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Universidade Metodista de São Paulo Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Regional
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
PENSACOM BRASIL – São Bernardo do Campo, SP – 16 a 18 de novembro de 2015
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A Desconstrução e Construção do Imaginário Religioso na
Revista Ave Maria na década de 1980.1
Luís Erlin Gomes GORDO2
Universidade Metodista de São Paulo, São Paulo, SP
Resumo
O presente artigo visa analisar por amostragem algumas capas da revista Ave-Maria na
década de 1980, e assim perceber a forte influência da Teologia da Libertação na linha
editorial deste veículo, que em décadas passadas se prestava a ser um instrumento de
manutenção da devoção popular (posições antagônicas). A metodologia utilizada será os
elementos da Hermenêutica de Profundidade de Thompsom, que nos ajudará a destacar
a tentativa de construção de um novo imaginário religioso em que o imagem do Deus
escatológico é “substituído” pelo Deus encarnado na figura do povo que sofre.
Palavras-chave:
Catolicismo; Comunicação Popular; Teologia da libertação; Imaginário.
A revista Ave Maria é uma das mídias impressas mais antigas do catolicismo
brasileiro, são 117 anos de história, a revista nasceu para ser um veículo de
comunicação que sustentasse a fé da Igreja por meio da devoção popular. O próprio
nome “Ave-Maria” remete à saudação do anjo a Maria, que posteriormente por força da
devoção acabou se tornando uma oração recitada repetidamente. A devoção a Maria é
uma das marcas do imaginário católico. A trajetória histórica da revista acompanha o
pensamento tradicional da Igreja até o Concílio Vaticano II (1962-1965), a partir desse
evento há uma ruptura do entender a devoção popular, sobretudo na América Latina
com as Conferências Episcopais de Medellín e Puebla. A religiosidade popular começou
a ser entendida, por muitos teólogos, como a “responsável” de uma religião sem
compromisso.
1 Trabalho apresentado no GT Comunicação Eclesial, do PENSACOM BRASIL 2015 2 Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo. Filósofo, Teólogo e Jornalista. É padre da Congregação dos Missionários Claretianos. Atualmente é doutorando em Comunicação Social na Universidade Metodista de São Paulo. E-mail: [email protected]
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A revista assume essa nova ideologia buscando se distanciar desse imaginário
religioso que parecia neste novo modelo de pensamento - um tanto infantil, propondo
assim uma releitura dos elementos fundamentais da fé embasados no compromisso
social e político. A Teologia da Libertação foi a expressão máxima desse novo entender
a função da Igreja, sobretudo dentro do nosso continente. Na década de 1980, a Ave
Maria assume um papel de “purificação” da fé ingênua desempenhando certo
protagonismo da Teologia da Libertação no Brasil, na clara tentativa de recriar o
imaginário de Deus, da religião e da ação cristã.
A base metodológica de análise do objeto a ser estudado será Hermenêutica de
Profundidade (HP) criada por John B. Thompson é um referencial na analise de um
objeto fugindo da superficialidade, isto é, uma interpretação além da Doxa. Ter em
conta as formas simbólicas e o contexto sócio-histórico em que elas habitam nos levará
a uma análise interpretativa ampla e profunda.
O método da HP (THOMPSON, 2009, p. 379)) é dividido em três fases: 1)
Análise sócio-histórica - nesta etapa da pesquisa levam-se em consideração as
condições sociais e históricas da produção, distribuição, circulação e a recepção do
formato simbólico. 2) Análise formal ou discursiva – o segundo passo da análise está
voltado para as formas simbólicas em si, suas organizações internas, suas características
de estrutura, padrões e relações. 3) A interpretação / reinterpretação – o olhar do
pesquisador tenta sintetizar, criar possíveis significados das formas simbólicas (o que
dizem). A carga ideológica do objeto é o fator a ser desvendado: Interpretar a ideologia
é explicitar a conexão entre o sentido mobilizado pelas formas simbólicas e as relações
que este sentido ajuda a estabelecer.
O artigo não pretende esgotar o assunto, mas dar pistas para uma análise de
conjunto, portanto, embora o tempo pesquisado faça referência aos anos de 1980, foram
escolhidas somente algumas capas como amostragem.
