a geada negra de 1975 e a modernizaÇÃo da agricultura … · população urbana e rural antes e...

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A GEADA NEGRA DE 1975 E A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO MUNICÍPIO DE MANDAGUARI

COSTA, José1 PEREIRA, Lupércio Antônio (orientador)2

Resumo

Esta pesquisa teve como objetivo o conhecimento sobre a História do Paraná, sendo a população paranaense formada por diversas correntes migratórias, focalizando mais à região noroeste, principalmente o município de Mandaguari. Apesar dos contratempos climáticos, o café se tornou um produto capaz de atrair inúmeros colonizadores de várias regiões brasileiras e até do exterior. Tendo como fato marcante o ocorrido em 1975, uma severa geada que mudou os rumos da economia e da demografia regional. O objetivo deste trabalho foi proporcionar aos alunos do 2º ano do curso Técnico em Administração um conhecimento mais amplo dos efeitos da geada de 1975 para a sociedade da microrregião de Mandaguari. Foram discutidas questões como monocultura, êxodo rural, migração, mecanização da agricultura, diversidade econômica, reforma agrária e outros assuntos pertinentes relacionados ao meio rural. Com relação às estratégias trabalhadas com os alunos, foram utilizados materiais concretos para melhorar o ensino-aprendizagem, como: uso da TV Pendrive; filmes; visitas; pesquisas; entrevistas; relatórios; seminários; documentários; confecção de painel; criação de portifólio pelos alunos para organizarem suas pesquisas, relatórios, textos, fotos, depoimentos, gráficos e reportagens, abordando a importância que a história do Paraná tem no cotidiano de cada um de nós, dando destaque à economia cafeeira e às consequências trazidas para os lares de milhões de paranaenses após o fenômeno de 1975, episódio esse conhecido como Geada Negra. Neste sentido, foi feito uma comparação entre a população urbana e rural antes e depois da geada de 1975, fazendo com que os alunos aprofundassem seus conhecimentos sobre os efeitos que a geada de 1975 trouxe para a sociedade de Mandaguari e região. Por fim, esta temática se fundamentou em teorias, práticas e estratégias que contribuíram para uma reflexão sobre a população urbana e rural antes e depois da geada de 1975.

Palavras-chave: Modernização; Agricultura; História; Mandaguari; Paraná.

1 Pós-graduado em Didática e Metodologia do Ensino pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR),

graduado em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari (FAFIMAN), atua no Colégio Estadual Vera Cruz (CEVEC). 2 Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), Professor Associado do Departamento

de História e membro do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

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Abstract

This research aimed to knowledge about the history of Paraná, Paraná population being comprised of numerous migratory flows, focusing more to the northwest region, especially the town of Mandi. Despite the weather setbacks, coffee became a product able to attract many settlers from various regions of Brazil and abroad. Having such a remarkable event occurred in 1975, a severe frost that changed the course of the economy and regional demographics. The objective of this study was to provide students with the 2nd year of Technical Administration broader knowledge of the effects of frost in 1975 for the company's micro-Mandi. They discussed issues such as monoculture, rural exodus, migration, mechanization of agriculture, economic diversity, land reform and other relevant matters related to rural areas. With respect to the strategies worked with students, concrete materials were used to improve teaching and learning, such as the use of Pendrive TV, movies, site visits, surveys, interviews, reports, seminars, documentaries, panel fabrication, creating portfolio for students to organize their research, reports, texts, photos, interviews, charts and reports, addressing the importance that the history of Paraná has the daily life of each one of us, focusing on the coffee economy and the consequences brought to the homes of millions of Paraná after the phenomenon of 1975, this episode known as the Black Frost. In this sense, a comparison was made between urban and rural population before and after the frost of 1975, causing students to deepen their knowledge about the effects of the frost of 1975 brought to society and Mandi region. Finally, this issue was based on theories, practices and strategies that contributed to a reflection on the urban and rural population before and after the frost of 1975.

Keywords: Modernization; Agriculture; History; Mandaguari; Paraná.

1 Introdução

Esse texto relata o resultado de uma pesquisa de campo com o tema

História do Paraná e as Consequências Econômicas e Sociais com a Geada de

1975. Intitulado como Modernização da Agricultura, foi desenvolvido com alunos do

2º ano do curso Técnico em Administração, no período de Agosto a Dezembro de

2011. O conteúdo aqui pesquisado foi agrupado com o referencial teórico aqui

relatado, tendo como justificativa a conscientização dos alunos por meio de

3

conhecimento histórico e a importância da História do Paraná para o

desenvolvimento intelectual de suas vidas, priorizando os aspectos, social,

econômico e político do nosso Estado.

Sendo a população paranaense formada por diversas correntes migratórias,

focalizou-se mais a região noroeste, principalmente o município de Mandaguari,

onde o café foi fator econômico atraente para a colonização desta região do Paraná.

Apesar dos contratempos ele se tornou um produto capaz de atrair inúmeros

colonizadores de várias regiões brasileiras e até do exterior. Viu-se que com a

geada de 1975, houve grande modificação nessa região, como o aumento

considerável da industrialização, tendo como consequência o êxodo rural e a

migração.

Tem por objetivo proporcionar um conhecimento mais amplo dos efeitos da

geada de 1975 para a sociedade da micro-região de Mandaguari, conhecendo a

história do Paraná, principalmente a que está relacionada ao processo da produção

cafeeira da região noroeste paranaense, especialmente o município de Mandaguari,

despertando o senso crítico de que a monocultura não é um bom seguimento

econômico referente aos meios de produção, pois este sistema não favorece

alternativas, caso ocorram fenômenos naturais ou mesmo de origem especulativa

em decorrência do mercado internacional.

Foram discutidas neste trabalho questões como monocultura, êxodo rural,

migração, mecanização da agricultura, diversidade econômica, reforma agrária e

outros assuntos pertinentes relacionados ao meio rural.

Quanto ao método utilizado com os alunos nas aulas, foram utilizados

materiais concretos para melhorar o ensino-aprendizagem, como: pesquisas e

entrevistas, abordando a importância que a história do Paraná tem no cotidiano de

cada um de nós, dando destaque à economia cafeeira e as conseqüências trazidas

para os lares de milhões de paranaenses após o fenômeno de 1975, episódio esse,

conhecido como Geada Negra, fazendo-se uma comparação entre a população

urbana e rural antes e depois da geada de 1975, contribuindo para que os alunos

tomassem conhecimento dos efeitos que a geada de 1975 trouxe para a sociedade

de Mandaguari e região.

