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Internacionalização amplia oportunidades na Ufrgs Cerca de 400 alunos de outros países circulam em cursos de graduação e pós-graduação na Universidade a cada ano. Eles chegam às salas de aula brasileiras provenientes de programas de intercâmbio Nº 189 - maio de 2011 Páginas 06 a 08 9 771980 315002 9 8 1 0 0 ISSN 1980315-X 9912271463/2011- DR/RS

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Internacionalização amplia oportunidades na Ufrgs Cerca de 400 alunos de outros países circulam em cursos de graduação e pós-graduação na Universidade a cada ano. Eles chegam às salas de aula brasileiras provenientes de programas de intercâmbio

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Internacionalização amplia oportunidades na Ufrgs

Cerca de 400 alunos de outros países circulam em cursos de

graduação e pós-graduação na Universidade a cada ano. Eles

chegam às salas de aula brasileiras provenientes de

programas de intercâmbio

Nº 189 - maio de 2011

Páginas 06 a 08

9 771980 315002 98100

ISSN 1980315-X

9912271463/2011- DR/RS

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9 771980 315002 98100

ISSN 1980315-X

Presidente -

1º Vice-Presidente - José Carlos Freitas Lemos

2ª Vice-Presidente - Maria Luiza Ambros von Hollenben

1ª Secretária - Daniela Marzola Fialho

2ª Secretária - Elizabeth de Carvalho Castro

3ª Secretária - Maria Cristina da Silva Martins

1º Tesoureiro - Paulo Artur Kozen Xavier de Mello e Silva

2ª Tesoureira - Maria da Graça Saraiva Marques

3ª Tesoureira - Ana Paula Ravazzolo

Claudio Scherer

Edi : Adriana LampertReportagens:

Projeto Gráfico: Eduardo Furasté Diagramação: Eduardo Furasté e Mateus MichaelsenIlustração: Mario GuerreiroArte Final: Julio CC Lima JrFotos da capa e contracapa: Fernando Araújo e Luana Fuentefria

çãoCláudia Rodrigues, Luana Fuentefria,

Marco Aurélio Weissheimer e Michelle Rolante

Sindicato dos Professores das InstituiçõesFederais de Ensino Superior de Porto Alegre

Mais ágil e leve, o portal traz notícias e informações de fácil acesso aos internautas durante a navegação.

As principais novidades ficam por conta da tecnologia para transmissão de eventos ao vivo e do arquivo dos programas de rádio.

Na página, também serão publicados vídeos, informativos, e links para os exemplares da revista Adverso.

Acesse e conheça o novo site da Adufrgs-Sindical.www.adufrgs.org.br

O novo site da Adufrgs-Sindical está no ar

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Í N D I C EEditorial

Diretoria da Adufrgs-Sindical

04 EDUCAÇÃOEnsino de música seráobrigatório nas escolaspor Michelle Rolante

06 REPORTAGEM

Os corredores da Ufrgs convergem para o mundo

por Luana Fuentefria

Princípios para uma federação de sindicatos de docentes

09 ESPECIALQuando a brincadeira do trotevira manchete nos jornaispor Cláudia Rodrigues

VIDA NO CAMPUS

15 teste de habilitação musicalpor Michelle Rolante

Projeto prepara futuros cotistas para

18JURÍDICO

Ataque aos direitos adquiridosatinge especialmente os aposentados

por Maricélia Pinheiro

19ARTIGONão podemos continuar calados anteuma carga tributária exageradapor Vagner Jaime Rodrigues, professor da Trevisan Escola de Negócios

Por decisão amplamente majoritária dos docentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), filiados ao Forum de Professores das Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), no dia primeiro de janeiro de 2012 o referido forum será transformado em Federação dos Sindicatos de Docentes do Ensino Superior Federal, e se chamará Proifes-Federação.

É imperioso, para que a federação dos sindicatos dos docentes tenha a qualidade que todos desejam, sendo representativa das aspirações dos filiados e atuante na luta pela melhoria das instituições universitárias e das condições de trabalho e salários, que alguns princípios fundamentais constem do estatuto da mesma. No VII Encontro Nacional do Proifes, a realizar-se de 15 a 18 de julho próximo, o estatuto do Proifes-Federação deverá ser aprovado.

Estamos propondo, como princípios mínimos a serem obedecidos pelo texto estatutário, os seguintes:

A instância decisória máxima da Federação deve ser um conselho deliberativo, composto por docentes indicados pelos sindicatos da base, em números proporcionais aos de seus filiados;

Uma diretoria executiva pequena, para ser ágil e pouco onerosa, implementará as decisões do conselho deliberativo, administrará a sede e o patrimônio da Federação e desempenhará o papel de representação das bases junto às autoridades constituídas e outras instituições;

Um conselho fiscal, autônomo em relação ao conselho deliberativo e à diretoria executiva, zelará pela correta aplicação dos recursos financeiros e patrimoniais da Federação;

Todas as ações da Federação deverão nortear-se pelos seguintes princípios:

-Respeito à pluralidade de ideias e preferências individuais de toda ordem, política, religiosa, sexual, etc;

-Independência em relação aos partidos políticos e aos governos;-Defesa da instituição pública de ensino, pesquisa e extensão, promovendo

sua ampliação e aperfeiçoamento;-Defesa da gratuidade, para o estudante, do ensino nas instituições

públicas;-Defesa da autonomia constitucional da Universidade e da autonomia do

professor em sua atividade docente; -Busca de melhorias das condições de trabalho para os docentes, com

salários apropriados e ambiente saudável; -Defesa da pesquisa científica, de alta qualidade, com recursos apropriados

e com reconhecimento do trabalho do pesquisador;-Defesa da extensão universitária como forma de promover a interação

universidade-sociedade;e, por fim:-Empenho no desenvolvimento sócio-econômico, educacional, cultural e

científico do País.

20NOTÍCIAS

22NAVEGUE

Doação origina exposição histórica do esporte no Ceme

por Cláudia Rodrigues

24 EM FOCO

27 MARIO GUERREIRO

23 ORELHA

21 OBSERVATÓRIO

26 + UM

12 "De repente os jovens saíram às ruase os partidos envelheceram"

PING-PONGMarcelo Branco

por Marco Aurélio Weissheimer

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O prazo estipulado pelo Governo, de três anos “Normalmente, quando existe professor de música, um letivos, para que toda escola pública e privada inclua o mesmo profissional é destinado para a escola inteira, e ensino de música na grade curricular encerra este ano. acaba atendendo dez turmas de 30 alunos. São turmas A Lei 11.769, de 18 de agosto de 2008, institui que a que geralmente têm um período de ensino musical por música passa a ser uma área obrigatória de conheci- semana”, salienta Luciane, dizendo que existe a mento em toda Educação Básica. De acordo com a Lei intenção de alterar a Lei de 2008. “O governo federal de Diretrizes e Bases de 1996, só estão autorizados a desenvolveu várias iniciativas para estimular a qualifi-lecionar com Educação Básica os professores com cação e o oferecimento de licenciaturas em Música”, formação em nível superior, ou seja, profissionais que avalia.tenham cursado a licenciatura em universidades e institutos superiores de educação na área que irão Curso para capacitar professores atuar. A Ufrgs é pioneira no curso de Educação Musical e

A professora do Instituto de Artes da Universidade Musicalidade (Licenciatura), no módulo de Educação à Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Luciane da Costa Distância (EAD), que está em sua primeira edição, Cuervo, lembra que sempre que é sancionada uma lei, é iniciada em 2007, e agora já em fase de conclusão. O necessário prever um período de flexibilidade. Ela objetivo deste curso é dar uma formação inicial em adverte que é inviável obrigar as escolas a terem música para professores que já estão atuando na rede professores de música da noite para o dia. “Por isso, pública. Segundo Luciane, alguns alunos eram forma-quando se tratam de leis com esta abrangência, é dos em Geografia, Artes Visuais, mas de alguma forma determinado um período para que todos possam se estavam ligados ao Ensino Público, por isso eles foram adequar”, destaca Luciane. Porém, muitos alunos pré-selecionados. correram para finalizar seus diplomas de licenciatura “Foi uma escolha mais classificatória do que na última hora, revela a professora. eliminatória desse perfil”, destaca Luciane. Ela explica

Ela garante que ainda não há quantidade suficien- que a proposta é diferente de um curso presencial, pois te de professores licenciados em Música para dar aulas trata-se de uma formação básica para dar suporte para a alunos da Educação Básica, e uma parte significativa estes professores. A docente frisa que essa é apenas destes profissionais sequer pretende atuar em escolas. uma das iniciativas que ocorreram em diversos âmbi-

por Michelle Rolante

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Ensino de Música será obrigatório nas escolas

A Lei 11.769 institui que a disciplina passe a ser uma área de conhecimento em toda Educação Básica

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tos. Outro exemplo se dá no Curso de Pedagogia da Ufrgs, horas presenciais e 16 horas cursadas à distância. Dentro que inclui cadeira de Educação Musical ministrada pela do currículo, foram criados quatro mini-cursos: Regência e professora Leda Maffioletti. “Sem dúvida, a disciplina de Educação Musical, Musicalidade Humana, Flauteando e Educação Musical está muito bem representada na Faculda- Criando e Desafinação Vocal. Até agora, foram abertas 20 de de Educação”, afirma Luciane, destacando que a ideia de vagas e foi realizada “uma divulgação modesta, através de introduzir a música na Pedagogia tem justamente o objeti- e-mail”, conforme a professora. Porém, de acordo com a vo de inserí-la no cotidiano escolar e possibilitar com que o docente, no segundo dia de inscrições estas vagas já interesse por este caminho se desperte. haviam sido preenchidas e vários alunos se interessaram

A professora do Instituto de Artes diz que hoje em dia em cursar a modalidade à distância, lembra Luciane, é muito comum os pequenos estudantes ouvirem música destacando a adesão de estudantes da Bahia, de Rondônia através de diversos tipos de aparelhos. e Santa Catarina. “Eles já sabem dizer quais são suas prefe- Segundo a docente, a maioria dos rências musicais”, destaca Luciane, ressal- professores que cursou a primeira edição do tando que não se pode dizer que a música módulo à distância não tinha experiência esteve fora das escolas até este momento. com EAD, mas foi sugerido que cada um “Mas, formalmente, só se fortaleceu como fizesse algo que representasse sua identida-uma área de conhecimento a partir da lei de de. Uma das professoras, por exemplo, 2008.” gravou uma aula e editou em mini-vídeos,

