a complexidade da prática mediunica

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1 A COMPLEXIDADE DA PRÁTICA MEDIÚNICA WALDEHIR BEZERRA DE ALMEIRA Copyright ©2Q\4by FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA - FEB 1 a edição - 1 a impressão — 3 mil exemplares — 7/2014 ISBN 978-85-7328-918-3 BRASILEIRA - FEB Av. L2 Norte - Q. 603 - Conjunto F (SGAN) 70830-030 - Brasília (DF) - Brasil www.feblivraria.com.br editori- [email protected] +5561 2101 6198 Pedidos de livros à FEB Gerência comercial — Rio de Janeiro Tel.: (21) 3570-8973 [email protected] Gerência comercial - São Paulo Tel.: (11) 2372 7033/ [email protected] Livraria — Brasília Tel.: (61) 2101 616II [email protected] Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Federação Espírita Brasileira - Biblioteca de Obras Raras) A447c Almeida, Waldehir Bezerra de, 1937- A complexidade da prática mediúnica / Waldehir Bezerra de Almeida. — I. ed. 1. imp. - Brasília: FEB, 2014. 384 p.; 23 cm ISBN 978-85-7328-918-3 1. Mediunidade. 2. Espiritismo. I. Federação Espírita Brasileira. II. Título. CDD 133.9 CDU 133.7 CDE 30.03.00

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Estudo da Mediundade

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    A COMPLEXIDADE DA

    PRTICA MEDINICA

    WALDEHIR BEZERRA DE ALMEIRA Copyright 2Q\4by FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA - FEB

    1a edio - 1a impresso 3 mil exemplares 7/2014 ISBN 978-85-7328-918-3

    BRASILEIRA - FEB Av. L2 Norte - Q. 603 - Conjunto F (SGAN) 70830-030 - Braslia (DF) - Brasil www.feblivraria.com.br [email protected] +5561 2101 6198

    Pedidos de livros FEB Gerncia comercial Rio de Janeiro Tel.: (21) 3570-8973 [email protected] Gerncia comercial - So Paulo Tel.: (11) 2372 7033/ [email protected] Livraria Braslia Tel.: (61) 2101 616II [email protected] Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortogrfico. Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Federao Esprita Brasileira - Biblioteca de Obras Raras) A447c Almeida, Waldehir Bezerra de, 1937- A complexidade da prtica medinica / Waldehir Bezerra de Almeida. I. ed. 1. imp. - Braslia: FEB, 2014. 384 p.; 23 cm ISBN 978-85-7328-918-3 1. Mediunidade. 2. Espiritismo. I. Federao Esprita Brasileira. II. Ttulo. CDD 133.9 CDU 133.7 CDE 30.03.00

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    Todos os dias a experincia nos traz a confirmao de que as dificuldades e os desenganos com que muitos topam na prtica do

    Espiritismo se originam da ignorncia dos princpios desta cincia [...] A prtica esprita difcil, apresentando escolhos que somente um

    estudo srio e completo pode prevenir.1

    A operao da mensagem no nada simples, embora os trabalhadores encarnados no tenham conscincia de seu mecanismo

    intrnseco, assim como as crianas, em se fartando no ambiente domstico, no conhecem o custo da vida ao sacrifcio dos pais2

    1 KARDEC, Allan. O livro dos mdiuns. "Introduo", 2013. 2 XAVIER, Francisco Cndido. Missionrios da luz. Cap. l, 2013.

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    SUMARIO INTRODUO PRIMEIRA PARTE A MEDIUNIDADE NA BUSCA DE SUA IDENTIDADE 1 HORIZONTES CULTURAIS E MEDIUNIDADE 1 .1 Horizonte tribal, 1 .2 Horizonte agrcola. 1 .3 Horizonte civilizado. 1.4 Horizonte proftico. 1 .5 Horizonte espiritual. 2 DAS CAVERNAS SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPRITAS 2.1 O Homo erectus, mdium de efeitos fsicos. 2.2 O homem de Neanderthal e o zelo pelos mortos. 2.3 O homem de Cro-Magnon e a crena na vida futura. 2.4 O Xamanismo. 3 A MEDIUNIDADE FORA DAS CAVERNAS 3.1 A mediunidade como dom dos deuses. 3.2 A mediunidade estatizada da ndia. 3.3 A mediunidade sacerdotal do antigo Egito. 3.3.1 O livro dos mortos. 3.4 O culto aos mortos na antigidade clssica. 3.5 Os orculos greco-romanos. 3.6 O furor dos deuses da Mesopotmia. 3.7 A medicina dos babilnios e a crena na atuao dos Espritos. 3.8 Os druidas celtas. 4 A MEDIUNIDADE NA BBLIA 4.1 Fenmenos medinicos no Antigo Testamento. 4.1.1 Materializao com voz direta. 4.1.2 Levitao. 4.1.3 Transporte. 4.1.4 Premonio. 4.1.5 Vidncia. 4.1.6 Escrita direta. 4.2 Fenmenos medinicos no Novo Testamento. 4.2.1 Materializao ou apario. 4.2.2 Xenoglossia. 4.2.3 Mediunidade de cura. 4.2.4 Vidncia. 5 A NOITE DE MIL ANOS E A MEDIUNIDADE NA IGREJA 5.1 So Francisco de Assis.

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    5.2 Santo Antnio de Pdua. 5.3 Santa Brgida. 5.4 Santa Catarina de Siena. 6 A MENIUNIDADE NOS ALBORES DA MODERNIDADE 6.1 So Pedro de Alcntara. 6.2 Santa Teresa d'vila. 6.3 Pio V. 6.4 So Joo da Cruz. 6.5 So Vicente de Paulo. 7 MOVIMENTOS RENOVADORES E A MEDIUNIDADE 7.1 So Joo Batista Maria Vianey- Cura d'Ars. 7.2 Abraham Lincoln. 7.3 Harriet Beecher Stowe. 7.4 Rainha Vitria. 8 A MEDIUNIDADE NO BRASIL 9 A MEDIUNIDADE COM ALLAN KARDEC NA SPEE 9.1 A Sociedade Parisiense de Estudos Espritas - SPEE. 9.2 O livro dos mdiuns. 9.2.1 Mediunidade de efeitos fsicos. 9.2.2 Mediunidade de efeitos intelectuais. Consideraes finais. SEGUNDA PARTE

    FUNDAMENTOS 1 O PERISPRITO - AGENTE DA COMUNICAO MEDINICA. 1.1 Conceito 1.2 Funes do perisprito. 1.3 Propriedades do perisprito. 1.3.1 Assimilao. 1.3.2 Irradiao. 1.3.3 Plasticidade, 1.3.4 Densidade, 1.3.5 Penetrabilidade. 1.3.6 Sensibilidade, 1.3.7 Expansibilidade. 1.3.8 Visibilidade, 1.3.9 Tangibilidade. 1 .3.10 Absorvendo. 1 .3.1 l Elasticidade. Consideraes finais.

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    2 FULCROS ENERGTICS DA COMUNICAO MEDINICA. 2.1 A mente. 2.2 O pensamento. 2.3 Centros vitais. 2.3.1 Centro coronrio. 2.3.2 Centro frontal. 2.3.3 Centro larngeo. 2.3.4 Centro cardaco. 2.3.5 Centro esplnico. 2.3.6 Centro gstrico. 2.3.7 Centro gensico. 2.4. Aura nossa de cada instante. 3 RECURSOS ESSENCIAIS PARA O INTERCMBIO MEDINICO. 3.1 A orao. 3.2 Objetividade da orao. 3.2.1 Orao para o comeo da reunio. 3.2.2 Orao para o fim da reunio. 3.2.3 Orao a ser feita pelo mdium. 3.3 Concentrao. 3.4 Sintonia. Consideraes finais. 4 O INCONSCIENTE 4.1 O inconsciente filosfico. 4.2 O inconsciente cientfico. 4.3 Topografia da mente. Consideraes finais. 5 ANIMISMO, 5.1 Como tudo comeou. 5.2 Um termo para cada coisa. 5.3 O animismo se concilia com a mediunidade. 5.4 Kardec e o animismo. 5.5 O inconsciente e o animismo. Consideraes finais. 6 A COMPLEXIDADE DA COMUNICAO 6.1 A comunicao humana. 6.2 A palavra e a idia. 6.3 Rudos na comunicao humana. 6.4 Pensamento e palavra. 6.5 Comunicao humana versus comunicao medinica. 6.6 Chiados na comunicao medinica. 6.6.1 Interferncia. 6.6.2 Sintonia medinica. 6.6.3 Vibraes compensadas.

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    7 A DIMENSO DA INFLUNCIA. 8 QUEM MDIUM? 8.1 Os mdiuns da atualidade. 8.1.1 Mdium psicofnico. 8.1.2 Mdium psicgrafo. 8.1.3 Mdium sensitivo ou impressionvel. 8.1.4 Mdium vidente. 8.1.5 Mdium audiente. 8.1.6 Mdium de efeitos fsicos. 8.1.7 Mdium curador. 8.2 Sonambulismo. 8.2.1 Caractersticas do mdium sonamblico. 8.3 O ato medinico. 8.4 O mdium ausente. Consideraes finais. TERCEIRA PARTE A COMPLEXIDADE DA PRTICA MEDIUNICA 1 TRANSE MEDINICO 1.1 Conceito, 1.2 Graus do transe. 1.2.1 Transe superficial, 1 .2.2 Transe parcial, 1 .2.3 Transe profundo. 1 .3 Formas de transe medinico. 1 .3.1 Transe passivo. 1 .3.2 Transe ativo, 1 .4 Induo ao transe medinico. 1 .5 Condies psquicas do mdium em transe 1 .6 Sada do transe medinico. Consideraes finais. 2 DA PSICOGRAFIA 2.1 Conceito. 2.1.1 Mdium mecnico. 2.1.2 Mdium semimecnico. 2.1.3 Mdium intuitivo. 2.2 As dificuldades do lado de c para o exerccio da psicografia. 2.2.1 Testemunhos do Reverendo Owen. 2.2.2. Embaraos de um mdium mecnico. 2.2.3 Confisses de um padre psicgrafo. 2.3 As dificuldades do lado de l para o exerccio da psicografia. 2.3.1 Aes dos Espritos na prtica da psicografia. 2.3.2 Os cuidados do Esprito Lady Nona com a mdium Rosemary. 2.3.3 Dilogo com o Esprito de uma surda encarnado.

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    3 DA VIDNCIA E DA AUDINCIA 3.1 Vidncia ou clarividncia? 3.2 Vidncia e xtase. 3.3 Vidncia e animismo. 3.4 Vidncia e histeria. 3.5 Da audincia. 3.6 Audincia e esquizofrenia. 3.7 Audincia e obsesso. Consideraes finais. 4 O COMPLEXO MEDINICO YVONNE PEREIRA. 4.1 As primeiras experincias. 4.2 De como foi escrito Memrias de um suicida. 4.3 Receiturio medinico. 4.4 Um transe a ser estudado. Consideraes finais. 5 DOS EFEITOS FSICOS E SUAS RAZES. 5.1 Eusapia Palladino. 5.2 Anna Prado. 5.3 Carmine Mirabelli. 6 DA REUNIO MEDINICA. 6.1 Natureza da reunio medinica. 6.2 Importncia da reunio medinica. 6.3 Viso sistmica da reunio de desobsesso. 6.4 Essencialidade do dilogo na desobsesso. 6.5 Condies ideais para a reunio medinica. 7 DA AVALIAO DA PRODUO MEDINICA. 7.1 O que bom senso? PALAVRAS FINAIS NDICE GERAL REFERENCIAS

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    INTRODUO Coube ao qumico francs Antoine Laurent Lavoisier (1743 1794),

    o papel de enunciar o princpio da conservao da matria: nunca se cria nem se elimina matria, apenas possvel transform-la de uma forma em outra.

