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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A CONTRIBUIÇÃO DAS BRINCADEIRAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA DA PSICOMOTRICIDADE LETICIA MELLO NUNES DE LIMA ORIENTADORA: GENI 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A CONTRIBUIÇÃO DAS BRINCADEIRAS PARA O

DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA

PERSPECTIVA DA PSICOMOTRICIDADE

LETICIA MELLO NUNES DE LIMA

ORIENTADORA: GENI

2009

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A CONTRIBUIÇÃO DAS BRINCADEIRAS PARA O

DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA

PERSPECTIVA DA PSICOMOTRICIDADE

Monografia entregue ao Instituto A Vez do Mestre - Universidade Candido Mendes como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Especialista em Psicomotricidade.

POR: Leticia Mello Nunes de Lima.

2009

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RESUMO

O presente trabalho apresenta o tema brincar como peça fundamental

no desenvolvimento infantil sob um enfoque psicomotor. Trata da análise da

inserção do lúdico no processo ensino aprendizagem das crianças e procura

mostrar como o jogar e o brincar interferem, beneficamente, na motivação dos

alunos e traz melhorias para desenvolvimento do trabalho do professor. O

lúdico, nas últimas décadas, tem sido tema de investigação em diversos

campos do saber e, primordialmente, na educação; pois, trata-se de um

instrumento pedagógico que possibilita melhorias no desenvolvimento

individual da criança, seja na linha da socialização, da criatividade, da

expressão corporal, da auto-afirmação ou da participação pessoal no próprio

processo de aprendizagem. Sendo assim, cabe aos orientadores infantis –

psicomotricistas, psicopedagogos, professores e responsáveis – reconhecerem

a importância do brincar no desenvolvimento das crianças, proporcionando um

ambiente, onde possa existir espaço e tempo para o ato de brincar.

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METODOLOGIA

Fundamentar teoricamente, através de uma pesquisa bibliográfica, que a

atividade lúdica é uma necessidade infantil, ocupando um lugar especial no

mundo das crianças. O brincar e o jogar, para elas representam uma razão de

viver, o que faz com que as crianças se entreguem ao fascínio da brincadeira.

Para tal trabalho compararam-se as pesquisas de alguns autores em

torno da contribuição da brincadeira no processo ensino aprendizagem.

Aristóteles, século IV a.C., já defendia que o ser humano para ter seu

desenvolvimento completo precisa passar por três etapas de vida: aprender,

fazer e brincar.

Vygotsky e Piaget também defendem a necessidade da brincadeira

nesse processo. Vygotsky afirma que toda ação pedagógica, no

âmbito do jogo e da brincadeira deve possibilitar que as crianças façam coisas

juntas, ou com a ajuda de um adulto. Para ele, o relacionamento com o outro

possibilita um maior desenvolvimento do raciocínio favorecendo a

aprendizagem infantil.

Piaget, por sua vez, acredita que os jogos não são apenas maneiras de

fazer a criança gastar energia, mas meios que contribuem e enriquecem o

desenvolvimento intelectual. Para ele, através da atividade lúdica e do jogo, a

criança pode formar conceitos, selecionar idéias, melhorar sua coordenação

motora e se preparar para o aprendizado futuro.

Sendo assim, é possível identificar a brincadeira como um elemento

essencial no desenvolvimento infantil adequando o ato de brincar a uma

proposta preventiva e estimulatória no processo ensino aprendizagem na

perspectiva da psicomotricidade.

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SUMÁRIO

• Introdução ____________________________________________ 06

• Capítulo I: A brincadeira no desenvolvimento psicomotor da

criança ______________________________________________

08

• Capítulo II: Aprendizagem como uma integração das atividades

lúdicas psicomotoras com o currículo escolar_________________

20

• Capítulo III: A função do psicomotricista na relação da brincadeira

com o processo ensino aprendizagem ______________________

30

• Conclusão ____________________________________________

40

• Bibliografia ___________________________________________

42

• Índice _______________________________________________

44

6

INTRODUÇÃO

O objetivo central desse estudo foi, essencialmente, a análise das

possibilidades de inserção do lúdico, sob a forma de jogos e brincadeiras, na

escola, e seus benefícios para o desenvolvimento psicomotor do processo

ensino aprendizagem de crianças entre cinco e dez anos, alunos dos primeiros

anos do Ensino Fundamental.

Ele tem o objetivo de resgatar a importância da utilização das

brincadeiras, como uma das diversas maneiras de contribuir para o

desenvolvimento das habilidades físicas e intelectuais das crianças em idade

escolar, encurtando assim à distância entre o ensino teórico e os benefícios da

prática.

Serão demonstradas algumas das contribuições que as brincadeiras

podem trazer às crianças, através da sua participação no processo de criação,

estruturação e execução dos jogos.

É importante ressaltar que as atividades psicomotoras têm sido

descobertas como um instrumento pedagógico extremamente válido, uma vez

que traz benefícios em várias áreas do desenvolvimento individual e motiva a

criança estimulando-a a crescer em várias direções.

Os valores e benefícios educacionais dos jogos são reconhecidos em

todas as idades do homem pela sua prática, e podem ser comprovados, a partir

dos primeiros anos de vida. Durante a infância os jogos não são meros

passatempos, as brincadeiras facilitam o desenvolvimento da resistência física,

da força e da coordenação motora sem falar no favorecimento de uma ótima

socialização, pela atuação em várias esferas sociais que se constituem para a

vida afetiva. O jogo facilita o desenvolvimento intelectual pelo exercício da

atenção e da imaginação, na brincadeira do faz de conta.

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Sendo assim é correto afirmar que as atividades lúdicas psicomotoras ,

como jogos e brincadeiras, constituem a base da educação da criança e são de

fundamental necessidade.

É, pois da maior importância analisar como jogar interfere no aprender

infantil. É relevante, também, demonstrar como o jeito de ensinar do professor

será igualmente influenciado pelo lúdico.

Para tal intuito, mapeou-se o desenvolvimento psicomotor como

processo de socialização e o uso e o objetivo da brincadeira enquanto

facilitadora e possibilitadora do processo ensino aprendizagem.

Baseando-se nestas observações, o presente trabalho pretende refletir

sobre a importância da brincadeira no desenvolvimento infantil, sobre a

contribuição da integração das atividades lúdicas psicomotoras com o currículo

escolar bem como sobre o trabalho desenvolvido pelo psicomotricista neste

processo.

Estas reflexões estão organizadas em capítulos, os quais serão

apresentados a seguir. Sendo assim, observa-se que este trabalho trata do

brincar, um jeito de ensinar e aprender.

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CAPÍTULO I

A BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO

PSICOMOTOR DA CRIANÇA

O desenvolvimento infantil é um processo de mudança durante o qual a

criança é capaz de alcançar o seu potencial físico, mental, emocional e social

único. O desenvolvimento de cada uma dessas dimensões deve acontecer

simultaneamente, através de uma ação recíproca com o ambiente da criança, e

deve ser visto como um processo de existência contínuo.

As necessidades e prioridades da criança devem ser levadas em

consideração no contexto de suas famílias, sua relação com outras crianças,

seu convívio escolar, na comunidade e na sociedade. As crianças são vistas no

contexto de sua cultura, e os valores comunitários devem ser levados em

consideração.

A brincadeira é forma rica e poderosa de estimular a atividade

construtiva da criança. Devem-se ampliar cada vez mais as vivências da

criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e, principalmente,

com outras crianças.

Vygotsky (1998) considera que o desenvolvimento ocorre ao longo da

vida e que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo dela.

Segundo ele, a criança usa as interações sociais como formas privilegiadas de

acesso a informações: aprendem a regra do jogo, por exemplo, através dos

outros e não como o resultado de um engajamento individual na solução de

problemas. Desta maneira, aprende a regular seu comportamento pelas

reações, quer elas pareçam agradáveis ou não.