Para a docente, existem dois caminhos deixando como tarefa na EAD ler um capítu-para argumentar a importância da música lo do livro, conta Luciane. Ela afirma que nas escolas: a mais consolidada é a música mesmo aqueles que não compareceram às auxiliando em outras áreas do saber, como aulas presenciais podem utilizar esse raciocínio lógico matemático, desenvolvi- material digitalizado, feito exclusivamente mento motor, noções de espacialidade e para o curso, pois todas as atividades tempo, e também no aprendizado de outros entregues foram analisadas pelos professo-idiomas. O outro caminho, que está sendo res. buscado pelos profissionais de música, é consolidar a A busca de realização de pesquisas e argumentos para importância do desenvolvimento estético, de construir consolidar o Ensino de Música nas escolas se deve à uma valores dentro da área, ou seja, tratar como área de conhe- movimentação “muito grande” da própria Associação cimento. “Estas duas questões se complementam - até Brasileira de Educação Musical (Abem). “Nós temos fortes agora, o que justificou a música nas escolas foram esses representantes da Abem nacional dentro da Ufrgs”, ressal-argumentos de que a disciplina ajuda em outras áreas”, ta Luciane, frisando que os profissionais do Rio Grande do cita Luciane, destacando que a música também tem seu Sul foram muito importantes na aprovação desta nova Lei. valor intrínseco. “A musicalidade passa pelos vínculos A professora destaca que outro pilar desta consolida-afetivos, pelas noções de lógica, nas áreas de exatas, e é ção é a atuação na qualificação dos professores. Esse considerada como uma área de conhecimento do desenvol- preparo pode ser realizado através de cursos, não só em vimento humano”, reforça. nível de graduação, mas também de pós-graduação. “A

O curso de extensão em Educação Musical e Musicali- pós-graduação da Música da Ufrgs tem nível 7 sendo que dade, coordenado por Luciane, é promovido pela Faculdade esta é a nota máxima - e isso mostra a importância que o de Educação (Faced), em parceria com o Instituto de Artes. Ministério da Educação dá para essa área.” A atividade oferece um total de 32 horas-aulas, sendo 16

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Corredores da Ufrgs convergem para o mundo

Internacionalização amplia oportunidades de vivência de estudantes e professores dentro da Universidade

por Luana Fuentefria

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Em uma época em que o conhecimento disciplinar programas da Capes e do CNPq. Os que não se envolvem não é mais suficiente para qualquer área profissional, a com esse procedimento são informados da presença do Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) entra novo estudante na faculdade, de maneira que possam se cada vez mais no processo multicultural e oferece a toda a preparar para possíveis adequações. A Secretaria de comunidade universitária o aprendizado além-fronteiras. Relações Internacionais (Relinter) procura orientar o A presença constante, nos corredores da Universidade, de corpo docente para esse tipo de situação. “Temos uma centenas de alunos estrangeiros, provenientes de campanha para que os professores entendam a cultura do programas de intercâmbio da Ufrgs, permite a qualquer aluno e como é o ensino no país dele, para que aluno ou professor a percepção de um mundo muito maior, compreendam a forma de reagir de cada um”, conta a dentro e fora da vida acadêmica. secretária de Relações Internacionais da Universidade,

Por ano, aproximadamente 400 rostos de outros Liane Hentschke.países circulam em cursos de graduação e pós-graduação. O segredo, no entanto, é entender sem Em 2010, foram 240 estudantes na graduação e 143 na pós, diferenciar. O professor Antonio Padula, da Escola de oriundos de 56 países, sobretudo Portugal, França, Administração (EA), onde um convênio com duas Alemanha e Argentina. Eles chegam às salas de aula universidades americanas já está sendo renovado por mais brasileiras por meio de convênios entre as unidades quatro anos, acredita que dar uma aula sem atender universitárias ou de outros consórcios. Todo o processo, especialmente ao estrangeiro, valoriza o estudante de desde a seleção do aluno até a vida dele na capital gaúcha, outro país. “Ele vem com vontade de se desenvolver, então é acompanhado por um conjunto de esforços de toda a isso ajuda”. Na avaliação do docente, a dificuldade é comunidade acadêmica. somente inicial, mas logo todos se adaptam. O que não

Em boa parte dos casos, é o próprio professor que significa, conforme Padula, a falta de auxílio.toma iniciativa de abrir a vaga e buscar financiamento de

Fernando Araújo

Alunos da Faculdade de Ciências Sociais organizaram, em maio, ciclo de palestras Brasilidades para integração e apresentação da cultura brasileira aos atuais intercambistas estrangeiros

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O professor da Faculdade de Informática Nicolas na Universidade, é a falta comunicação com o docente, que Maillard lembra que o interesse do aluno vem justamente lhes causa temor pelo fato de, em muitos países, o mesmo da dificuldade, mas que é importante estar disponível a ser visto como uma autoridade intangível.uma conversa para esclarecer dúvidas após o horário das Todos os esforços para que essa realidade seja cada aulas. Maillard busca propor soluções para que os alunos vez menos assustadora para os estudantes vai ao encontro se sintam à vontade, ainda que sem receberem privilégios. do processo de internacionalização da Ufrgs, que nos Uma das opções que encontrou é oferecer a possibilidade últimos oito anos vem aumentando, e que promete se de realização de provas em inglês. intensificar ainda mais nos próximos. A secretária da

Os estudantes aceitam ou não o apoio de acordo Relinter acredita que o aumento de propostas de com as suas dificuldades e interesses de desenvolvimento. A norte-americana Meg Rebecca Capshew, que veio da Universidade da Indiana para cursar disciplinas de Letras e Ciências Sociais até o fim do ano, prefere escrever em português nas provas, apesar da possibilidade de fazê-lo em sua língua materna. Uma possível nota baixa é resolvida com trabalhos extras, uma forma de também reforçar os estudos.

Meg, que chegou ao País com uma perna quebrada, conta que desde o princípio foi recebida com carinho pela comunidade acadêmica. “Fui tratada ainda melhor quando souberam que eu não era daqui”, comenta. Para não correr o risco de que os visitantes fiquem sozinhos, além do auxílio às acomodações e às demais necessidades do estrangeiro na cidade, a Relinter criou o programa do Amigo Internacional, em que um aluno da Ufrgs dá apoio a um intercambista.

cooperação é resultado da melhor avaliação da A secretaria, assim como os próprios estudantes e Universidade no cenário da educação nacional. Entre as professores, também promove eventos de integração e de possíveis novas parcerias estão Dinamarca, Singapura, cultura brasileira. Em maio desse ano, alunos da China, Coreia do Sul, Vietnã.Faculdade de Ciências Sociais organizaram o ciclo de

palestras Brasilidades, com exposições que giraram em Complementação no ensino e na carreiratorno de temas como música, futebol e política, além de Dentro do processo de intercâmbio, os currículos apresentação de capoeira.da Ufrgs e da universidade parceira são analisados pelos A boa convivência e o entendimento nas relações professores para que o aproveitamento do aluno seja o é o que tem feito esse tipo de experiência bem sucedida melhor possível, e para que não haja qualquer deficiência na Ufrgs. Uma compreensão que, além do processo na sua formação. Em alguns casos, entretanto, a passagem educativo, abrange a cultura de cada país. Liane lembra pela universidade gaúcha agrega aos intercambistas mais que o principal fator de afastamento dos estudantes do que o esperado, assim como os atrai a dar continuidade a internacionais, por não conseguirem cumprir as tarefas essa vivência.

A parceria com a Universidade de Poitiers, na França, estabelecida em 2005, já permitiu que a faculdade de Geologia recebesse três intercambistas - um de mestrado e dois de graduação. Neste ano, outros dois estudantes acabam de chegar para desenvolver, durante três meses, o trabalho de conclusão em Porto Alegre.

O tempo de curso mais longo – na Ufrgs são cinco anos e, em Poitiers, três – atrai os alunos, que vêm para aprofundar o conhecimento, assim como os trabalhos de campo, que não são realizados na cidade francesa. “Temos bons laboratórios e projetos interessantes sendo desenvolvidos aqui, o que chama muito a atenção deles”, conta o professor de Geociências André Mexias.

Da Ufrgs, os alunos levarão o conhecimento compartilhado com os bolsistas de iniciação científica e as compensações às deficiências acadêmicas da geologia na

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Fotos: Luana Fuentefria

Intercambistas levam da Ufrgs conhecimento compartilhado com a comunidade acadêmica local, além do aprendizado na área escolhida

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se difere muito da argentina. “O mais interessante é ver como o povo gaúcho pensa a sociedade e o direito”, comenta. O espaço para debate em sala de aula é tido por eles como a oportunidade de discutir a relação entre os países vizinhos.

Experiência dos professores facilita adaptação Ter professores que estudaram fora do Brasil facilita a tutoria aos alunos internacionais. Muitos deles tomam a iniciativa de abrir as vagas justamente para países e universidades nas quais estudaram, o que serve como mais um apoio à chegada do estudante em Porto Alegre.

Na Faculdade de Informática, 40 dos 80 professores fizeram doutorado no exterior. O professor Nicolas Maillard é um dos que mais conhece a necessidade dos alunos. O francês chegou ao Brasil em 2000 após estudar nas aulas de doutorado no seu país com maior quantidade de estudantes gaúchos do que franceses, que Universidade de Poitiers. “Reconhecemos a importância viajaram por meio de convênio com a Ufrgs. O interesse de receber esses estudantes como forma de mostrar para em um estágio na capital gaúcha resultou na experiência os alunos da Ufrgs como somos todos iguais e apresentar que até hoje divide com os estudantes. “Minha história ao mundo as nossas riquezas científicas”, exalta Mexias.ilustra exatamente como o relacionamento profundo Além disso, o que era para ser um intercâmbio de entre os países tem trazido frutos”, comenta.seis meses pode se transformar em uma experiência mais

Maillard apoia os intercambistas em processos duradoura. Apaixonada pela América Latina, a norte-burocráticos e mesmo motivacionais. Como estrangeiro no americana Meg Capshew espera que os contatos feitos em Brasil - primeiramente como estudante e depois como Porto Alegre lhe ajudem em um possível retorno para professor -, ele já absorveu o dia a dia no País e, sobretudo, trabalhar na cidade. A Faculdade de Informática já em Porto Alegre. E essa é uma diferença que faz questão de conseguiu absorver quatro franceses e um alemão para o assinalar. Para que valorizem ainda mais a chance de mercado de trabalho brasileiro. “Muitos colegas têm medo estarem na cidade gaúcha, ele esclarece sobre o processo da fuga de cérebro. Mas a gente consegue convencer tão seletivo da Universidade, o vestibular, para que bem os alunos da qualidade de vida e de ensino que eles compreendam a taxa de concorrência. O professor garante resolvem ficar. É uma tendência, e Porto Alegre vai ter que que a explanação funciona, já que eles começam a dar evo lu i r um pouco mais pra receber essa mais valor para a vaga. O docente ainda conhece o sistema internacionalização”, comemora o professor Nicolas universitário brasileiro e europeu, o que faz os alunos o Maillard.procurarem também para esclarecer a diferença entre Ainda que não fiquem no Brasil, o docente da ambos.Escola de Administração Antonio Padula lembra que o

