a escolarização da literatura infantil e juvenil completo

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SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins; BRANDÃO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zélia Versiani (organizadoras). Escolarização da leitura literária. 2ª ed., 3ª reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. A ESCOLARIZAÇÃO DA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL (Magda Soares). Comecemos por analisar o tema desta exposição: que relações existem entre o processo de escolarização e a literatura infantil? Sob que perspectivas podem essas relações ser analisadas? Numa primeira perspectiva, podem-se interpretar as relações entre escolarização, de um lado, e literatura infantil, de outro, como sendo a apropriação, pela escola, da literatura infantil: nesta perspectiva, analisa-se o processo pelo qual a escola toma para si a literatura infantil, escolariza-a, didatiza- a, pedagogiza-a, para atender a seus próprios fins — faz dela uma literatura escolarizada. Uma segunda perspectiva sob a qual podem ser consideradas as relações entre escolarização, de um lado, e literatura infantil, de outro, é interpretá-las como sendo a produção, para a escola, de uma literatura destinada a crianças: nesta perspectiva, analisa-se o processo pelo qual uma literatura é produzida para a escola, para os objetivos da escola, para ser consumida na escola, pela clientela escolar — busca-se literatizar a escolarização infantil. Uma e outra dessas duas perspectivas suscitam a questão, tão debatida e nunca resolvida, do conceito de literatura infantil: quer se pense em uma literatura infantil escolarizada, quer se pense em uma literatização da escolarização infantil, ou seja, quer se considere a literatura infantil como

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  • SOARES, Magda. A escolarizao da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins; BRANDO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zlia Versiani (organizadoras). Escolarizao da leitura literria. 2 ed., 3 reimp. Belo Horizonte: Autntica, 2011.

    A ESCOLARIZAO DA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL (Magda Soares).

    Comecemos por analisar o tema desta exposio: que relaes existem entre

    o processo de escolarizao e a literatura infantil? Sob que perspectivas podem

    essas relaes ser analisadas?

    Numa primeira perspectiva, podem-se interpretar as relaes entre

    escolarizao, de um lado, e literatura infantil, de outro, como sendo a

    apropriao, pela escola, da literatura infantil: nesta perspectiva, analisa-se o

    processo pelo qual a escola toma para si a literatura infantil, escolariza-a,

    didatiza- a, pedagogiza-a, para atender a seus prprios fins faz dela uma

    literatura escolarizada.

    Uma segunda perspectiva sob a qual podem ser consideradas as relaes

    entre escolarizao, de um lado, e literatura infantil, de outro, interpret-las

    como sendo a produo, para a escola, de uma literatura destinada a crianas:

    nesta perspectiva, analisa-se o processo pelo qual uma literatura produzida

    para a escola, para os objetivos da escola, para ser consumida na escola, pela

    clientela escolar busca-se literatizar a escolarizao infantil.

    Uma e outra dessas duas perspectivas suscitam a questo, to debatida e

    nunca resolvida, do conceito de literatura infantil: quer se pense em uma

    literatura infantil escolarizada, quer se pense em uma literatizao da

    escolarizao infantil, ou seja, quer se considere a literatura infantil como

  • produzida independentemente da escola, que dela se apropria, quer se

    considere a literatura infantil como literatura produzida para a escola, o que

    caracteriza uma determinada literatura como infantil?

    primeira perspectiva est subjacente o conceito de que h uma literatura

    que destinada a, ou que interessa a crianas, da qual a escola lana mo

    para incorpor-la s suas atividades de ensino e aprendizagem, s suas

    intenes educativas. No cabe aqui discutir se literatura infantil uma literatura

    destinada a crianas ou uma literatura que interessa a crianas, mas vale a

    pena recordar a questo que Carlos Drummond de Andrade to bem formulou

    j no incio dos anos 40, e que ainda hoje permanece irrespondida:

    O gnero literatura infantil tem, a meu ver, existncia duvidosa. Haver

    msica infantil? Pintura infantil? A partir de que ponto uma obra literria deixa de

    constituir alimento para o esprito da criana ou do jovem e se dirige ao esprito

    do adulto? Qual o bom livro para crianas, que no seja lido com interesse pelo

    homem feito? Qual o livro de viagens ou aventuras, destinado a adultos, que no

    possa ser dado criana, desde que vazado em linguagem simples e isento de

    matria de escndalo? Observados alguns cuidados de linguagem e decncia, a

    distino preconceituosa se desfaz. Ser a criana um ser parte, estranho ao

    homem, e reclamando uma literatura tambm parte? Ou ser a literatura

    infantil algo de mutilado, de reduzido, de desvitalizdo porque coisa primria,

    fabricada na persuaso de que a imitao da infncia a prpria infncia?

    (Carlos Drummond de Andrade, Literatura Infantil, em Confisses de Minas)

    A pergunta de Carlos Drummond de Andrade Ser a criana um ser

    parte, reclamando uma literatura tambm parte? conduz mencionada

    segunda perspectiva sob a qual podem ser analisadas as relaes entre

    escolarizao e literatura infantil-, quando se pensa em uma literatura infantil

    como uma literatura produzida para crianas e jovens, o que significa produzida

    para a clientela escolar, portanto, produzida para consumo na escola ou atravs

    da escola, a expresso escolarizao da literatura infantil toma o sentido de

    literatizao do escolar, isto , de tornar literrio o. escolar.

  • Este conceito de literatura infantil pode parecer, aos mais radicais, uma

    heresia talvez seja, mas deve-se tambm reconhecer que sempre se atribuiu

    literatura infantil (como tambm juvenil) um carter educativo, formador, por

    isso ela quase sempre se vincula escola, a instituio, por excelncia,

    educativa e formadora de crianas e jovens; lembre-se, por exemplo, que

    Monteiro Lobato, quando publicou A menina do nariz arrebitado, em 1921,

    caracterizou-o, na capa, como livro de leitura para as segundas sries, o livro

    foi anunciado como um novo livro escolar aprovado pelo governo de So

    Paulo, e a edio foi realmente vendida para o governo de So Paulo para que

    o livro fosse adotado nas escolas.

    Nessa mesma linha de raciocnio, interessante observar como o

    desenvolvimento da literatura infantil e juvenil no Brasil acompanha o ritmo do

    desenvolvimento da educao escolar; basta citar o chamado boom da literatura

    infantil e juvenil, que coincide, no por acaso, com o momento da multiplicao

    de vagas na escola brasileira. Parece mesmo que, ao longo do tempo, a

    literatura infantil e juvenil foi-se aproximando cada vez mais da escola. H

    autores que vm apontando (ou denunciando?) a clara vinculao, atualmente,

    da literatura infantil e juvenil escola: Marisa Lajolo fala do pacto da literatura

    infantil com a escola, um pacto que se traduz em pacto entre produtores e

    distribuidores1, isto , entre os autores que produzem e a escola que distribui, e

    Nelly Novaes Coelho afirma que, a partir de meados dos anos 70, o livro infantil

    se tornou uma leitura que, mais do que simples divertimento, um fecundo

    instrumento de formao humana, tica, esttica, poltica, etc., e ainda diz que

    a literatura infantil oferece matria extremamente fecunda para formar ou

    transformar as mentes, pois um dos mais eficazes instrumentos de formao

    dos imaturos2. Fica claro esse pacto da literatura infantojuvenil com a escola

    quando se lembram: as fichas de leitura que atualmente acompanham quase

    todo livro infantil e juvenil; a presena frequente e macia de escritores de

    literatura infantil e juvenil na escola; o grande nmero de escritores de literatura

    infantil e juvenil que so professores.

