a dama e o escorpião

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  • 8/11/2019 A Dama e o Escorpio

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    Samantha Saxon A Dama e o Escorpio

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    Projeto Revisoras 1

    A Dama E O EscorpioA Dama E O EscorpioA Dama E O EscorpioA Dama E O EscorpioThe Lady Killer

    Samantha SaxonSamantha SaxonSamantha SaxonSamantha Saxon

    Frana, 1811.

    Mel... ou veneno?

    Nicole Beauvoire inteligente, charmosa e tem o instinto de uma caadora. Por umacausa nobre e para proteger os inocentes, ela arrisca a vida e a segurana, em seutrabalho de espionagem... At o dia em que se defronta com Daniel McCurren e elelhe faz uma advertncia terrvel... Os franceses prepararam uma armadilha para alinda espi. Nicole no confia em Daniel, mas sente por ele uma atrao irresistvel.Um desejo poderoso que ameaa sobrepujar toda a razo e o bom senso. E quandoos inimigos apertam o cerco, Nicole descobre que o maior risco que ela j correu foicolocar sua vida... e seu corao... nas mos de um homem que no conhece seus

    mais sombrios segredos...

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    Samantha Saxon A Dama e o Escorpio

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    Digitalizao e Reviso: Crysty

    Copyright 2005 by Samantha Saxon

    Originalmente publicado em 2005 pela The Berkley Publishing Group.PUBLICADO SOB ACORDO COM THE BERKLEY PUBLISHING GROUP.

    NY,NY-USA Todos os direitos reservados.

    Todos os personagens desta obra so fictcios. Qualquer semelhana compessoas vivas ou mortas ter sido mera coincidncia.

    TTULO ORIGINAL: The Lady Killer

    EDITORA

    Leonice PomponioASSISTENTE EDITORIAL

    Patrcia Chaves

    EDIO/TEXTOTraduo: Susana Isabel Vidal

    Reviso: Luiz Chamadoira

    ARTEMnica Maldonado

    ILUSTRAOHankins + Tegenborg, Ltd.

    COMERCIAL/MARKETINGSilvia Campos

    PRODUO GRFICASnia Sassi

    PAGINAO

    Dany Editora Ltda.

    2007 Editora Nova Cultural Ltda.Rua Paes Leme, 524 - 10s andar - CEP 05424-010 - So Paulo - SP

    www.novacultural.com.br

    Impresso e acabamento: RR Donnelley Moore

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    No tenha medo, mademoiselle. O homem no vai voltar. Ele vai tentar fugir dohotel o mais rpido possvel.

    O tenente virou-se para sair, mas Nicole agarrou seu brao.

    Por favor, no me deixe aqui implorou aterrorizada.

    Com um suspiro mal-humorado, o militar concordou. Saiu empurrando Nicole juntocom ele pela escada de servio. Desceram dois lances, at o terceiro andar quando,ao virar uma curva da escada, encontraram um mordomo que vinha carregando umabandeja. O tenente continuou a descida rapidamente, deixando Nicole para trs.

    Preciso correr se quiser achar o assassino do general.

    Ela sabia, porm, que o tenente jamais encontraria esse assassino. O generalCapette era to odiado pelos prprios franceses que Napoleo designara guarda-costas especiais para proteg-lo. Capette era valorizado por ter comandado muitasbatalhas vitoriosas. Mas era voz corrente que ele agia de forma brbara paraalcanar essas vitrias e por isso tinha muitos inimigos.

    Tambm se dizia que ele havia violentado uma camareira do hotel e Nicoledesconfiava que essa era a razo pela qual ela prpria conseguira o emprego, oitodias atrs. Para substituir a pobre moa.

    Mataram o general Capette? perguntou o mordomo ao ver o avental manchadode sangue de Nicole.

    Foi sim. Um homem desceu do telhado e entrou pela varanda. E voc? Machucou-se?

    No respondeu, sabendo que, mesmo sem ter sido ferida, depois dessaexperincia nunca mais seria a mesma pessoa.

    O mordomo se ofereceu para acompanh-la at a cozinha, mas ela no aceitou.

    Estou bem, no se preocupe. No deixe seu jantar esfriar.

    Antes que ele insistisse, Nicole desapareceu pela escada at chegar ao andar ondese sentiam os aromas e os sons vindos da cozinha. Cuidadosamente empurrou asportas de vai e vem e entrou.

    O barulho de panelas e de conversas em voz alta invadia o ambiente. Havia frutas everduras coloridas empilhadas em um canto e as cozinheiras trabalhavamanimadamente. Procurou passar por elas sem chamar a ateno para no asatrapalhar naquela que era a hora mais atarefada do dia. Daqui a pouco, todos iamficar sabendo da morte do general. No precisava contar-lhes agora.

    Nicole estava ansiosa para sair logo do hotel porque sentia vontade de chorar e nopretendia faz-lo na frente de todas aquelas pessoas. Achou a porta de servio e, ao

    sair, respirou aliviada a brisa de outono.

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    Caminhou lentamente pela rua de pedras que circundava o elegante hotel e seguiuna direo do rio Sena como fazia todas as noites. Quando chegou s margens dorio, tirou o avental manchado de sangue e a touca da cabea, jogando ambos nasguas caudalosas. Ficou ali observando at que as peas fossem levadas pela

    correnteza e afundassem mais adiante, engolidas pelo redemoinho que se formavasob a ponte.

    S ento rumou para sua casa. No caminho colocou a mo no bolso do uniformepreto que usava, retirou a pistola de cabo prateado e calmamente tratou derecarreg-la. que as ruas de Paris podiam ser bem perigosas noite.

    Nicole despiu o uniforme de arrumadeira e jogou as roupas nas chamas da fornalhaque aquecia a gua da sala de banhos da penso onde morava. O fogo se atiou,formando pequenas rufadas de fumaa que se dissolviam sobre o vapor da guaquente da banheira. Quando acabaram de queimar, ela entrou devagar na pequenabanheira de cobre, absorvendo lentamente o intenso calor e comeou a esfregar ocorpo com um pedao spero de pano. Procurava evitar os arranhes vermelhosque riscavam a pele delicada das costas. Tambm o corte mais profundo que tinhano antebrao, causado pelo pedao de metal que havia se desprendido do telhadojunto com a corda qual ela amarrara a pistola, antes de consumar o ato atroz quehavia cometido.

    Engoliu o sentimento de culpa e continuou a se lavar por muito tempo. Com lgrimasnos olhos, repetia para si mesma que aquilo que fazia, era algo necessrio, que

    aqueles homens continuariam cometendo violncias contra inocentes se algum noos detivesse. E quem melhor para faz-lo, do que algum to maldoso e torpequanto aqueles que ela havia matado?

    Afundou mais na gua, procurando se acalmar, at que os longos cabelos negrosflutuassem espalhados na superfcie. O reflexo das chamas danava formandofiguras nas velhas vigas do teto na sala de banhos da decadente penso.

    Mergulhou por inteiro, submergindo tambm o rosto at ficar sem ar. Se fosse maiscorajosa, pensou, se afogaria de uma vez e tudo teria acabado. Nunca mais

    precisaria matar algum e estaria por fim em paz. Designariam outra pessoa paralevar a cabo os assassinatos.

    Tossiu com fora inclinando a cabea por cima da borda da velha banheira eretomou o flego. Ela j era um ser condenado, lembrou. Por isso era melhor noabandonar a misso e ter um ltimo gesto de benevolncia, evitando que maisalgum precisasse passar pelo inferno que ela vivia.

    Saiu da banheira, se enrolou numa toalha branca e atravessou o corredor at opequeno quarto. Ali era sua morada h dois meses. Sentou na beirada do colchogasto e olhou para a carta que estava na mesinha ao lado. Ela havia sido entregue

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    h trs dias por Andr Tuchelle, o ingls que era o contato secreto de Nicole emParis.

    O envelope, com o lacre, ainda estava intacto. No tivera coragem de abri-lo parasaber o nome do prximo homem que devia matar. Pelo menos enquanto no

    tivesse cumprido sua tarefa anterior, no pretendia saber qual a prxima vitima a sereliminada. Mas agora, o general Capette j estava morto e em breve o homemcitado naquele bilhete tambm estaria.

    Ambos pelas mos de Nicole.

    Colocou o dedo sob o lacre, abrindo parcialmente o envelope. Respirou fundo,reuniu foras e acabou de abrir a carta, onde a firme caligrafia de Andr indicava onome e o lugar do prximo assassinato. Com o corao aos pulos, leu a mensagem.

    No pode ser!

    Seu espanto era imenso. Ainda chocada, apressou-se em esconder a missiva,deixando cair ao cho a toalha de banho que cobria seu corpo. Mesmo nua, enfiou-se entre os lenis da cama e olhou o cu pela janela, pedindo a Deus que lhepermitisse ter ao menos essa noite de repouso. Sabia, porm que os perversosnunca tm chance de descansar e que os condenados, como ela, nunca conseguemdormir:

    Paris, Ministrio da Defesa, 17 de outubro de 1811

    O ministro da defesa estava sentado diante da sua enorme escrivaninha e de costaspara a parede, como sempre. Ficar de frente para a nica porta de entrada doluxuoso gabinete permitia-lhe encarar quem entrasse sem jamais ser pego desurpresa. Talvez fosse uma cautela exagerada, mas o ministro Joseph LeCoeursabia, desde o inicio de sua carreira, que um homem descuidado era um homemmorto. E certamente ele no era um homem descuidado. Sobre a escrivaninhaestava um papel branco, dobrado e fechado com o inconfundvel lacre preto de ceraque o ministro conhecia muito bem. H muito tempo no recebia um comunicado

    como esse. H trs anos, para ser preciso. Quando o abriu e leu, fechou osemblante.

    Merde, maldio! murmurou, irritado. Rousseau, venha c!

    Seu jovem e bem apessoado assistente militar se aproximou, pronto para servi-lo.

    Tenho que lhe dar uma tarefa. Um de nossos agentes foi capturado.

    O major Rousseau ficou ali parado, aguardando instrues, enquanto Josephcontinuava falando, soltando improprios e lamentando a captura do informante que,mediante pagamento, havia conseguido identificar para ele os agentes ingleses que

    atuavam como espies por toda a Frana.

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    Lorde Cunningham, nosso colaborador, foi apanhado e est, detido no Ministriode Relaes Exteriores, em Londres.

    Sem sequer piscar, o major perguntou:

    Quando devo partir?

    Aceitava sem vacilar a ordem de liquidar o informante ingls. Ele prprio haviatreinado Cunningham quando este trara seu pas natal, passando para o lado dosfranceses. Agora era a vez de acabar com ele, evitando que desse com a lngua nosdentes.

    V para Londres esta noite mesmo ordenou o ministro LeCoeur, retirando deuma gaveta uma pilha de libras e entregando-a ao major. J sabe onde procurarajuda por l. Mas lembre que preciso que esteja de volta daqui a duas semanas.

    Oui, fique tranqilo. Nada poder me impedir de resolver o caso de Escorpio.

