a crença em jinns na comunidade muçulmana sunita do rio de janeiro

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7/21/2019 A Crença Em Jinns Na Comunidade Muçulmana Sunita Do Rio de Janeiro http://slidepdf.com/reader/full/a-crenca-em-jinns-na-comunidade-muculmana-sunita-do-rio-de-janeiro 1/15 A crença em  Jinns  na comunidade muçulmana sunita do Rio de Janeiro Bruno Ferraz Bartel Núcleo de Estudos sobre o Oriente Médio (NEOM) Mestrando do Programa de Pós-Gradua!o em "ntro#ologia (PPG") $ni%ersidade Federal Fluminense ($FF) brunodz&'aoo*com*br Resumen O artigo tem como ob+eti%o analisar o sistema de crena acerca dos  Jinns, a #artir de inter#retaes simbólicas, entre os muulmanos sunitas da .ociedade Bene/icente Muulmana do 0io de 1aneiro (.BM01)* Os 1inns s!o seres in%is2%eis criados do /ogo e dotados de li%re arb2trio #or 3eus (  Allah), e 4ue %i%em na 5erra em um mundo #aralelo ao dos omens* .uas #oss2%eis /ormas de mani/esta!o entre os omens, durante a %ida religiosa muulmana, /azem #arte de um sistema de classi/ica!o cosmológico, onde se #rescre%em determinados %alores e aes acerca destes seres nas suas #oss2%eis interaes com os indi%2duos* O trabalo etnogr6/ico realizado na Mes4uita da 7uz ( Masjid Al Nur ) localizada no bairro da 5i+uca (01), nos meses de Maro de 89:9 a 1ulo de 89::, #arte das re#resentaes coleti%as dos 1inns e #rocura destacar o sistema de classi/ica!o enunciado nos discursos dos muulmanos da .BM01* " metodologia usada /oi ; obser%a!o #artici#ante das ati%idades religiosas realizadas nos es#aos da mes4uita incluindo entre%istas abertas com alguns de seus /re4<entadores, além da leitura de doutrinas normati%as como o alcor!o e o addit (#rescries do #ro/eta Muhammad ) utilizados entre os /iéis* " #es4uisa etnogr6/ica %incula-se ao #ro+eto =Flu>os 5ransnacionais e ?onstru!o de @dentidades em ?omunidades 3ias#óricas entre a "mérica do .ul e o Oriente MédioA, coordenado #elo Pro/* 3r* Paulo Gabriel ilu da 0oca Pinto e #ossui o au>2lio /inanceiro do ?NP4*

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7/21/2019 A Crença Em Jinns Na Comunidade Muçulmana Sunita Do Rio de Janeiro

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A crença em  Jinns na comunidade muçulmana sunita do Rio de Janeiro

Bruno Ferraz Bartel

Núcleo de Estudos sobre o Oriente Médio (NEOM)

Mestrando do Programa de Pós-Gradua!o em "ntro#ologia (PPG")

$ni%ersidade Federal Fluminense ($FF)

brunodz&'aoo*com*br 

Resumen

O artigo tem como ob+eti%o analisar o sistema de crena acerca dos  Jinns, a #artir de

inter#retaes simbólicas, entre os muulmanos sunitas da .ociedade Bene/icente

Muulmana do 0io de 1aneiro (.BM01)*

Os 1inns s!o seres in%is2%eis criados do /ogo e dotados de li%re arb2trio #or 3eus ( Allah), e4ue %i%em na 5erra em um mundo #aralelo ao dos omens* .uas #oss2%eis /ormas de

mani/esta!o entre os omens, durante a %ida religiosa muulmana, /azem #arte de um

sistema de classi/ica!o cosmológico, onde se #rescre%em determinados %alores e aes

acerca destes seres nas suas #oss2%eis interaes com os indi%2duos*

O trabalo etnogr6/ico realizado na Mes4uita da 7uz (Masjid Al Nur ) localizada no bairro da

5i+uca (01), nos meses de Maro de 89:9 a 1ulo de 89::, #arte das re#resentaes

coleti%as dos 1inns e #rocura destacar o sistema de classi/ica!o enunciado nos discursos

dos muulmanos da .BM01*" metodologia usada /oi ; obser%a!o #artici#ante das ati%idades religiosas realizadas nos

es#aos da mes4uita incluindo entre%istas abertas com alguns de seus /re4<entadores,

além da leitura de doutrinas normati%as como o alcor!o e o addit (#rescries do

#ro/eta Muhammad ) utilizados entre os /iéis*

" #es4uisa etnogr6/ica %incula-se ao #ro+eto =Flu>os 5ransnacionais e ?onstru!o de

@dentidades em ?omunidades 3ias#óricas entre a "mérica do .ul e o Oriente MédioA,

coordenado #elo Pro/* 3r* Paulo Gabriel ilu da 0oca Pinto e #ossui o au>2lio /inanceiro

do ?NP4*

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Introdução 

O #resente trabalo se #ro#e a analisar a constru!o das relaes simbólicas de

a/astamento com os GCnios ( Jinns1)  inseridos no uni%erso m2tico islDmico, a #artir do

sistema de crenas com#artiladas entre os muulmanos sunitas8  4ue se congregam na

Mes4uita da 7uz (Masjid Al Nur ), no bairro da 5i+uca, localizada na ona Norte da ?idade

do 0io de 1aneiro* Os  Jinns s!o seres in%is2%eis criados a #artir do /ogo #or  Allah3  e 4ue

coabitam a realidade social con+unta com os umanos* O reconecimento da e>istCncia de

tais seres im#lica em 4uestes acerca do sistema classi/icatório utilizado #elos indi%2duos,

ou se+a, 4ue #ermitem #or em termos intelig2%eis a inter%en!o de tais entidades no #lano

