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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP MARINEIDE DOS REIS COELHO ALVES A GESTÃO DO PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL: O Modelo de Gestão do PPA 2004-2007 Brasília 2007

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

MARINEIDE DOS REIS COELHO ALVES

A GESTÃO DO PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL: O Modelo de Gestão do PPA 2004-2007

Brasília 2007

MARINEIDE DOS REIS COELHO ALVES

A GESTÃO DO PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL: O Modelo de Gestão do PPA 2004-2007

Monografia apresentada como requisito à obtenção do título de Especialista em Orçamento e Políticas Públicas do Programa de Pós-Graduação do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de Brasília (UnB) e da Associação Brasileira de Orçamento Público (ABOP). Orientador: Professor James Giacomoni

Brasília 2007

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível em razão da contribuição dada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que o financiou, e da compreessão de um grupo de apoio, aos quais manifesto valorosa gratidão: Ao Cordenador-Geral de Planejamento, Orçamento e Finanças do MPOG, Tácito Antônio Bastos Brandão, por tornar possível a minha inscrição neste curso. Ao Prof. James Giacomoni, pela orientação segura. Ao Prof. Paulo du Pin Calmon, pelas suas aulas maravilhosas e pela efetiva contribuição. A minha amiga Elizabete Santarém da Silva, pelo apoio no levantamento de material, e no desenvolvimento do trabalho. A minha amiga e colega Diane Braga dos Santos, pela amizade, paciência e apoio logístico.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................6

2. BREVE HISTÓRICO DA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA DE PLANEJAMENTO .................................................................................................8

2.1 PLANO SALTE – GOVERNO EURICO GASPAR DUTRA – 1947 ..................8

2.2 COMISSÃO MISTA BRASIL-ESTADOS UNIDOS – GOVERNO GETÚLIO VARGAS – 1951 ..............................................................................................9

2.3 PLANO DE METAS – GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK – 1956 ..........9

2.4 PLANO TRIENAL – GOVERNO JOÃO GOULART – 1961............................10

2.5 PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO (PAEG) – GOVERNO CASTELO BRANCO – 1966.......................................................10

2.6 DECRETO-LEI Nº 200, DE 1967 ...................................................................11

2.7 PLANOS NACIONAIS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (PND) – GOVERNOS MILITARES ..................................................12

3. INFLUÊNCIA DAS TRANSFORMAÇÕES MUNDIAIS NO PAPEL DO ESTADO E NA GESTÃO ....................................................................................14

4. A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E O NOVO MODELO INTEGRADO DE PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO...................................................16

4.1 PLANO PLURIANUAL 1991 – 1995 ..............................................................17

4.2 PLANO PLURIANUAL 1996 – 1999 ..............................................................17

4.3 PRINCIPAIS PROBLEMAS APRESENTADOS PELOS PLANOS QUE COMPREENDERAM OS CICLOS 1991 – 1995 E 1996 – 1999....................18

4.4 PLANO PLURIANUAL 2000 – 2003 ..............................................................19

4.4.1 Principais inovações do PPA 2000-2003..........................................23

4.4.2 Entraves à implementação do Modelo de Gestão no PPA 2000-2003.....................................................................................................24

4.5 PLANO PLURIANUAL 2004 – 2007 ..............................................................25

5. GESTÃO DO PLANO PLURIANUAL 2004 – 2007 .............................................31

5.1 PRINCIPAIS MUDANÇAS INTRODUZIDAS PELO PLANO DE GESTÃO ....32

5.1.1 Criação de novos atores e/ou de novas atribuições ......................32

5.1.2 O Gerente............................................................................................32

5.1.3 O Gerente-Executivo .........................................................................33

5.1.4 O Coordenador de Ação....................................................................34

5.2 CRIAÇÃO DE NOVOS ARRANJOS PARA A GESTÃO DOS PROGRAMAS................................................................................................34

5.2.1 Comitê Gestor de Programa .............................................................35

5.2.2 Comitê de Coordenação dos Programas (CCP)..............................35

5.3 NOVOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO DOS PROGRAMAS......................36

5.3.1 Plano Gerencial..................................................................................36

5.3.2 Sistema informatizado InfraSIG........................................................36

5.3.3 Pactos de Concertação .....................................................................37

6. OS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO, MONITORAMENTO E REVISÃO DO PPA 2004 – 2007.................................................................................................39

6.1 O SISTEMA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO (SMA).........................39

6.2 A AVALIAÇÃO ...............................................................................................41

6.3 A REVISÃO....................................................................................................42

7. PROBLEMAS QUE PERSISTEM APÓS A IMPLENTAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO........................................................................................................43

7.1 AUSÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA DE INFORMAÇÕES NO SIGPlan .............43

7.2 FALTA DE INTERAÇÃO ENTRE OS GERENTES DOS PROGRAMAS MULTISSETORIAIS E OS COORDENADORES DE AÇÃO DE OUTROS ÓRGÃOS .......................................................................................................44

7.3 BAIXA INTEGRAÇÃO ENTRE AS ÁREAS FIM E MEIO ...............................44

7.4 POUCA UTILIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM E CONSTRUÇÃO DE CENÁRIO.......................................................................................................44

7.5 DESCONHECIMENTO METODOLÓGICO E OPERACIONAL .....................45

7.6 ASSIMILAÇÃO DA CULTURA DE PLANEJAMENTO ...................................45

7.7 FALTA DE ENVOLVIMENTO DE ALGUNS ATORES COM O PROCESSO DE PLANEJAMENTO ....................................................................................46

7.8 AUSÊNCIA DE SINTONIA DOS PRECEITOS DA METODOLOGIA DE PLANEJAMENTO E AS NORMAS DOS ÓRGÃOS DE CONTROLE ............46

8. PLANO PLURIANUAL 2008 – 2011 ...................................................................47

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................48

REFERÊNCIAS.........................................................................................................52

6

1. INTRODUÇÃO

A ação governamental no Brasil se dá por meio da execução de

programas e ações constantes do Plano Plurianual (PPA). Embora já tenhamos,

atualmente, um modelo de planejamento aderente aos preceitos da Administração

Pública Gerencial (voltada para resultados), ainda não conseguimos os avanços

suficientes no campo da gestão.

A evolução do modelo de planejamento, por si só, não gerou mecanismos

capazes de promover a efetividade1 da ação governamental.

O reconhecimento dessa limitação levou o governo federal a criar um

plano de gestão para gerir o plano plurianual. Essa iniciativa foi implementada por

meio do Decreto nº 5.233, de 6 de outubro de 2004, que estabeleceu normas para a

gestão do PPA 2004-2007, e também as competências e atribuições do gerente de

programa e sua equipe de apoio.

O objetivo desta monografia é descrever e analisar o mencionado modelo

de gestão do PPA, assim como, avaliar os avanços conseguidos nessas questões e

os aperfeiçoamentos que são ainda necessários.

Dessa forma, procedeu-se a uma breve retrospectiva dos vários planos

implementados no Brasil desde 1947, quando tivemos o primeiro ensaio de

planejamento econômico no país, o Plano SALTE. Muitos outros vieram ao longo do

tempo, até se chegar ao modelo atualmente adotado no Plano Plurianual 2004-2007;

_____________________ 1 Disponível em: www.planejamento.gov.com.br. É a medida do grau de atingimento dos objetivos que

orientaram a constituição de um determinado programa, expressa pela sua contribuição à variação alcançada dos indicadores estabelecidos pelo plano plurianual – Plano de Gestão do PPA 2004-2007, Brasília outubro de 2004, p. 45., acesso em: 15 fev. 2007.

7

cada plano trouxe alguma contribuição, mesmo que singela, o que contribuiu para

que chegássemos hoje ao atual modelo de gestão.

A influência que as transformações mundiais exerceram no papel do

Estado e na gestão também foi objeto de análise deste trabalho, assim como as

mudanças trazidas pela Constituição de 1988, nesse sentido.

O PPA 2004-2007, para o qual o Plano de gestão foi desenvolvido,

também não poderia deixar de ser objeto do presente trabalho, principalmente os

processos de Avaliação, Monitoramento e Revisão.

A partir da abordagem do Plano de Gestão, propriamente dito, é que

foram feitas as considerações finais, que consistem em uma avaliação do modelo,

ou seja: quais os avanços obtidos com o processo e quais os pontos que ainda

precisam ser aperfeiçoados.