Maillard observa que a Universidade transparece importante é que a experiência siga em qualquer lugar do um perfil de seriedade, assim como a capital gaúcha, em mundo. Atualmente, ele orienta um aluno de graduação relação ao resto do País, o que não inibe a procura. Pelo da Guiné-Bissau que realiza pesquisa sobre a viabilidade contrário, a Ufrgs consegue selecionar os estudantes que da produção de biodiesel no seu país. Quando terminar o quer agregar. Na Informática, ele garante que os trabalho, ele pretende impactar a terra natal com o estrangeiros não são escolhidos sem a certeza de que resultado. “Brinco que estamos preparando ele para ser alcançam os critérios de seleção da Universidade. Nos ministro do desenvolvimento da Guiné-Bissau, mostrando últimos anos, em todos os semestres, cerca de cinco a seis que ele vai ter que assumir um grande compromisso franceses, dois ou três alemães e alguns portugueses quando voltar”, relata Padula.circulam pelos corredores da faculdade. Um peruano Cada um viaja por uma experiência diferente. Os também já esteve entre eles. Dos 120 alunos dos dois argentinos Edgardo Ezequiel Bustamante, que estuda cursos de graduação, 10%, portanto, são de outros países. Direito na Universidade Nacional de Tucumán, e Carlos Para que não haja fracassos, os procedimentos são Chiesa, do curso de Arquitetura da Universidade Nacional bilaterais. Os currículos dos cursos dos países envolvidos de Rosário, têm visões diferentes quanto à são analisados pelos docentes, para garantir que os alunos complementação para seus cursos. As diferentes estudem disciplinas que se complementem e possam temáticas da arquitetura na Ufrgs agregam formação a contemplar a chamada dupla diplomação, um dos tipos de Chiesa, enquanto para Bustamante, a legislação brasileira convênio.

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Quando a brincadeira do trote vira manchetenos jornais

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Em março deste ano, o estudante Felipe Boff Molski, de 18 anos, entrou em coma após o trote universitário, em Porto Alegre. O aluno do curso de Ciências da Computação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) foi encontrado pela família caído no chão do Parque Farroupilha, e levado para o Hospital de Pronto Socorro da Capital. O fato é considerado um caso isolado pela Universidade, que incentiva o trote solidário.

O secretário de assistência estudantil da Ufrgs, Edílson Amaral Nadarro, é enfático ao lembrar que este foi um episódio infeliz, que não é característica do tipo de recepção que os veteranos da Ufrgs realizam. “Além do mais, essa situação aconteceu fora da Universidade. E mesmo assim, a Ufrgs se envolveu para tomar todas as medida em que cada um transformar sua visão de providências necessárias”, explica. mundo, de vida, de liberdade, de direito, de dever, de

Segundo ele, a Universidade segue a decisão do respeito”, diz o texto da Decisão 02/2001. Conselho Universitário (Consun), que estipulou o trote Considerando o exposto no Manifesto da Unesco universitário através da Decisão 02/2001, que traz 2000 por uma cultura da paz e da não violência, formas de acompanhamento e sanções para quem as adaptado à realidade em questão, a Decisão 02/2001 violam. A partir deste documento, cada unidade criou propõe respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sua comissão encarregada de recepcionar e integrar os sem discriminação ou preconceito; praticar a não calouros à Universidade, com participação da direção violência ativa, rejeitando a violência sob todas as suas das unidades, entidades representativas dos estudantes formas: física, sexual, psicológica, econômica e social, e representantes dos servidores docentes e técnico- em particular contra os grupos mais desprovidos e administrativos. vulneráveis, como as crianças e os adolescentes;

compartilhar o seu tempo e seus recursos materiais em O que define a Decisão 02/2001 um espírito de generosidade visando o fim da exclusão, O Conselho Universitário, em sessão de 26 de janeiro da injustiça e da opressão política e econômica;

de 2001, tendo em vista a proposta da Comissão Especial defender a liberdade de expressão e a diversidade do Consun (Decisão n° 227/2000), relativa ao trote cultural, dando sempre preferência ao diálogo e à universitário e as sugestões aprovadas em plenário, escuta, no lugar do fanatismo, da difamação e da considera que a educação é “um dever de todo cidadão, rejeição do outro; entre outros.diante de que a Universidade precisa, de forma A partir destes conceitos, o Consum aprova o intencional, aproveitar as oportunidades e propor reconhecimento da Ufrgs nas atividades de trote como ações, em qualquer um de seus espaços e ao longo do “um ritual de iniciação às atividades universitárias, o todo o período de formação do acadêmico”. O Consum qual expressa tanto a alegria dos novos alunos, quanto a admite que há uma gradual, mas ininterrupta mudança satisfação da Instituição em ver-se mais uma vez coletiva na maneira de olhar o mundo e a vida. “O que se renovada pelos novos ingressantes”. A criação, em cada torna necessário e essencial, neste processo que a unidade, de comissão encarregada da recepção e humanidade vivencia, é a formação de uma consciência, integração dos calouros à Universidade com individual e coletiva, de que a sociedade só vai mudar na

Por Cláudia Rodrigues

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AL participação da direção das unidades, entidades

representativas dos estudantes e representantes dos servidores docentes e técnico-administrativos é uma das medidas tomadas pela Universidade neste sentido. Em texto que define as normas da Ufrgs, o planejamento destas atividades deve procurar eliminar os "espaços vazios" ocasionadores de práticas não-acadêmicas que atentem contra a dignidade dos calouros.

O documento ainda prevê a institucionalização, em período comum a todos os cursos, da Semana de Recepção e Integração e do Dia do trote. Dentro deste contexto, as melhores atividades de recepção e integração recebem premiação de uma comissão eleita pelo Consun. De acordo com o texto, é “facultada à comissão encarregada da premiação a atribuição de menção de desaprovação para as atividades onde tenham acontecido abusos.”

A Universidade orienta que sejam evitadas, nas atividades de trote, práticas que envolvam violência sob as formas física, sexual e psicológica, bem como

Criança e do Adolescente e no Código Penal Brasileiro, conforme o caso.

Trotes violentos que viraram notícia No caso do estudante Felipe Boff Molski, da Ufrgs,

vários colegas disseram que eles teriam “ingerido cachaça”. No entanto, os exames do jovem não acusaram álcool no sangue, apenas lesões pelo corpo do rapaz. Como comprovar o que realmente aconteceu?

Infelizmente, há outros episódios terríveis que mudaram a vida de muitas pessoas. A turma da Medicina da Universidade de São Paulo (USP), de 1999, ficou conhecida em todo o País depois que o calouro Edison Tsung Chi Hsueh foi encontrado morto no fundo da piscina em consequência de um trote.

No ano passado, também em São Paulo, a brincadeira para receber os calouros virou manchete nos jornais. Os jovens foram obrigados a permanecer com um fígado de

importem boi estragado na cabeça. Os veteranos podiam encher a desrespeito à vida e à dignidade humanas e dispõe que os boca de cerveja e cuspir nos futuros colegas. Em um muro responsáveis pelos abusos não fiquem impunes e sofram, na Universidade de Mogi das Cruzes o recado dava o tom conforme o grau de participação, as sanções previstas no deste trote: “Se chorar, vai ser pior”. Art.185 do Regimento Geral da Universidade Se traçarmos alguns exemplos nas últimas duas (advertência, suspensão e exclusão), no Estatuto da décadas, lembraremos do calouro do curso de Jornalismo

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Desde o incidente com Felipe Molski, o reitor da Ufrgs, Carlos Alexandre Netto reforça o conceito que a Universidade reconhece a importância do trote como um “ritual de iniciação às atividades universitárias, desde que expresse tanto a alegria dos novos alunos, quanto a s a t i sfação da instituição em ver-se renovada pelos novos ingressantes.” Existem muitos

exemplos de trotes dignos, sem humilhação, como plantio de árvores e doação de alimentos e roupas para instituições carentes, aponta o reitor. Para os veteranos, seguem algumas dicas:

Se o trote que você recebeu não foi legal, não passe isso adiante. Faça algo construtivo. Faça a diferença entre seus futuros colegas. Não faça para o outro o

que você não quer que te façam.

Se houver bebida alcoólica no trote, não obrigue nenhum calouro a beber. Você pode conquistar um amigo que vai querer por escolha própria te convidar para saírem juntos.

Não obrigue ninguém a ficar todo sujo de tinta, muito menos imponha algum tipo de corte de cabelo. Se o aluno estiver disposto, maravilha! Aproveitem e divirtam-se. Do contrário, respeite seu colega. Ele poderá ser no futuro alguém que vai ser o médico do seu filho, por exemplo.

Bolem trotes solidários: doem sangue, distribuam comida, pintem uma escola, visitem um asilo, um abrigo para menores... Essas atitudes criam laços entre bichos e veteranos. Assim surgem verdadeiras amizades.

Brincadeiras são ótimas também. Por que não realizar uma aula incrivelmente difícil durante alguns minutos para os calouros? É uma pegadinha leve. Depois, os veteranos entram em cena e apresentam-se como amigos e colegas à disposição para a troca de materiais, por exemplo.

O filósofo gaúcho Paulo Denisar Fraga estudou a história do trote universitário e em 1993 escreveu A Violência no Escárnio do Trote Tradicional, uma pesquisa sobre o tema da humilhação dos calouros. Leia!

