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1 MARINA JOAQUIM PELLEGRINE A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO 2007

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MARINA JOAQUIM PELLEGRINE

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS

NA EDUCAÇÃO INFANTIL

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

2007

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MARINA JOAQUIM PELLEGRINE

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS

NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho apresentado como requisito para conclusão da

Habilitação Educação Infantil à comissão de professores

responsáveis pelo Curso: Profas. Dras. Maria Angela

Barbato Carneiro, Marisa Del Cioppo Elias, Neide de

Aquino Noffs e Neide Barbosa Saisi, sob a orientação da

Profa. Dra. Maria Angela Barbato Carneiro.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

2007

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Dedico este trabalho,

Aos meus pais que muito me ajudaram a chegar onde estou e

nunca estiveram ausentes com seu carinho e afeto.

À minha irmã in memoriam pelo exemplo de simplicidade,

persistência e coragem em suas metas.

Aos meus amigos (as), pelo incentivo, carinho e paciência que

demonstraram durante estes anos de faculdade.

4

AGRADECIMENTOS

À Deus, por iluminar meu caminho e me dar forças para seguir sempre

em frente.

À vida, por ter me dado a oportunidade de vencer mais uma etapa.

À todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para que este

trabalho chegasse ao fim.

5

"Através de uma brincadeira de criança, podemos compreender

como ela vê e constrói o mundo o que ela gostaria que ele fosse,

quais suas preocupações e que problemas a estão assediando. Pela

brincadeira, ela expressa o que teria dificuldade de colocar em

palavras. Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua

escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas,

ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança

determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta,

que devemos respeitar mesmo se não a entendemos".

Bruno Bettelheim

6

RESUMO

Este trabalho refere-se à importância dos jogos e das brincadeiras para

o desenvolvimento das crianças. Tem como objetivo conhecer de que modo ele

favorece a construção do conhecimento na criança, o desenvolvimento do

processo de socialização, bem como a autonomia. É através do jogo que a

criança constrói suas estruturas mentais, passando de um estágio de

desenvolvimento para outro mais avançado. Por tratar-se de uma comparação

entre os trabalhos de dois estudiosos sobre o assunto, Piaget e Vygotsky, esta

investigação tem um caráter teórico utilizando-se de diferentes autores que a

eles se referiram. Tais estudos permitiram levantamento de indagações e

alertas aos profissionais sobre o tema.

Palavras-chave: Brincadeira, Educação, Construção, Aprendizagem e

Socialização.

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SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................8

1. Justificativa e origem.............................................................................9

2. Objetivo...............................................................................................11

3. Metodologia.........................................................................................12

4. Referencial Teórico.............................................................................13

4.1. Piaget...........................................................................................13

4.2. Vygotsky.......................................................................................16

5. Vygotsky x Piaget................................................................................19

6. Papel do Professor..............................................................................21

Considerações finais...............................................................................24

Referências Bibliográficas.......................................................................25

8

INTRODUÇÃO

O brincar provoca benefícios no processo de desenvolvimento da

criança.

Resgatar o lúdico, nas escolas passou a ser de importância vital para as

crianças que de certo modo não brincam mais como antigamente, ou por falta

de espaço, por falta de tempo e até mesmo de companheiros ou ainda pelo

perigo de se brincar na rua.

Com isso a criança foi perdendo o estímulo pelo brincar livre e

deixando para trás a riqueza e a variedade de jogos e brincadeiras que poderia

aprender com seus pares ou com seus familiares.

Hoje se vê no brincar uma forma de proporcionar a construção do

conhecimento, desenvolver várias habilidades, autonomia, auto-estima, a

sociabilidade, criatividade, tornando, portanto, muito importante o seu resgate.

Através de uma pesquisa teórica e levantamento dos conteúdos, fiz uma

seleção reflexiva dos pontos relevantes tirados de livros, revistas e Internet.

No primeiro e segundo capítulo, usei Piaget e Vygotsky para explicar

sobre o brincar, mostrando o que cada pensador acredita sobre os jogos e

brincadeiras.

Em seguida, foi feito um paralelo entre os dois estudiosos Piaget e

Vygotsky , apontando semelhanças e diferenças dos mesmos em relação à

brincadeira e ao jogo.