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Contudo, esta temática se fundamentou em teorias, práticas e estratégias

que contribuíram para uma reflexão sobre a população urbana e rural antes e depois

da geada de 1975.

2 História do Paraná: Consequências Econômicas e Sociais com a Geada de

1975

2.1 História do Paraná

A História do Paraná não é estudada da maneira como deveria. Poucos

professores atendem a lei nº 13.381/01, mesmo porque, não existe na matriz

curricular a disciplina de História do Paraná, e para piorar a situação, em alguns

colégios foram retiradas as aulas de História de algumas séries para a

implementação de filosofia, deixando ainda mais desfalcada a disciplina de História.

Contudo, verifica-se a obrigatoriedade do ensino dos conteúdos de história no

ensino fundamental e médio da rede pública estadual, como podemos observar nas

Diretrizes Curriculares da Educação Básica: “Cumprimento da lei nº 13.381/01, que

torna obrigatório, no Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual, os

conteúdos de História do Paraná” (DCE SEED, 2008, p. 45).

Entretanto, nós professores de História, compreendemos a necessidade de

se estudar a História do Paraná no contexto de formação dos educandos. O número

de aulas deixa muito a desejar. Neste sentido, a escola e nós profissionais devemos

incentivar uma proposta para desenvolver e valorizar o conhecimento da História do

Estado onde moramos.

Uma visão mais ampla, impessoal e plenamente baseada no conhecimento,

nas pesquisas e estudos, neutraliza qualquer expressão bairrista. Nesse sentido,

refletiremos sobre a atualidade e o que já passou, que é uma forma de entender a

nossa História.

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Seguindo o raciocínio de Cainelli & Shimidt, é importante problematizar o

conteúdo a ser trabalhado, algumas questões podem orientar uma abordagem

problematizadora dos conteúdos, tais como: “por quê?”, “como?”, “quando?”, “o

que?” (DCE SEED, 2008, p. 72).

Nesse sentido, é importante afirmar e reafirmar a visão de Fausto (1995,

p.13):

Sem ignorar a complexidade do processo histórico, a História é uma disciplina acessível às pessoas com diferentes graus de conhecimento. Mais que isso, é uma disciplina vital para a formação da cidadania. Não chega a ser cidadão, quem não consegue se orientar no mundo em que vive, a partir do conhecimento da vivência das gerações passadas (FAUSTO, 1995, p. 13).

Portanto, há uma grande dificuldade de se encontrar uma bibliografia que

trate da história paranaense. Na verdade, a História do Paraná só começou a ser

divulgada a bem pouco tempo.

Sendo assim, é imprescindível que se comece a estudar os principais fatos

marcantes que elevaram o Paraná como um dos principais estados que forma a

República Federativa do Brasil.

2.1.2 O Processo de Colonização

A Companhia de Terras Norte do Paraná – CNTP organizou a colonização

de suas terras na forma denominada Colonização-Dirigida. Esta é realizada por

empresas ou pelo poder público, cujo planejamento atende à vinda de colonos e

onde as terras são divididas e eficientes meios de comunicação e transporte

organizados, pois seu objetivo é a venda das terras e o povoamento (STECA;

FLORES, 2008, p. 138).

As glebas compradas pela CTNP foram pagas até três vezes: primeiro ao

Estado, depois aos que possuíam títulos de posse verdadeiros ou duvidosos e, por

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fim, aos posseiros. Isso deu credibilidade aos títulos de propriedade ofertados pela

companhia (STECA; FLORES, 2008, p. 139).

Sobre esse assunto, afirma Oberdiek (1997, p. 76) que

um dos problemas para a rápida demarcação era quantidade de títulos de posse irregulares ou falsos. Então a terra toda deveria ser regularizada rapidamente para não dar tempo de se criar dúvidas. Alguns desses documentos irregulares ou falsos estavam relacionados com antigas concessões, como a Cia Marcondes. [...] E se os ingleses demorassem muito para contestar os supostos títulos por estas famílias, poderiam tornar irreversíveis as reivindicações de posse, o que a CTNP queria evitar. (p.76) (Ressalva ainda que) [...] a colonização foi organizada para que gerasse lucros e se autofinanciasse antes mesmo de produzir com a agricultura e/ou extração de bens naturais. Ou seja, o capital financeiro inglês criou condições para que o próprio processo de colonização fosse financiador de si mesmo (p. 76).

De fato, as glebas compradas foram divididas em pequenas propriedades

com cerca de 30 hectares, mas existiam propriedades menores com até 5 ou 10

hectares. Foram separados também lotes urbanos (para dinamizar a atividade

comercial) e lotes rurais. Existem autores que interpretam esta divisão do território

em pequenas propriedades como “socialização da colonização e da produção”. O

problema é que essa “socialização” beneficiou apenas aos vendedores das terras e

não aos colonos (STECA; FLORES, 2008, p.139).

Fazia parte também da colonização dirigida estabelecer o perfil do colono.

Já que partiam do princípio de que a região era deserta foram buscar migrantes e

imigrantes para serem os ocupantes dessas terras. Estes, deveriam adquirir as

terras por meio da compra e habitar os núcleos urbanos para garantir o

desenvolvimento do comércio (STECA; FLORES, 2008, p. 139).

Neste sentido, segundo Oberdiek (1997, p. 18),

[...] a região havia tido as concessões e algumas famílias estavam instaladas, e outros habitantes estavam como posseiros. Ademais, havia índios que eram os habitantes naturais. Tanto estes como aqueles não eram considerados proprietários da terra, ou seja, não haviam comprado (1997, p. 18).

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Para Steca e Flores (2008, p. 139), “a condição estabelecida para conseguir

a escritura de posse era a ocupação efetiva da terra, que muitas vezes seria paga

com o cultivo. Mesmo nos terrenos urbanos havia o compromisso da construção de

casas num curto espaço de tempo”.

A exploração da madeira permitiu que os lavradores sem posses, ao

adquirirem lotes, se mantivessem até as primeiras colheitas, além de possibilitar a

construção de casas e de outras benfeitorias. Já havia na época, uma preocupação

com relação à preservação de 10% das matas, mas a falta de fiscalização, tanto por

parte da Companhia quanto do poder público, favoreceu ao não cumprimento da lei

(STECA; FLORES, 2008, p. 139-140).

