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Contas nacionais: ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO PARA OS NOVOS TEMPOS EDITORIAL ANO 39 – Nº 280 – Março/Abril de 2015 Frederico Mazzucchelli Rubens Rodrigues Filho PIBão PIBinho Entrevistas: nova metodologia, novos resultados?

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Revista Rumos - Março/Abril 2015

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Page 1: Rumos - 280

Contas nacionais:

E C O N O M I A & D E S E N V O LV I M E N T O P A R A O S N O V O S T E M P O S

EDITORIAL

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Frederico MazzucchelliRubens Rodrigues Filho

PIBão PIBinho

Entrevistas:

nova metodologia, novos resultados?

Page 2: Rumos - 280

Edição 2015

Prêmio ABDE-BID

Veja o regulamento em:www.abde.org.br

Inscreva sua monogra�aaté o dia 23 de agosto

Realização

Page 3: Rumos - 280

PIBão PIBinho

que uma nação precisa para crescer em cenários potencial-mente adversos? Empreender pode ser uma saída, e é o que procuraram fazer os prefeitos das cidades brasileiras reunidos no III Encontro dos Municípios com o Desen-volvimento Sustentável, realizado pela Frente Nacional de

Prefeitos e o Sebrae. Na reportagem sobre o evento, é possível conhecer as iniciativas criativas já adotadas por prefeitos nas cidades e também as discussões que norteiam o futuro dos municípios, como uma possível reforma do pacto federativo brasileiro.

Mas não são só os “síndicos das cidades” que estão revendo seus con-ceitos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística se preparou para, este ano, mudar o Sistema de Contas Nacionais e rever, tendo o ano de 2011 como referência, vários indicadores da economia brasileira, com destaque para o Produto Interno Bruto (PIB). A nova metodologia, que segue um padrão internacional, é complexa e mereceu nossa reportagem de capa. No texto é possível ver, amiúde, o que mudou, por que mudou e o impacto que teve sobre os dados do passado e os que serão divulgados no futuro.

A crise hídrica volta novamente às páginas da revista, dessa vez com a especialista Marilene Ramos, engenheira ambiental, que explica como podem ser possíveis os reusos e os compartilhamentos de bacias hidro-gráficas entre diversos estados.

Dois artigos sobre microcrédito merecem um olhar atento, um do pesquisador Franco de Matos, a respeito da institucionalização e conver-gência das políticas públicas da área, e o outro de Andrej Slivnik, sobre o microcrédito produtivo na Bolívia. Boa leitura!

OAO LEITOR

Seção

RUMOS – 3 – Março/Abril 2015

S SUMÁRIO

FOMENTO46

28

EMPREENDER12

Adequação necessária

REPORTAGEM CAPA

40REPORTAGEMApoio ao desenvolvimento regional

LIVROS48

20ENTREVISTAFrederico Mazzucchelli O passado glorioso

Jorg

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24ARTIGOFranco de MatosPolíticas de crédito para pequenos empreendimentos no Brasil

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Fa

iad 37

OPINIÃO

Dois anos

44PELO MUNDO

Microcrédito e Desenvolvimento Produtivo na Bolívia

EXPERTISEGestão eficiente e investimentos8

38EXTREMO SUL

Novos paradigmas

PREFEITOS EMPREENDEDORES

O imperativo da boa gestão

ENTREVISTA4Um bom caminho a seguir

Rubens Rodrigues Filho

42ARTIGO

Os desafios da gestão pública frente à inovação

Maria Celeste Emerick

Antonio Delfim Netto

Andrej Slivnik

Financiamento

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RUMOS – 4 – Março/Abril 2015 RUMOS – 5 – Março/Abril 2015

Por Thais Schettino e Jader Moraes

umos – Após um período de expansão do cré-dito vivido nos últimos anos, o país atravessa um momento em que se espera uma retração na oferta creditícia, em virtude da crise eco-nômica. Qual o papel das Instituições Finan-

ceiras de Desenvolvimento (IFD) neste cenário econô-mico adverso?Rubens Rodrigues Filho – Independentemente do ambien-te político-econômico vivenciado, as IFDs têm um papel fun-damental no fomento do desenvolvimento regional. Em um cenário econômico marcado pelo ajuste fiscal e controle dos gastos públicos, o governo vem buscando o restabelecimento do crescimento econômico. Nesse contexto, observa-se uma maior dificuldade no acesso a linhas de crédito, principalmen-te nas instituições financeiras convencionais. Esse cenário con-tribui para o aumento da demanda de crédito nas IFDs, tor-nando-se mais relevante a atuação dessas instituições, que deverão trabalhar para manter o fluxo de recursos nos setores por elas assistidos, ou seja, o financiamento da infraestrutura de municípios e o incentivo às empresas locais.

Rumos – Qual a importância do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) para o cresci-mento do setor cooperativo?Rubens Rodrigues Filho – Antes de responder, gostaria de fazer uma observação quanto ao ramo do cooperativismo de crédito, que atualmente disponibiliza produtos e serviços

RUBENS RODRIGUES FILHO

Rampliar o escopo de atuação de entidades de auditoria coope-rativa (EAC), o que possibilitará racionalização, segurança, especialização e, também, maior independência no âmbito da inspeção direta.

A publicação das novas regras pelo Banco Central facilita-rá o acesso às cooperativas financeiras a mais pessoas, nas mais diversas localidades. Em contrapartida, demanda das coopera-tivas um reforço na gestão de riscos e na governança corpora-tiva, o que torna o segmento mais seguro, confiável e atrativo.

Rumos – Qual a importância das cooperativas financei-ras para o desenvolvimento do país?Rubens Rodrigues Filho – O Sistema Financeiro Coopera-tivo vem avançando de maneira expressiva, incrementando sua participação no Sistema Financeiro Nacional. Conforme dados do Banco Central, em operações de crédito, por exem-plo, crescemos 127% nos últimos cinco anos, registrando um saldo de R$ 68 bilhões em 2014. As captações de depósitos alcançaram a marca de R$ 68,5 bilhões.

Contribui para o crescimento do sistema, que possui atual-mente 7 milhões de associados, o investimento constante em tecnologia e a melhoria dos processos de gestão e governança, refletindo em um atendimento com excelência e uma maior sensação de pertencimento do associado.

Vale citar ainda que a presença do cooperativismo finan-ceiro é bastante expressiva no interior do país. O Sicoob, por exemplo, é a única instituição financeira em 227 municípios

E ENTREVISTA

Um bom caminho a seguir

Com 7 milhões de associados, o Sistema Financeiro Cooperativo tem ampliado a oferta de produtos e serviços, mantendo um modelo de negócios que gera inclusão financeira e desenvolvimento local. Nesta entrevista, o diretor de controle do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) e presidente da ABDE fala sobre os diferenciais do setor

financeiros diversificados, como cartões de crédito, consór-cios, previdência complementar, seguros etc. Assim, o ramo vem assumindo uma nova “identidade” com o emprego de novas expressões como: instituições financeiras cooperati-vas, cooperativas financeiras, cooperativismo financeiro e sis-tema financeiro cooperativo.

Voltando à pergunta. Fazendo parte da modernização e consolidação do arcabouço normativo, o FGCoop demons-tra à sociedade que o Sistema Financeiro Cooperativo apre-senta as mesmas garantias e segurança providas pelas institui-ções financeiras convencionais. Instituído pela Resolução CMN 4.150/2012, o Fundo abrange todas as cooperativas financeiras que captam depósitos e também os bancos coo-perativos.

O FGCoop tem como objetivo garantir o depositante nas situações de intervenção ou de liquidação extrajudicial. No futuro, poderá contratar operações de assistência e de supor-te financeiro, incluindo operações de liquidez com as institui-ções associadas, diretamente ou por intermédio de central ou confederação. O FGCoop garante por depositante, a exem-plo do FGC, o valor de R$ 250 mil, tanto para pessoa física quanto jurídica.

Assim, o FGCoop proporciona não só benefícios direta-mente aos cooperados por terem suas entidades assistidas pelo Fundo, como também provê solidez e segurança, contri-buindo para a prevenção de crises sistêmicas e promovendo a manutenção da estabilidade.

Rumos – Como o segmento vê a regulamentação do setor que o Banco Central colocou em consulta pública no último ano?Rubens Rodrigues Filho – Com a crescente expansão do cooperativismo financeiro, o Banco Central do Brasil vem tra-balhando com o intuito de atender aos anseios desse segmen-to, buscando aprimorar sua regulamentação, o que legitima seu crescimento e com isso torna-o mais competitivo. Tanto que, em novembro de 2014, publicou três editais de consulta pública que alteram o regime das sociedades cooperativas.

O primeiro, edital nº 46/2014, dispõe sobre a criação de cooperativas especializadas em oferecer garantias às opera-ções de crédito das microempresas e empresas de pequeno porte, a fim de suprir as dificuldades que essas sociedades encontram em obter crédito, especialmente capital de giro e investimento, para o financiamento de suas atividades.

O segundo, edital n° 47/2014, pretende alterar a Resolu-ção CMN 3.859/2010, que atualmente disciplina as cooperati-vas de crédito. Pela proposta, as cooperativas passarão a ser classificadas de acordo com as operações realizadas e não mais de acordo com o critério de segmentação do seu quadro asso-ciativo. Essa alteração refletirá melhor o perfil de risco de cada cooperativa e permitirá o atendimento de qualquer pessoa, físi-ca ou jurídica, atualmente já praticado pelas cooperativas de livre admissão.

E, por fim, o edital n° 48/2014, que dispõe sobre auditoria no segmento do cooperativismo financeiro. Tal alteração visa

Rubens Rodrigues Filho é economista, com MBA em Auditoria pela Universidade de São Paulo (USP). Possui mais de 30 anos de experiência no setor financeiro. Ocupou o cargo de Diretor de Controles Internos do Banco do Brasil e desde novembro de 2008 atua como Diretor de Controle do Banco Cooperativo do Brasil S.A. (Bancoob). Atualmente, exerce a Presidência da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).

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RUMOS – 4 – Março/Abril 2015 RUMOS – 5 – Março/Abril 2015

Por Thais Schettino e Jader Moraes

umos – Após um período de expansão do cré-dito vivido nos últimos anos, o país atravessa um momento em que se espera uma retração na oferta creditícia, em virtude da crise eco-nômica. Qual o papel das Instituições Finan-

ceiras de Desenvolvimento (IFD) neste cenário econô-mico adverso?Rubens Rodrigues Filho – Independentemente do ambien-te político-econômico vivenciado, as IFDs têm um papel fun-damental no fomento do desenvolvimento regional. Em um cenário econômico marcado pelo ajuste fiscal e controle dos gastos públicos, o governo vem buscando o restabelecimento do crescimento econômico. Nesse contexto, observa-se uma maior dificuldade no acesso a linhas de crédito, principalmen-te nas instituições financeiras convencionais. Esse cenário con-tribui para o aumento da demanda de crédito nas IFDs, tor-nando-se mais relevante a atuação dessas instituições, que deverão trabalhar para manter o fluxo de recursos nos setores por elas assistidos, ou seja, o financiamento da infraestrutura de municípios e o incentivo às empresas locais.

Rumos – Qual a importância do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) para o cresci-mento do setor cooperativo?Rubens Rodrigues Filho – Antes de responder, gostaria de fazer uma observação quanto ao ramo do cooperativismo de crédito, que atualmente disponibiliza produtos e serviços

RUBENS RODRIGUES FILHO

Rampliar o escopo de atuação de entidades de auditoria coope-rativa (EAC), o que possibilitará racionalização, segurança, especialização e, também, maior independência no âmbito da inspeção direta.

A publicação das novas regras pelo Banco Central facilita-rá o acesso às cooperativas financeiras a mais pessoas, nas mais diversas localidades. Em contrapartida, demanda das coopera-tivas um reforço na gestão de riscos e na governança corpora-tiva, o que torna o segmento mais seguro, confiável e atrativo.

Rumos – Qual a importância das cooperativas financei-ras para o desenvolvimento do país?Rubens Rodrigues Filho – O Sistema Financeiro Coopera-tivo vem avançando de maneira expressiva, incrementando sua participação no Sistema Financeiro Nacional. Conforme dados do Banco Central, em operações de crédito, por exem-plo, crescemos 127% nos últimos cinco anos, registrando um saldo de R$ 68 bilhões em 2014. As captações de depósitos alcançaram a marca de R$ 68,5 bilhões.

Contribui para o crescimento do sistema, que possui atual-mente 7 milhões de associados, o investimento constante em tecnologia e a melhoria dos processos de gestão e governança, refletindo em um atendimento com excelência e uma maior sensação de pertencimento do associado.

Vale citar ainda que a presença do cooperativismo finan-ceiro é bastante expressiva no interior do país. O Sicoob, por exemplo, é a única instituição financeira em 227 municípios

E ENTREVISTA

Um bom caminho a seguir

Com 7 milhões de associados, o Sistema Financeiro Cooperativo tem ampliado a oferta de produtos e serviços, mantendo um modelo de negócios que gera inclusão financeira e desenvolvimento local. Nesta entrevista, o diretor de controle do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) e presidente da ABDE fala sobre os diferenciais do setor

financeiros diversificados, como cartões de crédito, consór-cios, previdência complementar, seguros etc. Assim, o ramo vem assumindo uma nova “identidade” com o emprego de novas expressões como: instituições financeiras cooperati-vas, cooperativas financeiras, cooperativismo financeiro e sis-tema financeiro cooperativo.

Voltando à pergunta. Fazendo parte da modernização e consolidação do arcabouço normativo, o FGCoop demons-tra à sociedade que o Sistema Financeiro Cooperativo apre-senta as mesmas garantias e segurança providas pelas institui-ções financeiras convencionais. Instituído pela Resolução CMN 4.150/2012, o Fundo abrange todas as cooperativas financeiras que captam depósitos e também os bancos coo-perativos.

O FGCoop tem como objetivo garantir o depositante nas situações de intervenção ou de liquidação extrajudicial. No futuro, poderá contratar operações de assistência e de supor-te financeiro, incluindo operações de liquidez com as institui-ções associadas, diretamente ou por intermédio de central ou confederação. O FGCoop garante por depositante, a exem-plo do FGC, o valor de R$ 250 mil, tanto para pessoa física quanto jurídica.

Assim, o FGCoop proporciona não só benefícios direta-mente aos cooperados por terem suas entidades assistidas pelo Fundo, como também provê solidez e segurança, contri-buindo para a prevenção de crises sistêmicas e promovendo a manutenção da estabilidade.

Rumos – Como o segmento vê a regulamentação do setor que o Banco Central colocou em consulta pública no último ano?Rubens Rodrigues Filho – Com a crescente expansão do cooperativismo financeiro, o Banco Central do Brasil vem tra-balhando com o intuito de atender aos anseios desse segmen-to, buscando aprimorar sua regulamentação, o que legitima seu crescimento e com isso torna-o mais competitivo. Tanto que, em novembro de 2014, publicou três editais de consulta pública que alteram o regime das sociedades cooperativas.

O primeiro, edital nº 46/2014, dispõe sobre a criação de cooperativas especializadas em oferecer garantias às opera-ções de crédito das microempresas e empresas de pequeno porte, a fim de suprir as dificuldades que essas sociedades encontram em obter crédito, especialmente capital de giro e investimento, para o financiamento de suas atividades.

O segundo, edital n° 47/2014, pretende alterar a Resolu-ção CMN 3.859/2010, que atualmente disciplina as cooperati-vas de crédito. Pela proposta, as cooperativas passarão a ser classificadas de acordo com as operações realizadas e não mais de acordo com o critério de segmentação do seu quadro asso-ciativo. Essa alteração refletirá melhor o perfil de risco de cada cooperativa e permitirá o atendimento de qualquer pessoa, físi-ca ou jurídica, atualmente já praticado pelas cooperativas de livre admissão.

E, por fim, o edital n° 48/2014, que dispõe sobre auditoria no segmento do cooperativismo financeiro. Tal alteração visa

Rubens Rodrigues Filho é economista, com MBA em Auditoria pela Universidade de São Paulo (USP). Possui mais de 30 anos de experiência no setor financeiro. Ocupou o cargo de Diretor de Controles Internos do Banco do Brasil e desde novembro de 2008 atua como Diretor de Controle do Banco Cooperativo do Brasil S.A. (Bancoob). Atualmente, exerce a Presidência da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).

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RUBENS RODRIGUES FILHOE ENTREVISTA

brasileiros. Com essas características, as cooperativas finan-ceiras são instituições que oferecem produtos e serviços a pre-ços justos aos seus cooperados. No modelo de negócios das cooperativas, os excedentes retornam aos associados ao final do exercício, gerando alocação de recursos na região de atua-ção, promovendo a inclusão financeira, apoiando o investi-mento e estimulando o consumo local. Assim, as cooperati-vas financeiras cumprem seu principal objetivo que é apoiar o desenvolvimento regional.

Rumos – Que experiências de cooperativas de crédito existem no mundo, que podem servir de referência para o Brasil? Rubens Rodrigues Filho – Atualmente é muito intensa e produtiva a troca de experiên-cias entre as cooperativas financeiras de diversos países. O próprio cooperativismo bra-sileiro atrai, principalmente pelo potencial de crescimento, a atenção de entidades interna-cionais. Um bom exemplo dis-so é a participação dos maiores sistemas brasileiros de coope-rativismo financeiro em asso-ciações ou confederações internacionais, como o CIBP, com foco no cooperativismo europeu, ou o WOCCU, no modelo norte-americano.

Os modelos de governan-ça, produtos e serviços e ges-tão de riscos praticados no Bra-sil estão alinhados com os adotados ao redor do mundo. Exem-plos de modernização dos processos em outros países são estu-dados e adaptados, quando permitidos pelo regulador, ao modelo brasileiro.

O potencial de crescimento do cooperativismo financeiro brasileiro é muito grande. O segmento tem crescido a uma média de 23% ao ano, e representa apenas 2% dos ativos do Sistema Financeiro Nacional. Ainda temos um bom caminho a percorrer, já que em países como França e Alemanha a parti-cipação é superior a 25%.

Rumos – Como intensificar a relação entre o sistema coo-perativo e os demais membros do SNF, em especial as agências de fomento e os bancos de desenvolvimento?Rubens Rodrigues Filho – Diferenciadas pelas suas deno-minações sociais e controle de capital, a afinidade das coope-rativas financeiras, das agências de fomento e dos bancos de desenvolvimento se dá pelo objetivo dessas instituições em promover o desenvolvimento regional, a inclusão financeira e produtiva e fomentar o investimento privado. Para apoiar o relacionamento entre elas é de fundamental importância o papel de associações que as conectem, exercendo atividades que visem os seus interesses comuns, promovendo e incenti-

vando o intercâmbio de ideias e realizando estudos e pesqui-sas. Como exemplo, temos a Associação Brasileira de Desen-volvimento (ABDE) que, há mais de 40 anos, existe com o propósito de potencializar os esforços dessas entidades.

Rumos – Quais os diferenciais do modelo cooperativo que podem inspirar outras IFDs?Rubens Rodrigues Filho – As cooperativas financeiras bus-cam um relacionamento diferenciado, fazendo prevalecer os princípios cooperativistas universais com seus associados, que são: gestão democrática; participação econômica; auto-

nomia e independência; educação, formação e informação; intercoopera-ção; e interesse na comuni-dade.

Considero que esses princípios, que represen-tam os pilares de atuação do modelo cooperativo, possam inspirar todas as IFDs no atingimento de seus objetivos institucio-nais de apoio ao desenvol-vimento regional e aos empreendedores.

Rumos – Como conciliar as agendas de desenvol-vimento e da sustentabi-lidade? Que contribui-ções as cooperativas podem dar neste sentido?R u b e n s R o d r i g u e s Filho – Não podemos des-

vincular desenvolvimento de sustentabilidade. Entendo que o papel das cooperativas e das instituições que viabilizam o crédito para o investimento é fundamental na orientação sobre a correta aplicação dos recursos. Essa atuação é neces-sária para induzir e reforçar iniciativas em atividades econô-micas sustentáveis. Em relação às ações de responsabilidade socioambiental, as cooperativas financeiras e as IFDs têm compromisso firmado de adesão ao Protocolo Verde.

Em 2013, o Banco Central publicou a Resolução CMN 4.327 que determina que todas as instituições financeiras devem estabelecer políticas de responsabilidade socioambi-ental. Até então essas políticas, quando existiam, ficavam a cri-tério de cada instituição. Conciliar as agendas de desenvolvi-mento e sustentabilidade é um grande desafio, tanto para o Sistema Financeiro Cooperativo quanto para as IFDs. Acre-dito que é um caminho sem volta e que todos devem estar empenhados em viabilizar a adoção de políticas socioambi-entais. Nesse sentido, a ABDE vem contribuindo de forma efetiva na orientação às IFDs, como por exemplo, a publica-ção em 2014 do “Guia de Responsabilidade Socioambiental” feito em parceria com o Banco Interamericano de Desenvol-vimento (BID) e também com a realização de seminários sobre essa temática.

O próprio cooperativismo brasileiro atrai, principalmente pelo potencial de crescimento, a atenção de entidades internacionais. Um bom exemplo disso é a participação dos maiores sistemas de cooperativismo financeiro brasileiroem associações ou confederações internacionais.

RUMOS – 6 – Março/Abril 2015

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UMA ASSOCIAÇÃO A SERVIÇO DO PAÍS

NOSSOS VALORES. Como nos comportamos no mundo:

INTERDEPENDÊNCIA É SOMA. E a soma multiplica forças. Quanto maior a união e o compromisso com o sistema, mais fácil será atingir um equilíbrio produtivo.

CONHECIMENTO É PODER. Poder de transformar realidades, criar novas possibilidades e inovar em caminhos que levem ao desenvolvimento sustentável.

COMUNICAÇÃO É CONQUISTA. Acreditamos no poder das palavras. Um discurso embasado e bem construído é a ferramenta mais eficaz e persuasiva pra chegar onde se planeja. E com assertividade e relevância se vai longe.

UM IDEAL É UM COMPROMISSO. E é com compromisso e inspiração que construímos pequenas mudanças no dia a dia. Tudo isso porque sentimos que somos os conectores de algo maior.

www.abde.org.br

Page 8: Rumos - 280

RUMOS 8 Março/Abril 2015 – – RUMOS 9 – Março/Abril 2015 –

á tempos não se via estiagem tão persis-tente e tão preocupante. Todos os dias os jornais trazem mais e mais informa-ções sobre falta de chuvas, reservatórios vazios e ameaças de racionamento. Para

falar sobre a crise hídrica que vem afetando o país, especialmente a região Sudeste, conversamos com a doutora em Engenharia Ambiental pela Cop-pe/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora adjunta do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas, Marile-ne Ramos. Para a especialista, é preciso gerir atenta-mente os estoques ainda existentes nesses reservató-rios, além de aumentar os cuidados com perdas e desperdícios. “Devemos sair desta crise aprendendo as lições que ela está nos ensinando, ou seja, fazendo um uso mais eficiente e racional dos recursos hídri-cos”, recomenda.

Marilene Ramos descreve a situação de hoje como “uma crise inesperada”, já que os verões de 2013 e 2014 já tinham sido muito secos e isso se repetiu em 2015, o que é incomum e contribuiu para agravar ainda mais o quadro. “Nosso período de chuvas vai até março, no máximo início de abril, e tivemos pou-cos dias de chuvas mais expressivas. A probabilidade de não chover no próximo verão é muito baixa, mas não é estatisticamente impossível, por isso, a situação é muito delicada e torna a gestão bem mais difícil”, explica. Ela avisa que teremos uma longa travessia até outubro, período em que as chuvas são naturalmente mais escassas. “Se os reservatórios não se recupera-ram até agora, não será daqui para a frente que isso vai acontecer”, avisa a especialista em Gestão de Recur-sos Hídricos e Meio Ambiente.

A crise hídrica em São Paulo ocupou o noticiário deste início de ano, entretanto o problema é nacional e não é apenas de falta de chuvas.A solução passa pela adoção de políticas efetivas de gestão das bacias hidrográficas, de promoção de obras de saneamento básico e, claro, de conscientização de todos contra o desperdício, como aponta a engenheira ambiental Marilene Ramos, nesta entrevista à Rumos

Por Ana Redig

HEEX

PE

RTI

SE

Gestão eficiente e investimentos

Marilene Ramos

Com ampla experiência na formulação no pla-nejamento de bacias hidrográficas, planejamento ambiental e infraestrutura urbana e reformulação do setor de saneamento, Marilene conhece bem os dois lados da moeda, já que esteve cedida ao gover-no do estado do Rio por sete anos. Em 2008, ela substituiu o secretário de Meio Ambiente, Carlos Minc, quando este assumiu a mesma pasta no minis-tério de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando ele voltou ao cargo, ela se tornou diretora do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Atualmente, a especialista responde como diretora-adjunta do Centro de Estudos em Regulação e In-fraestruruta da FGV.

Marilene Ramos explica que o estado do Rio de Janeiro vive situações complicadas, já que 90% da sua demanda é suprida apenas por uma fonte de abastecimento: o rio Paraíba do Sul. Por isso, qual-quer negociação que envolva o rio deixa o estado em uma posição delicada em relação à crise hídrica. “Temos avançado muito no que tange à gestão. O Rio foi o estado que mais evoluiu neste quesito”, ela garante. O Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA) confirma. Segundo o documento, o Rio de Janeiro instalou os comitês de baías hidrográficas, formados por usuários de água, organizações da sociedade civil e dos poderes públicos, de forma colegiada; aderiu ao cadastro nacional, registrando, de forma integra-da com a ANA, mais de 12 mil usuários de água; implantou plenamente o sistema de cobrança; e está com seu Plano de Recursos Hídricos totalmente equalizado, aplicando os recursos das cobranças na melhoria do sistema hídrico.

O “x” da questão – A crise hídrica que aflige São Paulo de forma crítica, e que tem sido motivo de grande preocupação, vem sendo mais sentida na Região Metropolitana e na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, onde está o Sistema Cantareira. Abastecido por rios mineiros, que também sofrem com a falta de chuvas, obrigou a Sabesp (empresa responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos do estado de São Paulo) a reduzir sua captação entre 50% e 58%. “A água da capital é fornecida pelos Sistemas Guarapiranga e do Alto Tietê, este último abastecido por um rio paulista que corre para o rio Paraná. Portanto, o abasteci-mento da capital se dá de forma independen-te de outros estados”, explica. Marilene diz que a “competição” entre os usos entre o Rio de Janeiro e São Paulo acontece na região do Vale do Paraíba Paulista, que abrange Tauba-té, São José dos Campos, Paraibuna, Guara-tinguetá, entre outras cidades.

O que ocasionou uma grande disputa e um desconforto com o Rio de Janeiro é uma transposição que São Paulo vai fazer do Reservatório do rio Jaguari, que fica na região da bacia do Paraíba do Sul para socor-rer o Sistema Cantareira, esclarece Marilene Ramos. “Desviar em 5% a captação do rio Jaguari para abastecer o Sistema Cantareira não afeta a disponibilização de água para o Rio de Janeiro, e ajuda muito em São Paulo”. Para o Rio de Janeiro, toda a região do Médio Paraíba do Sul, que vai desde Itatiaia até Três L

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Marilene Ramos é doutora em Engenharia Ambiental pela Coppe/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora adjunta do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas.

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RUMOS 8 Março/Abril 2015 – – RUMOS 9 – Março/Abril 2015 –

á tempos não se via estiagem tão persis-tente e tão preocupante. Todos os dias os jornais trazem mais e mais informa-ções sobre falta de chuvas, reservatórios vazios e ameaças de racionamento. Para

falar sobre a crise hídrica que vem afetando o país, especialmente a região Sudeste, conversamos com a doutora em Engenharia Ambiental pela Cop-pe/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora adjunta do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas, Marile-ne Ramos. Para a especialista, é preciso gerir atenta-mente os estoques ainda existentes nesses reservató-rios, além de aumentar os cuidados com perdas e desperdícios. “Devemos sair desta crise aprendendo as lições que ela está nos ensinando, ou seja, fazendo um uso mais eficiente e racional dos recursos hídri-cos”, recomenda.

Marilene Ramos descreve a situação de hoje como “uma crise inesperada”, já que os verões de 2013 e 2014 já tinham sido muito secos e isso se repetiu em 2015, o que é incomum e contribuiu para agravar ainda mais o quadro. “Nosso período de chuvas vai até março, no máximo início de abril, e tivemos pou-cos dias de chuvas mais expressivas. A probabilidade de não chover no próximo verão é muito baixa, mas não é estatisticamente impossível, por isso, a situação é muito delicada e torna a gestão bem mais difícil”, explica. Ela avisa que teremos uma longa travessia até outubro, período em que as chuvas são naturalmente mais escassas. “Se os reservatórios não se recupera-ram até agora, não será daqui para a frente que isso vai acontecer”, avisa a especialista em Gestão de Recur-sos Hídricos e Meio Ambiente.

A crise hídrica em São Paulo ocupou o noticiário deste início de ano, entretanto o problema é nacional e não é apenas de falta de chuvas.A solução passa pela adoção de políticas efetivas de gestão das bacias hidrográficas, de promoção de obras de saneamento básico e, claro, de conscientização de todos contra o desperdício, como aponta a engenheira ambiental Marilene Ramos, nesta entrevista à Rumos

Por Ana Redig

HEEX

PE

RTI

SE

Gestão eficiente e investimentos

Marilene Ramos

Com ampla experiência na formulação no pla-nejamento de bacias hidrográficas, planejamento ambiental e infraestrutura urbana e reformulação do setor de saneamento, Marilene conhece bem os dois lados da moeda, já que esteve cedida ao gover-no do estado do Rio por sete anos. Em 2008, ela substituiu o secretário de Meio Ambiente, Carlos Minc, quando este assumiu a mesma pasta no minis-tério de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando ele voltou ao cargo, ela se tornou diretora do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Atualmente, a especialista responde como diretora-adjunta do Centro de Estudos em Regulação e In-fraestruruta da FGV.

Marilene Ramos explica que o estado do Rio de Janeiro vive situações complicadas, já que 90% da sua demanda é suprida apenas por uma fonte de abastecimento: o rio Paraíba do Sul. Por isso, qual-quer negociação que envolva o rio deixa o estado em uma posição delicada em relação à crise hídrica. “Temos avançado muito no que tange à gestão. O Rio foi o estado que mais evoluiu neste quesito”, ela garante. O Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA) confirma. Segundo o documento, o Rio de Janeiro instalou os comitês de baías hidrográficas, formados por usuários de água, organizações da sociedade civil e dos poderes públicos, de forma colegiada; aderiu ao cadastro nacional, registrando, de forma integra-da com a ANA, mais de 12 mil usuários de água; implantou plenamente o sistema de cobrança; e está com seu Plano de Recursos Hídricos totalmente equalizado, aplicando os recursos das cobranças na melhoria do sistema hídrico.

O “x” da questão – A crise hídrica que aflige São Paulo de forma crítica, e que tem sido motivo de grande preocupação, vem sendo mais sentida na Região Metropolitana e na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, onde está o Sistema Cantareira. Abastecido por rios mineiros, que também sofrem com a falta de chuvas, obrigou a Sabesp (empresa responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos do estado de São Paulo) a reduzir sua captação entre 50% e 58%. “A água da capital é fornecida pelos Sistemas Guarapiranga e do Alto Tietê, este último abastecido por um rio paulista que corre para o rio Paraná. Portanto, o abasteci-mento da capital se dá de forma independen-te de outros estados”, explica. Marilene diz que a “competição” entre os usos entre o Rio de Janeiro e São Paulo acontece na região do Vale do Paraíba Paulista, que abrange Tauba-té, São José dos Campos, Paraibuna, Guara-tinguetá, entre outras cidades.

O que ocasionou uma grande disputa e um desconforto com o Rio de Janeiro é uma transposição que São Paulo vai fazer do Reservatório do rio Jaguari, que fica na região da bacia do Paraíba do Sul para socor-rer o Sistema Cantareira, esclarece Marilene Ramos. “Desviar em 5% a captação do rio Jaguari para abastecer o Sistema Cantareira não afeta a disponibilização de água para o Rio de Janeiro, e ajuda muito em São Paulo”. Para o Rio de Janeiro, toda a região do Médio Paraíba do Sul, que vai desde Itatiaia até Três L

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Marilene Ramos é doutora em Engenharia Ambiental pela Coppe/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora adjunta do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas.

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RUMOS 10 – Março/Abril 2015 – RUMOS 11 – Março/Abril 2015 –

Rios, mais a Baixada Fluminense e a capital depen-dem do rio Paraíba do Sul para seu abastecimento. O problema, segundo a engenheira, é que este trecho depende do volume da água acumulada em quatro reservatórios que ficam no estado de São Paulo. “Eu acredito e defendo o compartilhamen-to das bacias e reservatórios como estratégia de gestão, porque em muitos momentos é a única forma de enfrentar a crise hídrica”, diz Marilene. Segundo a especialista, a interligação de bacias propicia levar água de um lugar onde está choven-

do muito – com água sobrando, portanto – para outro reserva-tório que está vazio, precisando acumular água, como o Siste-ma Cantareira neste momento. “O quadro é de agravamento, com expectativa de seca, chuvas muito concentradas etc.”, alerta Marilene Ramos. Uma das medidas para lidar melhor com esta gestão é aumentar a capacidade de reservação. Guar-dar quando tem muita água e usar com a chegada da estiagem.

Para a especialista, qualquer país que almeje ter segurança hídrica para assegurar suas demandas e seu desenvolvimento precisa ter capacidade de reservação. Muitas vezes, no entanto, o problema é ter áreas alagáveis para construir os reservatórios. Na região da bacia do Paraíba do Sul, por exemplo, todos os terrenos adequados para este tipo de construção já foram utili-zados, não há mais áreas para novos reservatórios. “Por isso as transposições são necessárias, mas devem ser bem planejadas”, pondera. Parece, então, que é necessário mais do que decisões técnicas. É preciso vontade política e um pouco de diplomacia entre os governos estaduais e municipais, visando o abasteci-mento mais eficiente para todos.