Por fim, mostrei o papel do professor de educação infantil frente às

brincadeiras e os jogos. Mostrei a necessidade de conhecê-lo melhor para

ajudar a criança a se desenvolver, pois, apesar de o jogo e da brincadeira ser

uma atividade espontânea da criança, o professor necessita entendê-lo melhor

para poder observar suas crianças e permitir que descubram o mundo que as

cerca e aprendam.

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1. JUSTIFICATIVA E ORIGEM

Hoje em dia as crianças não brincam mais como antigamente. São

sobrecarregadas de atividades extracurriculares como natação, inglês,

ginástica, teatro, computação, etc... que não deixam de ser necessárias e

importantes, mas que devido a elas, acaba sobrando pouco tempo para o jogo,

o brincar, a espontaneidade, a fantasia.

Além disso, devido ao perigo e a falta de segurança nas grandes

cidades, as crianças não ficam mais na rua e esta diversão está sendo

substituída por videogame, computador, televisão, etc...

A criança ao brincar em espaços amplos como a rua, por exemplo,

desenvolve o cognitivo, o social, o físico e o emocional. Além de se inserir na

cultura do seu tempo e do seu grupo.

Segundo Friedmann (2006) o brincar deve fazer parte do cotidiano da

criança. Estimular o lúdico de forma ampla, através de oficinas de construção

de brinquedos, teatro, jogos e brincadeiras, onde possam resgatar as

atividades lúdicas dos nossos pais e avós. Essa dinâmica irá contribuir para a

ampliação dos conhecimentos da cultura lúdica tradicional e o diálogo entre as

gerações, além de vínculos e criatividade.

Brincar para a criança, além de ser prazeroso estimula sua imaginação,

promove a integração, a convivência e a comunicação entre as crianças.

Por isso, a Educação Infantil passou a assumir esse compromisso.

Desenvolver a criança através do lúdico, do brincar .

Esse compromisso não deve ser assumido apenas pelo professor da

classe, mas por todas as pessoas que direta ou indiretamente estão envolvidas

com a criança.

Para o desenvolvimento amplo da criança a escola tem um papel

fundamental que é o de estimular as habilidades, a autonomia, o respeito

mútuo, a auto-estima e a criatividade, valorizar suas produções e respeitar

seus interesses. É importante que a criança seja ouvida.

Para esse trabalho na Educação Infantil é necessário a vontade para

transformar o brincar livre , para o brincar intencional , com metas, objetivos,

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desenvolvendo na criança o interesse pelas brincadeiras e conscientizando-a

de que aquela ação brincar , desenvolve seus conhecimentos.

O brincar possui grandes benefícios para a formação da criança, como:

socializar-se, desenvolver habilidades, movimentar-se, ter noção de tempo e

espaço, melhorar a coordenação motora fina, respeitar regras, criar e recriar,

desenvolver a motricidade, entre outros.

O resgate das brincadeiras tanto através dos nossos pais e avós, como

também dos educadores é importante para que as crianças se enriqueçam e se

constituam em seres humanos dignos, responsáveis, colaboradores,

autônomos e criativos.

11

2. OBJETIVO

Diante das necessidades apresentadas anteriormente se constituem em

objetivos desse trabalho:

Entender melhor o quanto o brincar é essencial para o bom

desenvolvimento da criança.

Conhecer de que modo ele proporciona a construção do

conhecimento.

Até que ponto proporciona a socialização; e cria e desenvolve a

autonomia da criança.

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3. METODOLOGIA

Tendo como ponto de partida a importância dos Jogos e das

Brincadeiras na vida da criança, procurei desenvolver esse trabalho através de

um processo de pesquisa teórica, onde foram feitas consultas em livros,

revistas e Internet. Os elementos e dados coletados foram analisados e

destacados por mim, com o objetivo de levantar interrogações e propor

reflexões sobre o tema em estudo.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

Piaget

Piaget usava o termo jogo para conceituar a ação de brincar.

Para Piaget, o jogo era visto como próprio da infância e do universo da

criança, independente até mesmo do funcionamento da inteligência.