Não se desejava então, com o projeto de colonização, que aqui viessem

trabalhadores, mas sim compradores. O lucro da venda da terra teria que ser

garantido. A chance de ser dono dos lotes originava a força-de-trabalho necessária.

O pequeno produtor comprava suas terras a prestações, tornando-a rentável com o

seu trabalho, acreditando estar produzindo divisas apenas para si, enquanto que, na

verdade, tornava produtiva toda uma região e é claro, beneficiava os responsáveis

pelo projeto de colonização. A Companhia vendia as terras com prazos de

pagamento parcelados para até quatro anos. O que atraía os compradores para a

região, também, era o baixo preço das terras (STECA; FLORES, 2008, p. 140).

Segundo Pedro Callil Padis (1981, p. 126):

A Companhia de Terras Norte do Paraná, adquiriu as suas glebas do Governo do Estado, à razão de 20 mil Réis por alqueire paulista, em 1925. Quinze anos depois, em 1940, ela os vendia à razão de 500 mil Réis. Uma década depois, 1950, o preço por alqueire não ia além dos 10 mil cruzeiros, ou seja, cerca de quinze vezes o salário mínimo fixado para a região norte-paranaense e oito vezes o estabelecido para a cidade de São Paulo (PADIS, 1981, p. 126).

A produção exigia pouco capital e era comum a mão-de-obra ser apenas

familiar. As terras ficavam sempre de fundo para um riacho e de frente para uma

estrada. Isso facilitava o escoamento da produção. Produzia-se algodão, milho,

feijão, arroz, cana-de-açúcar, rami, amendoim etc.. O cultivo desses produtos já

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estava previsto nos contratos de trabalho com o colono de café. Enquanto o café

crescia, comercializavam-se os demais produtos (STECA; FLORES, 2008, p. 141).

Assim, pode-se dizer que a Companhia de Terras Norte do Paraná – CNTP,

que organizou o processo de colonização; o Governo do Estado, o qual permitiu tal

processo; os pioneiros, os quais enriqueceram, e os migrantes e imigrantes,

responsáveis pela realização do trabalho, fizeram parte no processo de colonização

do Norte Novo.

2.1.3 O Café

Existem relatos comprovando que desde 1801, o café já se encontrava na

lista de produtos exportados pelo Paraná, eram remetidas algumas arrobas para o

Rio de Janeiro. No entanto, essa produção fazia-se em pequena escala. O café

começou a ganhar impulso no Paraná a partir da década de 1860, quando

fazendeiros paulistas ocuparam algumas porções do Norte Paranaense, na região

do rio Itararé. Inúmeras frentes pioneiras de fazendeiros e proprietários isolados

vieram com suas famílias se instalarem espontaneamente no Paraná, que na época,

não tinha uma boa estrutura e era cercado por florestas e animais silvestres (BRAZ,

2002, p. 13).

O Norte do Paraná, por possuir a fertilíssima terra roxa (de origem

vulcânica), um clima favorável e obtendo uma liberdade na produção, pelo regime de

quotas (ou prestação) que foi imposto aos outros Estados, aos poucos foi

desenvolvendo e expandindo a cultura cafeeira nesta região. Os produtores sabiam

que as raízes do café precisavam de solos férteis e profundos e o nosso Estado era

ideal (BRAZ, 2002, p. 13).

Segundo Braz (2002, p. 13), “o Paraná se expandia e a região Norte era

desbravada e ocupada, houve a ocupação espontânea e a dirigida, feita pelo

governo e as companhias colonizadoras”.

Continuando e ampliando o domínio cafeeiro, surgia o chamado Norte Novo,

sendo a região caracterizada pela existência de um clima ameno, terra roxa e

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vegetação formada pela mata tropical. Matas ora baixas, ora altas, com árvores de

tamanhos enormes em conseqüência da fertilidade do solo (BRAZ, 2002, p. 13).

Com uma terra porosa, úmida, sem rochas e de boa profundidade, o Norte

Novo foi ocupado entre 1920 e 1950. A colonização ocorreu de Cornélio Procópio

até o rio Ivaí. Tiveram grande influência as companhias colonizadoras, como a

Companhia de Terras Norte do Paraná. O Norte Novo apresenta na atualidade

cidades muito bem desenvolvidas como Londrina, Maringá, Apucarana, Arapongas

entre outras (BRAZ, 2002, p. 13).

2.1.4 Economia Cafeeira Antes da Geada

Para tanto vamos expandir nossos conhecimentos sobre o Estado do

Paraná, especificamente sobre a região norte e sua economia cafeeira, que foi uma

das maiores produtoras deste produto no Brasil nos períodos de 1950 a 1975.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o fim das proibições de plantio em decorrência das geadas, a quantidade de pés de café plantados atingiram o patamar de 160 milhões, sendo que 99,83% encontravam – se na região norte. A produção aumentou tanto que Londrina foi denominada Capital Mundial do Café, pelas belezas dos cafezais, dada a fertilidade do solo, gerando muitas riquezas para a região (STECA, FLORES, 2008, p. 1997).

Em Mandaguari, norte do Paraná, na agricultura o interesse maior era o

cultivo do café, devido à excelente qualidade da terra. Entretanto, outras culturas se

faziam ao lado da cultura cafeeira, pois o feijão, o arroz, o milho, o algodão e a

batata, a princípio eram cultivadas apenas para a subsistência das famílias, sendo

que posteriormente, começou a ser produzida para fins comerciais.

Das terras cultivadas com extensas plantações de cafezais podemos

destacar tanto pela sua riqueza, como pela exuberância dos pés de café as

seguintes plantações: fazenda Dourado, de Manuel Garcia; fazenda São Paulo, de

10

Julio Meneguete; fazenda Monte Alegre, de Ezequiel José da Silva; fazenda

Rochedo, de Antonio Munhoz Diana; fazenda São Pedro, de Geraldo Miraque;

fazenda Santo Antonio, de João Mancine e a fazenda de Olivio Valério, Santo

Antonio. Estas estavam localizadas na sede do Município, pois nos Distritos eram

inúmeras as fazendas (FONTES, BIANCHINI, 1997, p. 131).

Para se ter uma idéia da abundância da produção de café, em 1957 nossa

produção só foi suplantada por Colatina no Espírito Santo; São Manuel e

Fernandópolis em São Paulo; e Rolândia no Paraná.