    O ministro sorriu. Talvez o major Rousseau fosse o nico homem em toda Paris queodiava uma derrota mais do que ele prprio. Escorpio, o assassino ingls, no sos havia enganado, como estava se tornando uma ndoa na brilhante carreira do mi-nistro Joseph LeCoeur. Por isso pretendia captur-lo em breve e pagara uma belasoma de dinheiro a Cunningham para que ele atrasse Escorpio at uma armadilhaque havia arquitetado.

    Sei disso e tenho certeza que nada poder impedi-lo tambm de participar dafesta da imperatriz Bonaparte. Mas lembre-se, quero que Escorpio seja trazido vivo.

    Joseph no via a hora de ter o assassino, Escorpio, na sua frente, sendo submetidoao doloroso corretivo que o major Rousseau sabia aplicar, implorando por sua vidaou pedindo para morrer de uma vez.

    No imagina o quanto um ser humano capaz de suportar antes de morrer disse o major com um sorrisinho. s perguntar ao nosso amigo Cunningham.

    Oui, lorde Cunningham deve lembrar bem o tempo que passou nas suas mos respondeu o ministro, referindo-se aos cuidados mdicos que o lorde precisoureceber depois de ter sido torturado por Rousseau. S que desta vez quero queCunningham seja morto bem rpido. Quem, como ele, foi traidor uma vez nuncamais ser confivel, Ele vender aos ingleses os nossos segredos, tantos quantosqueiram comprar.

    Cunningham sabe algo sobre...

    No, nunca lhe falei a respeito da existncia de Enigma.

    Muito, bem, entrarei em contato assim que retornar disse Rousseau, edespediu-se do major caminhando em direo porta. Quer que lhe traga algo daviagem?

    Sim, me traga a lngua dele.

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    O major Rousseau sorriu de novo com ironia.

    Quer que a corte antes ou depois de mat-lo?

    Joseph levantou o rosto e encarou o olhar negro e frio do major que era seuassassino mais bem sucedido.

    Prefiro que seja antes.

    Com uma reverncia Rousseau saiu do gabinete.

    Ento o ministro, voltou a seu intento: o de armar uma cilada para aquele que era atalentosa contrapartida inglesa do major Rousseau. O Escorpio.

    Uma leve batida na porta do aposento tirou Nicole do pouco repouso que estavaconseguindo e a trouxe de volta realidade. Irritada, levantou-se, acendeu uma vela

    e olhou para o pequeno relgio em cima do armrio. Eram trs e quarenta e oito damadrugada e sabia que s havia uma pessoa capaz de entrar na penso de moasquela hora: Andr Tuchelle, seu contato ingls.

    Esfregou os olhos para acabar de acordar e pegou a toalha de banho, aindamolhada, enrolando-a em volta do corpo e prendendo a ponta entre os fartos seios.No era o traje adequado, mas isso no importava naquele momento. Andr j atinha visto em trajes at mais comprometedores e, alm disso, precisava faz-loentrar no quarto o mais rpido possvel, antes que o vissem ali. Descala, foi at a

    porta e a abriu, segurando a vela na outra mo. Mas o que isso? murmurou surpresa, ao ver que no era Andr.

    sua frente estava a bela figura de um homem alto, fartos cabelos castanhos, olhosmuito azuis e ombros incrivelmente largos. O queixo era forte e bem delineado e seuolhar penetrante perturbou Nicole.

    Desculpe, mademoiselle sussurrou em francs, mostrando-se meio confuso aodar uma olhadela para dentro do quarto e constatar que ela estava sozinha. queme disseram que uma pessoa que conheo morava aqui.

    Sorry... ahn, lamento monsieur... acho que lhe deram informao errada. Euresido aqui h mais de trs meses.

    Compreendo. Perdoe-me ento por t-la incomodado.

    Ele se curvou com garbo, despedindo-se. Tinha a elegncia de quem sabia estar empleno comando do seu corpo. Um belssimo corpo, Nicole precisava admitir.

    No foi nada. At logo respondeu encabulada, ajeitando a toalha melhor sobreo corpo nu e tentando alinhar os cabelos, ainda midos.

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    Observou o corpulento homem se afastar, sentindo um pouco de pena por perd-lode vista. Mas ele deu alguns passos e parou no corredor, retirou algo do bolso dajaqueta e voltou atrs.

    Por que usou uma expresso em ingls? ele quis saber. Maldio! Como que

    ela deixara escapar, no meio de sua conversa em perfeito francs, uma palavrainglesa que podia delat-la, evidenciando que era uma inglesa se fazendo passarpor francesa.

    Pardon, eu disse algo em ingls? tentou disfarar. Oui, disse sim.

    O homem a segurou pelo brao e a empurrou para dentro do quarto, entrando junto.Imediatamente fechou a porta. Nicole estremeceu. Segurava a toalha com fora; asmos tremiam e o corao batia disparado. Com certeza tinha chegado a hora depagar por seus pecados, de receber seu inevitvel castigo. Nem sequer tinha

    coragem de olhar para a mo do homem e ver qual a arma que ele usaria paraaniquil-la. Mas, para sua surpresa, o castigo no veio. Em vez de arma, o homemtinha na mo uma carta, selada com o inconfundvel lacre de Andr Tuchelle, edisse:

    Um amigo me pediu que entregasse isto ao... Escorpio. Nicole abriu a boca,perplexa. Por que que Andr no tinha vindo pessoalmente, como combinado?

    Sabe onde ele se encontra? O Escorpio? continuou o homem.

    Ele? Cada vez mais confusa, Nicole avaliou a situao: a carta era de fato de Andr

    Tuchelle, como o lacre confirmava, portanto o homem devia ser mesmo ummensageiro de Andr. Mas ser que Andr no havia dito a ele que Escorpio eraela mesma, uma mulher e no um homem? Por que? Talvez para proteg-la e norevelar sua identidade, nem mesmo a esse mensageiro.

    Andr est bem? ela indagou, fingindo naturalidade.

    Est sim, pelo menos estava at a ltima vez que o vi.

    Ento por que no veio pessoalmente entregar a carta a Escorpio?

    que Andr Tuchelle est indo embora de Paris e eu fiquei encarregado deavisar Escorpio que todos os agentes ingleses que esto na Frana correm perigo.O Ministrio de Relaes Exteriores me enviou para dar esse aviso. Por seguranaj mandaram Tuchelle voltar a Londres e ordenaram que Escorpio fizesse omesmo.

    Voltar a Londres! Voltar Inglaterra! Nicole estava no s confusa, mascompletamente apavorada. Sentia-se abandonada e sem rumo. Voltar Inglaterrasignificava ser presa imediatamente, ela bem sabia.

    claro que nosso governo proteger no s Escorpio mas tambm aqueles que

    colaboram com ele o homem acrescentou.

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    Nicole fitou seus profundos olhos azuis e s ento entendeu o que estavaacontecendo. Por ser mulher e estar naquele quarto, o mensageiro devia achar queela era a amante de Escorpio. Sim, com certeza era essa a concluso a quechegara, e ela ia usar disso para sua prpria vantagem.

    Deixe-me ler a carta pediu, tentando tir-la da mo do mensageiro. Sinto, mas no posso permitir, mademoiselle. Este comunicado para serentregue a Escorpio, e unicamente a ele.

    Estavam num impasse e Nicole comeava a perder a pacincia. Ocorreu-lhe at aidia de que se tivesse sua pistola mais mo poderia for-lo a entregar a missivaantes de ele reagir.

    Que foi que Andr falou quando lhe entregou a carta?

    S posso revelar isso a Escorpio e no a outra pessoa. Nicole procurou controlara irritao. Em tom mais ameno disse com voz doce:

    que Escorpio e eu no guardamos segredos entre ns. Um sabe tudo da vidado outro, compreende?

    Perfeitamente, e por isso que acredito que no ter nenhuma dificuldade em medizer onde ele est.

    Na verdade no sei onde ele mora. Ele insistiu em que eu no soubesse paraproteger-me.

    Ah, sei... para proteg-la e proteger a si mesmo, imagino. Talvez, se eu lesse a carta poderia ajud-lo a localizar Escorpio. Deve ter sidoessa a inteno de Andr ao mand-lo vir at mim, no acha?

    O homem retesou o maxilar bem delineado, numa expresso que indicava ter elechegado concluso de que no tinha outra opo.

    Est bem. Mas depois que acabar de ler eu tambm quero ver a mensagem.

    Nicole concordou, aproximou-se do corpo alto e musculoso do homem e retirou opapel dos longos dedos. Esperava que a mensagem de Andr fosse suficientementeambgua para que aquele homem no a compreendesse. Ento leu o que estavaescrito, com letra um pouco tremida, mas na inconfundvel caligrafia de Andr.

    Escorpio

    Voc est em grave perigo e deve abandonar todas as ordens anteriores. Osfranceses esto perto de descobrir sua localizao. No confie em ningum e voltepara a Inglaterra imediatamente. O portador desta foi enviado para cuidar do seutransporte. Andr

    Pela letra d a impresso que Andr escreveu isto s pressas comentou.

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    verdade. Monsieur Tuchelle escreveu o comunicado enquanto fazia as malasrapidamente para embarcar no navio que deve ter partido h uns vinte minutos.

    E Escorpio? Tambm deve fugir de navio?

    Sim respondeu o atraente mensageiro, olhando para o relgio de ouro quetirou do bolso do colete. Daqui a trs horas sai um barco que vai para Honfleur.Eu e Escorpio devemos embarcar nele. a ordem que recebi. De Honfleur umnavio mercante holands nos levar para a Inglaterra. Seria conveniente que viessejunto conosco, para no correr riscos.

    Nicole hesitou por uns instantes, tentando pr as idias em ordem. Aquele homemque a tomava por amante de Escorpio tinha a misso de embarcar junto com ela ecom seu suposto companheiro rumo a Londres. Tudo muito confuso, mas no haviaoutra sada e s lhe restava concordar.

    Bon, ento farei o que preciso.

    Foi at o pequeno guarda-roupa, tirou um modesto vestido azul e o jogou sobre acama. Pediu ao mensageiro que ficasse de costas enquanto p vestia. O homemmostrava-se surpreso e ainda um pouco desconfiado.

    Vou tentar localizar Escorpio ela disse. Enquanto isso o senhor embala eleva meus pertences. Daqui a aproximadamente uma hora nos encontramos no caisdo porto, est bem?

    Pensei que no soubesse onde achar Escorpio. No foi isso que disse? Creio

    que era por medida de segurana, se bem me lembro.

    Ela fitou as costas largas do homem, implorando para que a divina providncia lhesugerisse naquele momento alguma mentira plausvel.

    O que eu disse que no sabia onde Escorpio mora. Mas conheo bem oslugares que ele freqenta respondeu com segurana.

    Sem dar ao homem tempo de argumentar mais nada, Nicole acabou de se vestir ese abaixou para pegar do armrio a pistola que tinha escondido embaixo de umablusa. Estava de costas para o visitante e, antes que pudesse guardar a arma nobolso da saia, ouviu um som inconfundvel atrs dele. Era o barulho de um gatilhosendo armado bem prximo sua cabea.

