a hora da ruptura - corecon-rj€¦ · fernando cardoso pedrão, da unifacs, na bahia, não...

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ Nº 196 NOVEMBRO DE 2005 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS A hora da A construção de um projeto nacional de desenvolvimento exige a adoção de uma medida que os últimos governos bra- sileiros têm evitado: ruptura. RUPTURA Esta foi uma das principais questões discutidas no XVI Congresso Brasileiro de Economistas. Para o professor Wilson Cano, da Unicamp, ruptura “é uma palavra que acabou ficando meio feia, meio reprimida – a mídia, então, odeia essa palavra”. Nesta edição, além dele o JE traz um resumo das palestras dos professores Carlos Lessa, da UFRJ, e Fernando Cardoso Pedrão, da Unifacs. Páginas 5 a 10 O frágil banco central independente O frágil banco central independente O frágil banco central independente O frágil banco central independente O frágil banco central independente Página 3 Investimento eur Investimento eur Investimento eur Investimento eur Investimento europeu no Mer opeu no Mer opeu no Mer opeu no Mer opeu no Mercosul cosul cosul cosul cosul Página 11 Rio aumenta r Rio aumenta r Rio aumenta r Rio aumenta r Rio aumenta receitas não próprias eceitas não próprias eceitas não próprias eceitas não próprias eceitas não próprias Página 15

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Page 1: A hora da RUPTURA - Corecon-RJ€¦ · Fernando Cardoso Pedrão, da Unifacs, na Bahia, não economizou palavras: a privatização que foi feita no Brasil é “caso de cadeia”

ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ

Nº 196 NOVEMBRO DE 2005JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

A hora daA construção de um projeto

nacional de desenvolvimento

exige a adoção de uma medida

que os últimos governos bra-

sileiros têm evitado: ruptura.RUPTURA

Esta foi uma das principais questões discutidas no XVI Congresso Brasileiro de Economistas. Para

o professor Wilson Cano, da Unicamp, ruptura “é uma palavra que acabou ficando meio feia, meio

reprimida – a mídia, então, odeia essa palavra”. Nesta edição, além dele o JE traz um resumo das

palestras dos professores Carlos Lessa, da UFRJ, e Fernando Cardoso Pedrão, da Unifacs.

Páginas 5 a 10

O frágil banco central independenteO frágil banco central independenteO frágil banco central independenteO frágil banco central independenteO frágil banco central independentePágina 3

Investimento eurInvestimento eurInvestimento eurInvestimento eurInvestimento europeu no Meropeu no Meropeu no Meropeu no Meropeu no MercosulcosulcosulcosulcosulPágina 11

Rio aumenta rRio aumenta rRio aumenta rRio aumenta rRio aumenta receitas não própriaseceitas não própriaseceitas não própriaseceitas não própriaseceitas não própriasPágina 15

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SumárioPágina 3 Conjuntura – A frágil tese dos bancos centrais independentes

Página 5 Carlos Lessa – Hora e vez de um projeto nacional

Página 7 Fernando Cardoso Pedrão – “A privatização é caso de cadeia”

Página 8 Wilson Cano – É preciso fazer a ruptura

Página 11 Monografia – O investimento direto europeu no Mercosul na década de 1990

Página 13 Eleições – João Paulo eleito presidente do Corecon-RJ

Página 15 Fórum Popular de Orçamento – Dependência crescente de receitas não próprias

Página 16 A globalização desnudada

EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Gilberto Alcântara, GilbertoCaputo Santos, José Antônio Lutterbach Soares, PauloMibielli, Paulo Passarinho, Rafael Vieira da Silva, Ro-gério da Silva Rocha e Ruth Espinola Soriano de Mello.

Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio GomesCorreio eletrônico: imprensa@corecon-rj.org.brReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem::::: Rebecca RamosIlustração:Ilustração:Ilustração:Ilustração:Ilustração: AliedoCaricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio LoredanoDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e Finalização:inalização:inalização:inalização:inalização:Rossana Henriques (21) 2462-4885FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: TipológicaTTTTTiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000 exemplaresPPPPPeriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

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As matérias assinadas por colaboradores não refle-tem, necessariamente, a posição das entidades.É permitida a reprodução total ou parcial dos artigosdesta edição, desde que citada a fonte.

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· Conselheir Conselheir Conselheir Conselheir Conselheirososososos Suplentes: Suplentes: Suplentes: Suplentes: Suplentes: 1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Arthur CâmaraCardozo, Carlos Eduardo Frickmman Young. 2º terço2º terço2º terço2º terço2º terço(2003/05): (2003/05): (2003/05): (2003/05): (2003/05): Gilberto Caputo Santos. 3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/06): 06): 06): 06): 06): Gilberto Alcântara da Cruz, Jorge de OliveiraCamargo e Rogério da Silva Rocha · Delegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorEfetivo: Efetivo: Efetivo: Efetivo: Efetivo: José Antonio Lutterbach Soares · DelegadoDelegadoDelegadoDelegadoDelegadoEleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Paulo Sergio Souto

SINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICATO DOSTO DOSTO DOSTO DOSTO DOSECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJ

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Jornal dos

2 jornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

A ruptura necessáriaovembro chega ao seu final, com adisputa interna no governo cada vezmais acirrada. Nada de novo. Trata-

se de uma velha disputa em governos quenão ousaram romper com a cartilha neo-liberal. Ou seja, a já antiga peleja que opõeortodoxos versus desenvolvimentistas. De umlado, os que seguram os recursos geradospelo país para aumentar o superávit e, comisso, destinar quantias maiores para opagamento da dívida. No lado oposto, adefesa de maior liberalidade na aplicação dosmesmos recursos, destinando-os, contudo,aos setores carentes da sociedade, saúde,educação, mas também energia, estradas, co-municações, portos, aeroportos etc., toda ainfra-estrutura precária do país, que há maisde duas décadas não recebe qualquer inves-timento, por imposição do FMI e do BancoMundial, aceitas pelos governos.Este é o tema desta edição do JE, que recupera eamplia vozes que estiveram presentes no últimoCongresso Brasileiro de Economistas, emFlorianópolis. Para Wilson Cano, por exemplo,

O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho, de segundaà sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, AM, do Rio, 1360 khz.

N não há como retomar o desenvolvimento plenoe soberano do país, se não houver uma rupturacom o modelo neoliberal em curso. “A tão temidapalavra”, como diz o professor da Unicamp, deveser pronunciada e aplicada: “ruptura”. JáFernando Cardoso Pedrão, da Unifacs, na Bahia,não economizou palavras: a privatização que foifeita no Brasil é “caso de cadeia”. Carlos Lessa,da UFRJ, defende um projeto nacional que nãosomente seja novo, como também e essen-cialmente “nacional”.As contribuições no último congresso doseconomistas foram muitas e diversas. Tantoassim que, na próxima edição, estaremospublicando palestras apresentadas por outroseconomistas. É uma forma de participar dodebate sobre a economia brasileira atual, de-bate este que, na mídia, está tão restrita aopensamento único que assumimos o papel quea grande mídia não cumpre, ou por nãoquerer, por não ser este o assunto do interesseda pauta de seus editores, ou, quem sabe?,por ser uma mídia desatenta e desatualizada.Fica com você, leitor, a conclusão.

O estudante Felipe Marques, primeiro lugar no Concurso de Monografia do Corecon-RJ, registra os comentáriosdo prof. Nelson Chalfun à monografia vencedora e ao artigo resumo publicado na edição do JE de setembro.

“P“P“P“P“Para onde vai a sociedadeara onde vai a sociedadeara onde vai a sociedadeara onde vai a sociedadeara onde vai a sociedadebrasileira com esse modelo perbrasileira com esse modelo perbrasileira com esse modelo perbrasileira com esse modelo perbrasileira com esse modelo perversoversoversoversoverso

de acumulação?”de acumulação?”de acumulação?”de acumulação?”de acumulação?”FFFFFernando Carernando Carernando Carernando Carernando Cardoso Pdoso Pdoso Pdoso Pdoso Pedrãoedrãoedrãoedrãoedrão

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3jornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

CONJUNTURA Rui Lyrio Modenesi e André de Melo Modenesi*

m dos mais conhecidos

estudos sobre o tema é

o de Alesina e de Sum-

mers, de 1993, baseado em a-

mostra de apenas 16 países in-

dustrializados. Sua conclusão

foi que, para tais países, a um

maior grau de independência

dos bancos centrais correspon-

dia uma taxa mais baixa de

inflação. Eles admitiram, no

entanto, as limitações de sua

pesquisa e, conseqüentemente,

de seus resultados.

