um visÃo psicopedagÓgica sobre a educaÇÃo,

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UNIGRAN- CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO, PSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR E TEOLOGIA MARCOS VINICIUS FERREIRA LIMA Curso: Psicopedagogia Disciplina: Iniciação á Pesquisa Educacional RGM: 702.1343 Turma: 2012 / Polo: São Paulo

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Page 1: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

UNIGRAN- CENTRO UNIVERSITÁRIO DA

GRANDE DOURADOS

UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

PSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR E TEOLOGIA

MARCOS VINICIUS FERREIRA LIMA

Curso: Psicopedagogia

Disciplina: Iniciação á Pesquisa Educacional

RGM: 702.1343

Turma: 2012 / Polo: São Paulo

SÃO PAULO/SP

2012

Page 2: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

MARCOS VINÍCIUS FERREIRA LIMA

UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

PSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR E TEOLOGIA

Orientadora: Profª Terezinha Bazé de Lima

Psicopedagogia/Iniciação á Pesquisa Educacional

Pesquisa Bibliográfica

Pesquisa Exploratória

SÃO PAULO/SP

2012

Page 3: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

RESUMO

Este estudo tem como objetivo abordar uma questão psicopedagógica no processo de

ensino e aprendizagem, através da problemática de alguns tipos de fatores de ordem

intra e extras escolares, algumas dificuldades de aprendizagem e consequentemente nos

leva a refletir sobre o porquê de alguns alunos terem fracasso escolar. É do interesse da

psicopedagogia compreender como ocorre o processo de aprendizagem e tratar possíveis

dificuldades que ocorrem durante o processo de ensinar e aprender. Fatores como: o tipo

de metodologia utilizada na sala de aula; currículo escolar que é oferecido aos alunos; a

pouca falta de prática de alguns professores; conteúdos e exercícios inadequados; as

questões orgânicas; cognitivas; afetivas/emocionais; econômico/ social /culturais pode

influenciar no processo da aquisição de aprendizagens bem como também causar

transtornos, primeiramente na criança, na família e depois para a escola. Abordaremos á

Introdução as teorias que embasam a prática psicopedagógica, o histórico,

o objeto de estudo, os campos de atuação, psicopedagogia na educação, no

hospital e Psicopedagogia na teológia.

Palavras – chave : psicopedagogia na educação, psicopedagogia no hospital,

psicopedagogia na teológia, dificuldades de aprendizagem; fatores intra e extras

escolares.

Page 4: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO...............................................................................................05

1.1 - Dificuldades de Aprendizagem: fatores intra e extras escolares.............06

1.2 - Estratégicas Psicopedagógicas e Dificuldades de

Aprendizagem.........08

2 - REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................11

2.1- Olhar e Escuta na Psicopedagogia.................................................................11

2.2- A Escuta Clínica na Psicopedagogia.............................................................12

2.3- A postura analítica e a atitude clínica na psicopedagogia.............................13

2.4 - Conhecendo a Psicopedagogia...............................................................15

2.5 - Objetivo de Estudo da Psicopedagogia........................................................16

2.6- Tratamento Psicopedagógico preventivo......................................18

2.7- Tratamento Psicopedagógico Terapêutico.................................18

2.8- Psicopedagogia Educacional......................................................................19

2.9- Psicopedagogia Hospitalar............................................................................19

2.10 - Psicopedagogia no Ensino Religioso.........................................................20

3- PROBLEMATIZAÇÃO.................................................................................23

4- QUESTÕES DA PESQUISA....................................................................... 23

5- OBJETIVO....................................................................................................23

5.1- Objetivo Gerais.............................................................................................23

5.2 - Objetivos Específicos.................................................................................24

6- JUSTIFICATIVA...........................................................................................24

7- HIPÓTESE.....................................................................................................25

8- METODOLOGIA DA PESQUISA..............................................................26

8.1- RESULTADOS.............................................................................................27

8.2- CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................30

9- CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ............................................................32

10-REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS........................................................33

Page 5: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

1- INTRODUÇÃO

A psicopedagogia é basicamente reconhecida e entendida como um

método que contribui, juntamente com a psicanálise, pedagogia e a psicologia, para

participar na solução de problemas que surgem no contexto educativo, vindo estes, do

ambiente familiar, escolar, do meio social, econômico, cultural ou de outras origens.

Quando faz parte do ensino da escola, contribui para aquisição de conhecimentos

que são elaborados no processo de ensinar e aprender, proporcionando ao aluno uma

maneira gratificante e prazerosa para acontecer aprendizagens, autonomia e

emancipação. Trata o processo de aprendizagem e suas dificuldades humanas,

considerando as realidades interna e externas à escola e procura compreender as questões

cognitiva, orgânica, social, familiar, emocional e também o trabalho pedagógico como

elementos relevantes de sucesso ou insucesso para aquisição de aprendizagens.

De acordo com Scoz (2002) “[...] o objetivo principal da psicopedagogia é

resgatar uma visão mais globalizante e, consequentemente, dos problemas decorrentes

desse processo”. Além e identificar as causas, verifica a origem das diversas

manifestações.

O método utilizado é o Hipotético- Dedutivo, que conforme Andrade,

2010, permite formular hipóteses sobre determinado conhecimento e usa da

dedução para explicar a ocorrência de fenômenos, a partir da confirmação da

hipótese.O problema consiste na preocupação em relação à ação da prática

pedagógica, de alguns professores, frente à interferência de fatores intra e extras

escolares, que causam problemas de aprendizagem nos alunos e os levam ao

fracasso escolar.

A metodologia de trabalho da psicopedagogia permite que professores

busquem ter um olhar psicopedagógico para que tenham melhor desenvolvimento da

sua prática pedagógica, de maneira a contribuir com o desempenho da

aprendizagem dos alunos.

Page 6: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

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1.1 - Dificuldades de Aprendizagem: fatores intra e extras escolares

Apesar de vários estudos no Brasil, romper com problemas de

aprendizagem escolar, ainda é preocupante. Fatores como falta de preparo de

educadores, condições precárias de funcionamento de gestão administrativa,

pedagógica e estrutural, da maioria das escolas; questões econômicas/ sociais e culturais

das famílias, entre outros, têm servido de pauta para debates dentro e fora das escolas,

responsabilizando estes fatores como causadores dos problemas de aprendizagem

escolar, contribuindo assim com a falta de estímulo de alunos e professores.

Na visão Scoz (2002) a realidade educacional brasileira ainda não

conseguiu uma política clara e segura de intervenção que torne a escola capaz de ensinar

e contribuir com a superação de problemas de aprendizagem. Para isso acontecer

“seria necessário que os educadores adquirissem conhecimentos que lhes possibilitem

compreender sua prática e os meios necessários para suscitar o progresso e sucesso dos

alunos”.No processo educacional o papel de quem ensina e de como aprende é fator

importantíssimo para que professores e alunos criem vínculos indispensáveis para a

aprendizagem. Este processo precisa ser construído de maneira sócio interacionista,

pois ensinar e aprender envolve o professor, o aluno e o meio onde se dá a

aprendizagem.

Nos encontros pedagógicos das escolas em geral ouvem- se queixas de

professores, como forma de desabafo e também para tirar de suas costas, a

responsabilidade da não aprendizagem, de grande parte de seus alunos.

Expressões como: o aluno é preguiçoso e desatento; lento para copiar, escrever e

resolver as atividades faz parte do cotidiano, da maioria das escolas e a interação

professor/aluno pouco tem contribuído como fator facilitador de aprendizagens. Na

maioria das vezes a discussão é gerada apenas em torno do foco “alunos que não querem

aprender” e “pais que não interessam pelos seus filhos e que não comparecem à

escola”. Usam como estratégia de responsabilidade, o aluno, pelo seu próprio fracasso

escolar.

