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A Centralidade do Trabalho e os Rumos da Legislação Trabalhista Homenagem ao Ministro João Oreste Dalazen

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A Centralidade do Trabalho e os Rumos da Legislação Trabalhista

Homenagem ao Ministro João Oreste Dalazen

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Kátia Magalhães Arruda Delaíde Alves Miranda Arantes

Organizadoras

A Centralidade do Trabalho e os Rumos da Legislação Trabalhista

Homenagem ao Ministro João Oreste Dalazen

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A Centralidade do trabalho e os rumos da legislação trabalhista : homenagem ao ministro João Oreste Dalazen / Kátia Magalhães Arruda, Delaíde Alves Miranda Arantes, organizadoras. — São Paulo : LTr, 2018.Vários autores.Bibliografia.1. Dalazen, João Oreste 2. Direito do trabalho 3. Justiça do

trabalho 4. Reforma constitucional 5. Trabalho — Leis e legis-lação — Brasil I. Arruda, Kátia Magalhães. II. Arantes, Delaíde Alves Miranda.

17-11365 CDU-347.998:331(81)

1. Brasil : Justiça do trabalho 347.998:331(81)

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-003 São Paulo, SP — Brasil Fone (11) 2167-1101 www.ltr.com.br Fevereiro, 2018 Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: R. P. TIEZZI X Imagem de Capa: JOSÉ CLAUDIO DE LASCIO CANATO Série: “Pessoas à Margem”Título: “Menino de Rua com Cachorro” Ano: 1997 Técnica: Óleo sobre Tela Tamanho: 100 x 130 cmProjeto de Capa: DANILO REBELLO Impressão: BOK2 Versão impressa — LTr 5931.8 — ISBN 978-85-361-9503-2 Versão digital — LTr 9325.7 — ISBN 978-85-361-9582-7

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Todos os direitos reservados

Índice para catálogo sistemático:

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Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho e da Academia Paranaense de Letras Jurídicas. Ex-Procurador da Caixa Econômica Federal. Foi professor concursado das Faculdades de Direito da UFPR e da UNB. Juiz do Trabalho de carreira por 37 anos, de julho 1996 a novembro 2017. Foi Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, onde exerceu os cargos de Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho, Vice-Presidente e Presidente. Foi Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça e Diretor da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrado do Trabalho — ENAMAT. É Autor da monografia “Competência Material Trabalhista” e do livro Lições de Direito e Processo do Trabalho, além de centenas de artigos doutrinários.

João Oreste Dalazen

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Sumário

Apresentação do Homenageado Ministro João Oreste Dalazen ...........................................11 Indalécio Gomes Neto

Apresentação da Obra ...................................................................................................................17 Kátia Magalhães Arruda; Delaíde Alves Miranda Arantes

Reflexões sobre o Impacto da Reforma Trabalhista e a Proteção em face da Automa- ção do Trabalho no Brasil .......................................................................................................19 Adriano Martins de Paiva

Processo Trabalhista Envolvendo Doenças Ocupacionais. Presente, Passado e Futuro .....33 Aloysio Corrêa da Veiga

O Princípio da Igualdade na Reforma Trabalhista: Tema Tormentoso e Atormentador ....44 Augusto César Leite de Carvalho

Sucessão de Empregadores, Especialmente no Ensino Federal Superior ...........................58 Carlos Alberto Reis de Paula

A Lei n. 13.467/2017 da Reforma Trabalhista e os Impactos para as Mulheres no Trabalho .....67 Delaíde Alves Miranda Arantes; Maria Cecília de Almeida Monteiro Lemos

O Dano Extrapatrimonial na Lei n. 13.467/2017 da Reforma Trabalhista ...........................82 Enoque Ribeiro dos Santos

Reflexões sobre o Enquadramento Sindical dos Empregados da Agroindústria Sucroalcooleira ..........................................................................................................................90 Estêvão Mallet

Petição Inicial — Art. 840, §§ 1º, 2º e 3º .....................................................................................105 Felipe Bernardes

Protesto de Decisão Judicial Inadimplida — Diálogo entre o CPC e a CLT ....................112 Fredie Didier Jr.