Antes, outros autores - Cu-

kierman, Neyapti e Webb, em

1991, haviam analisado amostra

mais ampla e satisfatória, reu-

nindo 72 países, sendo 51 deles

em desenvolvimento, inclusive o

Brasil. A investigação, contudo,

gerou resultados contraditórios,

justificando o alerta de que “esses

indicadores são incompletos e

cheios de ruído”, devendo ser

usados com reserva.

É, pois, no mínimo curioso

constatar que os autores do

estudo mais citado a favor da

reconheceram que seus resul-

tados não eram conclusivos,

visto que os dados foram

explorados de forma “bastante

superficial”. Por isso, adver-

tiram: “Uma análise mais de-

talhada da relação entre a

independência do banco cen-

A fragilidade metodológica edos resultados dos testes em-píricos revelam que ébem mais difícil, do que

pode parecer à primeira vista, justificar a teseda “Independência do Banco Central” (IBC).Essa dificuldade vem sendo, porém, ignoradapor alguns analistas e autoridades que ad-vogam sua adoção, como se a tese estivesseacima de qualquer questionamento.

A frágil tese dos bancos centraisindependentes

autores dos estudos empíri-

cos dos arautos noviços da te-

se da IBC!

A “curva de Phillips”

Mais uma vez a história se

repete. Fenômeno semelhante

ao que ocorre com a tese da

IBC verificou-se com a cha-

mada “curva de Phillips”. Esta

ilustra a existência de uma

relação inversa entre a taxa de

inflação e a de desemprego,

observada na Inglaterra, entre

1861-1913, e nos Estados

Unidos, nos anos de 1935 a

1960. Sugeria ser possível obter

uma taxa menor de inflação à

custa de uma taxa mais alta de

desemprego e vice-versa.

Parece, porém, mais prudente reconhecerque os resultados dos estudos empíricos nãosão suficientes para comprovar a existênciade causalidade entre independência dobanco central e estabilidade de preços

tese da IBC foram categóricos

ao apontar a precariedade de

suas evidências. Com inusitada

franqueza, Alesina e Summers

tral e seu desempenho efetivo,

isto é, controle da inflação, é

ainda necessária”.

Que diferença separa os

U

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4 jornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

Há um consenso de que o governo deveter alguma responsabilidade em as-suntos monetários

1970, o até então desconhecido

fenômeno da estagflação, carac-

terizado pela coexistência de

altas taxas de inflação e de de-

semprego, sepultou a possibi-

lidade de escolha entre inflação

e desemprego, negando a vali-

dade da curva de Phillips.

À semelhança da curva de

Phillips, a tese da IBC é hoje

uma espécie de norma a pautar

a atuação de muitos bancos

centrais. Todavia, a evidência

fática a favor da tese da IBC é

mais frágil do que a que ensejou

o longo reinado da curva de

Phillips. Apesar do questionável

respaldo empírico, a tese da IBC

acabou ganhando status de

regra universalmente válida. A

partir de meados de 1990,

passou a ser um dos elementos-

chave da política monetária.

Parece, porém, mais pruden-

te reconhecer que os resultados

dos estudos empíricos não são

suficientes para comprovar a

existência de causalidade entre

independência do banco central

e estabilidade de preços. A tese

da IBC permanece defendida

mais por argumentos teóricos e

políticos do que com base nos

dados empíricos. Além disso, os

seus adeptos não se viram

reconfortados com o beneplá-

cito e, menos ainda, com a

adesão a ela por parte do papa

do monetarismo, Milton Fried-

man. Este surpreendeu-os,

rejeitando a tese por razões não

só econômicas, mas também

político-ideológicas.

Para Friedman, sendo um

potente instrumento de gestão

macroeconômica, a política mo-

netária tem, também, uma di-

mensão política mais ampla. Em

seu entender, cabe indagar se,

numa sociedade democrática, a

política monetária pode ficar fora

de direto controle social.

Há quase duas décadas, no

artigo intitulado “Deveria haver

uma autoridade monetária inde-

pendente?”, Friedman já advertia

sobre os riscos dessa indepen-

dência. Segundo ele, “a neces-

sidade de dispersar o poder cria

um problema especialmente

difícil no campo monetário. Há

um consenso de que o governo

deve ter al-

guma res-

ponsabilidade em

assuntos monetários.

Há, também, um reco-

nhecimento generalizado de que

o controle sobre a moeda pode

ser uma ferramenta potente para

moldar e controlar a economia”.

Conclui com uma pergunta

retórica: “Seria realmente tole-

rável numa democracia haver

tanto poder concentrado em u-

ma instituição livre de qualquer

controle efetivo e direto?”

Friedman sustenta que a política

monetária deve ser atribuição

do governo, que é politicamente

responsável por seus erros,

pelos quais pode ser punido

com a perda do poder pela via

eleitoral. Recusa-se, pois, a

aceitar que responsabilidade, na

política monetária, seja sinô-

nimo de independência dos

bancos centrais:

“O problema é estabelecer

arranjos institucionais que le-

vem o governo a exercer res-

ponsabilidade na condução da

política monetária; e, ao mesmo

tempo, limitar o poder dado ao

governo e impedir esse poder

de ser usado de maneira a en-

fraquecer, ao invés de fortalecer,

uma sociedade livre”.

Afinal, sugeriu que a política

monetária, transcendendo os

limites da economia, não pode

ser monopólio da tecno-

cracia estatal. Deve ser

submetida ao escru-

tínio público e ser

regida por crité-

rios que preservem valores éti-

cos e interesses políticos mais a-

brangentes do que o mero princí-

pio da racionalidade econômica.

Negando a seus discípulos

“novo-clássicos” aval à teme-

rária tese de independência do

banco central, Friedman está no

fundo afirmando que a política

monetária é instrumento pode-

roso demais para ficar nas mãos

apenas dos economistas.

* Economistas

- Rui Lyrio Modenesi foi secretário-adjunto

de Política Econômica do Ministério da

Fazenda, no período de 1996 a 1998.

- André de Melo Modenesi é economista,

pesquisador do IE/UFRJ. Autor do livro

“Regimes monetários: teoria e a experiência

do real” (Editora Manole, 2005), fonte das

citações feitas neste artigo.

Ao longo da década de

1960, a curva de Phillips se

transformou em uma espécie de

pedra fundamental da macro-

economia. Deixou de ser uma

simples regularidade estatística

e se tornou uma cartilha, que

rezava se poder optar por

distintas combinações de in-

flação e de desemprego, por

meio de adequadas políticas

monetária e fiscal. Nos anos de

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5jornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

Hora e vez de um projeto nacional

uem assistiu a eleição do atual gover-no viu uma mudança que afastou ra-dicalmente o Brasil do sonho social-

democrata e o precipitou em uma sociedadeque se organiza sob o império do mercado,e não da cidadania.

A economia, enquanto projeto de longoprazo, ela se expressa na vontade política deuma coletividade. Se esta vontade falta ou seesta vontade é ambígua ou se esta vontadenão se estrutura de forma explícita não haveráesse projeto nacional claro e inequívoco. Porque isso acontece? Por uma série de razões

O que apresentamos a seguir é uma edição resumida da palestra

do professor Carlos Lessa, na abertura do recente Congresso

Brasileiro de Economistas, realizado em Florianópolis.

Carlos LessaProfessor da UFRJ

que vou me permitir recuperar rapidamente.Primeiro, não houve uma transição crítica

e aprofundada da ordem autoritária para ademocrática. A construção da recente ordemdemocrática se fez através de uma frente cujodenominador comum era demover o auto-ritarismo, com a idéia de que todos os malesbrasileiros se davam por causa do autori-tarismo. A democracia apresentava-se comouma panacéia de pronta aplicação, capaz dedebelar todos os problemas. A discussãosobre o que nós queríamos, de certa maneirafoi cancelada ao se transformar a eleição diretaem uma eleição indireta, feita no CongressoNacional. O Congresso se definiu entre o beme o mal, e a sociedade brasileira torceu para o

bem ganhar o mal – e o bem ganhou omal, de forma que exorcizamos todos

os males do autoritarismo dessesúltimos anos. E para completar aanalogia, o bem morreu!

Isso tudo tem um compromissopsicológico terrível. Vocês sabem quea coisa mais parecida à eleição indiretaé o rito do vodu, no Haiti. No Haiti,quando numa aldeia existe uma

entidade malfazeja, que estáproduzindo a injustiça, a into-

Q

lerância, o conflito, a desarmonia, eles fazemum boneco e toda comunidade xinga o boneco,bate no boneco e quando acaba a paz está feita.O único sacrifício foi o boneco. Em nosso caso,o único sacrifício foi o Paulo Maluf; todomundo era democrata no Brasil, menos oMaluf. Foi a única baixa reconhecida. Isso foiuma maneira muito suave de transitar de 21anos de autoritarismo...