[...], no que se refere à prática docente suponho que o despreparo e a insegurança estão na raiz da dissimulação, da estratégia de culpar a vítima e ao mesmo tempo ama- La sem nada poder fazer de objetivo para evitar- lhe o peso do fracasso. Uma melhor capacidade profissional do professor permitiria, no

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mínimo, eliminar essa hipótese. [...], vejo na capacidade profissional o ponto crítico a partir do qual imprimir um caráter político à prática docente para esse professor. (SCOZ, 2002, p. 12).

6As desculpas, sem consciência e tomada de providencias, tendem a

aumentar o problema de aprendizagem e deixa o aluno desmotivado para aprender. O

problema de aprendizagem não tem origem apenas cognitiva e atribuir ao próprio aluno o

seu fracasso, sem considerar as condições de aprendizagem, que a escola oferece para o

aluno e outros fatores extras- escolares, é reforçar fracasso tanto do aluno como da escola.

O professor precisa criar vínculo com seus alunos e atentar para diferenciar a forma de

ensinar, principalmente interessar por trabalhar as dificuldades, que devem

ser entendidas como desafios a serem vencidos, começando a partir do cotidiano dos

alunos.

Se o aluno percebe que tem dificuldades para aprender, começa a

apresentar desinteresse, irresponsabilidade e às vezes torna-se agressivo, pois sente que

algo está lhe causando sofrimento para aprender.

A causa do sofrimento precisa ser identificada, para tratar o problema. Aí

entra a ação da psicopedagoga, pois geralmente o aluno não aprende porque não quer.

É uma questão muito mais complexa, onde muitos fatores podem interferir e causar

transtornos de aprendizagem para muitos alunos, tais como os problemas de

relacionamento entre professores e alunos, o tipo de metodologia de ensino utilizada pelo

professor, conteúdos fora da realidade do aluno, outros. Sabemos que a relação

professor/aluno pode tornar o aluno capaz ou incapaz e se o professor demonstra-se

despreparado, com certeza vai transferir toda sua insegurança e conseqüentemente

provoca no aluno sérias dificuldades de aprendizagem.

Consideramos que para a escola resolver problemas de aprendizagem, ela

deve levar em conta todas as esferas em que o indivíduo participa, ou seja, a própria

escola, a família, o ambiente fora da família e da escola, etc.

Sabemos que os primeiros ensinamentos vêm da família, pois com eles os

filhos aprendem a interagir e depois se desenvolvem e aperfeiçoam ao participar de

outros ambientes. Afirma Scoz, 2002, p.22 que não há apenas uma única causa para os

problemas de aprendizagem “[...] é preciso compreendê-los a partir de um enfoque

multidimensional, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos/ sociais“.

Sabe-se que um aluno quando apresenta dificuldades de aprendizagem nem

sempre tem deficiência mental ou algum tipo de distúrbio parecido. Na verdade existem

Page 8: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

fatores fundamentais que precisam ser trabalhados para se obter melhor rendimento em

todos os níveis de aprendizagem.

7

É óbvio que quando falamos em aprendizagem, não estamos relacionando

aquisição de conhecimentos apenas disciplinares, mas também de outros que são de

vital importância para o ser humano.

O professor como mediador do processo de ensino-aprendizagem,

precisa ser interventor na resolução de problemas e desenvolver um trabalho

consciente, que promova aprendizagens. Sendo assim a escola é um dos lugares mais

privilegiados para diminuir problemas de aprendizagem.

Ela deve oferecer condições favoráveis, satisfatórias e ambiente adequado

para que o aluno possa se sentir bem acomodado no modo da escola ensinar. Precisa

promover momentos de reflexão de ação psicopedagógica, e priorizar o papel de

reconstruir a figura do aluno e do professor, onde o professor facilita a aprendizagem

e o aluno seja o criador do seu processo pessoal, educacional e social/cultural. Quando

a escola ensina a aprendizagem significativa, o conhecimento é aprendido e apreendido

e passa a ter significado para a vida do aluno.

1.2 - Estratégicas Psicopedagógicas e Dificuldades de Aprendizagem

A psicopedagogia é constituída a partir de dois saberes e práticas: da

psicologia e pedagogia. Também recebe influencia da psicanálise, porém diferencia- se da

psicologia escolar nos aspectos: origem, formação e atuação.

Quanto à origem, a psicologia escolar tem como foco compreender as

causas do fracasso escolar e a psicopedagogia tem como função procurar as

causas e tratar determinadas dificuldades de aprendizagem específicas. Quanto à

formação, a psicologia escolar configura como uma especialização na área de

psicologia, enquanto a psicopedagogia é aberta a todos os tipos de profissionais e áreas

de atuação. A atuação da psicologia escolar configura especificamente como área

psicológica e a psicopedagogia age de forma interdisciplinar, abrangendo a

psicologia e a pedagogia.

[...] A psicopedagogia além de dominar a patologia e a etiologia dos problemasde aprendizagem, aprofundou conhecimentos que lhe possibilitam uma contribuição efetiva não só relacionada aos problemas de aprendizagem, mas,

Page 9: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

também, na melhoria da qualidade do ensino oferecido nas escolas. [...]. Dessa forma contribui para a percepção global do fato educativo e para a compreensão satisfatória dos objetivos da educação e da finalidade da escola, possibilitando, assim, uma ação transformadora. (SCOZ, 2002, p. 34).

8Aprendizagem não se restringe apenas a aprender a ler escrever. Porém muitos

alunos não conseguem ler e escrever na idade/série que se supõe que deva dar a

aprendizagem. Nisto são freqüentes as queixas de alguns professores de que, a maioria de

seus alunos, está com problemas relacionados ao grafismo e à leitura e que não

conseguem assimilar o conteúdo programático; Sabe-se que alguns problemas de

aprendizagem podem ser resultantes da interação da criança com o seu meio. A nossa

capacidade de concentração, de trabalho e de reflexão, se altera dependendo de nosso

estado emocional e quando conseguimos um controle adequado do nível de nossa

ansiedade, a capacidade criativa, o pensar, o perceber e o aprender passa ter

significados e a partir de então, superamos nossas dificuldades. O ambiente familiar

do aluno, neste momento, se for acolhedor propicia a ele melhores condições para lidar

com seus impulsos agressivos e emocionais.

Sendo assim, a psicopedagogia contribui com o trabalho de minimizar

alguns problemas de aprendizagem, tanto dos alunos que tem Dificuldades de

Aprendizagem (DA), como também, daqueles que, na visão da escola, são

considerados “normais” para aprender, ou seja, bastam dominar a leitura, a escrita e

situações matemáticas. Quando as ações pedagógicas não são organizadas, resultam

em desarmonia e podem causar no aluno, situações problemas que requererão

encaminhamentos de intervenção específica com profissionais da área.

A capacidade de conseguir tolerar frustrações é um dos fatores

importantes para ser levado em conta pelos professores dentro da sala de aula, pois o

próprio ambiente escolar, quando não é capaz de supera desafios, pode tornar- se

motivador para acontecer falhas no desenvolvimento da aprendizagem e leva à

defasagem, desarmonia, problemas afetivos/ emocionais e ao baixo rendimento

escolar. Isto causa elevado nível de tensão e de frustração, e conseqüentemente, ocorre

o desinteresse e eventualmente uma aversão generalizada aos estudos, por conta do baixo

fator afetivo promovido pela escola e também pela família. O aluno precisa ter uma

estrutura emocional controlada para ser capaz de tolerar as cobranças impostas pela

escola, pois muitas vezes é obrigado a cumprir atividades que vem a partir de um

currículo escolar inquestionável, que não tem muito a ver com o momento, os

Page 10: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

anseios e suas expectativas. São atividades que não contemplam as necessidades

que a vida requer para o aluno no diz respeito a um futuro promissor.