/2sico da realidade umana a #artir de suas agCncias, assim como as inter#retaes de

ordem moral 4ue s!o criadas #ara de/inir e limitar o grau de #ro>imidade com os  Jinns,

%isto 4ue estes #odem situar os muulmanos numa #osi!o de #erigo, a #artir de seu

contato*

"nalisar um sistema de classi/ica!o religioso #ermite e>#or as crenas dos

indi%2duos e sua rela!o com os %alores sociais de um gru#o* " classi/ica!o se /az

#resente, #ois seu ob+eti%o consiste em ordenar as categorias de entendimento, usados #or

uma coleti%idade, em gru#os distintos entre si, se#arados #or linas de demarca!o

nitidamente determinadas* 3e outro lado, classi/icar, n!o seria a#enas constituir gru#os*

@sso signi/icaria dis#or estes gru#os ierar4uicamente, segundo relaes muito es#eciais,onde =toda classificação implica uma ordem hierárquica da qual nem o mundo sensível

nem nossa consciência nos oferecem o modeloA (3ur&eim Mauss, 899HI 9J)*

" #ers#ecti%a de uma realidade com#artilada +unto aos umanos /oi registrada #or

Kestermarc& (:L) em sua %iagem no Marrocos onde o autor relata 4ue os  Jinns /ormam

uma raa es#ecial de seres umanos, criados antes de  Adão* Em %6rios as#ectos, no

entanto, eles seriam como os omens* Eles comem, bebem e #rocriam a sua es#écie na

5erra, inclusi%e atra%és de cone>es se>uais com os omens* Eles est!o su+eitos ; morte, e

: ?olocarei os termos em 6rabe utilizados entre #arCnteses #elos muulmanos*8  ?om a morte do Pro/eta Muhammad   a 4uest!o da sua sucess!o na liderana dacomunidade muulmana se colocou de maneira #remente* " ausCncia de um erdeiromasculino in%iabiliza%a o uso da tradi!o #ré-islDmica de sucess!o #atrilinear e obrigou acomunidade muulmana a decidir 4uais seriam os critérios de de/ini!o, atribui!o emanuten!o de #oder 4ue criariam lideranas leg2timas* O termo sunita re/ere-se aosmuulmanos 4ue e%ocam a#enas as tradies dei>adas #elo Pro/eta a#ós a sua morte(Pinto, 89:9b)*J O termo Allah e>#ressa a no!o de 3eus entre os muulmanos* Penso em termos e4ui%alentes ao trabalo de Mar 3ouglas intitulado =Pureza e #erigoA,

onde se destaca o #a#el da se#ara!o dos uni%ersos simbólicos (sagrado e #ro/ano),ob+eti%ando-se assim, a estrutura!o de uma idéia de ordem a #artir da an6lise dos casoscontem#lados #ela autora*

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alguns deles, como os  Jinns do Pro/eta Muhammad  ir!o #ara o #ara2so a#ós a sua morte*

"lém disso, n!o teria /ormas /i>as, mas #odem assumir 4ual4uer /orma 4ue eles #ossam

a#reciar* .ua ca#acidade de trans/orma!o em outros seres os abilitam em a#arecer

como omens, cabras, gatos, c!es, burros, tartarugas, ser#entes, ou outros animais,

inclusi%e monstros de sete cabeas*

Mediante a tais classi/icaes, as crenas na tradi!o islDmica sobre os  Jinns 

#oderiam ser%ir #ara a constitui!o de uma base comum, dentro do imagin6rio religioso

muulmano, atra%és das re#resentaes destes seres, %isto a /ora social 4ue os gru#os,

sunitas ou demais re#resentantesH, constroem a #artir de suas #ers#ecti%as* Os termos das

re#resentaes coleti%as designam a /ora do #ensamento social sobre o #ensamento

indi%idual, determinando aes e com#ortamentos dos indi%2duos* "s re#resentaes

coleti%as n!o se resumiria a#enas ;s somas das re#resentaes dos indi%2duos 4ue

constituem a sociedade (3ur&eim, :9), mas sim, seria uma realidade 4ue se im#e aos

indi%2duos, #ois 4uando estes interagem no mundo +6 encontram essa realidade /ormada

anteriormente*

Os  Jinns  n!o seriam almas de #essoas %i%as ou mortas, nem seriam totalmente

demon2acos* 3e acordo com o "lcor!o  (surata  :HI aaL 8 HHI:H), o  Jinns  seriam uma

outra raa (n!o-umanos), criado #or Allah ; umanidade e, ao contr6rio da umanidade,

n!o de barro de /undo sólido, mas do /ogo sem /umaa (.#adola, 899)* .egundo o autor,

istórias #essoais em seu trabalo de cam#o no Marroocos descre%em dis#utas a #artir dedetales sobre se os Jinns #odem assumir /ormas %is2%eis, e se #odem ou n!o, #ossu2rem os

seres umanos*

.er #ossu2do ou n!o #or esses seres, de#endendo de seu conte>to etnogr6/ico

#ro#orciona estabelecer noes di/erenciadas da e>#eriCncia religiosa entre a rela!o

e>istente dos umanos com os Jinns, o 4ue coloca uma #roblem6tica entorno da no!o de

sagrado* 3ur&eim (899L) +6 a%ia e>#licitado 4ue o sagrado e o #ro/ano /oram concebidos