Não fizemos, então, a crítica radical aoautoritarismo. Depois, um pouco para afastaraquele estigma entre o velho e o novo,procuramos um jovem que fosse virtuoso, eencontrou-se o Fernando I, o Collor. Ofestival de corrupção que aconteceu com oFernando I levou este país a um grandemovimento ético de repulsa à corrupção.Porém, o discurso neoliberal e o primeiroestágio neoliberal de Fernando Collor ficaramincólumes, enquanto transitava o GovernoItamar para o seu ministro da Fazenda,Fernando Henrique Cardoso, que é oFernando II. Aliás, eu sempre me pergunto oque é que aconteceu com a sociedade duranteos 10 anos dos Fernandos, os anos 90, quecostumo chamar de “fernandécada”, a décadados Fernandos.

O povo guardião da cultura

O Plano Real teve sucesso porque des-mantelou muito dos desequilíbrios daindexação da vida brasileira, e produziu umareforma monetária que evitou a crise e asua reprodução. Esse grande sucesso auto-rizou o Fernando II a um segundo mandatoe no segundo mandato ele fez a grandeobra, acabando completamente com o ca-ráter nacional do desenvolvimento; modi-ficou radicalmente o conceito de empresanacional com controle brasileiro, fez umaalteração profunda de rumos, privatizouuma série de organizações públicas,redefiniu outras, tentou de certa manei-ra formatar o que seria hipoteticamenteum Estado mínimo. Não chegou lá,mas caminhou nesse sentido.

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6 jornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembrjornal dos economistas - novembro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

O que eu quero dizer a vocês é que o Brasiltem levado a aventura neoliberal praticamentesem consulta à população, porém, formal-mente com eleição. E houve uma progressivadesvalorização do instituto político. Eu nãovou dizer quem disse isso, mas é um dos maio-res empresário dos EUA, que disse gostar dademocracia, mas não confiar nos políticos.

Eu creio que a inclusão social continuasendo o grande desafio de um país chamadoBrasil. Como já foi dito, temos recursos, umabase territorial, temos estruturas produtivas,uma indústria, uma agricultura, temos umsistema universitário, temos 80% da nossapopulação urbana, temos uma vasta redeurbana, ou seja, temos, do ponto de vistaestrutural, vantagens e temos um povoabsolutamente admirável. Eu sintetizofazendo a seguinte observação: sempre quese assume uma discussão do povo brasileiro,que é extremamente heterogêneo, se registraa insuficiência de habitação, de saúde, a faltade saneamento, de justiça e de segurança.

Na verdade, volto a dizer que apesar de todasessas carências o povo brasileiro sobrevive;apesar de todas essas carências, o povo brasileiroé! E é o quê? Eu acho que ele é uma peça, porexemplo, admirável e que na verdade é um povoprofundamente conservador. Por que ele éconservador? Porque na medida em que viveem condições precárias, ele não abre mão denada do que tem e do que possui. Por issomesmo ele é o patrimônio da cultura brasileira,de uma cultura dinâmica, do qual ele é o principalguardião porque é conservador.

Nosso povo para sobreviver improvisa,processa e cria estratégias de sobrevivênciaimpressionantes. Aliás, basta ver o tamanhoda informalidade na vida brasileira: aproxi-madamente, 30% da população economica-mente ativa. O que as pessoas não se dãoconta é que nessa informalidade alguns dosprocessos são totalmente criativos. Quantosanos de vida útil têm um caminhão de longocurso que corta as estradas? Em média, 18anos. Os tratores agrícolas têm 30 anos.Sabem por que? Porque o povo brasileiro égenial. Temos centenas de milhares de enge-nheiros que quando um automóvel começa ater problemas de reposição, reproduzem asautopeças em oficinas de fundo de quintal.Aliás, os ecologistas deviam bater continênciaao povo brasileiro, porque ele é ecológico, elerecicla tudo, nós devemos ter um dos maioresgraus de reciclagem de latinhas, por exemplo.

Mas nosso povo não é só criativo. Ele temuma característica, somos o povo da mistura,somos o povo da festa – a festa da uva, dotomate, tem até a festa do jumento.

Um projeto nacional

Ora, vocês dirão, como é que umasociedade tem um povo com essas qualidades,uma estrutura produtiva já robusta, umariqueza em recursos naturais, e esse povopatina sem parar? Por que estamos há 25 anoscom uma taxa média de crescimento de 2,3%ao ano? No século passado, à exceção do

vice-presidente já disse, são muito poucos osnegócios que têm taxa de retorno capaz decompetir com essa taxa de juros real. Na verdade,empresas superavitárias, em conseqüência, estãomuito melhor por operações de tesouraria do quepor investir no setor produtivo.

Ou seja, a inflação foi derrotada, porém,as instituições centrais da inflação forampreservadas. Nós criamos no Brasil umaarmadilha, envolvendo o mercado de curtoprazo e o mercado de longo prazo. Mercadode longo prazo é o mercado de título da dívidapública, mercado de curto prazo é o open market,o mercado do dinheiro. O que acontece noBrasil é o seguinte: foi emitida uma massaenorme da dívida pública com indexação pelataxa de juros do dia. Os bancos simplesmenteusam isso para ampliar as operações que fazemcom os setores públicos monetários. Naverdade, há uma indexação de curto prazo, coma taxa de juros do dia no longo prazo. Se a taxade juros no curto prazo é muito rentável,ninguém vai aplicar no longo prazo.

A taxa de juros ao ser reduzida vaipermitir que haja uma folga nas finanças pú-blicas. Para onde irá isso? Certamente, parainvestimentos em infra-estrutura, para am-pliar as políticas sociais, para reduzir o déficitanual. Ao reduzir o déficit anual vamos pararde emitir novos títulos de dívida pública parafins de aplicação financeira.

Uma outra coisa: tem que acabar com essataxa flutuante de câmbio. Taxa de câmbioflutuante é para país rico, não é para país com asnossas características. E vocês perguntarão: porque o Brasil adotou a taxa flutuante? Porque elaaponta simultaneamente as metas de inflação,que é o modelo de metas do Banco Central.

Por fim, caindo a taxa de juros básica ehavendo um gasto público não financeiro, eminfra-estrutura, em políticas sociais, haverá umrobustecimento do mercado interno. Aorobustecer o mercado interno haverá umaretomada dos investimentos voltados paraesse mercado interno. Com isso, então, odesenvolvimento será um movimento geradorde empregos e ao gerar emprego beneficiarcadeias virtuosas derivadas do emprego criadopelas frentes de expansão.

Muda a configuração deste país e vamoschegar provavelmente a taxas de crescimentosuperiores aos 5% ao ano, o que é necessário.Por que é necessário? Porque, hoje, com a taxade 5% é impossível gerar emprego para osque chegam ao mercado de trabalho.

O que aconteceu nessesúltimos 25 anos? Bom, nóstransitamos da ordem au-toritária para a democra-cia por um processo suigeneris. Porém, a demo-cracia não foi entendida nasua essência. Ela foi en-tendida como uma fórmulamágica que tudo resolvia

Japão, o Brasil foi o país que teve a mais altataxa de crescimento pelo mais longo períodode tempo. O que aconteceu nesses últimos25 anos? Bom, nós transitamos da ordemautoritária para a democracia por um processosui generis. Porém, a democracia não foientendida na sua essência. Ela foi entendidacomo uma fórmula mágica que tudo resolvia.

Porém, quero falar sobre um projeto nacionalde desenvolvimento, um projeto para o Brasil. Evou começar falando dele, assumindo o que é oponto de honra de nosso vice-presidente JoséAlencar (presente à abertura do Congresso). OBrasil tem realmente uma taxa de juros básicaque se nós aplicássemos um adjetivo eu diria “re-pugnante”. Estamos, no momento, com 19,5%(logo depois da palestra, o BC reduziu para 19%a taxa. N.E.), que é mais que o dobro da segundataxa colocada. Temos uma taxa de juros real queé 26 vezes a taxa real do mundo desenvolvido,11 vezes os demais países emergentes, menos oBrasil. Nossa taxa é absurdamente elevada. Qualé o significado de ter uma taxa de jurosextremamente elevada? Primeiro, como o nosso

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primeira coisa para colocar é a seguin-te: como diz na minha terra “vamosdar os nomes às vacas”. Nesse país tem

uma crise ideológica que levou a um tipo deprivatização que, na verdade, foi uma desna-cionalização do fundo público. Isso é quehouve. E isto foi feito em nome ou através oumediante explicações espúrias de teorianeoclássica em economia, mal feitas, inclusive,e que entregaram empresas brasileiras aempresas públicas estrangeiras como se fosseprivatização. A meu gosto, é caso de cadeia. Aprivatização no Brasil é caso de cadeia.

