ensaios estereolÓgicos e morfologia tridimensional
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ENSAIOS ESTEREOLGICOS E MORFOLOGIA TRIDIMENSIONAL NA FORMAO HIPOCAMPAL DE AVES MIGRATRIAS MARINHAS: Anlise quantitativa da imunomarcao seletiva de neurnios e micrglia em Calidris pusilla e Actitis macularia.
CRISTOVAM GUERREIRO DINIZ
Belm 2013
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CRISTOVAM GUERREIRO DINIZ
ENSAIOS ESTEREOLGICOS E MORFOLOGIA TRIDIMENSIONAL NA FORMAO HIPOCAMPAL DE AVES MIGRATRIAS MARINHAS: Anlise quantitativa da imunomarcao seletiva de neurnios e micrglia em Calidris pusilla e Actitis macularia.
Tese de doutoramento apresentada ao Programa de Ps-graduao em Neurocincias e Biologia Celular do Instituto de Cincias Biolgicas da Universidade Federal do Par, como requisito parcial para obteno do grau de Doutor em Neurocincias e Biologia Celular. rea de concentrao em Neurocincias Orientador: Prof. Dr. Cristovam Wanderley Picano Diniz. Co-Orientador: Prof. Dr. David Francis Sherry
Belm 2013
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ENSAIOS ESTEREOLGICOS E MORFOLOGIA TRIDIMENSIONAL NA FORMAO HIPOCAMPAL DE AVES MIGRATRIAS MARINHAS: Anlise quantitativa da imunomarcao seletiva de neurnios e micrglia em Calidris pusilla e Actitis macularia. Cristovam Guerreiro Diniz. Belm, Par, UFPA/ICB, 2013.
Tese de doutoramento aprovada como
requisito parcial para obteno do grau de Doutor em
Neurocincias, Programa de Ps-graduao em
Neurocincias e Biologia Celular (rea de
concentrao Neurofisiologia), Universidade Federal
do Par, pela Comisso Examinadora formada pelos
professores:
Presidente:
Professor Dr. Cristovam Wanderley Picano Diniz - Orientador
Instituto de Cincias Biolgicas, UFPA
Membros:
Professor Dr. Ruben Carlos Arajo Guedes
Departamento de Nutrio UFPE
Professora Dra. Lucidia Fonseca Santiago Instituto de Cincias Biolgicas, UFPA
Professora Dra. Luciana Negro Frota de Almeida Instituto de Cincias Biolgicas, UFPA
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RESUMO
objetivo do presente trabalho implantar como modelos para estudo da formao hipocampal das aves migratrias as espcies de maarico Calidris pusilla e Actitis macularia que abandonam as regies geladas do Canad, fugindo do inverno, em direo costa da Amrica do Sul e do Caribe onde permanecem at a primavera quando ento retornam ao hemisfrio norte. Mais especificamente pretende-se descrever a organizao morfolgica qualitativa e quantitativa da formao hipocampal, empregando citoarquitetonia com cresil violeta e imunomarcao para neurnios e clulas da glia, sucedidas por estimativas estereolgicas do nmero total de clulas identificadas com marcadores seletivos para aquelas clulas, assim como comparar a morfologia tridimensional da micrglia das aves com a dos mamferos. As coletas de campo para a caracterizao da formao hipocampal do Calidris pusilla e Actitis macularia em seus aspectos morfolgicos foram feitas no Brasil na Ilha Canelas (047'21.95"S e 4643'7.34"W) na Costa da Regio Nordeste do Par no municpio de Bragana, e no Canad, na Baia de Fundy perto de Johnson's Mills na cidade de New Brunswick (4550'19.3" N 6431'5.39" W).
A definio dos limites da formao hipocampal foi feita empregando-se as tcnicas de Nissl e de imunomarcao para NeuN. Para a definio dos objetos de interesse das estimativas estereolgicas e das reconstrues tridimensionais empregou-se imunomarcao com anticorpo anti-NeuN para neurnios e anti-IBA-1 para micrglia. As estimativas estereolgicas revelaram em mdia nmero similar de neurnios nas duas espcies enquanto que no hipocampo de Actitis macularia observou-se nmero de micrglias 37% maior do que no de Calidris pusilla. Alm disso, encontrou-se que em mdia o volume da formao hipocampal do Actitis macularia 38% maior do que o encontrado em Calidris pusilla.
Os estudos comparativos da morfologia microglial das duas espcies de aves com a dos mamferos Rattus novergicus e Cebus apella revelaram diferenas morfolgicas significantes que indicam que as micrglias das aves mostram em mdia, menor complexidade (dimenso fractal), tem dimetros e permetros de soma menores e possuem ramos mais finos do que aquelas do rato e do macaco.
Palavras Chave: morfometria, estereologia, hipocampo e aves.
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ABSTRACT
The aim of this report is to describe the hippocampal formation of two
migratory birds, Calidris pusilla and Actitis macularia, that leave the cold regions of
the Canadian Tundra, escaping the winter, towards the coast of South America and
the Caribbean Islands where they remain until winter ends returning to the Northern
hemisphere. We intend to describe the qualitative and quantitative morphological
organization of the hippocampal formation, using cytoarchitetonics with cresyl violet
and immunostaining for neurons and microglia, followed by stereological estimates
of the total number of cells identified with selective markers. We intend as well to
compare the three-dimensional morphology of hippocampal microglia of these
species with those of the dentate gyrus of Wistar rats and Capuchin monkey. The
shorebirds used in the characterization were captured in Canela Island, Bragana
City, State of Par, Brazil (047'21.95"S and 4643'7.34"W), as well as in Canada,
in the Bay of Fundy, near Johnson's Mills, New Brunswick (45 50' 19.3" N 64
31' 5.39" W).
The hippocampal formation limits definition was performed employing Nissl
staining and immunostaining for NeuN. For the objects of interest definition of
stereological estimates and three-dimensional reconstructions we used
immunostaining with anti NeuN for neurons and anti-IBA-1 for microglia respectively.
The stereological results revealed similar number of neurons in both species
whereas the number of microglia in Actitis macularia was 37% higher than in Calidris
pusilla. Furthermore, it was found that the hipocampal formation average volume in
Actitis macularia was 38% higher than that found in Calidris pusilla. Comparative
studies of the microglial morphology with mammals (Rattus novergicus and Cebus
apella) revealed significant morphological differences that indicate microglia in birds
shows on average lower complexity (smaller fractal dimension), smaller tree
volumes and areas and thinner branches than rat and monkey microglia.
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SUMRIO Sumrio ................................................................................................................... 1 1- INTRODUO .................................................................................................... 8
1.1- Os Modelos Experimentais ........................................................................... 8 1.2- Memria e Formao Hipocampal .............................................................. 14 1.3- Anatomia e Fisiologia Comparadas da Formao Hipocampal em Mamferos e Aves .............................................................................................. 19 1.4- O Hipocampo das Aves, Plasticidade e Memria ....................................... 23 1.5 - Aves Migratrias e o Sistema Neural de Navegao................................. 26 1.6- Estereologia Baseada em Design para Contagem de Clulas: O Fracionador ptico ............................................................................................ 29 1.7- Morfologias das Clulas Gliais em Aves e Mamferos ................................ 31
2- OBJETIVOS ...................................................................................................... 39 2.1- Geral ........................................................................................................... 39 2.2- Especficos ................................................................................................. 39
3- Material e Mtodos ............................................................................................ 40 3.1- Captura com Redes de Neblina .................................................................. 40 3.2- Perfuso, Corte, Colorao e Imunohistoqumica ...................................... 40
3.2.1- Colorao de Nissl ............................................................................... 41 3.2.2- Imunomarcao para GFAP, Neu-N, IBA1, ZENK e C-Fos ................. 41
3.3- Estereologia ................................................................................................ 43 3.4- Anlise Estatstica ...................................................................................... 49 3.5 Morfometria Baseada em Reconstruo Tridimensional ............................. 50
4- RESULTADOS .................................................................................................. 57 4.1- Descrio da Formao Hipocampal em Calidris pusilla e Actitis macularia ........................................................................................................................... 58 4.2 Ensaios Estereolgicos ............................................................................. 61 4.4- Anlise Comparativa da Morfologia da Micrglia da Camada Molecular do Giro Denteado de Mamferos e do Hipocampo Dorsal e Ventral de Aves Marinhas ............................................................................................................ 68
5- DISCUSSO ..................................................................................................... 83 5.1- Limites Arquitetnicos ................................................................................. 84 5.2- Ensaios Estereolgicos na Formao Hipocampal de Aves: Efeitos do ambiente sobre a plasticidade neuronal e glial. ................................................. 86
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5.3- Morfologia Tridimensional da Micrglia no Hipocampo Dorsal e Ventral de Maaricos e na Camada Molecular do Giro Denteado de Mamferos. .............. 91 5.4- Limitaes Tcnicas ................................................................................... 93
5.4.1 Ambiguidades no Estereolgicas nas Estimativas ........................... 93 5.4.2 Limitaes nas Reconstrues Tridimensionais ................................... 94
6- CONCLUSES ................................................................................................. 96 7- REFERNCIAS ................................................................................................. 97
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1- INTRODUO
1.1- Os Modelos Experimentais Englobando os maaricos, baturas, quero-quero, narcejas, pirupirus e
outras, a expresso "aves limcolas" define um grupo de aves que mantm estreitas
relaes com ambientes midos, seja para buscar alimento, reproduo ou
descanso (Rodrigues, 1993).
Com a proximidade do outono boreal, milhes de aves deixam suas reas de
reproduo todos os anos, em busca de locais com temperaturas mais amenas e
com disponibilidade de alimento, rea essa escolhida para passar o perodo do
inverno (da serem referidas como reas de invernada). Dentre as reas de
invernada esto aquelas da Amrica do Sul onde alguns dos exemplares utilizados
neste trabalho foram coletados. Assim a migrao segue a direo Sul sendo a
Amrica do Sul alvo sistemtico dessas aves (Azevedo Jnior et al., 2001),
principalmente ao longo da costa martima do continente onde passam a maior parte
do seu ciclo de vida (Antas, 1983). Durante a primavera e o vero retornam s reas
de origem, (Harrington et al., 1986) havendo muitas delas com migraes sazonais
regulares que retornam aos mesmos locais de invernada, reproduo e stios de
parada durante a migrao, em anos sucessivos, mantendo fidelidade a esses
habitats (Hansson et al., 2002).