    O leitor ou a leitora concluir, junto com Lavoisier, aps a leitura deste livro, que apenas transformamos matria intelectual, j constante em diversos livros, dando-lhe outra forma. No podemos negar que fizemos parfrases, ou seja, apresentamos conceitos, idias e informaes de fatos, em formato diferente. Desenvolvemos esforos para fazermos sntese de preciosos detalhes esparsos em diversas obras e os confrontamos, transformando-os em novas e sugestivas concluses. Admito, seja tarefa quase impossvel ser-se totalmente original ao escre-ver sobre a mediunidade, depois que o nclito codificador legou hu-manidade O livro dos mdiuns e Espritos de escol, comprometidos com a Terceira Revelao, deram continuidade aos seus ensinamentos basi-lares. Portanto o enunciado de Lavoisier, popularmente conhecido como: no mundo nada se cria e nada se perde, tudo se transforma perfeitamen-te aplicvel aqui.

    Por que, ento, diante dessa desafiadora realidade, encoraja-mo-nos a escrever este livro, quando existem tantos outros, cujos autores consa-grados pela sua habilidade e conhecimento, j esmiuaram, examinaram, esquadrinharam a mediunidade? Respondemos: Sempre h espao para se escrever e se falar de coisas que ainda no entendemos com segurana... E nessa certeza fazemos coro com a senhora Yvonne do Amaral Pereira:

    Acreditamos sinceramente que a mediunidade nas suas pro-fundidades e verdadeiras potencialidades, ainda desconhecida dos estudiosos espritas. O prprio mdium no compreender, no obstante sofrer suas influncias e ser acionado ao seu influxo, at mesmo no desdobramento da vida prtica. Basta ser, a mediu-nidade, o resultado de um jogo transcendente de sensaes e per-cepes, uma induo de foras intelectivas sobre outras foras inte-lectivas e tambm perceptivas, para compreendermos que se trata de uma faculdade profunda, complexa, vertiginosa, em suas possi-

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    bilidades singulares.3

    A redundncia tem sido uma tcnica usada pelos Espritos superi-ores no processo da comunicao conosco quando abordam, em livros e mensagens, de infinitas maneiras, a caridade, o perdo, a humildade, o amor ao prximo e outras virtudes crists ensinadas pelo Rabi da Galileia, at que aprendamos a pratic-las e no somente conhec-las. Com o es-tudo da mediunidade se d o mesmo: conhecemos o fenmeno pelos sen-tidos que nos colocam em relao com o mundo material, mas nem todos desenvolvemos a percepo e os sentidos extrassensoriais para compreen-d-la com segurana e pratic-la com a dignidade que lhe prpria. Fo-ram essas as razes que nos encorajaram a escrever este livro, mesmo sabendo que redundante. Estudar mediunidade sempre nunca demais, pois para bem compreender o fenmeno medinico sem o simplismo do raciocnio acomodado no empresa fcil.

    O objeto deste livro o estudo da evoluo do conceito de me-diunidade apreendido pelo homem ao longo do tempo e da complexidade de sua prtica, com base nos ensinamentos do Espiritismo e tem, como objetivo, chamar a ateno dos que a praticam para que a estudem com a constncia e seriedade que ela exige, levando em conta as leis que a re-gem, para melhor ser aproveitada na Seara de Jesus. A metodologia ado-tada foi a de buscar nas fontes alinhadas com o Espiritismo codificado por Allan Kardec aquelas informaes que comprovam as dificuldades apresentadas, tanto do lado de l como do lado de c, para a consumao do intercmbio medinico.

    Nossa esperana que nosso esforo incentive o (a) leitor (a) a con-sultar algumas das obras referenciadas, aprofundando-se no conhecimento de to vasto e meritrio assunto. Nele buscamos realar as dificuldades existentes nas modalidades mais comuns da interlocuo entre ns encar-nados e os habitantes do mundo invisvel, sem a pretenso de que esta leitura venha substituir o contato permanente que voc dever manter com as obras bsicas do Espiritismo, em especial com O livro dos m-diuns, fonte de consulta primria, at ento no superada nesse aspecto.

    Agora vamos nos entender sobre o termo complexidade inserido no seu ttulo. Ele no tem o significado de confuso, intrincado, complicado,

    3 PEREIRA, Yvonne do Amaral. Devassando o invisvel. "Sutilezas da mediunidade", 2012.

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    mas sim, de algo que abrange ou encerra muitos elementos ou partes; que observvel sob diferentes aspectos ou ngulos. E exatamente o que acon-tece com o fenmeno medinico. Este nada tem de confuso, complicado, ininteligvel... Ns que ainda no apreendemos o seu mecanismo na sua plenitude. A prtica medinica encerra um conjunto de fenmenos reali-zados pelos Espritos em parceria com os encarnados, denominados m-diuns e, por essa razo, os fenmenos se tornam complexos, no muito fceis de serem executados, pois so regidos por regras ainda no comple-tamente conhecidas e dominadas pelo homem, sendo o resultado de um jogo transcendente de sensaes e percepes entre dois mundos de vibraes bastante diferenciadas no seu teor e grandeza. A mediunidade tambm pode ser tida como uma cincia complexa pela multiplicidade dos fen-menos que apresenta, no se submetendo s regras da cincia materialista, mas, sim, condio de cada mdium que por ele se manifesta e aos Esp-ritos que a gerenciam.

    A mediunidade no implica to s o intercmbio com entidades desencarnadas, mas tambm um complexo de fatos e acontecimentos ainda no devidamente estudados e classificados. O nosso Esprito no devemos esquec-lo um repositrio de foras incomensu-rveis, possumos em nossa organizao espiritual poderes mltiplos e ainda, longe nos encontramos de avali-los na sua profundidade 4 (grifo nosso).

    Portanto, muitas so as sutilezas encontradas na fenomenologia medinica, que esto a desafiar os observadores e os estudiosos sinceros.

    Este livro perfectvel, portanto incompleto, por que seu autor tambm o . Os leitores encontraro hiatos de informaes e de anli-ses. Em alguns momentos, acreditem, o hiato acontece por falta de co-nhecimento do autor sobre tal ou qual assunto, mas, de outras vezes, foi escolha economicamente correta, pois o acervo de informaes muito grande e se fez necessrio eleger este ou aquele dado ou aspecto do fe-nmeno, para no tornarmos a obra volumosa demais.

    Na sua primeira parte enfocamos o fato de que a comunicao en-tre os ditos mortos com os ditos vivos um fenmeno natural e en-contradio, e que ocorre desde que o homem implantou-se na crosta pla- 4 PEREIRA, Yvonne do Amaral. Recordaes da mediunidade. "Reminiscncias de vidas passadas", 2013.

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    netria. Fazemos uma caminhada rpida na esteira da Histria, pontuan-do alguns momentos e destacando algumas personalidades que serviro de exemplo da manifestao medinica em suas vrias modalidades e locais. Buscaremos demonstrar que a mediunidade, na busca de sua i-dentidade, teve que enfrentar a rudeza, a superstio, os interesses mes-quinhos, as estratificaes culturais e o orgulho dos homens, cuja maioria sempre agiu no sentido de obscurec-la ou negar-lhe a natureza divina e seu papel de propulsora do progresso do nosso orbe.

    Na segunda parte estudamos conceitos imprescindveis ao acervo intelectual daquele que estuda e pratica a mediunidade, para melhor en-tend-la e obter resultados mais seguros e eficazes. Admitir que devemos estudar sempre exerccio de humildade extremamente necessrio no tocante prtica medinica, onde a prudncia deve norteai a conduta daqueles que dirigem to complexa atividade. Mas, como ter prudncia sem se conhecer o caminho a ser percorrido, suas armadilhas e seus des-vios? Assim, para se praticar a Doutrina Esprita foroso conhecer seus postulados, da mesma forma que a prtica da mediunidade exige o saber de seus fundamentos.

    Finalmente, na ltima parte, catalogamos uma srie de casos e de ensinamentos que nos ajudam a identificar as dificuldades que o inter-cmbio medinico oferece. Esperamos, dessa forma, sensibilizar os leito-res a se munirem de conhecimento e de informaes suficientes para no se deixarem enganar por qualquer Esprito ou se iludirem com os resul-tados do intercmbio medinico sem a devida e criteriosa avaliao com uso do bom senso. Nada pode ser mais temerrio do que a aceitao pas-siva de mensagens medinicas, por mais respeitveis que paream ser os mdiuns e os espritos comunicantes. Aventurar-se no complexo campo da fenomenologia espirtica sem observncia da metodologia recomendada por Kardec, especialmente em O livro dos mdiuns, atitude incompatvel com o perfil do esprita interessado na verdade.

    Os estudiosos e praticantes sinceros do Espiritismo tm o in-declinvel compromisso com a preservao do valiosssimo patrimnio de que so depositrios: a consoladora doutrina do Esprito da Verdade, codificada por Allan Kardec. E em razo disso que o codificador nos alerta: "Se no quisermos ser vtimas de Espritos levianos, preciso saber julg-los; para isso dispomos de um critrio infalvel: o bom senso e a razo".5 5 KARDEC, Allan. Revista Esprita. Fev. 1859. 2009.

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    No final da obra estaremos conversando com o leitor sobre "bom senso" e sobre as recomendaes do codificador. E oportuno lembrar, para conforto daquele que est sempre vigilante na participao e acom-panhamento das prticas medinicas, que ele foi alvo da antipatia de mui-tos mdiuns cujas produes no passavam pelo seu apurado crivo, pois observar, comparar e julgar foi sua regra urea no trato com os Espritos. Arrimemo-nos, pois, no aconselhamento do Esprito Erasto: Melhor repelir dez verdades do que admitir uma nica falsidade, uma s teoria errnea.6

    Aos mdiuns alertamos que no se considerem invulnerveis s investidas do mundo espiritual inferior, pois que a realidade do homem terreno no sugere qualquer laivo de superioridade moral. E, como sa-bemos, a nica autoridade que os espritos inferiores respeitam a de cunho moral. Nossos ttulos e diplomas mundanos, que aqui nos podem dar notoriedade e poder, para nada servem no trato com nossos irmos desencarnados. No bastaro o estudo e o conhecimento das prticas me-dinicas, mas, acima de tudo, a vivncia dos postulados da Doutrina Con-soladora que liberta as conscincias e abre clarinadas de luz na imensa floresta de nossa ignorncia, indicando-nos o caminho da libertao. A humildade virtude que nasce da reflexo madura, fruto no s do conhe-cimento, mas, antes de tudo, do autoconhecimento. Sem humildade, m-diuns ou no, seremos facilmente vitimados pelo assdio dos irmos de-sencarnados de baixo padro evolutivo.

    Certamente, foi cuidando disso que o apstolo Tiago (1:14) nos alertou para o fato de que "cada um tentado, quando atrado e engana-do pela sua prpria imperfeio moral".

    Dito isso, somente nos resta desejar bom aproveitamento da leitu-ra.

    6 Id., O livro dos mdiuns. It. 230, 2013.

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    PRIMEIRA PARTE A MEDIUNIDADE NA BUSCA DE SUA IDENTIDADE

    Misturada magia vulgar, a mediunidade de todos os tempos no mundo. Confundida entre os totens e manitus, nas raas primitivas, alteia- se, gradativamente e surge, suntuosa e complexa, nos templos iniciticos

    dos povos antigos, ou rebaixada e desordenada, entre os magos da praa pblica.7

    Nos perodos mais primitivos da cultura tica da humanidade, a mediunidade exerceu preponderante influncia, porquanto atravs

    dos sensitivos, nominados como feiticeiros, magos, adivinhos e mais tarde orculos, ptons, taumaturgos, todos mdiuns, contribuindo

    decisivamente na formao do cl, da tribo ou da comunidade em desenvolvimento, revelando preciosas lies que fomentavam o

    crescimento do grupo social, impulsionando-o na direo do progresso.8

    7 XAVIER, Francisco Cndido. Mecanismos da mediunidade. Cap. 25, 2013. 8 FRANCO, Divaldo Pereira. Estudos espritas. Cap. 18, "Mediunidade", 2011.

