a importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da...

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UNISAL Daniela da Silva Paula A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual Lorena 2012

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As crianças com deficiência intelectual têm dificuldades graves tanto para aprender quanto de caráter geral, e isso requer o ajuste da educação e a adequação do currículo à medida e à necessidade de cada um. Quando as dificuldades não são muito grandes, os ajustes em metodologia, atividades e materiais e os agrupamentos flexíveis são suficientes para responder às necessidades dos alunos. Até aqui, basta adequar o currículo e conduzi-lo a seu último nível de concretização, o individual. Quando as dificuldades são gerais e permanentes, porém, é preciso fazer adaptações mais profundas, com uma variação significativa em relação aos modelos mais comuns de individualização do currículo e requerer recursos e apoios especializados. Nessa perspectiva, pretende-se com esse trabalho apresentar o conceito de deficiência mental ou intelectual, a evolução da educação das crianças com deficiência intelectual ao longo da história, a organização curricular e os objetivos educacionais para alunos com deficiência intelectual inclusos nas escolas regulares, bem como o trabalho de avaliação, intervenção e apoio às necessidades educativas especiais desses alunos, por meio de um programa educativo e psicopedagógico.

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Page 1: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

UNISAL

Daniela da Silva Paula

A importância da prática educativa e psicopedagógica no

processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

Lorena

2012

Page 2: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

UNISAL

Daniela da Silva Paula

A importância da prática educativa e psicopedagógica no

processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

Lorena

2012

Monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção de título de especialista em Psicopedagogia e Psicomotricidade no Curso de Especialização “Lato Sensu” do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Lorena, sob a orientação da Profª Ms Renata Izabel Mariconi Ferro.

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Paula, Daniela da Silva. P281i A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual. – Lorena:

UNISAL, 2011. 77 f. Monografia (Pós-graduação em Psicopedagogia e Psicomotricidade). Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Orientadora: Profª Ms Renata Izabel Mariconi Ferro. Inclui Bibliografia.

1.Deficiência mental. 2. Deficiência Intelectual. 3. Necessidades educativas especiais. 4. Avaliação e intervenção escolar e psicopedagógica. I. Ferro, Renata Izabel Mariconi. II. Centro Universitário Salesiano de São Paulo. III. Título.

CDU – 371.92

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RESUMO

As crianças com deficiência intelectual têm dificuldades graves tanto

para aprender quanto de caráter geral, e isso requer o ajuste da educação e a

adequação do currículo à medida e à necessidade de cada um. Quando as

dificuldades não são muito grandes, os ajustes em metodologia, atividades e

materiais e os agrupamentos flexíveis são suficientes para responder às

necessidades dos alunos. Até aqui, basta adequar o currículo e conduzi-lo a

seu último nível de concretização, o individual. Quando as dificuldades são

gerais e permanentes, porém, é preciso fazer adaptações mais profundas, com

uma variação significativa em relação aos modelos mais comuns de

individualização do currículo e requerer recursos e apoios especializados.

Nessa perspectiva, pretende-se com esse trabalho apresentar o conceito

de deficiência mental ou intelectual, a evolução da educação das crianças com

deficiência intelectual ao longo da história, a organização curricular e os

objetivos educacionais para alunos com deficiência intelectual inclusos nas

escolas regulares, bem como o trabalho de avaliação, intervenção e apoio às

necessidades educativas especiais desses alunos, por meio de um programa

educativo e psicopedagógico.

Palavras chaves: Deficiência mental. Deficiência Intelectual. Necessidades

educativas especiais. Avaliação e intervenção escolar e psicopedagógica.

Page 5: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

ABSTRACT

Children with intellectual disabilities have serious difficulties both to

learn about the general character, and this requires the adjustment of

education and the adequacy of the curriculum and as the needs of

each one. When difficulties are not too large, the adjustments

in methodology, activities and materials and groupings are flexible enough

to meet the needs of students. So far, just adjust the curriculum and lead it to

its ultimate level of achievement, the individual. When difficulties are general

and permanent, but you have to make deeper changes, with significant

variation in relation to the most common models of individualized curriculum

and require specialized resources and support.

From this perspective, it is intended with this work present the concept

of mental or intellectual, the evolution of the education of children with

intellectual disabilitiesth roughout history, the curriculum and educational

goals for students with intellectual disabilities included in regular schools as

well as the work ofassessment, intervention and support for special educational

needs of these students through a program of education and psychology.

Keywords: Mental retardation. Intellectual Disability. Special educational

needs. Assessment and intervention school and psychoeducational.

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SUMÁRIO

1. JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 8

2. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9

3. OBJETIVOS ................................................................................................. 11

4. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ..................................................................... 12

4.1 Definindo a deficiência intelectual ........................................................... 12

4.2 Características cognitivas ........................................................................ 15

4.3 Incidência e diagnóstico .......................................................................... 18

4.4 Prevenção ............................................................................................... 21

4.5 – Avaliação .............................................................................................. 22

5 . EDUCABILIDADE DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ..... 26

5.1 – Necessidades educativas especiais ..................................................... 26

5.2 – Adaptações curriculares ....................................................................... 33

5.3 – Papel da escola e do professor no trabalho com alunos com deficiência

intelectual ...................................................................................................... 37

6. O PROCESSO DE AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICAS

NO PROCESSO EDUCATIVO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA

INTELECTUAL ................................................................................................. 43

6.1 – A avaliação psicopedagógica ............................................................... 43

6.2 – Trajetória escolar e acompanhamento psicopedagógico ...................... 45

6.3 – Princípios básicos de intervenção escolar e psicopedagógica ............. 53

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 59

Page 7: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

ANEXO A ......................................................................................................... 62

ANEXO B ......................................................................................................... 73

ANEXO C ......................................................................................................... 75

ANEXO D ......................................................................................................... 77

Page 8: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

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1. JUSTIFICATIVA

A deficiência mental atualmente denominada de deficiência intelectual

constitui uma condição permanente, embora não imutável. Por isso, é correto

incluir a deficiência intelectual entre as necessidades educativas especiais de

caráter permanente, ainda que o desafio do educador consista justamente em

tratar de mudar para melhor o grau da capacidade deficiente do educando.

Nessa perspectiva, compreender como o aluno deficiente intelectual

aprende e os estímulos favorecedores de sua aprendizagem – suas

possibilidades – torna-se um aspecto fundamental à avaliação e intervenção

psicopedagógica e educativa.

Espera-se com este trabalho, viabilizar informações relevantes acerca

da criança deficiente intelectual, contribuindo assim para uma atuação

consciente e eficaz por parte dos profissionais que a atendem.

Os dados levantados serão relevantes para debates acadêmicos e

científicos.

Page 9: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

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2. INTRODUÇÃO

O presente trabalho organiza-se em três partes, partindo-se de uma

abordagem histórica e a seguir social e pedagógica, além de uma abordagem

progressivamente mais relacionada com a prática psicopedagógica.

Assim como ocorreu em campos do comportamento humano, tudo o que

diz respeito à deficiência intelectual, à sua realidade e ao seu tratamento sofreu

modificações profundas quanto a conceito, análise e atenção prática, como

salienta a literatura nessa área.

Segundo Fierro,

o que hoje se entende como deficiência mental foi identificada e conhecida no passado, mas apenas passou a ser objeto de atenção médica e pedagógica e de estudo científico a partir do final do século XVIII. Educadores e pedagogos incumbiram-se, desde então, da deficiência mental. (COLL, MARCHESI, PALÁCIOS E COLS, 2004, p. 193).

Na esfera educacional, a conceitualização e caracterização da

deficiência intelectual vêm sendo analisadas ao longo dos anos,

proporcionando a pesquisadores e estudiosos da área uma crescente

discussão acerca de como atender as necessidades dessa demanda.

Para Batista e Mantoan (2006), a deficiência mental desafia a escola

comum no seu objetivo de ensinar, de levar o aluno a aprender o conteúdo

curricular, construindo o conhecimento. O aluno com essa deficiência tem uma

maneira própria de lidar com o saber, que não corresponde ao que a escola

preconiza. Na verdade, não corresponder ao esperado pela escola pode

acontecer com todo e qualquer aluno, mas os alunos com deficiência mental

denunciam a impossibilidade de a escola atingir esse objetivo, de forma tácita.

O aluno com deficiência mental tem dificuldade de construir

conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva,

principalmente nas escolas que mantêm um modelo conservador de ensino e

uma gestão autoritária e centralizadora. Essas escolas apenas acentuam a

deficiência, aumentam a inibição, reforçam os sintomas existentes e agravam

as dificuldades do aluno com deficiência mental, afirmam Batista e Mantoan

(2006).

Considerando esse enfoque, o presente estudo tem como questão

norteadora de sua pesquisa, a seguinte interrogação: Como desenvolver uma

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prática educativa e psicopedagógica que favoreça o aprendizado de crianças

com deficiência intelectual?

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3. OBJETIVOS

Objetivo Geral

Contribuir para o enriquecimento do trabalho educativo e

psicopedagógico com crianças que apresentam deficiência intelectual.

Objetivo Específico

Apresentar possibilidades e recursos que viabilizem o desenvolvimento

educacional da criança com deficiência intelectual, em um olhar educativo e

psicopedagógico.

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4. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

4.1 Definindo a deficiência intelectual

A definição formal da deficiência intelectual passou por várias

modificações, no decorrer da história, à medida que novos conhecimentos

foram sendo produzidos pelas ciências e também, que se foram fortalecendo

as ideias relativas aos direitos humanos das minorias, o que implicou na

clarificação de fatores sociais que determinam uma maior ou menor

funcionalidade da pessoa.

As primeiras menções à deficiência intelectual não chegam a serem

definições claras e objetivas, mas de alguma forma mostram como esta era

concebida. Na obra de Pessotti (1984), denominada “Deficiência Mental: da

superstição à ciência”, tem-se uma brilhante exposição, de agradável leitura,

sobre a caminhada epistemológica percorrida pelas ideias sobre a deficiência

mental.

Estaremos aqui apresentando somente a síntese das que consideramos

as principais.

Algumas das expressões utilizadas para designar pessoas que

apresentavam comportamentos bizarros, eram: “les enfants du bon Dieu” (as

crianças do bom Deus), idiotas, cretinos, imbecis. Surgidos na Idade Média,

estes termos ganhavam significados diferentes, em função das variações do

pensar teológico em vigor no contexto onde eram empregados.

Para alguns, as pessoas a quem assim se referia, eram pessoas eleitas

de Deus; para outros, uma espécie de expiadoras das culpas alheias; para

outros ainda, pessoas aplacadoras da cólera divina, a receber, em lugar da

aldeia, a vingança e o castigo celestes. Também para alguns, eram tidas como

pessoas possuídas pelo demônio, ou mesmo a própria besta demoníaca.

Cada concepção determinava a prática de relações da sociedade com

essas pessoas. Assim, tanto se encontrava quem as acolhesse com caridade

(garantindo teto e alimentação), como quem praticasse o exorcismo (com

flagelações, torturas), e o castigo (queima na fogueira, afogamento).

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No século XVII, Thomas Willis (1621-1675) escreveu (in PESSOTTI, 1984,

p. 18):

“A idiotia e a estupidez dependem de uma falta de julgamento e de inteligência, que não corresponde ao pensamento racional real: o cérebro é a sede da enfermidade, que consiste numa ausência de imaginação e memória, cuja sede está no cérebro. A imaginação, localizada no corpo caloso, ou substância branca; e a memória, na substância cortical. Assim, se a imbecilidade ou a estupidez aparecem, a causa reside na região cerebral envolvida, ou nos espíritos animais, ou em ambos”.

No século XX, o conjunto de definições da deficiência mental mais

sistematizado e organizado foi o produzido pela Associação Americana de

Retardo Mental (AAMR, 2002).

Também marcadas pela ideia da incurabilidade, até meados do século,

elas assim evoluíram:

“Um estado de defeito mental, desde o nascimento ou primeiros anos de vida, devido a um desenvolvimento incompleto do cérebro, em cuja conseqüência a pessoa afetada torna-se incapaz de desempenhar seus deveres como um membro da sociedade, na posição de vida na qual ela nasceu.” (TREDGOLD,1908, p.58)

“Deficiência mental é um estado de desenvolvimento mental incompleto, de tal tipo e grau, que o indivíduo torna-se incapaz de adaptar-se ao ambiente normal de seus companheiros, de forma a manter uma existência independente de supervisão, controle, ou apoio externo.” (TREDGOLD,1937, p.223)

“Um estado de incompetência social alcançado na maturidade, ou provável de se alcançar na maturidade, resultante de um defeito no desenvolvimento, de origem constitucional (hereditário, ou adquirido); a condição é essencialmente incurável através de tratamento, e irremediável através de treinamento.”(DOLL,1962, p.63)

“O retardo mental se refere ao funcionamento intelectual geral inferior à média, que se origina durante o período de desenvolvimento, e encontra-se associado a atrasos em uma ou mais das seguintes áreas: (1) maturação, (2) aprendizagem, (3) ajustamento social.” (HEBER, 1959 p.91)

“Retardo mental se refere a um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, co-existindo com déficits no comportamento adaptativo, e manifestado durante o período de desenvolvimento.” (GROSSMAN, 1973, p.103)

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Tomando-se o conjunto de definições aqui apresentadas, pode-se

constatar que o olhar sobre a deficiência intelectual modificou-se radicalmente,

no decorrer do tempo.

Da suposição de ser um problema espiritual, metafísico, passou a ser

vista como uma doença incurável, e à falta de ensino e estimulação.

As definições de 1992 e 2002 impuseram mudanças radicais e de grande

importância para o trato da deficiência intelectual. Primeiramente, a importância

de se voltar o olhar para o funcionamento presente da pessoa e em segundo

lugar, o atrelamento do diagnóstico dessa deficiência às oportunidades

disponíveis de suportes, na comunidade, a serem disponibilizados para a

pessoa.

