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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS A FARINHA DE MANDIOCA EM FEIRAS LIVRES DE SALVADOR-BA: PRÁTICAS DE COMERCIALIZAÇÃO, CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DE ALIMENTOS NAYARA CERQUEIRA MARQUES Salvador - BA Abril - 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FARMÁCIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS

A FARINHA DE MANDIOCA EM FEIRAS LIVRES DE

SALVADOR-BA: PRÁTICAS DE COMERCIALIZAÇÃO,

CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DE ALIMENTOS

NAYARA CERQUEIRA MARQUES

Salvador - BA Abril - 2014

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A FARINHA DE MANDIOCA EM FEIRAS LIVRES DE

SALVADOR-BA: PRÁTICAS DE COMERCIALIZAÇÃO,

CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DE ALIMENTOS

NAYARA CERQUEIRA MARQUES

Salvador - BA Abril - 2014

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NAYARA CERQUEIRA MARQUES

A FARINHA DE MANDIOCA EM FEIRAS LIVRES DE

SALVADOR-BA: PRÁTICAS DE COMERCIALIZAÇÃO,

CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DE ALIMENTOS

Orientadora: Profª Drª Ryzia de Cássia Vieira

Cardoso

Co-orientadora: Profª Drª Alaíse Gil

Guimarães

Dissertação apresentada à Faculdade de

Farmácia da Universidade Federal da Bahia,

como parte das exigências do Programa de

Pós-Graduação em Ciência de Alimentos,

para obtenção do título de Mestre.

Salvador - BA Abril - 2014

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FICHA CATALOGRÁFICA M357f Marques, Nayara Cerqueira. A farinha de mandioca em feiras livres de Salvador – BA:

práticas de comercialização, conservação e segurança de alimentos.

/Nayara Cerqueira Marques. - Salvador, 2014.

81f.; il

Dissertação (Mestrado em Ciências de Alimentos) -

Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Farmácia. Colegiado

de Pós-Graduação em Ciências de Alimentos. 2014.

Orientadora: Profª. Dra. Ryzia de Cássia Vieira Cardoso.

1. Farinha de mandioca. 2. Alimentos - Análise. 3. Alimentos -

Controle de qualidade. I. Cardoso, Ryzia de Cássia Vieira. II.

Universidade Federal da Bahia. III. Titulo.

.

CDD: 664.07 Biblioteca do Campus II / Uneb

Bibliotecária: Rosana Cristina de Souza Barretto. CRB: 5/902

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a DEUS, que me deu forças para seguir e conseguir chegar até o fim,

presença constante quando eu mais precisava.

Aos meus pais, por todo amor e dedicação, meu pai ESPEDITO, que sempre

compreensivo só me perguntava “quando você vem aqui, estou com saudades”, à

minha mãe VALDIRA, exemplo de coragem e determinação, sempre com palavras

de otimismo e muito amor, me fez sempre acreditar que tudo é possível, basta

acreditar!

A minha irmã LUCIANA, amor incondicional, pessoa que admiro muito.

Ao meu esposo, DJAIR, por compreender minha ausência e sempre me encher de

amor e carinho e obrigada pelas palavras de entusiasmo quando eu mais precisava.

À minha orientadora Profª Drª RYZIA CARDOSO, por sempre me receber de braços

abertos, escutar minhas dúvidas e sempre sana-las, profissional sempre

competente, em tudo que se dispõe a fazer.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, FAPESB, pelo apoio

financeiro.

Ao grupo de pesquisa SACIA pela troca de saberes.

Ao LAPESCA, que disponibilizou a utilização de seus equipamentos e

principalmente a técnica LUCIANE que sempre se mostrou prestativa, ajudando no

que era possível.

E Ao técnico do Laboratório de Bioquímica, LUÍS FERNANDES sempre disposto a

ajudar e a ensinar.

Aos professores do Mestrado em Ciências de Alimentos em especial a Profª Drª

ALAÍSE GUIMARÃES, sempre disposta a ajudar e compartilhar seu conhecimento

me recebeu no laboratório de MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS de braços abertos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL..............................................................................................13

OBJETIVOS...............................................................................................................15

GERAL.......................................................................................................................15

ESPECÍFICOS...........................................................................................................15

CAPÍTULO 01: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................16

1 Mandioca: origem, cultivo e dados de produção.....................................................17

2 O agronegócio da mandioca e a produção da farinha de mandioca.......................18

3 Farinha de mandioca: definição, classificação, processamento e legislação.........20

4 Consumo da farinha de mandioca...........................................................................22

5 Feiras livres: caracterização, importância e condição higiênico sanitária...............23

6 Segurança de alimentos e a cadeia produtiva........................................................26

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................28

CAPÍTULO 2: A FARINHA DE MANDIOCA EM FEIRAS LIVRES DE SALVADOR-

BA: PRÁTICAS DE COMERCIALIZAÇÃO, CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DE

ALIMENTOS..............................................................................................................33

RESUMO....................................................................................................................34

ABSTRACT................................................................................................................35

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................36

2 METODOLOGIA....................................................................................................38

2.1 Desenho de Estudo...................................................................................38

2.2 Delineamento experimental e aquisição das amostras.............................38

2.3 Coleta de dados com os vendedores........................................................39

2.4 Colheita de amostras.................................................................................39

2.5 Análises físico-químicas............................................................................39

2.6 Análises microbiológicas............................................................................40

2.7. Análises microscópicas.............................................................................42

2.8 Tratamento estatístico dos dados..............................................................42

2.9 Critérios de ética em pesquisa...................................................................42

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................44

3.1 Caracterização dos vendedores................................................................44

3.2 Caracterização dos pontos de comercialização da farinha de mandioca

nas feiras livres................................................................................................47

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3.3 Caracterização condições de conservação e comercialização da farinha

de mandioca nas feiras livres..........................................................................50

3.4 Atividade de Água (Aw).............................................................................53

3.5 Acidez........................................................................................................55

3.6 Microscopia – análise de contaminantes físicos........................................58

3.7 Análise Microbiológica...............................................................................61

4 CONCLUSÕES.......................................................................................................66

REFERÊNCIAS..........................................................................................................68

APÊNDICE A – Questionário vendedor..................................................................73

APÊNDICE B – Termo de Consentimento..............................................................78

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LISTA DE TABELAS

Capítulo 1 Tabela 1. Prevalência de consumo de farinha de mandioca (%), e o consumo alimentar médio per capita (g/dia) nas regiões brasileiras.........................................22 Capítulo 2 Tabela 1. Características socioeconômicas dos vendedores de Farinha de Mandioca nas feiras livres de Salvador-BA, 2013......................................................................44 Tabela 2. Perfil microbiológico (log UFC/g ou Presença) de amostras de farinha de mandioca obtidas em feiras livres fixas e móveis de Salvador, Bahia, Brasil. 2013............................................................................................................................62

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LISTAS DE ILUSTRAÇÕES Capítulo 1 Figura 1. Etapas do processamento da farinha seca de mandioca...........................21 Capítulo 2 Figura 1. Mapa de Salvador-BA com as marcações em amarelo para as feiras livres móveis e as marcações em azul para as feiras livres fixas. Fonte: Google Maps (adaptado), 2013........................................................................................................38 Figura 2. Distribuição (%) dos vendedores de farinha de mandioca, de feiras livres de Salvador-BA, quanto ao atendimento de requisitos de higiene pessoal, 2013............................................................................................................................46 Figura 3. Distribuição (%) dos tipos de ponto de venda pesquisados nas feiras livres fixas e móveis de Salvador-BA, 2013.........................................................................47 Figura 4. Ponto de venda de farinha, em feira móvel de Salvador-BA, 2013............................................................................................................................48 Figura 5. Distribuição (%) dos pontos de venda farinha de mandioca, em feiras livres fixas e móveis de Salvador-BA, quanto à infraestrutura, 2013..................................49 Figura 6. Presença de animais e lixo em feira livre de Salvador-BA, 2013............................................................................................................................50 Figura 7. Distribuição (%) dos feirantes, quanto aos cuidados adotados durante o armazenamento da farinha de mandioca, nas feiras livres de Salvador-BA, 2013............................................................................................................................51 Figura 8. Prática de exposição da farinha de mandioca, durante o período de comercialização, em feira livre de Salvador-BA. 2013...............................................52 Figura 9: Boxplot da atividade de água (Aw) de amostras de farinha de mandioca obtidas em feiras livres fixas e móveis, em Salvador-BA, 2013.................................53 Figura 10. Boxplot da Aw (atividade de água) de amostras de farinha de mandioca comum e tipo superior, obtidas em feiras livres fixas e móveis, em Salvador-BA, 2013............................................................................................................................54 Figura 11. Boxplot da acidez total titulável (meq NaOH/100g) de amostras de farinhas de mandioca obtidas de feiras livres fixas e móveis, em Salvador-BA, 2013............................................................................................................................55 Figura 12. Boxplot da acidez total titulável (meq NaOH/100g) de amostras de farinha de mandioca dos tipos comum e superior, obtidas em feiras livres fixas e móveis, de Salvador-BA, 2013.....................................................................................................57 Figura 13. Frequência (%) de contaminantes físicos nas amostras de farinha de mandioca de feiras livres fixas e móveis de Salvador-BA, 2013................................59 Figura 14. Frequência (%) de contaminantes físicos nas amostras de farinha de mandioca dos tipos comum e superior de feiras livres de Salvador-BA, 2013..........60 Figura 15. Imagens dos principais contaminantes físicos encontrados na farinha de mandioca comercializadas nas feiras livres de Salvador-BA: 1. Plástico; 2. Pelo; 3. Nylon e 4. Larva de inseto; 5. Madeira; 6. Fragmento de inseto, 2013......................61

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LISTA DE ABREVIATURA

Aw – Atividade de Água

E. coli - Esherichia coli

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LISTA DE SIGLAS

A.O.A.C.-Association of Official Analytical Chemists ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária APHA - American Public Health Association BA - Bahia FABESB - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento meq NaOH/100g - SPSS - Statistical Package for the Social Sciences UFC/ g - Unidades Formadoras de Colônia por grama

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RESUMO

A mandioca (Manihot esculenta, Crantz) constitui alimento básico para cerca de 800 milhões de pessoas, em todo o mundo. No Brasil, dentre os seus derivados, a farinha é um dos mais importantes. Considerando o largo consumo, bem como a expressiva produção e distribuição da farinha pelo setor informal, e o riscos associados a esta cadeia, este trabalho teve por propósito caracterizar a farinha de mandioca vendida em feiras livres de Salvador-BA, na perspectiva das condições de comercialização, da conservação e da segurança de alimentos. Foram aplicados 32 questionários, junto a feirantes de feiras livres fixas e móveis, e coletadas 62 amostras de farinha de mandioca - 46 do tipo superior e 16 comum. As amostras foram submetidas a análises microbiológicas, físico-químicas e microscópicas. Os resultados evidenciaram um perfil de feirante do sexo masculino, na faixa etária 41 a 60 anos, casado e com renda familiar de um a três salários mínimos, baixo grau escolaridade, com tempo médio de ingresso no mercado de trabalho de 20 anos. Entre os entrevistados, 81% nunca participaram de formação para manipulação de alimentos. Quanto à higiene pessoal, observaram-se diversas inadequações, o que configura o descumprimento de requisitos legais. As principais estruturas de venda identificadas nas feiras fixas foram bancas (44%) e boxes (39%), e nas feiras móveis, barracas (57%) e bancas (36%). A insuficiência de condições básicas de infraestrutura – incluindo disponibilidade de água, energia elétrica e instalações sanitárias, foi também observada. As principais fontes contaminantes da farinha compreenderam o lixo (94%), os animais (56%) e o esgoto (22%). Quanto ao local de armazenamento do produto, nas feiras fixas, predominaram o próprio ponto de venda (78%) e em casa (11%), enquanto nas feiras móveis, prevaleceram os depósitos (57%) e em casa (29%). Em 34% dos pontos, a farinha ficava exposta durante a comercialização, e em 62,5% deles, constatou-se a prática dos clientes de experimentar a farinha. Para as amostras de farinha, registraram-se média de atividade de água 0,39, nas feiras fixas, e de 0,36, nas feiras móveis; para as farinhas do tipo comum a média foi de 0,39 e, para a superior, de 0,36. Quanto à acidez, a média nas amostras foi de 4,11 e 4,88 meq NaOH/100g nas feiras fixas e móveis, respectivamente, enquanto para farinhas do tipo comum e superior apresentaram média de 4,22 e de 4,48 – 78% das amostras classificaram-se como de alta acidez. Na análise microscópica, 94% das amostras apresentaram algum contaminante físico. Apesar de não constarem na legislação vigente, as bactérias aeróbias mesófilas registaram contagens entre 2,48 e 5,77 log UFC/g, bolores e leveduras não ultrapassaram 2 log UFC/g. As contagem de coliformes totais e Bacillus cereus apresentaram-se em atendimento aos padrões e E. coli e Salmonella spp. não foram identificadas. Os resultados evidenciaram a necessidade de medidas higiênicas e de infraestrutura básica para a comercialização da farinha de mandioca nas feiras livres de Salvador-BA, fazendo-se necessária a capacitação dos feirantes e maior investimento público quanto às instalações desses espaços de abastecimento, visando à melhoria das condições de funcionamento e a oferta de produtos seguros. Considerando as características da cadeia informal da farinha de mandioca, os resultados sinalizam também falhas ao longo dessa cadeia produtiva, o que demanda atividades de apoio aos produtores rurais. Palavras-chave: farinha de mandioca, setor informal de alimentos, controle de qualidade de alimentos, vigilância sanitária, segurança alimentar e nutricional.

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ABSTRACT

Cassava (Manihot esculenta Crantz) is a basic food for about 800 million people worldwide. In Brazil, among the derivatives, the flour is one of the most important. Considering the high consumption as well as significant production and distribution of flour by the informal sector, and the risks associated with this sequence, this study had the determination to characterize the cassava flour sold in street markets of Salvador, Bahia, in the perspective of marketing conditions, conservation and food safety. The 32 questionnaires were completed, along with fairs fixed and mobile, and collected 62 samples of cassava flour - 46 upper and 16 common. The samples were subjected to microbiological, physical-chemical and microscopic analysis. The results showed a profile marketer male, aged 41 to 60 years old, married with a family income of three minimum salaries, low education level, with a usual time of arriving the job market were 20 years. Among respondents, 81% have never participated in training for food handling. As for personal hygiene, various inadequacies, which configures the nonconformity with legal requirements is observed. The main structures were identified in fixed trade stands (44%) and boxes (39%), and mobile exhibitions, stand (57%) and stalls (36%). The deficiency of basic infrastructure conditions - including availability of water, electricity and sanitary accommodations, was also observed. The main sources of contaminants flour understood trash (94%), animals (56%) and drains (22%). As to storage of the product, the fixed fairs, predominated the proper point (78%) and at home (11%), while in mobile fairs, prevailed deposits (57%) and at home (29%). In 34% of the points, the flour was exposed during marketing, and in 62.5% of them, there was the practice of consumers to savor the flour. For samples of flour were recorded average water activity of 0.39, the fixed fairs, and 0.36, in mobile fairs; for flour of common type, the average was 0.39, and for the upper 0.36. As for the acidity, the average in the samples was 4.11 and 4.88 meq NaOH/100g in fixed and mobile trade, respectively, while for the ordinary flour and superior type had a mean of 4.22 and 4.48 to 78% of the samples were classified as high acidity. On microscopic examination, 94% of the samples had some physical contaminant. Although not included in the current legislation, mesophilic aerobic bacteria counts verified between 2.48 and 5.77 log CFU / g, yeasts and molds did not exceed 2 log CFU/g. The count of total coliform and Bacillus cereus in compliance with the standards and E. coli and Salmonella spp. were not identified. The results highlighted the need for hygienic measures and basic infrastructure for the marketing of cassava flour in fairs in Salvador, Bahia, making necessary the training of stallholders and greater public investment to facilities such as supply spaces, aiming to improve operating conditions and the provision of insurance products. Considering the characteristics of the informal chain of cassava flour, the findings also indicate failures along this chain, which requires support to agrarian activities. Keywords: cassava flour, informal food sector, food quality control, health monitoring, food safety and nutrition.