Segundo o autor considera, as etapas de desenvolvimento das crianças

são muito importantes para o entendimento da atividade lúdica e seus efeitos

na infância. Desta forma, divide as etapas de desenvolvimento em:

- Período sensório-motor (0 a 2 anos): o desenvolvimento ocorre a partir

da atividade reflexa para a representação e soluções sensório-motoras dos

problemas.

- Período pré-operacional (2 a 7 anos): aqui o desenvolvimento ocorre a

partir da representação sensório-motora para as soluções de problemas e

segue para o pensamento pré-lógico.

- Período Operacional Concreto (7 a 11 anos): O desenvolvimento vai do

pensamento pré-lógico para as soluções lógicas de problemas concretos.

- Período de Operações Formais (11 a 15 anos): A partir de soluções

lógicas de problemas concretos para asa soluções lógicas.

Somente o período sensório-motor e o período pré-operacional tratam

especificamente à educação infantil.

Com relação ao jogo, Piaget (1998) acredita que ele é essencial na vida

da criança, pois prevalece a assimilação. No jogo, a criança se apropria daquilo

que percebe da realidade. O jogo não é determinante nas modificações das

estruturas, mas pode transformar a realidade.

Para Piaget (1978), o jogo infantil é dividido em três tipos: jogos de

exercício, simbólico e com regras.

O jogo com exercício ocorre na primeira infância, surge por volta dos 18

meses de vida e são manifestações de repetições motoras que oferecem um

certo prazer para os bebês. São resultados de suas ativas movimentações e se

resumem quase que exclusivamente a manipulações de objetos, oferecidas

pela descoberta do potencial das mãos. Depois de um ano de vida estas

movimentações perdem seu valor e através de combinações das ações dos

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membros superiores passam a se transformar em uma nova etapa dos jogos

de exercício, a construção. Assim, o jogo com exercício, é aquele em que a

criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado

seus efeitos. O importante é a possibilidade de repetição e é dessa maneira

que se formam os hábitos.

Após este período, aproximadamente entre 2 a 4 anos, surgem os jogos

simbólicos, que é a representação corporal do imaginário. São exercícios onde

a criança utiliza sua imaginação, primeiramente de forma individual, para

representar papéis, situações, comportamentos, realizações, utilizar objetos

substitutos. Ou seja, nesta fase, os jogos satisfazem a necessidade da criança

de não somente relembrar o mentalmente acontecido, mas de executar a

representação. Suas características são: a liberdade de regras (menos as

criadas pela criança); ausência de objetivo explícito ou consciente para a

criança; assimilação da realidade do eu ; desenvolvimento da imaginação e da

fantasia; e lógica própria com a realidade.

A fase do faz-de-conta é extremamente importante, pois permite o

desenvolvimento do simbolismo, fundamental para a aprendizagem da leitura e

da escrita.

Isso só é possível porque a criança já é capaz de perceber, observar,

discriminar e analisar.

Por fim o último tipo de jogo é o jogo com regras (a partir de 5 anos).

Aqui as crianças passam do individual para o social. Os jogos possuem regras

básicas, necessitam de interação entre as crianças e permitem a aprendizagem

de regras de comportamento. Permitem ainda, respeito às idéias e argumentar

bem como favorecem a construção de relacionamentos afetivos. Assim, os

jogos com regras, são transmitidos socialmente de criança para criança ou

através dos adultos e por conseqüência vão aumentando de importância de

acordo com o progresso de seu desenvolvimento social.

Através dos jogos com regras, segundo Piaget (1978), as atividades

lúdicas atingem um caráter educativo, tanto na formação psico-motora, como

também na formação da personalidade das crianças. Assim, se formam os

valores morais como honestidade, fidelidade, perseverança, hombridade,

respeito ao social e tantos outros.

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Ao citar os estudos de Bruner, Piaget mostrou que os jogos de regras

são considerados como uma ferramenta indispensável para este processo.

Através do contato com o outro a criança vai internalizar conceitos básicos de

convivência. A brincadeira e os jogos permitem uma flexibilidade de conduta e

conduz a um comportamento exploratório até a consecução do modelo ideal de

se portar, com o próximo, resultado de experiências, conflitos e resoluções

destes.