O Brasil est na rota de muitas espcies de aves migratrias, tanto de
visitantes meridionais, aves Neotropicais, que se reproduzem em reas do
hemisfrio sul, como setentrionais, aves Nerticas, que se reproduzem no
hemisfrio norte (Azevedo-Jnior, 1998). Dentre os deslocamentos de aves no
Brasil, destacam-se as migraes no inverno do hemisfrio Norte (inverno boreal) e
no inverno do hemisfrio Sul (inverno austral) (Sick, 1997). As migraes em direo
ao Hemisfrio Sul comeam em meados de agosto, logo aps a reproduo,
continuando at meados de novembro com o regresso ao Hemisfrio Norte
abrangendo o perodo de fevereiro at meados de maio (Rodrigues, 2006).
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A Regio Norte do Brasil a porta de entrada dos migrantes setentrionais no
pas (Azevedo-Jnior, 1998); so centenas e at milhares de indivduos que chegam
e utilizam essas reas para pouso e alimentao, logo aps o perodo reprodutivo
(Sick, 1997). Dessa forma, a Amaznia e as zonas costeiras da Regio Norte e
Nordeste so locais com muitos registros de espcies migratrias do hemisfrio
norte. Foram registradas cerca de 40 espcies pertencentes s famlias Jacanidae,
Rostratulidae, Haematopodidae, Charadriidae, Scolopacidae, Recurvirostridae,
Burhinidae e Laridae, que vm procura de locais de invernada onde encontram
alimentao farta, propiciando a garantia de engorda, adquirindo, dessa forma,
energia suficiente para efetuar as mudas e retornar ao seu stio de reproduo no
hemisfrio norte (Azevedo Jnior et al., 2001)
Os habitats selecionados pelas aves migratrias ao longo de suas rotas so
diversos e esto relacionados aos hbitos alimentares, disponibilidade de recursos
e tticas de forrageamento. Devido distribuio descontnua desses recursos, as
espcies migrantes geralmente se concentram em reas especficas. Esses locais
tm importncia fundamental para conservao dessas espcies, uma vez que, ao
realizarem grandes migraes, elas necessitam de reas chave para trocarem as
penas, se alimentarem e adquirir as reservas energticas necessrias
continuao das longas viagens (Myers et al., 1985; Morrison e Ross, 1989).
No Brasil destacam-se: ao Norte - o salgado paraense, a costa do Amap e
reentrncias maranhenses; no Nordeste a costa do Rio Grande do Norte,
Pernambuco, Sergipe e Bahia; e ao Sul a regio do Parque Nacional da Lagoa do
PeixeRS.
As famlias Charadriidae e Scolopacidae correspondem ao grupo de aves
com a maior representatividade de espcies migrantes setentrionais, que se
caracterizam pela reunio em grandes agrupamentos e realizao de longas
jornadas continentais, algumas vezes deslocando-se para pontos extremos do
continente americano. Em sua maioria, deslocam-se acompanhando regies
costeiras, onde so encontrados stios com grandes concentraes de indivduos.
(Sick, 1983; Antas, 1989; Sick, 1997; Azevedo-Jnior, 1998; Rodrigues, 2000;
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Larrazbal et al., 2002; Telino-Jnior et al., 2003; Lyra-Neves et al., 2004;
Rodrigues, A. a. F., 2006). Estudos anteriores indicaram que as populaes de
maaricos que chegam a costa Norte tendem a se distribuir em uma faixa litornea
que se estende desde a Venezuela at o Brasil (Mcneil, 1970; Spaans, 1978;
Rodrigues, 1996).
Anualmente vrias espcies de pssaros migrantes setentrionais ocupam a
pennsula Bragantina ao Nordeste do Par, onde so encontradas principalmente
em reas de manguezal, dentre as quais o maarico do peito pintado Actitis
macularia. Essa espcie pertencente famlia Scolopacidae uma ave limcola de
pequeno porte, 18-20 cm de comprimento e pesando de 19-64 g, que juntamente
com a sua espcie-irm, a Actitis hypoleucos compem o gnero Actitis (Figura 01).
Seu habitat de reproduo perto de gua doce na maior parte do Canad e dos
Estados Unidos. Eles migram para o sul dos Estados Unidos e Amrica do Sul, e
raramente para a Europa Ocidental. Esta ltima espcie no gregria e raramente
vista em bandos.
Os adultos da espcie Actitis macularia possuem pernas curtas e amareladas
e um bico laranja com a ponta escura. Apresenta duas plumagens, de descanso
reprodutivo ou eclipse: manto castanho-acinzentado e ventre branco; e reprodutiva:
castanho no dorso salpicado de preto no ventre. Seu ninho encontrado no cho.
Figura 01: Maarico pintado (Actitis macularia) Parque Bluffer em Toronto, Canada, 2005. A esquerda plumagem no reprodutiva e a direita plumagem reprodutiva (Wikipedia, 2005).
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As fmeas podem copular com mais de um macho, deixando a incubao para eles
e aumentando, assim, o nmero de ovos a eclodir em uma nica temporada
reprodutiva.
Essas aves forrageiam no solo ou gua atrs de crustceos e outros
invertebrados, mas tambm podem apanhar insetos em pleno voo. Ao alimentarem-
se, elas podem ser reconhecidas pelo balano corporal e por movimento de
elevao da cauda enquanto anda a procura de suas presas na praia (Del Hoyo et
al., 1992). Para encontrar alimento, refgio, parceiros sexuais ou locais de
nidificao os pssaros convivem com diversas mudanas ambientais e de
sazonalidade.
Aparentemente o padro de migrao dessa espcie em direo Norte para
o perodo de reproduo diferente do da direo Sul para o perodo de invernada.
De fato as rotas transocenica (da Nova Inglaterra para Amrica do Sul) e
continental atravs dos EUA so adotadas alternativamente para o perodo de
invernada enquanto que a migrao em direo Norte para o perodo de reproduo
evita a rota transocenica sendo realizada integralmente atravs do Continente
Americano (Del Hoyo et al., 1992).
Figura 02. Maariquinho rasteiro (Calidris pusila) em Cobourg, Ontario, Canada, Agosto de 2006 (Wikipedia, 2006).
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O maarico-rasteirinho (Calidris pusilla) uma espcie de ave pequena, porm
robusta, de bico grosso, negro e de ponta alargada (Figura 02), semelhana de
vrios congneres, excetuando-se a espcie Calidris canutus (Sick, 1997).
Pertencem famlia Scolopacidae que possui um total de 89 espcies, encontradas
em reas costeiras e alagadas, espalhadas por todo o globo (Figura 03). A famlia
Scolopacidae parece ter um ancestral bioqumico comum de onde derivou-se de
evoluo explosiva durante o perodo tercirio, aps uma grande onda de extino
acontecida no final do perodo Cretceo (Piersma, 1996).
Maaricos reproduzem apenas na Tundra rtica superior, mas se deslocam
ao sul de sua rea de reproduo na disjuno circumpolar para reas no
reprodutivas (de invernada) em todos os continentes (menos o Antrtico), entre as
latitudes 58 N e 53 S (Figura 03). Maaricos geralmente se alimentam em reas
costeiras que sofrem influncias de mars (do ingls intertidal areas), de substrato
mole. Como consequncia as reas de alimentao so pouco numerosas e muito
distantes umas das outras, obrigando-os a realizar voos de muitos milhares de
quilmetros rotineiramente. As maiores taxas de forrageamento ocorrem nos locais
mais ao norte antes do voo definitivo para a reproduo na tundra (Piersma et al.,
2005).
Figura 03. Legenda Distribuio pontos amarelos ocorrncia Scolopacidae (G.B.I.F., 2008).
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Fortemente territorialistas, os machos defendem ativamente seus territrios
por exibio em voos, nos quais planam vocalizando em alturas variveis
frequentemente por vrios minutos (Pitelka et al., 1974).
Com relao ao sistema de pareamento, durante o perodo reprodutivo,
machos e fmeas formam pares monogmicos que se mantm durante todo o
perodo de incubao dos ovos e que realizada por ambos os sexos (Ashkenazie
e Safriel, 1979).
Observa-se somente um leve dimorfismo sexual nesta espcie, sendo as
fmeas maiores do que os machos, sem diferena de colorao significante e sem
a presena de caracteres sexuais secundrios conspcuos (Prater, 1977).
Diferente do Actitis macularia, o Calidris pusilla um pssaro migratrio de
longa distncia percorrendo s vezes, em voos ininterruptos cerca de 4000 km, em
busca de seus stios preferenciais de invernada (Morrison, 1984).
Orientao espacial e memria so, portanto, habilidades essenciais para
lidar com essas demandas dos pssaros migratrios e estudos anteriores indicam
um papel crucial do hipocampo na consolidao da memria espacial de aves e
mamferos e.g. (O'keefe e Dostrovsky, 1971; Sherry, 2011). Presume-se que o
hipocampo das aves possa conter como nos mamferos, um 'mapa cognitivo', que
fornece uma representao do animal em relao ao ambiente (Sallaz et al., 2000).
Muito poucas espcies migratrias foram objeto de investigao
neurobiolgica detalhada e muitos aspectos dos mecanismos envolvidos com o
processo migratrio permanecem obscuros. Essa jornada anual que essas espcies
empreendem depende de orientao precisa, reconhecimento de pistas visuo-
espaciais e avaliao de distncias ao longo da viagem intercontinental que esto
longe de serem compreendidas em suas bases neurobiolgicas.
De fato, quando se constata que sequer foram descritas em detalhe as
estruturas relacionadas formao e recuperao de memrias em muitas das
espcies migratrias, torna-se importante empreender esforos para o
preenchimento dessa lacuna. No que concerne formao hipocampal, uma das
reas de cuja integridade depende a consolidao de memrias relacionadas
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navegao em grande e pequena escala, tanto em aves (Bingman et al., 2006;
Sherry, 2011), quanto em mamferos (Leuner et al., 2010; Buzski e Moser, 2013),
nada foi anteriormente descrito em maaricos migradores, motivo pelo qual se
empreendeu o presente projeto.
1.2- Memria e Formao Hipocampal
A memria entendida como a capacidade de adquirir, armazenar e
recuperar informaes que permitem responder a pelo menos trs das perguntas
essenciais para sobrevivncia adaptada ao meio ambiente que partilham. Assim, as
tarefas relacionadas reproduo, busca de alimento e o reconhecimento de
predadores depende da habilidade de se identificar o que ? Onde est? E quando?
Para que isso seja possvel, a formao hipocampal e o cerebelo precisam ser
preservados ntegros garantindo a formao das memrias declarativa e procedural
respectivamente (Okano et al., 2000).
Quando nos referimos memria declarativa episdica humana falamos da
capacidade de lembrarmos conscientemente, empregando a linguagem como
instrumento, e falamos de memria semelhante episdica quando se tratam de
outras espcies que no desenvolveram a linguagem, sendo a consolidao desta
lembrana tarefa que envolve o lobo temporal medial (a includos o hipocampo, o
giro denteado, o complexo subicular e os crtices perirrinal e parahipocampal)
(Squire et al., 2007).