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INTRODUÇÃO GERAL

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma cultura tropical, originária da

Amazônia, cultivada em mais de 102 países, e fornece alimento básico a cerca de

800 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo assim considerada uma das mais

importantes fontes calóricas de alimentação, nos trópicos, depois do arroz e do

milho. Cultivada por pequenos agricultores, é um dos poucos alimentos básicos que

podem ser produzidos eficientemente em pequena escala, sem a necessidade de

mecanização ou insumos (FAO, 2000; FAO, 2013; DOPORTO et al., 2012;

CUMBANA, 2007).

A planta apresenta fácil desenvolvimento a partir de estacas, cresce bem

mesmo em solos pobres, é resistente à seca e suas raízes, ricas em amido, podem

ser utilizadas como uma fonte de reserva de alimento. Quando colhidas e mantidas à

temperatura ambiente, entretanto, as raízes apresentam deterioração em poucos

dias, razão pela qual a mandioca deve ser convertida em produtos estáveis, tais

como a farinha (BRADBURY; DENTON, 2010; CARDOSO et al., 2005).

A farinha de mandioca é um produto que faz parte do cotidiano de grande

parte das famílias brasileiras especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Constitui

um dos principais produtos da mandioca e seu uso é muito difundido em todo o País,

fazendo parte da refeição diária da maioria dos brasileiros (DIAS; LEONEL, 2006). É

utilizada em grande variedade de pratos típicos e sua comercialização geralmente

ocorre em maior escala nas feiras livres, onde é vendida em grandes sacos de 50

kg, que em alguns locais ficam expostas, durante todo o período de venda.

Tradicionalmente, a produção de mandioca na região Nordeste é orientada

para a produção de farinha, a qual é realizada em indústrias de processamento

denominadas “casas de farinha” (CARDOSO; SOUZA, 1999), caracterizadas pela

mão de obra familiar, onde as condições de processamento ocorrem de maneira

artesanal e sem as devidas medidas de higiene, expondo o alimento a diversas

formas de contaminação. Entretanto, por se tratar de um alimento que passa por

tratamento térmico, utilizando-se altas temperaturas, sua carga microbiológica

praticamente é eliminada; contudo, oportunidades posteriores de contaminação

podem ocorrer, principalmente durante o transporte, armazenamento e

comercialização.

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A produção de farinha de mandioca segue algumas etapas consideradas

relativamente simples, todavia, alguns cuidados são necessários em seu

processamento, a fim de se evitar contaminações indesejadas, garantindo um

produto final de qualidade, evitando riscos aos consumidores. As etapas de

produção de farinha incluem: colheita, lavagem, descascamento, moagem,

prensagem, esfarelamento, peneiramento, torra, classificação, empacotamento,

pesagem e armazenagem (OLIVEIRA, 2008; ENGETECNO, 2005).

Dentre os vários parâmetros que definem a qualidade de um alimento, as

características microbiológicas e físico-químicas são alguns dos mais importantes,

pois fornecem informações quanto às condições de processamento, armazenamento

e distribuição para o consumo, vida útil e quanto ao risco à saúde (FRANCO;

LANDGRAF, 2008).

A contaminação microbiológica da farinha de mandioca pode ocorrer em

qualquer fase desde a colheita da raiz, seu processamento, até o momento da

embalagem, transporte, venda e estocagem. Os meios contaminantes podem ser o

solo, água ou ar, sendo também importante fonte de contaminação as mãos dos

manipuladores e utensílios contaminados. Por outro lado, o crescimento microbiano

depende de fatores físico-químicos indispensáveis para o metabolismo e

multiplicação dos microrganismos, como atividade da água e acidez.

De modo semelhante, a contaminação física resulta de contaminações

ocorridas desde o processo de produção até chegar à venda para o consumidor,

podendo ser encontrados fragmentos de madeira, plástico, insetos, pelos, entre

outros, o que sinaliza falhas ao longo de toda cadeia produtiva da farinha de

mandioca e representa potencial risco à saúde do consumidor.

Dado o contexto e considerando o grande consumo da farinha de mandioca

na Bahia e o intenso comércio deste produto nos mercados públicos, nos quais há

preocupações de natureza sanitária, este trabalho teve por objetivo caracterizar a

farinha de mandioca vendida em feiras livres de Salvador-BA, na perspectiva das

condições de comercialização, da conservação e da segurança de alimentos.

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OBJETIVOS

GERAL

Caracterizar a farinha de mandioca comercializada em feiras livres de

Salvador-BA, na perspectiva das práticas de comércio, da conservação

e da segurança do produto.

ESPECÍFICOS

Descrever os vendedores envolvidos no comércio da farinha, na

perspectiva socioeconômica e do trabalho.

Caracterizar a rotina e a logística de abastecimento da farinha de

mandioca nas feiras livres;

Caracterizar as condições higiênico-sanitárias e de conservação da

farinha de mandioca, nos pontos de venda;

Avaliar a qualidade físico-química da farinha de mandioca, quanto aos

indicadores de conservação e processamento;

Avaliar a segurança da farinha de mandioca comercializada nas feiras

livres quanto aos contaminantes microbiológicos - indicadores e

patogênicos.

Avaliar a segurança da farinha de mandioca comercializada nas feiras

livres quanto aos contaminantes físicos.

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CAPÍTULO 01 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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1 Mandioca: origem, cultivo e dados de produção

A mandioca é uma espécie da família Euphorbiaceae, originária da América.

Dentre as espécies, a Manihot esculenta Crantz é a única cultivada para consumo

humano, podendo ser nomeada de brava ou mansa, dependendo do teor de

glicosídios cianogênicos. A planta é originária do Brasil e, uma vez conhecida pelos

portugueses, foi levada à África, servindo de base de alimentação para

colonizadores e para os escravos transportados através do Oceano Atlântico, em

direção às Américas (SOUZA; MENEZES, 2004; CAMARGO, 2012).

Os índios processavam a raiz ralando-a, comprimindo-a e cozinhando-a, em

processos que retiram naturalmente sua potencial toxicidade, sendo o seu uso

principal na forma de farinha. Com o aprendizado das técnicas indígenas, a farinha

foi também usada pelos bandeirantes como fonte de alimento duradoura e fácil de

transportar, durante suas expedições ao interior do continente (CAMARGO, 2012).

Hoje, no Brasil, ainda existem muitas comunidades que dependem da

mandioca e da farinha para sobrevivência, embora seu cultivo também seja

explorado tanto sob o ponto de vista comercial (PEREZ, 2007).

A característica da planta da mandioca de acumular amido em suas raízes

tuberosas lhe confere a capacidade de tolerar a seca e lhe dá uma grande

flexibilidade quanto à época de colheita. Entre os produtores, a conservação de

variedades diferentes é valorizada, dadas as diferenças nutricionais de cada cultivar

Essas características tornam a mandioca uma espécie da maior importância para a

sobrevivência, tanto das populações humanas quanto dos seus animais,

principalmente nas regiões semiáridas, frequentemente áreas de baixos recursos

financeiros (SILVA; OLIVEIRA; HADDAD, 2011; BANDYOPADHYAY et al., 2006).

A escolha pelo cultivo da mandioca se dá em função de algumas

características, como a alta produtividade, em relação a outros alimentos. Assim, a

adequação do produto às condições ambientais de quase todo o país e a

flexibilidade da época de colheita – é possível atrasar a colheita sem prejuízo de

qualidade, a espera de preços mais adequados de mercado, tem contribuído para

colocar o Brasil como um dos maiores centros de produção do mundo (FAO, 2006).

Devido às características de rusticidade da planta, em muitos lugares, as

atividades desde plantio até o processamento ainda são realizadas manualmente, e

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desse modo, é uma cultura que emprega muita mão de obra. Considerando-se a

fase de produção primária e o processamento de farinha, estimou-se a geração de,

aproximadamente, um milhão de empregos diretos, no Brasil, (MATOS; CARDOSO,

2003).

No mundo, a área plantada com mandioca ultrapassa 20 milhões de hectares

e a produção em toneladas chega a mais de 262 milhões, alcançando a 12,88 t/ha.

A África é o continente que mais produz mandioca, seguido da América. O terceiro

país que mais produz mandioca é o Brasil, com mais de 23 milhões de toneladas,

ficando atrás da Indonésia, com mais 23,9 milhões de toneladas e Nigéria, com mais

de 54 milhões de toneladas ao ano (FAO, 2014).

A mandioca é cultivada em todo o território nacional e a região brasileira com

maior participação na produção é a região Norte, responsável por 32% da produção,

seguida pela região Nordeste, com 26%. O estado da Bahia é terceiro maior

produtor do Brasil, com rendimento de 9,93 t/ha, o melhor rendimento está no

Paraná 24,32 t/ha e, em seguida, o Pará 15,32 t/ha (IBGE, 2012).

2 O agronegócio da mandioca e a produção da farinha de mandioca

No setor agroindustrial, o beneficiamento da mandioca vem ganhando

visibilidade. O agronegócio de mandioca no Brasil garante uma receita bruta de 2,5

bilhões de dólares e 1 milhão de empregos diretos. Entre os produtos, 33,9%

destinam-se à alimentação humana, 50,2% à alimentação animal, 5,7% a outros

usos e 0,2% à exportação, havendo uma perda de 10%. Dentre as propriedades de

cultivo, 95% são de base familiar (CUNHA, 2007).

De acordo com Matsuura et al. (2003), o beneficiamento das raízes de

mandioca contribui para diminuir perdas pós-colheita e agregar valor ao produto,

proporcionando maior retorno financeiro aos produtores, gerando emprego e renda.

Em relação à produção de farinha de mandioca, no Brasil, observam-se duas

estruturas importantes: as farinheiras e as casas de farinha. As farinheiras são

agroindústrias, com estrutura de trabalho profissional, possuindo marcas próprias, e

estão localizadas na quase totalidade nas regiões Sul e Sudeste. As casas de

farinha, por sua vez, são representantes do método tradicional de produção,

apresentando uma estrutura menos profissionalizada, baseadas geralmente no

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trabalho familiar, com alto índice de informalidade, sem marca própria,

concentrando-se nas regiões Norte e Nordeste (GRANCO; ALVES; FELIPE, 2005).

Segundo Matsuura et al., (2003), estimou-se a existência de cerca de 400 mil

casas de farinha espalhadas em todo o território nacional, embora mais

concentradas nas regiões Norte e Nordeste, sendo geralmente unidades familiares,

em dois níveis: com capacidade de processamento variando de 2 a 3 sacos de 50

Kg por dia, cuja produção é geralmente destinada para autoconsumo; ou unidades

comunitárias, parcialmente mecanizadas, com capacidade de processamento de até

2.000 ou 3.000 Kg de farinha por dia, nas quais grande parte da produção é

comercializada.

De acordo com Granco, Alves e Felipe (2005), muitas casas de farinha

apresentam processos ineficientes de fabricação, que elevam seus custos e nem

sempre oferecem confiabilidade de qualidade ao comprador. Ao mesmo tempo,

considera-se que as diferenças nas características das farinhas, entre o

Norte/Nordeste e o Centro/Sul, também favorecem divergências no processo

produtivo e que a falta de treinamento de muitos produtores que produzem para

consumo próprio, comercializando apenas uma parcela da produção, podem

constituir entraves no setor. Segundo os autores, entre as etapas mais

problemáticas do processamento para as pequenas unidades está a torração,

muitas vezes feita com agitação manual, podendo demorar até três horas e meia

para uma fornada de 90 Kg de farinha. Em muitas outras unidades, entretanto,

existem fornos com alimentação e agitação mecânica.

Matsuura et al., (2003), explicitam que as variedades de mandioca utilizadas

como matéria-prima, a escala de produção, o grau de mecanização do processo, o

tipo de equipamentos utilizados (particularmente os fornos) e o modo de operação

variam nas unidades de produção, resultando em farinhas com características

sensoriais distintas, que atendem às preferências dos consumidores de diferentes

regiões. Em média, o rendimento é de 25 a 30%, dependendo da variedade de

mandioca e da eficiência dos equipamentos utilizados.

Assim, apesar da farinha constituir a forma mais ampla de aproveitamento

industrial da mandioca, ela não é um produto muito valorizado, sobretudo pela falta

de uniformidade. Essa heterogeneidade decorre, principalmente, da fabricação por

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pequenos produtores, cada um deles seguindo processo próprio, além de existirem

muitos tipos de farinha, nas diferentes regiões do Brasil (DIAS; LEONEL, 2006).

3 Farinha de mandioca: definição, classificação, processamento e legislação

De acordo com a RDC nº 263/2005 (BRASIL, 2005), as farinhas são os

produtos obtidos de partes comestíveis de uma ou mais espécies de cereais,

leguminosas, frutos, sementes, tubérculos e rizomas por moagem e ou outros

processos tecnológicos considerados seguros para produção de alimentos.

Conforme a Instrução Normativa (IN) nº 52, do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, de 7 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011), a farinha de

mandioca é definida como o produto obtido de raízes de mandioca, do gênero

Manihot, submetidas a processo tecnológico adequado de fabricação e

beneficiamento. Onde a classificação da farinha de mandioca é estabelecida em

função dos requisitos de identidade e qualidade, distribuída em Grupos, Classes e

Tipos.

De acordo com o processo tecnológico empregado na sua fabricação, a

farinha de mandioca é classificada em três Grupos: Seca - produto obtido das raízes

de mandioca sadias, devidamente limpas, descascadas, trituradas, raladas, moídas,

prensadas, desmembradas, peneiradas, secas à temperatura adequada, podendo

novamente ser peneirada e ainda beneficiada; D'água - produto predominantemente

fermentado, obtido das raízes de mandioca sadias, maceradas, descascadas,

trituradas ou moídas, prensadas, desmembradas, peneiradas e secas à temperatura

adequada, podendo ser novamente peneirada; e Bijusada - produto de baixa

densidade, obtido das raízes de mandioca sadias, limpas, descascadas, trituradas,

raladas, moídas, prensadas, desmembradas, peneiradas e laminadas à temperatura

adequada, na forma predominante de flocos irregulares (BRASIL, 2011).

A farinha de mandioca do Grupo Seca, de acordo com a sua granulometria, é

classificada em três classes: Fina - quando 100% do produto passar através da

peneira com abertura de malha de dois milímetros e ficar retida em até 10%,

inclusive, na peneira com abertura de malha de um milímetro; Grossa - quando o

produto fica retido em mais de 10% na peneira com abertura de malha de dois

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milímetros; e Média - quando a farinha de mandioca não se enquadrar em nenhuma

das classes anteriores (BRASIL, 2011).

Na Figura 1, sumarizam-se as etapas do processamento da farinha de

mandioca seca.

Figura 1. Etapas do processamento da farinha seca de mandioca. Fonte: Matsuura et al., 2003.

A farinha pode ser contaminada durante várias etapas de seu beneficiamento,

ainda no campo ou durante o manuseio, processo tecnológico, armazenamento e

distribuição inadequados. Assim, a aceitabilidade do produto final pode, então, ser

diminuída principalmente sob o ponto de vista estético em virtude da presença de

materiais estranhos e sujidades, uma vez que fabricantes, consumidores e órgãos

de fiscalização esperam que os alimentos estejam inteiramente livres de qualquer

sujidade e material estranho (BARBIERI et al., 2001).

