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A D IVERSIDADE DA G EOGRAFIA B RASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2315 A IMPORTÂNCIA DA FEIRA CENTRAL DA CIDADE DE GOIÁS (GO) COMO ESPAÇO DE RESISTÊNCIA DO TRABALHO CAMPONÊS WEUDINEY RODRIGUES DOS SANTOS 1 Resumo: Esta pesquisa trata da análise da Feira Livre da Cidade de Goiás (GO) como espaço de resistência camponesa, considerando que a maioria dos feirantes são camponeses que produzem os alimentos que comercializam na feira. A maioria deles também trabalham na propriedade camponesa onde produzem os alimentos que vendem. Sendo assim a Feira Livre constitui um espaço de resistência camponesa, não somente por representar um espaço de oportunidade comercial ao camponês, mas também por se constituir um espaço de manifestação social e cultural desses sujeitos. A metodologia utilizada foi a coleta de dados diretamente na feira por meio de questionários, levantamento de informações junto aos organizadores da feira e revisão bibliográfica sobre a temática. Palavras-chave: Feira Livre; camponês; resistência. Abstract: This academic work is supposed to analyze the Street Market in Goiás City, Goiás State, as peasant resistance space, considering that most merchants are farmers who produce food to sell at the market. Most of them also work on the family farm where they produce the food they sell. So, the Street Market is a peasant space of resistance, not only to represent an area of business opportunity to the peasant people, but also to constitute a space of social and cultural manifestation of these subjects. The methodology used was to collect data directly at the market through questionnaires, gathering information along to the organizers and literature review on the issue. Keywords: Street markets; peasant; resistance. Introdução A expansão do agronegócio sobre as áreas de Cerrados nos últimos anos tem provocado impactos ambientais, sociais e culturais sobre os Povos Cerradeiros (MENDONÇA, 2004). O avanço da soja, cana-de-açúcar e a criação de gado tem feito de Goiás um território alvo das estratégias do capital sobre o campo. Diante 1 Acadêmico do programa de pós graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail de contato: [email protected]

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

2315

A IMPORTÂNCIA DA FEIRA CENTRAL DA CIDADE DE GOIÁS (GO)

COMO ESPAÇO DE RESISTÊNCIA DO TRABALHO CAMPONÊS

WEUDINEY RODRIGUES DOS SANTOS1

Resumo: Esta pesquisa trata da análise da Feira Livre da Cidade de Goiás (GO) como espaço de

resistência camponesa, considerando que a maioria dos feirantes são camponeses que produzem os

alimentos que comercializam na feira. A maioria deles também trabalham na propriedade camponesa

onde produzem os alimentos que vendem. Sendo assim a Feira Livre constitui um espaço de

resistência camponesa, não somente por representar um espaço de oportunidade comercial ao

camponês, mas também por se constituir um espaço de manifestação social e cultural desses

sujeitos. A metodologia utilizada foi a coleta de dados diretamente na feira por meio de questionários,

levantamento de informações junto aos organizadores da feira e revisão bibliográfica sobre a

temática.

Palavras-chave: Feira Livre; camponês; resistência.

Abstract: This academic work is supposed to analyze the Street Market in Goiás City, Goiás

State, as peasant resistance space, considering that most merchants are farmers who produce

food to sell at the market. Most of them also work on the family farm where they produce the

food they sell. So, the Street Market is a peasant space of resistance, not only to represent an

area of business opportunity to the peasant people, but also to constitute a space of social and

cultural manifestation of these subjects. The methodology used was to collect data directly at

the market through questionnaires, gathering information along to the organizers and literature

review on the issue.

Keywords: Street markets; peasant; resistance.

Introdução

A expansão do agronegócio sobre as áreas de Cerrados nos últimos anos

tem provocado impactos ambientais, sociais e culturais sobre os Povos Cerradeiros

(MENDONÇA, 2004). O avanço da soja, cana-de-açúcar e a criação de gado tem

feito de Goiás um território alvo das estratégias do capital sobre o campo. Diante

1 Acadêmico do programa de pós graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail de

contato: [email protected]

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disso, as disputas territoriais no Cerrado goiano revelam as relações de poder entre

o agronegócio e o Estado.