Dicas de trotes legais

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da Universidade de Mogi das Cruzes (SP), Carlos Alberto Paulo, um estudante foi agredido, e teve ossos do nariz e de Souza, de 20 anos, que morreu de traumatismo do rosto quebrados. cranioencefálico, resultante das agressões praticadas por Na Ufrgs, um outro acontecimento vergonhoso estudantes veteranos em 1980. Dez anos depois, George marcou o trote de 2010. O Diretório Acadêmico da Mattos, de 23 anos, calouro do curso de Direito da Faculdade de Educação divulgou uma nota de repúdio aos Fundação de Ensino Superior de Rio Verde (GO), morreu estudantes do curso de Direito. O texto dizia que o de uma parada cardíaca quando tentava fugir de diretório “repudia a atitude de estudantes do curso de veteranos que iam lhe aplicar um trote. Em 22 de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito da fevereiro de 1999, o estudante Edison Tsung Chi Hsueh mesma Universidade, pela atitude discriminatória sofreu trote com consequências fatais. ocorrida na manhã do dia 11 de março de 2010, enquanto

Em 10 de fevereiro de 2009, o calouro Bruno César os calouros do curso de Pedagogia realizavam suas Ferreira, de 21 anos iria começar o curso de Veterinária da atividades de trote. Ao passar pelo prédio do curso de Faculdade Anhanguera, em Leme, interior de São Paulo. Direito, os estudantes de Pedagogia foram agredidos Além de ser obrigado a ingerir bebidas, e ter entrado em verbalmente pelos estudantes do curso de Direito que se coma alcoólico, o calouro também teve de rolar em uma encontravam, igualmente, em atividade de trote, com lona com animais mortos e fezes em decomposição. No gritos que minimizavam a importância de nosso curso mesmo ano, o aluno Vitor Vicente de Macedo Silva, 22 como “salário mínimo” e “segunda opção”, assim como anos, do Departamento de Física da Universidade Federal outras expressões de baixo calão, ofendendo Rural do Rio de Janeiro morreu afogado numa piscina de pessoalmente cada um que por ali passava.” saltos ornamentais (9 m de profundidade). Segundo se Na internet existem milhares de vídeos de trotes na suspeita, ele teria sido forçado a entrar na piscina mesmo Ufrgs. É comum vermos alunos todos pintados pedindo sem saber nadar, isso porque Vítor tinha sido admitido no dinheiro nas esquinas para os motivos mais estapafúrdios alojamento há pouco tempo. possíveis. Fazer as meninas deitarem de bruços ou

No ano passado, estudantes da Unicastelo, em ficarem de quatro para promoverem uma “ola de Fernandópolis (SP), foram obrigados a fumar, tirar as bumbum” também é de praxe em vários cursos na roupas íntimas, pedir dinheiro em semáforos e até beber Universidade. Muitos levam isso na brincadeira e topam álcool combustível. No mesmo período, na Escola fazer parte. No entanto, tem gente que se sente Superior de Propaganda e Marketing, também em São humilhada e fica traumatizada.

O histórico do trote estudantil pode ser traçado a partir do começo das primeiras universidades, na Europa da Idade Média. Nestas instituições, surgiu o hábito de separar veteranos e calouros, aos quais não era permitido assistirem as aulas no interior das respectivas salas, mas apenas em seus vestíbulos (de onde veio o termo "vestibulando" para designar estes novatos). Por razões profiláticas, os calouros tinham as cabeças raspadas e suas roupas muitas vezes eram queimadas.

Todavia, já no século XIV, as preocupações com a higiene haviam se transformado em rituais aviltantes, com nítida conotação sadomasoquista. Isto é observado nas universidades de Bolonha, Paris e, principalmente, Heidelberg, onde os calouros, reclassificados como "feras" pelos veteranos, tinham pelos e cabelos arrancados, e eram obrigados a beber urina e a comer excrementos antes de serem declarados "domesticados".

Em Portugal, os trotes violentos (como o notório "Canelão") podem ser rastreados a partir do século XVIII na Universidade de Coimbra. Não por coincidência, estudantes da elite brasileira que por lá realizaram parte de seu processo educativo, trouxeram a "novidade" para o território nacional. Em decorrência disso, surgiram desavenças entre veteranos e calouros que culminaram com a morte, em 1831, de um estudante da faculdade de Direito de Olinda, Pernambuco – seria a primeira, mas lamentavelmente não a última vítima de um trote violento no Brasil.

Fonte: Wikipédia

A origem do trote

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Por Marco Aurélio Weissheimer

“De repente os jovens saíram às ruas e subitamente os partidos envelheceram”

Nos últimos meses, o mundo tem assistido a uma série de mobilizações populares massivas, conduzidas princi-

palmente por jovens indignados com a situação política e econômica em seus países. Começou na Tunísia, propa-

gou-se pelo Egito e uma série de outros países do Oriente Médio e Norte da África, e chegou finalmente à Europa,

especialmente na Espanha.

Profissional de tecnologia da informação desde sempre, como se define em sua página no Facebook, um dos

construtores do movimento do Software Livre, da Campus Party Brasil, e coordenador da campanha vitoriosa de

Dilma Rousseff nas redes sociais, Marcelo Branco analisa, em entrevista à revista Adverso, as causas e o significado

destas mobilizações e o papel da internet e das redes sociais na sua organização.

Para ele, o combustível destas revoltas é “o desencanto da população mais ativa na internet com os partidos de

esquerda tradicionais, somado com o problema do desemprego que atinge principalmente a juventude”.

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usuários da internet se apropriaram de Hoje, de um lado, temos a comunicação Adverso: Qual sua avaliação sobre suas ferramentas de uma forma que feita por meios de massa que não têm o significado e as consequências do deu a elas novas funcionalidades. As interação e participação do público, e desenvolvimento de novas tecnologi-redes sociais passaram a fazer uma de outro, os meios que incentivam a as de comunicação na internet? Essas mediação daquela comunicação que interação e a participação. Isso vale tecnologias contribuem para a conhecíamos dos meios convencionais tanto para as grandes empresas quanto requalificação da democracia?(rádio, tv, jornal), reinterpretando e para os sindicatos. Neste sentido, o Marcelo Branco: Eu acredito que a rehierarquizando as notícias. movimento sindical e as organizações internet está proporcionando uma

Antes da internet, os assuntos mais políticas em geral têm que perceber revolução com a mudança da forma comentados nas ruas, nas casas e locais essa mudança. A audiência hoje está como a humanidade se relaciona em do trabalho era aquilo que saia no muito ligada à capacidade de um meio todas as áreas, talvez uma revolução tão rádio, na TV e no jornal. Em geral, era de comunicação ou de uma política de profunda quanto foi a Revolução notícia aquilo que era hierarquizado comunicação de incluir o seu público Industrial, nos séculos XVIII e XIX. A pelos meios de comunicação. A na construção da notícia. Não adianta indústria fonográfica talvez tenha sido internet e as redes sociais mudaram querer usar meio de comunicação da a primeira "vítima" dessa nova forma de esse quadro. A comunicação de massa internet só para transmitir informação. relacionamento, que alterou a forma continua influindo na opinião pública, A qualidade da informação de um pela qual a humanidade se comunicava. é óbvio, mas quando as informações sindicato, por exemplo, não vai A comunicação na internet não é de desses meios chegam até o público, ele melhorar se ficar só publicando as massas, no sentido clássico do termo. as rehierarquizam por meio das redes notícias da direção no Twitter ou no Ela não é como uma rádio, uma sociais. Assim, nem sempre a notícia Facebook. Ela vai melhorar na medida televisão, um jornal, onde o aparato mais comentada no Brasil é aquela que em que a página ou o blog deste tecnológico do editor, de quem está os meios de comunicação apresentaram sindicato possa ter conteúdos postados divulgando a mensagem, é infinitamen-como sendo a principal do dia. pela própria base, pelos filiados. Os te superior ao do público. Existe, neste

Às vezes uma notícia bem secundá- meios de comunicação de grandes caso, uma grande diferença entre o ria, publicada em um meio de comuni- empresas já estão fazendo isso, público e quem está transmitindo a cação que não tem tanta audiência, estimulando que o seu público informação. O público do rádio não tem passa a ser o assunto mais comentado participe diretamente da construção uma emissora de rádio, o público da pelas pessoas por que elas viram aquilo das informações.televisão não tem um canal de TV e na internet. E há alguns momentos em assim por diante. Já na internet, que determinado assunto nem foi tão Adverso: Alguns vêem a internet principalmente na chamada internet comentado em nenhum veículo das como algo que estimula o individua-2.0, o público tem a mesma ferramenta grandes empresas de comunicação ou lismo e o isolamento das pessoas, tecnológica do editor. Então, pela mesmo na mídia alternativa e passa a mas a rede contribui para criar primeira vez na história da humanida-ser bastante comentando porque mobilizações de rua, como aconte-de, a matriz de mídia do público e dos alguém publicou no blog, no Facebook, ceu na Tunísia, no Egito e, agora, na editores é a mesma. Portanto, a no Orkut ou no Twitter. E, em alguns comunicação é necessariamente mais Espanha....casos, esse assunto pode pautar os horizontal. Branco: Já há pesquisas acadêmi-meios de comunicação de massa. Creio cas que comprovam que o suposto que essas novidades significam uma Adverso: Quais as implicações isolamento provocado pela internet é democratização dos meios de comuni- um mito. Quanto mais horas conecta-dessa maior horizontalidade?cação, não só do ponto de vista de do, maior o número de encontros Branco: Por exemplo, se a Rede quem é dono desses meios, mas físicos você tem. Um jovem que não Globo tem lá seus blogs e pode publicar também nos espaços dos trabalhado- tem acesso à internet e às redes sociais vídeos e áudios, o seu público também res, nos sindicatos, nos partidos, nas terá poucos amigos físicos - a internet dispõe destas ferramentas. A primeira entidades populares. potencializou a possibilidade dos era da internet, a chamada internet 1.0,

encontros físicos.foi a dos portais, reproduzindo a forma Adverso: Como se materializa Uma segunda questão é que a de comunicação dos meios de massa.

essa democratização? sociedade já se movimenta na forma de Era uma comunicação de textos, áudios Branco: Até então, essa disputa uma rede. Desde os primeiros anos do e vídeos em formato digital e unilateral,

sobre os meios de comunicação era Fórum Social Mundial em Porto Alegre, trafegando em um único sentido. A travada entre os monopólios das já ficou comprovado o poder da novidade nos últimos anos, que ajudou empresas de comunicação e aqueles internet para organizar eventos a democratizar a informação, é que os que faziam comunicação alternativa.

