a configuraÇÃo da cidade colonial hispano-americana e o problema do barroco · a configuraÇÃo...

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A CONFIGURAÇÃO DA CIDADE COLONIAL HISPANO-AMERICANA E O PROBLEMA DO BARROCO Rodrigo Espinha Baeta 1 “Os próprios conquistadores que as fundaram perceberam progressivamente, no transcurso do século XVI, que se haviam afastado da cidade orgânica medieval em que haviam nascido e crescido para entrar em uma nova distribuição do espaço, que enquadrava um novo modo de vida, que já não era o que haviam conhecido em suas origens peninsulares. Tiveram que se adaptar dura e gradualmente a um projeto que, como tal, não escondia sua consciência racionalizadora, não lhe sendo suficiente organizar os homens dentro de uma repetida paisagem urbana, pois também requeria que fossem moldados com destino a um futuro, do mesmo modo sonhado de forma planificada, em obediência às exigências colonizadoras, administrativas, militares, comerciais, religiosas, que se iriam impondo com crescente rigidez. (...) A cidade foi o mais precioso ponto de inserção na realidade desta configuração cultural e nos deparou com um modelo urbano de duração secular: a cidade barroca”. (RAMA, 1984: 23, 24) As palavras proferidas pelo crítico Angel Rama em 1980, expõem de forma sintética, vários questionamentos de primeira ordem que debatem o problema do desenvolvimento urbano da América Hispânica, uma das maiores empresas de dominação territorial já vistas. Sem dúvida, para o projeto de ocupação da região destinada, pelo Tratado de Tordesilhas 2 , ao reino de Castela, a cidade foi o elemento propulsor da conquista e do desenvolvimento ulterior da região - muito em função da necessidade imperativa de subjugar rapidamente as avançadas civilizações nativas oriundas do Planalto Mexicano, da América Central e da Região Andina 3 . 1 PPGAU/FAUFBA. E-mail: [email protected]. 2 Tratado do ano de 1494. 3 “Estima-se que o México, no tempo da colonização tinha cerca de 25 milhões de habitantes e que o império inca reunia mais ou menos 17 milhões de habitantes.” (FERREIRA, 1996: 559)

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Page 1: A CONFIGURAÇÃO DA CIDADE COLONIAL HISPANO-AMERICANA E O PROBLEMA DO BARROCO · A CONFIGURAÇÃO DA CIDADE COLONIAL HISPANO-AMERICANA E O PROBLEMA DO BARROCO Rodrigo Espinha Baeta1

A CONFIGURAÇÃO DA CIDADE COLONIAL

HISPANO-AMERICANA E O PROBLEMA DO

BARROCO

Rodrigo Espinha Baeta1

“Os próprios conquistadores que as fundaram perceberam progressivamente, no

transcurso do século XVI, que se haviam afastado da cidade orgânica medieval

em que haviam nascido e crescido para entrar em uma nova distribuição do

espaço, que enquadrava um novo modo de vida, que já não era o que haviam

conhecido em suas origens peninsulares. Tiveram que se adaptar dura e

gradualmente a um projeto que, como tal, não escondia sua consciência

racionalizadora, não lhe sendo suficiente organizar os homens dentro de uma

repetida paisagem urbana, pois também requeria que fossem moldados com

destino a um futuro, do mesmo modo sonhado de forma planificada, em

obediência às exigências colonizadoras, administrativas, militares, comerciais,

religiosas, que se iriam impondo com crescente rigidez. (...) A cidade foi o mais

precioso ponto de inserção na realidade desta configuração cultural e nos

deparou com um modelo urbano de duração secular: a cidade barroca”. (RAMA,

1984: 23, 24)

As palavras proferidas pelo crítico Angel Rama em 1980, expõem de forma sintética,

vários questionamentos de primeira ordem que debatem o problema do desenvolvimento

urbano da América Hispânica, uma das maiores empresas de dominação territorial já

vistas. Sem dúvida, para o projeto de ocupação da região destinada, pelo Tratado de

Tordesilhas2, ao reino de Castela, a cidade foi o elemento propulsor da conquista e do

desenvolvimento ulterior da região - muito em função da necessidade imperativa de

subjugar rapidamente as avançadas civilizações nativas oriundas do Planalto Mexicano, da

América Central e da Região Andina3.

1 PPGAU/FAUFBA. E-mail: [email protected]. 2 Tratado do ano de 1494. 3 “Estima-se que o México, no tempo da colonização tinha cerca de 25 milhões de habitantes e que o império

inca reunia mais ou menos 17 milhões de habitantes.” (FERREIRA, 1996: 559)

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Ao comparar o esforço urbanizador promovido pela Espanha no século XVI, com o

que se constituiu no Brasil quinhentista, com o aparecimento de parcos arraias, vilas e

cidades, fica latente a relevância maior dada pelos espanhóis à dominação do Novo

Mundo, particularmente ao empenho em fundar cidades. Mesmo a partir do século XVIII,

quando um grande impulso urbanístico invade o território da colônia portuguesa nas

Américas, a discrepância entre as cidades de dominação espanhola e as lusitanas era

impressionante:

“Cabe aqui uma comparação com o caso espanhol. Enquanto a rede do Brasil girou

em torno de 16 núcleos urbanos em fins do século XVI, atingindo cerca de 61 no

século seguinte, somente até 1580 teriam sido fundadas cerca de 230 cidades

permanentes na América Hispânica e em 1630 este número oscilava em torno de

330. É interessante observar que nem mesmo em fins do século XVIII o Brasil

possuía uma rede desse porte, atingindo então cerca de 188 núcleos permanentes.”

(BUENO, 1996: 506)

Assim, no território de domínio espanhol, no início do processo de colonização,

foram tantos os núcleos urbanos criados ou sobrepostos a antigas ocupações pré-

colombianas, foi tão imperativa a necessidade de que estas povoações fossem levantadas

rapidamente, que logo se estabeleceu uma teoria e uma prática de fundação, planificação e

ordenação de cidades.