O trabalho e os saberes/fazeres camponeses a cada dia estão mais

ameaçados diante da territorialização do capital agroindustrial e financeiro e do

cerco realizado pelo agronegócio sobre os camponeses que ainda lutam no Cerrado.

Sobre a expansão do agronegócio no Cerrado, Mendonça ; Thomaz Júnior (p. 103)

afirmam que

O surgimento de novas formas de gestão, novos segmentos profissionais, novos trabalhadores e a desterritorialização de milhares de famílias do campo não pode ser tratado como algo corriqueiro, pois esses elementos possibilitaram novos conteúdos à mobilidade do capital, com implicações profundas na relação capital-trabalho, que precisam ser investigados à luz das mudanças nas relações sociais de produção, mas, fundamentalmente, com prioridade nas novas formas de trabalho e seus desdobramentos para as ações políticas dos trabalhadores.

Ainda assim, existem no estado de Goiás diversos territórios de

resistência camponesa, se manifestando em diferentes escalas e localidades.

As transformações espaciais decorrentes dessas investidas culminaram em novas paisagens nas áreas cerradeiras. Da pecuária extensiva, da agricultura tradicional e camponesa restou muito pouco, pois a agropecuária moderna, com os maiores índices de produção e produtividade do país, expulsou as “velhas” formas de uso e exploração da terra para as áreas de fronteiras, para as áreas urbanas e/ou para os fundos de vales que se tornaram refúgios para os camponeses e trabalhadores da terra desterritorializados . (MENDONÇA, 2004, p. 28)

A hegemonia do agronegócio vem sempre atrelada ao apoio financeiro e

logístico do Estado que é cooptado por essa modalidade do capital, provocando

mudanças radicais nos modos de vida, costumes e saberes dos povos do Cerrado.

Diante disso a pesquisa é resultado de pesquisa participante e reflexões

sobre os trabalhadores da Feira Livre da Cidade de Goiás (GO). O objetivo é

compreender a importância desta feira como espaço de trabalho, resistência cultural

e de valorização dos camponeses. A feira da Cidade de Goiás, possui importância

na valorização do trabalho dos camponeses locais não apenas por ser um espaço

de comércio, mas por representar um espaço de valorização do trabalho destes

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sujeitos. Dezenas de feirantes se reúnem aos domingos, comercializando uma

diversidade de produtos: frutas, verduras, carnes diversas, queijo entre outros.

Os trabalhadores/camponeses da feira são geralmente camponeses

locais que veem a oportunidade de aumentar a renda por meio do comércio direto

na cidade. Muitos desses camponeses vivem e trabalham nos assentamentos do

munícipio. Sendo assim, a feira representa um espaço de fortalecimento do trabalho

destes camponeses e de reconhecimento da cultura local que se expressa em seus

produtos, em suas formas de organização etc. O espaço torna-se também um

espaço de resistência do trabalho camponês diante da hegemonia agropecuária

representada muitas vezes pelas antigas oligarquias rurais que atravessaram

séculos, e ainda se perpetuam na Cidade de Goiás (GO). Dessa maneira, trabalho

camponês e resistência cultural são elementos presentes Feira Livre da Cidade e

Goiás (GO.

Os procedimentos metodológicos adotados foram: revisão bibliográfica,

levantamento de dados junto aos envolvidos no processo de fundação da feira,

visitas de campo com aplicação de questionários aos feirantes. O trabalho está

dividido em: introdução, desenvolvimento, conclusão e referências. Será abordado

no próximo item um breve histórico da formação do município de Goiás (GO).

Caracterização do território de pesquisa

Distante 142 quilômetros da capital do estado (Goiânia), o município de

Goiás (Mapa 01) está localizado na Mesorregião do Noroeste Goiano, na

Microrregião do Rio Vermelho. Sua população é de 24.727 habitantes (IBGE, 2010).

Sua economia é baseada basicamente no turismo histórico e na agropecuária.

Destaca-se também os vendedores de frutos do Cerrado que trabalham nas épocas

em que há disponibilidade dos frutos.

Fundada em 1727 por Bartolomeu Bueno da Silva, com o nome de Vila

Boa, o município é a marca no Cerrado das bandeiras paulistas que permearam o

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estado de Goiás em busca de ouro, que lá encontraram. Fundada sob a égide da

mineração no século XVIII a Cidade de Goiás guarda traços do período expressos

nos casarões, nas ruas de calçadas com rochas, na culinária e também nos valores

culturais e sociais.