8

2. BREVE HISTÓRICO DA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA DE PLANEJAMENTO

Somente a partir da Constituição Federal de 1988 introduziu-se no Brasil

um modelo inovador de planejamento e gestão - baseado em experiências de

gestão empresarial – e que foram definidas novas bases metodológicas e

operacionais para uma mudança real no planejamento, orçamento e gestão pública.

Vejamos a seguir as principais iniciativas em matéria de planejamento ocorridas

antes da atual Carta Magna e as características mais relevantes de cada uma.

2.1 PLANO SALTE – GOVERNO EURICO GASPAR DUTRA – 1947

O plano deu prioridade a quatro áreas: saúde, alimentação, transporte e

energia, daí a sigla SALTE. O plano direcionava-se muito mais para resolver

questões setoriais do que para uma concepção abrangente de planejamento

estratégico de governo. Era modesto em suas pretensões, embora tivesse objetivos

de grande alcance para a época.

A natureza do Plano SALTE não era realmente global, pois não dispunha

de metas para o setor privado ou de programas que o influenciassem. Tratava-se,

basicamente, de um programa de gastos públicos que cobria um período de cinco

anos. Ele conseguiu, entretanto, chamar a atenção para outros setores da economia

defasados em relação à indústria e que poderiam, conseqüentemente, impedir um

futuro desenvolvimento.

9

2.2 COMISSÃO MISTA BRASIL-ESTADOS UNIDOS – GOVERNO GETÚLIO VARGAS – 1951

A Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, vinculada ao plano americano

de ajuda técnica para defesa, educação, saúde, agricultura e planejamento

econômico dirigido aos países subdesenvolvidos, foi importante somente para se ter

consciência dos problemas econômicos nacionais. Baseado em suas conclusões, foi

criado, em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento para coordenação

econômico-financeira.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) tinha o

objetivo de fomentar o desenvolvimento de setores básicos da economia brasileira

nas esferas pública e privada. Surgiu como órgão técnico para executar o programa

de reaparelhamento econômico elaborado pela Comissão Mista Brasil-Estados

Unidos.

2.3 PLANO DE METAS – GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK – 1956

O Plano de Metas, instituído em 1952, inaugura no Brasil a utilização do

planejamento indicativo (embora em pequena escala), ou seja, a distinção das áreas

em que o governo iria atuar como agente econômico, daquelas em que apenas faria

indicações para o setor privado. Elaborado com base no relatório da Comissão Mista

Brasil-Estados Unidos, o plano teve origem nos estudos do grupo CEPAL-BNDE e

representou a primeira tentativa de se submeter o desenvolvimento do país à

supervisão sistemática do poder público.

Estabeleceu-se ali como prioritários os setores de transporte, a indústria

intermediária (siderurgia, de cimento e de papel), as indústrias produtoras de

10

equipamentos (automobilística, naval e bens de capital) e a construção da nova

capital, Brasília. A iniciativa também logrou êxito no plano de industrialização da

economia e na superação de pontos de estrangulamento que impediam o

desenvolvimento nacional, porém, teve como conseqüências desequilíbrios na

balança de pagamento e aumento das taxas de inflação.

2.4 PLANO TRIENAL – GOVERNO JOÃO GOULART – 1961

Data dessa época a criação do Ministério Ordinário do Planejamento

(1962), sob o comando do economista Celso Furtado. O Plano Trienal procurou,

pela primeira vez, soluções para os problemas estruturais do país, abordando de

forma integrada a estrutura econômica e social do Brasil. Conferiu importância

fundamental ao planejamento no processo de desenvolvimento econômico, cabendo

a ele antecipar as principais modificações estruturais desenvolvidas e indicar

medidas a serem tomadas.

Tinha como objetivo a manutenção de elevada taxa de crescimento do

produto, a redução progressiva da inflação, a redução do custo social do

desenvolvimento, a melhor distribuição de seus frutos e a redução das

desigualdades regionais de níveis de vida. O Plano Trienal estabeleceu uma reforma

de base de difícil implementação, pois instituía controles que não contavam com a

simpatia popular, o que resultou no seu fracasso.

2.5 PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO (PAEG) – GOVERNO CASTELO BRANCO – 1966

Instituído pelo governo Castelo Branco, já sob a ditadura militar que

11

derrubou o presidente João Goulart, o PAEG enfatizou a viabilidade do modelo de

planejamento dentro de uma economia de mercado. Tratava-se de uma tentativa

clara de desvincular a imagem do planejamento das economias socialistas de então,

sendo um modelo totalmente diverso daquele apregoado pelo Plano Trienal. Seus

objetivos primordiais eram: acelerar o ritmo do desenvolvimento econômico, conter

progressivamente o processo inflacionário, atenuar os desníveis econômicos

setoriais e regionais e assegurar oportunidades de emprego, além de corrigir a

tendência a déficits descontrolados do balanço de pagamentos.

2.6 DECRETO-LEI Nº 200, DE 1967

Uma das mais importantes contribuições do Decreto-Lei nº 200/67 foi a

instituição do planejamento como princípio da administração pública e o

estabelecimento dos seus instrumentos principais, quais sejam: o plano geral de

governo, programas gerais, setoriais e regionais de duração plurianual, orçamento

programa anual e a programação financeira de desembolso.

O Decreto-Lei em epígrafe organizou a orçamentação pública e instituiu a

delegação de autoridade, a coordenação e o controle na administração pública.

Promoveu a descentralização administrativa e o controle na administração pública.

Também promoveu a descentralização administrativa e a expansão da

administração indireta (sociedades de economia mista, empresas públicas,

fundações públicas e autarquias) e favoreceu o desenvolvimento de uma

tecnoburocracia qualificada coexistente com o núcleo tradicional da administração

direta.

12

2.7 PLANOS NACIONAIS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (PND) – GOVERNOS MILITARES

O I PND (1972-1974) marcou o início do ciclo dos Planos Nacionais de

Desenvolvimento, uma fase conhecida como o “milagre econômico brasileiro”,

caracterizada por um crescimento econômico acentuado, grande afluxo de capitais

externos e movimento de substituição das importações.

O II PND (1975-1979) enfatizou o investimento em indústria de base e a

busca da autonomia em insumos básicos. A preocupação com o problema

energético era evidente, com estímulo à pesquisa do petróleo, ao programa nuclear,

ao programa do álcool e à construção de hidrelétricas.

Tinha o compromisso de mudar a vida política, econômica e de combate à

pobreza. Explicitava o papel de destaque do setor privativo na retomada do

crescimento e preconiza uma reforma em que o Estado retornava às funções

tradicionais de prestação dos serviços públicos essenciais e às atividades produtivas

estratégicas para o desenvolvimento de longo prazo, complementares à iniciativa

privada.

Idealizado em plena crise econômica mundial e nacional, que teve

reflexos também no aspecto político, com o desgaste do regime militar, o III PND

(1980-1985) marca o fim do processo de planejamento como efetivo instrumento da

política econômico – financeira do país. O plano não conseguiu atingir a nenhum de

seus objetivos. Seu declínio deu-se com uma crescente crise econômica no país,

altas taxas de inflação e desequilíbrio no balanço de pagamentos. Contribuíram para

o seu fracasso a descrença derivada do malogro do plano anterior, bem como as

dificuldades econômicas internacionais. Além disso, foi posta em dúvida a própria

13

efetividade e importância do planejamento como ferramenta de decisão

governamental.

Para entendermos a evolução do processo de planejamento e de gestão

no Brasil é necessário também analisarmos as transformações no cenário mundial,

que tiveram reflexo na economia nacional e, conseqüentemente, na forma de

planejar.

14

3. INFLUÊNCIA DAS TRANSFORMAÇÕES MUNDIAIS NO PAPEL DO ESTADO E NA GESTÃO

O Estado brasileiro passou por grandes mudanças nas décadas de 1970

a 1990, tanto em relação ao seu papel na sociedade quanto em suas formas de

gestão. Essas mudanças representaram respostas às transformações profundas no

ambiente mundial, e tiveram como objetivo assegurar maior efetividade da ação do

Estado no atendimento das demandas da sociedade.

Alguns autores, tais como Castells (1998), Kliksberg (1994) e Dowbor

(1994) destacam como principais eixos de mudança que afetaram o mundo nas três

últimas décadas e tiveram impactos decisivos no âmbito das organizações e da

gestão pública e privada os seguintes aspectos:

• o desenvolvimento tecnológico, em qualidade e ritmo até então

desconhecidos;

• a globalização, que gera uma interdependência de setores e países;

• a democratização das sociedades, abrindo espaço a novos atores e

ampliando as demandas sociais;

• o aumento das desigualdades, que ampliam os compromissos do

Estado; e

• a crise econômico-fiscal dos anos 70 e 80, que afetou a maioria dos

países e colocou em crise o modelo de Estado vigente.

