceu de que os seus argumentos eram para convencer o povo". Para este autor os sermes de Crisstomo refletem de modo vivo as condies do seu tempo. Outra caracterstica deste clebre pregador era sua simplicidade, sua clara preocupao em falar ao povo de sua poca. Shepard enaltece a capacidade de Crisstomo de interpretar a Palavra e de aplic-la s necessidades do povo de sua poca. Na verdade, Joo de Constantinopla (c. 347-407), que era natural de Antioquia da Sria e filho de me crist, foi bispo de Constantinopla. Quando ocupou este to importante cargo seu primeiro objetivo foi reformar a vida do clero. Justo Gonzales relata que alguns sacerdotes que diziam ser celibatrios tinham em suas casas mulheres que chamavam de irms espirituais, e isto escandalizava a muitos. Alm disso, outros clricos haviam se tornado ricos e viviam em grande luxo e o trabalho pastoral da Igreja era negligenciado. As finanas foram submetidas a um sistema de controle detalhado. Os objetos de luxo que havia no palcio do bispo foram vendidos para dar de comer aos pobres. (...) desnecessrio mencionar que isto tudo, apesar de lhe conquistar o respeito de muitos, tambm lhe granjeou o dio de outros. O empenho do bispo de Constantinopla no limitou-se apenas ao clero. Seus sermes exortavam os leigos a que levassem uma vida nos moldes dos princpios cristos: Este freio de ouro na boca do teu cavalo, este aro de ouro no brao do teu escravo, estes adornos dourados em teus sapatos, so sinal de que ests roubando o rfo e matando de fome a viva. Depois de morreres, quem passar pela tua casa dir: "Com quantas lgrimas ele construiu este palcio? Quantos rfos se viram nus, quantas vivas injuriadas, quantos operrios receberam salrios injustos?" Assim, nem mesmo a morte te livrar dos teus acusadores. Eis a um exemplo de pregador contextualizado ao seu povo. Ele recebeu o ttulo de "Crisstomo" ( lngua de ouro) cerca de 100 anos aps a sua morte, face ao respeito que conquistou com seus sermes, tratados e cartas publicados. A histria nos conta que Crisstomo morreu no exlio, nas montanhas da sia Menor. O outro grande pregador destacado neste perodo foi Agostinho de Hipona (354-430).Tido por muitos como o maior telogo da antiguidade, converteu-se em Milo em meio a uma exortao ouvida por acaso num jardim, tirada de Romanos 13:13-14; foi batizado por Ambrsio em 387. Antes de sua converso fora mestre de retrica; por isso em suas obras podem ser encontradas muitas instrues quanto oratria, especialmente na obra De Proferendo, um dos quatro livros que constituem a sua Doctrina Christiana. Dela podemos retirar o conceito de "timo pregador" de Agostinho: " aquele de quem a congregao ouve a Verdade, compreendendo o que ouve". Para Agostinho a vitria do pregador consistia em levar o ouvinte a agir. A pregao atraente devia ser temperada de s doutrina e gravidade. Agostinho foi ordenado bispo em Hipona, no norte da frica, em 395. Dentre seus escritos merece ateno especial as suas Confisses, uma autobiografia onde o conta a Deus, em orao, suas lutas e peregrinao. tida como uma obra nica em seu gnero na antiguidade. Outra obra a destacar A Cidade de Deus, escrita sob a motivao da queda da cidade de Roma, em 410, e tida como a maior de todas as suas obras literrias. Nesta, Agostinho responde queles que afirmavam que Roma tivesse cado porque se tinha entregue ao cristianismo e abandonado os velhos deuses que a tinham feito grande.

Dennis F.Kinlaw enaltece grandemente tanto a obra literria como a pregao de Agostinho. Para ele o bispo de Hipona exemplifica o dever de todo pregador em ser um intrprete de sua poca. Este autor sugere a leitura do sermo pregado por Agostinho no primeiro domingo aps o recebimento da notcia de que Roma cara nas mos dos invasores godos, liderados por Alarico, em 410, como um digno exemplo de sermo contextualizado. Kinlaw define Agostinho como um homem de "viso clara de onde se encontrava a humanidade na sua peregrinao para Deus". No intento de comprovarmos a preocupao com a mensagem contextualizada por parte dos pregadores na histria da pregao, reconhecemos que aps o pice alcanado com Crisstomo e Agostinho, houveram pelo menos sete sculos de obscurantismo. O Dr. Ruben Zorzoli, professor do Seminrio Internacional de Buenos Aires, decreve este perodo como tendo sido marcado "por completa escurido e declnio". Segundo Zrzoli, alguns fatores que contribuiram para este declnio foram a corrupo do clero, o crescimento das formas litrgicas (que substituram o lugar da pregao), a elevao da funo sacerdotal sobre a do pregador, as controvrsias doutrinais, e o declnio no contedo da pregao pelo uso extremo da alegorizao bblica. O Dr. G. Burt comenta que nesta poca utilizava-se a postilla, uma brevssima parfrase do texto bblico, e que apenas alguns privilegiados tinham direito a assist-la. Estes privilegiados eram chamados akpoumenoi na Igreja grega e audientes na latina. Nos sculos XII e XIII houve uma recuperao no prestgio da pregao. Zorzoli ressalta como motivos desta mudana as reformas na vida do clero, institudas pelo papa Gregrio VII; o avivamento intelectual resultante do escolasticismo e que elevou o contedo da pregao; a propagao de seitas herticas que faziam uso da pregao - o que constrangeu a Igreja Catlica a reagir; as cruzadas, que se utilizavam da pregao na mobilizao das massas populares, e o uso crescente do idioma popular na pregao. O mesmo autor assevera que, apesar desta recuperao, este perodo da histria da pregao ainda foi marcado pelos erros, dentre os quais destaca o uso do material extra bblico como se fosse bblico, a interpretao e aplicao equivocados, o uso extremo da alegoria e a frequente falta de texto bblico nas mensagens. Com o surgimento das ordens missionrias dos Franciscanos e Dominicanos, no sculo XIII, a pregao ganha mais notoriedade. A preocupao de falar ao povo, de contextualizar-se realidade dos ouvintes, parece existir numa obra de Guibert de Nogent, abade francs que morreu em 1124. Dentre os seus preceitos homilticos destacam-se os seguintes: o pregador deve exercitar o seu talento o mais frequentemente possvel, nunca deve assumir o plpito sem ter orado, deve ser breve, dar preferncia a assuntos prticos e no dogmticos. Conclui que "poucas coisas ouvidas e guardadas valem mais que muitas que passem pela cabea do auditrio, sem penetrar nem a inteligncia, nem a conscincia." Perry e Sell destacam deste perodo alguns pregadores. Um deles o alemo Berthold von Regensburg (1220-1272) que, com seus sermes prticos "atacou os pecados de todas as classes na poca de um grande interregno na Alemanha". Acrescentam ainda que Regensburg buscava sempre atingir as necessidades do povo. Destacam tambm o ingls John Wycliffe (1329-1384), igualmente realado como um pregador "prtico, que se dedicou ao cuidado das almas". J nos sculos XIV e XV houve um novo declnio na nfase da pregao, quando esta deixou de priorizar a populao, dando lugar ao intelectualismo rido do escolasticismo. Alm disso, contriburam para isto o perodo de estabilidade que passava a Igreja Catlica, sem as ameaas hereges. Um novo despertamento viria com o sculo XVI e a Reforma.