Marilene Ramos diz que a transposição do rio São Francisco vai ter essa função. “Devido à sua localização, ele vem servindo apenas para tornar as águas do oceano Atlântico menos salga-das”, brinca. “Com a transposição, essas águas poderão ser reservadas na região do semiárido, onde a estiagem costuma ser longa e a demanda por recursos hídricos, portanto, grande.” Ainda que defensora do compartilhamento das águas, ela faz uma ressalva importante: as transposições estão sendo feitas sem que haja uma contrapartida para o estado do Rio. “Os rios estão degradados, perderam suas matas ciliares, estão sofrendo com poluição, já que a maior parte dos municípios não dispõe de tratamento de esgoto, jogando-o in natura nas águas. Apenas 30% recebem algum tipo de tratamento. Isso sem falar que ainda convivemos com lixões, responsáveis por grande parte da polui-ção desses rios”, destaca. A própria bacia do Guandu, que rece-be águas transpostas do Paraíba do Sul para abastecer a Região Metropolitana do Rio, é extremamente poluída e degradada. “Já que o Paraíba do Sul tornou-se um rio tão estratégico para o Rio, São Paulo e Minas Gerais, seria necessária e bem-vinda uma união de esforços entre o governo federal e os estados para empreender, tirar do papel um plano de recuperação para o Paraíba do Sul”, reivindica.

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Para Marilene, os estados beneficiados com a transposição dos rios deveriam contribuir com medidas de conservação e preservação e recuperação, para que estas águas possam conti-nuar a servir a todos. “Seriam bem-vindas medidas compensa-tórias capazes de recuperar o Paraíba do Sul, até para que ele possa continuar a servir a todos. É importantíssimo fazer um uso mais racional e não desperdiçar, mas também é preciso proteger nascentes e rios em toda a sua extensão”, defende Marilene Ramos.

Volume morto – Pela primeira vez, vamos ter que entrar no volume morto. O anúncio foi feito de forma grave e preocupante nos meios de comunicação. Talvez pelo nome, volume morto, a notícia tenha deixado muita gente apreensiva. Tecnicamente, o volume morto denomina uma área das barragens em que a válvula de captação fica acima da última cota de extração. Por-tanto para ser retirado dali sem gravidade, só por bombeamen-to. Por isso, ele funciona como uma reserva. “Imagine um filtro de água ou uma piscina em que a saída não seja um ralo, mas sim uma válvula na parede. O volume morto é aquela água que resta abaixo da válvula”, exemplifica Marilene Ramos. Ocorre que, por questões técnicas, no Reservatório de Parai-buna, que represa o Rio Paraíba do Sul, o volume morto é de 2 bilhões de metros cúbicos. Segundo a especialista, isto oferece uma garantia de uso deste recurso para o estado do Rio e muni-cípios do Vale do Paraíba Paulista. Mas como a área é literal-mente o fundo do reservatório, esta água tem que ser usada com muito critério e ser guardada para uma situação de extre-ma necessidade.

“Defendemos que, mesmo contendo todo este volume morto, se faça uma redução nas vazões de todos os quatro reservatórios que garantem a vazão do Paraíba do Sul para a transposição do Guandu: Paraibuna, Jaguari, Santa Branca, e Funil”, explica. A ANA já havia solicitado a redução da vazão de 180 m³/s para 140 m³/s, e a recomendação é que agora diminua ainda mais, para 110 m³/s, na captação feita em Santa Cecília, Barra do Piraí. Isso implica que algumas empresas localizadas especialmente nesta região façam sua captação em locais mais distantes, o que não pode ser feito da noite para o dia. Por isso, as empresas de abastecimento municipais da região, indústrias e a Cedae (empresa de águas e esgotos do Rio de Janeiro), que captam no Guandu, precisam se preparar para captar esta água até junho.

Já as siderúrgicas e metalúrgicas que estão no Médio Paraí-ba e utilizam água doce na sua produção não terão dificuldades em se adaptar. O problema se dá especialmente com a termelé-trica de Furnas, a TKCSA e a Gerdau que estão na foz do canal de São Francisco, que é a foz do rio Guandu. “Esta redução nova para 110 m³/s na barragem de Santa Cecília significa uma redução da vazão transposta. Como elas são muito próximas à baía de Sepetiba, quando a maré estiver alta, a cunha salina vai acabar entrando no Canal de São Francisco, fazendo com que

as empresas captem água salobra na tomada d’água”, explica. Por isso, essas empresas terão que fazer investimentos para captar a água em um trecho mais distante da baía de Sepetiba.

Mudanças necessárias – Para a engenheira, além da poluição e do uso não eficiente da água, existe o problema das perdas, muito grandes tanto no abastecimento público como no uso residencial e nos setores indus-trial e agrícola. O problema da falta de controle e do baixo nível de hidro-metração afeta grande parte ou a grande maioria das prestadoras de servi-ços de abastecimento de água no Brasil, já que poucos fazem gestão de perdas. Marilene destaca que a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e a Sabesp, de São Paulo, avançaram muito, porém esta é uma questão que ainda demanda muitos investimentos.

Como existe um grande déficit de abastecimento de água e o de sanea-mento é ainda maior, com grande carência de rede de esgotos, a tendência é que os investimentos aconteçam na ampliação deste sistema, e não no controle de perdas, hidrometração etc. “A crise está mostrando que vamos ter que encontrar recursos para investir na ampliação do abasteci-mento, na expansão da coleta e tratamento, mas também na questão de perdas e uso eficiente da água”, avisa.

Marilene diz que já existem empresas, indústrias e até grandes consu-midores, como condomínios preocupados em fazer mudanças de rotina, visando à economia dos recursos hídricos. Antes, ainda que custasse caro, podia valer a pena gastar a água da concessionária pública. Com a situação como está, começa a ficar atraente criar medidas de economia ou esta pode se configurar como única solução. “Esta mudança de atitude é um efeito benéfico da crise. Ela muda o comportamento do morador, do síndico, de indústrias que fecham alguns circuitos ou reaproveitam a água, fazem reuso, seja por medida de economia, seja por compreender que é um recurso finito e precisamos cuidar”, avalia.

Marilene comenta que, seguidamente, observamos questões tão críticas quanto a da água serem negligenciadas pela população por falta de cons-ciência ou, por ser mal atendida pelo serviço público, não se sentir estimula-da a colaborar. “É preciso colocar as questões ambientais no mesmo pata-mar de importância das de saúde pública, educação de qualidade etc. e levar isso para ser discutido e apresentado à população nesses momentos de crises. Ou então, vamos ter que esperar várias gerações para produzir cida-dãos que cresçam com essa consciência”, defende.

Para ela, para que a informação chegue à população de forma eficaz seria preciso uma campanha maciça, no horário nobre da televisão. “A urgência das questões ambientais faz com que nós necessitemos colocar esses problemas na ordem do dia, no mesmo patamar de preocupações como o crack e a gravidez na adolescência.”

A considerar o cenário preocupante projetado para este ano, já que não temos perspectivas de chuvas em quantidade suficiente até outubro, será preciso gerir cuidadosamente os estoques que existem nesses reservatórios. Também é primordial que comecemos, o quanto antes, a tomar medidas de médio e longo prazos que, exatamente por demorarem para apresentar resultados, precisam começar o quanto antes. Entre ações de médio prazo estão a recuperação dos mananciais, a despoluição das bacias hidrográficas, além do cuidado com as perdas e o desperdício, fazendo um uso mais efici-ente e racional dos recursos hídricos.

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Qualquer país que almeje ter segurança hídrica para assegurar suas demandas e seu desenvolvimento precisa ter capacidade de reservação.

É preciso colocar as questões ambientais no mesmo patamar de importância das de saúde pública, educação de qualidade etc.

Já existem empresas, indústrias e grandes consumidores preocupados em fazer economia dos recursos hídricos.

Marilene Ramos

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Rios, mais a Baixada Fluminense e a capital depen-dem do rio Paraíba do Sul para seu abastecimento. O problema, segundo a engenheira, é que este trecho depende do volume da água acumulada em quatro reservatórios que ficam no estado de São Paulo. “Eu acredito e defendo o compartilhamen-to das bacias e reservatórios como estratégia de gestão, porque em muitos momentos é a única forma de enfrentar a crise hídrica”, diz Marilene. Segundo a especialista, a interligação de bacias propicia levar água de um lugar onde está choven-

do muito – com água sobrando, portanto – para outro reserva-tório que está vazio, precisando acumular água, como o Siste-ma Cantareira neste momento. “O quadro é de agravamento, com expectativa de seca, chuvas muito concentradas etc.”, alerta Marilene Ramos. Uma das medidas para lidar melhor com esta gestão é aumentar a capacidade de reservação. Guar-dar quando tem muita água e usar com a chegada da estiagem.

Para a especialista, qualquer país que almeje ter segurança hídrica para assegurar suas demandas e seu desenvolvimento precisa ter capacidade de reservação. Muitas vezes, no entanto, o problema é ter áreas alagáveis para construir os reservatórios. Na região da bacia do Paraíba do Sul, por exemplo, todos os terrenos adequados para este tipo de construção já foram utili-zados, não há mais áreas para novos reservatórios. “Por isso as transposições são necessárias, mas devem ser bem planejadas”, pondera. Parece, então, que é necessário mais do que decisões técnicas. É preciso vontade política e um pouco de diplomacia entre os governos estaduais e municipais, visando o abasteci-mento mais eficiente para todos.

Marilene Ramos diz que a transposição do rio São Francisco vai ter essa função. “Devido à sua localização, ele vem servindo apenas para tornar as águas do oceano Atlântico menos salga-das”, brinca. “Com a transposição, essas águas poderão ser reservadas na região do semiárido, onde a estiagem costuma ser longa e a demanda por recursos hídricos, portanto, grande.” Ainda que defensora do compartilhamento das águas, ela faz uma ressalva importante: as transposições estão sendo feitas sem que haja uma contrapartida para o estado do Rio. “Os rios estão degradados, perderam suas matas ciliares, estão sofrendo com poluição, já que a maior parte dos municípios não dispõe de tratamento de esgoto, jogando-o in natura nas águas. Apenas 30% recebem algum tipo de tratamento. Isso sem falar que ainda convivemos com lixões, responsáveis por grande parte da polui-ção desses rios”, destaca. A própria bacia do Guandu, que rece-be águas transpostas do Paraíba do Sul para abastecer a Região Metropolitana do Rio, é extremamente poluída e degradada. “Já que o Paraíba do Sul tornou-se um rio tão estratégico para o Rio, São Paulo e Minas Gerais, seria necessária e bem-vinda uma união de esforços entre o governo federal e os estados para empreender, tirar do papel um plano de recuperação para o Paraíba do Sul”, reivindica.

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PE

RTI

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Para Marilene, os estados beneficiados com a transposição dos rios deveriam contribuir com medidas de conservação e preservação e recuperação, para que estas águas possam conti-nuar a servir a todos. “Seriam bem-vindas medidas compensa-tórias capazes de recuperar o Paraíba do Sul, até para que ele possa continuar a servir a todos. É importantíssimo fazer um uso mais racional e não desperdiçar, mas também é preciso proteger nascentes e rios em toda a sua extensão”, defende Marilene Ramos.

Volume morto – Pela primeira vez, vamos ter que entrar no volume morto. O anúncio foi feito de forma grave e preocupante nos meios de comunicação. Talvez pelo nome, volume morto, a notícia tenha deixado muita gente apreensiva. Tecnicamente, o volume morto denomina uma área das barragens em que a válvula de captação fica acima da última cota de extração. Por-tanto para ser retirado dali sem gravidade, só por bombeamen-to. Por isso, ele funciona como uma reserva. “Imagine um filtro de água ou uma piscina em que a saída não seja um ralo, mas sim uma válvula na parede. O volume morto é aquela água que resta abaixo da válvula”, exemplifica Marilene Ramos. Ocorre que, por questões técnicas, no Reservatório de Parai-buna, que represa o Rio Paraíba do Sul, o volume morto é de 2 bilhões de metros cúbicos. Segundo a especialista, isto oferece uma garantia de uso deste recurso para o estado do Rio e muni-cípios do Vale do Paraíba Paulista. Mas como a área é literal-mente o fundo do reservatório, esta água tem que ser usada com muito critério e ser guardada para uma situação de extre-ma necessidade.

“Defendemos que, mesmo contendo todo este volume morto, se faça uma redução nas vazões de todos os quatro reservatórios que garantem a vazão do Paraíba do Sul para a transposição do Guandu: Paraibuna, Jaguari, Santa Branca, e Funil”, explica. A ANA já havia solicitado a redução da vazão de 180 m³/s para 140 m³/s, e a recomendação é que agora diminua ainda mais, para 110 m³/s, na captação feita em Santa Cecília, Barra do Piraí. Isso implica que algumas empresas localizadas especialmente nesta região façam sua captação em locais mais distantes, o que não pode ser feito da noite para o dia. Por isso, as empresas de abastecimento municipais da região, indústrias e a Cedae (empresa de águas e esgotos do Rio de Janeiro), que captam no Guandu, precisam se preparar para captar esta água até junho.

Já as siderúrgicas e metalúrgicas que estão no Médio Paraí-ba e utilizam água doce na sua produção não terão dificuldades em se adaptar. O problema se dá especialmente com a termelé-trica de Furnas, a TKCSA e a Gerdau que estão na foz do canal de São Francisco, que é a foz do rio Guandu. “Esta redução nova para 110 m³/s na barragem de Santa Cecília significa uma redução da vazão transposta. Como elas são muito próximas à baía de Sepetiba, quando a maré estiver alta, a cunha salina vai acabar entrando no Canal de São Francisco, fazendo com que

as empresas captem água salobra na tomada d’água”, explica. Por isso, essas empresas terão que fazer investimentos para captar a água em um trecho mais distante da baía de Sepetiba.

Mudanças necessárias – Para a engenheira, além da poluição e do uso não eficiente da água, existe o problema das perdas, muito grandes tanto no abastecimento público como no uso residencial e nos setores indus-trial e agrícola. O problema da falta de controle e do baixo nível de hidro-metração afeta grande parte ou a grande maioria das prestadoras de servi-ços de abastecimento de água no Brasil, já que poucos fazem gestão de perdas. Marilene destaca que a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e a Sabesp, de São Paulo, avançaram muito, porém esta é uma questão que ainda demanda muitos investimentos.

Como existe um grande déficit de abastecimento de água e o de sanea-mento é ainda maior, com grande carência de rede de esgotos, a tendência é que os investimentos aconteçam na ampliação deste sistema, e não no controle de perdas, hidrometração etc. “A crise está mostrando que vamos ter que encontrar recursos para investir na ampliação do abasteci-mento, na expansão da coleta e tratamento, mas também na questão de perdas e uso eficiente da água”, avisa.

Marilene diz que já existem empresas, indústrias e até grandes consu-midores, como condomínios preocupados em fazer mudanças de rotina, visando à economia dos recursos hídricos. Antes, ainda que custasse caro, podia valer a pena gastar a água da concessionária pública. Com a situação como está, começa a ficar atraente criar medidas de economia ou esta pode se configurar como única solução. “Esta mudança de atitude é um efeito benéfico da crise. Ela muda o comportamento do morador, do síndico, de indústrias que fecham alguns circuitos ou reaproveitam a água, fazem reuso, seja por medida de economia, seja por compreender que é um recurso finito e precisamos cuidar”, avalia.

Marilene comenta que, seguidamente, observamos questões tão críticas quanto a da água serem negligenciadas pela população por falta de cons-ciência ou, por ser mal atendida pelo serviço público, não se sentir estimula-da a colaborar. “É preciso colocar as questões ambientais no mesmo pata-mar de importância das de saúde pública, educação de qualidade etc. e levar isso para ser discutido e apresentado à população nesses momentos de crises. Ou então, vamos ter que esperar várias gerações para produzir cida-dãos que cresçam com essa consciência”, defende.

Para ela, para que a informação chegue à população de forma eficaz seria preciso uma campanha maciça, no horário nobre da televisão. “A urgência das questões ambientais faz com que nós necessitemos colocar esses problemas na ordem do dia, no mesmo patamar de preocupações como o crack e a gravidez na adolescência.”

A considerar o cenário preocupante projetado para este ano, já que não temos perspectivas de chuvas em quantidade suficiente até outubro, será preciso gerir cuidadosamente os estoques que existem nesses reservatórios. Também é primordial que comecemos, o quanto antes, a tomar medidas de médio e longo prazos que, exatamente por demorarem para apresentar resultados, precisam começar o quanto antes. Entre ações de médio prazo estão a recuperação dos mananciais, a despoluição das bacias hidrográficas, além do cuidado com as perdas e o desperdício, fazendo um uso mais efici-ente e racional dos recursos hídricos.

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Qualquer país que almeje ter segurança hídrica para assegurar suas demandas e seu desenvolvimento precisa ter capacidade de reservação.

É preciso colocar as questões ambientais no mesmo patamar de importância das de saúde pública, educação de qualidade etc.

Já existem empresas, indústrias e grandes consumidores preocupados em fazer economia dos recursos hídricos.

Marilene Ramos

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urante muito tempo, os paradigmas tradicionais de gestão pública colocaram a administração municipal como simples prestadora de serviços essenciais à população, encarregada da manu-tenção da cidade. Os prefeitos, neste cenário, se-

riam uma espécie de síndicos, responsáveis por resolver os problemas cotidianos e permitir que as cidades crescessem em um cenário harmonioso. Hoje, a realidade impõe novos papéis aos administradores locais: mais do que síndicos, os prefeitos devem cumprir papel estratégico na indução do desenvolvimento dos municípios, com responsabilidades que passam pela atração de novos investimentos, o apoio às iniciativas de empreendedores locais e a permanente escuta do heterodoxo tecido formado pela sociedade civil.

Reunidos em Brasília, no início de abril, para o III Encon-tro dos Municípios com Desenvolvimento Sustentável (EMDS), promovido pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), prefeitos, secretários e gestores públicos dos três níveis de governo, além de especialistas de diferentes áreas, debateram o futuro do municipalismo brasileiro e a crescente responsabilidade dos administradores das cidades. Em pauta, questões sobre a necessidade de um novo pacto federativo e o papel empreendedor dos pre-feitos para impulsionar o desenvolvimento econômico e social de seus municípios.

O diagnóstico, dentre tantos outros que surgiram ao longo dos três dias do encontro, foi dado pelo economista e professor do Departamento de Administração Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Val-demir Pires, que é especialista em orçamen-to participativo e transparência orçamentá-ria. “Para além de uma atuação administrati-va, os municípios são fundamentais por questões estratégicas, de ocupação do terri-tório nacional e sustentação política da democracia. Mas precisamos de um munici-palismo renovado, que não seja apenas rei-vindicativo, mas também propositivo. Mais

RUMOS – 12 – Março/Abril 2015

qualificado e ‘tecnopolítico’, que faça um encontro entre ges-tores que pensem o técnico e o político”, disse.

Para estimular os prefeitos neste trajeto de modernização da administração pública, o Sebrae criou uma premiação que reconhece os gestores mais afinados com este novo paradig-ma: o Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor, que está em sua nona edição e foi lançado durante o EMDS. Para a direto-ra técnica da instituição, Heloisa Menezes, o prêmio tem esti-mulado as prefeituras a implementarem a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa pelos municípios.

“A implementação da Lei Geral pelas prefeituras possibi-lita dinamizar a economia e influenciar novos padrões de desempenho empresarial, bem-estar social e desenvolvimen-to econômico. O Sebrae acompanha e apoia as prefeituras e os pequenos negócios nessa trajetória de crescimento e potencial de desenvolvimento em que todos ganham”, comentou a diretora (veja a íntegra da entrevista no fim desta reportagem).

O prêmio possui oito categorias e cada município pode ins-crever até dois projetos. A premiação acontece em duas etapas, uma estadual e outra nacional. São premiados prefeitos que tenham implantado projetos com resultados comprovados, ain-da que parciais, de estímulo ao surgimento e ao desenvolvimen-

RUMOS – 13 – Março/Abril 2015

“As parcerias que estabelecemos foram fundamentais para a reconstrução da cidade. E o Sebrae foi e é o nosso maior par-ceiro”, reconheceu.

O apoio aos pequenos negócios, especialmente do setor de serviços, também foi a aposta do ex-prefeito de Gramado, no Rio Grande do Sul, Pedro Bertolucci. Ainda nos anos 1980, nos seus dois primeiros mandatos à frente do pequeno município gaúcho até então conhecido por suas fábricas de calçados, construiu uma política que transformou a região em uma das mais profícuas zonas de turismo do país. Hoje, apenas a cidade de Gramado recebe cinco milhões de visitan-tes por ano – quase 150 vezes mais que o tamanho de sua população, estimada em 34 mil habitantes.

“O prefeito tem a função de liderar e ser o fomentador do desenvolvimento. Ele não pode ficar estagnado, tem que estar atento às oportunidades”, destacou, recordando que a aposta no turismo era vista com desconfiança quando inicia-ram uma série de ações que tornaram Gramado referência nesta área em todo o país.

Os paraibanos Arnaldo Junior, ex-prefeito de Cabaceiras, e Douglas Lucena, atual prefeito de Bananeiras, também foram apontados, em anos distintos, como prefeitos empre-endedores por apostarem na força da articulação e dos pequenos negócios para trazer ganhos às regiões onde se encontram. Ambos miraram no setor do turismo para auxili-ar o desenvolvimento das suas cidades.

Cabaceiras é o município com menor índice pluviométrico do sertão paraibano e possui grandes dificuldades econômicas

to de pequenos negócios e à modernização da gestão pública.

Empreendedores – Prefeito de Três Rios, no interior do esta-do do Rio de Janeiro, Vinicius Farah foi vencedor das duas últi-mas edições do prêmio, na categoria regional. Logo em seu pri-meiro mandato, enfrentou o desafio de reinventar o municí-pio, após quase duas décadas de estagnação econômica.

O município viveu duas grandes crises nos últimos 50 anos: primeiro, no fim de década de 1960, quando possuía uma economia baseada na produção leiteira; e, depois, no iní-cio dos anos 1990, quando a cidade viu a derrocada das indús-trias que haviam se instalado no município após a primeira cri-se, 30 anos antes.

Para tentar reverter o quadro, Farah, que era empresário no município, apostou em uma política moderna e simples, mas com a sensibilidade de criar um ambiente favorável para todos os segmentos e não apenas em um, para não repetir a fórmula que havia levado a cidade à falência em outras duas ocasiões. O foco especial foi nos pequenos negócios, com for-talecimento das micro e pequenas empresas e dos microem-preendedores individuais.

Foi criada uma Companhia de Desenvolvimento Econô-mico para a formulação de uma política agressiva de redução de tributos e atração de investimentos, e uma Casa do Empreendedor, que ajudou na formalização dos pequenos empreendedores e diminuiu a desburocratização neste pro-cesso. Como resultado, o orçamento municipal saltou, em cinco anos, de R$ 80 milhões para cerca de R$ 400 milhões.

PREFEITOS EMPREENDEDORESE EMPREENDER

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Só administrar não é mais suficiente. Com esse pensamento, os gestores que participaram do III Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, promovido pela Frente Nacional de Prefeitos e pelo Sebrae, colocam-se frente a novos desafios na administração das cidades. A Rumos acompanhou o evento, confira!

Por Jader Moraes

O imperativo da boa gestão

Vencedores do Prêmio Prefeito Empreendedor compartilham experiências.

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Aos prefeitos, o presidente do Sebrae, Luiz Barreto, destacou a importância dos pequenos negócios no desenvolvimento sustentável dos municípios brasileiros. “Não se pode falar em desenvolvimento sem fortalecer esses empreendimentos”.

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urante muito tempo, os paradigmas tradicionais de gestão pública colocaram a administração municipal como simples prestadora de serviços essenciais à população, encarregada da manu-tenção da cidade. Os prefeitos, neste cenário, se-

riam uma espécie de síndicos, responsáveis por resolver os problemas cotidianos e permitir que as cidades crescessem em um cenário harmonioso. Hoje, a realidade impõe novos papéis aos administradores locais: mais do que síndicos, os prefeitos devem cumprir papel estratégico na indução do desenvolvimento dos municípios, com responsabilidades que passam pela atração de novos investimentos, o apoio às iniciativas de empreendedores locais e a permanente escuta do heterodoxo tecido formado pela sociedade civil.

Reunidos em Brasília, no início de abril, para o III Encon-tro dos Municípios com Desenvolvimento Sustentável (EMDS), promovido pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), prefeitos, secretários e gestores públicos dos três níveis de governo, além de especialistas de diferentes áreas, debateram o futuro do municipalismo brasileiro e a crescente responsabilidade dos administradores das cidades. Em pauta, questões sobre a necessidade de um novo pacto federativo e o papel empreendedor dos pre-feitos para impulsionar o desenvolvimento econômico e social de seus municípios.

O diagnóstico, dentre tantos outros que surgiram ao longo dos três dias do encontro, foi dado pelo economista e professor do Departamento de Administração Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Val-demir Pires, que é especialista em orçamen-to participativo e transparência orçamentá-ria. “Para além de uma atuação administrati-va, os municípios são fundamentais por questões estratégicas, de ocupação do terri-tório nacional e sustentação política da democracia. Mas precisamos de um munici-palismo renovado, que não seja apenas rei-vindicativo, mas também propositivo. Mais

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qualificado e ‘tecnopolítico’, que faça um encontro entre ges-tores que pensem o técnico e o político”, disse.

Para estimular os prefeitos neste trajeto de modernização da administração pública, o Sebrae criou uma premiação que reconhece os gestores mais afinados com este novo paradig-ma: o Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor, que está em sua nona edição e foi lançado durante o EMDS. Para a direto-ra técnica da instituição, Heloisa Menezes, o prêmio tem esti-mulado as prefeituras a implementarem a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa pelos municípios.

“A implementação da Lei Geral pelas prefeituras possibi-lita dinamizar a economia e influenciar novos padrões de desempenho empresarial, bem-estar social e desenvolvimen-to econômico. O Sebrae acompanha e apoia as prefeituras e os pequenos negócios nessa trajetória de crescimento e potencial de desenvolvimento em que todos ganham”, comentou a diretora (veja a íntegra da entrevista no fim desta reportagem).

O prêmio possui oito categorias e cada município pode ins-crever até dois projetos. A premiação acontece em duas etapas, uma estadual e outra nacional. São premiados prefeitos que tenham implantado projetos com resultados comprovados, ain-da que parciais, de estímulo ao surgimento e ao desenvolvimen-

RUMOS – 13 – Março/Abril 2015

“As parcerias que estabelecemos foram fundamentais para a reconstrução da cidade. E o Sebrae foi e é o nosso maior par-ceiro”, reconheceu.

O apoio aos pequenos negócios, especialmente do setor de serviços, também foi a aposta do ex-prefeito de Gramado, no Rio Grande do Sul, Pedro Bertolucci. Ainda nos anos 1980, nos seus dois primeiros mandatos à frente do pequeno município gaúcho até então conhecido por suas fábricas de calçados, construiu uma política que transformou a região em uma das mais profícuas zonas de turismo do país. Hoje, apenas a cidade de Gramado recebe cinco milhões de visitan-tes por ano – quase 150 vezes mais que o tamanho de sua população, estimada em 34 mil habitantes.

“O prefeito tem a função de liderar e ser o fomentador do desenvolvimento. Ele não pode ficar estagnado, tem que estar atento às oportunidades”, destacou, recordando que a aposta no turismo era vista com desconfiança quando inicia-ram uma série de ações que tornaram Gramado referência nesta área em todo o país.

Os paraibanos Arnaldo Junior, ex-prefeito de Cabaceiras, e Douglas Lucena, atual prefeito de Bananeiras, também foram apontados, em anos distintos, como prefeitos empre-endedores por apostarem na força da articulação e dos pequenos negócios para trazer ganhos às regiões onde se encontram. Ambos miraram no setor do turismo para auxili-ar o desenvolvimento das suas cidades.

Cabaceiras é o município com menor índice pluviométrico do sertão paraibano e possui grandes dificuldades econômicas

to de pequenos negócios e à modernização da gestão pública.

Empreendedores – Prefeito de Três Rios, no interior do esta-do do Rio de Janeiro, Vinicius Farah foi vencedor das duas últi-mas edições do prêmio, na categoria regional. Logo em seu pri-meiro mandato, enfrentou o desafio de reinventar o municí-pio, após quase duas décadas de estagnação econômica.

O município viveu duas grandes crises nos últimos 50 anos: primeiro, no fim de década de 1960, quando possuía uma economia baseada na produção leiteira; e, depois, no iní-cio dos anos 1990, quando a cidade viu a derrocada das indús-trias que haviam se instalado no município após a primeira cri-se, 30 anos antes.

Para tentar reverter o quadro, Farah, que era empresário no município, apostou em uma política moderna e simples, mas com a sensibilidade de criar um ambiente favorável para todos os segmentos e não apenas em um, para não repetir a fórmula que havia levado a cidade à falência em outras duas ocasiões. O foco especial foi nos pequenos negócios, com for-talecimento das micro e pequenas empresas e dos microem-preendedores individuais.

Foi criada uma Companhia de Desenvolvimento Econô-mico para a formulação de uma política agressiva de redução de tributos e atração de investimentos, e uma Casa do Empreendedor, que ajudou na formalização dos pequenos empreendedores e diminuiu a desburocratização neste pro-cesso. Como resultado, o orçamento municipal saltou, em cinco anos, de R$ 80 milhões para cerca de R$ 400 milhões.

PREFEITOS EMPREENDEDORESE EMPREENDER

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Só administrar não é mais suficiente. Com esse pensamento, os gestores que participaram do III Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, promovido pela Frente Nacional de Prefeitos e pelo Sebrae, colocam-se frente a novos desafios na administração das cidades. A Rumos acompanhou o evento, confira!

Por Jader Moraes

O imperativo da boa gestão

Vencedores do Prêmio Prefeito Empreendedor compartilham experiências.

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Aos prefeitos, o presidente do Sebrae, Luiz Barreto, destacou a importância dos pequenos negócios no desenvolvimento sustentável dos municípios brasileiros. “Não se pode falar em desenvolvimento sem fortalecer esses empreendimentos”.

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e de infraestrutura. Vencedor do prêmio em 2003, Arnaldo Junior elegeu dois pontos como centrais em sua atuação: governança e planejamento. Investiu em ações na área da caprinocultura, com ênfase no turismo. Impulsionou, ainda, arranjos produtivos, como o do leite, da carne, do couro e do artesanato. Todas as iniciativas foram integra-

das com o Pacto Novo Cariri, implantado em 2001 pelo Sebrae na Paraíba, em parceria com o governo estadual. “A receita é simples e a articulação de pessoas e instituições é fun-damental. É preciso articular forças”, recomendou.

Do outro lado do estado, transformar economicamente Bananeiras em uma cidade empreendedora se tornou o obje-tivo declarado do governo municipal. Um dos problemas identificados neste caminho foi a baixa oferta de crédito para as microempresas.

Visando atacar esse problema e estimular os microempre-endedores do município, foram implementadas ações de qua-lificação profissional e estímulo ao cooperativismo, com foco em agricultura familiar. A prefeitura construiu também uma casa do empreendedor, disponibilizando mais de R$ 800 mil em crédito para os microempreendedores (valor superior à soma dos créditos concedidos pelas instituições financeiras que atuam na cidade). E apostou em dois setores como princi-pais vetores econômicos da cidade, dando estímulo e incenti-vo aos empreendedores destas áreas: a piscicultura e o turis-mo. “A atividade turística é promissora não só para o nosso município, mas para todo o brejo paraibano. Criamos um calendário anual de eventos e toda a região está se desenvol-vendo”, comentou Douglas Lucena, vencedor do Prêmio Pre-feito Empreendedor em 2014.

O ex-prefeito de Cariacica Helder Salomão, também ven-cedor do prêmio e hoje deputado federal, destacou que a Fren-te Parlamentar da Micro e Pequena Empresa é a maior do Con-gresso Nacional e, mesmo em um cenário político conturbado, reúne parlamentares de diferentes correntes políticas. “A agen-da dos pequenos negócios une o Brasil”, assegurou, lembrando que esta é uma pauta estratégica para o desenvolvimento local e a criação de emprego e de renda para a população.

“Recentemente, o Sebrae divulgou uma pesquisa que mostra que os negros já são maioria entre os empreendedo-res brasileiros. E vemos também que a participação das mulheres tem aumentado, ano a ano. Apostar nos pequenos é dar oportunidade àqueles que sempre ficaram à margem da sociedade”, destacou.

Diálogo – Além das iniciativas empreendedoras, outra práti-ca foi apontada como primordial para que os municípios sejam capazes de gerar desenvolvimento para sua população: o diálogo com todos os atores da sociedade civil dispostos a colaborar com a administração pública. E isso começa com os próprios moradores, mesmo aqueles não filiados a grupos políticos, empresariais ou sociais.

A prefeitura de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), apresentou durante o encontro de municípios um conjunto de ações implementadas nos últimos anos visando à ampliação da participação popular nas decisões políticas. O carro-chefe é o orçamento participativo, mas

RUMOS – 14 – Março/Abril 2015 RUMOS – 15 – Março/Abril 2015

desburocratização no cotidiano dos pequenos negócios esteve no centro dos debates realizados durante o

Seminário Brasil Mais Simples, organizado em parceria pela FNP, Sebrae e Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE) do Governo Federal, que ocorreu como evento para-lelo ao III EMDS. Participaram do encontro o ministro da SMPE, Guilherme Afif Domingos; o Secretário Geral da FNP, Luiz Marinho; e gerente de Políticas Públicas do Sebrae, Bruno Quick; entre outras autoridades. Mais de oitocentos gestores municipais acompanharam os trabalhos.

Em sua fala inaugural, o ministro Afif Domingos (foto) fez uma apresentação do programa Brasil Bem Mais Simples, lançado no início deste ano, que tem o objetivo de desburo-cratizar procedimentos e facilitar a vida dos pequenos empre-endedores e do cidadão brasileiro. O programa conta com cin-co eixos, que visam eliminar exigências que se tornaram obso-letas com a tecnologia; unificar o cadastro e identificação do cidadão; dar acesso aos serviços públicos em um só lugar; guardar informações do cidadão para consultas; além de res-gatar a fé na palavra do cidadão, substituindo documentos por declarações pessoais.

Com o Bem Mais Simples, foi lançado um novo sistema de baixa automática de empresas por meio do Portal Empresa Simples, que permite o encerramento imediato de empresas, diminuindo a burocracia que tornava, nas palavras bem-humoradas de Afif Domingos, “abrir uma empresa no Brasil um processo difícil; fechar, impossível”. O ministro destacou ainda que a secretaria agora se prepara para entregar o módulo simplificado de abertura de empresas. A meta é que a operação de abertura e licenciamento tenha prazo médio de cinco dias – hoje, com os cerca de 20 documentos exigidos, o tempo médio para abertura de uma micro ou pequena empre-sa no país é de 83 dias.

“Temos que mudar essa realidade, simplificando os pro-cedimentos e criando um cadastro unificado. Os órgãos é que vão buscar as informações. O cidadão é um só e cabe aos entes e órgãos compartilharem estas informações”, defendeu o ministro, destacando que parte das obrigações também cabe aos municípios. “Cada um no seu município tem que assumir a responsabilidade política de simplificar”, falou.