    Que que mademoiselle pretende com essa pistola? sussurrou o mensageirono seu ouvido, olhando desconfiado sobre o ombro dela para a mo que segurava apistola.

    Nicole estremeceu, sentindo a boca seca, mas sabia que no era hora dedemonstrar nenhum nervosismo.

    que as ruas de Paris so perigosas. Sempre carrego comigo esta arma quandome aventuro a sair de noite explicou com fingida segurana.

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    Houve um longo silncio e depois o homem se afastou um pouco.

    No vai precisar da arma porque eu vou acompanh-la.

    Ele era arrogante e decidido, mas Nicole precisava dobr-lo.

    Ser melhor que no venha comigo. Vai chamar muito a ateno, e Escorpio um homem terrivelmente ciumento. Assim que o vir vai atirar, antes mesmo de lhedar tempo para explicar qualquer coisa.

    Vendo que Nicole guardava a pistola, o mensageiro fez o mesmo com sua arma edeu alguns passos para trs. Era de fato uma bela figura, forte e grande, com traosbem definidos que lembravam os soberbos homens da Esccia.

    Por acaso o senhor escocs? Nicole se atreveu a perguntar.

    Ele abriu um largo sorriso e falou com ela em ingls pela primeira vez desde que

    chegara ali. Aye, sou sim.

    O ambiente estava ficando mais leve e Nicole aproveitou o momento para disfararsua tenso. Tambm procurava dissimular o quanto achava aquele homem atraente,apesar de tudo.

    E melhor nos apressarmos porque o senhor tambm pode estar correndo perigose o virem aqui.

    O mensageiro concordou fazendo uma elegante reverncia. Seu gesto refinadoindicava que, alm de ter um belo fsico, ele provavelmente era de estirpe nobre.Nicole estava curiosa por saber mais sobre ele.

    Quando eu encontrar Escorpio, ele vai me perguntar seu nome, antes de tomarqualquer deciso. Que devo responder? indagou Nicole.

    Um homem muito cuidadoso esse Escorpio, no?

    De fato.

    Pois sou Daniel Damont a seu servio, mademoiselle.

    E eu sou Nicole Beauvoire ela completou, dando o codinome que lhe haviasido atribudo alguns anos atrs, quando fora designada para a terrvel misso queagora desempenhava.

    Daniel McCurren olhava os barcos que passavam sua frente pelo rio Sena,perguntando-se afinal por que diabos tinha concordado em vir a Paris. claro quenum primeiro momento fora logrado por Falcon, quando este lhe propusera fazeressa pequena viagem. Mas isso no era desculpa para aceitar. Sabia perfeitamentedos riscos e perigos que iria correr e, para dizer a verdade, sabia at qual o motivo

    que o fizera aceitar a proposta. Monsieur Damont? chamou o capito do barco que os levaria a Honfleur.

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    Era um homem troncudo e levava na boca um grande cachimbo feito de osso debaleia. Com sua mo nodosa retirou o cachimbo dos lbios, circundados por umadensa barba grisalha.

    Oui, sou eu.

    Seja bem-vindo ao nosso navio. Creio que reservou lugar para trs passageiros,no foi? disse o capito procurando ver se havia mais algum no cais paraembarcar.

    Os outros chegaro daqui a pouco.

    Ah, bon..

    O capito estalou os dedos chamado um garoto franzino que foi at onde Danieldepositara a bagagem.

    Permita-me que acomode a bagagem na sua cabine. Prefiro esperar que cheguem os outros Daniel disse, interrompendo apassagem dele.

    Como quiser, monsieur.

    Daniel ficou a ss com seus pensamentos. Estava muito curioso por saber como eraaquele estranho assassino ingls, o tal Escorpio. Muito espertamente ele haviamontado sua base numa penso feminina, lugar que dificilmente seria vasculhadopelo exrcito da Frana procura de agentes inimigos. O nico perigo que ele corria

    era ser visto por alguma das moas que se hospedavam ali. Mas isso seria fcil deexplicar s autoridades. Podia fingir que viera numa escapadela apenas para ver asua amante. Bem inteligente esse Escorpio...

    Daniel continuava a esperar de p, ali no cais e j estava ficando irrequieto. Olhoupara, a pequena valise cor de vinho que estava no cho. O que lhe chamava aateno no era a pintura gasta nem as bordas carcomidas, mas sim o tamanho toreduzido dela. Era a bagagem de Nicole que ele havia arrumado, ainda na penso.No gastara nem dez minutos para acomodar na valise todos os pertences da moa.Em seus vinte e sete anos de vida, Daniel nunca havia encontrado mulher quepossusse to poucas peas de roupa ou adereos.

    Balanou a cabea, desaprovando. Que tipo de homem era esse Escorpio paraoferecer to pouco a uma amante refinada e linda como Nicole?

    Veio-lhe cabea a lembrana do momento em que a vira pela primeira vez, quandoela abriu a porta, com apenas uma toalha fina cobrindo seu corpo curvilneo. Osolhos de cor violeta se abriram com espanto ao v-lo e os cabelos negrosespalharam-se pelos ombros dando-lhe um ar muito sensual.

    Daniel engoliu em seco. H mais de um ano que no sentia desejo por uma mulhercomo o que sentia agora. Percebia tambm que tinha inveja dos homens que tem

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    algum sua espera, quando chegam em casa. Uma mulher para receb-los comcarinho e vontade de demonstrar seu amor. Sentia sim inveja desses homens, dehomens como Escorpio e como Glenbroke.

    Mas o que importava agora era encontrar Escorpio, o assassino mais eficiente da

    Coroa inglesa, portanto era melhor ficar quieto ali, esperando que ele chegasse.A barulhenta taverna Le Grotto ficava juntinho ao cais e era ali que Nicole estavaescondida. Deu uma ltima olhada para o vulto de Daniel Damont, que se via maisadiante s para ter certeza de que ele permanecia l. Depois saiu sorrateira,ocultando-se nas sombras.

    Ela o havia seguido sem ser percebida para assegurar-se de que ele no fugiria doacordo que haviam estabelecido. De fato Daniel havia seguido risca o combinado.Estava satisfeita em constatar que lidava com um homem de palavra e, mais do que

    isso, em pensar que passariam vrios dias a bordo sozinhos. Aquele atraenteemissrio que o governo ingls mandara era algum to corajoso que estavaarriscando a prpria vida para cumprir a misso de alerta que tinha recebido. Etambm to belo e sedutor que com certeza tentaria conquist-la se tivesse a menoroportunidade.

    Nicole caminhou a passos largos pela escurido rumo ao apartamento de AndrTuchelle. No podia distrair-se com pensamentos romnticos como se fosse umaadolescente. Tinha pouco tempo para decidir se devia ou no embarcar no navio eenfrentar o terrvel destino que a aguardava na Inglaterra. Por isso procurava Andr,

    a nica pessoa em toda a Frana que conhecia sua verdadeira identidade e quetinha idia do risco que ela corria se voltasse Inglaterra. Esperava que, antes departir, ele tivesse deixado algum bilhete para ela no apartamento. Queria saber se aordem do governo ingls para que sassem da Frana era apenas uma precauoou se de fato estavam correndo perigo. Um bilhete de Andr lhe explicaria isso,certamente.

    A luz de uma vela clareava a janela do apartamento de Andr, no terceiro andar doantigo edifcio. Querido e doce amigo Andr Tuchelle, pensou Nicole com um leve

    sorriso. Sbia que esse no era seu verdadeiro nome, mas no conhecia o nomereal. Tambm sabia que ele era filho de um reverendo ingls e que, ao contrariodela, havia se alistado voluntariamente nessa guerra porque acreditava que era seudever, como cristo, lutar contra a tirania que o governo da Frana infligia aos povosda Europa. Na sua viso, ficar indiferente diante das atrocidades que estavamacontecendo era um pecado mortal, uma afronta a Deus e a toda a humanidade.Andr Tuchelle era algum puro, que no conhecia o lado obscuro dos homens.Presumia que todos escolheriam ser bons, se lhe dessem a oportunidade e queoptariam por uma vida de claridade e no de escurido.

    Mas Nicole sabia que as coisas no eram bem assim.

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    Subiu as escadas at o ltimo degrau que dava acesso aos aposentos de Andr.Talvez ali estivesse o bilhete que esperava encontrar. Um bilhete com maisesclarecimentos, com alguma instruo ou mesmo uma palavra de despedida.

    Olhou em volta e viu apenas a sala totalmente vazia. Talvez ele tivesse deixado o

    bilhete sobre a escrivaninha, no seu quarto de dormir. Foi at l e deparou comAndr, dormindo de braos. Ao lado da escrivaninha, estava a mala pronta no cho.

    Meu Deus, ele perdeu o navio!

    Andr cochichou para acord-lo. Andr!

    No houve reao. Repetiu mais alto seu nome e o sacudiu pelo ombro. S a viuque o corpo estava inerte, o rosto cheio de hematomas, o nariz quebrado, os olhosfechados e intumescidos. Um filete de sangue escorria pelo lado esquerdo docasaco.

    Oh, no! Por que fizeram isto com voc? No! exclamou entre lgrimas, semconseguir sufocar o grito.

    Ajoelhou-se ao lado do corpo e tirou as luvas para acariciar as faces do amigo.

    Aos soluos observou as mos dele. Todos os dedos daquelas mos perfeitashaviam sido quebrados. Um avassalador sentimento de dor e de culpa a invadiu.Acabava de compreender por que Andr tinha sido torturado. Era para queentregasse o paradeiro dela, para que dissesse onde estava Escorpio.

    Viu sobre a mesa o carimbo de bronze com o selo de Andr e se lembrou do curtorecado escrito que lhe enviara.

    Os franceses esto perto de descobrir seu paradeiro... No confie em ningum...

    Imediatamente pensou em Daniel. O escocs grande e forte poderia perfeitamenteter dominado Andr para for-lo a escrever aquele bilhete. E para mat-lo depois.

    Que morte horrvel! E pensar que mesmo diante da morte, Andr tinha procuradoproteg-la no dizendo a seu algoz que Escorpio era uma mulher. Era por isso queDaniel tinha ido at a penso procura de um homem, no de uma mulher, e

    certamente essa era a nica razo pela qual ela ainda estava viva.Pelo visto Daniel no a matara para que ela o levasse at Escorpio, Ele pretendiaento entregar Escorpio s autoridades da Frana, com certeza. "No confie emningum", a frase se repetia na sua cabea. No ia mesmo confiar em DanielDamont nem em mais ningum.

    Nicole se levantou decidida. Escorpio era ela prpria e pretendia honrar a memriade Andr, o homem que dera a vida para proteg-la. Ia executar por inteiro e comvalentia a misso que recebera do governo ingls: assassinar Joseph LeCoeurdurante a festa da imperatriz Bonaparte, dali a trs semanas.

    E depois... agiria por conta prpria, acabando com aquele escocs.

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    Sinto muito, mas precisamos zarpar, monsieur Damont.

    Agradeo por ter retardado tanto a partida respondeu Daniel ao capito. Epeo sinceras desculpas pelo atraso de meus acompanhantes.

    s vezes as coisas fogem do nosso controle, no mesmo? completou comgentileza o capito.