#elo es#2rito umano como gCneros se#arados, atra%és do #rocesso de uma idealiza!o

sobre o mundo, ou se+a, a #artir da ca#acidade dos omens de conceber um ideal e deacrescent6-lo ao real, o#erado no #ensamento umano, res#ons6%el #ela se#ara!o do

sagrado em rela!o ao #ro/ano* Entretanto, o as#ecto caracter2stico do /enQmeno religioso

é o /ato de 4ue ele #ressu#e uma di%is!o do uni%erso conecido e conec2%el em dois

gCneros 4ue com#reendem tudo o 4ue e>iste, mas 4ue se e>cluem radicalmente* "s coisas

H 0e/iro-me ao >iismo e ao su/ismo* =O "lcor!o é o resultado te>tual da recita!o da #ala%ra di%ina #or Muhammad  entre :9e J8 a*d*A Pinto (89:9bI H)* Ele constitui um te>to normati%o utilizado #ela comunidade

muulmana em desta4ue no trabalo etnogr6/ico* E4ui%alente aos ca#2tulos do li%ro sagrado dos muulmanos*L E4ui%alente aos %ers2culos do li%ro sagrado dos muulmanos*

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sagradas s!o a4uelas onde os interditos #rotegem e as isolam as coisas #ro/anas, a4uelas

;s 4uais esses interditos se a#licam e 4ue de%em #ermanecer ; distDncia das #rimeiras*

Entretanto, #ara os trabalos 4ue se debruaram sobre o caso es#ec2/ico e>istente

no Marrocos, a no!o de sagrado en%ol%ida numa e>#eriCncia religiosa #ode ser e>ibida a

#artir da inter%en!o desses seres na #rodu!o do /enQmeno da glossolalia (.#adola, 899)

ou a #artir da #re%is!o de e%entos /uturos (Kestermarc&, :L)* Em ambos, o cor#o seria o

instrumento de media!o e o res#ons6%el #ela classi/ica!o dessas e>#eriCncias religiosas

como re%eladoras de uma e>#eriCncia m2stica ou de magia #or #arte desses indi%2duos 4ue

estabeleceriam contatos com os  Jinns* .e+a como /or, a idéia de um agenciamento #or

#arte dos  Jinns, atuante na realidade umana, seria um elemento a ser %alorizada #ara

com#le>i/icar a e>#eriCncia religiosa*

7eac (:L), admite 4ue a no!o de sagrado em 3ur&eim a#resenta uma

dicotomia entre mito e rito, #or4ue dentro da #ers#ecti%a do autor /rancCs o rito seria

de/inido como a#enas um con+unto de regras de conduta 4ue #rescre%em as maneiras dos

omens de se com#ortarem na #resena de ob+etos sagrados* .egundo sua inter#reta!o,

esta #roblem6tica n!o #ermite a%anar em 4uestes tanto do #a#el das re#resentaes nos

indi%2duos 4uanto na /ora coleti%a das aes em con+unto organizada de maneira

simbólica #or uma comunidade religiosa* $m mito n!o é necessariamente uma e>#lica!o

no sentido de tornar mais claro algo 4ue n!o é entendido, antes, é uma inter#reta!o, uma

maneira #articular de #erceber a o mundo (?i#aman, 8998)*" e>istCncia de aes res#ons6%eis #or manter uma #osi!o de a/astamento em

rela!o aos  Jinns, dentro de cada conte>to cultural es#ec2/ico, #oderia /ornecer um

modelo de s2mbolos (7eac, :), ou se+a, /azer re/erCncia ;s categorias de entendimento

utilizado #or algum gru#o, n!o #ermitindo assim, uma di%is!o n2tida entre mito e ritual

4ue #ode ser %isto como um sistema comunicati%o de discursos (@dem, :)* "lém de

re#resentar uma se4<Cncia ordenada de /atos meta/óricos dentro de um es#ao territorial

em 4ue o s2mbolo /oi organizado #ara /ornecer um conte>to meta/órico (@dem, :a,

:b), ele #ermite a cria!o de #rocessos de classi/ica!o e de re#eti!o a #artir dos4uais um conecimento é incor#orado e re#roduzido #elos indi%2duos atra%és de suas

#er/ormances (@dem, :)*

Para com#reender determinados as#ectos do isl!, com as relaes simbólicas com

os  Jinns, torna-se necess6rio analisar como as re/erCncias religiosas est!o articuladas em

um modelo normati%o inscrito na istória, ou se+a em uma tradi!o* Para "sad (:L, #*:)

e>istemI

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discursos 4ue %isam instruir os #raticantes a res#eito do #ro#ósito e

da /orma correta de uma determinada #r6tica 4ue, #recisamente

#or4ue /oi estabelecida, tem uma istória* Esses discursos se

relacionam conceitualmente com um #assado (4uando a #r6tica /oi

estabelecida e a #artir da 4ual o conecimento sobre o seu

#ro#ósito e #er/ormance correta /oi transmitido) e um /uturo

(como o #ro#ósito da4uela #r6tica #ode ser mais bem assegurado

no curto e no longo #razo ou #or4ue ela de%eria ser modi/icada ou

abandonada) atra%és de um #resente (como ela é ligada a outras

#r6ticas, instituies e condies sociais)*

$ma tradi!o n!o se re/ere a uma sim#les transmiss!o de construes culturais de

uma gera!o a outra* 5radies religiosas, como no caso do isl!, est!o em um constante

#rocesso de atualiza!o e recria!o de seus modelos normati%os, cu+os elementos

constitu2dos #odem ser ressigni/icados e modi/icados em cada momento istórico e

conte>to cultual (Pinto, 89:9b)*

Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro9: caracterização e metodologia