Dificilmente se poderá obter uma definição pontual para a deficiência

intelectual, bem como a concordância universal em torno de qualquer definição,

já que a variedade de topografia é bastante diversificada.

“Entretanto, parece haver consenso quanto às seguintes características definidoras:

O retardo mental é uma deficiência caracterizada por limitações significativas no funcionamento cotidiano, que estão presentes desde o início da vida, instalando-se antes da idade de 18 anos. Comportamento adaptativo é um conjunto de habilidades conceituais, sociais e práticas, que são aprendidas pelas pessoas, para funcionar em suas vidas cotidianas. Sua avaliação deve focalizar o desempenho de um indivíduo em suas rotinas diárias e nas circunstâncias diversificadas em que vive, ao invés de buscar identificar seu desempenho máximo. Embora longe de ser perfeito, a habilidade intelectual ainda é melhor representada pelo QI, quando obtido através de instrumentos apropriados de avaliação, ministrados e interpretados com precisão. O critério para o diagnóstico é aproximadamente dois desvios-padrão abaixo da média, considerando a medida padrão de erro para o instrumento específico de medida utilizado, bem como seus pontos fortes e suas fragilidades. Sistemas de classificação múltipla devem ser utilizados para atender às necessidades diversificadas dos indivíduos e de suas famílias, pesquisadores, clínicos e práticos. Tais sistemas podem se fundamentar, por exemplo, na intensidade dos suportes que se mostram necessários, na etiologia, nos níveis de inteligência medidos, ou nos níveis de comportamento adaptativo avaliados. As funções ou razões para se aplicar uma definição de retardo mental a um indivíduo são múltiplas e podem incluir: diagnóstico, classificação, e/ou planejamento de suportes.” (AAMR, 2002, p.341).

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No caso da escola, parecem ser importantes as funções de diagnóstico,

de identificação das necessidades de suporte e de planejamento do sistema de

suportes a ser implementado, para favorecer o funcionamento eficiente do

aluno.

4.2 Características cognitivas

O funcionamento cognitivo do aluno com deficiência intelectual comporta

um conjunto de característica que testemunham certa fragilidade nesse

funcionamento. Considera-se importante delimitar um perfil desse

funcionamento ressaltando que seja qual for a importância da deficiência desse

aluno, ele é capaz de realizar numerosas aprendizagens. O professor não deve

considerar essas características como obstáculo para uma ação educativa

eficiente. Ele deve, ao invés disso, levar em conta essas características tendo

como objetivo desenvolver estratégias que permitam maximizar a eficiência de

suas intervenções educativas.

Os alunos com deficiência intelectual têm dificuldades para mobilizar os

seus próprios recursos cognitivos internos de modo eficiente. Em situação de

resolução de problema, frequentemente esses alunos se apoiam mais sobre

recursos externos, tais como a opinião de um colega, do que sobre seus

próprios recursos cognitivos. Ele é fortemente influenciado pela opinião e pela

ação do outro. As frequentes dificuldades vivenciadas por esses alunos em

contexto de aprendizagem podem talvez explicar essa ausência de confiança

na própria capacidade de resolver os desafios com os quais ele é confrontado

em casa ou na escola.

Inhelder (1963) realizou um estudo importante sobre o funcionamento

cognitivo das pessoas com deficiência o qual pode esclarecer, pelo menos em

parte, esta dificuldade para mobilizar seus próprios recursos cognitivos internos

de modo eficiente. Neste estudo, realizado com cem pessoas que

apresentavam deficiência intelectual, a autora observou a manifestação de

oscilação do raciocínio em pelo menos 10% dessas pessoas. Essas oscilações

se caracterizavam pela expressão de dois níveis de raciocínio que elas

apresentavam frente à demanda de resolução de um problema. Neste estudo,

Inhelder observou três tipos de oscilação. A primeira que se caracteriza por um

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raciocínio que marca um progresso durante o período de interrogação do

sujeito, a segunda caracterizada por oscilações simples entre dois níveis de

raciocínio e uma terceira cujo raciocínio marca um retorno durante a

interrogação do sujeito.

Estas oscilações testemunham que fatores cognitivos podem influenciar

os mecanismos operatórios, podendo, inclusive, interferir na coerência interna

do pensamento (INHELDER, 1963). A respeito desses fatores extra cognitivos,

Inhelder identifica: a inquietude, a sugestionabilidade e a hesitação que em um

contexto de troca social podem ter um efeito sobre a fragilidade do pensamento

das pessoas com deficiência intelectual. A inquietude resultaria de problemas

de trocas afetivas ou intelectuais com o meio social. A sugestionabilidade

resultaria das constantes dificuldades cognitivas experienciadas pela criança,

que teria como consequência a ausência de credibilidade nas próprias idéias.

Ela resulta da necessidade de aprovação do outro, o que não permite a criança

buscar soluções motivadas pelo interesse na resolução do problema, mas pela

busca de aprovação. Essa forma de funcionamento impede o sujeito de se

adaptar e de tratar os problemas de forma objetiva. Essa necessidade de

aprovação presente nos procedimentos cognitivos da criança dificultaria seu

processo de decisão quanto à resolução de problemas, resultando em

comportamentos de hesitação. Os fenômenos evolutivos, seja a construção

progressiva do mecanismo operatório, seja o desenvolvimento das trocas

afetivas com o meio social, constituem uma totalidade da qual os diferentes

aspectos são interdependentes (INHELDER,1963). Segundo esta autora, o

desenvolvimento operatório comporta um aspecto de equilíbrio individual

interno e um aspecto social. As operações lógicas constituem um meio de troca

entre o indivíduo e o grupo, logo, as regras operatórias são construídas no

conjunto das normas sociais. Assim, se o sujeito acumula experiência de

sucesso em suas trocas com o meio social, ele pode ultrapassar seu potencial.

Entretanto, o contrário também pode se produzir.

O ponto de vista de Inhelder parece ser compartilhado com o de Ferreti

(1994) quando considera que o desenvolvimento de estratégias de resolução

de problemas depende algumas vezes das\características cognitivas do sujeito

e outras vezes dos suportes sociais e contextuais que lhe são oferecidos.

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Oferecer suportes qualitativos e ainda situações de ensino e aprendizagem que

proporcionem interações eficazes constitui estratégias importantes para a

superação das barreiras impostas pela deficiência intelectual, no que diz

respeito à apropriação do conhecimento.

Em sala de aula, esses alunos experienciam dificuldades em centralizar

a atenção sobre os elementos essenciais que permitiriam orientar o

procedimento de realização das tarefas propostas pelo professor. Trata-se de

um problema de atenção seletiva. Normalmente eles têm dificuldade em

compreender o que é esperado deles e consequentemente, apresentam

dificuldades para se orientarem e planejarem eficazmente à realização da

tarefa.

Em situação de aprendizagem, esses alunos utilizam de maneira pouco

eficiente estratégias cognitivas de repetição interna ou de agrupamento de

informação que permitiriam reter as informações úteis à resolução do

problema. Eles facilmente esquecem elementos importantes para a realização

eficiente da tarefa.

O planejamento e a auto-regulação durante a situação de resolução de

problemas se constituem nos aspectos que os alunos com deficiência

intelectual apresentam maiores dificuldades. Eles experimentam dificuldade em

refletir sobre o resultado da própria ação e sobre a transformação das

estratégias relacionadas a esta ação, ou seja, são os aspectos metacognitivos

implicados na realização das tarefas que se revelam pouco eficientes nesses

alunos. Eles tendem a repetir a mesma estratégia mesmo quando elas se

mostram ineficazes.

A transferência das aprendizagens para novos contextos constitui outra

dificuldade pelas qual passa o aluno com deficiência intelectual.

Frequentemente, este aluno não consegue aplicar espontaneamente um

conhecimento ou um conhecimento adquirido em outro contexto, mesmo

quando existe pouca diferença entre esses dois contextos. Esta dificuldade de

transferência se constitui sem dúvida em um grande desafio para o professor.

Problemas de natureza metacognitiva poderiam explicar, em parte, essas

dificuldades de transferência.

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Outra característica a considerar diz respeito à fragilidade que ele

apresenta ao operar no nível das representações mentais, uma vez que essa

dificuldade interfere na evolução conceitual. A evolução conceitual relaciona-se

com o desenvolvimento da oralidade, da capacidade de estabelecer diálogo

com o outro e com o meio físico e social de modo significativo.

Acredita-se que essas características podem interferir no processo de

apropriação do conhecimento pelo aluno com deficiência intelectual. Desse

modo, o atendimento a esse aluno deve se estruturar em função das

possibilidades de superação dessas barreiras.

4.3 Incidência e diagnóstico

Ao se pensar na etiologia da deficiência intelectual, até mesmo para

buscarem-se formas de prevenir ou de reduzir a sua incidência, encontram-se

04 (quatro) tipos de fatores causais, sendo esses fatores interativos e

cumulativos:

Fatores biomédicos

Dizem respeito a processos biológicos. Dentre eles destacam-se os

problemas metabólicos (fenilcetonúria), as síndromes genéticas e anomalias

cromossômicas (Síndrome de Down), síndromes endocrinológicas

(hipotiroidismo), síndromes morfológicas (microcefalia), síndromes

neurológicas (distrofia muscular), doenças infecciosas, intoxicação,

traumatismos crânio-encefálicos, tumores, transtornos mentais, etc.;

Fatores sociais

Dizem respeito à interação familiar e social e relacionam-se à situação

de extrema privação ambiental e à ausência de interação social e familiar;

Fatores comportamentais

Estão associados a comportamentos potencialmente causais, tais como

a síndrome da criança maltratada, golpeada, seviciada, abusada ou

negligenciada. Tanto os aspectos emocionais podem estar envolvidos como os

traumas crânio-encefálicos decorrentes;

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Fatores educacionais

Estão associados ao não atendimento das exigências de apoio que

certas crianças necessitam para o seu desenvolvimento intelectual e suas

habilidades adaptativas.

Muitas causas de deficiência intelectual são desconhecidas. Estudos

recentes revelam que 50% (cinquenta por cento) das causas de deficiência

mental dos tipos menos graves são desconhecidas e entre as mais agravadas,

30% ( trinta por cento) têm sua origem desconhecida.

O interesse em se conhecer as causas da deficiência intelectual deve-se

à importância em se detectar as possíveis limitações que ela possa vir a

provocar nas pessoas e, principalmente, identificar os meios para sanar essas

causas ou, mesmo, evitá-las.

Durante muito tempo, e até mesmo em nossos dias, a deficiência

intelectual tem sido vista como uma doença, uma enfermidade incurável.

Atualmente, conhecimentos científicos comprovados e novas

descobertas têm revelado que:

nem sempre as síndromes biomédicos provocam deficiência intelectual;

a condição etiológica pode ser tratável e o seu conhecimento prévio

permite procedimentos que minimizam deficiências que viriam a ocorrer;

pessoas com deficiência intelectual podem ter saúde perfeita, assim

como outras podem apresentar graves problemas biomédicos, sendo

que a maioria situa-se entre esses dois extremos;

etiologia não é “sinônimo” de deficiência intelectual, uma vez que

pessoas com uma mesma condição etiológica podem ou não vir a

apresentar deficiência intelectual;

as pessoas com deficiência intelectual não apresentam incompetência

generalizada, possuindo muitas capacidades e habilidades que

permitem o seu desenvolvimento e ajustamento às demandas do seu

meio físico e social;

a saúde física de uma pessoa com deficiência intelectual influencia a

sua funcionalidade, mas outros fatores também participam, tais como, a

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natureza do ambiente em que vive – exigências, expectativas - , bem

como os efeitos e o impacto exercido pelas suas limitações intelectuais e

adaptativas.

Segundo Fierro ( 2004), a incidência de causas concretas da deficiência

intelectual também é bastante variada. Em cada população, depende

principalmente de circunstâncias sanitárias, sobretudo na gravidez e no parto, e

muitas vezes também de causas sociais. Mas, de acordo com o mesmo autor,

o conhecimento da origem concreta da deficiência em uma pessoa nem

sempre é indispensável para o seu tratamento e para a sua educação. O

conceito de necessidades educativas especiais não dá muita importância a

esse conhecimento e permite deixar de lado, em ampla medida, as origens ou

os antecedentes dessas necessidades: da etiologia ou da(s) causa(s) dessa

concreta caracterizada como deficiência intelectual. O enfoque das

necessidades educativas especiais está atento à sua apresentação atual, à

demanda específica que coloca ao profissional, ao professor, à escola, aos

recursos materiais e didáticos para responder a ela. Centra-se na realidade

presente do aluno e na possibilidade de modificá-la: na realidade de suas

capacidades atuais e na possibilidade de desenvolvê-las.

O professor, o educador, o profissional que intervém junto a pessoas

com deficiência não pode ignorar a etiologia do déficit, mas também não

depende muito dela em seu trabalho concreto. Este não muda apenas pela

circunstância de que as sérias dificuldades de aprender em um aluno

procedam de uma alteração cromossômica, de uma infecção pré-natal ou de

um traumatismo de parto. Mesmo quando a deficiência se deve a fatores pós-

natais, sobrevindos, como ocorre com a deficiência intelectual resultante da

fenilcetonúria não tratada a tempo ou de uma encefalite ou uma meningite, o

caso chega a ele em condições orgânicas já irreversíveis. Apenas quando há

um fator sociocultural e de aprendizagem significativo, predominante ou

concomitante, potencializador de outros fatores, é inteiramente relevante

identificá-lo. Nesse caso, as perspectivas de reabilitação são mais favoráveis.

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4.4 Prevenção

O conhecimento das causas da deficiência intelectual é importante para

a sua prevenção. Muitas ações poderiam ser desencadeadas de modo a evitar

a ocorrência de deficiências:

programas de prevenção contra as drogas e o álcool e vacinação da

mãe contra certas doenças são exemplos de medidas dirigidas aos pais

e à comunidade que visam evitar o aparecimento das deficiências.