  • Esta exposio, que tem por tema a escolarizao da literatura infantil,

    poderia, pois, desenvolver-se a partir da interpretao das relaes entre

    literatura infantil e escolarizao como sendo a produo de literatura para a

    escola, para a clientela escolar, poderia discutir a literatizao do escolar.3

    Mas a opo aqui analisar o tema escolarizao da literatura infantil sob a

    outra perspectiva apontada, isto , tomando as relaes entre literatura infantil e

    escolarizao como sendo a apropriao, pela escola, para atender a seus fins

    especficos, de uma literatura destinada criana, ou que interessa criana.

    No quadro dessa opo, comecemos por discutir o termo escolarizao.

    Escolarizao

    O termo escolarizao , em geral, tomado em sentido pejorativo,

    depreciativo, quando utilizado em relao a conhecimentos, saberes, produes

    culturais; no h conotao pejorativa em escolarizao da criana, em

    criana escolarizada, ao contrrio, h uma conotao positiva; mas h

    conotao pejorativa em escolarizao do conhecimento, ou da arte, ou da

    literatura, como h conotao pejorativa nas expresses adjetivadas

    conhecimento escolarizado, arte escolarizada, literatura escolarizada. No

    entanto, em tese, no correta ou justa a atribuio dessa conotao pejorativa

    aos termos escolarizao e escolarizado, nessas expresses.

    No h como ter escola sem ter escolarizao de conhecimentos, saberes,

    artes: o surgimento da escola est indissociavelmente ligado constituio de

    saberes escolares, que se corporificam e se formalizam em currculos,

    matrias e disciplinas, programas, metodologias, tudo isso exigido pela

    inveno, responsvel pela criao da escola, de um espao de ensino e de um

    tempo de aprendizagem.

    A diferena fundamental entre o aprendizado corporativo medieval e o

    aprendizado escolar que se difundiu no mundo ocidental, a partir sobretudo do

    sculo XVI, foi uma revoluo do espao de ensino: locais dispersos mantidos

  • por professores isolados e independentes foram substitudos por um prdio

    nico abrigando vrias salas de aula; como consequncia e exigncia dessa

    inveno de um espao de ensino, uma outra inveno surge, um tempo de

    ensino: reunidos os alunos num mesmo espao, a ideia de sistematizar o seu

    tempo se impunha, ideia que se materializou numa organizao e planejamento

    das atividades, numa diviso e gradao do conhecimento, numa definio de

    modos de ensinar coletivamente. assim que surgem os graus escolares, as

    sries, as classes, os currculos, as matrias e disciplinas, os programas, as

    metodologias, os manuais e os textos enfim, aquilo que constitui at hoje a

    essncia da escola.

    Assim, a escola uma instituio em que o fluxo das tarefas e das aes

    ordenado atravs de procedimentos formalizados de ensino e de organizao

    dos alunos em categorias (idade, grau, srie, tipo de problema, etc.), categorias

    que determinam um tratamento escolar especfico (horrios, natureza e volume

    de trabalho, lugares de trabalho, saberes a aprender, competncias a adquirir,

    modos de ensinar e de aprender, processos de avaliao e de seleo, etc.).

    a esse inevitvel processo ordenao de tarefas e aes, procedimentos

    formalizados de ensino, tratamento peculiar dos saberes pela seleo, e

    consequente excluso, de contedos, pela ordenao e sequenciao desses

    contedos, pelo modo de ensinar e de fazer aprender esses contedos a

    esse processo que se chama escolarizao, processo inevitvel, porque da

    essncia mesma da escola, o processo que a institui e que a constitui.

    Portanto, no h como evitar que a literatura, qualquer literatura, no s a

    literatura infantil e juvenil, ao se tornar saber escolar, se escolarize, e no se

    pode atribuir, em tese, como dito anteriormente, conotao pejorativa a essa

    escolarizao, inevitvel e necessria; no se pode critic-la, ou neg-la,

    porque isso significaria negar a prpria escola.

    Disse em tese porque, na prtica, na realidade escolar essa escolarizao

    acaba por adquirir, sim, sentido negativo, pela maneira como ela se tem

    realizado, no quotidiano da escola. Ou seja: o que se pode criticar, o que se

  • deve negar no a escolarizao da literatura, mas a inadequada, a errnea, a

    imprpria escolarizao da literatura, que se traduz em sua deturpao,

    falsificao, distoro, como resultado de uma pedagogizao ou uma

    didatizao mal compreendidas que, ao transformar o literrio em escolar,

    desfigura-o, desvirtua-o, falseia-o. (E preciso lembrar que essa escolarizao

    inadequada pode ocorrer no s com a literatura, mas tambm com outros

    conhecimentos, quando transformados em saberes escolares.)

    Esta exposio poderia, assim, discutir a inevitvel e necessria

    escolarizao da literatura infantil e juvenil, e como faz-la de forma adequada;

    na verdade, toda a bibliografia prescritiva sobre a literatura na escola uma

    bibliografia sobre como promover uma escolarizao adequada da literatura:

    como se deve ensinar literatura, como se deve trabalhar o texto literrio, como

    se deve incentivar e orientar a leitura de livros.

    Mas no essa a discusso que se pretende desenvolver aqui; o que se

    pretende discutir como a literatura infantil tem sido inadequadamente

    escolarizada, erroneamente escolarizada; discutindo isso, implicitamente se

    estar apontando como ela poderia ser adequadamente escolarizada. Sendo

    assim, o tema desta exposio deveria, talvez, ganhar um adjetivo, e tornar-se:

    A inadequada escolarizao da literatura infantil.

    Antes, porm, de desenvolver assim o tema, necessrio lembrar as

    principais instncias de escolarizao da literatura infantil e, assim,

    contextualizar aquela que ser aqui privilegiada.

    Instncias de escolarizao da literatura infantil

    So trs as principais instncias de escolarizao da literatura em geral, e

    particularmente da literatura infantil: a biblioteca escolar; a leitura e estudo de

    livros de literatura, em geral determinada e orientada por professores de

    Portugus; a leitura e o estudo de textos, em geral componente bsico de aulas

    de Portugus. Esta ltima instncia que ser aqui privilegiada, mas, para

  • contextualiz-la, importante desenvolver algumas consideraes sobre as

    outras duas.

    A biblioteca como instncia de escolarizao da literatura

    Na biblioteca, escolariza-se a literatura infantil (alis, a literatura em geral)

    atravs de diferentes estratgias.

    A primeira estratgia o prprio estabelecimento de um local escolar de

    guarda da e de acesso literatura4, um local escolar a que se atribui um

    estatuto simblico que constri uma certa relao escolar com o livro, fundadora

    da relao posterior do aluno com a instituio social no escolar biblioteca

    (biblioteca pblica, ou biblioteca de instituio no escolar, ou mesmo biblioteca

    particular).