Esta ação de profunda racionalização (segundo as palavras de Rama), gerou a

tradição hispano-americana da cidade em quadrícula, em “tabuleiro de damas”

(GUTIÉRREZ, 1997): sem dúvida, o modus operandi estabelecido, mesmo não se

definindo como a única possibilidade de configuração urbana, foi a marca registrada do

esquema de planejamento e organização dos núcleos citadinos, se difundindo por toda a

extensão regional, nas áreas sob o domínio espanhol:

“La ciudad regular hispanoamericana, ensayada primero en Caribe, encontró

luego, hacia 1530 en México, una fórmula que le permitió definir un tipo original de

ciudad, a la vez simple, legible y adaptable: la cuadrícula. Dicho tipo se erigió

rápidamente en modelo urbano y se aplicó en toda Hispanoamérica con notable

persistencia.” (NICOLINI, 2001: 106)

Porém, para a crítica moderna à urbanização hispano-americana, a investigação dos

procedimentos de fundação e ordenação das povoações coloniais causará mais desacordos

do que conciliações, polêmicas que interessam profundamente, principalmente no que se

refere a duas questões temáticas específicas.

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A primeira controvérsia, discutida a seguir, é derivada da avaliação atribuída ao real

papel que a “teoria” e a idealização do espaço urbano, traduzidas na forma das “Leyes de

los Reynos de Indias”, tiveram para o processo de planejamento, fundação e ordenação de

cidades:

As “Leyes de los Reynos de Indias” e o processo de fundação de

cidades na América Hispânica

Para os teóricos da arquitetura e da cidade latino-americanas que entenderam a

jornada urbanística hispânica como a realização de um projeto destinado à geração de uma

sociedade moderna, quase utópica, transposta para o Novo Mundo - já que não seria

aplicável ao território denso da Metrópole -, as “Leyes de los Reynos de Indias”,

codificadas em 1573 por Felipe II, seriam a compilação definitiva do esforço teórico que,

previamente, teria coordenado a implantação urbana.

Desta maneira, a tradição da planificação antecipada das cidades em quadrícula,

desvelaria um esforço obstinado de fundação de núcleos urbanos ideais em território

americano. Povoações que não eram planejadas tendo como objetivo imediato a boa

acomodação das funções que lhes eram exigidas; eram delineadas tendo em vista uma

razão obsessiva, que pressupunha uma inevitável apropriação social racionalizada,

ordenada e, conseqüentemente, segura4. Por isso, eram puras criações da mente, do

4 Rama, citando o Rei da Es panha em 1513, demonstra como já havia o obcecado uso da palavra ordem,

quando se referia a geração de novos assentamentos: “Vistas as coisas que para os assentamentos dos lugares são necessárias, e escolhido o lugar mais proveitoso e em que abundem as coisas que para o povo são necessárias, tereis de repartir os solares do lugar para fazer casas, e deverão ser repartidos conforme as qualidades das pessoas e serão inicialmente dados por ordem: de maneira que feitos os solares, o povo pareça ordenado, tanto no lugar que se deixe na praça, como o lugar que tenha a igreja, como na ordem

Figuras 1 e 2: Vista aérea da cidade de Cholula, no México. Plano de Cholula de 1581. Fonte: (BENEVOLO: 1981, v.1, 630).

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pensamento humano, que não só destinavam-se às resoluções de caráter imediato, mas

especialmente previam a organização de uma futura sociedade imaginária:

“Dentro dessa vertente do saber, graças a ela, surgirão cidades ideais da imensa

extensão americana. Serão regidas por uma razão ordenadora que se revela em

uma ordem social hierárquica transposta para uma ordem distributiva geométrica.

Não é a sociedade, mas sua forma organizada que é transposta; e não à cidade, mas

sua forma distributiva. (...) Não vincula, então, sociedade e cultura, mas suas

respectivas formas, que são percebidas como equivalentes, permitindo que leiamos a

sociedade ao ler o mapa da cidade.” (RAMA, 1984: 26)

Entretanto, o que parece ser a visão mais comum para o universo da crítica atual, é o

entendimento das “Ordenanzas” de Felipe II como uma iniciativa voltada a organizar, sob

a forma de lei, aqueles procedimentos que já eram comuns ao universo prático, que

nasceram da experimentação empírica de fundação de mais de 200 cidades antes do ano de

1573 (Figuras 1, 2):

“El período que transcurre entre 1492 y 1573 (oportunidad en que Felipe II

sanciona las ordenanzas de población) constituye el laboratorio en el cual se

verifican las experiencias para generar una respuesta unitaria al problema. (...) La

experiencia acumulada parece, pues, tener mayor gravitación que la conciencia

teórica en la acción pragmática de la conquista.” (GUTIÉRREZ, 1997: 77)5.

Para Ramón Gutiérrez, portanto, a ação urbanizadora na América Hispânica não é

simplesmente um produto do pensamento da nação dominadora perseguindo um esforço

plenamente teórico de implementação de uma sociedade moderna e utópica nos territórios

conquistados; é na verdade a síntese entre diversas iniciativas teóricas e práticas européias

(modelos ideais renascentistas, a tradição vitruviana, as bastides medievais, etc.) com a

instantânea experiência da “praxis fundacional” de núcleos urbanos em território nativo.

“Como sucederá con la arquitectura, el español se proyecta a América como síntesis y

ante la magnitud de la empresa, genera una respuesta que incorpora algunas variables

y experiencias, descarta otras y crea un modelo ordenador capaz de dar unidad formal

y estructural a la ocupación territorial.” (GUTIÉRREZ, 1997: 77)

Também no desenvolvimento urbano das colônias espanholas, o processo de

“transculturação”, comum ao universo da arquitetura, imperaria como o procedimento

que tiveram as ruas; porque os lugares que, de novo se fazem, dando a ordem no começo sem nenhum trabalho nem custo ficam ordenados e os outros jamais se ordenam.” (RAMA, 1984: 27)

5 Inclusive, segundo Nicolini: “Las ordenanzas contenían un modelo físico de ciudad que no coincidía con el modelo empírico de la ya generalizada cuadrícula”. (NICOLINI, 2004: 1088)

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legítimo que coordenaria a caracterização de uma nova cultura arquitetônica e urbanística -

nem espanhola, nem nativa e sim autenticamente americana, fruto da síntese entre diversos

condicionantes díspares que se chocam no empreendimento de colonização.