Outro programa apresentado por Afif Domingos durante o seminário foi o “Crescer sem Medo”. Ainda em fase de estu-dos, o projeto de revisão das tabelas do Simples prevê a criação de uma rampa suave de tributação para as MPEs e foi baseado em estudos encomendados em conjunto pelo Sebrae e pela Fundação Getulio Vargas, que detectaram que os pequenos

empreendedores temem faturar acima do teto do regime tribu-tário do Supersimples e isso é um entrave para o crescimento essas empresas. De acordo com o ministro, um Projeto de Lei será encaminhado em breve para o Congresso Nacional. Nos próximos meses, a Secretaria também planeja realizar audiên-cias públicas em todo o país para apresentar a iniciativa.

O gerente do Sebrae, Bruno Quick, destacou que o país teve um salto recente no número de micro e pequenas empre-sas, que passaram de dois para sete milhões em apenas sete anos. Este salto, acredita ele, não foi apenas quantitativo, mas qualitativo, pois os pequenos negócios estão sobrevivendo mais graças à melhor gestão dos empresários.

Para ampliar essa qualificação, Quick defendeu que o Estado esteja conectado com as redes espalhadas país afora, formadas por gestores públicos, entidades empresariais e pelo próprio Sebrae, que age como interlocutor entre esses agentes e o Poder Público. O gerente reforçou o papel das políticas públicas para capilarizar o acesso ao crédito e traba-lhar pela desburocratização e desoneração das micro e peque-nas empresas.

“O Sebrae é um instrumento de política pública. Foi cria-do pelo Estado brasileiro, é financiado pela sociedade e nosso papel é ser esse agente que aciona e apoia as redes e permite ao país avançar no projeto de desburocratização e na formali-zação, efetivar compras governamentais locais, promover a inovação e o acesso ao crédito”, listou.

O evento debateu ainda, em três painéis ao longo do dia, a implementação da RedeSim, de simplificação de registro e de licenciamento de negócios; os novos desafios para regula-mentação e funcionamento de empresas sem estabelecimen-to, como os Food Trucks; e a convergência federativa para o desenvolvimento.

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Brasil Mais Simples

Desatando o nó da burocracia

outras iniciativas inovadoras também fazem parte do pacote: o morador pode destinar 50% do seu Imposto Predial e Ter-ritorial Urbano (IPTU) para apoiar projetos locais específi-cos; foi implementada uma plataforma digital colaborativa para debates e apresentação de demandas; os serviços públi-cos são submetidos a avaliação pelos moradores duas vezes ao ano; e foi construída uma Casa dos Conselhos, para reunir em um único espaço os conselhos municipais e os diversos mecanismos de controle social.

O secretário-adjunto de governança do município, Célio Piovesan, afirmou que as ferramentas criadas pela gestão municipal apostam no “sentido estratégico da participação”. A assessora técnica do projeto CapaCidades, desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Silvana Granemann, concorda e vai além. Para ela, a capacidade de dialogar com a sociedade civil é um atributo pri-mordial para que os municípios brasileiros tenham melhor gestão.

“A sociedade civil empoderada e a iniciativa privada empo-derada podem ser grandes parceiros para o desenvolvimento dos municípios. É muito importante para as Nações Unidas que a comunidade seja ouvida, apenas dessa forma podemos pensar de fato em um novo modelo de gestão para as cida-des”, defende Silvana.

Na mesma linha, Eduardo Grin, pesquisador do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG), da Fundação Getulio Vargas (FGV/SP), avaliou que os governos precisam fazer um esforço a mais para ampliar essa agenda da participação social e, assim, aprimorar a gestão. “A rotina administrativa às vezes engole a gestão, e as práticas acabam sendo entendidas como a dinâmica da gestão públi-ca”, afirmou Grin.

Para o presidente da Associação Brasileira de Municípi-os, Eduardo Tadeu, o cenário atual faz com que, muitas vezes, o urgente se sobreponha ao importante na gestão pública. Na sua opinião, o eixo norteador da administração local deve ser garantir o direito à cidade para o conjunto da população, o que inclui a participação das pessoas nas deci-sões sobre as políticas públicas que orientam e ordenam a vida nos municípios.

A tarefa dos governos locais, contudo, não se restringe a criar mecanismos de participação, mas também a incentivar e formar para a participação, uma vez que a história política bra-sileira não teria ensinado a população a se engajar e participar das decisões do poder público. “O governo local tem que ser uma escola de cidadania”, defendeu. “E o balizador do con-junto de ações que o governo vai estabelecer deve ser: o pro-jeto está de acordo com o eixo norteador? Vai jogar água no moinho da ampliação de direitos e garantir o direito à cida-de?”, completou Eduardo Tadeu.

O vice-presidente nacional da FNP e prefeito de São Pau-lo, Fernando Haddad, lembrou que é preciso enobrecer o exer-cício da política e os gestores municipais; por estarem mais pró-ximos à população, têm papel importante nessa missão. “Se nós não resguardarmos a política para o bem da sociedade, não vamos avançar no processo democrático. Ao contrário, podemos retrair, porque as pessoas começam a desacreditar da própria democracia. Precisamos lutar para que a política vol-

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e de infraestrutura. Vencedor do prêmio em 2003, Arnaldo Junior elegeu dois pontos como centrais em sua atuação: governança e planejamento. Investiu em ações na área da caprinocultura, com ênfase no turismo. Impulsionou, ainda, arranjos produtivos, como o do leite, da carne, do couro e do artesanato. Todas as iniciativas foram integra-

das com o Pacto Novo Cariri, implantado em 2001 pelo Sebrae na Paraíba, em parceria com o governo estadual. “A receita é simples e a articulação de pessoas e instituições é fun-damental. É preciso articular forças”, recomendou.

Do outro lado do estado, transformar economicamente Bananeiras em uma cidade empreendedora se tornou o obje-tivo declarado do governo municipal. Um dos problemas identificados neste caminho foi a baixa oferta de crédito para as microempresas.

Visando atacar esse problema e estimular os microempre-endedores do município, foram implementadas ações de qua-lificação profissional e estímulo ao cooperativismo, com foco em agricultura familiar. A prefeitura construiu também uma casa do empreendedor, disponibilizando mais de R$ 800 mil em crédito para os microempreendedores (valor superior à soma dos créditos concedidos pelas instituições financeiras que atuam na cidade). E apostou em dois setores como princi-pais vetores econômicos da cidade, dando estímulo e incenti-vo aos empreendedores destas áreas: a piscicultura e o turis-mo. “A atividade turística é promissora não só para o nosso município, mas para todo o brejo paraibano. Criamos um calendário anual de eventos e toda a região está se desenvol-vendo”, comentou Douglas Lucena, vencedor do Prêmio Pre-feito Empreendedor em 2014.

O ex-prefeito de Cariacica Helder Salomão, também ven-cedor do prêmio e hoje deputado federal, destacou que a Fren-te Parlamentar da Micro e Pequena Empresa é a maior do Con-gresso Nacional e, mesmo em um cenário político conturbado, reúne parlamentares de diferentes correntes políticas. “A agen-da dos pequenos negócios une o Brasil”, assegurou, lembrando que esta é uma pauta estratégica para o desenvolvimento local e a criação de emprego e de renda para a população.

“Recentemente, o Sebrae divulgou uma pesquisa que mostra que os negros já são maioria entre os empreendedo-res brasileiros. E vemos também que a participação das mulheres tem aumentado, ano a ano. Apostar nos pequenos é dar oportunidade àqueles que sempre ficaram à margem da sociedade”, destacou.

Diálogo – Além das iniciativas empreendedoras, outra práti-ca foi apontada como primordial para que os municípios sejam capazes de gerar desenvolvimento para sua população: o diálogo com todos os atores da sociedade civil dispostos a colaborar com a administração pública. E isso começa com os próprios moradores, mesmo aqueles não filiados a grupos políticos, empresariais ou sociais.

A prefeitura de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), apresentou durante o encontro de municípios um conjunto de ações implementadas nos últimos anos visando à ampliação da participação popular nas decisões políticas. O carro-chefe é o orçamento participativo, mas

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desburocratização no cotidiano dos pequenos negócios esteve no centro dos debates realizados durante o

Seminário Brasil Mais Simples, organizado em parceria pela FNP, Sebrae e Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE) do Governo Federal, que ocorreu como evento para-lelo ao III EMDS. Participaram do encontro o ministro da SMPE, Guilherme Afif Domingos; o Secretário Geral da FNP, Luiz Marinho; e gerente de Políticas Públicas do Sebrae, Bruno Quick; entre outras autoridades. Mais de oitocentos gestores municipais acompanharam os trabalhos.

Em sua fala inaugural, o ministro Afif Domingos (foto) fez uma apresentação do programa Brasil Bem Mais Simples, lançado no início deste ano, que tem o objetivo de desburo-cratizar procedimentos e facilitar a vida dos pequenos empre-endedores e do cidadão brasileiro. O programa conta com cin-co eixos, que visam eliminar exigências que se tornaram obso-letas com a tecnologia; unificar o cadastro e identificação do cidadão; dar acesso aos serviços públicos em um só lugar; guardar informações do cidadão para consultas; além de res-gatar a fé na palavra do cidadão, substituindo documentos por declarações pessoais.

Com o Bem Mais Simples, foi lançado um novo sistema de baixa automática de empresas por meio do Portal Empresa Simples, que permite o encerramento imediato de empresas, diminuindo a burocracia que tornava, nas palavras bem-humoradas de Afif Domingos, “abrir uma empresa no Brasil um processo difícil; fechar, impossível”. O ministro destacou ainda que a secretaria agora se prepara para entregar o módulo simplificado de abertura de empresas. A meta é que a operação de abertura e licenciamento tenha prazo médio de cinco dias – hoje, com os cerca de 20 documentos exigidos, o tempo médio para abertura de uma micro ou pequena empre-sa no país é de 83 dias.

“Temos que mudar essa realidade, simplificando os pro-cedimentos e criando um cadastro unificado. Os órgãos é que vão buscar as informações. O cidadão é um só e cabe aos entes e órgãos compartilharem estas informações”, defendeu o ministro, destacando que parte das obrigações também cabe aos municípios. “Cada um no seu município tem que assumir a responsabilidade política de simplificar”, falou.

Outro programa apresentado por Afif Domingos durante o seminário foi o “Crescer sem Medo”. Ainda em fase de estu-dos, o projeto de revisão das tabelas do Simples prevê a criação de uma rampa suave de tributação para as MPEs e foi baseado em estudos encomendados em conjunto pelo Sebrae e pela Fundação Getulio Vargas, que detectaram que os pequenos

empreendedores temem faturar acima do teto do regime tribu-tário do Supersimples e isso é um entrave para o crescimento essas empresas. De acordo com o ministro, um Projeto de Lei será encaminhado em breve para o Congresso Nacional. Nos próximos meses, a Secretaria também planeja realizar audiên-cias públicas em todo o país para apresentar a iniciativa.

O gerente do Sebrae, Bruno Quick, destacou que o país teve um salto recente no número de micro e pequenas empre-sas, que passaram de dois para sete milhões em apenas sete anos. Este salto, acredita ele, não foi apenas quantitativo, mas qualitativo, pois os pequenos negócios estão sobrevivendo mais graças à melhor gestão dos empresários.

Para ampliar essa qualificação, Quick defendeu que o Estado esteja conectado com as redes espalhadas país afora, formadas por gestores públicos, entidades empresariais e pelo próprio Sebrae, que age como interlocutor entre esses agentes e o Poder Público. O gerente reforçou o papel das políticas públicas para capilarizar o acesso ao crédito e traba-lhar pela desburocratização e desoneração das micro e peque-nas empresas.

“O Sebrae é um instrumento de política pública. Foi cria-do pelo Estado brasileiro, é financiado pela sociedade e nosso papel é ser esse agente que aciona e apoia as redes e permite ao país avançar no projeto de desburocratização e na formali-zação, efetivar compras governamentais locais, promover a inovação e o acesso ao crédito”, listou.

O evento debateu ainda, em três painéis ao longo do dia, a implementação da RedeSim, de simplificação de registro e de licenciamento de negócios; os novos desafios para regula-mentação e funcionamento de empresas sem estabelecimen-to, como os Food Trucks; e a convergência federativa para o desenvolvimento.

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Desatando o nó da burocracia

outras iniciativas inovadoras também fazem parte do pacote: o morador pode destinar 50% do seu Imposto Predial e Ter-ritorial Urbano (IPTU) para apoiar projetos locais específi-cos; foi implementada uma plataforma digital colaborativa para debates e apresentação de demandas; os serviços públi-cos são submetidos a avaliação pelos moradores duas vezes ao ano; e foi construída uma Casa dos Conselhos, para reunir em um único espaço os conselhos municipais e os diversos mecanismos de controle social.

O secretário-adjunto de governança do município, Célio Piovesan, afirmou que as ferramentas criadas pela gestão municipal apostam no “sentido estratégico da participação”. A assessora técnica do projeto CapaCidades, desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Silvana Granemann, concorda e vai além. Para ela, a capacidade de dialogar com a sociedade civil é um atributo pri-mordial para que os municípios brasileiros tenham melhor gestão.

“A sociedade civil empoderada e a iniciativa privada empo-derada podem ser grandes parceiros para o desenvolvimento dos municípios. É muito importante para as Nações Unidas que a comunidade seja ouvida, apenas dessa forma podemos pensar de fato em um novo modelo de gestão para as cida-des”, defende Silvana.

Na mesma linha, Eduardo Grin, pesquisador do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG), da Fundação Getulio Vargas (FGV/SP), avaliou que os governos precisam fazer um esforço a mais para ampliar essa agenda da participação social e, assim, aprimorar a gestão. “A rotina administrativa às vezes engole a gestão, e as práticas acabam sendo entendidas como a dinâmica da gestão públi-ca”, afirmou Grin.

Para o presidente da Associação Brasileira de Municípi-os, Eduardo Tadeu, o cenário atual faz com que, muitas vezes, o urgente se sobreponha ao importante na gestão pública. Na sua opinião, o eixo norteador da administração local deve ser garantir o direito à cidade para o conjunto da população, o que inclui a participação das pessoas nas deci-sões sobre as políticas públicas que orientam e ordenam a vida nos municípios.

A tarefa dos governos locais, contudo, não se restringe a criar mecanismos de participação, mas também a incentivar e formar para a participação, uma vez que a história política bra-sileira não teria ensinado a população a se engajar e participar das decisões do poder público. “O governo local tem que ser uma escola de cidadania”, defendeu. “E o balizador do con-junto de ações que o governo vai estabelecer deve ser: o pro-jeto está de acordo com o eixo norteador? Vai jogar água no moinho da ampliação de direitos e garantir o direito à cida-de?”, completou Eduardo Tadeu.

O vice-presidente nacional da FNP e prefeito de São Pau-lo, Fernando Haddad, lembrou que é preciso enobrecer o exer-cício da política e os gestores municipais; por estarem mais pró-ximos à população, têm papel importante nessa missão. “Se nós não resguardarmos a política para o bem da sociedade, não vamos avançar no processo democrático. Ao contrário, podemos retrair, porque as pessoas começam a desacreditar da própria democracia. Precisamos lutar para que a política vol-

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te a ter no Brasil o status que ela precisa ter para promover as transformações sociais que a socie-dade necessita”, argumentou Haddad.

Superação da crise – O debate durante o encontro dos municípios também esteve centra-do na crise econômica e realidade fiscal brasilei-

ra. Junto com empresários e acadêmicos, os prefeitos discuti-ram os caminhos para superação das dificuldades econômi-cas pelas quais passam o país, que afetam diretamente a vida nos municípios.

O empresário Jorge Gerdau destacou que o quadro macroeconômico está condicionado a decisões globais, mas os municípios podem ser importantes para a superação das

dificuldades. Ele listou uma série de pontos em que as prefei-turas podem atuar – tributos, logística, trabalhista e custo do capital – e assim ajudar a impulsionar a economia brasileira.

“Para que a economia obtenha sucesso, é preciso mobili-zação em todas as esferas. A soma da decisão e da pressão polí-tica é que pode produzir soluções para esse quadro em que nos encontramos”, opinou.

Representando a Associação Brasileira de Desenvolvi-mento Industrial (ABDI), agência do governo federal volta-da à formulação de políticas para o setor, o gerente de Plane-jamento Jackson de Toni celebrou que, depois de um longo tempo em que foi enxergada de forma ruim, a importância de uma política industrial forte vem sendo defendida por agentes de diferentes espectros políticos.

D urante o seminário “Cidades e clima – Desafios e Finan-

ciamento de Infraestruturas Sustentáveis”, que aconteceu duran-te o III EMDS, a ministra do Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, fez grande esforço para transmitir uma mensagem aos cerca de 300 espectadores que ouviam atenta-mente a sua fala, dentre prefeitos, gestores municipais e representan-tes de organismos multilaterais: as mudanças climáticas são uma verda-de científica, mas também precisam se transformar em uma verdade polí-tica. Com isso, defendeu a urgência de tratar, no presente, das formas de mitigação dos efeitos das mudanças do clima e da construção de uma agenda global que coloque a sustentabili-dade no centro das decisões políticas.

A ministra explicou que, por ser uma nação emergente, o Brasil não possui obrigatoriedade de reduzir suas emis-sões de gases. Contudo atualmente é o país que mais tem fei-to esforço neste sentido, no mundo. Por isso, foi proposto que seja elaborado um acordo global de redução de emis-sões, mesmo para países pobres e emergentes, e este docu-mento será formalizado, após longo processo de debates e contribuições, na Conferência do Clima que acontece em Paris, em dezembro.

Para os municípios, Izabella Teixeira afirmou não ter dúvidas de que eles deverão se preparar para as mudanças, pois as administrações municipais serão elemento central no novo cenário de mudanças no clima. A ministra listou ações que precisam ser realizadas pelos gestores municipais, como um inventário das emissões de gases nas capitais brasileiras, que o MMA pretende auxiliar com recursos do Fundo Clima; a melhoria nas políticas de mobilidade urbana e resí-duos sólidos; e um plano de adaptação das grandes cidades às mudanças, com olhar sobre as suas vulnerabilidades.

“Os prefeitos serão peças estratégicas para a construção dessas políticas nacionais. E, em nível global, as cidades tam-bém serão determinantes para o sucesso do novo acordo do clima, afinal 90% dos habitantes do planeta viverão em cida-des até 2030. Se elas não forem centrais nesse processo, será um erro estratégico”, ressaltou.

Parceira de municípios e estados brasileiros na constru-ção de políticas de sustentabilidade, a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) também participou do encontro. A especialista sênior de Desenvolvimento Urbano Sustentável da agência, Marie-Pierre Bourzai-Chérif, afirmou que a sus-tentabilidade é ainda enxergada, em muitos ambientes, como antagonista do processo de desenvolvimento econômico e social. Para ajudar a mudar esse quadro, a instituição tem prio-rizado, nos 70 países onde hoje atua, ações que compatibili-zem o ganho ambiental com os ganhos sociais e econômicos.

Os exemplos mais recorrentes são os financiamentos con-cedidos para políticas de mobilidade em cidades como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, que impactam positiva-mente a qualidade de vida das pessoas. Na África do Sul, con-tou Marie-Pierre, a AFD auxiliou na construção de moradias sociais no centro de Joanesburgo, o que ajudou a reduzir des-locamentos dos cidadãos de casa até o trabalho e, por conse-

quência, as emissões de gases na atmosfera, além de impactar o orçamento familiar e ajudar na reconstrução da cidade. “O nosso desafio é convencer a população de que é importante agir, mesmo com outras agendas do dia a dia se impondo”, declarou.

No Brasil, uma das parcerias da agência francesa se dá com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). A gerente de Setor Público do banco, Juliana Ferreira, lembrou que a pauta da sustentabilidade está cada vez mais inserida nas agendas das instituições financeiras bra-sileiras devido, sobretudo, às exigências legais para que estas questões sejam observadas em suas operações. Os requisitos levaram a mudanças nas análises de risco de crédito, com o fator ambiental sendo incorporado como um critério deter-minante para a aprovação de projetos.

A parceria com a agência francesa permitiu ao banco apoi-ar iniciativas dos municípios dentro da agenda da sustentabi-lidade. No segundo semestre deste ano, o banco pretende rea-lizar uma nova chamada para projetos neste campo. “Nossa expectativa é atender a um número significativo de municí-pios”, disse Juliana.

O especialista em energia e clima do Banco Mundial, Cristophe De Gouvello, lembrou que a figura federativa dos consórcios pode agregar as pequenas cidades e alavancar a capacidade técnica dos municípios, impulsionando o acesso ao crédito por estes entes. Ele considera que um dos princi-pais desafios do país neste momento, no que tange ao crédito a projetos sustentáveis, é alavancar os recursos privados para financiamento das iniciativas das cidades.

Para o geógrafo Renato Balbim, especialista em planeja-mento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o desafio também envolve outra questão, mais sensível: “Nossas cidades não foram construídas pen-sando sob a ótica do clima, esta é uma discussão recente e as questões que aqui discutimos são novas. É um enorme desa-fio de reconstrução das cidades”, disse.

Cidades e clima: a urgência do presente

Para dar um salto de produtividade, o gerente defendeu o aprimoramento de três aspectos: a renovação do parque fabril brasileiro, que possui idade média de máquinas e equi-pamentos muito acima da média mundial; o casamento entre demanda e oferta no Pronatec; e os custos sistêmicos e às vezes invisíveis da produção. Ele também destacou que deve ser redobrado o investimento em inovação. Esses pontos devem estar em uma nova política industrial que o governo brasileiro pretende lançar nos próximos meses, segundo afir-mou o presidente da ABDI, Alessandro Teixeira, dias antes do evento em Brasília.

“Essas políticas são essenciais para o país. Não dá para pensarmos o futuro do Brasil sem um núcleo forte da indús-tria. O caminho é construir uma política horizontal, sistêmi-

ca e flexível. Esta é uma agenda do governo, que pode ser questionada; certamente não atingimos todas as metas que nos dispusemos, mas é muito melhor ter [uma política industrial] do que não ter”, defendeu o gerente Jackson de Toni, rechaçando as críticas de que a formulação de políticas para o setor se trataria de intervencionismo.

O economista Roberto Gianetti da Fonseca trouxe o debate novamente para o âmbito dos municípios e afirmou que um atributo importante para o aumento da competitivi-dade da indústria é a qualidade de vida do cidadão. Ele defen-deu que a mobilidade urbana, de atribuição dos governos locais, é um fator que tem bastante relação com a competitivi-dade, pois um trabalhador que gasta menos tempo em deslo-camentos e o faz de forma mais adequada representa um

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, destacou o papel dos municípios para a diminuição da emissão de gases nas grandes cidades e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

PREFEITOS EMPREENDEDORESE EMPREENDER

ganho qualitativo no sistema produtivo. Da mesma forma, os investimentos em saúde, saneamento básico e segurança.

“Acredito que chegará um momento – e temos que traba-lhar para isso – em que as indústrias decidam investir na cidade pela qualidade de vida dos cidadãos que ali moram e não ape-nas pelos tributos que irá pagar ou deixar de pagar”, concluiu Roberto.

Repensar a federação – Um termo perpassou diferentes mesas temáticas, grupos de debates e rodas de conversa durante todo o encontro: novo pacto federativo. Esteve nas palavras do prefeito de Bento Gonçalves (RS), Guilherme Pasin, que alertou para um quadro de recessão na administra-ção pública; na fala do governador pernambucano Paulo Câmara, que qualificou o tema como urgente; na expressão de um dos representantes do g100, o grupo dos municípios com maior vulnerabilidade socioeconômica, Maguito Vilela, que cobrou a instituição de uma mesa permanente para diálo-go federativo; entre outros momentos.

As intervenções, de maneira geral, se referiam ao aumento constante das responsabilidades dos municípios sem o acom-panhamento das fontes de receitas. O bolo tributário, reclama-ram os expoentes, concentra recursos na União e esses recur-sos vão se esgarçando à medida que vão descendo os níveis de governo. A palavra-chave dos discursos foi a descentralização.

“O prefeito tem a função de liderar e ser o fomentador do desenvolvimento. Ele não pode ficar estagnado, tem que estar atento às oportunidades”

Pedro Bertolucci, ex-prefeito de Gramado (RS)

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te a ter no Brasil o status que ela precisa ter para promover as transformações sociais que a socie-dade necessita”, argumentou Haddad.

Superação da crise – O debate durante o encontro dos municípios também esteve centra-do na crise econômica e realidade fiscal brasilei-

ra. Junto com empresários e acadêmicos, os prefeitos discuti-ram os caminhos para superação das dificuldades econômi-cas pelas quais passam o país, que afetam diretamente a vida nos municípios.

O empresário Jorge Gerdau destacou que o quadro macroeconômico está condicionado a decisões globais, mas os municípios podem ser importantes para a superação das

dificuldades. Ele listou uma série de pontos em que as prefei-turas podem atuar – tributos, logística, trabalhista e custo do capital – e assim ajudar a impulsionar a economia brasileira.

“Para que a economia obtenha sucesso, é preciso mobili-zação em todas as esferas. A soma da decisão e da pressão polí-tica é que pode produzir soluções para esse quadro em que nos encontramos”, opinou.

Representando a Associação Brasileira de Desenvolvi-mento Industrial (ABDI), agência do governo federal volta-da à formulação de políticas para o setor, o gerente de Plane-jamento Jackson de Toni celebrou que, depois de um longo tempo em que foi enxergada de forma ruim, a importância de uma política industrial forte vem sendo defendida por agentes de diferentes espectros políticos.

D urante o seminário “Cidades e clima – Desafios e Finan-

ciamento de Infraestruturas Sustentáveis”, que aconteceu duran-te o III EMDS, a ministra do Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, fez grande esforço para transmitir uma mensagem aos cerca de 300 espectadores que ouviam atenta-mente a sua fala, dentre prefeitos, gestores municipais e representan-tes de organismos multilaterais: as mudanças climáticas são uma verda-de científica, mas também precisam se transformar em uma verdade polí-tica. Com isso, defendeu a urgência de tratar, no presente, das formas de mitigação dos efeitos das mudanças do clima e da construção de uma agenda global que coloque a sustentabili-dade no centro das decisões políticas.

A ministra explicou que, por ser uma nação emergente, o Brasil não possui obrigatoriedade de reduzir suas emis-sões de gases. Contudo atualmente é o país que mais tem fei-to esforço neste sentido, no mundo. Por isso, foi proposto que seja elaborado um acordo global de redução de emis-sões, mesmo para países pobres e emergentes, e este docu-mento será formalizado, após longo processo de debates e contribuições, na Conferência do Clima que acontece em Paris, em dezembro.

Para os municípios, Izabella Teixeira afirmou não ter dúvidas de que eles deverão se preparar para as mudanças, pois as administrações municipais serão elemento central no novo cenário de mudanças no clima. A ministra listou ações que precisam ser realizadas pelos gestores municipais, como um inventário das emissões de gases nas capitais brasileiras, que o MMA pretende auxiliar com recursos do Fundo Clima; a melhoria nas políticas de mobilidade urbana e resí-duos sólidos; e um plano de adaptação das grandes cidades às mudanças, com olhar sobre as suas vulnerabilidades.

“Os prefeitos serão peças estratégicas para a construção dessas políticas nacionais. E, em nível global, as cidades tam-bém serão determinantes para o sucesso do novo acordo do clima, afinal 90% dos habitantes do planeta viverão em cida-des até 2030. Se elas não forem centrais nesse processo, será um erro estratégico”, ressaltou.

Parceira de municípios e estados brasileiros na constru-ção de políticas de sustentabilidade, a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) também participou do encontro. A especialista sênior de Desenvolvimento Urbano Sustentável da agência, Marie-Pierre Bourzai-Chérif, afirmou que a sus-tentabilidade é ainda enxergada, em muitos ambientes, como antagonista do processo de desenvolvimento econômico e social. Para ajudar a mudar esse quadro, a instituição tem prio-rizado, nos 70 países onde hoje atua, ações que compatibili-zem o ganho ambiental com os ganhos sociais e econômicos.

Os exemplos mais recorrentes são os financiamentos con-cedidos para políticas de mobilidade em cidades como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, que impactam positiva-mente a qualidade de vida das pessoas. Na África do Sul, con-tou Marie-Pierre, a AFD auxiliou na construção de moradias sociais no centro de Joanesburgo, o que ajudou a reduzir des-locamentos dos cidadãos de casa até o trabalho e, por conse-

quência, as emissões de gases na atmosfera, além de impactar o orçamento familiar e ajudar na reconstrução da cidade. “O nosso desafio é convencer a população de que é importante agir, mesmo com outras agendas do dia a dia se impondo”, declarou.

No Brasil, uma das parcerias da agência francesa se dá com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). A gerente de Setor Público do banco, Juliana Ferreira, lembrou que a pauta da sustentabilidade está cada vez mais inserida nas agendas das instituições financeiras bra-sileiras devido, sobretudo, às exigências legais para que estas questões sejam observadas em suas operações. Os requisitos levaram a mudanças nas análises de risco de crédito, com o fator ambiental sendo incorporado como um critério deter-minante para a aprovação de projetos.

A parceria com a agência francesa permitiu ao banco apoi-ar iniciativas dos municípios dentro da agenda da sustentabi-lidade. No segundo semestre deste ano, o banco pretende rea-lizar uma nova chamada para projetos neste campo. “Nossa expectativa é atender a um número significativo de municí-pios”, disse Juliana.

O especialista em energia e clima do Banco Mundial, Cristophe De Gouvello, lembrou que a figura federativa dos consórcios pode agregar as pequenas cidades e alavancar a capacidade técnica dos municípios, impulsionando o acesso ao crédito por estes entes. Ele considera que um dos princi-pais desafios do país neste momento, no que tange ao crédito a projetos sustentáveis, é alavancar os recursos privados para financiamento das iniciativas das cidades.

Para o geógrafo Renato Balbim, especialista em planeja-mento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o desafio também envolve outra questão, mais sensível: “Nossas cidades não foram construídas pen-sando sob a ótica do clima, esta é uma discussão recente e as questões que aqui discutimos são novas. É um enorme desa-fio de reconstrução das cidades”, disse.

Cidades e clima: a urgência do presente

Para dar um salto de produtividade, o gerente defendeu o aprimoramento de três aspectos: a renovação do parque fabril brasileiro, que possui idade média de máquinas e equi-pamentos muito acima da média mundial; o casamento entre demanda e oferta no Pronatec; e os custos sistêmicos e às vezes invisíveis da produção. Ele também destacou que deve ser redobrado o investimento em inovação. Esses pontos devem estar em uma nova política industrial que o governo brasileiro pretende lançar nos próximos meses, segundo afir-mou o presidente da ABDI, Alessandro Teixeira, dias antes do evento em Brasília.

“Essas políticas são essenciais para o país. Não dá para pensarmos o futuro do Brasil sem um núcleo forte da indús-tria. O caminho é construir uma política horizontal, sistêmi-

ca e flexível. Esta é uma agenda do governo, que pode ser questionada; certamente não atingimos todas as metas que nos dispusemos, mas é muito melhor ter [uma política industrial] do que não ter”, defendeu o gerente Jackson de Toni, rechaçando as críticas de que a formulação de políticas para o setor se trataria de intervencionismo.

O economista Roberto Gianetti da Fonseca trouxe o debate novamente para o âmbito dos municípios e afirmou que um atributo importante para o aumento da competitivi-dade da indústria é a qualidade de vida do cidadão. Ele defen-deu que a mobilidade urbana, de atribuição dos governos locais, é um fator que tem bastante relação com a competitivi-dade, pois um trabalhador que gasta menos tempo em deslo-camentos e o faz de forma mais adequada representa um

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, destacou o papel dos municípios para a diminuição da emissão de gases nas grandes cidades e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

PREFEITOS EMPREENDEDORESE EMPREENDER

ganho qualitativo no sistema produtivo. Da mesma forma, os investimentos em saúde, saneamento básico e segurança.

“Acredito que chegará um momento – e temos que traba-lhar para isso – em que as indústrias decidam investir na cidade pela qualidade de vida dos cidadãos que ali moram e não ape-nas pelos tributos que irá pagar ou deixar de pagar”, concluiu Roberto.

Repensar a federação – Um termo perpassou diferentes mesas temáticas, grupos de debates e rodas de conversa durante todo o encontro: novo pacto federativo. Esteve nas palavras do prefeito de Bento Gonçalves (RS), Guilherme Pasin, que alertou para um quadro de recessão na administra-ção pública; na fala do governador pernambucano Paulo Câmara, que qualificou o tema como urgente; na expressão de um dos representantes do g100, o grupo dos municípios com maior vulnerabilidade socioeconômica, Maguito Vilela, que cobrou a instituição de uma mesa permanente para diálo-go federativo; entre outros momentos.

As intervenções, de maneira geral, se referiam ao aumento constante das responsabilidades dos municípios sem o acom-panhamento das fontes de receitas. O bolo tributário, reclama-ram os expoentes, concentra recursos na União e esses recur-sos vão se esgarçando à medida que vão descendo os níveis de governo. A palavra-chave dos discursos foi a descentralização.

“O prefeito tem a função de liderar e ser o fomentador do desenvolvimento. Ele não pode ficar estagnado, tem que estar atento às oportunidades”

Pedro Bertolucci, ex-prefeito de Gramado (RS)

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RUMOS – 18 – Março/Abril 2015

O governador de Per-nambuco afirmou que a carga tributária representa 36% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Destes, apenas 2% são destinados a municípios, enquanto os estados recebem

9% e a União concentra 25% do montan-te. Essa situação é grave, de acordo com Paulo Câmara, pois as responsabilidades dos municípios são crescentes.

“Um novo pacto federativo é impor-tante para que possamos estabelecer um caminho, em nome da governança, pois a distribuição de competências não foi acompanhada pela destinação dos recur-sos. Precisamos de um retorno à capacida-de de investir dos estados e municípios, pois só assim poderemos proporcionar serviços públicos mais condizentes com o que o cidadão paga”, confirmou.

De acordo com o senador Antonio Anastasia, que gover-nou o estado de Minas Gerais nos últimos quatro anos, esse era o espírito da Constituição de 1988, que tentou devolver força aos estados e municípios. Ele acredita, no entanto, que essa retomada não aconteceu na prática, e que nos últimos 30 anos a federação está “morta”. Para reverter este quadro, além da distribuição de competências e recursos aos entes locais, Anastasia aconselha os gestores a se unirem em consórcios intermunicipais, que tem sido uma nova figura federativa com força nas mesas de diálogo e negociação política.