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[...]. Sentimentos básicos de alegria e tristeza, sucesso e fracasso experimentados em relação aos objetos e situações também serão experimentados, futuramente, em relação ás próprias pessoas, o que dará origem aos sentimentos interindividuais. (SISTO, 2001, p.102).

O insucesso do aluno pode levá-lo ao fracasso e conseqüentemente ao

abandono escolar. A manifestação de baixo desempenho e ou dificuldades de

aprendizagem pode acontecer de forma momentânea ou duradoura, mas qualquer destas

situações deve ser motivo de preocupação e alerta, tanto para a escola como para os pais.

Quando se leva em consideração as influências dos vínculos afetivos, positivos e

negativos, do sujeito com os objetos e situações, a escola compreende o processo de

aprendizagem dos alunos e assume diferentes intensidades e postura para orientar

condutas de personalidade e de comportamento disciplinar, com menor ou maior grau de

estabilidade. Neste momento a intervenção psicopedagógica é de suma importância

acontecer, pois focaliza o sujeito na sua relação com a aprendizagem.

A intervenção psicopedagógica focaliza o sujeito na sua relação com a aprendizagem. A meta do psicopedagogo é ajudar aquele que, por diferentes razões, não consegue aprender formal ou informalmente, para que consiga não apenas interessar- se por aprender, mas adquirir ou desenvolver habilidades necessárias para tanto [...]. (RUBINSTEIN, 2001, p.25).

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102- REVISÃO DE LITERATURA

2.1- Olhar e Escuta na Psicopedagogia

O olhar e a escuta são elementos complementares no processo de análise de

fenômenos sociais, pois, o ver e o escutar contribuem nesse processo. Para Weffort (1997),

não ouvimos realmente o que os outros falam, e sim o que se quer ouvir. Neste sentido, o ver

e o ouvir demandam implicações e entregas ao outro.

A situação analítica desenvolvida por Freud (1976) para o seu método psicanalítico,

“surge e se desenvolve na escuta e para a escuta singular à qual se propõe” (FALCÃO;

MACEDO, 2004, p. 2). Assim, como recurso proveniente da técnica psicanalítica e que aos

poucos vem conquistando espaço em diferentes profissões, a escuta clínica apresenta-se e

destaca-se como ponto relevante intersubjetivo, característico do encontro analítico.

Segundo Cecim (1997, p. 31), essa escuta difere-se da audição. Porque, enquanto a

audição permite à apreensão/compreensão de vozes e sons audíveis, a escuta clínica refere-se

à apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, audição das expressões e gestos,

posturas e condutas durante a escuta.

E, esta, não se limita exclusivamente ao campo da fala, “[mais do que isso] busca

permitir os membros interpessoais que constituem nossa subjetividade para cartografar o

movimento das forças de vida que engendram nossa singularidade” (CECCIM, 1997, p. 31).

A escuta também é um elemento que pode contribuir acerca da atuação do psicólogo

no ambiente escolar, esta pode ser utilizada como mecanismo capaz de apreender os

fenômenos que se efetivam no interior das escolas,

Partindo da perspectiva de Martins (2003), isso significa que as funções da escuta se

apóiam sobre diversificadas visões de mundo, portanto, implicam diferentes paradigmas e,

conseqüentemente, em aspectos e maneiras especificas de percepção dos fatores analisados.

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Para Adronio (1990, p. 40) apud Martins (2003, p. 44), existe nessa escuta, assim

como na interpretação que a acompanha, uma primeira forma de multirreferencialidade e a

linguagem do outro, sua indexabilidade que é fundamental aprender e falar, para encontrar os

diversos fios de sua pré história e os avatares de seus desejos.

11

Para tanto, na especificidade clínica, o discurso não necessita ser explicito, porque ela

joga essencialmente ao nível do subentendido. A escuta desenvolvida na área pedagógica, ela

diferencia-se das demais escutas, trazendo a marca da construção do conhecimento de modo

dialogado. Contudo, por se tratar de um campo híbrido entre a pedagogia e a psicologia, a

escuta psicopedagógica pode ocorrer sob diferentes aspectos, envolvendo o planejamento, a

avaliação e a reflexão sobre a escuta, mas é importante a este profissional possuir ou adquirir

uma atitude clínica, onde se possa efetivamente escutar atentamente os professores no espaço

escolar e traduzir o subentendido de suas falas (FERNANDEZ, 1991, p. 125). Esta pesquisa

propôs estudar de que forma a escuta psicopedagógica vem contribuindo no interior da

instituição escolar.

2.2- A Escuta Clínica na Psicopedagogia

A atuação do psicopedagogo, em instituições escolares, requer postura/atitude clínica

frente às diversas produções sejam elas explícitas ou implícitas dos indivíduos a quem se

propõe intervenção psicopedagógica.

Nesta perspectiva, a escuta psicopedagógica clínica insere-se como mecanismo de

verificar e tratar os diferentes fenômenos que se apresentam no cotidiano do trabalho docente

nas escolas.

Para se apropriar da utilização da escuta clínica na psicopedagogia, é relevante antes,

caracterizar o olhar clínico como aquele que toma em consideração um campo – de pesquisa

ou de intervenção – estruturado por um jogo de relações e de intervenções dinâmicas e

complexas. No entanto, ele também supõe que o prático e o pesquisador estejam

convenientemente deslocados da relação, isto é, que eles assumam uma postura de

implicação-distanciamento. Tal postura, por sua vez, possibilitar-lhes-á estar efetivamente co-

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presente na situação que eles analisam, sem perder, para tanto, suas especificidades e suas

competências (MARTINS, 2003, p. 43).

Isto remete que a atitude clínica necessária ao psicopedagogo ante sua possibilidade de

intervenção, implica a busca por novos sentidos para sua relação com o objeto pesquisado.

12

A observação torna-se, assim, importante. Pois, o olhar clínico se estabelece

fundamentalmente na observação. Contudo, a escuta se impõe como fator imprescindível no

que se refere ao temporal, “aquilo não-dito” (MARTINS, 2003, p. 44). Portanto, para Martins

(2003), isto significa que as diferentes funções do olhar e da escuta clínicas, que se apóiam

em perspectivas diferentes e, consequentemente, em metodologias também específicas,

precisam ser articuladas no intuito de se estabelecer pontos de referência nos aspectos

temporal e espacial.O psicopedagogo, enquanto terapeuta é um sujeito que “legaliza a palavra

do paciente, [...] alguém que com sua escuta outorga valor e sentido à palavra de quem fala,

permitindo –lhe organizar-se (começar a entender-se), precisamente a partir de ser ouvido”

(FERNANDEZ, 1991, p. 126). Com isso, a escuta psicopedagógica torna-se fator

preponderante no atendimento a heterogeneidade de/dos professores na escola, possibilitando-

lhes, vez e voz para expressarem-se oralmente e/ou através de mensagens subliminares.