“Os povos americanos descobertos pelos europeus no final do século XV tinham

graus diferentes de organização e formas de estabelecimento. A conquista unificará

como um fundente o domínio territorial, transplantando o domínio político, o

sistema jurídico administrativo, o idioma unificador e as novas crenças. (...) A

cultura doadora ibérica sofrerá sua própria transformação. Nem tudo que existe em

seu território é levado ao novo continente, e portanto, por um processo de seleção e

síntese, passarão somente alguns elementos.” (GUTIÉRREZ, 1995: 47, 48)

Esta visão de Gutiérrez não é um consenso para os autores que versam sobre a

história da arquitetura e da cidade do período colonial, pois para muitos críticos, a

imposição da cultura dominadora frente à realidade preexistente latino-americana,

resultaria em uma inevitável prática de submissão em relação à cultura doadora, sendo

inclusive discutível a própria existência de uma legítima arte, arquitetura ou cidade

americanas. Parece que, no fundo, é o que pensa o crítico venezuelano Graziano Gasparini:

“El concepto de arquitectura colonial está inevitablemente vinculado al

provincialismo y, en el caso de América Latina, la provincialización la establece su

condición de zona receptora relacionada y dependiente de los centros de influencia

culturales europeos. Según Palm, ‘es provincia todo lo que en la evolución de las

ideas no marcha a la cabeza de su tiempo’. Para el caso latino-americano, la

arquitectura se distingue por recibir con retardo, los elementos de los centros

creativos.” (GASPARINI, 1980: 39)

Por outro lado, independente das discussões travadas acima, é praticamente

inevitável a noção de que a tradição de fundação de núcleos urbanos planificados,

desenhados em forma de tabuleiro de xadrez, seria um meio prático de conceber e

implantar cidades, necessário quando a agilidade do empreendimento seria impositiva. Os

espanhóis não inauguraram esta prática, já comum desde a Antigüidade - basta lembrar

algumas cidades gregas na Jônia - como Mileto, por exemplo.

Da mesma forma que o esforço colonial grego ou romano, era fundamental para a

cultura dominadora a célere imposição de núcleos urbanos no território nativo conquistado,

para subjugar os povos e dar apóio ao posterior e “necessário” processo “civilizatório”

(Figuras 3, 4, 5):

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“O traçado em quadrícula é um meio simples e rápido para marcar a cidade no

terreno, sendo ele plano, como no fundo dos grandes vales andinos e no planalto

mexicano. Traçados em quadrícula foram e são usados muitas vezes, quando a

rapidez é necessária: nas cidades de colonização romana frente aos bárbaros; nas

mais de 400 bastides no sul da França, na idade média, construídas por franceses e

ingleses durante a Guerra dos Cem Anos; na Espanha frente aos árabes, como já

vimos; e até hoje, nas invasões urbanas da América Latina frente à polícia. (...)

Além disso as cidades tinham

que ter uma imagem grandiosa

para impressionar e cooptar os

nativos: ‘Os índios não devem

adentrar os precintos da cidade

antes que ela seja concluída e colocada em condições de defesa, e as casas

construídas, de maneira que quando os índios a verem, eles devem se maravilhar e

entender que os espanhóis se estabeleceram para sempre, não somente para o

momento, e assim eles os temerão tanto quanto desejarão sua amizade.’ (Leis das

Índias, item 137).” (FERREIRA, 1996: 560)

O problema do Barroco na

configuração das cidades hispano-

americanas

O segundo ponto que tem suscitado inflamadas

discussões para a crítica recente, e que se vincula

diretamente à comunicação proposta, relaciona-se à visão que muitos críticos

desenvolveram ao declarar a suposta condição barroca impressa na tradição do

planejamento de cidades em forma de grelha, juízo que estaria vinculado tanto ao fato das

Figura 3: Vista aérea de Oaxaca, no México. Fonte: (BENEVOLO:1981, v.1., 608) Figuras 4 e 5: Vias de Oaxaca. Fonte: Rodrigo Baeta, 2000.

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cidades serem frutos de uma concepção projetual dada a priori, como em função de sua

regularidade se relacionar com a estética promovida pela arte do século XVII.

Para Daniela Moreno e Ana Lía Chiarello, o “urbanismo” barroco desvelado nas

cidades em tabuleiro de damas da América espanhola vai mesmo atingir níveis artísticos

grandiosos, quiçá superiores aos dos núcleos europeus, pois teriam alcançado a

planificação e a regularidade totais, princípios geneticamente ligados ao velho mundo, mas

raramente expressos nas cidades barrocas da Europa.

“La materialización de una ciudad barroca ex novo no fue frecuente en la Europa

del siglo XVII, pero sí el transformar una ciudad existente en otra barroca. Frente a

ello, las ciudades hispanoamericanas fueron concebidas y materializadas como un

proyecto urbano total, de manera que el pensar la ciudad en cuanto proyecto

unitario, estuvo implícito en el urbanismo colonizador desde su origen. Por otra

parte, para lograr la transformación barroca, Europa apelaría al trazado de calles

rectas, a la construcción de calles regulares y la creación de nuevos barrios en

retícula. En grande parte de las ciudades americanas la trama urbana reticular, las

calles rectas y las plazas regulares estuvieron presentes tanto en su morfogénesis

como en su desarrollo y crecimientos posteriores.” (MORENO & CHIARELLO,

2001: 112, 113)

Na verdade, mais que expressar de forma intensa os princípios essenciais do

“urbanismo barroco” - descritos pelas autoras como “la gran escala, el concepto de

infinito, el proyecto urbano total, el espacio público como gran escenario de la vida

urbana” (MORENO & CHIARELLO, 2004: 1071) - a “febre” de fundação e

desenvolvimento de cidades na América Hispânica, já absolutamente consolidada no

século XVI, poderia ter mesmo antecipado o espírito barroco que iria alcançar o

“urbanismo” europeu somente no período seguinte6.