Para Piaget o jogo constitui-se em expressão e condição para o

desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam assimilam e podem

transformar a realidade. Quando a criança joga ela assimila o mundo exterior,

incorporando os objetos que a cercam ao seu eu e é assim que constrói o

conhecimento.

Segundo Piaget, todo o jogo possui critérios que diferenciam das

atividades não-lúdicas. Esses critérios podem ser: o jogo obrigatório, onde o

participante geralmente perde o interesse, porém se preocupa com o resultado

da sua atividade. O outro é o jogo espontâneo, que também possui regras a

serem seguidas, portanto não é livre. Tem também o jogo do prazer que

assimila o real ao eu, onde o prazer lúdico seria a expressão afetiva dessa

assimilação.

No jogo pode-se também encontrar a libertação dos conflitos ou por

ignorá-lo ou por uma solução compensatória.

Portanto, Piaget concluiu que a atividade e o pensamento constitui em

equilíbrio entre assimilação e acomodação, caracterizando o jogo. Se a

assimilação intervém em todo o pensamento, então o jogo é um estimulador da

formação do conhecimento.

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4.2. Vygotsky

Vygotsky usava o termo brinquedo para conceituar a ação de brincar.

No brincar, para Vygotsky, a criança cria uma situação imaginária onde

existe, sempre, regras nas brincadeiras, pelo simples fato de que a partir do

momento em que existe uma situação imaginária esta tem regras de

comportamento que são representadas na brincadeira.

Para Vygotsky (1989), há dois elementos importantes na atividade lúdica

das crianças no que se refere aos jogos de regras: o jogo com regra explícita e

o jogo com regras implícitas. O primeiro destes fatores são as regras pré-

estabelecidas pelas crianças e que sua não realização é considerada uma falta

grave. O outro segmento são as regras que estão propriamente ditadas, mas

entende-se que são necessárias para o seguimento do jogo, portanto, as

regras implícitas oferecem a criança uma noção de entendimento às regras

ocultas, mas necessárias.

Vygotsky (1998), considera que o desenvolvimento ocorre ao longo da

vida e que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo dela.

Ele não estabelece fases para explicar o desenvolvimento e para ele o sujeito

não é ativo nem passivo: é interativo uma vez que está continuamente se

relacionando com o meio e com os outros.

Segundo ele, a criança usa as interações sociais como formas

privilegiadas de acesso às informações: aprendem a regra do jogo, por

exemplo, através dos outros e não como resultado de um engajamento

individual na solução de problemas. Assim, aprende a regular seu

comportamento pelas reações, quer elas pareçam agradáveis ou não.

Para Vygotsky a aquisição do conhecimento se dá através das zonas de

desenvolvimento: a real e a proximal. A zona de desenvolvimento real é a do

conhecimento já adquirido, é o que a pessoa traz consigo, já a proximal, só é

atingida, de início, com o auxílio de outras pessoas mais capazes , que já

tenham adquirido esse conhecimento.

A brincadeira, o jogo, é uma atividade específica da infância, em que a

criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. Essa é uma atividade

social, com contexto social e cultural. É uma atividade humana criadora, na

17

qual fantasia, imaginação e realidade interagem na produção de novas

possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim

como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos,

crianças e adultos.

Vygotsky, apud por Lins (1999), classifica o brincar em algumas fases:

durante a primeira fase a criança começa a se distanciar de seu primeiro meio

social, representado pela mãe, começa a falar, andar e movimentar-se em volta

das coisas. Nesta fase, alcança o ambiente por meio do adulto e pode-se dizer

que a fase estende-se até em torno dos sete anos. A segunda fase é

caracterizada pela imitação, a criança copia os modelos dos adultos. A terceira

fase é marcada pelas convenções que surgem de regras e convenções a elas

associadas.

Vygotsky (1989: 109), afirma que: é enorme a influência do brinquedo no

desenvolvimento de uma criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir

numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo

das motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por

objetos externos.

Para Vygotsky a relação entre o jogo e a aprendizagem é muito

importante, desta forma, o desenvolvimento cognitivo e a Zona de

Desenvolvimento Proximal tem um papel fundamental para seu entendimento.