    Daniel observou o barco e os marinheiros que soltavam as amarras dos suportesnas velhas docas de Paris. Era sua ltima chance de embarcar e a nica forma quetinha de voltar para casa. Mas no podia ir embora sem levar Escorpio. Asinstrues que recebera de Falcon eram claras e precisas: devia alertar AndrTuchelle de que estava em perigo e ordenar que voltasse Inglaterra. Depois levaruma carta de Tuchelle para Escorpio, com a mesma advertncia e acompanh-lode volta a Londres.

    Uma tarefa bem simples tinha dito Falcon.

    Daniel deu um sorrisinho irnico. Simples coisa nenhuma. Ali estava ele, naquelemaldito cais em p h mais de trs horas, esperando pelo assassino ingls e suaamante. No tinha a menor idia de onde achar Escorpio nem para onde fora agarota e mesmo que os encontrasse agora no havia mais transporte para voltar.

    Percebia que no devia ter deixado Nicole ir sozinha. Devia ter ficado junto dela otempo todo. Mas seu olhar suave parecia muito sincero e no levantara a suspeitade que ela pudesse escapar. Na verdade, no tinha mesmo motivos para desconfiar

    da jovem. Afinal tanto Nicole quanto Escorpio corriam perigo e ele estava aliprovidenciando um meio de eles fugirem. Ento por que no tinham aparecido nahora combinada? Alguma coisa havia acontecido.

    Daniel empertigou-se decidido e com um assovio chamou um carregador quepassava perto das docas.

    Cuide desta bagagem para mim disse, entregando-lhe uma moeda. Quandoeu voltar para pegar meus pertences pagarei o dobro disso.

    Est bem. Merci, monsieur.

    Ento saiu correndo rumo penso de mademoiselle Beauvoire, certo de que noquarto dela encontraria algo que indicasse para onde havia ido. Apreensivo imaginouat que, se os militares franceses j tivessem capturado Escorpio e era provvelque Nicole tambm estivesse nas mos deles. Daniel sentia remorso por t-ladeixado ir sozinha ao encontro com o inimigo.

    Precisava encontr-la.

    Sorrateiramente entrou por uma janela aberta no fundo da penso e foi at o quartode Nicole. Tudo estava como ele havia deixado: escuro e vazio. S restavam os

    mveis: uma cadeira, a cama, o velho armrio e uma pequena mesnha decabeceira. Acendeu o resto de vela que encontrou e comeou a vasculhar em volta,

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    procura de alguma pista. Levantou o colcho, virou a cadeira, abriu o armrio,revistou at as frestas entre as tbuas do assoalho, mas nada.

    De repente se lembrou do seu excntrico tio William, que com medo de ser roubadotinha a mania de esconder as jias num compartimento oculto por trs do painel de

    madeira que decorava a porta do guarda-roupa. Notou ento que o armrio doquarto de Nicole tambm tinha um painel de madeira.

    Sem pestanejar, Daniel segurou a porta e tentou em vo arrancar o painel. Estavafirme e no ia ceder facilmente. Mas a idia de que algo podia estar escondido alicontinuava a lhe martelar a cabea. Insistiu, raspando as bordas do painel,procurando desgast-lo. Aos poucos parecia que a madeira ia ficando mais malevele as beiradas comeavam a abrir. Subitamente, o enfeite se soltou de uma vez comum solavanco e Daniel viu que por, trs dele, havia uma cavidade e um pergaminhoenrolado, formando um pequeno tubo. Retirou-o com cuidado, sentou na cama tra-zendo a vela para mais perto de forma a iluminar melhor o papel e abriu lentamenteo rolo. Estava curioso para saber que segredos guardava a encantadoramademoiselle Beauvoire. A luz da vela danou sobre as palavras escritas com fortetinta preta e com a letra de Andr Tuchelle. Essas palavras no deixavam qualquerdvida. Daniel acabava de ser enganado.

    Londres, Inglaterra, 17 de outubro de 1811

    Falcon, um homem j entrado em anos, saboreava calmamente um prato de salmoem sua casa quando a porta da sala se abriu. Tomou um gole de usque antes de sedirigir ao inesperado visitante.

    Boa noite. O senhor McCurren, se no me engano, no ? O jovem de vinte epoucos anos ficou em silncio. Fechou a porta, atravessou a sala atapetada esentou-se frente de Falcon, diante da lareira acesa.

    Exatamente. Sou Seamus McCurren como indica meu carto de visitas, o qualvenho tentando lhe entregar h quatro dias.

    Como todos os irmos da famlia McCurren, o rapaz era excepcionalmente bonito.Seamus McCurren, porm, era mais moreno que o irmo Daniel, menos chamativona aparncia e mais agressivo na forma de se comportar. Seu sangue escocsfervia com facilidade.

    Sim, nosso mordomo mencionou que o senhor tinha gentilmente vindo aqui mever algumas vezes e peo desculpas por no ter podido receb-lo antes. Em queposso ajud-lo, sr. McCurren?

    O rapaz estendeu a Falcon o seu prprio carto de visitas, antes de responder.

    Pode me ajudar dizendo para onde foi meu irmo. Falcon observou o carto,levantou as sobrancelhas grisalhas

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    e endireitou as costas encurvadas para encarar Seamus.

    Desculpe, mas quem mesmo seu irmo?

    Daniel McCurren, o visconde de DunDonell. Acredito que possa me dizer qual oseu paradeiro porque encontrei o carto do senhor na casa dele.

    Falcon passou o guardanapo nos lbios.

    Ah, sim... visconde de DunDonell... estive com ele acho que na segunda-feirapassada. Mas por Deus, no me diga que o visconde sumiu?

    isso mesmo, milorde, meu irmo est desaparecido. E como desconfio que foi altima pessoa que esteve com ele poderia ter a gentileza de me dizer para onde elefoi? respondeu Seamus com rispidez.

    Sinto muito, mas no tenho a menor idia. J foram procurar nos hospitais?

    Sim, meu pai, o conde de DunDonell j fez isso. De minha parte, achei que osenhor seria uma fonte melhor de informao.

    O jovem recostou-se elegantemente na cadeira e cruzou as pernas. Era uma formade indicar que no tinha a menor inteno de ir embora antes de conseguir umaresposta.

    Lamento ter que desapont-lo retrucou Falcon.

    Ah, mas no me desaponta nem um pouco, milorde. O senhor tem exatamente otipo de atitude de descaso que eu imaginava.

    Estou surpreso por saber que imaginava algo a meu respeito. De qualquer forma,no tenho nada mais a lhe dizer. E agora, se me der licena, vou acabar meu jantarantes que esfrie. Falcon respondeu.

    Seamus McCurren se inclinou para frente. Os olhos cor de mel faiscavam com omesmo brilho de sua arguta inteligncia.

    Acredito ento que no se importar se eu for aos jornais.

    E com que finalidade faria isso?

    Meu irmo est desaparecido e, se o senhor nada sabe sobre o paradeiro dele, eno me resta alternativa a no ser alertar as autoridades e os jornais sobre o fato, naesperana de que o visconde de DunDonell volte para casa em segurana.

    Houve uma pausa e o velho Falcon deixou os talheres de lado. Olhou fixamente parao visitante e disse:

    Estou vendo que o duque subestimou sua argcia, meu rapaz.

    Duque? Refere-se a Glenbroke?

    Sim, Glenbroke. Percebo que com sua habilidade acaba de me desarmar, domesmo jeito que fez seu irmo.

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    Ele olhava para Nicole com respeito pela elevada posio financeira que elaaparentava, e tambm com admirao por seus encantos femininos to evidentes.

    o nico apartamento mobiliado em toda Paris que possui cinco sutes, doissales, sala de msica, sala de refeies e biblioteca, alm de amplas acomodaes

    para criados, mademoiselle.Nicole admirava pela janela a magnfica vista da Praa Vendme em frente.

    No uma beleza? indagou o corretor.

    Tem razo, uma vista encantadora.

    Em silncio ela andou de um lado a outro, verificando todos os ambientes, at porfim perguntar:

    E quando posso mudar?

    Pardon?

    O apartamento. Quando posso tomar posse dele?

    Ah, que timo! Ento vai mesmo ficar com ele respondeu o corretor,consultando a pasta com os papis legais necessrios para a transao. Muitobem, vejamos... se quiser pode mudar hoje mesmo, mademoiselle Beauvoire.

    Nicole continuava olhando pela janela, mas desta vez no era para admirar a belezada praa Vendme. Seus olhos estavam fixos no enorme apartamento do outro ladoda praa. Ele pertencia ao prximo homem que, por ordem de Andr Tuchelle,Nicole devia assassinar.

    Excelente. Onde tenho que assinar?

    Daniel esperou que Nicole se afastasse da janela para s depois sair da sombraentre as copas das rvores da praa. H trs dias que procurava por ela e agora quea tinha achado no pretendia deixar que ela o visse.

    Atravessou em silncio a calada at o prdio dela, ajeitando melhor o vistoso coleteazul. O alfaiate cobrara uma fortuna para faz-lo e tinha aumentado ainda mais opreo, alegando que precisara usar muito tecido devido aos ombros largos e aoporte avantajado de Daniel.

    Ele pagou o servio sem discutir porque sabia que precisava estar muito bemvestido para poder acompanhar mademoiselle Beauvoire nas incurses que elaagora fazia pela alta sociedade parisiense.

    Estava claro que Nicole j se havia encarregado de realizar essa transformao. Hmenos de meia hora a vira sair de sua carruagem luxuosa exibindo uma espantosametamorfose. O penteado rebuscado e o longo vestido de seda lils eram talhadospara demonstrar riqueza e o decote ousado chamava a ateno para as trs voltas

    de diamantes do colar que pendia do seu pescoo, caindo sobre a curva volumosados seios.

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    Ela arrancou os papis das mos do corretor, sentou-se escrivaninha e comeou aassinar onde ele havia indicado. Nem precisava levantar a cabea para se dar contade que Daniel estava postado atrs dela, olhando por cima de seu ombro para cadadetalhe do documento, cada letra da sua assinatura.

    Est comprando o apartamento, querida? No acha que um pouco pequenodemais para suas necessidades?

    Querida! Como ousava Daniel Damont dirigir-se a ela com esses termos e naqueletom irnico! Cansada da farsa, fingiu no ler ouvido o comentrio, acabou de assinartudo e entregou os papis ao corretor.

    s isso?

    Sim, mademoiselle. Muito obrigado e at logo despediu-se, colocandorapidamente todos os papis na sua pasta de couro e saindo s pressas, quase

    correndo.

    S ento Nicole conseguiu controlar um pouco o nervosismo. Sentou-se numapoltrona, respirou fundo e repetiu a pergunta com voz mais calma.

    Por que est aqui, monsieur Damont? Daniel se empertigou antes de falar.

    A senhorita Escorpio no , mademoiselle!

    Nicole ficou em silncio. Pelo visto ele ainda no tinha certeza disso e ela no iaconfirmar nada.

    Por que no foi me encontrar no cais? Daniel insistiu. O qu? Matou Andr Tuchelle, o contato de Escorpio e pensou que eu iria a seuencontro no cais depois disso?