ADVERSO 189 |MAIO 2011 13Imagens: Reprodução Internet

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massivos. As ferramentas são virtuais, ou mobilização. A ideia da mobilização manifestações da Espanha parece que mas os encontros são físicos. As três cria corpo e se materializa na rua, na vieram para questionar também um primeiras edições do Fórum Social medida em que tenha maior ou menor outro paradigma, que é a própria Mundial foram organizadas praticamen- adesão das pessoas. É uma mudança limitação da democracia representati-te pela internet. Tivemos quase 100 mil muito grande. va. Elas questionam a democracia pessoas na cidade para participar do representativa e a própria plataforma Fórum, organizadas pela internet. As de mobilização utilizada para organizar manifestações massivas que temos visto os protestos - a internet - dá pistas de nos últimos anos, desde as mobilizações como deve ser uma democracia contra as guerras do governo Bush pai, participativa no século XXI. O uso das depois as manifestações anti- ferramentas da rede possibilita dar globalização em Seattle, Gênova, opinião sobre o que um determinado Barcelona e em outras cidades, todas governo vem fazendo, dar opinião sobre elas foram organizadas pela internet. projetos que estão no parlamento e até

O que talvez seja um objeto de para construir propostas políticas. estudo é que essa relação da internet No caso da Espanha, o estopim com os indivíduos tem tido uma grande dessas mobilizações foi exatamente a capacidade de organizar mobilizações lei Sinde, que leva o nome da ministra massivas, mas o papel das organizações da Cultura do país. Essa lei permite, por que até então intermediavam a relação meio de uma ordem judicial, fechar indivíduo-público – sindicatos, partidos páginas da internet que apresentem políticos – tem sido muito pequeno nas conteúdos sujeitos a direito autoral. mobilizações de agora. Essas organiza- Essa é uma polêmica mundial. A ções da era industrial estão perdendo indústria do copyright, das grandes sua capacidade de organizar massas para gravadoras, das grandes empresas de eventos concretos. Quem está fazendo cinema, das grandes editoras, que às isso é a internet. São indivíduos vezes a gente chama de "máfia do conectados em rede, sem intermediação conteúdo", são hoje a principal ameaça de um partido ou de um sindicato, que à internet. Ameaçam a internet tal têm organizado essas manifestações nos como a gente conhece, uma internet últimos anos. Não estou entrando no neutra, livre e democrática. Os lobbys mérito se isso é bom ou ruim, mas isso dessas organizações do copyright, da

Adverso: Uma das causas das tem sido uma realidade. propriedade intelectual e do direito atuais mobilizações na Espanha foi a A internet empodera o indivíduo de autoral tentam impor limites à rede aprovação de uma lei para aumentar forma inédita, com uma capacidade de com legislações que são inaceitáveis em o controle sobre a internet. Quais comunicação global. Ela não é um um Estado de Democrático de Direito.

espaço individual, mas sim um espaço ameaças pairam hoje sobre a rede?de ação coletiva. Só que as alianças não Branco: As revoltas árabes mostra- Adverso: Por que são inaceitáveis?se dão como antigamente, em cima de ram o poder de mobilização da internet Branco: Para saber o que um uma base programática de um partido em regimes fechados, ditaduras. Isso foi indivíduo está baixando pela internet, ou de um sindicato. Pode ser que se saudado por todos, inclusive pela sendo protegido ou não por direito consiga um grupo de aliados para um imprensa brasileira, como uma boa autoral, só há um forma: a quebra da determinado tema às dez da manhã e notícia. Agora eu fico impressionado privacidade e a vigilância indiscrimina-um outro grupo às duas da tarde para com o silêncio desta mesma imprensa, da. Não tem como saber se eu estou uma outra luta. Um pouco da minha em relação ao que está acontecendo na baixando uma música do teu computa-militância política tem sido isso. Espanha, que é uma democracia dor, na minha casa, sem invadir a Buscamos alianças na rede a partir de representativa consolidada dentro dos privacidade da minha casa e da tua casa interesses comuns. E eu não me lembro marcos do capitalismo. Não existe pela internet. É isso que essas indústri-de ter ocorrido até hoje de terem votado nenhum traço de autoritarismo, nem de as poderosas e os lobbys de suas alguma coisa em alguma plataforma da ditadura, no funcionamento do regime associações querem fazer no mundo internet para fazer algum tipo de ação político espanhol. No entanto, as inteiro.

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Marcelo Branco

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"As manifestações massivasque temos vistonos últimos anos

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Por Michelle Rolante

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Projeto prepara futuros cotistas para teste de habilitação musical

Quando começou a trabalhar na Universidade Federal do depois, no doutorado, trabalhou com comunidades quilom-Rio Grande do Sul (Ufrgs), há quatro anos atrás, a professo- bolas, diz que foi transformando seu pensamento, a partir ra de música Luciana Prass percebeu que o perfil da maioria de sua experiência com musicalidade de afrodescendentes e dos alunos do curso de Música eram de classe média, de outras pesquisas. “Passei a perceber que havia uma enquanto uma grande quantidade de alunos de origem grande quantidade de músicos de classe social com menor humilde não ingressava porque não passava na prova de poder aquisitivo e afrodescendentes que não chegavam ao habilitação. “Já havia observado a ausência de outro perfil curso superior, principalmente na Faculdade de Música”, de alunos, que não os de classes média e média alta que conta.costumavam frequentar nossos cursos”, conta Luciana, A constatação impulsionou Luciana a verificar com explicando que este fato ocorria em função da prova colegas a possibilidade de criar um curso de música que específica. A prova de habilitação, que antecede o vestibu- tivesse como público alvo alunos de escolas públicas. A lar e é eliminatória, exige conhecimentos musicais sem os partir daí, surgiu o Curso de Extensão em Música para quais não é possível fazer um curso superior na área. Alunos de Escolas Públicas (Cemep). “Para aprender a ler

A professora, que realizou seu trabalho de Mestrado na música e repertório com a fluência exigida, um semestre Escola de Samba Bambas da Orgia, sobre ensino e aprendi- não seria suficiente, por isso o curso foi pensado para ter zado na bateria, teve sua pesquisa publicada em livro, e e duração de três anos.” Assim, o estudante que estiver no

Curso de Extensão para alunos de escolas públicas ocorre

no Departamento de Música da Ufrgs

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As aulas são ministradas por quatro bolsistas da Ufrgs, sendo dois professores de violão, um de canto e outro de teoria

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cordas de violão entre outros materiais. “Na verdade, o curso funciona praticamente sem custos. A única exigência é a dedicação de comparecer às aulas.”

Segundo a professora, para alunos de graduação do Curso de Música da Ufrgs - que estão ministrando as aulas - tem sido uma experiência “incrível”. “Eles lecionam violão para dez pessoas ao mesmo tempo, o que não é usual”, comenta, ressaltando que normalmente as aulas são individuais ou com menos alunos. Desta forma, os bolsistas aprendem muito e percebem que podem trabalhar coletiva-mente técnica, repertório, postura, entre outros. “Os bolsistas sabem que não podem faltar sem avisar com antecedência, pois as crianças vêm de longe, trazidas pelos pais, para assistir as aulas, e gastam com condução”, ressalta Luciana. Existem casos de alunos de Charqueadas, por exemplo, que não têm condições de pagar as passagens e contam com o apoio das prefeituras. O Cemep também fornece atestado para que os alunos consigam alguns descontos nas passagens de trem e consigam negociar valores pagos com a carteira de estudante.

primeiro ano do Ensino Médio tem três anos para se Para a professora, é importante este diálogo, porque a preparar para o teste de habilitação, caso queira seguir universidade aprende com a escola pública. “É muito bom carreira na área. Segundo a professora, nada impede que sairmos do lugar confortável em que estamos. Às vezes um um aluno que esteja no segundo ou terceiro ano do Ensino aluno diz que não tem lápis, e não é porque ele esqueceu, é Médio ingresse no Cemep. “Em 2010, primeiro ano do curso, porque não tem mesmo”, explica. No curso, os bolsistas aceitamos alunos egressos de escolas públicas, mas que já também têm que trabalhar com repertório que os estudan-tinham alguma experiência musical”, conta. A primeira tes trazem do seu cotidiano, como rap e pagode. “Eles têm turma começou com 58 alunos – destes, 43 concluíram o que negociar com os alunos e fazer arranjos com esses primeiro ano do curso - e, devido ao grande número de repertórios e isso ajuda a desmitificar muitos preconceitos inscrições, em 2011 foi usado um critério para limitar os que carregamos.” Por isso, o grande ganho do projeto não é inscritos: não aceitar egressos. só para os alunos de escolas públicas, mas também para

As aulas são ministradas por quatro bolsistas, sendo professores, graduandos e para a Universidade, afirma a dois professores de violão, uma professora de canto e uma professora. de teoria. Atualmente, o Cemep atende 88 alunos e as aulas Além da qualificação de estudantes oriundo de escolas ocorrem aos sábados pela manhã. O curso possui 16 turmas públicas, ampliar o acesso destes alunos, que podem vir a e recebe alunos de Charqueadas, São Leopoldo, Canoas, ser os futuros cotistas das universidades, é o principal Novo Hamburgo e Gravataí. “Nós recebemos alunos de toda objetivo do Cemep. Por isso, o único documento exigido é Região Metropolitana de Porto Alegre, inclusive do Bairro um comprovante de que eles estudam em escola pública, Guajuviras, considerado um dos mais violentos de Canoas. E para que se acostumem com a exigência. “Nossa expectati-esses alunos são extremamente dedicados”, revela Luciana. va é que o ingresso de alunos cotistas no curso de música

Ela diz que a aula de teoria musical é obrigatória, mas os seja ampliado”, enfatiza Luciana. alunos podem escolher entre canto e violão. No futuro, o Em 2011, de 58 alunos que ingressaram no curso, 14 objetivo é incluir outros instrumentos. “Alguns alunos eram cotistas, o que representa 24% do total de 30% das acabam sendo encaminhados para um curso de extensão vagas disponíveis para cotas sociais e raciais. “Destes 14 quando atingem um determinado nível”, conta Luciana, alunos, dois eram autodeclarados negros o que era bastante referindo-se ao Curso de Extensão em Instrumentos raro aqui no nosso curso”, ressalta Luciana. A professora Musicais (Ceim), que tem um custo mais elevado, mas que afirma que os alunos negros que passaram pelo oferece bolsas de estudo para aqueles que desejam seguir na Departamento de Música não tinham entrado por cotas. carreira. “Percebo que ainda é muito difícil, principalmente no Rio

O Cemep cobra mensalidade simbólica de R$ 10,00, Grande do Sul, os negros sentirem-se à vontade para utilizada para fazer cópias das partituras musicais, comprar concorrer às cotas raciais.”