Por outro lado, os anos 70 e 80 foram marcados por uma forte crise

econômica e fiscal que afetou a maioria dos países. Iniciada com a crise do petróleo

15

nos anos 70, a crise econômica mundial encerrou o período de prosperidade vigente

a partir do final da Segunda Guerra Mundial, que havia beneficiado principalmente

os países capitalistas desenvolvidos, mas também países do bloco socialista e parte

dos países periféricos, garantindo-lhes altas taxas de crescimento.

Como conseqüência direta da crise econômica mundial, manifestaram-se

em todo o mundo os primeiros sinais de perda da capacidade do Estado de

coordenar o sistema econômico. A diminuição do crescimento e o aumento da

inflação e do desemprego revelavam a impossibilidade de a ação estatal continuar

controlando a economia de forma satisfatória. Esta crise comprometeu o modelo de

Estado.

No Brasil, a década de 80 foi marcada pela crise deliberada do

planejamento governamental, pelo desencanto com o processo, dúvidas quanto às

suas qualidades e ceticismo quanto ao seu potencial. Todos esses fatores, aliados

ainda às altas taxas de inflação observadas no período, levaram ao gradativo

desuso do planejamento governamental.

Dessa situação, no final dos anos 80, emerge, inicialmente no setor

privado, um novo paradigma de planejamento orientado por um pensamento

estratégico. Este novo modelo inserido como parte do processo de gestão

estratégica, que é a forma de se pensar e agir nas organizações de um mundo

dominado pela turbulência e incerteza.

Foi neste contexto, e buscando adequar-se à nova conjuntura, que o

Estado brasileiro deu início, por meio da Constituição de 1988, à revisão de suas

formas de planejamento, instituindo a obrigatoriedade da elaboração de Planos

Plurianuais e a integração entre planejamento e orçamento.

16

4. A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E O NOVO MODELO INTEGRADO DE PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO

Para adequar-se às transformações mundiais e reverter a crise que se

instaurou sobre o Estado, o poder público trilhou um caminho muito próximo dos

adotados pela iniciativa privada. A reforma do Estado brasileiro, ancorada em

princípios que nortearam o desenvolvimento de uma administração orientada para

resultados, acabou por estabelecer uma nova função (mudança de paradigma) para

os instrumentos de planejamento, orçamento e gestão.

A partir da Constituição de 1988, o Poder Executivo passou a elaborar

planos plurianuais das ações de governo, assinalando seus objetivos, metas e

recursos, e a submete-los à aprovação do Congresso. Os gestores públicos foram

assim instigados a planejar visando objetivos e a buscar a racionalização do uso dos

recursos públicos. Entretanto, essa intenção não produziu de imediato os impactos

esperados, em razão da falta de tempo. Assim, a elaboração dos dois primeiros

PPA’s, após a nova Constituição, não apresentou mudanças substantivas em

relação às formas antigas de planejamento e orçamentação.

A nova Carta Constitucional inovou ao exigir planos e orçamentos

compatíveis entre si. As determinações constitucionais foram consideradas o ponto

de partida para a modernização do planejamento governamental, em virtude da

forma como foi definida a integração entre plano e orçamento, por meio da criação

do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei

Orçamentária Anual (LOA).

17

4.1 PLANO PLURIANUAL 1991 – 1995

O primeiro PPA elaborado após a promulgação da Constituição Federal

de 1988, representou uma mera formalização das exigências constitucionais. Foi

totalmente improvisado, e por isso, trouxe muitos problemas na sua execução. Os

programas não tinham conteúdo e as ações eram genéricas e com estrutura

diferente das leis orçamentárias do período. Como não havia um sistema de

acompanhamento, não foram incorporadas mudanças no decorrer do período de sua

vigência, tampouco o plano foi atualizado.

4.2 PLANO PLURIANUAL 1996 – 1999

A lei que aprovou o Plano Plurianual 1996-1999 foi promulgada no oitavo

mês de vigência do plano e com este segundo PPA, o planejamento governamental

deu o passo inicial no sentido de transformar-se em instrumento de gestão

estratégica, alinhando-se à filosofia da reforma gerencial. Introduziu novos conceitos

no planejamento federal, quais sejam, os eixos nacionais de integração e

desenvolvimento, como referência espacial e geográfica; os projetos estruturantes

voltados para a promoção de transformações no ambiente econômico e social; e a

agregação ao plano do gerenciamento de empreendimentos estratégicos.

Apesar de não se chegar a uma revisão geral do planejamento,

estabeleceu-se, para um programa que agrupava projetos prioritários – Brasil em

Ação –, uma nova abordagem gerencial, que serviu de base para a revisão posterior

de todo o modelo de planejamento.

O Programa Brasil em Ação representou também uma experiência inédita

18

de monitoramento intensivo de projetos prioritários. Foram selecionados inicialmente

42 projetos, pelo potencial que tinham de induzir novos investimentos produtivos e

reduzir desigualdades regionais e sociais.

Para cada projeto do Brasil em Ação foi designado um gerente, que tinha

atribuições e responsabilidades definidas. Todos os projetos passaram a ter um

monitoramento intensivo, com a finalidade de identificar gargalos e restrições. Este

foi o embrião do modelo que se adotou mais tarde pelo PPA 2000–2003.

Entretanto, o PPA 1996-1999 não conseguiu superar a característica que

marcou o plano anterior, ou seja, ser um plano econômico e normativo de longo

prazo, visto que as estratégias que o norteavam assemelhavam-se apenas a

desejos, pois não qualificavam o conteúdo das ações que deveriam ser realizadas.

4.3 PRINCIPAIS PROBLEMAS APRESENTADOS PELOS PLANOS QUE COMPREENDERAM OS CICLOS 1991 – 1995 E 1996 – 1999

Um olhar retrospectivo permite identificar as seguintes dificuldades

comuns aos dois primeiros planos plurianuais:

• Predominância da lógica orçamentária – focada apenas no gasto público

e não nos resultados das políticas públicas.

• Não institucionalização do PPA e da LDO como instrumentos efetivos de

planejamento e racionalização do gasto público – O plano plurianual não era objeto

de revisão e o acompanhamento e avaliação da execução eram feitos de modo

insuficiente. Já a LDO se limitava a disciplinar a elaboração e execução do

orçamento, conferindo-lhe uma natureza restritiva.

19

• Inexistência de um processo de planejamento permanente e integrado -

gerava para o Poder Executivo dificuldades de coordenação, acompanhamento e

avaliação das políticas públicas.

• Falta de correspondência entre objetivos, diretrizes e programação, e

suas metas - tornava o plano e o orçamento descoordenados entre si e distantes

das demandas da sociedade, colaborando para a insuficiência de aplicação e

dispersão de recursos públicos.

• Regionalização apenas formal do plano - refletia a incapacidade do

Governo de planejar suas ações de acordo com as necessidades e especificidades

locais.

• Pouca transparência quanto à forma de alocação dos recursos públicos -

dificultava o controle pelo Congresso Nacional e pela sociedade civil.

4.4 PLANO PLURIANUAL 2000 – 2003

O Plano Plurianual 2000-2003, instituído pela Lei nº 9.989, de 21 de julho

de 2000, denominado “Avança Brasil”, inovou ao introduzir na administração pública

federal a gestão por resultados, com a adoção de programas como unidade de

gestão, a integração entre o plano, o orçamento e a gestão, e o fortalecimento do

conteúdo estratégico por meio do estudo dos eixos.

Em 1998, o poder executivo federal editou o Decreto nº 2.829 de 29 de

outubro de 1998 que estabeleceu normas para a elaboração e execução do PPA

2000-2003 e das leis orçamentárias a partir do exercício de 2000. O principal

objetivo do decreto era realizar uma integração efetiva entre o plano plurianual e os

20

orçamentos anuais.

É importante destacar que o decreto supra citado não só obrigou que

todas as ações do governo fossem estruturadas em programas, como determinou

também que a classificação funcional-programática fosse alterada para viabilizar a

integração entre planejamento, orçamento e gestão.