    Como assim?! Andr Tuchelle est morto? Daniel parecia verdadeiramentesurpreso.

    Sabe muito bem disso, no finja.

    No est pensando que fui eu quem o matou, est?

    De que outra forma conseguiria for-lo a escrever aquela carta? No me parece que Andr Tuchelle fosse o tipo de homem capaz de escreverforado uma carta como aquela, colocando a vida de Escorpio em risco.

    Daniel tinha mesmo razo. Andr nunca faria isso. Nunca.

    Alm do mais, ele tinha dado a entender ao mensageiro, que Escorpio era homeme no uma mulher, certamente para dar a Nicole a chance de disfarar e decidir porsi mesma se queria ou no voltar para a Inglaterra. Tudo levava a crer que Danielfalava a verdade. Talvez uma outra pessoa tivesse torturado e matado Andr.

    Custasse o que custasse, ia descobrir quem era essa pessoa, Nicole decidiu. Equando descobrisse, acabaria com ela.

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    Responda, voc mesma o tal Escorpio, no?

    Sou sim confessou Nicole com frieza.

    Mas voc mulher!

    Obrigada por me lembrar disso. muito perspicaz. Deve ser por isso que Falcono contratou.

    Oh, desculpe... que jamais conheci uma mulher capaz de...

    Assassinar? ela completou. Monsieur Damont, o senhor tem irmos?

    Daniel se espantou com a pergunta repentina.

    Sim, tenho seis irmos, por que?

    Se algum agredisse um deles, que acha que sua me faria?

    Ah, ficaria furiosa e acabaria com o agressor, certamente. Ento, se lhe mais aceitvel, pense em mim como sendo a "me" e a Inglaterraos filhos. Estou defendendo a Inglaterra.

    Daniel fitou Nicole longamente antes de voltar a falar.

    Percebo agora por que teve tanto xito na sua misso. Ningum poderiadesconfiar que Escorpio fosse uma jovem e linda mulher.

    Nicole desviou o rosto para no ver a expresso de pena que se formava nasfeies bem traadas de Daniel. J havia recebido muitos olhares de piedade comoaquele em Londres, dois anos atrs, e estava cansada deles. Agora no ia aturarmais a piedade de ningum.

    No vou embora de Paris, est claro? comunicou para espanto de Daniel.

    Por qu?

    A mensagem de Andr, que o senhor me entregou, ordenava que eu fosseembora porque os soldados franceses poderiam estar no meu encalo. Mas issocontradiz a ordem anterior que me incumbia de realizar uma tarefa aqui.

    Sim, mas e da? ele perguntou muito confuso. Em qual das ordens acha que devo acreditar? Na primeira, ordenando oassassinato e escrita por Andr, a quem conheo h dois longos anos ou nasegunda, entregue pelo senhor, que nunca vi antes daquela noite em que Andr foimorto e que bem pode ser um agente francs?

    Daniel caminhou de um lado a outro pensativo, tentando concatenar as idias.

    J pensou na hiptese de que a primeira ordem seja falsa?

    Que seja uma armadilha, montada pelos franceses, para atrair Escorpio atdeterminado lugar e conseguir captur-lo?

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    Pensei sim e isso mesmo possvel. Mas prefervel errar e completar a missodo que de fugir dela, concorda?

    No, de forma alguma. Poder tambm perder sua vida se cometer oassassinato, que lhe encomendaram.

    E da? Joseph LeCoeur j estar morto quando acabarem comigo. E isso o queimporta.

    Nicole deu um passo em direo sada, mas Daniel estendeu o brao, impedindosua passagem. O corao dele batia descompassado e no sabia mais o que fazer.Tinha que mostrar a verdade a Nicole.

    Como posso ser um agente francs disfarado, se lhe entreguei uma cartaassinada pelo prprio Andr Tuchelle e selada com o lacre dele?

    Quem me diz que no forou Andr a escrever aquela carta antes de mat-lo?

    Maldio, mulher! No v que estou tentando proteg-la? Ser que no h nadaque a convena de que fui enviado pelo governo ingls para sua segurana? completou Daniel muito nervoso, passando a mo pelos cabelos.

    No. Esse o impasse. Tenho dvida se diz a verdade e foi de fato enviado porAndr ou se um representante da Frana encarregado de capturar Escorpio. Notenho como saber.

    Meu Deus, se eu fosse agente francs a teria prendido imediatamente.

    Talvez no. Talvez quisesse me usar para chegar at Escorpio. Mas Escorpio voc!

    Nicole deu um sorrisinho irnico, deixando Daniel ainda mais confuso.

    No me diga que acreditou mesmo no que eu disse. Que acreditou que eu souesse tal agente Escorpio!

    Daniel confirmou, balanando a cabea em desalento.

    Ora, monsieur Damont, tenha pacincia... at logo. Novamente ele a impediu de

    sair, postando-se firme frentede Nicole e segurando seu brao. Viu nos olhos dela a determinao inabalvel depermanecer em Paris e percebeu que precisava agir para demov-la desse intentoantes que ela cumprisse sua misso de assassinar Joseph LeCoeur.

    Foi ento que lembrou da maneira como ela tinha reagido, quando ele a segurou nosbraos, apertando aquele corpo delicado contra o dele. Lembrou da forma como elase entregara s carcias, desfazendo-se de toda defensiva no calor do beijo. Poisbem, Nicole podia ser mesmo a assassina mais eficiente de que Falcon dispunha,

    mas ela era, acima de tudo, uma mulher.

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    estava totalmente sob o domnio dele. Daniel a conduzia aos empurres pela escadado prdio rumo sada.

    Solte-me! Para onde est me levando?

    Uma onda de pavor a invadiu e ela comeou a espernear com mais fora ainda,chocando-se com tudo que estava sua volta at perceber que, por fim, Daniel ahavia largado. sua frente ele a encarava com os braos estendidos, como quemtenta acalmar um animal em fria.

    No gosto que me agarrem assim! gritou.

    Estou vendo ele respondeu com voz contida. Mas agora, mademoiselle,vamos acabar de descer, por favor.

    Reunindo a pouca dignidade que lhe restava, Nicole concordou.

    Est bem.Ao chegar rua, sob as arcadas que circundavam a praa Vendme, respirou fundoe olhou o sol que se punha por trs dos edifcios de tijolos.

    Vou chamar uma carruagem comunicou Daniel. Mortificada mas impotente,Nicole ajeitou para trs a mecha

    de cabelo negro que lhe caia sobre a testa e indicou com o olhar que no pretendiareagir. Momentos depois, ele voltou, ofereceu-lhe o brao e a conduziu at acarruagem.

    Segurando-lhe a cintura, a ajudou a subir e depois se sentou ao lado dela,polidamente. Monsieur Damont estava sendo muito corts, mas isso no a impediade perceber a desconfortvel tenso que havia entre os dois.

    Nicole observou o peito largo dele e o corpo grande e forte, que ocupava boa partedo assento, perguntando-se onde teria arrumado o requintado traje francs com oqual estava vestido. A lapela alta e o colete acinturado completavam a elegncia daroupa e Daniel parecia estar totalmente vontade dentro dela, como quem tivesse ocostume de vestir-se sempre daquela maneira. Tambm parecia muito acostumado

    a andar em carruagens de luxo, como aquela.Observou o perfil msculo, delineado contra a luz da janela, enquanto ele olhavapara fora. Os traos eram marcados e atraentes, a pele de um bronzeado vivo, davaum belo colorido ao rosto. Daniel tinha um indiscutvel ar de aristocrata. Certamenteera um homem habituado a freqentar as altas rodas sociais, a encantar oscavalheiros e principalmente as damas da aristocracia. Isso s aumentava acuriosidade de Nicole. Afinal, por que um homem assim tinha vindo at ali? Por queaceitara a misso? Seria apenas por tdio ou falta do que fazer?

    Parecia ser um homem afeito aventura, que gostava de emoes radicais. Comcerteza viver conquistando mulheres ou cavalgando com os elegantes homens da

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    Qual sua idade? perguntou, quebrando todas as regras de etiqueta quedevem reger um cavalheiro quando se dirige a uma dama.

    Por que quer saber?

    S por curiosidade. Afinal, se vamos passar as prximas trs semanas juntos,pensei que...

    Trs no ela interrompeu. Duas e meia.

    Pardon?

    Sim, daqui a duas semanas e meia voltar sozinho para a Inglaterra com aconscincia tranqila por ter feito o que lhe mandaram e me deixar em paz.

    De forma alguma. No posso deix-la em Paris, correndo tanto perigo.

    Se ficar aqui escolha minha, que diferena lhe faz?

    Um cavalheiro no deve deixar uma dama desprotegida insistiu Daniel.

    Engraado! De onde tirou essa regra? De algum manualzinho de boas maneirasque circula pela alta sociedade? Que mais diz l, monsieur Damont? Que outrasbaboseiras aconselha?

    Ele a olhou com firmeza, no acreditando que palavras to agressivas pudessemsair daquela pequena e delicada boca.

    dever de um homem nobre entregar a prpria vida, se for preciso, para salvar

    uma dama ameaada.Nicole soltou uma sonora gargalhada, inclinando a cabea para trs.

    Oh, monsieur Damont, como ingnuo! J imagino o que fizeram para convenc-lo a me procurar. Devem ter falado que havia uma donzela em perigo, no foi? Quea coitadinha precisava ser salva... continuou, sem conseguir conter o riso. Agradeo o seu gesto, mas saiba que no preciso ser salva por ningum completou, agora mais sria. Eu que vou salv-lo com um conselho. Volte paracasa, monsieur Damont, antes que o prendam e o enforquem por espionagem.

    Minha misso trazer-lhe a mensagem de alerta e lev-la de volta a Londres.Vou cumprir essa misso.

    Considere o alerta dado, mas informo que eu me recuso a voltar.

    Mas por qu?

    Acho Londres muito deprimente declarou Nicole, com ar distante.

    No era possvel argumentar com algum que fazia uma declarao to bizarraquanto essa. A Daniel s restava reiterar o que havia decidido.

    Serei seu assistente at que o assassinato seja consumado e depois falaremosde novo sobre a volta para a Inglaterra.

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    Este cmodo servir como sua sala de estar' disser mostrando a ele um quartocom paredes repletas de estantes de livros e dominado por uma enorme lareira combeiradas de mrmore. E aqui sua sute completou, abrindo outra porta quedava para o quarto da frente.

    Era um cmodo amplo com uma grande cama ornada por um dossel do qualpendiam longas cortinas do mais fino veludo. Nicole colocou o castial aceso sobreum mvel e se despediu.

    Boa noite, monsieur Damont.

    Espere. No vai me mostrar as outras dependncias do apartamento?

    Hoje no. J passa da meia-noite e estou muito cansada. Amanh, quando o diaclarear ser melhor disse Nicole, saindo e fechando a porta.

