a experiência de ivanilda cultivando sonhos e conquistando direitos

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A experiência de Ivanilda Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1208 Dezembro/2013 João Câmara A comunidade de Matão de Jó, localizada no município de João Câmara, possui uma forte organização coletiva e participação nos espaços de discussão e decisão da sociedade civil, o que resultou na conquista de várias políticas públicas e programas, como os que são coordenados pela ASA. Uma das famílias que conquistaram a participação nesses programas é a de Ivanilda Santos da Silva, 47 anos, que mora há 30 anos na comunidade Matão de Jó. Casada com Antônio, Ivanilda é mãe de Ivanise, Ivanaldo, Antonio, José, Leandro e Lázaro. A rotina dela começa às 4 horas da manhã, quando acorda para aguar suas hortas, além de ser a única responsável pelo trabalho doméstico, pela alimentação e cuidado com a família. A experiência ao redor de casa é o que garante a produção agroecológica, onde ela planta e cria animais sem o uso de venenos, garantindo a soberania alimentar e gerando renda com a venda do que sobra. Ela cultiva fruteiras, hortaliças, plantas medicinais, cria galinhas e ovelhas. Em seu quintal, ela planta feijão, milho, macaxeira e batata Os pés de fruta fazem sombra no quintal e produzem coco, acerola, manga, cajá, limão, maracujá, bananeira, laranja, seriguela, graviola, tamarindo, pinha e cana-de-açúcar. Das plantas medicinais, tem mastruz e none. Com a organização da comunidade, veio a conquista das cisternas de água de beber e de produzir, que muito mudou a realidade dessas pessoas. A chegada das cisternas melhorou e ampliou a produção, mas nos tempos difíceis, de carro pipa, a agricultora já plantava para a alimentação da família. Eles desenvolveram uma tecnologia alternativa de capitação de água da chuva, que recolhe a água que cai sobre o telhado da casa, que, com a ajuda de uma “bica”, é direcionada para um tanque de armazenamento feito de alvenaria. Além disso, há o reaproveitamento de água da pia de lavar louça e a do banho, que vem pelos canos e é colocada diretamente nas fruteiras do quintal. Ivanilda diz que existe uma diferença, entre as plantas que recebem a água limpa e as plantas que recebem a água da pia e do banho. Quando comparadas com as outras, as plantas que são aguadas com água vinda da casa tem os seus troncos mais grossos e suas frutas são maiores. Cultivando sonhos e conquistando direitos Ivanilda e suas sementes de coentro

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A experiência de Ivanilda

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1208

Dezembro/2013

João Câmara

A comunidade de Matão de Jó, localizada no município de João Câmara, possui uma forte organização coletiva e participação nos espaços de discussão e decisão da sociedade civil, o que resultou na conquista de várias políticas públicas e programas, como os que são coordenados pela ASA. Uma das famílias que conquistaram a participação nesses programas é a de Ivanilda Santos da Silva, 47 anos, que mora há 30 anos na comunidade Matão de Jó. Casada com Antônio, Ivanilda é mãe de Ivanise, Ivanaldo, Antonio, José, Leandro e Lázaro. A rotina dela começa às 4 horas da manhã, quando acorda para aguar suas hortas, além de ser a única responsável pelo trabalho doméstico, pela alimentação e cuidado com a família. A experiência ao redor de casa é o que garante a produção agroecológica, onde ela planta e cria animais sem o uso de venenos, garantindo a soberania alimentar e gerando renda com a venda do que sobra. Ela cultiva fruteiras, hortaliças, plantas medicinais, cria galinhas e ovelhas. Em seu quintal, ela planta feijão, milho, macaxeira e batata Os pés de fruta fazem sombra no quintal e produzem coco, acerola, manga, cajá, limão, maracujá, bananeira, laranja, seriguela, graviola, tamarindo, pinha e cana-de-açúcar. Das plantas medicinais, tem mastruz e none.

Com a organização da comunidade, veio a conquista das cisternas de água de beber e de produzir, que muito mudou a realidade dessas pessoas. A chegada das cisternas melhorou e ampliou a produção, mas nos tempos difíceis, de carro pipa, a agricultora já plantava para a alimentação da família. Eles desenvolveram uma tecnologia alternativa de capitação de água da chuva, que recolhe a água que cai sobre o telhado da casa, que, com a ajuda de uma “bica”, é direcionada para um tanque de armazenamento feito de alvenaria. Além disso, há o reaproveitamento de água da pia de lavar louça e a do banho, que vem pelos canos e é colocada diretamente nas fruteiras do quintal. Ivanilda diz que existe uma diferença, entre as plantas que recebem a água limpa e as plantas que recebem a água da pia e do banho. Quando comparadas com as outras, as plantas que são aguadas com água vinda da casa tem os seus troncos mais grossos e suas frutas são maiores.

Cultivando sonhos e conquistando direitos

Ivanilda e suas sementes de coentro

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

Realização Apoio

A família também conquistou o Fogão Agroecológico, uma tecnologia social que é uma alternativa energética no semiárido, contribuindo para combater a d e s e r t i f i c a ç ã o e p r e s e r v a r a biodiversidade. Essa parceria entre a comunidade e a Cooperativa TECHNE já trouxe algumas dessas tecnologias para o Matão de Jó. Ivanilda diz que esse tipo de fogão utiliza muito pouca madeira em comparação com o outro fogão a lenha que ela usava, além de cozinhar mais rápido. Ela diz que usa as cinzas do fogão para espantar as pragas nas hortas. Hoje, a maior parte da renda em dinheiro na comunidade vem da agricultura camponesa e familiar, com uma forma de produção que respeita o meio ambiente e garante a soberania alimentar. No entanto, Ivanilda e sua família ainda enfrentam a dificuldade de produzir e guardar sementes crioulas para a produção de hortaliças, mas esse é um dos objet ivos a serem alcançados muito em breve através da organização da casa de sementes comunitária.

Tronco de cebolinha Água da pia e do banho para as plantas