Moreno e Chiarello, provavelmente, compartilham do mesmo conceito

desenvolvido por Angel Rama, que compreende a cidade hispano-americana, antes como

6 Como encerramento da comunicação proferida para o III Congreso Internacional del Barroco Iberoamericano, as autoras concluem: “Creemos que el aporte innovador de la ciudad hispanoamericana fue la incorporación de ciertos rasgos que, por su diversidad de influencias no puede concedérseles un origen unívoco, pero que de alguna manera supusieron una proyectación urbana que en su esencia se adelantó a los conceptos que Europa adoptaría durante el período barroco, quizás por motivos diferentes. Se generó en la América Hispana un modelo urbano de tal originalidad espacio temporal que nos lleva a preguntarnos: ¿no será que Europa, a lo largo de la Edad Moderna, se fue acercando a algo que España había imaginado y comenzado a ensayar primero en América?” (MORENO & CHIARELLO, 2004: 1082, 1083)

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um projeto ideal, do que como um esforço natural de síntese entre experiências

contraditórias, “doadoras” e “receptoras”, que em sua conjunção, e em sua adaptação à

realidade geográfica americana, produziram uma nova tradição urbana, fruto da

“transculturação”.

Também na mesma linha que as autoras argentinas, Rama afirmará que o processo de

planificação prévia e a regularidade ortogonal dos núcleos urbanos hispano-americanos

seriam geradores de uma configuração abertamente barroca:

“A transladação da ordem social a uma realidade física, no caso da fundação de

cidades, implicava o desenho urbano prévio mediante as linguagens simbólicas da

cultura sujeitas à concepção racional. (...) O resultado na América Latina foi o

desenho tipo tabuleiro de damas, que reproduziram as cidades barrocas e que se

prolongou praticamente até nossos dias” (RAMA, 1984: 28)

Contudo, como afirma Alberto Nicolini, o caráter barroco que uma cidade de

colonização espanhola eventualmente viria a ter, não poderia partir da tradição da

quadrícula, pois esta remontaria, na verdade, ao início do século XVI – iniciativas

vinculadas, mais uma vez, a um sentido prático de assentamento rápido de núcleos urbanos

no território vasto e hostil das Américas:

“Ya en tiempos de Paolo III (1534-49) y Sixto V (1585-1590), se habían iniciado

transformaciones revolucionarias en las ciudades europeas, injertando en el denso

tejido urbano de la antigua Roma avenidas con su perspectiva recta y prolongada,

el point de vue rematando en un gran monumento, al mismo tiempo que Tintoretto

pintaba sus fugas hacia el fondo del cuadro. Así, la gran ciudad adicionó al

tradicional modo europeo de aproximación a los monumentos por medio de calles

irregulares, nuevas visiones rectas y prolongadas a lo largo de anchas avenidas

que, como fuertes vectores, señalan a los monumentos.

Eran los mismos años en los que, rodeados por una problemática geográfica,

histórica y cultural esencialmente distinta, los hispanoamericanos estaban trazando y

comenzando a construir más de doscientas ciudades con calles anchas, iguales y

paralelas, cada una de las cuales ofrecía, en sus dos extremos, perspectivas infinitas

que no remataban en ningún monumento. Pero no debe pensarse que esta falta de

límites fuese el resultado de una operación espacial consciente que anticipase las

perspectivas barrocas europeas del siglo XVII, sino más bien la consecuencia de una

distribución pragmática de la tierra virgen americana entre los vecinos que habrían

de habitarla. Y para hacerlo con precisión le bastaba al fundador, luego de 1530, sólo

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la indicación de tres cifras: la cantidad de manzanas, el largo de la cuadra y el ancho

de la calle.” (NICOLINI, 2004: 1086)

Ramón Gutiérrez, na mesma direção, afirmará que o caráter planificado da cidade,

gerado em pleno Cinquecento, não poderia apresentar ainda características barrocas. Na

realidade, o que é possível encontrar, na cidade concebida em “tabuleiro de damas”, seriam

raízes teóricas similares às concepções renascentistas, o que historicamente estaria em

acordo com a época de suas concepções mais importantes.

Não obstante, mesmo na relativa proximidade entre a estrutura urbana transposta e os

princípios urbanísticos da renascença, haveriam pontos de aberta discordância, como por

exemplo, a disposição ortogonal americana frente às teorias de influência vitruviana

quatrocentistas, que incentivavam a conformação radial para as cidades ideais7.

E esta disposição ortogonal e retilínea se configurou, para alguns autores, como um

motivo tedioso. Isto porque, a rigidez e a “inútil grandiosidade” dos planos espanhóis teria,

na verdade, gerado ambientes onde a monotonia imperaria, pois incentivaria o

desenvolvimento de núcleos urbanos com um caráter fortemente bidimensional, coibindo

muito da possível estruturação artística da cidade8. As construções ordinárias e os

monumentos, se não alcançassem uma escala razoável, se diluiriam na extensão exagerada

da estrutura viária. Assim afirma Benevolo:

“Aquilo que se estabelece no momento de fundar a cidade não é um organismo em

três dimensões, mas uma ‘traza’. (...) Nas cidades americanas, o desenho das ruas e

praças é por vezes inutilmente grandioso, ao passo que os edifícios são baixos e

modestos”. (BENEVOLO, 1997: 488)

Mais coerente com a base fenomenológica que estrutura esta discussão, cabe a noção

de que para a avaliação artística da cidade de dominação espanhola, não importa somente o

plano em si. Interessa a cidade que resultará da interação da traza, com as intervenções

barrocas seiscentistas e setecentistas, com seu sítio natural, com as construções ordinárias,

os monumentos (Figuras 5, 6).