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    CAPTULO 1 HORIZONTES CULTURAIS E MEDIUNIDADE

    O filsofo e jornalista esprita Herculano Pires9 oferece uma teoria antropolgica interessante sobre o surgimento da mediunida-de e sua evoluo, levando em conta os horizontes culturais alcanados pelo ser humano em cada etapa de seu desenvolvimento. A teoria merece ser lem-brada aqui, no s por que ela nos d uma viso de conjunto da fenomeno-logia medinica ao longo do tempo, mas, tambm, com o propsito de convidar o leitor ou a leitora para o estudo da obra em referncia, extre-mamente valiosa para quem busca se informar e entender o Espiritismo e sua importncia para melhor se compreender o progresso espiritual do ser humano.

    1.1 HORIZONTE TRIBAL

    Neste estgio predomina o mediunismo primitivo, ou a mediu-nidade na sua expresso natural. Surge nesse horizonte o totemismo crena baseada no culto a um animal, vegetal ou qualquer objeto tido como ances-tral ou smbolo da tribo ou cl, admitindo-se que uma fora misteriosa im-pregna ou imanta tais objetos ou coisas, podendo atuar sobre as criaturas humanas. Essas foras eram conhecidas pelos nomes polinsios de mana ou orenda. Diz o mestre Herculano que:

    9 Nota do autor: Jos Herculano Pires nasceu na cidade de Avar, no Estado de So Paulo, a 25/09/1914, e desencarnou nessa capital em 09/03/1979. Autor de 81 livros, entre ensaios e romances, de Filosofia, Histria, Psicologia, Pedagogia, Parapsicologia e Espiritismo, vrios em parceria com Chico Xavier, sendo a maioria inteiramente dedicada ao estudo e divulgao da Doutrina Esprita. Destacou-se como um dos mais ativos e consistentes continuadores do Espiritismo no Brasil, traduzindo os escritos de Allan Kardec e escrevendo tanto estudos filosficos quanto obras literrias inspirados na Doutrina Esprita. A maior caracterstica do conjunto de suas obras a luta por demonstrar a consistncia do pensamento esprita e por defender a valorizao dos aspectos crtico e investigativo da proposta sistematizada por Allan Kardec. Em seus ensaios nota-se a preocupao em combater interpretaes e tradues deturpadas das obras de Allan Kardec, inclusive aquelas que surgiram no seio do Movimento Esprita Brasileiro ao longo do sculo XX. Por essa razo o emrito professor Herculano Pires foi considerado pelos seus contemporneos como "O Zelador da Doutrina Esprita", tambm concebido pelo Esprito Emmanuel, o mentor de Chico Xavier, como "O metro que melhor mediu Kardec".

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    Mana ou Orenda no uma fora imaginria, mas uma fora real, concreta, positiva, que se afirma atravs de ampla fe-nomenologia, verificada entre as tribos primitivas, nas mais diversas regies do mundo. Essa fora primitiva corresponde ao ectoplasma de Richet, a fora ou substncia medinica das experincias metapsquicas, cuja ao foi estudada cientificamente por Crawford, professor de mec-nica da Universidade Real de Belfast, na Irlanda.10

    Segundo outros autores, mana poderia ser uma pessoa, objeto ou a-contecimentos inslitos, destinados tanto para o bem quanto para o mal. Um misto de dinmico e demonaco, como potncia invisvel. O mana no est fixo em um objeto determinado, mas os espritos o possuem e podem comunic-lo. Se diz, ainda, que o ato da criao s foi possvel pelo mana da divindade. Tudo o que eficaz possui mana. E uma fora real que provm dos seres superiores. Deus a fonte originria do mana, que se concentra de forma especial no homem.

    1.2 HORIZONTE AGRCOLA Informa Herculano Pires que este perodo se caracteriza pelo de-

    senvolvimento do animismo, ou seja, expresso religiosa do homem pri-mitivo que se caracteriza pela adorao de espritos que residiam em rvo-res, montanhas, poos e fontes sagradas, ou mesmo pedras de forma espe-cial.11 Tem lugar, tambm, nesse horizonte, o culto aos ancestrais, admi-tindo-se que eles estivessem presentes na vida comum de todos. O cultivo da terra c a domesticao dos animais favoreceram o surgimento do seden-tarismo e de uma vida social efetiva. Este fato contribuiu para o aumento demogrfico e o desenvolvimento mental do homem. Nessas primeiras formas sedentrias de vida social, o animismo tribal desenvolve-se racio-nalmente, favorecendo a concepo fetichista que, mais tarde d origem mitologia. A concluso do autor quanto mitologia encontra respaldo na questo 521 de O livro dos espritos, quando Allan Kardec pergunta se podem certos Espritos auxiliar o progresso das artes, protegendo os que a elas se dedicam. E eles respondem:

    10 PIRES, J. Herculano. Mediunidade. Cap. 2, 1964. 11 SCHLESINGER, Hugo; PORTO, Humberto. As religies ontem e hoje. "Animismo", 1982.

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    H Espritos protetores especiais e que assistem os que os invocam, quando dignos dessa assistncia. Que queres, porm, que faam com os que julgam ser o que no so? No lhes cabe fazer que os cegos vejam, nem que os surdos ouam. Os antigos fizeram desses Espritos, divindades especiais. As Musas no eram seno a personi-ficao alegrica dos Espritos protetores das cincias e das artes, como os deuses Lares e Penates simbolizavam os Espritos proteto-res da famlia. Tambm modernamente, as artes, as diferentes inds-trias, as cidades, os pases tm seus patronos, que mais no so do que Espritos superiores, sob vrias designaes (grifo nosso).

    1.3 HORIZONTE CIVILIZADO

    Nesta fase do desenvolvimento humano surge mediunismo oracu-lar nos grandes imprios da Antigidade, as chamadas civilizaes ori-entais. Orculo um termo impreciso, historicamente falando, pois pode-ria ser a sede ou o culto de alguma divindade especial, ou o templo a ele dedicado, a divindade que se supunha fazer as profecias ou mesmo os sacerdotes ou profetas (mdiuns). Destacam-se nesse horizonte os gran-des santurios ou templos, sendo os mais famosos orculos da Antigi-dade: o de Apoio, em Delfos; o de Amon, na Lbia; de Diana, em Col-chis; de Esculpio, em Roma; de Hrcules, em Atenas, e de Vnus, em Pafos. Em todos eles, sem dvida, a mediunidade se manifestava estuante, pela qual os Espritos eram consultados sobre diversos assuntos, desde o mais srio ao mais pueril.12

    1.4 HORIZONTE PROFTICO

    Destaca-se nesse horizonte o mediunismo bblico por excelncia. Nele o profeta apresenta-se como indivduo social, medinico e espiritu-al. Porque faa uso pleno de sua liberdade, surgem os excessos e abusos no intercmbio com as entidades espirituais, caracterizando o indivduo 12 SCHLESINGER, Hugo; PORTO, Humberto. Crenas, seitas e smbolos religiosos. "Orculo", 1983.

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    greco-romano e o profeta hebraico. Entre os hebreus, o mediunismo toma propores considerveis, tendo a Bblia como a fonte mais segura que ns conhecemos de prticas medinicas na antigidade. O denominado povo eleito de Deus fez a sua histria sob a influncia decisiva dos Esp-ritos, denominados, ento, de anjos, sendo supervisionados por lave, sem dvida um Esprito de hierarquia superior. 1.5 HORIZONTE ESPIRITUAL

    Impera, ento, a mediunidade positiva. E nesse estgio que se observa uma transcendncia humana. A mediunidade torna-se um fato de observao e de estudo de todos os que se interessarem pelo problema. Anota o autor que, na Idade Mdia, o fenmeno medinico de possesso sempre tomado como manifestao demonaca ou sagrada, embora saibamos que se tratava de Espritos inferiores ou de esclarecidos desejosos de se manifestar e enta-bular conversao com os circunstantes. O homem, no tendo atingido o horizonte espiritual, no podia conceber que o Esprito comunicante era da sua mesma natureza. Kardec explica, em A gnese porque o Espiritismo s poderia surgir em meados do sculo XIX, depois de longa fermentao dos princpios cristos da Idade Mdia e do desenvolvimento das cincias na Renascena. Escreveu:

    O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do universo, toca forosamente na maioria das cin-cias. S poderia, pois, aparecer, depois da elaborao delas. Nasceu pela fora mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo explicar-se apenas pelas leis da matria.13

    13 KARDEC, Allan. A gnese. Cap. I, it. 18, 2013.

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    CAPTULO 2 DAS CAVERNAS A SOCIEDADE PARISIENSE DE

    ESTUDOS ESPRITAS SPEE

    Nossa inteno, neste captulo, no defender uma tese sobre a his-tria da mediunidade, estabelecendo que ela tenha uma pr-histria, mas sim, fazer um ensaio e, tambm, uma homenagem, sempre merecida e oportuna, ao codificador do Espiritismo e ao O livro dos mdiuns, no superado, at ento, no que diz respeito teoria e prtica da mediunidade. A publicao dessa obra foi uma baliza avanada na histria do intercm-bio do mundo espiritual com o nosso. Antes dela a mediunidade era ape-nas um fenmeno psquico incompreendido e aproveitado, na maioria das vezes, como ferramenta para a consecuo de resultados no dignos de sua natureza. Espero que a leitura convena o leitor do que estamos di-zendo.

    Sem prejuzo da proposta acima resumida do emrito estudioso do Espiritismo, o professor, jornalista e filsofo J. Herculano Pires, na qual ele adota uma abordagem antropolgica para explicar a evoluo da me-diunidade em seu livro O esprito e o tempo, optamos pelo mtodo hist-rico-cronolgico para o mesmo objeto, na esperana de que essa abor-dagem seja de mais fcil assimilao pela maioria dos que adquirirem este livro. Nada obstante, recomendamos a leitura da obra referenciada por ser sui generis e complementar ao nosso esboo sobre a saga da me-diunidade que ora apresentamos.

    De merecida citao, tambm, o trabalho do escritor Licurgo Soa-res de Lacerda Filho intitulado A mediunidade na histria humana, em cinco volumes, que valoriza os aspectos sociais, econmicos, polticos e religiosos da histria, acompanhando a evoluo da mediunidade no con-texto sociopoltico-econmico. Sua leitura acrescentar algo mais ao que apresentamos aqui. Livros como As mulheres mdiuns, de Carlos Bernardo Loureiro; Kardec, irms Fox e outros, de Jorge Rizzini; Anna Prado: a mu-lher que falava com os mortos, de Samuel Nunes Magalhes; A mediuni-dade dos santos, de Clvis Tavares; Mediunidade e sobrevivncia, de Alan Gauld; alm das obras consideradas clssicas escritas por Aksakof, Lombro-so, Flammarion, Delanne, Denis, Zeus Wantuil e outros, com os quais nos desculpamos por no cit-los, so de leitura obrigatria para quem deseja

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    ter uma perspectiva histrica da saga da mediunidade em nosso Planeta.

    2.1 O HOMO ERECTUS, MDIUM DE EFEITOS FSICOS

    Homo erectus uma espcie extinta de homindeo que viveu entre 1,8 milhes de anos e 500 mil anos atrs, quando predominava em vrias partes do globo a chamada era glacial, tambm conhecida como Pleisto-ceno. Nossos ancestrais homindeos moravam em cavernas, produziam e usavam ferramentas como o machado de mo. Foram, provavelmente, os primeiros a usar o fogo e sabe-se, pelos fsseis encontrados, que migraram do continente africano para diversas regies do Planeta. Sua alimentao era de vegetais, frutas, folhas, razes e animais. O mais antigo "documen-to" que atesta a utilizao do fogo data, aproximadamente, de 600.000.

