a importÂncia da pormenorizaÇÃo no … pag169-186.pdf · seminário sobre paredes de alvenaria,...

18
Seminário sobre Paredes de Alvenaria, P.B. Lourenço & H. Sousa (Eds.), Porto, 2002 169 A IMPORTÂNCIA DA PORMENORIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO DAS ALVENARIAS Luís CAMARNEIRO Director Comercial Cerâmica Vale da Gândara Mortágua SUMÁRIO As alvenarias são sistemas construtivos de grande complexidade aos quais devem ser exigidos bons desempenhos. Se não dedicarmos algum do nosso esforço ao estudo e à consequente pormenorização na fase de projecto, associado a uma boa memória descritiva ou especificações técnicas inerentes aos materiais a aplicar e a uma boa prática de execução, estamos a abdicar de um óptimo instrumento de trabalho para quem tem a responsabilidade de dirigir, fiscalizar ou até mesmo de executar. As questões abordadas tocam apenas e de uma forma superficial alguns dos inúmeros aspectos que consideramos essenciais das exigências funcionais das alvenarias. 1. INTRODUÇÃO As alvenarias em tijolo pouco têm evoluído nos últimos anos em Portugal. Contudo, novos materiais têm sido progressivamente introduzidos no mercado. Curiosamente alguns deles parecem inevitavelmente condenados ao insucesso, não obstante a sua elevada qualidade e o sucesso alcançado noutros países. Sendo consideradas regra geral, uma não especialidade em obra e caracterizadas por uma mão-de-obra fácil de obter e a custos muito reduzidos, as alvenarias, são muitas vezes entendidas meramente função de enchimento, não inspirando cuidados de maior. Como consequência directa destas atitudes, as nossas alvenarias têm, regra geral, um mau desempenho ou um desempenho desajustado daquele que seria desejável.

Upload: duongphuc

Post on 28-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Seminário sobre Paredes de Alvenaria, P.B. Lourenço & H. Sousa (Eds.), Porto, 2002 169

A IMPORTÂNCIA DA PORMENORIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO DAS ALVENARIAS

Luís CAMARNEIRO Director Comercial Cerâmica Vale da Gândara Mortágua

SUMÁRIO

As alvenarias são sistemas construtivos de grande complexidade aos quais devem ser exigidos bons desempenhos. Se não dedicarmos algum do nosso esforço ao estudo e à consequente pormenorização na fase de projecto, associado a uma boa memória descritiva ou especificações técnicas inerentes aos materiais a aplicar e a uma boa prática de execução, estamos a abdicar de um óptimo instrumento de trabalho para quem tem a responsabilidade de dirigir, fiscalizar ou até mesmo de executar. As questões abordadas tocam apenas e de uma forma superficial alguns dos inúmeros aspectos que consideramos essenciais das exigências funcionais das alvenarias. 1. INTRODUÇÃO As alvenarias em tijolo pouco têm evoluído nos últimos anos em Portugal. Contudo, novos materiais têm sido progressivamente introduzidos no mercado. Curiosamente alguns deles parecem inevitavelmente condenados ao insucesso, não obstante a sua elevada qualidade e o sucesso alcançado noutros países. Sendo consideradas regra geral, uma não especialidade em obra e caracterizadas por uma mão-de-obra fácil de obter e a custos muito reduzidos, as alvenarias, são muitas vezes entendidas meramente função de enchimento, não inspirando cuidados de maior. Como consequência directa destas atitudes, as nossas alvenarias têm, regra geral, um mau desempenho ou um desempenho desajustado daquele que seria desejável.

170

Figura 1 : Exemplo de uma obra com alvenarias exteriores em tijolo face à vista (TFV)

Com a introdução do tijolo face à vista no mercado Português, sugiram muitos problemas que não sendo novos, assumiram maiores proporções, afectando a credibilidade de um produto tão utilizado em muitos países espalhados pelos 5 continentes. A questão pode resumir-se a um princípio fundamental: a construção em tijolo face à vista não admite os erros que têm sido admitidos há longa data pela construção tradicional em Portugal. Como base de suporte a este princípio há um aspecto incontornável, em nosso entender, que é o seguinte: Uma parede exterior simples em tijolo face à vista deixa-se atravessar pela humidade do exterior até à contra face ou plano posterior dessa mesma parede. 2. AS ALVENARIAS EXTERIORES EM TIJOLO FACE À VISTA 2.1. Função É importante salientar que as paredes exteriores dos edifícios em tijolo face à vista raramente assumem uma função estrutural plena, limitando se a uma mera função de revestimento privilegiando a estética, assumindo no limite um papel autoportante.