O conte>to religioso da .BM01 se di/erencia das demais comunidades muulmanasno Brasil #or4ue em tal institui!o o 4uadro ma+orit6rio n!o é constitu2do #or membros de

origem 6rabe (Pinto, 899H)* Ela #ossui um car6ter multicultural e multiétnico, onde e>iste

uma #resena signi/icati%a de membros dos mais di%ersos #a2ses e, sobretudo, de

brasileiros con%ertidos:9, o 4ue a caracteriza como uma comunidade de car6ter mission6ria

(1unior, 899L)* Os 6rabes e seus descendentes constituem cerca de 9R dos membros da

comunidade, sendo a maioria constituti%a de demais brasileiros de di%ersas origens, além

de a/ricanos e seus descendentes (Montenegro, 8998)* O #er/il social dos membros da

comunidade muulmana do 0io de 1aneiro é di%ersi/icado incluindo #ro/issionais liberais,comerciantes, estudantes uni%ersit6rios etc* "lguns comerciantes 4ue /re4<entam a

institui!o também #ossuem uma /orma!o uni%ersit6ria (?agas 899, 899 Pinto, 899H)*

Para demonstrar meus argumentos acerca das conce#es acerca dos  Jinns,

utilizarei os resultados de um trabalo etnogr6/ico realizado de Maro de 89:9 a 1uno de

 " #artir da4ui, usarei essa sigla #ara me re/erir a essa institui!o*:9  E>iste um debate sobre 4ual categoria de%e-se utilizar 4uando uma #essoa torna-se

muulmana no Brasil* 0e/iro-me aos termos con%ers!o ou re%ers!o* ?omo n!o dese+odesen%ol%er as #roblem6ticas em torno desta o#osi!o entre os autores 4ue trabalam comcomunidade muulmanas no Brasil, o#to #elo termo con%ers!o*

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89:: entre os muulmanos sunitas da .BM01* Mina inser!o na %ida cotidiana deste gru#o

se deu atra%és da #resena em cursos de ntrodução ao slã e ; !ín"ua #ra$e% ministrados

#or di/erentes #ro/essores e dirigentes desta mesma institui!o::*

" metodologia usada na #es4uisa /oi a obser%a!o #artici#ante, ou se+a, o contato

direto e #rolongado com os atores sociais en%ol%idos e em seus conte>tos es#ec2/icos, a

#artir do acom#anamento dos sermes (&hut$a) e das reunies dos gru#os de estudos

denominados de =/am2lia es#iritual:8A realizadas no es#ao da mes4uita:J* Eu também

realizei entre%istas abertas e ti%e con%ersas in/ormais com alguns membros do gru#o

dirigente da institui!o, assim como com alguns de seus /re4<entadores* O car6ter

antro#ológico desta #es4uisa sobre a .BM01 signi/ica dizer 4ue o uni%erso em#2rico

contem#lado #rocura le%ar em considera!o a an6lise dos discursos e das #r6ticas rituais

inseridas no conte>to desta comunidade em sua inter#reta!o do @sl! no Brasil* Embora

e>ista uma tradi!o te>tual 4ue garante um discurso o/icial na constru!o e legitimiza!o

de #r6ticas e discursos entre os membros da .BM01, isso nunca se encontra sistematizado

constituindo um cor#o canQnico de/inido* $ma das razes disso é 4ue n!o e>iste uma

autoridade central #or #arte de uma institui!o islDmica ca#az de im#or o uso dos mesmos

te>tos #ara todas as comunidades muulmanas no Brasil*

" sele!o de te>tos usados como re/erCncias canQnicas %aria de acordo com os

múlti#los conte>tos sociais e religiosos dis#on2%eis em cada comunidade* " an6lise da

tradi!o te>tual e>istente na .BM01 re%ela o grau de com#le>idade utilizada #elos seusmembros 4ue #rocuram /ormular um 4uadro teórico de conecimento do @sl! ao in%és de

receberem uma im#osi!o de um cor#o canQnico criado #ela academia ou #or escolas

religiosas* Mina an6lise a #artir do material etnogr6/ico e>#osto, utiliza te>tos a#enas

#ara indicar o uni%erso de re/erCncias utilizados #elos agentes durante mina %isitas* $ma

an6lise sistem6tica dos te>tos utilizados #ela .BM01 constitui uma #arte rele%ante do

:: Esta #es4uisa /az #arte da constru!o de meu #ro+eto de mestrado no Programa de Pós-Gradua!o em "ntro#ologia (PPG") #ela $ni%ersidade Federal Fluminense e encontra-seinserida no #ro+eto =Flu>os 5ransnacionais e ?onstru!o de @dentidades em ?omunidades3ias#óricas entre a "mérica do .ul e o Oriente MédioA coordenado #elo Pro/* 3r* PauloGabriel ilu da 0oca Pinto da $ni%ersidade Federal Fluminense ($FF), com su#orte/inanceiro do ?NP4*:8  Esses encontros s!o realizados #or algumas #essoas 4ue tCm como interesse discutirassuntos como a #ostura dos muulmanos no dia-a-dia, (se+a no ambiente do trabalo oudoméstico, e>#licaes teóricas sobre as crenas do isl! como, #or e>em#lo, o dia do +u2zo/inal e a im#ortDncia dos an+os) o #a#el da muler na educa!o das crianas, os modos dese realizar um se#ultamento muulmano, etc*:J " Mes4uita da 7uz (Masjid Al Nur ) segue uma tendCncia, iniciada na década de :9 no

0io de 1aneiro, de se concentrar nesse bairro #or causa das di%ersas instituies ligadas aosdi/erentes gru#os 4ue com#em a comunidade 6rabe carioca* .obre o assunto %erI Pinto(89:9a)*

