a falencia de uma utopia - ernesto kramer

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Análise crítica do Marxismo, por um anarquista.

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  • AFALNCIADEUMAUTOPIA

    MARXREVISITED

    ERNESTO KRAMER

    Edies universo separado

  • AFALNCIADEUMAUTOPIA

    MARXREVISITED

    Ernesto Kramer MaringPRAbril2004(fimdesemanasanta)

    PELOSFRUTOSQUESERECONHECEAQUALIDADE

    DEUMARVORE

    CONTEDO

    INTRODUO 2REVOLUO 4QUEMFAZAREVOLUO 12VELHASUTOPIAS 18LIMITESDOMARXISMO 23OSCRATAS 25OSCOMUNISTAS 31AOBSESSODEMARX 35

    OROLDAUTOPIA 40

    A Falncia de uma Utopia - ek 1

  • INTRODUOExistempalavrasdemaisoumenosfcilesimplesdefinio.Outras, pelo contrrio, apresentam srias dificuldades quando sepretendechegaraumconsensosobreseusignificado.Palavraseconceitosnovos,recentementeincorporadoslinguagem humana, geralmente no apresentammaiores problemas.Comoexemplovalemostermosempregadosnareadainformtica.Outras,maisantigas,tiveramseussignificadosoriginaismodificadosoudeturpadosao longodahistria,obedecendoadiversoscontextosondeforaminseridas,eataosinteressesparticularesdequemasutilizou,visandofinsdiversos.Hpalavrascomo,porexemplo,moral,ticaouidoneidade,queso conceitos imateriais e s ganham sentido ou significadoquando colocadasem relao a fatosou aesdomundo real.Mastambmhoutras,queconceitualizam fatosouaesconcretas, sobre asquaishoje existeuma confuso extrema e soempregadascomfinseintenesdiversaspelaspessoas.Emestetextoprecisaremosnosesclarecersobrevriosconceitosque se incluementreestasltimas, comoutopia, socialismo,anarquismo,democracia,revoluooucomunismo.Devemostentarcoloclasemumcontextohistrico,examinarfatosquelevaram a lhes dar significados atualmente de uso comum, comotambmconsiderarcomousarestesconceitosnavriasvezesmilenar e ainda no acabada luta pela construo de ummundomelhor, mais autenticamente humano, justo, fraterno, noviolentoelibertrio.

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  • Todasaspalavrasmencionadasacima(maisalgumasoutras)tmemcomumquesurgiramcomoantnimosasituaesnoqueridas,queostensivelmenteprejudicavamagrandepartedapopulaoterrestre.Elasexpressamformasnovasdeestruturaosocial, diferentes formas de relacionamento humano, e indicamcomosepoderiachegarrealizaodestasquestes.Os termosaosqueprincipalmentenos referimos,almdediferentes significados, tambm incorporam apelidos,queexplicitamsuarelaocomdiferentesfatosouintenes,comorevoluoburguesa,proletriaounoviolenta,ouanarquiasindicalista,comunista,utpica,etc.Fundamentalmente,tentaseexplicarasviaspropostasparachegaraconstituirummundonovo,totaleradicalmentedistintodoqueestamosvivenciando,comoraahumana,atravsdemuitosmilharesdeanos.Usadosathoje,poramigoseinimigos,foramcontextualizadase/oudeturpadas segundo as intenes e finalidadesdaspartesinteressadas.Porumlado,aquelasquequeremconservarasituaodomodoqueseencontrahojee,sepossvel,aumentaraindamaissuasvantagens;pelooutro,osqueaspiramaestenderosbenefciosparceladapopulaoque,almdeteroacessonegado,usadavilmenteparaproduziro luxoeariquezausufrudospelosmencionadosanteriormente.Entreosnoprivilegiados,ouoprimidos, aindano surgiuumasntesequepermitaumacionarconsensual.Hevidentesconflitosedivergnciasentreas idiasexpostaspordiferentes filsofos,pensadoreseativistasquesepreocuparam(eaindasepreocupam)peloassunto.Cadacertotemposurgemnovascontribuies,emformadereinterpretaes,adequaesameios,mbitosoumomentoshistricosdiferentes,ou atnovaspropostas

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  • deaobaseadasemprincpiosqueanteriormenteno tinhamsidoexpostosouincludosnopanoramageral.Consideramos interessante uma releitura das propostas apresentadas,especialmentenosltimos250anos,paranosesclarecersobreasorigensdaheranaquenosdeixaramantepassadosintelectuaisecombatentesdacausaquepretendelevarhumanizaodoplaneta.Consideramosnecessrioinserirestesconceitosnocontextodasituaoplanetriaatual,comfinsdefundamentarasaese formasquesejamasmaisrealistaspossveis,escolhendo,preferentemente,aquelasqueapresentempotenciaisefetivosnosmenoresprazosecomosmenoresprejuzoseinvestimentospossveis.

    REVOLUOEstapalavrasempreseaplicoueaindaestemusoparadesignarumamudanadrstica, radical,profunda,abrangente,naestruturadeumasociedade.Masparecequeesseonicopontoconsensualexpressadopelotermo.Destaconceituaobsicaaparecemdiversasinterpretaes,quedivergemsobreseoatorevolucionrioseriaeminentementeviolento,ousehaveriapossibilidadedeumarevoluobaseadaematosnoviolentos.Maisdivergnciasaparecemquandoseconsideraquemseriamoudeveriamseros implementadoresdatalrevoluo,comotambmquandosoconsideradososafazeres necessrios para realizla, existindo questionamentos atnosfinsalmejadosporesta.

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  • Cabe considerarque, sea revoluo,exclusivamente,umatoviolento,seriadifcilcatalogarcomessetermoasrevolues industrial,comercial,dostransportes,dascomunicaesoudatecnologiaemgeral.Se examinarmosdetidamente toda ahistriadahumanidade luz da primeira frase deste captulo, facilmente entenderemosquea talrevoluosocialaindano foirealizada.Apenaspodemos registraralgumasexcees, localizadasemespaos reduzidose implementadaspor(relativamente)pequenosagrupamentoshumanos.Vemosque,desdeamaisremotaantiguidade,atosdiasdehoje,associedadesconstrudaspeloshumanostiveram,comoaindatm,umacaractersticabsicadeverticalidade,emsuaconcepoe implementao.Essaverticalidade,queassume formapiramidal, nunca foi modificada suficientemente para configurarumanovaformaderelacionamentossocial.Oquesimobservamosuma interminvel lutapelopoder,empreendidaporindivduos,gruposdetodotipoimaginvel,ouporclasses sociais.Confundira tomadopoder, feitaporquem for,comumarevoluo,errocomum.Ficandopreservadaumaestrutura hierrquica, que privilegia unas sobre outros, fica claroquenohouveatorevolucionrio.Podesergolpe,levantepopular,rebeliovitoriosa,masrevoluooutracoisadiferente.A estrutura social, que com tanto cime conservamos, facilmenteentendidaporumgrficoque representaumapirmide:

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  • Paraexplicarasrelaesverticaisentreosdiferentescomponentesdasociedade,podemossegmentarestapirmide,colocandoemseupiceaminoriaprivilegiada,queusufruioprodutodetodooresto.Nabasecolocaramosamaioriamarginalizada,ostrabalhadoresprodutoresservidorese,nos segmentos intermedirios,diferentesclassesconstitudasparaserviraopodermximo,numaescalaque,asuavez,configurapodereprivilgiossobreosqueseencontramembaixo.Umapropostadeinversodapirmidenomudaaestruturadepoderdehumanossobreoutroshumanos,conservandoaverticalidadena relao social.Elaapenasdeslocaopoderparaoutrogrupo social, sem configurar, por isto, um ato revolucionriocompleto.Seguindocomoapoiogrfico,poderamosconsiderarcomorealamudana(drstica,radical,abrangente,profunda)dapirmideparaumcrculo,porexemplo.Este,vistodamesmaperspectivadapirmide,seapresentacomoumalinha:__________________peloquesefalaemorganizaohorizontal.precisoobservlodesdecimaparaenxergarsuarealdimenso:

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  • Outroscrculosconcntricos,neleinseridos,serviriamparaexplicararelaohorizontaldaorganizaointernadestetipodesociedade.Fundamentalmente, se quisermos tipificar uma revoluo verdadeira,temosqueconsiderlacomooatoquenos leveestruturao de uma sociedade totalmente diferente atual. Senossoobjetivoforodeproduzirumarevoluo libertadora,queelimineasclassessociais,nopodemospensaremtermosverticais/piramidais,poisnema inversodapirmidenos levaaalcanaroobjetivoalmejado.Assime simplificando grosseiramente,opretenso revolucionriotemantesiatarefadetransformarumapirmidenumcrculo,colocando ladoa ladooselementosqueanteriormenteestavamempilhadosunssobreoutros.Uma das controvrsiasmais acentuadas, surgidas entre os quepreconizam a necessidade de revoluo, reside na necessidadedequeestaserealizeemformaviolenta,ounapossibilidadequeaaorevolucionriasejaempreendidapormeiosnoviolentos.Pior ainda, entre os adeptos e os contrrios a uma ou outradestas formas,existeuma gamadeposicionamentosque influem,especialmente,notemponecessrioparaimplementla.Ahistrianosmostraclaramentequenuncaumaououtraformaproduziuosresultadosapetecidos,queridosoualmejados.Atatal revoluo bolchevique, realizada na Rssia imperial, no