A mineração deu ao município uma grande importância econômica no

período colonial, mas quando a mineração entra em crise em Goiás, a antiga Vila

Boa passa por um processo de transição econômica para a agropecuária. No

entanto, cabe ressaltar que esta transição foi mais lenta no município que no resto

do estado, pois até o fim dos anos de 1980 a atividade mineradora ainda tinha

expressão no município. O município foi capital do estado até 1933, quando a capital

foi, por motivos políticos, transferida para Goiânia. Será tratado no próximo item a

relação da agricultura familiar com a ocupação do Cerrado.

Ocupação do Cerrado e agricultura familiar

As políticas governamentais voltadas para a expansão agrícola nas áreas

de Cerrado tinha como objetivo a produção de commodities para exportação

atendendo as necessidades do capital nacional e transnacional. Os investimentos

mais vultosos se avolumaram apartir de 1950 atingindo um patamar mais elevado

em 1960 com a construção de Brasília. A partir das décadas de 1970 e 1980 iniciou-

se um novo processo de ocupação dos solos no Centro Oeste baseado no cultivo de

grãos e criação de gado (MENDONÇA; THOMAZ JÚNIOR, 2004).

Dentre os vários programas governamentais de incentivo à ocupação do

Cerrado brasileiro, Pires (2000) desataca o Programa de Assentamento Dirigido do

Alto Paranaíba (Padap), o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro)

e o Programa de Cooperação Nipo Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados

(Prodecer) como sendo os que mais influenciaram a recente ocupação do Cerrado

no período posterior a 1970.

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Esse novo modelo de ocupação do Cerrado, orientado pelos programas

governamentais, resultou na expansão do capital e também dos impactos

socioambientais.

No que diz respeito à expansão canavieira, a expansão do agronegócio

dos agro-combustíveis em algumas regiões do Brasil, como o Centro Oeste, tem

desarticulado comunidades rurais e promovido o cercamento de comunidades

camponesas (BUNDE; MENDONÇA, 2009).

Em Goiás, inicialmente a soja foi a propulsora desse processo, mas

atualmente (2015) a cana de açúcar voltada para a produção de açúcar e etanol,

juntamente com a pecuária para atender as demandas internacionais disputam

espaço com a soja, no processo de expansão agrícola nos territórios do Cerrado.

Desse modo a expansão agrícola no Cerrado tem deixado dúvidas sobre

sua sustentabilidade, na medida em que atende aos anseios do capital internacional

e tem atuado de forma imperialista sobre os modos de produção campesina,

destruindo não só seus espaços de reprodução da existência coletiva, como também

seus costumes, e saberes-fazeres.

Agropecuária no município de Goiás (GO) no século XIX: transição

do ouro para o boi.

Com o esgotamento da mineração de aluvião, pelo uso da bateia a

mineração de ouro no município de Goiás (GO) deixa de ser a principal atividade

econômica e cede lugar ao novo modelo econômico que atinge não só o município

mas todo o estado: a agropecuária. A o município possuía grandes fazendas

herdadas do período colonial, no entanto o relevo e a tipologia dos solos não eram

favoráveis à agricultura, se iniciando uma intensificação da pecuária por meio da

formação de pastagens

A partir daí a dinâmica econômica do município muda, mas a mineração

continua presente até fins dos anos de 1980, quando o garimpo recebe seu ultimato

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com o fechamento dos pontos de garimpagem e a prisão em massa de motores. No

entanto a mineração de bateia continua existindo ainda hoje de forma escassa e

clandestina no município.

A partir desse momento a propriedade rural assume mais um grau de

importância no contexto do município, não bastasse as disputas já existentes em

função das heranças oligárquicas do período colonial em que os fazendeiros se

baseavam muitas vezes na violência para expandir a área de suas fazendas.

Nesse contexto, as disputas por terra se agravam, e inicia-se o processo

pioneiro de luta pela terra, com apoio de algumas entidades, principalmente a CPT

(Comissão Pastoral da Terra).