O psicopedagogo terapeutizando, precisa posicionar-se em um lugar capaz de

proporcionar-lhe a análise eficaz, de modo a permitir “ao paciente organizar-se e dar sentido

ao discurso a partir de um outro que escuta e não desqualifica, nem qualifica”. “Somente a

partir das fraturas do discurso, por um lado, e de nos aproximarmos, por outro lado, por

encontrar o dramático, resgataremos o interessante, o original dessa história (FERNANDEZ,

1991, p. 126).

2.3- A postura analítica e a atitude clínica na psicopedagogia

O psicopedagogo deve “escutar e traduzir” (FERNANDEZ, 1991, p. 127) de modo

transcendente o que lhe é apresentado, buscando a atitude clínica necessária no trato dos

dados obtidos através de sua escuta e análise. Pois, “são as palavras, ou sua ausência,

associados com a cena penosa, as que dão ao sujeito os elementos que impressionarão sua

imaginação” (MANNONI apud FERNANDEZ, 1991, p. 127). Assim, a função da escuta

psicopedagógica não é fazer o paciente confessar o tido como importante, mas sim, garantir

ao indivíduo a possibilidade de que fale do que realmente carece de importância.Para

Page 14: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

Fernandez (1991, p. 128), o lugar analítico, tão importante para o desenvolvimento da escuta

clínica, é “lugar de testemunha e atitude clínica, da atitude do que escuta e traduz promovendo

um discurso mítico e não real. Lugar e atitudes necessários a todo terapeuta, que o

psicopedagogo deverá assumir”. Neste sentido, a referida autora apresenta sua proposta ou

guia para o psicopedagogo conseguir uma escuta psicopedagógica: (FERNANDEZ, 1991, p.

131)

13

1. Escutar–olhar – o primeiro momento da intervenção psicopedagógica supõe escutar-

olhar o outro e mais nada. De acordo com Fernandez (1991, p. 131), “escutar não é

sinônimo de ficar em silêncio, como olhar não é de ter os olhos abertos”;

2. Deter-se nas fraturas do discurso – estar atento aos aspectos trazidos através do

discurso verbal, assim como ao corporal, ao agir subjetivo do sujeito;

3. Observar e relacionar com o que aconteceu previamente à fratura – registrar as fraturas,

as formas diferentes de expressar-se;

4. Descobrir o esquema de ação – significação – “para encontrar o esquema de ação, não é

necessário deter-se no conteúdo do mesmo, mas no processo e nos mecanismos”

(FERNANDEZ, 1991, p. 132);

5. Buscar a repetição dos esquemas de ação – buscar detectar em que outras situações e

com que outros contextos e conteúdos repete-se este esquema;

6. Interpretar a operação, mais do que o conteúdo – levantar as concepções e idéias

inconscientes sobre a aprendizagem, estabelecendo relações com a “operação particular

que constitui o sintoma” (FERNANDEZ, 1991, P. 133).

O momento da intervenção psicopedagógica é único tanto para o paciente, quanto para

o terapeuta, e requer o estabelecimento de uma relação harmônica entre ambos, onde o escutar

esteja presente cotidianamente neste processo. Para isso, Fernandez (1991, p. 131) esclarece

que “escutar não é sinônimo de ficar em silencio, como olhar não é de ter os olhos abertos.

Escutar, receber, aceitar, abrir-se, permitir, impregnar-se”. Todavia, o terapeuta deve

aprimorar a sua escuta para além do que o paciente expõe oralmente, permitindo-lhe “falar e

ser reconhecido, e ao terapeuta compreender a mensagem” (p. 131) para poder intervir da

melhor maneira possível.

No entanto, para Martins (2003) é imperioso que ambos estejam convenientemente

deslocados na relação estabelecida, isto é, que eles assumam uma visão/postura de implicação

Page 15: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

distanciamento. Esta postura possibilitar-lhes-á efetivamente estarem co-presentes na situação

que analisam, sem para isso, perder suas especificidades e suas capacidades. Ou seja, uma

postura/atitude clínica que se estruture numa escuta, que aqui deve ser compreendido como

um mecanismo de acompanhamento acerca da realidade, registrando-se o vivenciado, o

experimentado. É preciso criar espaços onde as vivências institucionais possam ser afirmadas

e verdadeiramente escutadas.

14

Esta perspectiva, no plano das práticas do psicopedagogo, poderá fomentar o

reconhecimento e a apropriação “de elementos até então desconsiderados na abordagem dos

processos educativos, possibilitando uma reapropriação da experiência e de outros sentidos, a

eles atribuídos, pela abertura ao desconhecido, pela disponibilidade para a alteração (e por

conseqüência da heterogeneidade), para a escuta do inefável (MARTINS, 2003, p. 44).

2.4 - Conhecendo a Psicopedagogia

Psicopedagogia enquanto campo de estudo que tem como objeto

os problemas de aprendizagem, preocupa-se com a aprendizagem em toda sua

extensão, entendendo esta como um processo intrínseco na educação. Percebe-

se que o surgimento da Psicopedagogia segundo por Kiguel nasce “na fronteira

entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento

de crianças com distúrbios de aprendizagem, consideradas inaptas dentro

do sistema educacional convencional” (1991, p.22), ou seja, sistema onde

todos deveriam aprender igualmente e ao mesmo tempo, ignorando o fato de

que cada indivíduo é único.

Porém a preocupação com os problemas de (não) aprendizagem, pois

o problema na aprendizagem, e a inexistência de uma aprendizagem

bem sucedida, que fez com a Psicopedagogia ganhasse espaço próprio,

pesquisas e representantes em várias partes mundo.

No início do século XX o enfoque orgânico orientou os médicos,

educadores e terapeutas na definição dos problemas de aprendizagem,

neste período foram estimulados os estudos neurológicos, neurofisiológicos

e neuropsiquiátricos, desenvolvidos em laboratórios junto a hospícios que

Page 16: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

classificavam rigidamente os pacientes como anormais. Aos poucos os

conceitos de anormalidade foram inseridos nas escolas, conseqüentemente a

criança que não conseguia aprender era taxada como anormal, devida a

causa do seu fracasso escolar ser atribuída a alguma anomalia

anatomofisiológica.

Anteriormente a Psicopedagogia significava o conhecimento e o estudo do

sujeito individual, enquanto a educação significava o conhecimento da

sociedade.

15

A ampliação no âmbito da Psicopedagogia permitiu aprofundar o

estudo, enquanto sujeito individual quanto trabalhar esses conceitos no

macrossistema (VISCA, 1991, p.16-17).

Abre-se um novo campo de abrangência, que ao contrário do que

se imaginava usualmente, a Psicopedagogia não se restringe apenas ao

estudo das dificuldades e distúrbios de aprendizagem (pensamento esse

fundamentado pelo fato da Psicopedagogia surgir como uma alternativa de

intervenção para as dificuldades de aprendizagem), e sim em todo o

processo envolvido na aprendizagem, seja no seu estudo normal ou

patológico, seguido de tratamento preventivo ou terapêutico.

A aprendizagem está presente em vários momentos da vida, e com ela

as dificuldades que podem surgir em qualquer etapa da educação,

posteriormente do ensino formal.

2.5 - Objetivo de Estudo da Psicopedagogia

O objeto de estudo é o processo de aprendizagem, o processo utilizado

pelo sujeito enquanto construtor de seu conhecimento. Algumas pessoas ao

estudarem aprendizagem entendem que o contrário da aprendizagem é a

dificuldade da aprendizagem, mas não entendo desta forma, o contrário da

aprendizagem é a não aprendizagem.

A Psicopedagogia tem como objeto de estudo a aprendizagem humana,

como se dá o aprender, suas variações e os fatores implicados, como ocorrem

as alterações na aprendizagem e como preveni-las, ou tratá-las, Bossa (2000).