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  • conseguiumaisqueuma transformaoestruturaldasociedadecapitalista,priorizandoumcapitalismodeEstadosobreumcapitalismodeLivreMercado,pormeiodeuma reacomodaodosatoressociais.Nuncaconseguiue,pior,conscienteeautoritariamenteimpediuodesenvolvimentoaformashorizontaisdeestruturaoerelacionamento.Pelooutrolado,oslibertriosantiautoritriosnotmmuitoparamostrar,masessepoucomuitomaisqueoalcanadopelosmarxistas autoritriosduranteos80 anosque tiveramopoderabsolutonasmos.Comoexemplopodemosnosreferirasociedadescriadasantesdaguerracivilespanhola,ounaUcrnia.Estasnofracassaramporinviabilidade,masporsereliminadasviolentamente pelo sanguinrio tirano Francisco Franco, pela sanguinriaintervenodasBrigadasoudoExrcitoVermelhos.Parasua formao,osgrupossociais libertriosusaram tantodaviolncia extrema, como do consenso entre os participantes. Dependeram,para isso, tantodascondiesobjetivasencontradasemumlugardado,comodaconstruoideolgicaqueosimpulsavaao.Acontrarevoluono fezdiferenas:semmisericrdiamassacrouatodos.CabeaquisalientarqueomesmotratamentoreceberamoslibertriosqueousaramsemanifestarnaextintaUnioSovitica.Istonodeseestranhar,setratandodeumasociedadequepreconizouademocraciadamaioria,aqual, inevitavelmente, levaopresso,marginalizaoeaosilenciamentodasminorias.Pioraindaseumaminoriadissidenteecontestatria.dessemesmotipodedemocraciaqueseservemosatuaisburguesesparasustentarsuaprpriaexistncia.Um revolucionrionopodepretenderalavancar sua luta,apoiadonesseautoritarismo velado; como tambm no pode, sob nenhum ponto de

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  • vista,pretenderqueessasejaabasereferencialquejustifiqueasdecisestomadasnasociedadequequerconstruir.Desdeestaperspectiva,ademocraciaburguesaeadoproletariado(propostaporMarxeEngels)soformasdeviolnciadiferenciadasapenasporgrausdaprpriaviolnciafsica.Nofundoestointimamenterelacionadas.Emsuaessncia,ademocracia,daformaqueestimplementadahojeetalcomofoinoImprioSovitico, um instrumento da violncia usada paramanipular esubmeteramaioriaaoscaprichosdeumaminoriaquesebeneficiadestasituao.Emresumidascontas,omodelodemocrtico impostoansnopermitebrechasquepossamviabilizara revoluoporessavia.Astravasdeseguranasofortesdemais.Nasescassasvezesquea possibilidade revolucionria pretendeu se realizar por via democrtica,estafoisangrentamenteimpedidaeeliminada.PodemverosacontecimentosemSofia,Bulgria,poucosanosantesdaSegundaGuerraMundial,comotambmoqueaconteceunoChile,noscomeosdosanos70.Ademocracianegouseasimesma.Elaspermitidaquandoeatondesirvaaosdetentoresdopoder.Apropostaderevoluonoviolentabaseadaemacionarmaissutil, mas no por isso isenta de resposta violenta da contrarevoluo. Por falta de esclarecimento, freqentemente confundidacomopacifismo,bandeiraprpriadehippiesecristos.Reconhecemoscomonoviolentooatoquenoapresentevestgiosdeviolnciafsica,econmica,religiosa,psicolgicaouecolgica.Relacionadocomotermorevoluo,esclareceadinmicadosatosquelevamconcretizaodesta.

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  • Neste sentido, inextremisuma revoluoquepretenda serrealizada pormeios no violentos, pode assumir caractersticasquepodemser reconhecidasemummbito ldico.bviodemaisqueosferrenhosdefensoresdanecessidadedoempregodaviolnciabrutaatacaredestruirprimeiro,paradepoisconstruirnopossamdarchancealgumanoviolncianaexecuodarevoluo. Istoumacontradioemsi,poisoatoviolentonoconfigurapropriamente a revoluo,mas,na teoria autoritria,representaapenasumpassointermediriopara,posteriormente,chegararealizla.Aviolnciasseriaempregadaparaconstruirummbitosocialcomcondiesdeconcretizarapretendidarevoluopormeiosrelativamentemaispacficos.Quemcolocaarevoluoemtermosdeconfrontoentreburguesiaeproletariado,apenassubstituiumaclassedominanteporoutra.Noscasosqueissofoialcanadoconstatamos,comoconstantehistrica,queaclassenopodertendeaseperpetuar,travandoouimpedindoarealizaodaverdadeirarevoluopretendidanodiscurso.O talperodode transioproposto tendeaseeternizar,favorecendoaconstruodeumapirmidesocialanlogaaoperodoanterior,mudandoapenasosatoresparticipantes.Tambm,geralmente,anovasociedaderevestidadecaractersticas tantooumaisviolentas,autoritriaseopressivasqueasdoprpriopoderderrotado.Esta constatao uma realidade histrica e constitui assuntotratadopordiversoslibertrios,crticosdascolocaesmarxistas,aindaquandoMarxestavavivo,muitoantesdesequersecogitara existncia daUnio de Repblicas Socialistas Soviticas.Masnosdaquesurgeaoposioetapatransitriaentendidacomoabsolutamentenecessriapelofilsofo,sendoqueestaconsideradadispensvelporoutrostericos.

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  • Hoje,novosdadossurgidosdoprpriodesenvolvimentohumano,atraemmuitaspessoasaumposicionamentomaisimediatista.Ovelho fantasmadofimdostemposameaaahumanidadeeoPlaneta inteiro.A autodestruio se vislumbra pelo estado quenossa civilizao est deixando o meio ambiente. Desde essepontodevista,entendesequeumarevoluodecortemarxistas conseguiria produzir condies melhores de sobrevivnciahumana emmomento concomitante com a destruio total davidanaTerra.Observamos tambmqueesta colocao se fundamenta em objetivos dados cientficos, obtidos da realidadeconcretadomundorealquenosdadovivenciar.daquesurgea opinio que a revoluo realizada nos termos propostos porKarlMarxeCia.nosejaaferramentamaisidneaouapropriadaparaalcanarosfinspretendidos.Ouseja,nocaso,evitaraextinodaespcieeconstruirumasociedadelivre,justa,multifactica em seu contedo cultural, e que estabelea condies paraquetodososhumanospossamsobreviverdamelhorformapossvel.Esseimediatismoexigidopelosatuaisrevolucionriosecossociaiseporseusancestraislibertrioscatalogadocomoilusrioeutpico pelos autoritrios de cunhomarxista.Mas a nicaformaemquearevoluofoirealizadaemsuatotalidade.Acurta durao das sociedades horizontais produzidas deve ser entendidaemrelaoscaractersticasdomomentohistricoondeestasemergiram.De jeitonenhumpodem serusadascomoumexemploquepretendademonstrara invalidadedametodologiaempregadaparacrilas.Pelo contrrio,osmtodosempregados, apartirdaspropostasdeMarxeEngels,demonstraramamplamenteseucontedo ilusrio(utpicosnosentidopejorativoqueMarxdeuaotermo).Oprprioprocessoprrevolucionrio tomadepodereetapa

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  • intermediriano sdificultaemextremo,mas inviabiliza totalmenteaexecuodaverdadeirarevoluo.