1- Análise sócio-histórica (Primeira fase)
A Revista, desde 1898 circula ininterruptamente (via assinaturas). A Revista
nasceu com um viés estritamente devocional de manutenção da fé católica nos ditames
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tradicionais da ortodoxia, também existia a clara intenção de ser uma oposição a duas
correntes que cresciam no Brasil neste período, o protestantismo e o espiritismo.
Antes do Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja viveu um período longo de
sua história, apoiada em uma liturgia mais voltada para ao clero e aos religiosos do que
para os fiéis. A simbologia católica dos sacramentos, de modo especial da missa era
muito difícil de ser assimilada, vale lembrar que no ocidente a liturgia seguia o rito
romano, e independente do país onde se celebrava os ritos eram em latim. A grande
massa de fiéis praticamente analfabetos, impossibilitados de se aproximarem do
mistério da fé, começaram a criar maneiras próprias de viver o catolicismo.
A religiosidade popular se firma neste contexto, onde praticamente era
impossível ao povo simples entender a centralidade da fé em Cristo. Como uma espécie
de compensação brotam espontaneamente maneiras “simplificadas” de aproximação do
Divino: o culto aos santos; Nossa Senhora; as novenas; romarias e rezas faziam com que
o fiel católico dessa época pudesse expressar sua fé. A revista Ave Maria desde a sua
origem estimula a prática devocional e ao mesmo tempo tentava ser uma ferramenta
apologética em defesa da tradição católica.
O Vaticano II quis aproximar a liturgia oficial (romana) do povo, vemos isso na
Constituição Sacrosanctum Concillium. As missas começam a ser celebradas nas
línguas vernáculas. Há uma conclamação dos padres conciliares em focar a fé cristã
católica no mistério salvífico de Cristo. A interpretação dessa grande novidade do
Vaticano II abriu portas para o entendimento de que a religiosidade popular deveria ser
purificada.
A devoção começou a ser vista por muitos como algo ingênuo, de manutenção
do poder constituído. A fé nos santos que intercedem e podem realizar curas e milagres,
foi entendida como oposição à centralidade da fé em Cristo defendida pelo Vaticano II.
O teólogo católico João Batista Libânio em um artigo em sua página web escreve:
Ares críticos invadiram a Igreja. Via-se na religião popular uma força alienadora. Elementos da crítica marxista vulgarizavam-se. Temia-se que a Igreja com sua pastoral religiosa mantivesse o sistema de opressão. As baterias se voltaram contra as expressões religiosas que eram julgadas como causa de alienação social. Dentro da própria Igreja, criticavam-se formas religiosas populares como inadequadas para o
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ideal da reforma litúrgica proposta pelo Concílio Vaticano II. Jogava-se com o binômio: tradição e renovação. Para renovar a liturgia, tinha-se que transformar as expressões religiosas tradicionais. (LIBÂNIO, 1999)
Foi justamente neste espaço temporal que, inclusive, muitos templos católicos
eliminaram o uso de imagens religiosas em seus altares.
Na América Latina o Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) reunido
em Medellín na primeira assembleia pós-concílio (1968) para adequar as conclusões
conciliares em nosso Continente, interpretou a religiosidade popular como uma pastoral
de conservação, se falava na época que era necessário uma pastoral apta, que gerasse
transformação.
O livro A Igreja na atual transformação da América Latina à luz do Concílio
(Conclusões de Medellín), ilustra bem essa nova concepção acerca da religiosidade
popular:
A expressão da religiosidade popular é fruto de uma evangelização do tempo da Conquista, com características especiais. É uma religiosidade de votos e promessas, peregrinações e de um sem-número de devoções (...) Esta religiosidade mais do tipo cósmica, em que Deus é a resposta para todas as incógnitas e necessidades do homem, pode entrar em crise e de fato já começou a entrar com o conhecimento científico do mundo que nos rodeia. (MEDELLÍN, 1969, p. 89-90)
A América Latina talvez seja o território eclesial em que mais houve uma
aproximação do sagrado por vias da devoção popular. Aqui várias culturas se
mesclaram: a europeia, a africana e a indígena, cada uma com sua maneira própria de
entender o metafísico, contribuíram para a formação do imaginário religioso Latino-
Americano.