A segunda coisa é lembrar três conceitos,que às vezes a gente maneja: compulsãocapital, a qual logo adiante vou me referir;lembrar que a expressão infra-estruuihturapara mim e para outros pensadores quer dizera materialidade do sistema sócio-produtivoe, não somente, alguns sistemas; e, em terceiro,uma expressão que vai complementar coisasque o Wilson (Cano) estava falando, que é oconceito de blocos de poder.

O que houve no Brasil do fim da ditadurapara cá foi a constituição de um bloco de poderdo grande capital, articulado com o capitalinternacional e utilizando as pressões externaspara obter concentração de capital aqui dentro.O que há no Brasil é uma crise de contradiçõesdo grande capital. É esse que mobiliza a políticaeconômica do Brasil, haja vista que toda alinguagem gera, como disse Wilson, essa coisamística e, na realidade, absurda, que é essanoção de mercado, como ela é utilizada, quenão é mercado como para nós.

Uma vez dito isso, não poderemosdesenvolver uma discussão sobre essa realidadebrasileira, a não ser que tenhamos de pensarhistoricamente essa realidade. É preciso pensarem termos de uma relação entre a composiçãode recursos que o país tem e o modo energéticode produzir, o modo como usar a energia nopaís, em geral. Nós temos um determinadobalanço energético, por exemplo, na com-posição de recursos energéticos, alcançamosresultados espetaculares em algum momentode criar a usina hidrelétrica, que a privatização

“A privatização é caso de cadeia”deixar o sistema ferroviário ficar como está;tem uma imobilidade de ajustagem de usardiesel. Você não pode substituir diesel porenergia hidrelétrica. Então, se ache a soluçãodo sistema. Nós fomos conduzidos por ummodo de produzir energia e de usar energia.Isso tem que ser questionado.

A única maneira de se discutir isso,seriamente, é tentar reverter a bestialidade quefoi essa forma de desnacionalização. Assimcomo Wilson (Cano) fala de ruptura, eu falode ruptura em relação ao sistema energéticodo país. É preciso recuperar o comando daenergia no Brasil, de fato. Esse negócio demanter contrato ou não manter contrato, oque é manter contrato? Pegaram a Light e avenderam a uma empresa pública francesa,que demitiu quadros técnicos. Esses carasvieram para cá para piratear o sistema ener-gético; não vejo porque tenha que ter comeles uma deferência diferente da que estãotendo com o Maluf, por exemplo.

A outra coisa é o seguinte: na verdade,tudo isso que estamos falando correspondeao modo de como a sociedade brasileiraparticipa do sistema e do poder. Quando faloem bloco de poder, falo como o poder seconcentra na esfera econômica, na esferapolítica e na esfera institucional. Bloco depoder não é somente econômico. Nós temosque romper também com essa coisa depensar que alguém estuda as artimanhas daeconomia neoclássica e entende de econo-mia. Temos que dizer o seguinte: tem trêstipos de economista: os encanadores, oseletricistas e a turma da economia política.Isso tem que ser comentado.

Acho que por trás dessa discussão dosistema enquanto sistema está a organizaçãosocial da produção. Quantos de vocês que seformam em Economia, não pensam imedia-tamente em fazer algum doutorado emalguma universidade de porta de fábrica nosEUA; e, eventualmente, ficar morando lá?Esse é o ponto de reflexão: para onde vai asociedade brasileira, com esse modelo per-verso de acumulação?

Fernando Cardoso PedrãoProfessor da Unifacs / Salvador

Nós temos que rompertambém com essa coisa depensar que alguém estudaas artimanhas da economianeoclássica e entende deeconomia. Temos que dizero seguinte: tem três tiposde economista: os encana-dores, os eletricistas e aturma da economia política.Isso tem que ser comentado

contribuiu para danificar; temos feito avançosimportantes no relativo ao petróleo, mas,somos vítimas da falta de um planejamentointegrado do sistema energético porque outradas coisas que aconteceu no país foi o bani-mento da palavra planejamento. Chega a talponto que a gente nem sabe quem é o ministrodo Planejamento porque quem manda noBrasil é o médico que está sentando na cadeirada Fazenda. Isso é o que acontece.

Vieram para piratear

Outra coisa é que os sistemas estruturados,os sistemas que produzem e distribuemenergia têm restrições próprias, reais, técnicas,da compulsão do capital. Você não podesubstituir usos de diesel, no modelo rodoviá-rio brasileiro. No Brasil, uma das graças foi

A

Fernando Cardoso Pedrão, à direita na foto,ao lado de Wilson Cano

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uero fazer observações sobre duasquestões que foram muito aplaudidase enfatizadas neste Congresso. A

primeira é a desconcentração de recursospúblicos para as hierarquias dos governosestaduais e municipais. De onde virão essesrecursos? Esses recursos não existem. O quetemos que discutir em primeiro plano não ése o Governo Federal deve fazer mais umcorte drástico – não sei em quê e nem como– para poder repassar mais recursos, porquea Constituição de 1988 fez isso. A Consti-tuição alargou consideravelmente os recursosreais para os municípios e um pouco menospara os estados. O Fernando Henrique en-costou na parede o efeito constitucional, masnão retirou dos estados e municípios a con-siderável elevação das receitas.

Eles, portanto, devem estar nadando emdinheiro? Não, porque eles acumularam umadívida, que estava nos seus balanços, nospassivos de praticamente todos os municípiose todos os estados brasileiros. E aí é que vemo pior. Por que? Porque em 1993, o GovernoFederal propôs a chamada renegociação dasdívidas municipais e estaduais, que se repetiu,em 1995. O que os municípios e estadosganharam de presente? Juros escorchantes, demais de 40% ao ano, e isso arrebentou aestrutura fiscal de todos os municípios eestados brasileiros. Por que?

Porque todos estão metidos em umacamisa de força, com a renegociação dasdívidas por 30 anos e comprometimento dareceita líquida corrente, que varia de 9% (paraos felizes) a 13% (para os infelizes). Portanto,não é tirar recursos do Governo Federal paraos municípios. Tem que se mexer em outroburaco. Discutir politicamente um novo pactofederativo, uma opção muito mais complexa

Hora de fazer a ruptura

Wilson CanoProfessor da Unicamp

O país precisa fazer a rupturacom o modelo neoliberal e es-tabelecer prioridades para umprojeto nacional

do que se possa imaginar, porque não se trata,simplesmente, de botar dinheiro em umcaminhão do Governo Federal e levar paraos estaduais.

A segunda questão colocada, que éunanimidade nacional, a de que temos quebaixar a taxa de juros. Claro, que temos!Porém, as pessoas, os economistas não se dãoconta para uma série de problemas queexistem para que se possa baixar os juros. Nãoé uma operação isolada, pois se mexer na taxade juros vai ter que mexer no câmbio, nocrédito, na política monetária, política fiscal eno déficit público. Por que? Porque o modeloneoliberal propõe uma articulação perversa,diabólica entre essas quatro questões. Isso meleva a seguinte questão: eu tenho uma tesecontrária à de que é possível colocar algumemplastro, esparadrapo e uma caixa deaspirina para se resolver o problema da crisebrasileira. Não. É uma cirurgia drástica, nãohá como se botar remendos porque vai se termais embromação, mais enganação do povo,se alguém achar que pode efetivamentecolocar paliativos no modelo de hoje. E euvou tentar mostrar porquê.

Quatro pecados originais

A questão aqui é uma palavra que acabouficando meio feia, meio reprimida – a mídia,então, odeia essa palavra, que é ruptura. Éruptura, sim. Precisamos de um governo quetenha a coragem de restaurar a dignidadenacional, o manejo soberano da políticaeconômica. É disso que precisamos, não é deesparadrapo, não é de uma taxa absurda de19% para 17% ou para 15%, porque háconseqüências muito graves quando eu definoa taxa de juros. O segundo ponto lembraria oque aprendi com meus mestres (Prebisch eFurtado, principalmente, mas também nomescomo Kalecki e Keynes): que os paísessubdesenvolvidos vêm estruturalmentecarregando quatro pecados originais.