    O homem pr-histrico j se comportava como um ser dotado de inteligncia e de imaginao. Quanto atividade do inconsciente sonhos, fantasias, vises, fabulaes etc. , presume-se que ela no se distinguia, a no ser pela sua identidade e amplido, daquela que se encontra entre nossos contemporneos.14

    Admite-se que o Homo erectus vivenciou experincias me-dinicas intensas de ectoplasmia onde se evidenciavam efeitos fsicos promovidos, geralmente, por Espritos ainda ligados s sensaes materiais. mediuni-dade de efeitos fsicos se somaram as percepes dos fenmenos de efeitos inteligentes, como desdobramento, os sonhos medinicos em que ele entrava em contato com amigos e parentes que viviam no mundo dos Espritos, e tambm com Espritos protetores do seu grupo, que lhes ins-piravam, sem dvida, de como suprir suas necessidades bsicas.15

    2.2 O HOMEM DE NEANDERTHAL E O 14 ELIADE, Mircea. Histria das crenas e das idias religiosas. Cap. l (tomo I), 1978 15 ARGOLLO, Djalma, A trajetria evolutiva do ser. Cap. l, "A primeira revoluo medinica", 2000.

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    ZELO PELOS MORTOS

    A Histria oficial registra que o perodo denominado Paleolti-co ou Idade da pedra o segundo mais primitivo estgio da evoluo hu-mana. Esse perodo dividido em duas fases: Paleoltico inferior e Paleol-tico superior. Durante a primeira fase (500.000 a 30.000 a. C.), o homem morava em cavernas, era bastante rude e vivia da caa e da pesca, usando como armas as mos, os dentes e pedaos de rocha. Formavam eles uma populao nmade e, por essa razo, no havia uma constelao familiar e, consequentemente, seus membros no se organizavam em grupos sociais. A comunicao se fazia por meio de um vocabulrio bastante limitado, mas favoreceu, mesmo assim, a transmisso de sua cultura material, suge-rindo-nos, esse fato, a existncia de raciocnio e de pensamento contnuo naquele nosso antepassado. O prottipo humano desse perodo o Ho-mem de Neandertal, assim chamado pelo fato de seus fsseis serem encon-trados no Vale de Neander, na Alemanha, em 1856.

    Dentre todos os costumes dos neandertais, aquele que maior curio-sidade despertou nos pesquisadores foi, sem dvida alguma, o fato de eles terem sido os primeiros a enterrarem seus mortos. As escavaes arqueolgicas confirmam que o neandertalense tinha preocupaes com seus defuntos, enterrando-os com seus adereos e ferramentas, levando-nos a inferir que acreditasse numa vida aps a morte do corpo fsico. So-bre o neandertalense, relata o eminente historiador ingls Burns:16

    Maior significao pode ser emprestada prtica neanderthalense de dispensar cuidados aos defuntos, enterrando-os em sepultura rasa junto com utenslios e outros objetos de valor. Isso indica, tal-vez, o desenvolver-se de um sentimento religioso, ou pelo menos a crena em alguma espcie de sobrevivncia depois da morte (grifo nosso).

    O emrito historiador utiliza o termo talvez para, quem sabe, no se comprometer com afirmao de conhecimento que no fazia parte do seu credo... No entanto, os Espritos nos do a segurana da qual o respeit-

    16 BURNS, Edward McNall. Histria da civilizao ocidental. Cap. l, 1954. 17

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    vel historiador britnico no possua, em relao ao sentimento religioso e a crena na vida alm da morte fsica, informando-nos sobre o intercm-bio medinico j praticado entre eles:

    [...] no seio das raasprimignias, em seus remotssimos agru-pamentos, o culto dos mortos atinge propores espantosas. Inme-ras eram as tribos que se entregavam s invocaes dos traspassados, por meio de encantamentos e de cerimnias de magia17 (grifo nosso).

    Relata Campos18 que na caverna de Shanidar, ao norte do Iraque, foi encontrado um esqueleto em posio fetal juntamente com plantas da regio e chegou-se concluso que o indivduo havia sido enterrado com diversas variedades de flores, colocadas cuidadosamente junto do corpo, inferindo-se que o costume humano de colocar flores no tmulo do morto j era praticado h 50 mil anos e que devemos essa pratica aos neanderta-lenses.

    Eliade,19 notvel historiador das religies admite que:

    Afortiori, a crena na imortalidade confirmada pelas sepulturas; de outra forma no se compreenderia o trabalho empregado para enterrar os corpos. Essa imortalidade poderia ser exclusivamente "espiritual", isto , concebida pela apario dos mortos nos so-nhos. Mas pode-se tambm interpretar certas sepulturas como uma precauo contra o eventual retorno do morto; nesses casos, os cadveres eram dobrados e talvez amarrados. Por outro lado, nada impede que a posio curvada do morto, longe de denunciar o me-do de "cadveres vivos" (medo atestado em alguns povos), signifi-que, ao contrrio, a esperana de um "renascimento"; conhecem-se, com efeito, vrios casos de inumao intencional em posio fe-tal.

    2.3 O HOMEM DE CRO-MAGNON E A CRENA NA VIDA FUTURA

    17 XAVIER, Francisco Cndido. Emmanuel. Cap. 15, "A idia da imortalidade", 2013. 18 CAMPOS, Pedro de. Colnia Capella: a outra face de Ado. Cap. 18, 2005. 19 ELIADE, Mircea. Histria das crenas e das idias religiosas. Cap. l, It. 3,1978.

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    A segunda e ltima fase da Idade da Pedra calculada entre 30.000 a 10.000 anos antes de Cristo. Durante os ltimos 25.000 anos desse perodo desenvolveu-se um tipo humano que foi apelidado de Ho-mem de Cro-Magnon, pois seu fssil foi encontrado na caverna de mesmo nome, em Dordogne, na Frana. Sua superioridade mental considervel em relao ao homem de Neanderthal. Vestia--se com peles de animais costuradas, sendo-lhe creditada, portanto, a inveno da agulha de costu-rar! Adornava-se e cozinhava, pois j conhecia o fogo, e vivia em grupos seminmades. O homem desse perodo avanou consideravelmente no entendimento da vida alm da vida. Acompanhemos, mais uma vez, o testemunho abalizado do citado historiador ingls:

    [...] existem provas suficientes de que o homem de Cro-Magnon tinha idias muito evoludas sobre um mundo de foras invisveis. Dispensava mais cuidados aos corpos dos defuntos do que o homem de Neanderthal, pintando os cadveres, cruzando-lhes os braos sobre o peito e depositando, nas sepulturas, pingen-tes, colares e armas e instrumentos ricamente lavrados. Formulou um complicado sistema de magia simptica,20 destinado a aumentar a sua proviso de alimentos. Baseia-se a magia simptica no princ-pio de que, se imitarmos um resultado desejado, produziremos au-tomaticamente esse resultado.21

    Aprenderam a cultivar o solo e nele se fixaram, surgindo a famlia e a diviso social gerada pela riqueza de algumas tribos e pela intelectualidade de outras, sobressaindo a classe dos artistas que se destacam na pintura rupestre. ainda Burns (1954, p. 13) quem nos ensina:

    A suprema realizao do homem de Cro-Magnon foi a sua arte realizao to original e resplandecente que deveria ser includa en-tre as Sete Maravilhas do Mundo. Nada ilustra to bem como esse fato o grande abismo cavado entre a cultura do Paleoltico Superior e tudo quanto a precedeu. [...] Tanto a escultura como a pintura, o

    20 Nota do autor: Crena pela qual pode se obter determinados resultados materiais e mesmo

    psicolgicos realizando procedimentos que representem aquilo que se deseja alcanar como, por exemplo, desenhando, recitando frmulas, produzindo bonecos etc.

    21 BURNS, Edward McNall. Histria da civilizao ocidental. Cap. l, It. 2, 1954. 22

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    entalhe e gravao so representados.

    Obedecendo ao progresso mental e usando mais disciplinadamente o pensamento, o homem pr-histrico consolidou o processo de troca de informaes com o mundo espiritual por meios intuitivos, materializan-do-se o intercmbio pela arte dos desenhos primitivos e pelos ideogramas lapidados nas paredes das grutas em lugares de difcil acesso e imprprios para a atuao de qualquer artista em condies fsicas e psquicas nor-mais.

    Sabe-se que o artista Cro-Magnon era considerado um mgico com a misso de promover o xito do caador. Acreditavam seus companheiros que a sobrevivncia da comunidade dependia de sua competncia, por isso, enquanto os demais saiam para a caa, ele se isolava e pintava os animais a serem caados, representado eles j fle-chados ou lancetados, nas paredes da caverna (pinturas rupestres).

    O curioso que suas melhores pinturas e desenhos foram feitos nas paredes e nos tetos dos locais mais escuros das cavernas. A luz na-tural era inacessvel queles ambientes e o resultado da produo ar-tstica era admirvel, possuda de contornos delicados, com jogo de luz e sombra, dando a sensao de profundidade. E razovel admitir que o artista mgico para no dizer mdium , estivesse em transe. Refora a nossa tese o pesquisador das prticas religiosas.22

    Como as pinturas se encontram bastante longe da entrada [das cavernas], os exploradores so unnimes em considerar as grutas uma espcie de santurio. Por outro lado, muitas dessas cavernas e-ram inabitveis, e as dificuldades de acesso reforam o seu carter numinoso23 (o primeiro grifo nosso; o segundo, do autor).

    No ser exagero admitir que o artista das cavernas estivesse em transe medinico no momento de seu trabalho, sendo conduzido por en-tidades espirituais, o que lhe facilitava o uso de rsticos instrumentos

    22 ELIADE, Mircea. Histria das crenas e das idias religiosas. 1978 22 Nota do autor: Influenciado, inspirado pelas qualidades transcendentais da divindade, segundo o

    dicionrio de Houaiss. Rudolf Otto (1869-1927), telogo e filsofo alemo, define numinoso como "sentimento nico vivido na experincia religiosa, a experincia do sagrado [...]", conforme registra o dicionarista Aurlio.

    23

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    em ambiente inspito. Expressava-se o mdium-pintor usando a fora da mente no ritual da simpatia para alcanar o que deseja, criando for-mas-pensamento para auxiliar seus parceiros na caa. Tais prticas so indcios inquestionveis da familiaridade do homem de Cro-Magnon com as virtudes da mediunidade e com intercmbio com entidades es-pirituais, responsveis pelo seu progresso anmico, fsico, social e eco-nmico. Com relao ao transe e o intercmbio medinico praticado pelo homem das cavernas, , ainda, Eliade24 que muito contribui com nossa tese, ao falar de suas concluses a respeito:

    Mas, conforme j observamos, o xtase de tipo xamnico25 parece atestado no Paleoltico. Isso implica, por outro lado, a crena numa "alma" capaz de abandonar o corpo e de viajar livremente no mun-do e, por outro lado, a convico de que, numa tal viagem, a alma pode encontrar certos seres sobre-humanos e pedir-lhes ajuda ou bno. O xtase xamnico implica, alm disso, a possibilidade de "possuir", isto , de penetrar nos corpos dos humanos, e tambm de "ser possudo" pela alma de um morto [...].

    A histria e a literatura esprita nos levam a crer que os antro-poides das cavernas sofreram as influncias espirituais, formando os prdromos das raas futuras e que, tambm, as entidades espirituais os auxiliaram na sua melhoria fsica. Refora esta concluso o Esprito Andr Luiz ensinando que a criatura humana quando se iniciou na produo do pensamento contnuo, teve o sonho como mola propul-sora da mediunidade, porque durante os momentos de desprendi-mento do corpo fsico, ela entrava em contato com entidades espi-rituais, cujos ensinamentos lhe serviam para ampliar a sua viso de mundo26. medida que os nossos ancestrais conquistavam conheci-mento e sabedoria e aprimoravam suas auras antecmara que se presta a recepcionar as entidades espirituais que nos rodeiam , colocavam-se eles, de forma inconsciente, em comunho com os 24 ELIADE, Mircea. Histria das crenas e das idias religiosas. Cap. l, It. 7, 1978 24 Nota do autor: Xamanismo a prtica de evocaes e exorcismo. Rene um misto de teologismo,

    ritualismo e feitiaria, sendo praticado por populaes inteiras da sia Central. No Tibete, aparece mesclado de budismo inferior, e o prprio lamasmo pode ser considerado uma das suas formas. Na origem do xamanismo est a crena radical na perenidade da alma (SCHLESINGER; PORTO, 1982).