Na tentativa de driblar esse cenário de dificuldades, os municípios têm atuado de forma a aumentar suas receitas com as ferramentas que hoje possuem. Em Bento Gonçal-ves, o prefeito Guilherme Pasin busca solucionar os proble-mas que se apresentam, em termos orçamentários, com algu-mas medidas simples, como o investimento em tecnologia, que proporcionou economia anual de mais de um milhão de reais apenas com telefone e impressão de documentos.

Além disso, tem lançado mão de estratégias para a capi-larização do Imposto Sobre Serviços (ISS) e a instituição da cobrança do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), até então tímida no município; e tem investido em capacitação para a equipe de auditores da prefeitura. “Con-seguimos otimizar e ter mais controle da despesa em uma

ponta; e, em outra, aumentamos a arre-cadação sem aumentar tributos, com uma ação inteligente e também de justi-ça, para que todos passassem a pagar os tributos e não apenas alguns”, resumiu Pasin.

O secretário de Finanças de Campi-nas, Hamilton Bernardes Júnior, refor-çou a importância da informatização e renovação dos sistemas, que em um pro-cesso de consórcio poderiam até mesmo serem de utilização comum pelos diver-sos municípios. A cidade de Campinas, destacou ele, tem buscado otimizar a fis-calização para chegar aos resultados apontados por Pasin, de aumento nas receitas sem necessariamente aumentar os impostos. “O princípio é este, não é justo uns pagarem e outros não”, lem-brando, entretanto, que estas questões

estão relacionadas a uma luta política maior por um novo desenho do pacto federativo.

Para a especialista em Desenvolvimento Municipal do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Maria Cristina Mac Dowell, os municípios brasileiros só não estão em uma situação fiscal pior porque têm trabalhado efetiva-mente para aumentar sua arrecadação, sobretudo por meio do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Ela reforçou que o aumento nas responsabilidades sem aumento das fontes de financiamento traz forte impacto para as contas públicas, mas indicou que é preciso que municípios também avancem em suas práticas administrativas.

“Os municípios investiram em modernização e melhoria de gestão, e aquela velha ideia de que os prefeitos viviam ape-nas com ‘pires na mão’ não é mais condizente. Mas está na hora de investir na modernização fiscal e, neste sentido, olhar só para o lado da receita é miopia; também temos que melho-rar o gasto público”, afirmou Maria Cristina.

Para auxiliar municípios na modernização da gestão, o BNDES realizou, no último dia do encontro, uma oficina para apresentação e reforço do Programa de Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos Automático (PMAT). O gerente executivo da Gerên-cia Nacional Pessoa Jurídica Pública do banco, Amaury Tomoya Kakumori, foi o responsável pela apresentação.

PREFEITOS EMPREENDEDORESE EMPREENDER

Em um dos principais espaços do evento, prefeitos e secretários conheceram práticas bem-sucedidas em outros municípios e debateram os desafios da gestão pública.

“Aquela velha ideia de que os prefeitos

viviam apenas com ‘pires na mão’ não é

mais condizente. Mas está na hora de

investir na modernização fiscal e

melhorar o gasto público”

Maria Cristina Mac Dowell,BID

A oficina contou com a participação de gestores públicos e consultores e teve objetivo de oferecer aos municípios um melhor entendimento do PMAT Automático e das etapas necessárias para sua contratação. O programa do BNDES apo-ia projetos de investimento na administração pública munici-pal voltados à modernização tributária e à melhoria da qualida-de do gasto público, visando a modernização da administração tributária e qualificação do gasto público.

Ainda no último dia, durante o evento paralelo Cidades e Clima (ver boxe), o Banco de Desenvolvimento de Minas Gera-is (BDMG) também apresentou algumas de suas linhas de financiamento voltadas aos municípios do estado.

A vez dos municípios – Renato Janine Ribeiro, em uma fala que ora recordava os conceitos do erudito professor de filoso-fia da USP, ora se voltava para os desafios que enfrentará no

Ministério da Educação, onde havia sido recém-empossado, lembrou que as manifestações de 2013 mudaram a cena políti-ca brasileira e a agenda dos serviços públicos de qualidade irá se impor cada vez mais, depois de vencidas duas outras gran-des agendas políticas nacionais, nos últimos vinte anos – a inflação e a inclusão social. E esta terceira agenda, a dos servi-ços, está concentrada sobretudo nos municípios.

O ministro se comprometeu a colaborar com os municípi-os para o cumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE), alvo de descontentamento de alguns prefeitos por aumentar as responsabilidades da gestão municipal sem aumentar a fonte de recursos. “Com o PNE, temos uma rota traçada, um mapa, o que dá alívio para o gestor, mas também preocupações porque algumas metas são difíceis. O protago-nismo nesse Plano é dos municípios, mas vamos colaborar para dar escala às iniciativas”, afirmou.

Entrevista com Heloisa Menezes, diretora-técnica do Sebrae

“Lei Geral da Micro e Pequena Empresa pode dinamizar a economia dos municípios”

Qual o papel dos pequenos negó-cios no fortalecimento das economi-as municipais?

Os pequenos negócios são a maio-ria das empresas formais (99%) e são res-ponsáveis por dinamizar a economia do interior do país. Respondem também por 53% dos empregos formais. O uso do poder de compras públicas, confor-me previsto na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, repercute em fomento à economia local por meio de processos licitatórios direcionados aos pequenos negócios. Ao simplificar e uni-ficar os processos burocráticos, as pre-feituras estimulam a redução da infor-malidade, fomentam a atividade empre-sarial e organizam melhor os espaços comerciais nas cidades. Outro impacto é observado na arreca-dação, à medida que aumenta o nível de formalização da eco-nomia local. O aumento desse recurso propicia ao poder público investir localmente.

Como os pequenos negócios podem ser indutores do desenvolvimento?

A implementação da Lei Geral é um importante passo para o município reforçar seu papel de indutor do desenvolvi-mento a partir dos pequenos negócios. Nesse processo, o Agente de Desenvolvimento articula as ações públicas de pro-moção do desenvolvimento local, visando cumprir e manter as diretrizes da Lei Geral e melhorar o ambiente econômico de negócios. As Salas do Empreendedor criam espaços de convi-vência entre os empresários e a prefeitura, aproximando poder

público e privado, também induz a melho-ria da qualidade empresarial. Vale destacar ainda que o empreendedorismo é uma alternativa para a inclusão produtiva, sen-do o estímulo à cultura empreendedora extremamente relevante para criar um ambiente mais favorável ao desenvolvi-mento.

Na sua visão, de que forma os municí-pios, por meio de suas estruturas e governança, podem ser promotores da ação empreendedora?

A implementação da Lei Geral pelas prefeituras possibilita dinamizar a econo-mia e influenciar novos padrões de desempenho empresarial, bem-estar soci-al e desenvolvimento econômico. A sensi-

bilização e a mobilização das lideranças empresariais, do Executivo e do Legislativo municipais, por meio dos Agentes de Desenvolvimento, podem influenciar mudanças, a partir de prioridades e oportunidades vocacionadas pelas características locais. O Sebrae acompanha e apoia as prefeituras e os peque-nos negócios nessa trajetória de crescimento e potencial de desenvolvimento em que todos ganham. Há 14 anos, o Prêmio Prefeito Empreendedor busca estimular a implemen-tação da Lei Geral nos municípios e reconhecer os gestores que incentivam e valorizam os pequenos negócios em suas cidades. Desde sua primeira edição, há 14 anos, já recebeu mais de 7 mil inscrições e reconheceu nacionalmente o trabalho de 67 gestores municipais que identificaram nas micro e peque-nas empresas uma importante ferramenta de desenvolvimen-to econômico sustentável.

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RUMOS – 18 – Março/Abril 2015

O governador de Per-nambuco afirmou que a carga tributária representa 36% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Destes, apenas 2% são destinados a municípios, enquanto os estados recebem

9% e a União concentra 25% do montan-te. Essa situação é grave, de acordo com Paulo Câmara, pois as responsabilidades dos municípios são crescentes.

“Um novo pacto federativo é impor-tante para que possamos estabelecer um caminho, em nome da governança, pois a distribuição de competências não foi acompanhada pela destinação dos recur-sos. Precisamos de um retorno à capacida-de de investir dos estados e municípios, pois só assim poderemos proporcionar serviços públicos mais condizentes com o que o cidadão paga”, confirmou.

De acordo com o senador Antonio Anastasia, que gover-nou o estado de Minas Gerais nos últimos quatro anos, esse era o espírito da Constituição de 1988, que tentou devolver força aos estados e municípios. Ele acredita, no entanto, que essa retomada não aconteceu na prática, e que nos últimos 30 anos a federação está “morta”. Para reverter este quadro, além da distribuição de competências e recursos aos entes locais, Anastasia aconselha os gestores a se unirem em consórcios intermunicipais, que tem sido uma nova figura federativa com força nas mesas de diálogo e negociação política.

Na tentativa de driblar esse cenário de dificuldades, os municípios têm atuado de forma a aumentar suas receitas com as ferramentas que hoje possuem. Em Bento Gonçal-ves, o prefeito Guilherme Pasin busca solucionar os proble-mas que se apresentam, em termos orçamentários, com algu-mas medidas simples, como o investimento em tecnologia, que proporcionou economia anual de mais de um milhão de reais apenas com telefone e impressão de documentos.

Além disso, tem lançado mão de estratégias para a capi-larização do Imposto Sobre Serviços (ISS) e a instituição da cobrança do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), até então tímida no município; e tem investido em capacitação para a equipe de auditores da prefeitura. “Con-seguimos otimizar e ter mais controle da despesa em uma

ponta; e, em outra, aumentamos a arre-cadação sem aumentar tributos, com uma ação inteligente e também de justi-ça, para que todos passassem a pagar os tributos e não apenas alguns”, resumiu Pasin.

O secretário de Finanças de Campi-nas, Hamilton Bernardes Júnior, refor-çou a importância da informatização e renovação dos sistemas, que em um pro-cesso de consórcio poderiam até mesmo serem de utilização comum pelos diver-sos municípios. A cidade de Campinas, destacou ele, tem buscado otimizar a fis-calização para chegar aos resultados apontados por Pasin, de aumento nas receitas sem necessariamente aumentar os impostos. “O princípio é este, não é justo uns pagarem e outros não”, lem-brando, entretanto, que estas questões

estão relacionadas a uma luta política maior por um novo desenho do pacto federativo.

Para a especialista em Desenvolvimento Municipal do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Maria Cristina Mac Dowell, os municípios brasileiros só não estão em uma situação fiscal pior porque têm trabalhado efetiva-mente para aumentar sua arrecadação, sobretudo por meio do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Ela reforçou que o aumento nas responsabilidades sem aumento das fontes de financiamento traz forte impacto para as contas públicas, mas indicou que é preciso que municípios também avancem em suas práticas administrativas.

“Os municípios investiram em modernização e melhoria de gestão, e aquela velha ideia de que os prefeitos viviam ape-nas com ‘pires na mão’ não é mais condizente. Mas está na hora de investir na modernização fiscal e, neste sentido, olhar só para o lado da receita é miopia; também temos que melho-rar o gasto público”, afirmou Maria Cristina.

Para auxiliar municípios na modernização da gestão, o BNDES realizou, no último dia do encontro, uma oficina para apresentação e reforço do Programa de Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos Automático (PMAT). O gerente executivo da Gerên-cia Nacional Pessoa Jurídica Pública do banco, Amaury Tomoya Kakumori, foi o responsável pela apresentação.

PREFEITOS EMPREENDEDORESE EMPREENDER

Em um dos principais espaços do evento, prefeitos e secretários conheceram práticas bem-sucedidas em outros municípios e debateram os desafios da gestão pública.

“Aquela velha ideia de que os prefeitos

viviam apenas com ‘pires na mão’ não é

mais condizente. Mas está na hora de

investir na modernização fiscal e

melhorar o gasto público”

Maria Cristina Mac Dowell,BID

A oficina contou com a participação de gestores públicos e consultores e teve objetivo de oferecer aos municípios um melhor entendimento do PMAT Automático e das etapas necessárias para sua contratação. O programa do BNDES apo-ia projetos de investimento na administração pública munici-pal voltados à modernização tributária e à melhoria da qualida-de do gasto público, visando a modernização da administração tributária e qualificação do gasto público.

Ainda no último dia, durante o evento paralelo Cidades e Clima (ver boxe), o Banco de Desenvolvimento de Minas Gera-is (BDMG) também apresentou algumas de suas linhas de financiamento voltadas aos municípios do estado.

A vez dos municípios – Renato Janine Ribeiro, em uma fala que ora recordava os conceitos do erudito professor de filoso-fia da USP, ora se voltava para os desafios que enfrentará no

Ministério da Educação, onde havia sido recém-empossado, lembrou que as manifestações de 2013 mudaram a cena políti-ca brasileira e a agenda dos serviços públicos de qualidade irá se impor cada vez mais, depois de vencidas duas outras gran-des agendas políticas nacionais, nos últimos vinte anos – a inflação e a inclusão social. E esta terceira agenda, a dos servi-ços, está concentrada sobretudo nos municípios.

O ministro se comprometeu a colaborar com os municípi-os para o cumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE), alvo de descontentamento de alguns prefeitos por aumentar as responsabilidades da gestão municipal sem aumentar a fonte de recursos. “Com o PNE, temos uma rota traçada, um mapa, o que dá alívio para o gestor, mas também preocupações porque algumas metas são difíceis. O protago-nismo nesse Plano é dos municípios, mas vamos colaborar para dar escala às iniciativas”, afirmou.

Entrevista com Heloisa Menezes, diretora-técnica do Sebrae

“Lei Geral da Micro e Pequena Empresa pode dinamizar a economia dos municípios”

Qual o papel dos pequenos negó-cios no fortalecimento das economi-as municipais?

Os pequenos negócios são a maio-ria das empresas formais (99%) e são res-ponsáveis por dinamizar a economia do interior do país. Respondem também por 53% dos empregos formais. O uso do poder de compras públicas, confor-me previsto na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, repercute em fomento à economia local por meio de processos licitatórios direcionados aos pequenos negócios. Ao simplificar e uni-ficar os processos burocráticos, as pre-feituras estimulam a redução da infor-malidade, fomentam a atividade empre-sarial e organizam melhor os espaços comerciais nas cidades. Outro impacto é observado na arreca-dação, à medida que aumenta o nível de formalização da eco-nomia local. O aumento desse recurso propicia ao poder público investir localmente.

Como os pequenos negócios podem ser indutores do desenvolvimento?

A implementação da Lei Geral é um importante passo para o município reforçar seu papel de indutor do desenvolvi-mento a partir dos pequenos negócios. Nesse processo, o Agente de Desenvolvimento articula as ações públicas de pro-moção do desenvolvimento local, visando cumprir e manter as diretrizes da Lei Geral e melhorar o ambiente econômico de negócios. As Salas do Empreendedor criam espaços de convi-vência entre os empresários e a prefeitura, aproximando poder

público e privado, também induz a melho-ria da qualidade empresarial. Vale destacar ainda que o empreendedorismo é uma alternativa para a inclusão produtiva, sen-do o estímulo à cultura empreendedora extremamente relevante para criar um ambiente mais favorável ao desenvolvi-mento.

Na sua visão, de que forma os municí-pios, por meio de suas estruturas e governança, podem ser promotores da ação empreendedora?

A implementação da Lei Geral pelas prefeituras possibilita dinamizar a econo-mia e influenciar novos padrões de desempenho empresarial, bem-estar soci-al e desenvolvimento econômico. A sensi-

bilização e a mobilização das lideranças empresariais, do Executivo e do Legislativo municipais, por meio dos Agentes de Desenvolvimento, podem influenciar mudanças, a partir de prioridades e oportunidades vocacionadas pelas características locais. O Sebrae acompanha e apoia as prefeituras e os peque-nos negócios nessa trajetória de crescimento e potencial de desenvolvimento em que todos ganham. Há 14 anos, o Prêmio Prefeito Empreendedor busca estimular a implemen-tação da Lei Geral nos municípios e reconhecer os gestores que incentivam e valorizam os pequenos negócios em suas cidades. Desde sua primeira edição, há 14 anos, já recebeu mais de 7 mil inscrições e reconheceu nacionalmente o trabalho de 67 gestores municipais que identificaram nas micro e peque-nas empresas uma importante ferramenta de desenvolvimen-to econômico sustentável.

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RUMOS – 20 – Março/Abril 2015 RUMOS – 21 – Março/Abril 2015

RPor Thais Sena Schettino

E ENTREVISTA Frederico Mazzucchelli

A necessidade de reconstrução das nações atingidas pela Segunda Guerra Mundial permitiu que os anos 1950 e 1960 fossem ímpar na história mundial: com crescimento econômico e a geração de empregos. Ao pesquisar sobre esse período da história, o economista Frederico Mazzucchelli os chama de dias ensolarados e os aponta como o ápice de um capitalismo com forte presença do Estado. Confira, nesta entrevista à Rumos, quais foram os consensos acertados entre os países que levaram a tempos tão únicos

O passadoglorioso

Div

ulg

açã

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que eram os outrora inimigos, se converteram nos principais aliados. Foi muito importante o apoio dos Estados Unidos tanto na reconstrução como na condução da própria política econômica norte-americana. Quer dizer, os Estados Unidos passaram a conviver com déficits do balanço de pagamento e esses déficits foram muito importantes para que os demais países tivessem os dólares suficientes para poder emprestar para o Estados Unidos. A superioridade norte-americana com relação ao conflito era absurda, cerca de 60% da produ-ção manufatureira mundial. Logo, no âmbito interno dessas sociedades se forjou aquela convicção de que do berço à sepultura cabe ao Estado zelar pelos cidadãos, e isso era mui-to forte, sobretudo na Inglaterra. Todos estavam convictos de que era fundamental abraçar o pleno emprego. Então, a defesa do pleno emprego, a defesa do bem-estar social, se construiu um consenso: conservadores ou trabalhistas na Inglaterra; democratas e republicanos nos Estados Unidos; comunistas, socialistas, democratas cristãos na Itália; demo-cratas cristãos e social-democratas na Alemanha etc., todos abraçavam essa ideia de que era fundamental estruturar o fun-cionamento da economia a partir do suposto do pleno emprego e da vantagem do Estado de bem-estar. Se obser-varmos a trajetória dos países no pós-guerra, veremos que o Estado esteve presente, o pleno emprego foi alcançado, a pro-dutividade cresceu, os investimentos cresceram, os salários cresceram. Foi um período ímpar na história do capitalismo. Tivemos uma conjunção de fatores que permitiram esses resultados absolutamente auspiciosos. E, claro, que o pano de fundo político disso é o da guerra fria. Mas tudo isso só foi

umos – A obra faz um contraponto interes-sante ao pensamento muito disseminado hoje de que o Estado de bem-estar social

seria incompatível com uma sociedade em recuperação econômica... No entanto, no pós-guerra, foi possível crescer com melhor qualidade de vida nas sociedades europeias. Como isso foi possível naquela época? Por que essa questão permite uma reflexão interessante no contexto atual?Frederico Mazzucchelli – Para começar essa discussão do pós-guerra, não podemos desconsiderar o que veio antes, que foi a depressão econômica dos anos 1930 (Crise da Bolsa de Valores), e depois, vem o desastre da Segunda Guerra. A guerra teve um aspecto que é muito importante que ninguém vê toda a sociedade, e ninguém vê mulheres, crianças, todos sentiram os efeitos da guerra. E uma vez que foi eliminado, o nazismo, a tarefa que se colocava era de como se reconciliam as sociedades. E com base em que valores? Com base em que supostos? É importante reter que a construção do pós-guerra se fez a partir de um consenso político que, depois, veio a ter vários matizes, mas que havia um consenso em rela-ção a certos pontos elementares. Em primeiro lugar, a partici-pação do Estado. Ele é visto como central, essencial para se conseguir reconstruir os países e recolocá-los no caminho do crescimento. Em segundo lugar, em decorrência da guerra fria, havia um apoio automático aos Estados Unidos. Do pon-to de vista da geopolítica norte-americana, era fundamental apoiar o capitalismo na Europa e no Japão. Depois de passa-dos dois, três anos do final da guerra, a Alemanha e o Japão,

possível porque se teve o consenso forjado nas agruras, forjado no desespero da depressão e da guerra.

Rumos – É possível supor que se não houves-se intervenção estatal, essa recuperação eco-nômica demoraria a acontecer, ou mesmo, ela seria inviável considerando a guerra e essa recuperação da depressão? Mazzucchelli – Não há a menor dúvida: o Esta-do foi fundamental, seja na França, na Alemanha. O Estado tinha uma presença fundamental de dire-cionar os investimentos, estimulando as exporta-ções e o crédito. No Japão, que foi o caso mais espe-tacular, o Estado, por meio do Banco do Japão e do Ministério de Indústria e Comércio, direcionou tudo; quer dizer, elegeu os campeões e fez as esco-lhas, adentrou com as importações. Os Estados Unidos tinham que tolerar isso por que na verdade era uma forma que os países tinham de avançar. Agora, o Estado foi central no Japão, na Europa, e mesmo nos Estados Unidos. Sem o Estado, para responder diretamente a sua pergunta, não haveria milagre econômico algum no pós-guerra, nada.

Rumos – Mesmo a questão da empregabili-dade? Pois houve uma desarticulação dos par-ques industriais, na Alemanha, principal-mente, teve uma queda nos níveis de empre-

Os Dias de Sol:A trajetória do capitalismo no pós-guerraFrederico MazzucchelliFacamp, 238 p., 2014.

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RUMOS – 20 – Março/Abril 2015 RUMOS – 21 – Março/Abril 2015

RPor Thais Sena Schettino

E ENTREVISTA Frederico Mazzucchelli

A necessidade de reconstrução das nações atingidas pela Segunda Guerra Mundial permitiu que os anos 1950 e 1960 fossem ímpar na história mundial: com crescimento econômico e a geração de empregos. Ao pesquisar sobre esse período da história, o economista Frederico Mazzucchelli os chama de dias ensolarados e os aponta como o ápice de um capitalismo com forte presença do Estado. Confira, nesta entrevista à Rumos, quais foram os consensos acertados entre os países que levaram a tempos tão únicos

O passadoglorioso

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que eram os outrora inimigos, se converteram nos principais aliados. Foi muito importante o apoio dos Estados Unidos tanto na reconstrução como na condução da própria política econômica norte-americana. Quer dizer, os Estados Unidos passaram a conviver com déficits do balanço de pagamento e esses déficits foram muito importantes para que os demais países tivessem os dólares suficientes para poder emprestar para o Estados Unidos. A superioridade norte-americana com relação ao conflito era absurda, cerca de 60% da produ-ção manufatureira mundial. Logo, no âmbito interno dessas sociedades se forjou aquela convicção de que do berço à sepultura cabe ao Estado zelar pelos cidadãos, e isso era mui-to forte, sobretudo na Inglaterra. Todos estavam convictos de que era fundamental abraçar o pleno emprego. Então, a defesa do pleno emprego, a defesa do bem-estar social, se construiu um consenso: conservadores ou trabalhistas na Inglaterra; democratas e republicanos nos Estados Unidos; comunistas, socialistas, democratas cristãos na Itália; demo-cratas cristãos e social-democratas na Alemanha etc., todos abraçavam essa ideia de que era fundamental estruturar o fun-cionamento da economia a partir do suposto do pleno emprego e da vantagem do Estado de bem-estar. Se obser-varmos a trajetória dos países no pós-guerra, veremos que o Estado esteve presente, o pleno emprego foi alcançado, a pro-dutividade cresceu, os investimentos cresceram, os salários cresceram. Foi um período ímpar na história do capitalismo. Tivemos uma conjunção de fatores que permitiram esses resultados absolutamente auspiciosos. E, claro, que o pano de fundo político disso é o da guerra fria. Mas tudo isso só foi

umos – A obra faz um contraponto interes-sante ao pensamento muito disseminado hoje de que o Estado de bem-estar social

seria incompatível com uma sociedade em recuperação econômica... No entanto, no pós-guerra, foi possível crescer com melhor qualidade de vida nas sociedades europeias. Como isso foi possível naquela época? Por que essa questão permite uma reflexão interessante no contexto atual?Frederico Mazzucchelli – Para começar essa discussão do pós-guerra, não podemos desconsiderar o que veio antes, que foi a depressão econômica dos anos 1930 (Crise da Bolsa de Valores), e depois, vem o desastre da Segunda Guerra. A guerra teve um aspecto que é muito importante que ninguém vê toda a sociedade, e ninguém vê mulheres, crianças, todos sentiram os efeitos da guerra. E uma vez que foi eliminado, o nazismo, a tarefa que se colocava era de como se reconciliam as sociedades. E com base em que valores? Com base em que supostos? É importante reter que a construção do pós-guerra se fez a partir de um consenso político que, depois, veio a ter vários matizes, mas que havia um consenso em rela-ção a certos pontos elementares. Em primeiro lugar, a partici-pação do Estado. Ele é visto como central, essencial para se conseguir reconstruir os países e recolocá-los no caminho do crescimento. Em segundo lugar, em decorrência da guerra fria, havia um apoio automático aos Estados Unidos. Do pon-to de vista da geopolítica norte-americana, era fundamental apoiar o capitalismo na Europa e no Japão. Depois de passa-dos dois, três anos do final da guerra, a Alemanha e o Japão,

possível porque se teve o consenso forjado nas agruras, forjado no desespero da depressão e da guerra.

Rumos – É possível supor que se não houves-se intervenção estatal, essa recuperação eco-nômica demoraria a acontecer, ou mesmo, ela seria inviável considerando a guerra e essa recuperação da depressão? Mazzucchelli – Não há a menor dúvida: o Esta-do foi fundamental, seja na França, na Alemanha. O Estado tinha uma presença fundamental de dire-cionar os investimentos, estimulando as exporta-ções e o crédito. No Japão, que foi o caso mais espe-tacular, o Estado, por meio do Banco do Japão e do Ministério de Indústria e Comércio, direcionou tudo; quer dizer, elegeu os campeões e fez as esco-lhas, adentrou com as importações. Os Estados Unidos tinham que tolerar isso por que na verdade era uma forma que os países tinham de avançar. Agora, o Estado foi central no Japão, na Europa, e mesmo nos Estados Unidos. Sem o Estado, para responder diretamente a sua pergunta, não haveria milagre econômico algum no pós-guerra, nada.

Rumos – Mesmo a questão da empregabili-dade? Pois houve uma desarticulação dos par-ques industriais, na Alemanha, principal-mente, teve uma queda nos níveis de empre-

Os Dias de Sol:A trajetória do capitalismo no pós-guerraFrederico MazzucchelliFacamp, 238 p., 2014.

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E ENTREVISTA

RUMOS – 22 – Março/Abril 2015 RUMOS – 23 –Março/Abril 2015

Frederico Mazzucchelli

Os anos 1970 foram terríveis no plano econômico, com o esgotamento da onda de inovações do modelo centralizado. As taxas de investimento começaram a declinar. Em cima disso, houve a perda de credibilidade no dólar e a conversibilidade do dólar no ouro passou a ser questionada já em fins dos anos 1960.

O general Douglas MacArthur lutou na Primeira Guerra Mundial e, na Segunda foi comandante das Forças Aliadas no Pacífico. Ao final da Guerra, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, designou MacArthur para acompanhar a rendição dos japoneses e, nos seis anos seguintes, ele comandou as forças de ocupação que auxiliaram na reconstrução do Japão.

Com o início da Guerra da Coreia (1950), ele foi deslocado para responder militarmente a agressão norte-coreana, obtendo sucesso no comando das forças dos Estados Unidos na região. Após fazer críticas às posturas adotadas pelo presidente Truman frente as ofensivas chinesas na Ásia, o general, em 1951, é afastado de seu posto no Japão. Ao retornar ao seu país, é tratado como herói, sendo cogitado para a presidência dos Estados Unidos, cargo que não chegou a concorrer. Ele morreu em 1964, com 84 anos, após escrever suas memórias.

Douglas MacArthur, o general

go, mas essa recuperação de que falamos, que o senhor também mencionou anteriormente de chegar ao pleno emprego, só foi possível com esse direcionamento dos investimentos, não foi? Mazzucchelli – Sim. Teve a presença do Estado no direcio-namento do sistema de crédito para comercialização primiti-va. Não tinha festa financeira. A atividade bancária, muitos diziam, era uma atividade aborrecida, que não tinha partici-pação, não tinha inovações, não tinha nada disso, o que tinha era o direcionamento do crédito para comercialização primi-tiva e consumo. A febre especulativa estava contida, porque se proibia isso.

Rumos – A Alemanha Ocidental e o Japão foram países que tiveram uma recuperação importante, mas diferen-ciada a partir do auxílio dos Estados Unidos. Em ambos os casos, essa recuperação foi bem-sucedida ape-sar da história, do ponto de partida desses países ter sido diferente.Mazzucchelli – É claro. A base industrial da Alemanha era incomparavelmente superior à do Japão, a Alemanha mesmo com a guerra não sofreu, digamos, um desmanche absoluto do seu parque industrial. Havia propostas para pasteurizar as ideias. Na verdade, se abandonou isso, o se que propôs foi arbitrário do ponto de vista do departamento de Estado. Ago-ra no caso do Japão foi preciso montar a base industrial pesa-da deles. Tinha alguma indústria, mas o caminho a ser percor-rido era muito maior. No caso da Alemanha não, foi só preci-so fazer alguns ajustes e vários incentivos. E ainda, ela se transformou em um grande exportador. Tanto que as expor-tações, isso até hoje, são muito mais importantes na Alema-nha do que no Japão. O Japão construiu um capitalismo exu-berante depois do MacArthur, que de início tinha a proposta de, digamos, pasteurizar o Japão. Depois da Guerra da Core-ia, mudou tudo isso lá, e eles passaram a ser exímios, a guerra é que na verdade teve um papel importantíssimo para as exportações japonesas e para a construção da aliança política com os Estados Unidos.

Rumos – O que poderia explicar a recuperação desses dois países, tendo em vista culturas tão diferenciadas e os dois tendo esse apoio dos Estados Unidos? Então, uma mesma fonte apoiadora, mas culturas tão diferen-ciadas conseguiram se superar nesse quadro adverso.Mazzucchelli – No caso da Alemanha, é possível entender, pois já tinha uma base industrial pesada e mesmo durante a guerra foi usada. A Alemanha na virada do século já era a prin-cipal economia europeia. Com o nazismo, a base pesada da indústria alemã se fortaleceu mais ainda.

O Japão, como eu disse, teve que partir de uma base mui-to menor. Só que acontece o seguinte: quando se parte de uma base menor, as taxas que se alcança são maiores. Então, não é segredo algum que o país pobre, ou miserável, ou viti-mado, uma vez marchando iria obter as taxas de crescimento maiores, porque a base da qual se parte é melhor, não é? Ago-ra, no entanto, volto a afirmar, no caso do Japão, sem a pre-sença, digamos explícita, descarada do Estado, nada seria possível. Outro ponto, as forças de ocupação do MacArthur

fizeram algo muito importante no Japão que foi a reforma agrária que quebrou o poder dos proprietários de terra. E quebraram também, obviamente, a importância da oligar-quia militar que existia. Quer dizer, a reforma agrária condu-zida pelos Estados Unidos e a queda da oligarquia militar foram muito relevantes no caso do Japão.

Rumos – A questão da polarização do mundo, com uma possibilidade de risco de guerra novamente, possibili-tou que se tivesse uma definição muito clara de influên-cias. O senhor pontua no livro que esse desenho favore-ceu a recuperação dessas nações envolvidas na guerra? Mazzucchelli – Nunca houve tanta estabilidade política na Europa como no pós-guerra. Se analisarmos a história da Europa no final do século até o pós-guerra era uma grande confusão. Tivemos a Primeira Guerra, como um conflito europeu, que teve uma convulsão social que percorreu todos os países. Desde 1871, no final da guerra franco-prussiana, existia um certo equilíbrio entre as potências, mas depois da Primeira Guerra a Europa foi um continente de incertezas. Depois da Segunda Guerra, não. Com os Estados Unidos, há uma estabilidade política, mesmo com os mais variados par-tidos no poder, há uma estabilidade política nunca antes alcançada.

Rumos – Esse modelo de financiamento norte-americano com uma forte entrada de produtos de con-sumo começa a dar sinais de esgotamento em meados da década de 1970? Mazzucchelli – Quando tiveram início os anos 1970, havia esperança: “vamos acabar com esse negócio de guerra”, “va-mos procurar uma sociedade mais fraternal” no rescaldo daquilo que se viveu nos anos 1960, 1968, “vamos viver com novos valores morais”, “vamos incorporar as mulheres”, “va-mos ter novos hábitos sexuais”, “vamos...”, que eram exem-plos, digamos, de liberdade dos anos 1970. Mas esses anos foram uma intenção de uma derrota. Por quê? Visto em outro aspecto. Porque, por fim, a década de 1970 foi terrível no pla-no econômico, com o esgotamento da onda de inovações do modelo centralizado. As taxas de investimento começaram a declinar. Em cima disso, houve a perda de credibilidade no dólar, que era a moeda internacional, que outrora dentro da escala de moeda era tão boa quanto o ouro, passou a entrar em desconfiança e a conversibilidade do dólar no ouro pas-sou a ser questionada já em fins dos anos 1960. Em 1971, há um fato muito importante, que é o que chamam de “As Armas de Agosto”. Foi quando o presidente dos Estados Uni-dos, Richard Nixon, decretou o final da convertibilidade do dólar no ouro. E ao mesmo tempo, sobretaxou as importa-ções norte-americanas para evidentemente atacar o Japão. O clima já era outro. Em 1973, são instauradas as taxas flexíveis de câmbio e, assim, há o rompimento das qualidades fixas que haviam sido consagradas em Bretton Woods, quer dizer, as moedas começam a dançar. Ao mesmo tempo, para fugir da regulamentação, vários bancos norte-americanos passaram a se sediar, mantêm filiais, em outros países, como a Inglaterra, livres de regulamentação. E é claro que aqueles valores de ple-no emprego, do Estado, ainda eram vivos, mas quando come-

ça a haver uma certa desvalorização de uma das partes, ocorre uma subversão dos valores que vigeram durante o pós-guerra. As verbas de colaboração, de cooperação vão caindo em desuso, as sociedades internamente vão estar mais unidas, a juventude questionava as for-mas de sustentabilidade.

Rumos – E é a geração que não viveu a guerra, que nasceu nesse pós-guerra.Mazzucchelli – Sim, eles queriam uma sociedade mais justa, eram contra aqueles valores morais familiares, eram contra a guerra do Viet-nã, eles eram contra, digamos...sociedade de consumo. Então, as soci-edades vão se mexendo. Acontece que a economia começou a entrar em parafuso, veio o primeiro choque do petróleo em 1973. Nos anos seguintes, há uma recessão fortíssima, foi a primeira grande recessão de um pós-guerra.

