a humanizaÇÃo como recurso de planejamento … 5 resumo com o objetivo de evidenciar a política...

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0 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS GRADUAÇÃO LATO-SENSU A HUMANIZAÇÃO COMO RECURSO DE PLANEJAMENTO ORGANIZACIONAL: Uma análise da Secretaria Municipal de Saúde de Guaçuí, ES Aluna: Mayára Aguiar Silva Professor Orientador: Fabiane Muniz Guaçuí, ES 2014

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS GRADUAÇÃO LATO-SENSU

A HUMANIZAÇÃO COMO RECURSO DE PLANEJAMENTO ORGANIZACIONAL: Uma análise

da Secretaria Municipal de Saúde de Guaçuí, ES

Aluna: Mayára Aguiar Silva

Professor Orientador: Fabiane Muniz

Guaçuí, ES 2014

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS GRADUAÇÃO LATO-SENSU

A HUMANIZAÇÃO COMO RECURSO DE PLANEJAMENTO ORGANIZACIONAL: Uma análise

da Secretaria Municipal de Saúde de Guaçuí, ES

Aluna: Mayára Aguiar Silva

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão de Recursos Humanos

Professora Orientadora: Fabiane Muniz

Guaçuí, ES 2014

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AGRADECIMENTOS

Aos que passaram e aos que permaneceram. Aos que sempre

estiveram apesar de nem sempre ser um bom lugar. Aos que

facilitaram (e aos que se opuseram). Às noites mal dormidas e às

preocupações que me fizeram companhia. A cada instante de

cansaço e a cada ombro em que pude recostar minhas dificuldades. A

cada ouvido em que despejei meus lamentos e a cada coração que me

destinou amor e compreensão durante esse tempo.

A minha família. E principalmente, a esse Deus que habita em mim com sua porção de

confiança e amparo.

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DEDICATÓRIA

A Vitor Marques Aguiar, eternizado em meu coração e em minha história.

4

EPÍGRAFE

“Queremos todos ajudar-nos uns aos outros. Os seres humanos são assim. Queremos viver a felicidade dos outros e não a sua infelicidade. Não queremos odiar nem desprezar ninguém. Neste mundo há lugar para toda a gente. E a boa terra é rica e pode prover às necessidades de todos.

O caminho da vida pode ser livre e belo, mas desviamo-nos do caminho. A cupidez envenenou a alma humana, ergueu no mundo barreiras de ódio, fez-nos marchar a passo de ganso para a desgraça e a carnificina. Descobrimos a velocidade, mas prendemo-nos demasiado a ela. A máquina que produz a abundância empobreceu-nos. A nossa ciência tornou-nos cínicos; a nossa inteligência, cruéis e impiedosos. Pensamos de mais e sentimos de menos. Precisamos mais de humanidade que de máquinas. Se temos necessidade de inteligência, temos ainda mais necessidade de bondade e doçura. Sem estas qualidades, a vida será violenta e tudo estará perdido.

(...) Aqueles que podem ouvir-me, digo: Nâo desesperem. A desgraça que nos oprime não provém senão da cupidez, do azedume dos homens que têm receio de ver a humanidade progredir. O ódio dos homens há de passar, e os didadores morrem, e o poder que tiraram do povo, o povo retomá-lo-à. Enquanto os homens morrerem, a liberdade não perecerá.”

(Charles Chaplin)

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RESUMO

Com o objetivo de evidenciar a Política Nacional de Humanização como facilitadora de um Planejamento Organizacional, o presente trabalho traz um estudo de caso realizado à luz das diretrizes e dos conceitos elaborados pelo Ministério da Saúde no que tange à Humanização e, considerando o que a literatura nos permite afirmar a cerca do Planejamento, apresenta um diálogo entre essas duas teorias para que a proposta inicial seja alcançada. Em se tratando de um estudo de campo, também lançou mão de entrevistas – embora não estruturadas – e observação in locu como práticas constantes de averiguação. O estudo foi realizado tendo como foco a Secretaria Municipal de Saúde do município de Guaçuí, ES, e durou cerca de seis meses. O que ele nos permitiu concluir foi uma necessidade de reformular, sobretudo o modelo de relacionamento intersetorial da rede da secretaria em questão, que se apresentou fragmentada e desarticulada, apontando para uma ausência de planejamento. Com suas propostas e estratégias, a humanização, enquanto política e não apenas programa, foi discutida como facilitadora da construção de um ambiente em que as mudanças, necessárias à elaboração e posterior execução de um planejamento organizacional, fosse possível.

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METODOLOGIA

Este trabalho de pesquisa foi realizado ao longo do ano de 2014,

especificamente de fevereiro à julho, tendo como lócus de investigação a

Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Guaçuí, no estado do Espírito

Santo. Como estamos falando de uma pesquisa de campo e, portanto

exploratória, a princípio foi realizado um estudo bibliográfico sobre a Política

Nacional de Humanização a fim de nos garantir suporte teórico e técnico

suficientes para que pudéssemos pensar nas intervenções necessárias. Para

isso, uma pesquisa pormenorizada nas bases bibliográficas do Governo,

sobretudo nos documentos lançados pelo Ministério da Saúde foi nosso foco

de estudo durante algum tempo.

Há, de fato, dezenas de Cartilhas e Orientações dadas sobre a gestão e

a atenção da saúde tal como prevê constitucionalmente a proposta do Sistema

Único de Saúde, e esse aporte teórico foi o caminho que percorremos com

atenção a fim de nos munir do conhecimento necessário à nossa investigação.

Se o tema é Humanização, as cartilhas, cartas e documentos que abordam

essa temática, foram nossa principal base de pesquisa e análise.

Durante o estudo foram também considerados o que a literatura no

campo da administração de recursos humanos nos afirma sobre o

planejamento organizacional, sobretudo ao nível estratégico, nos apoiando

naquilo que dizem autores como Chiavenato, Ferrel, Vergara e Maximiano,

assim como outros autores de artigos pertinentes à nossa temática.

Para articular a teoria, pesquisamos sobre o mapeamento hierárquico e

funcional do SUS no município através de observação in locu, da pesquisa

documental nos arquivos da Secretaria de Saúde, e de entrevistas aos

gestores e colaboradores da rede. Ressalta-se que essas últimas não foram

estruturadas rigorosamente, mas abertas, e tiveram o objetivo de investigar as

relações de poder e funções do quadro de profissionais de saúde do Sistema,

para assim estabelecer visualmente os elos que constroem a rede de saúde

municipal.

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Ao todo, 17 visitas permitiram que as entrevistas fossem realizadas.

Essas visitas foram feitas às unidades básicas de saúde (que contabilizam um

total de dez estratégias de saúde da família); à unidade de Saúde da Mulher

(centro especializado de atendimento a esse público); ao Serviço SAE/CTA

(responsável, basicamente, pelos serviços no que tange às doenças

sexualmente transmissíveis); ao centro em que se localizam as vigilâncias

ambientais, epidemiológica e sanitária; ao Centro Especializado de

Odontologia; ao Centro Especializado em Fisioterapia; à Policlínica (onde se

encontram a maioria das especialidades médicas); e, à sede da Secretaria

Municipal de Saúde, onde encontram-se reunidos o gestor das estratégias e os

gestores dos serviços especializados, como psicologia, fonoaudiologia, nutrição

e odontologia, além de todo pessoal do serviço administrativo.

No que tange à observação, destaca-se que foi continuamente um

método aplicado durante a pesquisa, se fazendo em todos os setores

constituintes da Secretaria Municipal de Saúde – aqui já citados. Além do que

foi permitido já observar durante o momento das entrevistas, outras 16 visitas

não agendadas, mas realizadas de maneira casuais foram feitas nas unidades

e centros de saúde, e mais outras 10 visitas realizadas especificamente na

sede da Secretaria Municipal de Saúde.