L. Camarneiro 171

A falta de pormenorização ou o seu baixo grau, bem como a ausência de um caderno técnico de encargos ou de uma memória descritiva em que estejam descritas as tarefas a realizar e definidos os materiais a utilizar tem sido pratica generalizada entre nós nos últimos anos. Por este facto as alvenarias em geral e as alvenarias exteriores em particular têm tido um mau desempenho do ponto de vista funcional das mesmas, principalmente no que se refere aos paramentos exteriores dos edifícios.

Figura 2 : Pormenor da caleira ou meia cana na base de uma fachada em TFV

A caixa de ar tem um papel fundamental no corte à entrada de humidade. As juntas verticais abertas de 4 em 4 tijolos facilita a drenagem da caixa de ar bem como a ventilação da mesma. O isolamento térmico quando bem aplicado também contribui para o corte à entrada de humidade nos paramentos interiores do edifício.

172

Figura 2 : Exemplo construtivo e tratamento da caleira ou meia cana. Estrutura metálica com correcção total da ponte térmica

Existem alguns aspectos fundamentais das alvenarias exteriores em tijolo face à vista que em nosso entender beneficiariam directamente com uma melhor pormenorização em projecto, dos quais destacamos:

• corte à entrada de humidade. • correcção das pontes térmicas • controlo da fissuração • ausência dos diferentes tipos de eflorescências e melhoria do comportamento acústico.

3. ARGAMASSAS PARA MONTAGEM DE ALVENARIAS EM TFV 3.1. Argamassas feitas em obra Com o aparecimento das primeiras fábricas de cimento Portland em Portugal as “velhas argamassas” foram paulatinamente perdendo terreno para as chamadas massas de cimento e

L. Camarneiro 173

areia que mais se assemelham a betão sem inertes grossos. De igual modo a cal, quer na forma de cal viva quer na de cal hidráulica, outrora muito utilizada, tem vindo a ser abandonada como ingrediente constituinte das argamassas. Como resultado desta mudança de atitude, generalizou-se o uso das chamadas “argamassas de cimento” em que muitas vezes o cimento é utilizado de uma forma quase “abusiva”, por ex. para tornar a massa mais trabalhável, entre outros casos igualmente bizarros. Este tipo de argamassas, em nosso entender, não se adequa à utilização nas alvenarias em geral e nas alvenarias em TFV em particular pelas razões que passamos a indicar:

• Resistência elevada. Nalguns casos chegam mesmo a apresentar valores de resistência à compressão superiores aos do Betão.

• Falta de elasticidade. Valores de resistência muito superiores aos dos restantes elementos são regra geral prejudiciais para o funcionamento do conjunto.

• Fissuram com relativa facilidade permitindo a passagem de humidade. • Não permitem os micro movimentos dos materiais cerâmicos, sejam por dilatação

contracção ou por expansão por humidade. • Pioram o comportamento acústico do conjunto. • Contribuem para o aparecimento ou aumentam a intensidade das eflorescências e/ou

das carbonatações pelas juntas, quanto mais rico em cimento mais sais livres estão disponíveis.