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Na visão sócio-histórica de Vygotsky, a brincadeira é uma atividade

específica da infância, em que a criança recria a realidade usando sistemas

simbólicos. Essa é uma atividade social, com contexto cultural. É uma atividade

humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interage na

produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação

pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com

outros sujeitos, crianças e adultos.

A brincadeira cria para as crianças uma zona de desenvolvimento proximal que não é outra coisa senão à distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema, sob a orientação de um adulto, ou de um companheiro mais capaz. (VYGOTSKY apud WAJSKOP, 1999, p. 35).

Dessa maneira, as brincadeiras que são oferecidas à criança devem

estar de acordo com a zona de desenvolvimento em que ela se encontra

possibilitando às manifestações corporais encontrarem significado pela

ludicidade presente na relação que as crianças mantêm com o mundo.

1.1 - O Desenvolvimento Infantil - Processo de Socialização

O desenvolvimento humano é um processo de crescimento e mudança a

nível físico, do comportamento, cognitivo e emocional ao longo da vida. Em

cada fase surgem características específicas. As linhas orientadoras de

desenvolvimento psicomotor aplicam-se a grande parte das crianças em cada

fase de desenvolvimento. No entanto, cada criança é um indivíduo e pode

atingir estas fases de desenvolvimento mais cedo ou mais tarde do que outras

crianças da mesma idade, sem se falar, propriamente, de problemáticas.

Para entender o desenvolvimento psicomotor da criança é necessário

saber que fatores interferem nesse processo. As influências do meio, tanto as

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do ambiente interno (aspectos biológicos e psicológicos) como as externas

(ambiente social), começam a atuar mesmo antes do nascimento e continuam

durante toda a vida dos indivíduos.

Entre os fatores internos que influenciam no desenvolvimento infantil

destacam-se a hereditariedade e a maturação. O primeiro consiste na herança

individual que cada criança recebe de seus pais ao ser concebida. É por isso

que todos os seres humanos são diferentes entre si.

Já o segundo fator interno que influencia no desenvolvimento psicomotor

da criança é o processo de mudança do organismo determinado de dentro para

fora: tamanho dos órgãos, a forma que assumem com o crescimento, o

desenvolvimento de habilidades como andar, correr, pular, falar, entre outras. É

evidente que nenhuma dessas mudanças ocorre sem qualquer contribuição do

ambiente. A maior parte dos comportamentos, além da maturação interna,

necessita de treinamento e aprendizagem para se desenvolver.

O grupo social em que a pessoa vive é um fator externo que vai

influenciar de uma maneira muito acentuada no comportamento da criança.

Além do grupo social, no qual é incluída a família, a escola e a classe social,

isto é, o ambiente social da criança, a alimentação e a preservação da natureza

também são citados como fatores externos importantes.

O ambiente social é colocado em primeiro lugar, pois, dependendo da

família, da classe social e do tipo de sociedade em que nasce, a criança

poderá encontrar ou não uma alimentação satisfatória e uma atmosfera

favorável ao seu desenvolvimento.

Uma alimentação suficiente e adequada é outro fator ambiental

importante. Para um desenvolvimento saudável e integral, a criança precisa de

ar fresco, espaço e alimentos naturais.

Atualmente, a preservação da natureza vem sendo considerada um fator

importante para o desenvolvimento psicomotor humano. A poluição ambiental

(dos rios, dos lagos, do mar e da atmosfera) coloca em risco a própria

sobrevivência da humanidade.

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Nas grandes cidades, a criança é prejudicada em seu desenvolvimento

físico e mental e em seu aproveitamento escolar, pela poluição atmosférica; o

excesso de barulho dificulta a concentração e o estudo e prejudica o aparelho

auditivo; a poluição do ar provoca doenças respiratórias, entre outras

dificuldades.

Quando se pensa no desenvolvimento psicomotor da criança é preciso

ter em mente que a história de um bebê vem sendo “escrita” há muito tempo,

ou seja, vem percorrendo um caminho que passa de geração para geração,

onde a família e, em especial, os pais possuem um papel fundamental.

Sabe-se que o bebê humano, devido sua imaturidade ao nascer, não

sobrevive sozinho. Por isso a importância da família: mãe-pai-bebê. Assim,

este pequeno ser vai adquirindo, através da relação com o outro, as

capacidades necessárias para enfrentar o árduo caminho do processo de

crescimento.

O processo de construção saudável desta identidade acontece através

de uma crescente sociabilização. A criança aprende quem é, e quem pode vir a

ser, ao se tornar um ser social, histórico e cultural, ao se sentir parte integrante

e ativa de um ou mais grupos interligados, como a família e a escola.

Quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas vivências, grande parte delas através da atividade lúdica. (NEGRINE, 1994, p. 20).

Desta forma, torna-se fundamental para os profissionais ligados a

Infância o conhecimento do saber que a criança construiu na interação com o

ambiente familiar e sociocultural, auxiliando os pais na difícil tarefa de

contribuírem para o crescimento físico e psíquico de seus filhos e para uma

evolução satisfatória das relações familiares.

Na primeira infância, a criança vai se desenvolvendo em termos

qualitativos, de elaboração do pensamento, pelo processo simbólico. Aos

poucos, vai substituindo o concreto pelo abstrato, podendo usar suas

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representações mentais para interagir no mundo de relações e lhe dar suporte

para a maturação mental, afetiva e social. É o tempo de fazer e compreender.

A família é, sem dúvida, o principal agente socializador da criança,

enquanto ainda pequena. O tipo de ambiente familiar adotado pelos pais, na

prática do dia-a-dia, resultará em maior ou menor capacidade da criança para

enfrentar situações positivas ou negativas. Também influenciará no conceito

que a criança tem de si mesma, enquanto pessoa.

Dessa maneira, é possível dizer que a família constitui o grupo de

socialização primária para a criança. Nos seus primeiros anos de vida, ela

depende física e psiquicamente de um adulto.

A socialização secundária ocorrerá na escola, espaço destinado para a

criança se relacionar com outras pessoas de sua idade, interagir com as

mesmas, aprender a dividir, aceitar o outro e a conviver. Na escola há o

empenho em promover a interação entre adultos e crianças, bem como das

crianças entre si, obtendo, assim, através de uma comunicação criativa, a

aceitação recíproca que irá permitir uma maior participação na vida social.

É importante destacar que no ambiente escolar é necessário que haja

um bom relacionamento, tratando o grupo de maneira igual, respeitando as

individualidades e capacidades de cada criança. A harmonia que o professor

estabelece em sala de aula resulta na relação de confiança com a criança,

elevando sua auto-estima e proporcionando o bom desenvolvimento em todos

os aspectos psicomotores.

Sendo assim, é possível perceber que o processo de socialização é um

processo contínuo que propicia a formação da identidade do ser humano. O

meio social é decisivo para que a criança consiga internalizar os processos de

desenvolvimento adquiridos e passe a assumir como seus os dados da

realidade apreendidos pela aprendizagem.

1.2 - O ato de brincar e a criança

13

O ato de brincar é uma atividade psicomotora espontânea e natural da

criança, e é benéfico por estar centrado no prazer, despertar emoções e

sensação de bem estar, libertar das angústias e funcionar como saída para

emoções negativas, ajudando a criança a lidar com esses sentimentos que

fazem parte da vida cotidiana.

Os antigos já sabiam e demonstravam a importância do brincar para o

homem. Aristóteles, pensador grego, dividiu o homem em homo sapiens

(homem que aprende), homo faber (homem que faz) e homo ludens (homem

que brinca), e, em nenhum momento, uma dessas características se

sobressaiu às outras, pois ele as considerava todas relevantes.

Brincar é um direito da criança. Brincando ela aprende a lidar com o

mundo e forma sua personalidade. Recria situações do cotidiano e experimenta

sentimentos básicos como o amor e o medo.

As experiências lúdicas psicomotoras de uma criança, desde bebê, lhe

mostram o universo social em que está inserida. Pelo brinquedo acontecem as

adaptações, os acertos, os erros e as soluções de problemas que vão ajudá-la

a construir sua autonomia.