    Uma segunda estratgia a organizao do espao e do tempo de acesso

    aos livros e de leitura onde se pode ou se deve ler (na prpria biblioteca

    escolar? em que lugar da biblioteca?), quando e durante quanto tempo se pode ler

    (durante a aula de biblioteca? quando se pode ir biblioteca buscar um livro?

    quanto tempo se pode ficar com o livro?).

    Uma outra estratgia a seleo dos livros quais livros .1 biblioteca

    oferece leitura, que livros exclui ou esconde, que livros expe mais

    abertamente.

    H ainda as estratgias de socializao da leitura: quem indica ou orienta a

    escolha do livro a ler a professora? a bibliotecria? Que critrios definem a

    orientao seletiva de leitura para uma srie ou outra, para meninos ou para

    meninas? A orientao seletiva de tipos e gneros de leitura, de autores?

    Tambm a determinao de rituais de leitura constitui estratgia de

    escolarizao da literatura no mbito da biblioteca - desde as fichas que

    preciso preencher e respeitar, at como se deve ler (em silncio, sem escrever

    no livro, passando as pginas de certa maneira, no dobrando o livro, etc.) e em

    que posio se deve ler (sentado adequadamente, segurando o livro de certa

  • maneira, etc.)

    A leitura de livros como instncia de escolarizao da literatura

    A leitura e estudo de livros de literatura a segunda instncia mencionada

    escolariza a literatura tambm por diferentes estratgias.

    Em primeiro lugar, a leitura determinada e orientada, como j foi dito, por

    professores, em geral os de Portugus, portanto, configura-se como tarefa ou

    dever escolar, sejam quais forem as estratgias para mascarar esse carter de

    tarefa ou dever jamais a leitura de livros no contexto escolar, seja ela im-

    posta ou solicitada ou sugerida pelo professor, seja o livro a ser lido indicado

    pelo professor ou escolhido pelo aluno, jamais ela ser aquele ler para ler que

    caracteriza essencialmente a leitura por lazer, por prazer, que se faz fora das

    paredes da escola, se se quer fazer e quando se quer fazer.

    Alm disso, a leitura sempre avaliada, por mais que se mascarem tambm

    as formas de avaliao que se d uma prova, que se pea preenchimento de

    ficha, que se promova trabalho de grupo, seminrio, jri simulado, enfim, que se

    use seja qual for a estratgia, das muitas que a bibliografia de uma pedagogia

    renovadora vem sugerindo, sempre a leitura feita ter que ser demonstrada,

    comprovada, porque a situao escolar, e da essncia da escola avaliar (o

    simples fato de se estar sempre discutindo que preciso no avaliar

    explicitamente, de se criarem estratgias as mais engenhosas para verificar se a

    leitura foi feita, e bem feita, evidencia como a leitura escolarizada). Lembre-se

    de que, fora da escola, nunca temos de demonstrar, comprovar que lemos, e

    que lemos bem, um livro.

    Com esses breves comentrios sobre essas duas instncias de

    escolarizao da literatura a biblioteca escolar e a leitura de livros o que

    se quer deixar claro que a literatura sempre e inevitavelmente escolarizada,

    quando dela se apropria a escola; o que se pode distinguir entre uma

    escolarizao adequada da literatura aquela que conduza mais eficazmente

  • s prticas de leitura que ocorrem no contexto social e s atitudes e valores que

    correspondem ao ideal de leitor que se quer formar e uma escolarizao

    inadequada, errnea, prejudicial da literatura aquela que antes afasta que

    aproxima de prticas sociais de leitura, aquela que desenvolve resistncia ou

    averso leitura.

    Assim, contraditria e at absurda a afirmao de que preciso

    desescolarizar a literatura na escola (como tornar no escolar algo que ocorre

    na escola, que se desenvolve na escola?), ou a acusao cie que a leitura e o

    leitor so escolarizados na e pela escola (como no escolarizar na escola?

    Como pode a escola no escolarizar?). O que, sim, se pode afirmar que

    preciso escolarizar adequadamente a literatura (como, alis, qualquer outro

    conhecimento).

    O mesmo se pode dizer com relao terceira instncia de escolarizao da

    literatura: a leitura e o estudo de textos, em geral componente bsico de aulas

    de Portugus, instncia privilegiada na discusso que se faz neste texto.

    A leitura e estudo de textos como

    instncia de escolarizao da literatura

    Ao lado do acesso ao livro na biblioteca escolar, ao lado da leitura de livros

    promovida em aulas de Portugus, a literatura se apresenta na escola sob a

    forma de fragmentos que devem ser lidos, compreendidos, interpretados.

    Certamente nesta instancia que a escolarizao da literatura mais intensa; e

    tambm nesta instncia que ela tem sido mais inadequada.

    Consideraremos quatro aspectos principais da leitura de textos na escola: a

    questo da seleo de textos: gneros, autores e obras; a questo da seleo

    do fragmento que constituir o texto a ser lido e estudado; a questo da

    transferncia do texto de seu suporte literrio para um suporte didtico, a pgina

    do livro didtico; e, finalmente, e talvez o mais importante, a questo das

    intenes e dos objetivos da leitura e estudo do texto.

  • Para" discutir cada um desses aspectos, vo ser tomados exemplos de livros

    didticos de 1- a 4- sries do primeiro grau, com o objetivo de ilustrar e

    caracterizar a escolarizao inadequada da literatura infantil na instncia da

    leitura e estudo de textos; no sero mencionados ttulos e autores dos livros de

    que so extrados os exemplos, j que estes so apenas modelares indicar

    ttulo e autoria significaria no s individualizar o que genrico, mas tambm

    penalizar uma determinada obra e um determinado autor por falhas que so

    frequentes nos livros didticos em geral.5

    A seleo de gneros, autores e obras

    Os gneros literrios nos livros didticos

    No quadro da grande diversidade de gneros literrios, h, na grande maioria

    dos livros didticos destinados s quatro primeiras sries do primeiro grau,

    ntida predominncia dos textos narrativos e poemas, embora estes tenham

    quase sempre papel secundrio e subsidirio; o teatro infantil est quase

    totalmente ausente; o gnero epistolar, a biografia, o dirio, as memrias,

    gneros que tm presena significativa na literatura infantil, esto tambm

    quase totalmente ausentes.

    Dos textos narrativos se tratar adiante, ao discutir a desestruturao a que

    submetida a narrativa nos livros didticos; cabe aqui apontar o tratamento que

    neles dado poesia, quase sempre descaracterizada: ou se insiste apenas

    em seus aspectos formais conceito de estrofe, verso, rima, ou, o que mais

    frequente, se usa o poema para fins ortogrficos ou gramaticais. Vejam-se dois

    exemplos (os grifos so meus):

  • desnecessrio apontar a inadequao do uso de poemas para identificar

    substantivos comuns ou para encontrar palavras com determinado tipo de

    slaba; a poesia aqui pretexto I MI a exerccios de gramtica e ortografia,

    perde-se inteiramente interao ldica, rtmica com os poemas, que poderia

    levar as crianas percepo do potico e ao gosto pela poesia.