3.2. Argamassas recomendadas As argamassas para o assentamento do TFV como revestimento exterior de fachadas devem ser preferencialmente bastardas. O seu traço não deverá ser superior a 1:5 (cimento Portland / areia). Recomenda-se a substituição de uma ou duas partes de areia por saibro de boa qualidade e de tonalidade amarelada ou avermelhada; [uma se o saibro for muito rico em finos (gordo), duas se este for mais pobre no teor destes materiais (magro)]. O saibro deverá ser cirandado (crivado) para obtenção de uma granulometria adequada (2 mm, máx.). Recomenda-se a adição de cerca de 15 % de cal hidráulica em função da quantidade de cimento utilizada. A amassadura deve processar-se com o menor teor de água possível de modo a minimizar o aparecimento das eflorescências de assentamento. Os inertes, bem como o cimento e a água utilizados na elaboração da argamassa, devem conter o mais baixo teor de salinidade possível. Recomendamos a utilização de um bom hidrófugo/plastificante na argamassa para uma melhor ligação da mesma com o TFV. A dosagem será a recomendada pelo fabricante em função da quantidade de cimento e cal hidráulica. Esta medida reduz as infiltrações de humidade através das juntas em argamassa, já que estas representam cerca de 20% da superfície exposta da fachada em TFV.

174 Nota: A composição da argamassa, quanto aos componentes da mistura e às respectivas dosagens, deve ser constante ao longo de toda a obra. A coloração que se obtém depois de seca tem muita influência na leitura final da fachada, uma vez que representa cerca de 20% da mesma. As argamassas mais claras podem ser obtidas utilizando saibro, cimento branco, cal ou outros aditivos existentes no mercado. Para maior controlo recomenda-se a realização de um ensaio em obra, antes do inicio da aplicação. 3.3. Situação actual de mercado Já começaram a aparecer entre nós algumas empresas a oferecer argamassas elaboradas tendo em vista a sua aplicação na montagem de alvenarias em TFV. Existem no mercado algumas marcas que colocam em obra, em silos ou em sacos de 25 kg, uma mistura devidamente elaborada e com características constantes, às quais basta juntar água. No entanto esses produtos pecam em questões tão importantes como a cor, a textura, o grau de impermeabilidade, grau de aderência e pela fissuração. Nalguns casos é ainda possível deparar-mos com o problema das eflorescências. Nos próximos tempos é muito provável que comece por um lado a haver mais oferta e por outro que este tipo de produtos se comece a aproximar daquilo que se pretende. 4. PATOLOGIAS 4.1. Entrada de humidade 4.1.1. Como se processa Um dos problemas mais incidentes nas fachadas em TFV é a entrada de humidade que nos casos mais graves atinge inevitavelmente as paredes interiores do edifício. A entrada de humidade pelo pano exterior ocorre regra geral pelas juntas em argamassa, nos pontos de colagem da argamassa ao tijolo, nas micro fissuras da argamassa das juntas e/ou do tijolo e pelas fissuras da parede no seu conjunto em geral. 4.1.2. Pontos críticos de entrada de humidade Os pontos mais críticos de entrada de humidade, são as ombreiras, as vergas ou padieiras, soleiras e peitoris e também as meias canas sempre que estas não estejam devidamente

L. Camarneiro 175

tratadas. Todos os pontos de contacto da parede exterior com quaisquer outros elementos, sejam eles estruturais, alvenarias interiores, suportes, grampos, etc. são consideradas zonas críticas de entrada de humidade. Por tudo isto devem ser evitadas em obra a todo o custo. 4.2. Fissuração 4.2.1. Principais causas Nas paredes de alvenaria não estrutural em TFV as principais causas de fissuração estão regra geral associadas a um ou mais dos seguintes fenómenos:

• Movimentos das fundações • Deformação dos apoios, vigas, suportes, pilares, etc. • Cargas diferenciais (variação brusca de cota por ex.) • Dilatação/contracção • Variações de humidade • Expansão por humidade do material cerâmico • Argamassas com resistências extremamente elevadas (pouco elásticas) • Ausência de juntas de movimento e de cunhal