    Daniel deu um suspiro e se atirou sentado na cama. Arrancou com rapidez seusrebuscados sapatos franceses os quais, alm de pouco confortveis, achava quaseridculos. Depois foi a vez da casaca de cintura apertada e do requintado colete. Jestava desabotoando a camisa de seda quando teve uma dvida. E se Nicoletivesse sado? E se ela tivesse ido embora do apartamento? J lhe havia custadomuito encontr-la e no pretendia perd-la de vista outra vez. Seu sangue escocsfervia e o corao estava aos pulos.

    Pegou o castial e foi silenciosamente para a sala de estar. Lembrava que ali ficavaa nica porta que dava acesso ao apartamento. Aliviado constatou que o molho de

    chaves continuava sobre a mesinha de mrmore.Tratou ento de voltar para seu quarto decidido a esconder o chaveiro num lugaronde algum com a pouca estatura de Nicole nunca pudesse encontr-lo: o dosselacima de sua cama.

    Sentou-se outra vez sobre o colcho para tirar as meias. Estava temeroso eintrigado com as atitudes de Nicole. Em sua fantasia, chegava at a pensar queenquanto estivesse dormindo ela poderia entrar, pular em cima dele e cortar-lhe agarganta. Quanto mais pensava nisso mais se convencia de que era melhor ir dormir

    em outro quarto.Pegou novamente o candelabro e saiu cauteloso pelo corredor. Com passosmedidos e olhos atentos foi vasculhando o imvel, procura de um lugar que lheparecesse mais seguro.

    Apague isso imediatamente! ouviu a voz rspida de Nicole ordenar quandochegava ao salo de amplas janelas que se abriam para a praa.

    Santo Deus! No precisava me assustar dessa forma.

    Ela estava sentada na escurido, diante de uma das janelas, olhando para fora.

    Levantou-se com um pulo e chegou perto de Daniel. Rapidamente apagou com umsopro as velas do castial e depois voltou correndo para sua poltrona de

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    assim, estremecia lembrando do calor de seu corpo msculo. Em vez de fit-lo comreprovao, ela agora o contemplava admirada, cheia de desejo.

    H algo mais que possa fazer por voc? Daniel indagou, levantando-se.

    Claro que havia. Ela bem que gostaria que ele fizesse muito mais, que a cingisse denovo em seus braos e lhe desse todos os prazeres que passavam por suaimaginao naquele momento. Mas era preciso afastar esses pensamentos econtinuar agindo com firmeza.

    No disse negando o que sentia. Assassinos costumam agir sozinhos.

    Que bobagem... no tem necessidade de agir sozinha. Alis, no tem nemmesmo obrigao alguma de fazer nada disto. Vamos, seja cordata, volte agora paraa Inglaterra comigo.

    Tenho uma tarefa a cumprir aqui Nicole disse, levantando-se e atravessando asala rumo a seu quarto. Boa noite, monsieur Damont.

    Ela entrou no seu aposento e bateu a porta. Daniel ficou parado ali, olhando para aporta fechada, com a respirao arfante e o corao apertado. Seu plano era seduziraquela jovem para poder lev-la de volta consigo. Mas o plano no estava dandocerto. Por um lado, Nicole resistia sempre s propostas de voltar. Por outro, ele noconseguia ser firme o suficiente porque estava se sentindo cada vez mais encantadoe atrado por ela, apesar de tudo.

    Desde que Sarah Dhearst se casara com o duque de Glenbroke ele nunca mais

    havia desejado uma mulher com o ardor com que agora desejava Nicole. Confuso,percebia que seu cavalheiresco intuito de proteger uma dama havia se transformadonuma nsia incontida de possu-la. E isso no estava nos planos. Por mais quesoubesse que proteger e possuir eram ambos parte integrante do instinto masculinono podia deixar uma coisa confundir-se com outra.

    Pegou o candelabro e lentamente foi para seu quarto, esperando ser capaz deconseguir mant-las separadas e decidido a resistir aos encantos de Nicole.

    Londres, Inglaterra, 20 de outubro de 1811.

    Sentado em uma das mesas do Inferno de Dante, um cabar freqentado pela altaaristocracia, o major Evariste Rousseau tomava sua cerveja e observava os homensda elite inglesa que abordavam com total grosseria as prostitutas da casa.

    Cus, como odiava os ingleses! Odiava a cidade suja deles, suas mulheres feias, esua arrogncia ao agir como se fossem superiores aos cidados livres da Frana.Arrogncia que os fazia at acreditar que, por alguma razo, o sangue azul deles eramais precioso que o seu.

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    Evariste sorriu para si mesmo, passando os olhos pela sala e lembrando de todos osingleses a quem havia mostrado a verdadeira cor do sangue aristocrtico deles.Acabara com todos, um a um, observando com gosto a cara de idiotas com queficavam quando percebiam que no eram invencveis e que iam morrer.

    Precisava admitir, contudo, que havia algumas excees regra.Olhou para as juntas de seus dedos, ainda um pouco machucadas depois da surraque tinha dado em Andr Tuchelle. Aquele sujeito fora sim, muito diferente.

    Monsieur Tuchelle, mesmo desfigurado pela sova e sabendo que ia morrer,mantivera um olhar de dignidade e firmeza. Como era seu hbito, Evariste bateunele com muita fora, tentando arrancar-lhe a informao que desejavadesesperadamente. Queria saber qual era a identidade e onde se encontravaEscorpio.

    Podia ver pelo olhar de Tuchelle que ele sabia tudo, mas, mesmo apanhando tanto,tinha ficado em silncio at o fim. Ento, sentindo um respeito como jamais haviasentido por nenhuma de suas vtimas anteriores, Evariste apunhalou Andr direto nocorao. , efetivamente monsieur Tuchelle tinha sido um homem bem diferente.Completamente diferente daqueles janotas empertigados que via agora. Estes eramvazios, preocupados apenas com suas roupas, suas propriedades, sua nsia porprazeres carnais e, sobretudo em continuar fazendo parte da classe que dominava aInglaterra, enquanto o povo morria de fome nas ruas sujas de Londres.

    Estes ingleses bem que mereciam o que Napoleo estava planejando para eles.Evariste mal podia esperar para ser testemunha da sua derrocada, para ver adestruio do antiquado imprio deles.

    Disfarce essa cara de poucos amigos, antes que descubram quem somos eacabem conosco disse o acompanhante de Evariste, que estava sentado a seulado e era conhecido pelo codinome de Enigma.

    Apesar do tom jovial, o major Rousseau sabia muito bem que aquilo era uma ordemfrrea a ser seguida sem debate.

    Eu pensei que... No pago para pensar interrompeu Enigma, com voz cortante. Enquantoestiver em Londres deve fazer o que eu mandar quando eu mandar. Fui claro?

    Evariste Rousseau inclinou a cabea num gesto de submisso. Conhecia o poder deEnigma e sua inteligncia arguta. Era o melhor agente colaboracionista francsinfiltrado na Inglaterra.

    Ento, que quer que eu faa?

    Escute bem. Daqui a dois dias, lorde Cunningham vai ser levado do ministrio de

    relaes exteriores para a priso de Newgate. Ser transportado numa carruagemguardada por cinco homens: dois dentro dela, dois atrs e mais o cocheiro.

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    Cinco? interrompeu Evariste.

    Que foi? Acha a tarefa complicada demais para voc? Se for no h problema.Posso muito bem contratar qualquer uma destas prostitutas para execut-la.

    Perguntei apenas para certificar-me de que tinha ouvido bem. Desculpe ainterrupo.

    Continuemos ento. O transporte do lorde ser durante a noite, portanto voc terfacilidade par se esgueirar at o cais e pegar um barco que vai para a Sucia.Contudo, pouco antes de chegar l, antes de atracar no porto sueco, voc serlevado de bote para outra embarcao que estar no cais e partir para a Frana namanh seguinte. Alguma pergunta?

    Suponhamos que algo d errado, que eu no consiga embarcar no primeironavio. H algum outro plano alternativo?

    H sim respondeu Enigma com voz gelada, mexendo-se de forma a deixarEvariste ver o punhal que havia colocado entre eles no banco onde estavamsentados. Se falhar pode cortar sua prpria garganta ou ento esperar que eu oache e a corte para voc.

    O major afastou o punhal, empertigou-se e retomou toda a altivez que lhe eracaracterstica.

    Pois saiba que cinco homens no representam problema algum. Terei tempo detomar banho, fazer a barba e quem sabe at de fornicar, antes que descubram que

    lorde Cunningham foi assassinado.

    timo respondeu Enigma sem parecer nem um pouco impressionado com adeclarao. E, de agora em diante, no deve fazer mais nenhum contato comigo,entendeu? concluiu antes de desaparecer na multido que se aglomerava dentrodo infernal cabar.

    Captulo III

    Paris, Frana,

    21 de outubro de 1811.

    Onde escondeu as minhas chaves? gritou Nicole irritada, escancarando a

    porta do quarto de Daniel. No houve resposta, apenas um leve movimento do vulto

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    enrolado em cobertas sobre a cama. Nicole notou que na mesinha de cabeceirahavia uma garrafa de conhaque quase vazia.

    Damont! insistiu com voz ainda mais forte.

    A cabea dele emergiu por entre a pilha de travesseiros. A vasta cabeleira castanha,entremeada de fios dourados, estava desgrenhada e Daniel tentou com dificuldadeabrir os olhos, piscando para a luz da manh que entrava pela janela.

    Santo Deus! Que horas so? balbuciou, passando os dedos entre os cabelos.

    Sete e meia.

    Nicole estremeceu quando o viu sentar na cama, deixando mostra o peito nu.

    O lenol de seda escorregava pelo seu corpo e os msculos salientes, bem acimados mamilos, formavam uma curva volumosa e mscula. Era um homem

    extraordinariamente atraente, de tirar o flego, capaz de levar qualquer mulher loucura. A vontade dela era poder acariciar aquele corpo bem torneado e rgido, co-berto por uma pele to suave quanto a seda do lenol.

    To cedo? O dia mal amanheceu. Por que veio me acordar a esta hora?

    Ele se mexeu e o lenol escorregou ainda mais, deixando mostra uma de suaspernas fortes e evidenciando que ele estava totalmente nu debaixo das cobertas.

    Quero sair. Quero dar um passeio pela praa.

    A esta hora? Para qu?

    Pare de fazer perguntas e me entregue logo as chaves.

    Esto em cima do dossel sobre a minha cama. Se fizer a gentileza de sair por uminstante eu me visto e as pego para...

    Antes que Daniel pudesse terminar a sentena, Nicole j havia puxado uma cadeira,colocado perto da cama e subido nela, esticando-se toda para passar a mo sobre odossel.

    No esto aqui! disse depois de apalpar um pouco.

    Esto sim, se procurar direito.

    Ela se esticou ainda mais, estendendo o brao com fora at conseguir tocar aargola do chaveiro e prend-la com a ponta de um dos dedos. Mas o esforo foitanto que fez a cadeira desequilibrar e Nicole comeou a cair. Quando deu por siestava segura nos braos de Daniel, que a sustentava com firmeza, impedindo quefosse ao cho. Por sorte ainda segurava na mo o molho de chaves e rapidamentese soltou do abrao e seguiu apressada pelo corredor ate a porta de sada.Destrancou-a e desceu correndo as escadas, ainda sentindo nos seios o doce calor

    do corpo de Daniel. Alcanou assim a ma bem no momento em que a carruagem deJoseph LeCoeur partia, sumindo logo de vista.