7 “Hemos insistido en que las ordenanzas de población vienen a ratificar las experiencias urbanas españolas

y americanas a la vez que introducen la planificación homogeneizada para los nuevos conjuntos urbanos. (...) Las raíces teóricas renacentistas están presentes en la idea del diseño previo y en la presencia de la plaza como núcleo generador del cual parten las calles sistematizadas. Sin embargo los diseños americanos nada tendrán que ver con las ciudades ideales de Filarete u otros pensadores donde el sistema radial predomina nítidamente.” (GUTIÉRREZ, 1997: 79)

8 O próprio Ramón Gutiérrez reconhece a abrangência que alcançou este juízo negativo: “La calle definía el carácter de paisaje urbano y es quizás su unidad rectilínea, fruto del cordel, lo que ha forjado la imagen de monotonía que muchos (demasiados) autores suelen adjudicar a las ciudades americanas.” (GUTIÉRREZ, 1997: 97)

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O processo de fusão entre as experiências díspares que permearão o universo latino-

americano assumirá o papel de originar ações inéditas no que concerne à estruturação

barroca do ambiente, onde a presença da arquitetura é de fundamental importância9.

Nicolini sintetiza a questão debatida, e acaba revelando o caminho mais consistente para a

resolução do problema exposto (Figuras 8, 9, 10):

“La ciudad hispanoamericana consolidó, en el siglo XVI, un tipo urbano

nítidamente definido por su estructura física en cuadrícula, sin acentos ni contrastes

y con un único elemento diferenciado al centro, la plaza multifuncional. En el

período barroco, el crecimiento poblacional, el enriquecimiento funcional y el uso

permanente o efímero que se les dio a esos espacios, conjuntamente con el paisaje

urbano resultante de la construcción de edificios barrocos transformó la estructura

urbana neutra del siglo XVI, en un espacio barroco a la española, mejor aún, a la

hispanoamericana.” (NICOLINI, 2001: 110).

9 “Las transformaciones arquitectónicas produjeron profundos cambios en el paisaje urbano. Así se fue

definiendo en Hispanoamérica un tipo característico de interior urbano mediante los parámetros planos con escasos relieves, las portadas, las balconadas y las recovas, las tiendas esquineras, las techumbres de telas visibles desde la calle, las composiciones complejas de tres o más pisos y tres calles de las fachadas de los pies de las iglesias, sus campanarios y cúpulas y las recovas en dos plantas de los cabildos.” (NICOLINI, 2001: 110) Figuras 6 e 7: Imagens da Catedral da Cidade do México e sua implantação em El Zócalo, a Plaza Mayor. Destaque para o Sacrário construído por Lorenzo Rodriguez, à direita da Catedral. Fonte: Rodrigo Baeta, 2000. Figuras 8, 9 e 10: Vias retilíneas no centro histórico da Cidade do México. Destaque para a Iglesia de la Santíssima Trinidad que aparece na última imagem. Fonte: Rodrigo Baeta, 2000.

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À procura de um caminho para a leitura do espaço barroco das

cidades planificadas da América espanhola

No período barroco, a organização artística do espaço atinge uma carga de

expressividade visibilística nunca antes vista: um conjunto intenso de imagens "espetaculares"

é derramado por todo o ambiente citadino. O transeunte transforma-se imediatamente em

público e protagonista de uma encenação teatral quando, inesperadamente, após longa

preparação e um sentimento de tensão e suspense, se depara com acontecimentos dramáticos

pontuais espalhados por toda a cidade (BAETA, 2002).

O que dará o tom da construção destes cenários dramáticos é a filiação do espaço

resultante, aos princípios essenciais do Barroco: o apelo persuasivo e o uso do poder

ilimitado da imaginação (ARGAN, 1964).

A persuasão provém da necessidade de desenvolvimento de um enérgico mecanismo

de divulgação e de exposição do extraordinário poder emanado pelas estruturas políticas e

religiosas que povoaram o cenário seiscentista e setecentista: uma estratégia de

representação que fosse acessível a todos, desde os mais humildes aos mais doutos.

A imaginação é derivada, por sua vez, do desinteresse que o artista barroco

demonstra pelo conhecimento e pela representação da natureza: a fusão entre ciência e arte

pregada pela Renascença e base para grande parte dos dramas maneiristas será rompida

definitivamente - na verdade, os problemas oriundos da interpretação do mundo afastam-se

do domínio da arte e voltam-se exclusivamente para a experimentação científica e para a

filosofia (ARGAN, 1994).

Este afastamento da arte dos séculos XVII e XVIII em relação à contemplação e

representação da natureza revela que os artistas não buscam mais o domínio do “real”, a

experiência sensível ou inteligível do mundo. Como conseqüência, a “verdade” não

interessa se não como referência para a sua superação; a técnica artística não está mais a

serviço da representação "correta" da natureza, mas da ampliação das “barreiras” do

possível, assumindo, deste modo, o alcance ilimitado da imaginação humana - e só o poder

"fantástico" da imaginação seria capaz de demonstrar a estrutura sobrenatural da Igreja e

do Estado dos séculos XVII e XVIII.