A reformulação da classificação funcional-programática foi realizada por

meio da Portaria nº 117 de 12 de novembro de 1998, alterada pela Portaria nº 42 de

14 de abril de 1999, editadas pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Na nova discriminação funcional, as ações governamentais passaram a ser

identificadas pela função, subfunção, programa e ação.

O modelo anterior de classificação funcional-programática apresentava

listas rígidas de funções, programas e subprogramas. Além disso, os projetos e

atividades incluídos no orçamento eram padronizados e utilizados em diversos

subprogramas, os quais não estabeleciam uma relação adequada dos projetos e

atividades com o problema específico que deveriam resolver.

As bases principais do novo modelo de planejamento, orçamento e

gestão, adotado no PPA 2000-2003, foram:

I – Planejamento a longo prazo, de caráter indicativo, baseado no

território.

O plano pretende difundir uma visão estratégica do desenvolvimento, para

um horizonte de 20 anos, e um portfolio de oportunidades de investimentos públicos

e privados, para um período de oito anos.

21

O caráter indicativo tinha por finalidade a convergência de decisões

públicas e privadas em direção ao desenvolvimento sustentável. A referência

territorial proporcionou elementos para a integração de ações públicas e privadas,

nas áreas de infra-estrutura econômica, desenvolvimento social, meio ambiente e

informação e conhecimento, de acordo com as demandas locais, contribuindo para a

sustentabilidade do desenvolvimento.

II – Visão estratégica.

O plano deveria ser orientado por uma visão estratégica capaz de conferir

foco às principais demandas, devendo estas serem atendidas no horizonte de

vigência do PPA. Devido à carência de recursos e o extenso rol de problemas e

demandas de nossa sociedade, justificam-se a necessidade de foco e seletividade

com o intuito de garantir o alcance de resultados;

III – Gestão estratégica.

A partir da seleção de um conjunto de ações consideradas indutoras do

desenvolvimento (Programas Estratégicos), do controle diferenciado de fluxo de

recursos da gestão de restrições e informações gerenciais tempestivas, a gestão

estratégica visa assegurar o alcance de resultados.

IV – Integração entre plano, orçamento e gestão.

Para evitar a consolidação de uma gestão pública inercial – cujo

fundamento era fazer mais da mesma coisa, ano após ano – pautada apenas nas

preocupações fiscais e financeiras, e na manutenção de uma programação que não

passasse dos estreitos limites do orçamento anual, por falta de parâmetros

estratégicos de mudanças sócio-econômicas mais profundas, foi necessário integrar

22

o plano, o orçamento e a gestão.

Do mesmo modo, os orçamentos ganharam um caráter estratégico, à

medida em que rompem com as características inerciais e de natureza estritamente

financeira, que lhe são inerentes. Integrados ao plano, os orçamentos passariam a

ter um alcance estratégico e ser peça de gestão pública de interesse de toda a

sociedade. Por sua vez, a gestão, ao se integrar ao plano e aos orçamentos,

passaria a ter o sentido estratégico e a definição dos recursos financeiros

necessários.

A integração tornaria o plano verossímil, ancorado em uma base fiscal

que lhe dá, com clareza, os limites do gasto público para um horizonte de médio

prazo, ao mesmo tempo em que valorizaria a seletividade e a alocação de recursos.

O programa passou a ser o elemento de ligação entre o plano e os

orçamentos e também a referência básica para todas as etapas do ciclo de gestão,

isto é: alocação de recursos, execução, monitoramento, avaliação, controle e

comunicação com a sociedade.

V – Transparência.

A organização do plano por programas proporciona a transparência

necessária para a melhoria na alocação de recursos e a oportunidade de melhor

aferição dos impactos e resultados da execução destes na sociedade.

VI – Responsabilização e busca por resultados.

É a transformação da atuação integrada e coordenada de estruturas,

recursos e pessoas motivadas a buscar resultados. Para exercer essa coordenação,

23

estabeleceu-se a figura do gerente, responsável pelo alcance dos resultados

pretendidos ao menor custo possível.

4.4.1 Principais inovações do PPA 2000-2003

a) Instituição de um modelo de gerenciamento de programas.

O modelo de gerenciamento tinha o objetivo de atribuir responsabilidades

e orientar os esforços das equipes na execução dos programas. Antes da fase de

implantação e execução do PPA 2000-2003, foram tomadas medidas preparatórias

para o gerenciamento, sendo indicados os gerentes e desenvolvido o Sistema de

Informações Gerenciais e de Planejamento (SIGplan). No âmbito de cada programa,

estimulou-se o desenvolvimento de sistemas de informações específicos.

b) Parcerias

Pela primeira vez, foi formalizada a possibilidade de estabelecimento de

parcerias internas e externas ao governo, para somar recursos humanos,

financeiros, físicos e de conhecimento, com a finalidade de atingir os objetivos

desejados em um nível mais elevado de eficiência.

c) Desenvolvimento do SIGPlan

O Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento do Plano

Plurianual – SIGPlan promoveu, pela primeira vez no Governo Federal, a construção

de uma rede de informações de planejamento e gestão, com o objetivo de diminuir a

distância imposta pelo excesso de formalismo burocrático, reduzir os custos e

acelerar o alcance de resultados.

d) Instituição de avaliação anual do plano

24

Trata-se de procedimento utilizado para a obtenção e análise de

informações destinadas à tomada de decisão, visando o aperfeiçoamento contínuo

da gestão por programas e do plano, bem assim a revisão anual deste e a

elaboração dos orçamentos anuais.

A partir do PPA 2000-2003, foi instituída a avaliação anual dos planos

plurianuais cujos marcos legais foram os artigos 5º, 6º e 7º do Decreto nº 2.829, de

29 de outubro de 1998, e o artigo 6º da Lei nº 9.989, de 21 de julho de 2000. O

processo foi implementado com o objetivo de assegurar o aperfeiçoamento contínuo

dos programas e do plano e prover subsídios para corrigir falhas de concepção e

execução.

Objetivou-se com a implementação da avaliação anual melhorar a

concepção e a gestão dos programas integrantes do plano plurianual e dos

orçamentos da União, com vistas à obtenção dos resultados estabelecidos. A

coordenação ficou a cargo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em

parceria com os demais ministérios. Seu produto final é o Relatório de Avaliação,

encaminhado anualmente ao Congresso Nacional e disponível para consulta pela

sociedade, por meio da internet.

4.4.2 Entraves à implementação do Modelo de Gestão no PPA 2000-2003

O resultado das avaliações realizadas constituiu-se em instrumento de

feedback para o governo, notadamente no tocante ao processo de revisão anual dos

programas, na elaboração dos orçamentos da União e formulação do PPA 2004-

2007. As avaliações anuais do PPA 2000-2003 apontaram, entre outros, os

seguintes entraves à implementação daquele Modelo de Gestão:

25

- dificuldades na articulação entre os gerentes e a estrutura formal de

cada Ministério (especialmente na função de ordenação de despesas);

- escassez dos meios (recursos humanos, logísticos, informações, etc)

frente às responsabilidades dos gerentes;

- pequena participação dos gerentes nos processos decisórios;

- pouca cooperação institucional para superação de restrições; e

- acesso restrito aos canais de negociação.

4.5 PLANO PLURIANUAL 2004 – 2007

O PPA 2004-2007, instituído pela Lei nº 10.933, de 11 de agosto de 2004,

pretendeu conferir racionalidade e eficácia às ações do governo federal e cujo

processo de elaboração caracterizou-se por uma preocupação permanente com a

gestão e com o alcance dos objetivos esperados. O referido plano plurianual se

difere dos demais por ter sido elaborado com a participação da sociedade e das

várias esferas de Governo.

O plano foi elaborado a partir de uma base estratégica para quatro anos,

tendo como referência o Programa de Governo e uma programação que organiza o

nível tático-operacional da ação governamental. Esta segmentação permite separar

a gestão também em dois níveis: a gestão estratégica do Plano e a gestão

operacional do Plano.

O processo de formulação da Orientação Estratégica de Governo

envolveu a participação de todos os órgãos responsáveis pela implementação de

26

políticas e de segmentos representativos da sociedade civil organizada. Esse

processo de construção coletiva foi a condição essencial para que o PPA 2004-2007

se tornasse um instrumento de orientação e de coesão da ação de Governo.

A Orientação Estratégica do PPA 2004-2007 é composta por

megaobjetivos e desafios de Governo, que são mensurados por um conjunto de

macroindicadores capazes de orientar a administração pública no nível mais

estratégico, não só para assegurar a implementação de um projeto nacional de

desenvolvimento, como para organizar, com forte capacidade gerencial, a

coordenação da gestão governamental.