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material a ser #roblematizado, #orém res#onde a #ro#ósitos di/erentes da 4ual este artigo

se #ro#e in%estigar*

Em todos os conte>tos da elabora!o da #es4uisa, a#enas os muulmanos de se>o

masculino:  e descendentes de 6rabes:H  #artici#aram da com#osi!o do material

etnogr6/ico 4ue ilustra o conteúdo do #resente te>to*

O universo simblico entre os muçulmanos da SBMRJ

"s crenas em  Jinns%  entre os muulmanos da .BM01, s!o e>#ostas, entre outros

conte>tos, durante as aulas de ntrodução ao slã%  a #artir das e>#licaes destes #elos

#ro/essores da institui!o com o au>2lio, de alguns li%ros escritos #or muulmanos 4ue

com#em a 3iretoria Educacional da .BM01* "dmite-se 4ue, numa se4<Cncia de cria!o do

mundo inscrita no "lcor!o, Allah teria criado #rimeiro os Anjos% cu+a matéria #rimordial /oi

a luz, e 4ue de#ois disso, a #artir do /ogo e>istente, estabeleceu-se a e>istCncia dos Jinns*

Num momento #osterior dessas criaes, os 'omens  teriam sido organizados a #artir do

barro, sendo a /igura de  Adão a res#ons6%el #ela #roli/era!o dos umanos na 5erra* $m

elemento 4ue se destaca entre esses trCs seres criados re/ere-se ; 4uest!o do li%re

arb2trio* Os an+os #or serem criaturas de%otadas ;s ordens di%inas, n!o #ossuiriam a

ca#acidade de realizar escolas, ou se+a, as regCncias das leis de  Allah  estariam em

#rimeiro lugar, o 4ue no caso, n!o ocorreria entre os Jinns e nem com os umanos*Os #ro/essores (?omerciante, J anos, descendente de s2rios e $ni%ersit6rio, 8L

anos, natural de Bur&ina-Farso) narram 4ue dentre os  Jinns  6 os 4ue s!o muulmanos,

%oltados #ara a %ida religiosa islDmica, e  Jinns de outras religies como crist!os, +udeus,

budistas e os 4ue seguem outras denominaes monote2stas* Os Jinns, #ara eles, #ossu2ram

%ida social teriam a abilidade de casar, #rocriar, comer e beber* Eles %i%eriam no

#laneta 5erra num mundo #aralelo ao nosso* "lém disso, teriam a ca#acidade de nos %er,

#orém nós n!o os %er2amos no seu estado natural, ou se+a, no #lano in%is2%el* Os

#ro/essores a/irmam 4ue eles #odem assumir tais /ormas animais 4uanto umanas, sendo4ue os omens n!o teriam, em seu cam#o %isual, como distingui-los* 3urante uma

: " inser!o no uni%erso /eminino n!o somente nesta institui!o, mas de um modo geral ao@sl!, coloca limites #ara um #es4uisador omem* "s muleres casadas sem#re est!o aolado de seus res#ecti%os maridos e as solteiras sem#re andam +untas na Mes4uita da 7uz*$ma a#ro>ima!o no uni%erso das muleres solteiras #ode simbolizar uma tentati%a deestabelecer um interesse #articular (relaes amorosas), neste caso, #ara a mina #essoa#elo /ato de n!o ser muulmano* Por isso, o#tei #or me concentrar nos discursos e nas

#r6ticas dos omens da .BM01*:H Mesmo reconecendo a di%ersidade e>istente entre os membros da .BM01 (brasileiros ea/ricanos), o#tei #or me concentrar em um gru#o*

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con%ersa, em cadeiras #ró>imas a cu#ins, um dos muulmanos #ro#Qs uma met6/ora #ara

e>#licar a e>istCncia desses seresI

SocC est6 %endo a4uele inseto no c!oT Bom, nós ser2amos a4uele

inseto 4ue %aga #ela 5erra totalmente des#reocu#ado da e>istCncia

de seres #aralelos a nós, tentando a#enas %i%er nossas %idas* Os

 Jinns ser2amos nós, 4ue estamos olando #ara o inseto, #or4ue eles

estariam conscientes de sua e>istCncia e reconeceriam a

e>istCncia de outros di/erentes deles* Eles #odem nos %er,

caminar +unto de nós*** Nós a#enas saber2amos reconecer alguns

sinais das #resenas deles* (?omerciante, J anos, descendente de

s2rios)*

Mesmo admitindo a inca#acidade de %er os Jinns no #lano /2sico, um dos #ro/essores

de 6rabe da .BM01 ($ni%ersit6rio, 8L anos, natural de Bur&ina-Farso) e>#licita a idéia de

4ue 4uando nasce uma criana, alguns  Jinns #odem segui-la até o /inal de sua %ida, caso

seus #ais n!o e%idenciem #ara esses seres, 4ue se trata de um muulmano, ou se+a, de um

ser umano 4ue se dese+a 4ue siga o camino rumo ; de%o!o a Allah*

Por isso, /azemos o 4uCT Pronunciamos a shahada

:

 (testemuno de/é) no ou%ido do bebC #ara 4ue ele se+a muulmano logo e #rocure

acar um camino longe do contato com esses seres* Os ditos no

ou%ido das crianas nada mais s!o do 4ue sú#licas #ara a/astar o

mal das in/luCncias e>ternas*

En4uanto con%ersa%a com as #essoas da .BM01, #ercebi 4ue este tema gera%a uma

rea!o di/erenciada #or #arte de alguns muulmanos* U #reciso relatar 4ue alguns deles

n!o me ola%am nos olos #ara res#onder ;s #erguntas sobre os as#ectos da inter%en!ono #lano /2sico realizados #elos  Jinns, en4uanto 4ue, acerca de outras 4uestes,