Por isso, a cidade se transforma no baluarte do projeto de propaganda barroca,

absorvendo uma estrutura francamente dramática para a sedução do transeunte. A

cenografia imposta pela cidade barroca, porém, atua de forma diferenciada de uma peça de

teatro: na encenação teatral, o espectador permanece parado enquanto tudo se move à sua

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frente; no espaço urbano o espetáculo é imóvel, exigindo a movimentação do fruidor para a

revelação dos acontecimentos dramáticos, antecedidos por momentos de expectativa e

espera - toda a estrutura visibilística do organismo urbano concorrendo para despertar o

poder insuperável da imaginação. Segundo Argan:

“De resto a cidade também era um teatro; assim, não fazia sentido distinguir entre

espaço real e ilusório, arquitetura construída e aparato cênico, já que são

igualmente objetos de percepção e estão incluídos na ilimitada fenomenologia da

imaginação.” (ARGAN, 1993: 173)10

Para a arte barroca, conseqüentemente, não é significativa a construção do espaço como

representação objetiva formal de um conceito universal, como era o caso do Renascimento. Toda

a pesquisa se dirige para a maneira como a articulação espacial sensibiliza o indivíduo através da

imagem que suscita, o que Argan denomina de "modos de visão" (ARGAN, 1973: 79).

Neste sentido, nas mais importantes cidades do período, tanto na Europa como na

América colonial, os eixos perspectivos ou o traçado retilíneo não absorvem a capacidade

de, isoladamente, proporcionarem a nova qualificação artística para a cidade: tanto o mais

conhecido caso de intervenção urbana da idade do Humanismo - o plano de Domenico

Fontana para a Roma de Sisto V - como a conformação da maioria das cidades planificadas

hispano-americanas são iniciativas de remodelação do espaço urbano originadas e

efetivadas antes do período barroco, empreendimentos que se confundem com poéticas

tardo-renascentistas ou francamente maneiristas - comuns ao século XVI.

O que transformará, posteriormente, estas cidades de gênese quinhentista em

organismos indubitavelmente barrocos são os recursos retóricos dramáticos, que através do

trabalho das imagens surpreendentes espalhadas pelo espaço urbano, sensibilizarão os que

participarão da encenação barroca - o cidadão comum.

Assim, o esforço profundo de comunicação e a convincente retórica proposta pelas

imagens oferecidas, despertam a imaginação, e apóiam a apreciação de um cenário que não

é desvelado objetivamente, mas que preenche a mente com experiências "fantásticas". E

esta sensação de "maravilha" (ARGAN, 1964: 23) não está subordinada à suposta intenção

que antecipa os eventos, ao esquema de formulação das cenas - muitas vezes oriundas de

acontecimentos que podem ser rigorosamente espontâneos; mas fundamenta-se na pura

percepção visibilística da exibição dramática.

10 Citação retirada do ensaio: "Bernini e Roma".

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A duração da "peça teatral", o desenvolvimento de seu "enredo", estão

inevitavelmente ligados ao espectador; a trama se desenrola a partir da maneira como o

passante se apropria do ambiente citadino: o acesso que irrompe na cidade, os percursos

que escolhe, as visadas que aprecia na sua jornada.

Parecem frágeis, deste modo, as análises que partem da premissa que simplesmente uma

série de constantes formais, de regras estilísticas derivadas do processo de planificação e

desenvolvimento dos núcleos urbanos poderiam estruturar uma avaliação artística do fenômeno

barroco. Silvia Rossi refuta esta abordagem que acaba limitando, e mesmo impedindo a

compreensão da experiência barroca ibero-americano em toda a sua complexidade:

“El barroco, especialmente en su dimensión iberoamericana, tiene la virtud de

transformarse en expresiones que, aun reconociendo una filiación común, adquieren

una identidad propia que las distingue de acuerdo al contexto cultural en el que se

desarrollan. Para comprender la esencia del barroco es necesario liberarnos en el

análisis metodológico de la pretensión canónica que lo interpreta en base a una serie

reglas estilísticas enunciadas desde una lógica meramente formal.” (ROSSI, 2001: 73)

Assim, o que poderia oferecer a condição barroca à cidade hispano-americana seria a

sua absorção do espírito geral de dramaticidade formulado no período: o problema consistiria

na elaboração de um ambiente que revelasse um discurso convincente - retórica, persuasão -

e um desejo de demonstrar o afastamento do sentido de representação da realidade objetiva,

buscando a geração de um jogo de imagens que provocasse virtualmente o rompimento das

barreiras do possível - a expressão da “maravilha”, a imaginação.

E é por isso que resoluções formais utilizadas para alcançar este esforço de

representação, no fundo de teor decisivamente abstrato, acabariam se manifestando de maneira

categoricamente distinto em cada contexto onde o Barroco seria absorvido. Argan sintetiza:

"Ahora es evidente la evolución histórica de la arquitectura barroca: nace en Roma

de un ideal grandioso, al mismo tiempo religioso y político, y para exaltar el valor de una

autoridad casi sobrehumana o bien que deriva directamente de Dios para la salvación de

los hombres, acentúa cada vez más su carácter práctico, su capacidad de adherir a

exigencias de 'representación' de las grandes ideas e de las grandes fuerzas que regulan la

vida de la sociedad. Por ese motivo la declinación de las formas barrocas es

profundamente distinta en cada país.” (ARGAN, 1960: 69)

Por isso, também não faz sentido condicionar a valoração artística e a qualificação

barroca dos núcleos urbanos a um processo consciente de planificação, ao estabelecimento

prévio de um “projeto urbano total”: o que caracterizaria a cidade hispano-americana como

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barroca não seria o plano gerador, e sim a sua materialização e o seu desenvolvimento

posterior - a cidade real.

A constituição da ebriedade barroca poderia mesmo partir da própria corrupção da

estrutura austera, típica do “urbanismo” previamente esboçado que os espanhóis

propuseram para a América - ações muitas vezes desenvolvidas a posteriori, nos séculos

XVII e XVIII. A idéia seria preencher o ambiente preexistente com imagens “fantásticas”,

monumentais ou de grande apelo visibilístico; distribuir pelo tecido urbano, momentos de

forte conotação cenográfica.