No anos de 1980 a luta pela terra e pela reforma agrária no município,

contexto de criação do assentamento Mosquito, mas é na década de 1990 que esse

processo se intensifica, impulsionando a criação de assentamentos. (SOUZA, 2012).

Com o aumento do número de assentamentos no município, que hoje

somam cerca de 23 (INCRA GOIÁS, 2015) fomenta a participação dos camponeses

na de produção de alimentos passa a ser uma nova realidade. Diante deste contexto

que o fundador da Feira Livre da Cidade de Goiás (GO) viu a necessidade de

implantar um espaço onde os camponeses pudessem comercializar sua produção.

Será tratado no próximo item a fundação da Feira Livre da Cidade de Goiás (GO).

A fundação da Feira Livre da Cidade de Goiás (GO)

Bento Bueno (fundador da feira) ressalta que foi a necessidade de criação

desse espaço que o levou a fundar a feira no ano de 1983, com apoio de populares,

sendo que um era vendedor de guariroba e outro de galinha. Bento Bueno destaca

ainda que neste período havia muitos chacareiros que não tinham espaço para

expor seus produtos. A criação da feira foi proposta também como alternativa para

que o comércio local fechasse aos domingos, o que não ocorria até o aquele

momento.

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No entanto, apenas em 1984 houve a regularização da feira. Além disso,

com apoio da Emater (Empresa de Assistência Técnica Rural – Atual Agência Rural)

a feira iniciou um processo de reorganização, sendo criado seu estatuto. O primeiro

presidente foi o então fundador Bento Bueno.

Inicialmente a feira se iniciou com aproximadamente 05 feirantes, e era

localizada na avenida Dário de Paiva Sampaio em frente à praça do João Francisco,

que mais tarde passou para outro ponto da mesma avenida.

Segundo Bento Bueno, no início a comunidade local, incluindo

vereadores, não acreditavam na ideia de consolidação da feira, mas sua

continuidade lhe atribuiu mais credibilidade. Atualmente (2015) a feira conta com

aproximadamente 80 feirantes, e está localizada há aproximadamente 300 metros

na mesma avenida onde foi criada por motivos de adequações da área que ocupa.

Não havia regras para participar da feira, no entanto com sua expansão surgiu a

necessidade de se criar regras básicas de participação, como assiduidade, horário

mínimo de chegada, etc.

Uma das dificuldades atuais é o escasso apoio governamental e a

presença de produtos vindos da CEASA - Centrais de Abastecimento do Estado de

Goiás - que disputa espaço com a produção camponesa.

A feira como espaço de valorização e resistência camponesa

Os feirantes chegam na feira de madrugada e iniciam a montagem das

barracas, dos 39 entrevistados, 10 (25,64%) acordam entre 01:00 e 02:00 horas da

manhã; 22 (56,41%) acordam entre 03:00 e 04:00 horas da manhã; 07 (17,95%)

acordam entre 05:00 e 06:00 horas.

Os produtos vendidos são os mais diversos, mas é possível verificar os

tradicionalmente cultivados pelos camponeses como sendo os que mais aparecem

dentre eles, gráfico (01).

Gráfico 01 – Quantidade de feirantes que vendem respectivos produtos na feira livre da cidade de

Goiás (GO)

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SANTOS, W.R. (2015)

Percebe-se que as maiores quantidades de produtos comercializados na

feira são de produtos básicos, produzidos principalmente nas unidades camponesas,

como a abóbora, queijo, leite, limão, requeijão, quiabo, mandioca, alface, cebola,

couve, mostarda, ovo, frango, milho, farinha e guariroba, foto 01.

Foto 01 – Produtos comercializados na feira livre da cidade Goiás (GO).

Autor: SANTOS, W.R. (2015)

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Título do Gráfico

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O pão também aparece como produto muito vendido, mas geralmente é

produzido por feirantes da área urbana.

Geralmente esses alimentos são cultivados pelos camponeses como uma

fonte de alimentação básica em sua propriedade, e quando há excedentes eles são

comercializados na feira local. Esse é o primeiro elemento que reforça a ideia de que

os produtos vendidos na feira são ofertados por camponeses, que reafirmam o

espaço da feira como espaço de valorização do campesinato, não somente pelo

aspecto econômico, mas também pelo aspecto sociocultural.