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    Maldio! Tinha perdido o homem!

    Ainda estava com a respirao descontrolada quando voltou a seu apartamento doquarto andar. Daniel estava de p no corredor. Continuava segurando o lenol emvolta da cintura e tinha um sorrisinho sarcstico no rosto. Nicole o encarou,

    levantando os olhos para desafi-lo. Ele era muito maior do que ela, mas, quandoestava brava como agora, pouco lhe importava o tamanho.

    Nunca mais interfira no meu trabalho! ordenou decidida. Joseph LeCoeurestava passeando pela praa esta manh, mas agora que me fez perd-lo de vistavou ter que esperar at o baile de mscaras do marqus La Roche para poder meencontrar com ele!

    No me diga que pretende se apresentar ao ministro antes de mat-lo.

    Vou explicar, monsieur Damontela respondeu, reunindo a pouca pacincia que

    ainda lhe restava. Eu quero seduzir o ministro. Depois que ele se render a meusencantos e quiser fazer amor comigo, ficaremos a ss e ser o momento maisoportuno para liquid-lo.

    Mas afinal, que foi que o ministro fez para merecer ser executado?

    LeCoeur? Saiba que ele matou trs rivais para conseguir o posto de Ministro daDefesa de Paris. Alm disso, prendeu inmeros homens, mulheres e crianas que seopunham s polticas do governo francs. Tambm reprimiu com fria qualquer tipode manifestao na cidade e tomou uma srie de medidas cruis e desumanas

    contra seu povo. Perdoe a minha intromisso, rnademoiselle Beauvoire, mas se LeCoeur estmatando sua prpria gente o que ns temos a ver com isso?

    Deve estar brincando! O sujeito assassinou sabe l quantos inocentes em todoesse tempo e acha que a Inglaterra no tem nada a ver com isso? J pensou seLeCoeur decidir se virar contra nosso pas com seus mtodos sdicos de ao?

    No, isso no acontecer. LeCoeur jamais ir agir contra a Inglaterra.

    Ah, ? Por que tem tanta certeza?

    Porque rnademoiselle vai elimin-lo antes que o faa!

    Quer dizer ento que aprova o assassinato?

    Aye concordou Daniel, usando a expresso escocesa. LeCoeur parece sero tipo de canalha que merece acabar assim.

    Seu apoio me surpreende, monsieur Damont.

    Eu no conseguiria faz-lo, mas me parece que mademoiselle tem um slidoargumento que justifica matar o ministro.

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    O argumento no meu, do governo ingls. Foi o Ministrio de RelaesExteriores da Inglaterra que determinou essas aes.

    Pode ser, mas quem pagar pelos pecados ser mademoiselle e no o governoingls. Matar o ministro ser mais um entre os outros pecados mortais que j

    cometeu. Nove, se no me falha a memria. Mas LeCoeur um assassino frio!

    Tanto quanto mademoiselle.

    Com a diferena que eu mato para defender gente inocente e indefesa destepas, gente que no tem qualquer proteo, que maltratada, roubada, estupradadiariamente enquanto esta guerra continua. Como possvel omitir-se, eu ouqualquer outra pessoa, deixando que algum como Joseph LeCoeur continueabusando do poder e cometendo tantas atrocidades?

    De fato, Nicole jamais havia sido omissa. No tinha se omitido em Newgate, nem emHonfleur, nem em Versailles nem quando fora sute no quinto andar do hotel deCapette. No ter se omitido era algo que lhe custava bastante caro, porem.Querendo acabar logo a conversa e procurando se desviar do olhar penetrante deDaniel, ela virou as costas antes de dar o comando.

    Vista a roupa. Ns vamos sair.

    Aonde vamos?

    s compras.Enquanto caminhavam pela rua Saint Honor, Daniel ia observando Nicole com ocanto dos olhos, procurando definir se ela era apenas uma desequilibrada ou umajovem imbuda de verdadeiro patriotismo.

    Os argumentos que usava para defender o que fazia tinham lgica, pareciamrazoveis. Propunha-se a proteger inocentes e a defender seu pas da tirania doscorruptos. Contudo, imagin-la assassinando um homem assim, a sangue-frio, sempestanejar, era algo que ele no conseguia conceber.

    Outro pensamento que agora o atormentava, era sobre seu papel naquela tramatoda. Poderia ele prprio se considerar culpado pelo assassinato de Joseph LeCoeurse no fizesse nada para impedir que Nicole o realizasse?

    Chegamos.

    Com esta frase, Daniel foi arrancado de suas preocupaes. Girou a vista peloagradvel ambiente no qual acabavam de entrar. Quando Nicole havia dito que iriams compras, imaginou que seria em algum atelier de modista, de chapeleiro, oucoisa assim. Mas estavam numa loja de brinquedos. Borboletas coloridas de tecidopendiam do teto, soldadinhos de chumbo e cavalinhos de madeira estavam expostos

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    entre bonecas e um garoto se divertia com um revlver de brincadeira que disparavauma rolha, quando era acionado.

    Notou que Nicole se dirigia ao balco da loja e conversava baixinho com um senhorde idade, proprietrio do estabelecimento. Curioso por saber o que uma mulher

    como ela poderia querer numa loja de brinquedos, Daniel se aproximou mais paraouvir a conversa.

    H trs anos, se no me falha a memria dizia o dono da loja.

    Em seguida, ele sumiu atrs de uma cortina para reaparecer instantes depois comum pio de madeira nas mos. O pio tinha cores vivas pintadas em crculos naparte de cima.

    Veja, mademoiselle, estas cores fortes atraem muito a ateno das crianas,quando o pio gira disse, colocando o brinquedo sobre o balco e fazendo-o

    rodopiar. Voil.

    Nicole ficou na pontinha dos ps para ver o brinquedo bem de cima e riu.

    Ah, mesmo! Que beleza!

    Apoiando-se tambm no lustroso balco de mogno, Daniel observou o brinquedo,com interesse. Estava interessado no s nele, mas principalmente em entender amudana de atitude de Nicole, que agora ria como uma criana. Notou a brancurados dentes perfeitos, contrastando com o rosado dos lbios da sua boca pequena etentadora. Percebeu que, ao se inclinar sobre o balco, ela deixara boa parte dos

    seios mostra, salientes por cima do decote, formando dois belos volumesarredondados. Tambm se deu conta de que no era o nico a admirar aquelasestonteantes curvas femininas e que o velho dono da loja tambm parecia en-cantado com a viso.

    Sem pensar duas vezes, ele pegou o pio do balco e o rodou no cho, forandoNicole a sair da posio provocante em que estava.

    Deixe-me ver como disse, rodando o brinquedo novamente. Ah, quebonitas cores!

    Muito bem, monsieur Gaulet, vou ficar com ele informou Nicole. Por favor,faa a gentileza de despach-lo junto com isto concluiu, entregando ao velho umenvelope fechado que retirou da bolsa.

    Com todo prazer, mademoiselle Beauvoire. Imagino que o presente deve serdespachado para Honfleur como sempre, no?

    Oui. Exatamente.

    O velho se afastou para ir embrulhar o presente. Daniel ficou se remoendo decuriosidade sobre quem seria o destinatrio do interessante brinquedo e,principalmente, da carta que ia junto.

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    Se ele sabe seu nome porque deve vir aqui com freqncia, no mademoiselle Beauvoire?

    Oui. Com bastante freqncia.

    Pelo visto, ela no estava disposta a dar mais qualquer explicao. Daniel colocou amo no bolso e se dirigiu ao dono da loja.

    Quanto ns lhe devemos? perguntou.

    O velho no respondeu. Em vez disso olhou significativamente para Nicole e elasorriu dizendo:

    Pode colocar na minha conta, monsieur Gaulet. Au revoir. Quando chegaram rua, Nicole puxou Daniel pelo brao com fora e ralhou.

    Quanto ns devemos? Por que disse ns? Quer que Paris inteira desconfie de

    que meu protetor? No fique mais espalhando dinheiro por a como se fosse meumecenas ou tivesse alguma relao comigo!

    Desculpe. Foi a fora do hbito.

    Nicole deu um suspiro contrariado e continuou andando em frente.

    Imagino que esteja acostumado a pagar as despesas da dama que o acompanha,mas, se j difcil trabalhar tendo sua presena constante a meu lado, espero quepelo menos pare de chamar a ateno dos outros sem necessidade.

    Quando ficava brava seu rosto se tornava ainda mais interessante. Os cabelosnegros brilhavam, refletindo a luz da manh, e emolduravam as faces delicadasquando se moviam com o vento enquanto ela andava. Tinha o olhar fixo nadistncia. O semblante estava srio e seus olhos mostravam uma intensidadeincomum. Daniel percebeu que ela estava tramando alguma coisa. SubitamenteNicole parou, postou-se frente a frente com ele e entregou-lhe um papel que retirouda pequena bolsa.

    V at este endereo e pegue tudo que est nesta lista. Mais tarde o encontro noapartamento. Aqui est a chave.

    Ah, no. De jeito nenhum. No vou deix-la sozinha.

    Escute aqui, monsieur Damont. Estou indo ao farmacutico pedir algunsmedicamentos para males femininos. Mesmo que o assunto lhe parea por demaisfascinante, no teria porque me acompanhar. Conhece a minha misso e sabe quepara cumprir a tarefa no tenho outra sada a no ser voltar ao apartamento. Almdo mais, com sua falta de habilidade, se vier comigo capaz da Frana inteira ficarsabendo disso!

    Desacostumado a ser tratado assim, ainda mais por uma mulher, desta vez Daniel

    teve de engolir o orgulho e leu o que estava rabiscado no papel. Depois de pensar

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    por um instante, empertigou-se e, com uma reverncia, acatou a ordem de Nicole,aproveitando para caoar um pouco dela.

    Como quiser. Terei muito prazer em recolher os objetos da lista e lev-los aoapartamento onde esperarei ansiosamente pela sua volta. Au revoir disse

    beijando uma das mos de Nicole em despedida.Daniel virou as costas e saiu andando em outra direo. Ria baixinho pensando noespanto que acabava de causar em Nicole ao demonstrar de repente tantaconcordncia, gentileza e cordialidade.

    Viera a Paris para esquecer, para distrair-se do sofrimento, mas a dor que sentiacontinuava a acompanh-lo e tudo que mais queria agora era poder voltar para aEsccia e beber at ficar num doce torpor, bem longe da aflio e do conflito em queestava mergulhando. No momento sua maior dvida era saber se devia mesmo

    ajudar Nicole a matar Joseph LeCoeur ou era melhor abandon-la de uma vez.Nenhuma das duas alternativas o agradava.

    O ministro LeCoeur bem que merecia a ira e o castigo ordenado pelo governo ingls.No podia deixar que Nicole ficasse sozinha a cargo da tarefa, correndo todo operigo. Achava que devia ficar a seu lado, mesmo depois do tratamento humilhanteque recebera dela.