Talvez esta disposição poderia explicar o papel fundamental exercido pelas imponentes

e movimentadas portadas para a estruturação dramática dos núcleos urbanos: marcando os

acessos principais das edificações ordinárias e dos palácios oficiais, ou constituindo as

“fachadas retábulo” de muitas igrejas do período, as portadas dinamizam o espaço truncado do

ambiente citadino, revelando momentos de deleite e devoção - provavelmente em nenhum

contexto barroco estes expedientes foram tão importantes na configuração cenográfica da

cidade barroca como na América ibérica (Figuras 11, 12, 13):

“Las portadas constituyen composiciones autónomas con respecto al resto de la

fachada que tienen por finalidad señalar el acceso y dar cuenta de su importancia.

Desde ejemplos tan ilustres como la de San Pablo de Valladolid, la de la Universidad

de Salamanca o la del Palacio San Telmo de Sevilla, en América se recorrió un parejo

arco estilístico desde la Casa del Cordón en Santo Domingo hasta la de la Inquisición

de Cartagena, el Sagrario de México o, en Lima, la de San Francisco y, de nuevo, la

del Palacio Torre Tagle. Fue frecuente que la o las portadas se adicionaran

tardíamente al edificio, particularmente en el período barroco, tal como ocurrió con

las dos portadas de la catedral de La Plata o, a finales del siglo XVIII, la portada en

forma de baldaquino adicionada a la catedral de Quito en su acceso desde la plaza.

Una variante apropiada, en el caso de las iglesias, fue la portada retablo, cuya

estructura de calles y pisos reitera la composición del retablo en madera del altar al

interior de la iglesia.” (NICOLINI, 2004: 1096)

Figuras 11 e 12: Imagens de Lima, Peru. O Placio Torre Tagle e a estrutura do convento de São Francisco. Fonte: AISA. Figura 13: Adro da Basílica de la Soledad em Oaxaca, México. Fonte: Rodrigo Baeta, 2000.

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A Plaza de Armas de Cuzco Dando continuidade e exemplificando a discussão anterior, seria interessante avaliar

o papel exercido pelas duas igrejas que ocupam a praça principal da cidade de Cuzco na

configuração artística do núcleo urbano: a estrutura monumental da Catedral e a igreja da

Companhia, com suas portadas em forma de grandes retábulos de pedra, vão pontuar

distintamente a experiência da descoberta do ambiente citadino.

Ambiente que começa a ser configurado em 1534 quando, após a ocupação da cidade

inca por Pizarro, em novembro do ano anterior, inicia-se a rápida construção de um núcleo

hispano-americano de razoável regularidade, que viria a se sobrepor à imponente estrutura

nativa preexistente - em uma altitude de 3400 metros, nos Andes peruanos. O elemento

central da nova cidade vai ser, como era usual na concepção e consolidação dos

assentamentos hispânicos, a Plaza de Armas, imenso espaço vazio com o formato de um

retângulo não muito regular, desenvolvido longitudinalmente no sentido noroeste - sudeste.

Apesar de sua dimensão grandiosa, o mais importante recinto público da Cuzco colonial

nascerá como um fragmento do ambiente precedente ocupado pela remota praça

Huaynapata (GUTIÉRREZ, 1997:80) - o que dá idéia da extensão incomensurável dos

espaços abertos que preenchiam as cidades pré-colombianas (Figura 14).

Em um dos lados maiores da Plaza Mayor, na face nordeste, será edificada a Catedral

de Cuzco. A estrutura erguida ainda no século XVI irá se justapor às ruínas do palácio inca

de Viracocha, marcando a tendência do “urbanismo” hispano-americano de assentar a mole

do principal edifício religioso da cidade na Plaza de Armas. Sua monumentalidade, aliada à

implantação do largo frontispício que encerra uma parte significativa da área mais próxima

ao lado sudeste da praça, revela a importância que a cidade irá adquirir, após a ocupação

espanhola, como centro de divulgação do cristianismo para os povos dominados do novo

mundo (Figura 15).

Por outro lado, a construção da igreja dos jesuítas na mesma praça, acima das ruínas

do palácio inca de Huyana Capác, não irá se filiar ao modus operandi dos conquistadores. Os

espanhóis buscavam evitar que qualquer organismo arquitetônico religioso de caráter

expressivo disputasse o interesse com a Catedral. A grandiosa conformação do templo de la

Compañia, entretanto, ocupará parte de um dos lados menores da Plaza Mayor, com sua

fachada principal alinhada à face sudeste da praça - conseqüentemente, nas imediações da

Catedral (Figuras 16, 17, 18). A concentração destas duas estruturas ligadas ao poder

espiritual, assentadas em um dos cantos do amplo espaço aberto, apoiará um confronto

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dramático que, indubitavelmente, só favorecerá a intensificação do caráter barroco do núcleo

urbano. E este conflito anunciará o diferente papel que cada um dos organismos

arquitetônicos irá exercer na antiga praça Huaynapata11.

Apesar da extensão considerável da praça, a presença da Catedral nunca deixará de

ser percebida. A estrutura maneirista, formada por uma massa poderosa e sólida, surgirá

como um volume monumental, rompendo o conjunto composto pelas galerias porticadas

que envolvem todo o ambiente. A largura incomum da frontaria, que será arrematada aos

lados pelas torres de 33 metros de altura que marcam os vértices da fachada, “invade” o

ambiente à frente dilatando-se para a área contígua à locação de la Compañia. Este sentido

de diástole oferecido pela projeção perspéctica do edifício e pela expansão transversal do

frontispício - direcionamentos virtuais que buscam preencher o vazio urbano - é favorecido

pela própria implantação do templo, que se coloca à frente das duas capelas agregadas às

suas fachadas laterais - à esquerda, a igreja de Jesus e Maria; à direita, o templo el Triunfo.