A seguir, são demonstrados os Megaobjetivos e Desafios do PPA 2004-

2007:2

MEGAOBJETIVO I: Inclusão Social e Redução das Desigualdades

Sociais.

DESAFIOS:

1. combater a fome, visando a sua erradicação e promover a segurança

alimentar e nutricional, garantindo o caráter de inserção e cidadania;

2. ampliar a transferência de renda para as famílias em situação de

pobreza e aprimorar os seus mecanismos;

3. promover o acesso universal, com qualidade e equidade, à seguridade

social (saúde, previdência e assistência);

4. ampliar o nível e a qualidade da escolarização da população,

_____________________ 2 Conforme Anexo I da Lei nº 10.933, de 11 de agosto de 2004.

27

promovendo o acesso universal à educação e ao patrimônio cultural do país.

5. promover o aumento da oferta e a redução dos preços de bens e

serviços de consumo popular;

6. implementar o processo de reforma urbana, melhorar as condições de

habilidade, de acessibilidade e de mobilidade urbana, com ênfase na qualidade de

vida e no meio-ambiente;

7. reduzir a vulnerabilidade de crianças e adolescentes à todas as formas

de violência, aprimorando os mecanismos de efetivação dos seus direitos sociais e

culturais;

8. promover a redução das desigualdades raciais, enfatizando a

valorização cultural das etnias;

9. promover a redução das desigualdades de gênero, valorizando as

diferentes identidades;

10. ampliar o acesso à informação e ao conhecimento por meio das novas

tecnologias, promovendo a inclusão digital e garantindo a formação crítica dos

usuários;

MEGAOBJETIVO II: Crescimento com geração de trabalho, emprego e

renda, ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades sociais.

DESAFIOS:

1. alcançar o equilíbrio macroeconômico, com a recuperação e

sustentação do crescimento e distribuição da renda, geração de trabalho e emprego;

28

2. ampliar as fontes de financiamento internas e democratizar o acesso ao

crédito para investimento, produção e consumo;

3. ampliar a oferta de postos de trabalho, promover a informação e a

formação profissional e regular o mercado de trabalho, com vista a reduzir a

informalidade;

4. implementar um efetivo processo de reforma agrária, recuperar os

assentamentos existentes, fortalecer e consolidar a agricultura familiar e promover o

desenvolvimento sustentável do meio rural, levando em consideração as condições

edafo-climáticas nas diferentes regiões do país;

5. coordenar e promover o investimento produtivo e a elevação da

produtividade, com destaque na redução da vulnerabilidade externa;

6. ampliar, desconcentrar regionalmente e fortalecer as bases culturais,

científicas e tecnológicas de sustentação do desenvolvimento, democratizando o seu

acesso;

7. impulsionar os investimentos em infra-estrutura de forma coordenada e

sustentável;

8. reduzir as desigualdades regionais e intra-regionais com integração das

múltiplas escalas espaciais (nacional, macro-regional e local), valorizando as

identidades e diversidades culturais e estimulando a participação da sociedade no

desenvolvimento local;

9. melhorar a gestão e a qualidade ambiental e promover a conservação e

uso sustentável dos recursos naturais, com ênfase na promoção da educação

29

ambiental;

10. ampliar a participação do País no mercado internacional, preservando

os interesses nacionais;

11. incentivar e fortalecer as micro e pequenas empresas com o

desenvolvimento da capacidade empreendedora.

MEGAOBJETIVO III: Promoção e expansão da cidadania e fortalecimento

da democracia

DESAFIOS:

1. fortalecer a cidadania com a garantia dos direitos humanos,

respeitando a diversidade das relações humanas;

2. garantir a integridade dos povos indígenas, respeitando sua identidade

cultural e organização econômica;

3. valorizar a diversidade das expressões culturais nacionais e regionais;

4. garantir a segurança pública com a implementação de políticas

públicas descentralizadas e integradas;

5. valorizar a identidade e preservar a integridade e a soberania

nacionais;

6. promover os valores e os interesses nacionais e intensificar o

compromisso do Brasil com a cultura de paz, de solidariedade e de direitos humanos

no cenário internacional;

7. implementar uma nova gestão pública: ética, transparente, participativa,

30

descentralizada, com controle social e orientada para o cidadão;

8. combater a corrupção;

9. democratizar os meios de comunicação social, valorizando os meios

alternativos e a pluralidade de expressão.

31

5. GESTÃO DO PLANO PLURIANUAL 2004 – 2007

De acordo com a metodologia de planejamento atualmente adotada, os

programas do PPA buscam enfrentar os desafios e problemas identificados na

sociedade e são alinhados com a estratégia de desenvolvimento do Governo para o

País. Nesse sentido, os programas introduzem na administração pública uma gestão

mais complexa e exigente para as organizações e para os gestores públicos. Passa-

se de uma administração orientada a processos e ao ciclo produtivo de bens e

serviços, para uma gestão orientada por resultados, capaz de gerar impactos na

sociedade.

A experiência recente do PPA 2000-2003 mostrou que os programas

necessitavam de formas de implementação e arranjos de gestão diferenciados.

Constatou-se a necessidade de se criar arranjos simples que atendessem a

programas menos complexos e outros que atendessem os programas de maior

complexidade. Seria necessário também que se fizesse uma adaptação nos

processos, nas equipes e nos compromissos pactuados.

Ainda que os programas do PPA 2004-2007, em seu conjunto, tenham

sido concebidos de forma a contribuir para a superação dos desafios e para a

estratégia de desenvolvimento do país, faltava ainda um instrumento que

viabilizasse a efetividade do resultado do Plano. Diante dessa constatação é que

nasceu a idéia da elaboração de um Plano de Gestão para o PPA 2004-2007,

concretizado por meio da edição do Decreto nº 5.233, de 6 de outubro de 2004.

32

5.1 PRINCIPAIS MUDANÇAS INTRODUZIDAS PELO PLANO DE GESTÃO

5.1.1 Criação de novos atores e/ou de novas atribuições

Em vista da experiência do PPA 2000-2003, as funções de cada ator, no

processo de gestão dos Programas do PPA 2004-2007, foram redefinidas. Assim,

foram propostos para o novo modelo de gestão três atores: Gerente, Gerente

Executivo e Coordenador de Ação, cujas características e atribuições são as que

seguem:

5.1.2 O Gerente

O novo modelo de gestão determina que o gerente deve ser membro

integrante da alta administração do órgão, ou seja, o titular da unidade administrativa

a qual o programa se vincula. Ele é responsável pela gestão do programa, com a

função de proporcionar e articular os recursos para o alcance dos seus objetivos,

monitorar e avaliar a execução do conjunto das suas ações do programa e

estabelecer mecanismos inovadores para seu financiamento. As funções atribuídas

a ele são as seguintes:

- negociar e articular os recursos para o alcance dos objetivos do

programa;

- monitorar e avaliar a execução do conjunto das ações do programa;

- indicar o gerente executivo, se necessário;

- buscar mecanismos inovadores para financiamento e gestão do

programa;

33

- gerir as restrições que possam influenciar o desempenho do programa;

- elaborar o Plano Gerencial do Programa;

- validar e manter atualizadas as informações do desempenho físico das

ações, da gestão de restrições e dos dados gerais do Programa, sob sua

responsabilidade, mediante a alimentação do Sistema de Informações Gerenciais e

de Planejamento - SIGPlan.

5.1.3 O Gerente-Executivo

Sua atuação é de apoio ao gerente, responsabilizando-se também pela

integração e acompanhamento do conjunto das ações do programa. Suas principais

funções são:

- evitar sobreposição de ações;

- monitorar o alcance das metas das ações do programa (eficácia);

- promover a otimização dos recursos (eficiência);

- promover a articulação entre os Coordenadores de Ação;

- consolidar e analisar as informações;

- assegurar a tempestividade e a confiabilidade das informações;

- identificar e eliminar restrições impeditivas da implementação do

Programa; e

- subsidiar e apoiar o Gerente;

34

5.1.4 O Coordenador de Ação

Responsável pela viabilidade da execução e monitoramento de uma ou

mais ações do programa, o coordenador de ações responde pela unidade

administrativa a qual se vinculam as ações. Por força do Decreto nº 5.233, suas

funções são:

- viabilizar a execução e o monitoramento de uma ou mais ações do

programa;

- responsabilizar-se pela obtenção do produto expresso na meta física da

ação;

- utilizar os recursos de forma eficiente, segundo normas e padrões

mensuráveis;

- gerir as restrições que possam influenciar a execução da ação;

- estimar e avaliar o custo da ação e os benefícios esperados;

- participar da elaboração dos planos gerenciais dos programas; e

- efetuar o registro do desempenho físico, da gestão de restrições e dos

dados gerais das ações sob sua responsabilidade, no SIGPlan.