No caso de insetos e ácaros, salienta-se que, além de depositarem suas

dejeções sobre os alimentos causando doenças, por fungos, bactérias, vírus,

protozoários e helmintos, podem contaminar os produtos com microrganismos que

se encontram aderidos ao seu corpo e às suas pernas. Em adição, os ácaros podem

desencadear processos alérgicos em indivíduos susceptíveis, quando ingeridos com

alimentos (CORREIA; RONCADA, 2002). Nesse sentido, o produto deve ser obtido,

processado, embalado, armazenado, transportado e conservado em condições que

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não produzam, desenvolvam ou agreguem substâncias físicas, químicas ou

biológicas que coloquem em risco a saúde do consumidor.

4 Consumo da farinha de mandioca

A raiz da mandioca constitui uma das principais fontes de carboidratos de

uma parte significativa da população de baixa renda no Brasil. Seu consumo ocorre

tanto por meio da compra do produto e de seus derivados quanto pela produção

doméstica. Por conta da disseminação da mandioca em plantações de quintal, o

volume agregado nacional efetivo é de difícil mensuração (CARDOSO, 2003).

Os dados oficiais levam em conta apenas a quantidade que passa por etapas

formalizadas de comercialização. A compra de mandioca e de seus derivados pelas

famílias com renda inferior a um salário mínimo é estimada em 10% da despesa

anual com alimentação, colocando-a em segundo lugar nos gastos alimentares

dessa população, atrás apenas do feijão, que representa 13% (CARDOSO, 2003).

A farinha de mandioca é um produto que faz parte do cotidiano de grande

parte das famílias brasileiras especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Constitui

um dos principais produtos da mandioca e seu uso é muito difundido em todo o País,

fazendo parte da refeição diária da maioria dos brasileiros (DIAS; LEONEL, 2006).

Dados de consumo da farinha são apresentados na Tabela 1, destacando-se

a região Norte com 46,2 g/dia per capita. No Nordeste o consumo médio é de 11,5

g/dia per capita, enquanto as demais regiões apresentam consumo inferior a 1,0

g/dia per capita. Segundo levantamentos, observa-se que o consumo da farinha de

mandioca é mais de 10 vezes superior na menor classe de renda, quando

comparado à classe de maior renda (IBGE, 2011).

Tabela 1: Prevalência de consumo de farinha de mandioca (%) e o consumo alimentar médio per capita (g/dia) nas regiões brasileiras.

Região Prevalência de consumo

de farinha de mandioca (%) Consumo alimentar

médio per capita (g/dia)

Norte 45,3 46,2

Nordeste 18,2 11,5

Sudeste 1,8 0,8

Sul 0,7 0,2

Centro-Oeste 1,3 0,5

Fonte: IBGE (2011).

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5 Feiras livres: caracterização, importância e condição higiênico-sanitária

No Brasil, as feiras-livres são uma das mais antigas formas de varejo, com

presença generalizada, sendo um espaço que tem influência na melhoria de vida

das pessoas, não só pela obtenção de uma renda familiar, mas pela apreensão das

ideias e representações associadas à feira como espaço de socialização. Ao mesmo

tempo, este ambiente fornece informações no que diz respeito às condições de

trabalho, organização e consumo, origem e destino dos produtos potenciais de

comercialização, nível de satisfação e os atores sociais envolvidos no processo -

feirantes, consumidores e organizações locais (ÂNGULO, 2003).

Como uma modalidade periódica de comércio, as feiras livres desempenham

um papel importante no abastecimento urbano e, para a coletividade rural, possibilita

a venda do excedente da produção e, ainda, a aquisição de produtos não

produzidos industrialmente e outros bens de consumo (MOREIRA, 2005).

No Brasil, a feira livre constitui modalidade de mercado varejista ao ar livre, de

periodicidade semanal, organizada como serviço de utilidade pública pela

municipalidade e voltada para a distribuição local de gêneros alimentícios e produtos

básicos. Nessa perspectiva, as feiras são importantes, pois possibilitam escoar

diversos produtos que não se enquadram nos padrões convencionais de

comercialização e que dificilmente estariam à disposição dos consumidores urbanos,

contribuindo, assim, para a manutenção da cultura e a soberania alimentar de uma

dada região (RIBEIRO, 2007; MASCARENHAS; DOLZANI, 2008).

Capistrano et al. (2004) valorizam o caráter supletivo de abastecimento das

feiras e relatam que as mesmas são frequentadas, na sua maioria, pela parcela da

população que já possui hábito de ir à feira, como donas-de-casa e idosos, que

possuem tempo disponível ou que não possuem veículos próprios. Além disto,

compreende um ambiente que oferece aos consumidores a possibilidade de

comparar preços e produtos entre diferentes comerciantes, tendo destaque quando

equiparado aos supermercados (XAVIER et al., 2009).

Para Vieira (2004), no Nordeste brasileiro, as feiras livres constituem-se em

uma prática comercial muito antiga, que garante o suprimento de gêneros

alimentícios de muitas cidades. Hoje em dia, as feiras livres oferecem uma grande

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variedade de produtos alimentícios e diversidade de preços, tornando-se um local de

encontros e socialização.

Na cidade de Salvador, Bahia, conforme o Regulamento das Feiras Livres do

Município de Salvador, o Decreto nº 11.611/1997 (BRASIL, 1997), as feiras livres

têm por finalidade a comercialização, no varejo, de gêneros alimentícios de primeira

necessidade, produtos hortigranjeiros, horticultura, pomicultura, floricultura, salgados

em geral, vestuário, armarinhos, louças e alumínios, artigos caseiros e de limpeza,

manufaturado e semimanufaturado de uso doméstico. De acordo com o Art. 2º do

mesmo Decreto, são consideradas feiras livres aquelas realizadas em logradouros

públicos da Cidade, classificadas de acordo com sua especificidade, como feiras

móveis (realizadas sempre em espaço abertos, no mesmo local, em apenas um dia

da semana), feiras fixas (ocorrem sempre no mesmo local, em espaço aberto ou

fechado, em todos ou vários dias da semana), ou feiras eventuais (acontecem em

ocasiões esporádicas, em locais predeterminados, com duração variável).

Apesar da existência de leis e decretos, a maioria das normas exigidas para o

setor não vem sendo obedecida, uma vez que os órgãos fiscalizadores não

priorizam as feiras. Na maioria das feiras livres, as condições higiênicas de

comercialização dos produtos alimentícios são insatisfatórias, constituindo-se um

importante local no processo de contaminação e proliferação de doenças de origem

alimentar (CAPISTRANO et al; 2004; ALMEIDA FILHO et al., 2003).

As feiras livres são locais com características específicas que possuem, em

seu ambiente, situações favoráveis para o crescimento e proliferação de

microrganismos. Sabe-se que as principais fontes de contaminação de alimentos

são: matéria-prima, (incluindo a água), ambiente (ar, equipamentos, embalagens e

materiais diversos), e pessoal (manuseio dos alimentos). Os problemas encontrados

nas feiras estão muitas vezes relacionados com as más condições higiênico-

sanitárias das bancas (mofadas, quebradas, úmidas, sujas, rachadas), dos

produtores (desde a vestimenta inadequada à manipulação de alimentos) e dos

produtos comercializados (higienização incorreta) (XAVIER et al., 2009).

Vale ressaltar que, nas feiras livres, os alimentos estão expostos a várias

situações que propiciam a sua contaminação, das quais podem ser citadas: a

contaminação através do manipulador quando o mesmo não adota práticas

adequadas de manipulação; exposição do alimento para venda, bem como o seu

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acondicionamento e armazenamento em condições inapropriadas (SILVA et al.,

2010).

Quanto aos graves problemas ocorridos nas feiras livres, podemos citar: falta

de higiene, má estrutura, comercialização de produtos não permitidos, falta de

segurança e desorganização. Tais problemas representam um risco à saúde do

consumidor e contrariam a legislação sanitária, de forma que compromete a

qualidade dos produtos (SANTOS, 2005).

Xavier et al. (2009) consideram o controle sanitário das feiras livres deficiente,

em face ao número de feiras existentes e a quantidade insuficiente de funcionários

para fiscalizar todas elas. Por não serem submetidos às fiscalizações eficazes, não

se tem certeza se os produtos comercializados possuem qualidade e segurança

sanitária satisfatórias.

De acordo com Soto (2008), esse tipo de comércio pode constituir um risco à

saúde da população, pois proporciona condições favoráveis para o aumento do risco

de intoxicações alimentares, uma vez que os alimentos podem ser facilmente

contaminados com microrganismos patogênicos, devido às condições inadequadas

do local de preparo e a falta de conhecimento técnico dos comerciantes para realizar

uma manipulação higiênico-sanitária correta.

A microbiota de um alimento é formada por microrganismos associados à

matéria prima e por contaminantes, que foram adquiridos durante o manuseio e

processamento (pelos manipuladores de alimentos) e aqueles que tiveram

condições de sobreviver aos processos aplicados durante o preparo e

acondicionamento do alimento (LIMA; SOUSA, 2002).

Hábitos irregulares como a falta de atenção ao manipular e armazenar os

alimentos pode gerar graves problemas como uma intoxicação alimentar, o que traz

grandes preocupações e envolve questões de segurança de alimentos. Um produto

exposto nas feiras deve possuir adequadas características sensoriais e valor

nutricional, além de boas condições de higiene, para que ele satisfaça as

necessidades e desejos de seu cliente. É preciso uma constante vigilância em torno

da qualidade do ambiente e da manipulação onde estão sendo expostos os

alimentos, pois estes devem atender a diversas exigências, até chegar ao

consumidor final (XAVIER et al, 2009).

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Para Capistrano (2004) os mercados e feiras livres ocupam lugares de

destaque no setor de alimentação. Nesses locais é comum que barracas convivam

lado a lado, fazendo com que as condições higiênico-sanitárias inadequadas de uma

tornem-se perigosa para as outras.

Nesse cenário, os alimentos obtidos por processos artesanais têm grande

possibilidade de se apresentarem contaminados, devido ao uso de matérias-primas

de fontes não seguras, utensílios mal higienizados ou contaminados, elaboração em

condições impróprias e armazenamento inadequado, que são fatores que

contribuem para aumentar o risco sanitário (DUARTE et al., 2005).

6 Segurança de alimentos e a cadeia produtiva da farinha de mandioca

Segundo Spers (2000), citado por Machado e Nantes (2004), o conceito de

segurança do alimento diz respeito à garantia em se consumir um alimento isento de

resíduos que prejudiquem ou causem danos à saúde.

Todo o tipo de gênero alimentício destinado à comercialização deve satisfazer

às exigências de qualidade do consumidor, possuindo aparência adequada, além de

boas condições de higiene e sanidade. Quando o alimento não apresenta

adequadas condições higiênico-sanitárias, pode causar doenças veiculadas por

alimentos (AYRES, et al., 2003).

Os principais fatores relacionados à ocorrência de doenças de origem

alimentar são as más condições de higiene na manipulação dos alimentos, más

condições de armazenamento e conservação dos alimentos e falta de adequação e

conservação da estrutura física dos estabelecimentos. Vale ressaltar que a

responsabilidade de oferecer alimentos inócuos está distribuída entre todos os

participantes da cadeia produtiva de alimentos até o consumidor, envolvendo fases

como: produção de alimentos, processamento, transporte, conservação e

comercialização, que podem influir direta ou indiretamente na contaminação de

alimentos (SILVA JUNIOR, 2001).

Estudos indicam o despreparo dos manipuladores de alimentos como uma

das principais causas de surtos de doenças de origem alimentar, relacionando-se

diretamente com a contaminação dos alimentos, em decorrência de doenças, de

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maus hábitos de higiene e de práticas inadequadas na operacionalização do sistema

(CAVALLI; SALAY, 2007).

São muitos os microrganismos que podem ser veiculados por alimentos, a

partir de uma manipulação inadequada, podendo haver sérios problemas se os

alimentos não forem corretamente processados ou preparados. O aparecimento de

DVA causa danos de difícil reversão ao comércio, levando a grandes perdas sociais

e econômicas, afetando seriamente a confiança do consumidor. As internações

hospitalares, a recuperação da saúde do consumidor e a perda de confiança

causam grande prejuízo ao sistema de saúde, em um país, e à sua economia

(GOMES, 2007).

Na perspectiva da produção e comercialização de alimentos, o nariz, a

garganta, as mãos, o intestino e as lesões inflamatórias cutâneas, a falta de asseio

do manipulador e ambiente, a longa exposição do alimento ao ar, a proximidade de

fontes de sujidades e lixo e a presença de animais, entre outros, são, geralmente

causas influentes e potenciais para contaminação dos alimentos (EVANGELISTA,

2003).

Assim, a produção, preparação, distribuição, armazenamento e

comercialização de alimentos, com segurança, são atividades que exigem cuidados

especiais que envolvem o ambiente de trabalho, equipamentos e utensílios,

manipuladores de alimentos, instalações sanitárias, controle de pragas e os

alimentos propriamente ditos, entre outros (SOUZA, 2006).

Nesse contexto, o controle higiênico eficiente dos manipuladores de alimentos

é fundamental para evitar as consequências negativas decorrentes dos alimentos

que não foram adequadamente manuseados e deve envolver produtores rurais,

fabricantes, embaladores, processadores, manuseadores de alimentos e, finalmente,

os consumidores (GOMES, 2007).

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CAPÍTULO 02: A FARINHA DE MANDIOCA EM FEIRAS LIVRES DE SALVADOR-

BA: PRÁTICAS DE COMERCIALIZAÇÃO, CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DE

ALIMENTOS

Nayara Cerqueira Marquesa*, Ryzia de Cássia Vieira Cardosob, Alaíse Gil

Guimarãesc, Ísis Maria Pereira Borgesa, Jeane Denise de Souza Menezesd.

a Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos (PGALI).

Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (UFBA).

b Professora do Departamento de Ciência dos Alimentos, Escola de Nutrição, UFBA.

c Professora do Departamento de Ciências Bromatológicas, Faculdade de Farmácia,

UFBA.

d Pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências de Alimentos

(PGALI).