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A Reforma Trabalhista e o Futuro do Trabalho .....................................................................117 Gisaldo do Nascimento Pereira

O Estatuto de Defesa do Torcedor e as Garantias de Transparência e Publicidade: Responsabilização Civil das Entidades Equiparadas a Fornecedor ..............................123 Guilherme Augusto Caputo Bastos

O Novo Enigma da Esfinge: como os Juízes do Trabalho Tratarão a Reforma Trabalhista? ..............................................................................................................................138 Guilherme Guimarães Feliciano

A Negociação Coletiva como Pressuposto da Dispensa Coletiva .......................................145 João Batista Brito Pereira

Ativismo Judicial e o Tribunal Superior do Trabalho ..........................................................159 José Alberto Couto Maciel

Revogação da Proteção Assistencial ao Empregado na Extinção do Contrato de Em- prego pela Lei n. 13.467/2017 .................................................................................................166 José Augusto Rodrigues Pinto

A Demonização do Ponto ...........................................................................................................173 José Geraldo da Fonseca

Novos Desafios da Justiça do Trabalho ...................................................................................177 José Luciano de Castilho Pereira

Da Exigência da Reciprocidade na Negociação Coletiva: sobre um Dialogo Falso não se Constrói um Resultado Negociado ........................................................................182 José Simpliciano Fernandes

Dano Moral no Direito do Trabalho. Tarifação e Jurisprudência do STF ........................191 Kátia Magalhães Arruda

A Força Normativa do Princípio da Proteção no Direito Constitucional do Trabalho ...202 Marco Aurélio Mello

A Reforma Trabalhista e a Limitação do Acesso à Justiça ...................................................217 Marcos Neves Fava

Reforma Trabalhista ....................................................................................................................226 Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos

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Um Olhar sobre as Desigualdades Sociais e Trabalhistas da Mulher Brasileira ............245 Maria de Assis Calsing

As Mudanças de Paradigma Legal e Jurisprudencial no Controle da Jornada de Trabalho do Motorista Carreteiro ........................................................................................255 Matheus de Figueiredo Corrêa da Veiga

Limites da Autonomia Negocial Coletiva Impostos pela Lei n. 13.467/2017 .....................263 Mauricio de Figueiredo Corrêa da Veiga

Danos Extrapatrimoniais na Reforma Trabalhista Brasileira de 2017 ...............................271 Mauro de Azevedo Menezes

A Prescrição Intercorrente e a Reforma Trabalhista ..............................................................289 Ney José de Freitas

O Processo Educacional à Cidadania e sua Qualificação para o Trabalho na Sociedade Contemporânea .......................................................................................................................297 Odete Grasselli

A Gorjeta, a Lei n. 13.419/2017 e a Negociação Coletiva .......................................................313 Roberto Pessoa

Competência Material da Justiça do Trabalho e a Lei n. 13.467/2017: Dimensões da Jurisdição Voluntária diante das Novas Atribuições do Juiz do Trabalho no Processo de Homologação de Acordo Extrajudicial .........................................................320 Sergio Torres Teixeira

O Pressuposto da Transcendência no Recurso de Revista e a Lei n. 13.467/2017 ............352 Tayane Cachoeira Dalazen

O Pressuposto da Transcendência: Algumas Preocupações ................................................360 Vantuil Abdala

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Apresentação do Homenageado Ministro João Oreste Dalazen(1)

Indalécio Gomes Neto(1)

(1)  Ministro do TST aposentado.

A iniciativa de editar obra jurídica em homenagem ao Ministro João Oreste Dalazen por ocasião de sua aposentadoria levou a Ministra Kátia Magalhães Arruda a convidar-me a falar um pouco sobre a vida do ilustre homenageado, no suposto que eu conheça fatos que marcaram a infância e a adolescência do João. Recebi essa incumbên-cia como uma honraria e com uma ponta de preocupação, na medida em que só conheci o homenageado quando ele tomou posse como juiz do trabalho substituto, designado que foi para me auxiliar na então 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de Curitiba, já na-quela época abarrotada de processos. A partir daquele momento, e ao longo dos 37 (trinta e sete) anos já transcorridos, realmente passei a acumular conhecimentos não apenas sobre o estudioso do direito e magistrado, mas também sobre a trajetória do menino pobre que virou ministro, graças ao seu talento e predicados pessoais.