Recentemente, a regio anloga ao hipocampo de mamferos, (Nadel, 1978;
Amaral, 1993) vem recebendo muita ateno em aves, havendo um volume
crescente de evidncias de que a parte medial do crtex dorsal das aves
homloga ao hipocampo de mamferos tendo em conta seu desenvolvimento, sua
topografia e seu papel funcional(Ariens-Kappers et al., 1936; Kallen, 1962;
Campbell e Hodos, 1970; Benowitz e Karten, 1976). Essa rea est implicada em
diversos processos de memria incluindo aqueles necessrios navegao
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(Bingman e Yates, 1992; Bingman et al., 1988) e ao armazenamento de alimento
(Krebs et al., 1989; Sherry e Vaccarino, 1989).
Vrios outros autores tem tentado comparar o hipocampo das aves com o
dos mamferos usando critrios citoarquitetnicos e neuroqumicos, mas pouca
concordncia tem sido alcanada com o emprego desses critrios (Craigie, 1930;
Ariens-Kappers et al., 1936; Benowitz e Karten, 1976; Casini et al., 1986). A parte
dorsomedial do crebro de pssaros tradicionalmente dividida em duas grandes
reas, a ventral chamada de hipocampo prprio (Hp) e a posicionada
dorsolateralmente, denominada de rea parahipocampal (APH), com dois padres
de projees distintos (Figura 04) . A formao hipocampal (FH) das aves (Hp +
APH) faz parte do sistema lmbico, uma rede de mltiplas conexes dos centros
telenceflicos e subtelenceflicos, que responsvel pelo aprendizado associado
s emoes e motivao em geral.
O hipocampo no um centro cerebral voltado apenas ao processamento de
informao espacial, ele tambm parece estar envolvido em outros tipos de
formao de memria e aprendizado, pelo menos em galinceos jovens (Sandi et
al., 1992). As estruturas do prosencfalo implicadas nesse tipo de formao de
memria so conectadas umas com as outras sugerindo a presena de um circuito
prosenceflico de memria que influenciado pelos centros monoaminrgicos do
mesencfalo (Szekely, 1999).
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No existe acordo no que diz respeito extenso da APH: de fato ainda
permanece a controvrsia de se apenas uma faixa de crtex que separa o Hp das
estruturas do palio lateral e que repousa medialmente no ventrculo lateral, ou se
tambm incorpora grupos de clulas homogneas entre as duas placas celulares
do hipocampo. A linha de separao entre as reas dorsolaterais no est
claramente definida; a APH parece ser contnua com o hiperestriado acessrio (HA)
e tambm contnua em sua poro caudal com o crtex dorsolateral (Szekely,
1999). Em seces coradas com Nissl, a APH e o Hp so homogneos e
representadas como continuaes da rea cortical adjacente e com uma laminao
relativamente distinta em sua parte posterior ventral.
Figura 04: Uma seco coronal do complexo hipocampal e reas adjacentes do teleencefalo do pssaro Parus palustris. A seco faz parte da coordenada 0.3 da extenso rostro-caudaldo hipocampo. Siglas: H, hipocampo (area de clulas densas em forma de V); APH, rea parahippocampal ; L, limite lateral (caracterizado por uma aguda mudana da densidade das clulas; V, ventrculo; M, linha mdia; HA, Hiperestriado acessrio; e S, estriado.(Harsanyi e Friedlander, 1997)
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Assim, o maior desafio tem sido encontrar uma forma de se definir um limite
entre o hipocampo e o palium lateral (LP). Em pombos, o neuropeptdio designado
substncia P faz o delineamento de alguns campos circunscritos dentro desse
complexo, independente de sua localizao em relao ao Hp e a APH (Erichsen et
al., 1991).
O uso de tcnicas imunohistoqumicas viabilizou a reviso do sistema de
parcelamento do palium dorsomedial, uma vez que novas estruturas compostas por
clulas de natureza qumica semelhante foram encontradas no palium dorsomedial
de pombos (Figura 05) (Erichsen et al., 1991). Um achado importante desse estudo
foi o aparecimento do ncleo reativo para substncia P (SPF) de disposio
alongada rostrocaudalmente, provendo resposta direta para a definio do limite
lateral. Nesse sistema de diviso o SPF localiza-se externamente ao Hp e tambm
claramente separado do hiperpalium acessrio. De acordo com sua posio o SPF
um possvel candidato ao correspondente do crtex entorrinal de mamferos.
O resultado de diferentes tcnicas e diferentes espcies empregadas em
estudos das subdivises do HP (Figura 05) no nos leva a uma concluso final
sobre o nmero ou a localizao das subdivises hipocampais. A conectividade do
HP exige estudos adicionais para se avaliar melhor se a similaridade topogrfica, a
morfologia e a especificidade dos neurotransmissores envolvidos na
imunomarcao so suficientes para definir o parcelamento da formao
hipocampal (Szekely, 1999).
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Figura 05: Desenhos esquematicos das subdivises hipocampais como descrito anteriormante (esquerda) e como revistas em Szekely 1999 (direita). (A) As subdivises do HP, redesenhadas como no Atlas de Karten e Hodos (Karten Hj, 1967). Coordenada anteroposterior: 6,00. Estes autores no definiram uma fronteira lateral do complexo em relao a HA nem a separao exata entre HP e APH. (B) As subdivises do HP do pombo foram estabelecidas com base na distribuio de neurotransmissores e neuropeptdeos (Erichsen et al., 1991). Coordenada Antero posterior 7,05. (C) As subdivises do HP de um Zebra Finch (Montagnese et al., 1996). O desenho representa uma seco coronal da parte central do hipocampo. (D) As trs subdivises do hipocampo do Zebra Finch (Szekely e Krebs, 1996) seguidos de iontoforese de PHAL. O desenho representa a parte central do HP 1 mm anterior ao lambda (Szekely, 1999).
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1.3- Anatomia e Fisiologia Comparadas da Formao Hipocampal em Mamferos e Aves
Nos mamferos a distribuio topogrfica das estruturas que compem a
formao hipocampal segue a ordem: giro denteado, Corno de Amon, subculo e
crtex entorrinal. A mesma distribuio espacial encontrada em rpteis squamata
e tartarugas (Peichl, 1991). Em aves, a organizao inverte-se aparecendo em
primeiro lugar a rea em forma de V que corresponderia ao Corno de Amon, seguida
da juno da rea medial e rea dorsomedial correspondendo ao giro denteado, em
seguida a rea lateral correspondendo ao subculo e por fim, a rea SPf
correspondendo ao crtex entorrinal .
Propostas de parcelamento comparativas entre hipocampos de aves e
mamferos foram obtidas atravs de imunomarcaes (Hoffmann et al., 2002).
Esses parcelamentos possibilitaram a gerao de sugestes para limites do
hipocampo em pombos, baseados na forte imunorreatividade para o anticorpo
contra a substncia P definindo o limite lateral do hipocampo (Hoffmann et al.,
2002). Em sua borda lateral aparece uma densa marcao da neurpila
imunorreativa para substncia P em posio rostral rea em forma de V da regio
hipocampal que penetra em direo ao plido lateral, destacando-o das demais
regies a sua volta. Embora exista ainda muita controvrsia a respeito, essa
configurao de fronteira parece delimitar com clareza a regio extra hipocampal
(Schwassmann, 1990).
Assim, poderia relacionar-se essa rea em forma de V no pombo ao corno
de Amon dos mamferos em funo da presena das clulas piramidais circundadas
pelas clulas em cesto que so imunorreativas para a colecistocinina em ambas as
classes (Antal et al., 2006). Alm disso, outras clulas morfologicamente
semelhantes imunorreativas para somatostatina e neuropeptdeo Y so
encontradas na rea medial do hipocampo das aves e na regio hilar dos
mamferos, (Atoji e Wild, 2004).
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A imunomarcao para peptdeo intestinal vasoativo (VIP) nas camadas do
giro denteado nos mamferos pode ser relacionada rea das clulas
imunomarcadas para VIP no pombo. Outros resultados tambm permitiram associar
a camada alvear e fmbria-frnix do mamfero rea das fibras do trato medial, em
funo da presena de aferentes colinrgicos, serotonrgicos e catecolaminrgicos
que formam os tratos ali existentes em ambas as regies e esses aferentes
contribuem para os circuitos neuroqumicos que modulam as respostas
hipocampais em roedores (Bausch, 2006; Hauser et al., 2006) descreveram a
presena marcante de fibras serotonrgicas na poro imediatamente inferior
regio dorsomedial, o que repete o padro encontrado em mamferos onde as
camadas granulares relacionam-se intimamente ao giro denteado.
Alm das comparaes de ordem morfolgica entre a formao hipocampal
de aves e mamferos, possvel encontrar associao funcional entre seus vrios
sistemas neurais. Segundo alguns pesquisadores (Donascimento et al., 1991; Rosa
et al., 1991) possvel correlacionar a estrutura hipocampal nessas classes com a
aprendizagem e o processamento dos vrios tipos de memria, tais como, a
contextual e a espacial.
Em aves, as conexes telenceflicas que relacionam o hipocampo ao lobo
paraolfatrio, ao plido lateral e parte lmbica do estriado, permitem inferir a
participao dessas regies na formao da memria, e isso foi feito com a
utilizao de tcnicas de esquiva inibitria principalmente em galinceos jovens
(Obrebowski et al., 2000). Experimentos realizados em labirinto aqutico (Morris
water-maze) com roedores mostraram que o dano hipocampal, interrompe a
orientao espacial a partir de pistas visuais fora do labirinto (extra-maze cues),
embora tenha sido verificado que a leso no afeta a orientao com pistas dentro
do labirinto (intra-maze cues) (Kleinrok et al., 2000).
Os mamferos possuem um circuito trissinptico no hipocampo que est
envolvido no processamento do aprendizado e memria, e que sensvel
facilitao sinptica (Wylie e Frost, 1990). Os estudos das eferncias e aferncias
dessa regio em aves (Buttery et al., 1990; Curcio e Allen, 1990; Oswaldocruz et
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21
al., 1990) no permitiram at a presente data, estabelecer com segurana a
equivalncia dos circuitos hipocampais, tal como, observado em mamferos, porm
algum consenso foi obtido nessas aproximaes.
Em mamferos, a formao hipocampal contm uma rede de neurnios que
se comunicam atravs de um circuito trissinptico bem definido funcionalmente
como do tipo feed-forward. A chegada de informaes sensoriais converge para o
crtex entorrinal o qual projeta, via circuito perfurante, para o giro denteado. Do giro
denteado saem projees, via fibras musgosas, para a regio de CA3, de onde,
atravs das fibras colaterais de Schaeffer, projetam-se ipsilateralmente e
contralateralmente para a regio de CA1. De CA1 saem fibras para o subculo e da
para fora do hipocampo (Simas e Dasilva, 1989).