De acordo com Fontes e Bianchini (1997, p. 131), “a produção cafeeira

correspondeu a 89% de toda a produção agrícola, com cerca de 14 mil toneladas

estimada na moeda da época em CR$ 523.200”.

O crescente comércio interior e exterior e em marcha para o oeste, como um

grande desbravador aponta o café. Segundo Wachowicz (1972) o crescimento da

cafeicultura transformou essa região, em centro de atração de pessoas: brasileiros e

estrangeiros, em direção ao Paraná, transformando-o em ponto de encontro de

todas as gentes, atraídos pela riqueza do ouro verde, o qual comandava o

desenvolvimento do Estado, criando cidades, abrindo estradas, expandindo

ferrovias.

2.1.5 Economia Cafeeira Após a Geada

Quando observamos as dificuldades meteorológicas da região, imaginamos

os obstáculos encontrados por esses pioneiros desbravadores para sobreviver, mas

por meio de uma determinação, eles nunca desanimaram, mas, em 1975, a Geada

Negra começou a ampliar o perfil econômico da região.

Vejam o que disse o ex-governador Jaime Canet Junior e o ex-presidente

Ernesto Geisel ao sobrevoar a região de Londrina, Maringá e Umuarama, dizimadas

pela geada de 1975, assistindo com tristeza a morte e a esperança entre os

produtores: ““Está tudo perdido”, sentenciaram os dois governantes com os pés já

em terra firme, mas abalados pela contestação” (Folha de Londrina, 2010).

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Segundo Roberto Bondarik (2010), “em 18 de Julho de 1975, há trinta e

cinco anos, ocorria a Geada Negra, que erradicou a cafeicultura no Estado do

Paraná”. Bondarik (2010) explica que “naquela ocasião muitos não tiveram

discernimento da amplitude dos problemas causados e das conseqüências que

seriam geradas por esta geada, talvez ainda hoje muitos ainda não tenham essa

compreensão”.

De acordo com Bondarik (2010),

revistas e jornais daqueles dias mostram o frio europeu que atingiu o sul do Brasil. Em Curitiba ainda se relembra e comemora a neve daquela ocasião. No norte, onde o café era a principal atividade econômica, o frio intenso assumiu ares de tragédia [...]. Haviam ocorrido geadas fortes em 1963, 1964 e 1966, prenúncios da maior de todas. No dia seguinte, a Folha afirmava que os cafeicultores estavam de luto, mas os órfãos, a história mostra isso, eram a população do Norte, em especial os colonos, os pequenos proprietários, os comerciantes, as cidades, todos aqueles que se relacionavam direta ou indiretamente com a cafeicultura. Foram todos atingidos em seu modo e no seu estilo de vida, tivemos de reaprender a viver (BONDARIK, 2010).

“Um verdadeiro cataclismo”. Assim noticiaram os jornais da época a respeito

da geada negra que se abateu sobre o Norte do Paraná, dizimando cerca de 850

milhões de pés de café e mudando definitivamente as configurações econômicas de

Londrina e região (CAMARGO, 2010).

Segundo Mariana Camargo (2010), foi a maior geada de que se tem notícia

no Brasil. O fim dos cafezais resultou, ao longo dos anos seguintes, em um dos

maiores êxodos populacionais ocorridos no Brasil e um dos maiores do mundo.

Portanto, a economia cafeeira teve um longo período de duração, mas a

partir de 1975, o ciclo do ouro verde começou a dividir espaço com novas atividades

produtivas. Nesse sentido o historiador Ruy Cristovam Wachovicz (1995) escreve:

Os agricultores preferiram não se expor mais as perdas intermitentes com o café. Deu-se maior ênfase ao soja, ao trigo e a pecuária. Com isso, a região começou a perder parte de sua população. O café sempre exigiu uma numerosa mão-de-obra, que começou então migrar para centros urbanos

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do Estado ou para outras unidades da federação (WACHOVICZ, 1995, p. 263).

Concluindo, a partir de 1975, nasceu um novo Norte Paranaense, mais

urbano, mas seu poderio econômico vive até hoje um perfil diferente, mais

diversificado em termos de produção agrícola, uso de novas tecnologias, mas nunca

deixando ser um celeiro de alimentação para nós que vivemos no Paraná, para

muitos brasileiros e até ajudando a alimentar uma parte da população mundial.

2.1.6 Monocultura

Historicamente, no Brasil, a agricultura se desenvolveu com base na

monocultura e no latifúndio. Prova disso são as diversas atividades desenvolvidas,

em especial o cultivo da cana-de-açúcar, do café, e a partir do século XX, da soja,

da laranja, etc..

De acordo com a Enciclopédia Encarta (2001), Monocultura é

a utilização da terra com uma só cultura permanente. Sua prática determina uma série de efeitos negativos sobre a estrutura do solo, como a diminuição da produtividade a longo prazo, em virtude da intensificação do processo de erosão do solo e dos riscos de enchente (ENCARTA, 2001).

A monocultura de cana-de-açúcar no Nordeste e do café no Sudeste,

associada à grande propriedade rural e ao escravismo, foi o sistema predominante

no Brasil. Embora as relações de trabalho e a estrutura de produção tenham

evoluído, a monocultura ainda imprime fisionomia especial a extensas áreas rurais

brasileiras (ENCARTA, 2001).

De acordo com Taís Andrade (2011), “no Norte do Paraná predominam as

monoculturas comerciais de algodão, cana-de-açúcar, e principalmente soja, laranja,

trigo e café. A erva-mate, produto do extrativismo, é também cultivada”.

13

A mecanização e a introdução da monocultura aumentaram o tempo livre da

família, os períodos de ociosidade. Houve, em função disso, alterações nos horários

de trabalho, um aumento no tempo de lazer, uma redução da importância do

trabalho feminino nos serviços agrícolas, uma elevação do nível de escolarização

dos filhos, urbanização e proletarização dos jovens (PERSGRI II, 1981, p. 45).

Ocorreram mudanças na organização produtiva do grupo familiar. Houve

casos de famílias que apresentaram diferentes divisões de trabalho em que parte da

família se dedicava ao trabalho no próprio estabelecimento rural e outra parte se

dedicava a atividades na cidade como o assalariamento, ou dedicação a pequenos

negócios particulares. Neste caso, tudo indica que estava se dissolvendo, pelo

menos temporariamente, a coincidência entre unidade de produção e unidade de

consumo que tradicionalmente caracterizava a exploração familiar dos colonos. As

transformações na divisão interna do trabalho, provocadas pela introdução da

máquina, fizeram com que a unidade familiar fosse cada vez mais reduzida a uma

unidade de consumo, como ocorre, freqüentemente, na organização urbana do

trabalho (GREGORY, 2002, p. 228).