O livro do teólogo Idígoras, Vocabulário Teológico Para a América Latina,
mesmo sendo publicado no final da década de 1970, ainda acentua bastante essa
hermenêutica controversa de assimilação do Concílio:
Assim, se impõe uma pastoral de evangelização que procure desenvolver valores mais fiduciais, dinâmicos e sociais na fé do povo. Trata-se de transmitir-lhe gradualmente o novo espírito cristão, tal como ele se expressou nos documentos do Concílio Vaticano II, de Medellín e Puebla. Ou seja, um cristianismo que brote do compromisso sincero da fé em Cristo e da entrega aos irmãos e que implique na transformação
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do mundo em que vivemos com os ideais de justiça e paz. (IDÍGORAS, 1979, p. 422)
O Documento de Medellín chega a convocar os meios de comunicação social
para aplicarem uma catequese adequada, que purificasse a religiosidade popular:
[...] A pastoral popular deverá adotar exigências cada vez mais crescente para conseguir personalização e comunidade de vida, de modo pedagógico, respeitando as diversas etapas do caminho de Deus. Respeito não significa aceitação e imobilismo, mas convite para uma experiência mais completa do Evangelho, e uma reiterada conversão. Para isto, torna-se necessária a estruturação de organismos pastorais convenientes [...] Sublinha-se a importância dos meios de comunicação social para uma catequese adequada. ( MEDELLÍN, 1969, p. 93)
A revista Ave Maria como veículo de comunicação histórico e de prestígio no
catolicismo brasileiro começou a se distanciar de muitos elementos que denotassem a
pura religiosidade popular e que estavam associados a sua identidade, para assumir uma
postura de engajamento religioso político.
Na década de 1980, a Revista passou a ser um dos grandes expoentes da
Teologia da Libertação no Brasil, Teologia essa, que com a leitura Orante da Bíblia
difundida nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), discutia questões políticas e
sociológicas com a clara intenção de despertar nos fiéis o compromisso de lutarem por
seus direitos nos mais diferentes âmbitos: moradia, saúde, terra, igualdade social,
emprego.
Vale lembrar que neste período o Brasil ainda sofria com os efeitos da ditadura
militar, a desigualdade social era gritante, e a sociedade se mobilizava em manifestações
exigindo seus direitos nos mais variados campos. A Igreja Católica e muitas outras
denominações cristãs defendiam os movimentos pela reforma agrária, por melhores
condições salariais e de vida digna em geral.
Um dos grandes impulsos para esse novo imaginário religioso foi a Conferência
Episcopal de Puebla (1979), em que a Igreja latino-americana apontava como linha
principal de ação evangelizadora a opção preferencial pelos pobres.
O teólogo Idígoras ao tratar o tema da liberdade em seu livro, faz uma descrição
clara sobre a nova forma de compreender a fé neste contexto:
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Na América Latina, torna-se cada vez mais forte ao clamor pela libertação total dos povos. O Cristão não se pode limitar a formar um reino interior de liberdade em seu coração ou esperar a libertação do futuro escatológico. É preciso agir no sentido de mudar as estruturas sociopolíticas injustas que impedem que muitos homens possam libertar-se de suas escravidões. Depois de longos anos de intimismo ou de um escatologismo desligado do presente, hoje se torna mais necessária do que nunca uma luta consciente para melhorar a situação dos povos, especialmente dos mais oprimidos e abandonados. (IDÍGORAS, 1983, p. 257)
2- Análise formal (segunda fase)
- A devoção tradicional
Antes da análise de algumas capas da revista Ave-Maria da década de 1980, é
interessante observar o imaginário religioso presente na revista antes e durante o
Concílio Vaticano II, que de alguma forma, sintetiza e retrata a história da revista desde
a sua fundação (final do século XIX), marcada pela devoção popular tradicional e
manutenção da fé católica. Para só depois assumir uma postura de reconstrução do
simbólico religioso na década de 80. Na figura 1 (1960), vemos a Imagem de Nossa
Senhora de Fátima, marco da devoção popular. Fátima, segundo a Igreja, ao se
manifestar no início do século XX dizia que o mundo seria salvo através da oração do
rosário, do jejum e da penitência. Sua mensagem fazia referências às profecias que
incluíam o perigo do comunismo e a ameaça política da Rússia. O “imaginário” Fátima
é um marco do catolicismo mais conservador, por isso, estampa a capa da revista neste
período, fato impensado na década de 1980.