1.3 A Contemporaneidade na Pregao dos ReformadoresA Reforma marca um avivamento na pregao. Como fatores mais importantes deste avivamento Zrzoli destaca a nova nfase na pregao como um elemento vital na vida e na adorao, tendo a mensagem proferida por um pregador voltado ao lugar que a missa havia ocupado. Alm disso, o mesmo autor ainda acrescenta a influncia da pregao na luta contra os erros patrocinados pela Igreja Papal, a volta da utilizao do texto bblico na pregao e o refinamento dos mtodos homilticos at ento utilizados. Os precursores anabatistas, alm de Lutero, Calvino e Zwinglio, atestam o restabelecimento da prioridade da pregao. Neste perodo surgem obras no campo da Homiltica que merecem destaque, como a Ratio Brevissima Concionandi, de Felippe Melanchton (1517) e que em sua primeira parte discorre sobre as vrias partes do discurso (exrdio, narrao, preposio, argumentos, confirmao, ornamentos, amplificao, confutao, recaptulao e perorao), em seguida enfoca a maneira de desenvolver temas simples, depois como trabalhar com temas complexos, e assim por diante. Constitui-se numa das principais obras do gnero, conforme Burt. Outra obra Homiltica citada pelo mesmo autor o Ecclesiastes, Sive Concionator Evangelicus, de Erasmo (c. de 1466-1536), que dividiu-se em quatro livros: o primeiro sobre a dignidade, piedade, pureza, prudncia e outras virtudes que o pregador deve cultivar; o segundo sobre estudos que o pregador deve fazer; os demais sobre figuras do discurso e o carter do sacerdcio. Embora Martinho Lutero (1483-1546) no tenha escrito uma obra especfica sobre a arte de pregar, Burt destaca suas Palestras Mesa, das quais resume os seguintes preceitos homilticos: O bom pregador deve saber ensinar com clareza e ordem. Deve ter uma boa inteligncia, uma boa voz, uma boa memria. Deve saber quando terminar, deve estudar muito para saber o que diz. Deve estar pronto a arriscar a vida, os bens e a glria, pela Verdade. No deve levar a mal o enfado e a crtica de quem quer que seja. Ainda sobre ensinos de Lutero acerca da pregao, Burt destaca estas palavras do reformador, voltadas especificamente aos jovens pregadores: Tende-vos em p com garbo, falai virilmente, sede expeditos. Quando fores pregar, voltai-vos para Deus e dizei-lhe: "Senhor meu, quero pregar para tua honra, falar de ti, magnificar e glorificar o teu nome". E que o vosso sermo seja dirigido no aos ouvintes mais conspcuos, mas aos mais simples e ignorantes. Ah! que cuidado tinha Jesus de ensinar com simplicidade. Das videiras, dos rebanhos, das rvores, deduzia Ele as suas parbolas; tudo para que as multides compreendessem e retivessem a Verdade. Fiis vocao, ns receberemos o nosso prmio, seno nesta vida, na futura. Podemos perceber nestes conselhos de Lutero a preocupao de tornar a mensagem compreensvel ao povo mais simples que compe a Congregao. Esta uma das caractersticas principais dos reformadores deste perodo. Com relao a Joo Calvino (1509-1564), que foi pastor da glise St. Pierre, em Genebra, na Sua, podemos destacar sua obra literria que foi amplamente distribuda e lida em todas as partes da Europa e que influenciou grandemente o movimento reformador. Como telogo e pastor, Calvino deu prioridade ao ensino das Escrituras, tendo escrito comentrios sobre 23 livros do Antigo Testamento e sobre todos os livros do Novo Testamento, menos Apocalipse. Suas Institutas, obra composta de 79 captulos e completada em 1559, o principal de seus escritos. Dentre outras coisas, Calvino tido como um pregador preocupado com a delimitao do verdadeiro papel da Igreja na sociedade, tendo sido precursor de um grande impacto na sociedade de sua poca. Ensinava que a Igreja precisava orar pelas autoridades polticas.

Comentando I Timteo 2:2, afirmou que precisamos no somente obedecer a lei e os governantes, mas tambm em nossas oraes suplicar pela salvao deles. Expressou tambm grande preocupao com a injustia social. Comentando Salmo 82:3 , afirmou: "um justo e bem equilibrado governo ser distinguido por manter os direitos dos pobres e dos aflitos". Sua pregao levou a Igreja de Genebra a batalhar contra os juros elevados, a lutar por oportunidades de empregos e tudo aquilo que era pertinente a uma sociedade secular mais humana. Dentre os grandes pregadores do sculo XVI podemos destacar ainda John Knox (1514-1572), o reformador escocs. Uma de suas caractersticas marcantes foi sua viso social bem esclarecida expressa na defesa da obrigao de cada cristo cuidar dos pobres e no sistema elaborado por ele mediante o qual cada igreja sustentaria seus prprios necessitados e administraria escolas de catequese para todas as crianas, ricas e pobres. Para Zrzoli, no geral, os sculos XVII e XVIII foram de novo declnio, com uma quase generalizada pobreza de plpitos na Europa. Destaca pregadores como Baxter, Bunyan e Taylor, na Inglaterra, e Bossuet e Fenelon, na Frana, como sendo excees no sculo XVII. Destaca como grandes pregadores e excees do sculo XVIII, que considera marcado pela mediocridade, John e Carl Wesley, juntamente com George Whitefield, na Inglaterra, que produziram um avivamento centrado na pregao s multides. Na Amrica do Norte destaca Jonathan Edwards. Todos estes foram pregadores que conseguiram fazer a ponte da Palavra aos coraes de multides de pessoas. Sobre Jonathan Edwards (1703-1758), cujo mais famoso sermo foi intitulado "Pecadores nas Mos de Um Deus Irado", pregado na Igreja Congregacional em Northampton, Massachusetts, em 1741, podemos destacar o seu sermo de despedida do pastorado daquela igreja, depois de 23 anos de ministrio ali. Ao buscardes o futuro progresso desta sociedade de maior importncia que eviteis a contenda. Um povo contencioso um povo miservel. As contendas que tm surgido entre ns desde que me tornei vosso pastor tm sido o fardo mais pesado que tenho carregado no decurso do meu ministrio - no somente contendas que tendes comigo, mas aquelas que tendes tido uns com os outros por questes de terras e outros interesses. Eu j sabia muito bem que a contenda, o esprito inflamado, a maledicncia e coisas semelhantes, eram frontalmente contrrias ao esprito do Cristianismo e tm concorrido, de modo todo peculiar, para afastar o Esprito de Deus de um povo, a tornar sem efeito todos os seus meios de graa, alm de destruir o conforto e o bem estar temporal de cada um. Permita-me que vos exorte com todo o vigor, que, daqui para a frente, todas as vezes que vos empenhardes na busca do vosso bem futuro, que vigieis atentamente contra ume esprito contencioso: "se quiserdes ver dias bons, buscai a paz e segua"(2 Pedro 3:10-11). Nota-se nesta transcrio da concluso do sermo o cuidado de enfocar um assunto vivenciado pela congregao. O pregador falou ao povo sobre uma deficincia do povo. Esta contextualizao da pregao determinou o sucesso e caracterizou os grandes pregadores em todos os perodos da histria da pregao.

1.4 A Contemporaneidade da Pregao dos Sculos XIX e XXH quem iguale o prestgio e eficincia da pregao do sculo XIX com o sculo primeiro, com Pedro e Paulo, e com o sculo IV, com Crisstomo e Agostinho. Inegavelmente, este sculo foi marcado por grandes e renomados pregadores, como Finney, Brooks, Broadus, Moody, Spurgeon, Hall e Mclaren, alistados como os prncipes da pregao neste perodo. Como grandes pregadores do sculo XIX Perry e Sell destacam, dentre outros, o norte americano Henry Ward Beecher (1813-1887). Beecher notabilizou-se pela pregao contra os vcios sociais de sua poca, tendo sido lder do movimento anti escravista. Segundo estes autores, este pregador costumava pregar diretamente a respeito das necessidades pessoais de seus ouvintes.