2.1.7 Êxodo Rural e Migração

No século XX o Paraná conheceu um grande aumento demográfico por

mérito das possibilidades que o Estado oferecia. Não obstante, estimativas recentes

mostram que houve, nas décadas de 80 e 90, uma estagnação nesse crescimento.

E a população que se concentrava no campo está partindo para as cidades,

ocasionando um enorme êxodo rural, que se mantém acelerado. (BRAZ, 2002, p.

77)

De acordo com Braz (2002, p. 77), “esse fenômeno vincula-se às profundas

transformações que mudaram o panorama do Estado e à passagem do Brasil a um

país urbano industrial”.

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Braz (2002, p. 77) ainda salienta que “pesquisas apontam que até o final do

século, mais da metade da população mundial viverá em cidades e que as

concentrações urbanas se expandirão”.

Durante as últimas décadas do século 20, o Paraná conheceu um êxodo

rural muito grande em virtude, principalmente, do crescimento das modernas

atividades agroindustriais ligadas à produção de soja e trigo. Altamente

mecanizadas, estas atividades exigem bem menos mão-de-obra do que outras

culturas mais tradicionais, como a do café, por exemplo (BRASIL, 2005, p. 32).

O resultado mais imediato foi o crescimento urbano e a mudança do perfil

das cidades, que viram suas indústrias e serviços prosperarem (BRASIL, 2005, p.

32).

Pode-se assim compreender de forma clara que com a diminuição da

produção do café, novos problemas surgiram como, por exemplo: o crescimento

desordenado das médias e grandes cidades de pequenos produtores que venderam

suas propriedades e tentaram uma forma de ganhar a sobrevivência como

assalariado. Neste sentido o historiador Sérgio Odilon Nadalin (2001, p. 87) observa

que dessa forma “explica-se o grande êxodo rural, fruto das transformações nas

estruturas agrárias do norte do Paraná, ocasionando um fenômeno relativamente

recente de migrações internas, que refletem na urbanização”.

O Estado do Paraná sofreu profundas mudanças, principalmente no período

de 1975 a 1991 e mais precisamente na zona rural. A mecanização agrícola

provocou o esvaziamento do campo, especificamente nas áreas de terras férteis e

propícias à mecanização.

O Norte do Paraná, tomado pela cafeicultura, viu esta lavoura perecendo

com as geadas, ferrugem e outros males e também sentiu o grande êxodo rural. Os

estudiosos e o censo populacional constatam que mais de 267.000 moradias foram

fechadas na zona rural e grande parte dessas propriedades rurais foi anexada em

outras propriedades. Praticamente 1/3 da população paranaense passou pelo

fenômeno da diáspora.

Migração é de acordo com a Enciclopédia Encarta (2001), o “deslocamento

de pessoas de um lugar para outro, geralmente motivado por dificuldades

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18

2.1.9 Diversidade Econômica no Campo

Ao iniciar-se a década de 1960, mesmo com o crescimento da indústria

madeireira, a base agrícola passou a ser dominante na região. Esta assumiu, ao

longo da década de 1960, o primeiro lugar na produção de milho e criação de suínos

no Paraná, diversificando sua produção com a introdução de outras culturas, tais

como mandioca, feijão, trigo, soja e mesmo o café, ainda que em escala bem menos

significativa para o contexto microrregional (PERIS, 2003, p. 108).

No Paraná, nos setores de produção da economia mercantil e da economia

de subsistência, onde ambos empregaram uma população economicamente ativa, o

trabalho escravo foi essencial (SANTOS, 2001, p. 68).

Durante o século XX, a diversificação econômica do país tirou do setor

cafeeiro o mando político exclusivo, exigindo governos que articulassem,

democraticamente ou ditatoriamente, novas forças políticas alicerçadas em outros

setores da economia. As classes médias urbanas, os militares, a burguesia foram

reivindicando e ocupando espaços econômicos, culturais e políticos em articulação

com oligarquias regionais. Esta diversificação se manifestou de formas diferentes

nas diversas regiões. Na região Sul, os eurobrasileiros foram conquistando espaços

em conseqüência da criação e do desenvolvimento de colônias. Ou seja, houve uma

redistribuição espacial do poder e da economia no Brasil. Alguns destes novos

espaços, no caso do Sul, seriam ocupados e criados pela população migrante

(GREGORY, 2002, p. 65).

Segundo Braz (2002, p. 74), “durante a década de 70, praticamente todo o

espaço territorial paranaense disponível estava sendo ocupado e o procasso de

expansão agrícola diversificava-se cada vez mais, completando pelo domínio

agrícola vastas regiões do Estado”.

O café, que movimentou de forma esplêndida a economia do Paraná, perdia

sua elevada posição e com isso aumentavam as culturas da soja, do feijão, do

milho, do trigo e do centeio. Era crescente a produção de leguminosas e de grãos,

muitas vezes direcionadas para exportação. O clima e o solo paranaense também

favoreciam a fruticultura, sejam as frutas tropicais como a banana, o abacaxi, a

19

laranja, o limão, a manga sejam as frutas de clima mais frio e temperados como o

caqui, o figo, a castanha, a maçã, o pêssego, a uva entre outras (BRAZ, 2002, p.

75).

Com o desenvolvimento do Município de Mandaguari, norte do Paraná, e

consequentemente o seu desmembramento, outros interesses na agricultura

surgiram. A Área cultivada, além do café, com 17.000 ha, havia o arroz com casca

5.000 ha, o feijão com 1*500 ha, a batata com 200 ha, o milho 2.800 ha, e outros

produtos tais como: o trigo, a banana, o pêssego, a tangerina, a laranja, o abacate, a

mandioca, a batata doce, cana-de-açúcar, manga, abacaxi, alfafa, cebola, limão,

maçã, melancia e tomate (FONTES, BIANCHINI, 1997, p. 131).

2.1.10 Reforma Agrária

Em Mandaguari, norte do Paraná, quando o povoado ainda era conhecido

por seus primeiros moradores como o povoado Vitória, a região era extremamente

rica, tanto na qualidade das terras, como também do clima e coberta por uma mata

virgem, riquíssima em madeiras de lei.