A natureza da criança é lúdica, de movimento, de curiosidade, de

espontaneidade. Ao se observar uma criança brincando, verifica-se o quanto se

concentra no que está fazendo. Naquele momento, ela toma pra si suas

próprias fantasias e reproduz cenas do seu cotidiano através do “faz-de-conta”,

liberando assim, seus sonhos ou medos, partindo em busca de um lugar

familiar e social pela construção do seu próprio ego.

Brincar é mais do que uma atividade sem conseqüência para a criança.

Brincando, ela não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo em que

vive, se relaciona com este mundo. Brincando, a criança aprende.

Uma criança com possibilidades lúdicas variadas terá mais riqueza de

criatividade, relacionamentos, capacidade crítica e de opinião. O contato, a

exploração do meio ambiente, brinquedos, expressão musical, artes, dança,

teatro e vivências corporais ampliam sua visão de mundo na medida em que

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com ele interage. Assim sendo, ela própria vai instituindo seus limites, desafios

e criando novos brinquedos.

Através do brincar a criança está experimentando o mundo, os

movimentos e as reações, tendo assim elementos para desenvolver atividades

psicomotoras mais elaboradas no futuro.

Através do simbólico jogo da brincadeira, a criança irá entender o mundo

ao redor, testar habilidades físicas (correr, pular), funções sociais (ser o

construtor, a enfermeira, a secretária), aprender as regras, colher os resultados

positivos ou negativos dos seus feitos (ganhar, perder, cair), registrando o que

deve ou não repetir nas próximas oportunidades (ter mais calma, não ser

teimosa). A aprendizagem da linguagem e a habilidade motora de uma criança

também são desenvolvidas durante o brincar.

A brincadeira permite um extravasar dos sentimentos, auxilia na reflexão

sobre a situação, criando várias alternativas de conduta para o desfecho mais

satisfatório ao seu desejo.

O ato de brincar com outras crianças favorece o entendimento de certos

princípios da vida, como o de colaboração, divisão, liderança, obediência às

regras e competição.

Com relação ao jogo, Piaget (1998) acredita que ele é essencial na vida

da criança. De início tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança

repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus

efeitos.

Em torno dos dois e seis anos nota-se a ocorrência dos jogos

simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança de não somente

relembrar mentalmente o acontecido, mas de executar a representação.

Em período posterior surgem os jogos de regras, que são transmitidos

socialmente de criança para criança e por conseqüência vão aumentando de

importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento social. Para

Piaget, o jogo constitui-se em expressão e condição para o desenvolvimento

15

psicomotor da criança, já que as crianças quando jogam assimilam e podem

transformar a realidade.

Com a modernidade e a era da informática, os brinquedos virtuais

aparecem, tomando conta de quase todo o tempo livre das crianças. Não cabe

negá-los, mas sim possibilitar vivências lúdicas corporais em vários ambientes

e espaços, com materiais e equipamentos que vão, efetivamente, contribuir no

desenvolvimento psicomotor.

Uma criança, ao entrar no universo do brinquedo, estará vivenciando e

lidando com a sua própria estruturação e desenvolvimento da inteligência.

O brinquedo traduz o real para a realidade infantil. Suaviza o impacto

provocado pelo tamanho e pela força dos adultos, diminuindo o sentimento de

impotência da criança. Brincando, sua inteligência e sua sensibilidade estão

sendo desenvolvidas. A qualidade de oportunidades que estão sendo

oferecidas à criança através de brincadeiras e brinquedos garante que suas

potencialidades e sua afetividade se harmonizem. A ludicidade, tão importante

para a saúde mental do ser humano, é um espaço que merece atenção dos

pais e educadores, pois é o espaço para expressão mais genuína do ser, é o

espaço e o direito de toda criança para o exercício da relação afetiva com o

mundo, com as pessoas e com os objetos.

Um bichinho de pelúcia pode ser um bom companheiro, uma bola é um

convite ao exercício motor, um quebra-cabeça desafia a inteligência e um colar

faz a menina sentir-se bonita e importante como a mamãe. Enfim, todos são

como amigos, servindo de intermediários para que a criança consiga integrar-

se melhor.

Para que o brinquedo seja significativo para a criança é preciso que

tenha pontos de contato com a sua realidade. Através da observação do

desempenho das crianças com seus brinquedos é possível avaliar o nível de

seu desenvolvimento psicomotor. No lúdico, manifestam-se suas

potencialidades e ao observá-las pode-se enriquecer sua aprendizagem,

fornecendo através dos brinquedos os nutrientes ao seu desenvolvimento.

16

Portanto, as crianças tendo a oportunidade de brincar, estarão mais

preparadas emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do

contexto social, obtendo assim melhores resultados gerais no desenrolar de

sua vida.

As situações problemas contidas na manipulação dos jogos e

brincadeiras fazem a criança crescer através da procura de soluções e de

alternativas. O desempenho psicomotor da criança enquanto brinca, alcança

níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue, ao mesmo tempo

favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. Como

conseqüência a criança fica mais calma, relaxada e aprende a pensar,

estimulando sua inteligência.

A criança trata os brinquedos conforme os recebeu. Ela sente quando o

está recebendo por razões subjetivas do adulto, que muitas vezes, compra o

brinquedo que gostaria de ter tido, ou que lhe dá status, ou ainda para comprar

afeto e outras vezes para servir como recurso para livrar-se da criança por um

bom espaço de tempo. É indispensável que a criança sinta-se atraída pelo

brinquedo e é preciso mostrar a ela as possibilidades de exploração que ele

oferece, permitindo tempo para observar e motivar-se.

A criança deve explorar livremente o brinquedo, mesmo que a

exploração não seja a esperada. Não é recomendado interromper o

pensamento da criança ou atrapalhar a simbolização que está fazendo. É

importante sugerir, estimular, explicar, sem impor a forma de agir, para que a

criança aprenda descobrindo e compreendendo, e não por simples imitação. A

participação do adulto é para ouvir, motivá-la a falar, pensar e inventar.

Brincando, a criança desenvolve seu senso de companheirismo.

Jogando com amigos, aprende a conviver, ganhando ou perdendo, procurando

aprender regras e conseguir uma participação satisfatória.

No jogo, ela aprende a aceitar regras, esperar sua vez, aceitar o

resultado, lidar com frustrações e elevar o nível de motivação.

Nas dramatizações, a criança vive personagens diferentes, ampliando

sua compreensão sobre os diferentes papéis e relacionamentos humanos.

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As relações cognitivas e afetivas da interação lúdica psicomotora

propiciam amadurecimento emocional e vão pouco a pouco construindo a

sociabilidade infantil.

O momento em que a criança está absorvida pela brincadeira é um

momento mágico e precioso, em que está sendo exercitada a capacidade de

observar e manter a atenção concentrada e que irá inferir na sua eficiência e

produtividade quando adulto.

A capacidade de brincar é intrínseca ao ser humano. É extrema a

importância da brincadeira para o desenvolvimento psicomotor da criança. O

início das relações entre a criança e o mundo se dá através do brincar.

Brincando, a criança descobre, experimenta, conhece, cria, relaciona,

compreende, transforma e começa lentamente a construir sua história.

O espaço de brincar é o laboratório, e o brinquedo promove o

experimento. No universo infantil, a criação de possíveis espaços e brinquedos

é inesgotável: a imaginação é a grande recicladora de ambientes e

significados. A riqueza de vivências da criança com espaços e brinquedos

diferentes é um fator estimulante para seu desenvolvimento integral.

Através do brincar, a criança estabelece relações e produz

conhecimentos diversos. As conquistas obtidas pelo ato de brincar se

estendem a todos os campos do desenvolvimento humano.

O processo de desenvolvimento psicomotor acontece a partir da

construção que a criança faz interagindo com os meios físico e social. A

criança conhece o mundo a partir de sua ação sobre ele.