    QUEMFAZAREVOLUOObviamentearevoluo feitaporsereshumanos.Poderamosagregarqueelesteriamobjetivoscomuns,osqueseriamamodificaodascondiesdesupervivnciadosprprioshumanoseque,para isso,entendamquenecessriaareestruturaodasrelaes entre eles. Subentendese que, nas estruturas relacionais, sejam includos e afetados os mbitos social, econmico,poltico,religiosoe,hoje,tambmsejaconsideradaarelaodoshumanoscomomeioambiente,nestecontexto.Pretendercolocaremumaclassesocialosatributosrevolucionriosfoiuma idealizaodascondiesapresentadasnodecorrerdossculos18e19.Essa leituradeumarealidadepretritapretende, at agora mesmo, antagonizar os chamados proletrioscontraostaisburgueses.Da lutaentreestasduastribosdeveriaemergiroresultadorevolucionrio,nobementendidoquealutaemsinoarevoluo.Considerase que s a camada inferior da pirmide social teriacondioe capacidadepara detonaras camadas superpostas,que constituem o atual tipo de sociedade. Inferese que quemnoforproletrionopodeserrevolucionrio.Comojustificaoalegaseaquantidadedemassamaiorquepodeserempregadamilitarmentenoscombatesconsideradosnecessrios. Issoumreflexo de tempos antigos, quando exrcitosmaiores costuma

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  • vamganharasguerras;questoamplamentesuperadanaatualidade,peloaparelhamentoincrveldosopressores.Especulamtambmcomtodaagamadeaesnecessriasparaconscientizaressamassadorolqueahistrialheteriareservada.S isso representauma tarefapelomenosdezvezesmaiorquenomomentoquando foiboladaa teoria.Nodecorrerde200anosacoisasecomplicoumuitomaisdoqueostericoscientificistasconseguemreconheceroupuderamprever.Oinimigoestaria identificadonaclasseburguesa,queseriaorestodemundo.Mas,aoexaminaradefiniodeburguesia,achamosqueestadetentoradepoderporserproprietriadosmeiosdeproduoedaterra,sendoacusadatambmdemanipularosistemafinanceiro,amdia,areligioeosprocessosdemocrticos,emseuprpriobenefcio,constituindoorganizaesparaseproteger,comoapolciaeoexrcito.Jvimosqueo fatodecolocarestesassuntosemmosdopovo,ouseja,aclasseproletriasegundoosmarxistas,nuncamodificouessencialmenteaestruturasocial,nemaopresso,nemarepresso. Os pretensos revolucionrios marxistas ainda estodevendoaalmejadarevoluo.Agora,seformoscontarosburguesestipificadosanteriormente,vamosacharquenemo10%doshumanospodemser includosnessacategoria.Entreesteseoproletariadoexisteumacamada,tambmchamadapequenoburguesa,quepoderamosentendermelhorseachamssemosdeburguesespsicolgicos.Achamquesoouquepodemchegaraserburgueses,masapenassoservidorescomqualificaessuperioresaoproletariadocomum.Soretribudosporseusamosquesoosmesmosamosdosproletasem funodovalor relativomaiordosserviosprestados.

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  • Isto lhesconfereapossibilidadedegozardeumamelhorqualidadedevidaeoacessoaquisiodebens(materiaiseimateriais)inacessveisclassemaisbaixa.Rejeitar o potencial revolucionrio desta classe uma atitudesectaristaquenegaodireitoparticipaode1/3dahumanidadequesobrevivenasociedadecapitalista.Istonosrepresentaumalamentvelperdanumrica,masofatoagravado,poisessenmerocolocado,gratuitamente,emmosdoinimigodeclarado. Em lugar de tentar arregimentar a maior quantidade departidriosdarevoluo,apropostaclassistaclaramenteexcludente.Todomritotericoconcedidospropostasmarxistasbaseadoem leiturasmeramenteespeculativasdeuma realidade ilusria,quenuncaconduziramcomonuncaconduziro realizaoderevoluoalguma.Se bem que a teoriamarxista reconhece o papel representadopelareligiocomoinstrumentodealienao,dominaoeopresso,elanoconsiderasuficientementeenempodiapreverousodamdia,emsua formaatual,paraosmesmos fins.Encontramos a um fator contrarevolucionrio importantssimo, queproduzumaalienaoextremadosatoressociais.Qualquerpretensodeconscientizao,sejasomentedosoperrios,doproletariadoemgeral,oudetodaahumanidade,vai,necessriaeinevitavelmente,terqueseenfrentarcomafabulosaestruturaformadapelosveculosdecomunicaoqueestoemmosdosinteressescapitalistas,foramcriadoseformadosporeles,eporelessomanipulados.Noexiste,nomarxismo,umapropostaclaraparaaatuaorevolucionrianessesetor.

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  • Simplificando,poderamosdizerque,ondeantesbastavaadistribuiodeumpanfleto,hojenecessriaumaemissoradeteleviso.Ocomplexomovimentohistrico,exacerbadoafinsdosculo20enoscomeosdoterceiromilniodaEraVulgar,tambmfoiacompanhadoporantes inimaginveisavanos tecnolgicos,noscamposcivilemilitar.Novassituaesobjetivassoproduzidaseostericosmarxistastentamseadaptaraelas,semconseguir,noentanto, um consenso que embase / fundamente solidamenteumaaorevolucionriaunitriaerealista.Adiscusso terica (ou retrica)questiona cada nfimodetalhedapropostainicial,deixandodeladoou,nomelhordoscasos,atrasandopor tempo imprevisvel, todaequalqueraopositivaquepossaoupretenda ser implantadaem favordo surgimentodanovasociedadehumana.Asprincipais ferramentasde luta,desenhadasparadefender,apoiare facilitaraaodosrevolucionriospartidospolticosesindicatos, na cabea hoje no passam de instrumentos quepropiciamaadaptaoeaceitaodostatusquo.Penetradospelosistemahegemnico,seupoderfoianulado.A tarefade reconstruir estas instituies e voltar adotlasdopodertransitrioquealgumaveztiveram,requerumesforobemmaiorqueaditaclasserevolucionriapoderealizar.Insistirporessecaminhoincorrernatolicedesedeixarofuscarporelementos que foram superados no devir da histria, demonstrandoevidente incapacidadepara inventarecriarnovos instrumentos,capazesdeenfrentar,comobjetividadeecoerncia,osdesvioscolocadospelasituaoatual.

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  • Apretensarevoluomarxista(etal.)setornaassimamaishipcrita encenao realizada na histria das civilizaes. Esta proclamaoobjetivoderealizarumautopia(ocomunismo),duranteum perodo de ascenso pretensamente revolucionrio; praticaumaideologiaquemistificameiosefins,emseuperododeconsolidao; alcana alguns aspectos modernizadores, em certosnveisouaspectos,quando chegaaopoder;mas se revela conservadora, reacionria e at contrarevolucionria quando confrontadacomosatoresquereivindicamaefetivarealizaodaspropostasrevolucionrias.Para os espritos libertrios, as (pseudo)revolues comunistasno representaram coisadiferentedas aesda Inquisio, implementadasna idademdiaocidentalpela igrejacatlicaapostlicaromana.Sempiedade,eles foramdeportados,torturados,internados emmanicmios, assassinados,marginalizados, pelasforasquerepresentavamaditaduradoproletariado.Estamesmaditadura,consideradatransitrianocaminhodarealizao revolucionria,ostentaaspiorescaractersticas fascistoides,prpriasdoselementosmaisbrutalmente reacionriosqueumasociedadehumanapossaalbergar.muito,masmuitssimodifcil,acreditarquedestaexcreosocialpossasurgirumtipodesociedade que pretenda ser melhor, superior ou mais perfeitaquequalqueroutraantesexperimentada. to ilusrioesperarqueoproletariadonopoderseautodestruacomoclasse,comopretenderqueaburguesiafaaamesmacoisa.Contrariando a observao conservadora (at reacionria) docamarada Lnin (quem afirmavaque as situaes revolucionriasnoseproduzemporencomenda),umautnticorevolucionrio (que pode ser oriundo de qualquer classe) sabe perfeitamente que a semente revolucionria pode eclodir em todo e

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  • qualquermomentoelugar.Basta,paraisso,quearevoluoaindanohajasidofeita.Oembateentreburgueseseproletrios,eentreosimpriosquetentavamdemonstrarumasupostasuperioridadedosrespectivoscapitalismosdeLivreMercadoedeEstado,relegouopensamentolibertrioaumaprolongadapenumbrahistrica.Mas,sehojenopodemosescutaras vozesde suaspersonalidadesmais representativas,aindapodemosencontrarasobrasescritasqueelesproduziram,paranosdocumentar sobre esse assunto e vercomoseadaptarealidadequevivenciamosnaatualidade.NoescritoASagradaFamlia,MarxeEngelsreconheciamque:Acimadetudo,ohomem,ohomemrealevivo,quemfazarevoluo.Agora,pretenderqueessehomem (ouaquelapessoa,num termo menos machista) s possa pertencer a uma nicaclassesocial,obedeceunicamenteaumaconstruotericacujoaspectoprticohojeseencontratotalmentefalido.convenienteeaconselhvelseconsultarcomosquehistoricamentediscordaramdessaduplafantasiosa.Pelaconcepodestespensadores,nohaveriapossibilidadederevoluosemaatuaodeumamassahumana,destinadaaconfrontarfisicamenteo inimigo.Discutese,athoje,anecessidadedestamassapossuirmaioroumenor conscincia revolucionria,masosfinsdesuautilizaosempreestiveramclaros:oembatecorpoacorpo.Complicando ainda mais a questo, Marx e Engels criam maisumaclasse:adoscomunistas,queseriasuperiorporpossuiravantagemdeumacompreensontidadascondies,damarchadoprocessoedosfinsgeraisdomovimentoproletrio,solidifi

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  • candoseaamistificaodavanguardaquedeveriaencabearedirigirabatalhafinaledecisivavisualizadaporLnin.