Segundo Fontes e Bianchini (1997, p. 129), “em conseqüência da

abundância da madeira, as serrarias começaram a surgir e com elas a concentração

de grupos grandes de pessoas, que geralmente era necessário para seu

funcionamento”.

A extração de madeiras desenvolveu-se de imediato, e as serrarias foram

implantadas de Mandaguari até as barrancas do rio Paraná, ao lado de uma

agricultura que ia nascendo nos lugares da mata, era a cultura de café, que no auge

de seu esplendor tomou o nome de “ouro verde” (FONTES, BIANCHINI, 1997, p.

129).

No tocante à reforma agrária, a Enciclopédia Encarta (2001), conceitua a

reforma agrária como sendo “a redistribuição da propriedade da terra, promovida

pelo Estado, em benefício dos lavradores sem terra ou com terras insuficientes”.

20

A partir de 1942, a questão agrária começou a ser discutida com ênfase e

tida como um obstáculo ao desenvolvimento do país. Mas não foi aprovada

nenhuma lei que introduzisse alterações de importância no regime jurídico da posse

e do uso da terra (ENCARTA, 2001).

No final da década de 1950, os debates ampliaram-se com a participação

popular. Em 1962, foi criada a Superintendência de Política Agrária (SUPRA), com a

atribuição de executar a reforma agrária (ENCARTA, 2001).

Em 13 de março de 1964, o presidente da República assinou decreto

prevendo a desapropriação, para fins de reforma agrária, das terras localizadas

numa faixa de 10 km ao longo das rodovias, ferrovias e açudes construídos pela

União. Mas, em 31 de março de 1964, o presidente da República foi deposto, tendo

início o ciclo dos governos militares, que duraria 21 anos (ENCARTA, 2001).

Em novembro de 1964 foi aprovado o Estatuto da Terra, que se constituiu na

primeira proposta articulada de reforma agrária, feita por um governo, na história do

Brasil. Entretanto, no final de 1994, o total de famílias beneficiadas pelo governo

federal e pelos órgãos estaduais de terra, em projetos de reforma agrária e de

colonização, foi da ordem de 300 mil (ENCARTA, 2001).

De acordo com Dias e Gonçalves (1999, p. 157),

a partir desses movimentos e de seus órgãos de representação, os trabalhadores rurais conquistaram um espaço maior no cenário social, ampliando o debate político acerca de questões fundamentais, como por exemplo, a reforma agrária, a extensão da legislação social trabalhista para o campo, as condições de trabalho e de vida, relações de trabalho, preços e política agrícola, entre outros (DIAS, GONÇALVES, 1999, p. 157).

Assim, o Norte do Paraná – região integrada social e economicamente ao

restante do Brasil, sobretudo devido ao grande contingente populacional de

imigrantes, de diversos Estados do país, que aqui aportava e à produção de café,

principal produto de exportação no período – também se viu envolvido nessa

efervescência política e social dos anos 50 e 60. O surgimento do sindicalismo rural

de orientação comunista, a impetração de ações trabalhistas na Justiça do Trabalho

21

e a proliferação greves nos sítios e fazendas de café marcaram o período (DIAS,

GONÇALVES, 1999, p. 157-158).

3 Metodologia

Trata – se de uma proposta de trabalho como parte integrante do programa

Plano de Desenvolvimento Educacional – PDE, realizado no Estado do Paraná, na

Universidade Estadual de Maringá em 2010 e 2011.

O desenvolvimento desta proposta deu – se através das seguintes

atividades para a produção deste artigo que foram: a elaboração do projeto de

intervenção pedagógica juntamente com leituras, a elaboração da produção didático-

pedagógica, a participação, elaboração e a realização do GTR contribuindo com

discussões sobre o assunto em questão e a implementação da produção didático-

pedagógica na escola.

A presente pesquisa de campo desenvolvida por alunos do 2º ano do Curso

de Administração (ADM) e aplicada à população de Mandaguari no período de

Agosto a Dezembro de 2011. Com este trabalho de pesquisa os alunos puderam ter

um conhecimento dos efeitos que a geada de 1975 trouxe para a sociedade de

Mandaguari.

4 Implementação na Escola

A implementação foi desenvolvida no período de Agosto a Dezembro de

2011, no Colégio Estadual “Vera Cruz” – Ensino Fundamental, Médio, Profissional e

Normal de Mandaguari – PR. Envolvendo os alunos do 2º ano Técnico em

Administração (ADM) do período da manhã.

Esta implementação foi dividida em cinco ações que foram criadas para o

Projeto de Intervenção utilizando todo o aprendizado ocorrido ao longo das

22

pesquisas e das participações em cursos específicos e encontros de área, inserção

acadêmica, seminários, encontros de orientação obtido através do orientador da

UEM. Com a utilização do Material Didático elaborado “Caderno Temático”,

composto em três Unidades Temáticas.

O professor teve relevância satisfatória com o tema proposto para atender

os problemas da realidade escolar. Com excelente articulação com a Equipe

Pedagógica, Equipe Gestora, Professores e com os outros segmentos envolvidos na

execução das ações de implementação da proposta na Escola.

Houve por parte do professor PDE o compromisso com a implementação

das ações previstas nesta proposta e também iniciativas na busca de soluções para

os entraves encontrados e sanados por ele. Cumpriu totalmente o cronograma

estabelecido pelo professor PDE, contribuindo totalmente com a proposta de iniciar

uma reflexão sobre a transformação na área a qual o professor fez sua

implementação, com excelentes resultados alcançados pelo professor.

4.1 Ações Realizadas

No mês de Agosto (ação nº 1) houve a apresentação do projeto e

informações gerais sobre os temas a serem desenvolvidos em sala de aula. Início de

pesquisa de campo, com acompanhamento da equipe pedagógica do colégio.

Ainda neste mês foi feita a exibição do documentário “Geada Negra” de

Adriano Justino, Trailer e venda disponível no site Geada Negra

(www.geadanegra.com), com a finalidade de que os alunos entendessem o que é

uma geada – fenômeno que ocorreu no Paraná –, e que trouxe consequências

graves a toda população. Isso permitiu a ampliação do senso crítico dos discentes,

notado nas discussões orais.