Em trabalhos eletrofisiolgicos associados ao uso de traadores sugeriu-se
a ocorrncia de similaridades na circuitaria interna da formao hipocampal de
pombos e ratos (Inan et al., 2006). Assim, as informaes sensoriais chegam, no
pombo, atravs da rea dorsolateral que projeta para a rea dorsomedial. Da rea
dorsomedial saem projees para as duas pores do V hipocampal, na rea
ventromedial das aves. O brao medial do V projeta-se ipsi- e contralateralmente
para a poro lateral do V, que por sua vez projeta-se para a regio dorsomedial de
onde saem os circuitos eferentes em direo s demais reas palidais.
Substncias traadoras sugeriram similaridades entre os padres de
conexes extrnsecas da formao hipocampal de aves e mamferos,
principalmente as septo-hipocampais (Clarkson, 1993; Zanoli et al., 2001; Vicente
et al., 2004). O septo medial no rato a maior via de envio de informaes
formao hipocampal, com projees ipsilaterais importantes para o giro dentado
CA1, CA2, subculo e projees bilaterais para o crtex entorrinal. O septo medial
recebe, de volta, aferncias das regies CA1, CA2 e CA3 do hipocampo do rato. No
pombo, a regio dorsomedial recebe a maior parte das vias que chegam do septo
medial e as clulas presentes na rea ventromedial, principalmente as pores
medial e lateral do V hipocampal projetam de volta para o septo medial. As regies
CA1 e CA3 do rato podem ser similares s pores laterais e mediais do V
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hipocampal das aves, respectivamente, porque existem conexes intrnsecas entre
as duas reas que do suporte a essa relao (Bruckner et al., 2000).
Entretanto a anatomia hipocampal de aves e mamferos to diferente que
se torna difcil comparar suas subdivises. Da mesma forma, a localizao de
funo nessas estruturas parece ser difcil, mas isto igualmente verdadeiro em
ambas as classes. Por outro lado certo que a contribuio dessas reas quase
idntica em quase todos os aspectos com a exceo do papel do hipocampo na
memria episdica. Mesmo que os aspectos funcionais no possam ser usados
para estabelecer homologias, a imensa similaridade observada aqui subsidia
fortemente a homologia determinada por outros aspectos (Beason-Held et al.,
1999).
Durante a embriognese, os hipocampos de mamferos e aves emergem da
mesma regio do telencfalo (Kallen, 1962), compartilham os mesmos tipos
celulares, incluindo as clulas piramidais (Ben Bederson, 2005), e parecem contar
com os mesmos tipos de neurotransmissores e enzimas relacionadas a estes
(Erichsen et al., 1991; Krebs et al., 1991). As conexes para reas do crebro como
o septum, hipotlamo, ncleos da base e reas de processamento sensorial so
similares mas no idnticas (Casini et al., 1986). muito provvel que as estruturas
hipocampais observadas em aves e mamferos sejam ambas descendentes de uma
nica e antiga estrutura (Beason-Held et al., 1999).
At em peixes dourados (Carassius auratus), foi demonstrado aprendizado
espacial utilizando tarefas de labirinto utilizando 4 pontos de oferta de comida
(Rodriguez et al., 2002). Leses nessa espcie no palium lateral, que um potencial
homlogo do hipocampo de mamferos afetou dramaticamente o aprendizado
espacial enquanto o aprendizado dependente de pistas visuais permaneceu
inalterado. No mesmo estudo experimentos com tartarugas revelaram o mesmo
efeito depois de leso no crtex medial. Outros estudos com mtodos diferentes
confirmaram a analogia funcional entre o hipocampo dos mamferos e o palium
lateral do peixinho dourado (Buhusi e Meck, 2006), enquanto outros (Crockett and
Eisenberg, 1987 ; Coull et al., 1995) chegaram a concluso diferente.
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1.4- O Hipocampo das Aves, Plasticidade e Memria Muitas pesquisas sobre a relao entre o meio ambiente, a memria e o
hipocampo tem sido focadas em aves que utilizam a memria para recuperar
alimentos escondidos (food-cache) em numerosos stios de armazenagem (Sherry
et al., 1989); (Krebs et al., 1991); Hampton, Sherry et al., 1995; Pravosudov e
Clayton, 2002). Ainda que haja controvrsias sobre os mecanismos subjacentes
(Bolhuis e Macphail, 2001; Macphail e Bolhuis, 2001) parece que a especializao
dedicada a esconder a comida e lembrar-se do stio de armazenagem resultou em
uma memria espacial bem desenvolvida e um hipocampo ampliado em aves e
mamferos (Krebs, Sherry et al., 1989; Sherry, D. F. e Vaccarino, A. L., 1989; Krebs,
Clayton et al., 1995).
A aprendizagem e a memria espacial assim como, a atividade de estocagem
de comida esto relacionadas ao hipocampo e tm sido muito bem estudadas em
pombos e outros pssaros (Clayton, 1998; Colombo, Broadbent et al., 2000b; Sherry
e Hoshooley, 2010). A regio hipocampal em pombos definida como a rea entre
o ventrculo lateral e a fissura interhemisfrica sendo lateralmente separado da rea
parahipocampal por uma regio imunorreativa aos anticorpos contra SP (substncia
P), LENK (leucina-encefalina) e TH (tirosina hidroxilase). Definida dessa forma essa
rea coincide com a estabelecida por trabalhos citoarquitetnicos com a colorao
de Nissl (Krebs, Sherry et al., 1989) dedicados a outras espcies de aves,
principalmente Zebra finch, onde tambm se discute os limites entre o hipocampo e
demais regies vizinhas (Montagnese, Krebs et al., 1996)
As primeiras pesquisas sobre o papel do hipocampo na memria para a
localizao espacial dos locais onde os pssaros armazenam alimentos mostraram
que esses tipos de aves, recuperam o alimento por lembrarem onde os haviam
colocado (Cowie, 1981 ; Sherry, D. F. e Vaccarino, A. L., 1989). Ao lembrarem-se
da localizao onde armazenaram os alimentos utilizam as marcas espaciais perto
desses locais, utilizam-se das relaes geomtricas entre os stios e dos pontos de
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referncia existentes na rea. Alm disso, utilizam a bssola solar para obter
informaes e se orientar na jornada em direo aos stios de armazenamento
(Balda, 1989; Wiltschko W., 1989; Balda R. P. , 1991; Duff Sj, Brownlie La et al.,
1998).
A memria utilizada para lembrar-se dos stios de armazenamento pode ser
de longa durao (Hitchcock C. L, 1990; Balda R. P, 1992), e o comportamento de
recuperao indica que a ave se lembra de qual o tipo de alimento armazenado em
um stio especfico (Sherry, 1984; Clayton N.S E Dickinson, 1998). Alm disso,
parece que as aves integram a informao espacial, o tipo de alimento e o momento
em que a comida foi estocada e nesse sentido sugere-se que reproduzem o que se
tem denominado episodic-like memory em mamferos (Dere, Huston et al., 2005).
Embora trabalho subsequente tenha questionado a alegao de Clayton e
Dickinson de 1998 de que a memria para stios espaciais se assemelha memria
episdica humana (Hampton R. R. E Schwartz, 2004; Hampton, Hampstead et al.,
2005.), parece provvel que as aves que armazenam alimentos retm algumas
informaes de diferentes formas sobre os tipos de stios de armazenagem. Dentre
essas informaes incluem-se as relacionadas ao risco de perda do alimento (e.g.
alimentos perecveis versus no perecveis) (Hampton e Sherry) e se ou no a ave
j recuperou outras vezes os alimentos l armazenados (Sherry, 1984).
Leses no hipocampo das aves que escondem e recuperam alimentos
perturbam essa capacidade de (Sherry, D.F e Vaccarino, A.L. , 1989) e produzem
um dficit seletivo na memria para localizao espacial (Hampton e Shettleworth,
1996a; Hampton, 1996b; Shiflett, Smulders et al., 2003 ; Broadbent e Colombo,
2000). Portanto, o hipocampo essencial para a recuperao precisa do local onde
o alimento foi armazenado, pois sua leso reduz a preciso da recuperao dos
esconderijos, sem afetar a tendncia para esconder ou procur-los (Sherry, D.F e
Vaccarino, A.L. , 1989).
As leses do hipocampo tm efeitos seletivos semelhantes sobre os
componentes de orientao em pombos-correio (Bingman, Jones et al., 1995),
comprometendo seu desempenho em outras tarefas espaciais, sem interromper a
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capacidade de formar associaes espaciais simples (Sherry, D. F. e Vaccarino, A.
L., 1989; Hampton e Shettleworth, 1996a).
O hipocampo de aves que armazenam alimentos e das que no armazenam
so diferentes em vrios aspectos. Em nvel taxonmico a comparao de famlias
e subfamlias mostrou que as aves que armazenam alimentos tm, em mdia, um
hipocampo maior do que as aves que no armazenam alimento (Krebs, Sherry et
al., 1989; Sherry, Vaccarino et al., 1989). Dentro das famlias de aves que
armazenam alimentos, tambm h evidncias de que as espcies que armazenam
mais tm um hipocampo maior do que as espcies que armazenam menos (Healy
e Krebs, 1992; Hampton, Sherry et al., 1995).
J est demonstrado que existe uma diferena no tamanho do hipocampo,
entre espcies semelhantes da Eursia (que possuem hipocampo maior) do que o
de espcies da Amrica do Norte (com hipocampo menor), sendo isso verdadeiro
tanto para aves que armazenam como para as que no armazenam (Garamszegi e
Lucas, 2005). Entretanto, confirmou-se posteriormente que as aves que armazenam
alimentos tm hipocampo consistentemente maior do que as espcies que no
armazenam independente das diferenas continentais (Lucas et al., 2004). Em um
estudo similar em grande escala utilizando diferenas filogenticas, Garamszegi e
Eens, (2004) encontraram uma relao positiva entre o comportamento de
estocagem de alimentos e o tamanho relativo do hipocampo (Odum, 1942; Haftorn,
1956; Ludescher, 1980.; Nakamura e Wako, 1988).
Uma verso seca do labirinto aqutico de Morris, que consiste em achar a
posio de um reservatrio de comida escondido em um campo aberto onde os
animais so soltos em diferentes pontos, foi empregada em pombos. O
comportamento de pombos foi examinado utilizando-se esse procedimento e
demonstrou-se que o aprendizado espacial comprometido quando o hipocampo
lesado. Os animais com leso hipocampal foram capazes de encontrar a comida
escondida, entretanto o tempo de latncia foi muito maior quando comparado ao
dos animais controle com hipocampo ntegro (Fremouw et al., 1997).