    VELHASUTOPIASAposioantiutopistadeMarxpodesermaisbemcompreendidasecolocarmososujeitonoseucontextohistrico.Quandooainda jovemMarxcomeouatentarfazerfuncionarseucrebroeatentarcolocarnopapel,pormeiodaescrita,seuspensamentosesentimentossobreassuntosdosmundosmaterialeimaterial, ento as refernciasutpicas eram realmente escassas e aspropostasbastantedeficientes.Desdeos temposdos gregosprcristos,que viram Plato escrevendo sua famosa Repblica, temos que dar um pulo atpoucoantesda invasoeuropiadocontinenteamericano,paraachar um senhor ingls (Thomas Morus) escrevendo sua obra,nomenosfamosa,quechamouUtopia.Maisoutrosdoissculospassaramsemmuitasourelevantescontribuiesaognero.Estes dois clssicos da literatura contm certas descries deconglomeradoshumanos,organizadossocialmentecomofimdeproduziramelhorqualidadedevidapossvel, comomenoresforopossvel,dentrodeparmetrosqueasseguremaconvivncia humana nas condies de liberdade, justia, no violncia,respeito, igualdade,segurana,etc.edemais.Amboscontmositens, tpicos,pontos e situaesqueno encaixamnas visespsrevolucionriasdos socialistas, comunistas,ou cooperativis

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  • tas,comotampoucoencaixavamnasvisesdavanguardasocialistalibertria,surgidanasegundametadedosculo19.Se fossemosaoextremode incluirnasutopiasapropostaclaramenteabsolutistadoitalianoTomsCampanella(feitanosculoXVI, em sua obra O Estado do Sol) teramos que esperar atdepoisda tentativaprrevolucionria francesa,para incluirnovosnomeseobrasnalista.Sapartirdessemomentocomeaasurgirumaproduo intelectualquepodesercaracterizadacomocrticasocial,dopontodevistasocialista.Demodogeral,amonarquia,areligio,oabsolutismo,a tirania,eramalvodosataquese considerados responsveispelamisriadamaioriadapopulao.Japarecemopiniesque consideramquenenhuma formade Estado,nem amaisdemocrtica,poderiaresolveraquesto.Aindanosfinaisdosculo18,oitalianoBuonarottiescreveepublicaolivroAConspiraodeBaboeuf.Neledescreveosideaisquepropulsaramumatentativade instalarumgovernodecartersocialistanaFrana,apsamortedeRobespierre.Estesrevolucionriospopulares,queenfrentaramacontrarevoluo francesa,apresentaramumatcnicarevolucionria,porprimeiraveznahistria.ForamarefernciaqueinfluiuMarxeEngels,osqueadotamascaractersticasdeoperaomilitardarevoluoproletriasocialistaeanecessidadedeumaditaduradoproletariado.IdiasdehomenscomoThompson,DavidRicardoeOweninfluramemmobilizaes sociaisque,almdealgumaspasseataseapresentaesdepeties,apenasproduziramalgumas tentativasde revoltaspopulares.Amisturade revolucionriose reformistas, juntorepressodogovernobritnico, terminoucoma

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  • movimentaonadcadade1840,eproduziramumafastamentodosoperriosdasidiassocialistas.Aindaantesdaeramarxista,SaintSimon,Fourier,Proudhoneo prprioOwen, tentarammisturar seus ingredientes no caldorevolucionriodapoca.SaintSimon,comobomcristomilitante,nopassaalmdeproporumnovocristianismoquemelhoreasituaodosmenosfavorecidos.Ovalorquedadoasuacontribuioresideemsuainterpretao da revoluo francesa como a luta entre duasclasses; previu a primazia futura da economia sobre a poltica;comotambmafuturatransformaodogovernopoltico(doEstado)numagestoadministrativada sociedade. certoquealgunspontosfazemavanarateoriasocialista,masprecisoumadosedeboavontadeparaachar,emseustextos,umarealcrticasocialistaaocapitalismo.No fundo,nopassoudeumapstolodocapitalismoeumprofetadatecnocracia,comfortestraospaternalistasqueoimpulsavamaprotegerapropriedade.JCharlesFourierutilizaadialticacomomtododecompreensodahistria.Preconizaumateoriabaseadanoassociativismoenocooperativismo.ViajanamaionesepropondoacriaodeFalanstrios, comunidades rigidamenteplanejadase regulamentadas.Todosseusprojetosfracassaram,quandotentouexperimentlosem formatpica.VistoopoucodesenvolvimentodoCooperativismo (napoca aindano caracterizado comodoutrina),nomuitocomoquepodecontribuircausarevolucionria.AquestodosocialismotpicocomeaaficarmaissriacomPierre Proudhon. consideradoumutopistaporMarx,principalmenteporacreditarqueadivisosocialemclassespoderiasersuperadaporsimplesconciliaoentreestas,semprecisardavio

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  • lenta revolta revolucionria preconizada pelo cientista social.TotalmentedeacordocomMarxempontosneurlgicosecruciais referentes finalidadeeobjetivosda revoluo, cainadesgraaquandoprevacriaodecomunidadesrelacionadas(noisoladascomoosutopistasatento),squaisdotadecaractersticas ideais,alcanadasporacordodasconscincias individuais.Eleseantecipavisomarxista(alis,nofaltaquemafirmequeMarxasrouboudele)sobreofimdapropriedadeprivada,dosalrioedasujeiodohomemmquina;dasubmissodocapitaledoEstadoaocontroledostrabalhadores;edaigualdadedecondiesparatodosnaeducaopblica.EmseulivroContradiesEconmicas lanaoconceitodemaisvalia(plusvalia),queMarxeEngelsapanhamsemhesitar.RobertOwenpoderiaseconsiderarhojecomoopai(ouav)dasocialdemocraciamoderna.Diretoresciodeumaindstriatxtil,humanizouasrelaeseascondiesdetrabalho,diminuiuohorriodetrabalho,deucondiesdecentesdemoradiaesadeaseusoperrios,preocupandoseatdaeducaodeseusfilhos.Baseadonoxitodeseuempreendimentoradicalizounodiscurso, pregou o comunismo, combateu as instituies burguesas,crioucooperativasoperriasdeconsumo,ealavancouimportantesavanosnalegislaotrabalhistadaInglaterra.Tomandoemcontaesteresumobastantesintticodasprincipaiscabeaspensantesdaeraprmarxiana,spodesechegaraconcluirqueosexpoentes,defensoresepropagandistasdoutopismonoeramdegrandevalor,desdeumpontodevistaestritamenterevolucionriocientificista.O problema surge quando apareceu o questionamento: se amentalidadeutopistade tipo socialistacomunista identificadaexemplarmente nos projetosmarxistas.Mannheim afirma que,

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  • de fato, a teoriamarxista configura uma utopia. Acha que nenhumoutroprojetodesociedadeseencaixamaisperfeitamentenamentalidadeutopista,doqueomarxista.Afirmaque,seestenoseamoldaatalclassificao,nenhumoutroofar.Osmarxistasnoseriammaisqueosexecutoresdeumaquartaviadarevoluoutpica.Jaduplafantsticasempreprocurousedistanciardaspropostasqueclassificavamcomoutpicas,criticandoespecialmenteafaltaouarejeiodaaopoltica,eafaltadecomprometimentonaao revolucionria por eles proposta. Criticavam os utopistaspor considerlosmeros inventoresde sociedades,paternalistasoufilantrpicos,sempassarsequerpelaorganizaodaclasseoperria.Criticavamaindaaconsideraoqueasmudanaspudessemserfeitasdemodopacfico,atravsdepequenosexperimentosquenoserviammaisdoquecastelosdeareia,irremediavelmentefadadosaofracasso.ReferindoseaFourier,criticavamoqueconsideravamseitasreacionrias,quesubstituamalutadeclassesporumaconciliaoentreestas.Reconheciamaexistnciaentreos socialistasecomunistasutpicosdeelementoscrticosteis(paraacompreensodasociedadeeparaaelaboraodasmudanasalmejadas).Masnuncaviramcomoestesmovimentospoderiamtranscenderos limitesdossimplessonhos.AvisocrticadeMarxaindaalcanouoProjetodeEmigraodoCidado,do francsE.Cabot,umutopistaisolacionista,queformou comunidadenos EstadosUnidosdaAmrica, em 1848.Ospontos levantadosporMarx,nessemomento,ainda servemcomo guia e advertncia a todos e qualquer um que pretendaempreenderprojetosimilar.Paraoutopismocontemporneoestclaroqueacoisanomesmopora,nemdessaforma.

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  • NoseencontranosescritosdeMarxmnimosvestgiosdepretenderdescreverumanovasociedade.umacrticaqueeleaindahojerecebe,poisficamossemidiasobrecomopoderiaseravidanasociedadepsrevolucionria.Suapreocupaonopassoualmdetentarconfigurarcientificamenteumcaminhoquelevasseauma revoluo implementadapelaclassemenos favorecidadostrabalhadores,narepartiodosbensqueelamesmaproduz.Limitandoseaisso.Poroutro ladoficam latentesasqueixaseos lamentosdoLninmoribundo,sobreasuanovasociedade,aqualsehaveriatransformadonumautopiaburocrtica.