Todas as visitas perfizeram o total de 43 encontros com os profissionais

que integram a rede municipal de saúde no município em questão. O que elas

nos permitiram é, em articulação com os conceitos, investigar o problema

levantado, discuti-lo e refleti-lo ao longo do nosso trabalho, o que, por fim,

acabou por afirmar a hipótese de falha no planejamento e fragilidade na política

de humanização.

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SUMÁRIO

Introdução ..............................................................................................

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Capítulo 1: A Importância do Planejamento para o funcionamento de uma Instituição .......................................................................................

11

Capítulo 2: A Política Nacional de Humanização (PNH) como facilitadora de um Planejamento Estratégico ...........................................................

18

2.1 Uma breve história sobre a Saúde Pública no Brasil: Contextualizando a criação da PNH ..........................................

18

2.2 O que é PNH ............................................................................. 20

2.3 Os Benefícios da PNH para o Planejamento Organizacional ... 23

Capítulo 3: Uma apresentação da situação organizacional atual da Secretaria Municipal de Saúde do município de Guaçuí, ES...............

26

3.1 A Secretaria e seus departamentos: uma apresentação do legalmente instituído .................................................................

26

3.2 O atual Planejamento: os caminhos tortos do processo administrativo ............................................................................

30

Capítulo 4: Uma nova estrutura é preciso: Uma proposta de Humanização para reorganizar o Planejamento Organizacional da Secretaria Municipal de Saúde de Guaçuí .........................................

34

Conclusões .........................................................................................

41

Referências Biliográficas ....................................................................

43

9

Introdução

Com a Constituição de 1988 e a conseqüente votação pela criação do

Sistema Único de Saúde, essa passou a ser considerada como um “direito de

todos e dever do Estado”. A partir desse momento foi estruturado um sistema

ligado à administração pública direta que pudesse atender as demandas de saúde

da população de maneira integral, universal e com equidade. Nesses 26 anos de

SUS, muitos foram as adaptações e os ajustamentos que o sistema teve que

operar em sua gestão para garantir que seus princípios constitucionais fossem

alcançados. A última grande proposta nesse sentido foi a criação da “Política

Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no Sistema Único de Saúde –

HumanizaSUS”, em meados da primeira década de 2000, que mais que um

programa, veio como uma política que objetivou alterar a lógica estrutural com a

qual opera todo o sistema, principalmente no que tange os relacionamentos entre

gestores, colaboradores e usuários.

Sendo uma mudança na essência de uma cultura organizacional, o

HumanizaSUS, ou PNH, como também é chamado, vem enfrentando algumas

dificuldades de adaptação e, de fato, ainda não se instaurou como padrão de

política pública de saúde em todos os seus eixos de atuação. Sendo este nosso

norte para estes estudos, nos engendramos a investigar sobre a aplicabilidade da

PNH no Planejamento, sobretudo ao nível estratégico da rede formadora da

Secretaria de Saúde do Município de Guaçuí, no estado do Espírito Santo,

tendendo a verificar a pertinência da implantação dessa política na rede em

questão.

Hoje, o município de Guaçuí vem colocando-se no sul do Estado como um

pólo de referência em saúde pública e, como conseqüência, aumentado sua

demanda e seu quadro de profissionais. Com a inserção de novos membros e a

implantação de novos setores na rede, outros vínculos foram criados e uma nova

hierarquia paulatinamente foi sendo construída junto com um novo modo de

trabalhar, ainda que sem uma logística previamente definida.

Nesse sentido, sendo nosso objetivo principal verificar a aplicabilidade da

humanização no planejamento estratégico foi necessário, antes, realizarmos um

estudo prévio sobre Planejamento organizacional para que nos muníssemos de

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um arcabouço teórico suficiente à compreensão da rede já formada e à

identificação dos pontos relevantes dessa estrutura funcional e, a partir daí, propor

as intervenções necessárias condizentes com o que prevê a Política de

Humanização, otimizando a estratégia e a funcionalidade da rede e, logo,

permitindo a possibilidade do aumento na qualidade no atendimento ao usuário.

Se por um lado foi necessário um estudo preliminar sobre o planejamento

organizacional, por outro e de forma não menos importante, foi realizada uma

pesquisa documental nas bases do Ministério da Saúde para que um

conhecimento apurado a cerca da Política Nacional de Humanização pudesse ser

adquirido. A partir desse estudo um capítulo foi introduzido com as informações

pertinentes sobre a Humanização de maneira que garantisse ao nosso objetivo a

segurança e a coerência necessárias às nossas articulações.

Devidamente munidos de um conhecimento teórico necessário, foi aqui

introduzida uma apresentação da Secretaria de Saúde Municipal do município em

questão relevando os pontos de sua estrutura e de seu funcionamento os quais

poderiam apontar as falhas do planejamento e a ausência da política de

humanização. Intercalando a teoria aos fatos constatados, a proposta de pensar a

humanização como articuladora e facilitadora do planejamento, sobretudo

estratégico pode então ser realizada.

Salientamos que, sabendo de que quando se fala em saúde pública, fala-se

também de interesses políticos, de relacionamentos financeiros, de demanda

versus oferta e de tantas outras questões que podemos julgar, a princípio, como

problemáticas em nosso país, não tendemos – o que seria presunçoso de nossa

parte – eliminar os problemas na rede de saúde municipal. Em verdade, nosso

foco foi tão somente trazer à luz as contribuições de eixos de atuação já previstos

em mudanças elaboradas pela rede para a melhoria do sistema, e tentamos fazer

isso de maneira clara, objetiva e que, verdadeiramente, pudesse colaborar com a

rede que se faz aqui nosso lócus de atuação.

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Capítulo 1: A Importância do Planejamento para o funcionamento de uma

Organização

Quando falamos em organização, inevitavelmente pensamos na palavra

“ordem”. De fato, descritivamente falando, qualquer dicionário da língua

portuguesa nos permitirá constatar que organizar pressupõe estabelecer

bases para que algo constituído por diferentes características e necessidades

possa tornar-se funcional. Em outras palavras, é ordenar o caos natural do

coletivo. De fato, inúmeros autores como Chiavenato (2009), Baggio e Lampert

(2010), e Bulgacov, Santos e May (2012) ao falarem em organização, fazem

referência a um todo constituído por partes que, embora diferentes, se integram

e devem manter-se com certa ordem para que o instituído e seus objetivos não

se percam.

Verdade é que a organização atua em um meio ambiente e a sua

existência e sobrevivência dependem da maneira como ela se relaciona com

esse meio. Nesse sentido, é necessário compreender a importância da

combinação dos esforços individuais bem como a coordenação deles para que

as transações planejadas com o ambiente possam tornar-se efetivas.

O primeiro passo é então reconhecer, tal como nos faria pensar

Baremblitt (1992), que uma organização instituída, por assim dizer, uma

instituição, é um organismo social vivo formado com objetivos específicos e,

sujeito a mudanças. Assim, quanto mais rígida for, maior sua dificuldade de

adaptação e logo, competitividade. De fato, a flexibilidade para reestruturações

e readaptações é um traço característico que deve ser considerado em função

das condições e circunstâncias que modulam o ambiente em que opera e no

qual funciona. Ela deve ser, portanto, uma estrutura bem delineada sim, mas

dinâmica para permitir seu fluido e melhoramento contínuo.

No sentido da “não rigidez” e da possibilidade de serem necessários

ajustamentos, podemos ressaltar que não há uma estratégia que possamos

definir como universalmente bem sucedida. A cada organização cabe definir

aquela que lhe seja mais adequada considerando seus objetivos, sua dinâmica,

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o ambiente no qual está inserida e, obviamente, o referencial teórico e prático

daquilo que seus objetivos tratam.

Como dito por Baggio e Lampert (2010), não podemos resumir um

planejamento à execução de atividades, na verdade, planejar é antecipar-se à

ação. Falamos então da necessidade de se realizar um Planejamento, não

apenas a um nível conceitual, mas prático. De fato, quando se pensa em

planejamento não basta apenas defini-lo, há que se compreendê-lo como um

conjunto de processos que compõem a estrutura organizacional da empresa e

que deve ser antes, vivenciado.