5.2 CRIAÇÃO DE NOVOS ARRANJOS PARA A GESTÃO DOS PROGRAMAS

Os arranjos de gestão criados pelo Decreto nº 5.233, detalhados a seguir,

prevêem a existência de colegiados formados para contribuir com a melhoria da

gestão dos programas, atuando como fórum de coordenação e negociação, sem

35

eximir os atores das responsabilidades inerentes a cada um.

5.2.1 Comitê Gestor de Programa

Todos os programas multissetoriais passaram a contar com um Comitê

Gestor formado pelo Gerente, pelos Coordenadores das Ações e pelo Gerente

Executivo. A principal função do comitê é dar cumprimento aos objetivos do

programa, devendo, para tanto, monitorar e avaliar o desempenho do conjunto de

suas respectivas ações. No referido colegiado também são viabilizados os

mecanismos de participação social, que envolvem o público-alvo (como por

exemplo, os instrumentos de aferição da satisfação dos usuários dos serviços e

outros), em consonância com as diretrizes definidas pela Secretaria-Geral da

Presidência da República e em conjunto com o Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão.

5.2.2 Comitê de Coordenação dos Programas (CCP)

Comitê criado em cada órgão do Poder Executivo com a finalidade de

coordenar os processos de gestão dos programas para o alcance dos objetivos

setoriais. Integram o Comitê, o Secretário Executivo do órgão ou cargo equivalente,

que é o coordenador, o Subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração

ou cargo equivalente, os gerentes de programa e os titulares de unidades e

entidades vinculadas ao órgão, indicados.

Cabe ao comitê promover a compatibilização, o monitoramento e a

avaliação dos planos gerenciais dos programas do órgão, bem assim pactuar metas

e resultados. O CCP atua também de forma pró-ativa na eliminação de restrições,

36

na gestão dos fluxos orçamentários e financeiros, na definição das prioridades do

setor, na avaliação e na revisão do planejamento setorial.

Para os temas transversais, tais como direitos humanos, gênero, raça,

etnia, meio-ambiente, informação, conhecimento, quando de interesse da

administração pública federal, seriam constituídas Câmaras do Conselho de

Governo e seus respectivos Comitês Executivos, que funcionariam na Presidência

da República, com a finalidade de garantir sua gestão e também de disseminar

conceitos, diretrizes, práticas e conhecimentos.

5.3 NOVOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO DOS PROGRAMAS

5.3.1 Plano Gerencial

O Plano Gerencial é o instrumento que orienta a implementação,

monitoramento e avaliação e estabelece os compromissos entre os diversos atores

que interagem para o alcance do objetivo de cada programa. Constitui-se em

ferramenta que define claramente a estratégia de implementação do programa e de

suas ações, além de identificar os pontos de controle, de forma a auxiliar os

processos decisórios. É de responsabilidade do gerente elaborar anualmente seu

plano gerencial e submetê-lo ao Comitê de Coordenação de Programa (CCP).

5.3.2 Sistema informatizado InfraSIG

De acordo com o Plano de Gestão, cada órgão deve desenvolver um

sistema informatizado (InfraSIG) que auxilie na captação de informações sobre o

andamento dos programas e subsidie os gerentes e os dirigentes na tomada de

decisões. Este sistema deve ser plenamente integrado com o SIGPlan, e de acordo

37

com os padrões de interoperabilidade definidos pelo Comitê Executivo de Governo

Eletrônico (CEGE).

5.3.3 Pactos de Concertação

O Pacto de Concertação é o instrumento de gestão orientado para a

conciliação de interesses dos diferentes níveis territoriais – macrorregional, estadual,

sub-regional, municipal, etc. –, capaz de por em prática uma política compartilhada e

articulada de desenvolvimento local e nacional. Tem a finalidade de ampliar o

diálogo de forma sistemática entre os entes federados, em torno de programas e

estratégias comuns que assegurem a continuidade das ações e coloquem, numa

linha coerente, as intenções de prosperidade local e a estratégia de

desenvolvimento nacional e inserção internacional.

O objetivo geral dos Pactos de Concertação entre União, Estados e

Municípios é implementar os programas selecionados em comum acordo com os

três entes da federação, considerando a demanda da sociedade e visando a um

projeto de desenvolvimento em nível sub-regional, articulado à estratégia de

desenvolvimento nacional que orientou a formulação do PPA 2004-2007 do Governo

Federal.

Como resultados, espera-se aumentar a eficiência, a eficácia e a

efetividade da ação pública, por meio da definição e convergência de prioridades

dos governos federal, estaduais e municipais, de modo a promover a redução das

desigualdades regionais, o equilíbrio no acesso aos serviços essenciais e a reversão

da situação de exclusão e precariedade de populações residentes em territórios de

risco social e estagnação econômica.

38

No novo modelo de gestão, há previsão para a participação da sociedade.

Nos programas de gestão de políticas (destinados à formulação de políticas

públicas), a participação dar-se-á por entidades da sociedade organizada de

abrangência nacional, que representem o setor correspondente e que atuem na

formulação de políticas. Nos programas de serviços ao estado (aqueles de que se

destinam à prestação de serviços diretamente ao estado), por meio dos órgãos

produtores dos serviços ao estado e das instituições usuárias desses serviços. Nos

programas finalísticos (destinado à prestação de serviços direto à sociedade), a

participação social se dará por intermédio da sociedade organizada, representativa

de segmentos específicos do setor ao qual está vinculado o programa. Quando se

tratar de programas de execução descentralizada, a participação se dará no nível de

abrangência territorial correspondente (Conselhos Estaduais e Municipais, por

exemplo).

39

6. OS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO, MONITORAMENTO E REVISÃO DO PPA 2004 – 2007

6.1 O SISTEMA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO (SMA)

O Sistema de Monitoramento e Avaliação do Plano Plurianual (SMA) foi

criado pelo art. 9º, da Lei nº 10.933, de 11 de agosto de 2004 e o Decreto nº 5.233

definiu sua estrutura. O sistema é composto por uma Comissão de Monitoramento e

Avaliação (CMA) e por Unidades de Monitoramento e Avaliação (UMA) em cada

ministério setorial e secretaria especial.

No nível estratégico, o sistema é representado pelo Ministro de Estado e

pelo Comitê de Coordenação de Programas e sua avaliação permitirá: i)

correlacionar a contribuição dos resultados do conjunto dos programas com os

objetivos e metas estabelecidos no âmbito de cada ministério; ii) elaborar uma

agenda de compromissos voltada à superação de restrições e ao aproveitamento de

oportunidades para o aperfeiçoamento das políticas e dos programas; e iii) auxiliar a

tomada de decisões estratégicas relacionadas à alocação de recursos e à criação ou

à extinção de programas e ações.

No nível tático, o SMA é representado pelo gerente do programa, gerente-

executivo e coordenadores de ação, sendo que na avaliação há oportunidade para:

i) promover o aprendizado dos envolvidos na gestão e na execução dos programas;

ii) identificar restrições, oportunidades e propor aperfeiçoamentos no desenho e na

gestão dos programas; iii) negociar no nível estratégico do ministério as mudanças

necessárias ao aperfeiçoamento dos programas; e iv) fomentar a integração das

ações das diferentes unidades e pactuar uma agenda de metas e de resultados

40

entre a gerência e os coordenadores de ação, no caso de programas envolvendo

unidades administrativas diferentes, especialmente os multissetoriais.

No nível operacional, o sistema de avaliação é representado pelo

coordenador de ação e sua equipe; a avaliação é a oportunidade de participação

nas decisões do programa e na negociação de apoio político e financeiro para a

implementação das iniciativas sob sua responsabilidade. Cabe ao coordenador de

ação inserir no SIGPlan as informações relacionadas ao desempenho físico e às

restrições enfrentadas no período.

O novo modelo pressupõe um processo de monitoramento em rede, cujas

bases são: o gerente, situado no ministério setorial; o monitor de programas, situado

no Ministério de Planejamento; e o SIGPlan, sistema informatizado que fornece ao

gerente os meios necessários para controlar a execução do programa. Este último,

ao mesmo tempo, articula em rede a alta direção do governo e o conjunto de

gerentes e monitores.