O desenvolvimento cognitivo resulta da interação entre a criança e as pessoas

com quem mantém contato regulares. Já a Zona de Desenvolvimento Proximal,

é diferença entre o desenvolvimento atual da criança e o nível que atinge

quando resolve problemas com auxílio, o que leva à conseqüência de que as

crianças podem fazer mais do que conseguiam fazer por si sós.

"No desenvolvimento a imitação e o ensino desempenham um papel de primeira importância. Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do cérebro e conduzem a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento. A criança fará amanhã sozinha aquilo que hoje é capaz de fazer em cooperação. Por conseguinte, o único tipo correto de pedagogia é aquele que segue em avanço relativamente ao desenvolvimento e o guia; deve ter por objetivo não as funções maduras, mas as funções em vias de maturação"

(Vygotsky, 1979:138).

Para que o jogo se torne uma atividade importante para o

desenvolvimento da criança, é importante o exercício no plano da imitação da

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capacidade de planejar, imaginar situações diversas, representar papéis e

situações do cotidiano, como também, o caráter social das situações lúdicas,

seus conteúdos e as regras ligadas a cada situação.

No jogo simbólico, geralmente, as condições para que a criança se

estabeleça estão presentes, pois, nesse jogo encontra-se uma situação

imaginária sujeita à certas regras de conduta. Essas regras fazem parte do

jogo simbólico, mas não têm o caráter de antecipação e sistematização como

nos jogos habitualmente de regras.

No jogo simbólico a criança ensaia papéis e comportamentos, se projeta

em atividades dos adultos, ensaia valores, hábitos, atitudes e situações para os

quais não está preparada na vida real, atribuindo-lhes significados que estão

muito distantes das suas possibilidades efetivas. Desta forma, sua atuação

nesse mundo imaginário cria uma Zona de Desenvolvimento Proximal formada

por conceitos ou processos em desenvolvimento.

Assim, para Vygotsky a situação imaginária e a regra caracterizam o

jogo infantil.

O papel da imaginação, também é de grande importância no jogo, pois

neste, a criança representa e produz muito mais do que aquilo que viu.

Todos conhecemos o grande papel que nos jogos da criança desempenha a imitação, com muita freqüência estes jogos são apenas um eco do que as crianças viram e escutaram aos adultos, não obstante estes elementos da sua experiência anterior nunca se reproduzem no jogo de forma absolutamente igual e como acontecem na realidade. O jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da própria criança (Vygotsky, 1999:12).

É jogando que a criança põe a imaginação em ação.

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5. VYGOTSKY x PIAGET

O brincar ou o jogar, segundo Piaget e Vygotsky é uma atividade

extremamente importante para a criança, pois estabelece e reforça os vínculos

afetivos dela com seus pares e com os adultos.

Tanto em Vygotsky como em Piaget se fala numa transformação do real

por exigência das necessidades da criança, mas enquanto para Piaget a

criança transforma a realidade a partir das suas necessidades e expectativas,

para Vygotsky a criança cria a partir do que conhece, das oportunidades do

meio e em função das suas necessidades e preferências.

Para Piaget (1975) no jogo predomina a assimilação, ou seja, a criança

assimila no jogo o que percebe da realidade, proporcionando alterações das

estruturas mentais.

O processo de conhecimento para Piaget se dá através da percepção de

que o sujeito tem do seu mundo e isso ocorre através de vários estágios, onde

cada um deles ocorre apenas quando há o equilíbrio que é fruto da assimilação

e acomodação feita no estágio anterior. O conhecimento surge a partir da ação

do sujeito sobre a realidade. Já para Vygotsky, o sujeito é interativo porque

constitui conhecimento a partir das relações intra e interpessoais. O

conhecimento é proveniente das relações. Porém, ambos reconhecem o papel

ativo da criança na construção do conhecimento durante a atividade lúdica.

