a convenção 189 da oit.doc 2

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A Convenção 189 da OIT – Organização Internacional do Trabalho foi aprovada em 16.06.2011, por maioria de votos, durante a 100ª Convenção da OIT - Organização Internacional do Trabalho, que foi realizada em Genebra na Suíça, e trata sobre o trabalho decente para os empregados domésticos no mundo. Ela amplia os direitos já consagrados aos demais trabalhadores para os trabalhadores domésticos. Nela contém um elenco de sugestões que os Estados-membros poderão acatar ou não, vai depender da conveniência e possibilidade de cada um. O Brasil por ser um Estado-membro da OIT já está tomando as devidas providências para sua implantação. Está em tramitação no Congresso Nacional a PEC - Proposta de Emenda à Constituição 478/10, que estende aos empregados domésticos todos os direitos já assegurados aos demais trabalhadores urbanos e rurais. A PEC revoga o parágrafo único do artigo 7° da Constituição que garante aos domésticos apenas alguns dos 34 direitos trabalhistas previstos neste artigo. Juntamente com esta Convenção vem a Recomendação n° 201, que apresenta orientações para a implementação de programas e ações, trazendo no conteúdo de seus artigos os seguintes temas: - Liberdade de associação e direito à negociação coletiva; - Medidas relacionadas à saúde de trabalhadores e trabalhadoras domésticas; - Identificação e proibição de trabalho doméstico insalubre para crianças e proteção para trabalhadores domésticos jovens; - Informações sobre termos e condições de emprego; - Proteção contra abuso, assédio e violência no local de trabalho; - Jornada de trabalho definida em lei; - Proteção quanto a remunerações e pagamento in natura; - Condições adequadas de acomodação e alimentação; - Saúde e segurança; - Trabalhadores migrantes; - Agências de emprego privadas; - Inspeção do trabalho; - Elaboração e implementação de políticas e programas; - Cooperação internacional para proteção dos trabalhadores domésticos no mundo.

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Page 1: A Convenção 189 da OIT.doc 2

A Convenção 189 da OIT – Organização Internacional do Trabalho foi aprovada em 16.06.2011, por maioria de votos, durante a 100ª Convenção da OIT - Organização Internacional do Trabalho, que foi realizada em Genebra na Suíça, e trata sobre o trabalho decente para os empregados domésticos no mundo. Ela amplia os direitos já consagrados aos demais trabalhadores para os trabalhadores domésticos. Nela contém um elenco de sugestões que os Estados-membros poderão acatar ou não, vai depender da conveniência e possibilidade de cada um. O Brasil por ser um Estado-membro da OIT já está tomando as devidas providências para sua implantação. Está em tramitação no Congresso Nacional a PEC - Proposta de Emenda à Constituição 478/10, que estende aos empregados domésticos todos os direitos já assegurados aos demais trabalhadores urbanos e rurais. A PEC revoga o parágrafo único do artigo 7° da Constituição que garante aos domésticos apenas alguns dos 34 direitos trabalhistas previstos neste artigo.

Juntamente com esta Convenção vem a Recomendação n° 201, que apresenta orientações para a implementação de programas e ações, trazendo no conteúdo de seus artigos os seguintes temas:- Liberdade de associação e direito à negociação coletiva;- Medidas relacionadas à saúde de trabalhadores e trabalhadoras domésticas;- Identificação e proibição de trabalho doméstico insalubre para crianças e proteção para trabalhadores domésticos jovens;- Informações sobre termos e condições de emprego;- Proteção contra abuso, assédio e violência no local de trabalho;- Jornada de trabalho definida em lei;- Proteção quanto a remunerações e pagamento in natura;- Condições adequadas de acomodação e alimentação;- Saúde e segurança;- Trabalhadores migrantes;- Agências de emprego privadas;- Inspeção do trabalho;- Elaboração e implementação de políticas e programas;- Cooperação internacional para proteção dos trabalhadores domésticos no mundo.

Esta convenção é composta de 27 artigos, dos quais 19 (art. 1° a 19) tratam exclusivamente do tema, e os demais (20 a 27) das regras para sua devida implantação. Neste pequeno esboço iremos comentar apenas aqueles que se referem aos possíveis novos direitos a serem extensivos aos empregados domésticos. Antes de tudo temos a esclarecer que esta convenção ainda não está em vigor em nenhum país do mundo porque ainda não foi ratificada por dois Estados-membros, o que somente irá ocorrer 12 meses após a segunda ratificação.

O seu artigo 1° trata do conceito de trabalho e trabalhador doméstico, e está em consonância com as definições já estabelecidas aqui no Brasil. É considerado empregado doméstico aquele maior de 16 anos que presta serviços de natureza contínua (freqüente, constante, não eventual) e de finalidade não-lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas.