O Modelo de Gestão do Plano Plurianual 2004-2007 é orientado segundo

critérios de eficiência, eficácia e efetividade. É constituído pela gestão estratégica e

compreende o monitoramento, a avaliação e a revisão do plano, pela gestão tático-

operacional, e contempla a implementação do monitoramento, da avaliação e da

revisão dos programas.

Um aspecto importante do novo modelo de gestão é a possibilidade de

consulta pela sociedade das informações do plano. Tem a finalidade de dar

transparência às ações de governo. O objetivo é apresentar à sociedade o

andamento do plano, usando uma linguagem fácil e mostrando casos de impacto

dos programas. Foi desenvolvida para isso uma página na Internet, que pode ser

41

acessada por qualquer cidadão, disponível no endereço: www.abrasil.gov.br.

6.2 A AVALIAÇÃO

A experiência de avaliação do PPA 2000-2003 gerou avanços, na medida

em que fomentou a disseminação de práticas de monitoramento e avaliação na

gestão pública, levando os técnicos dos órgãos envolvidos no processo à discussão

e reflexão sobre a forma de incorporação daquelas práticas aos processos de

tomada de decisão, melhorias na gestão e aprendizagem no âmbito do governo

federal.

No PPA 2004-2007 houve um avanço em relação às avaliações do PPA

2000-2003. Com a criação do Sistema de Monitoramento e Avaliação (SMA), a

avaliação passou a ser parte integrante da gestão dos programas e também passou

a ser um referencial para a tomada de decisões.

A avaliação anual do PPA 2004-2007 é realizada em três etapas e em

três instâncias: etapa do gerente de programas, etapa do ministério setorial e, por

último, etapa do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

A avaliação do programa, sob a responsabilidade da gerência dos

programas, tem a finalidade de avaliar os resultados alcançados e de propor

recomendações de aperfeiçoamento, à luz da análise da concepção e da

implementação de cada programa.

A avaliação setorial será realizada pela Subsecretaria de Planejamento,

Orçamento e Administração (SPOA) de cada ministério, sob a orientação da

Secretaria-Executiva. A finalidade desta etapa é avaliar a contribuição e a

42

adequação dos resultados e da concepção dos programas aos objetivos setoriais

estabelecidos pelo ministério e a gestão do conjunto dos programas.

A avaliação do plano, por sua vez, é coordenada pelo Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão e contempla: i) a análise das variáveis

macroeconômicas, mediante a comparação entre o cenário utilizado na elaboração

do plano e o cenário que integra a lei de diretrizes orçamentárias (LDO) e a

conjuntura atual; e ii) a análise estatística dos dados obtidos nas duas etapas iniciais

e dos fatores que dificultaram a implementação e o alcance dos objetivos dos

programas.

6.3 A REVISÃO

É um procedimento anual realizado com base nos aspectos falhos ou

sensíveis do plano identificados na fase de avaliação. Anualmente, é apresentado

ao Congresso Nacional o projeto de Lei de Revisão do PPA, com o intuito de

realinhar as ações de governo e adequá-las à evolução dos cenários interno e

externo.

Uma inovação introduzida no PPA 2004-2007 foi a manutenção de uma

base de planejamento com horizonte permanente de médio prazo, com a projeção

de mais um exercício financeiro de programação a cada revisão do plano. Com a

adoção da programação plurianual físico-financeira "deslizante" pretende-se dar um

caráter de permanência ao plano plurianual, mediante a projeção indicativa de

exercícios futuros para além de seu período de vigência.

43

7. PROBLEMAS QUE PERSISTEM APÓS A IMPLENTAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO

7.1 AUSÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA DE INFORMAÇÕES NO SIGPlan

O Decreto nº 5.233/2004 detalha as responsabilidades dos gerentes,

gerentes-executivos e dos coordenadores de ação. A Portaria MP nº 198, de 2005,

dispõe sobre a periodicidade em que as informações devem ser inseridas no

Sistema Integrado de Planejamento e de Informações Gerenciais – SIGPlan.

Entretanto, nem mesmo esses instrumentos legais foram suficientes para garantir a

regularidade e a qualidade das informações.

A informação é elemento essencial para atividade de monitoramento e,

por conseguinte, para o gerenciamento e tomada de decisão. Os principais

problemas enfrentados no acompanhamento das ações dos programas do PPA são

a ausência da informação físico-financeira, a baixa qualidade das informações

prestadas, a falta do registro de restrições, dentre outros.

Um aspecto a ser ressaltado é a respeito da periodicidade de validação

ser trimestral; o gerente pode e deve, a qualquer tempo, contatar os coordenadores

e acompanhar as informações que estão sendo inseridas, tanto no que tange à

execução física como em relação às restrições, inclusive as que exigem a sua

intervenção, bem como os resultados obtidos e as parcerias estabelecidas.

No que concerne às ações não-orçamentárias, percebe-se também, a

falta de registro das restrições e dos resultados, pois, embora os seus recursos não

transitem pelo orçamento da União, são recursos públicos que alcançam elevados

montantes e são, assim, relevantes para as políticas setoriais implementadas pelo

44

governo.

7.2 FALTA DE INTERAÇÃO ENTRE OS GERENTES DOS PROGRAMAS MULTISSETORIAIS E OS COORDENADORES DE AÇÃO DE OUTROS ÓRGÃOS

Os programas multissetoriais são aqueles de responsabilidade de um

único órgão, mas que possuem ações alocadas em outros. O gerenciamento desse

tipo de programa requer, para que os resultados sejam efetivos, uma integração

entre todos os órgãos envolvidos. Na prática, esse intercâmbio ainda não vem

fluindo de maneira satisfatória, o que muitas vezes compromete o bom desempenho

dos programas.

7.3 BAIXA INTEGRAÇÃO ENTRE AS ÁREAS FIM E MEIO

O baixo nível de integração entre as áreas fim e meio no âmbito dos

setores tem sido identificado como elemento que cria obstáculos à execução e

monitoramento das ações. As dificuldades de articulação interna também estão

presentes em outras etapas do ciclo de gestão, como na elaboração e revisão do

programas, principalmente no que diz respeito à alocação de recursos e à precária

percepção da priorização do órgão em relação às políticas setoriais.

7.4 POUCA UTILIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM E CONSTRUÇÃO DE CENÁRIO

Em geral, os órgãos não têm sido capazes de internalizar os resultados

apontados pelas avaliações anuais dos programas, ou seja, maximizar os pontos

positivos e trabalhar para superar suas fragilidades, principalmente as que, ano após

45

ano, estão indicadas nas avaliações. Existem aspectos aos quais os órgãos

poderiam atribuir maior relevância, quando realizam o mapeamento dos pontos

frágeis de sua gestão. O decreto de programação orçamentária e financeira, por

exemplo, que é editado no início de cada exercício, poderia ser considerado como

um cenário provável de limitação de gastos no primeiro semestre. Cientes desse

fato, os gestores poderiam concentrar a previsão de realização de suas metas

físicas no segundo semestre, para não prejudicar o atingimento das metas propostas

para o exercício.

7.5 DESCONHECIMENTO METODOLÓGICO E OPERACIONAL

Outro problema bastante comum é o desconhecimento metodológico da

elaboração de programas e ações, bem como de seus atributos, pelos atores

relevantes do processo, como gerentes e coordenadores de ação. Aliado ao

desconhecimento metodológico está o operacional, ou seja, como gerir o programa

com foco no atingimento do objetivo pactuado no plano, ou, ainda, como e em que

medida a execução das ações contribui para a implementação do programa e

alcance do objetivo. Fica claro, então, a necessidade dos atores perceberem seu

papel nas etapas do ciclo do processo de gestão, para que saibam o quê e quando

monitorar.

7.6 ASSIMILAÇÃO DA CULTURA DE PLANEJAMENTO

Infelizmente, a cultura de planejamento no Brasil não está devidamente

cristalizada. Para muitos, o planejamento ainda é visto como um processo

burocrático e enfadonho, sem nenhuma utilidade prática. Normalmente, maior

46

importância é atribuída ao processo orçamentário, que é considerado,

equivocadamente, como o início da previsão da ação governamental.