Outro grande pregador deste perodo destacado por Perry e Sell Phillips Brooks (1835-1893). Referemse a Brooks como tendo sido um pregador "extraordinariamente sensvel para com as necessidades humanas". Contam que ele costumava investir suas tardes em visitas ao seu povo, especialmente os pobres, doentes e atribulados. Transcrevem um comentrio feito por um adimirador, de nome Bryce: "Brooks fala ao seu auditrio como um homem fala ao seu amigo". No intento de demonstrar a preocupao com a contemporaneidade por parte de ilustres pregadores, citamos como exemplos dois dentre estes mais destacados, Finney e Spurgeon. Primeiramente citamos Charles G. Finney (1792-1875), que viveu uma intensa experincia de converso em Nova Iorque, em 1821, sendo introduzido Igreja Presbiteriana. Foi pastor presbiteriano e depois congrecionalista. Pregador avivacionalista, chega a ser apontado como "o mais ungido evangelista de reavivamento dos tempos modernos". Estima-se que mais de 250 mil almas se converteram como resultado de suas pregaes. Em sua obra Lectures on Revival (Prelees Sobre o Reavivamento), de 1835, Finney demonstrou sua esperana de que o reavivamento varresse os Estados Unidos, trazendo progresso e reformas sociais; democracia e abolio da escravido, dentre outras consequncias. Finney no pregava simplesmente sobre a vida eterna em Jesus, mas que a f em Jesus seria o caminho para que a sociedade americana fosse redimida. Outro ilustro pregador deste perodo foi o clebre Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), um um pastor batista muito influente na Inglaterra. Em 1854 iniciou um ministrio de 38 anos consecutivos na capela batista na Rua New Park, em Londres e, com apenas vinte e dois anos de idade era o pregador mais popular de Londres. Em 1861 foi edificado o Tabernculo Metropolitano nas Ruas Elephant e Castle, um templo com capacidade de abrigar 6 mil pessoas, onde Spurgeon ministrou ininterruptamente at sua morte. Junto ao Tabernculo foi criado um seminrio e uma sociedade de colportagem que enfatizava a distribuio de literaturas. Calcula-se que 14 mil membros foram acrescentados quela Igreja durante o ministrio de Spurgeon. Teve muitos de seus sermes publicados, num total de 3.800 deles! Na obra "Lies Aos Meus Alunos" encontramos farto material resultante de prelees deste ilustre pregador que bem podem expressar sua preocupao com a relevncia que a pregao precisa encontrar nas vidas dos ouvintes. Assim Spurgeon expressa sua preocupao com o desempenho eficiente dos pregadores: desejvel que os ministros do Senhor sejam os elementos de vanguarda da Igreja. Na verdade, do Universo todo, pois a poca o requer. Portanto, quanto a vocs, em suas qualificaes pessoais, dou-lhes este moto: Sigam avante. Avante nas conquistas pessoais, avante nos dons e na graa, avante na capacitao para a obra, e avante no processo de amoldagem imagem de Jesus. Sobre a eficincia na comunicao da Verdade ao povo, Spurgeon afirmava que o ministro s seria verdadeiramente eficiente se fosse apto para ensinar. Sobre ministros inaptos, ele asseverou em tom hilrio: Vocs sabem de ministros que erraram a vocao e, evidentemente, no tm dons para exerc-la. Certifiquem-se de que ningum pense a mesma coisa de vocs. H colegas de ministrio que pregam de modo intolervel: ou nos provocam raiva, ou nos do sono. Nenhum anestsico pode igualar-se a alguns discursos nas propriedades sonferas. (...) Se alguns fossem condenados a ouvir os seus prprios sermes, teriam merecido julgamento, e logo clamariam como Caim: " tamanho o meu castigo, que j no posso suport-lo." Oxal no caiamos sob a mesma condenao. Esta to bem humorada declarao de Spurgeon demonstra sua preocupao com a relevncia da pregao na vida dos ouvintes. Esta foi a caracterstica dos ilustres pregadores desta e das demais pocas. Com relao ao nosso sculo, podemos notar algumas tendncias que indicam o desprestgio da pregao nas Igrejas e a perda da centralidade no minstrio pastoral. Para Martyn Lloyd-Jones, que enxergava este

declnio da importncia da pregao na Igreja do sculo XX, tal desprestgio se deve, primeiramente, perda da crena na autoridade das Escrituras. Outra razo apontada pelo autor para este declnio o fato de "a forma ter-se tornado mais importante que a substncia, a oratria e a eloquncia por conseguinte, coisas valiosas por si mesmas". Tal declnio da pregao no nosso sculo se acentua, porque, segundo Lloyd-Jones, "a pregao tornou-se uma forma de entretenimento". A situao da pregao na atualidade enfocada na prxima etapa da pesquisa, onde a opinio supra citada reforada com depoimentos de outros autores. Nos preocupamos tambm em discorrer acerca das consequncias deste declnio de prestgio da pregao

Dissertao - Parte IIII - O LUGAR DA PREGAO NA IGREJA CONTEMPORNEANo desejo de traar um panorama descritivo da pregao na Igreja deste final de sculo, valemo-nos da viso de autores como H. W. Robins, que acredita na desvalorizao da pregao nestes dias. Para ele a imagem do pregador no a mesma de dcadas anteriores, sendo agora no mais considerado como lder intelectual nem espiritual. Ele arrisca-se a um desafio: pea ao homem do banco da igreja que descreva o ministro, e a descrio talvez no ser lisonjeira. Este mesmo autor acredita que no geral a congregao v o pastor, na atualidade, na forma de um composto manso: Escoteiro congenial, sempre prestativo, sempre pronto para ajudar: como querido das senhoras de idade, e como suficientemente reservado com as jovens; como a imagem paternal para os mais jovens, e companheiro para os homens solitrios; como o cordial recepcionista afvel nos chs e nos almoos dos clubes cvicos. Ao passo que apresenta este descrio geral do pregador contemporneo, Robins decreta: Se isto relata a realidade, mesmo que as pessoas gostem do pregador, certamente no iro respeit-lo. Esta crise no ministrio da pregao ocorre justamente num mundo onde, conforme o mesmo autor, os meios de comunicao de massa nos bombardeiam com cem mil mensagens por dia . Robins lembra que tanto a televiso como o rdio, apresentam mascates que entregam uma palavra do patrocinador com toda a sinceridade de um evangelista. Dentro deste contexto, talvez o pregador d a impresso de ser mais uma pessoa mercenria que faz truques de palco com as doutrinas da vida e da morte.

Seguindo este raciocnio, a consequncia destes fatos que o prprio pregador moderno estaria tentado a buscar novidades que pudessem satisfazer quilo que a pregao tradicional no consegue. O homem no plpito se sente furtado de uma mensagem autoritativa. Boa parte da teologia moderna lhe oferece pouco mais do que palpites santificados, e suspeita que os sofisticados nos bancos das igrejas tm mais f nos textos da cincia que nos textos da pregao. Para alguns pregadores, portanto, a ltima moda na comunicao fica sendo mais estimulante do que a mensagem. (...) Sem dvida, as tcnicas modernas podem realar a comunicao, mas, por outro lado, podem substituir a mensagem - o surpreendente e o incomum podem ser mscaras para um vcuo. Sem dvida as colocaes acima apontam para um grande conflito que o pregador moderno enfrenta quando depara-se com a crescente globalizao cultural, com a fora dos meios de comunicao de massa, com o ritmo frentico das mudanas nos nossos dias, com o avano tecnolgico. O dilema do pregador contemporneo pode ser expresso na seguinte pergunta: Como ter contemporaneidade sem perder a profundidade e a Verdade da mensagem? Num artigo publicado em 1985, Merval Rosa ressalta sua viso da pregao na atualidade em nosso pas. Para ele a pregao como um todo deixa muito a desejar pela omisso: estamos certos no que dizemos, falhamos, porm, no que deixamos de dizer. Na sua opinio, a pregao deve ser impactante, capaz de demonstrar graa e poder redentivo de Deus, o que, segundo ele, no acontece. Acontece, porm, que em nossos dias a pregao do Evangelho se apresenta tmida, quase pedindo licena para dizer, quase pedindo desculpas, com medo de ofender as estruturas do poder expressas nas mais variadas formas de organizaes sociais. Nossa pregao est se tornando, semelhana da psicoterapia tradicional, um produto de consumo da classe mdia. Nela no h quase nada de proclamao inquietante da Palavra de Deus e seu elemento de confrontao do homem e das iniquidades das estruturas sociais. Ela mais um elemento de preservao de um status quo do que propriamente uma fora transformadora de revitalizao da condio humana. Ela no incomoda a ningum... Neste raciocnio, o grande problema da pregao de hoje a falta de relevncia. O cerne da crise no reside na forma, mas sim no contedo da pregao. Na medida em que os pregadores se tornam incompetentes primeiro para fazerem uma leitura verdadeira da realidade existencial dos ouvintes, so compelidos a falharem com uma pregao imprpria, descontextualizada, descomprometida com o tempo em que vivemos. Os resultados desta pregao que no conforta nem incomoda ningum bem podem ser notados. O primeiro deles o prprio desprestgio da pregao junto s Igrejas