Caracterizam o que se denomina prevenção primária.

programas de dieta para crianças que nasceram com fenilcetonúria e

programas de estimulação precoce são exemplos de ações que

reduzem a duração ou revertem os efeitos de problemas já existentes

que podem resultar em deficiência. Caracterizam o que se denomina

prevenção secundária.

programas de educação especial, de qualificação profissional para

pessoas com deficiência e programas de reabilitação, são exemplos de

ações que reduzem as consequências dos problemas gerados pelas

deficiências e melhoram o funcionamento da pessoa. Caracterizam o

que se denomina prevenção terciária.

O ideal é que se possa realizar a prevenção primária, ou seja, ações

junto aos pais e à sociedade para evitar o aparecimento das deficiências que

possam ser evitadas.

Adotar medidas de proteção à criança e à sua mãe contra doenças

provocadoras de deficiências, orientação para reduzir casamentos

consanguíneos, acompanhamento pré-natal, cuidados médicos no momento do

parto e apoio ao recém-nascido, prevenção de acidentes e traumatismos,

vacinação, prevenção de carências nutricionais e afetivas, controle do uso do

álcool e de drogas por parte da mãe, eliminação de perigos ambientais,

melhoria da nutrição da mãe e da criança, são exemplos de medidas de

prevenção primária, ou seja, de evitação do aparecimento de deficiências.

Page 22: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

22

O trabalho de prevenção deve incluir a família, a escola, os serviços de

saúde, os órgãos de comunicação e outros que envolvam a sociedade visando

a divulgação das informações e a mudança de atitude social.

4.5 – Avaliação

A avaliação já não se refere à identificação ou à definição, à natureza,

aos graus, à etiologia e às características da deficiência intelectual como tal,

em sua generalidade, mas à sua identificação, à sua gravidade, aos traços e ao

perfil de um sujeito concreto.

De acordo com Fierro (2004) há uma dupla máxima geral que vale para

o tratamento e a educação das pessoas com deficiência: nenhuma avaliação

tem sentido se não estiver relacionada a uma intervenção. A avaliação, por sua

vez, deve referir-se não apenas à(s) pessoa(s) com a(s) qual(is) se intervém,

mas à própria atividade, ao processo e aos resultados da intervenção. Na

avaliação das pessoas com deficiência intelectual, há um enfoque – talvez o

mais fecundo – que reúne em um único procedimento as duas vertentes, e que

avalia o potencial de aprendizagem do sujeito ao mesmo tempo em que o

programa de instrução ou de ensino. É um procedimento que pode ser

operacionalizado apropriadamente no paradigma “teste → treinamento →

reteste”, um paradigma teoricamente potente e fecundo na prática (FIERRO,

1987). Contudo, a aconselhável integração de diferentes momentos e objetivos

da atividade avaliadora, assim como desta com a intervenção – educativa ou

outra – não deve impedir que diferencie níveis no que se entende

genericamente por avaliação.

Há, em primeiro lugar, uma possível e necessária avaliação de déficits

físicos, orgânicos, neurológicos, sensoriais e motores, perfeitamente

identificáveis, muitas vezes associados à deficiência mental. Essa avaliação

cabe ao médico especialista – neurologista, reabilitador, otorrino, etc. - , que

estabelecerá o diagnóstico correspondente acerca de certas capacidades e,

respectivamente, limitações ou disfunções geralmente difíceis de modificar e

com as quais se terá de contar.

Page 23: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

23

Em outro extremo, no âmbito escolar, está a avaliação de caráter

educacional ou curricular (VERDUGO, 1994), em que se avalia a aquisição por

parte do aluno daqueles conhecimentos, competências e capacidades que

constituem o conteúdo do currículo. Essa avaliação cabe ao professor e, em

princípio, não difere da que ele faz com outros alunos, sem outras

particularidades que não aquelas que decorrem da adaptação dos critérios de

avaliação pertinentes.

Entre os dois extremos, o das limitações ou disfunções físicas e o da

avaliação escolar, abre-se uma ampla margem de avaliação, justamente

daquelas capacidades adaptativas básicas que se consideram constitutivas –

ou descritivas – da deficiência intelectual. É, sem dúvida, a avaliação mais

completa do ponto de vista técnico e metodológico, mas também a mais

pertinente e necessária nesse caso.

Na psicometria e na avaliação tradicional, tratou-se de avaliar

tipicamente a “inteligência”, seja uma inteligência “geral”, sejam as chamadas

“aptidões intelectuais básicas”. As críticas habituais à “testologia” – ou a alguns

de seus usos – são perfeitamente compatíveis com uma utilização prudente e

bem-orientada dos clássicos testes de inteligência geral ou de aptidões

concretas, com os quais habitualmente se tentou medir o – hipotético –

quociente intelectual ou, de maneira geral, o nível de capacidades básicas de

ordem diversa: de discriminação, de associação, de abstração, de raciocínio,

etc. Inclusive as variáveis e os constructos introduzidos posteriormente para

substituir o quociente de inteligência, como potencial de aprendizagem ou

potencial de desenvolvimento, são difíceis de avaliar se não for com tarefas

totalmente idênticas às das provas clássicas de aptidão intelectual.

Tais provas, entretanto, continuam sendo úteis para avaliar capacidades

básicas nas pessoas com deficiência. O requisito é sempre, naturalmente, que

o nível da prova esteja de acordo com o sujeito a ser avaliado. Este deve ser,

como se costuma dizer, “testável” com esse teste concreto; deve ser capaz,

pelo menos, de compreender o sentido das\tarefas que a prova propõe. É por

essa razão que em séries de provas, como as de Wechsler, que são ordenadas

por idades – para adultos, para crianças e para os menores -, e salvo casos de

Page 24: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

24

deficiência leve, o mais aconselhável é aplicar a versão correspondente a uma

idade inferior à do sujeito com deficiência que se vai avaliar.

Em geral, todos os testes ou as provas de capacidade intelectual e/ou de

aptidões específicas são aptos para avaliar a deficiência intelectual. Em

princípio, os mais apropriados seriam, consequentemente, os mais “livres de

influências culturais” e, portanto, mais livres de influências educativas. Ocorre,

no entanto, que a desejável influência educacional seguramente pode modificar

um pouco capacidades muito básicas, e que a avaliação do potencial de

aprendizagem não pode ser feita sem a mediação de práticas educativas ou

instrucionais. Isso, por sua vez, torna irrelevante – ou carente de significado – a

elaboração e a aplicação dessas provas “livre”. Sem dúvida, são essas

considerações que levam alguns autores a conceituar os testes clássicos e a

avaliação da inteligência como avaliação de “repertórios cognitivos”.

Seguramente, é disto que se trata: de capacidade intelectual como conjunto de

repertórios de conhecimento.1

São úteis, portanto, as provas clássicas de capacidade, ou repertórios

cognitivos, como as escalas de Wechsler, o teste de Aptidões Primárias (PMA),

de Thurstone, as matrizes de Raven; ou as mais recentes, como o Teste de

Habilidade, de Sternberg, que responde a um modelo triádico de inteligência;

ou também as que, um pouco à margem da tradição psicométrica dominante,

como por exemplo, aquelas inspiradas no modelo evolutivo de Piaget, são

integradas por tarefas correspondentes a estágios desse modelo.

Os profissionais que intervêm junto a pessoas com deficiência

seguramente teriam preferência por provas projetadas com atenção especial a

déficits e disfunções cognitivos que aparecem na deficiência mental. É o caso

da prova PASS (Planejamento, Atenção, Processamento Simultâneo e

Sucessivo) elaborada por Das e colaboradores, de acordo com seu modelo das

funções deficitárias nas pessoas com deficiência ( MOLINA E ARRAIZ, 1993).

Visto que o déficit nos sujeitos com deficiência afeta sobretudo a

adaptação em vários âmbitos, um enfoque possível da avaliação é justamente

1 Para mais informações e referências sobre esses temas, ver Forns e Amador (1995).

Page 25: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

25

a avaliação do comportamento adaptativo. Destaca-se, a esse propósito, o

sistema West Virginia, adaptado na Espanha por professores da Universidade

de Madri. É uma prova do tipo “criterial”. Ela não compara a execução do

sujeito em relação a um grupo de referência, como ocorre nas provas

normativas, mas tenta avaliar seu grau de domínio em áreas específicas de:

resposta perceptiva, motricidade, autonomia pessoal, comunicação,

aprendizagens escolares e outras habilidades. É uma proposição afinada com

as cartas gráficas ou com os mapas de desenvolvimento popularizados por

Gunzburg e, na Espanha, por González Mas (1978). São instrumentos de

observação e de coleta de informações sobre a progressão típica na aquisição

de destrezas; e, ao mesmo tempo, servem de guia para propor metas

posteriores de instrução.

Em todo o caso, é preciso destacar que a qualificação de uma criança

como “ aluno com deficiência mental” não pode ser feita em caráter definitivo.

Não apenas a avaliação – contínua subentende-se – da aprendizagem, mas

também a avaliação de capacidades básicas está sujeita à revisão, o que deve

ser feito de modo sistemático de tempos em tempos, pelo menos no início da

escolarização, como na mudança de escola ou na passagem de um ciclo para

outro. É uma avaliação que sempre deve ser feita com a finalidade principal de

orientação educativa, com conteúdo altamente ideográfico, e sem refugiar-se

nela como um rótulo cômodo. (“deficiência mental”), nem tampouco em uma

cifra (a do QI) supostamente inalterável.

Page 26: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

26

5 . EDUCABILIDADE DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

5.1 – Necessidades educativas especiais

Durante muito tempo acreditou-se que as pessoas com deficiência

intelectual não aprendiam os conteúdos acadêmicos ensinados na escola. Por

essa razão, a sua educação era pautada na crença de que só teriam acesso a

aprendizagens relacionadas a atividades da vida diária (auto-cuidado e

segurança), algumas habilidades sociais, de lazer e de trabalho

supervisionado, ou pouco mais. Aprendizagem acadêmica? Nem pensar!

Como decorrência natural da falta de oferta do conhecimento, muitos se

tornaram sub-realizados na escola ou engrossaram as fileiras dos chamados

incompetentes curriculares antes mesmo de terem acesso a esses currículos.

A convicção atual de que as pessoas com deficiência intelectual

apresentam diferentes condições de aprendizagem e de que outros fatores,

além do intelectual, estão presentes e interferem na sua funcionalidade

acadêmica têm contribuído para que o sistema educacional compreenda

melhor a diversidade de possibilidades dos alunos e procure oferecer um

ambiente mais favorável à sua aprendizagem.

Por outro lado, a comunidade escolar está presenciando alunos

portadores de deficiência intelectual alcançando níveis escolares nunca antes

imaginados, porque sistemas de apoio organizados e adaptações curriculares

adequadas estão permitindo o seu acesso a uma aprendizagem efetiva e

progressiva.

Quem imaginaria, há tempos atrás, que uma pessoa com deficiência

intelectual poderia concluir o 9º ano do ensino fundamental? No entanto, essa

tem sido uma realidade. Por esforço do aluno e de sua família e pelo

comprometimento da escola com o seu aprendizado esse resultado tem sido

possível.

A escolarização desses alunos e os níveis que virão a alcançar

dependerão de muitos fatores: o grau de suas limitações intelectuais e

Page 27: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

27

adaptativas certamente desempenha um relevante papel nas suas expectativas

de realização escolar.

Mas outros fatores são significativamente relevantes. Os resultados

educacionais dependem, ainda, de como o ambiente escolar favorece o acesso

ao currículo e organiza e adapta esse currículo de modo a ser desenvolvido

pelo aluno.

O sucesso escolar do aluno com deficiência intelectual, portanto,

depende de suas condições pessoais e das condições escolares, ou seja, da

interação aluno x ambiente.

Outra situação tem mudado no panorama nacional e internacional. Não

mais se defende que o lugar de pessoa com deficiência intelectual estudar é na

escola especializada.

Experiências educacionais bem sucedidas estão revelando que os

alunos com deficiência intelectual podem e devem estudar nas escolas

regulares, e que um adequado sistema de apoio educacional é suficiente para

lhe dar acesso ao currículo e apropriação do saber escolar.

Para Batista e Mantoan (2006) a deficiência mental desafia a escola

comum no seu objetivo de ensinar, de levar o aluno a aprender o conteúdo

curricular, construindo o conhecimento. O aluno com essa deficiência tem uma

maneira própria de lidar com o saber, que não corresponde ao que a escola

preconiza. Na verdade, não corresponder ao esperado pela escola pode

acontecer com todo e qualquer aluno, mas os alunos com deficiência mental

denunciam a impossibilidade de a escola atingir esse objetivo, de forma tácita.

Eles não permitem que a escola dissimule essa verdade. As outras

deficiências não abalam tanto a escola comum, pois não tocam no cerne e no

motivo da sua urgente transformação: considerar a aprendizagem e a

construção do conhecimento acadêmico como uma conquista individual e

intransferível do aprendiz, que não cabe em padrões e modelos idealizados.

O aluno com deficiência intelectual tem dificuldade de construir

conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva,

principalmente nas escolas que mantêm um modelo conservador de ensino e

Page 28: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

28

uma gestão autoritária e centralizadora. Essas escolas apenas acentuam a

deficiência, aumentam a inibição, reforçam os sintomas existentes e agravam

as dificuldades do aluno com deficiência intelectual. Tal situação ilustra o que a

definição da Organização Mundial de Saúde - OMS de 2001 e a Convenção da

Guatemala acusam como agravante da situação de deficiência.

O caráter meritocrático, homogeneizador e competitivo das escolas

tradicionais oprimem o professor, reduzindo-o a uma situação de isolamento e

impotência, principalmente frente aos seus alunos com deficiência intelectual,

pois são aqueles que mais “entravam” o desenvolvimento do processo escolar,

em todos os seus níveis e séries. Diante da situação, a saída encontrada pela

maioria dos professores é desvencilhar-se desses alunos que não

acompanham as turmas, encaminhando-os para qualquer outro lugar que

supostamente saiba como ensiná-los.