: " #ro/iss!o de /é muulmana =N!o e>iste deus além de 3eus e Muammad é o #ro/eta de3eusA (7a ila ila "lla Va Muammad rasul "lla) é o único elemento doutrinal entre oscinco #ilares* Ela constitui o m2nimo consenso doutrinal e>igido aos muulmanos,a/irmando a crena no monote2smo e na #ro/ecia de Muammad* " aceita!o das duas#ro#osies coloca automaticamente a #essoa dentro da comunidade religiosa do isl! e, da

mesma /orma, a sua recusa im#lica na e>clus!o da mesma (Pinto, 89:9b)* " shahada  éusada como demarcador do rito de #assagem (San Genne#, :L) 4ue %isa ; incor#ora!ode um indi%2duo no uni%erso religioso do isl!*

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en%ol%endo as suas aes e 4ualidades intr2nsecas, as res#ostas eram geradas sem reaes

deste ti#o*

Eu - Os Jinns causam algum ti#o de receio #ara os muulmanosT

Muulmano - N!o, nem um #ouco (com os olos %oltados #ara

bai>o, des%iando-se de 4ual4uer com#romisso com sua res#osta

#ara comigo)*

E$ - Ent!o, como éT

Muulmano - ?omo é o 4ueT (com os olos %oltados #ara mim)

E$ - ?omo se sabe 4ue estamos diante de um jinnT

Muulmano - @sso #ode ser mais di/2cil 4ue se #ensa (no%amente

com os olos %oltados #ara bai>o)

.egundo outro #ro/essor de l2ngua 6rabe ($ni%ersit6rio, 8 anos, descendente de

libaneses e colaborador do 1ornal @nterno da .BM01), cada Jinn %i%eria mais ou menos :999

anos* Eles /icariam tristes 4uando a #essoa 4ue eles seguem n!o %ai #ara o in/erno ( "eena),

o 4ue su#e-se ter ocorrido de%ido ; /ala ou #ouca #enetra!o de suas sugestes nos

#ensamentos dos omens* ?ada um dos Jinns 4ue o#tam #or n!o seguir um camino rumo a

 Allah teria como #ro#ósito de %ida conduzir os omens na 5erra rumo ao =malA, a #artir da

#rodu!o de aes m6s #raticadas #elos umanos de%ido ; ca#acidade de sugest!o dessesseres nos #ensamentos dos umanos* ?aso /alem neste #ro#ósito, os  Jinns  eles seriam

#unidos #or $lis1( , uma %ez 4ue n!o teriam conclu2do sua miss!o em des%iar os caminos

dos omens*

"lém disso, os #ro/essores costumam comentar 4ue as #essoas 4ue se ligam a

es#2ritos, lidariam diretamente com  Jinns* $ma discuss!o sobre este assunto me /oi

#ro#orcionado 4uando assisti uma reuni!o da =/am2lia es#iritualA, #ara discutir algumas

dú%idas entre os muulmanos* $ma senora muulmana a%ia relatado durante esta

reuni!o 4ue sua %izina, ligada ; religi!o es#2rita, recebeu a %isita de uma #essoa 4uea%ia morrido dizendo 4ue onde ela esta%a era =#éssimoA e 4ue ela, a #essoa 4ue recebeu

a %isita, estaria em sérios a#uros #or sua conduta na 5erra* " dú%ida da senora

muulmana se centra%a na ca#acidade de inter#retar esse e%ento, uma %ez 4ue #ara os

muulmanos a alma n!o %oltaria de#ois da morte* ?omo ent!o, o es#2rito de alguém

#oderia saber tanto sobre a %ida de um outroT Esta entidade /oi inter#retada como um Jinn 

#or um dos #ro/essores de 6rabe segundo sua com#reens!o de 4ue esse ser teria

:

 O  Jinn 4ue se recusou a se cur%ar diante de  Adão, #ela ordem de  Allah, é denominado$lis* Ele é reconecido no "lcor!o como o =rei dos Jinns)* $lis #ode ser encontrado sobrea denomina!o de *ha+tan* SerI Bartel (89::)*

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acom#anado a #essoa 4ue morreu #or toda a sua %ida* Por isso, o Jinn saberia de tudo o

4ue aconteceu com esta senora 4ue +6 /aleceu* ?omo conse4<Cncia desse contato direto

com esse ser, o #ro/essor comentou 4ue a #essoa 4ue incor#orou o  Jinn  de%eria ter

cuidado, #ois o =malA +6 teria atuado +unto a ela*

"s religies a/ro-brasileiras seriam, na %is!o dos interlocutores do cam#o,

conecidas #or tal comunica!o com os es#2ritos, e conse4<entemente, com os Jinns*

Os  Jinns  /azem acordo entre si* Por e>em#lo, caso a+a alguém

incor#orado #or um  Jinn, a #essoa 4ue %ai tentar tir6-lo também

/az contatos com  Jinns* Este  Jinn  4ue é o seu contato tenta

negociar com o outro #ara 4ue o mesmo desocu#e a4uele cor#o,

tendo assim uma troca de interesses ou /a%ores*

Os ori>6s do ?amdoblé e os Es#2ritos da $mbanda s!o considerados

#or nós como mani/estaes de  Jinns* " 4uest!o do médium no

Es#iritismo também se encai>a a4ui* U #reciso ter um certo receio

com tais contatos* Os  Jinns est!o a2 #ara =%erA* (?omerciante, J

anos, descendente de s2rios)*

Mesmo reconecendo a e>istCncia de  Jinns muulmanos na 5erra, o seu contato é

%edado aos #raticantes do islamismo, constituindo-se em a#ro>imaes de /ormas de tabuem termos religiosos, #ois segundo um dos entre%istados, 4uem se relaciona com os  Jinns 

tornaria um descrente #ara o isl!, +6 4ue eles n!o ensinariam nada aos umanos, nem

colaborariam com a #essoa antes 4ue a mesma se tornasse um descrente* 7ogo, seria