Por isso que eu digo que a década de 1970 foi a reinstauração do liberalismo nu e cru que começou a viger a partir dos anos 1980.

Rumos – E que chegou inclusive ao Brasil.Mazzucchelli – O que aconteceu na economia mundial nesses anos foi muito ruim do ponto de vista da qualidade das sociedades. As soci-edades passaram a conviver com taxas de desemprego muito mais ele-vadas, o governo comunista não vou dizer que foi desmontado, mas ele ficou permanentemente na berlinda, e nesse mesmo ano há a libe-ralização de todos os controles, e se reinstaura a liberdade financeira. Só que, a partir daí, as finanças passaram a mudar o jogo. Se você pega uma organização econômica e social liderada pelas finanças, não vai dar boa coisa, entendeu? Quer dizer, com o tempo...

Rumos – Olhando para o futuro, estaremos mais perto do capi-talismo dos anos 1920 ou 1930, ou dos dias ensolarados que foram as décadas de 1950 e 1960? Mazzucchelli – Dos anos 1920. Quer dizer, o panorama é sombrio. Não há o que discutir. Eu não vejo atores políticos relevantes capazes de se contraporem a isso. Eu lamento informar que a minha opinião é pessimista nesse contexto, certamente nós nos aproximamos mais dos anos 1920 do que dos anos 1950 e 1960.

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E ENTREVISTA

RUMOS – 22 – Março/Abril 2015 RUMOS – 23 –Março/Abril 2015

Frederico Mazzucchelli

Os anos 1970 foram terríveis no plano econômico, com o esgotamento da onda de inovações do modelo centralizado. As taxas de investimento começaram a declinar. Em cima disso, houve a perda de credibilidade no dólar e a conversibilidade do dólar no ouro passou a ser questionada já em fins dos anos 1960.

O general Douglas MacArthur lutou na Primeira Guerra Mundial e, na Segunda foi comandante das Forças Aliadas no Pacífico. Ao final da Guerra, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, designou MacArthur para acompanhar a rendição dos japoneses e, nos seis anos seguintes, ele comandou as forças de ocupação que auxiliaram na reconstrução do Japão.

Com o início da Guerra da Coreia (1950), ele foi deslocado para responder militarmente a agressão norte-coreana, obtendo sucesso no comando das forças dos Estados Unidos na região. Após fazer críticas às posturas adotadas pelo presidente Truman frente as ofensivas chinesas na Ásia, o general, em 1951, é afastado de seu posto no Japão. Ao retornar ao seu país, é tratado como herói, sendo cogitado para a presidência dos Estados Unidos, cargo que não chegou a concorrer. Ele morreu em 1964, com 84 anos, após escrever suas memórias.

Douglas MacArthur, o general

go, mas essa recuperação de que falamos, que o senhor também mencionou anteriormente de chegar ao pleno emprego, só foi possível com esse direcionamento dos investimentos, não foi? Mazzucchelli – Sim. Teve a presença do Estado no direcio-namento do sistema de crédito para comercialização primiti-va. Não tinha festa financeira. A atividade bancária, muitos diziam, era uma atividade aborrecida, que não tinha partici-pação, não tinha inovações, não tinha nada disso, o que tinha era o direcionamento do crédito para comercialização primi-tiva e consumo. A febre especulativa estava contida, porque se proibia isso.

Rumos – A Alemanha Ocidental e o Japão foram países que tiveram uma recuperação importante, mas diferen-ciada a partir do auxílio dos Estados Unidos. Em ambos os casos, essa recuperação foi bem-sucedida ape-sar da história, do ponto de partida desses países ter sido diferente.Mazzucchelli – É claro. A base industrial da Alemanha era incomparavelmente superior à do Japão, a Alemanha mesmo com a guerra não sofreu, digamos, um desmanche absoluto do seu parque industrial. Havia propostas para pasteurizar as ideias. Na verdade, se abandonou isso, o se que propôs foi arbitrário do ponto de vista do departamento de Estado. Ago-ra no caso do Japão foi preciso montar a base industrial pesa-da deles. Tinha alguma indústria, mas o caminho a ser percor-rido era muito maior. No caso da Alemanha não, foi só preci-so fazer alguns ajustes e vários incentivos. E ainda, ela se transformou em um grande exportador. Tanto que as expor-tações, isso até hoje, são muito mais importantes na Alema-nha do que no Japão. O Japão construiu um capitalismo exu-berante depois do MacArthur, que de início tinha a proposta de, digamos, pasteurizar o Japão. Depois da Guerra da Core-ia, mudou tudo isso lá, e eles passaram a ser exímios, a guerra é que na verdade teve um papel importantíssimo para as exportações japonesas e para a construção da aliança política com os Estados Unidos.

Rumos – O que poderia explicar a recuperação desses dois países, tendo em vista culturas tão diferenciadas e os dois tendo esse apoio dos Estados Unidos? Então, uma mesma fonte apoiadora, mas culturas tão diferen-ciadas conseguiram se superar nesse quadro adverso.Mazzucchelli – No caso da Alemanha, é possível entender, pois já tinha uma base industrial pesada e mesmo durante a guerra foi usada. A Alemanha na virada do século já era a prin-cipal economia europeia. Com o nazismo, a base pesada da indústria alemã se fortaleceu mais ainda.

O Japão, como eu disse, teve que partir de uma base mui-to menor. Só que acontece o seguinte: quando se parte de uma base menor, as taxas que se alcança são maiores. Então, não é segredo algum que o país pobre, ou miserável, ou viti-mado, uma vez marchando iria obter as taxas de crescimento maiores, porque a base da qual se parte é melhor, não é? Ago-ra, no entanto, volto a afirmar, no caso do Japão, sem a pre-sença, digamos explícita, descarada do Estado, nada seria possível. Outro ponto, as forças de ocupação do MacArthur

fizeram algo muito importante no Japão que foi a reforma agrária que quebrou o poder dos proprietários de terra. E quebraram também, obviamente, a importância da oligar-quia militar que existia. Quer dizer, a reforma agrária condu-zida pelos Estados Unidos e a queda da oligarquia militar foram muito relevantes no caso do Japão.

Rumos – A questão da polarização do mundo, com uma possibilidade de risco de guerra novamente, possibili-tou que se tivesse uma definição muito clara de influên-cias. O senhor pontua no livro que esse desenho favore-ceu a recuperação dessas nações envolvidas na guerra? Mazzucchelli – Nunca houve tanta estabilidade política na Europa como no pós-guerra. Se analisarmos a história da Europa no final do século até o pós-guerra era uma grande confusão. Tivemos a Primeira Guerra, como um conflito europeu, que teve uma convulsão social que percorreu todos os países. Desde 1871, no final da guerra franco-prussiana, existia um certo equilíbrio entre as potências, mas depois da Primeira Guerra a Europa foi um continente de incertezas. Depois da Segunda Guerra, não. Com os Estados Unidos, há uma estabilidade política, mesmo com os mais variados par-tidos no poder, há uma estabilidade política nunca antes alcançada.

Rumos – Esse modelo de financiamento norte-americano com uma forte entrada de produtos de con-sumo começa a dar sinais de esgotamento em meados da década de 1970? Mazzucchelli – Quando tiveram início os anos 1970, havia esperança: “vamos acabar com esse negócio de guerra”, “va-mos procurar uma sociedade mais fraternal” no rescaldo daquilo que se viveu nos anos 1960, 1968, “vamos viver com novos valores morais”, “vamos incorporar as mulheres”, “va-mos ter novos hábitos sexuais”, “vamos...”, que eram exem-plos, digamos, de liberdade dos anos 1970. Mas esses anos foram uma intenção de uma derrota. Por quê? Visto em outro aspecto. Porque, por fim, a década de 1970 foi terrível no pla-no econômico, com o esgotamento da onda de inovações do modelo centralizado. As taxas de investimento começaram a declinar. Em cima disso, houve a perda de credibilidade no dólar, que era a moeda internacional, que outrora dentro da escala de moeda era tão boa quanto o ouro, passou a entrar em desconfiança e a conversibilidade do dólar no ouro pas-sou a ser questionada já em fins dos anos 1960. Em 1971, há um fato muito importante, que é o que chamam de “As Armas de Agosto”. Foi quando o presidente dos Estados Uni-dos, Richard Nixon, decretou o final da convertibilidade do dólar no ouro. E ao mesmo tempo, sobretaxou as importa-ções norte-americanas para evidentemente atacar o Japão. O clima já era outro. Em 1973, são instauradas as taxas flexíveis de câmbio e, assim, há o rompimento das qualidades fixas que haviam sido consagradas em Bretton Woods, quer dizer, as moedas começam a dançar. Ao mesmo tempo, para fugir da regulamentação, vários bancos norte-americanos passaram a se sediar, mantêm filiais, em outros países, como a Inglaterra, livres de regulamentação. E é claro que aqueles valores de ple-no emprego, do Estado, ainda eram vivos, mas quando come-

ça a haver uma certa desvalorização de uma das partes, ocorre uma subversão dos valores que vigeram durante o pós-guerra. As verbas de colaboração, de cooperação vão caindo em desuso, as sociedades internamente vão estar mais unidas, a juventude questionava as for-mas de sustentabilidade.

Rumos – E é a geração que não viveu a guerra, que nasceu nesse pós-guerra.Mazzucchelli – Sim, eles queriam uma sociedade mais justa, eram contra aqueles valores morais familiares, eram contra a guerra do Viet-nã, eles eram contra, digamos...sociedade de consumo. Então, as soci-edades vão se mexendo. Acontece que a economia começou a entrar em parafuso, veio o primeiro choque do petróleo em 1973. Nos anos seguintes, há uma recessão fortíssima, foi a primeira grande recessão de um pós-guerra.

Por isso que eu digo que a década de 1970 foi a reinstauração do liberalismo nu e cru que começou a viger a partir dos anos 1980.

Rumos – E que chegou inclusive ao Brasil.Mazzucchelli – O que aconteceu na economia mundial nesses anos foi muito ruim do ponto de vista da qualidade das sociedades. As soci-edades passaram a conviver com taxas de desemprego muito mais ele-vadas, o governo comunista não vou dizer que foi desmontado, mas ele ficou permanentemente na berlinda, e nesse mesmo ano há a libe-ralização de todos os controles, e se reinstaura a liberdade financeira. Só que, a partir daí, as finanças passaram a mudar o jogo. Se você pega uma organização econômica e social liderada pelas finanças, não vai dar boa coisa, entendeu? Quer dizer, com o tempo...

Rumos – Olhando para o futuro, estaremos mais perto do capi-talismo dos anos 1920 ou 1930, ou dos dias ensolarados que foram as décadas de 1950 e 1960? Mazzucchelli – Dos anos 1920. Quer dizer, o panorama é sombrio. Não há o que discutir. Eu não vejo atores políticos relevantes capazes de se contraporem a isso. Eu lamento informar que a minha opinião é pessimista nesse contexto, certamente nós nos aproximamos mais dos anos 1920 do que dos anos 1950 e 1960.

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RUMOS – 25 – Março/Abril 2015

abe ao poder público institucionalizar e executar políticas de crédito que beneficiem micro e pequenos empreendimentos devido à importân-cia deste segmento na absorção ou geração de

empregos, e sua contribuição para o desenvolvimento local e regional. No Brasil, este segmento representa 97% do total de empresas formalmente constituídas, sendo que, quanto à sua participação relativa no mercado de trabalho, os percen-tuais são igualmente expressivos, atingindo 39% dos traba-lhadores ocupados, segundo o Cadastro Geral de Empresas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no início da década de 2010.

Por outro lado, são amplamente reconhecidas as dificul-dades que os micro e pequenos empreendimentos enfrentam para acessar crédito, sendo que as pesquisas disponíveis apon-tam que o autofinanciamento apresenta-se como a principal alternativa à disposição dessas empresas para a viabilização de seus investimentos produtivos.

Assim, a oferta de crédito disponível aos empreendi-mentos de menor porte caracteriza-se por altas taxas de juros, prazos curtos e exigência de elevadas garantias, sendo que essas características constituem entraves que provocam racionamento de crédito para o segmento, justificando a intervenção do poder público com vistas a garantir a supera-ção destes obstáculos.

A estagnação econômica enfrentada pelos países latino-americanos, ao longo das décadas de 1980 e 1990, provocou elevadas taxas de desemprego e fez com que os pequenos empreendimentos se tornassem objeto de política, no sentido de mitigar os fortes impactos negativos que a instabilidade eco-nômica provocava. A estruturação de instrumentos de políti-cas voltados a empresas de pequeno porte ganhou espaço nas agendas de intervenção pública, principalmente a partir do final de década de 1990, devido também à própria recuperação

de problemas relacionados à assimetria de informação, ine-rente ao mercado de crédito. A execução de uma política com esse propósito deve levar em consideração também a estrutu-ração de instrumentos com vistas a dirimir obstáculos com que os pequenos empreendimentos se deparam ao buscarem financiamento, como a ausência de garantias, exigência de documentações ou históricos contábeis, e mesmo impedi-mentos relacionados ao elevado custo do financiamento, expresso em sua taxa de juros.

No Brasil, não há um instrumento voltado a subsidiar taxas de juros em benefício exclusivo dos pequenos empre-endimentos, porém todos os instrumentos públicos de con-cessão de crédito com essa finalidade, que são contemplados com recursos do FAT, valem-se de subsídios implícitos, rela-cionados à aplicação de uma taxa administrada (Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP) bem mais baixa que as taxas de juros praticadas pelo mercado. E, embora no país não se encontre estruturado um efetivo sistema nacional de garantias, estão estabelecidos dois fundos públicos com este propósito (Fun-proger e Fundo Garantidor de Investimentos GI) além – F – de um fundo paraestatal (Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas – Fampe, sob gestão do Sebrae) ainda que a exe-– cução seja pouco efetiva. A estruturação de um sistema de garantia apresenta-se como um dos principais desafios para o fortalecimento de uma política de crédito voltada para os pequenos empreendimentos no país.

A análise de aspectos institucionais e aqueles relacionados à estruturação e execução dos instrumentos de política de crédi-to, de forma conjugada, permite evidenciar avanços e limita-ções da capacidade do poder público com vistas a promover o financiamento dos pequenos empreendimentos. E a verifica-ção de descompassos entre a institucionalização, a estruturação e a própria operacionalização dos instrumentos de política, em suas diversas modalidades, permite explicar dificuldades que persistem em relação ao acesso dos pequenos empreendimen-tos ao crédito. Pode-se considerar que a insuficiente estrutura-ção de algumas modalidades de intervenção acaba por limitar o desempenho de outros instrumentos, uma vez que a promo-ção de financiamento ao segmento exige a superação de pro-blemas de diversas naturezas.

AARTIGO

BRASIL

da capacidade dos Estados da região de intervir mais ativamen-te na economia, com vistas a estimular a atividade produtiva.

Quanto ao Brasil, as bases institucionais para a estrutura-ção e execução de instrumentos de política de crédito, volta-dos ao segmento, foram estabelecidas ainda na década de 1980. Contudo restrições impostas a uma atuação mais efeti-va do poder público brasileiro – relacionadas a políticas fis-cais restritivas, baixo crescimento econômico e à adoção de reformas liberalizantes – acentuaram a indisponibilidade de crédito para essas empresas. Somente a partir da primeira década dos anos 2000, retomou-se a capacidade do poder público brasileiro de promover o financiamento da atividade produtiva, sendo fortalecidos instrumentos já constituídos com esse propósito, e estruturados novos instrumentos, prin-cipalmente voltados a promover a atividade de microcrédito, que alcançaram resultados não desprezíveis.

Pode-se considerar, portanto, que somente a partir do iní-cio do século passaram a ser estruturados no país instrumen-tos de política de crédito voltados especificamente ao seg-mento dos pequenos empreendimentos, correspondentes às quatro principais modalidades de intervenção: concessão dire-ta ou indireta de crédito; constituição de fundos públicos; sub-sídio de taxas de juros e estabelecimento de sistemas e fundos de garantias. Contudo nem todos avançaram com o mesmo dinamismo, o que explica a persistência de problemas enfren-tados pelo segmento para acesso ao crédito produtivo.

Justifica-se a estruturação de instrumentos relacionados à concessão direta e indireta de crédito pelo poder público devi-do às limitações do mercado em ofertar crédito produtivo, uma vez que as instituições bancárias atuam sob a lógica de prefe-rência por maior liquidez e rentabilidade. O poder público intervém nesse mercado principalmente por meio de bancos públicos, de primeiro ou segundo piso, com vistas a disponibili-zar crédito para segmentos considerados prioritários, como é o

caso dos pequenos empreendimentos. As intervenções públi-cas brasileiras neste sentido passaram a apresentar resultados expressivos somente nas últimas décadas, principalmente por meio da atuação de bancos públicos de abrangência nacional (BNDES, BB e Caixa), além de bancos de atuação regional (Banco do Nordeste – BNB e Banco da Amazônia). O BNDES, particularmente, passou a atuar mais diretamente jun-to aos pequenos empreendimentos, por meio da estruturação de linhas de financiamento especificamente orientadas para o segmento (como o Cartão BNDES). Além disso, foi estabele-cido um instrumento público transversal de concessão de cré-dito (Rograma de Geração de Emprego e Renda (Proger), assim como foi estruturado o Programa Nacional de Microcré-dito Produtivo Orientado (PNMPO), com vistas a apoiar empreendimentos informais, operado tanto por bancos públi-cos de primeiro piso (destacando-se o BNB, por meio do Pro-grama Crediamigo), como de segundo piso (com destaque para o BNDES), atingindo resultados igualmente expressivos.

A estruturação de fundos públicos constitui um instru-mento de política de crédito importante, pois permite a dis-ponibilização de recursos de forma contínua, garantindo a operação dos programas públicos de concessão de crédito ou garantia. No Brasil, os principais fundos públicos que finan-ciam os instrumentos de concessão de crédito aos pequenos empreendimentos são o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e os Fundos Constitucionais (Nordeste – FNE, Norte – FNO e Centro-Oeste – FCO), proporcionando fluxos cons-tantes de recursos para o segmento, uma vez que possuem estabilidade patrimonial, e estão vinculados a fontes pre-estabelecidas de receita, de origem fiscal, contando com sig-nificativa disponibilidade de recursos.

Tanto instrumentos relacionados a subsídios de taxas de juros, quanto ao estabelecimento de sistemas e de fundos de garantia, fundamentam-se no reconhecimento da existência

Franco de Matos é economista pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com doutorado pelo Prolam-USP. Atualmente é professor substituto do curso de Gestão de Políticas Públicas na Universidade de Brasília (UnB), além de pesquisador e consultor em políticas públicas. É autor do livro Políticas de Crédito para Pequenos Empreendimentos (em destaque na seção de livros, página 49). E-mail: [email protected]

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Franco de Matos

RUMOS – 24 – Março/Abril 2015

Políticas de crédito para pequenos empreendimentosA importância da integração dos instrumentos

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RUMOS – 25 – Março/Abril 2015

abe ao poder público institucionalizar e executar políticas de crédito que beneficiem micro e pequenos empreendimentos devido à importân-cia deste segmento na absorção ou geração de

empregos, e sua contribuição para o desenvolvimento local e regional. No Brasil, este segmento representa 97% do total de empresas formalmente constituídas, sendo que, quanto à sua participação relativa no mercado de trabalho, os percen-tuais são igualmente expressivos, atingindo 39% dos traba-lhadores ocupados, segundo o Cadastro Geral de Empresas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no início da década de 2010.

Por outro lado, são amplamente reconhecidas as dificul-dades que os micro e pequenos empreendimentos enfrentam para acessar crédito, sendo que as pesquisas disponíveis apon-tam que o autofinanciamento apresenta-se como a principal alternativa à disposição dessas empresas para a viabilização de seus investimentos produtivos.

Assim, a oferta de crédito disponível aos empreendi-mentos de menor porte caracteriza-se por altas taxas de juros, prazos curtos e exigência de elevadas garantias, sendo que essas características constituem entraves que provocam racionamento de crédito para o segmento, justificando a intervenção do poder público com vistas a garantir a supera-ção destes obstáculos.

A estagnação econômica enfrentada pelos países latino-americanos, ao longo das décadas de 1980 e 1990, provocou elevadas taxas de desemprego e fez com que os pequenos empreendimentos se tornassem objeto de política, no sentido de mitigar os fortes impactos negativos que a instabilidade eco-nômica provocava. A estruturação de instrumentos de políti-cas voltados a empresas de pequeno porte ganhou espaço nas agendas de intervenção pública, principalmente a partir do final de década de 1990, devido também à própria recuperação

de problemas relacionados à assimetria de informação, ine-rente ao mercado de crédito. A execução de uma política com esse propósito deve levar em consideração também a estrutu-ração de instrumentos com vistas a dirimir obstáculos com que os pequenos empreendimentos se deparam ao buscarem financiamento, como a ausência de garantias, exigência de documentações ou históricos contábeis, e mesmo impedi-mentos relacionados ao elevado custo do financiamento, expresso em sua taxa de juros.

No Brasil, não há um instrumento voltado a subsidiar taxas de juros em benefício exclusivo dos pequenos empre-endimentos, porém todos os instrumentos públicos de con-cessão de crédito com essa finalidade, que são contemplados com recursos do FAT, valem-se de subsídios implícitos, rela-cionados à aplicação de uma taxa administrada (Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP) bem mais baixa que as taxas de juros praticadas pelo mercado. E, embora no país não se encontre estruturado um efetivo sistema nacional de garantias, estão estabelecidos dois fundos públicos com este propósito (Fun-proger e Fundo Garantidor de Investimentos GI) além – F – de um fundo paraestatal (Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas – Fampe, sob gestão do Sebrae) ainda que a exe-– cução seja pouco efetiva. A estruturação de um sistema de garantia apresenta-se como um dos principais desafios para o fortalecimento de uma política de crédito voltada para os pequenos empreendimentos no país.

A análise de aspectos institucionais e aqueles relacionados à estruturação e execução dos instrumentos de política de crédi-to, de forma conjugada, permite evidenciar avanços e limita-ções da capacidade do poder público com vistas a promover o financiamento dos pequenos empreendimentos. E a verifica-ção de descompassos entre a institucionalização, a estruturação e a própria operacionalização dos instrumentos de política, em suas diversas modalidades, permite explicar dificuldades que persistem em relação ao acesso dos pequenos empreendimen-tos ao crédito. Pode-se considerar que a insuficiente estrutura-ção de algumas modalidades de intervenção acaba por limitar o desempenho de outros instrumentos, uma vez que a promo-ção de financiamento ao segmento exige a superação de pro-blemas de diversas naturezas.

AARTIGO

BRASIL

da capacidade dos Estados da região de intervir mais ativamen-te na economia, com vistas a estimular a atividade produtiva.

Quanto ao Brasil, as bases institucionais para a estrutura-ção e execução de instrumentos de política de crédito, volta-dos ao segmento, foram estabelecidas ainda na década de 1980. Contudo restrições impostas a uma atuação mais efeti-va do poder público brasileiro – relacionadas a políticas fis-cais restritivas, baixo crescimento econômico e à adoção de reformas liberalizantes – acentuaram a indisponibilidade de crédito para essas empresas. Somente a partir da primeira década dos anos 2000, retomou-se a capacidade do poder público brasileiro de promover o financiamento da atividade produtiva, sendo fortalecidos instrumentos já constituídos com esse propósito, e estruturados novos instrumentos, prin-cipalmente voltados a promover a atividade de microcrédito, que alcançaram resultados não desprezíveis.

Pode-se considerar, portanto, que somente a partir do iní-cio do século passaram a ser estruturados no país instrumen-tos de política de crédito voltados especificamente ao seg-mento dos pequenos empreendimentos, correspondentes às quatro principais modalidades de intervenção: concessão dire-ta ou indireta de crédito; constituição de fundos públicos; sub-sídio de taxas de juros e estabelecimento de sistemas e fundos de garantias. Contudo nem todos avançaram com o mesmo dinamismo, o que explica a persistência de problemas enfren-tados pelo segmento para acesso ao crédito produtivo.

Justifica-se a estruturação de instrumentos relacionados à concessão direta e indireta de crédito pelo poder público devi-do às limitações do mercado em ofertar crédito produtivo, uma vez que as instituições bancárias atuam sob a lógica de prefe-rência por maior liquidez e rentabilidade. O poder público intervém nesse mercado principalmente por meio de bancos públicos, de primeiro ou segundo piso, com vistas a disponibili-zar crédito para segmentos considerados prioritários, como é o

caso dos pequenos empreendimentos. As intervenções públi-cas brasileiras neste sentido passaram a apresentar resultados expressivos somente nas últimas décadas, principalmente por meio da atuação de bancos públicos de abrangência nacional (BNDES, BB e Caixa), além de bancos de atuação regional (Banco do Nordeste – BNB e Banco da Amazônia). O BNDES, particularmente, passou a atuar mais diretamente jun-to aos pequenos empreendimentos, por meio da estruturação de linhas de financiamento especificamente orientadas para o segmento (como o Cartão BNDES). Além disso, foi estabele-cido um instrumento público transversal de concessão de cré-dito (Rograma de Geração de Emprego e Renda (Proger), assim como foi estruturado o Programa Nacional de Microcré-dito Produtivo Orientado (PNMPO), com vistas a apoiar empreendimentos informais, operado tanto por bancos públi-cos de primeiro piso (destacando-se o BNB, por meio do Pro-grama Crediamigo), como de segundo piso (com destaque para o BNDES), atingindo resultados igualmente expressivos.

A estruturação de fundos públicos constitui um instru-mento de política de crédito importante, pois permite a dis-ponibilização de recursos de forma contínua, garantindo a operação dos programas públicos de concessão de crédito ou garantia. No Brasil, os principais fundos públicos que finan-ciam os instrumentos de concessão de crédito aos pequenos empreendimentos são o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e os Fundos Constitucionais (Nordeste – FNE, Norte – FNO e Centro-Oeste – FCO), proporcionando fluxos cons-tantes de recursos para o segmento, uma vez que possuem estabilidade patrimonial, e estão vinculados a fontes pre-estabelecidas de receita, de origem fiscal, contando com sig-nificativa disponibilidade de recursos.

Tanto instrumentos relacionados a subsídios de taxas de juros, quanto ao estabelecimento de sistemas e de fundos de garantia, fundamentam-se no reconhecimento da existência

Franco de Matos é economista pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com doutorado pelo Prolam-USP. Atualmente é professor substituto do curso de Gestão de Políticas Públicas na Universidade de Brasília (UnB), além de pesquisador e consultor em políticas públicas. É autor do livro Políticas de Crédito para Pequenos Empreendimentos (em destaque na seção de livros, página 49). E-mail: [email protected]

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Franco de Matos

RUMOS – 24 – Março/Abril 2015

Políticas de crédito para pequenos empreendimentosA importância da integração dos instrumentos

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Page 28: Rumos - 280

m março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) introduziu uma nova série do Sistema de Contas Nacionais (SCN), base para a formulação do Produto Interno Bruto (PIB), adotando 2010 como ano de referência e

incorporando recomendações da mais recente revisão do Manual de Contas Nacionais, realizada em 2008. O manual é elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo Fundo Monetário Nacional (FMI), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Mundial. A ONU recomenda que a quarta versão do Manual Internacional de Contas Nacionais seja incorporada aos Sistemas de Contas Nacionais até 2016. A maior parte dos países fez a revisão a partir de 2014 e a expectativa é de que em dois anos todos estejam alinha-dos com a mesma metodologia.

Os dados definitivos dos indicadores do PIB brasileiro dos anos de 2012, 2013 e 2014 deverão apresentar novas alterações em relação à primeira revisão divulgada na última semana de março, realizadas com base nos dados trimestrais. Os dados definitivos de 2012 e 2013 serão divulgados em novembro, e o de 2014, no final do ano que vem. A expectati-va é, que nos três anos, possivelmente haja novamente uma elevação nas taxas de crescimento do país.

O economista Octavio Manoel Rodrigues de Barros observa que a atualização das Contas Nacionais do IBGE é importante por seguir de perto as recomendações internaci-onais sobre o tema. Elas visam a atualizar os pesos das ativi-dades, incorporar novos produtos e melhorar a classificação das atividades na estimação de tudo que é produzido no país.

RUMOS – 28 – Março/Abril 2015 RUMOS – 29 – Março/Abril 2015

METODOLOGIAR REPORTAGEM

E

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se alinha a órgãos internacionais e muda a metodologia das Contas Nacionais, cálculo que influencia o resultado do Produto Interno Bruto brasileiro. Confira como ficou o índice para 2014 e o impacto causado nos anos anteriores

Por Carmen Nery

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O indicador trimestral de PIB de praticamente todos os países é, em parte, estimado, já que as informações definiti-vas demoram a ser divulgadas.

“Isso é feito para que haja celeridade na divulgação do principal termômetro de atividade do país. Quando se conhecem os dados definitivos, o PIB é recalculado. Por isso, a atualização é extremamente positiva para o país”, considera Barros. Ele estima que o Produto Interno Bruto nominal de 2014 – divulgado em 27 de março em R$ 5,521 trilhões com taxa de 0,1% – está 8% acima daquele sugerido pela metodologia antiga. “Nossos cálculos sugerem que, quando forem revelados os dados definitivos, o PIB de 2014 pode estar até 10% acima do estimado na metodologia ante-rior”, prevê.

O Brasil começou a se preparar para a mudança em 2011, iniciando os trabalhos de concepção e compilação do SCN 2010. Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE, explica que a escolha de um ano de referência signifi-ca que esse é o ano no qual as contas são analisadas com mais profundidade e realizadas pesquisas especiais como se fosse montada uma nova estrutura naquele ano para, a partir daí, se evoluir tanto para a frente quanto para trás.

A série SCN 2010 foi aperfeiçoada por meio da adoção de nova classificação de produtos e atividades integrada com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0); a introdução dos resultados do Censo Agropecuário de 2006, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/9 e do Censo Demográfico de 2010. Também foi atualizada a matriz de consumo intermediário com dados da Pesquisa de Consumo Intermediário de 2010 para as ativida-

des econômicas da extrativa mineral, indústria de transfor-mação, construção civil e serviços – a agropecuária foi atua-lizada com o Censo 2006.

Houve ainda a atualização das margens de comércio e de transporte com base em pesquisas específicas e na Pesquisa Anual de Serviços. Além disso, foram atualizadas as estrutu-ras de impostos; e utilizados dados da declaração de Impos-to de Renda Pessoa Física, aperfeiçoando os resultados do setor institucional famílias na Conta Econômica Integrada.

Em relação ao manual de 2008, é importante notar que foram introduzidos não apenas aperfeiçoamentos em deter-minados conceitos, mas, também, algumas modificações que tiveram impacto nos resultados do Produto Interno Bruto. Um exemplo é a nova taxonomia para os ativos não financeiros, ampliando o que deve ser considerado Forma-

Adequação necessária PIBão PIBinho

ção Bruta de Capital Fixo (FBCF). “A principal alteração introduzida pelas novas regras

internacionais é quanto ao que é considerado investimento. O tema consumiu anos de discussão até que se chegasse à conclusão de que os produtos de propriedade intelectual, que geram conhecimento, passassem a contribuir para a Formação Bruta de Capital Fixo, entre os quais os gastos com software, banco de dados, pesquisa e desenvolvimento, prospecção mineral e equipamentos de defesa”, destaca Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Ela explica que o Sistema de Contas Nacionais (SCN 2010) permanece fundamentado nas Tabelas de Recursos e Usos (TRU) e nas Contas Econômicas Integradas (CEI). Também foi feita uma retropolação (retomada das informa-ções) dos dados até 2000, estimando-se nova série de TRU.

O Produto Interno Bruto do Brasil começou a ser medido em 1948. No auge da crise financeira de 2009, quando a economia mundial sofreu uma retração, o Brasil registrou um PIB estável de 0,3%, o “pibinho”. Já no ano seguinte, a economia cresceu fortemente, chegando a 7,5%, índice que ficou conhecido como o “pibão”.

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m março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) introduziu uma nova série do Sistema de Contas Nacionais (SCN), base para a formulação do Produto Interno Bruto (PIB), adotando 2010 como ano de referência e

incorporando recomendações da mais recente revisão do Manual de Contas Nacionais, realizada em 2008. O manual é elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo Fundo Monetário Nacional (FMI), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Mundial. A ONU recomenda que a quarta versão do Manual Internacional de Contas Nacionais seja incorporada aos Sistemas de Contas Nacionais até 2016. A maior parte dos países fez a revisão a partir de 2014 e a expectativa é de que em dois anos todos estejam alinha-dos com a mesma metodologia.

Os dados definitivos dos indicadores do PIB brasileiro dos anos de 2012, 2013 e 2014 deverão apresentar novas alterações em relação à primeira revisão divulgada na última semana de março, realizadas com base nos dados trimestrais. Os dados definitivos de 2012 e 2013 serão divulgados em novembro, e o de 2014, no final do ano que vem. A expectati-va é, que nos três anos, possivelmente haja novamente uma elevação nas taxas de crescimento do país.

O economista Octavio Manoel Rodrigues de Barros observa que a atualização das Contas Nacionais do IBGE é importante por seguir de perto as recomendações internaci-onais sobre o tema. Elas visam a atualizar os pesos das ativi-dades, incorporar novos produtos e melhorar a classificação das atividades na estimação de tudo que é produzido no país.

RUMOS – 28 – Março/Abril 2015 RUMOS – 29 – Março/Abril 2015

METODOLOGIAR REPORTAGEM

E

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se alinha a órgãos internacionais e muda a metodologia das Contas Nacionais, cálculo que influencia o resultado do Produto Interno Bruto brasileiro. Confira como ficou o índice para 2014 e o impacto causado nos anos anteriores

Por Carmen Nery

No

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O indicador trimestral de PIB de praticamente todos os países é, em parte, estimado, já que as informações definiti-vas demoram a ser divulgadas.

“Isso é feito para que haja celeridade na divulgação do principal termômetro de atividade do país. Quando se conhecem os dados definitivos, o PIB é recalculado. Por isso, a atualização é extremamente positiva para o país”, considera Barros. Ele estima que o Produto Interno Bruto nominal de 2014 – divulgado em 27 de março em R$ 5,521 trilhões com taxa de 0,1% – está 8% acima daquele sugerido pela metodologia antiga. “Nossos cálculos sugerem que, quando forem revelados os dados definitivos, o PIB de 2014 pode estar até 10% acima do estimado na metodologia ante-rior”, prevê.

O Brasil começou a se preparar para a mudança em 2011, iniciando os trabalhos de concepção e compilação do SCN 2010. Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE, explica que a escolha de um ano de referência signifi-ca que esse é o ano no qual as contas são analisadas com mais profundidade e realizadas pesquisas especiais como se fosse montada uma nova estrutura naquele ano para, a partir daí, se evoluir tanto para a frente quanto para trás.