O número de alunos categorizados como deficientes intelectuais foi

ampliado enormemente, abrangendo todos aqueles que não demonstram bom

aproveitamento escolar e com dificuldades de seguir as normas disciplinares

da escola. O aparecimento de novas terminologias, como as “necessidades

educacionais especiais”, aumentaram a confusão entre casos de deficiência

intelectual e outros que apenas apresentam problemas na aprendizagem, por

motivos que muitas vezes são devidos às próprias práticas escolares.

Se as escolas não se reorganizarem para atender a todos os alunos,

indistintamente, a exclusão generalizada tenderá a aumentar, provocando cada

vez mais queixas vazias e maior distanciamento da escola comum dos alunos

que supostamente não aprendem.

A necessidade de encontrar soluções imediatas para resolver a

premência da observância do direito de todos à educação fez com que

algumas escolas procurassem saídas paliativas, envolvendo todo tipo de

adaptação: de currículos, de atividades, de avaliação, de atendimento em sala

de aula que se destinam unicamente aos alunos com deficiência.

Essas soluções continuam reforçando o caráter substitutivo da

Educação Especial, especialmente quando se trata de alunos com deficiência

intelectual. Tais práticas adaptativas funcionam como um regulador externo da

aprendizagem e estão baseadas nos propósitos e procedimentos de ensino

que decidem o que falta ao aluno de uma turma de escola comum. Em outras

Page 29: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

29

palavras, ao adaptar currículos, selecionar atividades e formular provas

diferentes para alunos com deficiência e/ou dificuldade de aprender, o

professor interfere de fora, submetendo os alunos ao que supõe que eles

sejam capazes de aprender.

Na concepção inclusiva, a adaptação ao conteúdo escolar é realizada

pelo próprio aluno e testemunha a sua emancipação intelectual. Essa

emancipação é consequência do processo de autoregulação da aprendizagem,

em que o aluno assimila o novo conhecimento, de acordo com suas

possibilidades de incorporá-lo ao que já conhece. Entender este sentido

emancipador da adaptação intelectual é sumamente importante para o

professor comum e especializado.

Aprender é uma ação humana criativa, individual, heterogênea e

regulada pelo sujeito da aprendizagem, independentemente de sua condição

intelectual ser mais ou ser menos privilegiada. São as diferentes ideias,

opiniões, níveis de compreensão que enriquecem o processo escolar e

clareiam o entendimento dos alunos e professores. Essa diversidade deriva

das formas singulares de nos adaptarmos cognitivamente a um dado conteúdo

e da possibilidade de nos expressarmos abertamente sobre ele.

Ensinar é um ato coletivo, no qual o professor disponibiliza a todos

alunos, sem exceção, um mesmo conhecimento. Ao invés de adaptar e

individualizar/diferenciar o ensino para alguns, a escola comum precisa recriar

suas práticas, mudar suas concepções, rever seu papel, sempre reconhecendo

e valorizando as diferenças.

As práticas escolares que permitem ao aluno aprender e ter

reconhecidos e valorizados os conhecimentos que é capaz de produzir,

segundo suas possibilidades, são próprias de um ensino escolar que se

distingue pela diversificação de atividades. O professor, na perspectiva da

educação inclusiva, não ministra um “ensino diversificado” e para alguns. Ele

prepara atividades diversas para seus alunos (com e sem deficiência

intelectual) ao trabalhar um mesmo conteúdo curricular. Essas atividades não

são graduadas para atender a níveis diferentes de compreensão e estão

disponíveis na sala de aula para que os alunos as escolham livremente, de

acordo com seus interesses.

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30

Para exemplificar esta prática, consideremos o ensino dos planetas do

sistema solar para uma turma de alunos com e sem deficiências. As atividades

podem variar de propostas de elaboração de textos, a construção de maquetes

do sistema planetário, realização de pesquisas em livros, revistas, jornais,

internet, confecção de cartazes, leituras interpretativas de textos literários e

poesias, apresentação de seminários sobre o tema, entre outras. O aluno com

deficiência intelectual, assim como os demais colegas, escolhe a atividade que

mais lhe interessar e a executa. Essa escolha e a capacidade de desempenhar

a tarefa não são predefinidas pelo professor. Tal prática é distinta daquelas que

habitualmente encontramos nas salas de aula, nas quais o professor escolhe e

determina uma tarefa para todos os alunos realizarem individualmente e

uniformemente, sendo que para os alunos com deficiência intelectual ele

oferece outra atividade facilitada sobre o mesmo assunto ou até mesmo sobre

outro completamente diferente. Contraditoriamente, esta tem sido a solução

adotada pelos professores para impedir a, “exclusão na inclusão”. Utilizando

como exemplo esse mesmo conteúdo - o ensino dos planetas do sistema solar

- é comum o professor selecionar uma atividade de leitura e interpretação de

textos para todos os alunos, cabendo àquele com deficiência intelectual apenas

colorir um dos planetas em folha mimeografado. Modificar essas práticas

discriminatórias é um verdadeiro desafio, que implica em inovações na forma

de o professor e o aluno avaliarem o processo de ensino e de aprendizagem.

Elas exigem a negação do caráter padronizador da aprendizagem e eliminam

todas as demais características excludentes das escolas comuns, que adotam

propostas pedagógicas conservadoras. A prática escolar inclusiva provoca

necessariamente a cooperação entre todos os alunos e o reconhecimento de

que ensinar uma turma é, na verdade, trabalhar com um grande grupo e com

todas as possibilidades de subdividi-lo. Dessa forma, nas subdivisões de uma

turma, os alunos com deficiência intelectual podem aderir a qualquer grupo de

colegas, sem formar um grupo à parte, constituído apenas de alunos com

deficiência e/ou problemas na aprendizagem.

Para conseguir trabalhar dentro de uma proposta educacional inclusiva,

o professor comum precisa contar com o respaldo de uma direção escolar e de

especialistas (orientadores, supervisores educacionais e outros), que adotam

um modo de gestão escolar, verdadeiramente participativa e descentralizada.

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Muitas vezes o professor tem ideias novas para colocar em ação em sua sala

de aula, mas não é bem recebido pelos colegas e pelos demais membros da

escola, devido ao descompasso entre o que está propondo e o que a escola

tem o hábito de fazer para o mesmo fim. A receptividade à inovação anima a

escola a criar e a ter liberdade para experimentar alternativas de ensino. Sua

autonomia para criar e experimentar coisas novas se estenderá aos alunos

com ou sem deficiência e assim os alunos com deficiência intelectual serão

naturalmente valorizados e reconhecidos por suas capacidades e respeitados

em suas limitações.

A liberdade do professor e dos alunos, de criarem as melhores

condições de ensino e de aprendizagem, não dispensa um bom planejamento

de trabalho, seja ele anual, mensal, quinzenal ou mesmo diário. Ser livre para

aprender e ensinar não implica em uma falta de limites e regras ou, ainda, em

cair num espontaneismo de atuação. O ano letivo, assim como a rotina diária

de uma turma, deve contemplar um tempo para planejar, outro para executar,

outro para avaliar e socializar os conhecimentos aprendidos. Todo esse

processo é realizado coletivamente e individualmente. Um exemplo de rotina

de sala de aula seria desenvolver, em um primeiro momento, o planejamento

coletivo, que compreende uma conversação livre entre o professor e seus

alunos a respeito do emprego do tempo naquela jornada. Esse momento

permite ao aluno expressar-se livremente a respeito do que pretende

fazer/aprender nesse dia e à professora colocar suas intenções no mesmo

sentido. No planejamento todo o grupo pode tomar decisões com relação às

atividades e aos grupos a serem formados para realizá-las. Num segundo

momento, as atividades são realizadas conforme o plano estabelecido.

Finalmente a jornada de trabalho é reconstituída na última parte dessa rotina,

com a participação de todos os alunos. Eles então socializam o que

aprenderam e avaliam a produção realizada no dia. O aluno com deficiência

intelectual, como os demais, participa igualmente de todos esses momentos:

planejamento, execução, avaliação e socialização dos conhecimentos

produzidos.

A avaliação dos alunos com deficiência intelectual, como já mencionado,

visa ao conhecimento de seus avanços no entendimento dos conteúdos

curriculares durante o ano letivo de trabalho, seja ele organizado por série ou

Page 32: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

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ciclos. O mesmo vale para os outros alunos da sua turma, para que não sejam

feridos os princípios da inclusão escolar. A promoção automática, quando é

exclusiva para alunos com deficiência intelectual, constitui uma diferenciação

pela deficiência, o que caracteriza discriminação. Em ambos os casos, o que

interessa para que um novo ano letivo se inicie é o quanto o aluno, com ou sem

deficiência, aprendeu no ano anterior, pois nenhum conhecimento é aprendido

sem base no que se conheceu antes.

O conceito de necessidades educativas especiais enfatiza não as

possíveis – às vezes indubitáveis – limitações e dificuldades de aprender dos

alunos, mas sim as demandas que apresentam à escola, aos professores, com

relação aos recursos especiais – pessoais, didáticos e materiais – que sua

educação requer. Em outras palavras, enfatiza a relação aluno-professor e

também a atividade deste último, e não apenas do aluno.

O conceito não diz tanto sobre o que o aluno é e faz, mas, sobretudo,

sobre o que a escola tem de fazer com ele. As demandas e as necessidades

educativas especiais têm como correlato a resposta específica da escola. São

necessidades que se manifestam não no aluno como tal, mas sim em sua inter-

relação com o meio escolar. É por essa razão que tal conceito está associado

ao mesmo tempo a uma concepção da aprendizagem como processo

construtivo que se desenvolve não apenas de dentro nem apenas de fora, mas

da interação do sujeito com o meio.

No marco desse conceito, a principal questão deixa de ser descritiva ou

diagnóstica (que alunos apresentam deficiência intelectual?) e passa a ser

estratégica e prática: que resposta educativa é preciso dar? Que estratégias de

atuação educativa são necessárias? Que desenvolvimento e quais adaptações

curriculares? Quando se adota essa perspectiva prática, justifica-se dar um

passo além, o de atender às dificuldades na atividade de ensinar, mais do que

nas de aprender. A lógica desse enfoque pede que, em vez de falar de

dificuldades dos alunos, ou além disso, fale-se de dificuldades de seu ensino

(FIERRO, 1987). E também pede que se proponha, se planeje e se desenvolva

uma teoria e uma tecnologia didáticas dessas dificuldades de ensinar. Além

disso, trata-se de enfocar a atividade educacional não tanto em torno de

dificuldades, as de aprender e ensinar, fazendo com que o peso da atenção

recaia sobre a dificuldade, mas em torno de um conjunto de práticas e modos

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de intervenção dirigidos e superá-las. Trata-se de mudar o enfoque, não

centrando mais no aspecto negativo das dificuldades, mas sim no positivo dos

programas, das práticas, das estratégias didáticas e da educação específica

que é preciso oferecer aos alunos.

As dificuldades de aprender e de ensinar, mesmo as muito graves que

se apresentam na deficiência profunda, aparecem logo no contexto interativo,

prático, de intervenção técnica, não apenas didática ou educativa, mas também

psicológica e social em suma, interdisciplinar. Nesse contexto, compreende-se

o atrativo que tem para alguns educadores determinadas noções elaboradas

por psicólogos, como a de zona de desenvolvimento proximal, de Vigotsky, a

de potencial de aprendizagem, enriquecimento instrumental, aprendizagem

mediada (FEUERSTEIN, 1980) e a de inteligência como capacidade de

aprender em condições de instrução incompleta (CAMPIONE, BROWN E

FERRARA, 1987). São noções teoricamente esclarecedoras e fecundas na

prática, porque ajudam a entender as situações que dão lugar a necessidades

educativas especiais. Também ajudam a manejá-las em seu quadro real, que

não é – ou não é apenas – o de alguns alunos com dificuldades, mas o de um

processo de socialização, de aquisição de destrezas sociais e culturais, de

educação e instrução em habilidades básicas, processo que tem suas

dificuldades na conexão e na interação de seus dois polos: indivíduo e

sociedade, ou aluno e escola.

5.2 – Adaptações curriculares

A educação se define concretamente pelo currículo, que é o conjunto de

experiências potencialmente educativas que a escola oferece, ou, em outras

palavras, o conjunto das oportunidades de aprender dos alunos. Fierro (2004)

lança então a questão: será que as crianças e os adolescentes com deficiência

necessitam de um currículo especial, diferente dos colegas? Segundo ele, há

quem defenda isso. Não é possível, na prática, porém, planejar um currículo

que , por um lado, seja especial, diferente do comum, mas, por outro lado,

comum a todos os alunos com deficiência. Ao contrário, medidas curriculares

específicas, além de individuais, são possíveis e necessárias. São as

adaptações curriculares.

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34

Uma proposta curricular coerente baseia-se antes de tudo nos

processos, nas atividades que ocorrem na escola, e não tanto nos produtos ou

nos resultados. De qualquer maneira, deve haver tais resultados; de outro

modo, e em última análise, não há educação. De uma perspectiva pessimista

das possibilidades educativas das crianças com deficiência, há o temor de que

não cheguem a se produzir nelas resultados valiosos. É uma visão que precisa

ser descartada. Deve-se julgar o que é valioso e o que não é, em termos de

educação, a partir de critérios pertinentes ao que é próprio e específico da

condição humana. Por esses critérios, é muito mais relevante o êxito

educacional que se produz quando uma criança com um déficit muito profundo

consegue comunicar-se e manifestar um desejo, do que quando um estudante

universitário conclui com sucesso seu curso.