2.1 O crescente Desprestgio da Pregao

A observao de que neste sculo, mais uma vez, a Igreja est marcada com o declnio da pregao, a exemplo do que houve no perodo ps-apostlico, demonstrada por Lloyd-Jones que, mesmo tendo algumas posturas radicais, defende a pregao como sendo a principal tarefa do pregador e a razo maior do seu chamado. No final da dcada de 60 Lloyd-Jones j denunciava algumas das tendncias de mudanas na ordem de culto geralmente pretendidas pelas igrejas, chamando-as de elementos de entretenimento no culto. Para ele, na medida em que a pregao perdeu sua importncia, foi necessrio dar nfase a outras partes do culto. Em sua anlise, o maior culpado pelo desprestgio da pregao o prprio plpito; toda vez que o plpito est correto e a pregao autntica, isso atrai e arrebanha o povo para ouvir . Um famoso ministro norte americano, Warrem Wiersbe, destacado pelo ministrio radiofnico que desenvolve h dcadas e por alguns livros, escreveu uma obra traduzida para o portugus com o ttulo A Crise de Integridade. Nele, o autor reconhece o desprestgio da pregao no meio evanglico de seu pas e conclui: o tipo errado de pregadores, compelido por motivos errados, criou o tipo errado de cristos mediante a pregao da mensagem errada. Desta forma, a pregao que to prioritria para a vida da Igreja tem, nos prprios pregadores, os principais responsveis pelo seu desprestgio. Vale a pena lembrar a definio da pregao segundo Blackwood: a verdade de Deus proclamada por uma personalidade escolhida com o fim de satisfazer as necessidades humanas. Ora, podemos concluir que o fato da pregao estar desprestigiada se deve, principalmente, incapacidade dos plpitos em satisfazer as necessidades humanas. Aproveitando a definio acima vale ressaltar que o que faz a pregao a veracidade bblica exposta fielmente e aplicada relevantemente ao homem contemporneo. Parece-nos que nos dias atuais nossos pregadores cumprem a primeira das condies e desprezam a segunda. Estas mesmas duas condies podem ser encontradas na definio de sermo de John H. Jowett. Para ele o sermo tem que ser uma proclamao da verdade como vitalmente relacionada com os homens e mulheres que vivem. Ele diz que um sermo precisa tocar a vida onde o toque seja significativo, tanto nas suas crises como nas suas corriqueirices. Completa ainda que o sermo precisa ser aquela verdade que viaja em companhia dos homens morro acima e morro abaixo, ou na plancie montona. justamente por isso que a pregao to importante para os ouvintes. H uma fome deste toque especial patrocinado pela Palavra pregada. Na medida em que esta pregao ineficiente em suprir os ouvintes desta necessidade, deixa de ser prestigiada. Este desprestgio observado tambm por James Crane. Para ele isto se deve, principalmente, inaptido em estabelecer objetivos realmente relevantes para a pregao. Crane lembra que a pregao s tem sentido quando imbuda de um propsito persuasivo. Argumentando acerca disso, ele cita G. Campbell Morgan: Toda pregao tem um s fim, a saber, o de tomar cativa a cidadela central da alma humana, ou seja, a vontade. O intelecto e as emoes constituem vias de aproximao que devemos utilizar. Porm o que temos de recordar sempre que no temos atingido o verdadeiro fim da pregao enquanto no for atingida a vontade, constrangendo-a a fazer sua escolha de acordo com a verdade que proclamamos. Sem este carter persuasivo a pregao perde sua eficcia e, consequentemente, seu prestgio junto prpria Igreja. E qual o resultado para a Igreja deste estgio em que a pregao se encontra? A prpria Bblia, no livro de Provrbios nos mostra o resultado natural da ausncia da legtima e eficiente pregao: No havendo profecia, o povo se corrompe.

2.2 A Crise de Identidade da IgrejaO que ser cristo no mundo, hoje? Parece-nos que esta pergunta no tem sido bem respondida pelos pastores com seus sermes. Nossa pesquisa junto aos membros das Igrejas Batistas da regio de Campinas aponta que h diversos temas atuais que nunca so abordados por quase a totalidade dos pregadores, embora seus ouvintes vivam num mundo perturbado por tais questes. O mais grave disso que nossa pesquisa junto aos pastores aponta que boa parte deles nem sequer busca conhecer ou atualizarse acerca destas questes cruciais e atuais. claro que tal alienao por parte dos pastores no se deve pura e simplesmente m vontade destes, mas a uma estrutura muito mais complexa, explicvel pelo diagnstico da crise de identidade que afeta tambm estes pastores. Pensamos que, de modo geral, os pastores no respondem pergunta o que ser cristo no mundo hoje? porque, principalmente, no conseguem fazer uma leitura fidedigna da realidade que nos cerca. A necessidade de a Igreja adaptar-se ao contexto social reconhecida por Merval Rosa. Para ele na falta desta capacidade est a razo para que a nossa pregao quase sempre se dirija a problemas apenas em termos genricos. Para ele, damos margem queles que nos acusam de pregarmos uma espcie de alienao. Merval Rosa conclui que a pregao o principal meio para transmitir ao homem cdigos que lhe possibilitem ser sal e luz para a Terra. Da forma como a pregao feita hoje, onde o indivduo ouve que deve tornar-se agente de transformao na sociedade, mas deixa de receber os instrumentos para esta ao, a crise de identidade tende a perpetuar-se. O indivduo convertido por nossa pregao fica quase sempre fechado e protegido dentro da comunidade evanglica numa espcie de marginalizao social. (...) Em grande nmero de casos difcil encontrar a relao entre aquilo em que ns cremos e nosso comportamento na vida cotidiana. Ser que um pregador do Evangelho do perodo apostlico reconheceria nossa pregao? Ao entrar hoje em nossas igrejas para ouvir nossos pregadores o que pensariam que esto querendo dizer? Ser que o protestantismo do Brasil se identifica com a f Bblica e com o Esprito da Reforma ou est se tornando cada vez mais um moralismo que enaltece a capacidade de autoredeno do homem? Estamos produzindo cristos que sejam novas criaturas, sal da terra e luz do mundo, fora dinmica de transformao ou meros conformistas a um legalismo asfixiante e a um moralismo castrante? Interessante notar que Merval Rosa atribui a culpa pelo Cristianismo desfigurado dos nossos dias ao tipo de pregao que se pratica em nossas Igrejas. Atentando para suas ponderaes podemos concluir que o resultado deste tipo de pregao geradora de crise produz, no discpulos de Cristo, mas fariseus modernos. Analisando a Igreja evanglica brasileira deste final de milnio Caio Fbio afirma que o maior problema desta est relacionado tica. Para ele h uma fraqueza tica na Igreja, cuja raiz deriva-se da fraqueza reflexiva. Essa Igreja alegre e feliz identificada com boa parte da populao tem dado muito pouco valor ao estudo e reflexo na Palavra. Sem o estudo, sem a reflexo, no se adensam no corao de ningum os referenciais que formam o carter, que balizam o comportamento, que enchem o ser com contedos ticos, que o capacitam a viver no apenas uma santidade religiosa, mas uma santidade social ampla. Justamente a falta de estudo e reflexo na Palavra o fator levantado para implementar uma crise de ser da Igreja. E qual a maneira clssica pela qual o povo ouve e reflete na Palavra? No resta dvida que na medida em que a pregao torna-se ineficiente e abdica da sua condio e importncia que a prpria Bblia lhe atribui, o povo perde os referenciais que lhe possibilitariam viver o Cristianismo na essncia.