O papel do adulto no brincar da criança é fundamental. A forma de

relação estabelecida por ele irá incidir diretamente no desenvolvimento integral

da criança, e sua postura poderá facilitar ou dificultar o processo de

aprendizagem infantil.

Brincar junto reforça os laços afetivos. É uma manifestação de amor à

criança. Todas as crianças gostam de brincar com os pais, com a professora,

com os avós ou com os irmãos.

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A participação do adulto na brincadeira da criança eleva o nível de

interesse, enriquece e contribui para o esclarecimento de dúvidas durante o

jogo. Ao mesmo tempo, a criança sente-se prestigiada e desafiada,

descobrindo e vivendo experiências que tornam a brincadeira o recurso mais

estimulante e mais rico em aprendizado.

Guardar os brinquedos com cuidado pode ser desenvolvido através da

participação da criança na arrumação feita pelo adulto. O hábito constante e

natural dos pais e da professora ao guardar com zelo o que utilizou, faz com

que a criança adquira automaticamente o mesmo hábito, ocorrendo inclusive

satisfação tanto no guardar como no brincar.

A brincadeira de faz-de-conta é muito importante porque ajuda a criança

a desenvolver sua imaginação, sua vontade de aprender como vive sua família.

Ao brincar de faz-de-conta a criança vai procurar agir como os adultos fazem,

vai criar situações imaginárias a partir de histórias que viu na televisão, ouviu

as pessoas contando ou lendo nos livros para ela.

Nessa brincadeira, a criança mostra o que aprendeu como certo e

errado o que sua família valoriza, por exemplo: suas crenças, os amigos, o

trabalho dos pais. E repete ainda agressões, violência se ela vê este tipo de

situação na televisão, na comunidade ou sofre isso na família.

Por isso, o faz-de-conta também ajuda a criança a lidar com situações

difíceis ou proibidas. Ela está mostrando que já tem a capacidade de criar

idéias em sua mente sobre coisas que ouve falar, de lembrar do que viu e de

tentar fazer o que as pessoas fazem.

É importante que o adulto tenha consciência dos prazeres e frustrações

provenientes de um processo de interação educacional que apresenta a

complexidade característica das relações humanas. A sensibilidade, a

flexibilidade e a criatividade são pré-requisitos essenciais ao responsável pelo

espaço de brincar, e o exercício da capacidade de refletir deve se tornar uma

constante em seu cotidiano.

19Quando toda criança, indiscriminadamente, puder brincar em espaços alternativos, com equipamentos diversificados, jogar com outras crianças de várias faixas etárias, descobrir o novo, manipular e construir brinquedos, desafiar seus limites, construir regras, ser intuitiva e espontânea – transformando-se em bruxa, super-homem, batman, rainha... – estará atingido o principal objetivo que é o de fazer com que ela incorpore sua essência e constitua-se num sujeito mais inteligente e social. (RODRIGUES, 2000, p. 27).

Cabe às famílias, escolas e instituições que atuam na fase da infância

disponibilizar espaços que darão oportunidades para o desenvolvimento de

programas lúdicos psicomotores para o mundo infantil que, por natureza, é

infinitamente rico, criativo e curioso, possibilitando crianças mais felizes e mais

preparadas para o aprendizado escolar.

20

CAPÍTULO II

APRENDIZAGEM COMO UMA INTEGRAÇÃO DAS

ATIVIDADES LÚDICAS PSICOMOTORAS COM O

CURRÍCULO ESCOLAR

Houve um tempo em que era extremamente nítida a separação entre o

brincar e o aprender. Os momentos de uma atividade e de outra eram

separados por um grande abismo e não se concebia que era possível aprender

quando se brincava.

Mais tarde, essa idéia foi lentamente sendo substituída por outra, que

preconizava que existiam "brincadeiras apenas lúdicas" cuja finalidade era

somente animar, alegrar e distrair, e outras, que poderiam ensinar um ou outro

conceito e desenvolver esta ou aquela habilidade. A maior parte das pessoas

adultas, distantes dos novos estudos sobre a mente humana e a maneira como

ela opera o conhecimento e constrói convicções, ainda pensa de uma ou de

outra maneira. Para elas, o brincar sempre se distancia do aprender e é natural

que existam brinquedos com a finalidade de alegrar e divertir e outros que

possuem um único objetivo, educar.

Essas idéias foram literalmente superadas por tudo o que hoje se

conhece sobre a mente infantil, e não há mais dúvidas de que é no ato de

brincar que a criança se apropria da realidade imediata, atribuindo-lhe

significado. Em outras palavras, jamais se brinca sem aprender e, caso se

insista em uma separação, esta é a de organizar o que se busca ensinar,

adequando o ensino com brincadeiras para que melhor se aprenda.

Para Antunes (2004), brincando, a criança desenvolve a imaginação,

fundamenta afetos, explora habilidades e, na medida em que assume múltiplos

papéis, fecunda competências cognitivas e interativas. Ainda segundo o

professor a brincadeira bem conduzida estimula a memória, exalta sensações

21

emocionais, desenvolve a linguagem interior — e, às vezes, a exterior —,

exercita níveis diferenciados de atenção e explora com extrema criatividade

diversos estados de motivação.

Brincar e aprender são dois processos diferentes que acontecem em um

mesmo espaço, o espaço da criatividade, o espaço do jogar.

Longe de ser apenas uma atividade natural da criança, a brincadeira é

uma aprendizagem social. As brincadeiras dos adultos com as crianças

pequenas são essenciais nessa aprendizagem, pois a brincadeira permite

decidir, pensar, sentir emoções distintas, competir, cooperar, construir,

experimentar, descobrir, aceitar limites, surpreender-se, visto que o brincar é o

principal meio da aprendizagem da criança.

Deve se considerar sempre pensar que o mais importante não é ensinar,

mas criar condições para que a aprendizagem aconteça.

Todas as crianças precisam brincar, mas nem todas têm oportunidade.

Algumas porque precisam trabalhar, outras porque não têm com o que brincar,

outras porque precisam estudar e conseguir notas altas.

Existem também, crianças socialmente prejudicadas. Aquelas que não

usufruem os benefícios de um lar e uma família organizada e muitas vezes

sentem dificuldades em adaptar-se à escola.

São infinitas as oportunidades de descobrir e criar que estão presentes

nas brincadeiras infantis. A brincadeira é uma forma de atividade social infantil

cuja característica imaginativa e diversa do significado cotidiano da vida

fornece uma ocasião educativa única para as crianças.

Brincar tem características peculiares como o prazer, o desafio, limites e

liberdade. Exige movimentos, flexibilidade e tem para a criança um caráter

sério que não é feito de qualquer maneira, pois ela se empenha para realizar o

seu melhor.

Brincando ela aprende a viver e a formar conceitos, avançando dessa

forma, etapas importantes para o seu crescimento. Brincando a criança adquire

experiências que serão indispensáveis no seu dia-a-dia, pois provoca, exercita,

22

desenvolvendo assim, o funcionamento de seu pensamento explorando suas

potencialidades.

Jean Piaget (1998) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das

atividades intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de

desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que

contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Ele afirma:

o jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. (PIAGET, 1998, p. 160).

A importância da brincadeira está intrinsecamente ligada ao seu valor

operatório, pois, implica em assimilação de esquemas.

Pela necessidade que a criança tem de brincar é preciso criar sempre

oportunidades em casa e na comunidade para que ela possa brincar

livremente. Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, brincar é a sua

linguagem secreta.

Além de deixar qualquer criança feliz, o brincar desenvolve os músculos,

a mente, a sociabilidade, a coordenação motora e auxilia-a na superação de

suas dificuldades. Brincar é muito importante, pois enquanto estimula o

desenvolvimento intelectual da criança, também ensina, sem que ela perceba,

os hábitos necessários ao seu desenvolvimento.