Planejar é uma característica intrínseca do desenvolvimento e da

evolução do ser humano. Através dessa ação é que ele consegue traçar metas

para o seu bem estar, se prepara para enfrentar eventualidades e ameaças

futuras e obter sucessos em função de novas oportunidades. Assim, para

atingir um objetivo primeiro é preciso planejar o caminho a percorrer. Do

mesmo modo, Jarzabkowski (citado por BULGACOVI, 2012, p.913) propõem

que as organizações precisam planejar o futuro como preparação para suas

metas e possíveis ameaças e oportunidades, o que é conseguido por meio de

uma análise e uma avaliação pormenorizada do relacionamento com o

ambiente.

De fato, Bulgacov (2012) nos diz que o Planejamento, para tornar-se

eficiente, precisa considerar os ambientes que influenciam a organização e

suas características mutantes. Os avanços tecnológicos, as culturas, os

comportamentos, as condições financeiras, as agências reguladoras, as

condições políticas e tantos outros fatores interferem no caminhar do processo

administrativo de uma organização e, logo, na qualidade do serviço prestado, e

por isso é preciso estar atento a essas peculiaridades para, somente a partir

daí, definir com maior segurança as diretrizes de um Planejamento.

Não basta, todavia uma análise dos condicionantes da organização.

Além dessa consideração ambiental de influência, para um planejamento ser

bem realizado e ajustado é necessário também pensar nos estágios de sua

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própria criação que determinarão não apenas a meta, mas o caminho para se

chegar a ela. Esses estágios, como nos propõe o Módulo I de maneira

resumida, tratam-se do momento em que se definem os objetivos, verifica-se a

situação atual, desenvolve as premissas quanto às condições futuras, analisa

as alternativas de ação e as escolhe para, por fim, implementá-las.

Embora estejamos falando do planejamento de uma maneira global,

deve-se saber que a gestão desses estágios considera aspectos diferenciados

do Planejamento na perspectiva do tempo. O que dizemos aqui é que o

Planejamento, como uma medida para que a organização cumpra suas metas

e alcance o ideal previsto, deve ser pensado a curto, médio e longo prazo, o

que, em termos metodológicos, nos leva a diferenciar o planejamento em três

partes que se complementam: Planejamento Estratégico, Planejamento

Operacional e Planejamento Tático.

De maneira condensada, podemos nos atrever a dizer que o

Planejamento Estratégico inclui, de certa forma, os outros dois. Em verdade,

ele é o mais complexo por buscar soluções e implantações a longo prazo, o

que requer pensar nos pormenores de cada passo a se dar de um momento

em diante. Por isso, como nos permite pensar Chiavenato (1994; 2002; 2008)

se queremos entender a funcionalidade do Planejamento Estratégico, é preciso

também atravessar a compreensão sobre os outros dois que garantem juntos

sua eficiência: os Planejamentos Tático e Operacional.

Em médio prazo, temos o Planejamento Tático, cujas atividades são

voltadas principalmente para o departamento financeiro, de compras e de

seleção de pessoal. Seu objetivo é otimizar determinada área da organização e

não ela como um todo, o que nos leva então a concluir que trabalha com a

decomposição de objetivos, estratégias e políticas estabelecidas no

Planejamento Estratégico.

O Planejamento Tático é um processo contínuo e permanente executado

pelos níveis intermediários da organização tendo como principal finalidade a

utilização dos recursos disponíveis para a consecução de objetivos

14

previamente fixados de maneira eficiente, seguindo uma estratégia

predeterminada bem como as políticas que orientam o processo decisório da

organização. Isso nos faz ver que o planejamento Tático acaba funcionando

como o elo entre o estratégico e o operacional, o que de fato é afirmado por

Chiavenato (1994) quando diz que ele representa uma tentativa da organização

de integrar o processo decisório alinhando-o à estratégia adotada para orientar

o nível operacional.

Se podemos então dizer que o Planejamento Estratégico e o

Planejamento Tático funcionam a longo e médio prazo, o Planejamento

Operacional é, por sua vez, aquele mais imediato, que a um curto prazo visa à

estruturação das ações com uso de procedimentos, métodos, realização de

orçamento e recursos, cronogramas e documentação para realizar uma análise

de dados.

Seu objetivo, portanto, é colocar em prática o Planejamento Tático

obedecendo sempre às políticas e aos procedimentos, assim como o

orçamento e as estratégias previamente definidas. Nessa lógica ele é o que

especifica os detalhes de como devem ser alcançados os objetivos

organizacionais globais, considerando os métodos, recursos, o tempo e mesmo

o comportamento esperado para que as atividades desenvolvidas possam

gerar o resultado visado.

De maneira geral, o que temos então é que o Planejamento Estratégico

abrange toda organização e baseia os demais planejamentos. Para Chiavenato

(2008), ele refere-se à organização como uma totalidade e indica como a

estratégia global deve ser formulada e executada, apontando, entre outras,

duas características principais: é holístico e sistêmico. Em outras palavras, uma

organização é um conjunto de partes coordenadas entre si que interagem e se

combinam através de um planejamento bem preparado e executado para que

concorram a certo resultado e que funcione de maneira global.

O planejamento estratégico, sendo este que permeia e direciona os

outros, trata-se então do estabelecimento de um conjunto de medidas a serem

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tomadas para, continuamente, manter a organização diferenciada e com

condições para agir sobre as variáveis e os fatores de interferência – externos

e internos – de modo que possa exercer alguma influência num horizonte

temporal de curto, médio e longo prazo, agindo assim nos planejamentos tático

e operacional. Como contínuo, pressupõe a necessidade de um processo

decisório que ocorrerá antes, durante e depois de sua elaboração e

implementação. Essas decisões devem considerar tanto os componentes

individuais como os organizacionais, e as ações nestes dois níveis devem ser

orientadas de maneira que garantam a confluência de interesses dos diversos

fatores envolvidos.

Podemos perceber, portanto, que há certa ordem hierárquica e interativa

entre os tipos de planejamentos apresentados, primeiramente a definição do

Estratégico, em seguida a construção do Tático e por fim a exposição do

Operacional. Todavia, essas subdivisões – podemos conclui – são mais

metodológicas que práticas, pois num sentido sistêmico são partes de um todo

que é Planejar.

Todo esse processo estratégico, como sugere Bulgacov (2012) é uma

função administrativa que garante que a organização se prepare melhor para

possíveis obstáculos e atinja o objetivo para o qual foi instituída. Não se pode

trabalhar tendo por base a improvisação. Seja no nível Estratégico, seja nos

Tático e Operacional, é preciso preparação premeditada, cálculo e certa

previsão.

O processo de planejar é primordialmente importante, portanto para o

sucesso de uma organização, e envolve um “modo de pensar”, como diz

Oliveira (citado por BAGGIO, 2010, p.14). Isso sugere um processo gradativo

de questionamentos, diálogos e indagações que devem ser ordenadamente

realizados sem que se perca o caráter coletivo e vital dos objetivos

organizacionais. Essa não é, de fato, uma tarefa simples, mas à medida que

promove uma consciência coletiva, melhora a comunicação, a capacidade de

tomar decisões, o relacionamento interno e até mesmo o relacionamento da

organização com o ambiente externo. É necessário planejar para que se

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chegue a um lugar pretendido, caso contrário, corre-se o risco de se perder

pelo caminho.

Claro que, não estamos falando de prever o futuro, embora queiramos

com o planejamento lançar mão de certas previsões. O que se pretende é

examinar alternativas futuras analisando as possibilidades de escolhas para

minimizar os erros e incertezas, buscando assim alcançar as metas propostas.

Segundo Ferrel, (2000), a principal função das metas é orientar o

desenvolvimento de objetivos e fornecer direção para as decisões de alocação

de recursos e de desenvolvimento das atividades. Assim, as metas são as

realizações gerais desejadas e são indubitavelmente importantes por indicarem

a direção em que a empresa está tentando se mover e o conjunto de

prioridades que usará na avaliação de alternativas e na tomada de decisões.