Por outro lado, um currículo razoável enuncia seus objetivos levando em

consideração as capacidades gerais que a educação trata de estabelecer, e

não – ou não unicamente – as aprendizagens específicas e os objetos

operacionais. A educação se propõe a ampliar a capacidade dos alunos: que

eles aprendam não apenas estes ou aqueles conteúdos e habilidades, mas que

aumentem a capacidade de fazer coisas por si mesmos e sua capacidade de

fazer coisas por si mesmos e sua capacidade de aprender. Com tal propósito,

transcende-se a noção de inteligência como conjunto supostamente fixo de

aptidões e, portanto, deixa-se para trás também a noção de deficiência

intelectual como déficit e limitação fixa nessas aptidões. Ao contrário, ressalta-

se o desenvolvimento dinâmico das capacidades e o impulso que a educação

pode e deve proporcionar a esse desenvolvimento.

Assim, a perspectiva educacional contrapõe-se à perspectiva

meramente diagnóstica. O educador necessita da avaliação das capacidades

básicas dos alunos, mas, de certo modo, sua tarefa pode ser descrita como

uma luta contra as piores previsões dessa mesma avaliação.

A verdade é que as crianças com deficiência intelectual têm dificuldades

graves, tanto para aprender quanto de caráter geral, e isso sempre requer o

ajuste da educação e a adequação do currículo à medida e à necessidade de

cada um. Quando as dificuldades dos alunos não são muito grandes, os

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35

ajustes em metodologia, atividades e materiais e os agrupamentos flexíveis são

suficientes para responder às necessidades dos alunos. Até aqui, basta

adequar o currículo e conduzi-lo a seu último nível de concretização, o

individual. Quando as dificuldades são gerais e permanentes, porém, é preciso

fazer adaptações mais profundas, com uma variação significativa em relação

aos modelos mais comuns de individualização do currículo.

Para Batista e Mantoan (2007),

a necessidade de encontrar soluções imediatas para resolver a premência da observância do direito de todos à educação fez com que algumas escolas procurassem saídas paliativas, envolvendo todo tipo de adaptação: de currículos, de atividades,de avaliação, de atendimento em sala de aula que se destinam unicamente aos alunos com deficiência. Essas soluções continuam reforçando o caráter substitutivo da Educação Especial, especialmente quando se trata de alunos com deficiência mental.

Tais práticas adaptativas funcionam como um regulador externo da aprendizagem e estão baseadas nos propósitos e procedimentos de ensino que decidem o que falta ao aluno de uma turma de escola comum. Em outras palavras, ao adaptar currículos, selecionar atividades e formular provas diferentes para alunos com deficiência e/ou dificuldade de aprender, o professor interfere de fora, submetendo os alunos ao que supõe que eles sejam capazes de aprender.

A escolarização de pessoas com deficiência intelectual depende, dentre

outros aspectos, de suas limitações cognitivas e adaptativas. A demanda

escolar em termos de currículo aumenta a cada série e a complexidade dos

conteúdos passa a exigir do aluno mais capacidades e habilidades

acadêmicas.

Por outro lado, é reconhecido que o apoio oferecido ao aluno melhorou a

sua funcionalidade acadêmica.

As adaptações curriculares constituem uma eficiente forma de apoio

para o aluno e, muitas vezes, são necessárias por toda a sua vida escolar,

parcial ou em todas as disciplinas.

As adaptações curriculares mais eficientes são as que melhor se

ajustam às necessidades e potencialidades do aluno e devem tomar como

base o currículo regular de ensino. Podem ser reduzidas, sem alterações

expressivas na programação regular, e possibilitar que todos os alunos da sala

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36

possam delas se beneficiar. Podem, ainda, ser mais acentuadas, para atender

a condições específicas necessárias, de modo a obter maior participação do

aluno com deficiência nas atividades curriculares comuns.

Essas adaptações curriculares e de acesso ao currículo podem incluir:

a criação de condições físicas, ambientais e materiais para o aluno na

sua unidade escolar de atendimento;

a propiciação de melhores níveis de interação e comunicação com as

pessoas com as quais convive na comunidade escolar;

adaptações metodológicas e didáticas: situar o aluno onde possa melhor

trabalhar, adotar métodos e técnicas de ensino-aprendizagem

específicas para o aluno, quando necessário, sem prejuízo para as

atividades curriculares;

a utilização de técnicas, procedimentos e instrumentos de avaliação

distintos da classe, se necessário, sem alterar os objetivos da avaliação

e seu conteúdo;

a introdução de atividades complementares para o aluno alcançar os

objetivos comuns dos demais colegas. Essas atividades podem ser

realizadas na própria classe, na sala de recursos ou por meio do

professor itinerante, devendo envolver o professor da sala regular na

sua programação e/ou execução;

a introdução de atividades complementares específicas para o aluno –

diversificadas – que possam atender a necessidades diversas do resto

da turma;

a supressão de atividades ou objetivos educacionais que não possam

ser atingidos ou realizados pelo aluno e que lhe restrinjam a participação

ativa. Substituir essas atividades e objetivos por outros acessíveis,

significativos e básicos para o aluno;

a adoção de um tempo para o cumprimento dos objetivos, conteúdos e

critérios de avaliação, que sejam exeqüíveis para o aluno (respeitar o

ritmo próprio).

Há um número reduzido de alunos com deficiência intelectual, cuja

gravidade, tão acentuada, incapacita-os funcionalmente para atividades

Page 37: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

37

essenciais da vida, tais como: a comunicação, a autonomia e a própria

sobrevivência. Para esses alunos, os currículos regulares muitas vezes nem

podem ser adaptados, exigindo um currículo próprio, ajustado às

potencialidades e limitações do aluno.

Nesses casos, às vezes é necessário adotar exclusivamente ou

parcialmente atendimentos individualizados.

As adaptações em alunos com deficiência intelectual têm a ver, antes de

tudo, com seus déficits em capacidades de caráter geral e básico. São déficits

que podem requerer também recursos especializados: de tecnologia, de código

e de comunicação. Em alunos com deficiência, porém, o principal problema

não costuma estar nos meios tecnológicos ou em habilidades muito

especializadas do educador. Inclusive pode-se dizer que o professor do ensino

comum está mais capacitado para a educação de crianças com algum déficit

sensorial, como a surdez. O problema está na dificuldade de superar um

determinado “teto” educacional, não totalmente rígido, mas fortemente fixado

por sua limitada capacidade, um teto que, salvo déficit grave, não é tão

aparente na educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental,

mas que se torna mais patente à medida que os anos passam e que o aluno

ingressa em ciclos/etapas superiores. Na deficiência intelectual, as dificuldades

educativas e as adaptações mudam substancialmente com o nível escolar:

pouco visíveis no começo, tornam-se muito mais claras no final do ensino

médio.

5.3 – Papel da escola e do professor no trabalho com alunos com

deficiência intelectual

Toda unidade escolar deve desenvolver, primeiramente, seu projeto

pedagógico. É neste momento que se definem os objetivos pedagógicos para

o alunado de cada escola, os conteúdos que serão trabalhados e como serão

trabalhados. É neste momento que, à luz do estabelecido e recomendado nos

Parâmetros Curriculares Nacionais, que se define o conteúdo e o método de

trabalho que se vai desenvolver na escola.

A partir da elaboração do projeto pedagógico e da avaliação pedagógica

inicial de seus alunos, cada professor deve elaborar seu Plano de Ensino, o

Page 38: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

38

qual deverá explicitar os objetivos pedagógicos a ser buscado durante o ano,

para cada grupo, o conteúdo que será trabalhado, bem como as alternativas

metodológicas que parecem necessárias para administrar o ensino em cada

classe.

Esse plano, entretanto, não pode ser rígido e definitivo para o ano todo, já

que no decorrer do processo de ensino e aprendizagem, no contexto da

relação entre o professor e cada aluno, o professor poderá detectar problemas

no ensino, que exigirão a implementação de ajustes e adaptações, seja nos

objetivos, no conteúdo, no método de ensino, e no método de avaliação. Há

que se garantir a flexibilidade, para que se possa alcançar o sucesso no

ensino.

Projeto pedagógico construído, plano de ensino elaborado, inicia-se o

processo efetivo de ensinar.

É importante que, a cada conteúdo a ser introduzido, avalie-se o

conhecimento prévio que cada aluno traz consigo. Essa avaliação deve ser

uma avaliação compreensiva, ou seja, que implique numa atitude de

investigação sobre a natureza do erro, quando este aconteça.2

A avaliação classificatória (graduar os alunos como melhores, piores, etc.)

se esgota em si mesma, não nos permitindo identificar e compreender as

necessidades especiais que o aluno possa apresentar, impedindo-nos, assim,

de poder reformular, com eficácia, nosso procedimento de ensinar.

Hardman (et al 1993 p. 120-121) apresentam algumas dicas para o

professor da classe regular, que podem ser úteis, na administração do ensino,

na sala inclusiva:

Ver os alunos com deficiência intelectual como alunos, em primeiro lugar.

Focalizar suas semelhanças com os demais alunos, ao invés de focalizar

suas diferenças.

Reconhecer os alunos com deficiência intelectual por seus próprios

sucessos na sala de aula, ao invés de compará-los com os sucessos dos

colegas que não apresentam uma deficiência (compare o aluno com ele

mesmo).

2 Ver Ficha de Avaliação Compreensiva em Anexo A.

Page 39: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

39

Utilizar estratégias cooperativas de aprendizagem, quando for possível

promover aprendizagem efetiva por todos os alunos. Utilizar alunos sem

deficiência como suportes para alunos com deficiência intelectual. Isto

pode incluir o estabelecimento de programas de companheirismo e tutoria

por alunos mais adiantados (de classes mais avançadas).

Considerar todos os alunos da sala, quando organizar o ambiente físico.

Encontrar formas de atender às necessidades individuais de cada criança

(Ex.:Estabelecer ilhas que permitirão a acomodação de cadeiras de rodas,

organizar as carteiras de forma a facilitar a tutoria em determinadas

atividades, acomodar a mobília de forma a atender às diferenças individuais

de audição ou de visão).

Colaborar com os professores da educação especial, ou outros

especialistas, para adaptar o conteúdo programático (Ex.: Ciências,

Matemática, ou Educação Física) para as necessidades especiais do aluno

com deficiência intelectual.

Deixar os alunos que não têm deficiência saber que há um aluno com

deficiência mental que pertence à sua sala de aula. Os objetivos e

atividades deste aluno podem ser diferentes daqueles dos demais alunos,

mas com apoio, o aluno com deficiência mental se beneficiará de trabalhar

com o professor e com os demais alunos da classe.

Incentivar o aluno com deficiência intelectual a se envolver nas atividades

extra-curriculares da escola.

Em resumo, é atribuição do professor:

Identificar as necessidades educacionais especiais presentes em seu aluno (natureza, intensidade, frequência).

Planejar ajustes pedagógicos na sua prática de ensino (intervenção).

Implementar esses ajustes.

Verificar os resultados; caso tenha obtido sucesso, ótimo. Caso não, recomeça-se do primeiro item.

Page 40: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

40

Os níveis de comprometimento de cada aluno com deficiência intelectual

diferem muito de um para o outro.

O importante, primeiramente, é que o professor se habitue a ensinar

pesquisando. Fazer isso sempre, e com todos os alunos. Permanecer sempre

atento ao efeito de seu ensino, analisar os erros cometidos pelo aluno; procurar

compreender sua natureza e identificar seus determinantes; e promover os

ajustes que se mostrarem necessários para atender às necessidades

educacionais de todos os alunos, inclusive às necessidades educacionais

especiais do com deficiência intelectual.

Alunos com deficiência intelectual, que apresentam comprometimentos

maiores, em qualquer das áreas (intelectual, comportamento adaptativo),

poderão necessitar de um plano curricular diferente do que está posto para os

demais alunos.

Isto porque a escola deve favorecer, para ele, condições para que utilize o

máximo de suas possibilidades, na construção do melhor nível de autonomia

possível, para a administração de sua vida na comunidade, usufruindo dela

todos os recursos disponíveis.

Alguns alunos necessitarão de pequenos ajustes no método de ensino, e

assim conseguirão alcançar os objetivos educacionais postos para a série em

que se encontra, e avançar nos diferentes níveis de escolaridade.

Outros necessitarão de maiores adaptações, tais como uma supervisão

individualizada, no decorrer do trabalho escolar, para conseguir avançar nos

níveis de escolaridade.

Outros, ainda, terão muita dificuldade de alcançar os objetivos

acadêmicos que se encontram postos, especialmente à medida que se avança

nos anos de escolaridade.

Para estes, geralmente, a substituição de objetivos de natureza

acadêmica por objetivos de natureza funcional pode ser o mais indicado, já que

será por esta via que ele melhor avançará no processo de construção de um

cidadão que participe da vida de sua comunidade, manifestando suas

necessidades e desejos, e cumprindo com sua parte de responsabilidades na

convivência com as demais pessoas.

Caberá à equipe de apoio pedagógico desenvolver uma avaliação mais

aprofundada do caso, e elaborar um Plano Individualizado de Ensino.

Page 41: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

41

Assim, de acordo com as Adaptações Curriculares em Ação (BRASÍLIA,

2002) a equipe de apoio pedagógico tem como responsabilidades:

Desenvolver um estudo pormenorizado do caso, focalizando sempre a

relação entre o ensino do professor e a aprendizagem do aluno

Elaborar o Plano Individualizado de Ensino (P.I.E.) para o aluno com

necessidades educacionais especiais que não puderam ser atendidas, após

esgotadas as iniciativas do professor em promover os ajustes

metodológicos, em sua prática cotidiana de ensino

Indicar Adaptações de Grande Porte que se mostram necessárias

(mudanças significativas nos objetivos pedagógicos para esse aluno, em

particular, as consequentes mudanças no conteúdo curricular, mudanças no

método de ensino, e mudanças nos procedimentos de avaliação). Neste

item, cabe à equipe de apoio pedagógico explicitar formalmente o suporte

do professor especialista ao professor da classe regular, ou a realização de

parcerias com outras áreas da atenção pública, caso seja necessário seu

acompanhamento (Ex. Saúde)

Orientar o professor quanto às Adaptações de Pequeno Porte que ele pode

implementar, para garantir que os novos objetivos, estabelecidos para esse

aluno, sejam alcançados

Registrar esses dados em prontuário individual, o qual deverá acompanhar

o aluno, caso este mude de unidade escolar

Acompanhar o desenvolvimento do caso e o efeito das adaptações no

processo de aprendizagem do aluno

Rever e reajustar, periodicamente, o Plano Individualizado de Ensino

(P.I.E.), à medida do desenvolvimento do aluno

Cabe ao professor ensinar pesquisando, ou seja, empregar

continuamente a avaliação compreensiva e buscar estratégias alternativas

para favorecer a aprendizagem de seu aluno com deficiência intelectual.