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As aulas de teoria musical são obrigatórias no curso de extensãopara alunos de escolas públicas

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A professora, que é uma estudiosa da Musica Popular escolas públicas. Deste total, 15% são para alunos autode-Brasileira, diz que esses alunos estavam apartados do clarados negros. Algumas pessoas acreditam que apenas processo da universidade. “O que é paradoxal: a musicalida- pelo fato de efetuarem a inscrição para as cotas, os negros e de brasileira, como samba, choro, bossa nova, de canções, estudantes de escolas públicas ingressam direto na foi feita por afrodescendentes que fazem música, mas estes universidade. Mas não é assim que funciona: “Esse aluno não estavam presentes no curso”, avalia, ressaltando que tem que ter alcançado, no mínimo, a média harmônica isso não significa que o aluno de escola pública tenha que exigida para o curso ao qual se candidatou”, ressalta fazer o Curso de Música Popular - podendo optar por estudar Luciana Prass. música erudita. Um exemplo, é o caso do aluno Vladimir As cotas criam um recorte social e racial, destaca a Soares, que participava do Projeto Orquestra Villa Lobos da professora. “Um aluno negro que estuda em colégio professora Cecília Torres. “Esse rapaz é um virtuoso da particular não terá direito à cota, pois tem Ensino Médio e flauta doce”, afirma Luciana. Fundamental com uma qualidade que, infelizmente, ainda

Soares se formou em Música pela Ufrgs e pretende fazer não há na escola pública - pelo menos não na maioria mestrado na área de performance de música erudita. “Se ele delas”, salienta Luciana. Neste caso, o aluno não tem quisesse fazer música popular também poderia. Por isso, direito à cota, porque está apto a disputar o ingresso um dos papéis da Universidade é ampliar os horizontes dos universal com qualquer outro estudante. alunos”, lembra Luciana. Recentemente o Departamento de Na Ufrgs, observa-se que os 15% das cotas destinadas a Música da Ufrgs teve aprovado o Curso de Música Popular, alunos de escolas públicas e afrodescendentes autodeclara-que inicia no próximo ano. dos negros ainda não são preenchidas por este público,

Cotas na Ufrgs porque os próprios alunos não optam por este direito no As cotas sociais e raciais no Ensino Superior são vestibular. A média de autodeclarados negros na

medidas paliativas, porém positivas tendo em vista que o Universidade é em torno de 3 a 5%. “Tenho percebido que ideal seria que houvesse vaga para todos. Esta é a opinião muitos alunos se inscrevem para as cotas e atingem uma do professor do Colégio Aplicação, João Vicente Souza, que média alta e acabam ingressando pelo acesso universal”, vê o Cemep como parte das ações afirmativas instaladas na destaca Luciana, ressaltando que esta vaga dentro das cotas Universidade. “É importante possibilitar um maior equilí- acaba sendo liberada para outro aluno. “Agora com as brio no acesso e permanência de estudantes das mais políticas afirmativas, os alunos podem ter mais esperança diferentes classes sociais e raças”, afirma. de ingressar na Ufgrs, porque antes isto era um mito para

Na Ufrgs, 30% das cotas são destinadas a alunos de eles”, ressalta.

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Dos 58 alunos que ingressaram este ano, 14 usam as cotas sociais e raciais, representando 24% do total de 30% das vagas disponíveis para cotistas

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Ataque aos direitos adquiridos atinge especialmente os aposentados

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Por Maricélia Pinheiro

A ameaça à segurança jurídica não se limita apenas ao corte Segurança jurídica ocupa espaços de discussãode vantagens decorrentes de planos econômicos ou perdas de As constantes ameaças aos direitos adquiridos, que configu-inflação, como ocorre com os 3,17% e a URP-89. Servidores ram o quadro da chamada “insegurança jurídica”, estão cada vez públicos aposentados e pensionistas viraram o principal alvo da mais presentes nas pesquisas e estudos na área jurídica. Basta prática adotada pelos governos de suprimir vantagens resultan- uma breve navegada pela internet para encontrarmos uma tes de ganhos judiciais, observa o assessor jurídico da Adufrgs- quantidade considerável de artigos e teses sobre o tema, a Sindical, Francis Campos Bordas. grande maioria relativa à última década (2000/2010).

O advogado cita alguns exemplos mais comuns de ações De acordo com as lições básicas do direito, “o princípio da envolvendo os inativos. Um deles diz respeito à vantagem segurança jurídica se encontra intensamente relacionado ao prevista no artigo 192 do RJU (Lei 8112/90), que beneficia Estado Democrático de Direito, podendo ser considerado professores titulares com o recebimento de uma rubrica que inerente e essencial ao mesmo(....) possui conexão direta com os correspondia à diferença entre a remuneração desta classe com direitos fundamentais e ligação com determinados princípios a dos adjuntos. “Em 2000, o Governo quis alterar o critério de que dão funcionalidade ao ordenamento jurídico brasileiro, tais cálculo desta vantagem, que era praticado desde 1990, impon- como, a irretroatividade da lei, o devido processo legal, o direito do uma redução do valor. A Adufrgs garantiu na Justiça a manu- adquirido, entre outros”. tenção do critério que era habitualmente usado”, informa. Em maio do ano passado, a Comissão de Constituição e Mesmo com decisão judicial garantindo este critério, em 2009, Justiça e a Comissão de Trabalho de Administração e Serviço quando criada a Retribuição por Titulação e Gratificação Especi- Público da Câmara dos Deputados, por solicitação do Proifes, al do Magistério Superior, estes professores titulares foram promoveram uma importante audiência pública para debater o prejudicados, obrigando a Adufrgs a propor novas ações, nova- assunto. Foi a primeira vez na história que houve um debate mente em defesa do que já tinha sido ganho em juízo nove anos público sobre a segurança jurídica do servidor público no antes. Congresso Nacional.

Depois de muitos anos remunerando as funções de chefia e A participação dos professores foi intensa, através de ques-direção através de Funções Comissionadas (FC's), o governo tões colocadas, comentários e exemplos de atos praticados pelo federal ordenou, em 2000, que estas fossem substituídas pela Tribunal de Contas da União (TCU) e AGU, considerados ilegais e tabela que criou o Cargo de Direção e as Funções Gratificadas, o que resultaram em prejuízo para os docentes. O debate desper-que traria sensíveis reduções nos salários e aposentadorias. tou o interesse dos parlamentares presentes e caracterizou-se, Respaldado por um parecer da Advocacia Geral da União (AGU), principalmente, pelo fato de todas as partes envolvidas terem o Governo manda substituir as antigas FCs de todos os que até tido espaço para expor suas questões.então percebiam estas gratificações na forma de quintos ou As críticas à postura do TCU não partem apenas de sindica-décimos ou que tenham se aposentado com a remuneração da listas e servidores. Na referida audiência, alguns advogados e função de chefia ocupada. “Alguns professores teriam uma juristas de renome se posicionaram contra a determinação do redução de quase 70% no salário final”, conta Bordas. Foi nova- órgão de que o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão mente necessária uma ação judicial para manter o critério reveja o pagamento de valores referentes a sentenças judiciais antigo, mantendo os direitos adquiridos. Para esse público, que causem distorções salariais ou enriquecimento ilícito do ainda que seja uma pequena parcela dos docentes, essa ação é servidor (Acórdão 2161/2005 do TCU).muito importante, ressalta o assessor jurídico. Para o doutor em Direito Constitucional e professor da PUC

Outro ataque mais recente envolve a redução no valor da de São Paulo, André Ramos Tavares, o acórdão “retoma decisões aposentadoria proporcional em 2009, quando foram criadas a já tomadas e transitadas em julgado”. Ao cassar acórdãos do TCU Gratificação Executiva do Magistério Superior (Gemas) e a que suspendiam a URP-89, o ministro Celso de Mello, do Supre-Retribuição por Titulação. “O Governo baixou o salário de quem mo Tribunal Federal, utilizou os princípios da segurança jurídi-era aposentado proporcionalmente ao tempo por serviço, com o ca e proteção da confiança. “O excelso Tribunal de Contas da argumento de que as gratificações devem ser proporcionaliza- União não dispõe, constitucionalmente, de poder para rever das, tal qual o vencimento básico. Ocorre que este critério não decisão judicial transitada em julgado nem para determinar a existia com relação às gratificações anteriores (GED e GTMS) e a suspensão de benefícios garantidos por sentença impregnada implementação desta nova orientação trouxe redução nominal da autoridade da coisa julgada, ainda que o direito reconhecido nas aposentadorias de alguns professores”, explica Bordas. pelo Poder Judiciário não tenha o beneplácito da jurisprudência Segundo ele, novamente o Sindicato agiu prontamente para prevalecente no âmbito do Supremo Tribunal Federal”, explicou evitar esta redução e, até o momento, vem obtendo êxito na o ministro em sua decisão. Na ocasião, ele lembrou que o trânsi-ação. to em julgado em matéria civil só pode ser legitimamente

desconstituído mediante ação rescisória.

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A Reforma Tributária no Brasil é discutida há Alíquotas menores estimulam a produção e o anos, mas nunca chegamos a um acordo. O impres- consumo, podendo até mesmo aumentar a arreca-sionante é que os valores pagos pelos contribuintes dação, considerando o efeito em escala na econo-só aumentam. Podemos conferir isso no Impostô- mia.metro, situado no prédio da Associação Comercial Somos o país do “presente”, como muitos de São Paulo, que, na tarde do dia 4 de maio, dizem, mas temos de nos preocupar com vários alcançou os R$ 500 bilhões arrecadados pela União, aspectos econômicos, para não ficarmos vendo os estados e municípios. Ou seja, em 124 dias, cada navios passarem – e os tributos são um dos pontos um dos 190,7 milhões de brasileiros já pagou cerca cruciais que têm de ser reavaliados. Das cargas de R$ 2.600,00. Em 2008, quatro anos atrás, tributárias das nações do BRICs (Brasil, Rússia, alcançamos esse número apenas em 25 de junho. Índia e China), a nossa é a mais alta (34%), seguida

Em 2009, foram um trilhão de reais arrecadados pela da Rússia (23%), da China (20%) da e Índia em cerca de 300 dias. Ou seja, mais de R$ 5.300,00 (12,1%). É o que revela o estudo Carga Tributária com que cada habitante contribuiu, considerando no Mundo – um comparativo Brasil x BRICs, os distintos tributos. A estimativa de arrecadação realizado pela Machado-Meyer.de impostos, para cada habitante em 2011, A reforma tributária também não é só uma ultrapassa os R$ 7 mil. Parte expressiva dos questão governamental. Enquanto os brasileiros brasileiros não ganha, por ano, este valor. não tomarem consciência de sua importância e se

Já passou da hora de se realizar eficaz reforma mobilizarem em torno desta meta, não teremos tributária, em uma mobilização do Executivo e do uma solução. A omissão não se deve à falta de Legislativo federais, ambos responsáveis por informação: pela internet, todos podem acompa-implementar emendas constitucionais voltadas à nhar os impostos pagos, além de fazer estimativas desoneração da produção e dos investimentos e à de quanto será recolhido até determinada data.racionalização dos tributos. Uma das medidas Tudo tem limite. Não podemos continuar anticíclicas adotadas no enfrentamento da crise do calados ante uma carga tributária exagerada. Pare e subprime (a redução do IPI para automóveis, linha pense o que você poderia fazer com estes R$ branca e construção civil) mostrou ser possível 2.600,00 que já deu para os cofres públicos? Temos diminuir os tributos, sem causar prejuízo ao duas saídas: exigir do Governo que aplique melhor equilíbrio fiscal do Governo. Por que, então, não o nosso dinheiro ou lutar para reduzir os impostos. estabelecer medidas semelhantes perenes? Não dá mais para ficar do jeito que está!