O primeiro deles é que, estruturalmente,temos problemas de déficit do balanço de

pagamentos. Anormal é quando não temos.O segundo é não termos mecanismos definanciamento de longo prazo suficientes, paradar conta das necessidades do investimento eaté mesmo da produção. O terceiro é quandose fala que a carga tributária está em 38%, quehorror! As pessoas falam em 38% e não têmum cuidado mínimo de dizer “olha, mas dos38%, 9% voltam para o bolso deles auto-maticamente porque é a conta de juros. Então,não é 38%. Chamo a atenção que déficitpúblico não é um problema de inteligência ecompetência de nenhum PhD. É um problemaestrutural de economia subdesenvolvida. Oanormal é quando não tem déficit público. E oquarto pecado, os economistas precisam voltara aprender isso na escola. É que esses trêspecados anteriores fazem um espúrio casa-mento, um amálgama, que gera o quartopecado original, que é estrutural a todaeconomia subdesenvolvida – a inflação. Nãoadianta querer ter a inflação suíça, japonesa,alemã, não adianta trazer os dois maioresprêmios Nobel de economia ou delegar isso econceder autonomia plena ou parcial ao BancoCentral. Isso é bobagem. Por que?

Em parte pelo que acabei de dizer, mastambém porque o modelo neoliberal agravouexatamente esses quatro pecados originais.Como é que agravou? De duas formas: seolhar o lado real do balanço de pagamentos,agravou porque a abertura descontrolada daeconomia, a valorização violenta do dólar queacompanhou todos os modelos de estabi-lização da América Latina, no início dos anos90 (e que hoje também nos aflige de umamaneira tão grave como a que tivemos entre1994 e 99), esse modelo simplesmente cria orombo estrutural no balanço de pagamentos,que só pode ser coberto por uma entradapermanente e crescente de recursos externos.Ora, na história do capitalismo não conhece-mos nenhum período muito longo de tempo,em que os fluxos internacionais fossemprazerosamente canalizados para um paíssubdesenvolvido de uma forma barata,benigna e crescente.

Q

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A segunda forma é que o nosso grau dedependência é hoje muito maior do que eraem 1994. Em termos de ativos reais, somando-se com a dívida externa, o nosso passivo era,até pouco tempo, de cerca de US$ 400 bilhões,o que equivale dizer que eu teria que mandarpara fora, compulsoriamente, de US$ 40bilhões a US$ 50 bilhões de juros e lucros, nomínimo. Só que tem o outro lado, mais cruel,que é o mercado sobre ativos financeiros. Euli um trabalho há dias e fiquei aturdido com avoracidade com que o capital internacional estáadquirindo ativos financeiros brasileiros, quenão têm nada a ver com a dívida externa, nemcom privatização, nem coisa alguma. Nomercado da bolsa de Nova Iorque, em ADR´s,dava a bagatela, em setembro, de US$ 12bilhões, volume que triplicou em relação ao anopassado. No mercado de derivativos de NovaIorque está a pequenina importância de US$50 bilhões, no mercado da Bolsa de Valoresde São Paulo, mais US$ 24 bilhões e na BolsaMercantil e de Futuros mais US$ 44 bilhões,de aplicações em derivativos.

É o segundo maior mercado do mundo.É uma coisa espantosa e que só tem umaexplicação: não é porque somos a segundaeconomia do mundo. Óbvio que todo mundosabe disso: é porque isso aqui é o paraíso daespeculação internacional, graças ao volumeda taxa de juros. Como é que eles fazem ojogo? É muito fácil. Parte disso é no mercadode derivativos, que gira a cada dois dias. Partedisso não, é em aplicações de longo prazo.Mas por que? Eles ficaram malucos deadquirir títulos brasileiros de longo prazo?Não, não ficaram. É que esses US$ 130bilhões de mercados de ativos financeiros,obviamente, têm por trás de si todo umconjunto de pressões políticas que estãoamarrando os nossos governos, tenham elesvontade ou não de fazer alguma coisa. É oBanco Internacional de Pagamentos, é oFundo Monetário Internacional e é o BancoMundial, que dão o receituário de manejo danossa política econômica justamente para quê?Para manter elevada a taxa de juros, sim, paraeles ganharem o dinheiro exorbitante queestão ganhando.

Não há paliativos: é ruptura!

Isto aqui não tem “melhoral” que resolva.A Argentina resolveu sem “melhoral”. Ali odente foi extraído na marra, sem anestesia,

banco privado do mundo. Eles escondem e,inclusive, enganam os pobres dos aposen-tados e dos assalariados, que estão tomandoempréstimos em folhas de pagamento,iludindo-os, passando na televisão que a taxade juros é dois, mas quando você soma osoutros custos essa taxa de juros vai para maisde três por cento. Tem que alterar isso,obviamente, mas não é fácil. Por que? Porquea taxa de juros dá uma fatia do bolomaravilhosa, 9% do PIB. Engorda quem? Osbancos, as grandes empresas e as famíliasmais ricas do país. Essa é a questão, o restoé conversa fiada.

Outra questão é que o governo já estápraticando uma política de superávit acimado que determinou o FMI. Essas coisas amídia não conta. Eu convido os economistasa entrarem nas contas do Tesouro Nacional edo Banco Central e darem uma olhadinha emuma conta que se chama Conta Única do

porque quebrou. Quando o sujeito quebra ocredor diz: bem, vamos ver o que é que possolevar para casa. Essa é a questão da Argentina,ela quebrou. Nós também podemos quebrar.Por que? Porque a hora que balançar umaventania, esses US$ 130 bilhões vão fugir pelajanela, pois a metade disso é giro noturno,“hot money”. Isso pode sumir!

Alguém pode me dizer como controlarjuros? Tem é que controlar câmbio, restauraro monopólio do câmbio no Banco do Brasil,sim. Não tenho vergonha de dizer essascoisas. Tem que restaurar o controle deentrada e de saída de aplicação do capitalestrangeiro. Fazer uma política monetária ecreditícia obrigando os bancos públicos avoltarem a ser públicos, porque eles não sãopúblicos, se comportam como qualquer

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déficit habitacional de 6 milhões de resi-dências. Faça um programa magistral dehabitação popular e saneamento para ver ondevai parar o emprego. E não gasto um centavode dólar com setor habitacional. Não gastodólar com areia, pedra, cal, cimento, madeira,fio elétrico, vidro e a telha; estão todos aqui.Não precisa importar nem deixar entrarempresa internacional que saiba fazer casapara pobre, porque está assim de empreiteirosbrasileiros que sabem fazer isso. Saneamento

Para se fazer a ruptura vaiter que quebrar os ovos,para fazer a omelete. Vaimexer com interessescristalizados, pesadíssi-mos, com as elites na-cionais e o capital finan-ceiro internacional. Nãoé brincadeira

básico é a mesma coisa. E a reforma agrária.Essa é uma questão que parece estar saindoda moda, e quando o MST faz alguma coisavem a imprensa e pau!

“Esses ativistas invasores, esses ban-didos”. Bandidos que querem trabalhar. É acoisa mais engraçada: temos, nesse país, umaenorme quadrilha que é o MST, que não quer

Tesouro Nacional. Ali tem um valor, que estáno porão do BC, em dinheiro vivo, equiva-lente a 11% do PIB; e nenhum empresárionacional reclama disso. Reclamam que acarga tributária é enorme, mas não reclamamdo que está esterilizado no BC. Por que elescalam a boca, por que não reclamam contraisso? Porque significa, na linguagem domercado financeiro, o colchão amortecedor.É o sinal maravilhosamente verde: “olha, nóstemos aí um dinheirinho, está aqui no porãoguardado para vocês. Não tenham medo dostítulos da dívida pública”. Nenhum empre-sário até hoje chia contra isso.

A minha tese é que não há paliativos, nãoadianta. A questão é uma ruptura. Qualquerpaís pode fazer, ou não. Mas o Brasil não pode.Acho que somos um país privilegiado por umasérie de fatores, exaustivamente aqui jácolocados, temos condições de forçar umpouco esta barra e aí articular outros paísesque estão acendendo velas para que surja umaliderança verdadeiramente latino-americana, oque não existe, porque a nossa ação, na verdade,na política externa é uma ação ainda tímida,em relação ao que deveríamos estar fazendo.

A nossa briga, nossos vilões, algozes, nãosão apenas os americanos, alemães e ja-poneses, não. Estão aqui dentro também. Estáassim de bandidos, não apenas na CâmaraFederal e no Senado, não. Estão aqui, na cha-mada sociedade civil, que eu não sei muitobem o que é isto. Para se fazer a ruptura vaiter que quebrar os ovos, para fazer a omelete.Vai mexer com interesses cristalizados, pe-sadíssimos, com as elites nacionais e o capitalfinanceiro internacional. Não é brincadeira.

