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A dicotomia da linguagem visual bi e tridimensional The dichotomy of the bi and three-dimensional visual language SILVA, Caio Márcio Almeida e Graduando em Desenho Industrial – Universidade Federal de Campina Grande GUEDES, João Batista Doutor – Universidade Federal de Campina Grande Palavras-chave: Design, percepção, composição, técnicas visuais, bidimensional, tridimensional Resumo: O presente artigo apresenta parte de uma pesquisa em que são investigados os métodos de análise visual do design. O objetivo central é a verificação do rebatimento das técnicas visuais do design bidimensional para o design tridimensional buscando identificar as relações compositivas entre ambas. Key-words: Design, perception, composition, visual techniques, two-dimensional, three-dimensional Abstract: Introdução Este trabalho trata-se de uma investigação de como as técnicas visuais do design bidimensional podem ser aplicadas ao design tridimensional. Dondis (2001:24) explica, que as técnicas visuais são os agentes no processo de comunicação visual do design, entretanto, as técnicas visuais são exemplificadas por Dondis apenas no design bidimensional, sem referência ao modo como estas se comportariam no design tridimensional. A investigação apoia-se no conceito de Modo Visual, que é a maneira pela qual o indivíduo compreende os elementos visuais compostos presentes no design. Inicialmente, identificou-se aspectos e/ou sujeitos que podem interferir na percepção de uma composição tridimensional. Realizou-se uma pesquisa, para identificar exemplos de produtos que tenham se utilizado de técnicas visuais na sua coposição, bem como a presença de mais de uma técnica em um único produto. No campo do design, a linguagem visual pode ser considerada como o compartilhamento do sentido conferido a um grupo de informações. É a partir da linguagem visual, que se transmite uma mensagem, cujo papel é de enfatizar idéias, expressar opiniões e explicar conceitos. A mensagem visual se faz presente cotidianamente em nossas vidas, por meio da publicidade, de peças gráficas, do vestuário, da disposição espacial dos movéis em um ambiente, da cor, do formato, entre outros. Para transmitir melhor as concepções de design, optou-se pela elaboração de uma estratégia eficiente de comunicação, denominada de técnicas visuais, que são “meios para a expressão visual do conteúdo”. Dessa forma, o designer se vê com uma gama de possibilidades disponíveis, em termos compositivos, para expressar com mais eficiência aquilo que se deseja. Diversas são as técnicas que podem ser adotadas visando a elaboração de arranjos visuais. Dondis (2001:141- 159) apresenta algumas das mais utilizadas, classificando-as em uma disposição antagônica: Contraste e harmonia; Instabilidade e equilíbrio; Assimetria e Simetria; Irregularidade e regularidade; Complexidade e simplicidade; Fragmentação e Unidade; Profusão e economia; Exagero e minimização; Espontaneidade e Previsibilidade; Atividade e estase; Ousadia e Sutileza; Ênfase e Neutralidade; Transparência e Opacidade; Variação e estabilidade; Distorção e exatidão; Profundidade e planura; Justaposição e singularidade; Acaso e seqüencialidade; Agudeza e Difusão; e Episodicidade e repetição. Devido a essa multiplicidade de maneiras de efetivar um modo de comunicação, surge uma questão: de que maneira os procedimentos técnicos se aplicam influenciando a percepção de composições bidimensionais ou tridimensionais? Arnheim (1980:37) explica que a

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A dicotomia da linguagem visual bi e tridimensional The dichotomy of the bi and three-dimensional visual language