    Seleo de autores e obras

    Tambm aqui se verifica a inadequada escolarizao da literatura infantil.

    Em primeiro lugar aspecto que , certa- o menos grave h uma grande

    recorrncia dos mesmos autores e das mesmas obras nas colees didticas

    para as quatro primeiras sries do primeiro grau. Poemas so repetidamente

  • buscados, ao longo das quatro sries, em obras de larga divulgao, como Ou

    isto ou aquilo, de Ceclia Meireles, A Arca de No, de Vinicius de Moraes, ou

    em autores mar. amplamente conhecidos, como Elias Jos, Srgio Capareli,

    Roseana Murray. A mesma recorrncia de autores e obras ocorre na seleo

    de textos narrativos: Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Pedro Bandeira, Ziraldo

    so autores que aparecem repetidamente; os livros Marcelo, marmelo, martelo,

    O menino maluquinho, A fada que tinha ideias tm lugar cativo nos livros

    didticos. So, inegavelmente, bons poemas, boas narrativas, excelentes

    poetas e excelentes escritores; entretanto, oferece-se criana uma gama

    restrita de autores e obras, quando a literatura infantil brasileira, em prosa e em

    verso, bastante rica e diversificada. O resultado ser ou tem sido aquele

    mesmo que ocorreu com geraes anteriores, j que parece ser antiga esta

    caracterstica da escolarizao da literatura: quem, entre aqueles que

    frequentaram a escola nos anos 50 e 60, no se lembra de Visita casa

    paterna, de Lus Guimares Jr., de As pombas, de Raimundo Correia, de Ouvir

    estrelas, de Olavo Bilac, de Um aplogo, de Machado de Assis?

    Uma seleo limitada de autores e obras resulta em uma escolarizao

    inadequada, sobretudo porque se forma o conceito de que literatura so certos

    autores e certos textos, a tal ponto que se pode vir a considerar como uma

    deficincia da escolarizao o desconhecimento, pela criana, daqueles autores

    e obras que a escola privilegia... quando talvez o que se devesse pretender

    seria no o conhecimento de certos autores e obras, mas a compreenso do

    literrio e o gosto pela leitura literria (voltando s geraes que frequentaram a

    escola nos anos 50 e 60: considerado falta de cultura o desconhecimento,

    por aqueles pertencentes a essas geraes, de Ora direis, ouvir estrelas... certo

    perdeste o senso... ou de Vai-se a primeira pomba despertada..., mas no se

    considera falta de cultura a insensibilidade para o literrio e o desgosto pela

    leitura literria).

    Um outro aspecto que revela a inadequada escolarizao da literatura infantil

    que, excetuados os autores e obras recorrentemente utilizados, porque

  • amplamente conhecidos, como dito acima, verifica-se a ausncia de critrios

    apropriados para a seleo de autores e textos; na verdade, ou se lana mo de

    obras e autores muito conhecidos, ou de autores pouco representativos e obras

    de pouca qualidade. muito comum, por exemplo, a incluso de textos do

    prprio autor do livro didtico; veja-se, por exemplo, a escolarizao

    inadequada da poesia, pela apresentao criana do seguinte poema:

  • A finalidade instrutiva do poema, a estrutura elementar e a precariedade dos

    aspectos rtmicos e das rimas certamente distorcem o conceito de poesia e a

    caracterizao de poema sem dvida uma inadequada escolarizao da

    literatura (?) infantil.

    Ainda um ltimo aspecto que convm mencionar, no que refere seleo de

    autores e obras, a muito frequente ausncia, nos livros didticos, de referncia

    bibliogrfica e de informaes sobre o autor do texto: o texto torna-se inde-

    pendente da obra a que pertence, desapropria-se o autor de seu texto mais

    uma forma de escolarizao inadequada da literatura; uma escolarizao

    adequada desenvolveria no aluno n conceito de autoria, de obra, de fragmento

    de obra.

    A seleo do fragmento que constituir o texto

    Em livros didticos encontram-se, em geral, como textos para leitura,

    fragmentos de textos maiores, j que preciso que as atividades de

    desenvolvimento de habilidades de leitura tenham por objeto textos curtos, para

    que possam ser analisados e estudados em profundidade no tempo limitado

    imposto pelos currculos e horrios escolares esta mais uma das

    caractersticas (exigncias?) da inevitvel escolarizao da literatura.

    Entretanto, ao selecionar o fragmento de um texto, este tem de constituir-se, ele

    tambm, como texto, isto : uma unidade de linguagem, tanto do ponto de vista

    semntico uma unidade percebida pelo leitor como um todo significativo e

    coerente quanto do ponto de vista formal uma unidade em que haja

    integrao dos elementos, que seja percebida como um todo coeso.

    Para escapar dificuldade desta tarefa, muitas vezes so forjados textos,

    na verdade, pseudotextos: o prprio autor do livro didtico produz o texto, e em

  • geral o faz no propriamente com o objetivo de desenvolver atividades de leitu-

    ra, mas de ensinar sobre a lngua ensino de gramtica, de ortografia; eis um

    exemplo:

    Desnecessrio comentar a falta de coerncia deste pretenso texto: uma jiboia,

    por gigante que seja, jamais poderia engolir uma girafa... jiboia com medo de

    injeo?! E por que a tigela de jil? E onde esto as trovas que a jiboia se ps a

    cantar? E a absoluta falta de sentido das trovas que no so trovas...

    Nem se trata de explorao de nonsense, ou de jogo ldico com as palavras; na

    verdade, o objetivo foi apenas juntar palavras em que aparecem as letras j e g

    representando o mesmo fonema para no restar dvida, as slabas que o texto

    perseguiu so destacadas ao fim dele. Apresenta-se esse ajuntamento de

    palavras ao aluno como se fosse um texto narrativo, levando-o a formar um conceito

    falso de texto, de leitura um claro exemplo de escolarizao inadequada da

    literatura.

    Por outro lado, quando se lana mo de um fragmento de texto da literatura

    infantil, muito frequentemente no se cuida de que o fragmento apresente, tambm

  • ele, textualidade, isto , que apresente as caractersticas que fazem com que uma

    sequncia de frases constitua, realmente, um texto. A frequncia com que isso

    ocorre nos livros didticos tem relaes com a predominncia, neles, da narrativa.

    Esta tem uma estrutura textual (uma macroestrutura6) que se organiza em ciclos

    sequenciais: comea com uma exposio, em que o acontecimento que ser narrado

    emoldurado, com a apresentao da situao inicial (tempo e lugar,

    personagens, etc.); prossegue trazendo um desequilbrio que vem perturbar a

    situao inicial, isto , uma complicao-, evolui para um clmax, em que o

    desequilbrio chega a seu ponto mximo; finalmente caminha para o

    restabelecimento do equilbrio, pela resoluo da complicao. Torna-se, assim,

    difcil retirar, de uma narrativa, um fragmento que conserve, em si, todos os (idos de

    uma narrativa; a conseqncia dessa dificuldade que os fragmentos de narrativas

    apresentados nos livros didticos so quase sempre pseudotextos, em que um ou

    alguns ciclos da seqncia narrativa so apresentados, faltando aqueles que os

    precedem ou os seguem. Alguns exemplos comprovaro essa afirmao.