Em Setembro (ação nº 2 e 3) os alunos fizeram trabalho de campo:

entrevistas com moradores da cidade que viveram este momento, entre eles:

cafeicultores, comerciantes, bóias frias, migrados, porcenteiros e outros e

conheceram a razão que levou muitos moradores de Mandaguari a deixarem a zona

23

rural a irem para outros centros urbanos. Fizeram também atividades desenvolvidas

no laboratório de informática e contaram com depoimentos de moradores da cidade.

Em Outubro (ação nº 4) os alunos conheceram o processo de migração e

êxodo rural no município, baseando-se nos levantamentos de dados pesquisados na

ação nº 1.

Fizeram também reflexões sobre a História Regional, usando para isso as

pesquisas realizadas por eles e discutiram-se questões como: monocultura, êxodo

rural, mecanização da agricultura e diversidade econômica.

Por fim, no mês de Novembro (ação nº 5) os alunos fizeram as

apresentações das atividades propostas no decorrer do período na forma oral,

sempre acompanhadas pelo coordenador do curso, o professor Lincoln Tutida. Para

isso, os alunos utilizaram alguns recursos midiáticos, como: internet, TV pendrive e

outros.

Com o término do trabalho os alunos puderam concluir que a partir de 1975

nasceu um novo município mandaguariense, mais urbano e com um poderio

econômico maior, diversificando a produção agrícola e também surgiu um perfil de

industrialização.

4.2 Relatos das Ações e Resultados Alcançados

O professor fez a apresentação do projeto falando sobre as informações

gerais e os temas que seriam desenvolvidos em sala de aula, falando sobre sua

importância e seu desenvolvimento no decorrer de sua implementação. E que a

pesquisa de campo seria acompanhada pelo professor e a equipe pedagógica no

desenvolver do trabalho.

Em seguida o professor fez uma sondagem que busca identificar o que o

aluno conhece sobre a história do Paraná e o que ele pretende saber sobre a

mesma, onde o professor percebeu que eles não tinham conhecimento sobre o fato,

isto é, apenas alguns haviam demonstrado ter algum conhecimento sobre o fato,

24

mas todos demonstraram muito interesse sobre o acontecido, isso facilitou o início e

desenvolvimento do projeto.

Dando continuidade a implementação o professor fez uma introdução sobre

a história do Paraná e a importância de se estudar a história do nosso Estado,

refletindo então sobre a atualidade e o que já passou sendo uma das formas de

entender a nossa história. Houve participação oral dos alunos e criação de painel

sobre o assunto.

Em seguida o professor fez a exibição do documentário “Geada Negra” onde

os alunos acompanharam com muita atenção. Após o término, fizeram debate e

relatório sobre o assunto, onde puderam conhecer sobre a “Geada Negra”. Com a

finalidade de que os alunos entendessem o que é uma geada – fenômeno que

ocorreu no Paraná –, e que trouxe consequências graves a toda a população. Isso

permitiu a ampliação do senso crítico dos educandos, notado nas discussões orais.

Iniciando a segunda ação o professor desenvolveu atividades de pesquisa

no laboratório de informática e o trabalho de campo, onde os alunos fizeram as

entrevistas com os moradores da cidade que viveram este momento, entre eles:

cafeicultores, comerciantes, bóias frias, migrados, porcenteiros e outros. Com estas

entrevistas com moradores de Mandaguari eles tiveram a oportunidade de conhecer

o ocorrido em 18 de julho de 1975, por intermédio das próprias pessoas que viveram

esse drama da “Geada Negra”, conhecendo também a razão que levou muitos

moradores de Mandaguari a deixarem a zona rural e irem para outros centros

urbanos, conforme textos e partes de textos de depoimentos de pessoas

entrevistadas, citados abaixo:

“No ano de 1970, minha família veio morar em Mandaguari, com o objetivo

de trabalhar na lavoura de café. Mudamos para uma propriedade na Vila Vitória que

já tinha em plena produção três mil pés de café da qualidade Mundo Novo. Nossa

família composta por meus pais e mais três irmãos era suficiente para tocar o

cafezal durante o processo de adubar, de fazer a ruação e esparramar a ruação,

porém, na colheita tínhamos que chamar mais pessoas para ajudar, em média de 20

a 30 pessoas. Necessitávamos de escada para colher o café e isto dificultava

bastante o processo de colheita, além de sempre ter que deixar pessoas cuidando

do terreiro para a secagem do café.

25

Toda a alegria se acabou em uma manhã, no dia 18 de julho de 1975. A

geada que atingiu praticamente todos os cafezais da região não foi diferente com o

nosso, sem podermos fazer nada ou mesmo estávamos preparados para tentar

minimizar os efeitos da geada. Vimos no dia seguinte uma camada de gelo sobre o

solo no meio do cafezal como jamais tínhamos visto. No período da tarde do mesmo

dia já era percebido pelas folhas amarronzadas que o café e muitas outras plantas

estavam queimadas e foi muito agonizante aguardar alguns dias para entender o

tamanho do estrago feito por aquele fenômeno. Nossa única fonte de renda tinha

que ser arrancada por completo e plantar um novo cafezal significando quatro anos

sem receitas.

Meu pai rapidamente fez com que meus irmão buscassem serviço na

cidade, ficando apenas eu e ele para iniciar um novo plantio e também diversificar as

atividades da propriedade, plantando milho, feijão e arroz, e posteriormente a

montagem de uma granja de porcos pelos meus tios na propriedade” (Relato de

Alfredo Mauro dos Santos).

“Em julho de 1975, naquela manhã não fomos a escola. O frio era muito

intenso. Nossas camas eram de madeira e os colchões eram de palha de milho

rasgadas e lavadas. Os lençóis eram de sacas de açúcar alvejados, todos bem

branquinhos os cobertores eram de sacas de café sem condições de uso que depois

de lavados com soda eram costurados um sobre o outro e encapados com tecido

chamado chitão, muito colorido e alegre.

Lembro a voz de minha avó que morava conosco dizendo: “Lá fora ta tudo

branco” e isso ainda eram 5 horas da manhã e meus pais não deixaram as crianças

saírem da cama. Quando levantamos e olhamos pela janela de madeira, vi algo que

nunca tinha visto antes, tudo coberto de gelo, branco, muito branco. Na euforia

saímos para caminhar no gelo, a camada de gelo tinha mais de 10 cm de altura e a

cada passo ficavam nossas pegadas no gelo. O sol demorou a sair naquele dia e

tudo que estava branco começou a ficar preto, conforme o dia ia passando.