A Psicopedagogia avalia a aprendizagem e a percebe não apenas como

Page 17: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

um ato intelectual e passivo, mas coloca em pé de igualdade aspectos

cognitivos, afetivos e sociais. A partir das contribuições teóricas de Piaget,

Pichon - Rivière, Freud, Vigotsky e outros, a psicopedagogia se propõe a

facilitar o processo de aprendizagem, intervindo preventiva,

terapêutica e institucionalmente.

16

Nesse sentido, a psicopedagogia é “ o processo pelo qual se

proporcionam condições que facilitam o desenvolvimento do indivíduo, do

grupo, da instituição e da comunidade, bem como prevenção e solução de

dificuldades existentes, de modo a atingir objetivos educacionais e

pedagógicos” (Masini, 1984, Jornal do CRP).

As causas da não aprendizagem podem ser de naturezas distintas, como:

• Não aprenderam porque não passaram por um processo sistemático de

ensino;

• Foram ensinadas, mas por algum motivo externo ao sujeito (didática

do professor, filosofia da escola, número de alunos por classe,

problemas sociais, culturais, etc.), não aprenderam;

• Finalmente não aprenderam por dificuldades individuais específicas

(orgânicas e emocionais).

Cabe ao psicopedagogo inicialmente diferenciar as situações

facilitadoras /dificultadoras pelas quais as pessoas passaram resgatando

seu processo (incluindo na história de vida a aprendizagem)

Exemplo: Como andou? Como falou? Como se adaptou à escola? Como

reagiu frente às tarefas escolares... Posteriormente identificar o quando e o

porquê.É neste contexto atual que o Psicopedagogo conquista

espaço.

Uma observação minuciosa e uma escuta atenta sem "pré

conceitos", assinalada pela imparcialidade, pode detectar a real

problemática da instituição escolar. " Esse é o papel do

Page 18: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

psicopedagogo nas instituições: olhar em detalhe, numa relação de

proximidade, porém não de cumplicidade", afirma Césaris (2001);

facilitando o processo de aprendizagem.

Afinal, a Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor

compreensão do processo da aprendizagem humana e assim estar

resolvendo as dificuldades da mesma, ou mesmo prevenindo-as, visando o

interesse e o prazer do aluno e do professor pelo processo de ensinar e

aprender, garantindo o sucesso escolar para todos.

17

Com vasto cabedal teórico, a Psicopedagogia tem diversos e diferentes

fatores nos quais se basear para tentar explicar eventuais entraves no

processo de aprendizagem, passando a assumir um papel mais abrangente,

"cujo principal objetivo é a investigação sobre a origem da dificuldade de,

bem como a compreensão de seu processamento, considerando todas as

variáveis que intervêm neste processo", como afirma Rubinstein (1992, p. 103).

2.6- Tratamento Psicopedagógico preventivo

O tratamento psicopedagógico preventivo consiste na

prevenção, ou seja, no acompanhamento, promovendo a assistência

psicopedagógica. O tratamento psicopedagógico preventivo é indicado para

o trabalho institucional, pois neste ambiente a psicopedagoga poderá

detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem, promovendo

orientações à equipe pedagógica, a família, e ao aluno, procurando estar

sempre atenta ao processo de aprendizagem deste com intuito de prevenir

possíveis problemas. Para Bossa, “proposta da Psicopedagogia, numa ação

preventiva, é adotar uma postura crítica frente ao fracasso escolar, numa

concepção mais totalizante, visando propor novas alternativas de ação voltadas

para a melhoria da prática pedagógica nas escolas” (2000, p.31).

2.7- Tratamento Psicopedagógico Terapêutico

O tratamento psicopedagógico terapêutico consiste numa etapa,

Page 19: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

possivelmente posterior ao tratamento psicopedagógico preventivo, que

visa “tratar” este aluno que apresenta reais problemas de aprendizagem,

que já foi acompanhado na escola, onde recebeu um diagnóstico, ou seja, foi

acompanhado no módulo coletivo e agora será acompanhado individualmente.

Isto não quer dizer que o tratamento psicopedagógico terapêutico não

possa ser realizado juntamente com o preventivo, apenas tem uma

indicação mais específica para os casos de problemas de aprendizagem

que já foram trabalhados preventivamente, não tendo sido resolvido o

problema.

18

Nesta etapa do tratamento, a psicopedagoga fará uso de técnicas como

provas (psicométricas, projetivas, específicas), jogos, entre outras para

tratar o aluno de forma contextualizada, pessoal e principalmente

respeitando o indivíduo.

2.8- Psicopedagogia Educacional

A Psicopedagogia Educacional pode assumir tanto um caráter

preventivo bem como assistencial. Na função preventiva, segundo Bossa

(2000) cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo

de aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa,

favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo

com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando

processos de orientação . Já no caráter assistencial, o psicopedagogo participa

de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto

teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que professores,

diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a

sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da

própria "ensinagem".

2.9- Psicopedagogia Hospitalar

De acordo com Vasconcelos (2000), as doenças tratadas no

Page 20: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

hospital podem ser classificadas em:

- Acidentes, sejam acidentes domésticos (queimaduras, quedas, feridas), ou

acidentes externos. Para esta categoria, junte-se tentativa de suicídio,

estupros e espancamentos (casos de maus- tratos). Esta primeira classificação

constitui o que se chama traumatologia e internações gerais.

- Enfermidades de má formação congênita, como afecções ósseas, nefrológicas,

hepáticas, neurológicas ou musculares: má-formação de membros ou do esqueleto,

escolioses, luxações congênitas das articulações do quadril, miopatias, etc.

19

- Finalmente, enfermidades adquiridas ao nascimento ou de crescimento:

debilidade motora cerebral, poliartrite, poliomielite, tumores musculares ou

ósseos, cânceres.

As equipes médicas agrupam cirurgiões, médicos, anestesistas,

enfermeiras, auxiliares de enfermagem, nutricionistas, fisioterapeutas,

terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais, bem como,

psicopedagogos. Ainda pode-se contar com visitas voluntárias, com

intenções diversas, sejam elas recreativas, religiosas ou

humanitárias. Toda esta equipe acompanha, direta ou indiretamente, todas as

etapas de uma internação, que em geral são enfrentadas de forma diferente por

cada indivíduo hospitalizado.

O psicopedagogo, através do diagnóstico clínico, irá identificar as causas

dos problemas de aprendizagem. Para isto, ele usará instrumentos tais como,

provas operatórias (Piaget), provas projetivas (desenhos), histórias, material

pedagógico etc.

Na clínica, o psicopedagogo fará uma entrevista inicial com os pais

ou responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões,

honorários, a importância da freqüência e da presença e o que ocorrer.

Neste momento não é recomendável falar sobre o histórico do sujeito, já

que isto poderá atrapalhar a investigação. O histórico do sujeito,

desde seu nascimento, será relatado ao final das sessões numa entrevista

chamada anamnese, com os pais ou responsáveis.

Page 21: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

2.10 - Psicopedagogia no Ensino Religioso

Atualmente o assunto em questão vem sendo discutido com grande ênfase na opinião

da comunidade acadêmica. Acredita-se que a inclusão desta disciplina na grade curricular

beneficiará o ambiente escolar, visando à diminuição de atos de violência dentro e fora da

escola. Nos dias atuais é comum ver o medo de alguns profissionais que estão ingressando no

mercado de trabalho, quando são encaminhados para realização da disciplina de Estágio

Supervisionado dentro das instituições públicas de ensino.