#roibido #ara 4ual4uer muulmano o contato com eles*

.abemos 4ue os  Jinns  #ossuem contato com os "n+os, #ois eles

#ossuem a ca#acidade de %ia+ar até o céu, onde estabelecem uma

rela!o armoniosa com estes* "#esar dos  Jinns  descendentes do#ró#rio demQnio 4ue s!o contr6rios a essa armonia onde sem#re

%isam um estado de con/lito* "lém disso, os  Jinns  tCm a

#ossibilidade de entrar em contato com os umanos na 5erra*

Entretanto, os Jinns muulmanos est!o #roibidos #or determina!o

de Allah a +amais entrarem em contatos com os omens* Por isso,

sabemos 4ue 4uando alguém é a/etado #or um  Jinn, estamos

lidando com os  Jinns n!o-muulmanos ou com o #ró#rio demQnio*

(?omerciante, J anos, descendente de s2rios)*

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O demQnio, re#resentado a4ui #elo #ró#rio $lis, #ode seduzir o omem em

4ual4uer momento de sua %ida di6ria, o 4ue coloca a res#onsabilidade dos omens #ara

com suas aes a ser uma meta alcanada #or meio do reconecimento dos caminos

des%iantes su#ostamente #lane+ados #elo agente do mal ou #elas suas /ormas de

mani/estaes 4ue corrom#em os omens* "ssim, intencionado a es#alar =o malA na

5erra, $lis  assume uma #osi!o de destrui!o, atuando atra%és de suas #ro%aes #ara

com o camino dos omens, #rocurando desestabilizar as relaes destes com  Allah*

?i#man (899) argumenta 4ue a en/Dse na arrogDnica de $lis se e>#ressa #recisamente

neste momento e 4ue Allah era ciente do seu orgulo, mas o#tou #or n!o #uni-lo #or seus

#ensamentos, mas só 4uando ele tentou realizar seu orgulo* $m dos #ro/essores narrou

4ue $lis seria o =rei dos Jinns), ou se+a, e>istiria algo além dele 4ue in/luencia as #essoas*

$lis comandaria todos os  Jinns e n!o teria tanta /ora como e>iste no mundo crist!o de

um ser t!o #oderoso e maligno*

.ugerir 4ue $lis  e os  Jinns  s!o os únicos cul#ados #elo mal no mundo seria

di/erente 4ue considerar o #a#el da a!o umana* Para o #ro/essor, os 4ue /orem #ara o

in/erno, #odem cul#ar os outros omens #or suas aes e até seria #oss2%el 4ue a colo4uem

em $lis, entretanto o %alor das aes de%e, em sua %is!o, #esar sobre os indi%2duos 4ue as

#raticam*

E$ - ?omo sabemos 4ue estamos diante de alguma mani/esta!odesse serT

E7E W "s #essoas 4ue /azem macumba***(/oi 4uando, subitamente,

ao nosso lado, cai uma #ila de cadeira de #l6stico W ao total

de%iam ser oito W no c!o #ro%ocando um estrondo no sal!o da

mes4uita)* 3e#ois de olar #ara mim, ele comentaI U só /alar em

macumba 4ue essas coisas acontecem*** (risos dele)* En4uanto ele

a+eita%a as cadeiras na #ila original, #ergunteiI

E$ - @sso n!o seria /ora de $lisTE7E - U só /alar em macumba 4ue essas coisas acontecem*** (risos

dele e +6 mudando de assunto)

" /orma de mani/esta!o tanto de $lis  4uanto dos  Jinns, se realiza atra%és do

sussurro nos ou%idos 4ue re#resenta a tenta!o, #ela /orma de #ensamento #ara com os

omens, #or4ue segundo o #ro/essor de 6rabe, alimentaria o lado bestial do umano, #ara

#raticar aes 4ue n!o condizem com os #receitos de  Allah* =O es/oro é nosso (do

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omem), mas o resultado é de  AllahA* " inten!o segundo este muulmanos seria tudo,

inclusi%e a de a/astar o mal #ara si, #oisI

***se eu /izer algo de bom na %ida de alguém eu serei

recom#ensado l6 na /rente***e se eu agir de m6 /é e mesmo assim

resultar numa boa a!oT Bom ai, meu %alor é menor, #ois n!o

esta%a intencionado***%ale menos, mas %ale*

O imam (l2der religioso) da mes4uita (?omerciante, J anos, descendente de s2rios)

insiste 4ue o sussurro #ode se mani/estar de %6rias /ormas* Poderia ser distraindo a #essoa

#ara 4ue ela es4uea de cum#rir suas obrigaes, como acontece 4uando a #essoa est6

orando e comea a %ia+ar com seu #ensamento em outros, #ode ser le%antando dú%idas

dentro dela e até #ode se mani/estar atra%és das lembranas das atitudes il2citas e as

en/eitando #ara 4ue a #essoa %6 ao encontro dela, entre outras* ?omo ele mesmo

salientouI =O sussurro seria a origem de toda a desobediCncia a AllahA (@sbelle, 899J)*