    25 26 XAVIER, Francisco Cndido. Evoluo em dois mundos. Cap. 17, 2013.

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    desencarnados afins, recebendo-lhes as intuies e inspiraes para o aprimoramento das atividades concernentes as suas necessidades primrias, treinando-lhes o raciocnio e uso correto do livre-arbtrio.

    Diante do que acabamos de estudar, podemos concluir que na pr-histria despontou a atividade medinica como instrumento fundamental destinado ao intercmbio entre encarnados e desencar-nados, de forma a promover o progresso daquela parcela da humani-dade nos segmentos material, moral e espiritual. Foi a mediunidade incipiente dos primitivos homens das cavernas que gerou a crena na imortalidade e os elementos bsicos da magia e da religio. Dos m-diuns primitivos nasceram os xams, pajs, feiticeiros e sacerdotes de todos os cultos conhecidos ou j desaparecidos.

    2.4 O XAMANISMO

    Merece um espao s seu esse personagem que encontramos no meio dos mais primitivos povos estudados pela Antropologia e cincias religiosas, o xam, espcie de feiticeiro, de mgico. Mas, na verdade, antes de tudo, um mdium exttico, que absorve conhecimentos nas viagens espirituais que realiza e usa seus poderes entre seu povo, essencialmente no alvio dos seus males.

    Como intermedirios entre o mundo dos espritos e o povo, afir-mam [os xams] manter contato direto com espritos, sejam eles de pessoas vivas, ou de plantas, animais e outros elementos do meio ambiente, com os "espritos-mestres" (espritos, por exem-plo, de rios e montanhas) ou ainda os "fantasmas" dos mortos.27

    Na origem do xamanismo est a crena radical na perenidade da alma. Para o crente dessa religio, todos os seus antepassados, ainda que impalpveis, continuam vivendo num mundo parte. Segundo os pra-ticantes do xamanismo, qualquer um entra em contato com o seu an-tepassado, servindo-se do xama ou, diretamente, pelo toque de um tambor, que provoca um estado de insensibilidade exttica. O xama-

    27 HINNELLS, John R. Dicionrio das religies. 1995. 28

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    nismo vem da mais remota antigidade, pois vigorou entre os sumrios, acdios assrios e babilnicos, j sendo praticado, indubitavelmente, entre seus antepassados, os homens das cavernas.

    Eliade28 relata um fato muito interessante que fortalece a proposta do xamanismo nas cavernas, como uma das formas de se praticar a medi-unidade. Diz ele:

    Ao se descobrir a famosa pintura na caverna de Lascaux, onde se v um biso ferido, apontando os chifres para um homem aparente-mente morto, deitado no cho e, sua arma, espcie de chuo muni-do de gancho, est apoiada contra o ventre do animal; perto do homem (cuja cabea termina num bico), v-se um pssaro empo-leirado numa vara comprida. A cena tem sido geralmente interpre-tada como a ilustrao de um "acidente de caa". Porm, em 1950, Horst Kirchner props ver nela uma sesso xamnica: o homem no estaria morto, mas em transe diante do biso sacrificado, en-quanto a sua alma viajaria no alm. O pssaro sobre a vara, motivo especfico ao xamanismo siberiano, seria o seu esprito protetor. Segundo Kirchner, a "sesso" era realizada a fim de que o xam se dirigisse, em xtase, para perto dos deuses e lhes pedisse a bno, isto , o sucesso da caada.

    Essas informaes reforam, consideravelmente, a tese sustentada pelos Espritos superiores de que a mediunidade de todos os tempos e lugares. Mesmo sendo praticada de forma espontnea e indisciplinada co-locou-se, mesmo assim, pela misericrdia do Criador, a servio do progres-so do homem e como meio para haurir recursos do plano maior no alvio as suas dores.

    29 ELIADE, Mircea. Histria das crenas e das idias religiosas. Cap. l, It. 5, 1978. 30

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    CAPTULO 3 A MEDIUNIDADE FORA DAS CAVERNAS

    3.1 A MEDIUNIDADE COMO DOM DOS DEUSES

    A partir da inveno da escrita, por volta de 4.000 a. C, tem incio a Idade Antiga, que vai at o ano 476 da Era Crist, com o fim do Imprio Romano, ocasionado pela invaso dos povos brbaros. Na fase que per-meia o fim da pr-histria e o incio da histria, constata-se um consider-vel avano intelectual, moral e material, em obedincia inexorvel lei do progresso. Em plena Antigidade histrica, os homens oriundos da pr-histria ampliaram sua viso de mundo, tornaram-se mais hbeis e inteli-gentes, sentindo a necessidade de se organizarem em grupos. Uns se apri-moraram no amanho da terra e no pastoreio de animais domsticos; outros se dedicaram s prticas artesanais, construindo artefatos e ferramentas; muitos se voltaram para as guerras, vivendo de saques. De nmade passa-ram a seminmades e depois a sedentrios. Os homens fixados na terra por tempo indeterminado, favoreceram o surgimento do grupo familiar, pois a permanncia de homens e mulheres juntos criou laos de afetividade e a procriao foi tida como de responsabilidade dos dois. A nao, grupo de indivduos estabelecidos num territrio, ligados por laos histricos, cultu-rais, econmicos e lingsticos cresce e surgem nela os estratos sociais, destacando-se, uns pela riqueza acumulada em razo do trabalho ou dos saques de guerras; outros, pelas virtudes do conhecimento e cultivo das artes. Destacam-se no meio social os detentores de faculdades extrassenso-riais, ou sejam, os mdiuns, sendo, naturalmente, desconhecida a natureza daquela faculdade, suas leis e finalidades. Entre os extrassensoriais estavam os artistas, curandeiros, adivinhos, feiticeiros etc., tidos como pessoas especi-ais, com dons divinos. Com relao ao artista o Esprito Emmanuel afirma que:

    O artista verdadeiro sempre o "mdium" das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas vibrteis do sentimento humano, alando-o da Terra para o infinito e abrindo, em todos os caminhos, a nsia dos coraes para Deus, nas suas manifestaes supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor. [...] O artista, de um modo geral, vive quase sempre mais na esfera espiritual que propriamente no plano terrestre. Seu psiquismo

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    sempre a resultante do seu mundo ntimo, cheio de recordaes in-finitas das existncias passadas, ou das vises sublimes que conse-guiu apreender nos crculos de vida espiritual, antes da sua reen-carnao no mundo.29

    Consultando-se a histria das religies, sabe-se que entre aquelas pessoas tidas como privilegiadas pelos deuses muitas faziam revelaes, previam o futuro e praticavam curas e, por isso as denominaes acima. O feiticeiro reunia, muitas vezes, as funes de sacerdote e as de mdico, pois a natureza misteriosa das doenas fazia supor a existncia de causas sobrenaturais. A suposio no era nenhuma crena sem fundamento: sabemos que muitas enfermidades se manifestam no corpo fsico bem depois de estarem fixadas no perisprito, em razo da mente doentia ou de aes obsessivas do Esprito vingativo sobre sua vtima. O doutor feiticeiro desafiava o "demnio" com gritos, gestos e mscaras na ten-tativa de venc-lo por intimidao... Sabemos, hoje, que todos os reali-zadores de feitos ditos "extraordinrios" eram, nada mais, nada menos que mdiuns, conforme nominou-os Allan Kardec em O livro dos m-diuns. So as pessoas diferenciadas pela alta sensibilidade psquica que, quando em transe, permite a conexo entre os dois planos da vida, passando a interpretar, segundo seu entendimento, o que os Espritos lhes inspiram, promovendo-se, dessa forma, o intercmbio medinico. Por ser a mediunidade mal entendida por aqueles grupos sociais primitivos, consideravam-na como sendo um dom divino, uma con-cesso dos deuses a um dos seus filhos, tornando-o um ser especial. Em razo dessa concepo distorcida da mediunidade ocorrem, ainda hoje, muitas comunicaes de Espritos, sem que se questione se o Es-prito de Deus (I Joo 4:1), sendo seus ensinamentos aceitos e divulga-dos sem uma avaliao criteriosa embasada no bom senso, porque se admite que o mdium seja uma pessoa infalvel pela faculdade que possui.

    29 XAVIER, Francisco Cndido. O consolador. Q. 161 e 165, 2013.

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    3.2 A MEDIUNIDADE ESTATIZADA DA NDIA

    Na ndia, bero de todas as religies da humanidade, as reve-laes de Brahma deram origem ao Hindusmo, principal religio da maioria dos hindus. O Hindusmo se caracteriza pelo reconhecimento da autoridade dos Vedas, conjunto de livros datado de aproxima-damente 1.500 a. C. Com relao a essa antigidade, o Esprito Em-manuel, referindo-se aos Espritos degredados do sistema de Capela, diz que aqueles que se agruparam s margens do Ganges e formaram as organizaes hindus so de origem anterior prpria civilizao e-gpcia e que antecederam de muito os agrupamentos israelitas, de onde sairiam mais tarde personalidades notveis, como Abrao e Moiss.

    Os textos literrios, sobre os quais se fundamenta o conjunto das concepes hindustas foram compostos em poca muito antiga e

    transmitidos pela tradio oral durante um perodo inacreditavelmente lon-go, antes de serem escritos, compondo o livro Veda, palavra snscrita que significa, em particular, conhecimento sagrado.30

    Sobre o carter religioso dos indianos daquela poca, informa-nos o Esprito Emmanuel que:

    Na ndia, identificamos o culto da sabedoria. Instrutores eminentes a ensinam que a bondade deve ser a raiz de nossas relaes com os seme-lhantes, que as nossas virtudes e vcios so as foras que nos seguiro alm do tmulo, propagando-se abenoadas lies de aperfeioamento moral e compreenso humana; entretanto, o esprito das castas a sufo-cou os santurios, impedindo a desejvel extenso dos benefcios espiri-tuais aos crculos dos povos.31

    Os sacerdotes faziam mistrio sobre as prticas medinicas que realizavam, no estendendo ao povo os benefcios espirituais que delas advinham. Entre os brmanes, a prtica da evocao dos mortos era a base de suas liturgias nos templos, pois sabiam que o homem no era apenas o corpo. Era no sacrifcio do fogo que se resumia todo o culto vdico. E nos Vedas lemos, sobre a certeza da presena dos Espritos nas suas prticas msticas: 30 HINNELLS, John R. Dicionrio das religies. 1995. 31 XAVIER, Francisco Cndido. Roteiro. Cap. 12, 2012. 32

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    Enquanto se cumpre o sacrifcio, os Assouras ou espritos superio-res, e os Pitris ou almas dos antepassados cercam os assistentes e se associam as suas preces.32

    Quanto noo de alma e da sua sobrevivncia existe desde os mais antigos textos, sob uma forma muito embrionria, e s se desen-volver a partir do upanixade texto filosfico produzido entre os scu-los VIII e IV a. C, que trata da relao entre Atman33 e Brama34 Essa noo primitiva est ligada ao problema da morte, j que a sobrevivncia da alma admitida como natural, abrindo-se trs vias aos defuntos: uni-rem-se s guas e s plantas; viverem em paz num reino dirigido por lama, o primeiro morto, ou ainda, viverem entre si, parte de tudo e de todos. Para os indianos da poca dos faras a alma sobrevivia morte do corpo fsico e conservava sua individualidade at o seu retorno carne. A evocao dos mortos somente poderia ser feita pelos brmanes sacer-dotes que oficiavam os sacrifcios do Veda , dos diversos graus ou pelos faquires. Enquanto todos esses conhecimentos eram propriedades dessas classes privilegiadas, o povo somente recebia as meias-verdades das revelaes espirituais, favorecendo o surgimento de supersties que o historiador Aymard registrou em suas pesquisas:

    [...] s prticas religiosas acrescentam-se as prticas mgicas [...] esta magia concerne a todos os atos importantes da vida, cons-truo da casa, escolha da esposa, ao domnio do amor conju-gai, abundncia e sade do gado, ao xito do jogo, no comr-cio, vitria na luta etc. [...] A adivinhao amplamente prati-cada, lanando mo do sonho, dos sinais astrolgicos, dos que se podem distinguir no curso do sacrifcio (direo da fumaa do fogo, movimento da vtima sacrificada).35