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GOTudo tem limite:

Não podemos continuar calados ante uma carga tributária exagerada

Por Vagner Jaime Rodrigues, mestre em contabilidade e professor da Trevisan Escola de Negócios

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20 ADVERSO 189 | MAIO 2011

A Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São distribuídos de acordo com três modalidades: 22 Paulo (USP) divulgou, em maio, os projetos contem- projetos contemplados são de grupos consolidados, plados pelo Programa de Apoio à Pesquisa. Foram que receberão R$ 2 milhões cada um; 14 são de aprovadas, no total, 43 propostas, dentre as 122 grupos promissores (cada um receberá o valor de R$ inscritas, com a participação de cerca de dois mil 900 mil); e 7 referentes aos chamados centros de docentes da universidade. instrumentação (que receberão R$ 1,5 milhão cada

Para atender à demanda, o reitor da USP, João um). Grandino Rodas, aprovou o aumento dos recursos De acordo com a coordenação do programa, o destinados ao programa, que passaram dos R$ 50 julgamento e a seleção dos projetos foram realizados milhões iniciais previstos para R$ 70 milhões. De por uma comissão avaliadora formada por 21 acordo com a Pró-Reitoria de Pesquisa, trata-se do pesquisadores e docentes externos à USP, oriundos maior programa institucional de incentivo à pesquisa de universidades e instituições brasileiras e estran-desenvolvido pela USP. geiras. Dentre elas estão o Kings College London, a

«O objetivo era fazer com que os pesquisadores Washington State University, a Universidade Federal reexaminassem a maneira de organizar a pesquisa, do Rio de Janeiro, a Universidade do Porto e a estabelecer laços e relações com outros que tenham Academia Brasileira de Ciências.atividades afins e criar novos padrões focados em O processo de avaliação das propostas ocorreu temas mais amplos e que precisam de participação entre os dias 11 e 13 de abril. múltipla", disse o pró-reitor de pesquisa da USP, Os projetos aprovados foram divulgados em 28 de Marco Antonio Zago. abril.

Os recursos destinados aos projetos serão

USP destinará R$ 70 milhões para pesquisa

Fonte: O Serrano

A presidente Dilma Rousseff disse que pretende tem para este ano um orçamento previsto de R$ 1,7 lançar um programa de bolsas de estudo no exterior milhão. Dez anos depois, a intenção é de uma para beneficiar 75 mil estudantes até 2014. A ideia é destinação de recursos de cerca de R$ 3,5 milhões.financiar os estudos, principalmente na área de Outras bolsas já são oferecidas por empresas e ciências exatas. Dilma espera ainda ter ajuda do setor fundações diretamente às universidades brasileiras, privado para chegar a 100 mil bolsas. que estão, cada vez mais interessadas em estabelecer

Os dados mais recentes no site da Coordenação de parcerias internacionais. O objetivo, segundo as Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior próprias instituições, é trocar cada vez mais expe-(Capes) mostram que 4.346 bolsas de estudo no riências com diferentes países e culturas. Há acordos exterior foram oferecidas pela coordenadoria em para intercâmbio de alunos e professores, pesquisas 2009 para graduação e pós-graduação. A Capes quer feitas no Brasil em conjunto com escolas de outros dobrar o valor dos recursos em bolsas para estudantes países e até com instituições como a agência espacial e pesquisadores do ensino superior até 2020. A Capes americana Nasa.

Governo federal quer dar 75 mil bolsas de estudos no exterior até 2014

Fonte: G1

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21ADVERSO 189 | MAIO 2011

Engenheiros espaciais querem lançar barco-robô

em mar de Titã

A tela sensível ao toque dos mais modernos celulares parece obsoleta diante dos resultados da pesquisa de um grupo formado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, e da Universidade de Hinschu, em Taiwan. O estudo mostrou como usuários podem discar apenas olhando para os números do celular.

O princípio básico usado é que o cérebro das pessoas emite sinais elétricos de diferentes frequências, dependendo do que está tentando fazer ou de seu estado cognitivo. Esses sinais podem, então, ser captados e decodificados. Os pesquisadores tiraram proveito de um tipo de atividade cerebral que é uma resposta natural da pessoa a estímulos em frequências específicas. Por exemplo, quando se olha para uma luz piscando dez vezes por segundo, o córtex visual exibe uma atividade rítmica na mesma frequência.

Nos testes, uma tela de computador exibia ao usuário dez caixas, trazendo os dígitos do telefone, e cada uma delas piscava em uma frequência diferente. Assim, ao olhar para um dos números, o córtex visual do usuário emitia sinais referentes a ele. Os sinais eram, em seguida, captados por uma espécie de fita que envolvia a cabeça como um todo. A fita amplificava e transmitia o sinal para um telefone, por meio do Bluetooth, permitindo que a ligação fosse realizada.

Fonte: Estadão

Sistema permite ligar de celular olhando para os números

Um relatório divulgado na Grã-Bretanha diz que São Paulo subiu da posição 38 para o 17º lugar em um ranking de cidades com mais publicações científicas no mundo.

De acordo com o estudo feito pela Royal Society, a evolução da capital paulista nesse setor “reflete o rápido crescimento da atividade científica brasileira”. O relatório, chamado Conhecimento, Redes e Nações: A Colaboração Científica no Século 21, analisa a publicação de trabalhos científicos por país no período entre 1996 e 2008.

O documento indica que o Brasil e outros países emergentes, liderados pela China, estão despontan-do como grandes potências na área de produção de estudos científicos, capazes de rivalizar com países que têm tradição nessa área, como os Estados Unidos, nações da Europa Ocidental e o Japão. A

representatividade dos estudos brasileiros teve leve aumento: entre 1999 e 2003, eles equivaliam a 1,3% do total de pesquisas científicas globais. Entre 2004 e 2008, essa porcentagem subiu para 1,6. Mas “as reduções significativas no orçamento de ciência em 2011 levantam preocupações”, diz o relatório. Em meio aos cortes de R$ 50 bilhões anunciados pelo governo no orçamento federal, o Ministério de Ciência e Tecnologia deve perder R$ 1,7 bilhão.

São Paulo sobe 21 posições em ranking de produção científica

Fonte: BBC Brasil

O mar que existe em Titã, a maior lua de Saturno, pode ser explorado por um barco-robô no futuro. A proposta, que vem de um grupo de engenheiros espaciais da Universidade Aberta (Reino Unido), é medir ventos e ondas da superfície de Ligeia Mare, formado por etano e metano líquidos. E, principalmente, detectar evidências de um complexo químico orgânico capaz de gerar a vida.As baixas temperaturas, que chegam à casa dos -180ºC representam o maior desafio da empreitada. Além de desenvolverem equipamento resistente o suficiente para suportar um clima como esse, os pesquisadores também precisam considerar o envio do barco-robô até o lago de forma cirúrgica.O equipamento viajaria através do Sistema Solar e, tão logo entrasse na atmosfera de Titã, seria lançado com um paraquedas a alguns metros de acima de Ligeia Mare. O projeto, enviado à NASA, poderia estar pronto em 2016 e demandaria sete anos até a volta do barco-robô com os dados procurados.

Fonte: Folha de São Paulo

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22 ADVERSO 189|MAIO 2011

A Igré é uma Associação Sócio-Ambientalista, fundada em 2003,

que surgiu da iniciativa de um grupo de pessoas, principalmente de

pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs)

das mais diferentes áreas do conhecimento, comprometidas com a

necessidade de assegurar a preservação dos cursos d' água. Entre os

principais objetivos da Ong, estão apoiar e estimular iniciativas

públicas que visem à preservação dos ambientes aquáticos continen-

tais e sua biodiversidade. Além de desenvolver o exercício da

cidadania através da educação ambiental para melhorar a qualidade

de vida da população e pesquisar e divulgar os problemas dos

ambientes límnicos e as possíveis soluções, visando o desenvolvi-

mento ecologicamente sustentável.

Preservação do ambiente aquático

Espécies de animais ameaçados

http://www.igre.org.br

http://www.arkive.org

Esse site traz filmes de animais selvagens e as fotos são armas

essenciais na luta para salvar espécies ameaçadas do mundo à beira

da extinção. Desta forma, o portal Arkive conta com a ajuda dos

melhores cineastas, fotógrafos, ambientalistas e cientistas do mundo

contra a extinção de espécies, que tem ocorrido em um ritmo cada

vez mais acelerado. O objetivo também é de sensibilização dos

internautas, através de programas de educação ambiental.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), fundado

há 15 anos, surgiu com uma proposta inovadora na época: engajar a

ciência e o ativismo ambiental na região amazônica, construindo

bases para a ação de movimentos sociais e para a formulação de

políticas públicas. Formado por cientistas e educadores, o Ipam tinha

como missão original combater os três males que ameaçavam a

sobrevivência da floresta e de sua população: paisagem degradada,

economias não-sustentáveis e injustiça social. Neste sentido, outra

premissa importante do Instituto, que ainda permeia toda a sua

atuação, é a ideia de que as soluções para os problemas amazônicos

precisam, obrigatoriamente, incluir a participação ativa das popula-

ções que vivem na região, sobretudo os povos da floresta: indígenas,

extrativistas, ribeirinhos e quilombolas, entre outros. O site traz links

como agenda, notícias, galeria de fotos e especiais.

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazôniahttp://www.ipam.org.br

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OR

EL

HA

Nietzsche, vida como obra de arte Autor: Rosa Dias

Editora: Civilização Brasileira

Fernando Pessoa: uma quase autobiografia Autor: José Paulo Cavalcanti Filho

Editora: Record

Nos últimos anos, a bibliografia de e sobre Nietzsche tem-se ampliado no Brasil. Este livro acrescenta um diferencial reflexivo à fortuna crítica do autor: Rosa Dias propõe não apenas levantar e explicar categorias, mas pensar junto com o filósofo alemão, tendo em vista um dos aspectos fundamentais de sua produção - a relação entre arte e vida. A autora é doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professora-adjunta de Filosofia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e já escreveu diversos livros sobre Nietzsche.