    LIMITESDOMARXISMOUmdosprincipaiserrosdeKarlMarxfoiodeafirmarauniversalidadedesuateorizaosobreodesenvolvimentohistrico.Noenxergouanecessidadedorompimentohistricopararealizaronovo.Suaconstruotericasobrearevoluo,adinmicarevolucionriaeosprprioscomponenteseexecutoresdestapretensarevoluoseriabastantediferente,secomumahumildadedaqualevidentemente carecia tivesse reconhecidoos limitesdeseusestudos.Marx nasceu, cresceu e se desenvolveu (movimentou) estritamentedentrodoslimitesdoberodacivilizaoocidentaljudeucrist.Comopesquisadordahistriabempoucoseaventuroufo

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  • radesteslimites.Todasuaelaboraotericasebaseiaemfatos,conhecimentoseprocessosregistradosnaEuropaCentral.Aindaquefaarefernciaaalgunsoutrospovos,seuolharpoucoultrapassaavizinhana imediata.Assimmesmo,pretendedesvendarumprocessodedesenvolvimentohistricomundial,queseguiriaosmesmospassosqueoncleoporeleconsideradopadro.Faltoulhe, claraeobviamente,umestudo comparadodasdiferentescivilizaes,paraobterumabasequepossafundamentarumaconcepomaisuniversalistadesuaselucubraestericas.Elenoconseguiureconhecerqueahistriadospovosnounilinedarnemunifactica;muitomenosque(ainda)existamsociedadestotalmentediferentessqueforamconstrudasnaEuropaeseuraiodeinfluncia.Sestepequenodetalhe levouaofracasso inumerveistentativas revolucionrias, acompanhadas pelo conseguinte sacrifciodos militantes; pessoas humanas eliminadas pela contrarevoluo.Morreramporacreditarpiamentena leituraerradaedistorcida,feitaporumeglatra.ColocarnummesmosacoaEuropacrist,aChinamilenar,osrabesesuainflunciaislmica,asociedadehindueahistriadoseupovo,asdiferentescivilizaesafricanas,vmdamesmafaltadevisoquecolocareis,princesas,deusesebruxosnasestruturassociaisdosndiosamericanos.

    OUSEJA,DAREALIDADEOBJETIVANOESTENXERGANDOCOISANENHUMA.

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  • OSCRATASQuestionamentosreferentesautoridadeeprpriaexistnciadoEstadodividiramprofundamenteasforassociaisqueantagonizaramocapitalismoeopoderdaburguesia,entoemergente.Ostermosanarquia,anarquismoeanarquistasfoicunhadodogregoanarchos,comsignificadooriginaldesemgoverno,designandoospartidriosdeumaestruturasocialquenopossussegovernoalgumquesecolocasseporcimadaspessoas.Deumacrticasimplriaaestaaspiraopopularsurgeacrenaqueaausnciadeautoridadespoderiaproduzirocaossocial.Esta imagem fica fortalecidapela ao revolucionriados anarcasmodernosque,emparte,foramviolentosouapoiaramousoda violncia. Com objetivos de destruio da ordem imperanteconseguiram,muitasvezes,produzirocaosentreosdetentoresdopoderdominante.Foramqualificadoscomobaderneirosirresponsveispelosafetados,quedefendiamsuasprerrogativaseosprivilgiosconquistados.Obramximadestalinhafoioassassinato de um arquiduque, o que precipitou o comeo da primeiraguerrachamadamundial.Vistosemconjuntoesemaindaentrarnaconsideraodesuasdivergncias, so o segmento prrevolucionrio que detm amaior,maisconstanteeentusiastaproduo filosfica,cheiadequestionamentoseprofundamentecrtica.O choque coma concepo verticalistaeautoritriadeMarxeEngels,nocomeo (ecomseusherdeirosdepois), foi fatorpreponderantequelevouquasetotalextinodoscratasnosculo20.Aspotnciascapitalistaspartidriasdolivremercadotam

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  • bm no deixaram pormenos, contribuindo decididamente nomassacre.Literaleverdadeiro.Existeaindaumaoutraformapoucoconsideradadeanarquismo,quehojeseencontranopodernamaiorpartedoplaneta.Porsetratardeumaaberraovergonhosa,poucosconseguemenxergarqueoneoliberalismoeocapitalismototalso,essencialmente, pranarquistas. ilustrativa a afirmao de Thomas Jefferson,feitanoscomeosdosculo19,deque:omelhorgovernooquemenosgoverna.MasoenfraquecimentodopoderdoEstadospretendidoemfuno de uma liberdade econmica dirigida explorao domercado,semnenhum tipoderestriesouconsideraespelapessoahumana,oupelanatureza.ToleramumcertoEstadoporquepodemseservirdele.Embenefcioprprio,claro.Naconcepoanarcocapitalista,oEstado relegadoa funesmeramenteadministrativasmnimaseaomantimentodastropaspoliciais emilitares, necessrias para defender os regimes noqueridospelamaioriapopular.Hoje podemos testemunhar as conseqncias deste chamadoanarquismoazul,queestproduzindoumaevidentedestruiodotecidoqueformaasociedadehumana,vtimadaviolnciaeconmicaepolticadeumaelitearrogante,egosta,megalomanacaecriminosa.Do outro lado, os anarquistas (teramos que chamlos clssicos?)manifestaramespecialinteressenaconstruodeumasociedadesadiaesustentvel,naqualapazpudesseserpreservadapormtodosqueorganizassemasociedadeemsuasprpriasra

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  • zes.Elesconsideraramedemonstraramque,sendopossvelaorganizaosocialemformahorizontal,anecessidadedeumEstado ficavaobsoleta.Assim, todososanarquistas concordamqueos sereshumanos so capazesde viverem liberdadee concordnciasocial.Adivisoentre anarquistas seproduz apenaspordivergnciasnastticasaseremempregadasparaestabeleceronovotipodesociedade revolucionada. Anarcocristos no aceitavam mtodos violentos de nenhuma espcie. William Goldwin propunhaprovocarmudanaspormeiodediscussespblicas.Proudhonpropagandeavaopoderrevolucionriodocooperativismo,entoembrionrio.KropotkineBakuninaceitaramaviolncia,apraticaramemvriasdesuasaes;mastambmmanifestaramsriasrestries filosficasvalidadedeseuempregonaaorevolucionria.Ambos se justificamafirmandoque foramobrigadosausla. Bakunin chega a culpar a estupidez humana por isso.Obviamentenosereferiaasimesmocomooestpido,masaoscapitalistasliberalizanteseaosque,segundoaleituraanarquista,spretendiamestatizarocapitalismo,sobumaformaautoritriadegoverno.A histria no desmentiu a viso destes cratas. Carimbados edescartados comoutopistasporMarx, tinham sriasdiscordnciascomossocialistasutpicosquepreconizavamumasociedadepretensamentemelhor.Pretendiam,com seuacionar revolucionrio,estabelecerumaformasocialquepossibilitasseumdesenvolvimento harmnico da humanidade.A perfeio, diziam, representa,automaticamente,ofimdodesenvolvimento,ofimdacriaodacriatividadeedetodomovimentoquerepresenteavida.

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  • Colocaes como esta exacerbaram o antagonismo de Marx,quem tomouas coisaspelo ladopessoal, sendoqueacreditavacegamentenaperfeiodesua teoria revolucionria,concebida(sempresegundoelemesmo)sob fundamentosestritamentecientficos.Oscratas,ouanarquistas,foramosnicosaenxergarumasociedadeestruturadahorizontalmente,semEstado,GovernoouAutoridade superior. Da boca de Bakunin escutamos o brado:NEMDEUS,NEMESTADO!Nomundocontemporneosencontramosanalogianodizerdosneohumanistas: NADA POR CIMA DO SER HUMANO, E NENHUM SERHUMANOACIMADEOUTRO.Oscratas foramosnicosquedemonstraram,naprtica,queumasociedadesemgovernoeraalgorealmentesustentvel.Obvioquealgunsexperimentosfalharamlastimosamente;masoutrossnovingaramporque foramsangrentamenteesmagadospor foras nazifascistas e bolcheviques, com ativa participaodosliberaiscapitalistas.Arepressofoitoefetiva,quehojeteramosextremadificuldadedeacharalgumncleoconstitudosobospreceitosapontadospelosvanguardistassociais.Seincluirmos(combenevolncia)algumkibutzisraelenseeascooperativasdegradadas, subordinadas a interesses capitalistasmultinacionais,muitopoucosobrouparaserapreciado.Masosonhopersisteeahistrianofoiapagadacomonumadistopaorwelliana.Podemos aindamencionar que os libertrios consideram o comunismoalmejadoporMarxcomoumaverdadeirautopia,enofaziamistocomoobjetivodedegradarotermo.Porque,ouparaqueperguntavamelesimplementartodaessaetapatransitria,queapresentatantasdificuldadesecomplicaes,seoassun