A realidade social e cultural contempornea com a qual a Igreja brasileira tenta conviver descrita por Christian Gillis num artigo onde prope alternativas Igreja a fim de galgar o desafio da contextualizao. Ele aponta seis principais fatores que determinam esta nova realidade. O primeiro deles ressalta as mudanas polticas e econmicas ocorridas a partir da dcada de 70 e que, inegavelmente, produziram profundas mudanas sociais. Na viso deste autor tais mudanas geraram uma crise institucional generalizada e exigiu tambm novas respostas teolgico-eclesisticas. Os outros fatores que, segundo Gillis, cooperam para o surgimento de um novo ordenamento scio cultural so: o desmantelamento das estruturas e economias comunistas, o desenvolvimento tecnolgico nas comunicaes, na informtica e na biologia, o movimento feminista, a acelerada urbanizao, o renascimento mstico e a conscincia ecolgica. Todos estes fatores correspondem a tendncias que tm consolidado uma nova mentalidade com a qual a Igreja precisa aprender a lidar. nesta realidade histrica que a Igreja precisa sobreviver e desempenhar sua tarefa. Justamente pela complexidade do panorama histrico que se acentua a crise de identidade da Igreja. Gillis afirma que a Igreja erra em preocupar-se demasiadamente com o passado, ao mesmo tempo que no percebe as mudanas ocorridas ao redor. Para ele o problema da Igreja no est na questo do ser Igreja, mas no como ser Igreja aqui e agora. Conclui ser preciso uma remodelao das estruturas da Igreja para que seus membros no sejam submetidos a viver entre as paredes eclesisticas respirando uma realidade alheia ao mundo, sofrendo uma espcie de esquizofrenia histrica. certa e direta a relao entre a situao de desprestgio do ministrio da pregao e a crise de identidade da Igreja. Por isso que a pregao, biblicamente, a principal tarefa do pastor, justamente porque por ela, principalmente, o povo recebe palavras de vida, no somente de vida eterna, mas de vida abundante em meio sociedade. Quando pensamos na pregao desta maneira, somos motivados a lembrar de Lloyd-Jones, um entusiasta pelo ministrio da pregao. ... o pregador no est ali meramente para falar com eles, nem est ali a fim de divert-los. Ele se encontra ali - e quero ressaltar isto - para fazer algo em favor daquela gente; ele est ali para produzir resultados de vrias modalidades, ele est ali para influenciar pessoas. No lhe compete meramente influenciar uma parte delas; no lhe compete influenciar suas mentes, ou apenas suas emoes, ou meramente fazer presso sobre a vontade delas, induzindo-as a se lanarem a alguma atividade qualquer. Mas acha-se ali a fim de tratar da pessoa inteira; e sua pregao tem por intuito atingir a pessoa inteira, no prprio centro da vida. A pregao deveria efetuar uma diferena tal no indivduo que a ouve, que nunca mais ele fosse a mesma pessoa novamente. Noutras palavras, a pregao uma transao entre o pregador e o ouvinte. Realiza algo em prol da alma humana, em favor da pessoa inteira, do homem todo; trata dele de maneira vital e radical. Concordando com a centralidade da pregao no ministrio pastoral e de sua vitalidade sade do povo de Deus, entendemos no haver dvidas acerca da relao entre o tipo de pregao descaracterizado de fidelidade bblica mais aplicao relevante e os sintomas que marcam o Cristianismo dos nossos dias. Esta crise de identidade pela qual a Igreja passa diagnosticada por diversos autores. Um deles Ray Harms-Wiebe, num ensaio intitulado Estrutura Criativa, onde prope caminhos para a Igreja brasileira deste final de milnio. A Igreja crist, tanto catlica quanto protestante, est em crise. Ela j no desfruta mais da posio privilegiada que mantinha h cinquenta anos. Por isso precisa estudar novamente os relatos bblicos e redescobrir a razo da sua existncia. Esta crise requer uma anlise profunda por parte do Corpo de Cristo acerca do seu contexto scio-cultural. Este autor sugere que cada comunidade local deve se prostrar diante de Deus e pedir sua viso para cumprir um papel relevante dentro do momento histrico.

Sem esta viso, seremos uma Igreja destinada a morrer! Esta a concluso de J. Scott Horrel com relao Igreja tradicional e denominacionalista. Para ele a razo disto se deve s caractersticas que so marcantes nestas Igrejas: formas antiquadas, falta de criatividade, falta de penetrao junto populao circunvizinha, preguia espiritual, baixa tica moral e ignorncia das verdades bblicas. Obviamente, na medida em que a pregao falha e o crente deixa de reconhecer como ser crente no mundo atual, a consequncia mais bvia disso passa a ser a apostasia, o afastamento dos crentes das Igrejas tradicionalistas. Estes crentes ou migram para outras denominaes ou voltam-se para o mundo.

2.3 A Apostasia dos Membros da IgrejaO Pr. Joo Falco Sobrinho, num artigo propondo uma forma de atuao da Igreja para com seus excludos estima que para cada cem batistas brasileiros h quarenta e dois excludos. Ele d o exemplo de um bairro no Rio de Janeiro onde foi feito um levantamento e constatou-se que ali haviam mais batistas excludos do que membros da Igreja local. Segundo o manual de pr-evangelizao da Junta de Misses Nacionais da Conveno Batista Brasileira, em nossas Igrejas, em mdia, batizamos uma pessoa para cada dez que se convertem e chegamos a excluir 50% dos que batizamos. At que ponto esta apostasia tem a ver com a pregao que se faz na Igreja? Em 1986, num Congresso Nacional de Evangelizao e Misses, ocorrido no Rio de Janeiro, o Pr. Irland Pereira de Azevedo apresentou um estudo no qual alistou alguns dos motivos pelos quais igrejas esto morrendo, dentre estes a pretenso de trazer os homens Igreja antes de lhes falar de Cristo. Outro motivo apontado pelo ilustre pregador foi a pregao de um evangelho barato, antropocntrico e deslembrado da soberania e Senhorio de Cristo. Isto posto, inegvel que dentre outros fatores, a pregao estreitamente relacionada ao xodo que boa parte dos membros empreende das igrejas. Igrejas com bancos vazios no so, infelizmente, excees nos nossos dias. Uma explicao para a quantidade de bancos vazios numa Igreja encontrada no livro de Blackwood, onde transcreve um estudo do ingls Charles Morgan. O plpito deveria alimentar as ovelhas e no apenas divertir a assistncia. O que o ausente exige e deixa continuamente de achar, algo que o interesse e desafie na Igreja. O que mais o desaponta so os sermes - no como muitos pastores modestamente supem, por serem longos demais ou porque ofendem o ouvinte, mas pela razo oposta, por serem mesquinhos, por no irem bem ao fundo da questo e por serem conciliadores e tmidos demais... Quando o sermo comea, o que deseja ouvir... o pastor que, sem temor nem compromisso, relacione o seu assunto, qualquer que seja, com as verdades mais profundas do Cristianismo. Desta forma, parece-nos inegvel que dentre outras consequncias, a apostasia reflete o lugar descaracterizado que a pregao ocupa atualmente em nossas Igrejas e confirma a tese de que bancos vazios refletem plpitos descontextualizados. Vale lembrar ainda que boa parte dos apstatas termina por vincular-se a outras denominaes, geralmente neo-pentecostais. O abandono da Igreja visto por Martha Saint de Berberin como, em muitos casos, decorrncia da desnutrio espiritual a que os membros ficam expostos quando seus pastores no so eficientes no suprimento do alimento. Esta autora expe a necessidade de o pregador estar consciente da variedade de necessidades que envolve uma congregao para ento dedicar-se a supri-la com uma dieta balanceada por sermes com temas e objetivos variados, prticos e que toquem as vidas das pessoas com a Verdade de Deus.