Frio, fazia muito frio. Durante dias se podiam encontrar pedras de gelo nas

caixas de água na beira do carreador. A perda foi muito grande. Todas as folhas

verdes sumiram; tudo ficou preto, até as folhas das laranjeiras e bambu que nunca

caíam com o frio. Queimou tudo, nada ficou verde. As famílias que tinham acabado

26

de realizar a colheita do café sabiam que seria a última por muito tempo. Foi um final

de ano muito triste.

Todo o café teve de ser arrancado, não tinha comida para o gado e animais

de monta, o alimento dos animais teve de ser racionado até acontecer a brota do

capim.

Foram tempos difíceis, pois a maioria das pessoas não dispunham de capital

para reestruturar suas propriedades. A cultura predominante de nossa região era o

café e seu tempo de produção é muito longo, na época até 5 anos para a primeira

safra. Os agricultores tinham que ter capital para arrancar o café, produzir as novas

mudas e cultivá-las até o plantio. Lembro-me que na época o governo financiou para

a segunda colheita um trator e um caminhão para cada propriedade rural, e meus

pais fizeram esse financiamento, foi onde conseguimos plantar novamente o café,

mas muitos de nossos vizinhos não tiveram a mesma perseverança e acabaram

perdendo suas propriedades. Lembro-me que na época tínhamos muitos vizinhos e

que aos poucos fomos ficando isolados de vizinhança porque eles se mudaram uns

para a cidade outros para outros estados como, por exemplo, o Mato Grosso.

Foram praticamente dez anos de dificuldades, minha família conhecia bem a

cultura do café, mas teve de sobreviver da chamada lavoura branca que em

qualquer intempérie se perde.

Permanecemos ainda 30 anos no sítio, mas as geadas sempre aconteciam

prejudicando os cafezais, mas não tão forte quanto foi a geada de 1975” (Relato de

Marlene Bergamo).

“Ao amanhecer do dia 18, não sobrou um galho das lavouras de café sem

ser afetados pela geada. Em pouco tempo a região já estava repensando a cultura

que ali deveria ser produzida, pois o café tornou-se produção impossível uma vez

que, naquela época, demoraria no mínimo três anos para refazer o cafezal usando o

mesmo tronco. Se optassem por um novo plantio, a demora seria de

aproximadamente seis anos, o que tornaria inviável por se tratar de solo arenoso.

A mais importante decisão tomada por alguns agricultores da região foi

substituir o café pela soja ou pastagem. Outros venderam suas propriedades e

mudaram-se para os centros urbanos. Aos poucos a região que comportava

27

centenas de pequenos proprietários passou a ser dominada por alguns latifundiários

que já possuíam fazendas próximas da região.

No lugar de famílias que trabalhavam e produziam além do café, alimentos

do costume brasileiro, surge à mecanização, forma de atividade que eliminou mão

de obra e em seu lugar adotou o trator, a colheitadeira ou uma família que cuidava

do gado quando a propriedade optava pela pastagem.

Assim sendo, a população rural paranaense que era em torno de 70% sofreu

uma inversão: desabitou-se a área rural e esse público acumulou-se nas periferias

das cidades mais importantes, construindo as favelas ou os bairros periféricos.

Talvez, por essa razão, mais de 80% da população regional esteja hoje disputando o

pouco espaço urbano de nossas cidades.

O êxodo rural foi o elemento marcante como conseqüência da geada de 18

de julho de 1975” (Relato de José Natal de Oliveira).

Após estas pesquisas e entrevistas feitas com moradores de Mandaguari os

alunos tiveram a oportunidade de conhecer o ocorrido em 18 de julho de 1975, e

com este fato baseando-se nos levantamentos de dados e nas ações anteriores, os

alunos conheceram e discutiram questões como: monocultura, êxodo rural,

mecanização da agricultura e diversidade econômica ocorrido no Município de

Mandaguari, fazendo reflexões sobre a história regional por meio das pesquisas

realizadas pelos alunos.

As apresentações das atividades propostas no decorrer do período foram de

forma oral, sempre acompanhadas pelo coordenador do curso, o professor Lincoln

Tutida, onde os alunos utilizaram alguns recursos midiáticos como: internet, TV

pendrive e outros.

Ao terminar esta implementação os alunos construíram seu conhecimento

sobre o ocorrido em 1975 e conheceram, assim, parte da história do Norte do

Paraná, assim como a importância que o café trouxe para a região em termos

econômicos e sociais, e que um fenômeno natural no ano de 1975 transformou a

paisagem agrícola e a vida de muitas pessoas de forma drástica.

Terminando o trabalho os alunos puderam concluir que a partir de 1975,

nasceu um novo município mandaguariense, mais urbano e com um poderio

28

econômico maior, diversificando a produção agrícola e também surgiu um perfil de

industrialização.

5 Conclusão

Com esse trabalho pôde-se identificar a história do Paraná fazendo reflexões

sobre sua importância em nosso dia a dia e sobre a história regional, discutindo

questões como: monocultura, êxodo rural, migração, mecanização da agricultura,

diversidade econômica no campo e reforma agrária, ampliando o senso crítico dos

alunos em relação à população urbana e rural antes e depois da geada de 1975.

Pôde-se, também, identificar as conseqüências econômicas e sociais que a grande

geada de 1975 trouxe para a região noroeste do Paraná (Mandaguari) e a partir

desta assimilação compreender melhor a situação que vive a maior parte da

população paranaense que sofreram algum tipo de perda decorrente deste

fenômeno. O presente trabalho também oportunizou o conhecimento da produção

cafeeira do Município de Mandaguari até a atualidade e a verdadeira razão por que

muitos agricultores deixaram a zona rural e passaram a residir nos grandes centros

urbanos, gerando um grande contingente de mão-de-obra barata.

O trabalho aqui elaborado e implementado tem perfeita articulação entre o

objeto de estudo e sua fundamentação teórica e prática. Significa uma contribuição

relevante para a melhoria da qualidade da educação pública paranaense, na área de

História. Pela sua clareza e consistência, este trabalho tem perfeitas condições de

ser utilizado como material didático nas escolas paranaenses. Assim, contribui

totalmente com a proposta de iniciar uma reflexão sobre a transformação nessa área

que o professor fez sua pesquisa, alcançando excelentes resultados.

Por fim, o desenvolvimento desta temática se faz necessário para

oportunizar aos docentes a compreensão da necessidade de diálogos e mudanças

para melhorar a ação docente e, assim, contribuindo no processo de ensino e

aprendizagem.

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