O propósito do planejamento pode ser definido como o desenvolvimento

de processos, técnicas e atitudes administrativas as quais proporcionam uma

solução viável de avaliar as implicações futuras de decisões presentes em

função dos objetivos empresariais que facilitarão a tomada de decisão no

futuro, de modo mais rápido, coerente, eficiente e eficaz.

Para ser adequadamente implementado e atingir os fins a que se

propõe, o planejamento organizacional deve ser entendido e compreendido

pela generalidade dos membros da organização, de modo que todos saibam o

sentido de seu esforço e dedicação pessoal. Isso dá a cada membro da

organização um sentimento de pertença que corrobora para que se comportem

de maneira que sejam facilitadores dos resultados a serem alcançados.

Planejar é, assim, não apenas estabelecer metas, mas fazê-las segundo

uma perspectiva integrativa que considerem, como propõe Bulgacov (2012),

todos os aspectos de uma organização, incluindo o humano, parte

essencialmente importante para o alcance do sucesso. Requer, portanto certa

flexibilidade que permita a troca constante e ajustada com o meio ambiente e

entre seus próprios departamentos internos. Somente com a dedicação

pessoal, a operacionalização de metodologias e o estabelecimento de metas

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bem delineadas é que uma instituição poderá caminhar com menores riscos e

maior possibilidade de competitividade e destaque no mercado, seja qual for

sua área de atuação.

18

Capítulo 2: A Política Nacional de Humanização (PNH) como facilitadora de um

Planejamento Estratégico

2.1 Uma breve história sobre a Saúde Pública no Brasil: Contextualizando

a criação da PNH

A saúde pública no Brasil, por sua metodologia e destinação pode ser

considerada uma das mais democráticas das já vistas, ao menos no que tange

a sua característica de universalidade. Diferentemente de outros países, temos

hoje desenvolvido um sistema assistencial de saúde, ao qual, teoricamente,

todas as pessoas do país têm acesso. A história da saúde pública no Brasil,

todavia nos conta que não foi sempre assim. De fato, até 1988 a saúde pública

era um direito previdenciário destinado exclusivamente aos seus assegurados;

somente com a criação da Constituição é que ela passa a ser estendida a toda

população, sendo então considerada como “direito de todos e dever do

Estado”.

Nessa abordagem, viu-se então a necessidade de se criar um sistema

que pudesse estruturar, organizar e manter a oferta dos serviços de saúde de

maneira igualitária e eficiente. Nesse mesmo ano vota-se então para a criação

daquele que é, até hoje, o responsável por essa oferta: o Sistema Único de

Saúde – SUS. Na política desse sistema surgiram princípios e diretrizes que se

tornaram os eixos éticos e propulsores te toda sua rede de funcionamento.

Basicamente, falamos dos princípios da universalidade, da integralidade e da

eqüidade.

De maneira objetiva, enquanto a universalidade garante que a saúde

seja um direito de todos indiscriminadamente, a equidade veio garantir que

esse direito seja vivenciado democraticamente por todos de acordo com suas

necessidades peculiares, tentando fazer com que a oferta tenha um resultado

igualitário ainda que proporcional às diferentes demandas. No que tange à

integralidade, a premissa lançada é de que as ações devem considerar a

concepção de saúde adotada pela OMS – Organização Mundial de Saúde, que

19

desassocia-se do conceito de doença para associar-se ao de bem estar,

atravessando, portanto os fatores biológico, social e psíquico. Esses três

princípios regeram a criação de todo o sistema e a administração de sua

gestão.

Poderíamos mesmo dizer que o SUS nasce quase de uma utopia. De

fato, na base de sua proposta, seus objetivos e metas são belos e muito

válidos a uma sociedade justa e igualitária, todavia, ao longo de seus 26 anos

de existência, o sistema vem se deparando com desafios, ameaças e entraves

que fizeram que sua própria estrutura fosse continuamente ajustada e

repensada através de políticas e programas de atuação.

Como uma forma de organizar sua rede, descentralizando e

regionalizando a atenção e a gestão da saúde, criou-se há alguns anos a

Estratégia de Saúde da Família e implantou-se o Sistema de Classificação de

Riscos para otimizar a qualidade do atendimento e a velocidade desse

processo e de sua oferta; duas vertentes essas que atravessam dois dos

principais setores de atendimento do SUS: a Atenção Básica e os Serviços de

Urgências.

Todavia, ainda assim viu-se que era necessário não apenas a

implantação de programas de saúde, como os citados no parágrafo anterior,

mas de uma política que pudesse trazer mudanças efetivas no modelo de

atenção à saúde, voltada, sobretudo à valorização dos sujeitos implicados

nesse processo. Por quanto, mudanças no modelo de atenção, requerem,

antes, mudanças efetivas no modelo de gestão. Isso quer dizer que a

Humanização surge de uma necessidade de criar uma política transversal que

pudesse diferenciar o atendimento, que reconhecesse e procurasse solucionar

a questão da desvalorização dos trabalhadores de saúde, a precarização das

relações de trabalho, o baixo investimento em processos de educação

permanente em saúde desses trabalhadores, a pouca participação na gestão

dos serviços e o frágil vínculo com os usuários.

De fato, se com seus tantos programas anteriores podíamos apontar,

por um lado, avanços no que tange à descentralização e à regionalização da

20

atenção e da gestão da saúde, ampliando e fortalecendo os princípios da

universalidade, equidade e integralidade, por outro,

“(...) a fragmentação e a verticalização dos processos de trabalho esgarçam as relações entre os diferentes profissionais da saúde e entre estes e os usuários; o trabalho em equipe, assim como o preparo para lidar com as dimensões sociais e subjetivas presentes nas práticas de atenção, fica fragilizado.” (HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p. 05)

Assim, como política transversal que se propõe a investir na produção

de um novo tipo de interação entre sujeitos que constituem os sistemas de

saúde e deles usufruem, inaugura-se então, em meados da primeira década de

2000, a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no Sistema

Único de Saúde – HumanizaSUS.

2.2 O que é PNH?

“E por que falar em humanização quando as relações estabelecidas no processo de cuidado em saúde se dão entre humanos? Estaríamos com esse conceito querendo apenas “tornar mais humana a relação com o usuário”, dando pequenos retoques nos serviços, mas deixando intocadas as condições de produção do processo de trabalho em saúde?” (HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p. 06)

Já sabemos até aqui que a Política Nacional de Humanização nasceu ao

longo da gestão do próprio SUS numa tentativa de reestruturar, ou, se

podemos dizer, remodelar a estrutura das relações estabelecidas no processo

de gestão e atenção da saúde na rede. A primeira compreensão que temos

que ter é que a Humanização não é apenas mais um programa do SUS, é,

antes, uma Política, uma forma de conduzir as operações do sistema e a sua

21

gestão administrativa. É, dessa maneira, uma proposta ousada que

reformularia em essência todo um modelo enraizado de cultura organizacional.

É preciso marcar que o conceito de humanização nessa política

instaurada não se resume ao caráter benevolente que os dicionários podem

definir, mas traduzi-se sim na maneira de produzir o processo de trabalho em

saúde vislumbrando-a não como um favor, mas um direito constitucional.

Nesse sentido, quando se fala então em humanizar a rede de saúde, fala-se na

prerrogativa de se ofertar atendimento de qualidade, melhorando os ambientes

e as condições de trabalho dos profissionais. Conceitualmente,

“Por humanização entendemos a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Os valores que norteiam essa política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários, a construção de redes de cooperação e a participação coletiva nas práticas de saúde”. (O HumanizaSUS na atenção básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009. p,05).

Humanizar supõe, portanto ultrapassar as fronteiras dos núcleos de

saber e poder para ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços

tecnológicos com o acolhimento, com a melhoria dos ambientes de cuidado e

das condições de trabalho dos profissionais.