Estou apenas chamando a atenção para acomplexidade da situação em que nosencontramos. E vamos ter que sair dela. Ouporque teremos um dia um governo sério,com vontade política e que realmente queirafazer algo pelo seu povo, pela nação, ou nósvamos quebrar. E aí, quando se quebra, oquadro muda inteiramente de figura. Quandouma economia quebra, quando ela se espatifa,como aconteceu em 1929, aí o mundo ficamuito fácil para os economistas entrarem etentar fazer a chamada cirurgia necessária.

Reforma agrária e Estado

Para encurtar a conversa, temos uma coisapreciosa que nenhum outro país latino-americano tem: mercado interno. Há um

roubar; quer trabalhar, quer terra paratrabalhar. Para fazer reforma agrária não segasta também nenhum centavo de dólar.

Se quiser, realmente, construir um modelopara esse país vou ter que re-adotar me-canismos de Estado: controles rígidos sobreas coisas e restaurar uma palavra que tambémo mainstream enterrou há muito tempo e quese chama priorização. Eu tenho que fazer fila,por cada momento, dos setores nacionais quedevem ser atendidos, porque eu não tenhorecursos nem interno e nem externo parafazer tudo aquilo que precisaria fazer.

Quando da Reforma da Previdência,debati com o então ministro Berzoini, emBrasília, e disse a ele: “mas, ministro, o senhortem na sua assessoria vários economistas quesão peritos em atuária e em financiamento.Eles não propuseram ao senhor nenhumaoutra forma de saída?” Ele sorriu e disse aele: “ministro, tenho aqui, no bolso, o senhorme desculpe, fiz umas continhas com umamaquininha calculadora vagabunda, e se osenhor depositar durante 15 anos a cotapatronal que o governo nunca depositou daaposentadoria de seus funcionários públicos– e o senhor, por favor, me faça esse depósitoem títulos da dívida pública e não quero19,75%, só o IPCA mais 5% – e daqui a 15anos, ministro, terá um fundo, em papel detítulos da dívida pública, que vai ter umrendimento capaz de sustentar toda a folhade aposentados”. Aí, ele riu.

Ele não sabe disso? Claro que sabe. Masé que o pessoal quer privatizar a Previdência.Essa é que é a conversa verdadeira, que ficasempre escondida, sempre debaixo da colcha.Eu falo a verdade porque nós temos umadívida muito pior do que em 1964, muitopior, mil vezes pior. Em 64, quando algumjornalista queria me entrevistar, ou nãovamos tão longe, nos anos 70, vinha ao meutrabalho, fazia perguntas, levava alguns diasantes de publicar a entrevista, pois queriachecar as informações para ver se eu nãoestava enrolando, não estava mentindo. Hojerecebo não sei quantos telefonemas por diae o sujeito quer a entrevista por telefone. Euposso dizer as maiores asneiras e leviandadese se eu não contrariar os interesses do chefeda redação ou do dono do jornal eu saiopublicado. Basta vocês lerem, com paciênciae atenção, os jornais diários, com olharcrítico, o que tem de asneira e de mentiras,de bobagens, é uma imensidão.

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retomada dos IDEs dospaíses desenvolvidos nasnações em desenvolvi-

mento foi um dos aspectos maisimportantes do intenso processode globalização pelo qual vempassando o mundo, atualmente.Após uma década em que osfluxos mundiais de investimentopraticamente estagnaram (anos80), o crescimento dos anos 90pode ser verdadeiramente chama-do de “explosivo”.

Nesse contexto, os quatropaíses que integram o Mercosul a-presentaram um aumento subs-tancial como receptores de capi-tais estrangeiros, com destaquepara Brasil e Argentina. Estes doispaíses aumentaram significati-

O investimento direto europeuno Mercosul na década de 1990

MONOGRAFIA Carlos Filipe Soares*

vamente suas participações nototal mundial dos fluxos de IDE,seguindo a tendência verificada emtodos os principais países emdesenvolvimento (PED). Estegrupo de países recebeu entre1994 e 1999 pouco mais de 30%do total mundial de IDE. Noentanto, há uma forte concen-tração destes fluxos em poucospaíses: cerca de 50% dos IDEsque se dirigiram para os PED noperíodo foram absorvidos porapenas 4 países

1

. Dentro desteseleto grupo, figuram Brasil eArgentina que juntos receberammais de 16% do IDE enviado aosPED no mesmo período.

A origem do IDE que ingres-sou nos países do Mercosul nos

anos 90 é majoritariamenteeuropéia e norte-americana. Noperíodo de maior intensidade dosfluxos, entre 1996 e 2000, apro-ximadamente 61% do total doIDE destinado aos dois líderes doMercosul tiveram origem nospaíses da União Européia (UE).Outros 20% eram provenientesdos Estados Unidos.

Tradicionalmente, as naçõesque compõem a UE são grandesinvestidoras nos países sul-americanos. A presença de indús-trias de bens de consumo durá-veis européias no Brasil, váriasdelas ingressadas durante ogoverno Juscelino Kubitscheck, éum dos mais bem acabadosexemplos desta tradição. Na onda

Esta monografia, menção honrosa no XV Prêmio de

Monografia Celso Furtado, do Corecon-RJ,

analisou a evolução dos fluxos de investimento

direto estrangeiro (IDE), especialmente os

europeus, nos países que integram o Mercosul

(Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), ao

longo da década de 90, e avalia em que

medida a integração regional no Cone Sul

influenciou no IDE. Os europeus são his-toricamente os principais investidores na

região e, nos anos 90, sua participação

aumentou fortemente. Nossos resultados

sugerem que a formação do Mercosul aumentou

a atratividade da região para os investidores

europeus, sobretudo no que se refere ao Brasil.

recente de aumento dos fluxos deIDE não foi diferente. As em-presas transnacionais de origemespanhola, francesa e holandesaestão entre aquelas que tiverammaior penetração nos países doMercosul durante a década de 90.É interessante destacar que asduas maiores economias da UE,Inglaterra e Alemanha, nãofiguraram no grupo de paíseseuropeus que mais realizaraminvestimentos. No caso alemão,isto se explica por uma mudançade estratégia que acabou favore-cendo os países do leste europeu,em detrimento aos países daAmérica Latina.

A perspectiva de uma possí-vel assinatura do acordo UE/

A

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Mercosul deverá ter efeitospositivos sobre os fluxos de IDEeuropeu na região. Esta expecta-tiva se apóia nos diversos tra-balhos que apontam o aumentodos fluxos de IDE como um dosprincipais efeitos dinâmicos dosprocessos de integração.

Diversos fatores podem serapontados como responsáveispela atração de montantes ex-pressivos de IDE por parte deBrasil e Argentina. Um primeirofator é a mudança no cenáriomacroeconômico desses doispaíses. Ambos passaram porprocessos de estabilização eretomaram o crescimento eco-nômico após uma década deestagnação. Em seguida, asreformas estruturais baseadas nochamado “Consenso de Wa-shington” pelas quais passaramessas economias foram muitoimportantes para a atratividadedos IDEs. Cabe destacar aqui asprivatizações, a liberalizaçãofinanceira e a comercial. Outrofator que pode ter influenciadona atração dos IDEs foi a libe-ralização comercial, conduzidatanto em nível multilateral quan-to regional, através da formaçãodo Mercosul.

No que diz respeito à distri-buição setorial do IDE, podemosperceber mudanças significativasquando comparamos o perfil dadécada de 90 com períodosanteriores. Ao longo do processode industrialização por subs-tituição de importações (ISI),sobretudo nos anos 60, o IDE sedirigia basicamente ao setorindustrial, sendo a maioria desti-nada a criação de novas empresas(investimento do tipo greenfield).

Já durante a onda recente deaumento dos IDEs, o setor in-dustrial perde grande parte dopoder de atração que exercia sobre

mereçam destaque Holanda eFrança. Em ambos os países, ossetores que mais receberamfluxos de IDE foram aqueles queestiveram envolvidos em priva-tizações ou aquisições de em-presas privadas por estrangeiros.Os setores de telecomunicações,intermediação financeira e ser-viços básicos (água, luz e gás)estão entre os maiores recep-tores de IDE. Na indústria detransformação, onde o investi-mento direto europeu foi afetadodiretamente pela criação doMercosul (que representou ga-nhos de escala), o setor que maisclaramente se beneficiou foi aindústria automobilística.