Samuel Escobar, professor de Missiologia e Estudos Hispnicos no Eastern Baptist Theological Seminary, em Filadlfia, EUA, batista boliviano e ex-secretrio executivo da Aliana Bblica Universitria, escreveu um artigo em que respondeu questo do porque do crescimento dos protestantes na Amrica Latina. Segundo fontes citadas pelo autor, os evanglicos chegam a 12,5% da populao do continente. No difcil perceber que tal ndice de crescimento espelha principalmente a expanso das Igrejas Pentecostais e neo-Pentecostais nestas ltimas dcadas. A mobilizao dos leigos e a ativa participao popular nas tarefas da igreja, marcas caractersticas do pentecostalismo, so apontadas por Escobar. Outra caracterstica marcante dos pentecostais a adentrao que tais Igrejas tm junto populao marginalizada com uma proposta de auxlio s suas carncias, inclusive materiais que, para o autor, tambm explica este crescimento. Eles crescem porque tm conseguido atingir melhor os pobres emocionalmente e consol-los. Sendo assim, deduzimos que grande parte da migrao dos membros para denominaes pentecostais e neo-pentecostais explica-se pelo tipo de mensagem que recebem ali. No discutimos a legitimidade da mensagem pentecostal, no entanto, isto nos alerta para o fato de que esta mudana tambm consequncia da insensibilidade dos nossos plpitos para com essas mesmas necessidades. Se os mdicos de um hospital que tem todos os mecanismos de pesquisa e tratamento das enfermidades da populao no se dedicam a utilizar os melhores tratamentos para com os enfermos, estes desistem e vo em busca de outras alternativas. Nossos pregadores no tm identificado corretamente as doenas do povo de nossas Igrejas e, muitas vezes, lhes tm designado medicamentos incuos.

2.4 A Procura de Substitutos PregaoNo resta dvida que a Bblia nos ensina acerca da centralidade da pregao. O prprio Senhor Jesus dedicava-se pregao em seu ministrio: Ele porm lhes disse: necessrio que eu v tambm s outras cidades e anuncie o evangelho do Reino de Deus; porque para isso que fui enviado. E pregava nas sinagogas da Judia. (Lucas 4:44). Embora Jesus se destacasse pelo seu ensino e pelas curas que operava, a pregao ocupou lugar central em seu ministrio. O verbo grego kerusso, proclamar, anunciar como um arauto, aplicado a Jesus tanto no texto acima como em vrios outros: Foi Jesus para a Galilia pregando o Evangelho de Deus (Marcos 1:14), E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino... (Mateus 9:35). Na Bblia tambm aprendemos que Jesus transmitiu esta mesma prioridade aos seus discpulos. O captulo 3 do Evangelho de Marcos nos descreve que Jesus, depois de orar, chamou a si os que Ele mesmo queria e que, vindo a Ele, designou doze para que estivessem com Ele, e os mandasse pregar... (v. 13 a 15). Em Lucas 9:2 novamente encontramos que Jesus enviou seus discpulos a pregar. Que tal prioridade foi abraada pela Igreja apostlica, o livro de Atos no nos deixa dvidas. Que a pregao era vista como prioridade pelo apstolo Paulo, suas cartas bem podem atestar. Em II Timteo 4:2 o apstolo transmite ao seu filho uma recomendao que bem atesta o que na sua opinio era prioridade no ministrio pastoral: Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino. Num artigo publicado em O Jornal Batista, Fausto Aguiar Vasconcelos referiu-se ao clebre Pr. Rbens Lopes e a uma frase de sua autoria: O plpito o apogeu do ministrio pastoral. Concordando com esta opinio, o articulista enaltece a oportunidade que o pregador tem dominicalmente de ministrar a Palavra de Deus ao seu rebanho e a responsabilidade que isto confere ao pregador. O mesmo afirma que, diante de tamanha responsabilidade, o pastor no deve afastar-se de seu plpito, a no ser excepcionalmente, justamente porque o plpito a maior arma do pastor.

Esta mesma opinio defendida por Lloyd-Jones na obra que resultado de suas prelees proferidas aos estudantes do Seminrio Teolgico Westminster, durante seis semanas, em 1969, com o tema A Pregao e os Pregadores. Para ele a pregao, alm de ser tarefa primordial da Igreja, a salvao para restabelecer o papel da Igreja no mundo. Ele acreditava que se houver pregao nos moldes corretos as pessoas viro para ouvi-la, pois a pregao sempre atrai pessoas. Deus continua sendo o mesmo, e o homem continua sendo o mesmo... Ele honrar este mtodo. Esse o mtodo atravs do qual as igrejas sempre vieram existncia. Este mesmo autor comenta acerca dos substitutos da pregao no culto, chamados existncia pelo declnio na importncia da pregao. O autor nota uma incrementao do elemento de entretenimento no culto pblico. Este elemento de entretenimento pode relacionar-se a muitas prticas adotadas pelas Igrejas modernas e que visam simplesmente satisfazer o povo. No que haja erro em satisfazer o povo, afinal estamos tratando justamente da necessidade de a pregao atentar para as reais necessidades do povo. Acontece que o tal entretenimento que, consequentemente ocupa o lugar deixado pela pregao, no d ao povo o que este precisa, mas o que o povo gosta. Esta a questo: a pregao insubstituvel. Outros elementos do culto podem auxiliar a pregao, mas no substitu-la. Nos nossos dias j normal que Igrejas tenham longos momentos de cnticos alegres e juvenis, com suas melodias simples e de fcil aprendizado. Muitas vezes estes cnticos pouco tm a ensinar devido simplicidade de suas letras que, nem sempre, so elaboradas seguindo preceitos doutrinrios corretos. Testemunhos de bnos alcanadas, perodos de intercesso, dentre outras prticas, tm feito parte da liturgia de nmero crescente de nossas Igrejas. Tais coisas no so perniciosas em si, porm, atentamos para que sua utilizao acentua-se na medida em que a pregao torna-se insatisfatria. Alis, vale ressaltar que no meio evanglico nacional coisas espantosas se tem feito. H expulses de demnios esdrxulos, como o da obesidade, da caspa, da bronquite e da asma. Num artigo publicado na revista Ultimato, Marcos Roberto Inhauser, telogo menonita, refere-se a uma igreja carioca onde plantou-se arruda em frente ao templo para impedir a entrada de demnios. Noutra, segundo o autor, os membros so orientados a vir com um galho de arruda na orelha para impedir que Satans atrapalhe na hora de ouvir a mensagem. Inhauser comenta tambm acerca de uma igreja em Campinas que vendeu folhas da Bblia do plpito e orientou os compradores a com-las para que tivessem a Palavra de Deus por dentro. Ainda sobre as tendncias de se substituir a pregao por elementos de entretenimento no culto, Inhauser observa: A exposio sria da Palavra tem cedido lugar aos testemunhos. O louvor praticado em algumas igrejas fala mais de guerra, pisar os inimigos, destruir os adversrios, que em voltar a outra face a quem lhe bate em uma, andar a segunda milha e amar os inimigos. Fala-se de guerra e no se menciona que bem aventurados so os pacificadores. Fala-se de converso sem dar nfase ao discipulado radical. Fala-se do espiritual sem falar do amor ao prximo na sua necessidade material. Estes elementos de entretenimento realados nos cultos contemporneos em muitas Igrejas, mesmo batistas, at funcionam como catalizador do povo, sobretudo a juventude. O problema est na insuficincia da mensagem pregada pois, como afirma o autor acima, h cnticos populares que contm ensinos incompletos ou at antagnicos ao modelo bblico. Ultimamente muito se tem comentado acerca do espantoso crescimento da Igreja Universal do Reino de Deus que, em cerca de dezessete anos arrebanhou, segundo a Revista Veja, 3,5 milhes de fiis e j se espalhou por 34 pases. Em nmero de fiis s perde para a Igreja Assemblia de Deus; no entanto a nica a possuir uma rede de televiso, com 47 emissoras, um banco, uma gravadora e mais de uma dezena de emissoras de rdio.