A série SCN 2010 foi aperfeiçoada por meio da adoção de nova classificação de produtos e atividades integrada com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0); a introdução dos resultados do Censo Agropecuário de 2006, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/9 e do Censo Demográfico de 2010. Também foi atualizada a matriz de consumo intermediário com dados da Pesquisa de Consumo Intermediário de 2010 para as ativida-

des econômicas da extrativa mineral, indústria de transfor-mação, construção civil e serviços – a agropecuária foi atua-lizada com o Censo 2006.

Houve ainda a atualização das margens de comércio e de transporte com base em pesquisas específicas e na Pesquisa Anual de Serviços. Além disso, foram atualizadas as estrutu-ras de impostos; e utilizados dados da declaração de Impos-to de Renda Pessoa Física, aperfeiçoando os resultados do setor institucional famílias na Conta Econômica Integrada.

Em relação ao manual de 2008, é importante notar que foram introduzidos não apenas aperfeiçoamentos em deter-minados conceitos, mas, também, algumas modificações que tiveram impacto nos resultados do Produto Interno Bruto. Um exemplo é a nova taxonomia para os ativos não financeiros, ampliando o que deve ser considerado Forma-

Adequação necessária PIBão PIBinho

ção Bruta de Capital Fixo (FBCF). “A principal alteração introduzida pelas novas regras

internacionais é quanto ao que é considerado investimento. O tema consumiu anos de discussão até que se chegasse à conclusão de que os produtos de propriedade intelectual, que geram conhecimento, passassem a contribuir para a Formação Bruta de Capital Fixo, entre os quais os gastos com software, banco de dados, pesquisa e desenvolvimento, prospecção mineral e equipamentos de defesa”, destaca Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Ela explica que o Sistema de Contas Nacionais (SCN 2010) permanece fundamentado nas Tabelas de Recursos e Usos (TRU) e nas Contas Econômicas Integradas (CEI). Também foi feita uma retropolação (retomada das informa-ções) dos dados até 2000, estimando-se nova série de TRU.

O Produto Interno Bruto do Brasil começou a ser medido em 1948. No auge da crise financeira de 2009, quando a economia mundial sofreu uma retração, o Brasil registrou um PIB estável de 0,3%, o “pibinho”. Já no ano seguinte, a economia cresceu fortemente, chegando a 7,5%, índice que ficou conhecido como o “pibão”.

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R REPORTAGEM

“Isso significa que o siste-ma teve mudanças concei-tuais importantes, mas não na sua estrutura básica, que sempre foi baseada em TRU e CEI”, diz Rebeca.

A TRU mostra como funcionam as atividades e os produtos, identificando toda a estrutura produti-va do país – que atividades econômicas geram quais produtos. Mostra também as produções secundárias como, por exemplo, uma fazenda de gado cuja atividade principal seja a produção de leite mas que também produza queijo –que é uma atividade da indústria de transformação, mas, nesse caso, uma produção secundária da agropecuária.

“Elaboramos o mapa completo das produções e da estrutura produtiva: o que cada atividade precisa consumir para produzir que chamamos de –Recursos e Usos. E também qual o desti-no da produção: consumo próprio, insumo, venda ou exportação. Já a CEI tem um objetivo diferente, pois analisa os agentes econômi-cos – governo, famílias, empresas financeiras, não financeiras e sem fins lucrativos. No caso da família, olha a conta desde o

RUMOS – 30 – Março/Abril 2015

METODOLOGIA

que o grupo produz até o que só conso-me”, esclarece.

A nova série de contas trimestrais foi divulgada na última semana de março e refere-se ao período de 1995 a 2014. Já as séries anuais foram atualizadas de 2000 a 2011. Em novembro, serão divulgadas as séries anuais de 2012 e 2013. Os dados anuais definitivos de 2014 só serão conhecidos no final de 2016. Em todas as atualizações, o valor do PIB foi aumenta-do, não só no Brasil, como em todos os países. Aqui, na série inteira, na média, houve um aumento de 5%.

Cláudio Considera, economista e pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que, para a comparação 2000-2013, a nova série SCN 2010 aponta que as principais alte-rações ocorreram em 2011 e 2012, com o PIB crescendo em 2011 mais 1,2 p.p. (de 2,7% para 3,9%) em relação à série antiga (base 2000) e mais 0,8 p.p. em 2012 (de 1,0% para 1,8%). Ele ressalta que o novo Sistema de Contas Nacionais foi feito

para uma melhor adequação da mensuração do PIB brasileiro aos padrões internacionais, tornando a comparação com outros países mais eficaz.

RUMOS – 31 – Março/Abril 2015

Período decomparação

Em 2014, o PIB varia 0,1% e totaliza R$ 5,52 trilhões

Trimestre/trimestre imediatamenteanterior (c/ajuste sazonal)

Indicadores

PIB Agrope-cuária

Indústria Serviço FBCF Cons.Fam.

Cons.Gov.

0,3 1,8 -0,1 0,3 -0,4 1,1 -0,6

Trimestre/mesmo do anoanterior (s/ajuste sazonal) -0,2 1,2 -1,9 0,4 -5,8 1,3 -0,2

Acumulado no ano/mesmoperíodo do ano anterior(s/ajuste sazonal) 0,1 0.4 -1,2 0,7 -4,4 0,9 1,3

Valores correntes notrimestre (R$ milhões) 1.446,1 48,0 279,6 901,4 277,0 914,1 324,9

Valores correntes noano de 2014 (R$ milhões) 5.521,3 262,3 1.104,7 3.351,8 1.090,1 3.449,8 1.114,9

PIB per capita = R$ 27.229 ( -0,7% em volume em relação a 2013)

Taxa de investimento (FBCF/PIB) no ano de 2014 = 19,7%

Taxa de poupança (POUP/PIB) no ano de 2014 = 15,8% Usina Termelétrica Tambaqui, em Manaus. As térmicas tiveram um forte impacto no PIB de 2011.

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Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

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As Contas Nacionais

As Contas Econômicas Integradas representam o núcleo central do Sistema de Contas Nacionais, que consiste em uma sequência de contas de fluxos inter-relacionadas, detalhadas por setor institucional, incluindo empresas financeiras, empresas não-financeiras, administração pública e famílias. Elas são a base para o cálculo do Produto Interno Bruto. E mostram, também, as relações entre a economia nacional e o resto do mundo. As Tabelas de Recursos e Usos fornecem estimativas, a preços correntes e constantes do ano anterior, da oferta e demanda de bens e serviços desagregadas por produtos.

As tabelas de produção e de consumo intermediário mostram os bens e serviços produzidos e consumidos pelas atividades econômicas. As tabelas de recursos e usos contêm os componentes do valor adicionado e o total de pessoas ocupadas, por atividade econômica, a partir de estatísticas primárias (demografia, agropecuária, indústria, comércio, serviços, construção civil, transportes etc.), originárias do IBGE e de outras instituições.

Para isso foram incorporadas, para os anos a partir de 2010, as atualizações das pesquisas estruturais anuais: Pes-quisa Industrial Anual (PIA), Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), Pesquisa Anual do Comércio (PAC), Pesquisa Anual de Serviços (PAS), Produção Agrícola Municipal (PAM), Produção Pecuária Municipal (PPM) e Produção de Extração Vegetal e da Silvi-cultura (PEVS). Além da reclassificação das atividades da CNAE 1.0 para a CNAE 2.0, e da introdução de novas informações conjunturais, principalmente nas abertu-ras: agropecuária, construção, serviços imobiliários, administração pública e for-mação bruta de capital fixo.

Também foram atualizados os pesos das atividades; incorporado o Índice de Preço ao Produtor (IPP) como fonte com-plementar na compilação dos produtos da indústria de transformação; e introduzida uma nova metodologia no cálculo do índi-ce de volume da produção da construção civil, que passou a considerar os gastos

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R REPORTAGEM

“Isso significa que o siste-ma teve mudanças concei-tuais importantes, mas não na sua estrutura básica, que sempre foi baseada em TRU e CEI”, diz Rebeca.

A TRU mostra como funcionam as atividades e os produtos, identificando toda a estrutura produti-va do país – que atividades econômicas geram quais produtos. Mostra também as produções secundárias como, por exemplo, uma fazenda de gado cuja atividade principal seja a produção de leite mas que também produza queijo –que é uma atividade da indústria de transformação, mas, nesse caso, uma produção secundária da agropecuária.

“Elaboramos o mapa completo das produções e da estrutura produtiva: o que cada atividade precisa consumir para produzir que chamamos de –Recursos e Usos. E também qual o desti-no da produção: consumo próprio, insumo, venda ou exportação. Já a CEI tem um objetivo diferente, pois analisa os agentes econômi-cos – governo, famílias, empresas financeiras, não financeiras e sem fins lucrativos. No caso da família, olha a conta desde o

RUMOS – 30 – Março/Abril 2015

METODOLOGIA

que o grupo produz até o que só conso-me”, esclarece.

A nova série de contas trimestrais foi divulgada na última semana de março e refere-se ao período de 1995 a 2014. Já as séries anuais foram atualizadas de 2000 a 2011. Em novembro, serão divulgadas as séries anuais de 2012 e 2013. Os dados anuais definitivos de 2014 só serão conhecidos no final de 2016. Em todas as atualizações, o valor do PIB foi aumenta-do, não só no Brasil, como em todos os países. Aqui, na série inteira, na média, houve um aumento de 5%.

Cláudio Considera, economista e pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que, para a comparação 2000-2013, a nova série SCN 2010 aponta que as principais alte-rações ocorreram em 2011 e 2012, com o PIB crescendo em 2011 mais 1,2 p.p. (de 2,7% para 3,9%) em relação à série antiga (base 2000) e mais 0,8 p.p. em 2012 (de 1,0% para 1,8%). Ele ressalta que o novo Sistema de Contas Nacionais foi feito

para uma melhor adequação da mensuração do PIB brasileiro aos padrões internacionais, tornando a comparação com outros países mais eficaz.

RUMOS – 31 – Março/Abril 2015

Período decomparação

Em 2014, o PIB varia 0,1% e totaliza R$ 5,52 trilhões

Trimestre/trimestre imediatamenteanterior (c/ajuste sazonal)

Indicadores

PIB Agrope-cuária

Indústria Serviço FBCF Cons.Fam.

Cons.Gov.

0,3 1,8 -0,1 0,3 -0,4 1,1 -0,6

Trimestre/mesmo do anoanterior (s/ajuste sazonal) -0,2 1,2 -1,9 0,4 -5,8 1,3 -0,2

Acumulado no ano/mesmoperíodo do ano anterior(s/ajuste sazonal) 0,1 0.4 -1,2 0,7 -4,4 0,9 1,3

Valores correntes notrimestre (R$ milhões) 1.446,1 48,0 279,6 901,4 277,0 914,1 324,9

Valores correntes noano de 2014 (R$ milhões) 5.521,3 262,3 1.104,7 3.351,8 1.090,1 3.449,8 1.114,9

PIB per capita = R$ 27.229 ( -0,7% em volume em relação a 2013)

Taxa de investimento (FBCF/PIB) no ano de 2014 = 19,7%

Taxa de poupança (POUP/PIB) no ano de 2014 = 15,8% Usina Termelétrica Tambaqui, em Manaus. As térmicas tiveram um forte impacto no PIB de 2011.

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Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

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As Contas Nacionais

As Contas Econômicas Integradas representam o núcleo central do Sistema de Contas Nacionais, que consiste em uma sequência de contas de fluxos inter-relacionadas, detalhadas por setor institucional, incluindo empresas financeiras, empresas não-financeiras, administração pública e famílias. Elas são a base para o cálculo do Produto Interno Bruto. E mostram, também, as relações entre a economia nacional e o resto do mundo. As Tabelas de Recursos e Usos fornecem estimativas, a preços correntes e constantes do ano anterior, da oferta e demanda de bens e serviços desagregadas por produtos.

As tabelas de produção e de consumo intermediário mostram os bens e serviços produzidos e consumidos pelas atividades econômicas. As tabelas de recursos e usos contêm os componentes do valor adicionado e o total de pessoas ocupadas, por atividade econômica, a partir de estatísticas primárias (demografia, agropecuária, indústria, comércio, serviços, construção civil, transportes etc.), originárias do IBGE e de outras instituições.

Para isso foram incorporadas, para os anos a partir de 2010, as atualizações das pesquisas estruturais anuais: Pes-quisa Industrial Anual (PIA), Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), Pesquisa Anual do Comércio (PAC), Pesquisa Anual de Serviços (PAS), Produção Agrícola Municipal (PAM), Produção Pecuária Municipal (PPM) e Produção de Extração Vegetal e da Silvi-cultura (PEVS). Além da reclassificação das atividades da CNAE 1.0 para a CNAE 2.0, e da introdução de novas informações conjunturais, principalmente nas abertu-ras: agropecuária, construção, serviços imobiliários, administração pública e for-mação bruta de capital fixo.

Também foram atualizados os pesos das atividades; incorporado o Índice de Preço ao Produtor (IPP) como fonte com-plementar na compilação dos produtos da indústria de transformação; e introduzida uma nova metodologia no cálculo do índi-ce de volume da produção da construção civil, que passou a considerar os gastos

Page 32: Rumos - 280

RUMOS – 32 – Março/Abril 2015

com mão de obra.Na nova série, o PIB

chegou a R$ 3,887 tri-lhões, em 2010, e a R$ 4,375 trilhões em 2011 e as variações em volume foram 7,6% e 3,9%,

respectivamente. Em média, os valores correntes do PIB de 2000 a 2011, na nova série, ficaram 2,1% acima dos valores da série antiga. Nesse período, a taxa média anual de crescimento foi revisada de 3,5% na série anterior para 3,7% no SCN 2010.

A estagnação de 2014 – No ano de 2014, o PIB manteve-se estável, variando 0,1% em relação ao ano anterior. A explicação está na varia-ção positiva de 0,2% do valor adicio-nado e do recuo nos impostos (-0,3%). Nessa comparação, a Agro-pecuária (0,4%) e os Serviços (0,7%) cresceram e a Indústria caiu (-1,2%). O recuo dos impostos reflete, principalmente, a redução, em volume, do Imposto de Importação (-4,7%) e do IPI (-1,7%) – decorrentes, em grande parte, do desempenho negativo da indústria de transformação no ano. Em 2014, o PIB alcançou R$ 5,52 trilhões (valores correntes). O PIB per capita ficou em R$

27.229, com queda (-0,7%), em volume, em relação a 2013.Em 2014, mudaram-se os pesos dos setores econômicos.

Serviços passaram de 66,6% para 67,8%, pois a introdução da CNAE 2.0, que é baseada na classificação de atividades internacional, gerou um remanejamento de atividades que estavam na Indústria para Serviços. Produções que estavam computadas na indústria gráfica, por exemplo, agora apare-cem em Serviços, como edição de livros e publicações. A agroindústria caiu de 5,3% para 4,9%, pelo fato de a ativida-de ter sido reestimada com base no último Censo Agrope-cuário. A Indústria passou de 28,1 para 27,4%.

A variação em volume do valor adicionado da Agropecuá-ria (0,4%) decorreu do desempenho de várias culturas impor-tantes, que registraram crescimento de produção, como a soja (5,8%) e a mandioca (8,8%), mas apresentaram perda de pro-dutividade. Um exemplo é a soja, cuja produção havia cresci-do 24% em 2013 com expansão da área de plantio de 11%, enquanto em 2014 a produção cresceu 5,8%, mas a área plan-tada aumentou 8,5%. Vale ressaltar também que algumas culturas tiveram variação negativa na estimativa de produção anual, como a cana-de-açúcar (-6,7%), o milho (-2,2%), o café (-7,3%) e a laranja (-8,8%).

Na Indústria, destacou-se o crescimento da extrativa mineral, o único com resultado positivo, tendo avançado 8,7% no ano, influenciado tanto pelo aumento da extração de petróleo e gás natural quanto pelo crescimento da extração de minérios ferrosos. Já a construção civil e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana caíram (-2,6%). O desempenho desta última foi influenciado pelo maior uso das termelétricas, sobretudo a partir do segundo trimestre do ano. Apesar da forte expansão da extrativa mineral, isso não foi suficiente para reverter a queda na produção industrial em função dos pesos de cada segmento: extrativa mineral (4%), construção civil (6,5%), produção e distribuição de eletricidade, gás e água

RUMOS – 33 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

unificação metodológica dos sistemas de contas nacionais de diferentes países teve início em 1947, quando a Comissão de Estatísticas da ONU come-

çou a elaborar um manual de recomendações metodoló-gicas internacional. A primeira edição do manual foi publicada em 1953, com base nas ideias de Richard Stone – Nobel de Economia em 1984 sobre as contas dos seto-–res institucionais, origem das atuais Contas Econômicas Integradas (CEI). Em 1968, foi publicada a segunda ver-são do manual, incorporando contribuições de Wassily Leontief Nobel de Economia de – 1973 – para o estudo das relações entre diferentes setores da economia, que deram origem às atuais Tabelas de Recursos e Usos. Em 1993, foi publi-cada a terceira versão do manual, cujas recomendações foram incorporadas pelo IBGE em 1997. A quarta edição foi publicada em 2008, cujas recomen-dações estão sendo adotadas agora na revisão do Sistema de Contas Nacio-nais ano base 2010.

“A revisão do sistema de contas nacionais significa rever toda a série de contas. No caso do Brasil foram qua-tro razões principais: mudança na clas-sificação da economia, atualização da base de dados, incorporações de pes-quisas internas feitas especificamente para aquele ano base e, por fim, a ado-

ção de recomendações internacionais para mudanças em padrões e conceitos na forma de medir a economia”, explica Roberto Olinto (foto), diretor de Pesquisas do IBGE. Ele observa que mudança de base não é novidade no Brasil, que já teve quatro grandes alterações.

De 1947 a 1989, o desempenho da economia brasileira era medido pelo Sistema de Contas Nacionais Consolida-das, da Fundação Getulio Vargas. Olinto explica que se tra-tava de um sistema simplificado, com um conjunto de con-tas agregado, que sofria revisões a cada Censo Econômico.

A partir de 1990, a tarefa foi assu-mida pelo IBGE. Em 1997, o ins-tituto adotou a terceira versão do Manual de Contas Nacionais (SCN) da ONU, alterando não apenas a base de dados do SCN, mas ampliando toda a sua estru-tura. Tal mudança levou à divul-gação de uma nova série das Con-tas Nacionais, de 1990 a 1997.

“De lá para cá a estrutura se manteve a mesma”, diz Olinto. Em 2007, novamente o SCN foi aperfeiçoado, seguindo mais uma vez recomendações da ONU, do FMI, da Comissão Europeia, do Banco Mundial e da OCDE. E agora, em 2015, foram introduzidas as recomen-dações do manual de 2008.

Por que mudar?

AAgropecuáriaIndústriaServiços

Despesa de consumo das famíliasDespesa de consumo do governoFormação bruta de capital fixoExportações de bens e serviçosImportações de bens e serviços (-)

PIB

-2,1-0,81,9

3,23,3

-4,00,50,2

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-2,50,12,4

3,93,2

-0,60,50,7

1,8

-0,40,80,5

0,7-0,13,40,10,5

0,7

Antes (%) Depois (%) Dif. p.p.

Revisão das taxas de crescimento – 2012

AgropecuáriaIndústriaServiços

Despesa de consumo das famíliasDespesa de consumo do governoFormação bruta de capital fixoExportações de bens e serviçosImportações de bens e serviços (-)

PIB

7,31,72,2

2,62,05,22,58,3

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7,91,82,5

2,92.26.12.17.6

2,7

0,60,10,4

0,30,20,9

-0,4-0,8

0,2

Antes (%) Depois (%) Dif. p.p.

Revisão das taxas de crescimento – 2013

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais

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2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

-0,3-0,2

1,31,3

2,7

3,1

1,11,2

5,75,7

3,2 3,1

4 4

6,1 6

5,25

7,57,6

2,7

3,9

1

1,8

2,52,7

Série antiga

Série nova

Variação do PIB % – Série nova e antiga

Na pauta das exportações, os produtos siderúrgicos e celulose apresentaram crescimentoem 2014, em comparação com o ano anterior.

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Fonte: IBGE, 2015.

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RUMOS – 32 – Março/Abril 2015

com mão de obra.Na nova série, o PIB

chegou a R$ 3,887 tri-lhões, em 2010, e a R$ 4,375 trilhões em 2011 e as variações em volume foram 7,6% e 3,9%,

respectivamente. Em média, os valores correntes do PIB de 2000 a 2011, na nova série, ficaram 2,1% acima dos valores da série antiga. Nesse período, a taxa média anual de crescimento foi revisada de 3,5% na série anterior para 3,7% no SCN 2010.

A estagnação de 2014 – No ano de 2014, o PIB manteve-se estável, variando 0,1% em relação ao ano anterior. A explicação está na varia-ção positiva de 0,2% do valor adicio-nado e do recuo nos impostos (-0,3%). Nessa comparação, a Agro-pecuária (0,4%) e os Serviços (0,7%) cresceram e a Indústria caiu (-1,2%). O recuo dos impostos reflete, principalmente, a redução, em volume, do Imposto de Importação (-4,7%) e do IPI (-1,7%) – decorrentes, em grande parte, do desempenho negativo da indústria de transformação no ano. Em 2014, o PIB alcançou R$ 5,52 trilhões (valores correntes). O PIB per capita ficou em R$

27.229, com queda (-0,7%), em volume, em relação a 2013.Em 2014, mudaram-se os pesos dos setores econômicos.

Serviços passaram de 66,6% para 67,8%, pois a introdução da CNAE 2.0, que é baseada na classificação de atividades internacional, gerou um remanejamento de atividades que estavam na Indústria para Serviços. Produções que estavam computadas na indústria gráfica, por exemplo, agora apare-cem em Serviços, como edição de livros e publicações. A agroindústria caiu de 5,3% para 4,9%, pelo fato de a ativida-de ter sido reestimada com base no último Censo Agrope-cuário. A Indústria passou de 28,1 para 27,4%.

A variação em volume do valor adicionado da Agropecuá-ria (0,4%) decorreu do desempenho de várias culturas impor-tantes, que registraram crescimento de produção, como a soja (5,8%) e a mandioca (8,8%), mas apresentaram perda de pro-dutividade. Um exemplo é a soja, cuja produção havia cresci-do 24% em 2013 com expansão da área de plantio de 11%, enquanto em 2014 a produção cresceu 5,8%, mas a área plan-tada aumentou 8,5%. Vale ressaltar também que algumas culturas tiveram variação negativa na estimativa de produção anual, como a cana-de-açúcar (-6,7%), o milho (-2,2%), o café (-7,3%) e a laranja (-8,8%).

Na Indústria, destacou-se o crescimento da extrativa mineral, o único com resultado positivo, tendo avançado 8,7% no ano, influenciado tanto pelo aumento da extração de petróleo e gás natural quanto pelo crescimento da extração de minérios ferrosos. Já a construção civil e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana caíram (-2,6%). O desempenho desta última foi influenciado pelo maior uso das termelétricas, sobretudo a partir do segundo trimestre do ano. Apesar da forte expansão da extrativa mineral, isso não foi suficiente para reverter a queda na produção industrial em função dos pesos de cada segmento: extrativa mineral (4%), construção civil (6,5%), produção e distribuição de eletricidade, gás e água

RUMOS – 33 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

unificação metodológica dos sistemas de contas nacionais de diferentes países teve início em 1947, quando a Comissão de Estatísticas da ONU come-

çou a elaborar um manual de recomendações metodoló-gicas internacional. A primeira edição do manual foi publicada em 1953, com base nas ideias de Richard Stone – Nobel de Economia em 1984 sobre as contas dos seto-–res institucionais, origem das atuais Contas Econômicas Integradas (CEI). Em 1968, foi publicada a segunda ver-são do manual, incorporando contribuições de Wassily Leontief Nobel de Economia de – 1973 – para o estudo das relações entre diferentes setores da economia, que deram origem às atuais Tabelas de Recursos e Usos. Em 1993, foi publi-cada a terceira versão do manual, cujas recomendações foram incorporadas pelo IBGE em 1997. A quarta edição foi publicada em 2008, cujas recomen-dações estão sendo adotadas agora na revisão do Sistema de Contas Nacio-nais ano base 2010.

“A revisão do sistema de contas nacionais significa rever toda a série de contas. No caso do Brasil foram qua-tro razões principais: mudança na clas-sificação da economia, atualização da base de dados, incorporações de pes-quisas internas feitas especificamente para aquele ano base e, por fim, a ado-

ção de recomendações internacionais para mudanças em padrões e conceitos na forma de medir a economia”, explica Roberto Olinto (foto), diretor de Pesquisas do IBGE. Ele observa que mudança de base não é novidade no Brasil, que já teve quatro grandes alterações.

De 1947 a 1989, o desempenho da economia brasileira era medido pelo Sistema de Contas Nacionais Consolida-das, da Fundação Getulio Vargas. Olinto explica que se tra-tava de um sistema simplificado, com um conjunto de con-tas agregado, que sofria revisões a cada Censo Econômico.

A partir de 1990, a tarefa foi assu-mida pelo IBGE. Em 1997, o ins-tituto adotou a terceira versão do Manual de Contas Nacionais (SCN) da ONU, alterando não apenas a base de dados do SCN, mas ampliando toda a sua estru-tura. Tal mudança levou à divul-gação de uma nova série das Con-tas Nacionais, de 1990 a 1997.

“De lá para cá a estrutura se manteve a mesma”, diz Olinto. Em 2007, novamente o SCN foi aperfeiçoado, seguindo mais uma vez recomendações da ONU, do FMI, da Comissão Europeia, do Banco Mundial e da OCDE. E agora, em 2015, foram introduzidas as recomen-dações do manual de 2008.

Por que mudar?

AAgropecuáriaIndústriaServiços

Despesa de consumo das famíliasDespesa de consumo do governoFormação bruta de capital fixoExportações de bens e serviçosImportações de bens e serviços (-)

PIB

-2,1-0,81,9

3,23,3

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0,7-0,13,40,10,5

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Antes (%) Depois (%) Dif. p.p.

Revisão das taxas de crescimento – 2012

AgropecuáriaIndústriaServiços

Despesa de consumo das famíliasDespesa de consumo do governoFormação bruta de capital fixoExportações de bens e serviçosImportações de bens e serviços (-)

PIB

7,31,72,2

2,62,05,22,58,3

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Antes (%) Depois (%) Dif. p.p.

Revisão das taxas de crescimento – 2013

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais

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2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

-0,3-0,2

1,31,3

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Série antiga

Série nova

Variação do PIB % – Série nova e antiga

Na pauta das exportações, os produtos siderúrgicos e celulose apresentaram crescimentoem 2014, em comparação com o ano anterior.

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Fonte: IBGE, 2015.

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RUMOS – 34 – Março/Abril 2015 RUMOS – 35 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

capital fixo (-4,4%) foi o destaque. A redução é justi-ficada, principalmente, pela queda da produção interna e da importação de bens de capital (-9,5%), sendo influenciada ainda pelo desempenho negativo da construção civil neste período (-3,3%). Por outro lado, no item “outros”, já é possível visualizar o impac-to das alterações no SCN 2010, pois houve uma expansão de 5,5%, puxada por desenvolvimento de software que fez a participação desse item subir para 14,3%, o que é três vezes superior à participação nos anos anteriores – a construção civil participa com 52,6% e máquinas e equipamentos com 33,1%.

Em 2013, a formação bruta de capital fixo havia crescido 6,1%. A taxa de investimento no ano de 2014 foi de 19,7% do PIB, abaixo do observado em 2013 (20,5%). A taxa de poupança foi de 15,8% em 2014, ante 17,0% em 2013.

A despesa de consumo das famílias desacelerou em relação ao ano anterior (quando havia crescido 2,9%) e cres-ceu 0,9%. Se, por um lado, a massa salarial dos trabalhadores

(2%) e indústria de transformação (10,9%).A indústria de transformação, que compreende os bens de

capital e bens de consumo duráveis, teve queda de -3,8%, a maior desde 2009, influenciada pela redução do valor adicio-nado da indústria automotiva (incluindo peças e acessórios) e da fabricação de máquinas e equipamentos, aparelhos elétri-cos e produtos de metal. Esse resultado foi parcialmente contrabalançado pelo crescimento de outras atividades, com destaque para a indústria farmacêutica, a fabricação de produ-tos de limpeza e perfumaria e a fabricação de bebidas.

Dentre as atividades que compõem os Serviços, que cresceram 0,7%, o comércio sofreu queda (-1,8%), especial-mente no atacado, que é ligado ao segmento industrial. Os demais serviços acumularam crescimento no ano de 2014, com destaque para serviços de informação (4,6%), ativida-des imobiliárias (3,3%) e transporte (sobretudo o de passa-geiros), armazenagem e correio (2,0%). Administração, saúde e educação pública cresceu 0,5%, seguida por inter-mediação financeira e seguros (0,4%) e outros serviços (0,1%), que é bastante ligado ao consumo das famílias.

Na análise da despesa, o recuo da formação bruta de

PIB e PIB per capita

Taxa (%) de crescimento anual

PIB

PIB per capita

2000

2005

2010

2014

9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

-1

-2

Fonte: IBGE, 2015.

ntre as principais alterações nos componentes do PIB em 2011 – ano em que houve maior elevação do PIB (2,7% para 3,9%) em função da nova metodologia –,

duas mudanças metodológicas contribuíram para o impacto positivo. A primeira foi a alteração na metodologia da taxa de crescimento da construção, que antes captava apenas parte dos custos, e passou-se a mensurar os custos de mão de obra, o que mudou as taxas de crescimento do setor. Além disso, o índice passou a analisar mais profundamente o setor de ener-gia, separando-se as hidrelétricas das termelétricas.

“Em 2010 as térmicas foram bastante utilizadas e depois desligadas em 2011. Isso teve um impacto positivo no PIB de 2011, pois passou a gerar energia mais barata. Outro ponto é que tanto em 2011 quanto em 2012 ainda não havia sido feito o cálculo anual definitivo na metodologia antiga. E assim comparamos dados definitivos da nova metodologia, com dados preliminares da metodologia antiga”, explica Rebeca, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE.

Em 2011, segundo dados do Boletim do PIB da FGV, a indústria da transformação teve um aumento de 2,1 p.p., passando de 0,1%, na série antiga para 2,2% na série nova, sendo, portanto, responsável por um impacto significativo na mudança de crescimento do PIB real. Enquanto na série antiga a transformação contribuiu com 0,02 p.p para o cres-cimento de 2,73% do PIB, na série nova a influência dessa atividade no PIB foi de 0,26 p.p., o que representa um impac-to quase 17 vezes maior que o anterior. Essa alteração se deve à incorporação, na nova série das Contas Nacionais, da Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2010 e 2011, enquanto na

Pela ótica da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo passou de 4,72% na série antiga, para 6,59% na série nova, aumentando em 1,5 vez a contribuição deste componente para o crescimento do PIB real. A taxa de 6,59% é explicada principalmente pelo crescimento de 7,3% no componente Construção Civil (com contribuição de 3,66 p.p.) e 5,38% do componente Máquinas e Equipamentos (com contribuição de 2,06 p.p.). O outro 0,87 p.p. é proveniente do componente “Outros” da Formação Bruta de Capital Fixo.

Na revisão das taxas de crescimento de 2012 e 2013, o PIB nominal de 2012 passou de R$ 4,392 trilhões para R$ 4,713 trilhões, evoluindo de 1% para 1,8%; enquanto o nível de 2013 subiu de R$ 4,844 trilhões para R$ 5,157 trilhões, com expansão de 2,5% para 2,7%. Em 2013, portanto, a alteração introduzida pelo SCN 2010, em relação à série anterior, foi de apenas 0,2 p.p.

Já em 2012, a construção puxou o PIB para cima e houve a introdução de novas fontes como a Pesquisa de Amostra por Domicílio (PNAD), a Pesquisa Agrícola Municipal e outras pesquisas estruturais que impactaram positivamente. “Em 2012 houve mudança de metodologia e de fontes de dados”, reforça Rebeca.

“O PIB cresceu mais em termos reais em 2012 e 2013. Isso aproximou os dados do PIB e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que já sugeria um crescimento maior. Os próximos dados definitivos do PIB, que serão divulgados em novembro, devem, inclusive, trazer uma nova revisão altista para o biênio”, diz Barros.

O Boletim do PIB da FGV analisa que, pela ótica da oferta,

Em detalhe: as alterações em 2011 e 2012, anos em que o PIB sofreu as maiores alterações com a nova metodologia

série antiga para esses anos eram usados os dados da Pesqui-sa Industrial Mensal (PIM-PF) antiga.

A Construção Civil subiu 4,6 p.p., passando de 3,6% na série antiga para 8,3% na série nova, o que elevou em quase 2,5 vezes a contribuição da Construção Civil para o cresci-mento do PIB. Com as mudanças, essa contribuição que era de 0,18 p.p. do PIB passou para 0,44 p.p. Essa alteração se deve à introdução da massa salarial do pessoal ocupado na construção civil no cálculo da sua produção, que anterior-mente considerava apenas os insumos típicos da construção.

Já o segmento de Outros Serviços passou de 2,3% na série antiga para 4,7% na série nova, impactando o PIB em 2,3 vezes mais do que antes. Dos 2,7% de crescimento da série antiga do PIB, a contribuição correspondente a Outros Serviços era de 0,28 p.p. e passou a ser 0,63 p.p. na série nova.

Enquanto o comércio, que antes contribuía com 0,37 p.p. da taxa de crescimento de 2,7% do PIB, na série antiga, pas-sou a contribuir com apenas 0,25 p.p. da taxa de crescimento de 3,9% na série nova. Assim, o comércio reduziu sua influência no crescimento do PIB, no ano de 2011, o que provavelmente se deve a reduções nas margens de comércio, o que será alvo de uma avaliação posterior.

A Administração Pública, que antes contribuía com 0,32 p.p. da taxa de crescimento de 2,7% do PIB, na série antiga, passou a contribuir com apenas 0,26 p.p. para o crescimento de 3,9% na série nova. Adicionalmente, a Administração Pública também perdeu influência no crescimento do PIB, no ano de 2011, na nova série em relação à anterior. Essa alteração terá que ser alvo de investigações posteriores.

Eletricidade, Construção Civil, Atividades Imobiliárias e Impostos foram os responsáveis pela alteração do PIB em 2012. A taxa da eletricidade passou de 3,50% para 0,37%. O impacto dessa mudança foi de 0,9, ou seja, é como se a taxa de 3,50% tivesse sido multiplicada por 0,09. A contribuição para o PIB que era de 0,09 p.p. passou a ser de 0,01 p.p..