Cabe ressaltar que o montantedos fluxos de IDE para Brasil eArgentina foi incomparavelmentemaior do que o verificado paraParaguai e Uruguai, embora oaumento dos fluxos para estesdois países tenha sido bastanteexpressivo, se levarmos emconsideração o tamanho de suaseconomias.

Finalmente, verificamos queo Mercosul influenciou positiva-mente apenas os IDEs europeusque se dirigiram ao Brasil. Nocaso da Argentina, não podemosafirmar que houve influência,devido aos resultados não signi-ficativos. Isto possivelmente sedeve ao tamanho do mercado doBrasil, que exerce uma maioratratividade enquanto possívelfornecedor único do Mercosul,em comparação com a Argentina(e tendo em vista a liberalizaçãodo comércio intra-regional) e,então, os investidores estrangei-ros que pretendem explorar oMercosul, decidem fazê-lo apartir do maior mercado.

* Faculdade de Economia – Universidade

Federal Fluminense.

Correio: [email protected]

A perda de importância da indústria é

acompanhada do aumento da importância

do setor de serviços, que hoje responde

por cerca de 40 % dos IDEs totais na

Argentina e cerca de 70% , no Brasil

os investimentos. Isso se deveuessencialmente à perda da con-dição de agente dinâmico da es-trutura econômica, que vinhaocorrendo desde a década de 70.A perda de importância da indús-tria é acompanhada do aumentoda importância do setor de ser-viços, que hoje responde por cercade 40 % dos IDEs totais naArgentina e cerca de 70% , noBrasil. No que se refere à formade atuação do IDE, passaram apredominar os investimentos as-sociados à compra de empresas jáexistentes, sendo grande partedestas compras de empresas pú-blicas de prestação de serviços, du-rante o processo de privatizaçãoocorrido no Brasil e na Argentina.

Este trabalho teve comoobjetivo investigar em que medi-da o surgimento de um processode integração regional na Amé-rica do Sul (Mercosul) contribuiupara o incremento dos fluxos deinvestimento direto europeus naregião. Com este intuito foiutilizado um modelo gravita-

cional2

para mensurar a influên-cia exercida pela criação doMercosul sobre os fluxos de IDEna região. Este tipo de modelo éuma adaptação, para a ciência e-conômica, da teoria gravitacionalda Física baseada na idéia de queos elementos exercem atração erepulsão sobre dois corpos. Osmodelos gravitacionais têm sidoum instrumento útil para a rea-lização de testes empíricos a res-peito dos fluxos de comércio bi-laterais, principalmente no quese refere à influência dos acor-dos comerciais.

Em todos os quatro países,os fluxos de IDE aumentarammais intensamente entre os anosde 1995 e 1999. Neste período,o montante de IDE no Brasilchegou a US$ 87 bilhões, sendo43% proveniente de países daUE. Na Argentina, o montantefoi de US$ 52 bilhões, sendo62% da UE. O país europeu quemais realizou investimentosdiretos nos líderes do Mercosulfoi a Espanha, embora também

Bibliografia: 1. CASTILHO, M. R. O acesso das exportações do Mercosul ao mercado europeu. Rio de Janeiro: IPEA, 2001 (Texto para Discussão no. 851).

1 Os outros dois são China e México, além de Brasil e Argentina.

2 Para uma resenha sobre estes modelos e suas aplicações ver Castilho (2001).

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ELEIÇÕES

Inscrições até o dia 9 paraPrêmio de Jornalismo Econômico

João Paulo eleito presidentedo Corecon-RJ

o dia 28 de outubro, o ConselhoRegional de Economia do Rio deJaneiro (Corecon-RJ) realizou eleições

para escolha dos novos presidente e vice,conselheiros e delegados. A chapa Movimentode Renovação dos Economistas foi eleita com1.906 votos. Na gestão de 2006, o professorda UFRJ João Paulo de Almeida Magalhãesestará à frente do Corecon-RJ. João Paulo foitambém escolhido Personalidade Econômicado ano de 2005, em escolha promovida peloConselho Federal de Economia (Cofecon).

O mandato de João Paulo de Almeida Ma-galhães e do vice-presidente, Paulo Passa-rinho, terá duração de um ano. Já para osnovos conselheiros e delegados o mandatoserá de três anos. No último dia 7 foi realizadaa eleição para o Sindecon-RJ

N

João Paulo de Almeida Magalhães, professor da UFRJ e novo presidente do Corecon-RJ

No dia 30 de novembro termina o prazode postagem das matérias que vão participardo II Prêmio Corecon-RJ de Jornalismo Eco-nômico 2005. Contudo, as inscrições con-tinuam sendo feitas, até o dia 9 de dezembro,na sede do Conselho. O objetivo é apresentartrabalhos que abordem a realidade econômicaatual, de forma crítica e questionadora.

Para participar, basta que o profissionalapresente registro no Ministério do Trabalho.A matéria deverá ter sido publicada entre osdias 1º de setembro de 2004 e 30 desetembro de 2005 e serão consideradasapenas aquelas escritas em português epublicadas em jornais, revistas, periódicos e

informativos, com sede no Rio de Janeiro.O primeiro colocado receberá diploma e

um prêmio de R$ 3 (três mil reais). O segundoterá prêmio de R$ 1 mil (hum mil reais) ediploma de participação. Cada profissionalpoderá inscrever até três matérias. No ato dainscrição é necessário apresentar recortes oureprodução das mesmas, com nome doveículo, autor e data da publicação.

Em caso de matéria sem assinatura ousob pseudônimo, a autoria terá que seratestada em declaração, por escrito, pelaDireção ou Chefias. O Corecon-RJ fica naavenida Rio Branco, 109/19º, Centro. Outrasinformações: (21) 2103-0111.

A NOVA DIREÇÃO DO CORECON-RJPresidente: João Paulo de Almeida MagalhãesVice-presidente: Paulo PassarinhoConselheiros efetivos (2º terço):Antônio Melki Júnior, Gilberto Caputo Santose Paulo Passarinho.Conselheiros suplentes (2º terço):Antônio Augusto de Albuquerque Costa,Edson Peterli Guimarães e José Fausto Ferreira.Conselheira suplente (3º terço):Angela Maria de Lemos GelliDelegado-eleitor efetivo:João Manoel Gonçalves BarbosaDelegado-eleitor suplente:José Antônio Lutterbach Soares

A NOVA DIREÇÃO DO SINDECON-RJCoordenação de Assuntos Institucionais:Abrahão Oigman, André Luiz Silva de Souza,Antônio Melki Júnior, José Antônio LutterbachSoares, Nelson Victor Le Cocq D’Oliveira,Paulo Sergio Souto, Ronaldo Raemy Rangel,Sandra Maria Carvalho de Souza, SidneyPascoutto da RochaCoordenação de Relações Sindicais:Ademir Figueiredo, Carlos Henrique TibiriçáMiranda, César Homero Fernandes Lopes,Gilberto Caputo Santos, João Manoel GonçalvesBarbosa, José Fausto Ferreira, Maria da GlóriaV. Tavares de Lacerda, Regina Lúcia Gadioli dosSantos, Rogério da Silva RochaCoordenação de Divulgação e Finanças:Gilberto Alcântara da Cruz, José JannottiViegas, Wellington Leonardo da SilvaConselho Fiscal:Antônio Augusto Albuquerque Costa, Jorge deOliveira Camargo, Luciano Amaral Pereira

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Dependência crescente de receitas não próprias

As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.CoorCoorCoorCoorCoordenação Exdenação Exdenação Exdenação Exdenação Executiva: ecutiva: ecutiva: ecutiva: ecutiva: Conselheira Conselheira Conselheira Conselheira Conselheira RRRRRuth Esputh Esputh Esputh Esputh Espiiiiinolanolanolanolanola Soriano de Mello Soriano de Mello Soriano de Mello Soriano de Mello Soriano de Mello,,,,, Super Super Super Super Supervisão Técnica: economista visão Técnica: economista visão Técnica: economista visão Técnica: economista visão Técnica: economista Luiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario Behnken.en.en.en.en.