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RESUMO

A mandioca (Manihot esculenta, Crantz) constitui alimento básico para cerca de 800 milhões de pessoas, em todo o mundo. No Brasil, dentre os seus derivados, a farinha é um dos mais importantes. Considerando o largo consumo, bem como a expressiva produção e distribuição da farinha pelo setor informal, e o riscos associados a esta cadeia, este trabalho teve por propósito caracterizar a farinha de mandioca vendida em feiras livres de Salvador-BA, na perspectiva das condições de comercialização, da conservação e da segurança de alimentos. Foram aplicados 32 questionários, junto a feirantes de feiras livres fixas e móveis, e coletadas 62 amostras de farinha de mandioca - 46 do tipo superior e 16 comum. As amostras foram submetidas a análises microbiológicas, físico-químicas e microscópicas. Os resultados evidenciaram um perfil de feirante do sexo masculino, na faixa etária 41 a 60 anos, casado e com renda familiar de um a três salários mínimos, baixo grau escolaridade, com tempo médio de ingresso no mercado de trabalho de 20 anos. Entre os entrevistados, 81% nunca participaram de formação para manipulação de alimentos. Quanto à higiene pessoal, observaram-se diversas inadequações, o que configura o descumprimento de requisitos legais. As principais estruturas de venda identificadas nas feiras fixas foram bancas (44%) e boxes (39%), e nas feiras móveis, barracas (57%) e bancas (36%). A insuficiência de condições básicas de infraestrutura – incluindo disponibilidade de água, energia elétrica e instalações sanitárias, foi também observada. As principais fontes contaminantes da farinha compreenderam o lixo (94%), os animais (56%) e o esgoto (22%). Quanto ao local de armazenamento do produto, nas feiras fixas, predominaram o próprio ponto de venda (78%) e em casa (11%), enquanto nas feiras móveis, prevaleceram os depósitos (57%) e em casa (29%). Em 34% dos pontos, a farinha ficava exposta durante a comercialização, e em 62,5% deles, constatou-se a prática dos clientes de experimentar a farinha. Para as amostras de farinha, registraram-se média de atividade de água 0,39, nas feiras fixas, e de 0,36, nas feiras móveis; para as farinhas do tipo comum a média foi de 0,39 e, para a superior, de 0,36. Quanto à acidez, a média nas amostras foi de 4,11 e 4,88 meq NaOH/100g nas feiras fixas e móveis, respectivamente, enquanto para farinhas do tipo comum e superior apresentaram média de 4,22 e de 4,48 – 78% das amostras classificaram-se como de alta acidez. Na análise microscópica, 94% das amostras apresentaram algum contaminante físico. Apesar de não constarem na legislação vigente, as bactérias aeróbias mesófilas registaram contagens entre 2,48 e 5,77 log UFC/g, bolores e leveduras não ultrapassaram 2 log UFC/g. As contagem de coliformes totais e Bacillus cereus apresentaram-se em atendimento aos padrões e E. coli e Salmonella spp. não foram identificadas. Os resultados evidenciaram a necessidade de medidas higiênicas e de infraestrutura básica para a comercialização da farinha de mandioca nas feiras livres de Salvador-BA, fazendo-se necessária a capacitação dos feirantes e maior investimento público quanto às instalações desses espaços de abastecimento, visando à melhoria das condições de funcionamento e a oferta de produtos seguros. Considerando as características da cadeia informal da farinha de mandioca, os resultados sinalizam também falhas ao longo dessa cadeia produtiva, o que demanda atividades de apoio aos produtores rurais. Palavras-chave: farinha de mandioca, setor informal de alimentos, controle de qualidade de alimentos, vigilância sanitária, segurança alimentar e nutricional.

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ABSTRACT

Cassava (Manihot esculenta Crantz) is a basic food for about 800 million people worldwide. In Brazil, among the derivatives, the flour is one of the most important. Considering the high consumption as well as significant production and distribution of flour by the informal sector, and the risks associated with this sequence, this study had the determination to characterize the cassava flour sold in street markets of Salvador, Bahia, in the perspective of marketing conditions, conservation and food safety. The 32 questionnaires were completed, along with fairs fixed and mobile, and collected 62 samples of cassava flour - 46 upper and 16 common. The samples were subjected to microbiological, physical-chemical and microscopic analysis. The results showed a profile marketer male, aged 41 to 60 years old, married with a family income of three minimum salaries, low education level, with a usual time of arriving the job market were 20 years. Among respondents, 81% have never participated in training for food handling. As for personal hygiene, various inadequacies, which configures the nonconformity with legal requirements is observed. The main structures were identified in fixed trade stands (44%) and boxes (39%), and mobile exhibitions, stand (57%) and stalls (36%). The deficiency of basic infrastructure conditions - including availability of water, electricity and sanitary accommodations, was also observed. The main sources of contaminants flour understood trash (94%), animals (56%) and drains (22%). As to storage of the product, the fixed fairs, predominated the proper point (78%) and at home (11%), while in mobile fairs, prevailed deposits (57%) and at home (29%). In 34% of the points, the flour was exposed during marketing, and in 62.5% of them, there was the practice of consumers to savor the flour. For samples of flour were recorded average water activity of 0.39, the fixed fairs, and 0.36, in mobile fairs; for flour of common type, the average was 0.39, and for the upper 0.36. As for the acidity, the average in the samples was 4.11 and 4.88 meq NaOH/100g in fixed and mobile trade, respectively, while for the ordinary flour and superior type had a mean of 4.22 and 4.48 to 78% of the samples were classified as high acidity. On microscopic examination, 94% of the samples had some physical contaminant. Although not included in the current legislation, mesophilic aerobic bacteria counts verified between 2.48 and 5.77 log CFU / g, yeasts and molds did not exceed 2 log CFU/g. The count of total coliform and Bacillus cereus in compliance with the standards and E. coli and Salmonella spp. were not identified. The results highlighted the need for hygienic measures and basic infrastructure for the marketing of cassava flour in fairs in Salvador, Bahia, making necessary the training of stallholders and greater public investment to facilities such as supply spaces, aiming to improve operating conditions and the provision of insurance products. Considering the characteristics of the informal chain of cassava flour, the findings also indicate failures along this chain, which requires support to agrarian activities. Keywords: cassava flour, informal food sector, food quality control, health monitoring, food safety and nutrition.

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1 INTRODUÇÃO

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma cultura tropical, originária da

Amazônia, cultivada em mais de 102 países, e fornece alimento básico a cerca de

800 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo assim considerada uma das mais

importantes fontes calóricas de alimentação, nos trópicos, depois do arroz e do

milho. Cultivada por pequenos agricultores, é um dos poucos alimentos básicos que

podem ser produzidos eficientemente em pequena escala, sem a necessidade de

mecanização ou insumos (FAO, 2000; FAO, 2013; DOPORTO et al., 2012;

CUMBANA, 2007).

A planta apresenta fácil desenvolvimento a partir de estacas, cresce bem

mesmo em solos pobres, é resistente à seca e suas raízes, ricas em amido, podem

ser utilizadas como uma fonte de reserva de alimento. Quando colhidas e mantidas à

temperatura ambiente, entretanto, as raízes apresentam deterioração em poucos

dias, razão pela qual a mandioca deve ser convertida em produtos estáveis, tais

como a farinha (BRADBURY; DENTON, 2010; CARDOSO et al., 2005).

No Brasil, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, tradicionalmente, a

produção de mandioca é orientada para a produção de farinha, cujo beneficiamento

acontece em unidades denominadas “casas de farinha”. Estes locais constituem

espaços de trabalho coletivo, de intensa troca de saberes e práticas, que têm

estrutura geralmente simples, abertas e compostas por equipamentos rústicos.

(CARDOSO; SOUZA, 1999; NOGUEIRA; WALDECK, 2006). Estas unidades são

caracterizadas por condições rústicas de processamento, em sistema artesanal, e

sem as devidas medidas de higiene, expondo o alimento a diversas formas de

contaminação.

No país, a farinha de mandioca é um produto que integra o cotidiano

alimentar de grande parte das famílias, compreendendo um dos itens da cesta

básica brasileira (DIAS; LEONEL, 2006). É utilizada em uma grande variedade de

pratos típicos e sua comercialização, geralmente, ocorre em maior escala em feiras

livres, onde é vendida em grandes sacos de 50 kg, que costumeiramente ficam

expostos durante todo o período de venda.

Dada à cadeia artesanal de beneficiamento e a informalidade da

comercialização, as contaminações física e microbiológica da farinha de mandioca

podem ocorrer ao longo de várias etapas, desde a colheita até estocagem e venda

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ao consumidor. Quanto à contaminação microbiológica, esta depende de fatores

físico-químicos indispensáveis para o seu metabolismo e multiplicação microbiana,

como temperatura, atividade da água, acidez e disponibilidade de oxigênio. Quanto

à contaminação física, resulta de exposições nas diversas etapas dessa cadeia

produtiva, podendo-se encontrar fragmentos de madeira, plástico, inseto, pelo, entre

outros, o que sinaliza falhas e representa potencial risco à saúde do consumidor.

Dentre os vários parâmetros que definem a qualidade de um alimento, as

características microbiológicas e físico-químicas são alguns dos mais importantes,

pois fornecem informações quanto às condições de processamento, armazenamento

e distribuição para o consumo, vida útil e quanto ao risco à saúde (FRANCO;

LANDGRAF, 2008).

Dado o contexto e considerando o grande consumo da farinha de mandioca

na Bahia e o intenso comércio deste produto em mercados públicos, nos quais há

preocupações de natureza sanitária, este trabalho teve por objetivo caracterizar a

farinha de mandioca vendida em feiras livres de Salvador-BA, na perspectiva das

condições de comercialização, da conservação e da segurança de alimentos.

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2 METODOLOGIA

2.1 Desenho de Estudo

Trata-se de estudo descritivo, com abordagem quantitativa, realizado em

feiras livres - fixas e móveis - da cidade de Salvador-BA, com aplicação de

questionários e colheita de amostras de farinha de mandioca do grupo seca, do tipo

comum e tipo superior, sendo a última considerada conforme descrições dos

feirantes, com as seguintes denominações: “de qualidade”, “tipo 1”, “de primeira” e

“copioba”.

2.2 Delineamento experimental e aquisição das amostras

Salvador registra 34 feiras livres, sendo 22 fixas e 12 móveis de acordo com

Silva Júnior, (2012). A partir destas classes, adotou-se um modelo de amostragem

em delineamento inteiramente casualizado, com sorteio de 10 feiras fixas e de 10

feiras móveis, totalizando 20 feiras livres (Figura 1).

Figura 1: Mapa de Salvador-BA com as marcações em amarelo para as feiras livres móveis e as marcações em azul para as feiras livres fixas. Fonte: Google Maps (adaptado), 2013.

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Em cada uma das feiras, foram escolhidos aleatoriamente dois pontos de

venda. Nesses pontos, procedeu-se a entrevista com o responsável, por meio de

questionário pré-testado, e foram obtidas duas amostras de farinha de mandioca,

por vendedor – para fins de análise físico-química, microbiológica e microscópica.

Nos casos em que feira livre apresentava apenas um ponto de venda de

farinha de mandioca, foram colhidas duas amostras apenas neste local e nos locais

onde havia apenas um vendedor e um tipo de farinha a colheita da amostra foi

repetida em data posterior. Para o conjunto de feiras pesquisado, foram abordados

32 vendedores.

2.3 Coleta de dados com os feirantes

Para a coleta de dados que possibilitassem a caracterização social e sanitária

dos feirantes, utilizou-se um questionário semi-estruturado (APÊNDICE - A), que

contemplava questões nas seguintes dimensões: características socioeconômicas

dos feirantes; perfil, aquisição e acondicionamento dos alimentos; e características

higiênico-sanitárias do vendedor e comercialização.

O preenchimento dos questionários foi realizado por meio de observação

direta do local e por meio de entrevista com o responsável, para o caso das

questões de percepção ou conhecimento específico.

2.4 Colheita de amostras

Foram obtidas 62 amostras, 46 do tipo superior e 16 comum, na condição de

consumidor, sendo acondicionadas em embalagens dos próprios vendedores e

transportadas para análises microbiológicas, físico-químicas e microscópicas em

laboratórios específicos da Faculdade de Farmácia/UFBA.

2.5 Análises físico-químicas

As análises físico-químicas incluíram a determinação da atividade de água e

da acidez e foram realizadas conforme a descrição abaixo.

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Atividade de água (Aw): Esta análise foi realizada em equipamento AquaLab

Lite, marca Decagon®. De acordo com as instruções do fabricante,

aproximadamente 4g da amostra foram colocadas em recipiente específico, o qual

foi inserido no equipamento (medidor de atividade de água portátil), sendo ao final

do procedimento apresentado o resultado da análise, com base na técnica que é

originária da medida de umidade relativa aprovada pela Associação de Químicos

Analistas – AOAC (2000).

Acidez áquo-solúvel: Pesou-se 10g da amostra em um frasco Erlenmeyer de

200 ml. Adicionou-se 20ml de água. Agitou-se o frasco até formar uma pasta fina.

Adicionou-se mais 80ml de água e agitou-se cuidadosamente. Adicionou-se 2 gotas

de indicador fenolftaleína. Titulou-se com solução de hidróxido de sódio de 0,1N até

coloração rósea (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 1985)

2.6 Análises microbiológicas

As análises microbiológicas foram realizadas observando-se requisitos da

RDC Nº 12/2001, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2001) que

incluem os seguintes indicadores: coliformes totais e termotolerantes, Salmonella

spp. e Bacillus cereus. Em adição, foram procedidas análises para outros grupos

microbianos de interesse, compreendendo as contagens de bolores e leveduras e de

bactérias aeróbias mesófilas.

As análises para Salmonella spp., Bacillus cereus, coliformes totais e E. coli,

contagem de bolores e leveduras e de microrganismos aeróbios mesófilos, foram

realizadas conforme técnicas descritas pela American Public Health Organization –

APHA (DOWNES; ITO, 2001).

Para pesquisa de Salmonella spp. procedeu-se o pré-enriquecimento de 25g

da amostra em 225 ml de Caldo Lactosado (CL) (Himedia®), com posterior

incubação a 35°C±2°C/24±2h. Posteriormente ao enriquecimento seletivo, foi

transferido 0,1ml para 10ml de Caldo Rappaport-Vassilidis Modificado (RV)

(Acumedia®) e 1ml para 10ml de Caldo Tetrationato (TT) (Acumedia®). O RV foi

incubado a 42±0,2°C/24±2h e o caldo (TT) a 35±2°C/24±2h. Estriou-se uma alçada

de caldo TT em placas de Ágar Entérico de Hectoen (HE) (Acumedia®) e Ágar

Xilose Lisina Desoxicolato (XLD) (Himedia®), repetiu-se o procedimento com o caldo

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RV. Posteriormente incubou-se as placas invertidas a 35±2°C/24±2h e verificou-se o

desenvolvimento de colônias típicas de Salmonella spp. E em seguida submetidas a

teste bioquímicos (Urease, Indol, Vermelho de Metila, Voges Proskauer, Citrato)

para confirmação.

Para contagem de Bacillus cereus, foram pesadas, assepticamente, 25g da

amostra que foram diluídas em 225ml de Água Peptonada (H2Op), diluição 10-1. Esta

diluição foi submetida ao plaqueamento em superfície, em Ágar Manitol Gema de

Ovo Polimixina (Acumedia®), com auxílio de uma alça de Drigalsky. As placas

inoculadas foram incubadas em estufa a 30-32°C/20-24h. As colônias prováveis de

B. cereus detectadas foram transferidas para o Ágar Nutriente (Merck®), incubadas

por 30°C/24h e, posteriormente, submetidas a triagem bioquímica, pelos testes de

utilização anaeróbica da glicose, teste Voges-Proskauer e teste de decomposição

da tirosina.

Para contagem de bolores e leveduras, 25 g da amostra foi homogeneizada

em 225ml de Água Peptonada (H2Op), diluição 10-1, então realizou-se o

plaqueamento em superfície, com auxílio de alça de Drigalski, em Ágar Dicloran

Rosa de Bengala Cloranfenicol (DRBC) (Merck®). As placas foram incubadas em

estufa a 22-25°C, por cinco dias, com posterior contagem das colônias típicas.

Para análise de microrganismos aeróbios mesófilos, utilizou-se 25g da

amostra que foi homogeneizada em 225ml de Água Peptonada (H2Op), chegando-

se a diluição 10-1, 10-2 e 10-3 consecutivamente, selecionaram-se as diluições 10-2 e

10-3 da amostra e inoculou-se pelo método pour plate, utilizando-se 1ml de cada

diluição em placas de Petri, adicionou-se então 12 a 15ml de Ágar Padrão para

Contagem (PCA) (Acumedia®), previamente fundido e resfriado a 44-46°C, em

seguida as placas foram incubadas em estufa a 35±1°C/48±2h. Para as contagens

de coliformes totais e Escherichia coli utilizou-se 25 g da amostra, homogeneizada

em 225ml de Água Peptonada (H2Op), diluição 10-1, então realizou-se o

plaqueamento em superfície, com auxílio de alça de Drigalski, em Ágar Chromocult®

Coliform (Merck). Após as contagens, as colônias típicas de E. coli (colônias com

coloração azul escuro a violeta) foram submetidas às provas bioquímicas de Indol,

Vermelho de Metila, Voges Proskauer e Citrato (IMViC).