4.2.2. Medidas preventivas Por variadíssimas razões os fenómenos de fissuração são sempre muito difíceis de evitar até porque cada caso é um caso e cada obra terá as suas especificidades próprias. No entanto é possível ter algum controlo sobre ela e sobretudo evitar que os seus efeitos mais nefastos tomem proporções alarmantes. 4.2.2.1. Avaliação pormenorizada das fachadas É possível, fazendo uma leitura dos alçados no projecto, analisar sumariamente as fachadas e prever por antecipação quais as zonas críticas de fissuração. Uma vez identificadas podemos actuar ao nível da pormenorização do projecto e/ou das especificações técnicas do caderno técnico de encargos, no sentido de contrariar as causas identificadas. 4.2.2.2. Criar juntas de movimento Assumir as juntas de movimento onde ele é previsível constitui um bom método para evitar a fissuração (ver figura 3). Esta medida, regra geral, não tem sido muito apreciada pelos projectistas portugueses. Contudo, a realidade dos factos, tem demonstrado que quando não executamos este tipo de juntas onde elas são necessárias, a obra por si só, mais cedo ou mais

176 tarde acaba por criar essas mesmas juntas que, sendo do foro patológico, têm um impacto negativo do ponto de vista estético e funcional da fachada (ver figuras 4 e 5).

Figura 3 : Localização das juntas de movimento verticais em função da orientação solar das fachadas

O critério da previsão das juntas verticais do pano exterior de uma fachada de TFV em função da orientação solar dos alçados, quando aplicado, acaba por resolver por antecipação alguns problemas de fissuração que não têm origem nos movimentos de dilatação/contracção. Pela observação e análise da figura 3 facilmente se conclui que nem todas as fachadas terão o mesmo comportamento. Assim sendo e pela sua elevada proximidade ente juntas consecutivas é possível concluir que as fachadas orientadas para poente são as mais críticas por estarem

L. Camarneiro 177

mais sujeitas à exposição directa à radiação. Segue-se a fachada sul que em termos de exposição solar ocupa o 2º lugar. Nunca é demais lembrar que estas considerações apenas serão válidas para as construções no hemisfério norte.

Figura 4 : Exemplo de fissuração Zona inferior de um vão

A fissura apresentada na fig. 4 tem já um longo período de vida. Sabemos que a parede já foi executada à cerca de 10 anos. A previsão das juntas verticais de movimento antecipadamente e a sua especificação no projecto se não contribuírem no sentido de evitar situações deste tipo na totalidade, certamente irá de alguma forma limitar o problema e a sua eventual forte progressão. As juntas de cunhal são absolutamente fundamentais quando estamos na presença de grandes panos em TFV. O cunhal orientado para Sul-Poente deve ser sempre objecto de estudo.

178 Uma maior elasticidade das argamassas, argamassas não muito ricas em cimento e com traço médio fraco, ajudam o conjunto a melhorar o seu desempenho absorvendo parte dos micro movimentos mas dificilmente, e só por si, conseguiriam absorver tão grandes tensões.

Figura 5 : Exemplo de fissuração em progressão acelerada na zona da ombreira

5.2.1.2. Armar as alvenarias Este método consiste em prever e prescrever no projecto e/ou no CTE a aplicação de armaduras em forma de treliça plana em arame de aço zincado em uma ou mais fiadas consecutivas nas zonas em que seja previsível que ocorra a fissuração. Este método não garante a ausência total de fissuração. No entanto se esta se vier a verificar a sua progressão será muito condicionada não representando um risco para construção.

Figura 6 : Armadura Murfor®

L. Camarneiro 179

A utilização destes materiais insere-se no âmbito das alvenarias resistentes e por este motivo não é objecto de um maior desenvolvimento, uma vez que esse tema será apresentado por outro orador. 6. PORMENORIZAR TAMBEM É PRESCREVER 6.1. A título de exemplo passamos a indicar um texto por nós sugerido para utilização na memória descritiva ou CTE no caso de edifícios com alvenarias exteriores em TFV.

6.1.1 Especificação genérica As alvenarias exteriores serão em parede dupla sendo o pano interior em tijolo vazado [30x20x15 cm] e o pano exterior em tijolo face à vista do tipo [A], com furação [B], na cor [X] com as dimensões [Y] com acabamento [Z]. A - indicação do fabricante ou marca e/ou tipo de material. B - referência ao tipo de furação (vertical, horizontal ou s/ furos) e à quantidade dos mesmos. X - indicação da cor ou cores pretendidas Y - especificação das dimensões dos tijolos (Comprimento x Largura x Altura) Z - indicação da opção de acabamento de textura (picado, lavrado, areado ou conjugação de 2 ou mais efeitos), se é ou não biselado e se é ou não flamejado. 6.1.1. Apoio das alvenarias exteriores em TFV

6.1.1.1. A parede exterior será executada com um apoio de pelo menos 2/3 da largura do tijolo (11 cm) nos elementos estruturais, ou em elementos próprios para o efeito, devidamente solidários com estes, sendo executados preferencialmente em aço inoxidável.