    Ensina-nos Allan Kardec que uma idia s supersticiosa quando

    33 GRANJA, Pedro. Afinal, quem somos. Cap. l, 1982. 33 Nota do autor: Alma que tudo penetra e envolve e por largo tempo passa por inmeras trans-formaes. A Atman individual est aprisionada na matria para se aperfeioar. (SCHLESINGER; PORTO, 1982). 34 Nota do autor: o esprito nico que existe por si, pai e senhor de todas as criaturas. De sua subs-tncia brotaram as guas da vida. (SCHLESINGER; PORTO, 1982). 35 AYMARD, A.; AUBOYER, J. Histria geral das civilizaes. Cap. 2 (tomo 1), It. 5, 1965. 36

  • 31

    falsa; cessa de o ser desde que passe a ser uma verdade reconhecida. Mas essa verdade no foi repassada pelos sacerdotes brmanes ao povo simples e vido de crer nas foras espirituais que sempre existiram. No entanto, eles, iniciados nas prticas espritas, preparavam alguns indivduos que eram chamados faquires (mdiuns) para a obteno dos mais notveis fenme-nos medinicos, tais como a levitao, o estado sonamblico at o nvel de xtase, a insensibilidade hipntica dor, entre outros, alm do treino para a evocao dos Pitris (Espritos). Sobre esses faquires, informa Gibi-er36 que, quando indagados sobre como realizavam os fenmenos de levi-tao, transporte de objetos, materializao de mortos, curas e outros, respondiam:

    Os Espritos, dizem eles, que so almas de nossos antepassados (Pi-tris), servem-se de ns como de uma instrumento; emprestamos-lhes o nosso fluido natural para combin-los com o seu, e, por es-ta mistura, constitui-se um corpo fludico, com cujo auxlio eles operam sobre a matria conforme vistes.

    Podemos concluir nossos comentrios sobre a mediunidade estati-zada na ndia com a sabedoria de Emmanuel.

    E o que de admirar-se que nenhum povo da Terra tem mais conhecimentos, acerca da reencarnao, do que o hindu, ciente dessa verdade sagrada desde os primrdios da sua organizao nes-te mundo. [...] Nos bastidores da civilizao, somos compelidos a reconhecer que a ndia foi a matriz de todas as filosofias e religi-es da humanidade, inclusive do materialismo, que nasceu na esco-la dos charvakas?37

    36 GIBIER, Paul. O espiritismo: faquirismo ocidental. Cap. 6, 2002. 37 37 XAVIER, Francisco Cndido. A caminho da luz. Cap. 5, 2013. 38

  • 32

    3.3 A MEDIUNIDADE SACERDOTAL DO ANTIGO EGITO

    Os antigos egpcios acreditavam na imortalidade da alma, nas re-compensas e castigos numa outra vida, e na reencarnaao. Tinham constan-te preocupao a respeito da vida depois da morte corporal; a sua vida era um incessante esforo para bem morrer. No era suficiente que o morto so-brevivesse, necessrio era que fosse feliz no outro mundo.

    Desde os tempos pr-histricos colocavam-se, na tumba, alimentos e adornos, colares de prolas, objetos de "toilette" esculpidos em marfim. Pem-se figurinhas esculpidas em relevo: mulheres ves-tidas ou nuas servindo de concubinas, escravos; uchebti, isto , fi-adores que servem de substitutos do morto, se alguma divindade severa dele exigir duros trabalhos38 (grifo nosso).

    Como vimos afirmando, j entre os nossos ancestrais das cavernas, a certeza da imortalidade era comum e, consequentemente, a comunica-o entre os desencarnados se davam por fora da convivncia entre os dois mundos, tal como sempre foi.

    Os egpcios conheciam as cincias psquicas, o destino das almas no mundo invisvel. Em todas estas coisas, naturalmente, s os altos ini-ciados possuam conhecimentos claros; o povo, em geral, contentava-se com lendas, smbolos e, principalmente, com pomposas festas. Por isso, no estudo do sistema religioso dos antigos egpcios temos de distinguir entre a religio do povo e a dos sacerdotes, tal como na ndia. Os sacerdotes e-gpcios eram monotestas, adoravam um s Deus, do qual tinham idias espiritualistas, mas revelavam esta verdade somente aos iniciados, aptos para compreend-la. L-se nos livros sagrados dos antigos egpcios: "As nossas mos no podem toc-lo. Tudo que existe est em seu seio". Mas o povo era induzido ao politesmo, por que acreditavam os sacerdotes que ele seria incapaz de compreender a verdade, embora ensinassem que o Sol era a manifestao de Deus. Encontra-se escrito em um dos papiros que "Deus se esconde na pupila do astro-rei e irradia por seu olho luminoso".

    38 CHALLAYE, Flicien. Pequena histria das grandes religies. Cap. 3,1962.

  • 33

    O alto sacerdcio era espiritualista e compreendia que as di-vindades adoradas pelo povo ignorante apenas representavam as foras naturais. Para ocupar o lugar do alto sacerdcio, porm, era necessrio ser iniciado nos Mistrios, o que exigia provas rigorosas e estudos prolongados por muitos anos. S os iniciados nos pri-meiros graus e os sacerdotes simples sacrificavam aos deuses. Os que haviam passado por todos os graus de iniciao faziam parte do corpo sacerdotal cientfico; viviam plenamente para a cincia e tratavam dos assuntos mais importantes para a vida espiritual e material dos egpcios. Os iniciados no podiam nunca e a ningum revelavam os conhecimentos adquiridos nos Mistrios; as desco-bertas filosficas e cientficas ficavam nos santurios; o povo recebia apenas os resultados prticos, porque, na opinio dos sacerdotes, no possua inteligncia suficiente para compreender os ensinos iniciticos. Os antigos egpcios acreditavam na imortalidade da alma, nas recompensas e castigos numa outra vida, e na reencarna-o [...] Conheciam as cincias psquicas, o destino das almas no mundo invisvel, e a comunicao entre os encarnados e os desen-carnados. [...]; o povo em geral, contentava-se com lendas, smbo-los e, principalmente, com as pomposas festas.39

    Os historiadores esto de acordo em atribuir aos sacerdotes do antigo Egito poderes que pareciam sobrenaturais e misteriosos. Os magos dos faras realizavam os mesmos prodgios que so referidos na Bblia, os quais foram praticados por Moiss, que no Egito se iniciou convivendo com os magos e absorvendo-lhes os conhecimentos. Em razo dos poderes medinicos que eram misturados maliciosamente com prticas mgicas e de prestidigitao, os sacerdotes do antigo Egito eram considerados pessoas sobrenaturais. O conhecimento cientfico deles ultrapassava, em alguns aspectos, a cincia atual, pois conheci-am o magnetismo, o sonambulismo, curavam pelo sono induzido, usa-vam a clarividncia com fins teraputicos e eram clebres pelas prticas de curas hipnticas. No obstante usarem a mediunidade um tanto distanciada dos valores ticos que hoje conhecemos, diz o mentor de Chico Xavier:

    39 LORENZ, F. V. A voz do antigo Egito. Cap. 10, 2008.

  • 34

    Dentre os Espritos degredados na Terra, os que constituram a ci-vilizao egpcia foram os que mais se destacavam na prtica do bem e no culto da verdade. [...] Um nico desejo os animava, que era trabalhar devotadamente para regressar, um dia, aos seus pena-tes resplandecentes. Uma saudade torturante do cu foi a base de todas as suas organizaes religiosas. Em nenhuma civilizao da Terra o culto da morte foi to altamente desenvolvido.40

    3.3.1 O livro dos mortos

    Cabe um destaque sobre uma obra magnfica que por si s revela o quanto os egpcios tinham contatos permanentes com o mundo espiritual, acreditavam na lei de causa e efeito e, consequentemente, no julgamento dos seus atos na vida material aps a desencarnaao. O texto foi desco-berto quatro anos aps a campanha do Egito da Frana, levada a efeito por Napoleo Bonaparte, entre 1798 a 1801. Trata-se do Papyrus Cadet, feito durante a dinastia de Ptolomeu. Esse achado foi traduzido pelo egip-tlogo Karl Richard Lepsius, ficando conhecido aquele papiro pelo nome de O livro dos mortos. Ele uma coletnea de vrios hinos, oraes e invocaes que os egpcios escreviam nas paredes dos tmulos, esquifes e esteias, papilos e amuletos funerrios, com o fito de assegurar o bem-estar de seus mortos no mundo do alm. Nele h ensinamentos destinados a encaminhar a alma na sua vida pstuma e como se preparar para a ascen-so espiritual pelas iniciaes.

    Challaye41 destaca algumas confisses negativas que o morto deve pronunciar diante do tribunal de Osris, deixando, de forma irrefutvel, que os ensinamentos do Governador do nosso Planeta sempre foram aos homens revelados, mesmo antes de sua vinda Terra na personalidade de Jesus. Seno, vejamos:

    1. No fiz, perfidamente, mal a qualquer homem. 2. No tornei meus prximos infelizes. 3. No cometi vilanias na morada da verdade. 4. No tive convivncia com o mal. 5. No cometi mal algum.

    6. No fiz, como patro, algum trabalhar alm da sua tarefa. 40 XAVIER, Francisco Cndido. A caminho da luz. Cap. 4, 2013 41 CHALLAYE, Flicien. Pequena histria das grandes religies. Cap. 3,1962.

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    7. No houve, por minha causa, nem medrosos, nem pobres, nem sofredores, nem infelizes.

    8. Jamais fiz o que os deuses detestam. 9. No consenti que o senhor maltratasse o escravo. 10. No fiz algum passar fome. 11. No causei lgrimas. 12. No matei. 13. No ordenei a morte traio. 14. No menti a nenhum homem. 15. No pilhei as provises dos templos. 16. No diminu as substncias consagradas aos deuses. 17. No furtei os pes nem as faixas das mmias. 18. No forniquei. 19. No cometi atos vergonhosos com sacerdotes do meu

    distrito religioso. 20. No encareci os fornecimentos, nem os diminu. 21. No exerci presso sobre os pesos da balana. 22. No fraudei nem mesmo o peso da balana. 23. No tirei o leite da boca dos lactentes. 24. No roubei animais das pastagens. 25. No engaiolei as aves dos deuses. 26. No pesquei peixe putrefato. 27. No recusei a aceitar a gua na poca das enchentes. 28. No desviei gua de um canal. 29. No apaguei a chama (dos templos) na sua hora. 30. No fraudei as oferendas dos deuses. 31. No repeli os animais de propriedade divina. 32. No opus obstculo a um deus em fuga. 33. Sou puro, puro, puro.

    Depois da confisso, o morto colocava seu corao em uma balana,

    tendo a verdade por contrapeso. O deus Toth registra o resultado. A alma que mentiu supliciada. A alma que disse a verdade "justificada" e entra para o mundo dos bem-aventurados.

    No se pode esquecer, ao ler essas confisses, que a poca em que foram escritas os israelitas viviam no Egito e, por essa razo, no deve-mos nos espantar de as mesmas idias, e at mesmo as mesmas palavras

  • 36

    serem encontradas no Declogo que Moiss ensinou ao seu povo, dizen-do-se mensageiro de Jeov.