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2.7 Análises microscópicas

Para cada uma das amostras de farinha de mandioca, foram pesadas 50g em

béquer de 1L. A este material, adicionou-se cerca de 600 ml de solução de ácido

clorídrico a 5%, homogeneizou-se e cobriu-se com papel. O material foi levado a

aquecimento, em autoclave, a 121°C, durante 5 minutos, em seguida acrescentou-

se 50 mL de vaselina à amostra, e agitou-se durante 5 minutos.

A mistura foi transferida para o percolador, lavando o béquer com água

destilada aquecida, até que não houvesse resíduos retidos nas suas paredes.

Acrescentou-se as águas de lavagem ao percolador, e este conteúdo foi deixado

repousar por 30 minutos, havendo agitação cuidadosa com bastão de vidro. Repetiu-

se essa operação três vezes, retirando-se parte da solução até a medida de 250ml

do percolador e adicionou-se mais água destilada até que a água se apresentasse

límpida. Ao final, enxaguaram-se as paredes do percolador com álcool e foram

coletados os 250ml da solução do percolador.

A solução foi filtrada em papel de filtro, sob vácuo, enxaguando-se as paredes

do béquer com álcool. O papel de filtro contendo as sujidades encontradas foi

transferido para uma placa de Petri e posteriormente examinado ao microscópio

estereoscópico marca OPTON®, Mod. TIM-2B/TIM-2T, aumento de 40 x (AOAC,

2000).

2.8 Tratamento estatístico dos dados

Os dados foram tabulados em banco de dados e analisados no software R,

contemplando a análise descritiva e testes de associação e correlação, entre as

variáveis de interesse, em nível de 5% de probabilidade. Na comparação entre as

feiras livres fixas e móveis, e os tipos superior e comum, utilizou-se o teste de

Student, em mesmo nível de probabilidade.

2.9 Critérios de ética em pesquisa

Em observação a requisitos estabelecidos pela Resolução 196/96 (BRASIL,

1996), este projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de

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43

Nutrição da UFBA e utilizando-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,

para fins de aplicação dos questionários (APÊNDICE-B).

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44

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Caracterização dos vendedores

Dados sobre o perfil socioeconômico dos vendedores de farinha de mandioca

são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Características socioeconômicas dos vendedores de farinha de mandioca nas feiras livres de Salvador-BA, 2013.

Perfil socioeconômico dos vendedores Distribuição

Sexo (%) Feminino Masculino

25% 75%

Faixa etária (%) 61 a 80 anos 41 a 60 anos 20 a 40 anos

16% 53% 31%

Tempo de trabalho (anos) Média (amplitude) 20 (2-47)

Estado civil (%) União estável Viúvo Divorciado Solteiro Casado

3% 6% 9%

31% 50%

Escolaridade (%) Ensino Superior Completo Ensino Superior Incompleto Analfabeto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Fundamental Incompleto

3% 3% 6% 9%

13% 22% 44%

Renda familiar (%) 3 a 5 salários mínimos < 1 salário mínimo 1 a 3 salários mínimos

3%

13% 84%

Os resultados obtidos nas feiras livres de Salvador-BA apontaram para um

perfil de vendedores de farinha predominantemente do sexo masculino, na faixa

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etária entre 41 e 60 anos, casado e com renda familiar entre um e três salários

mínimos.

Com relação à escolaridade, vale salientar o baixo grau de formação dos

entrevistados, que, na maioria dos casos não chegou a concluir o ensino

fundamental, fato que, muitas vezes, pode estar associado à entrada precoce no

mercado de trabalho, considerando o tempo médio de ingresso foi de 20 anos, o que

pode ter contribuído para o abandono escolar. De acordo com Rocha (2003),

verifica-se estreita relação entre a não frequência ou mesmo abandono à escola e a

incidência de trabalho precoce, sendo mais da metade destes indivíduos

nordestinos, com maiores contingentes nos estados de Bahia, Maranhão e

Pernambuco.

Dos feirantes entrevistados 81% relataram nunca ter participado de cursos de

manipulação de alimentos, o que contribui para o despreparo frente à atividade

exercida, visto que a capacitação poderia refletir diretamente no modo de

comercialização. Góes et al. (2001) descrevem que a importância do treinamento é

dar aos manipuladores conhecimentos teórico-práticos necessários para capacitá-

los e levá-los ao desenvolvimento de habilidades e atitudes de trabalho específico

na área de alimentos.

Em relação ao atendimento de requisitos de higiene pessoal para

manipuladores de alimentos, os resultados encontram-se sumariados na Figura 2,

observando-se inadequações quanto à adoção de cuidados básicos de higiene

como: não utilização de uniforme, unha comprida, calçados abertos, falta de

proteção nos cabelos e mãos, e o uso de adornos. Como exemplo, a não utilização

de luvas por nenhum dos entrevistados indica uma condição de risco de

contaminação física e biológica da farinha de mandioca, uma vez que, geralmente,

os feirantes que manuseiam dinheiro também têm contato com alimento.

A Resolução RDC nº. 216/2004 (BRASIL, 2004) estabelece que o

manipulador de alimentos deve manter as unhas curtas, sem esmalte ou base, não

usar adornos. No entanto, 75% dos feirantes das feiras de Salvador não se

apresentaram com as unhas limpas e aparadas, descumprindo assim a legislação

em vigor e favorecendo contaminações para os produtos comercializados.

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Figura 2. Distribuição (%) dos vendedores de farinha de mandioca, de feiras livres de Salvador-BA, quanto ao atendimento de requisitos de higiene pessoal, 2013.

Em estudo realizado por Beiró e Silva (2009), com pesquisa em 23 barracas

de feiras livres do Distrito Federal-DF, verificou-se que a utilização de adornos pelos

vendedores era prática comum, uma vez que, em 69,6% dos casos, os

trabalhadores usavam algum tipo de adereço. Nesse estudo, não foram identificadas

feridas nas mãos dos manipuladores.

Rodrigues et al. (2003) alertam sobre a necessidade dos manipuladores

retirarem os adereços durante suas atividades, a fim de evitar perigos físicos e

biológicos, tendo em vista que eles podem cair nos alimentos e que alguns são de

difícil desinfecção. Nesse sentido, enfatiza-se que 66% dos feirantes em Salvador

não atenderam a esse quesito, pois utilizam diversos adornos, destacando-se

relógios, pulseiras e alianças.

Silva Júnior (2001) salienta que, para evitar a contaminação, é preciso

conscientização e o atendimento a uma série de medidas preventivas, que incluem

usar uniformes limpos com rede ou gorro para cobrir todos os cabelos, proteger os

alimentos durante o armazenamento, preparo, cozimento e distribuição.

Outros estudos em feiras livres também têm evidenciado inadequações em

relação aos manipuladores. Mallon e Botolozo (2004), em pesquisa com 24 pontos

de venda de alimentos em feiras livres da região central de Ponta Grossa-PR,

constataram que 76,4% dos proprietários/manipuladores apresentavam-se sem

16%

66%

3%

25% 19%

6% 0%

84%

34%

97%

75% 81%

94% 100%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

SIM

NÃO

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47

uniforme apropriado, além terem um asseio pessoal desfavorável, verificando-se o

uso de adornos, esmalte, unhas compridas e a falta de boa apresentação corporal.

Tinoco et al. (2009), em estudo realizado em feira livre de Seropédica-RJ,

evidenciaram que 83,3% dos manipuladores não traziam as unhas aparadas, limpas

e sem esmaltes, e que 75% estavam sem proteção para os cabelos, um quadro que

também mostra similaridades com os achados em Salvador-BA .

Entre os entrevistados soteropolitanos, 6% exibiram algum tipo de ferimento

cutâneo, valor quem também se aproxima do relatado por Tinoco et al. (2009) -

4,17%. Conforme esses autores, a presença de ferimentos compreende um aspecto

crítico na perspectiva da higiene de alimentos, dado que o manipulador, por meio do

seu ferimento ou de outras afecções, pode contaminar diretamente o alimento.

3.2 Caracterização dos pontos de comercialização da farinha de mandioca nas

feiras livres

Na Figura 3, são descritas as estruturas identificadas na comercialização da

farinha de mandioca nas feiras de Salvador. Como se nota, os principais tipos de

estrutura utilizados foram bancas e barracas, porém, nas feiras fixas o comércio

comumente ocorria em boxes ou bancas, que permaneciam no local, mesmo após o

encerramento da feira. Nas feiras móveis, por outro lado, a necessidade de

deslocamento do ponto de venda de um local para outro na cidade, contribuiu para

que a comercialização fosse realizada, em maior parte, em barracas ou bancas

desmontáveis.

Figura 3. Distribuição (%) dos tipos de ponto de venda pesquisados nas feiras livres fixas e móveis de Salvador-BA, 2013.

39%

17%

44%

0% 0%

57%

36%

7%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Box Barraca Banca Estrado

Fixa

Móvel

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Em geral, sobretudo nas feiras móveis, a estrutura dos pontos que

comercializavam farinha de mandioca nas feiras foi insatisfatória, uma vez que a

maioria deles era fabricada em madeira - material poroso, que pode servir de abrigo

para diversos microrganismos, além de ser de difícil higienização (Figura 4). Em

adição, como se organizavam dispostas lado a lado, considera-se a possibilidade de

contaminação entre os pontos. Como observou Xavier (2009) os problemas

encontrados nas feiras, muitas vezes, estão relacionados com as más condições

higiênico-sanitárias das bancas - mofadas, quebradas, úmidas, sujas, rachadas.

Figura 4. Ponto de venda de farinha, em feira móvel de Salvador-BA, 2013.

Quanto às instalações disponíveis nos pontos de venda, os resultados

encontram-se ilustrados na Figura 5, observando-se a insuficiência de condições

básicas de infraestrutura, que permitisse a comercialização de diversos produtos,

principalmente os produtos alimentícios, incluindo a farinha de mandioca, em

ambiente mais organizado e limpo. Deste modo, indica-se potencial fonte de

contaminação aos alimentos, ocasionando riscos na perspectiva da saúde do

consumidor.

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49

Figura 5. Distribuição (%) dos pontos de venda farinha de mandioca, em feiras livres fixas e móveis de Salvador-BA, quanto à infraestrutura, 2013. Principalmente nas feiras móveis, as condições de infraestrutura

apresentaram-se extremamente precárias, posto que não atendiam a nenhum dos

itens analisados – ao que parece, em decorrência do seu perfil de mobilidade, não

havia preocupação dos órgãos públicos em oferecer condições mínimas, para que

este comércio ocorresse em atendimento a requisitos básicos para a realização do

trabalho. Ao estudar as feiras da zona sul de São Paulo-SP, Capistrano et al. (2004)

reportam resultados semelhantes, descrevendo a falta de higiene e infraestrutura

dos estabelecimentos que comercializavam alimentos.

O cenário mostrou-se um pouco diferente, quando avaliadas as feiras fixas,

pois, em parte delas, observou-se um ambiente com melhores condições de

funcionamento - algumas apresentaram instalações sanitárias, luz e água. Todavia,

para o conjunto de pontos de venda fixos e móveis verificou-se insuficiência de

condições básicas de infraestrutura, que possa propiciar condições de trabalho

dignas e segurança à comercialização de produtos alimentícios, reduzindo riscos à

saúde dos consumidores.

As principais fontes contaminantes identificadas no ambiente das feiras de

Salvador incluíram lixo (94%), animais (56%) e esgoto (22%), que compreendem

importante causa de contaminação microbiológica, para os alimentos

comercializados nestes locais (Figura 6). Rodrigues (2004) relata que as feiras livres

são realizadas geralmente em locais públicos, previamente estabelecidos pela

administração municipal, muitas vezes próximo ao trânsito de pessoas e veículos,

22%

50%

33%

78%

50%

67%

100%

100%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Água

Luz

Sanitária

Água

Luz

Sanitária

Fixa

vel

Sim

Não

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50

ficando sujeitas a diversas formas de contaminação, como poeira, fumaça, odores e

outras fontes insalubres.

Figura 6. Presença de animais e lixo em feira livre de Salvador-BA, 2013.

Deste modo, dadas as condições de comercialização dos alimentos em vias

públicas para as barracas e as bancas, ressalta-se a maior exposição e

vulnerabilidade dos produtos aos diversos contaminantes ambientais. Ainda,

conforme descrito por Nascimento et al. (2004), a proximidade das pessoas nas

feiras agrava a situação, uma vez que também favorece a contaminação.

3.3 Caracterização condições de conservação e comercialização da farinha de

mandioca nas feiras livres

Em geral, nas feiras fixas, o volume de farinha adquirido pelos feirantes era

maior (em média 26 sacos de 50kg), sendo o produto armazenado em sua maioria

no próprio ponto de venda (79%). Nas feiras móveis, por sua vez, o volume de

compra era menor (média 9 sacos de 50kg), observando-se menor período de

permanência do produto (maior rotatividade), sendo o seu armazenamento

principalmente em depósitos (64%).

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51

Quanto ao armazenamento da farinha, nas feiras fixas, predominou o

armazenamento no próprio ponto de venda 78%, seguido do armazenamento em

casa 11%, depósito e outras condições (6%). Enquanto, nas feiras móveis o

armazenamento ocorria predominantemente em depósitos 57%, acompanhado do

armazenamento em casa 29%. Houve ainda uma parcela dos entrevistados que,

não armazenava o produto que restava, preferia utilizar para consumo próprio

(14%).

No que concerne aos cuidados de armazenamento (Figura 7), a maioria dos

vendedores se preocupava apenas em cobrir ou proteger a farinha durante o

período de armazenamento do produto, enquanto pequena parte se preocupava em

mantê-la fora de contato com local úmido ou diretamente com o chão - apenas 6%

dos entrevistados expressaram preocupação em manter o local de armazenamento

limpo. Nesse sentido, observa-se que, após o término da feira - fixa ou móvel, a

farinha precisaria ser armazenada local salubre, que assegurasse a sua proteção

contra contaminantes e a manutenção das suas características de qualidade.

Figura 7. Distribuição (%) dos feirantes, quanto aos cuidados adotados durante o armazenamento da farinha de mandioca, nas feiras livres de Salvador-BA, 2013.

Entre os pontos de venda visitados, em 34% a farinha de mandioca ficava

exposta durante o período de comercialização (Figura 8). Esta prática, muito comum

66%

13% 13%

6% 3% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

PROTEGER/COBRIR NÃO DEIXARARMAZENADO EM

LOCAL ÚMIDO

NÃO DEIXARARMAZENADO NO

CHÃO

MANTER O LOCALLIMPO

OUTROS

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52

nas feiras de todo o Nordeste, pode ocasionar contaminação do produto, visto que

muitos clientes passam próximos aos sacos, muitos experimentam a farinha com as

mãos, diversas pessoas falam e espirram sobre o produto, além da sua exposição

aos contaminantes ambientais e aos animais, destacando-se insetos e roedores,

frequentemente encontrados nas feiras.

Para os demais casos (66%), a farinha era comercializada previamente

embalada, em sacos de 0,5 e 1,0 Kg, ou os sacos de 50 kg eram mantidos

amarrados ou recobertos com pedaços de plástico.

Figura 8. Prática de exposição da farinha de mandioca, durante o período de comercialização, em feira livre de Salvador-BA. 2013.

Nesse contexto, Evangelista (2003) observam que o nariz, a garganta, as

mãos, o intestino e as lesões inflamatórias cutâneas, a falta de asseio do

manipulador e do ambiente, a longa exposição do alimento ao ar, a proximidade de

fontes de sujidades e lixo e a presença de animais, entre outros, são, geralmente

causas influentes e potenciais para contaminação dos alimentos. Em adição,

considera-se que esta exposição contribui para aumentar a atividade de água do

produto a partir da superfície exposta, favorecendo a proliferação bacteriana e a

perda da qualidade do produto.