6.1.1.2. A base de assentamento de uma parede em TFV deve estar sempre de nível (tanto no sentido longitudinal da parede como no transversal), de modo a evitar a tendência para o escorregamento do paramento sobre o apoio.

6.1.1.3. Sobre a base de assentamento deve existir uma tela de apoio, betuminosa ou aborrachada, reforçada com fibra de vidro de modo a permitir e acompanhar os micro movimentos do paramento relativamente à estrutura.

6.1.2. Controlo da fissuração

6.1.2.1. Sempre que se verifique uma mudança de cota na base de assentamento de uma parede em TFV, ou a meio de uma parede, quando surge uma descontinuidade de um dos lados deve prever-se:

180 a) Uma junta de movimento Vertical ou Horizontal. b) Um reforço das juntas de assentamento em argamassa com armaduras em aço zincado do tipo Murfor® , em várias fiadas consecutivas ou alternadas, ao longo da zona crítica. 6.1.2.2. Nos cunhais em que não esteja prevista nenhuma junta de dilatação ou de movimento, deve controlar-se a fissuração com recurso a armaduras em arame zincado do tipo Murfor®, colocadas na argamassa das juntas, cada 3 fiadas de tijolo. Serão dobradas a 90º sensivelmente ao meio ficando com cerca de 1,5 m para cada um dos lados do cunhal. 6.1.2.3. O assentamento dos tijolos deve processar-se com uma argamassa elástica (o mais possível) do tipo bastarda (não muito rica em cimento).

6.1.3. Ancoramento de uma parede exterior em TFV

6.1.3.1. Os tijolos da parede exterior em tijolo face à vista serão contraventados ao pano interior com 5 âncoras de retenção (grampos) por m2, com pingadeira perfeitamente situada na caixa de ar, aplicados em quincôncio. (DIN 1053 – grampos em aço inoxidável A4).

6.1.3.2. Nos cunhais (cantos), bem como nas proximidades das juntas de dilatação, e junto aos vãos (ombreiras, vergas ou padieiras, peitoris, etc.) serão aplicadas mais 3 âncoras por metro linear. (DIN 1053).

6.1.3.3. Os grampos serão aplicados durante o levantamento da parede interior, ficando colocados na argamassa das juntas de assentamento dos tijolos. Durante o levantamento da parede exterior, garantir-se-á que a sua posição de trabalho, isto é, a inclinação será sempre da parede interior para a parede exterior.

6.1.3.4. a) Os grampos serão em aço inoxidável A4 com pingadeira tipo Halfen Ref. (xxx) nas zonas de alvenaria/alvenaria e Ref. (yyy) nas zonas de betão/alvenaria.

6.1.3.4. b) Os grampos serão executados em obra com arame de aço inox com um diâmetro mínimo de 4mm, com pingadeira na caixa de ar.

6.1.4. Argamassas para montagem de uma parede em TFV

6.1.4.1. a) As argamassas serão adequadas ao assentamento do tijolo face à vista. Devem ser bastardas, elásticas hidrófugas e a água de amassadura deverá ser reduzida ao mínimo. Podem ser executadas em obra e deverão cumprir as seguintes especificações: tipo I (A e B), tipo II, tipo III, tipo IV ou tipo V. (Ver manual de aplicação da Cerâmica Vale da Gândara, ed. 2002).

6.1.4.1. b) As argamassas serão do tipo Argamassa de Montagem Vale da Gândara ou equivalente, hidófugas, elásticas e impermeáveis. Serão fornecidas no estado de mistura prévia em seco e colocadas em sacos de 25 kilos.