SILVA, Caio Márcio Almeida e

Graduando em Desenho Industrial – Universidade Federal de Campina Grande

GUEDES, João Batista Doutor – Universidade Federal de Campina Grande

Palavras-chave: Design, percepção, composição, técnicas visuais, bidimensional, tridimensional Resumo: O presente artigo apresenta parte de uma pesquisa em que são investigados os métodos de análise visual do design. O objetivo central é a verificação do rebatimento das técnicas visuais do design bidimensional para o design tridimensional buscando identificar as relações compositivas entre ambas. Key-words: Design, perception, composition, visual techniques, two-dimensional, three-dimensional Abstract: Introdução Este trabalho trata-se de uma investigação de como as técnicas visuais do design bidimensional podem ser aplicadas ao design tridimensional. Dondis (2001:24) explica, que as técnicas visuais são os agentes no processo de comunicação visual do design, entretanto, as técnicas visuais são exemplificadas por Dondis apenas no design bidimensional, sem referência ao modo como estas se comportariam no design tridimensional. A investigação apoia-se no conceito de Modo Visual, que é a maneira pela qual o indivíduo compreende os elementos visuais compostos presentes no design. Inicialmente, identificou-se aspectos e/ou sujeitos que podem interferir na percepção de uma composição tridimensional. Realizou-se uma pesquisa, para identificar exemplos de produtos que tenham se utilizado de técnicas visuais na sua coposição, bem como a presença de mais de uma técnica em um único produto. No campo do design, a linguagem visual pode ser considerada como o compartilhamento do sentido conferido a um grupo de informações. É a partir da linguagem visual, que se transmite uma mensagem, cujo papel é de enfatizar idéias, expressar opiniões e explicar conceitos. A mensagem visual se faz presente cotidianamente em nossas vidas, por meio da publicidade, de peças gráficas, do vestuário, da disposição espacial dos movéis em um ambiente, da cor, do formato, entre outros. Para transmitir melhor as concepções de design, optou-se pela elaboração de uma estratégia eficiente de comunicação, denominada de técnicas visuais, que são “meios para a expressão visual do conteúdo”. Dessa forma, o designer se vê com uma gama de possibilidades disponíveis, em termos compositivos, para expressar com mais eficiência aquilo que se deseja. Diversas são as técnicas que podem ser adotadas visando a elaboração de arranjos visuais. Dondis (2001:141-159) apresenta algumas das mais utilizadas, classificando-as em uma disposição antagônica: Contraste e harmonia; Instabilidade e equilíbrio; Assimetria e Simetria; Irregularidade e regularidade; Complexidade e simplicidade; Fragmentação e Unidade; Profusão e economia; Exagero e minimização; Espontaneidade e Previsibilidade; Atividade e estase; Ousadia e Sutileza; Ênfase e Neutralidade; Transparência e Opacidade; Variação e estabilidade; Distorção e exatidão; Profundidade e planura; Justaposição e singularidade; Acaso e seqüencialidade; Agudeza e Difusão; e Episodicidade e repetição. Devido a essa multiplicidade de maneiras de efetivar um modo de comunicação, surge uma questão: de que maneira os procedimentos técnicos se aplicam influenciando a percepção de composições bidimensionais ou tridimensionais? Arnheim (1980:37) explica que a

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percepção começa com a captação dos aspectos estruturais mais evidentes. Estes, por sua vez, são demonstrados a partir da elaboração de conceitos organizacionais que tenham como base compositiva uma técnica visual específica. Cada técnica sugere um tipo de arranjo distinto, então, é importante observar que não há o grupo das técnicas simples em detrimento das técnicas complexas; não há técnicas fáceis, que vão de encontro com técnicas difíceis; e que não há técnicas com efeitos positivos ou negativos. Na verdade, uma mesma mensagem pode ser transmitida com sucesso utilizando-se como base, técnicas diferentes em momentos distintos. Para uma análise mais apurada dos tipos de linguagem utilizadas no design, faz-se necessário uma noção prévia do conceito de Modo Visual, aqui definido como a forma de compreender os elementos compositivos através da linguagem visual criada pelo designer, observando a localização, o posicionamento, a iluminação e o observador. Para Dondis, o modo visual constitui todo um corpo de dados que, como a linguagem, pode ser usada para compor e compreender mensagens em diversos níveis de utilidade. - Localização e posicionamento do observador A localização dos elementos gráficos em uma composição bidimensional se apresenta em um plano único, mesmo que o mesmo esteja representado em perspectiva. Assim, podemos distingui-los além da cor e do formato, por estar na parte inferior ou superior, e direita ou esquerda. Já um arranjo tridimensional permite que o observador não apenas movimente seu olhar sob a peça, e sim, possa ter visualizações, diferentes dependendo da sua posição em relação ao objeto, que dê margem para mais de um tipo de interpretação. Dessa forma, uma composição vista frontalmente pode se mostrar dotada de determinadas características que podem ser antagonicamente modificadas ao ser vista por outro ângulo. - Luz e luminosidade A luz, tanto para composições bidimensionais como para composições tridimensionais, desempenha o importante papel de revelar formas, cores, espaço e movimento. Ao mudarmos a iluminação de uma peça bidimensional, podemos provocar algumas mudanças na sensação visual das cores. Contudo, ao mudarmos a iluminação de uma composição tridimensional, podemos causar grandes mudanças na percepção da mesma. Esta pode se tornar mais chapada, com uma luz frontal; ou pode ganhar ênfase em seu contorno com uma luz posterior. Já uma iluminação na lateral ou na diagonal de um objeto pode favorecer formas, evidenciar contornos, criar espaços, revelar acabamentos superficiais, e texturas. A aplicação da cor em composições bidimensionais pode fazer com que as mesmas se apresentam como dinâmicas, fluidas e apresentando uma idéia de volume só se utilizando de artifícios como luminosidade, saturação e a área preenchida. É como se exclusivamente pela cor, a composição bidimensional adquirisse um aspecto tridimensional em termos perceptivos. Essa ênfase em volume é principalmente atingida em composições tridimensionais, uma vez que não apenas sugerir volume com áreas e cores, e sim com altura, largura, profundidade e formas. - O observador O sujeito observador é que vê a composição e emite algum juízo, ainda que inconscientemente, sobre a mesma. Segundo Arnhheim (1980:36), ver significa captar algumas características mais proeminentes dos objetos. Essa captação é efetivada de maneiras diferentes dependendo do observador, uma vez que é ele quem vai analisar, criticar e tentar compreender as composições, estabelecendo assim, uma relação entre a mensagem e o receptor. Também deve-se considerar que por mais que a linguagem visual esteja clara e explícita, ela pode não ser plenamente compreendida caso o observador não tenha experiência em percepção visual, a visualização pode ser completamente distorcida. Isso também se relaciona com o repertório visual adquirido pelo sujeito observador. Será mais fácil para um estudioso de luminárias identificar determinadas características em um determinado lustre, eu um consumidor comum. Dondis comunga dessa idéia ao dizer que o nível representacional da inteligência visual é fortemente governado pela experiência direta que ultrapassa a percepção. A investigação