    H textos que apresentam apenas o ciclo inicial da sequncia narrativa, a

    exposio, e interrompem a a narrativa, que, portanto, no se realiza, deixando o

    leitor na expectativa: do que acontecer neste lugar? Com estes personagens?

    Assim, em um livro didtico, prope-se criana, como texto de leitura,

    fragmento do livro Menina bonita do lao de fita, de Ana Maria Machado; eis o

    fragmento:

    Menina bonita do lao de fita

    Era uma vez uma menina linda, linda, linda.

    Os olhos dela pareciam duas azeitonas pretas, daquelas bem brilhantes. Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito fiapos de noite. A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra quando pula na chuva.

    Ainda por cima, a me

    gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com lao de fita colorida. Ela ficava parecendo uma princesa das Terras da frica, ou uma fada do reino do luar.

    MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do lao

    de fita. So Paulo: Melhoramentos, 1986, p.4-5.

  • Em um outro livro didtico, o texto apresentado criana o seguinte

    fragmento da histria Rosa Maria no castelo encantado, do livro Gente e bichos,

    de rico Verssimo:

    O castelo encantado

    Eu sou um mgico. Moro num castelo encantado. Os homens grandes no sabem de nada. S as crianas que conhecem o segredo... Quando um homem passa pela minha casa, o que v uma casa como as outras: com portas, janelas, telhado vermelho, sacada de ferro...

    S as crianas que enxergam o meu castelo encantado. Com torres de aucar e chocolate. Pontes que sobem e descem, puxadas ou empurradas por anezinhos barrigudos

    vestidos de verde. Os trincos das portas, vocs pensam que so de metal? Nada disso. So de marmela-da, de goiabada, de cocada. Quando um homem grande entra na minha casa, tem de subir toda a escada, degrau por degrau. Quando uma criana entra no meu castelo, a escada que sobe com ela.

    VERSSIMO, rico. Rosa Maria no castelo

    Encantado. Em: Gente e bichos.

    Como se v, os textos so apenas o incio das histrias, a exposiono

    primeiro exemplo, a apresentao da personagem central, a menina bonita

    de lao de fita; no segundo exemplo, a apresentao de um dos

    personagens, o mgico, e, sobretudo, do cenrio em que se passar a

    histria. Uma primeira consequncia dessa fragmentao inadequada, que

    apresenta apenas a exposio que precede os acontecimentos, que a

    criana, que tem internalizada em si a linguagem universal da narrativa,

    cuja estrutura conhece bem, das histrias que conta e que ouve, h de se

    perguntar: e depois? o que aconteceu? e, no obtendo respostas a essas

    perguntas, ir construindo um conceito inadequado de texto, de narrativa, cie

    leitura literria. Uma segunda consequncia, estreitamente ligada primeira,

    que se desfigura o sentido da obra dos autores: no caso do livro de Ana

    Maria Machado, os pargrafos iniciais s ganham significado em funo da

    histria que se desenvolve entre a menina negra e o coelho branco, e que

    tem por tema as diferenas de cor; no caso do conto de rico Verssimo, a

  • cumplicidade que os pargrafos iniciais buscam criar entre o autor-mgico e

    o leitor-criana s se explica no desenvolvimento da narrativa. Acrescente-se

    que os livros didticos nem mesmo lanam mo de estratgias para

    compensar a fragmentao que impem histria, como por exemplo: levar

    a criana a imaginar o que acontecer em seguida, anunciar e apresentar a

    continuidade da histria nos textos seguintes...

    Ainda mais frustrante e inadequada a fragmentao que, indo um pouco

    alm da exposio, apenas anuncia a complicao, como o seguinte texto

    de um livro didtico, que apresenta os pargrafos iniciais de uma das

    histrias do livro de Ruith Rocha Pedrinho pintor e outras histrias.

    Como se v, apresenta-se criana o inicio da histria, a exposio

    personagens, situao e anuncia-se a complicao - um problema criado

    pelo personagem. E depois? Como se resolver o problema? O fragmento no

    um texto, pois no um todo significativo e coerente, nem uma narrativa,

    pois apenas apresenta a situao e o fato que desencadear, os

    acontecimentos.

    Mas h, nos livros didticos, formas mais desastrosas de fragmentao de

    narrativas. Nos exemplos anteriores, porque se tomam os pargrafos iniciais de

    uma histria, pelo menos contextualiza-se a ao e apresentam-se os

    personagens; nos exemplos apresentados a seguir, toma-se um fragmento do

  • meio da histria: falta a exposio, e apenas se anuncia a complicao. A mesma

    Ruth Rocha de novo penalizada em outro livro didtico, em que se prope

    criana, como um texto, o seguinte fragmento do livro Procurando firme.

    Procurando firme

    Mas a princesa estava desapontada! Aquele no era o prncipe que ela estava esperando! At que ele no era feio, tinha umas roupas bem bonitas, sinal que devia ser meio riquinho, mas era meio grosso, tinha um jeito de quem achava que estava abafando, muito convencido!

    A princesa torceu o nariz.

    O pai e a me da princesa

    ficaram muito espantados, ainda quiseram consertar as coisas, disfarar o nariz torto da princesa, que eles estavam achando o prncipe bem jeitoso... Afinal ele era o prncipe da Petrolndia, um lugar que tinha um leo fedorento e que todo mundo achava que um dia ia valer muito dinheiro...

    ROCHA, Ruth. Procurando firme, RJ: Nova

    Fronteira, 1984, p.17.

    Observe-se que o texto se inicia com um mas!. Esta conjuno introduz uma

    sentena que contraria algo que ter sido dito em sentena anterior: o qu? E

    menciona-se a princesa, no uma princesa; portanto, um personagem que j foi

    antes apresentado: de que princesa se fala? E mais: Aquele no era o prncipe que

    ela estava esperando! Qual o referente para o anafrico aquele? E por que, desde

    quando, para qu, a princesa estava esperando um prncipe? E depois, o que

    aconteceu? A princesa ter aceitado o prncipe ou no? E por que o texto se

    chama Procurando firme? Perguntas que a criana se far, far professora, ou

    ter de se conformar com a falta de sentido das coisas que na escola so dadas

    a ler... E pode sentir-se autorizada a escrever assim, ela tambm. Veja-se este

    outro exemplo, de um outro livro didtico:

  • O sapo Batista

    No dia seguinte, de

    manh, os bichos acordaram escutando uma msica que vinha de longe. Curiosos, os sapos foram devagarzinho para ver o que estava acontecendo. Eles queriam saber de quem era aquela voz to bonita.

    Quando chegaram ao p da rocha, uma surpresa. Olha s quem estava l! O sapo vozeiro.

    Quando Batista viu que estava sendo observado ficou todo vermelho e encabulado.

    KALIL, Vanessa. O sapo Batista.

    No dia seguinte... seguinte a qual dia? os bichos... que bichos? quem estava l era

    o sapo vozeiro... que sapo este? c por que era chamado vozeiro! E depois, o que

    aconteceu? ') (|ue fizeram os bichos? o que fez o vermelho e encabulado sapo

    Batista?