7.7 FALTA DE ENVOLVIMENTO DE ALGUNS ATORES COM O PROCESSO DE PLANEJAMENTO

Justamente por não valorizarem o planejamento como uma ferramenta da

gestão, alguns atores não se envolvem no processo como deveriam: não participam

das discussões acerca da formulação, avaliação e revisão do plano e mesmo

aqueles que integram os colegiados criados por força do decreto de gestão, não

participam das reuniões, deixando os assuntos de planejamento para segundo

plano.

7.8 AUSÊNCIA DE SINTONIA DOS PRECEITOS DA METODOLOGIA DE PLANEJAMENTO E AS NORMAS DOS ÓRGÃOS DE CONTROLE

Apesar dos esforços da Secretaria de Planejamento e Investimento

Estratégicos e da Secretaria de Orçamento Federal no sentido de promover a

participação dos órgãos de controle nas discussões metodológicas em matéria de

planejamento e orçamento, na prática, ainda existem significativas divergências

conceituais, que ficam mais evidentes quando da realização de auditorias por

aqueles órgãos.

47

8. PLANO PLURIANUAL 2008 – 2011

O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão celebrou contrato

com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) para a realização do

“Estudo para Subsidiar a Abordagem da Dimensão Territorial do Desenvolvimento

Nacional no PPA 2008-2011 e no Planejamento Governamental de Longo Prazo” ou,

simplesmente, “Estudo da Dimensão Territorial do PPA”.

O objetivo geral do estudo é proporcionar subsídios ao processo de

elaboração do PPA 2008-2011 e subseqüentes, contribuindo para a estruturação do

planejamento territorial no Brasil ao propor uma trajetória de evolução da

organização territorial do país que promova o desenvolvimento sustentável de suas

diversas regiões e a redução das desigualdades sociais e regionais. O seu objetivo

específico é o de gerar contribuições para o aperfeiçoamento do planejamento no

país no que se refere à consideração da dimensão territorial do desenvolvimento

consubstanciada nos planos plurianuais.

O trabalho, cuja execução está prevista para ocorrer durante 315 dias,

contados a partir de 4 de setembro de 2006, compreende um conjunto de atividades

traduzidas em estudos de base, com módulos que produzirão insumos para a

incorporação da dimensão territorial ao PPA 2008-2011 e ao planejamento de longo

prazo.

48

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O plano de gestão do PPA representou um grande avanço para o

processo de planejamento no Brasil. Seu principal objetivo é garantir a efetividade

da ação governamental, que se dá por meio da realização das ações e programas

previstos no plano plurianual. Para tanto, foram criados novos atores e colegiados e

definidas suas atribuições. Além disso, a legislação que o instituiu, o Decreto nº

5.233, bem como a Portaria nº 198, trouxeram o respaldo legal para a

responsabilização dos agentes envolvidos no processo. A regulamentação da

matéria contribuiu também com o trabalho dos órgãos de controle, na medida em

que a legislação regulamentou a questão da periodicidade da atualização das

informações no SIGPlan.

A legislação do modelo de gestão proporcionou uma grande evolução no

que se refere à regularidade e à padronização das informações no SIGPlan e,

principalmente no fornecimento de dados de execução física. Persiste, ainda, a

necessidade de melhoria qualitativa dessas informações. Uma alternativa para

resolver essa questão da qualidade é a atuação mais efetiva das Unidades de

Monitoramento e Avaliação, substitutas das antigas unidades setoriais de

planejamento.

Outras propostas do modelo de gestão foram implementadas com êxito. A

criação do coordenador de ação, por exemplo, fez com que a pessoa mais envolvida

com a execução da ação se tornasse formalmente o responsável pela prestação de

informações sobre ela. Antes, essa responsabilidade era atribuída ao gerente, fato

que dificultava o gerenciamento do programa, uma vez que ele nem sempre tinha

49

acesso às informações da ação e tinha que prestar contas sobre sua execução.

Por outro lado, o modelo de gestão não conseguiu resolver o problema da

falta de informações necessárias ao gerenciamento dos programas multissetoriais.

O Comitê Gestor de Programas (CGP) foi criado com a finalidade de monitorar e

avaliar o conjunto de suas respectivas ações, por meio do plano gerencial do

programa. Como na maioria dos casos, suas competências não foram

implementadas e os problemas de articulação entre gerente de programa e os

coordenadores de ação dos outros órgãos persistem.

A formalização do Comitê de Coordenação de Programa (CCP) em cada

órgão constituiu-se também em alternativa positiva, uma vez que esse colegiado tem

a finalidade de coordenar os processos de gestão para o alcance dos objetivos

setoriais, por meio da validação e pactuação dos planos gerenciais de cada

programa. Entretanto, embora criados em todos os órgãos esses colegiados não

têm exercido seu papel. O cerne da questão talvez esteja na composição do

colegiado, já que o modelo de gestão estabelece que o CCP deve ser coordenado

pelo secretário-executivo de cada ministério. Essa determinação, na verdade,

traduziu a preocupação da SPI em envolver a alta cúpula dos órgãos no

planejamento. Ocorre que esse envolvimento, de fato não aconteceu na maioria dos

órgãos, muito provavelmente pela priorização das outras atividades próprias do

cargo. A flexibilização desse dispositivo poderá proporcionar uma atuação mais

efetiva do CCP.

Situação semelhante ocorre com o cargo de gerente de programa. De

acordo com o modelo, esse ator deve ser a autoridade máxima da unidade a qual o

programa está vinculado. Via de regra, pelos mesmos motivos citados no parágrafo

50

anterior, o gerente e o gerente-executivo nem sempre estão à frente do programa

pelo qual são responsáveis. Normalmente, não participam do processo de

planejamento e, em muitos casos, nem mesmo o coordenador de ação está

diretamente envolvido com esse processo.

O modelo de gestão instituiu, também, em cada ministério ou órgão

equivalente à criação de uma Unidade de Monitoramento e Avaliação (UMA). As

antigas setoriais de planejamento acabaram por absorver as novas atribuições que

foram criadas nesse processo, aumentando consideravelmente o volume de trabalho

das setoriais, sem o correspondente aumento de servidores. Assim, nem sempre as

UMA’s conseguem cumprir satisfatoriamente seu papel, ou por falta de pessoal ou

por falta de capacitação para os novos papéis.

Em contrapartida, existe grande preocupação em fortalecer os órgãos

centrais de planejamento e orçamento sem, contudo, dar a mesma atenção aos

órgãos setoriais. A questão poderia ser solucionada com uma distribuição mais

eqüitativa dos novos ingressados nas carreiras de planejamento e orçamento entre

os órgãos centrais e setoriais. Uma sugestão possível seria a que o novo servidor

iniciasse a sua carreira sempre em uma setorial de planejamento.

O modelo de gestão prevê a criação em cada órgão de sistemas

informatizados subsidiários do SIGPlan, os INFRASIGS, cujas bases de dados

deverão ter interface com os principais sistemas estruturantes da administração

pública, tais como, SIGPlan, SIAFI, SIDOR, SIASG e outros. Ocorre que essa

integração é dificultada por razões técnicas, principalmente pelo temor da

vulnerabilidade da segurança desses sistemas maiores. Muitos órgãos já possuem

seus INFRASIGS, sem conseguir, ainda, integrá-los totalmente àqueles sistemas. A

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superação dessa dificuldade requer um esforço coletivo dos órgãos envolvidos na

busca de uma solução única para esse problema.

A questão cultural contribui, também, para a existência das diversas

fragilidades do modelo de gestão. Como não há consenso no país de que o

planejamento é uma ferramenta de grande valia para o gestor público, não há

envolvimento suficiente de todas as partes que compõem o processo.

Apesar de todas as dificuldades a serem ultrapassadas, pode-se concluir

que a implementação do modelo de gestão foi e vem sendo altamente positiva para

o processo de planejamento. Mesmo com todos os problemas diagnosticados, há

que se reconhecer os avanços e isso deve certamente ser comemorado.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. (2004), Lei nº 10.933, de 11 de agosto de 2004. Dispõe sobre o Plano Plurianual para o período 2004-2007.

BRASIL. (2004), Decreto nº 5.233, de 6 de novembro de 2004. Estabelece normas para a gestão do Plano Plurianual 2004-2007 e de seus programas e dá outras providências.

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BRASIL. Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos – Plano de Gestão do PPA 2004-2007 – outubro/2004.

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SÍTIOS

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www.cgee.org.br

www.enap.gov.br

www.ipea.gov.br

www.planalto.gov.br

www.planejamento.gov.br

www.planobrasil.gov.br

www.sigplan.gov.br