O que sei sobre a vida do Dalazen decor-re de seus próprios relatos e confidência que ele me revelou ao longo desse tempo, con-jugados com algumas informações de seus familiares, em especial da sua filha Rosane e do seu irmão mais velho, Diniz Dalazen. Sem

ser inconfidente revelarei um pouco da tra-jetória pessoal do menino e do adolescente, até porque ele não esconde as barreiras que venceu para chegar aonde chegou. Também não tenho dúvidas de que as revelações sobre a sua trajetória pessoal e profissional reves-tem-se de um forte estímulo a tantos jovens que, como ele, querem subir os degraus da vida, rompendo dificuldades e conquistando vitórias pela via do esforço pessoal.

João Oreste Dalazen nasceu em Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul. Filho de Jan-dira Rodrigues Dalazen e de João Dalazen. Avós por parte de pai: Orestes Dalazen e Aurora Forest Dalazen. Avós por parte de mãe: João Rodrigues Vieira e Leopoldina Cardoso Vieira.

Esta é a linhagem do nosso homenageado.

Como disse, conheci o hoje Ministro João Oreste Dalazen no início da sua carrei-ra profissional na magistratura quando ele foi designado para me auxiliar no primeiro grau de jurisdição em 1981. De lá para cá, acompanhei toda a sua trajetória. Desde o início, impressionava-me o rigor com que ele levava o estudo do direito. Nunca se aco-modou; sempre procurando aperfeiçoar-se,

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não só nas letras jurídicas, mas na cultura em geral. Amante da música clássica, sabe como poucos a história dos autores e dos intérpretes. Homem de linguagem apurada, porém, sem soberba.

Seus livros e seus artigos doutrinários o consagraram como excelente jurista e dou-trinador. Seus discursos sempre pintaram a realidade da vida como ela é, sem retoques. Um dos mais lindos pronunciamentos ocor-reu na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, quando lhe outorgaram o título de cidadão honorário. Transcrevo-o, não só para homenageá-lo, mas também por se tratar de um documento histórico da sua trajetória, por ele mesmo contada. Após as saudações de praxe, disse ele:

A ocasião parece-me propícia para lem-brar as palavras que George Bernard Shaw pôs na boca de sua Santa Joana:

Ai de mim se todos os homens cantam os meus louvores!

Nestas horas, gosto de lembrar um poe-ta desconhecido:

Milhões de pedra na calçada e eu um simples grãozinho de areia.

Com humildade e convicto da generosi-dade que, acima de tudo, anima tais gestos, a todos expresso, para logo, meu sentimento de aguda gratidão, por tudo e por tanto, mormente pela sensibilidade de identificar na história de minha vida laços estreitos e raízes profundas com este pujante e amado Estado do Paraná.

Uma palavra sobressai incontida nessa hora, uma palavra soa e repete com insistên-cia em minha mente: honra!

Constitui para mim honra insigne inte-grar o seleto rol de cidadãos honorários do querido Estado do Paraná, Estado a que devo o desenvolvimento das principais atividades que forjaram meu caráter e me prepararam para os anos da longa caminhada da vida!

A honra está entre os valores supremos do Homem. Conforme escreveu Liory:

A honra é o primeiro sentimento da vida; admite tudo quanto é grande e repele tudo quanto é pequeno.

Manter imaculada a honra está entre as finalidades mais sérias a que nos podemos consagrar.

A glória, ensinou Schopenhauer, deve ser conquistada; a honra, por sua vez, “bas-ta que não seja perdida”. Este, a meu ver, o investimento mais acertado que o homem pode assumir como compromisso condutor de sua história.

Ser cidadão por honra do Estado do Paraná enobrece e enriquece qualquer um.