O Ministério da Saúde, como fomentador dessa Política, desenvolveu

inúmeros documentos para orientar gestores, colaboradores e usuários quanto

às diretrizes de uma atuação humanizada. Em um desses documentos (Política

Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas

de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS, 2004) direciona-nos para

o que chama de Estratégias de Humanização, apontando para sete eixos

norteadores que objetivam a institucionalização, a difusão dessa estratégia e,

principalmente, a apropriação de seus resultados pela sociedade.

O primeiro eixo refere-se às instituições do SUS, ou, especificamente à

necessidade da PNH ser incluída aos planos estaduais e municipais dos vários

22

governos, através de seus conselhos de saúde e gestores. Os eixos seis e

sete, também sugerem a relação da PNH com as instituições do SUS, ou, mais

especificamente aos seus instituidores, a constar, as esferas governamentais.

Enquanto no eixo seis o foco é o financiamento trazendo em pauta as relações

de subsídio dessa política, o eixo sete trata das demais pactuações com as

instâncias intergestoras e de controle social do SUS, objetivando o acom-

panhamento, o monitoramento e a avaliação sistemáticos das ações realizadas

na perspectiva da Humanização.

Nos eixos dois e três, o enfoque é dado ao trabalhador colaborador da

rede. Enquanto o eixo dois assegura a participação desses trabalhadores nos

processos de discussão e decisão, para assim fortalecer e valorizar seu

compromisso com o processo de produção de saúde e seu próprio crescimento

profissional, o eixo três vem garantir que tal crescimento seja favorecido por

estratégias governamentais de educação permanente, indicando que estejam

incluídos na PNH conteúdos profissionalizantes de graduação, de pós-

graduação e de extensão em saúde, vinculando-a aos Pólos de Educação

Permanente e às instituições formadoras.

O eixo cinco, sendo o mais abrangente e nosso principal foco aqui, traz

o que podemos considerar como a essência da própria política de

humanização. Focando-se na atenção, propõe uma política incentivadora do

protagonismo dos sujeitos, da democratização da gestão dos serviços e da

ampliação da atenção integral à saúde, promovendo a intra e a

intersetorialidade com responsabilização pactuada entre gestores e

trabalhadores.

Assim, a Humanização, como política,

“Objetiva construir metodologias de trabalho para implantação de projetos de humanização nos diversos âmbitos da rede SUS, seja por meio da concepção de dispositivos de suporte ao desenvolvimento de ações voltadas para os usuários no âmbito da atenção, seja no que concerne às condições de trabalho dos profissionais e dos modelos de gestão do processo de trabalho em saúde no âmbito da gestão, seja na contribuição nos processos de formação propondo a inclusão da PNH nos diversos âmbitos da formação em saúde; seja, ainda, na relação com a cultura, a sociedade na perspectiva do fortalecimento.”

23

(HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p. 18)

2.3 Os Benefícios da PNH para o Planejamento Estratégico

Até aqui vimos uma amostra daquilo que a teoria diz a respeito do

Planejamento Organizacional e do que o Ministério da Saúde infere sobre a

Humanização. Mas como articulá-los em uma única proposta? Como

intercambiar seus conceitos em prol de uma organização melhor estruturada e

funcional? Não é difícil pensarmos nas conjunções possíveis entre as teorias

apresentadas, bastam-nos, para isso, algumas reflexões sobre elas.

Quando pensamos nos benefícios da Política Nacional de Humanização

para o Planejamento Estratégico, fazemos referência, de fato, à humanização

enquanto política de ação e ao planejamento enquanto delineação estrutural de

uma instituição organizacional. Nesse ponto é que as idéias entre essas duas

teorias se cruzam sem erro de redundância e nos fazem ver a humanização

como uma possível facilitadora do funcionamento estratégico do planejamento.

Primeiramente, lembramos que para tornar-se eficaz, um planejamento

precisa considerar os ambientes que influenciam a organização e suas

características mutantes. Os avanços tecnológicos, as culturas, os

comportamentos, as condições financeiras, as agências reguladoras, as

condições políticas e tantos outros fatores interferem no caminhar do processo

administrativo de uma organização. Planejar, como vimos, é não apenas

estabelecer metas, mas fazê-las segundo uma perspectiva integrativa que

considerem todos os aspectos de uma organização, e isso inclui o fator o

humano, parte essencialmente importante para o alcance do sucesso.

Devemos ressaltar que o que temos aqui é a consideração do aspecto

humano em seu caráter de transversalidade em relação aos outros aspectos

24

institucionais, considerando a terminologia “humano” como comportamentos,

posturas e relacionamentos estabelecidos, sejam intra organizacional ou entre

a organização e o meio. Falamos então da construção de um ambiente

facilitador e das condições de trabalho dos profissionais.

Se consideramos esse aspecto de transversalidade, há de sabermos que

distingui-lo ou destacá-lo se dá apenas para uma função metodológica de

ratificar sua importância, não nos permitindo incorrer ao erro de resumir a

proposta de humanização apenas ao caráter pessoal dos sujeitos. Humanizar,

aqui, é uma ação administrativa e coletiva de reestruturar um sistema funcional.

Há de se reiterar, portanto, que não reduzimos a política nacional de

humanização ao mero conceito humanitário que o termo sugeriria aos leigos.

Humanizar a rede de saúde do SUS e, assim, sua estrutura organizacional, é

sugerir a prerrogativa de se ofertar atendimento de qualidade, melhorando os

ambientes e as condições de trabalho dos profissionais, pois trata-se de uma

política construída e delineada a partir das próprias necessidades e urgências

encontradas dentro de uma instituição – aqui especificamente o SUS – ao

longo de sua existência.

Se a Humanização é uma política de ação, ela diz, de fato, de uma

mudança cultural de comportamentos e modelos de relacionamentos, o que

requer encará-la como certo “jeito de ser” organizacional. Ora, isto é

exatamente o que um planejamento precisa para tornar-se eficiente:

envolvimento, ação e participação!

O processo de planejar, como vimos, envolve um “modo de pensar”. Isso

sugere um processo gradativo de questionamentos, diálogos e indagações que

devem ser ordenadamente realizados sem que se perca o caráter coletivo e

vital dos objetivos organizacionais, e essa é uma premissa claramente exposta

em um dos eixos da PNH, segundo o Ministério da Saúde, que

“propõe a promoção de ações que assegurem a participação dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão, reconhecendo, fortalecendo e valorizando seu compromisso com o processo de

25

produção de saúde e seu crescimento profissional.” (HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p. 11)

Verdade que ampliar o diálogo entre os profissionais, entre os profissionais

e a população, entre os profissionais e a administração e promover assim a

gestão participativa, é uma das diretrizes da Política de Humanização e uma

das condições exigidas pelo planejamento organizacional para que se faça

possível.

Se o planejamento requer pensar de maneira integrativa os diversos

aspectos de uma organização, a humanização, sendo uma política

incentivadora do protagonismo dos sujeitos, da democratização da gestão dos

serviços, da promoção da intra e da intersetorialidade com responsabilização

sanitária pactuada entre gestores e trabalhadores, torna-se um caminho para o

objetivo organizacional. Ao propor o acompanhamento, o monitoramento e a

avaliação sistemáticos das ações realizadas, de modo integrado às demais

políticas de saúde, (Ministério da Saúde, 2004), a humanização torna-se um

meio facilitador do Planejamento Estratégico, na medida em que favorece sua

execução de forma co-ordenada.

26

Capítulo 3: Uma apresentação da situação organizacional atual da Secretaria

Municipal de Saúde do Município de Guaçuí, ES

3.1 A Secretaria e seus departamentos: uma apresentação do legalmente

instituído

O primeiro passo para compreendermos a organização estrutural de um

instituído, é compreendermos as bases que fundamentam ou fundamentaram

sua instituição. Como estamos tratando de um órgão vinculado à administração

direta do poder público, temos que, antes de estruturá-lo, compreender o

contexto no qual esta estrutura se insere.