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  • topodeserequacionadoagoramesmo?Masacinciamarxistoide nunca aceitou isso, tornandose ilusria na sua contradiocomarealidadeexperimental.Muito pelo contrrio, as teorias desta cincia revolucionrianunca foramcomprovadascomoefetivasnaprticados termospropostos. Deixaram de alcanar seus objetivos especficos: aconstruodeumasociedademelhor.Afinal,esteomesmoobjetivoperseguidopelossocialistaslibertriosanarcoutopistas,queMarxseaprazemcombater,porachareleserrados.Aqueomarxismosenegaasimesmocomomotordarevoluo.Istononovidade,poisjfoicompreendidohmaisdecemanosatrs.Partindodoconceitoda lutadeclasses, inspiradonosacontecimentosfrancesesdofimdosculo18,Marxapenaschegaapropororeordenamentodoroldosatoressociais.Aprpriaeverdadeira revoluoelecolocanum futuro indeterminado,nosemanifesta sobre a formaqueestapudesse, concretamente, serrealizada,nemsedetm,emmomentoalgum,emmaioresconsideraessobreomundopsrevolucionrio.Eleusa,sim,todasuaevidentecapacidadeintelectual,paraconstruiruma complicadssima e tortuosa via,pelaqualuma classesocialpoderiaalcanaropoder.Oresto,depoisseresolve...masanteviaqueesserestoincluaaconsolidaodaclassenopoderenumaposteriorouconcomitantetomadeconscinciadoproletariado no poder, que permitiria a transio ao comunismo.Como?:Oproletariado,conscientizadodeseupapelhistrico,entregariavoluntariamentetodasasinstnciasdepoderaoscomunistas.EstesMarx concebe comoumaelite,maisoumenosno

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  • moldeecortedaSShitleriana,osnicosquesaberiamoquefazerposteriormente.Oscratasnoengoliramestesonhodoprofetacomdiscursocientfico,epreferiram seguirosprprios sonhosutpicosque arazo lhes confirmava,baseadanaexperinciaprtica,na realidadeconcretadoacionarprrevolucionrio.Esteconfrontocontnuocomarealidadedeu lugaraodesenvolvimentodasteoriaslibertrias,quesetornaramempostuladosbemmaiscientficosqueasteoriasnoevolutivaspropostasporMarxecia.Osentidodalutapropostapelosanarquistasqueotrabalhadorsubvertaaorganizaosocialimpostadesdecimapelossenhoresedoutores,peloscapitalistas,peloEstado,pelosburocrataseostecnocratas,pelospadresepastoresdasigrejas.Bakuninesclarecebemoassunto,propondoaaboliodoEstado,aextinodefinitiva da autoridade e a tutela, como tambm a abolio depropriedadepessoalrecebidaemherana.Elecolocaqueapropriedadecoletivaousocialdeveriaestarorganizadadesdeabaixo,pormeiodalivreassociao.Marx se posicionou contra estes fundamentos do coletivismo,que substituioEstadoporumaFederao LivredeAssociaesColetivistasAutnomas.Nelassegarantiriatantoatotal liberdadepessoal, comoa liberdadede separao.MenosaindaMarxaceitouapossibilidadedeestabeleceranoobrigatoriedadedetrabalhar,nemasubstituiodoprincpiosalarialpeloprincpiodas necessidades proposta de Kropotkin, sempre imbudo deumgenerosootimismo.Pelocontrrio,KarlMarxnuncademonstrafeconfiananascapacidadesdoserhumano.Elenuncaconfiounaquelesquediziaquerer libertar,nemnascapacidadesdestesdesecomportara

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  • dequadamenteemummbitode liberdadesmaisoumenos irrestritas.Suaprpriapersonalidadeegocntricaeautoritriafreqentementeolevouaempregarmtodosemecanismospoucorecomendveispelatica,amoraleadecncia,contraseusadversrios. O postulado por ele empregado: o fim justifica osmeios,aindamanchaesujaoprocederdemuitosdeseuscorreligionrios.Aindahquem subentendaealegueque, semapresenamilitantedosanarquistas,dificilmenteMarxteriaconsideradoofimdoEstadoeaaboliodasclassessociaisapsaconsolidaodaditaduradoproletariado.Semestes ingredientesbsicosnoexistearevoluo,eumarevoluosem idiaclaradoque fazerestirremediavelmentecondenadaaofracasso.

    OSCOMUNISTASSenosativermosexclusivamenteaumavisomarxistadahistria,teramosqueafirmarqueocomunismooltimoestgiodedesenvolvimentodasociedadehumana.Mas,dentrodaprofusaproduo tericodoutrinriadomarxismo (emgeralenosltimos150anos)bempoucosdetalhesencontramossobrecomoasociedade comunista seria estruturada.O tema, tratado em linhasgerais,semaprofundaresementraremdetalhes,resumidonaafirmaoqueessasociedadenoestariadivididaemclasses(asquenomais iamexistir);nelanomaisexistiriaEstado;todas as pessoas seriam iguais e poderiam desenvolver plenamentesuaspotencialidades.

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  • A imensa construo terica, que comeou com o filsofoprofetaeaindaprossegue,sepreocupapraticamenteem formaexclusivaemcomochegarl,mas,emmomentoalgumesclareceosdetalhesdoquesehaveriadeencontrar,umavezchegadol.Poresse ladonopodemosobtermaiores informaes,poisnenhuma das revolues triunfantes pelametodologiamarxistaconseguiu chegarnempertoda realizaodo comunismomaiselementar.Desdeuma leitura libertria, a falha estariana conservaodoEstado,oqualnopodeexistirsemfortaleceraclassedosburocratasetecnocratas.Estes,umaveznopoder,recorrematodoequalquersubterfgioparaconservarefortaleceraindamaissuasposies.Aniquilaseassim,defato,apossibilidadedelevararevoluoaseuobjetivo:acriaodeumasociedadecomunista igualitria.Conservaseadivisode classeseaspotencionalidadesdaspessoas ficamautoritariamente reprimidasporumaestruturatotalitriaelitista.Podemos,ainda,agregarcomofatordofracassonaaplicaodadoutrinamarxista,a inaptidodas ferramentas criadas, comoopartidonicoeossindicatos.Opiorqueestes,semcontarcomo aporte de uma viso clara da realidade concreta, avanaramcegamente,acumulandofracassotrs fracassoetravando,ondebempuderam,todoavanopossvelemdireorevoluo.Vimos,noprimeiropargrafodestecaptulo,quenomencionamosaliberdadeentreascaractersticasdeumasociedadeenxergadaporMarx.EssafobialiberdadepelaspessoasedassociedadesporelasconstitudasficaclaraemalgunsepisdiostiradosdoscomeosdatentativaderevoluonaRssiasovitica.

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  • GUILIAIPOLEENESTORMACHNAUcrnia teveaexperinciadaplenitudedosprincpiosdo comunismolibertrio.Durantetrsanos,oscamponesesseorganizaramemcomunasesovietslivres,federadosemdistritoseestesconfederadosemregies.Aautogestototalfoipraticada,numaindependnciaorganizativaqueno sofreu interfernciadenenhumaautoridade.Cadasovietoucadacomunasexecutavaosdesejosdeseusmembros.Aseguranaeragarantidaporumexrcitodeguerrilhas,quechegouatercercade50milhomensemulheresativos.Olderdestemovimentoanarcocomunistafederacionista,ouseja: libertrioNestorMachn ,noapoiavanenhumsovietousindicatoqueestivessesobinflunciapartidria.TambmsemanifestoucontraaformaodeExrcitoVermelho,propondogruposde guerrilheiros com estruturamaisdemocrtica.PorduasvezesderrotouosRussosBrancos, salvandooquasederrotadoexrcitodosrevolucionriosvermelhos,quenoderamcontadorecadosozinhos.Oproblema,nofundo,foiqueMachnnoseguiuriscaacartilha marxista. Ousou chegar ao comunismo diretamente, semprimeiro industrializaranao,nemdeixaraparecerumaclasseoperria que poderia derrotar uma burguesia emergente, paralogoestabeleceratransiosocialistasobumEstadoautoritrioetirnico.Pior,osucranianosteimavamempreservarsuaautonomiaeindependnciaorganizativa,comrelaoaosvermelhos.No comeo, Lnin rejeitouo fanatismovaziodosanarquistas,masfoiTrotskiquemimplementouogolpefinal.Numamaquinaodeinspiraomitolgica,convidou600oficiaismachnovistasparaconversarecelebraravitriasobreoexrcitobranco.No

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  • foimaisqueumacovardecilada,poistodosforamsumariamentefuzilados.Aomesmo tempoTrotskiatacouosguerrilheiros,quenoconseguiramresistirpormaisnovemeses.Seesterelatofosseumepisdio isolado,quiatpoderiamcaberexplicaesoujustificativas,ouno;masestaformadeaoobservadacomopadrodurantetodaahistriadosinsuportveisautoritriosmarxistas.Deixambem claroquenoh lugarpara libertriosnassuasfileiras,comotampouconassociedadesporelescriadas;comotampoucoconseguemaceitarsociedadesutpicas,criadasporoutraslinhasdepensamentoeao.Tentamdisfarar, cacarejando sobre suapretensademocraciaque,se formos analisar, aindamaismanipulada que a famigeradademocracia que a burguesia atualmente nos permite.Mas, emnenhumdeamboscasos,achamosexplicitadaoupossibilitadaaliberdadedomodoqueosutopistaslibertriosacolocam.OutrosdoisassuntosqueMarxnoousouencararforamaaboliodapropriedadeedaherana.Elelimitouseaproporaabolio da propriedade privada, passando esta amos do Estado,que afirmava ser transicional. Jos anarquistas, em todas suasdiferentesexpresses,noaceitavamestaproposta,cunhandoonovoconceitodePROPRIEDADESOCIAL,segundooqualnohaveria indivduoou instituio,mas todaa sociedadeemconjunto,queseriaproprietriadetudo.Sendoestaadministradapelassuas razes, por todos seus membros componentes, asseguraseumademocraciaparticipativaquedecidapelosusos edestinosdapropriedade comum. Fica,assim, abolidooprprio conceitodepropriedadequeoscapitalistasnosimpem.