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O processo investigativo tem início a partir da escolha de um método, aqui entendido como um procedimento regular, explícito e possível de ser repetido para conseguir-se alguma coisa, seja material ou conceptual, Bunge (1980/19). Optou-se por fazer um levantamento de composições bidimensionais que ilustrassem as técnicas visuais abordadas, elegendo materiais gráficos de mesma natureza. Neste caso, foi utilizado páginas impressas como capas e anúncios publicitários. A exemplificação de composições tridimensionais, foi feita a partir de luminárias que representassem a utilização das técnicas visuais no design tridimensional. Escolhidos os exemplos, foi feita uma comparação entre os arranjos bidimensionais e tridimensionais que se utilizaram da mesma técnica para perceber em que aspectos o design bidimensional se distingue do tridimensional. Como exemplo desta pesquisa, será apresentada a análise de três técnicas visuais distintas. A primeira técnica a ser abordada neste artigo é a da profusão, que se distingue por ser uma técnica comumente, associada à riqueza visual, à multiplicidade de elementos, pesos, cores, volumes, texturas, etc. A segunda técnica é a da sutileza. Caracteriza-se pela distinção e delicadeza. Geralmente, são arranjos criteriosos, que fogem da obviedade e se mostram hábeis e bem elaborados. A terceira técnica a ser representada como exemplo é a atividade. As composições que se utilizam desta técnica visual assumem um postura ativa, enérgica, estimulante e dinâmica. - A técnica profusão no design bidimensional Composições bidimensionais que se utilizam da profusão como ferramenta para transmitir a mensagem são, geralmente, ricos em grafismos, são expansivas e podem se mostrar ativas ou estáticas. Na figura 1, tem-se o encarte de um cd. Nele, encontramos uma gama de elementos gráficos que, a princípio se mostram desordenados. Há elementos figurativos e pessoas que dão idéia de movimento. Quando todos esses elementos são unidos em um único campo visual, da forma em que eles se encontram, tende-se a mostrar uma diversidade, uma riqueza de elementos gráficos, caracterizando um exemplo da utilização da técnica de profusão. A figura 2, capa de um livro, o designer utilizou na parte superior, um retângulo. Nele, há três informações distintas preenchidas com duas cores: preta e vermelha. Na parte central, há sete círculos sem contorno, e preenchidos com as cores azul, amarelo, vermelho, verde e laranja. Ainda nos círculos, existem ilustrações associadas a textos. No restante da composição, há ainda quatro pontos distintos de texto com três variações de fontes na horizontal, e uma com o fundo preenchido em amarelo, disposto em diagonal. As composições se mostraram com um número elevado de elementos visuais, que dificultam a visualização. No exemplo da figura um, a profusão foi utilizada de forma adequada por sugerir a idéia de festa, movimento. Pode-se dizer ainda, que esta composição se utilizou de outras técnicas visuais, como: atividade, assimetria e ousadia. No entanto, foi dado uma ênfase maior à técnica da profusão. Já na figura 2, a profusão de elementos surge como um elemento de diferenciação de informações. - A técnica de Profusão no design tridimensional Na composição tridimensional, a técnica de profusão caracteriza-se pela riqueza que se deseja transmitir. Um dos aspectos importantes a ser considerado, é que a observação desses arranjos não é estática, fazendo com que os mesmos, dependendo também da posição do observador, se tornem ou não elementos de uma composição harmônica.