Fomos ; última criatura 4ue abitou a 5erra #or  Allah* Ele a%ia

criado tudo antes, inclusi%e os Jinns* 3e#ois 4ue $lis 4ue negou a

se #rostrar #erante a "d!o, ele decidiu olar #ara os umanos na

5erra, mesmo de#ois da 4ueda* O ciúme dele #ara com "d!o oe>#ulsou do Para2so* Precisamos nos manter /irme em nossa

conduta rumo ao Para2so*

O uso do cor#o #ode /ornecer um e>em#lo ligado ; /igura de $lis  e

conse4<entemente aos Jinns* 3urante as reunies onde os muulmanos da .BM01 #rocuram

tirar suas dú%idas +unto aos #ro/essores, o tema da im#ortDncia de se saudar as #essoas e

de realizar 4ual4uer ato de comer com a m!o direita /oi suscitado* No in2cio, /oi dada uma

e>#lica!o neurológica:L  #ela su#osta atua!o do lado direito do cérebro criando omo%imento o#osto no cor#o das #essoas, #orém, uma das alunas #resente le%antou uma

4uest!o acerca do uso dos talares na mesa durante as re/eies* =Eu de%o cortar os

#edaos de comida #resentes no #rato, n!o se im#ortando com a #osi!o das minas m!os,

#ara comer a comida com o gar/o atra%és de mina m!o direitaTA $m dos #ro/essores

:L Os #ro/essores da .BM01 utilizam termos e e>#licaes cient2/icas em suas /alas e te>tosdi%ulgados entre os muulmanos e aos de /ora da comunidade* " rela!o entre isl! e

ciCncia tem #ro%ocado trabalos sobre a tem6tica* SerI 7ei/ .tenberg ,he slami-ation of*cience. /our Muslim 0ositions (7und .tudies in istor o/ 0eligions, No* ) ?oronet Boo&sINeV Xor&, :*

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con/irmou a #ossibilidade de realizar tal se4<Cncia, entretanto destacou 4ue isso

re#resentaria realizar esses atos em outros termos* .egundo ele, *ha+tan /az tudo com a

m!o es4uerda em o#osi!o a  Adão, dando mais um e>em#lo de sua arrogDncia #erante a

cria!o de Allah* .endo assim, caberia aos muulmanos a recusa de n!o imitar *ha+tan em

seus atos* ="d!o comia com a m!o direita #ara adorar a AllahA*

ertz (:L9) reconece a #resena de interdies estabelecidas #ela sociedade,

4ue re#ercutem na #redominDncia do uso da m!o direita em detrimento da es4uerda* "lém

disso, ele #arte do #ressu#osto 4ue a e>#lica!o /isiológica sobre a #redominDncia do uso

da m!o direta é incom#leta, demonstrando 4ue a rela!o entre sagrado e #ro/ano é 4ue

determina o uso #re/erencial de uma das m!os* .e+a como /or, a dimens!o educacional de

uma cor#oralidade de%e ser #ensada #ara além da dimens!o biológica, e neste caso, em

termos simbólicos* En4uanto ordem simbólica, o cor#o é uma re#resenta!o dos modelos

im#ostos #or di/erentes maneiras de se %i%er (Mauss, 899), de estabelecer regra e

condutas re#resentadas #elo cor#o com um ob+eti%o 4ue simboliza as #ossibilidades de um

gru#o*

$ma outra maneira de se reconecer a #resena dos  Jinns no #lano /2sico seria a

sua ca#acidade de incor#ora!o nos seres umanos, #ri%ando-os de sua abilidade de

racioc2nio ou im#ondo-les uma conduta moral 4ue seria considerada como uma /orma de

loucura tem#or6ria* " #ossess!o de #essoas %ia #ala%ras ou aes seria um trao

caracter2stico dos Jinns* "demais, a idéia de #essoas 4ue #odem realizar =magiaA ou tem=olo-grandeA, corrente na sociedade brasileira, também seria considerada #or alguns

muulmanos da .BM01 como aes en%ol%endo  Jinns, uma %ez 4ue a /ora de tais aes

n!o #oderia ser #roduzida #or umanos, mas t!o somente #or criaturas 4ue se ligam as

/oras ocultas* Neste caso, #resumi-se na a!o ad%inda da #ersoni/ica!o do mal tendo

re/erCncia a $lis*

!onsideraç"es #inais

"s conce#es do  Jinns, atra%és dos muulmanos da .BM01, #ermite colocar o

sistema de crena local em rela!o a um uni%erso cosmológico #resente na tradi!o

islDmica como /orma a re#ensar as =agCncias do malA se+a em situaes ati%as

(intencionais) ou #assi%as (acidentais) consideradas #elos interlocutores do cam#o ao longo

do trabalo etnogr6/ico*

" cor#oralidade ad4uire um as#ecto rele%ante durante a constru!o das 4uestes

4ue nortearam este ensaio* Entretanto, n!o #osso concluir de maneira /ormal 4ue esta

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no!o estaria no centro da conce#!o cosmológica do @sl!, tam#ouco na constitui!o da

conce#!o de #essoa entre os muulmanos da .BM01*

Fora das res#onsabilidades indi%iduais, atuaria o #lano das /oras e>ternas,

re#resentadas a4ui #elos Jinns, 4ue desa/iariam as relaes dos indi%2duos consigo mesmo

e com seus #ares* "s tenses en%ol%endo a nomea!o do 4ue %ena a ser =o malA entre os

mulumanos da .BM01, seguindo suas di/erentes tradies, s!o #roblemas #ertinentes 4ue

#recisariam ser rea%aliados* .eria #reciso estar atento #ara os ob+etos in%is2%eis, #ara além

dos #ró#rios  Jinns  en4uanto seres in%is2%eis, onde uma =no!o a#ro>imadaA das coisas

torna-se /undamental, dese+oso #or trilar um rumo #ara no%as descobertas*

Refer$ncias Bibliogr%ficas

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