    Mais um exemplo. O fragmento abaixo, apresentado criana como um texto de

    leitura, comea por mencionar o personagem O Jnior, que no se sabe quem .

    Ser um menino? S por inferncia, ao longo da leitura, poder o aluno descobrir

    quem o Jnior:

  • De novo, fragmento retirado de livro de Ruth Rocha, o que confirma o que foi

    dito anteriormente: a recorrncia, nos livros didticos para as quatro primeiras

    sries, dos mesmos autores (esclarea-se que os fragmentos de obras de Ruth

    Rocha citados at aqui foram retirados de diferentes livros didticos). O texto

    apresenta a histria j em curso; sem conhecer seu incio, o aluno h de pensar,

    at certa altura dele, que o Jnior um menino; ao longo da leitura que poder

    inferir que o Jnior um passarinho, um bicudo, que resolveu aprender a ser

    pombo-correio... e que comunica isso a outros bicudos (seus irmos? seus

    amigos? seu bando? ) Se as questes sobre o texto propostas aos alunos

    procurassem lev-los a fazer essas inferncias e recuperar o no dito, talvez se

    justificasse a narrativa sem incio (e tambm sem fim), mas no isso que

    acontece, como se ver mais adiante. Cabe ainda uma observao sobre o ttulo

    do texto, que apenas repete o ttulo do livro de onde foi retirado (o mesmo

    recurso utilizado nos exemplos apresentados anteriormente a forma usual,

    nos livros didticos, de dar ttulos aos fragmentos retirados de livros de literatura

    infantil): nem sempre o ttulo do livro um ttulo adequado para o fragmento

    escolhido (como j se observou anteriormente, com referncia ao fragmento

    retirado do livro Procurando firme), e tambm s por meio de inferncias que se

    pode encontrar justificativa para que este texto se denomine Por que no? (por

    que um bicudo no pode ser um pombo-correio?)

    Em sntese, e concluindo este item sobre a fragmentao da narrativa em

    textos propostos leitura em livros didticos, pode-se afirmar que a

    escolarizao inevitvel, repita- se o adjetivo da literatura infantil faz-se

    frequentemente de forma inadequada e, mais que isso, prejudicial mesmo, pois

    abala o conceito que a criana tem, intuitivamente, da estrutura da narrativa, d-lhe

    uma ideia errnea do que um texto e pode induzi-la a produzir ela mesma

    pseudotextos, j que estes que lhe so apresentados como modelo.

    Um outro aspecto que evidencia a escolarizao inadequada da literatura

    infantil nas atividades de leitura e estudo de textos, propostas nos livros didticos,

    a distoro que o texto sofre, ao ser transferido de seu suporte literrio para a

    pgina do livro didtico.

    Transferncia do texto de seu suporte literrio par a a pgina do livro

    didtico

  • Ao ser transportado do livro de literatura infantil para o livro didtico, o texto tem

    de sofrer, inevitavelmente, transformaes, j que passa de um suporte para outro:

    ler diretamente no livro de literatura infantil relacionar-se com um objeto-livro-de-

    literatura completamente diferente do objeto- livro-didtico: so livros com

    finalidades diferentes, aspecto material diferente, diagramao e ilustraes

    diferentes, protocolos de leitura diferentes. Se a necessidade de escolarizar torna

    essas transformaes inevitveis, , porm, necessrio que sejam respeitadas as

    caractersticas essenciais da obra literria, que no sejam alterados aqueles

    aspectos que consumem a literalidade do texto.

    Frequentemente, no isso que acontece. Um caso exemplar o de uma

    coleo didtica que apresenta o mesmo texto no Livro 1 e no Livro 4 (o que j

    surpreendente), impondo- lhe, no Livro 1, alteraes de paragrafao, de

    estruturas lingusticas, de vocabulrio, at mesmo de ttulo; embora no Livro 1 se

    indique que se trata de uma adaptao, as alteraes feitas so inteiramente

    dispensveis, no se justificam pela necessidade de adaptao do texto (que, s

    vezes, realmente necessria mais uma das estratgias que a escolarizao

    impe, mas que pode ser feita sem ferir a literalidade do texto). um texto de

    rico Verssimo, tambm este retirado de Gente e bichos (de novo a recorrncia

    de autores o outro texto retirado deste mesmo livro, anteriormente citado, O

    castelo encantado, est includo em outro livro didtico, no neste que agora se

    menciona). Compare-se:

  • Que Dor de Dente!

    Anoiteceu. Apareceu no cu uma lua de cara inchada. t O galo saiu para o meio do quintal e cantou:

    C-r-c-c, boa noite, dona lua!

    A lua fez careta e respondeu:

    No me amole! Estou com dor de dente.

    O cachorro xereta latiu: Au! Au! Au! Se a

    senhora est com dor de dente, por que no vai ao dentista?

    mesmo! Eu no me lembrei disso! disse a lua admirada.

    Ela colocou o chapu na cabea e foi para o dentista.

    O cu e a terra ficaram muito escuros.

    Sozinhas, as estrelas no tinham fora para alumiar. E mesmo comearam a tremer de medo e acabaram entrando para dentro de suas casas.

    VERSSIMO, rico (adaptao) Gente e

    bichos. P. Alegre: Editora Globo

    O Cu e a Terra na Escurido

    rico Verssimo

    Anoiteceu. Apareceu no cu uma Lua de cara inchada. O galo saiu para o meio do quintal e cantou:

    C-r-c-c, boa noite, Dona Lua!

    A Lua fez uma careta e respondeu:

    No me amole, galo bobo. Estou com dor de dente.

    Ento o cachorro, que era muito intrometido, ladrou:

    Au! Au! Au! Se a senhora est com dor de dente por que no vai ao dentista?

    mesmo - gritou a Lua, admirada. Eu no

    me lembrei disso! Botou o chapu na cbea

    e foi para o dentista. O Cu e a Terra ficaram muito escuros. Sozinhas, as estrelas no tinham fora para lu- miar. E mesmo comearam a tremer de medo e acabaram entrando para dentro de suas casas.

    H diferenas de paragrafao: os trs ltimos pargrafos do texto tal como

    apresentado no Livro 1 constituem um s pargrafo no texto tal como

    apresentado no Livro 4: qual a razo? A hiptese ser que textos para crianas

    de primeira srie devem ter pargrafos curtos? Por qu?

    No Livro 4, a personificao da lua, do cu, da terra enfatizada pelo uso de

    maisculas: apareceu uma Lua de cara inchada; boa-noite, Dona Lua! ; O Cu e

    a Terra ficaram muito escuros; no Livro 1, as maisculas desaparecem,

    empobrecendo desnecessariamente o texto.

    Palavras e expresses so eliminadas no texto do Livro 1: a lua fez careta, e

    no a Lua fez uma careta; No me amole!

  • E no No me amole, galo bobo. Por que, para que as eliminaes?

    Tambm o elemento coesivo ento, que aparece no lexto do Livro 4 Ento o

    cachorro... desaparece, desnecessariamente, no texto do Livro 1.