Existem dois tipos de brincar: o brincar livre e o brincar dirigido. O

brincar livre, conceitua-se pelo lúdico informal, geralmente no espaço familiar:

de passeios, de comunicação, de informação, de descobertas, de assistir

televisão, enfim, brincadeiras que, apesar de serem de iniciativa da criança,

sem pretensões educativas, assumem características de aprendizagens

23

consideráveis para ela, que se utilizando de conhecimentos pré-adquiridos,

possibilitam a apreensão de novos conhecimentos, para apropriar-se de seu

entorno, desenvolvendo sua cultura lúdica.

Agindo de forma lúdica, há possibilidade de a criança assimilar a cultura

do seu grupo social e interpretar os modos de vida adultos de forma

participativa permitindo que essa cultura lúdica constitua uma bagagem cultural

para a criança e se incorpore de modo dinâmico a uma cultura mais ampla.

É preciso lembrar que a cultura lúdica que evolui com a criança é em

parte, determinada por suas capacidades psicológicas, as quais podem permitir

ou impossibilitar algumas ações ou representações, pois o pensamento da

criança evolui a partir de suas ações, por isso as brincadeiras são importantes

para o desenvolvimento do pensamento infantil.

No que diz respeito ao brincar dirigido, ele é entendido como a atividade

lúdica direcionada para fins de aprendizagem e a criança vive experiências em

níveis diferentes de complexidade e envolve assim através do brincar, suas

capacidades cognitivas, ou seja, o brincar dirigido como um procedimento que

pode compor o processo diagnóstico do psicopedagogo.

Portanto para dar mais sentido às brincadeiras, deve-se propor

atividades que exercitem sua imaginação, criatividade, equilíbrio, agilidade de

movimentos e raciocínio. Conseqüentemente, que o brincar livre e o brincar

dirigido, desenvolvem-se em uma inter-relação positiva. No brincar livre, a

criança utiliza sua cultura lúdica aliada ao que aprendeu no brincar dirigido. Por

sua vez, será observado no brincar dirigido as experiências adquiridas pelo

brincar livre com outras crianças.

Assim sendo, as crianças precisam de tempo, espaço, companhia e

material para brincar. Desta maneira a escola pode e deve reunir experiências

para que aprendam e assimilem nesse processo de descobertas que é

fundamental para o seu desenvolvimento.

Na área da educação, a preocupação com o lúdico deve se manifestar

não apenas pela qualidade dos brinquedos disponíveis no acervo, mas também

pelos significados que esses objetos carregam, no intuito de compreender a

24

especificidade e importância da intervenção e prevenção que pode existir na

brincadeira, atentando para o fato de que hoje já não se pode mais educar

apenas com lápis, papel, mesa e cadeiras.

O educador pode, portanto, construir um ambiente que estimule a

brincadeira em função dos resultados desejados.

Na sua influência para com o desenvolvimento infantil o brincar pode ser

utilizado como uma ferramenta para estimular déficits e dificuldades

encontradas em alguns aspectos desenvolvimentais. Entretanto, os

profissionais que lidam com estas crianças devem estar atentos ao

desenvolvimento global infantil e não se deterem a aspectos isolados, uma vez

que todos os aspectos estão interligados e exercem influências uns para com

os outros.

No que se refere à aprendizagem, utilizar a brincadeira como um recurso

é aproveitar a motivação interna que as crianças têm para tal comportamento e

tornar a aprendizagem de conteúdos escolares mais atraente.

A utilização do brincar como uma estratégia a mais para a

aprendizagem trará benefícios tanto para as crianças, que terão condições

mais facilitadoras para a aprendizagem, quanto para os professores, que

poderão se utilizar de mais um recurso para atingirem seu principal objetivo: a

aprendizagem de seus alunos.

2.1 - Brinquedos criados para ensinar

Friedrich Froebel foi um dos primeiros educadores a considerar o início

da infância como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas.

Para ele, a brincadeira é o primeiro recurso no caminho rumo à aprendizagem.

Não é apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo

concreto com a finalidade de entendê-lo. (Revista Nova Escola, março de

2006).

25

Por meio de brinquedos que desenvolveu depois de analisar crianças de

diferentes idades, Froebel previu uma educação que ao mesmo tempo permite

o treino de habilidades que as mesmas já possuem e o surgimento de novas.

Dessa forma é possível aos alunos exteriorizar seu interior e interiorizar as

novidades vindas de fora – um dos princípios do aprendizado, segundo o

pensador.

As atividades e o material escolar seriam determinados anteriormente,

para oferecer o máximo de oportunidades para a aprendizagem em atividades

lúdicas.

As brincadeiras devem ser acompanhadas de músicas, versos e dança.

Os objetos criados por Froebel, chamados de “dons” ou “presentes”, possuem

regras para usá-los, que precisariam ser dominadas para garantir o

aproveitamento pedagógico. As brincadeiras devem ser, quase sempre, ao ar

livre para que a turma interaja com o ambiente.

2.2 - Cenários Lúdicos

Os cenários lúdicos, ou cantinhos pedagógicos foram desenvolvidos por

Celéstin Freinet que durante seu trabalho, demonstrou o desejo de transformar

a escola de sua época em uma escola popular, ativa e dinâmica, e estas

transformações deveriam começar pelo professor em sua prática diária.

Freinet questionava as tarefas repetidas opostas às atividades lúdicas e

aos jogos. Ele valorizava a livre expressão dos alunos e organizava a sua sala

de aula como uma cooperativa, e as atividades aconteciam nos cantos

específicos.

Hoje em dia, muitos educadores utilizam as idéias de Freinet quanto à

organização dos cantos em sala de aula, sem saber a origem desta prática; no

entanto, conseguem perceber no dia-a-dia como esta organização é proveitosa

para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Isto acontece porque

estes espaços lúdicos propiciam a estruturação das funções simbólicas,

26

incentivam as ações lúdicas e estão centrados no prazer do brincar e do faz-

de-conta.

Estes espaços atendem às características da faixa etária, às necessidades do grupo e seus interesses, às possibilidades de interação com os colegas, bem como à oportunidade de realizarem atividades independestes sem a presença do adulto ao seu lado. (Uso de espaços lúdicos na Educação Infantil, Revista do Professor, ano XXII, nº 86, p. 41).

Então, quando o professor planeja e constrói os cantinhos deve ter em

vista possibilitar às crianças que elas os utilizem de forma autônoma. A

organização destes espaços deve fazer parte integrante da ação pedagógica

do professor e, por isso, precisa ser cuidadosamente planejada. Isso significa

não somente ter cuidado na escolha dos materiais que irão integrar os espaços

lúdicos, mas também ter consciência de que, mais importante do que organizar

esses espaços é trabalhar o brincar na sala de aula, compreendendo que as

crianças marcam o seu espaço principalmente pelo brincar e, portanto, devem

participar deste planejamento e desta construção.

O uso destes espaços pelas crianças promove a identidade pessoal, o

desenvolvimento de competências, a construção de diferentes aprendizagens,

as sensações de segurança e confiança, bem como as oportunidades para o

contato pessoal e a privacidade.

2.3 - A brincadeira e a escola

O início da aprendizagem se dá em casa. Quando a criança vai para a

escola, ela já aprendeu aquilo que a torna apta para iniciar o tipo de

aprendizagem mais sistematizada que a escola propõe.

As primeiras noções de tamanho, de quantidade, os primeiros exercícios

com operações matemáticas, a aprendizagem de nomes, juntam-se às

habilidades de andar, falar, vestir, comer, já aprendidas em casa e importantes

para a freqüência à escola.

27

Essa aprendizagem realizada em casa depende da confiança que a

criança tem na aceitação e na proteção dos pais. Somente assim ela vai poder

experimentar as possibilidades do amadurecimento, livre da ansiedade ou do

medo que inibem sua ação.

A escola tem critérios mais objetivos na avaliação do desempenho

infantil. Ela dá ênfase ao pensamento formal – diferentemente da família, que

apresenta forte apelo pelo emocional – preparando para o conhecimento

científico em um contexto social de cooperação.

É através de conteúdos escolhidos, tarefas específicas e atividades

programadas que a escola constrói uma metodologia e realiza seu objetivo.