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1.5 - Aves Migratrias e o Sistema Neural de Navegao
As espcies migratrias so reconhecidas por suas habilidades de
navegao ao redor do mundo. Essas aves so capazes de navegar por distncias
muito longas at seus stios de invernada, no hemisfrio sul, e de volta na primavera
a seus habitats onde nasceram e foram criados no hemisfrio norte. Pssaros que
escondem comida para recuperao posterior so capazes de encontrar os lugares
onde esconderam comida com acurcia impressionante e os pombos em particular,
acham sua casa mesmo quando soltos em territrios desconhecidos (Krebs, 1990).
Para orientao do processo de migrao envolvendo longas distncias a
informao direcional pode ser extrada do campo magntico terrestre ou de pistas
visuais como o sol e as estrela. A primeira chamada de orientao por bussola
tem sido amplamente estudada em diferentes espcies de pssaros nas ltimas
dcadas (Wiltschko et al., 2000; Wiltschko e Wiltschko, 2002; Mouritsen e Ritz,
2005; Wiltschko e Wiltschko, 2005; Muheim et al., 2006; Hein et al., 2011; Wiltschko
e Wiltschko, 2012). Como outros mecanismos de orientao global, a orientao
atravs de campo magntico tambm pode ser usada para localizao de alvos em
curtas distncias (Voss et al., 2007; Keary et al., 2009). Entretanto, porque as
bssolas de campo magntico, solar ou estelar somente disponibilizam informao
sobre direo e no sobre distncia elas no so suficientes para a localizao de
um determinado lugar. Isto pode ser alcanado usando o arranjo espacial de pistas
visuais e a geometria do espao circundante para orientao, uma habilidade
denominada de orientao espacial. Para analisar a posio de um destino
pretendido em relao as pistas visuais, os animais precisam de um mapa cognitivo
que proporciona uma representao detalhada do ambiente (O'keefe e Nadel,
1978).
Tem sido sugerido que as aves migratrias possuem necessidade de usar
um complexo sistema de navegao em que a aprendizagem e a memria devem
ser importantes componentes (Mettke-Hofmann, C. e Gwinner, E., 2003). Para
migrar longas distncias necessrio lembrar a rota de migrao e os locais de
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paragem necessrios ao reabastecimento das reservas de energia (Healy et al.,
1996; Mettke-Hofmann, C. e Gwinner, E., 2003), bem como, os detalhes de ambos
os habitats de reproduo e invernada, j que ambos os habitats parecem ser
reutilizados (Chilton, 1995).
A memria dependente do hipocampo tambm parece ser importante para
aperfeioar a volta para casa (homing) (Strasser et al., 1998). Tem sido sugerido
que enquanto as aves migratrias so jovens utilizam um sistema de navegao
"simples" e inato, j os pssaros mais velhos usam um sistema de orientao mais
complexo baseado na memria e aprendizado (Mettke-Hofmann, C. e Gwinner, E.,
2003). Se as espcies migratrias, de fato, possuem maiores exigncias para a
memria, seria de se esperar que tenham uma memria melhor com um hipocampo
ampliado, em comparao s espcies no migratrias (Healy et al., 1996).
As diferenas potenciais na memria e tamanho do hipocampo entre aves
migratrias e no migratrias, podem ser, devidas experincia migratria, que por
si s provocam essas mudanas (Healy et al., 1996) e se isso for verdade, os
indivduos das espcies migratrias que migram pela primeira vez devem ser
semelhantes espcies no migratrias em suas habilidades de lembrar possuindo
volumes hipocampais equivalentes. Alternativamente, as aves migratrias podem
ter evoludo para uma memria aumentada e um hipocampo ampliado como
resultado do aumento da presso de seleo onde indivduos e seus descendentes
com sistema de memria necessria e suficiente ao sucesso da migrao teriam
mais chance de sobreviver do que os outros. Nesse caso, no haveria diferenas
entre os indivduos inexperientes e os experientes no desempenho da memria e
tamanho do hipocampo (Cristol et al., 2003).
Pouca informao est disponvel sobre a memria e o hipocampo de aves
migratrias e no migratrias e os poucos estudos disponveis apoiam hiptese
de que os hbitos migratrios podem afetar a memria e o hipocampo (Healy et al.,
1996; Cristol et al., 2003; Mettke-Hofmann e Gwinner, 2003).
A experincia migratria provoca um aumento relativo no volume do
hipocampo e no nmero total de neurnios de Sylvia borin, mas permanece
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desconhecido se a memria afetada pela experincia migratria e se as espcies
migratrias tem memria melhor e um hipocampo maior do que as espcies no
migratrias (Healy et al., 1996). Entretanto foram encontradas diferenas na
memria e na densidade de neurnios do hipocampo, mas no no volume do
hipocampo entre espcies migratrias e no migratrias de Junco hyemalis (Cristol
et al., 2003). Posteriormente confirmou-se a ocorrncia de diferenas na memria
de longo prazo entre as espcies migratrias (Sylvia borin) e no migratrias (Sylvia
melanocephala), mas no ficou claro se essas diferenas foram relacionadas s
diferenas no hipocampo e que tipo de memria foi afetada pelo comportamento
migratrio (Mettke-Hofmann e Gwinner, 2003).
A espcie migratria Zonotrichia leucophrys gambelii, possui memria
espacial melhor e mais neurnios no hipocampo em relao aos seus co-
especficos que no realizam migrao (Zonotrichia leucophrys nutalli), o que
sugere que a migrao pode envolver memria espacial. Alm disso, esses autores
sugerem que especificamente o hipocampo direito, parece codificar pistas espaciais
globais, que podem estar envolvidos no comportamento migratrio (Pravosudov et
al., 2006).
No entanto, existem outros fatores no relacionados ao comportamento
migratrio, que produziram diferenas registradas na memria e no hipocampo
entre subespcies migratrias e no migratrias do pardal. Esse ltimo resultado
interessante porque o hipocampo direito foi especificamente implicado no
processamento de informaes espaciais globais, enquanto que o hipocampo
esquerdo parece estar envolvido na codificao de informaes espaciais sobre o
local, pistas, objetos especficos (Kahn e Bingman, 2004). Isso sugere que ambos
os hipocampos direito e esquerdo esto envolvidos, no processamento da memria
espacial, mas sua importncia relativa para a funo de memria no est
totalmente clara (Kahn e Bingman, 2004).
As diferenas na memria espacial e do hipocampo entre aves migratrias e
no migratrias poderiam potencialmente ser experincia-dependente ou ser
resultado tal como mencionado antes, da crescente presso de seleo para uma
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memria espacial mais eficiente em aves migratrias. O sistema detector do campo
magntico terrestre presente nas aves migratrias talvez gere adaptaes nicas
que podem no estar presentes nos mamferos (Lohmann, 2007).
No presente trabalho descrevemos a morfologia da formao hipocampal e
estimamos o nmero de neurnios e micrglias na formao hipocampal de duas
espcies de maaricos migratrios com padro de migrao bastante distintos com
a expectativa de detectar possveis diferenas em seus hipocampos.
Entretanto, para a deteco precisa de possveis correlaes entre estratgia
de migrao e alteraes hipocampais crtica a utilizao de metodologias
estereolgicas sem vis e no h na literatura at ento nenhum trabalho na
formao hipocampal em aves marinhas utilizando tais metodologias.
1.6- Estereologia Baseada em Design para Contagem de Clulas: O Fracionador ptico
A regra geral em anlises qualitativas encontrar palavras descritivas tais
como: menores, maiores, mais largas, menos frequentes, mais frequentes,
diferente, similar, ausncia ou presena que em geral so suficientes para os
propsitos investigados (Schmitz e Hof, 2005). A anlise microscpica, entretanto
uma ferramenta analtica poderosa para se descrever formas normais e anormais
de tecidos biolgicos, particularmente se for possvel gerar nmeros a partir de
seces histolgicas. Entretanto necessrio considerar que se um microscpio
utilizado para analisar a estrutura de interesse inevitvel, na maioria dos
experimentos, que apenas uma pequena frao da rea de interesse original ser
de fato analisada em detalhe (Howard e Reed, 2005). Esta uma questo chave
em neuromorfologia, assim como, em muitas outras reas onde necessria a
distino de diferenas entre condies fisiolgicas e patolgicas (Schmitz e Hof,
2005).
Entretanto, outros estudos que geram anlises quantitativas e expressam
valores numricos sobre contagem de clulas, densidades, reas e volumes,
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apresentam resultados controversos que se devem suposies prvias acerca do
tecido e da geometria das clulas e suas distribuies no plano da seco
(Geinisman et al., 1995; Mayhew e Gundersen, 1996). Muitos dos estudos
quantitativos introduzem vieses de amostragem e/ou erros sistemticos cuja
magnitude impossvel de ser apreciada, qualquer que seja a resoluo da anlise:
ptica (Mayhew e Gundersen, 1996; Gardella et al., 2003; Mandarim-De-Lacerda,
2003; Howard e Reed, 2005), confocal (Peterson, 1999; Kubinova e Janacek, 2001)
ou eletrnica (Fiala e Harris, 2001; Nyengaard e Gundersen, 2006).
A estereologia um ramo da cincia que lida com a reconstruo das
caractersticas de estruturas tridimensionais de objetos, a partir da reconstruo
serial de estruturas bidimensionais (Weibel, 1989). O termo baseado em design
utilizado para definir sistemas de amostragem que so independentes das
propriedades do tecido (Glaser e Glaser, 2000).
De fato a sonda e os parmetros de amostragem so definidos a priori em
estereologia, de forma que no necessria a coleta de dados de tamanho, forma
e orientao espacial da rea a ser investigada (West, 2002). Os nmeros
estimados a partir da amostragem podem ser expressos em valores relativos ou
absolutos indicando volume, nmero, conectividade, distribuio espacial e
tamanho das estruturas biolgicas sem conhecimento prvio da geometria das
clulas ou do tecido a ser investigado (Glaser e Glaser, 2000; Schmitz e Hof, 2005).
As anlises estereolgicas do hipocampo das aves migratrias em
comparao com aves que no migram, utilizando marcadores especficos, se
resumem a estimativa do nmero de neurnios em duas subespcies do gnero
Zonotrichia (Pravosudov et al., 2006) e a estimativa de clulas da glia em Poecile
atricapillus empregando o cresil violeta um marcador no seletivo que cora o DNA
celular indistintamente (Roth et al., 2013). Esses autores demonstraram que a
espcie migratria apresenta melhor desempenho em testes de memria espacial
de uma nica tentativa do que a subespcie que no migra. As aves migratrias
precisam lembrar-se da rota e dos locais de parada para alimentao e reposio
de suas reservas energticas, assim como, de detalhes dos locais de reproduo
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para onde parecem retornar (Chilton, 1995; Mettke-Hofmann, Claudia e Gwinner,
Eberhard, 2003). Entretanto, estimativas estereolgicas ou ensaios morfomtricos
dedicados s clulas da glia ainda no esto disponveis na literatura relacionada
s aves marinhas migratrias. Por essa razo relevante empreender esforos
nessa direo.