20

Em outras palavras, o papel do psicopedagogo neste processo objetiva ser de um

mediador entre família, escola e sociedade civil, já que trabalha com o processo de leitura,

compreensão e interpretação textual. Educadores do passado, como Rousseau dizia no Emílio:

”O culto essencial é o do coração. Deus não rejeita nenhuma homenagem, quando sincera, sob

qualquer forma que lhe seja oferecida.” (Rousseau, 1967:627).

Pestalozzi também se pronuncia afirmando: ”Conservação dos sentimentos piedosos

da criança: elevação à Religião e à virtude com plena consciência e conhecimento de seus

deveres: estimulo a uma alegre atividade autônoma da criança; estímulo à pesquisa e à

reflexão pessoal e através de tudo isso, promover a aprendizagem do conhecimento e das

qualidades que a vida exige.” (Pestalozzi, 1980:59).

A troca de conhecimentos nos faz refletir e cada vez mais nos motiva ir à busca do

saber. O livro de Provérbios, escrito no antigo testamento por Salomão, filho de Davi, que era

rei de Israel, é uma verdadeira fonte de sabedoria e justiça, assim como, o livro de Eclesiastes,

que retrata o aconselhamento para a vida diária.

Tendo em vista que o psicopedagogo é um pesquisador em ação na busca de

alternativas para minimizar e ou prevenir conflitos na busca de soluções, quer seja, na questão

da aprendizagem ou entre outras que possam surgir na área de educação e saúde do escolar,

isto faz com que se venha a fazer uma reflexão sobre o ensino religioso nas escolas públicas.

Eles têm sempre um leque de histórias pra contarem. Então, o que fazer para

sensibilizar alunos, professores e comunidade estudantil para ações que promovam a paz?

Reflitamos juntos: professores com medo dos alunos e alunos com medo dos colegas e do

Page 22: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

professor. A transmissão de valores foi um dos principais argumentos utilizados para

solucionar a questão.

A Esperança Divina na formação do caráter do indivíduo foi um dos recursos

utilizados para tentar resolver o problema. Alguns estudiosos ressaltam a existência de duas

vertentes de pensamentos antagônicos com fortes argumentos de pesquisadores. A

comunidade cientifica se pronuncia, alguns contra, outros a favor, mostrando seus pontos de

vista coerentemente, através de dados fornecidos pelo IBGE e alguns relatos de profissionais

diversificados da área do Direito, pedagogos, sociólogos, teólogos, filósofos, antropólogos e a

comunidade escolar como um todo.

21

Diante desse fato, é de suma importância repensar as relações entre família, escola,

Estado e sociedade no processo educativo. Como responsáveis na formação do educando,

tendo como objetivo principal, o desenvolvimento cognitivo, afetivo, físico e social é

importante que se faça um trabalho de sensibilização no despertar da espiritualidade da

criança, do jovem e adolescente.

Enfim, acho de suma importância o ensino religioso (ensino bíblico) dentro da escola.

O desafio é encontrar mestres, que sejam conscientes e neutros em sua religiosidade. Para

transmitir os conhecimentos bíblicos, necessitamos de educadores verdadeiramente

comprometidos com a moralidade, pois os pais enfatizam muito este aspecto. Porque você

ensina a teoria e o aprendente te observa, se você faz na prática aquilo que ensina.Entendo a

preocupação dos pais, em relação à transmissão dos conteúdos. Da forma, como vai ser

abordado o assunto do pecado, da desobediência as leis de Deus, da questão da morte, entre

outros mais.

No entanto, os alunos vão aprender também sobre o amor, o perdão e as virtudes que

deverão ser cultivadas. Assim como a oração e o louvor a Deus, que segundo, as escrituras

sagradas são nossos verdadeiros alimentos espirituais. Finalizo ressaltando que é importante

conhecer as escrituras descobrir, na visão dos seus livros, argumentos para defender seu ponto

de vista, já que, só podemos opinar sobre determinado tema, quando temos algum

conhecimento prévio sobre o mesmo.

Page 23: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

22

3- PROBLEMATIZAÇÃO

O problema consiste na preocupação em relação à ação da prática

pedagógica, de alguns professores, frente à interferência de fatores intra e extras

escolares, que causam problemas de aprendizagem nos alunos e os levam ao

fracasso escolar.

O presente estudo promove uma análise aprofundada dos problemas da realidade escolar e

reestrutura a reinterpretação de fatores que levam o aluno a ter dificuldades para

aprender.

4- QUESTÕES DA PESQUISA

Como esta sendo a contribuição do Psicopedagogo ao complexo ato de ensinar ? Qual

a sua visão sobre a psicopedagogia na educação, psicopedagogia hospitalar e psicopedagogia

na teologia ? O Psicopedagogo poderá /pode colaborar para a melhoria no processo

aprendizagem ?

5- OBJETIVO

5.1- Objetivo Gerais:

Page 24: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

Este e s t udo tem como objetivo detectar falhas no decorrer de todo

o processo de aprendizagem, orientando e acompanhando todos os

sujeitos envolvidos, bem como percebendo e trabalhando nas dimensões

envolvidas. Ou seja, a linha de trabalho definida pelo psicopedagogo, é a forma de

ação e investigação para identificar as possíveis defasagens no processo de

aprender. Tamanha a complexidade deste ato, todas as variáveis devem ser

consideradas, desde uma disfunção orgânica ou uma falha no processo de

compreensão, que pode estar comprometendo a aprendizagem.

23

5.2 - Objetivos Específicos:

Um dos objetivos específicos da pesquisa é o de fornecer uma abordagem consolidada

em Referências teóricas encontradas sobre a conceituação da psicopedagogia educacional,

hospitalar e na teologia, e práticas (exploratórias) sobre a conceituação da psicopedagogia

educacional e verificar se o uso do conceito psicopedagógico servirá para obter resultados

satisfatórios no aprendizado.

6- JUSTIFICATIVA

O fundamento da Psicopedagogia é o estudo da aprendizagem humana,

que se constitui a cada momento em qualquer tempo. Intrínseca ao ser humano,

que se dá em todos os sentidos, em qualquer local e continuamente.

Justamente por ser tão ampla e complexa, essa habilidade, surgiu a

necessidade de um profissional com perfil específico para dedicar-se a ela, seja

potencializando-a ou fortalecendo-a perante as adversidades encontradas ou criadas.

Podemos afirmar que, devido à interdisciplinaridade de sua formação, o

psicopedagogo é um profissional apto para inserir-se nesta cadeia de conhecimento

e informação a que estamos expostos.

Os problemas de aprendizagem constituem uma situação real dentro das

Instituições escolares, portanto faz-se necessário que todos os envolvidos no

processo de ensino e aprendizagem sejam leitores e pesquisadores de problemas de

Page 25: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

aprendizagem para que possa os possibilitá-los a entender melhor como se dá a influencia

de fatores intra e extras escolares e como podem ser trabalhados de forma a

minimizar problemas de aprendizagens, no dia a dia da escola. Muitos alunos têm

apresentado dificuldades de aprendizagens já nas primeiras fases escolares e o

acompanha por um longo período de sua vida, ocasionando sérias dificuldades para

desenvolver aprendizagens.

Ainda são poucas as pesquisas sobre a importância da psicopedagogia como

metodologia primordial para o desenvolvimento do trabalho das escolas, no combate aos

problemas de aprendizagem dos alunos.