O santuário dos jesuítas, por sua vez, concebido no século XVII em substituição ao

edifício preexistente, arruinado pelo terremoto de 1650, se apresentará como a conclusão de

uma igreja cuja nave aberta percorre o vazio longitudinal da Plaza Mayor: um dinâmico

altar-mor de pedra, sob o céu azul de Cuzco, vo ltado ao principal espaço do núcleo urbano -

contido por um organismo elegante e esguio, formado pelo frontispício e pelas duas torres

(Figura 19). Esta solução coloca em questão a possibilidade de se fazer a distinção, em uma

experiência artística barroca, entre espaço interior e exterior, pois, como diria Gasparini:

“La fachada es el retablo exterior que demuestra el significado del edificio que tiene

detrás. Es un diafragma que semiológicamente comunica el interior con el exterior y

viceversa.”(GASPARINI, 1980: 44)

Não obstante, o efeito cenográfico mais significativo que se pode retirar na

experimentação arrebatadora da Plaza de Armas de Cuzco será absorvido no convincente

11 “En el momento de la ocupación española, en marzo de 1534, Pizarro decidió conservar e hacer nivelar

la gran plaza incaica que se convertía así en el centro de la nueva ciudad. Hizo falta, entre otras cosas, demoler el antiguo palacio de Viracocha, en cuyo emplazamiento se levantó la futura catedral. El resto de la plaza constitió en casas bajas, de uno piso, sobre arcos en planta baja, solución típicamente española. (...) Sin embargo hay otra iglesia - la Compañia - sobre esta mismo plaza y ello en contra de la tradición española que quiere que en América la catedral aparezca solo tronando en ese lugar privilegiado. En realidad las dos capillas adheridas a la catedral - Jesús María a la izquierda de quien mira, y el triunfo a su derecha - no cuentan, por así decir. Están simplemente adosadas a la gran masa de la que forman parte, un poco a la manera de los sagrarios en algunas otras ciudades hispanoamericanas. Y si de la gran Plaza de Armas es verdad que se ve el convento de la Merced con su iglesia y su torre, hay que reconocer que el conjunto da sobre una calle lateral. El solo templo que comparte, pues, la plaza con la catedral es, por cierto, la Compañía. Si la catedral es a dominante horizontal, esta segunda iglesia de los jesuitas - que es la que vemos aún hoy - resulta a dominante vertical.” (BAYÓN, 1974: 71-74)

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discurso religioso instigado pela fusão entre as duas ações dramáticas avaliadas

anteriormente: na agitação suscitada pela percepção da imagem contígua dos templos, e

particularmente, na justaposição dos espaços livres adjacentes às duas igrejas - o expansivo

átrio dominado pela Catedral; a nave aberta da praça, encerrada pela igreja da Companhia

de Jesus 12. O sentido de “maravilha” (ARGAN, 1964: 23) revelado na co-existência destes

espaços abertos, ligados simbolicamente aos organismos religiosos, animará a retórica

barroca perseguida no vazio da antiga praça Huaynapata, através da interpenetração

imprevista destes espaços autônomos (Figuras 20, 21).

12 Neste sentido, Trevigiano propõe uma interpretação da relação entre estes dois organismos religiosos e a

Plaza de Armas de Cuzco ao discutir a importância dos adros das igrejas na América espanhola e da relação destes espaços, ao mesmo tempo públicos e privados, com as fachadas dos templos: “Muy interesante es el caso de Cuzco en la que la plaza principal, resultado de la reducción de la precedente cancha incáica, presenta dos iglesias que se disputan el espacio: la Catedral y la Compañía, la primera de finales del siglo XVI, la segunda del siglo XVII. Pero será La Compañía la que, con su fachada-retablo de estilo barroco, presidirá la plaza-iglesia como una grandiosa nave abierta según los nuevos conceptos urbanísticos mientras que la Catedral, con su amplio atrio sin muros que lo limiten y con la austeridad de sus volúmenes, rememora las soluciones del siglo XVI. La plaza es rodeada por amplios portales que conforman una galería continua solo quebrada por los grandes e imponentes volúmenes de las dos iglesias citadas y ubicadas en ángulo, además de los edificios anexos. En ocasiones de las fiestas religiosas, durante la Colonia, los altares de la Catedral venían trasladados a los costados de la plaza, se cubrían las galerías con paños y cortinajes y se armaban arcos triunfales en el recorrido procesional, mientras las dos fachadas eclesiásticas hacían de retablos principales reviviendo la función de las capillas abiertas de indios.” (TREVIGIANO, 2004: 1169)

Figura 14: Imagem aérea de Cuzco. Fonte: http://www.tierra-inca.com

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Figura 15 e 16: Catedral de Cuzco. Fonte: AISA. Igreja La Compañia. Fonte: http://shw.fotopages.com Figuras 17: Igreja dos jesuítas com o convento La Merced ao fundo. Fonte: Rodrigo Baeta, 2002. Figura 18: Imagem da igreja da Companhia. Fonte: http://www.tierra-inca.com

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Figura 19: Imagem aérea da Plaza de Armas de Cuzco. A igreja no fundo, em destaque, é la Compañia. Fonte: AISA. Figuras 20 e 21: Imagens da Plaza de Armas com destaque para a Catedral de Cuzco, à esquerda, e para la Compañia, à direita. Fonte: http://shw.fotopages.com

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Considerações finais Como conclusão desta comunicação que objetiva lançar alguns pontos para a

reflexão e para a discussão sobre a qualificação barroca das cidades planificadas hispano-

americanas, basta reiterar o que já foi discutido anteriormente: O caráter barroco que

muitos núcleos urbanos da América colonial alcançou não parte diretamente do traçado

regular proposto e efetivamente implantado. Como diria Alberto Nicolini, raramente a

estrutura urbana em si vai oferecer os ingredientes dramáticos exigidos a uma manifestação

que alcance o espírito barroco.

Será, conseqüentemente, na cidade real desvelada a posteriori, onde poderá ser

encontrado o exercício da retórica barroca, que transformará a cidade em um grande e

coeso aparato cenográfico.

“La vida barroca dejó sus huellas en la forma urbana; escasamente en la estructura

urbana, pero sí en el paisaje urbano mediante las portadas, los balcones, las torres

y hasta en los aderezos efímeros de las fiestas que, en ciertos casos quedaron

gráfica o literariamente registrados.” (NICOLINI, 2004: 1099)

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