    3.4 O CULTO AOS MORTOS NA ANTIGIDADE CLSSICA

    De acordo com as mais antigas crenas dos povos primitivos das pennsulas gregas e itlicas, as almas dos mortos no iam para um mundo diferente do nosso: continuavam junto dos homens, vivendo sobre a terra ou debaixo dela. A expresso, at hoje adotada por alguns na hora do sepultamento, que a terra lhe seja leve, era a certeza de que a criatura con-tinuava sobre o solo, conservando a sensao de bem-estar ou de sofri-mento, conforme tivesse sido o seu modo de viver e seu servio prestado humanidade e aos deuses.42 A certeza de que o morto continuava entre ns, com as mesmas necessidades dos vivos, se confirmava pela colocao de vestidos, vasos, armas e outros objetos junto ao cadver, pois deles de-penderiam para continuarem a vida. Confirma-se, assim, a crena na con-vivncia dos Espritos com os encarnados. O sepultamento, com todas as suas honras, era sagrado para gregos e romanos daquela poca, costume que se mantm at os dias de hoje. Sem o sepultamento digno e sem as oferendas, o esprito se tornava perverso e atormentava os vivos, assus-tando-os com aparies e provocando-lhes doenas. Nada mais patente do que a certeza da influncia dos desencarnados sobre os encarnados, con-forme viria comprovar cientificamente Allan Kardec.

    Conta-se que o imperador romano Caio Csar Calgula, ao ser assassinado de forma cruenta, teve seu corpo semicremado numa pi-ra improvisada e recoberto ligeiramente com relva, no sendo digno de um sepultamento moda tradicional. Em razo disso, afirma eminente historiador romano, os guardas do jardim de sua residncia eram per-seguidos pelo fantasma do infeliz, e muitos que ali freqentavam foram assustados com suas aparies, at que a casa fosse devorada por um in-cndio. Somente depois de exumado pelas suas irms e sepultado devi-damente que a alma penada do terrvel imperador se acalmou.43

    Informa respeitvel historiador dos povos clssicos, Coulan-

    42 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. Cap. l, 1961. 43 SUETNIO, As vidas dos doze csares. Cap. "Caio Csar Calgula", 1962. 44

  • 37

    ges,44 que as mais antigas geraes dos gregos e romanos, muito antes que aparecessem os filsofos, j acreditavam em uma segunda existn-cia depois da atual. Encaravam a morte no como dissoluo do ser, mas como simples mudana de vida. Acreditavam que eles vivessem numa espaosa regio subterrnea, longe dos seus corpos, penando ou gozando, de acordo com a conduta que tiveram como homem ou mu-lher durante a vida. O culto aos mortos, o respeito e a convivncia de-les com seus antepassados, eram muito comum, natural e necessrio ao seu desenvolvimento e manuteno dos princpios morais, ticos, pol-ticos e econmicos. A construo social e jurdica da cidade antiga dos gregos e romanos foi fundamentada numa crena religiosa de amor e respeito aos mortos. Difcil no afirmar que aquela convivncia no promovesse a influncia dos Espritos em seus pensamentos, conforme nos assegura a resposta do Esprito questo 459 de O livro dos espri-tos:

    P. - Os Espritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos? R. - Muito mais do que imaginais, pois freqentemente so eles que vos dirigem.

    No caso dos greco-romanos com mais razo essa influncia se dava em virtude da sintonia que proporcionavam, considerando os mortos co-mo criaturas sagradas, tratando-os respeitosamente como bons, santos e bem-aventurados.

    Concluindo, recordemos que o filsofo grego, Scrates, era cons-tantemente orientado pelo seu guia espiritual. Ele afirmava que desde a infncia era seguido por um ser que ele denominava de Daimon quase divino, cuja voz o interpelava sobre essa ou aquela ao, orientan-do, muitas vezes o que deveria fazer e falar. Ele e seu discpulo Plato foram considerados por Allan Kardec como precursores do Espiritismo, pois seus ensinamentos assemelham-se bastante aos ditados pelos Espri-tos ao codificador.

    44 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. 1961.

  • 38

    3.5 OS ORCULOS GRECO-ROMANOS

    O dicionrio do professor Aurlio Buarque de Holanda define o-rculo como sendo: a) resposta de um deus a quem o consultava; b) divindade que responde a consultas e orienta o crente; c) palavra, sen-tena ou deciso inspirada, infalvel, ou que tem grande autoridade e, fi-nalmente, d) pessoa cuja palavra ou conselho tem muito peso ou inspira absoluta confiana. Aqui, a acepo que adotamos para o termo or-culo aquela pessoa que serve de intermedirio entre o mundo mate-rial e o espiritual, portanto, o mdium, que inspira confiana pelo dom que possui.

    Na Grcia e em Roma, a crena nas evocaes dos mortos era geral. Templos famosos, tambm denominados de orculos, possuam os chamados "ptons" ou as "pitonisas", encarregados de profetizar evo-cando os deuses (Espritos) para trazerem respostas s questes propos-tas. s vezes o consulente queria, ele prprio, ver ou falar com a "som-bra" (Esprito) desejada e conseguia-se coloc-lo em comunicao com o ser ao qual interrogava. Os orculos eram tambm conhecidos, como j dissemos, pelos nomes de sibilas, magos adivinhos etc.

    O mais famoso orculo da antigidade grega ficava no santurio de Apoio, em Delfos, localizado nas encostas do monte Parnaso, no golfo de Corinto. Nos sculos VII e VI a. C., chefes de Estado, legis-ladores e chefes militares iam aquele templo consultar o orculo para tomar decises importantssimas referentes poltica, economia do Estado, s guerras a serem empreendidas e s questes de amor... A prtica no intercmbio entre os homens e os "deuses" era muito forte, mas a faculdade medinica como instrumento divino dado ao homem para ajudar no progresso no era assim reconhecida, sendo, portanto, maculada pelos mdiuns e seus usufruturios.

    Os romanos tambm tiveram os seus orculos famosos, chamados arspices, que interpretavam as vontades dos "deuses" pelo exame das vsceras de animais sacrificados ou pelos fenmenos da natureza, como raios, troves e eclipses. A expanso do Cristianismo ps fim atividade dos orculos.

  • 39

    3.6 O FUROR DOS DEUSES DA MESOPOTMIA

    Mesopotmia nome grego que significa entre rios , era o nome dado ao antigo pas situado na sia entre os rios Tigre e Eufrates, hoje o Iraque. Sua origem data de 7.000 a 5.500 a. C. Os povos que viveram nessa regio foram os sumrios, os babilnios e os assrios. Os habitantes da Mesopotmia eram politestas, ou seja, acreditavam na existncia de vrios deuses. Na concepo destes povos, os deuses poderiam praticar coisas boas ou ruins com os seres humanos. Esses deuses representavam os elementos da natureza: gua, ar, Sol, terra, etc. Marduque era o deus protetor da cidade da Babilnia, durante o reinado de Hamurabi, o qual ficou famoso pela institu-io de um cdigo que recebeu o seu nome: Cdigo de Hamurabi.

    A religio dos babilnios tira suas caractersticas, bem como origem, da dos sumerianos. Isoladas, as tumbas de Ur atestam, por volta do ano 3.000, uma crena na sobrevivncia integral no mago do t-mulo, dotado de provises, jias e utenslios. [...] O babilnio teme os deuses e pede-lhes uma vida longa e feliz; um terror constante curva-o diante dos demnios e gnios que podem ser malfeitores; a noo de pecado pouco difundida e a verdadeira piedade consiste em apaziguar os deuses, oferecendo-lhes sacrifcios, por ve-zes constrangendo-os magicamente.45

    Sem muito esforo, podemos deduzir que era significativa a submis-so daquele povo influenciao espiritual, chegando a fazer oferendas para comprar-lhes as benesses, prtica que ainda hoje encontramos nos rituais de origem africana, bem aceitas no Brasil. Sabemos que os deuses, demnios, heris e gnios dos babilnios, nada mais eram que os Espritos dos seus contemporneos que se mantinham refns das sensaes materi-ais e, por isso, traficavam com os humanos que insistiam no conluio para dos desencarnados se aproveitarem. A certeza na sobrevivncia da alma levou a que construssem templos em formato de pirmides (zigurates), onde as almas consideradas deuses habitavam e podiam ser consultadas. Informa-nos o historiador Petit:

    45 PETIT, Paul. Histria antiga. Cap. 2,1964.

    46

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    O povo jamais penetra o templo, e as relaes com o deus apenas podem ter lugar mediante a interveno dos sacerdotes [mdiuns], o que confere a esta religio um aspecto hiertico pouco favorvel piedade pessoal ou ao misticismo do fiel.46

    Observamos, mais uma vez, que na pr-histria da mediunidade se-gundo Kardec, o possuidor dessa faculdade era considerado como detentor de um dom divino, adquirindo, nessa condio, poderes polticos, religiosos e sociais extraordinrios.

    Os mesopotmios, mais especificamente os sumrios, merecem aqui um destaque especial pela a inestimvel contribuio que deram huma-nidade com a inveno da escrita cuneiforme, por volta de 4.000 a. C., significando, em nosso entendimento, que a influncia espiritual supe-rior tambm teve oportunidade de se fazer presente. As invenes que beneficiam a humanidade, promovendo-lhe o progresso, tem sempre sua origem no mundo espiritual superior.

    3.7 A MEDICINA DOS BABILNIOS E A CRENA NA ATUAO DOS ESPRITOS

    Os primitivos babilnios eram muito supersticiosos, como todos os demais povos da sua poca. Acreditavam que hordas de espritos mal-volos se escondiam na escurido e cruzavam os ares, espalhando em seu caminho o terror e a destruio, para os quais a nica defesa eram os sa-crifcios e os sortilgios mgicos. Se o antigo povo babilnio no inventou a feitiaria, foi ao menos o primeiro a lhe dar um lugar de grande impor-tncia, a ponto do desenvolvimento da demonologia e da bruxaria terem exigido leis que prescreviam a pena de morte contra seus praticantes. H provas de ter sido muito temido o poder dos feiticeiros, ou seja, mdiuns conluiados com os Espritos trevosos.

    A crena na atuao de uma fora espiritual maligna, na origem das doenas, era fundamento bsico na medicina dos babilnios.

    46 Ibid.

  • 41

    Embora muitas vezes se valesse de recursos farmacolgicos, o mdi-co sacerdote babilnio nunca omitia o ingrediente mstico do medi-camento. O paciente no poderia pensar, portanto, que estivesse sendo curado pelas propriedades medicinais das ervas e das outras substncias empregadas no preparo dos remdios. O remdio era apenas um agente do poder divino, que s o sacerdote podia apli-car na cura do mal.47

    Diante disso, pode-se concluir que os babilnios alimentavam uma concepo religiosa de que as enfermidades expressavam o castigo da di-vindade, idia que muitos sculos depois vai ser acatada oficialmente pelos cristos na Idade Mdia, para explicar as epidemias e a molstias incurveis. Os babilnios praticavam o augrio prognstico feito pelos augures (sacerdote que tirava pressgios do canto e do vo das aves; agou-reiro) , para saber de qual molstia se tratava e a qual entidade espiritual se deveria fazer tal ou qual sacrifcio. Os mdicos sacerdotes eram m-diuns, pouco ou nada sabendo das suas faculdades que, de alguma forma, contriburam para aliviar os sofredores e alimentaram a certeza da presen-a de foras espirituais em suas vidas.

    3.8 OS DRUIDAS CELTAS

    Os celtas habitavam a Glia (Gallia, em latim), isto , o territrio que hoje corresponde, aproximadamente, Frana, Blgica e Itlia na regio Norte. Os gauleses (celtas) dividiam-se em diversas tribos ou po-vos, por vezes federados, cada um com cultura e tradies originais. Os celtas foram um dos grandes povos da Europa, nos anos 600 a 50 a. C. Desde a pr-histria que vinham se espalhando por grande parte do velho continente ocidental, bem como pelo Leste e Oeste da Anatlia (atual Turquia), chegando at a Espanha e Gr-Bretanha. O imperador romano Caio Jlio Csar conquistou seus territrios para Roma em 52 a. C., quando os celtas estavam empenhados em uma unificao nacional. Porque as regies onde viviam os celtas foram chamadas de Glias, esse povo passou a ser conhecido como gauleses.