Os artigos 2° e 3° prevêem a sindicalização da categoria e proteção aos seus membros, o que em nada mudará aqui no Brasil já que temos diversos sindicatos e associações de empregados e empregadores domésticos.

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O artigo 4° prevê que a idade mínima do empregado doméstico não seja inferior da que é estipulada para os demais trabalhadores, o que em nada altera a legislação brasileira, aqui só os maiores de 16 anos podem exercer a função de empregado doméstico.

O artigo 5° reza que o empregado doméstico não pode sofrer abuso, assédio ou qualquer outro tipo de violência. O artigo 6° prevê que o empregado doméstico deve ter condições de vida decente e respeito a sua privacidade. Em ambos os casos, em tese, já é previsto no Brasil.

O artigo 7° prevê que todos os direitos assegurados no artigo 7° de nossa Constituição Federal aos trabalhadores comuns, quando possível, sejam assegurados a categoria dos empregados domésticos. Poucas pessoas estão sabendo, mas no texto da Convenção 189 consigna expressões fundamentais: “de preferência, quando seja possível, de conformidade com a legislação nacional”. É aqui que mora o cerne da questão, melhor dizendo, tudo que a Convenção contempla poderá ser aplicado em qualquer País-membro da OIT – Organização Internacional do Trabalho, inclusive no Brasil, quando for possível. Em outras palavras, poder não é dever, possível não é imediato. O que tem que ficar bem claro é que a referida Convenção recomenda que, quando for possível, que seja estendido aos trabalhadores domésticos todos os direitos já assegurados aos trabalhadores regidos pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, que são aqueles elencados no artigo 7° da Constituição Federal

O artigo 8° trata do trabalhador migrante, que são aqueles que são contratados em um país para trabalhar em outro.

O artigo 9° trata da garantia de uma moradia decente, isto no caso dos empregados que moram na casa do empregador, do descanso diário e do repouso semanal remunerado e das férias anuais, direitos estes já assegurados aqui no Brasil.

No artigo 10 está previsto a igualdade de tratamento do trabalhador doméstico ao trabalhador comum. Vejo que na prática o maior problema na aplicação deste artigo vai ser a implantação de uma jornada de trabalho para esta categoria. Como fiscalizar? O lar é um ambiente inviolável, o seu acesso sem autorização do proprietário só com ordem judicial. Como vai ser esta fiscalização?

Os artigos 11 e 12 tratam da garantia de um salário mínimo e que este pagamento seja em espécie, garantias estas que já estão asseguradas aos domésticos aqui no Brasil.

Os artigos 13 e 14 tratam da seguridade social com relação aos empregados domésticos. No Brasil todo empregado doméstico é segurado obrigatório da Previdência Social, garantia esta que já está prevista no artigo 4° da Lei 5.859/1972.

O artigo 15 é dirigido as Agências de Emprego que proíbe a terceirização deste serviço, o que não é possível aqui no Brasil para esta categoria.

O artigo 16 assegura a categoria o direito de procurar seus direitos na justiça, aqui no Brasil os empregados domésticos sempre puderam pleitear seus direitos na Justiça do Trabalho.

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O artigo 17 recomenda que todo Estado-membro deve prover os meios e fórmulas para se implantar uma maior fiscalização na aplicação da legislação desta categoria, o que é já é feito em tese aqui no Brasil através da Fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego.

O artigo 18 recomenda a todo Estado-membro que façam consultas as entidades representativas dos empregadores e empregados domésticos para a devida adaptação desta Convenção as normas já existentes, o que ainda não foi feito aqui no Brasil, a verdade é que o Brasil como Estado-membro, sem consultar qualquer entidade de classe, aproveitou a PEC-478/2010 que já estava tramitando na Câmara Federal para implantar a Convenção 189 da OIT.

Por fim, o artigo 19 determina que seja aplicado a norma mais favorável ao empregado doméstico, o que não é novidade aqui no Brasil por se tratar de um dos princípios básicos do direito do trabalho.

O que pode mudar aqui no Brasil com a aplicação da Convenção 189 da OIT é a obrigatoriedade do recolhimento do FGTS por parte do empregador doméstico, o direito de percepção do salário-família, adicional noturno, adicional de insalubridade e periculosidade, conforme o caso, recebimento do abono salarial e rendimentos relativos ao Programa de Integração Social (PIS), percepção de benefícios por acidente de trabalho, assegurar uma jornada de trabalho prevista em lei para os empregados domésticos e consequentemente o pagamento de horas-extras. Tudo indica, pela urgência que a PEC 478/2010 está tramitando, é que a extensão dos novos direitos a categoria dos empregados domésticos já entre em vigor, sem sequer a Convenção 189 ter sido definitivamente ratificada na OIT, coisas do Brasil. Estes eram os breves comentários que tínhamos a fazer e lembramos aos congressistas brasileiros daquele conhecido adágio popular “que cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.