Estagiários: Thiago MarEstagiários: Thiago MarEstagiários: Thiago MarEstagiários: Thiago MarEstagiários: Thiago Marquesquesquesquesques, Juliana Medeir, Juliana Medeir, Juliana Medeir, Juliana Medeir, Juliana Medeiros e Pos e Pos e Pos e Pos e Pedredredredredro Gonçalves - Colaboração especial: Ana Malburo Gonçalves - Colaboração especial: Ana Malburo Gonçalves - Colaboração especial: Ana Malburo Gonçalves - Colaboração especial: Ana Malburo Gonçalves - Colaboração especial: Ana Malburg e Júlia Martins.g e Júlia Martins.g e Júlia Martins.g e Júlia Martins.g e Júlia Martins.Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.br

FÓRUM POPULAR DE ORÇAMENTO

A

RECEITAS 2003 2004 2005** 2006*(valores em milhares) PREVISÃO REALIZAÇÃO PREVISÃO REALIZAÇÃO PREVISÃO REALIZAÇÃO PROJEÇÃO PREVISÃOReceitas Próprias da Prefeitura (A) 4.402.147 4.316.760 4.900.345 4.363.231 5.381.313 3.665.680 4.887.573 5.350.489Receitas Não Próprias (B) 4.001.692 2.675.157 4.614.189 3.459.281 3.614.715 2.323.148 3.097.531 4.125.415Transferências Intergovernamentais 2.915.730 2.630.272 3.324.662 3.118.593 3.527.945 2.259.080 3.012.107 3.361.736Transferências de Instituições Privadas 1.081 0 2.350 1.000 1.994 3.454 4.605 20.196Transferências de Convênios 47.700 5.315 34.375 22.359 42.031 35.382 47.176 101.571Receitas Correntes Diversas 1.037.181 39.570 1.252.802 317.329 42.745 25.232 33.643 641.912Total Receitas (A+B) 8.403.839 6.991.917 9.514.534 7.822.512 8.996.028 5.988.828 7.985.104 9.475.904% das Receitas não Próprias nas Receitas Totais 47,62% 38,26% 48,50% 44,22% 40,18% 38,79% 38,79% 43,54%

* Proposta Orçamentária 2006. **Valores correspondentes de janeiro a setembro

realização das receitas próprias da prefeitura não divergiu das re-ceitas esperadas no ano de 2003 (98%). Em 2004, quando asexpectativas de arrecadação aumentaram em 11,32% , seu desem-

penho, entretanto, ficou em 89%, semelhante ao realizado em 2003 (emvalor) e projetado para 2005 (91%), que previa um aumento de 23,33% emrelação ao ano anterior. Assim sendo, a realização do previsto para 2006dependerá de um crescimento de 9,47% do realizado (projetado) em 2005.

Já a realização das receitas não próprias nos anos de 2003 e 2004se diverge na magnitude de 33% e 25%, respectivamente, abaixo,dos resultados previstos, causados pelo desempenho das receitascorrentes diversas. Cabe registrar que tal item foi artificialmenteinflado por uma suposta receita oriunda de dívidas da União com omunicípio, nos exercícios de 2002, 2003 e 2004. Para 2006 há umaelevação significativa para essas receitas (1800%), ocasionando asubida da participação das receitas não próprias no total das receitas.

Considerando o crescimento das receitas totais 2003/2004 à11,88%, 2004/2005 (projetada) à 2,08% e 2005/2006 à 18,67%,podemos especular que a concretização do orçamento proposto para2006 dependerá mais das receitas não arrecadadas pelo própriomunicípio, confirmando, assim, uma tendência – nefasta para aFederação brasileira, em nosso entendimento – de diminuição da par-ticipação dos municípios na divisão do bolo tributário.

Uma outra forma de analisarmos o desempenho das receitas é oíndice da ABOP – esse índice mede percentualmente a diferença entrereceitas previstas e realizadas, sendo assim, quanto menor a discrepânciamelhor é a arrecadação, pois mostrará a maior realização das receitas

previstas – os anos de 2003 e 2004 apresentaram respectivamente16,80% e 17,78%, classificados como altamente deficientes (índicesacima de 15% são considerados altamente deficientes, já índices de até

Com o intuito de colaborar na análise da proposta orçamentária para 2006, estudamos o comportamento das receitas noperíodo de 2003 a 2006, separando as receitas em “próprias” e “não próprias”. Consideramos receitas próprias aquelascuja arrecadação seja feita exclusivamente pelo poder público municipal; já as não-próprias constituem-se, sobretudo, detransferências intergovernamentais e convênios. Desta forma, demonstraremos o grau de dependência dos recursosrepassados por outros entes federativos. Cabe ressaltar que no ano corrente (2005) a arrecadação corresponde aos noveprimeiros meses e, para 2006, os valores são da proposta enviada à Câmara Municipal. Destacamos também o estimado eo efetivamente arrecadado, para tanto, utilizamos o índice da Associação Brasileira do Orçamento Público (ABOP).

Índice ABOP 2003 2004 2005*Receita Total 16,80% 17,78% 11,24%

*projetado com base no realizado até setembro

2,5% são conside-rados ótimos) e pro-jetamos para 2005 oíndice de 11,24%

Resta saber se em2006 as receitas municipais retornarão ao patamar de altamente de-ficiente pelo novo crescimento da estimativa das receitas diversas.

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A globalização desnudadafinança mundializada é uma coletâneade estudos organizada pelo professorFrançois Chesnais, da Universidade

Paris XIII e membro do conselho científicoda Association pour la Taxation des Transac-tions pour l’Aide aux Citoyens (Attac). O livro,da editora Boitempo, lançado recentementeno mercado brasileiro, dá continuidade aatualiza a obra anterior do autor, A mundia-

lização financeira – gênese, custos e riscos, tambémlançado no Brasil.

Neste A finança mundializada Chesnais emais 11 autores de diversas áreas da economiaestudam as conseqüências impostas pelospoderes do mercado financeiro. Eles dissecamas relações entre esse mercado financeiro e ahegemonia dos Estados Unidos, tanto nocampo militar, quanto na política, no mercadode câmbio etc., bem como os riscos dacombinação entre a dependência externa dasuperpotência com uma doutrina de se-gurança agressiva de guerras “preventivas”.

Na disputa político-econômica mundial, osautores questionam se a Europa representa defato uma “alternativa” ou se opera apenas umponto de apoio para o capital financeiro nosinvestimentos na região, na América Latina e naEuropa Oriental. Uma disputa não de modelo,mas apenas de concorrência entre as praçasfinanceiras de Frankfurt, Paris e Londres.

O livro mostra como o capital financeiro éinsaciável em sua busca de super lucros evantagens na concorrência com outros setores,e a relação estreita que ele mantém com ocapital industrial. Mamadou Camara e PierreSalama propõem uma análise diferenciada dainserção dos países em desenvolvimento na

PROGRAMAÇÃO DE CURSOS DO CORECON-RJ

APERFEIÇOAMENTO EM ECONOMIA: PREPARATÓRIO PARA O EXAME NACIONAL DA ANPEC - 2006Matrículas abertas – Início das aulas: dia 9 de janeiro de 2006 – Informações e inscrições: 2103-0119 e www.economistas.org.br

globalização, assim como dos efeitos contra-ditórios ou “paradoxais” dessa inserção.

Catherine Sauviat e Dominique Plihonestudam os efeitos nocivos dos fundos depensão, que passam para o mercado financeiroos recursos e a responsabilidade das aposen-tadorias dos trabalhadores, modelo defendidopelas reformas da Previdência no Brasil e nosEstados Unidos.

Os autores tratam também dos efeitos dacrise financeira de 1990, no Japão, e as razõesde suas conseqüências serem sentidas até hoje,em uma das economias mais fortes domundo. No último capítulo, LucMampey e Claude Serfati

abordam as perspectivas sombrias doentrelaçamento entre mercado financeiro e ocomplexo militar-industrial nos EUA.

O livro mostra ainda a evolução dasrelações entre as tecnologias militares e civis– em particular, nas tecnologias de informaçãoe de comunicação – e o comprometimentoentre as instituições políticas (sobretudo asque compõem o Executivo) e os gruposfinanceiros do complexo industrial-militar,mais acentuadas após a eleição da Bush e o11 de Setembro de 2001.

Os autores se perguntam se os mercadosfinanceiros não estariam em vias de colocar ainevitabilidade de novas guerras e de novasoperações militares em seu horizonte de cálculos.E lançam reflexões a respeito de os rendimentosdo mercado financeiro não estarem fundadossobre a frágil base da especulação, mas, sim,sobre o cálculo de que somente a supremaciamilitar pode permitir aos EUA se protegeremdos contragolpes sociais e políticos que ummodo de produção e de consumo “insusten-tável” gera para o planeta como um todo.

O livro, que traz o prefácio do professorLuiz Gonzaga Belluzzo, busca expor a facereal da globalização neoliberal: uma intrincadarede de interesses construída pelos mercadosfinanceiros internacionais, sob a necessidadevoraz de reprodução do capital que gerailusões de riqueza, desestrutura países eestimula guerras emnome do lucro.

A