Para os alunos que apresentarem comprometimentos mais severos,

recomenda-se, depois de esgotadas todas as possibilidades do professor, o

Page 42: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

42

encaminhamento para a equipe de apoio pedagógico, que deverá estudar o

caso e elaborar o Plano Individualizado de Ensino.

Este poderá diferir do Plano adotado para os demais alunos no conteúdo

e às vezes no método de ensino, mas terá conteúdos que podem ser

trabalhados em cada área do conhecimento da classe regular (Linguagem,

Matemática, Ciências, Geografia, História, Educação para as Artes,

Educação Física).

Page 43: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

43

6. O PROCESSO DE AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICAS

NO PROCESSO EDUCATIVO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA

INTELECTUAL

6.1 – A avaliação psicopedagógica

A avaliação psicopedagógica deve prestar informações relevantes

para orientar a direção das mudanças que têm de ser feitas visando

ao adequado desenvolvimento dos alunos e à melhoria da instituição

escolar. (GINÉ, 2004,p. 278)

É preciso ter presente que a concepção atual do processo de ensino e

aprendizagem implica mudanças importantes no modelo de avaliação das

necessidades educativas dos alunos e, consequentemente, nas práticas e nos

instrumentos utilizados; o modelo vigente até agora – e que ainda se manifesta

com muita vitalidade -, orientado para o indivíduo e baseado na utilização de

instrumentos muitas vezes descontextualizados, revela-se claramente

insuficiente para a formulação da resposta educativa.

A prática da avaliação psicopedagógica deve ser coerente, tanto do

ponto de vista conceitual quanto do metodológico, com a origem social do

desenvolvimento, e portanto da aprendizagem, e com uma visão das

diferenças individuais como indicadores da natureza e do tipo de apoios que

devem ser proporcionados aos alunos.

A avaliação psicopedagógica não é uma tarefa que um profissional

(pedagogo, psicólogo, psicopedagogo) possa assumir de forma exclusiva. Ao

contrário, é imprescindível a estreita colaboração desses profissionais com os

outros indicadores presentes nos diversos contextos de desenvolvimento; em

particular, os pais e os professores. A interdisciplinaridade é um requisito para

a adequada avaliação das necessidades educativas especiais dos alunos,

embora se deva reconhecer a pouca tradição de trabalho cooperativo e

respeitoso entre os diversos profissionais envolvidos.

Page 44: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

44

Dessa perspectiva, pode-se definir a avaliação psicopedagógica como

um processo compartilhado de coleta e análise de informação relevante acerca

dos vários elementos que intervém no processo de ensino e aprendizagem,

visando a identificar as necessidades educativas de determinados alunos ou

alunas que apresentem dificuldades em seu desenvolvimento pessoal ou

desajustes com respeito ao currículo escolar por causas diversas, e a

fundamentar as decisões a respeito da proposta curricular e do tipo de suportes

necessários para avançar no desenvolvimento das várias capacidades e para o

desenvolvimento da instituição.

A avaliação psicopedagógica não pode restringir-se a um ato pontual,

por mais sofisticados que sejam os instrumentos utilizados, nem à soma de

diversas explorações em um mesmo período de tempo. Além disso, deve

contemplar os diversos elementos que intervêm no processo de ensino e

aprendizagem; ou seja, o próprio aluno, o contexto escolar (classe e instituição)

e o contexto familiar.3

A finalidade mais importante da avaliação psicopedagógica não é

classificar os alunos em diferentes categorias diagnósticas e fazer uma

previsão sobre seu possível rendimento, mas orientar o processo de tomada de

decisão sobre o tipo de resposta educativa que o aluno precisa para favorecer

seu adequado desenvolvimento pessoal. Em outras palavras, a avaliação

psicopedagógica deve servir para orientar o processo educacional em seu

conjunto, facilitando a tarefa dos professores que trabalham cotidianamente

com o aluno.

A avaliação psicopedagógica, em última análise, deve proporcionar uma

informação relevante não só para conhecer de forma completa as

necessidades dos alunos e seu contexto escolar, familiar e social, como

também para fundamentar e justificar a necessidade de introduzir mudanças na

oferta educacional e, se for o caso, a adoção de medidas de caráter

extraordinário. Consequentemente, essa informação deve ser obtida pela

avaliação dos aspectos que se destacam a seguir:

A interação entre o professor e os conteúdos de aprendizagem.

3 Ver quadro dos aspectos familiares a valorizar na avaliação psicopedagógica em Anexo B.

Page 45: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

45

A interação do professor com o aluno e a turma com relação aos

conteúdos de aprendizagem.

A interação do aluno com seus colegas, seja individualmente com

alguns deles, seja com o grupo.

Os contextos de desenvolvimento: a escola e, se for o caso, a

família.

Finalmente, para Giné (2004) a avaliação psicopedagógica deve

perseguir também a melhoria da oferta educativa em seu conjunto e, portanto,

o desenvolvimento da instituição escolar entendida como sistema.

6.2 – Trajetória escolar e acompanhamento psicopedagógico

Ao longo da infância e da adolescência dos filhos com deficiências, em

especial nas mudanças de etapa educacional, os pais se veem diante de

decisões, sobre escolarização, que não são fáceis de tomar. As respostas

escolares às necessidades educativas especiais supõem uma mudança em

seus esquemas prévios: as opções que lhes são oferecidas não correspondem

ao que viveram em sua própria história escolar, e eles não conseguem

imaginar como é a vida em uma escola especial ou como se adapta o currículo

em uma escola especial ou como se adapta o currículo em uma escola regular.

Por outro lado, para muitos pais, trata-se não apenas de decisões cruciais para

o futuro de seu filho, mas também de momentos em que avançam na tomada

de consciência da situação da criança, com os consequentes efeitos no plano

emocional. O apoio profissional - informação, apoio emocional, ajuda no

processo de tomada de decisões – é particularmente importante nas

encruzilhadas da trajetória escolar.

Um momento de encontro, ou desencontro, entre famílias e

profissionais, ocorre nas decisões que se tomam ao longo da vida escolar de

uma criança sobre a modalidade educacional mais adequada: integração em

uma escola regular ou ingresso em uma escola de educação especial? Para o

profissional, a escolha de um ou outro sistema corresponde à busca do

contexto no qual possa obter melhor resposta a determinadas necessidades

educativas especiais. Para algumas famílias é muito mais: é um indicador da

maior ou menor gravidade da deficiência da criança.

Page 46: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

46

A determinação da modalidade educacional deve ser feita com base na

avaliação psicopedagógica, levando em conta, fundamentalmente, as

características da criança, mas também considerando a resposta que está

obtendo ou pode obter em diferentes contextos educativos, assim como as

possibilidades do meio familiar. Por isso os profissionais responsáveis por essa

tarefa devem não apenas dispor de instrumentos para a avaliação da criança,

mas também conhecer em profundidade o que significam as diferentes

modalidades, e, mais ainda, conhecer as escolas, sua proposta curricular e sua

capacidade de adequação à diversidade.

Outro importante fator de observação, avaliação e acompanhamento

psicopedagógicos é o momento da brincadeira. A importância dos

companheiros de brincadeiras na socialização de crianças é de fundamental

importância e os estudos feitos nas áreas de Psicologia Social e do

Desenvolvimento a têm reforçado (HARRIS, 1995, 1999). Uma das mais

recentes e completas revisões sobre o processo de socialização de crianças e

adolescentes foi elaborada por Harris (1995, 1999), mostrando que os pais não

são os principais protagonistas na determinação da personalidade adulta de

seus filhos, apesar de serem os principais agentes socializadores, aqueles que

mais precocemente atuam sobre a criança. Não sendo os pais os únicos e nem

os principais agentes influenciadores de seus filhos, afirma-se a importância do

grupo no processo de socialização. De acordo com a teoria da socialização de

grupo de Harris (1999): “(...) as crianças se identificam com um grupo

constituído dos pares delas, que talham o comportamento delas às normas do

grupo e que os grupos contrastam com outros grupos e adotam normas

diferentes” (p.335).

Harris (1995, 1999) explica que o processo de formação de grupo se

apoia na capacidade inata do homem possuir cérebro construído com a

habilidade de classificar, categorizar, nomear, rotular ou dividir pessoas ou

coisas em grupo; capacidade esta já observada em outras espécies e na

criança antes de um ano de idade, que já faz categorizações por idade e sexo.

A terceira forma de classificação usada pelo homem é a raça, que leva mais

tempo para ser adquirida.

Page 47: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

47

Esse processo de categorização, por sua vez, independe da existência

de rótulos, pois uma categoria se define por um conceito, que pode existir

mesmo sem um nome. Assim, para que ocorra uma condição de grupo não é

preciso haver uma história anterior de amizade, um conflito com membros de

outro grupo, a luta por território, saber quem são seus companheiros, nem

mesmo existirem diferenças visíveis na aparência ou no comportamento.

É claro que ter características como sociabilidade, amabilidade e beleza

afeta o relacionamento com mãe, pai, professor e seus pares. Entretanto,

sentir-se membro de um grupo ou fazer uma autocategorização, segundo

Turner (1987), independe dessas condições.

A autocategorização é fortemente dependente do contexto social - onde

estamos e quem está conosco - e varia de um momento para outro em

função da saliência das várias categorias sociais. Por exemplo, a categoria

social criança não se destaca quando só há crianças no ambiente, mas sim

meninos e meninas, ou crianças mais novas e mais velhas. De acordo com

Turner (1984): “As auto-imagens que assumimos representam a produção

cognitiva da autocategorização, que é altamente variável e específica para a

situação” (p. 527).

Dessa forma, não são as relações próximas que fazem alguém

pertencer a um grupo, mas o grupo com o qual se identifica; o grupo de

referência ou grupo psicológico é o que conta. O processo básico de

formação do grupo não está centrado na atração nem na interdependência,

mas, sim, na identificação. Afiliar-se a grupos acarreta a reação eles gostam

de mim, gosto deles - a percepção de que somos semelhantes de algum

modo aos outros membros do grupo, que há algo em comum entre nós.

Assim, as diferenças dentro do grupo tendem a diminuir (assimilação),

enquanto as diferenças entre os grupos humanos aumentam (contraste de

grupo). Essa é uma das consequências do processo de categorização: “ela

[a categorização] nos faz ver os itens dentro de uma categoria como sendo

mais semelhantes do que eles realmente são. Ao mesmo tempo, ela nos faz

ver itens de categorias diferentes como mais diferentes do que realmente

são” (HARRIS, 1999, p. 175-176, grifo da autora).

Page 48: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

48

Para manter a identidade e a coesão do grupo, as crianças usam

diversos métodos, às vezes cruéis - aquelas que não se conformam ou não

podem se conformar com as regras explícitas e não-explícitas podem ser

excluídas, criticadas ou ridicularizadas. Surgem, assim, os bobos ou

palhaços do grupo, devido à pressão por conformidade, que é mais intensa

na infância do que na adolescência (HARRIS, 1999). O estereótipo,

traduzido no apelido, passará a identificar a criança pelo grupo, que se apoia

em qualquer idiossincrasia de aparência, jeito, habilidade ou qualquer outro

aspecto da criança, para mostrar a hierarquia de dominação.

Assim, os contrastes intra e intergrupos existem sem quaisquer

diferenças reais; os próprios grupos as criam. Basta uma ameaça em

comum para o grupo se unir, tratando o diferente ou estrangeiro com

desconfiança e medo, que se transformam depois em hostilidade, pois ter

medo é desagradável. Reside aqui o grande poder emocional do grupo,

resultado de uma longa história evolutiva de sobrevivência dependente do

grupo de parentesco (HARRIS, 1995, 1999).

Esse processo serve de base para o acasalamento e para a amizade.

Bons amigos, nos primeiros anos escolares, por exemplo, são

provavelmente da mesma idade, mesmo sexo e mesma raça, com

interesses e valores semelhantes. De outro lado, a falta de interação entre

companheiros, embora rara, pode ocorrer para pessoas criadas em

fazendas isoladas ou que ficaram presas em casa por distúrbios físicos

crônicos ou mesmo para crianças-prodígios, levando essas pessoas a um

alto risco de distúrbios psicológicos quando adultas, alerta Harris (1995,

1999). O adequado desenvolvimento da personalidade e da aprendizagem

da língua depende, então, da criança ser exposta a seus companheiros de

brincadeiras. Por imitação e por observação, as crianças aprendem não só

com seus pais, com a televisão e livros de histórias, mas principalmente em

brincadeiras de faz-de-conta, tanto que os modelos preferidos de crianças

escolares são outras crianças (HARRIS,1976).

Como se vê, existe um número considerável de razões para explanar a

relevância a respeito do brincar e seu papel no decorrer do desenvolvimento

infantil. Para Morin (1979), o brincar pode ser entendido como um

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49

prolongamento da infância na qual a criança encontra-se ainda protegida e

cuidada, tendo mais tempo para desenvolver habilidades necessárias para a

vida adulta.