1.7- Morfologias das Clulas Gliais em Aves e Mamferos
Nos anos sessenta j era sabido que pelo menos quatro classes de clulas
gliais eram partilhadas por aves, rpteis e mamferos com base em uma variedade
de critrios morfolgicos: astrcitos, oligodendrcitos, micrglia e ependimcitos
(Stensaas e Stensaas, 1968). poca, a morfologia celular comparada era
construda com base em reconstrues bidimensionais com alguma contribuio de
estudos ultraestruturais. A Figura 06 um exemplo desses ensaios morfolgicos
empregando a tcnica de Golgi em seces da medula espinhal de pombos. No que
concerne aos objetivos do presente trabalho interessou-nos particularmente
comparar a morfologia da micrglia e o nmero, tanto de micrglia como de
neurnios, em aves e mamferos. O objetivo desse ensaio foi o de reunir achados
morfolgicos que possibilitassem a comparao da morfologia fina da micrglia do
giro denteado dos mamferos com as do hipocampo ventral das aves em funo de
sua possvel homologia. Infelizmente no foi possvel encontrar reconstrues
tridimensionais detalhadas para a micrglia em aves, e isso nos impediu de
comparar nosso ensaio com a literatura especializada em aves.
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Por conta dessa lacuna decidimos comparar nossos ensaios morfolgicos
com aqueles de ratos adultos (Rattus novergicus) da variedade Wistar, e com os de
um primata do Novo Mundo com notveis habilidades cognitivas, o Cebus apella.
Para isso reconstrumos a morfologia tridimensional da micrglia da camada
molecular do giro denteado de tais espcies e comparamos esses resultados
queles do hipocampo ventral e dorsal das aves migratrias Calidris pusilla e Acititis
macularia.
Reconstrues bidimensionais encontradas anteriormente em aves serviram
como ponto de partida para esse ensaio morfolgico microglial comparativo. A
Figura 07 um exemplo nessa direo no teto ptico das aves.
Figura 06. Desenho em cmara clara de clulas da glia a partir de seco longitudinal da medula espinhal do pombo. A-D, F-K e M, correspondem a astrcitos protoplasmticos; G um astrcito fibroso; E e L so oligodendrcitos; N-P so astrcitos ependimrios; Q-U so ependimcitos (Stensaas e Stensaas, 1968).
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Mais recentemente com a utilizao de anticorpo monoclonal especfico para
marcao de micrglia e macrfagos (HIS C7) que reconhece a forma aviria do
CD45 foi possvel caracterizar morfologicamente a micrglia de galinceos em
desenvolvimento e na vida adulta (Cuadros, Santos, Martin-Oliva, et al., 2006). O
CD45 um antgeno que colocaliza sua imunomarcao com aquela dirigida contra
a protena de membrana IBA-1 (Ver Figura 08). Esses resultados obtidos por
Figura 07. Morfologia microglial no teto ptico da galinha. A-P - Micrglias durante o desenvolvimento cerebral ps-natal imediato; Q-BB Micrglias no crebro adulto. Adaptada de (Stensaas e Stensaas, 1968).
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imunomarcao contra esse antgeno se assemelham no que concerne
morfologia, queles obtidos com anticorpo anti-IBA-1, igualmente capaz de
identificar clulas CD45 positivas, um marcador seletivo para micrglia e
macrfagos em mamferos (Ito et al., 1998).
Da mesma forma, esses resultados se assemelham queles obtidos por
histoqumica com NDPase e histoqumica para lectina RCA 1 no teto ptico das
aves (Shin et al., 2003; Cuadros, Santos, Martin-Oliva, et al., 2006). Usando HIS C7
em seces do teto ptico de galinhas, esses autores encontraram morfologias
celulares compatveis com o padro at ento descrito para micrglias. A
histoqumica para NDPase por sua vez foi igualmente utilizada para caracterizar a
morfologia microglial em vrias espcies incluindo aves (Fujimoto et al., 1987) e
mamferos (Murabe e Sano, 1982) tendo sido encontrado processos celulares com
morfologia semelhante. No h, entretanto estudos detalhados empregando
microscopia tridimensional em aves que permitam comparao detalhada com os
estudos disponveis em mamferos. Assim, o presente trabalho pretende contribuir
para reduzir a lacuna de estudos morfolgicos comparativos detalhados e para tanto
escolhemos trabalhar com anticorpo reativo para a protena IBA-1 que tem
reatividade simultnea para macrfagos e micrglias tanto em aves quanto em
mamferos (Cuadros, Santos, Martin-Oliva, et al., 2006).
Figura 08. Microscopia confocal de clulas imunomarcadas no teto tico da galinha no oitavo dia ps-natal,
ilustrando que todas as micrglias dessa regio esto imunomarcadas pelo anticorpo anti-IBA1 (em
vermelho) enquanto que outras clulas CD45 positivas distintas da micrglia, esto marcadas pelo
anticorpo anti-CD45 (em verde). A colorao amarela corresponde dupla marcao. Escala=25m
(Cuadros, Santos, Martin-Oliva, et al., 2006).
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35
A morfologia microglial em mamferos por outro lado tem sido objeto de
anlises mais detalhadas desde 1913 quando Cajal a denominou como o terceiro
elemento para distingui-las dos astrcitos e dos neurnios; ver (Kettenmann et al.,
2011; Eyo e Dailey, 2013) para revises recentes.
Outros estudos sistemticos subsequentes revelaram desde ento grande
heterogeneidade na distribuio e morfologia da micrglia e.g. (Lawson et al.,
1990). Como um exemplo dessa heterogeneidade, no crebro do camundongo a
variao na distribuio da micrglia de pelo menos 5 vezes entre uma regio e
outra, havendo maior concentrao dessas clulas no hipocampo, no telencfalo
olfatrio, nos ncleos da base e na substncia negra, sendo sua morfologia em
situao normal igualmente varivel, tendo sido classificadas em pelo menos trs
categorias distintas (Lawson et al., 1990).
No se sabe ainda que fatores locais determinam essa variao numrica e
morfolgica ou se essas pequenas variaes refletem contribuies funcionais
diferentes, apesar de haver variaes regionais de magnitude semelhante na
expresso de receptores imunolgicos (De Haas et al., 2008); ver (Ransohoff e
Perry, 2009) para reviso.
As micrglias em situao normal se apresentam em todas as regies do
SNC de forma organizada com ramificaes em todas as direes e sem
sobreposio, definindo domnios ou territrios circunscritos. No crebro adulto, a
micrglia pode responder a mudanas na atividade neural influenciando-a tanto no
curto, quanto no longo prazo monitorando igualmente a funo sinptica (Wake,
Hiroaki et al., 2011).
Essas clulas, portanto, normalmente tm suas funes inflamatrias
reguladas para baixo por conta de numerosas influncias inibitrias no
microambiente que as circunda e que so produzidas em sua maioria por neurnios
(ver figura 09) (Ransohoff e Perry, 2009). A despeito desse fentipo regulado para
baixo, no crebro normal, estudos que coletaram imagens micrgliais in vivo
revelaram que elas costumam deslocar seus processos de forma dinmica, ao
longo do territrio que ocupam para monitorar o microambiente local (Davalos et
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36
al., 2005; Nimmerjahn, Axel et al., 2005). Essa motilidade e eventuais mudanas
em sua forma alteram a distribuio de seus ramos no territrio cerebral objeto do
monitoramento tornando difcil a anlise de sua morfologia utilizando mtodos
descritivos tradicionais. Para contornar essa dificuldade mais recentemente tem
sido proposta a anlise quantitativa da complexidade do padro de ramificao da
micrglia como instrumento til para caracterizar sua morfologia (Karperien, Audrey
et al., 2013).
Nesse trabalho, a forma e as funes micrgliais so consideradas
intrinsecamente ligadas e proposto que se adote a anlise fractal como
instrumento quantitativo dos fentipos morfolgicos que parecem variar ao longo
de um gradiente. A posio relativa da morfologia da micrglia nesse gradiente
pode ser expressa em graus de complexidade distintos que se refletem no valor da
dimenso fractal (K-dim) de cada clula reconstruda (Karperien, Audrey et al.,
2013).
Figura 09. Morfologia de micrglias (em verde) e neurnios piramidais (em alaranjado) durante o
desenvolvimento do neocortex do camundongo. Imagens de microscopia confocal ilustrando micrglias
expressando a protena fluorescente verde (GFP-expressing micrglia) e neurnios piramidais
expressando a protena fluorescente amarela (YFP-expressing pyramidal neurons). Note as delgadas
ramificaes das micrglias em meio aos dendritos e somas neuronais [Figura adaptada de (Eyo e Dailey,
2013)].
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37
Alm das mudanas associadas ao monitoramento, essas clulas podem
mudar rapidamente seus fentipos em resposta a qualquer distrbio da homeostase
do sistema nervoso passando a ser referidas como micrglias ativadas com base
na mudana de sua morfologia ou na expresso de antgenos em sua superfcie
(Ransohoff e Perry, 2009). A retrao dos processos micrgliais aparente durante
a neurodegenerao e neuroinflamao e est fortemente correlacionada com sua
transformao funcional para o estado pr-inflamatrio ou ativado (Kettenmann et
al., 2011). As alteraes morfolgicas associadas ativao consistem em:
processos citoplasmticos encurtados e mais espessos e um corpo celular
arredondado representando um contnuo de estgios de ativao que para fins
didticos podem ser classificados em inicial, intermedirio e avanado e so
acompanhadas pelo aumento da expresso de genes envolvidos em respostas
imunes (Zielasek e Hartung, 1996).
fato que alm da mudana morfolgica injria, a ativao microglial
tambm caracterizada pela induo da liberao de vrias molculas, tais como
marcadores mielides, citocinas, radicais livres e xido ntrico (Streit e Kreutzberg,
1988; Bechmann e Nitsch, 1997; Raivich et al., 1999; Streit et al., 1999). A ativao
da clula microglial pode ocorrer em resposta a variados estmulos, tais como
leses, isquemia e processos inflamatrios, levando a micrglia a assumir um
fentipo ativado associado proliferao, migrao para o local da leso,
fagocitose das clulas infectadas e em processo de morte celular e liberao de
fatores neurotxicos e neurotrficos (Power e Proudfoot, 2001). Essa variao
fenotpica inflamatria igualmente observada em aves (Yang et al., 2007) e em
um de nossos animais removido de nossas anlises comparativas pudemos
confirmar a ocorrncia de alteraes morfolgicas compatveis com descries
anteriores dedicadas a processos inflamatrios em aves (Zelinka et al., 2012).