24

Mas quando educadores escolares fazem reflexão sobre sua prática de ensino,

é possível analisar o porquê do aluno não conseguir aprender e conseguem detectar

fatores que estão interferindo, negativamente, no processo de aprendizagem e que

provocam o insucesso do aluno, da escola e da família do aluno. Para tanto, a escola

precisa, recorrer aos psicopedagogos para juntos estruturarem ações, estratégias e

intervenções psicopedagógicas que contribuam como solução para diminuir os

problemas de aprendizagem, pois o aluno, o aluno é sujeito de transformação e de

aquisição de aprendizagens.

7- HIPÓTESE

A metodologia do trabalho da psicopedagogia permite que p e d a g o g o s t e nham

melhor desenvolvimento da sua prática pedagógica , de maneira a contribuir com o

desempenho da aprendizagem dos alunos.

A contribuição do psicopedagogo ao complexo ato de aprender pode se

concretizar em diferentes instituições, sejam elas escolares, clínicas,

hospitalares ou organizacionais. Ainda muito jovem no cenário a que se presta, vem

construindo sua história através de intensas pesquisas que envolvem teoria e

prática, mostrando-se séria e comprometida em sua atuação, construindo

parcerias com diversas áreas do conhecimento e da atividade humana. A

versatilidade e competência deste profissional certamente serão reconhecidas,

tornando-o um parceiro imprescindível no atual e futuro mercado de trabalho.

Page 26: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

Defender a necessidade da existência de psicopedagogos dentro das escolas, para

auxiliar no trabalho do pedagogo, é fazer opção por uma intervenção que reeduque a

prática pedagógica dos professores, para acontecer a melhoria da aprendizagem. É contar

com o sucesso do aluno, da escola e da família do aluno.

25

8- METODOLOGIA DA PESQUISA

Para realização deste estudo, pesquisou-se uma psicopedagoga e quatro professoras de

uma escola pública, localizada na zona norte da cidade de São Paulo-Capital, sendo utilizado

como critério de inclusão todos os funcionários que atuam numa mesma instituição escolar.

Em relação à pesquisa de campo, foi utilizado como instrumento para coleta de dados a

realização de entrevistas. Os dados obtidos foram analisados partindo-se da perspectiva da

abordagem qualitativa.

De um modo geral, as entrevistas qualitativas são muito pouco estruturadas, sem um

fraseamento e uma ordem rigidamente estabelecidos para as perguntas, assemelhando-se

muito a uma conversa. Tipicamente, o investigador está interessado em compreender o

significado atribuído pelos sujeitos a eventos, situações processos ou personagens que fazem

parte de sua vida cotidiana (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 168).

Neste contexto, constituíram-se como aspectos a serem englobados na entrevista com

a psicopedagoga:

1) A forma como esta compreende e analisa a função de sua escuta;

2) Ao modo como tem escutado os professores desta instituição, se exerce essa escuta

cotidianamente, assim como isso ocorre;

3) As possíveis contribuições desta escuta aos professores na intervenção psicopedagógica, a

forma como isso se efetiva. As entrevistas com as professoras constavam:

Page 27: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

1) A respeito da percepção em relação à atuação da psicopedagoga na escola;

2) Ao modo como percebe e analisa a possível parceria entre ambos, a forma como essa

parceria pode contribuir na prática docente no trato das dificuldades de aprendizagem dos

alunos;

3) A existência de possíveis oportunidades de ser escutada pela psicopedagoga nesta

instituição, a forma como ocorre;

4) Os momentos destinados a reunião onde se possibilita a exposição de problemas, etc.

26

Partindo-se destes itens, as entrevista foram realizadas. Assim, optou-se por iniciar a coleta de

dados através da entrevista com a psicopedagoga, para, posteriormente, realizá-las com as

professores que recebem assistência desta profissional. Todavia, visando preservar a

identidade dos sujeitos pesquisados, foram utilizados nomes fictícios para os participantes da

pesquisa.

8.1- RESULTADOS

A realização da entrevista com a psicopedagoga englobou fundamentalmente três

aspectos básicos em torno da escuta psicopedagógica aos professores na escola. Sobre a forma

como esta compreende e analisa a função de sua escuta na instituição, a mesma abordou que

reconhece a relevância desta, afirmando que “ao escutar o outro vou percebendo as suas

necessidades, o que realmente está sendo vivenciado pela profissional”.

Posteriormente, em torno do segundo aspecto, a respeito do modo como a

psicopedagoga tem escutado os professores desta instituição, se exerce essa escuta

constantemente, assim como isso se dá na prática. Obteve-se a seguinte resposta:

Através de diálogo procuro escutar com atenção as necessidades dos profissionais que

trabalham comigo, buscando entender o ponto de vista de cada um, visto que ao escutá-los

trocamos ricas experiências e, assim, explorar dimensões e possíveis caminhos para

solucionar as demandas necessárias. E, esses momentos ocorrem durante as reuniões

pedagógicas quinzenalmente (MÁRCIA).

Page 28: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

Outro aspecto levantado foi a partir das possíveis contribuições desta escuta aos

professores na sua intervenção, bem como a forma como isso se efetiva, onde a mesma

respondeu que “ao escutar o outro (os professores) podemos perceber suas necessidades e a de

seus alunos e, procurar orientá-los da melhor maneira possível”.

A atuação psicopedagógica não pode ser efetivada em momentos inadequados como

em reuniões pedagógicas, mas em espaços e momentos específicos, onde a professora seja

oportunizado a expressar-se em sua multiplicidade, e a psicopedagoga escutá-lo

transcendentemente.

Contudo, esta escuta não pode/deve estar contaminada com impressões impregnadas

de estereótipos e de fraturas das relações sociais estabelecidas entre ambos.

27

Para tanto, Weffort (1997), salienta que a ação de escutar clinicamente o outro é um

processo reflexivo e analítico de sair de si para ver e compreender o outro e a realidade

segundo seus próprios pontos de vista, sua subjetividade, singularidade e segundo sua história.

Assim, para Weffort (1997), a escuta constitui-se como uma ação altamente movimentada,

reflexiva, estudiosa e transcendente.

O lugar da escuta poderá possibilitar ao psicopedagogo “criar situações coletivas,

espaços de construção de conhecimentos sobre si mesmo – sobre a escola, sobre as

experiências dos envolvidos no processo educacional, etc. – de tal forma que os problemas

vividos sejam amplamente discutidos e a busca de soluções para os mesmos, compartilhada”

(MARTINS, 2003, p. 44). Ao psicopedagogo cabe, no exercício de sua escuta, de acordo com

as concepções de Fernandez (1991), detectar os lapsos, as diversas dificuldades na expressão

do discurso, da forma como os cortes são efetivados, das inconsistências, das repetições, das

pausas prolongadas, emerge o inconsciente, etc.

Durante a realização das entrevistas com as quatro professoras, pode-se detectar uma

inquietação em torno do acompanhamento psicopedagógico realizado nesta escola. Partindo-

se deste pressuposto, o primeiro aspecto levantado foi a respeito de como elas percebem essa

profissional e sua atuação na escola. Onde obteve-se considerações como: “Ela trabalha bem,

buscando sempre saber nossas necessidades e ajuda no que pode, entretanto, o tempo dela

aqui na escola é pouco, o trabalho acaba sendo fragmentado”.

Page 29: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

Ademais, abordaram que percebem a relevância dessa profissional atuando num

ambiente escolar e que a parceria estabelecida nesta acaba contribuindo na prática docente,

pois, segundo as entrevistadas, “o atendimento que ela nos garante ajuda a possibilitar aos

alunos uma melhorara comportamental em sala de aula e na aprendizagem”.