A escola, nos dias de hoje, tem a obrigação de preservar o direito de

brincar às nossas crianças, visto que os avanços tecnológicos e a modernidade

contribuem, cada vez mais, para que a brincadeira seja deixada de lado.

A relação entre a atividade lúdica e a construção da inteligência na teoria

de Piaget tem despertado o interesse dos professores pelos aspectos do jogo

infantil, implicando novos modos de estruturação de práticas pedagógicas.

Estas não são apenas uma forma de entretenimento das crianças, mas

meios que contribuem para o desenvolvimento e enriquecem o intelecto,

estabelecendo relações entre os mecanismos de acomodação, assimilação e

equilibração, o que correspondem à entrada sensorial, a aprendizagem e a

organização das linguagens psicomotoras da criança, respectivamente.

O brinquedo também deve ser objeto de estudo, pois oferece à criança

muito da cultura em que está inserido. É possível dizer que o brinquedo é

dotado de um forte valor cultural e rico de significados que permitem

compreender determinada sociedade e seus costumes. Essa cultura lúdica é

impregnada de tradições diversas, as brincadeiras tradicionais e as mais

contemporâneas, que são muito influenciadas pela mídia, todas pertencentes a

um núcleo constante que passa de geração em geração.

28

O brincar é visto como uma das atividades mais importantes da infância.

Mais do que ser uma atividade natural da infância, o brincar proporciona

desenvolvimento e aprendizado ao indivíduo que brinca.

Devido a sua importância para o desenvolvimento cognitivo, emocional,

físico e social da criança, o educador deve inserir o brincar em um projeto de

trabalho, de forma a qualificar esta atividade. O que diferencia o brincar em

casa e o brincar na escola é a intencionalidade pedagógica do professor, ou

seja, o educador faz dos momentos de brincadeira das crianças ocasiões para

observação do desenvolvimento de seus alunos e, a partir destas observações,

planeja atividades e estratégias para tornar viável a aprendizagem.

Durante muito tempo confundiu-se "ensinar" com "transmitir" e, nesse

contexto, o aluno era um agente passivo da aprendizagem e o professor um

transmissor. A idéia de um ensino despertado pelo interesse do aluno acabou

transformando o sentido do que se entende por material pedagógico. Seu

interesse passou a ser a força que comanda o processo da aprendizagem,

suas experiências e descobertas, o motor de seu progresso e o professor um

gerador de situações estimuladoras e eficazes.

É nesse contexto que a brincadeira ganha um espaço como ferramenta

ideal da aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse do

aluno. A brincadeira ajuda-o a construir suas novas descobertas, desenvolve e

enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva

o professor à condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.

Existem dois aspectos cruciais no emprego das brincadeiras como

instrumentos de uma aprendizagem significativa. Em primeiro lugar a

brincadeira ocasional, distante de uma cuidadosa e planejada programação, é

tão ineficaz quanto um único momento de exercício aeróbico para quem

pretende ganhar maior mobilidade física, e em segundo lugar, uma grande

quantidade de brincadeiras reunidas em um manual somente terá validade

efetiva, quando rigorosamente selecionadas e subordinadas à aprendizagem

que se tem em mente como meta.

29

Desta forma, o profissional interessado em analisar e explorar o

potencial de aprendizagem das brincadeiras infantis deve selecioná-las de

acordo com os objetivos a serem alcançados, pois estes são ferramentas que

promovem o estabelecimento de relações entre o mundo psíquico e o físico.

O educador que trabalha numa perspectiva lúdica procura transformar a

sala de aula em um ambiente cuidadosamente planejado para propiciar

atividades neste sentido.

A escola, tendo como princípio básico “adaptar o indivíduo à sociedade”,

deve aproveitar todas as manifestações de alegria que a criança exprime

naturalmente e direcioná-las através de jogos e técnicas recreativas. Esse

método lúdico essencialmente socializante é considerado de grande

importância pelos benefícios que proporciona à saúde física e mental da

criança.

Atualmente as brincadeiras tornaram-se característica básica nas

escolas como meio decisivo que favorece a fixação de conteúdos formais visto

que, elas enriquecem a formação da personalidade humana, agindo

eficientemente na vida cooperativa do grupo, e ajuda a criar uma ordem social

plena de vida e felicidade. A alegria que deriva desse espírito de cooperação é

essencial para a tranqüilidade e a ordem. Mesmo os jogos que envolvem a

participação coletiva não impedem que a criança também se sobressaia ou

tenha algum êxito. O importante é que todos colaborem diretamente para a

vitória do grupo.

O objetivo essencial dos jogos e das brincadeiras na educação escolar é

satisfazer naturalmente as necessidades motoras da criança, bem como

colaborar no seu desenvolvimento mental e social.

Ao mesmo tempo, os jogos visam atingir o desenvolvimento da memória,

da atenção, da observação, do raciocínio, da criatividade, da aquisição de

hábitos e estimular o companheirismo e a cooperação.

30

CAPÍTULO III

A FUNÇÃO DO PSICOMOTRICISTA NA RELAÇÃO DA

BRINCADEIRA COM O PROCESSO ENSINO

APRENDIZAGEM

A escola é um processo coletivo, no qual a aprendizagem precisa

circular e acontecer. Em cada momento histórico, em cada cultura, ela

necessita de uma configuração para atender à necessidade das pessoas, de

seu tempo e espaço.

A escola já existiu em casa de professores; já aconteceu sem a

existência de um espaço específico, com aulas dentro e fora de diversas

paredes; já foi muito autoritária e preocupada com a repetição do conteúdo a

ser aprendido; já foi extremamente liberal; já buscou a conscientização do

sujeito não somente em relação ao seu papel como aluno, mas também ao seu

papel na sociedade; já se preocupou com aprendizagem significativa, com a

compreensão do conteúdo trabalhado e já enfatizou as relações a fim de que a

interação para a aprendizagem aconteça.

O conceito de escola é fruto de uma construção social vinculado à

cultura e ao momento histórico vivido. Dessa maneira questiona-se: que escola

é necessária nos dias atuais para atender um mundo informatizado, para que

possamos exercer nossa cidadania, aperfeiçoar nossa condição humana e

aprender a preservar nosso planeta? Que conhecimento deve ser veiculado na

31

escola num mundo diverso, no qual cada um deveria ser reconhecido em sua

singularidade, porém sendo fortalecido pela pluralidade?

Hoje a escola ganhou uma nova ferramenta: a psicomotricidade. Ela

deve ser entendida como uma educação corporal básica na formação integral

da criança, que vai desde a expressividade motora e do movimento, até o

acesso à capacidade de descentração. A prática psicomotora reestrutura a

relação.

O objetivo da psicomotricidade é trabalhar o individuo como um todo,

sua mente, seu corpo, sua respiração entre outros.

A Psicomotricidade é importante já que oferece recursos para estruturar

um projeto educativo que contemple não só a emoção, mas também a

compreensão dessa emocionalidade, que em algumas situações, pode ser

excessiva, em outra inibida ou agressiva. Ela faz com que a criança exista

como um ser original, e, ao adulto, a de articular as estratégias

psicopedagógicas que permitam aos alunos a realização de seu próprio

processo de maturação, partindo se suas competências e ajudando em suas

evoluções.

Psicomotricidade é CORPO, AÇÃO E MOVIMENTO. (Alves, Fátima, 2008).

A psicomotricidade lida com as crianças, com os familiares e com os

professores, levando em conta aspectos sociais, culturais, econômicos e

psicológicos. A Psicomotricidade juntou a observação com a ação,

intensificando a percepção,

A importância da psicomotricidade frente às dificuldades de

aprendizagem começa a configurar-se quando se toma consciência das

dificuldades dos alunos, já que ela trabalha muito bem com espontaneidade

dando às crianças autonomia deixando-as articuladas.

Diante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez

mais preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não

32

sabem mais o que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o

processo considerado normal e não possuem política de intervenção capaz de

contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem.

Neste contexto, o psicomotricista realiza seu trabalho, dando assistência

aos professores e as crianças buscando a melhoria das condições do processo

ensino aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de

aprendizagem.