Outro exemplo deste período, encontramos na figura 2 (1963), na qual a capa da
revista trás uma imagem tradicional de Cristo ressuscitado com a seguinte legenda:
Confiança! Nossos sofrimentos cristãos, como martírio da Paixão de Jesus, terminam
sempre com as alegrias e glória da ressurreição. Percebe-se na frase um certo
conformismo com a realidade terrena de sofrimento e injustiças, o que verdadeiramente
importa é o céu, lá sim seremos felizes.
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Década de 1980 – A desconstrução do tradicional
A realidade da revista Ave Maria neste contexto história está muito relacionada
aos movimentos sociais que emergiam no Brasil neste período, muitos deles
impulsionados por movimentos cristãos tendo por base à própria Teologia da
Libertação, podemos fazer está constatação lendo as palavras da Maria da Glória Gohn,
no artigo Movimentos Sociais na Contemporaneidade:
No Brasil e em vários outros países da América Latina, no fim da década de 1970 e parte dos anos 1980, ficaram famosos os movimentos sociais populares articulados por grupos de oposição aos regimes militares, especialmente pelos movimentos de base cristãos, sob inspiração da teologia da libertação. (GOHN, 2011)
Na década de 1980, entramos num período em que o imaginário religioso se
desapega do conservadorismo e se apoia em uma religião voltada às causas sociais e
políticas, em que a luta e reivindicação pelos direitos sociais e políticos são incentivados
pela revista, como forma legítima de militância religiosa. Nesta década não vemos as
capas com imagens angelicais reportando ao céu. Vemos o rosto do povo sofredor como
imaginário do Cristo que padece hoje, personificado nestas pessoas excluídas que não
têm voz e nem vez. A revista deseja ser um veículo que coloca essas pessoas em
evidência, denunciando a situação precária que muitas delas viviam e exigindo, por
assim dizer, a dignidade do ser humano.
Vemos na figura 3 (1983) uma família de retirantes, a discussão que a revista
propõe com essa capa é a falta de trabalho, sobretudo no campo, o que obriga muitas
famílias a migrarem para as cidades, criando assim, guetos que são as favelas,
denunciando ao mesmo tempo o paradoxo da desigualdade social. A família retratada
(de pele branca) caminha por uma estrada, não se percebe muita esperança em seus
olhos, deixa para trás o campo e se dirige para o incerto. Na capa de outubro do mesmo
ano de 1983 (figura 4), estampa duas crianças (negras) também com olhar sem
perspectiva, o tema central é a situação do povo nordestino que é flagelado e explorado.
Outra chamada faz referencia a Nicarágua, um país emblemático na década de 1980 na
luta social, a revista aponta o exemplo desse país, na tentativa de suscitar nos leitores o
desejo de fomentar aqui no Brasil o mesmo engajamento político.
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A juventude como agente de mudança aparece na figura 5 (1884), um jovem
com uma camiseta com a estampa de Che Guevara, expressa o imaginário de uma
revolução contra o capitalismo. “Libertar para viver” e “O senso crítico da liberdade”
sinalizam claramente a incidência da Teologia da Libertação sobre o conteúdo da
revista. Em oposição à famosa frase “o jovem é o futuro”, a revista dá voz aos jovens
que dizem: “nós estamos sem futuro”. A capa da revista de março de 1984 (figura 6)
mostra o lema da Campanha da Fraternidade deste ano “Para que todos tenham vida”
(João 10,10), embora o cartaz oficial da campanha fosse outro, a revista utiliza como
ilustração uma imagem bem mais contundente, duas crianças negras em situação de
pobreza sentadas na porta de um barraco, neste número da revista não há outras
chamadas, somente o lema da Campanha em destaque. Em Outubro de 1984, mês
tradicionalmente dedicado pelo catolicismo brasileiro a Nossa Senhora Aparecida, a
revista em vez de trazer a imagem de Maria, seguindo a lógica devocional, destaca a
figura do negro, através do homem simples, com um semblante bastante sofrido, a
revista associa a força simbólica de Aparecida (imagem negra) com a situação do negro
no Brasil. A chamada principal deste mês é: “O problema racial no Brasil – Desce de
novo às redes da vida do teu povo negro, negra Aparecida.”