Sabemos que o vocábulo “Paraná”, em Tupi, significa “semelhante ao mar”. E o mar, como sabemos também, é largo, profundo, extenso e rico. Dele provém a vida; por ele, navegam os homens há séculos; no mar nos regalamos e nos divertimos. Os movimentos do mar influenciam a vida dos homens. ”É doce viver no mar”, cantou Caymi.

Assim é o Paraná, para mim.

Senhoras e Senhores!

Sou homem que vem de baixo e de berço humilde, filho de um pequeno comerciante, antes agricultor e caminhoneiro. Nasci no Rio Grande do Sul, há sessenta anos, mas já aos seis anos o espírito empreendedor de meu saudoso pai levou a família a migrar para Clevelândia, sudoeste do Paraná, atraída pelo sonho dourado de um novo Eldorado. Em 1963, mudamos para esta adorável “Cidade Sorriso”, da qual somente me afastei em 1996, por imperativo da nomeação para o cargo de Ministro do Tribunal Superior do Trabalho.

Aqui casei e aqui nasceram meus filhos. Aqui moram minha mãe, irmãos e os amigos mais fraternos.

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Enfim, nesta encantadora Curitiba, que sempre povoa os meus melhores sonhos, construí minha vida pessoal e profissional, por mais de três décadas.

Foi, pois, neste estado-mar que me es-tabeleci e ascendi os degraus da existência.

Aqui, sobretudo, desenvolvi uma his-tória árdua de trabalho, trabalho e trabalho. Poderia afirmar, em resumo, que trilhei por espinhosas veredas e o Paraná projetou-me a nobres conquistas.

A riqueza que amealhei não se situa em bens materiais, nem se alcançou sem labuta. Sou das vítimas do trabalho infantil precoce. Em ofícios tais como os de engraxate e de vendedor ambulante, depois office boy, perambulei por centenas das ruas de uma Curitiba que não mais existe, a não ser na saudade.

Tempos difíceis, mas de que guardo grata recordação, pois, no dizer de Carlos Drumond de Andrade, “havia jardins, havia manhãs naquela época”.

Depois, veio o trabalho juvenil: bal-conista, garçom, cobrador, vendedor de chuveiro a gás, escriturário... Desde sempre e por todo o sempre, trabalho!

Trabalho por necessidade material, não há dúvida, mas também porque sempre es-tive atento à lição de Bocaccio:

É melhor arrepender-se por ter feito alguma coisa, do que por não ter feito nada.

Trabalho intenso, realizado com as fa-cilidades que propicia o Paraná àqueles que, como eu, creem na força transformadora e impulsionadora do trabalho realizado com amor e confiança.

Nunca perdi de vista o alerta do poeta bíblico, que no capítulo 9, versículo 10, do Eclesiastes, adverte-nos:

Tudo quanto vier à tua mão para fazer, faze conforme as tuas forças; porque no

mundo dos mortos, para onde tu vais, não há obra, nem planos, nem conheci-mento, nem sabedoria alguma.

Bafejado pela sorte, tive sempre a com-panhia presente, participante e estimuladora de minha querida mãe, que se incumbiu de impedir-me de deixar os bancos da escola pública, quando maiores necessidades me impeliram a trabalhar, ainda muito cedo.

Bem compreendo, assim, o brocardo que os judeus sabiamente repetem:

Deus não pode estar em todos os luga-res, por isso fez as mães.

Eis por que, nessa hora de viva emoção, permitam-me que, em momento íntimo, ma-nifeste profunda e imorredoura gratidão à minha mãe Jandira, aqui presente, e agradeça aos céus todos os dias pela feliz e bondosa designação de Deus de tê-la como permanen-te fonte de inspiração e de encaminhamento na vida.

Com ela aprendi, nas palavras de Gabriel Garcia Marques, a “dar valor às coisas não pelo que valem, mas pelo que significam”.

Mas se é materna a inspiração para me manter sempre focado nos estudos, a concretização desse anseio somente foi pos-sível porque este glorioso Estado do Paraná acolheu-me com fidalguia e generosidade, proporcionando-me ensino público gratui-to, adequado e satisfatório, para forjar-me a personalidade de homem público.