    Mais numerosas e menos justificveis so as alteraes de vocabulrio: por

    que o cachorro xereta substitui o cachorro, que te era muito intrometido? a

    falsa suposio de que a criana na primeira srie no saber ler oraes

    adjetivas? E por que ladrou substitudo por latiu? no seria uma boa

    oportunidade para enriquecer o vocabulrio das crianas, se fosse o caso, com

    o verbo ladrar? e mais: gritou a Lua foi substitudo por disse a lua, botou o

    chapu na cabea transformou-se em colocou o chapu na cabea qual a

    razo para essas adaptaes?

    Finalmente, tambm o ttulo do texto alterado: O Cu e a Terra na

    escurido alterado para Que dor de dente!, que RICO tem a ver com a ideia

    central do texto.

    O que acontece que o texto do autor desnecessariamente alterado, perde

    algumas de suas qualidades, mesmo, de certa forma, distorcido uma

    escolarizao inadequada, fundamentada em pressupostos errneos.

    Uma segunda forma de distoro do texto, no processo de sua transferncia

    de seu suporte o livro de literatura infantil - para o suporte escolar o livro

    didtico a alterao do contexto textual, isto , da configurao grfica do

    texto na pgina, de suas relaes com a ilustrao. Exemplos que ilustram bem

    essa forma de escolarizao inadequada da literatura so aqueles casos em

    que o livro didtico apresenta apenas o texto de um livro infantil em que texto e

    ilustrao indissociveis, porque mutuamente dependentes; o texto, separado

    da ilustrao, perde seu sentido e seu impacto. o que tem ocorrido, por

    exemplo, com a escolarizao, em livros didticos para as sries iniciais, de

    textos da muito conhecida Coleo Gato e Rato, de Mary e Eliardo Frana.

    Nessa coleo, voltada para a criana em fase de alfabetizao h uma ou

  • duas frases em cada pgina, esta tomada quase inteiramente por ilustrao que

    completa o significado da frase, acrescenta-lhe informao e, muitas vezes,

    humor. A despeito disso, um livro didtico toma frases do livro A bota do bode,

    que nele esto apresentadas em cinco pginas, cada uma com ilustrao

    indispensvel construo da textualidade, e faz delas o seguinte texto:

    A bota do bode

    O bode viu uma bota.

    O bode colocou a bota numa pata.

    E ficou muito gozado!

    Uma bota numa pata e trs patas

    sem botas!

    O bode deu a bota para o rato.

    E o rato sumiu na bota.

    Mary Frana e Eliardo Frana.

    A bota do bode.

    Observe-se que, tambm aqui, verifica-se aquela caracterstica de

    escolarizao inadequada j apontada: apresenta- se apenas o incio da

    histria, interrompida quando mal se anuncia o ciclo da complicao. Mas o que

    se deseja aqui destacar a incoerncia e inconsistncia do texto, se lido assim

    desligado das ilustraes. S a representao visual das situaes, tal como

    feita no livro A bota do bode, d sentido s frases e acrescenta ao texto o tom

    humorstico que ele tem. Tanto assim que, na indicao da dupla autoria do livro

    (e de toda a Coleo Gato e Rato), no h distino entre autor do texto e autor

    da ilustrao; alis, em livros de literatura infantil, frequentemente o ilustrador

    to autor quanto o escritor, dada a complementaridade entre texto e ilustrao.

    bem verdade que, no livro didtico, o texto vem tambm acompanhado por

    ilustrao, mas a relao entre texto e ilustrao, to absoluta no livro, aqui

    antes distorce que complementa o texto: o desenho de um bode com uma

    bota numa pata, tendo ao lado uma outra bota com um rato dentro: mas o texto

    no se refere a uma bota s? e o bode no deu essa bota ao rato? por que,

  • ento, duas botas, uma para cada um? e o gato no sumiu na bota? como,

    ento, l est ele, bem visvel dentro da bota?7

    Ainda uma outra forma, esta talvez mais grave, de distoro do texto, no

    processo de sua transferncia do livro de literatura infantil para o livro didtico,

    a alterao do gnero do texto: poemas se transformam em textos em prosa,

    textos literrios so interpretados como textos informativos, textos jornalsticos

    como textos literrios... Talvez o exemplo mais desconcertante disso seja a

    transfigurao do poema A chcara do Chico Bolacha, de Ceclia Meireles, no

    livro Ou isto ou aquilo, em uma histria em quadrinhos! Recorde-se o poema:

    A sonoridade, o ritmo, a musicalidade, a disposio grfica prprios do texto

  • potico so inteiramente perdidos quando o poema se transforma, num livro

    didtico, no seguinte texto dialogado e quadrinizado:

  • preciso reconhecer e reafirmar o que se disse anteriormente: no h como

    no alterar o texto, ao transport-lo de seu suporte prprio neste caso, o livro

    de literatura infantil para o suporte escolar o livro didtico; no entanto,

    preciso faz-lo respeitando o que a essncia caracterizad- ra do texto,

    preciso faz-lo sem distorcer, desvirtuar, desfigurar; em sntese: se inevitvel

    escolarizar a literatura infantil, que essa escolarizao obedea a critrios que

    preservem o literrio, que propiciem criana a vivncia do literrio, e no de

    uma distoro ou uma caricatura dele.

    Mas h ainda, em livros didticos, uma outra forma de distoro do literrio,

    que se revela na maneira como textos u tirados da literatura infantil so

    estudados, interpretados o que se discute no item seguinte.

    Objetivos da leitura de textos da literatura infant il nos livros didticos

    Aos textos (ou pseudotextos) propostos leitura dos alunos, nos livros

    didticos, seguem-se sempre exerccios de estudo do texto mais uma

    exigncia do processo de escolarizao da leitura: a escola deve conduzir o

    aluno anlise do texto e explicitao de sua compreenso e interpretao.

    Entretanto, os exerccios que, em geral, so propostos aos alunos sobre

    textos da literatura infantil no conduzem percepo do que essencial neles,

    isto , percepo de sua literariedade, dos recursos de expresso, do uso

    esttico da linguagem; centram-se nos contedos, e no na recriao que deles

    faz a literatura; voltam-se para as informaes que os textos veiculam, no para

    o modo literrio como as veiculam.

    Assim, ao ser transferido do livro de literatura infantil para d livro escolar, o

    texto literrio deixa de ser um texto para emocionar, para divertir, para dar

    prazer, torna-se um texto para ser estudado. O estudo que se desenvolve sobre

    o texto literrio, na escola, uma atividade intrnseca ao processo de

    escolarizao, como j foi dito, mas uma escolarizao adequada da literatura

  • ser aquela que se fundamente em respostas tambm adequadas s

    perguntas: por que e para que "estudar um texto literrio? o que que se deve

    estudar" num texto literrio? Os objetivos de leitura e estudo de um texto

    literrio so especficos a este tipo de texto, devem privilegiar aqueles

    conhecimentos, habilidades e atitudes necessrios formao de um bom leitor

    de literatura: a anlise do gnero do texto, dos recursos de expresso e de

    recriava" da realidade, das figuras autor-narrador, personagem, ponto de vista

    (no caso da narrativa), a interpretao de analogias, comparaes, metforas,

    identificao de recursos estilsticos, poticos, enfim, o estudo daquilo que

    textual e daquilo que literrio.