Brincar com companheiros, entretanto, é uma habilidade que precisa de

tempo para se desenvolver. Com um ano de idade, as crianças brincam

lado-a-lado, desajeitadamente; aos dois anos, já são capazes de uma

imitação mais elaborada, divertindo-se com brincadeiras do tipo Faça o que

o chefe mandar; com dois anos e meio já recorrem ao uso de palavras e

ações para coordenar as brincadeiras, desempenhando papéis diferentes

nessas fantasias compartilhadas. Entre um e três anos, já construíram

modelos de relações com companheiros, escolhendo de quem gostar.

Observamos, assim, desde o maternal, a existência de “panelinhas” de

crianças com a mesma idade e mesmo sexo, especialmente aos cinco anos

(HARRIS, 1999).

Diante do exposto, pressupõe-se que a proposta de inclusão escolar de

crianças com necessidades educativas especiais procura evitar os efeitos

deletérios do isolamento social dessas crianças, criando oportunidades para

a interação entre elas, inclusive como forma de diminuir o preconceito.

Uma vez que as crianças tomam para si as normas do grupo, é

interessante estudar a presença de alunos com deficiência no ambiente

regular de ensino, assim como as interações sociais que ocorrem

naturalmente entre alunos com deficiência e os demais, focalizando o papel

do outro como mediador de sua interação com a sociedade.

Na medida em que a área cognitiva do desenvolvimento de crianças

classificadas como portadoras de deficiência mental é considerada a mais

crítica ou defasada em relação às crianças ditas “normais”, é relevante

conhecer também as relações existentes entre o desenvolvimento cognitivo

e o processo de interação social.

De outro lado, a carência de instrução leva a uma falta de

aprendizagem, até mesmo de habilidades sociais, alertam Strain e Shores

(1983). A avaliação de habilidades sociais em ambiente segregado não é

conveniente, pois subestima o desempenho da criança, dada a qualidade

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50

recíproca do comportamento social. Além do mais, essas habilidades

sociais, aprendidas no contexto segregador, não poderão ser generalizadas

para um contexto integrado.

Saint-Laurent (1997) explica esse processo com base em

conceitos sócio-construtivistas, os quais sugerem que:

“mantida em um estado de isolamento social, a criança não poderá desenvolver as funções sociais superiores. Para isso, ela necessita estabelecer interações sociais com um profissional especializado, estabelecer relações com seus colegas/companheiros”. (p. 68-69)

Deduz-se, a partir desses estudos, que o processo de

inclusão/integração de crianças com deficiência no ensino regular possibilita-

lhes interagir espontaneamente em situações diferenciadas, enquanto

adquirem conhecimento e se desenvolvem. Essa integração, entretanto, não

deve ser facilmente resolvida a partir de uma resolução de cunho legal ou

teórica, uma vez que variáveis relacionadas a processos grupais e reações de

preconceito podem influenciá-la, seja facilitando ou dificultando a integração

dessas pessoas com aquelas ditas “normais”. Por exemplo, são conhecidos os

casos de pais que tiram suas crianças de escolas que aceitam alunos

“diferentes” por medo de “contágio” ou rebaixamento do nível de aprendizagem

de seus filhos. Pode-se questionar, a partir desse exemplo corriqueiro, se as

próprias crianças “normais” não teriam uma reação ao estranho. Ou se

ajudariam seu novo e diferente colega movido por sentimentos de piedade ou

compaixão. Podemos pensar também em como ocorreriam suas interações

fora do controle da professora em sala de aula, no recreio.

As variáveis familiares podem direcionar as decisões em um ou outro

sentido e, por isso, também devem ser incluídas no processo de avaliação

psicopedagógica.

No trabalho com os pais, o psicopedagogo deve encontrar sua distância

profissional perfeita, isto é, um ponto médio entre a proximidade excessiva e a

distância demasiada, que seja funcional para ele e que lhe permita preservar

seu equilíbrio emocional sem necessidade de defender-se das reações dos

pais. Essa distância perfeita, naturalmente, não é uma medida exata para

todos: dependendo do tipo de atuação – é diferente um contato isolado ou um

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trato contínuo com os pais – e da personalidade de cada profissional, há uma

ampla margem de estilos apropriados para este trabalho. Por outro lado, é

difícil estabelecer tal distância a priori: ela é conseguida pela experiência pela

experiência, pela reflexão e pela tomada de consciência das reações e

sentimentos que cada família provoca.

As vivências dos pais e a relação da família com a escola é outro fator

importante no acompanhamento psicopedagógico e variam significativamente

em função da idade e da etapa educacional em que se encontre o filho.

No trabalho de intervenção escolar e psicopedagógica, deve-se

considerar:

A família ao longo do itinerário escolar

Nos primeiros anos, a escolarização costuma significar um passo

importante no reconhecimento da condição de deficiência da criança.

Inevitavelmente, os pais começam a comparar o filho com seus colegas, quer

ele frequente uma escola regular ou uma escola especial, tomando mais

consciência de seu nível de desenvolvimento.

Com a passagem à idade escolar, as famílias têm de enfrentar novas

preocupações. Para muitas, é o momento crucial da escolha da escola. Alguns

pais se queixam da diminuição da informação e do contato com a escola

quando seus filhos passam da educação infantil ao ensino fundamental. A

estreita coordenação continua sendo imprescindível nessa etapa, já que muitos

aspectos de autonomia pessoal, relação social ou comunicação não são

exclusivamente escolares e dificilmente poderão evoluir se não forem

potencializadas durante todo o dia, sem distinguir contextos ou competências.

A colaboração entre a família e a escola

A resposta a muitas necessidades educativas especiais supõe um

esforço coordenado entre a escola e a família.

A família e a escola educam a criança compartilhando o interesse

comum de fazer-lhe bem e de ajudá-la ao máximo, mas para uns trata-se de

seu filho e para outros de um aluno. Isso supõe que suas perspectivas, suas

expectativas e seus interesses sejam diferentes. Uma verdadeira colaboração

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em nível de igualdade passa pelo respeito mútuo e supõe certo nível de

confiança. Os pais devem confiar no profissionalismo dos professores e

profissionais, não de forma cega e absoluta, e sim mediante a informação

periódica, a comparação de pontos de vista e o diálogo em torno de temas que

os preocupem. 4

Intercâmbio de informação

O intercâmbio de informação é tanto mais necessário quanto menor ou

mais afetada for a criança com necessidades educativas especiais; nesses

casos, são imprescindíveis sistemas de comunicação permanentes entre a

família e a escola, mediante contatos diários ou informações frequentes por

escrito que supram, em alguma medida, as dificuldades de expressão das

próprias crianças.

No que diz respeito aos informes de avaliação, é fundamental transmitir

uma visão realista, mas centrada nos avanços, sejam estes maiores ou

menores.

Por último, é importante selecionar as intervenções, estudar as opções

não apenas em função das necessidades das criança, mas também levando

em conta o resto da família, e racionalizar a educação, evitando cair em uma

atividade frenética que deteriore o clima em casa e o desenvolvimento

emocional da criança.

Participação em atividades da escola

Na educação infantil e no ensino fundamental, a presença de pais na

escola, adequadamente organizada, tanto nos momentos de entrada e de

saída como em outras atividades, é uma amostra de abertura e transparência.

O envolvimento direto de pais em algumas atividades possibilita espaços de

formação prática que facilitam bastante a continuidade de atividades em casa.

4 Ver quadro das diferentes formas de colaboração família/escola em Anexo C.

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53

6.3 – Princípios básicos de intervenção escolar e psicopedagógica

A intervenção em pessoas com deficiência deve ter lugar em âmbitos

variados. Muitas vezes, é necessária em funções de motricidade ou de

articulação física da linguagem. Por outro lado, a educação escolar também é

um modo de intervenção. O nível de uma intervenção básica refere-se não a

funções físicas motrizes ou de linguagem, nem tampouco a aprendizagens

escolares propriamente ditas, a repertórios de conhecimento, mas sim àquelas

limitações em capacidades adaptativas às quais precisamente se refere o

conceito de deficiência intelectual. A verdade é que, quando os objetivos

educacionais, os do currículo, são formulados em termos de capacidades

básicas, é difícil distinguir entre educação – ou currículo – e outra intervenção

supostamente mais básica e fundamental (FIERRO, 2004). Em qualquer caso,

é evidente que certas destrezas de autonomia elementar – vestir-se, comer

sem ajuda, controlar os esfíncteres ou viajar sozinho em transporte público – se

encontram em uma ordem diferente, por exemplo, do saber ler ou do saber

multiplicar.

Uma possível designação das capacidades verdadeiramente básicas na

vida humana seria esta: aquelas que se exigem não importa em que

sociedade, em que cultura ou em que época. Saber ler, com certeza, é muito

necessário em nossa sociedade, mas o analfabetismo constitui uma limitação

de ordem muito diferente que a deficiência intelectual. Há capacidades que, ao

contrário, são imprescindíveis em qualquer lugar: poder comunicar-se com os

outros, poder assegurar seu alimento e outros bens necessários, identificar os

riscos mais comuns da vida e desempenhar-se em face deles ou relacionar-se

sexualmente de modo satisfatório. É com relação a essas funções e às outras

que subjazem a elas ( abstrair, generalizar, discriminar, raciocinar, etc.) que se

justifica falar de capacidades humanas básicas, de sua limitação nos sujeitos

com deficiência e da necessidade de intervir para sua melhoria.

Page 54: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

54

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação da criança sempre começa no momento em que ela nasce,

quer os pais tenham ou não consciência disso. Na criança que nasce ou se

desenvolve com deficiência, é crucial que os pais e os familiares estejam

cientes de seu papel de educadores, como também é fundamental que a

criança frequente a escola infantil desde cedo. Não que a escola tenha o

monopólio da educação, muito menos nestes anos. A maior parte da educação

na primeira infância se realiza – e deve realizar-se – na própria família, embora

nas crianças com deficiência, dificilmente poderá ser levada a cabo apenas

pelos familiares. Muito mais do que outros pais, eles necessitam da orientação

e do suporte de profissionais. A escola infantil tem como finalidade facilitar as

experiências e desenvolver ordenadamente as aprendizagens que

provavelmente não ocorreriam de modo espontâneo na vida familiar.

A implementação de medidas educacionais especiais apresenta sempre,

mas, sobretudo nos primeiros anos, um problema que não é pequeno: o de

rotular, juntamente com o risco consequente de um prognóstico que se

autorrealize pelo mero fato de chegar a ser formulado. Há formas de minimizar

esse perigo, e é importante estar atento a isto: a identificação de necessidades

especiais não deve ser transformada em rotulação das pessoas; a avaliação

não é um diagnóstico, muito menos um prognóstico. Haverá, porém, sempre

uma possibilidade de que as medidas especiais adotadas exerçam efeitos

secundários, indesejáveis de marginalização. Portanto, é preciso estar alerta

diante dessas possíveis consequências.

A escolarização desde cedo em crianças com deficiência intelectual é

importante, entre outras coisas, justamente em relação à dificuldade dos pais

de pôr em prática, por si sós, todo o programa educativo de que elas

necessitam. Portanto, os pais e os familiares não perdem a relevância singular

e a responsabilidade educativa que lhes cabe na infância. A cooperação entre

professores, pais e profissionais, sempre necessária na educação, é

absolutamente imprescindível na educação especial, e deve se concretizar em

um bom entendimento recíproco e em uma ação pactuada. Professores e

educadores devem complementar as experiências educativas da família, e a

Page 55: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

55

família, por sua vez, deve complementar as experiências escolares. É preciso

intercambiar informações acerca do desenvolvimento da criança e devem ser

propostos objetivos educativos comuns à escola e à família.

Para melhorar a qualidade de ensino e assegurar a igualdade de

oportunidades é preciso que cada escola reflita a respeito e planeje de forma

conjunta a ação educacional mais adequada a seu contexto. Isso implica que

as decisões, tanto curriculares como de definição, de apoio e de funcionamento

da escola, devem ser tomadas por aqueles que vão implementá-las em função

da sua realidade, adequando às suas características concretas as propostas

que os gestores estabelecem.

A atenção à diversidade, mediante as diversas estratégias de

individualização do ensino e a progressiva integração dos alunos com

deficiência intelectual à escola comum, coloca novas exigências e

competências aos profissionais. A situação requer um trabalho colaborativo

entre todos os envolvidos no processo educacional: professores, pais, alunos,

profissionais de apoio e recursos da comunidade. Na maioria dos países, não

se concebe a integração dos alunos com necessidades educativas especiais à

escola comum sem uma série de apoios especializados que possam, em

conjunto com o professor da turma, atender às necessidades de todos os

alunos. Os recursos são variados conforme os países e, embora com as

mesmas denominações, desempenham funções distintas e intervém de forma

diferente. Os apoios mais frequentes são as equipes psicopedagógicas ou

interdisciplinares, os professores de apoio gerais ou específicos, os terapeutas

da linguagem, etc.

O problema mais importante não é tanto a variedade de figuras que dão

apoio, a forma como se organizam ou as funções que lhes são atribuídas. O

fundamental é o modelo que orienta sua intervenção. Contar com um modelo

proporciona uma base de referência que permite identificar quando se está ou

não diante de um problema, interpretar e elaborar possíveis soluções para

esses problemas, ajustar expectativas a respeito do que pode fazer o assessor

ou especialista, definir as finalidades e os âmbitos da intervenção para

assegurar a continuidade e a coerência do processo educacional dos alunos e

Page 56: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

56

o entendimento entre todos os profissionais. As funções e as tarefas

relacionadas com a intervenção psicopedagógica ou especializada, seja qual

for o caráter, inscrevem-se em uma série de eixos conceituais básicos que as

englobam e dão significado: a natureza dos seus objetivos, a modalidade da

intervenção, o âmbito preferencial e o estilo de intervenção.

A ação psicopedagógica deve contribuir para a melhoria da qualidade do

ensino aos alunos com deficiência intelectual considerando que:5

É mais importante identificar as necessidades especiais do aluno

com deficiência intelectual, do que saber o rótulo técnico a ele

atribuído.