No ano de 1987, por ocasião da Páscoa (figura 8), festa máximo do cristianismo
a solenidade da ressurreição de Cristo é simbolizada por uma pintura de Cerezo
Barredo, um emblemático sacerdote e artista espanhol, que viveu muito tempo na
América Latina, aqui se apaixonou pela Teologia da Libertação e assim começou a
retratar o imaginário sagrado com traços latino-americanos. Esta capa deixa bem claro
essa concepção de que a fé deveria ser inculturada. Cristo apresenta características
indígenas e negras ao mesmo tempo, a cruz é um pano de fundo, o que se sobrepõe é a
vitória, a vida que vence a morte, não há sinal de conformismo, mas de resultado
positivo da luta empreendida. Nas chamadas aparecem as expressões: “A força da
ressurreição de Cristo” e “Uma nova Páscoa”, a expressão “nova” parece ser
intencional, é necessário uma nova forma de conceber a fé, uma vez que a Páscoa
sintetiza a crença cristã, refundar a Páscoa seria o mesmo que refundar a própria fé.
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3- A interpretação/reinterpretação (terceira fase)
Thompson ao apresentar essa terceira fase, esclarece que “a interpretação
implica um movimento novo de pensamento, ela procede por síntese, por construção
criativa de possíveis significados” (2009, p. 375). Ao analisarmos as capas da revista
Ave Maria é perceptível o divórcio da revista tradicional com a nova proposta
apresentada, na defesa de uma Igreja totalmente inculturada, que enxerga no pobre e no
marginalizado o rosto do Divino. Nota-se assim, uma desconstrução do imaginário
religioso defendido por séculos pela religião Católica, de uma fé embasada em
princípios celestes e pouco terrena, para uma nova mentalidade que apresenta a figura
do pobre com o rosto encarnado do próprio Deus.
Dentro da concepção de criação de um novo imaginário religioso, cito
CASTORIADIS (1986, p. 237) que trabalha a resignificação constante e progressiva da
criação e recriação do imaginário: “A criação, contudo, enquanto obra do imaginário
social, da sociedade instituinte (societas instituans, e não societas instituta) é o modo de
ser do campo social-histórico mediante o qual esse campo existe. A sociedade é
autocriação que se desdobra como história”.
Após o Concílio, a Igreja, embora apoiada em alguns dogmas, entra em um
estado de societas instituans, por isso, neste contexto há uma resignificação de
diferentes valores, a centralidade da fé permanecesse intacta (valor sacramental), porém
as representações do imaginário do sagrado entra crise para se recriar. A Igreja na
América Latina, respeitando sua história e condição social, se apoiou no convite do
Concilio à renovação para provocar um entender religioso bebendo nas fontes de nossa
cultura. Os documentos de Medellín e Puebla, na interpretação e aplicação das
mudanças conciliares em nossa realidade, institucionalização uma nova forma de atuar
da igreja para o nosso continente. A Teologia da Libertação que nasce graças a essas
interpretações, parece trazer para dentro da Igreja, uma liberdade de construir
concepções acerca da fé, situação impensada antes na instituição. A Igreja Católica na
América latina, preservando o Ser, que é Cristo, busca sua representação não mais no
Deus Rei, na Glória, na Porta do Céu, mas no Jesus do lava-pés que está a serviço. Uma
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citação de Castoriadis, nos faz entender melhor este movimento renovador: “ [...] deixar
de colocar questões privadas de sentido acerca dos ‘sujeitos’ e das ‘substancias’, ou das
‘causas’, requer uma conversão ontológica radical.” (1986, p. 237).
As capas selecionadas da revista para esta análise nos fazem perceber essa
ruptura conceitual do imaginário religioso, a revista trabalha em sua linha editorial para
apresentar aos leitores um novo entendimento da fé, e consequentemente a necessidade
de concretizar a fé em atitudes, neste caso na luta pelos direitos sociais.