A aprendizagem, para Piaget, está ligada ao desenvolvimento de

estruturas cognitivas o que, geralmente, determina as aplicações pedagógicas

e didáticas. O conhecimento dos estágios pelos quais a criança passa contribui

para o levantamento de objetivos, escolha de atividades de ensino que podem

favorecer o desenvolvimento cognitivo. Para Vygotsky, existem relações

recíprocas entre desenvolvimento e aprendizagem, pois a aprendizagem

impulsiona o desenvolvimento, e este, por sua vez, cria novos patamares para

a aprendizagem. Com isso, o desenvolvimento se expande através das

interações sociais, nas quais, por meio da internalização, o indivíduo se

apropria do conhecimento, ocorrendo, assim, a aprendizagem. Esse processo

evidencia a importância das trocas e aquisições do meio social.

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Piaget tinha como principal interesse estudar o desenvolvimento das

estruturas lógicas, enquanto Vygotsky pretendia entender a relação do

pensamento com a linguagem e suas implicações no processo de

desenvolvimento intelectual.

Na visão de Piaget, a aprendizagem depende do estágio de

desenvolvimento atingido pelo sujeito, para Vygotsky, a aprendizagem favorece

o desenvolvimento das funções mentais. Embora Vygotsky concorde que a

aprendizagem ocorre muito antes da chegada da criança à escola, ele também

atribui um valor significativo à aprendizagem escolar, que no seu dizer "produz

algo fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança". Para Vygotsky a

linguagem tem um papel definitivo na organização do raciocínio, pois age

decisivamente sobre este, reestruturando diversas funções psicológicas, como

a atenção, a memória, a formação de conceitos.

Ambos enfatizam a necessidade de compreensão da gênese dos

processos cognitivos. Além disso, Piaget e Vygotsky, não consideram os

processos psicológicos como resultados estáticos que se expressam em

medidas quantitativas, pois ambos valorizam a interação do indivíduo com o

ambiente e vêem o indivíduo como sujeito que atua no processo de seu próprio

desenvolvimento.

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6. PAPEL DO PROFESSOR

O papel do professor no processo de educação infantil é de grande

importância, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza materiais, participa

das brincadeiras, ou seja, faz a mediação da construção do conhecimento.

Existe uma tendência forte em subordinar a aprendizagem ao

desenvolvimento, onde primeiro se desenvolve as capacidades cognitivas e

depois os conceitos que envolvem tais capacidades.

É necessária uma série de aprendizagens para que ocorra o

desenvolvimento.

A partir disso, entende-se que a maturação por si só não seria capaz de

produzir funções psicológicas próprias do ser humano, mas sim a

aprendizagem, que interagindo com outras pessoas, nos dá a possibilidade do

desenvolvimento psicológico.

Portanto, o desenvolvimento não surge do nada, ele é construído à partir

do conhecimento pré existente. Através de um processo de estimulação e

observação constante, a criança desenvolve suas aptidões, melhorando suas

capacidades. Essa tarefa cabe aos pais e aos educadores, pois estarão

ajudando a criança em seu avanço pessoal.

É necessário que o professor procure ampliar cada vez mais as

vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e

com outras crianças. Um ambiente físico muito rico ajuda a diversificar as

experiências na criança, permite que ela estabeleça relações, descubra e

aprenda.

O professor deverá contemplar a brincadeira como princípio norteador

das atividades didático-pedagógicas, possibilitando às manifestações corporais

encontrarem significado pela ludicidade presente na relação que as crianças

mantêm com o mundo. Porém é importante que ele utilize o lúdico não apenas

do ponto de vista metodológico, mas que ofereça situações em que a criança

tenha a oportunidade de escolha e até mesmo prepare o ambiente para que ela

possa, através dele, descobrir coisas novas e aprender.

Apesar do jogo ser uma atividade espontânea nas crianças, o professor

necessita ter uma atitude ativa sobre ela. Ou seja, ensiná-la a brincar, pois o

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jogo não é inato. Além disso, o docente deve ter uma atitude de observação

que lhe permitirá conhecer muito sobre as crianças com que trabalha.

É importante também a organização dos espaços, que devem ser

amplos, bem diferenciados, de fácil acesso e especializados, onde possam

realizar tarefas conjuntas de todo o grupo. O espaço torna-se uma condição

básica para dinâmica de trabalho, baseada na autonomia e na atenção

individual de cada criança.