Outro aspecto discutido com as professoras foi se elas têm oportunidades de serem

escutados pela psicopedagoga nesta instituição, assim como a forma que isso se efetiva, da

existência ou não de momentos destinados a reuniões, onde elas pudessem expor seus

problemas, etc. Onde elas afirmaram que sim, que ela ouve suas queixas em momentos

específicos nas reuniões pedagógicas que se efetivam quinzenalmente. Assim, reafirmam que

o tempo destinado para tal fim é pouco.

28

Os discursos das professoras entrevistadas aparentam estar emersos em um receio

(medo) em expressar realmente o que pensam a respeito da atuação da psicopedagoga na

instituição. E isso é vislumbrado através do subliminar de suas falas, nas inquietações, nos

olhares, nas expressões, nas faltas, etc. Com isso, evidencia-se a importância da criação de

mecanismos que garantam as professoras serem efetivamente escutadas pela psicopedagoga

neste espaço.

Confrontando a visão da psicopedagoga e das professoras

Através do confronto entre as informações obtidas a partir da realização das entrevistas tanto

com a psicopedagoga, quanto com as professoras participantes deste estudo, pôde-se detectar

fraturas nos discursos destas em relação à atuação da psicopedagoga nesta unidade escolar e o

modo como suas intervenções se efetivam no cotidiano deste espaço.

A escuta, elemento tão relevante ao psicopedagogo, é tido/visto tanto pela

psicopedagoga quanto pelas professoras que recebem seu acompanhamento, meramente como

um canal auditivo capaz de apreender falas e possibilitar a intervenção partindo-se destas.

Contudo, a escuta clínica necessária a este profissional, requer o transcendente, o

subentendido do discurso exposto oralmente. Ou seja, “o exercício da escuta clínica, por sua

vez, tem como perspectiva desvelar dimensões do cotidiano escolar e das relações que o

Page 30: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

estruturam até então impensadas, desconhecidas, mas que tangenciam as práticas que aí se

estabelecem” (MARTINS, 2003, p. 45).

As professoras não podem/devem ser encaradas como pacientes da psicopedagoga, daí

a precisão da adequação da escuta clínica para o atendimento às mesmas. Entretanto, a

escassez na fundamentação teórica/prática a respeito da escuta clínica na psicopedagogia

revela uma possível falha no processo de formação desta profissional, que muitas vezes, não é

preparada para assumir uma postura/atitude clínica ante a demanda.

Na construção da escuta necessária ao psicopedagogo, constata-se, segundo Weffort

(1997, p. 1) alguns movimentos necessários a sua construção:

1 – “movimento de concentração para a escuta do próprio ritmo [...] o que se quer

observar, que hipóteses se quer checar, o que se intui que não se vê, não se entende, não se

sabe qual o significado, etc.”;

29

2 – “o movimento que se dá no registro das observações, seguindo o que cada um se propôs

na pauta planejada, onde o desafio está em sair de si para colher os dados da realidade

significativa e não idealizada”;

3 – “o movimento de trazer para dentro de si a realidade observada, registrada, para assim

poder pensá-la, interpretá-la [...]. Neste movimento podemos nos dar conta do que ainda não

sabemos”.

Macedo e Falcão (2009, p. 6) apud Freud (1937) apontam para o importante efeito da escuta

clínica no campo analítico: “a análise é um processo terminável enquanto se refere ao uso da

capacidade de escuta do analista, mas interminável enquanto se refere à capacidade adquirida

pelo paciente de escutar-se. O processo analítico, a partir da escuta do” psicopedagogo,

“envolve a instrumentalização da escuta do paciente em relação a si mesmo.

8.2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para se chegar às últimas palavras deste estudo, retoma-se a questão que o originou: de

que forma a escuta psicopedagógica vem contribuindo no interior da instituição escolar? A

resposta para tal indagação pode ser obtida sob as seguintes dimensões: Através da pesquisa

de campo realizada, percebeu-se que a escuta psicopedagógica não tem

Page 31: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

acontecido/contribuído nas intervenções efetivadas na instituição escolar fonte da coleta de

dados, pois, a psicopedagoga não demonstrou exercer a escuta clínica as professoras neste

espaço.

Assim, evidenciou-se que as entrevistadas não demonstraram apropriação a respeito

do real significado da escuta para a psicopedagogia. Segundo Weffort (1997), os indivíduos

não foram educados para a escuta, nem para seu real significado. Ou seja, a escuta acaba

estereotipada exclusivamente para a função auditiva.

Cabe registrar a escassez de material sobre a escuta na psicopedagogia, fator que pode

ser preponderante quanto a sua não utilização por parte da profissional pesquisada. Assim,

visualiza se ainda, a falta de recomendações e orientações técnicas em relação à apropriação e

utilização da escuta transcendente ao que é falado e apreendido auditivamente, capaz de

captar lapsos, falhas, repetições, sintomas, queixas, o subjetivo, etc. aspectos que lhe permita

interpretação e intervenção adequadas.

30

Para Macedo e Falcão (2009), a formação do terapeuta precisa estar atrelada ao

“famoso tripé – formação teórica, atividade de supervisionar-se e análise pessoal – constitui

os recursos na qualificação do processo de escutar o outro. Com isso, detecta-se que os

psicopedagogos precisam estar abertos para efetivamente escutar os professores e suas

queixas na escola, não auditivamente, mas de modo transcendente, buscando então, “a

sintonia com o ritmo do outro, do grupo, adequando em harmonia” (WEFFORT, 1997, p. 1)

para favorecer o trabalho deste no contexto escolar. Portanto, fica evidente a relevância de os

cursos de formação em psicopedagogia se adequarem a essa necessidade de estimular o

desenvolvimento da postura/atitude e escuta clínicas para que o profissional possa escutar os

professores na escola e

também desenvolver as intervenções convenientes.

O alcance da escuta psicopedagógica está conectada a apropriação de um fazer-se

terapeuta. Em virtude disso, ao se propor um estudo em torno da escuta psicopedagógica aos

professores na escola, laça-se um olhar, segundo Macedo e Falcão (2009), para a importância

dado pelo terapeuta às falas, gestos, movimentos, etc. de seu analisado, isso demonstrou o

papel da escuta deste em relação a si próprio, em sua investigação pessoal. Pois, a escuta da

psicopedagogia encontra sua vitalidade na capacidade do analista em perceber e reconhecer o

Page 32: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

valor e a necessidade de ser ele próprio escutado, gerando em si uma capacidade que está fora

do domínio da rigidez ou da padronização, e que por isso abre espaço à escuta do outro.

31

9 - CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

  ATIVIDADES           /     PERÍODOS 28/6 29/6 30/6 01/6 02/7 03/7 04/7 05/7 06/7 07/7

1Apresentação do Projeto de Pesquisa

Levantamento de LiteraturaX                  

2Elaboração do Projeto de Pesquisa

Montagem do Projeto  X                

3 Levantamento de Dados     X X X          

4Tratamento dos dados

Análise dos Dados      X X X X      

5 Interpretação dos Resultados e

Conclusão

          X X X    

Page 33: UM VISÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE A EDUCAÇÃO,

Elaboração do Relatório Final

6 Revisão do Texto                 X  

7 Entrega do Trabalho                   X

32

10- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências

naturais e sociais: pesquisa qualitativa e quantitativa. São Paulo: Artmed, 2004.

ALVES, Rubem. Dogmatismo e Tolerância, Ed. Paulinas.

BARBIER. René. (1985). A pesquisa-ação na instituição educativa. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar.

BOFF, Leonardo. Igreja, carisma e Poder. Ed. Vozes.

CATÃO, Francisco. O fenômeno religioso. São Paulo: Letras &letras, 1995.

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