Na rotina das feiras pesquisadas, a prática de experimentar a farinha pelos

clientes, da maneira tradicional – pelo contato direto das mãos do consumidor com o

alimento, foi identificado em 62,5% dos casos, o que pode acarretar contaminações,

posto ser as mãos importante veículo de patógenos. Segundo Chen et al. (2001), as

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mãos de manipuladores podem ser cruciais na contaminação, no ambiente de

comercialização de alimentos, uma vez que microrganismos podem ser veiculados

durante a manipulação e também por hábitos de higiene incorretos.

3.4 Atividade de Água (Aw)

Resultados para a atividade de água encontram-se sumarizados na Figura 9,

notando-se média e faixa de variação levemente menor nas feiras móveis, em

comparação às feiras fixas (0,39).

A ampla variação dos valores de atividade de água nas amostras de farinha

das feiras fixas de Salvador-BA demonstra a falta de uniformidade e, geralmente,

longo e inadequado período de armazenamento e exposição prolongada do produto,

durante a comercialização, que compreendem fatores comuns que justificam os

resultados encontrados, nesse tipo de comércio.

Figura 9. Boxplot da atividade de água (Aw) de amostras de farinha de mandioca obtidas em feiras livres fixas e móveis, em Salvador-BA, 2013.

Nas feiras fixas, o maior intervalo de atividade de água registrado atrela-se à

compra de grande quantidade de farinha de mandioca – assim, parte do volume que

não era comercializado permanecia armazenado, sobretudo, no ponto de venda,

durante maior tempo. Nesse contexto, tendo em vista que as farinhas não

apresentavam rotulagem, com data de validade, avaliam-se dificuldades dos

0,25 0,29

0,42

0,54

0,39

0,36

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54

vendedores para trabalhar a rotatividade do produto de forma correta, posto ser este

um fator importante.

Na Figura 10, são apresentados resultados comparativos para a atividade de

água de farinhas comum e tipo superior. Como se nota, a farinha do tipo comum

apresentou maior faixa de variação para a atividade de água e maiores valores para

o conjunto descritores estatísticos utilizados. Estes achados estão diretamente

relacionados à qualidade sensorial do produto superior, que, por apresentar

processo produtivo diferenciado – torração mais elaborada, havendo, em muitos

casos, duas ou mais etapas de torração, é caracterizado pela sua crocância. Como

foi descrito por Andrade (2014), a torração é considerada indispensável na casa de

farinha, e o torrar da farinha de “copioba” tem as suas especificidades,

compreendendo três etapas de torração – “zanzar, grolhar e torrar a farinha” - nos

equipamentos mais antigos, ou uma torração mais trabalhada, nos fornos

motorizados.

Figura 10. Boxplot da Aw (atividade de água) de amostras de farinha de mandioca comum e tipo superior, obtidas em feiras livres fixas e móveis, em Salvador-BA, 2013.

Chisté et al. (2006), em estudo sobre farinha de mandioca no Pará,

consideram valor de atividade de água de 0,60 como o limite mínimo capaz de

permitir o desenvolvimento de microrganismos, razão pela qual os alimentos

desidratados, como a farinha de mandioca, serem considerados

0,54

0,25

0,52

0,36

0,39

0,35

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microbiologicamente estáveis. Nesse mesmo trabalho, as amostras em estudo

apresentaram atividade de água na faixa de 0,31 a 0,61.

Cândido Neto et al. (2005), em estudo com coleta de amostras de farinha de

mandioca temperada e embaladas em sacos plásticos, armazenadas por 30, 60, 90,

120, 150 e 180 dias, em João Pessoa-PB, registraram atividade de água variando de

0,38 a 0,49, faixa que se aproxima dos valores de Aw identificados nas amostras de

farinha estudadas, nas feiras livres de Salvador-BA.

Diferentemente, estudos conduzidos por Cohen et al. (2005) e por Souza et

al. (2008) reportam valores mais baixos de Aw para as farinhas pesquisadas, logo

após a etapa de torração. No primeiro estudo, ao analisar farinhas coletadas em

casa de farinha localizada em Castanhal-PA, os autores observaram atividade de

água na faixa de 0,34 a 0,36, enquanto no segundo, que avaliou oito amostras, no

Vale do Juruá-AC, a faixa de variação da atividade de água foi de 0,09 a 0,29,

valores que conferem maior estabilidade ao produto. Nesse sentido, pode-se

perceber, que mesmo após a torração, há uma variação para a Aw em diferentes

localidades, fato que, provavelmente, se relaciona à técnica de produção adotada.

3.5 Acidez

Em relação à acidez das amostras, os resultados são apresentados na Figura

11, observando-se maior dispersão para as farinhas das feiras fixas que as farinhas

das feiras móveis.

Figura 11. Boxplot da acidez total titulável (meq NaOH/100g) de amostras de farinhas de mandioca obtidas de feiras livres fixas e móveis, em Salvador-BA, 2013.

7,41 7,22

4,11

4,88

2,94

1,66

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56

A acidez na farinha de mandioca está relacionada tanto ao processo de

beneficiamento, sobretudo o tempo entre a colheita e o beneficiamento e o período

de prensagem - que favorecem reações de fermentação, quanto com os cuidados

posteriores de armazenamento. Assim, a medida da acidez reflete etapas distintas

ao longo da cadeia de produção e distribuição.

Deste modo, no caso das amostras das feiras fixas, avalia-se que a maior

dispersão de valores identificados relaciona-se a estas distintas etapas, a saber:

amostras com valores menores de acidez resultam de menor tempo de

processamento e melhor condição ou menor tempo de armazenamento pós-

processamento, enquanto os valores superiores indicam o contrário, podendo, neste

caso, os dois fatores – condições de beneficiamento e de armazenamento, atuarem

juntos ou separadamente, da determinação da maior acidez.

Na Instrução Normativa (IN) 52/2011 (BRASIL, 2011), a acidez para os

diferentes grupos de farinha apresenta duas classes - de baixa e de alta acidez - fato

que, provavelmente, se atrela aos diversos tipos farinha culturalmente utilizados pela

população e à falta de padronização no processo de beneficiamento nas diversas

regiões brasileiras. Tomando como referência o limite estabelecido para separar as

duas categorias (3,00 meq NaOH/100g), constatou-se que sete amostras entre fixas

e uma das feiras móveis (22%) foram categorizadas como de baixa acidez, e as

demais como de alta acidez.

De acordo com a legislação anterior, Portaria 554/1995 (BRASIL, 1995),

amostras com acidez superior a 3,00 meq NaOH/100g eram consideradas não

conformes, classificação que conduzia uma discussão distinta quanto aos resultados

observados em diferentes estudos. Cohen et al. (2005), ao analisar a acidez de

farinhas do tipo seca, no Pará, reportaram valores acima do preconizado à época,

registrando valores na faixa de 7,32 a 7,87 meq NaOH/100g. Para os autores, a

elevada acidez das amostras foi justificada pela etapa de prensagem, iniciada em

dia anterior à torração, com aumento do período de fermentação. Também no Pará,

Chisté et al. (2006) verificaram que, de 10 amostras de farinha de mandioca do tipo

seca, todas as apresentaram-se acima do padrão, com valores na faixa de 4,11 a

7,10 meq NaOH/100 g.

Dias e Leonel (2006), que procederam à análise físico-química de 15

amostras de farinha de mandioca dos tipos seca e d’água, em diferentes localidades

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do Brasil, também consideram que a acidez elevada pode ser indicativa de falta de

higiene no processo, o que é uma característica de processos artesanais. Em seu

estudo, os autores reportam valores de acidez para a farinha de mandioca, tipo

seca, variando de 2,08 a 7,40 meq NaOH/100g.

Em termos comparativos, tanto a farinha comum como a de tipo superior

apresentaram resultados dispersos para a acidez (Figura 12), o que reflete tanto a

falta de padronização no beneficiamento quanto problemas de conservação. Nesse

sentido, considera-se que, visando à obtenção e o comércio de produto com

qualidade superior, há necessidade de maiores controles no beneficiamento e no

armazenamento, de modo que este indicador possa apresentar valores em faixa

mais estreita.

Figura 12. Boxplot da acidez total titulável (meq NaOH/100g) de amostras de farinha de mandioca dos tipos comum e superior, obtidas em feiras livres fixas e móveis, de Salvador-BA, 2013.

Resultado semelhante foi encontrado no estudo desenvolvido por Matos et al.

(2012), com nove amostras de farinha de mandioca amarela, sendo três do tipo

Copioba Especial e do tipo Copioba, coletadas em quatro feiras de Salvador- BA. Em

relação aos valores de acidez total, verificou-se que variam de 1,81 a 4,71

meqNaOH/100g. Desta forma, 33,33% das amostras (três amostras) são

consideradas pouco ácidas, enquanto 66,66% (seis amostras) muito ácidas

6,60

7,41

4,22 4,48

1,66 1,94

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(BRASIL, 2011). Os autores ainda discutem que a modificação dos parâmetros de

qualidade da farinha pode ter sido decorrente do reconhecimento de que grande

parte da produção de farinha comercializada no país ainda é oriunda de casas de

farinha, cujo processo de fabricação é bastante artesanal.

Souza et al. (2008), no seu estudo com amostras de farinha de mandioca do

tipo seca, no vale do Juruá-AC, identificou apenas uma amostra ultrapassando o

limite legal anterior. Os autores destacam a acidez como um dos mais importantes

padrões físico-químicos, estando relacionada com o processo de fabricação da

farinha, como o tempo de fermentação ou tempo de prensagem da massa de

mandioca triturada.

Resultados distintos foram reportados por Brandão et al. (2008), ao analisar

51 amostras de farinhas de mandioca do tipo seca, no agreste alagoano, que

reportam 17 (33,3%) com acidez acima padrão. Trabalho realizado por Shittu et al.

(2007), na Mokwa, Nigéria, analisou a composição química de 17 amostras de

farinha de mandioca, e registrou valores ainda mais inferiores de acidez total titulável

entre 0,41 e 0,25 meqNaOH/100g.

3.6 Microscopia – análise de contaminantes físicos

De acordo com a análise microscópica das 62 amostras de farinha de

mandioca, evidenciou-se que 94% apresentaram algum tipo de contaminante,

estando em desacordo com os padrões estabelecidos pela IN nº 52/2011, do MAPA

(BRASIL, 2011). Segundo o Art. 9º desta norma, é considerada desclassificada e

imprópria para o consumo humano, e com a comercialização proibida, a farinha de

mandioca que apresentar uma ou mais das situações indicadas a seguir: aspecto

generalizado de mofo; mau estado de conservação; odor estranho; e presença de

insetos vivos ou mortos (BRASIL, 2011).

Em complemento, a Resolução RDC nº 175/2003, estabelece que os produtos

alimentícios não devem apresentar matéria prejudicial à saúde humana, tais como:

insetos em qualquer estágio de desenvolvimento, vivos ou mortos, inteiros ou em

partes; outros animais vivos ou mortos, inteiros ou em partes; excrementos de

insetos e/ou de outros animais; e objetos rígidos (BRASIL, 2003).

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Estes resultados indicam falhas na proteção para a farinha de mandioca, ao

longo da cadeia de processamento, transporte e comercialização, dado que, em

algum momento, o produto adquiriu algum contaminante físico. É fato que nas casas

de farinha medidas básicas de higiene não são adotadas de forma sistemática,

sendo observado o uso de equipamentos de madeira, a ausência de barreiras de

proteção contra animais, o uso de adornos pelos manipuladores e a exposição do

produto a contaminantes como poeira e areia. Durante o armazenamento e o

transporte os cuidados se restringem a não molhar a farinha, sendo os sacos

dispostos, muitas vezes, sobre locais sujos e com presença de insetos. Na etapa de

comercialização, fatores como exposição constante do produto, presença de insetos

e outros animais constituem fatores adicionais à ocorrência da contaminação física.

Dentre as amostras analisadas, as provenientes das feiras móveis

destacaram-se quanto à presença de contaminantes físicos (Figura 13), o que

demonstrou que as farinhas comercializadas nessas feiras estão mais susceptíveis a

este tipo de contaminação. Nesse contexto, avalia-se que a contaminação física

agrava-se durante a comercialização nas feiras livres, em virtude da precária

condição de infraestrutura, do intenso fluxo de pessoas e da presença de animais,

lixo e material em suspensão no ar, o que aumenta a exposição do produto.

Figura 13. Frequência (%) de contaminantes físicos nas amostras de farinha de mandioca de feiras livres fixas e móveis de Salvador-BA, 2013.

Ao serem comparadas as farinhas do tipo superior e comum, observou-se

que, em geral, a primeira apresentou melhores resultados para maioria dos

4%

12%

15%

31%

38%

42%

88%

6%

6%

11%

25%

25%

75%

50%

0% 50% 100%

SILICA

LARVA DE INSETO

INSETO

PLÁSTICO

PELO

MATERIAL ESTRANHO

NYLON

FIXA

MÓVEL

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contaminantes físicos analisados (Figura 14), quadro que pode expressar um

processamento mais criterioso esse tipo de farinha.

Figura 14. Frequência (%) de contaminantes físicos nas amostras de farinha de mandioca dos tipos comum e superior de feiras livres de Salvador-BA, 2013.

Dentre os contaminantes mais frequentes, destacaram-se o nylon, os

plásticos e os pelos. Os dois primeiros, provavelmente, resultam dos próprios sacos

nos quais a farinha de mandioca foi acondicionada, indicando utilização de

embalagens inadequadas e o empacotamento em condições impróprias, enquanto

os pelos resultam, sobretudo, da contaminação a partir animais, ainda na área rural,

e de manipuladores, ao longo da cadeia produtiva.

Resultado semelhante foi reportado por Chisté et al. (2006), que observaram

a presença de contaminação física por insetos e materiais estranhos em amostras

de farinha de mandioca - de 10 amostras, em apenas duas amostras não foram

detectadas a presença de sujidades. No trabalho Cohen et al. (2005), por sua vez,

não foi observado material estranho nas amostras de farinha de mandioca,

registrando-se somente um fragmento de inseto. Para os últimos autores, a maior

parte da farinha tinha produção em estabelecimentos precários, sem infraestrutura e

condições higiênico-sanitárias mínimas, podendo-se observar animais transitando na

área de processamento e livre acesso de insetos e roedores à matéria prima e ao

produto.

A segunda maior categoria de ocorrência nas amostras de Salvador foi

material estranho. Segundo a Associação Oficial de Analistas Químicos - AOAC,

(2000), define-se matéria estranha como qualquer material indesejável encontrado

0%

6%

19%

31%

31%

63%

75%

7%

9%

11%

30%

26%

61%

43%

0% 50% 100%

SILICA

LARVA DE INSETO

INSETO

PELO

PLÁSTICO

MATERIAL…

NYLON

SUPERIOR

COMUM

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em um produto, que pode estar associado a condições ou práticas questionáveis de

produção, armazenagem ou distribuição, incluindo-se as sujidades, as matérias em

decomposição e uma miscelânea de outros materiais (ZIOBRO, 2000).

Conforme as imagens da Figura 15, confirma-se a importância da

identificação de contaminantes físicos que podem chegar aos alimentos - como

insetos e seus fragmentos, pelos de animais ou humanos, além de sujidades em

geral, como madeira, nylon e plástico – revelando a contaminação e as condições

das práticas de higiene utilizadas na produção e ao longo da cadeia de distribuição

da farinha.