L. Camarneiro 181

6.1.5. Juntas aparentes em argamassa 6.1.5.1. As juntas verticais e horizontais de assentamento do TFV terão um valor que se deve situar entre 1 cm e 1,5 cm. Esta variação deve-se às necessidades da obra, por um lado [divisão entre vãos] e às variações dimensionais dos materiais cerâmicos que, de acordo com as Normas Europeias, podem atingir alguns milímetros. 6.1.5.2. As juntas de assentamento serão realizadas a partir da argamassa de assentamento dos tijolos. Devem ficar totalmente preenchidas com argamassa durante a aplicação das fiadas, e serão deixadas à face do tijolo, isto é, à face do paramento. Posteriormente, serão refundadas [ ou outro tipo de acabamento de acordo com a opção do projectista], apenas e só depois da argamassa ter ganho presa suficiente para o efeito, isto é, aparentar “estar seca”. Depois, corta-se ao mesmo tempo que se refunda com um “carrinho limpa juntas” ou outra ferramenta adequada para o efeito. 6.1.5.3. Posteriormente, procede-se a uma limpeza a seco com uma escova média, com sisal ou com alcatifa pelada para remover qualquer indício de argamassa remanescente nas faces dos tijolos. 6.1.6. Juntas de dilatação / juntas de movimento 6.1.6.1. Nas fachadas em TFV serão previstas juntas de dilatação verticais afastadas entre si de uma distância x, variando esta em função da orientação solar dos alçados, de acordo com as normas aplicáveis (normas DIN).

6.1.6.2. Serão igualmente previstas juntas horizontais sempre que as soluções construtivas o justifiquem.

6.1.6.3. Sempre que possível, devem ser executadas as juntas nos cunhais principalmente naqueles que ligam com fachadas viradas a Sul e a Poente.

6.1.6.4. As juntas de dilatação terão um valor de referência de 20 mm (mínimo de 15 mm).

6.1.6.5. O tratamento das juntas será feito com um cordão esponjoso, com um mínimo de 5 mm, acima do valor máximo da junta, o qual será introduzido sob pressão a uma profundidade mínima de 20mm. Posteriormente, será revestido com um cordão de protecção em Silicone de alta qualidade (100% silicone) à cor da argamassa das juntas.

6.1.7. Isolamento térmico

6.1.7.1. a) O isolamento térmico é constituído por uma camada de 3,5 cm de espuma rígida de Poliuretano auto-extinguível, a qual deve ser projectada de forma contínua (sem interrupções)

182 na face exterior do pano interior de tijolo, no qual já se encontram os grampos previamente colocados. Sempre que possível, os elementos estruturais solidários com a parede interior serão igualmente projectados com uma camada idêntica de Poliuretano bem como as ligações entre ambos. O tijolo da parede interior será aplicado com uma argamassa bastarda suficientemente elástica e no seu assentamento garantir-se-á que as juntas fiquem isentas de buracos e/ou saliências.

Após a projecção do Poliuretano deve proceder-se, o mais rapidamente possível, ao fecho da parede exterior em TFV, uma vez que a exposição prolongada aos raios U.V. diminui drasticamente as suas propriedades. O poliuretano deve cumprir no mínimo as seguintes especificações

Quadro I : Caracterídsticas mínimas exigíveis à espuma de poliuretano projectado Características Unidade Norma

Densidade 38 Kg/m3 UNE 53 215 Resistência à Compressão 0.22 N/mm2 DIN 53 421 Resistência à Flexão 0.35 N/mm DIN 53 423 Absorção de água (+ de 168 h) <5 % Vol. DIN 53 428 Λ Coef. De Cond. Térmica (20º) Valor de cálculo

0.022 0.027 W/mK UNE 92 202

Estabilidade dimensional –30ºC +80ºC

<1 <5

% Vol.

DIN 53 431

Reacção ao fogo M-3 UNE 23 727

6.1.7.1. b ) Será executado com placas de Poliestireno Extrudido, com uma espessura mínima de 3 cm e será fixo à parede interior, em toda a sua extensão, com os meios adequados para o efeito. As placas serão encaixadas e a sua união será selada, com fita autocolante adequada, com silicone, com cola técnica ou com uma argamassa hidrófuga, desde que esta apresente elasticidade suficiente para o efeito. Qualquer orifício feito na placa, (para a mesma ser atravessada por grampos, por Exº.) será convenientemente tapado com um dos meios anteriormente mencionados, de modo a garantir a estanquicidade do sistema. Sempre que possível, o isolamento térmico dobrará os elementos estruturais.