O Paraná ensejou-me desenvolver todos os estudos, desde tenra idade: em Curitiba, cursei o então “primário” no então Grupo Escolar (hoje Escola Estadual) Presidente Pedrosa (no Portão); depois, o então “cien-tífico” no rigoroso Colégio Estadual Nilson Baptista Ribas (no Seminário). Aqui cursei a graduação em Direito e fiz Mestrado na Faculdade de Direito da Universidade Fe-deral do Paraná. Aqui, iniciei a carreira de professor universitário e adensei os estudos de Direito, dos quais nunca mais me afastei.

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Quando, em 1995, já desembargador do TRT da 9ª Região, integrei lista tríplice para concorrer ao cargo de Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, as principais lideran-ças civis, políticas, empresariais e sindicais da época mobilizaram-se, de forma entusiástica e comovente, num movimento paranista sem precedentes, para me levar a ascender àquele cargo.

Se hoje tenho a honra de presidir o Tri-bunal Superior do Trabalho e o CSJT, devo-o principalmente ao Paraná, aos seus dirigentes e ao seu povo, que em mim depositaram um voto de confiança como se filho da terra fosse.

Enfim, devo tudo a este querido Estado do Paraná!

A força para enfrentar as tentativas, o estímulo para ir adiante e a abertura dos ho-rizontes mais azuis, tudo se deu aqui, nesta aprazível terra dos pinheirais.

Terra de oportunidades, que recebeu de braços abertos legiões de famílias, como a minha, desejosas de contribuir para construir a admirável pujança econômica e cultural que o Paraná hoje exibe na federação brasileira.

Alguém escreveu certa feita:

Não são os lugares que honram os homens, são homens que honram os lugares.

Permito-me guardar reservas dessa afirmativa. Se é certo que, muitas vezes, os homens engrandecem os lugares, não menos certo que, muitas vezes também, a sublime honra de um homem está em se identificar com certos lugares.

De minha parte, orgulha-me dizer doravante que sou filho adotivo do Paraná, do meu, agora mais que nunca, Estado do Paraná!

Paraná de graça e de belezas naturais exuberantes! Paraná, formidável celeiro de progresso econômico e social!

Paraná desta esplêndida Curitiba, ca-pital das araucárias, cidade universitária,

exemplo de planejamento urbanístico e de qualidade de vida, a mais europeia das cida-des brasileiras, que se proclama, com justa vaidade, terra de todas as gentes!

Paraná desta Curitiba que me viu crescer e cresceu comigo, incentivando-me e acalentando-me sempre os sonhos mais belos! Curitiba que me deu grandes e frater-nas amizades, família maravilhosa e trabalho gratificante!

Paraná desta minha querida Curitiba, de coração tão grande como a própria aurora quando desponta sobre as grandes monta-nhas da serra do mar que a tangenciam!

O novelista irlandês George Moore escreveu:

O homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo de que precisa e volta para casa para encontrá-lo.

Senhoras e senhores!

Hoje eu também à casa volto e encontro aqui, como se deu nos valiosos anos de minha formação, tudo de que preciso: carinho, afago, reconhecimento, respeito, amizade e a honra insigne de ser filho adotivo do Paraná.

A que mais posso aspirar?

Talvez tão somente aspirar a que possa, com os atos de minha vida, retribuir condignamente a altaneira homena-gem de que sou destinatário nesta memorável solenidade na Assembleia Legislativa do Paraná. Que eu saiba, en-fim, sempre e sempre honrar o título de cidadania honorária do Estado do Paraná.

Muito obrigado!

Este é o perfil do nosso homenageado.