Figura 15. Imagens dos principais contaminantes físicos encontrados na farinha de mandioca comercializadas nas feiras livres de Salvador-BA: 1. Plástico; 2. Pelo; 3. Nylon e 4. Larva de inseto; 5. Madeira; 6. Fragmento de inseto, 2013. 3.7 Análise Microbiológica

Os resultados das análises microbiológicas das amostras de farinha de

mandioca obtidas nas feiras livres de Salvador-BA são apresentados na Tabela 2.

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Tabela 2. Perfil microbiológico (log UFC/g ou Presença) de amostras de farinha de mandioca obtidas em feiras livres fixas e móveis de Salvador, Bahia, Brasil. 2013.

Espécies Feira fixa Feira móvel

TOTAL comum superior comum superior

Indicador Padrão RDC 12

X ± Sb X ± S

b X ± S

b X ± S

b X ± S

b

(amplitude) (amplitude) (amplitude) (amplitude) (amplitude)

N° de amostras

6 30 10 16 62

Aeróbias Mesofilas

NSAa

3,68 ± 0,43 3,89 ± 0,86 3,26 ± 0,62 3,56 ± 0,75 3,68 ± 0,78

(3,00 - 4,30) (2,48 - 5,77) (2,48 - 4,38) (2,48 - 5,57) (2,48 - 5,77)

Bacillus cereus

3,48 0,41 ± 0,66 0,58 ± 0,93 0,46 ± 0,78 0,34 ± 0,64 0,48 ± 0,80

(<1,0 - 1,48) (<1,0 - 2,52) (<1,0 - 2,00) (<1,0 - 1,90) (<1,0 - 2,52)

E. coli 2,00 < 1,0 < 1,0 < 1,0 < 1,0 < 1,0

Coliformes Totais

NSAa

< 1,0 0,12 ± 0,38 0,26 ± 0,57 0,06 ± 0,25 0,12 ± 0,37

< 1,0 (<1,0 - 1,60) (<1,0 - 1,60) (<1,0 - 1,00) (<1,0 - 1,60)

Bolores e leveduras

NSAa

< 1,0 0,58 ± 0,78 0,50 ± 0,71 0,41 ± 0,81 0,47 ± 0,74

< 1,0 (<1,0 - 2,41) (<1,0 - 2,00) (<1,0 - 2,78) (<1,0 - 2,78)

Presença

Salmonella spp

Ausência Ausência Ausência Ausência Ausência Ausência

a Não se aplica

b Média e desvio padrão

Em relação às bactérias aeróbias mesófilas, registaram-se contagens na faixa

de 2,48 a 5,77 log UFC/g, com maiores amplitudes para as farinhas classificadas

como de tipo superior. Segundo Rodrigues et al (2003), contagens elevadas destes

microrganismos podem indicar contaminação excessiva da matéria-prima durante a

manipulação, além de falha no processamento, limpeza e desinfecção inadequada

de superfícies, ou ainda condições insatisfatórias durante a produção ou a

conservação dos alimentos.

Embora a legislação não estabeleça parâmetros para contagem padrão em

placa para análise microbiológica da farinha, Tortora, Funke e Case (2005),

compreendem que a determinação deste grupo microbiano é essencial, visto que,

entre os mesófilos, se encontra a maioria dos microrganismos que comumente

degradam os alimentos e que são patogênicos.

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Em estudo conduzido por Cândido Neto et al. (2004), na Paraíba, com o

objetivo de avaliar as características microbiológicas de farinhas de mandioca

(Manihot esculenta Crantz) simples e temperadas, armazenadas, observou-se que,

após um período de armazenamento 30, 60, 90, 120, 150 e 180 dias, registraram-se

resultados de coliformes totais e E.coli NMP g-1 <1, ausência de Salmonella spp e de

Staphylococcus aureus e contagem de bolores e leveduras e bactérias mesófilas

baixa.

Os alimentos vendidos nas feiras livres, além do contato com a poluição

urbana, e da insuficiência de proteção de um estabelecimento coberto, costumam

estar mais expostos à contaminação por microrganismos a partir do ar, tendo maior

possibilidade de sofrer alterações biológicas, devido às ações dos diferentes

organismos atuando sobre eles. Ao mesmo tempo, observam-se a adoção de

controles mínimos e a manipulação inadequada do produto, o que pode não

somente veicular patógenos, como também propiciar o seu desenvolvimento e

sobrevivência, favorecendo a ocorrência de Doenças Veiculadas por Alimentos

DVA’s (GERMANO; GERMANO, 2008).

Para os demais microrganismos e grupos microbianos pesquisados nas

farinhas de Salvador, verificaram-se contagens baixas e em atendimento aos

padrões estabelecidos. E. coli e Salmonella spp. não foram identificadas. Nesse

sentido, apesar da farinha de mandioca ser um produto com alto teor de

carboidratos, permanecer exposta a diversas oportunidades de contaminação, a

partir de diferentes fatores externos, estes não influenciaram expressivamente no

desenvolvimento microbiano, provavelmente devido à baixa atividade de água

registrada nas farinhas, o que restringiu o crescimento e multiplicação microbiana.

Embora a legislação não estabeleça um padrão para investigação de bolores

e leveduras em farinha de mandioca e que os resultados não tenham ultrapassado 2

log UFC/g, é de extrema importância seu estudo, visto que a farinha apresenta

condições favoráveis para o crescimento desses microrganismos, que podem causar

danos à saúde do consumidor pela produção de micotoxinas.

Para Guimarães (2010), apud Yoshisawa (2001), é importante considerar que

a presença de fungos toxigênicos em alimentos não confirma a presença de

micotoxinas, mas sim a possibilidade de sua contaminação. Por outro lado, a

ausência destes fungos não garante que o alimento esteja livre destes compostos,

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pois as micotoxinas persistem por um longo tempo, mesmo após a perda de

viabilidade dos fungos. No caso das farinhas de mandioca comercializadas em feiras

livres, avalia-se um excelente ambiente para a proliferação dos fungos, sobretudo

quando os princípios básicos de armazenamento correto são desconhecidos ou

desprezados (PEREIRA; CARVALHO; PRADO, 2002).

Sant’anna e Miranda (2004), ao avaliar o processamento de raízes de

mandioca (Manihot esculenta Crantz) para obtenção de farinha, em quatro unidades

de beneficiamento, situadas na zona rural do Recôncavo Baiano, com coleta de 33

amostras, evidenciaram que, em 32,1% delas, os valores de Bacillus cereus foram

superiores ao padrão estabelecido à época (BRASIL, 1997). Para os bolores e

leveduras, 24 amostras apresentaram contagem entre 1,0 x 101 a 7,3 x 103 UFC.g-1,

dentro do limite aceitável. Não foram encontradas amostras positivas para

Staphylococcus aureus, coliformes termotolerantes e Salmonella spp. No total,

27,3% das amostras de farinhas de mandioca classificaram-se em desacordo com a

legislação, por apresentarem contagens para Bacillus cereus acima padrão vigente

(BRASIL,1997).

Dóseal et al. (2010), ao analisar 81 amostras, ao longo do beneficiamento da

farinha, em unidades de produção tradicional, e 27 amostras provenientes de

unidades modelo, em Lagarto-SE, verificou, nas primeiras unidades, que as

contaminações microbianas foram inferiores a 10 UFC/g-1 para bactérias totais,

fungos totais e B. cereus; para coliformes totais e termotolerantes, os valores foram

de < 3NMP.g-1. Nas unidades modelo, a carga microbiana para todos os organismos

estudados na unidade modelo foi menor, com o avanço da etapa do processamento,

resultado atribuído à redução do teor de umidade após a prensagem da massa de

mandioca e à temperatura de processo de torração.

Igualmente, o trabalho desenvolvido por Chisté et al (2006), que teve como

objetivo avaliar o padrão de qualidade da farinha de mandioca do grupo seca,

subgrupo fina, tipo 1, com coleta de 10 amostras, nos principais supermercados e

feiras da cidade de Belém-PA, verificou-se em todas as amostras, que coliformes e

Bacillus cereus foram identificados em valores dentro do padrão da RDC 12/2001 e

não foi detectada a presença de Salmonella spp.

Quando as condições de atividade de água não favorecem o crescimento

microbiano, as bactérias do gênero Bacillus e bolores de diversos gêneros

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normalmente são os únicos a se desenvolver. Todavia, com umidade suficiente,

muitas bactérias aeróbias formadoras de esporos são capazes de produzir amilases

(JAY, 2005). Apesar das condições oportunas para o desenvolvimento de diversas

bactérias entre elas o Bacillus cereus, os resultados das farinhas das feiras de

Salvador-BA se mantiveram dentro dos padrões da RDC nº12/2001. Nesse sentido,

supõe-se que a baixa atividade de água do produto, associada à grande rotatividade

podem ser responsáveis por esses achados, uma vez que antes mesmo da

germinação dos esporos desse microrganismo, a farinha acabava comercializada.

Em trabalho realizado por Brandão et al. (2008), a contagem de coliformes e

a pesquisa de Salmonella spp. apresentaram conformidade com os padrões do

Ministério da Saúde, contudo, 23 (45%) das farinhas analisadas apresentaram

contagens de Bacillus cereus acima do permitido, com valores variando de 1 x 102

UFC/g a 9,8 x 105 UFC/g.

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4 CONCLUSÕES

Este estudo teve por propósito caracterizar a farinha de mandioca

comercializada em feiras livres de Salvador-BA, na perspectiva das práticas de

comércio, da conservação e da segurança do produto.

Quanto aos vendedores envolvidos no segmento, identificaram-se indivíduos

predominantemente do sexo masculino, com faixa etária entre 41 e 60 anos, com

baixo grau escolaridade, casados e com renda familiar entre um a três salários

mínimos. Observou-se média de ingresso na atividade de duas décadas. Em

relação à higiene pessoal, a maioria apresentou inadequações, pelo não

atendimento de requisitos normativos para manipuladores de alimentos, e informou

a não participação em cursos de manipulação de alimentos.

Quanto à caracterização higiênico-sanitária dos pontos de venda, foi

observada a falta de infraestrutura, principalmente nas feiras móveis, verificando-se

a insuficiência de condições básicas que permitissem a comercialização da farinha

de mandioca. Em relação às condições de conservação do produto, foi notório, tanto

nas feiras fixas quanto nas móveis, que poucos cuidados eram dispensados.

Nos casos de exposição da farinha, o produto ficava sujeito à contaminação,

visto que muitos clientes passavam próximos aos sacos, experimentavam com as

mãos, falavam e espirravam sobre o produto, além da sua exposição aos

contaminantes ambientais e aos animais.

Apesar da grande variação nos resultados de atividade de água, entre as

amostras de feiras fixas e móveis e dos tipos comum e superior, os valores

observados não chegaram a comprometer a qualidade microbiológica da farinha.

Contudo, refletem a falta de uniformidade no beneficiamento do produto e nas suas

condições de conservação, com potencial para afetar também atributos sensoriais.

Considerando a legislação vigente, a maior parte da farinha apresentou-se

como de alta acidez, apesar do registro de resultados dispersos para a acidez, tanto

para a farinha comum como para a de tipo superior. A maior amplitude para a

acidez reflete, sobretudo, variações nas práticas de beneficiamento da mandioca,

destacando-se o tempo entre a colheita e o beneficiamento e o período de

prensagem - que favorecem reações de fermentação, quanto com os cuidados

posteriores de armazenamento.

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A análise microscópica evidenciou que as farinhas de mandioca estavam não-

conformes na quase totalidade das amostras e maiores níveis de contaminação

foram encontrados nas amostras das feiras móveis, indicando falhas ao longo da

cadeia de processamento, transporte e comercialização.

Quanto ao perfil microbiológico, apesar da farinha de mandioca ser um

produto com alto teor de carboidratos e permanecer vulnerável a diversas

oportunidades de contaminação, estes fatores não influenciaram expressivamente

no desenvolvimento microbiano, provavelmente devido à baixa atividade de água

registrada, que restringiu a multiplicação microbiana.

Nesse cenário, o estudo demonstra a necessidade de maiores investimentos

para tornar satisfatórias as condições de comercialização da farinha de mandioca,

sendo indispensável à capacitação dos feirantes, de modo a aperfeiçoar e fortalecer

as práticas higiênico-sanitárias, para que sejam oferecidos alimentos seguros do

ponto de vista, microbiológico, microscópico e físico-químico. Outras medidas

públicas também devem estar envolvidas, buscando estabelecer melhorias nas

condições de infraestrutura e funcionamento das feiras livres, enquanto espaços de

abastecimento de alimentos.

Tendo em vista, ainda, que muitas características da farinha se vincularam a

etapas ainda no campo, avalia-se que o desenvolvimento de atividades envolvendo

produtores, como o treinamento e o monitoramento da produção, contribuirão para a

redução de riscos que possam ocorrer devido à colheita, beneficiamento,

manipulação, armazenamento e transporte inadequados.

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APÊNDICE A. Questionário pesquisa sobre os vendedores de farinha de mandioca

comercializada em feiras livres de Salvador-Ba.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DOS ALIMENTOS

R. Araújo Pinho, 32 Canela –

Salvador /BA CEP: 40.110-150

Tel. (71) 3283-7700 Fax 3283-7701

PESQUISA SOBRE OS VENDEDORES DE FARINHA DE MANDIOCA

COMERCIALIZADA EM FEIRAS LIVRES DE SALVADOR-BA.

IDENTIFICAÇÃO DO VENDEDOR (A)

01. Nome completo:

02. Endereço do ponto de venda: (01) Endereço:____________________________________________________ (02) Não se aplica

03. Idade:

04. Sexo: Masculino (01) Feminino (02)

05. Formação escolar (01) Analfabeto (05) Ensino Médio completo (02) Ensino Fundamental incompleto (06) Ensino Superior incompleto (03) Ensino Fundamental completo (07) Ensino Superior completo (04) Ensino Médio incompleto (08) Outro_____________________

06. Já fez algum curso de formação para trabalhar com alimentos? (01) Sim (02) Não Se sim, quais?_______________________________________________

07. Estado Civil: (01) Solteiro (a) (02) Casado (a) (03) Divorciado (a)/ Separado (a) (04) Viúvo (a) (05) União Estável

08. Responsável pelo domicílio/Chefe de família (01) Sim (02) Não

09. Renda Familiar Mensal: (01) < 1 SM (02) 1 a 3 SM (03) 3 a 5 SM ( 04) > 5 SM

10. Quantas pessoas dependem financeiramente do Sr? ______ pessoas.

OCUPAÇÃO E TRADIÇÃO

11. Há quantos anos trabalha como vendedor de farinha? ___________________

12. Há quanto tempo comercializa farinha neste local?

Entrevistador:__________

Local: ________________

Data: ____/_____/_____

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(01) Menos de 1 ano (02 ) Entre 1 a 5 anos (03) Entre 5 a 10 anos (04) Mais 10 anos

13. Quantos dias na semana você trabalha vendendo farinha? (01) Todos os dias (02) 1 vez na semana (02) 2 vezes na semana (03) 3 vezes na semana (04) 4 a 6 vezes na semana

14. Quantas pessoas trabalham neste ponto? (01) Apenas o proprietário (02) Apenas o funcionário (1) (03) O proprietário e 1 funcionário (04) O proprietário e 2 funcionários (05) O proprietário e mais de 2 funcionários

15. Existe algum parente trabalhando com você? (01) Sim (02) Não

16. Se sim, quantos? __________ familiares.

17. Por que razão resolveu trabalhar com o comércio de farinha? (01) Desemprego (02) Tradição familiar (03) Retorno financeiro (04) Complementação de renda (05) Outros _________________________