Citamos estes dados para exemplificar como, com elementos que no a pregao na sua concepo puramente bblica, pode-se arrebanhar multides.. Um de seus ex-bispos, de nome Srgio Von Helde, protagonista de uma grande polmica em virtude de ter agredido diante de cmaras de televiso uma imagem da santa catlica, Aparecida, em entrevista publicada pela mesma revista, demonstrou ser uma pessoa iletrada, que no l nada alm da Bblia, nem jornais, e que nunca leu um livro na vida que no fosse a Bblia. Esta facilidade de as Igrejas crescerem atravs de outros recursos que no a prioridade da pregao observada tambm no contexto da Igreja norte americana. Warren Wiersbe reconhece esta tendncia pelo entretenimento. Para ele o principal substituto verdadeira pregao o desejo de que a Igreja receba a aprovao do mundo em geral e das pessoas importantes, em particular. Ele afirma que a Igreja de seu pas trocou a aprovao de Deus pelos aplausos dos homens. Em busca destes aplausos tanto a pregao como tudo mais que constituem o culto se tornaram em mero entretenimento para o pblico cristo. Nesta crtica o autor ressalta tambm o que chama de culto personalidade, uma tendncia de valorizar pessoas e ministrios centrados em lderes carismticos. Assim, os tidos elementos de entretenimento se constituem no meio mais fcil de se arrebanhar pessoas. Ressaltamos ainda que a prpria pregao pode se constituir num destes elementos, na medida que se proponha a simplesmente preencher um espao dentro de uma estratgia. Entendemos, portanto, que nossos dias so marcados pelo crescente desprestgio da pregao, isto refletindo-se no acentuamento de uma crise de identidade. A relao entre a pregao sem relevncia e a insalubridade da vida crist do povo incontestvel. Observamos ainda que a falta de crescimento de nossas Igrejas sintoma do lugar ocupado pela pregao nos nossos dias e que a mxima plpito incuo, bancos vazios explica, ao menos em parte, o esvaziamento de muitos templos. Uma tentativa de impedir a apostasia, que no pelo tradicional mtodo da pregao contextualizada, a implementao do que chamamos elementos de entretenimento. Acreditamos que os demais elementos do culto precisam contextualizar-se cultura dos adoradores a fim de torn-los mais que simples assistentes nos cultos. Entretanto, verificamos que o desafio maior dos pregadores restaurar o prestgio da pregao nos nossos dias. No prximo captulo indicamos os primeiros passos nesta direo.

a) DEFINIO: o estudo dos fundamentos e princpios de como preparar e proferir sermes. a cincia cuja arte a pregao e cujo resultado o sermo. a arte do preparo e pregao de sermes. b) O CAMPO DA HOMILTICA: O estudo e pesquisa necessrias para que os sermes tenham contedos bblico e contemporneo. A arte da organizao das idias que sero apresentadas. A arte do uso do idioma. A arte da apresentao do sermo. c) A PREGAO BBLICA: Phillips Brooks: a apresentao da verdade atravs da personalidade; a comunicao da verdade aos homens mediante o homem. G. Campbell Morgan: a proclamao da graa de Deus, sob a autoridade do trono de Deus, visando atender as necessidades humanas. Andrew W. Blackwood: a verdade de Deus apresentada por uma personalidade escolhida, para ir ao encontro das necessidades humanas. Bernard Manning: uma manifestao do Verbo Encarnado desde o Verbo escrito e por meio do verbo falado. Jesse C. Northcutt: a proclamao pblica da verdade divina baseada nas Escrituras, por uma personalidade escolhida, com o propsito de satisfazer as necessidades humanas. Haddon W. Robinson: A pregao expositiva a comunicao de um conceito bblico, derivado de e transmitido atravs de um estudo histrico, gramatical e literrio de uma passagem no seu contexto, que o Esprito Santo primeiramente aplica personalidade e experincia do pregador e depois, atravs dele, aos seus ouvintes. Jerry Key: a fiel exposio do sentido correto de um ou mais textos da Bblia, ilustrando a exposio e aplicando-a vida dos ouvintes, envolvendo-os de tal maneira que so satisfeitas as suas necessidades, sendo que esta comunicao feita por uma pessoa com experincia real com Cristo e guiada pelo Esprito Santo.

Uma anlise das caractersticas dos grandes pregadores e seus sermes

Dr. Jerry Stanley Key

1. Os grandes pregadores em qualquer poca levam muito a srio a chamada de Deus para pregar a Boa Nova. Reconhecem que so porta-vozes de Deus e devem a Ele sua lealdade e obedincia. (I Cor 9:6 e Jr 20:9) 2. Eles entendem que a pregao a atividade mais importante do seu ministrio. O preparo e pregao de sermes uma prioridade em suas vidas. 3. Eles so evangelistas fervorosos e tm f que Deus vai us-los na converso de pessoas sem Cristo. 4. So ntegros e autnticos, e a pregao no somente o que fazem, mas antes o que so. Tm a confiana do povo, de que so "homens de Deus". 5. Eles continuam a crescer e a ter experincias novas com Deus. 6. Os grandes pregadores so caracterizados pela sua f, entusiasmo e gozo em Cristo. 7. Eles procuram se identificar com o povo, amam o povo e em seus sermes procuram satisfazer as necessidades do povo. 8. O estudo dos grandes pregadores demonstra como eles gostam de pregar, e como aproveitam todas as oportunidades possveis para anunciar a Palavra. 9. So estudantes da Palavra de Deus, com o desejo insacivel de ler e juntar informaes e idias sobre os textos escolhidos para seus sermes. Eles tm certeza de que a Bblia a Palavra de Deus. 10. Os grandes pregadores de todas as pocas pregam com idias lgicas e simples. 11. Usam de imaginao, criatividade e humor. Sempre esto procurando idias e ilustraes para sermes. 12. Suas mensagens no so tericas e abstratas, somente com fatos e detalhes do texto bblico. Pregam mensagens prticas, aplicveis vida dos ouvintes. Envolvem o povo em suas mensagens, com aplicaes objetivas, prticas, pessoais e dinmicas. 13. Utilizam suas prprias personalidades e desenvolvem seus prprios mtodos de proferir sermes. No imitam os outros, mas deixam uma marca distinta em seus ministrios de plpito. 14. So interessados na tcnica da comunicao, no uso da voz, na gesticulao e em toda a arte da comunicao com o corpo. 15. Do muita nfase boa msica nos cultos. 16. A maioria dos grandes pregadores em todas as pocas so escritores. Blackwood ensina que se quiser pregar bem, voc deve desenvolver a arte da palavra escrita, aprendendo a colocar suas idias no papel. A arte de escrever envolve disciplina, preciso de idias, aumento do poder descritivo, capacidade de auto-crtica, ateno a detalhes da gramtica, concordncia, etc. Mas os sermes escritos no devem ser lidos.

Doze regras para um bom sermo1. Prepare bem o seu sermo, decida fazer o melhor. 2. Tente achar uma boa introduo: adequada, criativa, interessante. 3. Formule para voc mesmo o objetivo do sermo: tenha certeza da direo que precisa apontar aos ouvintes. 4. Afaste tudo que poderia desviar os pensamentos dos seus ouvintes para uma trilha secundria. 5. Organize sua mensagem: tome todas as precaues para no ficar repetitivo, inseguro, perdido em meio s idias. 6. Use uma linguagem viva e simples. 7. Use ilustraes e exemplos prticos em quantidade suficiente. 8. Diga eu. No adquira o hbito de referir-se a voc como ns, isto j est totalmente ultrapassado. 9. Seja voc mesmo. No queira imitar outros pregadores. 10. Mostre humildade e apreo pelos ouvintes. 11. Fale ao corao dos seus ouvintes. 12. Sempre d aos ouvintes algo que eles possam colocar em prtica.