6.1.8. Caixa de ar de uma parede dupla com TFV exterior

Nota: O espaço ocupado pelo isolamento térmico não será considerado como caixa de ar. 6.1.8.1. As caixas de ar terão no mínimo 3 cm e um máximo de 7 cm, e serão ventiladas.

6.1.8.2. Serão munidas de meias canas na sua base, devidamente protegidas contra a fissuração, de modo a impedir a entrada de humidade.

L. Camarneiro 183

6.1.8.3. Serão munidas de juntas de ventilação (juntas verticais abertas de 4 em 4 tijolos) ao nível das meias canas ou grelhas de ventilação.

6.1.8.4. As caixas de ar devem ficar impreterivelmente limpas, isentas de argamassas e outras impurezas que possam por qualquer motivo estabelecer uma ponte de ligação do pano exterior para o pano interior. Durante a execução do paramento em TFV serão deixadas aberturas na primeira fiada, de 3 em 3 tijolos, deixando livre o espaço de um tijolo mais duas juntas verticais, de modo a permitir a execução diária dessa limpeza.

6.1.9. Ventilação das caixas de ar em parede dupla com TFV exterior

6.1.9.1. a) As caixas de ar serão ventiladas. Serão intencionalmente deixadas juntas verticais abertas (sem argamassa), entre dois tijolos consecutivos da mesma fiada, para ventilação e drenagem das caixas de ar. Essas aberturas, situar-se-ão ao nível exacto das meias canas. Deverão ficar afastadas no máximo de 4 em 4 tijolos (menos de 1 metro) entre si.

6.1.9.1 b) Serão colocadas grelhas de ventilação em pontos estratégicos das fachadas substituindo alguns dos tijolos ali colocados. As grelhas serão executadas em aço inox, terão a dimensão idêntica à do TFV [23x5 ou 23x7 cm] e serão colocadas na base do paramento, ao nível da meia cana e na parte superior do mesmo abaixo da viga. Podem ser ou não pintadas à cor do tijolo.

6.1.10. Execução das meias canas

6.1.10.1. Na zona inferior das caixas de ar serão executadas meias canas com argamassa hidrófuga com pendente para as aberturas ou grelhas de ventilação.

6.1.10.2. Os primeiros 40 cm do pano interior serão cuidadosamente rebocados (com reboco hidrófugo), bem como as ligações dos panos interiores aos elementos estruturais. Posteriormente, serão tratados com uma membrana de borracha líquida.

6.1.10.3. Nas situações mais críticas, ambas as zonas anteriormente referidas, serão ainda revestidas com: a) Uma tela betuminosa ou asfáltica correctamente aplicada. b) Pintura com uma borracha líquida de alta qualidade, resistente aos raios Ultravioletas. c) Reforçadas com rede em fibra de vidro, devidamente aplicada com uma cola técnica ou com uma argamassa hidrófuga de grande elasticidade ou com borracha líquida.

6.1.10.4. No assentamento das primeiras fiadas assentar-se-ão alternadamente 3 tijolos sim e um tijolo não, de modo a permitir a limpeza das argamassas que se vão depositando inadvertidamente na caixa de ar. No final, quando se proceder ao fecho definitivo dessas aberturas, devem ser criadas as juntas de ventilação verticais, entre 2 tijolos consecutivos.

184 6.1.11. Interrupção das pontes de humidade

6.1.11.1. As ligações entre os panos interiores e os panos exteriores em TFV serão sempre interrompidas e alvo de tratamento semelhante ao das juntas de movimento. Estas zonas são constituídas pelas ombreiras, padieiras ou vergas, peitoris, soleiras, elementos estruturais, etc. O afastamento mínimo entre elas será de 1 cm. Na impossibilidade de guardar esta distância deve tratar-se a zona de contacto com pelo menos uma zona de defeso de mais 10 cm para cada um dos lados de molde a impedir o contacto entre ambos os panos.