18. Qual o número (média) de clientes que tem por semana?

19. Em média, quanto vende (kg) de farinha por dia?

20. Além deste comercio, há outra atividade de renda? (01) Sim (02) Não Qual? ____________________

PONTO DE VENDA

21. Qual o tipo do ponto de venda? (01) Box (04) Estrado (02) Barraca (05) Pedra/ Lona/ Esteiras (03) Banca (06) Outro _____________________

22. O ponto/estrutura de venda onde se realiza o comércio é: (01) Próprio (02) Emprestado (03) Alugado (04) Não possui

23. O ponto de venda está cadastrado em algum órgão de administração? (01) Sim (02) Não (03) Não sabe (04) Não se aplica

24. Em relação à infraestrutura existe: 1. Disponibilidade de água (01) Sim (02) Não 2. Disponibilidade de Luz (01) Sim (02) Não 3. Disponibilidade de instalações sanitárias (01) Sim (02) Não

25. Existem contaminantes ambientais ao redor? . 1. Lixo (01)Sim (02)Não 2. Animais (01)Sim (02)Não 3. Esgotos (01)Sim (02)Não 4. Poluição (fumaça/poeira) (01)Sim (02)Não

26. O local está limpo? (01)Sim (02)Não

27. Com que frequência você realiza a limpeza do local? 1. Diária (01)Sim (02)Não

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2. Semanal (01)Sim (02)Não 3. Quinzenal (01)Sim (02)Não 4. Dias alternados (01)Sim (02)Não 5. Sempre que necessário (01)Sim (02)Não 6. Encontro limpo (01)Sim (02)Não 7. Outro ___________________________

28. De que maneira é efetuada a limpeza do local de venda? 1. Passo apenas uma vassoura (01) Sim (02)Não 2. Lavo apenas com água (01) Sim (02)Não 3. Lavo o local com água e sabão (01) Sim (02)Não 4. Outro ____________________ (01) Sim (02)Não

O lixo é removido diariamente? (01) Sim (02) Não

29. Em sua opinião qual a importância de se manter o local de venda limpo? Atrair cliente (01)Sim (02)Não Proteger/Conservar o alimento (01)Sim (02)Não Não tem importância (01)Sim (02)Não Não sei (01)Sim (02)Não

FARINHA DE MANDIOCA

30. Que tipo de farinha comercializa? 1. Copioba (01) Sim (02) Não 2. Comum (01) Sim (02) Não 3. Outra _____________________

31. De onde vem a farinha que comercializa? 1.Santo Antônio (01) Sim (02) Não 2. Nazaré das Farinhas (01) Sim (02) Não 3. São Félix (01) Sim (02) Não 4. São Felipe (01) Sim (02) Não 5. Maragogipe (01) Sim (02) Não 6. Outros ___________________________

32. Compra a farinha de mandioca direto do produtor rural? (01)Sim (02) Não

33. Se não, de quem compra? (01) Pequeno Intermediário (02) Grande Intermediário (03) Outro____________ (04) Não se aplica

34. Quais as características que você observa quando vai comprar farinha? 1. Cor (01) Sim (02) Não 2. Crocância/Torrada (01) Sim (02) Não 3. Tamanho do grânulo (fina/média/grossa) (01) Sim (02) Não 4. Ausência de sujidades (01) Sim (02) Não 5. Gosto/Paladar (01) Sim (02) Não 6. Outro ______________________________

35. Como a farinha chega até o seu estabelecimento? (01) Carro próprio (02) Carro alugado (03) Carro do fornecedor (04) Outro tipo de veículo:______________________

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36. Existe proteção para o produto durante o transporte? (01) Sim (02) Não

37. Com que frequência recebe farinha? (01) 1x por semana (02) 2 a 3x por semana (03) 4 x ou mais por semana (04) Quinzenalmente

38. Quanto de farinha compra/recebe por vez (quantidade bruta)? ______________

39. E por tipo? Copioba ____________________ Comum _____________________ Outra _______________________

40. Quantos quilos de farinha costuma vender por semana? _____________________

41. Qual a forma que comercializa a farinha? (01) A granel (02) Pré embalada

. A farinha comercializada fica exposta? (01) Sim (02) Não

42. Você comercializa apenas a farinha? (01) Sim (02) Não

43. Se não, a farinha é o produto predominante? (01) Sim (02) Não (03) Não se aplica

44. Conhece a origem do nome farinha de Copioba? (01) Sim (02) Não

45. Se sim, qual a origem do nome da legitima farinha de Copioba? ____________________________________________________________

PERCEPÇÃO DE HIGIENE E RISCO

46. Após o fechamento do ponto/estrutura de venda, onde armazena a farinha? (01) Em depósito/galpão (02) Permanece no ponto/estrutura de venda

47. Quais cuidados o vendedor deve ter com a farinha estocada no período da noite? 1 .Proteger/Cobrir (01) Sim (02) Não 2. Não deixar estocado em local úmido (01) Sim (02) Não 3. Não deixar estocado no chão (01) Sim (02) Não 4. Manter o local limpo (01) Sim (02) Não 5. Outros ___________________________

48. Durante a comercialização da farinha, quais cuidados o vendedor deve ter com o produto? 1. Não deixar o saco (a granel) aberto (01) Sim (02) Não 2. Manter o ponto/estrutura de venda limpo (01) Sim (02) Não 3. Manter os utensílios limpos (01) Sim (02) Não 4. Não deixar o produto em contato direto com o chão (01) Sim (02) Não 5. Outro__________ (01) Sim (02) Não

49.Quais as condições dos utensílios utilizados na venda da farinha? 1. Limpos (01) Sim (02) Não 2. Conservados (01) Sim (02) Não 2. Com ferrugem (01) Sim (02) Não 3. Presença de sujeira (01) Sim (02) Não

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50. Você permite que os seus clientes experimentem a farinha, antes de compra-la, utilizando o hábito tradicional? (01) Sim (02) Não (03) As vezes

51. Se não, o que este hábito poderia causar? __________________

52. Existe prazo de validade para a farinha? (01) Sim (02) Não (03) Não sei

53. Se sim, qual seria este prazo? ______________________________________

54. Quais são as possíveis causas que levam a deterioração da farinha? 1. Armazenamento em local úmido (01)Sim (02)Não 2. Utensílios mal higienizados (01)Sim (02)Não 3. Presença de fungos (01)Sim (02)Não 4. Ponto/estrutura de venda sujo (01)Sim (02)Não 5. Beneficiamento com etapa da torração inadequada (01 )Sim (02)Não

55. Quais as características de uma farinha estragada? 1. Úmida/Fria (01) Sim (02) Não 2. Presença de mofo (01) Sim (02) Não 3. Ausência da crocância/mole (01) Sim (02) Não 4. Odor desagradável (01) Sim (02) Não 5. Gosto alterado (01) Sim (02) Não 6. Presença de sujidades (01) Sim (02) Não 7. Presença de gorgulho (01) Sim (02) Não

56. Você acha que a farinha comercializada em mercados públicos ou feiras-livres, podem estar contaminadas? (01)Sim (02)Não

57. Se sim, podem estar contaminadas com o quê? 1. Sujeira (01) Sim (02) Não 2. Bactérias (01) Sim (02) Não 3. Parasitas (01) Sim (02) Não 4. Poluição (01) Sim (02) Não 5. Moscas (01) Sim (02) Não 6. Fungos (01) Sim (02) Não 7.Outro _____________________

58. Em relação aos vendedores de farinha de mandioca do estabelecimento: 1. Utilizam uniforme? (01) Sim (02) Não 2. Usam adornos? (01) Sim (02) Não 3. Utilizam sapatos fechados? (01) Sim (02) Não 4. As unhas são curtas e sem esmalte? (01) Sim (02) Não 5. Usam proteção para o cabelo? (01) Sim (02) Não 6. Presença de ferimentos? (01) Sim (02) Não 7. Usam luvas? (01) Sim (02) Não

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APÊNDICE B. Termo de Consentimento.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E PRÉ-ESCLARECIDO

A Universidade Federal da Bahia, cumprindo seus objetivos institucionais, está desenvolvendo

o projeto de pesquisa “A FARINHA DE MANDIOCA EM FEIRAS LIVRES DE SALVADOR-BA:

PRÁTICAS DE COMERCIALIZAÇÃO, CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DE ALIMENTOS”, com

objetivo de caracterizar a farinha de mandioca comercializada em feiras livres de Salvador-BA, na

perspectiva das práticas de comércio, qualidade físico-química, microscópica e microbiológica do

produto. A entrevista e coleta serão realizadas com o uso de um questionário, que contemplem as

seguintes dimensões: características socioeconômicas do vendedor, perfilo vendedor, aquisição e

acondicionamento da farinha de mandioca, características higiênico-sanitárias e comercialização.

Considerando a sua condição de vendedor, solicitamos a contribuição, pela concordância com

o termo de consentimento livre e pré-esclarecido aqui apresentado e participação em uma entrevista.

Caso tenha qualquer dúvida, solicite esclarecimentos ao entrevistador, à Coordenação do projeto –

Profa. Ryzia de Cassia Vieira Cardoso, Escola de Nutrição, R. Araújo Pinho, 32 – Canela, Salvador -

Telefone: (71) 3283-7700/7695 / e-mail: [email protected]. As informações obtidas serão mantidas em

sigilo e você pode, a qualquer momento, retirar o seu consentimento de participação, não havendo

nenhum prejuízo pessoal. Na certeza de podermos contar com esta importante colaboração,

agradecemos.

Eu, _______________________________________________________________________,

RG _________________, declaro ter sido informado (a) e estar devidamente esclarecido (a) sobre os

objetivos e intenções deste estudo sobre, a comercialização da farinha de mandioca em feiras livres

de Salvador-BA, que inclui uma entrevista a que estarei sendo submetido (a). Recebi garantia total de

sigilo e de obter esclarecimentos sempre que o desejar. Sei que minha participação está isenta de

despesas. Concordo participar voluntariamente deste estudo e sei que posso retirar meu

consentimento a qualquer momento, sem prejuízo ou perda de qualquer natureza.

Nome: ___________________________________________________

Salvador, _____ de ____________________ de 2013.

PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Eu, Ryzia de Cássia Vieira Cardoso, responsável pelo projeto, ou o meu representante declaramos

que obtivemos espontaneamente o consentimento deste participante para realizar este estudo.

Assinatura ___________________________________ ____/ ____/ ____

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO / FACULDADE DE FARMÁCIA

CENTRO DE RECURSOS HUMANOS

Impressão

digital para não

assinantes

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ESCOLA DE NUTRIÇÃO DAUNIVERSIDADE FEDERAL DA

BAHIA/ ENUFBA

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

Pesquisador:

Título da Pesquisa:

Instituição Proponente:

Versão:

CAAE:

OS CAMINHOS DA FARINHA DE MANDIOCA: DE TRADIÇÃO ALIMENTARBRASILEIRA À REALIDADE DO ABASTECIMENTO, CONSUMO E USOS, EMSALVADOR-BA

Ryzia de Cassia Vieira Cardoso

Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia/ ENUFBA

1

26674214.8.0000.5023

Área Temática:

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Número do Parecer:

Data da Relatoria:

621.241

23/03/2014

DADOS DO PARECER

Trata-se de um projeto maior desenvolvido em três etapas com o propósito de caracterizar a farinha da

mandioca, na perspectiva da tradição alimentar brasileira e da realidade de abastecimento, consumo e usos,

em Salvador-BA.

Apresentação do Projeto:

Objetivo Primário:

- Caracterizar a farinha da mandioca como tradição alimentar brasileira e na perspectiva do abastecimento e

comércio em feiras e mercados públicos, bem como das práticas de aquisição, consumo e dos usos por

consumidores, em Salvador-BA.

Objetivo Secundário:

- Descrever a participação da farinha de mandioca na formação da identidade histórico/cultural brasileira,

enquanto manifestação de valores,comunicação e hábitos alimentares; - Descrever o abastecimento e a

comercialização da farinha de mandioca, em mercados públicos e feiras livres,no município de Salvador-BA;

- Identificar práticas de aquisição, consumo e usos da farinha de mandioca, por consumidores de mercados

públicos e feiras livres da cidade;- Identificar as formas de aquisição, consumo e usos da farinha de

mandioca na gastronomia da rede hoteleira e da cadeia de restaurantes da cidade.

Objetivo da Pesquisa:

Financiamento PróprioPatrocinador Principal:

40.110-150

(713)263--7710 E-mail: [email protected]; [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

Av. Araújo Pinho nº 32Canela

UF: Município:BA SALVADORFax: (713)263--7704

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ESCOLA DE NUTRIÇÃO DAUNIVERSIDADE FEDERAL DA

BAHIA/ ENUFBA

Continuação do Parecer: 621.241

- Identificar práticas de aquisição, consumo e usos da farinha de mandioca, por consumidores de mercados

públicos e feiras livres da cidade;- Identificar as formas de aquisição, consumo e usos da farinha de

mandioca na gastronomia da rede hoteleira e da

cadeia de restaurantes da cidade.

Riscos:

Os riscos relacionados à pesquisa compreendem aqueles relativos à aplicação de questionários. Nesse

sentido, uma vez que as perguntas, em sua maior parte, referem-se às condições de abastecimento,

comércio, aquisição, conservação, consumo e usos da farinha, e que os pré-testes dos instrumentos não

revelou desconforto aparente nas distintas categorias de entrevistados, considera-se uma aplicação

tranquila, sem causar maiores

riscos de constrangimentos. Informa-se, ainda, que os questionários serão aplicados por entrevistadores

treinados, que receberão orientações quanto aos cuidados de abordagem e condução da entrevista, em

respeito aos participantes.

Benefícios:

Observa-se na atualidade, um intenso movimento em direção à construção de uma nova concepção quanto

à cultura e ao patrimônio da farinha de mandioca, um resgate da sua contribuição alimentar, historicamente

discriminada e referida pelo uso por grupos socialmente excluídos. Nesse sentido, o projeto se volta ao

potencial e à valorização atual conferida à farinha pela gastronomia, com o reconhecimento dos saber-

fazeres, da

tradição alimentar e da identidade de um povo, em um cenário que abarca a produção, a distribuição e a

comercialização, dentro da cadeia informal de alimentos. Dada a complexidade desse quadro, este projeto

debruça-se sobre a participação histórica da farinha na cultura alimentar brasileira e faz um recorte da

realidade atual do abastecimento, comércio e práticas alimentares relativas à farinha de mandioca, em

Salvador-BA, buscando trazer avanços para os campos científico e social, pela geração de novos

conhecimentos.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

Pesquisa relevante do ponto de vista sociocultural e sem maiores riscos para os sujeitos de pesquisa.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

40.110-150

(713)263--7710 E-mail: [email protected]; [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

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Page 83: A FARINHA DE MANDIOCA EM FEIRAS LIVRES DE … · de mandioca nas feiras livres de Salvador-BA, fazendo-se necessária a capacitação dos feirantes e maior investimento público quanto

ESCOLA DE NUTRIÇÃO DAUNIVERSIDADE FEDERAL DA

BAHIA/ ENUFBA

Continuação do Parecer: 621.241

Termos de acordo necessitando apenas revisão das datas do cronograma e do TCLE.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

Atualizar cronograma. Incluir local para impressão digital no TCLE. Assinar folha de rosto.

Recomendações:

Projeto aprovado mediante pequenas alterações descritas acima.

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

Aprovado

Situação do Parecer:

Não

Necessita Apreciação da CONEP:

O colegiado acompanha o parecer do relator.

Considerações Finais a critério do CEP:

SALVADOR, 22 de Abril de 2014

Karine Curvello-Silva(Coordenador)

Assinador por:

40.110-150

(713)263--7710 E-mail: [email protected]; [email protected]

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Av. Araújo Pinho nº 32Canela

UF: Município:BA SALVADORFax: (713)263--7704

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