No presente trabalho nosso interesse concentra-se, entretanto, em comparar
micrglias cujas morfologias tridimensionais se enquadram em perfis no ativados,
em animais adultos, sem quaisquer sinais clnicos aparentes de doena ou de
resposta inflamatria evidente no SNC. A quantificao de suas sutilezas
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morfolgicas ser usada aqui para investigar possveis distines adaptativas no
sistema imune entre espcies que so separadas entre si por distncias evolutivas
contrastantes.
Baseados na ausncia de estudos sistemticos empregando anlises
estereolgicas em aves, o alvo do presente trabalho estimar o nmero de
neurnios e micrglias, assim como, analisar a morfologia tridimensional dessas
ltimas na formao hipocampal de duas das espcies de maaricos, usando
estereologia e reconstruo tridimensional computadorizada. O processo de
anlise quantitativa utilizar o mtodo do fracionador ptico, que permite estimar o
nmero de objetos de interesse de uma determinada estrutura cujos limites e
objetos de interesse se reconhecem sem ambiguidades. Da mesma forma,
empregar-se- reconstruo tridimensional por microscopia automtica para
garantir melhor resoluo a anlise comparativa da morfologia microglial.
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2- OBJETIVOS
2.1- Geral
Implantar como modelo para estudo da formao hipocampal das aves
migratrias as espcies Calidris pusilla, (Bausch e Mcnamara, 2000) e Actitis
macularia, (Blackstad, 1956) apud (Silveira et al., 1989).
2.2- Especficos 1) Descrever a morfologia da formao hipocampal de exemplares adultos
dessas espcies estabelecendo seus limites arquitetnicos com diferentes
marcadores visando a definio da rea e dos objetos interesse dos estudos
estereolgicos e morfomtricos.
2) Estimar o nmero de micrglias e de neurnios da formao hipocampal
de Actitis macularia e Calidris pusilla com marcadores seletivos para
neurnios e micrglia utilizando o mtodo do fracionador ptico.
3) Reconstruir e realizar anlise comparativa da morfologia da micrglia do
hipocampo dorsal e ventral das aves estudadas com aquelas da camada
molecular do giro denteado do rato (Rattus novergicus da variedade Wistar)
e do macaco (Cebus apella).
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3- MATERIAL E MTODOS
3.1- Captura com Redes de Neblina
Em cada ponto de coleta, uma linha composta por nove redes de 12m x 2m
e malha de 36mm ser aberta at o momento de captura do nmero desejado de
animais. As redes eram vistoriadas a cada trinta minutos, quando as aves
capturadas so retiradas, obtendo-se informaes referentes identificao da
espcie, horrio de captura, peso, comprimento do bico, presena de muda e
presena de gordura.
3.2- Perfuso, Corte, Colorao e Imunohistoqumica
Aps a captura os animais foram perfundidos por via transcardaca com
soluo salina 0,9% heparinizada por 10 minutos, seguida de paraformaldedo 4%
pH 7.2-7.4 por 10 minutos. O incio do fluxo de soluo salina foi iniciado aps o
corte da veia jugular com inciso no lado direito do pescoo permitindo assim que
o crebro fosse melhor permeado pelas solues salina e de paraformaldedo.
Aps craniotomia o encfalo foi cortado no plano coronal, axial e sagital em
busca do melhor plano para os estudos estereolgicos. Aps a retirada do encfalo,
com as regies enceflicas de interesse, fatias de 70m foram obtidas em um
vibrtomo (Vibratome Sectioning System, Pelco 120) ou em criostato aps
crioproteo com soluo de sacarose a 30% ou de sacarose a 30% mais glicerol
a 10%. As colees cortadas no plano coronal foram coradas pelas tcnicas de
Nissl, assim como foram reagidas por imunohistoqumica para Neu-N (marcador de
neurnios), GFAP (marcador de astrcito), IBA1(marcador par micrglia), Zenk
(produto de gene de ativao imediata), C-Fos (produto de gene de ativao
imediata) e DCX (dupla cortina).
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3.2.1- Colorao de Nissl
A colorao de Nissl utiliza o cresil violeta e cora em violeta ncleos e
nuclolos. Neurnios e glia so corados indistintamente pela tcnica de Nissl.
Para preparar a soluo de colorao preciso aquecer o cresil violeta em
banho-maria a 40C, agitando-a por 5 minutos; filtrar a soluo final em papel filtro;
e acrescentar o cido actico at que o pH da soluo esteja entre 3 e 3,5. As fatias
devem ser mergulhadas nas solues e sequncia indicadas no quadro 03. Tabela 01: Etapas da Colorao de Nissl com Tempo de Imerso em Cada Reagente
SOLUO TEMPO DE IMERSO (minutos) lcool 100% 05 lcool 100% + Clorofrmio (1:1) 10 lcool 95% 03 lcool 75% 03 H2O destilada 0 01 Cresil violeta 01 04 H2O destilada 0 01 lcool 80% 03 lcool 90% 10 lcool 100% + Clorofrmio (1:1) 03 lcool 95% +cido actico (15 gotas/100 ml) 03 lcool 95% 06 lcool 100% +cido butlico (1:1) 03 Xileno I 05 Xileno II 05
3.2.2- Imunomarcao para GFAP, Neu-N, IBA1, ZENK e C-Fos
Aps a realizao da perfuso, dissecao, e corte, as sees do tecido
cerebral so armazenadas em paraformoldeido 4% a 4C. As seces selecionadas
so lavadas com Tris 0,1 M pH 7.2-7.4 antes da incubao em cido brico 0.2M
pH 9,0 a 70C como descrito na Tabela 2, que mostra cada passo da
imunohistoqumica. Os stios de ligao no especficos so bloqueados pela
incubao dos cortes em casena a 10% durante 60 minutos. A incubao das
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seces nos anticorpos primrios (anticorpos primrios Neu-N, C-Fos, Zenk, GFAP,
IBA1 e DCX), especfico para cada imunomarcao (Tabela 3), ocorreu durante trs
dias a 4C com agitao suave. Tabela 02: Passos das Reaes de Imunohistoqumica com os tempos de Imerso e Enxagues em cada Reagente
SOLUO TEMPO DE IMERSO OU ENXGUES cido brico 60 minutos
Tris salina Triton 5% 3x5 minutos Tris salina 3x2 minutos Casena 60 minutos
Tris salina 3x2 minutos Anticorpo primrio 3 dias
Tris salina 3x2 minutos Anticorpo secundrio 12 horas
Perxido de hidrognio 15 minutos Tris salina 3x 2 minutos
ABC 60 minutos Tris 0,1 M 3x 2 minutos
Revelao com GND mx 30 minutos Tris 0,1 M 3x 2 minutos
A peroxidase endgena inativada atravs de incubao com perxido de
hidrognio (H2O2) a 0,3% dissolvido em tris salina, durante 15 minutos. Aps
lavagem os cortes so incubados durante 60 minutos no complexo avidina-biotina-
peroxidase (Vector ABC kit Elite, Vector Laboratories, Burlingame, CA, EUA, 1:200).
A atividade da enzima peroxidase detectada usando reao 33-diaminobenzidine
(DAB, Sigma) e -D-glucose/glucose-oxidase empregando o protocolo descrito em
(Shu, Ju et al., 1988). Depois que o produto da reao formado gera-se um
precipitado azul-acinzentado nos locais de interao antgeno-anticorpo e as
reaes quando ento so interrompidas as reaes em tris salina 0,1 M. Os cortes
so montados em lminas de vidro gelatinizadas e desidratados em sries de etanol
(70, 80,90, 100,100%) seguido de xilol I e II. Tabela 03: Informaes de Diluio e Fabricantes dos Anticorpos utilizados.
ANTICORPO DILUIO FABRICANTE / N de REFERENCIA Primrio NeuN 1:2000 Milipore / MAB 377 Primrio Iba -1 1:2500 Wako / 019-19741
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Primrio c-Fos 1:1000 Santa Cruz / SC-253G Primrio GFAP 1:1000 Santa Cruz / SC-6170 Primrio Zenk 1:1000 Santa Cruz / SC-189 Primrio DCX 1:1000 Santa Cruz / SC-8066 Secundrio Biotinylated Anti-Mouse IgG (H+L) 1:250 Vector Laboratories / BA-9200 Secundrio Biotinylated Anti-Goat IgG Reagent (H+L) 1:250 Vector Laboratories / BA-9500
Secundrio Biotinylated Anti-Rabbit IgG Reagent (H+L) 1:250 Vector Laboratories / BA-1000
3.3- Estereologia Um dos mais recentes avanos envolvendo o dissector ptico a
combinao do dissector ptico com o fracionador de amostras. Esta combinao
conhecida na literatura como fracionador ptico (West, 2002), tem numerosas
vantagens prticas, sendo a principal o fato de no ser afetado pela retrao do
tecido e no requerer definies rigorosas de fronteiras estruturais que podem ser
feitas em objetivas de baixo aumento. O fracionador ptico envolve contagem de
objetos (neurnios e glia no presente trabalho), com sondas de dissectores pticos,
em uma amostra sistemtica uniforme que constitui uma frao conhecida do
volume da regio sendo analisada. Na prtica, isto feito atravs de amostragem
sistemtica de uma frao conhecida da espessura da seco, de uma frao
conhecida da rea seccional e de uma frao conhecida do nmero de seces que
incluem a regio de interesse.
Tabela 04: Relao entre Magnificao de Objetivas Acromticas. (Dorph-Petersen et al., 2001)
Magnificao Abertura Numrica Profundidade Focal (m)
4 0,1 172,5
10 0,25 27,6
40 0,65 3
100 1,3 0,7
Cada anlise estereolgica comea com o delineamento das fronteiras da
regio de interesse em uma srie de seces randmicas e sistemticas (Howard
e Reed, 2005). Em nosso caso as fronteiras das regies de interesse podem ser
facilmente reconhecidas em seces coradas com Nissl e os limites do hipocampo
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podem ser traados em imagens de vdeo em um computador acoplado a um
microscpio utilizando objetivas de baixo aumento (e.g. 3.2x).
Para analisar sistematicamente a rea delimitada em baixo aumento
necessrio mudar para uma objetiva de grande aumento (100x) com elevada
abertura numrica e reduzida profundidade de foco (Schmitz e Hof, 2005). A Tabela
04 ilustra a relao entre o aumento de objetivas acromticas, abertura numrica e
profundidade de foco.