6.1.11.2. Não serão deixados quaisquer restos de argamassa entre os dois panos de parede ou quaisquer elementos estranhos, que de algum modo possam vir a estabelecer uma ponte para a passagem de humidade entre ambos os panos da parede exterior.

6.1.11.3. A caixilharia não será nunca aplicada na parede exterior em TFV, a não ser com auxílio de um pré aro que será fixo impreterivelmente à parede interior.

6.1.11.4. Os grampos em aço inoxidável serão sempre munidos de pingadeira ou na sua ausência, será garantido em obra que a sua inclinação na posição de trabalho será sempre no sentido do pano interior para o pano exterior.

6.1.12. Peças especiais para o TFV

6.1.12.1. As peças especiais que articulam com o TFV são os cantos (com garras), as forras de tijolo (idêntica à plaqueta mas com garras) e as peças de padieira. 6.1.12.2. As peças especiais são fornecidas de fábrica com as zonas de separação fragilizadas para facilitar a sua obtenção em obra. No entanto, por vezes pode ser necessário recorrer a uma mesa de corte em obra para obtenção das mesmas, caso haja dificuldade em parti-las com a colher de pedreiro. 6.1.12.3. É possível obter qualquer outra peça em obra através da utilização de uma mesa de corte com disco de diamante refrigerado a água. Nota 1: - Os cortes realizados em obra com o recurso a uma rebarbadora com disco de corte não oferecem qualidade de acabamento, afectando com frequência a qualidade final da obra. Nota 2: - As zonas cortadas das peças devem ser aplicadas, sempre que possível, viradas para a contraface da parede (zona da caixa de ar) tentando mostrar sempre as faces das peças com acabamento de fábrica. 6.1.13. Limpeza das fachadas em TFV 6.1.13.1. A limpeza final das fachadas deve ser realizada, tanto quanto possível, só com água potável e escova. A limpeza final das fachadas não será feita com recurso a soluções de ácido clorídrico (também conhecido por ácido muriático), dado que este tipo de produto ataca

L. Camarneiro 185

definitivamente as juntas em argamassa, enfraquecendo-as, sendo que estas constituem cerca de 20% do paramento exterior. 6.1.13.2. Nos casos mais difíceis pode recorrer-se a produtos do tipo Agente de Limpeza VG-L Plus da Vale da Gândara ou outros produtos equivalentes, sob a forma de solução aquosa. No final, deve neutralizar-se o produto com bastante água corrente. Repetir a operação até obter os resultados pretendidos. 6.1.14. Tratamento Final das fachadas em tfv 6.1.14.1. Para proteger as fachadas em tijolo face à vista da acção da chuva incidente, sem alterar o aspecto estético natural, deve pulverizar-se a mesma com o Hidrorrepelente VG-1 ou um produto de características idênticas. 6.1.14.2. Serão aplicadas no mínimo duas passagens (demãos) fresco sobre fresco, isto é, no final da primeira aplicação volta-se à zona inicial e aplica-se a segunda mesmo antes que a primeira comece a secar (nunca menos de 10 nem mais de 30 minutos de intervalo entre camadas). Nota 1: O produto será dado sempre de forma abundante dado que não provoca escorridos pingos ou outro tipo de defeito de superfície detectável. Nota 2: O produto será dado de baixo para cima com auxílio de um pulverizador manual. 6.1.14.3. Não será aplicado qualquer tratamento à fachada sem que a mesma esteja devidamente limpa e seca. 6.1.14.4. Não serão aplicados quaisquer produtos que formem película, não sejam permeáveis ao vapor de água, sejam gordurosos ou que por qualquer outro motivo não sejam uma solução estável e duradoura. 7. AGRADECIMENTOS Eng.º Ilharco de Moura, C.T.C.V. Eng.º Vítor Francisco, C.T.C.V. 8. REFERÊNCIAS [1] SILVA, J. Mendes – “Manual de Alvenaria de Tijolo”. apicer - Associação Portuguesa da industria de Cerâmica, Coimbra 2000.

186