Figura 1 Figura 2

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Na figura 3 e 6 temos exemplos de uma luminária de teto que se utiliza da técnica da profusão em seu design. Na Figura 3, a profusão se dá pelo seu considerável número de materiais presentes e formatos distintos. Na parte superior há uma metade de esfera com acabamento superficial em metal cromado polido, que é sustentada por duas hastes de secção circular, em metal fosco. Logo abaixo, há uma esfera inteira, também com o mesmo acabamento superficial do material, que serve como ponto de irradiação de formas alongadas distintas, tendo a extremidade de menor espessura envolvida por um metal polido. Estes elementos, se mostram ainda transparentes e polidos. Nas figuras 4 e 5, observa-se que ao modificar o ângulo de visão do observador e o plano de fundo do objeto, sua configuração é alterada. Na figura, a forma da luminária não é tão evidenciada por apresentar elementos ao fundo que interferem na visualização do produto como um todo. Outro exemplo de profusão está nas figuras 6,7 e 8. A figura 6 mostra uma luminária com módulos em formatos orgânicos. Quanto aos materiais, há vidro polido translúcido e metal polido. No tocante às formas dos elementos, há uma diversidade de módulos orgânicos e vazados, com material transparente. Comparando as Figuras 6 e 7, detecta-se uma diferença na forma da luminária, unicamente pelo posicionamento do observador. A Figura 6, mostra uma luminária extremamente profusa, composta por uma série de módulos, que da maneira com que eles estão os módulos parecem estar dispostos aleatoriamente. Na figura 7, o produto já se revela com uma organização na disposição dos elementos. A figura 8 mostra um detalhe do módulo, que explicita a utilização, também, da técnica visual da atividade. Esse número elevado de elementos que compõem as luminárias as tornam profusas. - A técnica sutileza no design bidimensional A presença da sutileza na composição bidimensional se dá pela forma polida de arranjar ou elaborar os códigos visuais em um espaço. Um folder de uma exposição de arte (figura 9), por exemplo, pode se mostrar extremamente elaborado e sofisticado de uma forma simples e direta. Nesse caso, o designer optou em utilizar uma parte de uma das obras do artista, identificando-o com opacidade reduzida em uma letra de espessura

�����������Figura 3 Figura 4 Figura 5

��������Figura 6 Figura 7 Figura 8

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uniforme, sem serifa e uniformemente espaçada. Em se tratando de coloração, há duas manchas, uma grande e outra bem pequena, em vermelho, que cria um contraste com o restante da composição que é baseada em um campo texturizado visualmente com tons terrosos. Na figura 10, outro exemplo de sutileza. Nesta capa, o design se mostrou sutil não somente pela economia, mas também pela distinção do acabamento fosco das letras, contrastando com o polido do fundo. Estes exemplos são estilos distintos de se atingir a sutileza. - A técnica da sutileza no design tridimensional Uma solução sutil deve acima de tudo demonstrar elaboração formal, e se mostrar importante na composição. Isso pode ser alcançado a partir da manipulação da forma, do tratamento que é dado aos materiais usados, bem como a escolha dos mesmos. Como exemplos da técnica de sutileza, têm-se as figura 11,12 e 13, que mostram a mesma luminária. Na Figura 11, observa-se uma luminária que se utiliza de um elemento cilíndrico transparente, e outras chapas seguindo o mesmo formato, em metal cromado e polido. As figuras 11 e 13, mostram uma luminária que remete a idéia de leveza, transparência, simplicidade e distinção. Já na figura 12, pela simples mudança do posicionamento do observador, já se nota uma luminária mais agrupada, compacta. É possível nessa luminária, identificar outras técnicas visuais as quais tenham sido utilizadas, como: transparência, minimização, economia, simplicidade e simetria. Nas figuras 14, 15 e 16, a sutileza se apresenta na solução dada à luminária que segue o princípio da radiação de placas metálicas foscas dispostas em plano seriado. O produto tem um único material de revestimento, o metal. No entanto, há diferenças no acabamento superficial, a estrutura cilíndrica sólida é polida, contrapondo-se com as placas ordenadas radialmente, que são foscas. Fazendo um comparação entre as figuras 15 e 16, identificamos que a mudança do ângulo de visão do observador fez com que a peça não se mostrasse mais como um bloco cilíndrico único, sólido e estático como na figura 15, para se mostrar sutil, como na figura 16. Essa sutileza