Nos trabalhos empregando microscopia ptica onde apenas uma frao
mnima do nmero de objetos de interesse contada, s possvel falar de
estimativas acerca do nmero deles dentro da regio de interesse. Para obter
estimativas confiveis (que se aproximam do real) a partir de uma diminuta frao
amostral, necessria a utilizao de coleta sistemtica e aleatria de dados
incluindo a terceira dimenso. Essa alternativa assegura a estimativa adequada do
nmero total de clulas dentro da rea de interesse a partir do nmero de clulas
detectadas em cada caixa de contagem da amostra e da probabilidade amostral
(Schmitz e Hof, 2005).
Entretanto mesmo com todos esses cuidados a incerteza nas estimativas
ainda permanece e decorrente de outras fontes de erro possveis como aqueles
introduzidos pelos pressupostos do operador acerca dos grupos experimentais,
pelas alteraes induzidas nas seces pelo processamento do tecido, pela
ambiguidade no reconhecimento de reas ou dos objetos de interesse. Para
minimizar esse tipo de incerteza necessrio executar uma srie de procedimentos
controle como ensaio duplo cego, escolhas adequadas no processamento tecidual
incluindo fixao, plano de corte, imunohistoqumicas seletivas, garantindo a cada
passo que todas as regies da estrutura tenham a mesma probabilidade de
contribuir para a amostra reduzindo a ambiguidade no reconhecimento dos limites
da regio assim como nos objetos da contagem.
O processo inteiro consiste, em resumo, em dois passos:
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45
1 Passo Amostragem: que exige acesso estrutura inteira com todas as
regies de interesse com chances similares de contribuio para a amostra assim
como, o reconhecimento dos objetos de interesse sem ambiguidade.
2 Passo Medidas: que exige o uso de mtodos baseados em design
(medidas tridimensionais) ao invs de mtodos baseados em suposies (medidas
bidimensionais).
As anlises estereolgicas para contagem neuronal e microglial foram
realizadas atravs do programa StereoInvestigator (MicroBrightField, Williston, VT,
USA) integrado a um microscpio ptico Nikon com platina motorizada para os eixos
X, Y e Z e um computador, onde os dados das coordenadas tridimensionais eram
registrados, o controle da platina e a execuo do programa era feito.
Ao iniciarmos o procedimento de contagem, caixas de contagem so geradas
automaticamente pelo programa em cada um dos pontos de interseco da sonda
estereolgica com o plano onde est situada a fatia (Figura 10). Para isso o
experimentador alimenta o programa definindo as dimenses da caixa, da matriz de
contagem e da frao amostral de seces.
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46
A escolha dessas dimenses e da frao amostral feita em ensaio
preliminar (por tentativa e erro) at que o coeficiente de erro de uma fatia individual
seja adequado para obter resultados mdios para o conjunto de seces com baixo
Figura 10. Contorno da formao hipocampal mostrando as caixas de contagem (50 x 50 m) geradas pelo programa em cada ponto de interseco do contorno da seco com a sonda estereolgica (grid de 350 x 350 m).
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coeficiente de erro. Em cada caixa de contagem so marcados os objetos de
interesse (neurnios e glia). Os neurnios marcados em cada caixa geram
informaes para o programa acerca do nmero e da posio das clulas contidas
em cada caixa. A partir dessas informaes colhidas sistematicamente na frao de
seces eleitas para contagem, o programa estima o nmero esperado de objetos
de interesse (neurnios e micrglia) na estrutura inteira.
A figura 11 mostra um bloco de 8m de altura em planos de foco situados a
cada 2m ao longo do eixo Z. As linhas brancas do bloco so linhas de incluso, ou
seja, qualquer clula que cruze essa linha ou que esteja contida integralmente na
caixa deve ser contada, enquanto que as clulas que interceptam as linhas negras
no so contadas.
Em nosso protocolo, o corpo celular ser utilizado como unidade de
contagem e o foco escolhido para posicionar o marcador, a cromatina nuclear das
clulas da glia e o nuclolo do neurnio. No caso da micrglia o local do registro de
contagem ser feito quando seu soma estiver em foco. Cuidado especial ser
tomado para evitar contagens repetidas do mesmo objeto nos diferentes planos de
Figura 11. Contagem do nmero de micrglias em uma caixa de contagem de 10um de altura. A figura mostra uma sequncia de 6 fotomicrografias distanciadas de 2m entre dois planos de foco consecutivos. A primeira fotomicrografia representa 2um de zona de guarda onde clulas no so contadas. Em azul, clulas da glia e neurnios corados por Nissl e em preto micrglias coradas por IBA-1. Seta branca indica a nica clula que foi contada nesta caixa de contagem. Magnificao: 100x. Escala: 25um.
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48
foco. Para isso o procedimento de focalizao repetido avanando e recuando o
micrmetro do microscpio para obter os diferentes planos de foco ao longo do eixo
Z, particularmente quando coexistiam muitas clulas na mesma caixa.
A estimativa do nmero total de neurnios dentro da regio de interesse ser
obtida atravs do mtodo do fracionador ptico, multiplicando-se o nmero de
neurnios contados dentro de cada bloco pelos valores de probabilidade da
amostra. Esses valores dependem: 1) do nmero de seces investigadas
comparadas com o nmero total de seces que contm a regio de interesse
section sampling fraction; 2) da rea dos blocos de contagem comparada com a
rea da matriz de contagem area sampling fraction; e 3) da altura do bloco de
contagem comparada com a mdia da espessura da seco aps os procedimentos
histolgicos thickness sampling fraction, (Howard e Reed, 2005).
1 1 1 Onde,
N nmero total de neurnios
Q nmero de neurnios contados
ssf section sampling fraction = frao amostral das seces de interesse =
seces contadas/total de seces
asf area sampling fraction = frao amostral da rea de interesse = rea da caixa
de contagem/rea da matriz (x,y)
tsf thickness sampling fraction = frao amostral da espessura da seco
contada = espessura da caixa de contagem/espessura da seco
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3.4- Anlise Estatstica
Por razes metodolgicas no se pode contar o nmero total de neurnios
existentes numa dada regio do encfalo muito menos no crebro como um todo.
Assim, o mximo que se pode pretender realizar estimativas que se aproximem
ao mximo do que seria esperado (Cruz-Orive, 1994; Schmitz, 1998). Existem dois
mtodos estereolgicos desenvolvidos para estimar o nmero total de objetos de
interesse: o fracionador ptico j descrito e o mtodo que estima o nmero total de
clulas multiplicando a densidade mdia de clulas pelo volume da regio de
interesse. A densidade mdia obtida a partir de amostragem aleatria e
sistemtica da regio inteira que se pretende analisar (Schmitz e Hof, 2000). Para
contornar o problema da impossibilidade de calcular o erro verdadeiro em
experimentao biolgica por conta de no se poder contar tudo, recentemente foi
feita avaliao computacional simulando grande quantidades amostrais.
Esse estudo demonstrou que as estimativas do nmero total de objetos de
interesse (neurnios e/ou glia no caso presente), obtidas a partir do fracionador
ptico, so do ponto de vista estatstico e do ponto de vista do esforo empreendido
mais eficientes do que as estimativas a partir da densidade e volume (Schmitz e
Hof, 2000). Alm disso, vrias maneiras de se estimar o erro foram testadas em
amostras simuladas por computador de modo a encontrar um modo de calcular o
coeficiente de erro que se aproximasse o mais possvel do erro verdadeiro.
Comparando o coeficiente de erro verdadeiro pra grandes amostras com o
calculado por diferentes mtodos, encontrou-se que o coeficiente de Scheaffer o
que mais se aproxima do erro verdadeiro (Glaser e Wilson, 1998). Assim, no
presente trabalho deu-se preferncia ao fracionador ptico como mtodo
estereolgico e ao coeficiente de Scheaffer como instrumentos de medida.
Utilizando esse coeficiente para estimar o erro, definiu-se que a grade e as
dimenses da caixa de contagem seriam adequadas quando o coeficiente de
Scheaffer fosse menor do que 0,05.
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50
Assim, a preciso de estimativas individuais expressa pelo coeficiente de
erro que para amostras sistemticas declina muito mais rpido do que para
observaes independentes (Gundersen et al., 1999). Por conta do fato de que o
coeficiente de erro representa a variao devido incerteza metodolgica
intrnseca, associada com a estimativa estereolgica, ele sempre contribui menos
para o coeficiente de variao total do que a variao biolgica.
A anlise de varincia (ANOVA um critrio) ser aplicada para estimar
possveis diferenas entre o nmero de clulas das vrias regies e diferenas
morfolgicas em todas as comparaes envolvendo mais de dois grupos e o teste
de Tukey ser escolhido para detectar tais diferenas.
O Teste-T de Student ser utilizado para detectar as diferenas quando a
anlise envolver apenas dois grupos. Quando o teste t bicaudal indicar valor de p
menor que 0,05 os grupos sero considerados significativamente distintos.
3.5 Morfometria Baseada em Reconstruo Tridimensional
Para a reconstruo tridimensional das micrglias utilizamos o microscpio
ptico (Eclipse 80i, NIKON) com platina motorizada e conversores anlogo-digitais
(MAC6000 System, Ludl Electronic Products, Hawthorne, NY, USA) para converso
digital da informao relativa s coordenadas espaciais (X, Y, Z) de cada ponto
digitalizado. Esse sistema acoplado a microprocessador que controla os
movimentos da platina com auxlio de programa especializado (Neurolucida,
Microbrightfield, Williston, VT, USA) e estoca as coordenadas dos pontos de
interesse. No sentido de se evitar ambiguidades na identificao dos objetos de
interesse e garantir maior preciso nas reconstrues, a objetiva de 4,0x era
substituda por outra PLANFLUOR, 100X (NA 1.3; DF = 0.2 m; Nikon, Japan)
utilizada para as reconstrues tridimensionais realizadas.
O estudo morfolgico fornece dados para uma anlise qualitativa e
quantitativa e permite tambm a determinao da distribuio dos objetos de
interesse reconstrudos (Acsdy et al., 1998).
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51
Parmetros de medida para caratersticas individuais geralmente podem ser
divididos em quatro classes: medidas de tamanho, forma, posio e brilho. Medidas
de tamanho como rea projetada, permetro e comprimento so razoavelmente
familiares experincia a humana. Ao contrrio do tamanho que se pode estimar
quantitativamente com certa facilidade, a forma um conceito mais abstrato onde
necessrio muitas vezes utilizar comparaes para caracterizao dos contornos
de um objeto. A maioria das medidas de forma so combinaes adimensionais de
medidas de tamanho. Um parmetro de forma que relativamente familiar
experincia humana a excentricidade, que calculado como
.
O recproco deste parmetro tem sido empregado por muitos anos em
trabalhos antropomtricos designado como ndice ceflico.