MARTINHO LUTERO (1483-1546)Era um destacado monge agostiniano, doutor em teologia e pregador na cidade de Wittemberg, quando ocorreu uma grande transformao em sua vida. Ele mesmo contou: Desejando ardentemente compreender as palavras de Paulo, comecei o estudo da Epstola aos Romanos. Porm, logo no primeiro captulo consta que a justia de Deus se revela no Evangelho (vs 16 e 17). Eu detestava as palavras a justia de Deus, porque conforme fui ensinado, eu a considerava como um atributo do Deus santo que o leva a castigar os pecadores. Apesar de viver irrepreensivelmente, como monge, a conscincia perturbada me mostrava que era pecador perante Deus. Assim odiava a um Deus justo, que castiga os pecadores... Senti-me ferido de conscincia, revoltado intimamente, contudo voltava sempre ao mesmo versculo, porque queria saber o que Paulo ensinava. Contudo, depois de meditar sobre esse ponto durante muitos dias e noites, Deus, na sua graa, me mostrou a palavra o justo viver da f. Vi ento que a justia de Deus, nessa passagem, a justia que o homem piedoso recebe de Deus pela f, como ddiva. Ento me achei recm nascido e no Paraso. Todas as Escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para

ver tudo quanto ensinam sobre a justia de Deus. Antes, estas palavras eram-me detestveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como a porta do Paraso. Em outubro de 1517, Lutero afixou porta da Igreja do Castelo de Wittemberg as 95 teses, o teor das quais que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e no a penitncia. Lutero afixou as teses para um debate pblico, na porta da igreja, como era costume nesse tempo. Estas teses, escritas em latim, foram logo traduzidas para o alemo, holands e espanhol. Logo, estavam na Itlia, fazendo estremecer os alicerces de Roma. Foi desse ato de afixar as 95 teses que nasceu a Reforma. Um ano depois de afixar as teses, Lutero era o homem mais popular em toda a Alemanha. Quando a bula de excomunho, enviada pelo Papa, chegou a Wittemberg, Lutero respondeu com um tratado dirigido ao Papa Leo X, exortando-o, no nome do Senhor, a que se arrependesse. A bula do Papa foi queimada fora do muro da cidade de Wittemberg, perante grande ajuntamento do povo. Lutera era um erudito em hebraico e grego, o que facilitou sua grande obra, a traduo da Bblia para o alemo. Ele mesmo escreveu para o seu povo: Jamais em todo o mundo se escreveu um livro mais fcil de compreender do que a Bblia. Comparada aos outros livros, como o sol em contraste com todas as demais luzes. No vos deixeis levar a abandona-la sob qualquer pretexto. Se vos afastardes dela por um momento, tudo estar perdido; podem levar-vos para onde quer que desejam. Se permanecerdes com as Escrituras, sereis vitoriosos. Depois de abandonar o hbito de monge, Lutero resolveu deixar por completo a vida monstica, casando-se com Catarina von Bora, freira que tambm sara do claustro, e geraram seis filhos.

JONATHAN EDWARDS (1703-1758)Grande pregador dos EUA, ingressou no ministrio em 1726. Seu primeiro pastorado foi em Northampton, Massachusetts, onde serviu at 1750. Foi contemporneo e atuante num grande despertamento espiritual e tido por alguns como o maior telogo da Amrica do Norte. Era pregador excelente, com clebres sermes publicados: Deus Glorificado na Dependncia do Homem (1731), Uma Luz Divina e Sobrenatural (1733) e o mais famoso, Pecadores nas Mos de um Deus Irado (1741). Sobre o sermo mais famoso, baseou-se em Deuteronmio 32:35. Depois de explicar a passagem, acrescentou que nada evitava que os pecadores cassem no inferno, a no ser a prpria vontade de Deus. Afirmou que Deus estava mais encolerizado com alguns dos ouvintes do que com muitas pessoas que j estavam no inferno. Disse que o pecado era como um fogo encerrado dentro do pecador e pronto, com a permisso de Deus, a transformar-se em fornalhas de fogo e enxofre, e que somente a vontade de Deus indignado os guardava da morte instantnea. Continuou, ento, aplicando ao texto ao auditrio: A est o inferno com a boca aberta. No existe coisa alguma sobre a qual vs vos possais firmar e segurar... h, atualmente, nuvens negras da ira de Deus pairando sobre vossas cabeas, predizendo tempestades espantosas, com grandes troves. Se no existisse a vontade soberana de Deus, que a nica coisa para evitar o mpeto do vento at agora, sereis destrudos e vos tornareis como a palha da eira... O Deus que vos segura na mo, sobre o abismo do inferno, mais ou menos como o homem segura uma aranha ou outro inseto nojento sobre o fogo, durante um momento, para deixa-lo cair depois, est sendo provocado ao extremo... No h que admirar, se alguns de vs com sade e calmamente sentados a nos bancos, passarem para l antes de amanh... O sermo foi interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres; quase todos ficaram de p ou cados no cho. Durante a noite inteira a cidade de Enfield ficou como uma fortaleza sitiada. Teve incio um dos maiores avivamentos dos tempos modernos na Nova Inglaterra.

JOHN WESLEY (1703-1791)Foi um instrumento poderoso nas mos de Deus para um grande avivamento no sculo XVIII. Nascido em Epworth, Inglaterra, numa famlia de dezenove irmos! Em 1735 foi para a Gergia como missionrio aos ndios norte-americanos, no chegando a ministrar aos ndios, mas sim aos colonos na Gergia. Durante uma tempestade na travessia do Oceano Atlntico, Wesley ficou profundamente impressionado com um grupo de morvios a bordo do navio. A f que tinham diante do risco da morte (o medo de morrer acompanhava Wesley constantemente durante a sua juventude) predisps Wesley f evanglica dos morvios. Retornou Inglaterra em 1738. Numa reunio de um grupo morvio na rua Aldersgate, em 24 de maio de 1738, ao escutar uma leitura tirada do prefcio de Lutero ao seu comentrio de Romanos, Wesley sentiu seu corao aquecido de modo estranho. Embora os estudiosos discordem entre si quanto natureza exata dessa experincia, nada dentro de Wesley ficou sem ser tocado pela f que acabara de receber. Depois de uma viagem rpida para a Alemanha para visitar a povoao moravia de Herrnhut, voltou para a Inglaterra e, juntamente com George Whitefield, comeou a pregar a salvao pela f. Essa nova doutrina era considerada redundante pelos sacramentalistas da Igreja Oficial que achavam que as pessoas j eram suficientemente salvas em virtude de seu batismo na infncia. Em 1739, John Wesley foi a Bristol, onde surgiu um reavivamento entre os mineiros de carvo em Kingswood. O reavivamento continuou sob a liderana direta dele durante mais de cinqenta anos. Viajou cerca de 400.000 km, por todas as partes da Inglaterra, Esccia, Pas de Gales e Irlanda, pregando cerca de 40.000 sermes. Sua influncia se estendeu Amrica do Norte. O metodismo veio a tornar-se uma denominao aps a morte de Wesley.

CHARLES FINNEY (1792-1875)Nasceu de uma famlia descrente e se criou num lugar onde os membros da igreja conheciam apenas a formalidade fria dos cultos. Tornou-se um advogado que, ao encontrar nos seus livros de jurisprudncia muitas citaes da Bblia, comprou ume exemplar com a inteno de conhecer as Escrituras. Eis um trecho de sua biografia: Ao ler a Bblia, ao assistir s reunies de orao, e ouvir os sermes do senhor Gal, percebi que no me achava pronto a entrar nos cus... Fiquei impressionado especialmente com o fato de as oraes dos crentes, semana aps semana, no serem respondidas. Li na Bblia pedi e dar-se-vos-. Li, tambm, que Deus mais pronto a dar o Esprito Santo aos que lho pedirem, do que os pais terrestres a darem boas coisas aos filhos. Ouvia os crentes pedirem um derramamento do Esprito Santo e confessarem, depois, que no o receberam. Exortavam uns aos outros a se despertarem para pedir, em orao, um derramamento do Esprito de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento com a converso de pecadores... Foi num domingo de 1821 que assentei no corao resolver o problema sobre a salvao da minha alma e ter paz com Deus. (...) Fui vencido pela convico do grande pecado de eu envergonhar-me se algum me encontrasse de joelhos perante Deus, e bradei em alta voz que no abandonaria o lugar, nem que todos os homens da terra e todos os demnios do inferno me cercassem. O pecado parecia-me horrendo, infinito. Fiquei quebrantado at o p perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me iluminou: Ento me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso corao. A converso de Finney e o seu imediato batismo no Esprito Santo, contados em sua biografia, so impressionantes. O amor a Deus, a fome de sua Palavra, a uno para testemunhar e anunciar do Evangelho vieram sobre ele no dia de sua entrega a Jesus. Imediatamente, o advogado perdeu todo o gosto pela sua profisso e tornou-se um dos mais famosos pregadores do Evangelho.

Eis o segredo dos grandes pregadores, nas palavras do prprio Finney: Os meios empregados eram simplesmente pregao, cultos de orao, muita orao em secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instruo dos interessados. Eu tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, s vezes, orava realmente sem cessar. Achei, tambm, grande proveito em observar freqentemente dias inteiros de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro do templo. Conta-se acerca deste pregador que depois de ele preg