A construção civil apresentou uma taxa 2,3 vezes maior do que havia apresentado na base 2000. Em termos de contribui-ção para o PIB, a mudança da taxa da Construção, 1,38% na série antiga, para 2,77% na série nova, resultou em 0,08 p.p. a mais para o PIB na série nova (de 0,07 p.p. na série 2000 para 0,15 p.p. na série 2010).

Já as Atividades Imobiliárias, que apresentavam taxa de 2,21% na série antiga, passou a apresentar 4,37% na série nova. O impacto dessa mudança foi 2,2 vezes maior que a série antiga, e isso teve reflexo na contribuição para o PIB, que era de 0,15 p.p. e passou para 0,34 p.p. Enquanto Impostos, que antes contribuíam com 0,24 p.p. para a taxa do PIB, passou a contribuir com 0,49 p.p., na série nova. Isto é resultado do aumento de 2 vezes mais da taxa da série antiga em compara-ção com a nova.

Pela ótica de demanda, o impacto maior foi causado pelo item investimentos. Com a introdução da base 2010, a Forma-ção Bruta de Capital Fixo, ainda que em queda, apresentou uma taxa menos negativa do que havia apresentado na base 2000 (de -3,9%, na série antiga, para -0,58%, na série nova). A participação, que era de -0,72 p.p., passou a ser de -0,12 p.p., contribuindo assim menos negativamente para o crescimento do PIB em 2012.

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RUMOS – 34 – Março/Abril 2015 RUMOS – 35 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

capital fixo (-4,4%) foi o destaque. A redução é justi-ficada, principalmente, pela queda da produção interna e da importação de bens de capital (-9,5%), sendo influenciada ainda pelo desempenho negativo da construção civil neste período (-3,3%). Por outro lado, no item “outros”, já é possível visualizar o impac-to das alterações no SCN 2010, pois houve uma expansão de 5,5%, puxada por desenvolvimento de software que fez a participação desse item subir para 14,3%, o que é três vezes superior à participação nos anos anteriores – a construção civil participa com 52,6% e máquinas e equipamentos com 33,1%.

Em 2013, a formação bruta de capital fixo havia crescido 6,1%. A taxa de investimento no ano de 2014 foi de 19,7% do PIB, abaixo do observado em 2013 (20,5%). A taxa de poupança foi de 15,8% em 2014, ante 17,0% em 2013.

A despesa de consumo das famílias desacelerou em relação ao ano anterior (quando havia crescido 2,9%) e cres-ceu 0,9%. Se, por um lado, a massa salarial dos trabalhadores

(2%) e indústria de transformação (10,9%).A indústria de transformação, que compreende os bens de

capital e bens de consumo duráveis, teve queda de -3,8%, a maior desde 2009, influenciada pela redução do valor adicio-nado da indústria automotiva (incluindo peças e acessórios) e da fabricação de máquinas e equipamentos, aparelhos elétri-cos e produtos de metal. Esse resultado foi parcialmente contrabalançado pelo crescimento de outras atividades, com destaque para a indústria farmacêutica, a fabricação de produ-tos de limpeza e perfumaria e a fabricação de bebidas.

Dentre as atividades que compõem os Serviços, que cresceram 0,7%, o comércio sofreu queda (-1,8%), especial-mente no atacado, que é ligado ao segmento industrial. Os demais serviços acumularam crescimento no ano de 2014, com destaque para serviços de informação (4,6%), ativida-des imobiliárias (3,3%) e transporte (sobretudo o de passa-geiros), armazenagem e correio (2,0%). Administração, saúde e educação pública cresceu 0,5%, seguida por inter-mediação financeira e seguros (0,4%) e outros serviços (0,1%), que é bastante ligado ao consumo das famílias.

Na análise da despesa, o recuo da formação bruta de

PIB e PIB per capita

Taxa (%) de crescimento anual

PIB

PIB per capita

2000

2005

2010

2014

9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

-1

-2

Fonte: IBGE, 2015.

ntre as principais alterações nos componentes do PIB em 2011 – ano em que houve maior elevação do PIB (2,7% para 3,9%) em função da nova metodologia –,

duas mudanças metodológicas contribuíram para o impacto positivo. A primeira foi a alteração na metodologia da taxa de crescimento da construção, que antes captava apenas parte dos custos, e passou-se a mensurar os custos de mão de obra, o que mudou as taxas de crescimento do setor. Além disso, o índice passou a analisar mais profundamente o setor de ener-gia, separando-se as hidrelétricas das termelétricas.

“Em 2010 as térmicas foram bastante utilizadas e depois desligadas em 2011. Isso teve um impacto positivo no PIB de 2011, pois passou a gerar energia mais barata. Outro ponto é que tanto em 2011 quanto em 2012 ainda não havia sido feito o cálculo anual definitivo na metodologia antiga. E assim comparamos dados definitivos da nova metodologia, com dados preliminares da metodologia antiga”, explica Rebeca, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE.

Em 2011, segundo dados do Boletim do PIB da FGV, a indústria da transformação teve um aumento de 2,1 p.p., passando de 0,1%, na série antiga para 2,2% na série nova, sendo, portanto, responsável por um impacto significativo na mudança de crescimento do PIB real. Enquanto na série antiga a transformação contribuiu com 0,02 p.p para o cres-cimento de 2,73% do PIB, na série nova a influência dessa atividade no PIB foi de 0,26 p.p., o que representa um impac-to quase 17 vezes maior que o anterior. Essa alteração se deve à incorporação, na nova série das Contas Nacionais, da Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2010 e 2011, enquanto na

Pela ótica da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo passou de 4,72% na série antiga, para 6,59% na série nova, aumentando em 1,5 vez a contribuição deste componente para o crescimento do PIB real. A taxa de 6,59% é explicada principalmente pelo crescimento de 7,3% no componente Construção Civil (com contribuição de 3,66 p.p.) e 5,38% do componente Máquinas e Equipamentos (com contribuição de 2,06 p.p.). O outro 0,87 p.p. é proveniente do componente “Outros” da Formação Bruta de Capital Fixo.

Na revisão das taxas de crescimento de 2012 e 2013, o PIB nominal de 2012 passou de R$ 4,392 trilhões para R$ 4,713 trilhões, evoluindo de 1% para 1,8%; enquanto o nível de 2013 subiu de R$ 4,844 trilhões para R$ 5,157 trilhões, com expansão de 2,5% para 2,7%. Em 2013, portanto, a alteração introduzida pelo SCN 2010, em relação à série anterior, foi de apenas 0,2 p.p.

Já em 2012, a construção puxou o PIB para cima e houve a introdução de novas fontes como a Pesquisa de Amostra por Domicílio (PNAD), a Pesquisa Agrícola Municipal e outras pesquisas estruturais que impactaram positivamente. “Em 2012 houve mudança de metodologia e de fontes de dados”, reforça Rebeca.

“O PIB cresceu mais em termos reais em 2012 e 2013. Isso aproximou os dados do PIB e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que já sugeria um crescimento maior. Os próximos dados definitivos do PIB, que serão divulgados em novembro, devem, inclusive, trazer uma nova revisão altista para o biênio”, diz Barros.

O Boletim do PIB da FGV analisa que, pela ótica da oferta,

Em detalhe: as alterações em 2011 e 2012, anos em que o PIB sofreu as maiores alterações com a nova metodologia

série antiga para esses anos eram usados os dados da Pesqui-sa Industrial Mensal (PIM-PF) antiga.

A Construção Civil subiu 4,6 p.p., passando de 3,6% na série antiga para 8,3% na série nova, o que elevou em quase 2,5 vezes a contribuição da Construção Civil para o cresci-mento do PIB. Com as mudanças, essa contribuição que era de 0,18 p.p. do PIB passou para 0,44 p.p. Essa alteração se deve à introdução da massa salarial do pessoal ocupado na construção civil no cálculo da sua produção, que anterior-mente considerava apenas os insumos típicos da construção.

Já o segmento de Outros Serviços passou de 2,3% na série antiga para 4,7% na série nova, impactando o PIB em 2,3 vezes mais do que antes. Dos 2,7% de crescimento da série antiga do PIB, a contribuição correspondente a Outros Serviços era de 0,28 p.p. e passou a ser 0,63 p.p. na série nova.

Enquanto o comércio, que antes contribuía com 0,37 p.p. da taxa de crescimento de 2,7% do PIB, na série antiga, pas-sou a contribuir com apenas 0,25 p.p. da taxa de crescimento de 3,9% na série nova. Assim, o comércio reduziu sua influência no crescimento do PIB, no ano de 2011, o que provavelmente se deve a reduções nas margens de comércio, o que será alvo de uma avaliação posterior.

A Administração Pública, que antes contribuía com 0,32 p.p. da taxa de crescimento de 2,7% do PIB, na série antiga, passou a contribuir com apenas 0,26 p.p. para o crescimento de 3,9% na série nova. Adicionalmente, a Administração Pública também perdeu influência no crescimento do PIB, no ano de 2011, na nova série em relação à anterior. Essa alteração terá que ser alvo de investigações posteriores.

Eletricidade, Construção Civil, Atividades Imobiliárias e Impostos foram os responsáveis pela alteração do PIB em 2012. A taxa da eletricidade passou de 3,50% para 0,37%. O impacto dessa mudança foi de 0,9, ou seja, é como se a taxa de 3,50% tivesse sido multiplicada por 0,09. A contribuição para o PIB que era de 0,09 p.p. passou a ser de 0,01 p.p..

A construção civil apresentou uma taxa 2,3 vezes maior do que havia apresentado na base 2000. Em termos de contribui-ção para o PIB, a mudança da taxa da Construção, 1,38% na série antiga, para 2,77% na série nova, resultou em 0,08 p.p. a mais para o PIB na série nova (de 0,07 p.p. na série 2000 para 0,15 p.p. na série 2010).

Já as Atividades Imobiliárias, que apresentavam taxa de 2,21% na série antiga, passou a apresentar 4,37% na série nova. O impacto dessa mudança foi 2,2 vezes maior que a série antiga, e isso teve reflexo na contribuição para o PIB, que era de 0,15 p.p. e passou para 0,34 p.p. Enquanto Impostos, que antes contribuíam com 0,24 p.p. para a taxa do PIB, passou a contribuir com 0,49 p.p., na série nova. Isto é resultado do aumento de 2 vezes mais da taxa da série antiga em compara-ção com a nova.

Pela ótica de demanda, o impacto maior foi causado pelo item investimentos. Com a introdução da base 2010, a Forma-ção Bruta de Capital Fixo, ainda que em queda, apresentou uma taxa menos negativa do que havia apresentado na base 2000 (de -3,9%, na série antiga, para -0,58%, na série nova). A participação, que era de -0,72 p.p., passou a ser de -0,12 p.p., contribuindo assim menos negativamente para o crescimento do PIB em 2012.

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R REPORTAGEM METODOLOGIA

cresceu, em termos reais, 4,1% entre 2013 e 2014, por outro, o crédito com recursos livres para as pessoas físicas deixou de crescer em termos reais. O resultado também reflete o aumento da taxa de juros e da inflação. A Selic passou de 8,25% a.a. em 2013 para 10,9% a.a. em 2014. O Índice de Preços ao Consumidor

(IPCA) cresceu em média 6,3% em 2014. A despesa do con-sumo do governo cresceu 1,3%, mas desacelerou em relação a 2013 (2,2%).

No setor externo, tanto as exportações (-1,1%) quanto as importações (-1,0%) de bens e serviços tiveram queda. Entre as exportações, os destaques negativos foram a indústria automotiva (incluindo caminhões e ônibus) e embarcações e estruturas flutuantes. Por outro lado, produtos siderúrgicos, celulose e produtos de madeira apresentaram crescimento. Já nas importações, a queda foi puxada por máquinas e equipa-mentos e indústria automotiva (incluindo peças e acessórios). Apresentaram crescimento: óleo diesel, tecidos e bebidas.

Já o PIB per capita alcançou R$ 27.229 (em valores cor-rentes) em 2014, após ter recuado (-0,7%), em termos reais, em relação a 2013. Em 2013, o crescimento do PIB per capita foi de 1,8% em relação a 2012.

O saldo externo de bens e servi-ços piorou, passando de R$ 120,5 bilhões negativos em 2015, para um déficit de R$ 152,2 bilhões em 2014. A renda líquida de propriedade rece-bida do resto do mundo também ampliou R$ 8,5 bilhões, passando de R$ 78,8 bilhões em 2013 para R$ 87,3 bilhões em 2014. Outras transferên-cias correntes líquidas recebidas do resto do mundo tiveram uma redu-ção de R$ 2,8 bilhões, saindo de R$ 6,5 bilhões em 2013 para R$ 3,7 bilhões em 2014.

Houve também um aumento de R$ 44,4 bilhões da necessidade de financiamento em 2014 em relação a 2013, passando de R$ 189,170 bilhões para R$ 233,560 bilhões.

Apesar das alterações nos resulta-dos do PIB de alguns anos – especial-mente 2011 e 2012 –, Rebeca Palis ressalta que a estrutura da economia foi mantida e a leitura continua a mesma. O ano de 2010 continuou sendo o ano de forte cres-cimento (7,6%) e 2014 apresentou os resultados negativos que todos já esperavam.

“O ano de 2014 teve uma desaceleração generalizada da economia. Todas as atividades econômicas tiveram resulta-do abaixo de 2013, com exceção da extrativa mineral. A indústria como um todo caiu fortemente, especialmente a indústria de transformação, que tem um peso maior. Servi-ços, que crescia bem, reduziu, e a agroindústria perdeu pro-

dutividade, após um cresci-mento forte em 2013”, resume a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. Olhando pela ótica das despesas, o investimento foi o grande diferencial negativo, com queda de 4,4%, após ter crescido 6,1% em 2013.

“E isso está relacionado ao desempenho da indústria de transformação com queda na produção de máquinas e equi-pamentos e na indústria automotiva, que são bens considera-dos investimento. Além da queda nas importações de máqui-nas e equipamentos. Mas não foi apenas o investimento que impactou. Em 2013, a demanda interna foi de 3,5%; em 2014, apenas 0,1%, ou seja, a demanda caiu não só em função dos investimentos, mas também pela queda no consumo das famílias, que têm um peso grande no cálculo (62,5%) e desa-celerou pela redução do crédito, inflação próxima ao teto da meta e elevação da taxa de juros”, explica.

Outro dado preocupante de 2014 foi a estagnação do comércio exterior, pois mesmo as exportações, que poderi-

am ter sido impulsionadas pelo câmbio favorável, caíram 1,1%. A importação foi afetada pelo câm-bio e pela desaceleração da econo-mia. “No caso das exportações a explicação está no fato de que houve uma desvalorização cambi-al nas moedas de todos os países emergentes e não apenas do Bra-sil. Além disso, todas as commodities tiveram redução de preços”, diz Rebeca.

Octávio de Barros observa que as alterações no PIB também tiveram impacto nas demais con-tas do país. A relação dívida/PIB é a que muda de maneira mais rele-vante: de 63,6% do PIB para 58,9%, uma melhora de 4,7 pon-tos. “Os ratios do superávit primá-rio, déficit em conta-corrente, entre outros, também irão mudar, mas pouco, apenas na primeira ou segunda casa decimal. O déficit em conta-corrente de 2014, por exemplo, com o novo PIB foi de 3,9%, enquanto na metodologia anterior era de 4,2%”, aponta o economista.

Para Claudio Considera, da FGV, o resultado prático é que quando o PIB aumenta, a relação dívida/PIB cai. Mas ele destaca que o Brasil está fazendo um esforço fiscal tão grande que 0,1% não faz diferença. “O que importa é a mudança de direção na política econômica. Os dados de 2014 mostraram uma economia estagnada. Em 2015 vamos entrar em recessão. Mas estamos vivendo o ajuste fiscal que tem por objetivo preparar a economia para voltar a crescer em 2016”, conclui Considera.

Em 2014, o setor de Serviços, que vinha mantendo um bom crescimento, teve redução, como boa parte dos demais indicados.

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“ajuste” fiscal é uma necessidade, mas não é um objetivo em si mesmo. É apenas uma ponte que, se bem construída e sólida, nos levará ao outro lado do rio, onde recuperaremos nossa capacida-

de de desenvolvimento com a expansão dos investimentos, o crescimento do consumo, a retomada das exportações e a continuidade da inclusão social. É esta que dá relativa morali-dade à eficiência dos mercados, quando civilizados pelo sufrágio universal.

A austeridade em si mesma não é suficiente porque ela, sem a esperança na recuperação da economia e o efeito “catraca” na inclusão social, brigará com o processo democrático. A própria “ordem” fiscal depende do controle da taxa de crescimento do numerador (o controle das despesas e o eventual aumento da tributação), mas também da taxa de crescimento do denomina-dor, a taxa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB).

Não se pode esquecer que foi a forte queda da taxa de cres-cimento da indústria o principal fator da redução na eco- destanomia brasileira (uma das causas fundamentais do próprio desequilíbrio fiscal). Nunca existiu falta de demanda de bens industriais. O que houve foi uma política de valorização cam-bial que transferiu a demanda da produção da indústria nacio-nal para a indústria estrangeira, ampliando o déficit da conta corrente.

As políticas de estímulo ao setor industrial fracassaram com relação à indústria nacional porque com a valorização do real estimulavam, ainda mais, a demanda dos produtos indus-triais importados. Neste campo há uma variável ignorada por economistas mais sofisticados: o volume descomunal (desco-munal, mesmo!) do contrabando de bens industriais mistura-dos com lavagem de dinheiro, drogas e armamentos pelo cri-me organizado.

O nível da confusão fiscal que dominou 2014 – só agora mais bem conhecido – exige ações enérgicas e persistentes, bem orientadas para que num tempo que não será menor do que dois anos reconquistemos um equilíbrio razoável e se esta-bilize a relação Dívida Bruta/PIB. O ministro Joaquim Levy deu sinais claros e mostrou firme disposição de persegui-las, sabendo que seu sucesso é condição necessária, embora não suficiente, para a volta ao crescimento. Quanto mais cuidado-so e rápido ele for, maior a probabilidade de que possam ser acompanhadas pela expansão dos investimentos com bons

projetos que encontrem financiamento. Sem dúvida as dificul-dades fiscais não favorecerão o investimento público, a grande tarefa entregue ao ministro Nelson Barbosa, num momento em que a crise hídrica e as incertezas no setor de energia tiram os estímulos dos investimentos privados.

O esforço para alcançar o equilíbrio teria grande ajuda do Congresso Nacional se aprovasse duas reformas: a sugerida pela Central Única dos Trabalhadores, de livre negociação entre trabalhadores e empresários, o que aumentaria a produti-vidade das empresas e libertaria os funcionários da antiquada e ineficiente legislação trabalhista; e outra a do ICMS, reconhe-cendo os incentivos feitos à revelia do Confaz, mas proibindo novos e a renovação dos atuais. Suspeito que essas duas refor-mas escondem o possível ganho de 0,5% do PIB em 12 meses.

Com uma política cambial adequada, complementada por uma revisão das tarifas efetivas e pelo uso inteligente do Banco do Brasil, talvez seja possível recuperar, com relativa rapidez, parte da demanda industrial interna perdida para as importações.

É preciso dar pleno suporte ao ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, que desenvolve um interessante e robusto progra-ma para reduzir o déficit em conta corrente e, assim, acelerar o crescimento do PIB. Ele estimula a exportação, mas não esquece que a importação é um fator de produção essencial para o aumento da produtividade e para a nossa integração nas cadeias produtivas internacionais. Mesmo bem-sucedido, o programa não apresentará resultados significativos em menos de dois anos.

Por último, mas não menos importante, é fundamental apoiar firmemente o trabalho da ministra Kátia Abreu à frente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Ma-pa), para que continue a promover o desenvolvimento da agri-cultura, da pecuária e do setor florestal, joias da economia bra-sileira, garantindo o aporte tecnológico, o crédito adequado e a expansão do seguro-safra. Estes são os fatores do crescimento real que não poderão operar sem o preliminar “ajuste fiscal” e que se não forem acionados simultaneamente com ele reduzi-rão a sua probabilidade de êxito.

É hora de dar-lhes apoio, ter paciência e trabalhar, em vez de continuar chorando sentado na calçada à espera do “tercei-ro turno”!

Dois anos

RUMOS – 37 – Março/Abril 2015

Antonio Delfim Netto

Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

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O OPINIÃO

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RUMOS – 39 – Março/Abril 2015 RUMOS – 38 – Março/Abril 2015

Por André Tennitz

FINANCIAMENTO

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) desenvolve expertise e se destaca nacionalmente no financiamento à inovaçãoE E

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SU

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rincipal agente de fomento da região meridional do país, o Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) assumiu posição de destaque em financia-mentos na área de inovação. Com o programa BRDE Inova, criado em 2013, tornou-se o princi-

pal agente de apoio a empresas de base tecnológica e a proje-tos de inovação em ambiente produtivo na Região Sul. Além de destinar parcela significativa de sua carteira de empréstimos ao segmento, o banco é, atualmente, o maior repassador de recursos destinados a esse tipo de atividade por instituições federais como o BNDES e a Finep.

Desde a instituição do programa – que começou efetiva-mente a deslanchar a partir do segundo semestre de 2014 –, o BRDE Inova contabiliza repasses de R$ 163 milhões das linhas de apoio à inovação dos parceiros federais. Uma dota-ção de R$ 80 milhões colocada à disposição do banco pelo programa Inovacred, da Finep, já foi esgotada, mas o BRDE pediu a suplementação destes recursos No caso do BNDES, os números também são significativos.

Em março último, o banco federal de fomento divulgou o balanço do primeiro ano de atuação do programa MPME Inovadora, sua principal iniciativa voltada a apoiar a inova-ção tecnológica e produtiva em micro, pequenas e médias empresas. No período, foram concedidos financiamentos de R$ 115,6 milhões a 66 projetos nos setores da indústria e de serviços em todo o país. Desse total, 73%, ou R$ 84,2 milhões, foram repassados pelo BRDE a 56 empreendi-mentos na sua área de atuação, que abrange os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O banco, con-trolado pelos três estados, está autorizado ainda a financiar projetos em Mato Grosso do Sul e São Paulo, desde que eles tragam benefícios diretos à Região Sul.

Paradigmas – O bom desempenho foi o resultado de um trabalho em que o BRDE procurou identificar os entraves existentes na concessão de crédito à inovação e, paralelamente,

buscou adaptar suas práticas e procedimentos para conseguir atender às necessidades de uma nova clientela. Para tanto, teve que romper paradigmas e modificar uma cultura forjada em mais de 50 anos de bom atendimento à agropecuária e à indús-tria tradicional. “Como boa parte das instituições financeiras, nós tínhamos certa dificuldade de entender a lógica desse tipo de projeto”, relata o superintendente do BRDE em Santa Catarina, Nelson Ronnie. “As ferramentas bancárias tradicio-nais deixam os analistas em uma situação de pouca segurança ao examinar propostas de financiamento nessa área”, afirma.

Estimulado pelos parceiros do setor de fomento, em espe-cial o BNDES, o BRDE buscou a colaboração de entidades oficiais e associações de empresários para traçar um diagnósti-co dos problemas existentes no crédito a empresas de base tecnológica e a atividades inovadoras. O trabalho colocou em evidência duas questões principais. Em primeiro lugar, a conhecida dificuldade dos empreendimentos de menor porte para oferecer às instituições financeiras as garantias reais nor-malmente exigidas em financiamentos, como imóveis e bens de alto valor. O problema é ainda mais crônico na área tecno-lógica, em que é grande a presença de micro e pequenas empresas, que têm seu principal investimento em bens intangí-veis, como informação e conhecimento.

Certificação – Outra questão relevante era a própria dificul-dade de conceituar os projetos inovadores, sua originalidade, importância e potencial para agregar valor às cadeias produti-vas – em suma, identificar o que constitui, de fato, inovação. Para superar esse obstáculo, o BRDE firmou convênios com entidades privadas e oficiais que atuam no setor, como a Asso-ciação Brasileira de Software (Abes), a Federação de Apoio à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), entre outras. Com base na reconhecida experiência que têm na área, as enti-dades orientam, selecionam e encaminham ao banco as pro-postas de financiamento, emitindo pareceres em que certifi-

cam que as empresas e os projetos que pleiteiam financiamen-to atendem aos requisitos exigidos. “Esse processo de certifi-cação conferiu uma grande agilidade ao processo de análise das operações e permitiu que concentrássemos nosso foco na questão creditícia propriamente dita”, diz Nelson Ronnie.

No caso das garantias, foi o próprio BRDE que inovou. A política de crédito e os regulamentos internos foram modifica-dos de modo a ampliar o número de instrumentos aceitos para assegurar os financiamentos. Mecanismos como o Fundo de Apoio à Micro e Pequena Empesa (Fampe), gerido pelo Sebrae, ou o Fundo Garantidor de Investimentos (FGI), do BNDES, passaram a ser empregados em maior escala e com-binados com outras formas de garantia – aval de terceiros, hipotecas, fianças bancárias, avais de cooperativas de garantia de crédito ou, em alguns casos, até mesmo ações das empresas financiadas. Por suas próprias regras, os fundos de aval cobrem no máximo 80% do valor do crédito. Como as garantias totais normalmente alcançam 120% ou 130% da operação, o mon-tante complementar pode ser preenchido pelos instrumentos alternativos. “Com esse leque de opções, as empresas podem ter acesso a créditos de até R$ 1 milhão sem fornecer garantias reais”, explica Nelson Ronnie.

O BRDE ainda criou programas para capacitar os funcio-nários e instituiu equipes especializadas na análise de projetos inovadores. O resultado é reconhecido pelos empreendedores beneficiados. “Nos últimos meses, cresceu muito o número de operações com empresas que, se não fossem as adaptações promovidas nas condições de financiamento, teriam muita dificuldade de obter recursos a custos razoáveis”, diz Gabriel Sant’Ana Palma Santos, secretário executivo da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), uma das entidades credenciadas pelo BRDE a certificar os projetos inovadores que pleiteiam crédito à instituição.

A Acate tem 428 associados nas áreas de produção de software, hardware e serviços tecnológicos. Cerca de 80% delas são pequenas e microempresas. Na sua maioria, são compa-

nhias jovens, sem ativos de valor elevado que possam servir de garantia para os financiamentos bancários. Não obstante, como é característico desse setor, a quantidade de empreen-dimentos promissores é grande. “Em média, são empresas que crescem 30% ao ano”, atesta Gabriel Santos. A associa-ção, explica, também orienta os empreendedores para que possam adaptar seus produtos, serviços e projetos às exigên-cias dos programas de financiamento. “Na realidade, faze-mos a ponte entre instituição financeira e empresas inovado-ras”, sintetiza Santos.

Ronnie avalia que sem o apoio de instituições como o BRDE, o BNDES ou a Finep, a grande maioria dos empre-endimentos de base tecnológica teria que financiar seu cres-cimento com recursos próprios ou com recursos de capital de giro tomados em bancos comerciais. O custo em relação às alternativas bem mais baratas oferecidas pelas instituições de fomento é enorme. No caso da Finep, os repasses são efetuados com correção apenas pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), atualmente em 6% ao ano. Os recursos do BNDES são aplicados a 6,5%. Os prazos de pagamentos vão até a 10 anos.

O mesmo vale para projetos de modernização tecnológica em setores produtivos mais tradicionais, desde que se enqua-drem nos critérios de inovação definidos pelos programas – desenvolvimento de novos produtos, serviços ou métodos de produção, inovação em marketing ou inovação organizacional que tragam ganhos de produtividade individuais ou sistêmi-cos. No BRDE, as linhas de financiamento oferecidas vão desde a aquisição de máquinas e softwares, desenvolvimento e aprimoramento de produtos, processos e serviços, até a cons-trução e modernização das instalações de empresas. “O finan-ciamento à inovação tem efeitos multiplicadores sobre toda a economia”, observa Nelson Ronnie. E ganha relevância ainda maior na atual conjuntura de ajuste econômico em que a redu-ção de custos passa a ser um componente essencial para a própria sobrevivência de muitas empresas.

Nelson Ronnie,superintendente do BRDE, em Santa Catarina, salienta que as políticas de crédito e os regulamentos internosforam modificados de modo a ampliar o número de instrumentos aceitos para assegurar os financiamentos à inovação.

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Por André Tennitz

FINANCIAMENTO

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) desenvolve expertise e se destaca nacionalmente no financiamento à inovaçãoE E

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rincipal agente de fomento da região meridional do país, o Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) assumiu posição de destaque em financia-mentos na área de inovação. Com o programa BRDE Inova, criado em 2013, tornou-se o princi-

pal agente de apoio a empresas de base tecnológica e a proje-tos de inovação em ambiente produtivo na Região Sul. Além de destinar parcela significativa de sua carteira de empréstimos ao segmento, o banco é, atualmente, o maior repassador de recursos destinados a esse tipo de atividade por instituições federais como o BNDES e a Finep.

Desde a instituição do programa – que começou efetiva-mente a deslanchar a partir do segundo semestre de 2014 –, o BRDE Inova contabiliza repasses de R$ 163 milhões das linhas de apoio à inovação dos parceiros federais. Uma dota-ção de R$ 80 milhões colocada à disposição do banco pelo programa Inovacred, da Finep, já foi esgotada, mas o BRDE pediu a suplementação destes recursos No caso do BNDES, os números também são significativos.

Em março último, o banco federal de fomento divulgou o balanço do primeiro ano de atuação do programa MPME Inovadora, sua principal iniciativa voltada a apoiar a inova-ção tecnológica e produtiva em micro, pequenas e médias empresas. No período, foram concedidos financiamentos de R$ 115,6 milhões a 66 projetos nos setores da indústria e de serviços em todo o país. Desse total, 73%, ou R$ 84,2 milhões, foram repassados pelo BRDE a 56 empreendi-mentos na sua área de atuação, que abrange os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O banco, con-trolado pelos três estados, está autorizado ainda a financiar projetos em Mato Grosso do Sul e São Paulo, desde que eles tragam benefícios diretos à Região Sul.

Paradigmas – O bom desempenho foi o resultado de um trabalho em que o BRDE procurou identificar os entraves existentes na concessão de crédito à inovação e, paralelamente,

buscou adaptar suas práticas e procedimentos para conseguir atender às necessidades de uma nova clientela. Para tanto, teve que romper paradigmas e modificar uma cultura forjada em mais de 50 anos de bom atendimento à agropecuária e à indús-tria tradicional. “Como boa parte das instituições financeiras, nós tínhamos certa dificuldade de entender a lógica desse tipo de projeto”, relata o superintendente do BRDE em Santa Catarina, Nelson Ronnie. “As ferramentas bancárias tradicio-nais deixam os analistas em uma situação de pouca segurança ao examinar propostas de financiamento nessa área”, afirma.

Estimulado pelos parceiros do setor de fomento, em espe-cial o BNDES, o BRDE buscou a colaboração de entidades oficiais e associações de empresários para traçar um diagnósti-co dos problemas existentes no crédito a empresas de base tecnológica e a atividades inovadoras. O trabalho colocou em evidência duas questões principais. Em primeiro lugar, a conhecida dificuldade dos empreendimentos de menor porte para oferecer às instituições financeiras as garantias reais nor-malmente exigidas em financiamentos, como imóveis e bens de alto valor. O problema é ainda mais crônico na área tecno-lógica, em que é grande a presença de micro e pequenas empresas, que têm seu principal investimento em bens intangí-veis, como informação e conhecimento.

Certificação – Outra questão relevante era a própria dificul-dade de conceituar os projetos inovadores, sua originalidade, importância e potencial para agregar valor às cadeias produti-vas – em suma, identificar o que constitui, de fato, inovação. Para superar esse obstáculo, o BRDE firmou convênios com entidades privadas e oficiais que atuam no setor, como a Asso-ciação Brasileira de Software (Abes), a Federação de Apoio à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), entre outras. Com base na reconhecida experiência que têm na área, as enti-dades orientam, selecionam e encaminham ao banco as pro-postas de financiamento, emitindo pareceres em que certifi-

cam que as empresas e os projetos que pleiteiam financiamen-to atendem aos requisitos exigidos. “Esse processo de certifi-cação conferiu uma grande agilidade ao processo de análise das operações e permitiu que concentrássemos nosso foco na questão creditícia propriamente dita”, diz Nelson Ronnie.

No caso das garantias, foi o próprio BRDE que inovou. A política de crédito e os regulamentos internos foram modifica-dos de modo a ampliar o número de instrumentos aceitos para assegurar os financiamentos. Mecanismos como o Fundo de Apoio à Micro e Pequena Empesa (Fampe), gerido pelo Sebrae, ou o Fundo Garantidor de Investimentos (FGI), do BNDES, passaram a ser empregados em maior escala e com-binados com outras formas de garantia – aval de terceiros, hipotecas, fianças bancárias, avais de cooperativas de garantia de crédito ou, em alguns casos, até mesmo ações das empresas financiadas. Por suas próprias regras, os fundos de aval cobrem no máximo 80% do valor do crédito. Como as garantias totais normalmente alcançam 120% ou 130% da operação, o mon-tante complementar pode ser preenchido pelos instrumentos alternativos. “Com esse leque de opções, as empresas podem ter acesso a créditos de até R$ 1 milhão sem fornecer garantias reais”, explica Nelson Ronnie.

O BRDE ainda criou programas para capacitar os funcio-nários e instituiu equipes especializadas na análise de projetos inovadores. O resultado é reconhecido pelos empreendedores beneficiados. “Nos últimos meses, cresceu muito o número de operações com empresas que, se não fossem as adaptações promovidas nas condições de financiamento, teriam muita dificuldade de obter recursos a custos razoáveis”, diz Gabriel Sant’Ana Palma Santos, secretário executivo da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), uma das entidades credenciadas pelo BRDE a certificar os projetos inovadores que pleiteiam crédito à instituição.

A Acate tem 428 associados nas áreas de produção de software, hardware e serviços tecnológicos. Cerca de 80% delas são pequenas e microempresas. Na sua maioria, são compa-

nhias jovens, sem ativos de valor elevado que possam servir de garantia para os financiamentos bancários. Não obstante, como é característico desse setor, a quantidade de empreen-dimentos promissores é grande. “Em média, são empresas que crescem 30% ao ano”, atesta Gabriel Santos. A associa-ção, explica, também orienta os empreendedores para que possam adaptar seus produtos, serviços e projetos às exigên-cias dos programas de financiamento. “Na realidade, faze-mos a ponte entre instituição financeira e empresas inovado-ras”, sintetiza Santos.