Como Entes Políticos, os Municípios fazem parte da administração direta do

Poder Público e exercem seus poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário)

através de delegações de funções a órgãos específicos que tenham

competência para executá-las. De maneira estrutural, o município se constitui

como um organismo de função administrativa que desconcentra suas

atividades em órgãos públicos, legislando, julgando e executando o

funcionamento do Município.

Entre seus diversos órgãos estão as Secretarias Municipais, aquelas que

podemos classificar como as responsáveis pela manutenção direta do Poder

Executivo. São elas setores especializados em determinada área

administrativa, chefiadas por um Secretário nomeado e subordinado

diretamente ao Chefe do Poder Executivo Municipal, a constar, o Prefeito.

Cada Secretaria é organizada segundo a legislação municipal que a

fundamenta e compõe-se de equipes de capital humano devidamente

qualificado e especializado para a execução de suas funções.

De acordo com o Título III da Lei Complementar Municipal de Guaçuí, ES,

número 054/2013, a Secretaria Municipal de Saúde pode ser considerada um

órgão, dentro de um organismo público, responsável pelo planejamento, pela

execução, pela política, pelos planos, programas e projetos municipais de

saúde. Esta Lei prevê, em seu artigo 93, que tal secretaria exercerá suas

28

coordenações de setores de saúde que executam os diversos programas e

projetos municipalmente instaurados, tenham sido eles criados por aderência a

programa federal, sejam por emergência municipal local.

Descritivamente, falamos dos setores da Saúde da Mulher, da Estratégia de

Saúde da Família, e do NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família, que

inclui em si coordenadores das seguintes especialidades clínicas: Farmácia,

Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Psicologia. Em complementação ao

dispositivo aqui citado, esses departamentos estariam, portanto estendendo a

rede a partir da Gerência de Programas e Projetos, que seria a responsável

pelas diretrizes, orientações e manutenção dos serviços prestados de acordo

com cada programa ou projeto, como seu próprio nome sugere. De acordo com

a proposta, teríamos o seguinte:

a) Gerência de Programas e Projetos:

- Coordenação do Programa de Saúde da Mulher

- Coordenação da Estratégia de Saúde da Família

- Coordenação do NASF, composta por:

- Coordenação de Farmácia

- Coordenação de Fisioterapia

- Coordenação de Fonoaudiologia

- Coordenação de Nutrição

- Coordenação de Psicologia

A inclusão desses departamentos facilita a manutenção adequada dos

programas de saúde à medida que favorecem a proximidade dos profissionais

às necessidades reais da rede. Eles seriam os elos entre a população e o setor

administrativo, tendo em vista que todos aqueles estariam subordinados à

Gerência de Programas e Projetos que, conforme pode ser observado pelo

gráfico a seguir, está submetida à Superintendência de Administração.

Essa departamentalização altera a configuração exposta no dispositivo legal

em relação ao fluxograma da Secretaria Municipal de Saúde, que seria então

estruturada da seguinte forma:

31

pessoal, de monitorar a prestação de serviço bem como sua qualidade, e de

administrar os processos e arquivos. Como podemos ver pela representação

gráfica exposta nas páginas 26 e 28, a maioria dos sub-setores estão a essa

Superintendência subordinados, inclusive a Gerência de Programas e Projetos

e a Gerência de Vigilância em Saúde, que poderiam ser consideradas co-

responsáveis pelo Planejamento Estratégico juntamente com a

Superintendência de Regulação, Avaliação e Auditoria, à qual é delegada, de

fato, essa função.

Pelo exposto no dispositivo Legal aqui citado, enquanto competiria à

Gerência de Programas e Projetos e, à Gerência de Vigilância em saúde

gerenciar o planejamento dos programas e projetos a eles vinculados, à

Superintendência de Regulação, Avaliação e Auditoria seria a responsável por,

primeiro, estabelecer as diretrizes a cerca das ações, normas e procedimentos.

Esta seria aquela que, na prática, não apenas fiscalizaria, mas à medida que

lançasse as diretrizes e normas, ofereceria as bases para o planejamento.

Todavia, durante a averiguação realizada por meio das visitas e entrevistas

aos departamentos e unidades da secretaria, foi podido constatar que,

atualmente, a função de regulação, avaliação e auditoria e, a função de

gerência de programas e projetos, não vêm sendo exercidas. De fato, por

nomeação oficial os cargos estão ativos, mas na prática eles não existem,

tendo seus funcionários nomeados outras funções não específicas e não

correlacionadas ao que de fato seria sua obrigação funcional.

Hoje, embora se tenha variados programas e projetos em atividade e, para

cada um deles, haja metas e determinações pré-estabelecidas pela esfera

governamental que o formulou (em geral, federal), a inexistência de um

condensador das normas e diretrizes – devidamente capacitado e habilitado –

que as pudesse convergir às necessidades locais e metas municipais e

fiscalizar sua execução, acaba por fragilizar a rede e dificultar o cumprimento

de seus objetivos. Pode-se até afirmar que existem metas próprias da

Secretaria, mas estas, em sua maioria, são elaboradas sem um planejamento

previamente pensado.

32

Na verdade, se pudéssemos manifestar graficamente como é ordenada a

administração da Secretaria considerando seus variados programas e projetos,

veríamos que quase todas as coordenações ou gerências não possuem um

referencial técnico que possa organizar seu funcionamento e suas atividades,

tendo essas uma contra-referência direta ao Secretário de Saúde, que, embora

gestor central da Secretaria e detentor de poder, possui variadas outras

funções e, não sendo tecnicamente habilitado e/ou capacitado para resolver

questões pertinentes à determinadas especialidades e serviços, sofre as

intempéries de sua sobrecarga e deixa aos coordenadores a incumbência de

levarem seus programas e projetos de maneira independentes.

De fato, esses departamentos, que deveriam funcionar em rede, trocando

informações e operando numa mesma lógica, acabam por desconcentrar-se

em unidades isoladas, o que fragiliza sua articulação e o próprio funcionamento

da Secretaria no que tange a proposta do Sistema Único de Saúde de

funcionamento integrado.

Temos por saber que, se a oferta dos serviços de saúde com qualidade é o

principal objetivo da Secretaria em questão, sendo para o qual se direcionam

todas as demais metas institucionais, os departamentos responsáveis pela

prevenção e promoção em saúde são aqueles que, de fato e em primeiro,

garantem a execução de tais serviços e, portanto, suas ações coordenadas

estariam diretamente ligadas ao plano estratégico. Falamos, de forma mais

direta, das Estratégias de Saúde da Família, juntamente com o apoio matricial

dado pelos setores do NASF e pelas especialidades oferecidas por outros

departamentos de saúde, e dos serviços de vigilância sanitária, epidemiológica

e ambiental.

Todavia, embora em termos operacionais cada programa esteja

desempenhando sua função, na ausência de um ordenador, nota-se que eles

funcionam com um grau de autonomia que ultrapassa a barreira da eficiência

para tornar-se desajustado, pois à medida que não se orientam em uma única

lógica de planejamento, dificultam não apenas o funcionamento administrativo,

mas o operacional e o estratégico.

33

Em verdade, o que temos é uma ausência de planejamento e um

funcionamento que se opera mais em função das obrigações legais impostas

por programas federais e estaduais que por necessidades municipais reais. Ao

invés de um plano único, há uma miscelânea de propostas, em sua maioria,

desconectas. Ao invés de estratégias operacionais planejadas, remediações

pontuais e fragmentadas.

Há, de fato, uma falha perceptível no processo administrativo, pois que

não há um controle bem definido em relação às propostas e atividades

desenvolvidas.