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  • Comoassuntoherana,Marxnoquisnemmexer,visivelmentepor razes polticas referentes a acordos e coligaes que, emcerto momento, poderiam ser afetadas. Com esse subterfgiotambmconseguiubarrardaPrimeiraInternacionalgruposanarcas (principalmentedoBakunin)queameaavam suaprpria liderana.Semconcessesemproldarevoluo.

    MARXESUAOBSESSONenhuma teoria sobreoprocesso revolucionrio recebeu tantacrtica comoomarxismoe realmentepoucas teorias,emgeral,foramtocrueleviolentamentereprimidascomoaquelasqueocontradizemdesdeumpontodevistaestritamenterevolucionrio.Detodosos ladoseportodososmeiosomarxismofoiconsiderado ineficiente, inadequadoeatnocivoaoprocessoevolutivohumano.Dezenasdeautoresepensadores(contemporneosdeM&Eeposteriores)denunciaram, sobvriosaspectos,a farsadessa teoria,expondoqueMarx schegoua se imporgraasaumafrtil imaginao,amparadanaobsessodeseronicocapazdeformularcientificamenteoprocessorevolucionrio.Marxpodesercaracterizadocomoumcasopatolgico,esuadoutrinanoserviunemparalevarumastentativarevolucionriaafinalfelizdurante150anosdelutas,emtodooPlaneta.Apesar das evidncias do insucesso revolucionrio pela formaproposta, h uma grande resistncia a abandonla, por parte

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  • dospolticos,paraosqueelasetornouummeiodevidaaltamenterentvel.Podesercamaleonicamenteadaptadaaqualquersituao, semoferecermaiorperigopara amanutenodeumaestruturadepoderverticalistaecorruptvel.Oprestgiodomarxismo, como ferramenta revolucionria, vemsofrendoinevitveldeclnio.Ofatoreconhecidopelosquetmconhecimentodasvriascorrentesdepensamentoquesepreocupamcomaviabilizaourgentee imediatadeprofundasmudanasnaestruturasocialhumana.AsteoriasdeMarxeEngelshojenoenganammaiscomsuaalegadaqualidade cientfica,pois carecemdeste fundamento,nooferecendoamenorgarantiadeconseguirnosencaminhare levar ao fim almejado.No passam de bem elaboradas retricasficcionais.Marxfoi,semdvida,umaespciedegnio,masnodacincia,esimdapropaganda;nodaprova indiscutvel,masdapersuaso;nodacomprovaoexperimental,masdaarteliterria;nodaticaedahonestidadequevisaummundonovomaishumano,masdaspioresaesque lheasseguravamotriunfodeseusinteresseseaderrotadosquelhefossemcontrrios.Suapropostade realizaodeprofundaseduradourasmudanasnopassou de um grande engodo formulado por uma mente doente,megalomanaca,quenopoderiaserusadacomorefernciadosquequeremvivenciarumarealidademaishumana.Nodecorrerdemaisdeumsculodetentativasmaisoumenosrevolucionriasbaseadasnaautoritriadoutrinamarxista,constatasequenohumasprovaqueessametodologiadosresultados apetecidos (e alardeados).O profeta revolucionrio (eseusseguidores)erigiriugrandiososesquemaseteoriassembase

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  • defundamentaofactualobjetivae,porissomesmo,indignadecrdito.Todos,absolutamentetodos,osacontecimentosposterioresdorazoaestaafirmao.Hojeesteantiprofetadaliberdadepodeserlembradocomouminteressantefilsofodosculo19,pioneirodamaisamplaaplicaodeumnovomtododeinvestigaoecompreensodoprocessohistricohumano.Masoserrosfundamentaiscometidosseespalharamatravsdenaesegeraesathoje,quandoaindaexistempreguiososdementequedefendem fervorosamenteatesedaeficinciaesantacientificidadedomarxismo,emboraseuxitonunca tenhasidocomprovado.Existematosquesustentam que omtodo proposto no consegue atingir os objetivosrevolucionrios,masqueelepermitiriaaoserhumanovivermelhordentrodombitohostilporelemesmoproduzido.Almdisso,alegamqueomarxismofazdoconvertidoumapessoamelhor(quemnomarxistaruim,nopresta),emboranodeixemmuitoclarasasespecificaesemqueestamelhoraconsistiria.Tambmno sepodepedirdemais aosqueno esto claros nemsequermedianamenteelucidadossobreoaspectodeummundoposterior revoluoquepretenderiam realizar.Menosainda poderiam ter uma imagem bsica do ser humano que iahabitaresedesenvolvernessemundo.Faltouvisoaoprofetaeentendimentoquelesqueoseguirameaindaseguemseguindo(!).Marxsempresemostrouavaronoreconhecimentodascontribuiesdeseusantecessoresecontemporneos,emboraeleshouvessem antecipado suas investigaes. Pelo contrrio, semprecombateufervorosamenteosrepresentantesdasfontesondealimentouasrazesdesuaconstruoliterriadegneroligadoao

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  • romantismoutpico.Ofatoquedesenvolveuumgrandedomniodalinguagem,utilizandonoesecriaesdeterceiros,paraalavancarumaobraqueathoje,erroneamente,consideradacomoprodutodeumasasuamenteprivilegiada.AtoprprioManifestoComunista foiadaptado,compoucasalteraes,deumapublicaoitaliana.Oaparentetriunfo,domarxismosobreoutrasteoriasrevolucionrias,nosedeunocampodasidiasoudasrealizaesconcretas,mas pormeio do esmagamento, da erradicao fsica, dosque ousavam dissidir ou dissentir da nova verdade apregoada.Nissono sediferenciadenenhumoutromtodo autoritrioetirnicoquepossaserencontradonahistriahumana.Acreditarqueumametodologiaquecontecomassuascaractersticaspossaseraquevaiproduzirummundomelhormuitaingenuidade.Suagrandereputaocomoograndeinventordeumanovacinciae/oudeumanovaformadeentendervriascinciasmaisantigas,ssesustentanaaplicaodeummtodoqueeleno inventou,massimutilizouporprimeiraveznaformaerelaoqueelefaz.Squetevequeconstruirumelaboradoaparatodejustificativas intelectuais para sua nova cincia. Na verdade, nodevesernada fcil (edeumuito trabalho)erguerumasuperestrutura de teorias e procedimentos supostamente cientficos apartir de pressupostos elaborados pela mente que trabalhavaconfinadanuma imensabiblioteca,pretendendoseronicoespecialista em saber o que nunca tinha acontecido. Mas ele (eseusseguidoresedescendentes)venceupelapersistnciaviolenta,construindotodoumsistemabaseadoempremissas incorretaseteoriasbaseadasemelucubraesmentais ilusrias, inconcebveis,asquaisutilizamathojeparaatacarabasedavidaedacoexistnciahumana.

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  • Naverdade,todasasteoriasmarxistasemarxistoidesnuncapassaramde indemonstrveis fices.Suasobrasprincipaisprimamdeumaverdadeiraapoteosemental,despertandofrteisensejosimaginativos nos que se deixam contaminar por esse vrus. Spodemos encarlos como autnticos literatos, que idearamtransformara revoluoem literatura.Nesse sentido,omarxismonopassadeumavocaoquefoipermeadapela influnciadevriasescolas literrias.Vale lembrarqueabagagemdopersonagememquestoessencialmenteintelectual,hajavistasuas contnuas citaes e suas constantes e virulentas discussescomoutrosautores(sempreporescrito).NoemvotrabalhavanombitofechadodeumadasmelhoresbibliotecasdaEuropaenuncacogitououtrolugarprpriopararealizarseutrabalho.Maisinclinadoadefendersuapersonalidadeoportunistaedesonestarecorreemulaodeumapretensarigideztcnicaqueoassemelhadeumverdadeirohomemdecinciadopassado.Porm, tantoelecomoasuacriao,devemserconsideradosumverdadeirofracasso.Afinal,oqueelenoslegoufoiocaminhodaspedrasque conduz aodesertoque antecedeo abismo infinito.Nos legouteorias ilgicase incoerentes,almdeumgrupoditatorialeintolerantedeseguidorespreocupadosnocomaverdade,mascomadivulgaoemanutenodeste(des)conhecimento.Este legadotemconseqnciasextremamentenegativassobreaprpriarevoluo libertadora,causandoum imensoatrasoeumdescrditoemsuapossibilidadeefactibilidade.horadereconsiderarmos,nosasuautilidadecientfica,mastambmseuniilismo tico. As seitas criadas a partir deste pensador descaminhadospodemestaradesaparecer,apesardetodooaparatodemarketingetodooapiotendenciosoe interesseirodeumaesquerdaegosta,reacionria,fragmentadaeisolada.