O que dizer a mais sobre o Ministro João Oreste Dalazen, a não ser lembrar a canção que vem lá de Minas Gerais, na voz de Milton Nascimento:

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Amigo é coisa para se guardar

Debaixo de sete chaves

Dentro do coração

Assim falava a canção que na América ouvi

Mas quem cantava chorou

Ao ver o seu amigo partir

Mas quem ficou, no pensamento voou

Com seu canto que o outro lembrou

E quem voou, no pensamento ficou

Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa para se guardar

No lado esquerdo do peito

Mesmo que o tempo e a distância digam ‘não’

Mesmo esquecendo a canção

O que importa é ouvir

A voz que vem do coração

Pois seja o que vier, venha o que vier

Qualquer dia, amigo, eu volto

A te encontrar

Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

A sua cultura, o seu saber jurídico e o seu dinamismo certamente o conduzirão a outras vitórias. SEJA FELIZ, AMIGO JOÃO ORESTE DALAZEN!

Ao finalizar, cumprimento os Minis-tros do Tribunal Superior do Trabalho pela iniciativa da merecida homenagem, em es-pecial a Ministra Kátia Magalhães de Arruda pelo convite formulado para escrever estas páginas.

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Apresentação da Obra

A ideia de publicar uma obra jurídica em homenagem ao Ministro João Oreste Da-lazen surgiu imediatamente após o anúncio da sua inesperada aposentadoria e contagiou a todos os que atuam com o Direito do Tra-balho em suas diversas áreas, advogados, professores, magistrados e Ministros do Tri-bunal Superior do Trabalho que, de pronto, manifestaram seu interesse em colaborar com este gesto de reconhecimento ao trabalho deste notável jurista, há 21 anos atuando nesta Corte com liderança e competência inquestionáveis.

Em sua trajetória como integrante do Tribunal Superior do Trabalho, o Ministro João Oreste Dalazen consolidou uma bri-lhante carreira jurídica, tendo sido diretor da ENAMAT, a Escola Superior da Magistratura Trabalhista, Corregedor Geral da Justiça do Trabalho e Presidente do TST e do CSJT, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho. Como defensor do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho, mostrou-se um bravo combatente em defesa de seus ideais de justi-ça e igualdade, da Constituição e dos direitos sociais, conquistas do Estado Democrático de Direito.

Em face das inquietações provocadas pelas mudanças implementadas no Direito do Trabalho na atual conjuntura, a publica-ção desta obra coletiva, repleta de reflexões que analisam com profundidade o Direito do Trabalho contemporâneo, pretende estar à altura do homenageado, notório construtor dos alicerces sólidos sobre os quais se ergueu a jurisprudência trabalhista nas duas últimas décadas.

Com muita alegria, os colaboradores agraciam os leitores com esta justa ho-menagem, expressão da admiração e do reconhecimento pelo trabalho do jurista que deixa o Tribunal Superior do Trabalho com o sentimento de dever cumprido, levando consigo a saudade de todos os colegas.

Ao homenageado os nossos sinceros agradecimentos pela vida dedicada ao Direi-to e à Justiça do Trabalho, e a nossa certeza de que continuará a trilhar o caminho em busca de uma sociedade mais humana, solidária e com mais igualdade.

Brasília, 20 de novembro de 2017.

Kátia Magalhães Arruda Delaíde Alves Miranda Arantes

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Reflexões sobre o Impacto da Reforma Trabalhista e a Proteção em face da Automação do Trabalho no Brasil

Adriano Martins de Paiva(1)

Sumário: 1. Introdução. 2. O homem e a evolução da automação do trabalho. 3. Conceitua-ção da automação do trabalho. 4. Impacto da reforma trabalhista de 2017 e a proteção em face da automação do trabalho. 5. A automação do trabalho na jurisprudência. Conclusão. Referências bibliográficas.

(1)  O autor é advogado da União, mestre em ciência política pela Universidade Nacional de Brasília.

1. Introdução

No início da vigência da Lei n. 13.467/2017, que instituiu a reforma traba-lhista no Brasil, quebrando paradigmas e princípios consolidados há mais de 70 anos da aplicação do direito do trabalho brasileiro por meio da Consolidação das Leis Trabalhis-tas — CLT, mostra-se imprescindível não só discutir os aspectos centrais da reforma sob o prisma das normas constitucionais funda-mentais protetivas dos trabalhadores, como também reafirmar os direitos fundamentais protetivos dos trabalhadores urbanos e rurais explicitados principalmente no art. 7º da Constituição da República de 2008.