    A pergunta que continuava a martelar sua cabea era: por qu?

    Por que teria essa jovem to encantadora se tornado to fria e insensvel a ponto de

    fazer o que fazia? Que teria acontecido a ela? E o que aconteceria se fosseapanhada pelas tropas francesas?

    Melhor nem pensar nisso. Preferia evitar o assunto por completo a soluo maisadequada para isso era a que estava na sua mente: seduzir Nicole e lev-la paraHonfleur antes que ela matasse Joseph LeCoeur.

    Londres, Inglaterra, 21 de outubro de 1811.

    Juliet Pervill caminhava rumo residncia da duquesa de Glenbroke lamentando-sepor estar a p.

    Que foi que nos deu para inventar este passeio hoje? Sua prima, FelicityAppleton, levantou o rosto delicado para o sol.

    Com uma tarde gloriosa como esta, vir a p foi o mais acertado. Veja, no hsequer uma nuvem no cu.

    Na verdade Juliet estava contente em ver sua prima aproveitando o passeio. Era aprimeira vez que via Felicity mais animada nesses ltimos tempos.

    verdade, a tarde est linda. Mas estas botinhas novas esto acabando commeus ps.

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    Ande, querida. No podemos nos deter por muito tempo. Sarah faz questo deque sejamos pontuais desta vez disse Felicity.

    Juliet corou, entendendo o recado. Na ltima ocasio em que havia sido convidadapela duquesa de Glenbroke para o ch da tarde, tinha se atrasado bastante porque

    se distrara trocando carcias com Robert Barksdale e perdido a hora. Eu sei. Sarah insistiu muito nisso quando encontrei com ela no Hyde Park. Creioque tem algo em especial para falar conosco disse Juliet.

    Pararam diante da imponente manso da duquesa de Glenbroke e admiraram afachada da construo.

    Naquele momento um homem saiu pela porta da frente da manso, chamando aateno de Juliet que tentava reconhec-lo. Era corpulento demais para ser AidanDuhearst e bem mais moreno do que Christian St. John. Tinha as mas do rosto

    bem pronunciadas, lbios grossos e o queixo quadrado emoldurado por costeletascuidadosamente aparadas. Quem era aquele homem? Por que lhe parecia tofamiliar? Ao passar por elas, o cavalheiro levantou com cortesia a aba do chapu eJuliet levou um susto com o olhar penetrante que ele lhe dirigiu, como se, de algumaforma, tambm a reconhecesse. Virou o rosto para v-lo de costas, quando ele seafastou, continuando a apreciar a garbosa figura. O homem percebeu que estavasendo observado e tambm voltou o rosto. Juliet ia to distrada, tentandoreconhec-lo que, sem querer, acabou batendo a cabea num poste.

    Oh, Deus, Juliet! Machucou-se? acudiu Felicity.

    Muito sem graa, Juliet esfregou a testa esperando que o cavalheiro no tivessevisto sua falta de elegncia. Mas ele percebera tudo e sorriu de leve a distnciaantes de seguir decidido o seu caminho.

    No foi nada. Estou bem. Mas quem era aquele homem? Tenho a impresso deque j o vi antes.

    No fao a menor idia disse Felicity, dando de ombros. r Mas ele saiu dacasa de Sarah.

    Verdade? Nem percebi; Ser que a pessoa que Glenbroke contratou para achar Daniel?

    Se for, espero que tenha trazido alguma noticia sobre o paradeiro dele. PobreSarah anda to preocupada com o sumio do visconde.

    No s ela, mas todos ns.

    Sei disso, porm para Sarah diferente. Ns conhecemos Daniel McCurren hapenas trs anos, mas ela e Aidan Duhearst conviveram com ele a vida inteira.

    Juliet se aprumou e segurou no brao da prima para entrar na manso. Ento vamos. Vamos falar com Sarah.

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    McCurren continuou descendo a rua, ainda rindo da moa que linha batido a cabeano poste s para olh-lo. Andava com passos largos porque estava ansioso parachegar logo casa dos pais e dar-lhes a notcia de que tinha descoberto o paradeirode Daniel.

    A atitude do irmo, oferecendo-se para ir a Paris a servio do governo, com certezas podia ser atribuda ao constante estado de embriaguez em que ele viviaultimamente. Querendo ajud-lo a sair do alcoolismo, Seamus tinha ido casa deleonde, para sua total surpresa, no encontrou ningum. S havia descoberto ali umestranho carto de visitas.

    Achar o homem cujo nome estava no carto no tinha sido tarefa fcil, porm o quesoubera na conversa com ele, junto com as informaes que o duque de Glenbrokeacabava de lhe dar, seria o suficiente para poder contar a histria aos pais combastante preciso.

    A nica coisa que ainda no conseguia explicar era a razo que tinha levado Daniela tomar tal deciso. Os pais iam querer saber por que o possvel herdeiro docondado de DunDonell faria algo to idiota, to insensato como era fugir e meter-senuma guerra. E Seamus tinha receio de contar a eles as suas suspeitas sobre amotivao que levara o irmo a tal atitude.

    Todos tinham ficado chocados quando Sarah Duhearst decidira subitamente secasar com o duque de Glenbroke. Mas para Daniel aquilo foi mais do que umchoque. Foi a desolao total. O declnio da vida do irmo comeou logo depois das

    inesperadas bodas de lady Duhearst. Ningum percebeu isso, porque Daniel eSarah eram bons amigos h muito tempo e ele nunca tinha demonstrado outrointeresse. Mas Seamus conhecia bem o irmo e sabia que o sentimento que elenutria pela jovem era muito mais do que simples amizade. Achava que Daniel sconseguiria ultrapassar a desiluso, se algum dia tivesse coragem de encarar Sarahde frente, de visit-la em sua casa e v-la feliz ao lado do marido.

    Mas agora ele estava em Paris. Que grande tolo! Tinha preferido fugir, seoferecendo para aquela misso no estrangeiro em lugar de encarar a situao.

    O mordomo que trabalhava para seus pais abriu a porta da residncia comformalidade.

    Boa tarde, Hopkins. Meus pais esto em casa? perguntou Seamus.

    O conde e a condessa esto tomando o ch na sala de estar.

    Obrigado. Pode deixar que eu mesmo me anuncio.

    Como quiser, milorde.

    Seamus foi ao encontro dos pais ainda tentando decidir qual seria a melhor forma de

    contar-lhes o acontecido. A condessa deixou de lado o bordado em que trabalhava eseu rosto se iluminou num sorriso ao v-lo entrar.

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    Seamus!

    Como est, mame? disse, beijando-a no rosto e evitando o olhar carrancudodo pai. E o senhor, meu pai?

    Pai? repetiu o conde, levantando-se da poltrona onde lia o jornal. Por acasoeste algum de nossos rebentos, minha esposa? No o estou reconhecendo.

    Ora Malcom pare de caoar. Sente aqui, Seamus querido. Ele se acomodou aolado da me e olhou para o pai que, apesar da brincadeira, continuava srio ecircunspeto como de costume.

    E ento? Conte-nos o que tem feito nos ltimos nove meses indagou o pai.

    Claro que Seamus no pretendia contar a ele que agora estava vivendo com aamante e que se dedicava a passar alegremente os dias pesquisando antigosmanuscritos no calmo bairro oeste da cidade. Detestava as obrigaes que anobreza impunha e, por ser o segundo dos filhos, no herdaria o ttulo nobre.Agradecia o fato de ter se livrado dessas responsabilidades, pois assim podia viver aseu bel-prazer. Contudo, se algo acontecesse a Daniel, que era o filho mais velho eherdeiro do ttulo, ele teria de arcar com suas obrigaes. Essa idia o apavorava.

    Descobri o paradeiro de Daniel. Ele est em Paris.

    Com um suspiro a me se reclinou para trs na poltrona, lvida, parecendo que iadesmaiar.

    Resolveu voluntariamente realizar uma misso l que, segundo me informaram,no vai levar mais do que duas semanas.

    Misso? disseram os pais em unssono.

    Ter apenas de entregar uma missiva e estar de volta no primeiro naviodisponvel.

    O pai levantou os braos num solavanco, gritando a todo pulmo.

    Maldio! Ser que esse garoto no tem nem um pingo de juzo? No bastava elepassar os dias zanzando entre lenis femininos por toda a cidade? Isso no era

    diverso suficiente para ele?

    Acalme-se Malcom.

    E agora? continuou o pai com voz trovejante. Agora meu herdeiro diretoinventa de ir embora para Paris onde pode muito bem perder a vida! E voc, no feznada para impedi-lo, Seamus. Voc deixou seu irmo fazer essa loucura!

    A me cobriu a boca com o leno e, perturbada, juntou-se ao pai que estava em pperto da lareira.

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    Ele no tem culpa disse ao marido. Ah, em parte tem sim! Faz tanto tempoque voc anda por a, Seamus, que nem sabe o que seus irmos fazem. Mas estavana cidade quando Daniel comeou a beber e no fez nada para impedi-lo.

    Como pode ser to injusto, Malcom? ralhou a me. Sabe muito bem que

    Daniel s faz,o que lhe d na telha. No vou admitir que fique culpando a todos porisso.

    Mas Seamus no precisava que o pai o censurasse porque ele j se sentiasuficientemente culpado. Daniel normalmente no tinha o hbito de beber e, quandosoube de suas primeiras bebedeiras, Seamus devia ter comparecido para ver o queestava acontecendo. No tinha dado ao irmo o apoio necessrio e h muito tempoque tambm no oferecia qualquer apoio famlia. Era ovelha negra daquelenumeroso cl, completamente diferente dos irmos tanto na aparncia quanto naconduta.

    Daniel estar de volta daqui a duas semanas, mame disse, encabulado,sabendo que se o irmo no voltasse at l, caberia a ele a incumbncia de irbusc-lo.

    s sete da noite Nicole voltou ao apartamento depois de fazer a ltima prova deroupa na modista e a consulta com o farmacutico. O pensamento continuavaenredado na trama que montava para preparar a prxima morte.

    Quando abriu a porta, sentiu um delicioso aroma. Na sala de jantar a mesa estavaposta com dois lugares, seu centro adornado por um belo buqu de flores,arranjadas com primor num refinado vaso de cristal. Um vinho branco descansavanuma jarra em um dos cantos da mesa.

    Ouviu barulho vindo da cozinha e ali encontrou Daniel, preparando o jantar. Eleusava uma fina camisa de linho, mangas arregaadas, diante do fogo. guisa deavental, ele havia amarrado desajeitadamente um pano grande em volta da cintura.

    Que est fazendo? perguntou Nicole, fingindo no estar encantada com o quevia.

    Ora, acabando de cozinhar. Ou ser que j jantou? ele respondeu, virando-see deixando mais evidentes os msculos rgidos por baixo da camisa.

    No, ainda no.

    timo. Ento, por favor, acomode-se mesa. Vou servir nosso jantar disseDaniel, acompanhando-a de volta sala.

    Afastou uma das cadeiras para Nicole sentar e completou:

    Ah, j ia esquecendo. Deixei em cima da sua cama os pacotes que me pediu parabuscar.

    Obrigada.

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