34

Capítulo 4: Uma nova estrutura é preciso: Uma proposta de Humanização para

reorganizar o Planejamento Organizacional da Secretaria Municipal de Saúde

de Guaçuí

Temo sabido ao longo desse trabalho que toda organização, tenha ela o

foco que tiver, para alcançar seus objetivos precisa de planejamento. Não seria

diferente com o Sistema Único de Saúde. Sendo um sistema que visa cumprir

a proposta constitucional de oferecer saúde de forma universal, o SUS possui,

como qualquer outro instituído, esferas administrativas responsáveis pela sua

gestão e pela execução de seus serviços. Podemos citar a Lei 8080 de 1990

como aquela que melhor explicita os objetivos e diretrizes de atuação desse

sistema.

De fato, a citada lei é um prelúdio do que podemos chamar de

Planejamento do SUS, pois dispondo sobre as condições para a promoção,

proteção e recuperação da saúde, indica as providências a cerca da

organização e do funcionamento dos serviços correspondentes, regulando,

em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde.

Todavia, esta lei, embora importantíssima, trata-se do primeiro passo,

mas não totaliza o que poderíamos chamar de Planejamento do Sistema.

Obviamente que as alterações ocorridas ao longo dos 26 anos de SUS são

uma tentativa de evoluí-lo, adequá-lo e, portanto, fazê-lo fiel aos seus objetivos.

Mas o que ainda podemos observar na prática de suas ações é uma fragilidade

nas propostas que, ao generalizarem o sistema acabam desconsiderando

peculiaridades ambientais naturais à grande proporção que alcança o SUS.

Claro que a regionalização (exposta pela citada Lei) é uma tentativa de

considerar as diversidades de nosso país e, portanto a necessidade de

adequações constantes do Sistema. Ela, como princípio norteador da

organização político-territorial do SUS, torna-se uma estratégia adotada, ou

uma ferramenta operacional importante de transferência de poder decisório, de

gestão de prestadores e de recursos financeiros, antes concentrados na esfera

federal, para Estados e, principalmente, para os municípios, o que torna

35

evidente certa preocupação com fatores que poderíamos caracterizar como

influenciadores do planejamento das estratégias a serem assumidas pelo SUS,

como o ambiental, o cultural, o financeiro ou mesmo político, tão próprio à cada

região.

Entretanto, se a fortaleza desta estratégia se encontra no fato de que os

municípios estão formados por ideologias e experiências diversas a serem

consideradas, a regionalização requer, então, que seja transferida a

responsabilidade aos municípios pela saúde de sua população, como também

os recursos para exercer as funções de controle, planejamento, coordenação,

etc. Perceba que recursos, aqui, não se resumem ao caráter financeiro, mas

também ao da valorização do capital humano, do aperfeiçoamento técnico, da

tecnologia empregada e tantos outros necessários ao aperfeiçoamento e

capacitação da equipe.

De fato, são os gestores estaduais e da União que devem coordenar os

sistemas municipais, mas para que a descentralização leve à concretização do

direito constitucional à saúde com todos os pormenores que a Lei garante

(principalmente a universalidade, a integralidade e a equidade), principalmente

o município tem que estar atento as suas peculiaridades, e sua administração

se faz por meio dos departamentos da Secretaria de Saúde Municipal.

Ao longo dos anos houve um crescimento paulatino, mas considerável

no quadro de profissionais que compõe a Secretaria de Saúde do Município de

Guaçuí e, tão logo, esse crescimento alterou o modo com o qual se organiza.

Como vimos, da própria constituição legal da Secretaria de Saúde ao momento

atual de seu exercício, inclusões foram sendo realizadas. Inclusões de

servidores e serviços que, desordenadamente inseridos na rede, modificaram

gradualmente sua administração.

Em um olhar mais atendo e estendido ao Sistema Único de Saúde,

veremos que essa característica de crescimento da rede não é exclusiva do

município de Guaçuí. Claro que, com o crescimento populacional, o avanço das

tecnologias, as descobertas de novos tratamentos ou a emergência de novas

36

doenças e portanto novas necessidades de cuidados, fizeram com que o

sistema se reestruturasse, de tempos em tempos.

Especialidades foram incluídas, programas criados e, o quadro de

contratações, em conseqüência, aumentou. Além disso, com a atenção básica

sendo levada para mais próxima da comunidade através do Programa de

Estratégia de Saúde da Família1, valores pessoais da cultura local foram,

pouco a pouco, se entranhando no modo de trabalhar de cada equipe. Estar

mais próximos permitiu estarem mais atentos às necessidades da comunidade.

Essa é uma característica bastante favorável à execução e manutenção de um

planejamento, e podemos mesmo dizer que partiu de um. Mas não foi por si,

somente, o suficiente para garantir sua eficácia.

Embora o governo federal tenha se mostrado atento às peculiaridades

regionais e, portanto às necessidades singulares, implantando programas e

políticas que as considerem e tentem garantir o princípio da equidade, na ponta

operacional do sistema, ou seja, nos municípios, essa preocupação acaba

perdendo-se em meio a problemas que ao longo dos 26 anos de SUS foram

também surgindo e fazendo parte do sistema, como a desvalorização dos

trabalhadores de saúde, a precarização das relações de trabalho, o baixo

investimento em processos de educação permanente em saúde desses

trabalhadores, a pouca participação na gestão dos serviços e o frágil vínculo

com os usuários. Todos, fatores encontrados na Secretaria Municipal de Saúde

de Guaçuí ao longo dos seis meses de pesquisa e investigação nesse local.

A eles, o SUS também esteve atento, e viu que era necessário não

apenas a implantação de programas de saúde, como os ESFs, mas de uma

política que pudesse trazer mudanças efetivas no modelo de atenção, voltada,

sobretudo à valorização dos sujeitos implicados nesse processo. Como vimos,

1 A Atenção Básica, aqui citada, é a porta de entrada do usuário ao sistema. Ela é a responsável principalmente pela promoção e prevenção da saúde. Seria a destinada a resolver os casos de baixa complexidade, sendo que a média e alta complexidade seriam encaminhados aos centros especializados de saúde. A Atenção Básica é, sobretudo composta pelos ESFs に Estratégia de Saúde da Família に que são núcleos de saúde instalados nas comunidades que se destinam a oferecer atendimento clínico médico e odontológico, e, com o apoio do NASF に Núcleo de Apoio à Saúde da Família に possivelmente outras especialidades como Fisioterapia, Psicologia, Fonoaudiologia e outras assistenciais.

37

mudanças no modelo de atenção, requerem, antes, mudanças efetivas no

modelo de gestão e é exatamente nesse ponto que a Humanização surge

como uma política transversal eficiente para colaborar com construção de um

planejamento da Secretaria Municipal de Saúde.

Como vimos preconizado pelo Ministério da Saúde, a Humanização,

tendo como norteadores os valores de autonomia e protagonismo dos sujeitos,

a co-responsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários, a

construção de redes de cooperação e de participação coletiva nas práticas de

saúde, traz sete eixos diretores que indicam a atuação da rede. Desses sete

eixos, resumidos no capítulo 02 desse trabalho, para sugerirmos uma

reorganização do Planejamento Organizacional da Secretaria municipal de

Saúde de Guaçuí considerando sua demanda atual por mudanças,

destacamos, sobretudo os eixos dois, quatro, cinco e sete:

“2. No eixo da gestão do trabalho, propõe-se a promoção de ações que assegurem a participação dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão, reconhecendo, fortalecendo e valorizando seu compromisso com o processo de produção de saúde e seu crescimento profissional. 4. No eixo da informação/comunicação, indica-se – por meio de ação de mídia e discurso social amplo – sua inclusão no debate da saúde, visando à ampliação do domínio social sobre a PNH. 5. No eixo da atenção, propõe-se uma política incentivadora do protagonismo dos sujeitos, da democratização da gestão dos serviços e da ampliação da atenção integral à saúde, promovendo a intra e a intersetorialidade com responsabilização sanitária pactuada entre gestores e trabalhadores. 7. No eixo da gestão da PNH, indica-se a pactuação com as instâncias intergestoras e de controle social do SUS, o acom-panhamento, o monitoramento e a avaliação sistemáticos das ações realizadas, de modo integrado às demais políticas de saúde, estimulando a pesquisa relacionada às necessidades do SUS na perspectiva da Humanização.” (HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p. 11)

Os eixos trazidos em destaque aqui ganharam essa referência por

serem aqueles que se aproximam, operacionalmente, dos departamentos e

setores da saúde que se constituem a ponta do sistema, ou seja, são eixos que

38

se operam dentro das unidades e departamentos de saúde e, aproximando-se

do trabalhador e do usuário, são potencialmente capazes de criar uma nova

cultura organizacional. Como vimos, a Secretaria de Saúde em questão

encontra-se hoje desarticulada, com seus departamentos funcionando de

maneira independente. Construir entre eles laços solidários de atuação é

premissa para que os objetivos sejam alcançados.