Tendo como cenário o intenso debate jurídico travado sobre a reforma trabalhista, este artigo pretende projetar a preocupação com a precarização do trabalho, que a partir de agora, com a possibilidade de maior fle-xibilização, deixa o trabalhador ainda mais exposto e fragilizado diante do processo de automação do trabalho.

2. O homem e a evolução da automação do trabalho

Pesa sobre a civilização judaico-cristã a sina do trabalho sem-fim, partindo de uma ideia de fardo e sofrimento, tal como se pode

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extrair do preceito bíblico: “Você comerá seu pão com o suor do seu rosto, até que volte para a terra...” (BÍBLIA, Gênesis, 3, 19).

Já na visão mais abnegada e menos sofrida do budismo, labuta seria: “Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele”.

Porém, distante desses extremos de sofrimento e elevação, o que prevalece no nosso mundo capitalista é a busca do lucro e do crescimento econômico, considerado o motor do desenvolvimento humano.

Na história, a relação do homem com o trabalho sempre foi marcada por uma cons-tante transformação na forma de produção. Desde a passagem da sociedade do homem coletor-caçador para a sociedade agrícola, das corporações de ofício à revolução in-dustrial, pós-industrial e atual revolução tecnológica, uma superestrutura consegue reunir e manter de forma eficiente grandes massas de trabalhadores em torno do obje-tivo permanente do aumento da produção de riquezas.

E, nessa toada, paulatinamente, se con-solidou a ideologia onipresente do mundo globalizado, o sistema capitalista. Modelo que, majoritariamente, dá sustentáculo e substrato teórico para a relação entre o homem e trabalho, ou melhor, entre o traba-lhador e a produção, pois, nesse sistema, o que realmente importa e o mantém coeso e atraente é a busca constante do crescimento da produção, que gera o aumento dos lucros, os quais são reinvestidos no aumento da produção, num continuum.

Nesse processo, o homem vem se utilizando da ciência e do conhecimento como ferramentas para alcançar o aumen-to da produção em escala de progressão geométrica. E é por meio da ciência e dos produtos tecnológicos que são aplicados no incremento da produção que a sociedade vem atingindo patamares de produtividade antes inimagináveis.

Eric Hobsbawn afirma que na Era de Ouro da história (iniciada logo após o término da segunda guerra mundial), os predicados da revolução tecnológica passaram a ser condicionantes da produção econômica e definitivos para o desenvolvimento e rique-za das nações, principalmente daquelas que adotaram a economia de mercado, que trans-formaram os trabalhadores em consumidores de massa, partícipes de uma engrenagem única e de movimento contínuo:

(...) Segundo, quanto mais complexa a tecnologia envolvida, mais complexa a estrada que ia da descoberta ou inven-ção até a produção, e mais elaborado e dispendioso o processo de percorrê-la. “Pesquisa e Desenvolvimento” [R & D em inglês] tornaram-se fundamentais para o crescimento econômico e, por esse motivo, reforçou-se a já enorme vantagem das “economias de mercado desenvolvidas”, sobre as demais (...)

Terceiro, as novas tecnologias eram, esmagadoramente, de capital intensivo e (a não ser por cientistas e técnicos, alta-mente qualificados) exigiam pouca mão de obra ou até mesmo a substituíam. A grande característica da Era de Ouro era precisar cada vez mais de maciços investimentos e cada vez menos gente, a não ser como consumidores. (...) Os seres humanos só eram essenciais para tal economia sob um aspecto: como con-sumidores de bens e serviços. Aí estava o seu problema central. (HOBSBAWN, 1994:261-262)

Como se vê, esse salto de produtividade, crescimento da produção com base na meca-nização e da informatização do trabalho por meio do desenvolvimento tecnológico, tem por subproduto o descarte de boa parte da força de trabalho humana que não é mais ne-cessária para realizar tarefas que ao longo do tempo passaram a ser mecanizadas, descar-tando e enjeitando aqueles trabalhadores que não se adaptaram ao novo modelo produtivo,

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