O espaço na educação é constituído como uma estrutura de

oportunidades, que deve sempre favorecer o desenvolvimento das atividades

instrutivas. Na sala de aula ele deve ser cuidadosamente organizado de forma

a despertar o interesse da criança. Hoje se trabalha muito com os cantos ,

onde a criança escolhe o seu espaço e desenvolve nele a construção das

atitudes, comportamentos, procedimentos e conhecimentos que formam sua

cultura.

Para selecionar materiais adequados, o professor precisa estar atento à

idade e às necessidades das crianças, de acordo com a etapa de

desenvolvimento em que se encontra. O material deve ser suficiente tanto

quanto à quantidade, como pela diversidade e pelo interesse. É importante

respeitar e propiciar elementos que favoreçam a criatividade das crianças.

O professor deve permitir que as crianças repitam jogos, porque isso

permite que elas se sintam mais seguras e, conseqüentemente, mais

autônomas. Quando conhecem bem algum jogo, sentem prazer em repetir os

mesmos, seguras e animadas, por conseguirem realizar o que estava sendo

esperado pelo adulto.

Introduzindo novos personagens ou novas situações, o professor, pode

tornar o jogo mais rico e interessante para as crianças, aumentando inclusive a

possibilidade de aprendizagem. Valorizar as atividades das crianças,

interessando-se por elas, animando pelo esforço e evitando competição.

Quando o professor não observa atentamente as crianças no momento de um

jogo, não consegue perceber seu desenvolvimento, acompanhar sua evolução,

suas novas aquisições, as relações com as outras crianças e com os adultos e

favorecer sua aprendizagem e desenvolvimento.

Durante os jogos acontecem com certa freqüência, conflitos entre as

crianças. Desta forma, o professor tem o papel de conseguir que as crianças

23

procurem resolver esses conflitos, ensinando-lhes a chegar a acordos,

compartilhar e negociar.

Através dos jogos, a criança tem como expressar seus interesses,

preferências e necessidades, desta forma, o professor deve propiciar a elas

novas oportunidades e novos materiais que enriqueçam suas atividades

lúdicas, respeitando os interesses e as necessidades de cada uma delas de

forma a não forçá-las a realizar determinado jogo ou participar de um jogo

coletivo.

O jogo é um meio extraordinário para a formação da identidade e a

diferenciação pessoal. Mas, os professores precisam ser bastante cuidadosos

e sensíveis para não reproduzir através de seus valores, os papéis sexistas

tradicionais, impedindo que meninos e meninas joguem juntos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve por objetivo analisar a importância e a necessidade

dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento e a aprendizagem na criança,

favorecendo, ainda, o processo de socialização. O lúdico viabiliza esse

processo.

Ao brincar a criança adquire hábitos e atitudes para o convívio social,

para seu crescimento intelectual e enfrenta desafios, buscando soluções para

resolver seus próprios problemas ou dificuldades.

Durante as brincadeiras elas trocam informações sobre o seu modo de

pensar, o que facilita e permite ter diversas perspectivas sobre uma mesma

situação.

As crianças mostram através dos jogos e brincadeiras uma percepção

de si, o que possibilita também observar o outro e assim facilitar o convívio

social e o processo de aprendizagem.

Através da representação simbólica é possível trabalhar a tomada de

consciência das limitações de si e do outro possibilitando o reconhecimento

dos limites entre o real e o simbólico.

É através do lúdico que a criança expressa seus sentimentos, bem como

habilidades e dificuldades, se organizando melhor, ficando mais segura e mais

colaborativa.

Neste sentido, é muito importante olhar o todo, ou seja, não focar

somente um único conteúdo até que a criança aprenda, mas, sim, observar

qual é a causa implícita da dificuldade. Fazer com que a criança aprenda a

pensar, para perceber suas reais dificuldades bem como habilidades. Assim,

pode-se então falar em facilitar o que aqui se chama de processo de

aprendizagem.

Finalizando, considero que este trabalho atingiu o objetivo proposto, ou

seja, mostrar a importância do lúdico no desenvolvimento e na aprendizagem

ajudando, ainda, na socialização.

Acredito que este trabalho possa fornecer subsídios para auxiliar os

professores de educação infantil a favorecer o desenvolvimento de suas

crianças.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Paulo: Moderna, 2006.

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26

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PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. 3ªed. Rio de Janeiro: Zahar,

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