Os dois primeiros exemplos, (figura 1 e 2), demonstram o imaginário religioso
apoiado na concepção de que a nossa vida aqui na terra, ela é uma passagem muito
rápida, e de alguma forma não tem muita importância, o que verdadeiramente importa é
fazer de tudo para se chegar ao céu, Pátria Definitiva. A Imagem de Nossa Senhora de
Fátima é um ícone deste pensamento, pois a mensagem central de suas aparições,
segundo a Igreja, faz referência ao céu, inferno e ao purgatório. As armas de luta contra
tudo aquilo que nos impossibilitaria de chegar ao céu são a oração e a mortificação. A
chamada da capa na figura 2, também reforça o imaginário de resignação, não importa o
sofrimento deste mundo, parece até bom que soframos, pois assim como Cristo,
receberemos o prêmio da vitória após nossa morte.
A expressão conversão radical, descrita por Castoriadis manifesta claramente a
mudança ontológica sofrida pela revista na década de 1980. Em se tratando do termo
conversão, a Editora Ave-Maria publicou, em 1985, um livro chamado “A Utopia Cristã
– Fé em termos de Libertação”, em que o autor José Cristo Rey Garcia Paredes, um
teólogo espanhol vivendo no Brasil neste período, escreveu sobre a necessidade da
Igreja passar por uma conversão profunda, ele inclusive aponta a dificuldade desses
convertidos aturarem livremente por causa dos católicos tradicionais:
Também hoje a verdadeira conversão ao Evangelho de Jesus Cristo suscita receios, críticas injúrias por parte daquele que se conformam com um cristianismo convencional, com uma religião sem radicalidade, sem compromisso. As provações e críticas provêm fortemente dos próprios católicos, acostumados a um cristianismo fácil e tradicional e fechados a qualquer novidade na sua vivência. Estes cristãos tradicionais não compreendem a caminhada da Igreja após o Concílio Vaticano II, após Medellín e Puebla; eles pensam conversão simplesmente como participação sacramental, isto é, como
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confissão e culto dominical; não percebem, nem querem perceber, que o seguimento de Cristo na América Latina exige uma conversão a Deus, manifestada numa opção pelos pobres. (PAREDES, 1985, p. 15)
Este livro publicado pela editora estabelece que a influência da Teologia da
Libertação não atingiu somente a Revista, mas essa ideologia estava também presente
na linha editorial adotada pelos Missionários Claretianos, responsáveis por ambas as
mídias. A publicação do livro “A Utopia Cristã” em 1985, faz com que entendamos
melhor o posicionamento da revista nesta década, e assim se torna possível
compreender as capas com tamanho apelo social.
No segundo capítulo deste livro, PAREDES intitula a reflexão como “A nova
imagem de Deus”, deixando claro que precisamos recriar a imagem que temos do
sagrado, renovando a imagem de Deus, estaríamos também dando uma nova
compreensão acerca do ser humano, ou vice-versa, como o próprio autor afirma: “A
nova imagem do homem como alternativa à imagem de Deus”. Na abertura deste
capítulo podemos ler: “A Imagem de um Deus-comunidade, de um Deus vivamente
interessado pelo homem, criador de transcendência e superação, não merece ser vista
com suspeitas nem ser encarada com desinteresse. Ela é, pelo contrário, a visão ampla
como horizonte, que serve para um enriquecimento da nova imagem do homem.” (1985,
p. 23).
O Documento de Puebla ao determinar que naquele momento histórico (final da
década de 1970) a Igreja fazia opção preferencial pelos pobres, apresenta como uma
nova imagem de Cristo o povo sofredor: “Esta situação de extrema pobreza
generalizada adquire, na vida real, feições concretíssimas, nas quais deveríamos
reconhecer as feições sofredoras de Cristo, o Senhor (que nos questiona e interpela ).”