��Figura 9 Figura 10

Figura 11 Figura 12 Figura 13

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advem da leveza conferida a partir do espaçamento entre as placas, e entre uma pequena concavidade existente nas placas, que sugerem ainda movimento e não estase. - A técnica de Atividade no design bidimensional Uma composição bidimensional pode se mostrar ativa quando apresenta duas características: cor e forma. Para explicitar a técnica da atividade pode-se trabalhar, dentre outras coisas, composições em linhas, módulos, formas orgânicas, texturas, com o preenchimento de cores luminosas. A figura 17 exemplifica uma composição bidimensional ativa. Nela, encontra-se formas alongadas e pontiagudas associadas a um tratamento cromático com alto grau de luminosidade, em sua maioria. Há ainda elementos dispostos na diagonal, acentuando a idéia de atividade. Outro exemplo de composição bidimensional que se utiliza da atividade, é a capa do livro mostrada na figura 18. Nesta capa, a idéia de movimento é transmitida através dos elementos gráficos que irradiam linhas com formatos diferentes, sugerindo a idéia de espontaneidade. Para realçar a idéia de atividade, o designer optou por cores saturadas, com tonalidades mais claras sob um fundo escuro neutro e que propõe a idéia de profundidade. As figuras 17 e 18 são exemplos de configurações com características formais diferentes que se mostram ativas. - A técnica atividade no design tridimensional Uma composição em tridimensional se mostra ativa quando ela envolve o observador, despertando uma sensação de inquietude visual. Essa inquietude pode ser estimulada a partir de formas, texturas, tratamento cromático, grafismo, etc. A figura 19, 20 e 21 representam um produto ativo. Essa atividade está principalmente na estrutura com formas orgânicas e pela presença de curvas sinuosas. Há apenas dois tipos de materiais, um em metal com acabamento superficial cromado e polido, e outro em um tipo de plástico, fosco, na cor branca, que diferentemente dos

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Figura 14 Figura 15 Figura 16

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exemplos bidimensionais, sugere atividade pelo branco evidenciar formas sinuosas, os contornos e o volume. Na figura 19, a curva aberta deu um aspecto de leveza. Na figura 21, tem um detalhe da utilização do branco, e da valorização da forma, dos contornos e volumes. Nas figuras 22, 23 e 24, temos outro tipo de aplicação da técnica da atividade. Neste caso, utilizou-se a forma de um cone que por sua vez, possui uma força perceptiva que segue uma trajetória do superior - fino ao inferior - largo. Essa trajetória é reforçada por uma espécie de ranhura helicoidal extrudada, que se mostra em diagonal, e reforça a idéia de movimento que é sugerida pelo matiz amarelo, sinônimo de claridade, luminosidade e agitação. A figura 24, mostra que o branco, utilizado na parte interna, acentuou a idéia de aumento de área, reforçando o sentido perceptivo do cone, ilustrado na figura 25. Esses são dois exemplos distintos da utilização da técnica da atividade. Conclusão Após as análises desenvolvidas detectou-se diversos aspectos que fazem com que uma composição bi ou tridimensional se utilizem efetivamente de diversas técnicas visuais. Estes aspectos podem ser similares, como também podem se mostrar bastante diferentes a compararmos o design do plano bidimensional ao tridimensional, uma vez que na dimensão espacial, a posição do sujeito observador modifica consideravelmente a forma como o objeto é visualizado e analisado. Conclui-se também que composições tridimensionais que apresentam uma única técnica compositiva, podem ter a aparência modificada em função do ângulo visual em que o produto é observado, o que pode motivar a ocorrência de uma ambigüidade na transmissão da mensagem visual desejada.

Figura 19 Figura 20 Figura 21

Figura 22 Figura 23 Figura 24 Figura 25

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Biliografia ARNHEIM, Rudolf. Arte & Percepção Visual. Nova Versão. São Paulo: Pioneira, 2005. BUNGE, Mario. Epistemologia: Curso de Atualização, T. A. Queiroz. Editor, Ltda, São Paulo, 1980. DONDIS, Dondis A. Sintaxe da Linguagem Visual. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1997. FERRARA, Lucrecia D’Alessio. Design em espaços. São Paulo: Edições Rosari, 2002. STROETER, João Rodolfo. Arquitetura & teorias. São Paulo: Editora Nobel, 1986. WONG, Wucius. Princípios de Forma e Desenho. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998. �