A quantidade de conteúdo abordado e o ritmo de ensino são fatores

importantes para o sucesso do ensino. É mais provável que um

aluno aprenda, se a prática for feita em vários períodos curtos.

O ensino ativo (também denominado ensino direto) é uma forma

geralmente útil para o ensino ao aluno com deficiência intelectual. È

importante demonstrar ao aluno a estratégia adequada para o

desenvolvimento da atividade solicitada, proporcionar o máximo

possível de oportunidades para que ele responda e fornecer

acompanhamento e feedback, sistemática e regularmente.

Um bom ensino pode se efetivar em grandes grupos, em pequenos

grupos, ou em uma relação um-a-um. O critério de escolha é o

sucesso do aluno. É relevante identificar qual configuração melhor

atende às necessidades especiais do aluno e implementá-la.

Ao trabalhar cada conteúdo curricular, na sequência do currículo

regular, é importante que o professor/especialista verifique a

informação e as habilidades que o aluno já apresenta, bem como

seus interesses e necessidades de aprendizagem.

É mais provável que um aluno esteja motivado, para aprender,

quando o conteúdo tem significado para ele. Trabalhar com

conteúdos que sejam significativos para o aluno e partir

5 Ver quadro – Atuações do psicopedagogo com relação às estratégias de aprendizagem em Anexo D.

Page 57: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

57

preferencialmente de dados de sua realidade são fatores que

contribuem para o seu desenvolvimento escolar.

É mais provável que um aluno aprenda se as condições da sala de

aula e do atendimento especializado forem agradáveis.

É mais provável que um aluno aprenda, quando sua atenção é

atraída por apresentações relativamente novas. Diversificar a forma

de apresentar novos conteúdos é uma ótima estratégia de

aprendizagem.

É mais provável que um aluno aprenda, se as dicas instrucionais

forem sendo retiradas gradativamente. Contribui supervisionar de

perto a execução da atividade, dar dicas, pensar com o aluno e

retirar seu apoio gradativamente, à medida que ele vai conseguindo

desempenhar com maior autonomia.

Dividir o conteúdo em sequências menores é uma forma de auxiliar

o aluno a construir o conhecimento pretendido passo a passo.

É mais provável que o aluno com deficiência intelectual aprenda, se

tomar parte ativa nas circunstâncias práticas que se encontram

relacionadas com um objetivo educacional. Utilizar material concreto

também é uma estratégia significativa.

Ao detectar dificuldade de aprendizagem de um determinado

conteúdo, recomeçar o ensino usando passos menores, ou voltando

a fases anteriores da construção do conhecimento.

É válido solicitar que o aluno utilize, em situações práticas e

concretas, o conhecimento que está sendo trabalhado.

Tempo ocioso tende a desmotivar, a distrair e a criar condições para

comportamentos inadequados. É imprescindível manter o aluno

ocupado, com tarefas adequadas para sua capacidade e com sua

atenção.

É preciso explicar conteúdos novos com simplicidade e objetividade.

Certificar-se de que o aluno entendeu, é dar-lhe a oportunidade de

interagir oralmente.

Page 58: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

58

Procurar utilizar-se de estratégias metodológicas alternativas,

possibilita o entendimento ao aluno que não tiver aprendido da

primeira vez.

É relevante exemplificar aos alunos, ilustrando o conteúdo que está

sendo apresentado.

È válido dar a oportunidade para o aluno pensar (recorrer a exemplos

adicionais, a perguntas acessíveis para o aluno, de forma a favorecer

sua caminhada epistemológica).

O aluno exercite o conteúdo trabalhado em suas atividades de vida

diária.

Fornecer ao aluno instrução adicional e variadas oportunidades de

prática supervisionada lhe possibilitará desenvolver-se de forma

adequada e satisfatória.

Contudo, o fator principal no ensino do aluno com deficiência intelectual, é

a relevância dos conteúdos ensinados, para sua aquisição do melhor nível

possível de autonomia no gerenciamento de sua vida pessoal, e para seu

desenvolvimento e convívio na sociedade.

Page 59: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

59

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Page 60: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

60

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Page 61: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

61

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Page 62: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

62

ANEXO A

AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO DO ENSINO AO ALUNO COM DEFICIÊNCIA MENTAL QUE

APRESENTA COMPROMETIMENTOS MAIS SEVERO

MODELO DE PLANILHA 1

REGISTRO DE RESULTADOS DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO COMPREENSIVA

Aluno:

Série:

Unidade Escolar:

ÁREA ITEM SUB-ITEM DESCRIÇÃO NECESSIDADES ESPECIAIS

SUPORTES NECESSÁRIOS

ÁREA DO CONHECIMENTO EM QUE O ÍTEM DEVERÁ

SER TRABALHADO

Econômi

ca

Estrutu

ra

Econô

mica

1. Autonomia

2. Estabilidade

3. Perspectiva

Física Perfil

1.Tolerância

2. Postura

Page 63: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

63

Necessi

dade

de

adapta

ção

1.de ambiente

2.de maquinários

3. De objetos

Psicom

otor

1. Coordenação

global

2. Coordenação

fina

3. Coordenação

bi-manual

4. Coordenação

óculo-manual

(visomotora)

Capaci

dade

funcion

al

1. Destreza

2. Força muscular

Psicológi

ca

Psico-

motor

1. Esquema

corporal

2. Lateralidade

3. Direcionalidade

Page 64: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

64

4. Orientação

espacial

5. Orientação

temporal

Cogniti

vo

1. Atenção

Psicológi

ca

2. Percepção visual

(cor, forma,

tamanho,

quantidade,

natureza do

objeto,

semelhança de

objetos)

3. Percepção

auditiva

4. Discriminação

tátil

5. Discriminação

olfativa

6. Discriminação

do paladar

7. Memória visual

8. Memória

auditiva

9. Raciocínio

concreto

Page 65: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

65

10. Raciocínio

abstrato

11. Pensamento

lógico

12. Resolução de

problemas

Afetivo

emocio

nal

1. Identidade

pessoal e

representação

social de

999deficiência

2.

PassividadesAs

sertividade X

Agressividade

3. Segurança X

Insegurança

Social

Civil,

trabalhi

sta e

previde

nciário

1. Vínculos e

documentação

Familia

r

1. Composição e

organização

familiar

Page 66: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

66

2. sistema de

interações e

relações

familiares

Social

Compo

rtamen

tos

sociais

adaptat

ivos

Higiene pessoal:

Conhecimento

Rep. social de

Higiene

Pessoal

Familiaridade

Utilização

funcional

rotineira

2. Aparência

pessoal:

Conceituação

Representação

social

de

cuidado

pessoal

Familiaridade

Cuidado

pessoal

rotineiro

Page 67: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

67

3. Alimentação:

Conhecimento

Familiaridade

Hábitos

alimentares

1. Dependência

/

independênci

a

de hábitos

Trânsit

o

1. Sinalização:

Conhecimento

Familiaridade

Utilização

funcional

rotineira

1. Regras:

Conheciment

o

Familiaridade

Utilização

funcional

rotineira

Page 68: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

68

Transp

orte

1. Meios:

Conhecimento

Familiaridade

Utilização

funcional

rotineira

Comuni

cação

1. Meios:

Conhecimento

Familiaridade

Utilização

funcional

rotineira

2. Ocorrência de

vícios e suas

implicações

Habitac

ional

1. Condições de

vida familiar

(habitacionais,

infra-

estrutura)

Integra

ção

Comuni

tária

1. Organização

estrutural do

bairro e

localização

nele

Page 69: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

69

Social

Integra

ção

Comuni

tária

2. Acesso e

utilização dos

recursos

comunitários

(saúde,

educação,

lazer, serviço.

público, infra-

estrutura,

habitação

Relaçõ

es

Sociais

1. Extra-familiares;

amigos,

colegas,

vizinhos,

conhecidos

(padrão de

interações

quanto ao

conteúdo e

qualidade)

2. Com colegas de

trabalho

3. com chefe /

instrutor

Profissio

nal

Objetiv

os

1. Pessoais

2. Profissionais

Interes

se

1. Área

2. Profissões

3. Funções

Ocupacionais

Page 70: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

70

Direito

s /

devere

s

trabalhi

stas

1. Conhecimento

2. Exercício

Direito

s /

devere

s

previde

nciários

1. Conhecimento

2. Exercício

Condiç

ões e

ambien

tes de

trabalh

o

1. Espaço físico

2. Material

3. Instrumentos

4. Produtos

Page 71: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

71

Hábitos e atitudes para o trabalho

1. Assiduidade

2. Pontualidade

3. Cooperação

4. Organização do material

5. Cuidado com o material

6. Aproveitamento do material

7. Limpeza do material / setor

8. Disciplina

9. Responsabilidade

10. Silêncio no trabalho

11. Seriedade no trabalho

12. Aceitação da crítica

13. Aceitação de supervisão

Profissional

Desempenho

1. Qualidade

2. Produtividade

Busca de emprego

1. Identificação de fontes de trabalho

2. Comportamentos de busca de emprego

3. Preparo de documentação

4. Participação no processo de recrutamento / seleção

Page 72: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

72

Educacional

Linguagem oral

1. Vocabulário (conteúdo + quantidade)

2. Estrutura gramatical

3. Pronúncia

Linguagem escrita

1. Vocabulário (conteúdo + quantidade)

2. Estrutura gramatical

3. Pronúncia

Matemática

1. Seqüenciação numérica

2. Raciocínio numérico para operações matemáticas

3. Operações

4. Sistema métrico

5. Discriminação da organização temporal

6. Reconhecimen-to e utilização de dinheiro

Fonte: Planilha de avaliação desenvolvida por Maria Salete Fábio Aranha, Lucimara de Castro Figueiredo e membros da equipe técnica da Sorri-Bauru.

Page 73: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

73

ANEXO B

Aspectos familiares a valorizar na avaliação psicopedagógica tendo em

vista a escolarização da criança com necessidades educativas especiais

Estrutura e dinâmica familiar:

- Composição da família nuclear; horários e atividades de trabalho dos pais;

situação escolar dos irmãos; etc.

- Relação com os parentes; possibilidades de colaboração.

- Repercussão das diferentes opções escolares no restante da família.

- Divisão de responsabilidades quanto ao filho com deficiência.

- Forma habitual de os pais enfrentarem os problemas e tomarem decisões

(autonomia, dependência, etc.).

Condições familiares em relação às escolas:

- Possibilidades de acesso às várias escolas (recursos econômicos, ajudas e

bolsas, distância em relação a casa, ajuste das condições familiares aos

parâmetros de seleção).

- Necessidade de serviços complementares (transportes, horários ampliados,

atendimento durante as férias).

Ideias prévias dos pais sobre os diferentes meios educativos:

- Sobre a integração em escolas regulares.

- Sobre as escolas de educação especial.

- Sobre as escolas públicas ou privadas; confessionais ou laicas.

- Sobre as atividades extraescolares de lazer.

- Sobre as intervenções educativas e reabilitadoras extraescolares.

Page 74: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

74

Conhecimentos e atitudes da família diante da deficiência do filho:

- Situação emocional dos pais diante da deficiência (negação, aceitação).

- Atitudes e atuações em relação ao filho com necessidades educativas

especiais (superproteção, exigência, etc).

- Nível de conhecimento sobre a deficiência e as medidas educativas

específicas.

- Ajuste de suas expectativas sobre o desenvolvimento da criança.

- Aspectos educativos que mais valorizam ( intelectuais, comunicativos,

sociais).

- Grau em que se favorece a integração social do aluno fora da escola.

Possibilidades de comparação com o meio escolar:

- Capacidade e disponibilidade para ajudar seu filho nas tarefas escolares.

- Habilidades de relação e de comunicação com os professores.

- Conhecimento e utilização dos canais de colaboração e de participação.

- Atribuições e reações diante da evolução escolar do filho.

Page 75: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

75

ANEXO C

Diferentes formas de colaboração família/escola

Intercâmbio de informação:

- Questionários a mães e pais.

- Informação cotidiana na entrada ou na saída.

- Intercâmbio frequente de informação por escrito ( notas, diários de ida e

volta).

- Entrevistas de acompanhamento.

- Informes de avaliação.

- Reuniões de pais.

- Reuniões de pais.

- Informação por escrito ( painéis, circulares).

Atividades em casa:

- Pautas de controle de conduta.

- Sistemas alternativos e aumentativos de comunicação.

- Pautas posturais e exercícios físicos.

- Hábitos de autonomia pessoal.

- Atividades complementares à escola (lazer, tratamentos).

- Tarefas complementares em casa ( jogos, leitura, computador).

- Desenvolvimento de tarefas escolares em casa.

Page 76: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

76

Participação em atividades da escola:

- Trazer recursos materiais para a aula e para as atividades.

- Participação esporádica na escola ou na sala de aula ( presença no período

de adaptação, em festas e passeios).

- Participação periódica em atividades com crianças na escola ou na turma

- Participação em órgãos de gestão: funções de representação.

Page 77: A importância da prática educativa e psicopedagógica no processo de ensino-aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual

77

ANEXO D

Atuações do psicopedagogo com relação às estratégias de aprendizagem

1. Identificar as crenças dos professores em torno da inteligência e das

estratégias de pensamento e ajudar a modificá-las de acordo com o

conhecimento psicológico atual próprio dos enfoques cognitivos.

2. Ajudar a identificar os aspectos cognitivos de cada disciplina e os

comuns a todas elas, sugerindo como trabalhá-los e avaliá-los.

3. Assessorar na inclusão das estratégias de aprendizagem na prova inicial

de cada área.

4. Ajudar na elaboração de uma unidade didática interdisciplinar

estruturada em torno das estratégias de aprendizagem.

5. Coordenar as atuações do plano tutorial relacionadas com as estratégias

de aprendizagem e, se for o caso, apoiar os alunos nesse aspecto.