É preciso destacar e deixar evidente aos profissionais que a compõem,

que a Secretaria, com todas as suas unidades e departamentos, embora

dividida em especialidades e programas aparentemente não relacionados,

forma um corpo único, uma única instituição que, para manter-se de pé, precisa

de todos os órgãos funcionando de maneira integrada. Acreditamos que criar

momentos de discussão e debate entre os profissionais da rede sobre sua

atuação ou a atuação de sua unidade – como propõe o eixo dois – é o primeiro

passo para começar a construir laços mais efetivos que sustentem o caráter

integrativo que a rede SUS supõe.

É necessário horizontalizar as ações, estabelecer entre elas laços

solidários que visem à atenção integral à saúde promovendo e incentivando a

intersetorialidade; e não se cria laços sem que haja um processo de

comunicação eficiente!

Hoje, a Secretaria de Saúde em questão encontra-se desarticulada.

Ações são realizadas isoladamente sem pactuações que garantem a elas o

alcance que em si mesmo sugerem. Promover encontros ordinários entre os

gestores dos diversos departamentos é uma maneira de começar a costurar a

teia de informação e comunicação da qual o sistema precisa para sustentar-se

como uma organização instituída e com objetivos únicos.

Se houver efetivamente a pactuação entre os gestores locais, se a

intersetorialidade for levada a sério, grande parte das dificuldades encontradas

hoje pela secretaria de saúde do município de Guaçuí, seriam sanadas. Claro

que existem questões orçamentais e de infra-estrutura que precisam ser

modificadas e ampliadas, assim como há também a interferência de fatores

39

políticos que também necessitam de certa mudança, todavia, a desvalorização

do capital humano, a ausência de definições de cargos e funções, assim como

a falta de articulação evidente nessa organização, impossibilitam qualquer

tentativa de se realizar um planejamento eficiente.

Nesse ponto, vê-se também como necessário traçar os perfis

profissiográficos dos cargos dispostos na Secretaria de Saúde no que se refere

principalmente às suas Superintendências e, reorganizar, na prática, o fluxo da

comunicação e do trabalho de outros cargos e setores. Como visto, a falta de

um Regulador e de ordenadores centrais, torna frágeis as ações e ainda mais

difíceis e raras as pactuações que se fazem necessárias entre as instâncias

intergestoras locais.

Só é possível traçar estratégias quando se reconhece a missão da

instituição como um todo, e, portanto de suas partes. Isso, no caso em

questão, requer não apenas compreender o objetivo do SUS com seus

princípios e diretrizes e, assim, entendê-lo como uma rede integrada, mas

também proporcionar à Secretaria instituída meios de comunicação, avaliação

e monitoramento constantes.

Em essência, é preciso Humanizar a Secretaria, trazer para ela a prática

das ações propostas pela Política Nacional de Humanização como recurso

para realizar um planejamento organizacional, pois se “planejar” envolve um

“modo de pensar”, a PNH, como uma política que diz de uma mudança cultural

de comportamentos e modelos de relacionamento, atenção e gestão, traz

contribuições relevantes ao “jeito de ser” organizacional, o que favorece a

construção de um ambiente promissor na efetivação de planos e metas.

A Humanização, como essa política potencialmente propulsora de

mudanças, através de suas orientações e estratégias, sobretudo nos eixos em

questão, cria um ambiente facilitador em que os indivíduos – gestores,

colaboradores e usuários – são pessoalmente considerados partes integrantes

do coletivo social que forma o SUS. Não é ela apenas mais um programa que

vem somar-se aos tantos outros, mas uma política, uma linha de costura que

40

se faz atravessar toda a rede para conectá-la novamente e fazê-la uma só:

íntegra e integrada.

Na medida em que promove o protagonismo dos sujeitos com ações de

participação nos processos decisórios, que melhora o nível de comunicação

esclarecendo e definindo as propostas, e permite o diálogo entre os sujeitos e

entre seus departamentos, se faz uma estratégia facilitadora de um

Planejamento Organizacional, pois favorece um ambiente melhor delineado e

com a flexibilidade necessária à troca e às constantes evoluções que a própria

demanda sugere.

Se planejar é tão preciso como o termo sugere, humanizar é premissa

para que a precisão se garanta não apenas como necessidade, mas como

prática efetiva de construção.

41

Conclusão

Com a ampliação da oferta de serviços em saúde que vem acontecendo

ao longo dos anos e a conseqüente contratação de novos colaboradores, a

secretaria viu a necessidade de organizar-se internamente com novas equipes,

novos cargos e novas funções. Apesar do lado positivo que um crescimento no

quadro de pessoal pode gerar nesse tipo de serviços, o que se teve foi um

crescimento desordenado que fragilizou o trabalho em rede, os elos

hierárquicos e, logo, colocou em suspeita a qualidade do serviço prestado.

Através de um trabalho minucioso de pesquisa e investigação que durou

cerca de seis meses, realizado através de visitas aos setores, entrevistas

abertas aos seus responsáveis administrativos e, sobretudo pela observação

constante de suas atividades diárias, foi constatada a ausência de referências

e contra-referências técnicas na rede formada pelos setores da secretaria de

saúde do município em questão que, associado ao isolamento das unidades de

saúde, fragilizam a execução das atividades na medida da ausência de um

planejamento ordenador em comum e de um processo de comunicação e

trabalho em equipe adequados.

A falta de ordenação apontou para uma possível falha no planejamento

estratégico que fez ver certa dificuldade no relacionamento intersetorial da

rede, sugerindo uma necessidade urgente de reformulação. A humanização,

como política federal já instituída, surge como uma facilitadora nesse processo

para a construção de uma nova cultura organizacional, não apenas por suas

características estratégicas, mas por ser, efetivamente, uma ação possível de

governo e gestão.

Evidente que, simplesmente a discussão a cerca da humanização não a

garante. Práticas efetivas que levem aos setores e seus departamentos não

apenas os conceitos da PNH, mas apontem para os benefícios dela, são

essencialmente importantes para tentar uma reestruturação de um modelo

cultural de relacionamento interno. Debates, grupos de trabalho, reuniões entre

equipes e entre gestores são atividades de reflexão, que, entre outras de

42

outros vieses, geram frutos criativos de trabalho e, além, promovem um

sentimento de pertença condicional para que mudanças se tornem efetivas.

A humanização, nos eixos estratégicos de sua proposta, é caminho certo

para promover um espaço facilitador de encontros e diálogos que visem à

construção de um planejamento e sua execução. O que ela permite é a troca

que qualquer relação sugere: troca entre os sujeitos, troca entre os

departamentos, troca entre o próprio sistema e seu ambiente externo. Esse

constante movimento de conversação, de ação e reflexão tece “nós” que

sustentam as metas e, fazendo-as permear por toda a rede, garante a

efetividade das estratégias e operações de um Planejamento Organizacional.

É preciso salientar que nossa intenção aqui não foi trazer a humanização

como um fim, mas apresentá-la como um meio eficiente para se chegar a uma

finalidade maior que é garantir a um sistema instituído o cumprimento de seus

objetivos. Que a saúde seja, de fato, um direito de todos. E que todos possam

incluírem-se nesse processo de aquisição.

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