Os produtos derivados do leite e as hortaliças estão entre os produtos em

que mais são vendidos pelos camponeses (foto 02), dada as características

geomorfológicas (relevo acidentado etc.) do município que possui áreas com

aptidão à essas culturas (o cultivo de hortaliças e a criação de gado).

Foto 02 – Derivados do leite e hortaliças comercializados na feira livre da

Cidade Goiás (GO).

Autor: SANTOS, W.R. (2015

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O local de residência dos feirantes constitui o segundo elemento que

caracteriza o caráter camponês da feira. A maioria deles vivem e trabalham no

campo, gráfico (02).

Gráfico 02 – Local de residência dos feirantes da feira livre da cidade de Goiás (GO)

Autor: SANTOS, W.R. (2015

Dentre os que moram no campo, a maioria afirma produzir o que vendem

na feira (gráfico 03). Sendo assim, o trabalho dos camponeses constitui a principal

fonte produtora dos alimentos que são vendidos na Feira Livre, ainda que exista a

presença significativa de produtos oriundos do agronegócio que são trazidos,

principalmente do CEASA - Centrais de Abastecimento do Estado de Goiás - o que

não desconfigura o caráter camponês da feira.

67%

33%

Mora no Campo?

Sim Nâo

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Gráfico 03 – Feirantes que produzem os alimentos que vendem na Feira

Livre da cidade de Goiás (GO)

Autor: SANTOS, W.R. (2015)

A produção de alimentos no campo é feita geralmente com a participação

do trabalho familiar, na maioria dos casos envolve a participação do esposo, da

esposa ou dos filhos. Gráfico (04).

Gráfico 04 – participação familiar na produção de alimentos/artigos vendidos

na feira livre da Cidade de Goiás (GO)

Autor: SANTOS, W.R. (2015)

85%

15%

Você Produz Alimentos Que Vende?

Sim Não

91%

9%

Participação Familiar Na Produção de Alimentos

Comercializados na Feira

Participa Não Participa

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O trabalho familiar na produção de alimentos na unidade camponesa

constitui o terceiro elemento que caracteriza o camponês que trabalha no espaço da

feira. Além de espaço econômico a feira é também lugar de troca de experiências

entre os camponeses, já que a maneira que é exposta os produtos, as

características culturais são expressas no espaço da feira. No próximo item será

feita uma reflexão “final” sobre o tema analisado.

Conclusões

O avanço do agronegócio sobre o Cerrado em suas mais diversas

modalidades tem provocado profundas transformações sobre os povos deste

território. Suas propriedades, seus saberes-fazeres e seus valores culturais são

cada vez mais cercados pela hegemonia do agrohidrogronegócio. Mas é oportuno

salientar que por mais imperialista e perverso que seja os desdobramentos do

capitalismo agrícola nas áreas de Cerrado, os Povos Cerradeiros ainda resistem, e

as formas de manifestação ocorrem nas mais variadas escalas e das mais diversas

formas.

Referências

BUNDE, A.; MENDONÇA, M. R. Os impactos do agronegócio dos agrocombustíveis sobre as famílias camponesas – município de Ipiranga de Goiás/Brasil. Disponível em: <http://www.uff.br/vsinga/trabalhos/Trabalhos%20Completos/Altacir%20Bunde.pdf>. Acesso em: 16 de mai. /2015

IBGE Cidades. Informações completas. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=520890&search=goias|goias> Acesso em: 05 de jul. /2015

INCRA GOIÁS: Distribuição dos assentamentos no estado de Goiás. 20’15

MENDONÇA, M.R.; THOMAZ JÚNIOR. A modernização da agricultura nas áreas de Cerrado em Goiás (Brasil) e os impactos sobre o trabalho. . Investigaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografía, UNAM, n. 55, pp. 97-121, 2004. MENDONÇA, M. R. A urdidura espacial do capital e do trabalho no Cerrado do sudeste goiano. 2004. 457 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004.

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PIRES, M. O. Programas agrícolas na ocupação do Cerrado. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 3, n.1-3, p. 111-131, 2000.

SOUZA, Francilane Eulália de:. As “geografias” das escolas no campo do município de Goiás: instrumento para a valorização do território docamponês? Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2010.