    Os celtas possuam grupos fechados de sacerdotes especializados

    47 CIVITA, Roberto. Medicina e sade: Histria de medicina. Cap. "A medicina assrio-babilnica", 1969.

  • 42

    em comunicaes com o Alm, chamados de druidas e druidesas: pessoas encarregadas das tarefas jurdicas, filosficas e de aconselhamento dentro da sociedade celta. Temos informaes de que:

    Os druidas comunicavam-se com o mundo invisvel; mil teste-munhas atestam. Nos recintos de pedra evocavam os mortos. As druidesas e os bardos proferiam orculos. Vrios autores referem que Vercingetrix48 entretinha-se debaixo das ramagens sombrias dos bosques, com as almas dos heris mortos em servio da ptria. Antes de sublevar a Glia contra Csar, foi para a ilha de Sein, an-tiga residncia das druidesas, e a, ao esfuziar dos raios, apareceu-lhe um Gnio que predisse sua derrota e seu martrio49.

    A escolha dos futuros sacerdotes era feita entre a classe aristocrtica e, desde criana, o candidato j se submetia rigorosa disciplina e intenso aprendizado junto aos druidas mais velhos. A sabedoria drudica j admitia a reencarnao, a inexistncia de penas eternas, o livre-arbtrio, a imorta-lidade da alma, a lei de causa e efeito e as esferas espirituais. Andr Mo-reil informa-nos que Hippolyte Lon Denizard Rivail adotou pseudnimo de Allan Kardec por saber, por meio do seu Esprito protetor (Zfiro), ter sido um sacerdote druida em uma existncia anterior.50

    48 Nota do autor: Chefe militar gauls que, no incio do ano 58 a. C. sublevou seus compatriotas contra a dominao romana, imposta por Caio Jlio Csar. Aps diversas batalhas contra o poderio de Csar, Vercingetrix foi vencido e decapitado. considerado um dos maiores heris da histria do povo gauls. 49 DENIS, Lon. Depois da morte. Primeira parte, cap. V, 2013. 50 MOREIL, Andr. Vida e obra de Allan Kardec. Cap. 3, 1986.

  • 43

    CAPTULO 4

    A MEDIUNIDADE NA BBLIA

    A Bblia , sem sombra de dvidas, a fonte mais segura e abun-

    dante de relatos significativos para a histria da humanidade, em que o fenmeno medinico esteve sempre presente. A saga do povo israe-lita teve incio com a sada de Abrao e toda sua tribo da cidade de Ur, na Mesopotmia, em busca da terra prometida, sob a orientao de um Esprito denominado Jav, considerado por Abro como sendo o prprio Deus nico, criador de todas as coisas e todo poderoso. As grandes decises dos patriarcas, dos juzes e dos reis do povo hebreu foram, na maioria das vezes, amparadas no aconselhamento dos profe-tas, mdiuns inspirados por Jav.

    Nada obstante os relatos da crena na continuidade da vida aps a morte do corpo fsico e os registros dos intercmbios medinicos descri-tos na Bblia, alguns estratos da religio catlica e de outras denominadas crists insistem em negar os fatos lapidados naquele documento to im-portante para a humanidade. Aqueles fenmenos foram estudados crite-riosamente por Allan Kardec e outros estudiosos espritas ou no. Te-mos, por exemplo, a firmao de um eminente estudioso das religies que, conduzido apenas pelo af da pesquisa cientfica assegura:

    Os israelitas, nos tempos primitivos, partilhavam as crenas da hu-manidade sobre a sobrevivncia dos mortos. Os mortos vivem num outro mundo, o Chel, continuam a interessar-se pela sorte de seus descendentes. Em Rama, local da sepultura de Raquel, Jeremias ouve: "... uma queixa funrea, choros amargos: E Raquel que chora seus filhos. E recusa ser consolada (grifo nosso) (JEREMIAS 31:15) .51

    Segundo Isaas, quando o rei da babilnia desce para os mortos, es-tes o acolhem com palavras sarcsticas: "Que fizestes de tua magnificncia, agora que o verme te cobre?" (ISAAS 14:9 e seguintes).

    Dentro desse contexto, os mortos adquirem um poder e uma sabe-doria sobre-humana, tornam-se espritos: eloim. esta a palavra emprega- 51 CHALLAYE, Flicien. Pequena histria das grandes religies. Cap. 9,1962.

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    da pela Pitonisa consultada por Saul.52 Relacionaremos alguns fenmenos medinicos insertos nos Antigo

    e Novo Testamentos. Os textos apresentados foram colhidos da Bblia de Jerusalm, Edies Paulinas, 1987.

    4.1 FENMENOS MEDINICOS NO AN-TIGO TESTAMENTO

    4.1.1 Matria l izao com voz direta (l SAMUEL 28:11, 12 e 15)

    Relato: Saul, em vsperas de uma batalha, consulta clebre pi-tonisa da poca, desejando se aconselhar com a alma de Samuel, comandante dos exrcitos de Israel, j sepultado em Ramatha, sua ptria natal. Ao solicitar pitonisa o ansiado contato com o falecido, travou-se o seguinte dilogo:

    Pitonisa: A quem chamarei para ti? Saul: Chama Samuel. Ento a mulher viu Samuel e, soltando um grito medonho, disse: Por que me enganaste? Tu s Saul! Saul: No temas! Mas o que vs? Pitonisa: Vejo um espectro que sobe da terra. Saul: Qual a sua aparncia? Pitonisa:

    um velho que est subindo; veste um manto. Ento Saul viu que era Samuel e, inclinando-se com o rosto no cho prostrou-se.

    Samuel (o Esprito materializado): Por que perturbas o meu descanso chamando-me? [...]. O leitor interessado poder saber a continuao do dilogo entre o

    rei Saul e o Esprito.

    52 I samuel, 13; isaas, 8:19.

  • 45

    Outro fenmeno de mesma natureza narrado por um homem n-tegro e reto chamado J:

    Ouvi furtivamente uma revelao, meu ouvido apenas captou seu murmrio: numa viso noturna de pesadelo, quando a letargia cai sobre o homem, um terror apoderou-se de mim e um tremor, um frmito sacudiu meus ossos. Um sopro roou-me o rosto e provocou arrepio por todo o corpo. Estava parado mas no vi seu rosto , qual fantasma diante dos meus olhos, um silncio... Depois ouvi uma voz: [...].

    O leitor curioso poder ler em J 4:12 a 16 o que o Esprito mate-rializado disse a ele. Por sinal um texto muito interessante.

    No h como negar que ambos os casos comprovam o fenmeno da materializao do Esprito com voz direta.

    4.1.2 Levitao (II REIS 6:5 e 6)

    Relato: Um lenhador estava cortando uma viga quando o machado soltou-se do cabo e caiu na gua e ele ento gritou:

    Ai, meu senhor! E um homem de Deus ali apareceu e indagou: Onde caiu? E ele mostrou o lugar. Ento Eliseu cortou um pedao de madeira,

    jogou-o naquele lugar e o machado veio tona. Disse ento: Apanha-o. E o homem estendeu a mo e o pegou. Nesse caso a levitaao se comprova de modo indiscutvel e

    espetacular, quando o ferro do machado emergiu superfcie do rio.

    4.1.3 Transporte (EZEQUIEL 3:14)

    Relato: O profeta assim diz: O esprito ergueu-me e me levou; eu fui, mas amargurado,

    com o esprito em fogo, enquanto a mo de lahweh pesava sobre mim. ainda Ezequiel que nos brinda com mais um caso de transporte

    em 8:2 e 3: Olhei, e eis alguma coisa que tinha a aparncia de um

    homem [...] Ele estendeu o que parecia ser a forma de mo e me segurou por um tufo de cabelo. O esprito me levantou entre o cu e a terra e me trouxe a Jerusalm, em uma viso de Deus. [...]

    4.1.4 Premonio (|SAAS 7:14 al)

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    Relato: Isaas, profeta de primeira grandeza e clarividente inco-mum prev, quase mil anos antes, a vinda de Jesus com as mincias que, mais tarde, serviriam para identificar o tipo sublime do Mestre:

    Pois sabeis que o Senhor mesmo vos dar um sinal: Eis que a jovem concebeu e dar luz um filho e por-lhe- o nome de Emanuel [Deus conosco]. Ele se alimentar de coalhada e de mel at que saiba rejeitar o mal e escolher o bem. Com efeito, antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, por cujos dois reis tu te apavoras, ficar reduzida a um ermo

    4.1.5 Vidncia (DANIEL 8:15) Relato:

    Enquanto contemplava esta viso, eu, Daniel, procurava o seu significado. Foi quando, de p diante de mim, vi uma como apa-rncia de homem. Eu ouvi a voz humana sobre o Ulai [nome do rio onde se deu o fenmeno] gritando e dizendo: Gabriel, explica a este a viso! Ele dirigiu-se para o lugar. sua chegada, fui tomado de terror e ca com a face por terra. Ento ele me disse: filho, fica sabendo que a viso se refere ao tempo do Fim.

    O mesmo Daniel em 10:5 afirma:

    Levantei os olhos para observar e vi um homem revestido de Unho, com os rins cingidos de ouro puro, seu corpo tinha a aparncia do crislito, e seu rosto o aspecto do relmpago e seus olhos como lmpadas de fogo [...] Somente eu, Daniel, vi esta apario; os homens que estavam comigo no viam a viso [...] (grifo nosso).

    O destaque importante pois caracteriza o fenmeno como de vidncia verdadeiramente, no podendo ser confundido com uma mate-rializao, quando todos os presentes veriam o referido homem.

    4.1.6 Escrita direta (DANIEL 5)

    Relato: L encontramos a comprovao do fenmeno da escrita dire-ta por ocasio de banquete oferecido pelo rei Balthazar (filho de Nabuco-donosor), ao qual compareceram mais de mil pessoas da corte. Bebiam e louvavam os deuses, quando

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    De repente, apareceram dedos de mo humana que se puseram a escrever, por detrs do lampadrio, sobre o estuque da parede do palcio real, e o rei viu a palma da mo que escrevia. Ento o rei mudou de cor, seus pensamentos se turbaram, as juntas dos seus membros se relaxaram e seus joelhos se puseram a bater um con-tra o outro.

    O relato continua e o leitor buscar saber o que foi escrito pela mo materializada e as conseqncias daquele inusitado acontecimento.

    A mais importante escrita direta, tanto para os hebreus como para toda a humanidade foi o recebimento dos Dez Mandamentos o Dec-logo , pelo profeta de primeira grandeza Moiss, detentor de magnficas faculdades medinicas, no Monte Sinai. No se pode negar que aquele documento foi resultado de um fenmeno medinico, tendo como m-dium o profeta Moiss, afirmao que se pode constatar em Deuteron-mio, captulo 5 e xodo captulos 20 e 34. Em resumo, sabe-se que o pro-feta foi chamado por Jav a subir o Monte Sinai. Aps conversar com Moiss em cima do Monte, Jav lhe presenteou com duas tbuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus e no por Moiss, vale a pena frisar. Hoje se pode assegurar que as pedras foram grafadas pelo processo da escrita dire-ta, fenmeno conhecido, tambm, pelo nome de pneumatografia.

    Para o leitor se inteirar sobre a escrita direta, remeto-o leitura da Revista Esprita do ms de agosto de 1859, publicada pela FEB, s pginas 309 a 316, artigo escrito por Allan Kardec sob o ttulo Pneumatografia ou escrita direta; e ao captulo XII de O livro dos mdiuns.

    4.2 FENMENOS MEDIUNICOS NO NOVO TESTAMENTO

    A culminncia dos fatos medinicos encontrados no Antigo Tes-tamento se d com a atuao de Jesus, o Mdium de Deus, cujos relatos constam dos quatro evangelhos, dos atos dos apstolos e das epstolas a-postlicas.

    4.2.1 Materializao ou apario (MAR-COS 16:9 a 11)

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    Relato: Ora, tendo ressuscitado na madrugada do primeiro dia da semana, ele [Jesus] apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demnios. Ela foi anunci-lo queles que tinham es-tado em companhia dele e que estavam aflitos e choravam. Eles, ouvindo que ele estava vivo e que fora visto por ela, no creram.

    Outro fenmeno dessa natureza encontramos no evangelho de Lucas, 24:36 a 39. Relata o autor que os 11 apstolos esta