    No o que fazem, em geral, os livros didticos. Quase sempre, os

    exerccios propostos aos alunos ou so exerccios de compreenso, entendida

    como mera localizao de informaes no texto, ou so exerccios de

    metalinguagem (gramtica, ortografia), ou so exerccios moralizantes.

    Relembre-se o texto j citado anteriormente, Por que no? e vejam-se as

    perguntas propostas sobre ele:

  • No se pede ao aluno mais que localizar informaes no texto e copi-las: o

    ttulo do texto, o nome da autora, frases com lacunas que deve preencher com

    palavras do texto (observe-se, ainda, que a alternativa palavra do texto para

    preenchimento da lacuna inteiramente destoante do sentido do texto, o que

    torna ainda mais maquinai a resposta do aluno). No entanto, haveria outras

    possibilidades: a inadequada fragmentao do texto, j comentada, poderia, por

    exemplo, ser de certa forma superada se as perguntas levassem o aluno a lazer

    inferncias, como por exemplo: Em que parte do testo se descobre com quem

    Jnior est conversando? Como que se descobre que Jnior um pombo? ou

    a estabelecer ligaes entre ideias, como: Por que Jnior teve de aprender a ser

    pombo-correio? etc.

    Um outro exemplo, lanando mo de novo de texto j anteriormente citado,

    so os exerccios propostos para o texto" "A bota do bode; comece-se por

    observar como se anunciam os exerccios: Vamos entender melhor a poesia?

    Alm da inadequao do uso de poesia por poema, verifica-se que prosa de

    Mary e Eliardo Frana foi aqui transformada em poesia. Na reproduo abaixo,

    os desenhos que aparecem no livro esto representados simbolicamente.

  • Tambm aqui, exerccios de cpia de frases do texto: no exerccio 1, apenas

    a traduo em palavras de desenhos; no exerccio 2, ordenao de fatos, que,

    ordenados, no se organizam com coerncia nem coeso; no exerccio 3, mera

    identificao de frases no texto. Cabe uma observao sobre o exerccio 4

    que, parece, tenta solucionar a j comentada fragmentao do texto (na

    verdade, pseudotexto): exerccio incuo, se a escola ou a professora ou algum

    aluno no tiverem o livro agua-se a curiosidade do aluno e, consequen-

    temente, aumenta-se sua frustrao.

    Uma anlise, ainda que superficial, dos exerccios propostos para textos da

    literatura infantil, em livros didticos das sries iniciais, revela que so

  • recorrentes os seguintes tipos de exerccios: copiar o ttulo do texto, o nome do

    autor, o nome do livro de onde foi tirado o texto; copiar a fala de determinado

    personagem do texto; escrever quem falou determinada frase; escrever o nome

    dos personagens; copiar as frases que esto de acordo com o texto; copiar

    frases na ordem dos acontecimentos apresentados no texto; completar frases

    do texto. Exerccios, como se disse, de mera localizao de informaes no

    texto, adequados, por exemplo, para a leitura de verbete de enciclopdia, ou de

    determinados tipos de texto informativo, no para a leitura de texto literrio.

    H ainda, com frequncia, exerccios de opinio sobre o texto, vagos O

    que achou? Gostou do texto? e exerccios que pretendem buscar no texto

    um ensinamento moral o que o texto nos ensina? Nestes casos, sempre

    interessante observar a resposta que, no Livro do Professor, sugere-se como

    resposta correta: frequentemente, informa-se ao professor o que o aluno deve

    achar... deve aprender do texto... Por exemplo, aps um texto de Malba Tahan,

    em que um prncipe condena um criado morte, por ter quebrado um vaso

    precioso, pergunta-se: O que voc acha sobre condenar um ser humano

    morte por causa de um bem material? No Livro do Professor, a resposta

    indicada como correta : Acho um absurdo. Ou seja: o que o aluno deve achar

    j est preestabelecido...

    Tudo que se disse pretende comprovar a afirmao feita inicialmente de que,

    das trs instncias de escolarizao da literatura, infantil na escola, a mais

    frequente, a mais regular, tambm a mais inadequada, a leitura e estudo de

    fragmentos de textos da literatura infantil. Inadequada porque I M uma seleo

    limitada de tipos e gneros, porque h uma encolha pouco criteriosa de autores

    e obras, e, sobretudo, porque os textos so quase sempre pseudotextos, isto ,

    fragmentos sem textualidade, sem coerncia; e ainda porque as atividades que

    se desenvolvem sobre os textos no se voltam para nem para a textualidade

    nem para a literalidade do texto. N.io ser excessivo afirmar que a obra literria

    desvirtuada, quando transposta para o manual didtico, que o texto literrio e

  • transformado, na escola, em texto informativo, em texto informativo, em pretexto

    para exerccios de metalinguagem.

    Concluso

    Retomemos os pressupostos e conceitos que orientaram essa exposio. Consideramos como escolarizao da literatura infantil a apropriao dessa

    literatura pela escola, para atender a seus fins formadores e educativos.

    Defendemos que essa escolarizao inevitvel, porque da essncia da

    escola a instituio de saberes escolares, que se constituem pela didatizao ou

    pedagogizao de conhecimentos e prticas culturais.

    Distinguimos entre uma escolarizao adequada e uma escolarizao

    inadequada da literatura: adequada seria aquela escolarizao que conduzisse

    eficazmente s prticas de leitura literria que ocorrem no contexto social e s

    atitudes e valores prprios do ideal de leitor que se quer formar; inadequada

    aquela escolarizao que deturpa, falsifica, distorce a literatura, afastando, e

    no aproximando, o aluno das praticas - de leitura literria, desenvolvendo nele

    resistncia ou averso ao livro e ao ler.

    De tudo isso conclui-se que a questo fundamental das relaes entre

    literatura infantil e escola que necessrio saber (ou descobrir?) como

    realizar, de maneira adequada, a inevitvel escolarizao da literatura.

    NOTAS

    jornal O Tempo, Belo Horizonte, 24 de agosto de 1997, Suplemento Engenho e Arte.

    2 Idem. 3 Um aspecto interessante que poderia ser desenvolvido sob esta

    perspectiva a produo de uma literatura, destinada a crianas e jovens, assumidamente com contedos escolares como fez Lobato em Emlia no pas da gramtica, Emlia no pas da aritmtica, Viagem ao cu, etc. produo que se vem intensificando atualmente, sobretudo atravs dos

  • chamados paradidticos um tema que est merecendo estudo. 4 Mesmo quando a biblioteca de classe, h sempre um lugar na sala de

    aula, ainda que, s vezes, apenas uma caixa, de guarda do livro e de acesso ao livro.

    5 H, bvio, livros que escapam s inadequaes apontadas nesta exposio, mas constituem a minoria dos manuais destinados s quatro primeiras sries do primeiro grau.

    6 bastante complexa a questo, aqui apenas mencionada, da macroestrutura da narrativa, e muito rica a bibliografia a respeito; usamos apenas, de forma bastante simplificada, os conceitos necessrios argumentao desenvolvida para os fins desta exposio.

    7 Este exemplo remete importante questo, no discutida neste texto, por fugir a seus objetivos, das ilustraes nos livros didticos em suas relaes com os textos e a leitura.