Meu caminhoAutores: Edgar Morin

Editora: Bertrand Brasil

O livro apresenta entrevistas concedidas pelo autor à jornalista Djénane Kareh Tager ao longo de 2008. Nelas, Edgar Morin mostra a unidade de uma obra marcada pela diversidade e pelas vicissitudes. Desde o início do livro, o leitor mergulha na vida do intelectual, desde seu engajamento na resistência comunista à sua ruptura com o stalinismo. Em Meu Caminho, o homem, escritor, sociólogo, inventor do pensamento complexo, ator da vida social, e mesmo política, se liberta, não escondendo as emoções nem as paixões, e revelando ao leitor sua própria experiência na vida, no amor, na velhice e diante da morte. No cerne das reflexões de Edgard Morin, o apoio sobre todos os aspectos positivos das ciências e técnicas, desenvolvendo a economia solidária e o comércio equitativo. Para ele, a crise econômica é tanto um risco quanto uma chance para a humanidade, “podendo favorecer as forças retrógradas ou a emergência de soluções positivas que modificarão para sempre o sistema global.”

A primeira biografia escrita no Brasil sobre o poeta português Fernando Pessoa traz a mais completa obra de referência das muitas personas assumidas pelo autor de Tabacaria. Seus heterônimos, muitos deles desconhecidos do grande público, revelam-se no livro de José Paulo Cavalcanti com riqueza de detalhes, apresentando as produções e as origens de cada um desses que habitaram o imaginário e a escrita de Fernando Pessoa.

736 PáginasPreço: R$ 79,90

160 páginas

Preço: 29,90

378 páginasPreço: 45,00

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Doação origina exposição histórica do esporte

Você sabia que a primeira medalha olímpica conquistada recente mostra que permaneceu pelo Brasil, em 1920, esteve recentemente exposta no no Ceme até dia 31 de maio. “Eu Centro de Memória do Esporte (Ceme) da Escola de Educação confiei e confio muito no Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Esef)? trabalho desenvolvido pelo Essa relíquia de valor histórico inestimável foi doada ao Ceme. Já doei para o local Ceme pelo médico e educador físico Dr. Henrique Licht. 10.894 itens e estou preparando Durante o mês de maio, a exposição intitulada Henrique a 18ª doação para este ano Licht: Um Garimpeiro de Memórias promoveu o respeito ao ainda”, diz. esporte em um país que pretende receber com civilidade a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Medalha de Dario Barbosa

Há mais de 50 anos, Licht reúne objetos relacionados ao Durante décadas de armazenando itens relacionados ao esporte. Segundo ele, desde menino costumava participar e esporte, Licht ficou conhecido por ter essa paixão, e acabou assistir a tudo que tivesse relação com o tema. Formado na recebendo também muitas doações de amigos. Entre tantos Ufrgs em dois cursos, ele trabalhou em clubes, confedera- presentes que recebeu, gosta de citar as contribuições de ções, federações, foi médico pela Esef e ocupou a direção do João Avelange e Eduardo Henrique de Rose, amigos de longa Centro Olímpico. Aos 89 anos, o acervo deste bisavô é algo data. Mas o destaque da exposição que esteve no Ceme fica incrível. por conta de uma amiga da sua esposa, que um dia ficou

Após mais de 40 exposições pelo Brasil, Licht decidiu sabendo o tamanho do amor e o cuidado de Licht com esses começar a fazer doações do seu vasto material. Em 2002, ele materiais e resolveu oferecer para ele a medalha que seu tio entregou para a então reitora da Ufrgs, Wrana Panizzi, 7.905 havia deixado com ela. Tratava-se da sobrinha de Dario itens de sua coleção. De lá até 2011, foram 17 doações, Barbosa e da primeira medalha olímpica brasileira. sendo a última no dia 27 de abril deste ano, que originou a

Visitantes do Ceme puderam admirar relíquia olímpica que pertenceu a atleta brasileiro

por Cláudia Rodrigues

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Dario Barbosa, falecido em 1965, representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1920, em Antuérpia, na Bélgica. Na ocasião, ele conquis-tou a medalha de bronze na disputa de pistola livre de 50m por equipe. Pelas mãos de Licht, este atirador esportivo brasileiro teve registrada e preservada a sua carreira no Ceme. Além da medalha, Licht disponibilizou para toda a comunidade a lista de passageiros do navio que conduziu a delegação brasileira até Antuérpia e o passaporte do atleta Dario Barbosa. “Ainda tenho muitas fotos tiradas por ele que são espetaculares”, vibra o colecionador, que em 1972 foi convidado a presenciar a Olimpíada de Munique como observador, representando a Secretaria Estadual de Educação.

Confiança na Instituição “Teremos muito material interessante para a

Copa do Mundo de 2014 em Porto Alegre”, anuncia Licht. O objetivo de suas doações é fazer com que outros desportistas façam o mesmo. Ele insiste em salientar que o trabalho de preserva-ção produzido no Ceme é de extrema qualidade e profissionalismo. “O material está muito bem guardado, em condições ideais de temperatura, cuidados com umidade e outros aspectos”, explica.

Conforme Licht, o Estado do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Porto Alegre prometeram um museu do esporte que até hoje não saiu do decreto. Portanto, afirma, nada mais justo que as pessoas confiem e doem seu material histórico para aumentar o acervo do Ceme.

Dois anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, a Bélgica foi o local escolhido pelo Comitê Olímpico Internacional para sediar a sexta Olimpíadas da história. Em um cenário de destruição, a Antuérpia teve que se virar como pôde para abrigar o evento.

O mais importante para as nações uma boa campanha na sua estréia nas participantes era ter de volta os Jogos Olimpíadas. Com 29 atletas, a delega-Olímpicos, cancelados em 1916 por ção nacional chegou aos Jogos mesmo conta do conflito. Ao indicar Berlim sem ter ainda um Comitê Nacional.como sede das Olimpíadas 1916, o De cinco esportes (natação, pólo Barão de Coubertin, então presidente aquático, remo, saltos ornamentais e do COI, ainda esperava contribuir para tiro), os brasileiros tiveram bom a paz na Europa e, assim, evitar o desempenho apenas no tiro. O tenente conflito. do Exército Guilherme Paraense

A iniciativa, porém, não deu tornou-se o primeiro atleta brasileiro - resultado. Quando se iniciaram as e também sul-americano - a conquis-hostilidades, Coubertin fez pressão tar o ouro olímpico. O paraense venceu sobre os outros membros do comitê a prova de pistola de velocidade ou tiro para mudar a sede dos Jogos para os rápido. As armas utilizadas pela E s t a d o s U n i d o s o u p a r a a equipe brasileira na disputa foram Escandinávia, regiões ainda não cedidas pelos norte-americanos, já envolvidas no conflito. O COI recusou a que os brasileiros tiveram seu proposta e, em 1915, quando se armamento e munição furtados tornou evidente que a Alemanha não durante a viagem. teria condições de abrigar os Jogos, a A medalha de prata foi conquistada entidade anunciou o cancelamento por Afrânio da Costa, na competição das Olimpíadas. individual de pistola livre. Nessa

O adiamento deu ao Brasil a chance mesma categoria, o Brasil conquistou de se preparar melhor para conseguir o bronze, só que por equipes, com

O Centro de Memória do Esporte da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ceme) foi implementado em dezembro de 1996 tendo como objetivo reconstruir, preservar e divulgar a memória do esporte, da educação física, do lazer e da dança no Brasil. Para tanto, ali são desenvolvidas pesquisas históricas, exposições, mostras de fotografias, oficinas temáticas, palestras, entre outras atividades. Além de atingir especialistas, o local é voltado para o público em geral, disponibilizando a documentação histórica de diversas formas: via computador, catálogos bibliográficos, exposições, mostras fotográficas, palestras, oficinas, cursos e resultados de pesquisa.

Entre os objetivos do espaço estão: reconstruir, preservar e divulgar a memória do esporte, educação física, lazer e da dança no Brasil; implementar a produção científica no campo da pesquisa histórica e/ou o intercâmbio de informações entre pesquisadores nacionais e internacionais; realizar exposi-ções e mostras fotográficas que tematizem a cultura corporal brasileira; possibilitar aos pesquisadores e comunidade em geral informações relaciona-das à memória esportiva brasileira; promover oficinas temáticas sobre história do esporte, lazer, dança e educação física; fomentar publicações individuais e coletivas; disponibilizar o acervo via catálogos bibliográficos e recursos computacionais e buscar parcerias com escolas, universidades, clubes, confederações e federações esportivas, entidades e instituições preocupadas em preservar a memória do esporte estabelecendo uma rede de comunicação.

O acervo de Ceme tem aproximadamente 1000 livros publicados antes de 1960; mais de 3000 fotografias; inúmeros artefatos tais como troféus, meda-lhas, vestuário, bandeiras, flâmula; mais de 5000 documentos, além de vídeos, slides e diversas coleções. 25ADVERSO 189 | MAIO 2011

No Pós-Guerra, Antuérpia destruída vê a estreia de

um Brasil vencedor.

Sobre o Ceme

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+1 FilmeQuem já assistiu, sempre sai ganhando ao rever o filme Carruagens de Fogo. Para quem nunca viu, é uma ótima dica. Vencedor de quatro Oscar em 1981, incluindo melhor filme, Carruagens de Fogo é a cativante história real de Harold Abrams, Eric Liddell e da equipe que trouxe para a Grã-Bretanha uma de suas maiores vitórias no esporte. Os melhores atletas da Inglaterra iniciam sua busca da glória nos jogos olimpicos de 1924. O sucesso honra sua pátria. Para dois corredores, a honra em questão é pessoal, e o desafio vem de cada um deles. Com suas inigualáveis tomadas da competição para a época e sua trilha sonora vencedora de um Oscar, este filme marcou definitivamente seu lugar no coração daqueles que amam o cinema e o esporte em qualquer parte do mundo.

ADVERSO 185 | MAIO 2011

+1 LivroO Atlas do Esporte no Brasil é uma obra que apresenta os resultados de uma das maiores pesquisas sobre esporte feitas no mundo até hoje. São 924 páginas com centenas de mapas, quadros e tabelas, completadas por uma seção especial com cerca 200 fotos e figuras que sintetizam a história do esporte brasileiro, do descobrimento do Brasil, em 1500, aos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Organizado pelo professor Lamartine Pereira da Costa, o atlas está disponível na biblioteca da Ufrgs e em locais especializados.

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