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  • OROLDAUTOPIAProvavelmente foi comocasiodaRevoluoFrancesa,ou concomitantemente aos de ento, que a utopia comeou a se enquadrarnopensamentorevolucionrio.De imaginativaspropostasdemundosideais,passou,poucoapouco,nosculoseguinte,aexigirsuapresenarealnomundoconcreto.Sua caracterstica crtica e suaoposio realidade vivenciada,inspirouedeu forasaosmais radicais revolucionrios conhecidosnahistria.Estessenutriamda realidadenoqueridaedapossibilidadedeumamudanaextremamenteradical,paradesenharumarupturasemprecedentescomopassado.Enxergaram,nesta quebra com as estruturas existentes, uma oportunidaderealdeaperfeioamentohumano,umasociedadelibertria,sempredominao de classe alguma, nem privilgios a indivduos,grupossociaisoupovoseleitos.Das crticas s falhas,errosoudesvios cometidosporutopistasanteriores comearam a ser sintetizadas algumas linhas principais,apoiadasemprincpiosconsensuais.Pormeracomodidade,ou por ser um destacado ponto de referncia, pode se usar aComuna de Paris, no ano 1878, como o ponto que dividiria aspropostasdosantigosutopistasromnticosdaquelesnovosutopistasquetentaram,porviasdefato,realizarsuaspropostasdeformarevolucionria.A expresso revoluo subentende que as mudanas engendramumasociedadenova,diferente.O imaginrioutopistanasceucomo tomadadeconscinciadesteprocessode ruptura.Asdimenses objetivas das transformaes pretendidas projetamumaforacapazdealterarprofundamentearealidade.Assim,a

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  • revoluopodeservistacomoumalinhadivisrianotempo,estabelecendoummarcoentredoismomentosabsolutamenteantagnicos,semconciliaopossvel.Atualmentepersisteoestadode conformismoe conservadorismoreacionriodepolticos,militares,banqueiros,advogados,juzes,etc.,enfrentandoagrandemassadopovoaflitoeindefeso.Ou,nodizerdeFourier:ariqueza,aopulnciaeoluxoopondoseaotrabalho,misriaefome.O fracassodosprojetosde transformaosocialengendraasutopias contemporneas. Sem confundlas com romnticos utopistasparadisacos,partemdanegaoradicaldopresenteedainterrogaosobreofuturo.Enxergamapossibilidadederupturacomasformasdeorganizaosocialestabelecidas,abandonando radicalmente as convenes e comportamentosmais tradicionais.Aoesboarapossibilidadedeumaoutraordemaserconstruda deixam espao suficientepara a reflexo sobre aspossibilidadesdecompletatransformaodasociedadeedoserhumano.A multiplicidade e variedade das propostas utpicas rompemcom o ideal nico e universalda sociedade estabelecida,desacreditandoomodelocapitalistahegemnicoeseuespelhomarxista. Contrria a toda tentativade reduo e uniformizao, autopia,antesdetodo,umatoautnticodecriao,comprometidoapenascomaliberdadeeharmoniaquepretendeinstaurar.A frustraocomos ideaisrevolucionriospregadosporMarxeseusasseclas,descaminhadosnosseusdesvios, fazamenteenveredarpeloscaminhosda imaginaoeda inveno,procurandocriarnovasformasdelutaparacombateroopressivoeinjustosistemavigente.

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  • Ressurgindo dos fracassos de transformao social, a utopia seapresenta hoje como Criao Social, descrevendo o queridoquenoexisteecombatendoadescrenaeoniilismo,napossibilidadedechegararealizlo.Ogosto libertriode inventarseaventuranaprocuraeproclamadeummundofuturototalmentediferenteaoatual,queestclaramenteencaminhadoauma falnciatotal.essepotencialimaginativo,delineadonompetodaelaboraoutpicanummergulhodacriaoereflexointelectual,queforneceaenergiaparatodasasconstruesutpicas.Sempretemoingrediente inseparvel da crtica e da superao da sociedadeexistente.Faz issoseconfrontandocomocapitalismo total,depredadordosrecursosessenciais,tantocomoseconfrontacomomarxismomessinico,aindasobreviventedepocasmaisromnticas.Hojeatravessamosumasituaoemqueasrevoluesfrustradaspodemdinamizaro sonhoeasaesdasnovasgeraes.Estamos em um espao intermedirio que potencializa o ressurgimentoda tradio revolucionria libertria.Noum caminhofcil,comonunca foi,masconstituiumarespostautpicavlidaslimitaesefronteirasimpostasporummundosemjustiasocial.A imagemdeoPovoseconstituiuemuma imagemmticadoutopismo romnticomarxista.Comoentidadecoletivaorgnica,projetadaaofuturo,viriaaseconstituircomosalvadornafasefinaldoamploeuniversalprocessodaemancipaohumana.Masestepovo,apsos fracassos revolucionriosepolticosdosculo20,seencontraimpotente,quebradosseuslaosdesocia

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  • bilidade,semtraosmaisprofundosdesolidariedadeecooperao. Ludibriado pelos partidos e os sindicatos, explorado pelosindustriaisecomerciantes,postosobsuspeitapelosgovernos,eadormecido,alienado,pelamdia, iludidopelaspropostasdaesquerdavermelha(hojeapenasroscea),elenomaissemexe,noseachacomcapacidadedeagir.Todasasforasdasociedadeestoapontadascontraoinstintosocial.NosprimeirosescritosdeMarxpodemosencontrarumaespciedeidolatriadotempoedahistria,traduzidanaconcepomessinicadapoltica,dopovoedeseuslderes.Estaconceporeacionriaenfatizaahistriacomoumalongamarchaemdireoa um fim supremo. Com roupagens cientificistas tentou transcenderostemascentraisdoutopismo,masficoupresoutilizao intencional de uma construo do pensamento, exaustivamente trabalhadaparaseadaptaraosprprios fins (atospessoais), mas incapaz de superar as barreiras que se coloca a simesma.Afilosofiamarxistaextraviouarazodeseuverdadeirocaminho;suasteoriasereceitasnuncapassaramderomnticaspropostasutpicas, como aquele messianismo coletivo que coloca emmosdasclassespopularesarealizaodosdesgniosdahistria.Masasimplesdescriodeuma idiasobreumasociedadeharmoniosa,quepossibiliteaperfectibilidadehumana,nuncafoiobjeto de sua considerao, nem cogitao!Neste sentido, representaumadecisiva implosodo iderioutpico imediatista.No encontramos emMarx outra concluso de que o povo spode ser governado pela fora.Omarxismo prope, com estefim,todosostoquesimaginveisdeviolentarepresso.

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  • HOJECABENOSPERGUNTAR:

    Tantaenergiadesperdiada,paraterminarnagulodicedaNomenklatura,essamfiadeburocratasetecnocratas?

    Tamanhoesforoempregado

    paraimaginarearquitecturaratransformaoextrema,paraacabarpraticamenteemnada?

    Queesterilidademaiorqueumaintelignciadesprovidadeutopias?

    Asutopiascontemporneasseesforamporimaginarummundomelhor,maisprximoeacessvelapessoasreais,queestoafetadas pela extrema imbecilidade do momento atual. A utopia,comotal,nosedesgastounotempo,masestvivaenfrentandograndes obstculos e poderosos impedimentos, lanandose aofuturoporimprevisveiscaminhosdeinvenopolticaesocial.Autopialibertriasaifortalecidadedcadasdeostracismo,energizadapela falnciadeumcapitalismoselvagem,predadoredestruidor, tanto comoda falnciadapropostautpica autoritriasugeridapelospseudorevolucionriosmarxistas.Estesdoistiposderegimessgeraramadominaosocialeumobscurantismopoltico,comtiraniaseautoritarismosdetodaespcie; geraram e sustentam esse pesadelo doentio de quererdomesticareentravarofuturosocial,semencararaurgnciaderealizaras transformaesglobaisque,nestemomento,so tonecessriasparaasobrevivnciadaraahumananestePlaneta.

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  • pelosfrutosquesereconheceaqualidadedeumarvore.

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    CapaContedoIntroduoRevoluaQuem faz a RevoluoVelhas UtopiasLimites do MarxismoOs cratasOs ComunistasMarx e sua ObsessoO Rol da Utopia