Por meio de métodos próprios, o psicomotricista possibilita uma

intervenção psicomotora visando à solução de problemas de aprendizagem em

espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado

na construção de um espaço adequado onde permitem que as crianças

possam viver suas experiências a partir do prazer do movimento e da relação

com os outros e com o espaço de forma a evitar comprometimentos. Elege a

metodologia e/ou a forma de intervenção como o objetivo de facilitar e/ou

desobstruir tal processo. A Psicomotricidade investiu na relação com uma

crítica ao tecnicista.

Os desafios que surgem para o psicomotricista dentro da instituição

escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação pessoal e

profissional implica a configuração de uma identidade própria e singular que

seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na

instituição escolar.

A psicomotricidade é uma área que estuda e lida com o processo de

aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Acredito que, se

existissem nas escolas psicomotricistas trabalhando com essas dificuldades, o

número de crianças com problemas seria bem menor.

3.1 - A brincadeira e processo ensino aprendizagem

Durante muito tempo se confundiu ensinar com transmitir, onde o aluno

era considerado um agente passivo e o professor um transmissor do

33

conhecimento e o que é pior o aprender ocorria pela repetição, sendo que o

aluno que não sabia era responsável por essa deficiência e era castigado.

Atualmente essa idéia é tão absurda, pois se sabe que não existe

aprendizagem, se esta não acontecer através de uma construção de saberes,

sendo o professor um facilitador do processo em busca do conhecimento.

Nesta perspectiva Antunes (2004) mostra que o interesse dos alunos

passou a ser a força que comanda o seu aprendizado, sendo que o professor

passa a ser um gerador de situações estimulantes e eficazes. Dentro deste

contexto, o jogo ganha seu espaço e passa a ser ferramenta ideal para a

aprendizagem, ajudando o aluno a continuar suas descobertas e enriquecer

sua personalidade.

Assim, à medida que a criança cresce e se desenvolve, surgem novos

interesses, novas situações de troca, novos aprendizados e conseqüentemente

os jogos vão se modificando, proporcionando uma estreita relação entre os

processos de maturação, crescimento e desenvolvimento (afetivo, cognitivo e

social) bem como o aparecimento de novos interesses e objetivos.

Para que esse desenvolvimento ocorra tem que haver uma organização

desses jogos que são explicados por Piaget por meio da estrutura da própria

inteligência da criança. Desta forma a criança quando joga, opera com

significado o movimento e suas ações, tomando assim consciência das suas

escolhas e decisões, por isso o jogo apresenta-se como elemento básico no

processo educacional, proporcionando mudanças em relação àquele que

aprende.

O jogo como recurso pedagógico proporciona à criança um aprendizado

mais prazeroso, possibilitando oferecer um conjunto de novas propostas

durante as aulas. Dentro deste contexto o jogo deixa de ser somente lúdico e

se torna também educacional, não perdendo é claro suas características já

acima mencionadas, pois a aprendizagem através do movimento envolve

relações entre o corpo e a mente.

A idéia de aplicar o jogo à educação partiu do princípio de que, toda

criança tem necessidade de uma educação integral, assegurada pelo

34

desenvolvimento de habilidades, movimentos e atitudes. Por isso pode-se dizer

que a criança quando joga se expressa, assimila e constrói sua realidade.

Por esse motivo, a participação em jogos contribui para formação de

atitudes como respeito mútuo, solidariedade, cooperação, obediência às regras

e responsabilidade; jogando a criança aprende o valor do grupo e seu próprio

valor. A brincadeira é uma importante força educativa, pois o jogo proporciona

à criança reproduzir suas vivências, transformando o real de acordo com seus

desejos e interesses, assim expressando e construindo sua realidade.

3.2 - Diversos olhares sobre o brincar

Estudiosos contemporâneos como Jean Piaget, Vygotsky, Maria

Montessori, Alicia Fernández e Lino de Macedo deram um destaque especial

ao brincar da criança atribuindo-lhe papel decisivo na evolução dos processos

de desenvolvimento humano.

Para Vygotsky, no brincar, a criança está sempre acima de sua idade

média, acima de seu comportamento diário. Assim na brincadeira, as crianças

manifestam certas habilidades que não seriam esperadas para sua idade. Daí

vê-se o quanto o brincar é benéfico ao aprendizado, pois a pessoa está em

condição favorável para aprender.

A promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola e, particularmente, a pré-escola poderiam se utilizar deliberadamente desse tipo de situações para atuar no processo de desenvolvimento das crianças. (VYGOTSKY apud OLIVEIRA, 2004, p. 67).

Para ele a imaginação em ação ou brinquedo é a primeira possibilidade

de ação da criança numa esfera cognitiva que lhe permite ultrapassar a

dimensão perceptiva motora do comportamento. O brinquedo concede as

estruturas básicas necessárias para as mudanças das necessidades e da

35

consciência infantil, vivenciando uma experiência, no ato de brincar, como se

fosse bem maior do que realmente é.

Piaget reconhece a brincadeira como um instrumento que favorece o

desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social principalmente nos períodos

sensório-motor e pré-operatório.

Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e o seu tempo, desenvolvem a noção de causalidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica. (PIAGET apud KISHIMOTO, 1996, p. 95).

Desse modo, deve-se então respeitar o interesse do aluno e trabalhar a

partir da sua espontaneidade, formulando os desafios necessários à sua

capacidade e acompanhando seu processo de construção do conhecimento.

Para esse autor, também é a representação em atos, através do jogo

simbólico, a primeira possibilidade de pensamento propriamente dito,

marcando a passagem de uma inteligência sensório-motora, para uma

inteligência representativa pré-operatória.

Uma outra importante contribuição nesta temática foi a de Maria

Montessori que desenvolveu um método e debruça-se sobre uma proposta

educacional. Nela, o aluno é o sujeito de sua própria educação proporcionando

a possibilidade de vivenciar os valores que se propõe atingir ao longo da ação

educativa que exerce, bem como, propiciar a liberdade de movimentos, a

autodisciplina e a autodeterminação. O educando é educador de si mesmo,

tendo a possibilidade de escolher seu trabalho, de se mover por conta própria,

de se tornar responsável pelo seu progresso e crescimento.

O método Montessori não foi inventado, foi construído no dia a dia da

criança. Coloridas peças sólidas de tamanhos, formas e texturas diferenciadas

fazem parte das estratégias propostas que aguçam os pequenos a abrir,

fechar, encaixar, abotoar, tatear, calcular, contar e uma infinidade de outros

atrativos que provocam o raciocínio e auxiliam todo tipo de aprendizado, do

sistema decimal à estrutura da linguagem. O material dourado é um exemplo

36

dos materiais criados por Maria Montessori que ainda hoje é largamente usado

nas escolas públicas e particulares do Brasil e do mundo todo.

As contribuições dessa pedagoga para a área educacional são ainda

hoje, universais como se percebem na utilização da disposição circular dos

alunos, os jogos pedagógicos sempre disponíveis, os cubos lógicos de madeira

para o ensino de Matemática, como também na utilização do preceito da

criança ser o condutor do próprio aprendizado; o educador ser um mediador do

conhecimento e ainda, a educação voltada para o desenvolvimento de seres

humanos autoconfiantes e independentes que visam tanto o bem individual

quanto o bem coletivo.

Dada a amplitude dos fatores que intervêm na determinação das causas de dificuldades ou problemas de aprendizagem, o diagnóstico e tratamento psicopedagógico, além de outros, muito se vale dos procedimentos utilizados na psicoterapia e no psicodiagnóstico, dentre os quais encontra-se o jogo ou o brincar. (PAIN apud SISTO, 2001, p. 174).

As crianças fazem da brincadeira uma ponte para o imaginário e a partir

dele muito pode ser trabalhado. Contar, ouvir histórias, dramatizar, jogar com

regras, entre outras atividades, constituem meios prazerosos de aprendizagem.

