a escola pública

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A revolução do 25 de Abril trouxe-nos liberdade em todos os campos excepto na educação. Colocando o foco na qualidade das instalações e esquecendo onde está verdadeiramente a qualidade do ensino, Portugal perde-se na falaciosa premissa de que o dinheiro que se gasta nas escolas as dota da qualidade que os cidadãos desejam e necessitam. Mas não é assim. Os regimes totalitários, como aconteceu em Portugal durante o Estado Novo, são conhecidos pelos investimentos avultados que fazem na obra pública, mas, na prática, todos sabemos bem que os resultados educativos que obtêm são parcos em qualidade. Como é evidente, um Estado que é senhor monopolista do sistema de ensino pode é facilmente tentado a apregoar os investimentos que realizou, as reestruturações internas, os novos edifícios, a obra realizada, etc. Mas isso são palavras que poderiam ter sido subscritas por qualquer presidente de uma empresa monopolista que não tem concorrência. Aquilo de que precisamos verdadeiramente é de uma escola livre e responsabilizada que seja obrigada a concorrer pela qualidade. Para isso, é essencial que tenhamos uma escola que preste um “serviço público autêntico”, que exija a liberdade de aprender, a qual inclui, em primeira linha, a liberdade de escolha da escola. Sem ela, a comunidade educativa (professores, pais e alunos) tende a considerar que a responsabilidade da educação deixa de lhe pertencer. Esta “escola pública” é uma escola que não contribui para a perversão da função educadora dos professores quando lhes retira a capacidade de estruturar o seu magistério e as orientações pedagógicas e formativas da personalidade, como acreditam ser melhor para cada criança e jovem e em permanente busca de sintonia com os pais. Sem liberdade de ensinar, a qual inclui, em primeira linha, a liberdade de criar escolas, os professores tendem a transformar-se em funcionários, ao serviço das estruturas e não dos alunos e das suas famílias. A “escola pública” de que Portugal necessita é de uma escola que tanto pode ser do Estado como de uma entidade privada, que promova a liberdade e a responsabilidade e, consequentemente e só então, seja alicerce da liberdade e da democracia. A Escola Pública

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A revolução do 25 de Abril trouxe-nos liberdade em todos os campos excepto na educação. Colocando o foco na qualidade das instalações e esquecendo onde está verdadeiramente a qualidade do ensino, Portugal perde-se na falaciosa premissa de que o dinheiro que se gasta nas escolas as dota da qualidade que os cidadãos desejam e necessitam. Mas não é assim. Os regimes totalitários, como aconteceu em Portugal durante o Estado Novo, são conhecidos pelos investimentos avultados que fazem na obra pública, mas, na prática, todos sabemos bem que os resultados educativos que obtêm são parcos em qualidade. Como é evidente, um Estado que é senhor monopolista do sistema de ensino pode é facilmente tentado a apregoar os investimentos que realizou, as reestruturações internas, os novos edifícios, a obra realizada, etc. Mas isso são palavras que poderiam ter sido subscritas por qualquer presidente de uma empresa monopolista que não tem concorrência.

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Page 1: A Escola Pública

A revolução do 25 de Abril trouxe-nos liberdade em todos os campos excepto na educação. Colocando o foco na qualidade das instalações e esquecendo onde está verdadeiramente a qualidade do ensino, Portugal perde-se na falaciosa premissa de que o dinheiro que se gasta nas escolas as dota da qualidade que os cidadãos desejam e necessitam. Mas não é assim. Os regimes totalitários, como aconteceu em Portugal durante o Estado Novo, são conhecidos pelos investimentos avultados que fazem na obra pública, mas, na prática, todos sabemos bem que os resultados educativos que obtêm são parcos em qualidade. Como é evidente, um Estado que é senhor monopolista do sistema de ensino pode é facilmente tentado a apregoar os investimentos que realizou, as reestruturações internas, os novos edifícios, a obra realizada, etc. Mas isso são palavras que poderiam ter sido subscritas por qualquer presidente de uma empresa monopolista que não tem concorrência.

Aquilo de que precisamos verdadeiramente é de uma escola livre e responsabilizada que seja obrigada a concorrer pela qualidade. Para isso, é essencial que tenhamos uma escola que preste um “serviço público autêntico”, que exija a liberdade de aprender, a qual inclui, em primeira linha, a liberdade de escolha da escola. Sem ela, a comunidade educativa (professores, pais e alunos) tende a considerar que a responsabilidade da educação deixa de lhe pertencer.

Esta “escola pública” é uma escola que não contribui para a perversão da função educadora dos professores quando lhes retira a capacidade de estruturar o seu magistério e as orientações pedagógicas e formativas da personalidade, como acreditam ser melhor para cada criança e jovem e em permanente busca de sintonia com os pais. Sem liberdade de ensinar, a qual inclui, em primeira linha, a liberdade de criar escolas, os professores tendem a transformar-se em funcionários, ao serviço das estruturas e não dos alunos e das suas famílias. A “escola pública” de que Portugal necessita é de uma escola que tanto pode ser do Estado como de uma entidade privada, que promova a liberdade e a responsabilidade e, consequentemente e só então, seja alicerce da liberdade e da democracia.

A Escola Pública