(PUEBLA, 1982)
A criação de uma nova concepção do imaginário religioso perpassa a
resignificação da própria antropologia cristã, apoiada no humanismo, o homem como
centro de sua história, a Teologia da Libertação aponta essa nova imagem de homem:
Houve épocas em que o cristianismo deu margens a pensar que era anti-humanista: defendia o divino contra o humano, o além contra a vida presente, a cruz e a dor contra os anseios de
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satisfação e felicidades terrenas [...] trata de tristes erros do passado, que devemos superar a todo custo. Concretamente hoje, na América Latina, a missão do cristão não se pode desligar de uma tarefa humanizadora [...] não podemos limitar nossas preocupações a uma religiosidade que talvez contribua para manter situações injustas. É preciso ajudar o homem a ser mais homem. (IDÍGORAS, 1979, p. 234)
E é nesta nova imagem de homem, que a revista Ave Maria aposta e crê,
trazendo para suas capas (figuras 3, 4, 5, 6 e 7), aquela figura que até então era
vergonhosa, era a manifestação pura da “desgraça” a pobreza nua e crua. Não era o
simples fato de destacar a pobreza, ou apresentá-la como ideal, pelo contrário, era dar
voz e cara a uma situação de injustiça, que muitos preferiam ignorar. Era a clara
intenção ideológica, ou utópica de “ajudar o homem a ser mais homem”, com tudo que
isso implica, sobretudo, a possibilidade de uma vida digna.
A figura 8, talvez seja a mais emblemática, na tentativa de recriar o imaginário
religioso, a figura do Cristo Ressuscitado com feições do povo sofrido que a própria
revista trouxe para suas capas nesta década, apresentando um novo imaginário de Deus,
apresenta-se uma nova identidade ao homem:
Esta representação de Deus quebra muitas imagens de Deus, que são imagens interessadas, ‘ideológicas’: aquelas que representam a Deus ‘à imagem do homem rico e poderoso’ [...] A mais surpreendente imagem de Deus foi o Jesus-Servo, o Deus crucificado. Deus manifestou-se na cruz de Cristo, na negação, na pobreza, na fraqueza, como néscio diante do mundo. A teologia da cruz obviou desta maneira o círculo de suspeitas que a ideia de Deus poderia provocar. Que interesse pode ter o homem em criar esta imagem de Deus? Foi assim que Deus se revelou! (PAREDES, 1985, 25)
Dentro desta perspectiva, podemos afirmar que com essas mudanças conceituais
e ideológicas, a revista passou de uma práxis conservadora para uma comunicação
alternativa. Cicilia PERUZZO (2009, p. 132), apresenta o grande diferencial da
comunicação alternativa, que podemos aplicar nesta nova postura da Ave Maria: “Suas
diferenças são percebidas na direção político-ideológica, na proposta editorial – tanto
pelo enfoque dado aos conteúdos quanto pelos assuntos tratados e pela abordagem
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crítica.” Ou seja, as transformações ideológicas, mudaram a identidade da revista neste
período.
Conclusão
A utilização do novo valor simbólico pela revista na década de 1980,
transparece o desejo de construir um novo conteúdo, neste caso levando o leitor a
contemplar uma nova face do Divino, de um Deus que não está alheio aos sofrimentos
do povo, distanciando-se assim de décadas em que o imaginário religioso estava
atrelado a escatologia tradicional.
As capas são um reflexo histórico e situacional da ideologia marcante da época,
não só na Igreja, mas na sociedade de um modo geral – Década marcada por inúmeras
transformações políticas. Ou seja, a Revista Ave Maria se incultura na realidade
resignificando sua própria identidade não mais exclusivamente de revista devocional
para ser agente de transformação sociopolítica.
Mesmo quando a revista utilizava imagens religiosas, ela optava por uma nova
estética valorizando a arte latino-americana em que Jesus, os santos e Nossa Senhora
são caracterizados com traços indígenas ou afrodescendentes, distanciando-se assim da
estética europeia de retratar o sagrado, entendida como forma de dominação.
A linha adotada pela Revista na década de 1980 pode ser iluminada com a
seguinte afirmação: “Não se trata mais de uma Igreja para os pobres, mas uma igreja
de pobres e com os pobres”. (BOFF, 1982, p. 26)
Talvez o grande problema, desta guinada, foi a ruptura drástica no imaginário
religioso do povo, uma coisa são os editores, os teólogos, os eclesiásticos, os estudiosos,
outra eram as inúmeras pessoas que sempre manifestaram sua fé de forma simples
apoiadas em elementos já consolidados da religiosidade popular. O movimento de
inculturação foi legitimo, mas talvez o povo, aquele defendido pela Teologia da
Libertação tenha perdido sua referencia religiosa.
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