Além disso, expressam suas criações e emoções, refletem medos e alegrias,

desenvolvem características importantes para a vida adulta.

Com efeito, o brincar se constitui como recurso da psicomotricidade,

tanto para tratar dos distúrbios, quanto levantar hipóteses diagnósticas, a

respeito da estruturação lógica do pensamento nos fornecendo informações

sobre como estão organizados o pensamento da criança, seu nível operatório e

sua elaboração prática nos processos de vencer situações problemas nos

aspectos afetivos, sociais e cognitivos.

Mas como precisar a importância do brincar na escola? Como pensar no

brincar como construção do conhecimento? Lino de Macedo faz uma

argumentação eficaz quanto a isso:

37O conhecimento tratado como um jogo pode fazer sentido para a criança. Não se trata de ministrar os conteúdos escolares em forma de jogo, mas possibilitar que aprendam com seriedade, com leveza e prazer; sem medo. (MACEDO, 1997, p. 139).

Neste sentido, embasados na teoria sobre o tema em questão, pode-se

dizer que as crianças precisam vivenciar experiências suficientes e

enriquecedoras do brincar, preparando-se assim, para o ingresso no ensino

fundamental.

Conscientizar a família, professores e a comunidade sobre o sentido e a

importância da educação diferenciada, estabelece um melhor aproveitamento

das habilidades e capacidades desenvolvidas pelas crianças.

Um buscar constante, criando estratégias diferenciadas para a

aprendizagem e para a construção da qualidade de vida. Esse é um desafio

para quem escolheu tornar o espaço escolar e familiar o mais mágico possível,

pois é esse espaço que lá no futuro, as crianças de hoje vão lembrar, em

sonhos, fantasias, lembranças, brincadeiras.

Uma das contribuições da psicomotricidade na instituição escolar é levar

a vivência aos pequeninos, para que descubram o prazer de pensar que

conduz certamente a uma aprendizagem e a um desenvolvimento pleno.

A postura psicomotricista é propiciar modalidades de aprendizagem que

possibilitem para cada ser aprendente sua singularidade através de

experiências.

O jogar-brincar da criança não só é produtor do sujeito enquanto sujeito desejante, mas também enquanto pensante. A inteligência se constrói a partir do jogar-brincar. (Fernández 2001, p. 71).

Resgatar o prazer em aprender, já desconhecido por muitas crianças, e

conseqüentemente proporcionar mais e melhores condições de

desenvolvimento se faz necessário e urgente.

O brincar pode aumentar certos tipos de aprendizagens, em particular,

aqueles que requerem processos cognitivos mais elaborados. Através da

38

imaginação e da exploração, as crianças desenvolvem suas próprias teorias do

mundo, que permitem a negociação entre o mundo real e o imaginado por elas.

Assim, dando tempo para brincar, um ambiente para explorar e materiais

que favoreçam as brincadeiras, os adultos estarão promovendo a

aprendizagem das crianças.

As brincadeiras proporcionam o aprender fazendo e brincando,

possibilita à criança apreender novos conceitos, adquirir informações e até

mesmo superar dificuldades que venham a encontrar em suas tentativas de

aprendizagem.

39

CONCLUSÃO

Em geral quando se pensa em jogos ou brincadeiras, imagina-se uma

atividade lúdica a ser desenvolvida esporadicamente, em momentos de

descontração. Normalmente em momentos finais de aula, ou de preferência ao

final da semana.

Para que as brincadeiras possam ser recursos importantes nas escolas,

para que possam ajudar os alunos a desenvolver o raciocínio e a autonomia

precisa-se mudar esta concepção.

O lúdico é tudo aquilo referente aos jogos e brincadeiras. Associado à

infância, ao descompromisso e ao prazer, normalmente não é visto como

instrumento de aprendizagem. No entanto, com o desenvolvimento dos estudos

acerca desta questão, diversos teóricos têm constatado sua importância no

processo ensino aprendizagem, trazendo, aos alunos, motivação e apreensão

eficaz, aumento da capacidade criadora e transformadora do conhecimento.

Através dos jogos e brincadeiras, a criança desenvolve mecanismos

para compreender melhor o mundo, atuar nele e encontrar suas próprias

formas de representação.

No desenvolvimento deste estudo, tratou-se do aprendizado através

da utilização de jogos e brincadeiras. Constatou-se que, além de trazer

motivação à criança, o lúdico também facilita o trabalho de professores e

psicomotricistas possibilitando que os mesmos estimulem seus alunos fazendo

com que o conteúdo seja assimilado mais facilmente.

A brincadeira é importante não só para o desenvolvimento psicomotor,

como também para o desenvolvimento da linguagem e para a socialização.

Portanto é primordial ressaltar que o educador deve participar dos jogos

orientando, estimulando a criação de regras e propondo desafios, pois afinal a

inteligência caracteriza-se pela descoberta.

40

O lúdico não pode ser esquecido no processo ensino aprendizagem das

crianças. A brincadeira é uma grande aliada do educador, pois a criança

desenvolve-se melhor e mais rápido brincando, sente vontade de instruir-se e

entender os mecanismos de tudo aquilo que lhe está sendo propiciado como

experiência de vida.

O brincar apresenta esquema semelhante ao aprender. A palavra do

adulto, na criança, é substituída pela brincadeira e pelo jogar. Uma criança é

capaz de passar através do jogo a um outro aquilo que lhe está faltando.

Na situação do jogo e da brincadeira, as crianças vão reproduzir

esquemas próprios da vida e, dentro dos esquemas prévios de relação, vão

surgindo os esquemas de suas vidas e os ensaios de papéis futuros que elas

irão assumir durante a vida.

O psicomotricista pode trabalhar essas noções através de histórias

contadas, as quais serão recontadas pela criança, com cenários e com

personagens e, nesse sentido, estará possibilitando a ela a aquisição desses

conceitos.

É importante destacar que, primeiramente a criança brinca com o próprio

corpo; depois com os objetos do mundo externo e só mais tarde inclui o outro

através dos jogos psicomotores. Nesse momento, o adulto entra como

organizador do ambiente ao oferecer o que é adequado à criança.

Sendo assim, o brincar se destaca novamente para nos revelar que os

esquemas que a criança usa para organizar as brincadeiras são os mesmos

que ela usa para lidar com o conhecimento. Nessa perspectiva, é fundamental

esse entendimento a fim de que o psicomotricista possa identificar e intervir

positivamente nas dificuldades da criança.

41

BIBLIOGRAFIA

§ ALMEIDA, Paulo Nunes de. Dinâmica Lúdica: Técnicas e Jogos

Pedagógicos. São Paulo: Edições Loyola, 1974.

§ ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de

Janeiro: Wak, 2008.

§ ALVES, Fátima. Como aplicar a psicomotricidade: uma atividade

multidisciplinar com amor e união. Rio de Janeiro: Wak, 2009.

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43

ÍNDICE

• Folha de rosto _________________________________________ 02

• Resumo _____________________________________________ 03

• Metodologia __________________________________________ 04

• Sumário _____________________________________________ 05

• Introdução ____________________________________________ 06

• Capítulo I: A brincadeira no desenvolvimento infantil ___________ 08

• 1.1 - O desenvolvimento Infantil - Processo de Socialização _ 09

• 1.2 - O ato de brincar e a criança 12

• Capítulo II: Aprendizagem – uma integração das atividades

lúdicas com o currículo escolar____________________________

20

• 2.1 - Brinquedos criados para ensinar __________________ 24

• 2.2 - Cenários Lúdicos ______________________________ 25

• 2.3 - A brincadeira e a escola _________________________ 26

• Capítulo III: A função do psicopedagogo na relação da brincadeira

com o processo ensino aprendizagem ______________________

30

• 3.1 - A brincadeira e o processo ensino aprendizagem _____ 32

• 3.2 - Diversos olhares sobre o brincar __________________ 34

• Conclusão ____________________________________________ 39

• Bibliografia ___________________________________________ 41

• Índice _______________________________________________ 43