Ronnie avalia que sem o apoio de instituições como o BRDE, o BNDES ou a Finep, a grande maioria dos empre-endimentos de base tecnológica teria que financiar seu cres-cimento com recursos próprios ou com recursos de capital de giro tomados em bancos comerciais. O custo em relação às alternativas bem mais baratas oferecidas pelas instituições de fomento é enorme. No caso da Finep, os repasses são efetuados com correção apenas pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), atualmente em 6% ao ano. Os recursos do BNDES são aplicados a 6,5%. Os prazos de pagamentos vão até a 10 anos.

O mesmo vale para projetos de modernização tecnológica em setores produtivos mais tradicionais, desde que se enqua-drem nos critérios de inovação definidos pelos programas – desenvolvimento de novos produtos, serviços ou métodos de produção, inovação em marketing ou inovação organizacional que tragam ganhos de produtividade individuais ou sistêmi-cos. No BRDE, as linhas de financiamento oferecidas vão desde a aquisição de máquinas e softwares, desenvolvimento e aprimoramento de produtos, processos e serviços, até a cons-trução e modernização das instalações de empresas. “O finan-ciamento à inovação tem efeitos multiplicadores sobre toda a economia”, observa Nelson Ronnie. E ganha relevância ainda maior na atual conjuntura de ajuste econômico em que a redu-ção de custos passa a ser um componente essencial para a própria sobrevivência de muitas empresas.

Nelson Ronnie,superintendente do BRDE, em Santa Catarina, salienta que as políticas de crédito e os regulamentos internosforam modificados de modo a ampliar o número de instrumentos aceitos para assegurar os financiamentos à inovação.

Novos paradigmas

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Page 40: Rumos - 280

RUMOS – 41 – Março/Abril 2015

m 2014, o Banco da Amazônia superou em 13% o valor apli-cado na Região Ama-

zônica em relação ao ano anteri-or. Foi investido um total de R$ 7,377 bilhões (fomento e comer-cial) na promoção do desenvol-vimento integrado e sustentável, que contribuíram para transfor-mar a realidade local. Para 2015, a instituição mantém uma proje-ção de crescimento para os investimentos. A meta é aplicar mais de R$ 8,4 bilhões – cerca de 28% a mais, comparado com 2013, e 14% superior ao recurso aplicado no ano passado.

“O ano de 2015, apesar de desafiador em virtude do cená-rio econômico, tem sido muito bom para o banco até agora. Entendemos que a Região Amazônica tem muitas oportunida-des e potencialidades, sendo o crédito um fator relevante para que a economia continue fluindo normalmente. Daí o nosso otimismo em aplicar o montante disponível, não só com os recursos provenientes do Fundo Constitucional de Financia-mento do Norte (FNO), mas de todas as fontes com as quais trabalhamos”, explica o gerente de Imagem e Comunicação, Luiz Lourenço de Souza Neto.

Os números comprovam que o Banco da Amazônia tem evoluído cada vez mais no que se refere à aplicação de recursos no contexto regional. Considerando apenas o crédito de fomento (contratação), por exemplo, constata-se que nos últi-mos quatro anos houve um crescimento de 138% no volume total desse tipo de verba. Enquanto que, em 2011, o valor apli-cado foi de R$ 2,56 bilhões, em 2014 esse montante chegou a R$ 6,08 bilhões. E as perspectivas para 2015 são positivas, com orçamento previsto de R$ 6,58 bilhões nessa área (ver tabelas).

Informações disponibilizadas pelo Banco Central (último

Nestes Protocolos, o banco também atribui responsabili-dades, define prazos e o montante para cada estado da Amazô-nia. “A nossa recepção nos estados foi bastante positiva, tendo um número expressivo de pessoas, com grande interesse dos dois lados na consolidação oficial da parceria já existente entre o Banco da Amazônia e o estado, no intuito de aplicar a totali-dade dos recursos disponíveis para o desenvolvimento da região”, complementa o secretário executivo, Valdecir Tose.

Balanço – A expectativa é que todos os esforços empenha-dos em 2015 gerem bons resultados como o que foi consoli-dado nos anos anteriores. Vale citar que em 2014 a instituição registrou, entre outros pontos, a elevação das receitas com operações de crédito da ordem de 26,4%, chegando a R$ 368,7 milhões; crescimento do resultado com Títulos e Valo-res Mobiliários (Operações de Tesouraria) de 21,7% em rela-ção ao ano anterior; aumento das receitas com tarifas bancá-rias em 33,4% no exercício, o que representa um volume financeiro de R$ 114,7 milhões; controle de despesas e melhora dos níveis de Provisão para Operações de Crédito (PCLD), através da qualificação do crédito; elevação de 73,4% no Resultado Operacional (R$ 290,8 milhões), em comparação com o exercício anterior.

“Esses resultados são fruto das ações estratégicas realiza-das através do Programa Supera Mais (Mais Clientes, Mais Negócios e Mais Resultados) e do esforço de cada um dos colaboradores na busca do fortalecimento do banco. A siner-gia entre Matriz e Rede de Atendimento foi fundamental para chegarmos ao final de 2014 com esse resultado significativo. Quem ganha com isso realmente é a Amazônia e o seu povo”, pontua o gerente Luiz Lourenço de Souza Neto.

relatório disponível base outu-bro/2014), apontados no Resultado Financeiro do Ban-co da Amazônia de 2014, indi-cam que a instituição está res-ponsável por 58,59% do cré-dito de fomento (longo pra-zo) aplicado na Região Norte. Ou seja, as demais institui-ções bancárias respondem juntas por apenas 41,41%.

Luiz Lourenço ratifica que o Banco da Amazônia é a principal instituição com foco específico no desenvol-vimento regional. “Há ban-cos privados atuando na Região Norte também com esse fim, mas não possuem a expertise do nosso banco, ou

seja, nenhuma instituição financeira conhece a Amazônia como nós conhecemos”, relata.

Resultados socioeconômicos – Os resultados desses investimentos têm reflexos diretos na diminuição do êxodo rural, minimização das desigualdades intra e inter-regionais, na inclusão social, redução da pobreza, aumento do Produto Interno Bruto (PIB) regional e ampliação da arrecadação tri-butária em toda a Região Amazônica. Mudanças que são cons-tatadas ao longo dos 72 anos de atuação do Banco da Amazô-nia e nos milhares de projetos beneficiados.

“Financiamos projetos em toda a cadeia produtiva, do setor primário à tecnologia de ponta. Com esses investimen-tos, ampliamos as contratações em todos os segmentos da economia, como a agricultura familiar, comércio e serviços, microcrédito, atividades florestais e empreendimentos de todos os portes”, acrescenta Luiz Lourenço de Souza Neto.

Os números calculados pelo banco traduzem os benefí-cios socioeconômicos para a região. Conforme explica o

gerente de Imagem e Comunicação, somente com os recursos do FNO, o impacto sobre o valor bruto da produção (VBP), ou seja, tudo que é gerado de riqueza no estado, chegou a R$ 48,9 bilhões. Já sobre o PIB, o impacto foi de R$ 25,5 bilhões em 2014. Os tributos oriundos das operações realizadas chegaram a R$ 7,3 bilhões e foram mais de 901 mil postos de tra-balho gerados e R$ 5,1 bilhões em salários.

Novas Ações – Para 2015, está na lista de investimentos iniciativas que agregam valor ao crescimento econômico. A exemplo, cita-se a empresa Fertilizantes Tocantins Ltda., que teve projeto contratado para a instalação da nova fi-lial no município de Barcarena–PA, no Porto de Vila do Conde. O empreendimento, finan-ciado pela instituição por meio da linha FNO Amazônia Sustentável, possui investimento de aproximadamente R$ 48,8 milhões. O projeto já foi aprovado e agora está em fase de contra-tação.

O gerente de Imagem e Comunicação do banco comenta que a nova unidade industrial é uma ampliação da empresa, que conta com fi-liais em São Luís, no Maranhão, e Querência, em Mato Grosso, sendo que a matriz é localiza-da na cidade de Porto Nacional, Tocantins. Com esse novo complexo, a indústria busca potencializar ainda mais a comercialização dos seus produtos por meio do embarque da soja que entra pelo Porto de Vila do Conde.

“Temos inúmeras iniciativas que merecem destaque. A cada ano nos consolidamos como parceiro essencial de todos que acreditam nesta região e ficamos mais fortes e necessá-rios. Isso nos enche de orgulho”, ressalta.

Parcerias – Para unir esforços em prol do desenvolvimento e manter o ritmo de crescimento, o banco busca parcerias estra-tégicas, tanto no setor público quanto privado. A fim de estrei-tar relações e divulgar os recursos disponíveis para 2015, além de prestar contas da atuação da instituição em 2014 nos esta-dos, nos meses de fevereiro e março deste ano, o presidente da instituição, Valmir Rossi, visitou os estados da Amazônia Legal. Na oportunidade, aproveitou para assinar Protocolos de Inten-ções junto a cada um dos estados onde atua.

O secretário Executivo de Estratégia, Organização e Pro-jeto (Seorp), Valdecir Tose, acompanhou o presidente nas visi-tas e explica que os Protocolos objetivam “construir parce-rias (poder público e privado) como forma de somar esforços a serviço do desenvolvimento local; assegurar recursos finan-ceiros para financiar investimento, custeio e capital de giro; garantir recursos financeiros para responder as necessidades dos investimentos em melhorias e/ou expansão da infraes-trutura econômica básica em áreas prioritárias; e impulsionar o desenvolvimento local, alinhados aos resultados prospecta-dos no plano de aplicação de recursos do FNO e no plano de aplicação dos recursos financeiros para 2015, elaborados pelo Banco da Amazônia”.

Danile Rebouças

RUMOS – 40 – Março/Abril 2015

Apoio ao desenvolvimento regionalPara 2015, o Banco da Amazônia espera aplicar R$ 8,4 bilhões na promoção do desenvolvimento integrado e sustentável, cerca de 14% a mais do que os recursos aplicados no ano passado

R$ ,48bilhões

FONTERealizado 2014

(R$ milhões)

Crédito de fomento 6.077,4

FNO 5.356,9

Demais Fontes* 720,5

Crédito comercial 1.299,8

Total 7.377,2

RECURSOS DISPONÍVEIS PARA A AMAZÔNIA EM 2015

Orçado 2015(R$ milhões)

7.377,2

6.580,00

15.160,00

1.420,00

1.850,00

Div

ulg

açã

o

Luiz Lourenço de Souza Neto, gerente de Imagem e Comunicação, e Valdecir Tose, secretário executivo do Bancoda Amazônia.

Fonte: Banco da Amazônia (Base: Dez/2014)

*FAT, OGU, FDAM, FDA/FOCO, FMM e Recursos Próprios

A AMAZÔNIA

E

2.557

6.088

4.5055.385

2011 2012 2013 2014

FOMENTO CONTRATADO (R$ milhões)

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RUMOS – 41 – Março/Abril 2015

m 2014, o Banco da Amazônia superou em 13% o valor apli-cado na Região Ama-

zônica em relação ao ano anteri-or. Foi investido um total de R$ 7,377 bilhões (fomento e comer-cial) na promoção do desenvol-vimento integrado e sustentável, que contribuíram para transfor-mar a realidade local. Para 2015, a instituição mantém uma proje-ção de crescimento para os investimentos. A meta é aplicar mais de R$ 8,4 bilhões – cerca de 28% a mais, comparado com 2013, e 14% superior ao recurso aplicado no ano passado.

“O ano de 2015, apesar de desafiador em virtude do cená-rio econômico, tem sido muito bom para o banco até agora. Entendemos que a Região Amazônica tem muitas oportunida-des e potencialidades, sendo o crédito um fator relevante para que a economia continue fluindo normalmente. Daí o nosso otimismo em aplicar o montante disponível, não só com os recursos provenientes do Fundo Constitucional de Financia-mento do Norte (FNO), mas de todas as fontes com as quais trabalhamos”, explica o gerente de Imagem e Comunicação, Luiz Lourenço de Souza Neto.

Os números comprovam que o Banco da Amazônia tem evoluído cada vez mais no que se refere à aplicação de recursos no contexto regional. Considerando apenas o crédito de fomento (contratação), por exemplo, constata-se que nos últi-mos quatro anos houve um crescimento de 138% no volume total desse tipo de verba. Enquanto que, em 2011, o valor apli-cado foi de R$ 2,56 bilhões, em 2014 esse montante chegou a R$ 6,08 bilhões. E as perspectivas para 2015 são positivas, com orçamento previsto de R$ 6,58 bilhões nessa área (ver tabelas).

Informações disponibilizadas pelo Banco Central (último

Nestes Protocolos, o banco também atribui responsabili-dades, define prazos e o montante para cada estado da Amazô-nia. “A nossa recepção nos estados foi bastante positiva, tendo um número expressivo de pessoas, com grande interesse dos dois lados na consolidação oficial da parceria já existente entre o Banco da Amazônia e o estado, no intuito de aplicar a totali-dade dos recursos disponíveis para o desenvolvimento da região”, complementa o secretário executivo, Valdecir Tose.

Balanço – A expectativa é que todos os esforços empenha-dos em 2015 gerem bons resultados como o que foi consoli-dado nos anos anteriores. Vale citar que em 2014 a instituição registrou, entre outros pontos, a elevação das receitas com operações de crédito da ordem de 26,4%, chegando a R$ 368,7 milhões; crescimento do resultado com Títulos e Valo-res Mobiliários (Operações de Tesouraria) de 21,7% em rela-ção ao ano anterior; aumento das receitas com tarifas bancá-rias em 33,4% no exercício, o que representa um volume financeiro de R$ 114,7 milhões; controle de despesas e melhora dos níveis de Provisão para Operações de Crédito (PCLD), através da qualificação do crédito; elevação de 73,4% no Resultado Operacional (R$ 290,8 milhões), em comparação com o exercício anterior.

“Esses resultados são fruto das ações estratégicas realiza-das através do Programa Supera Mais (Mais Clientes, Mais Negócios e Mais Resultados) e do esforço de cada um dos colaboradores na busca do fortalecimento do banco. A siner-gia entre Matriz e Rede de Atendimento foi fundamental para chegarmos ao final de 2014 com esse resultado significativo. Quem ganha com isso realmente é a Amazônia e o seu povo”, pontua o gerente Luiz Lourenço de Souza Neto.

relatório disponível base outu-bro/2014), apontados no Resultado Financeiro do Ban-co da Amazônia de 2014, indi-cam que a instituição está res-ponsável por 58,59% do cré-dito de fomento (longo pra-zo) aplicado na Região Norte. Ou seja, as demais institui-ções bancárias respondem juntas por apenas 41,41%.

Luiz Lourenço ratifica que o Banco da Amazônia é a principal instituição com foco específico no desenvol-vimento regional. “Há ban-cos privados atuando na Região Norte também com esse fim, mas não possuem a expertise do nosso banco, ou

seja, nenhuma instituição financeira conhece a Amazônia como nós conhecemos”, relata.

Resultados socioeconômicos – Os resultados desses investimentos têm reflexos diretos na diminuição do êxodo rural, minimização das desigualdades intra e inter-regionais, na inclusão social, redução da pobreza, aumento do Produto Interno Bruto (PIB) regional e ampliação da arrecadação tri-butária em toda a Região Amazônica. Mudanças que são cons-tatadas ao longo dos 72 anos de atuação do Banco da Amazô-nia e nos milhares de projetos beneficiados.

“Financiamos projetos em toda a cadeia produtiva, do setor primário à tecnologia de ponta. Com esses investimen-tos, ampliamos as contratações em todos os segmentos da economia, como a agricultura familiar, comércio e serviços, microcrédito, atividades florestais e empreendimentos de todos os portes”, acrescenta Luiz Lourenço de Souza Neto.

Os números calculados pelo banco traduzem os benefí-cios socioeconômicos para a região. Conforme explica o

gerente de Imagem e Comunicação, somente com os recursos do FNO, o impacto sobre o valor bruto da produção (VBP), ou seja, tudo que é gerado de riqueza no estado, chegou a R$ 48,9 bilhões. Já sobre o PIB, o impacto foi de R$ 25,5 bilhões em 2014. Os tributos oriundos das operações realizadas chegaram a R$ 7,3 bilhões e foram mais de 901 mil postos de tra-balho gerados e R$ 5,1 bilhões em salários.

Novas Ações – Para 2015, está na lista de investimentos iniciativas que agregam valor ao crescimento econômico. A exemplo, cita-se a empresa Fertilizantes Tocantins Ltda., que teve projeto contratado para a instalação da nova fi-lial no município de Barcarena–PA, no Porto de Vila do Conde. O empreendimento, finan-ciado pela instituição por meio da linha FNO Amazônia Sustentável, possui investimento de aproximadamente R$ 48,8 milhões. O projeto já foi aprovado e agora está em fase de contra-tação.

O gerente de Imagem e Comunicação do banco comenta que a nova unidade industrial é uma ampliação da empresa, que conta com fi-liais em São Luís, no Maranhão, e Querência, em Mato Grosso, sendo que a matriz é localiza-da na cidade de Porto Nacional, Tocantins. Com esse novo complexo, a indústria busca potencializar ainda mais a comercialização dos seus produtos por meio do embarque da soja que entra pelo Porto de Vila do Conde.

“Temos inúmeras iniciativas que merecem destaque. A cada ano nos consolidamos como parceiro essencial de todos que acreditam nesta região e ficamos mais fortes e necessá-rios. Isso nos enche de orgulho”, ressalta.

Parcerias – Para unir esforços em prol do desenvolvimento e manter o ritmo de crescimento, o banco busca parcerias estra-tégicas, tanto no setor público quanto privado. A fim de estrei-tar relações e divulgar os recursos disponíveis para 2015, além de prestar contas da atuação da instituição em 2014 nos esta-dos, nos meses de fevereiro e março deste ano, o presidente da instituição, Valmir Rossi, visitou os estados da Amazônia Legal. Na oportunidade, aproveitou para assinar Protocolos de Inten-ções junto a cada um dos estados onde atua.

O secretário Executivo de Estratégia, Organização e Pro-jeto (Seorp), Valdecir Tose, acompanhou o presidente nas visi-tas e explica que os Protocolos objetivam “construir parce-rias (poder público e privado) como forma de somar esforços a serviço do desenvolvimento local; assegurar recursos finan-ceiros para financiar investimento, custeio e capital de giro; garantir recursos financeiros para responder as necessidades dos investimentos em melhorias e/ou expansão da infraes-trutura econômica básica em áreas prioritárias; e impulsionar o desenvolvimento local, alinhados aos resultados prospecta-dos no plano de aplicação de recursos do FNO e no plano de aplicação dos recursos financeiros para 2015, elaborados pelo Banco da Amazônia”.

Danile Rebouças

RUMOS – 40 – Março/Abril 2015

Apoio ao desenvolvimento regionalPara 2015, o Banco da Amazônia espera aplicar R$ 8,4 bilhões na promoção do desenvolvimento integrado e sustentável, cerca de 14% a mais do que os recursos aplicados no ano passado

R$ ,48bilhões

FONTERealizado 2014

(R$ milhões)

Crédito de fomento 6.077,4

FNO 5.356,9

Demais Fontes* 720,5

Crédito comercial 1.299,8

Total 7.377,2

RECURSOS DISPONÍVEIS PARA A AMAZÔNIA EM 2015

Orçado 2015(R$ milhões)

7.377,2

6.580,00

15.160,00

1.420,00

1.850,00

Div

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Luiz Lourenço de Souza Neto, gerente de Imagem e Comunicação, e Valdecir Tose, secretário executivo do Bancoda Amazônia.

Fonte: Banco da Amazônia (Base: Dez/2014)

*FAT, OGU, FDAM, FDA/FOCO, FMM e Recursos Próprios

A AMAZÔNIA

E

2.557

6.088

4.5055.385

2011 2012 2013 2014

FOMENTO CONTRATADO (R$ milhões)

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Maria Celeste Emerick

PESQUISAARTIGO

m dos principais desafios para a inovação em saúde no Brasil é a complexidade técnica para a transformação do conhecimento gerado no laboratório em produto que atenda aos requi-

sitos regulatórios e chegue ao mercado. O financiamento de todas as etapas da geração da tecnologia e a integração dos instrumentos que financiam desde a pesquisa científica e o desen-volvimento tecnológico até o produto final é essencial para que o país dê um salto na capacidade de inovar, contri-buindo para a elevação da produtivi-dade e da competitividade da econo-mia brasileira.

Particularmente, as instituições públicas enfrentam alguns desafios a mais no que se refere à inovação dada sua natureza e função social, entre eles:

Interesse público x exploração eco-nômica equalizar o potencial de –exploração econômica das tecnologias desenvolvidas com os interesses públi-cos. Ao analisar a pertinência de um depósito de patente, por exemplo, o gestor público deve considerar, além dos requisitos legais, a coerência com as estratégias governamentais.

Parcerias para o desenvolvimento de tecnologia –encontrar atores dispostos a investir no desenvolvimento das fases intermediárias do processo de inovação.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem envidado esforços para levar à população brasileira o conteúdo do seu rico portfólio de tecnologias, sejam elas objetos de patentes ou não. A segunda versão do Portfólio de Inova-ção, lançada em dezembro de 2014 e disponível no site www.portfolioinovacao.fiocruz.br, apresenta algumas dessas tecnologias que buscam parcerias para otimizar a capacidade da instituição na geração de produtos para o

U Sistema Único de Saúde (SUS) e eventualmente para outros mercados.

Embora seja inegável a importância das políticas públi-cas de fortalecimento do complexo econômico e industrial da saúde no país, nota-se ainda dificuldades para a obtenção de financiamento para as etapas mais dispendiosas do pro-

cesso de inovação, para viabilizar novas tecnologias em escala industrial. A carência de recursos para realização de provas de conceito, escalonamento de processos de produção, elaboração de protótipos e pesquisa clínica é uma realidade enfrentada pelos gestores públicos.

Felizmente, o sucesso é obtido em alguns casos. Dentre os mais recentes produtos inovadores concebidos por meio do conhecimento gerado na Fiocruz está o biolarvicida “Dengue-Tech”, desenvolvido para o controle biológico dos mosquitos vetores da dengue. A parceria para esse projeto foi estabelecida por meio de um edital de oferta pública de licenciamento exclu-sivo de patente de titularidade da Fun-dação. A empresa brasileira BR3 inte-ressou-se pelo projeto e, após 47 meses

de trabalho de transferência da tecnologia e desenvolvi-mento, o produto está prestes a ser disponibilizado, concre-tizando o ciclo de inovação.

Apesar do arcabouço legal existente que visa estimular a inovação no país, é preciso aproximar os atores desse processo, eliminando o hiato entre as instituições de ciên-cia e tecnologia, os agentes financiadores e as empresas. Nesse contexto, os gestores públicos assumem, também, o papel de promotores do empreendedorismo. Identificar projetos com potencial, buscar mecanismos para o seu desenvolvimento, fontes de financiamento e potenciais parceiros estão entre os principais desafios diários desses profissionais.

RUMOS – 42 – Março/Abril 2015

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Os desafios da gestão pública frente à inovação

Coordenadora de Gestão Tecnológica da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz

“Identificar projetoscom potencial,

buscar mecanismos para o seu

desenvolvimento, fontes de financiamento

e potenciais parceiros estão entre os principais

desafios diários dos gestores públicos”

Page 43: Rumos - 280

AFAP Agência de Fomento do Estado do Amapá S/Awww.afap.ap.gov.br

AFEAM Agência de Fomento do Estado do Amazonas S/A www.afeam.am.gov.br

AFERR Agência de Fomento do Estado de Roraima S/A www.aferr.rr.gov.br

AGEFEPE Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S/A www.agefepe.pe.gov.br

AGERIO Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro S/A www.agerio.com.br

AGN Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S/A www.agnrn.com.br

BADESC Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S/A www.badesc.gov.br

BADESUL Badesul Desenvolvimento S/A – Agência de Fomento RS www.badesul.com.br

BANCO DA AMAZÔNIA Banco da Amazônia S/A www.bancoamazonia.com.br

BANCOOB Banco Cooperativo do Brasil S/A www.bancoob.com.br

BANDES Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A www.bandes.com.br

BANPARÁ Banco do Estado do Pará S/A www.banparanet.com.br

BB Banco do Brasil S/Awww.bb.com.br

BDMG Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais S/A www.bdmg.mg.gov.br

BNB Banco do Nordeste S/A www.bnb.gov.br

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social www.bndes.gov.br

BRB Banco de Brasília www.brb.com.br

BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul www.brde.com.br

CAIXA Caixa Econômica Federal www.caixa.gov.br

DESENBAHIA Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A www.desenbahia.ba.gov.br

DESENVOLVE Agência de Fomento do Estado de Alagoas S/A www.desenvolve-al.com.br

DESENVOLVE SP Agência de Desenvolvimento Paulista www.desenvolvesp.com.br

FINEP Inovação e Pesquisa www.finep.gov.br

FOMENTO PARANÁ Agência de Fomento doParaná S/Awww.fomento.pr.gov.br

GOIÁSFOMENTO Agência de Fomento do Estado de Goiás S/A www.fomento.goias.com.br

MT FOMENTO Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S/A www.mtfomento.mt.gov.br

PIAUÍ FOMENTO Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S/A www.fomento.pi.gov.br

SEBRAEServiço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas www.sebrae.com.br

SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

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PPELO MUNDO

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RUMOS – 45 – Março/Abril 2015

trajetória das políticas de fomento a microempre-endedores bolivianos é uma história de sucesso, especialmente a partir de 2006, com o início do governo de Evo Morales. Em relatório sobre ambi-ente de negócios para microfinanças, produzido

anualmente pela revista The Economist, a Bolívia usualmente apa-rece em posição de destaque – em 2013 obteve a segunda classi-ficação no ranking dos 55 países analisados pelo estudo. A “cam-peã do microcrédito”, como ficou conhecida, apresenta longa trajetória e vasta experiência em operações financeiras para microempreendimentos, com iniciativas duradouras, que remontam a meados da década de 1980, e que fazem do país um importante laboratório de inovações gerenciais e tecnológicas no ramo.

A princípio, as atividades de microcrédito na Bolívia foram organizadas em torno de organizações não governamentais (ONGs), estabelecidas especificamente para esta finalidade, contando, para sua capitalização, com recursos oriundos de agências de cooperação internacional, do setor privado nacional e do Fondo Social de Emergencia, do governo boliviano. Acreditava-se, então, na capacidade da economia local em absorver créditos desta natureza e no potencial de desenvolvi-mento de microempresas no país. De fato, em menos de cinco anos, em torno de 45 mil operações já haviam sido realizadas, totalizando mais de US$ 28 milhões em empréstimos.

Na primeira metade da década de 1990, o sucesso das ONGs viabilizou sua conversão em bancos especializados em microcrédito, transição pioneiramente empreendida pelo Banco Sol, sendo na atualidade o maior operador de microcré-dito da Bolívia, com mais de 248.960 clientes e carteira de crédi-to da ordem de US$ 1,1 bilhão (valores de outubro de 2014). A conversão de parte das ONGs em bancos especializados em microcrédito, regulados pela Autoridad de Supervisión del Sistema Financiero (ASFI), possibilitou ampliar ainda mais as atividades destas instituições, visto ter permitido captarem recursos do público, em geral por meio de depósitos em pou-

pança de seus próprios clientes, além de contribuir para o aumento da bancarização na Bolívia. Ao longo da década de 1990 e até princípios dos anos 2000, as operações cresceram e as instituições se consolidaram, tendo se tornado instrumentos fundamentais para a manutenção do crédito a microtomadores de empréstimo.

Em parte, o sucesso inicial da Bolívia, nas operações de microcrédito, se deve ao envolvimento de instituições de natu-reza privada, com e sem fins lucrativos. O apoio governamental se dava principalmente na definição de marcos regulatórios favo-ráveis, que permitiram o florescimento e aprimoramento da ati-vidade entre bancos comerciais, fundos financeiros privados, cooperativas e ONGs. No entanto, se o apoio inicial do poder público ao setor pode ser considerado coadjuvante, desde 2007, o governo boliviano não tem poupado esforços para que a expe-riência bem-sucedida do país com o microcrédito seja integrada a uma política mais ampla de fomento à atividade produtiva e ao desenvolvimento econômico, estratégia que tem contribuído em muito para sua expansão.

Cabe traçar, em linhas gerais, as características mais marcan-tes das operações de microcrédito na Bolívia e sua evolução recente. Em primeiro lugar, cumpre notar a convivência de modalidades distintas de instituições no setor. Além dos bancos comerciais regulares, que possuem operações de microcrédito em suas carteiras, de fundos financeiros privados e de coopera-tivas reguladas pelo poder público, os dois principais tipos de entidades atuantes são:

Entidades financeiras especializadas: subordinadas à regu-lação financeira da ASFI, estas entidades especializadas em microcrédito podem se capitalizar captando recursos junto ao público, o que contribui para sua relevância nas operações de microcrédito e no conjunto do sistema bancário boliviano. Altamente competitivas no mercado de crédito, as principais entidades estão organizadas na Asociación de Entidades Financieras Especializadas en Microfinanzas (Asofin), entre elas o Banco Sol, e tem papel central no aprimoramento geren-

cial e tecnológico das operações de microcrédito. Em dezembro de 2013, as sete principais entidades financeiras especializadas do país respondiam por carteira bruta da ordem de US$ 3,9 bilhões.

Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs): não podem captar recursos junto ao público, haja vista não estarem sujeitas à regulamentação da ASFI. Esta característica inibiu a ampliação das atividades destas instituições que, em dezembro de 2013, contavam com carteira bruta de aproximadamente US$ 525 milhões, bastante inferior ao valor verificado para as entidades financeiras especializadas, especialmente se levarmos em conta a quantidade comparativamente maior de IFDs em funcionamento. Atualmente, a Bolívia conta com 11 destas ins-tituições, organizadas na Asociación de Instituciones Financieras de Desarrollo (Finrural).

A relevância das operações de microcrédito no conjunto do sistema financeiro boliviano é evidenciada por seu peso relativo na carteira bruta do setor bancário, indicador marcado por traje-tória acentuadamente ascendente entre 2008, quando represen-tava 13,9% das operações, e 2013, quando alcançou 22,2%. Se considerarmos também as operações de instituições não bancá-rias, como as IFDs, a participação na carteira bruta total ultra-passa 26%, porcentagem bastante elevada, comparável a pou-cos países. Igualmente, a carteira bruta de operações de micro-crédito sobre o Produto Interno Bruto (PIB) boliviano cresceu 130%, no mesmo período, atingindo a marca de 8,3% em dezembro de 2013 (ver Tabela 1). Considerando apenas os dados apresentados pela Asofin, que não correspondem à tota-lidade das operações de microcrédito, mas são bastante repre-sentativos do conjunto do setor, temos 836.395 operações, con-centradas principalmente nas áreas de comércio, serviços e transportes, com valor médio de US$ 4.715, para dados de outu-bro de 2014. Entre janeiro de 2006 e outubro de 2014, o núme-ro de operações de microcrédito das instituições ligadas à Asofin cresceu 2,6 vezes, enquanto seu valor médio percebeu aumento de 178%.

Diante da indiscutível relevância das operações de micro-crédito para o setor bancário e para o conjunto da economia

boliviana, além do reconhecido potencial de expansão de tais operações, o governo boliviano tem procurado estender sua atu-ação, promovendo medidas estimuladoras e buscando rearticu-lar a inserção e experiência das já existentes instituições de microcrédito a seu programa de desenvolvimento econômico. Do ponto de vista do ambiente financeiro, em geral, e de seu impacto sobre as operações de microcrédito, em específico, é importante notar que o enfrentamento da crise econômica por parte do governo Morales levou à redução das taxas de juros, marcadamente daquelas com prazos relativamente mais curtos, como é o caso das operações de microcrédito. Para emprésti-mos com prazo entre 180 e 360 dias, por exemplo, a taxa de juros nominal praticada pelo setor bancário caiu de 35,02% em 2002 para 7,39% em 2013. Esse estímulo possivelmente favore-ceu o crescimento observado nas operações de microcrédito.

Além disso, com a implementação do Plan Nacional de Desarrollo, foi criado o Banco de Desarrollo Productivo (BDP), com a missão de atuar como braço financeiro do gover-no central para a execução de seu plano de desenvolvimento. A instituição, que opera na intermediação de recursos públicos para entidades financeiras privadas, tem entre seus principais fundos o Fideicomiso para el Desarrollo Productivo (FPD), contando com cerca de US$ 300 milhões em empréstimos acu-mulados, destinados ao microcrédito individual e associativo. O valor pouco significativo, em relação ao conjunto das operações de microcrédito, acompanha a presença ainda incipiente do BDP no sistema bancário boliviano, com participação de ape-nas 2,4% no total da carteira bruta, e 0,9% em relação ao PIB. Cabe observar, entretanto, os esforços recentes do governo para ampliar o montante de recursos disponível, bem como a forma de atuação do banco, que passará a conceder emprésti-mos diretamente. Espera-se que essa experiência com o fomen-to de economias locais via microcrédito, que sempre contou com a participação da iniciativa privada, se beneficie da disposi-ção do governo Morales em atuar mais decididamente no setor.

Ainda nesse sentido, os dispositivos da Ley de Servicios Financieros, promulgada em agosto de 2013 e também articula-da ao Plan de Desarrollo Productivo, define novo marco regula-tório para as operações de microcrédito, estabelecendo, entre outras disposições, quotas para empréstimos a setores produti-vos e habitação, requisitos especiais para operações na zona rural e teto para definição de taxas de juros. As medidas previs-tas para o setor, nessa nova legislação, podem representar um incentivo interessante ao direcionamento de recursos privados para setores considerados estratégicos, conforme definição do plano de desenvolvimento.

Espera-se que a integração entre a bem-sucedida trajetória boliviana nas operações de microcrédito e o novo Plan Nacional

de Desarrollo produza resultados altamente positivos, possibilitando uma política estruturada de desen-volvimento econômico, e também inclusiva das potencialidades dos microempreendedores da Bolívia. Seguramente, trata-se de um exem-plo que nos convida a repensar o potencial de políticas de fomento ao microcrédito no interior da pro-blemática mais geral sobre desen-volvimento econômico.

RUMOS – 44 – Março/Abril 2015

Andrej Slivnik

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O oitavo artigo da série foi escrito por Andrej Slivnik e trata do sistema de microcrédito da Bolívia. Aprendemos com o texto que o vizinho sul-americano conta com uma vasta rede de apoio a microempreendedores, conciliando o público e o privado, na missão de fortalecer o sistema. Andrej é economista, formado pela Universidade de Campinas (Unicamp), e mestrando pela mesma instituição. Foi pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), e assessorou a Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo.

Microcrédito e Desenvolvimento Produtivo na Bolívia

Participação das operações de microcrédito no setor bancário e no PIB – Bolívia

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Bolívia. Elaboração própria.

3,5 4,0 5,8 5,9 7,5 8,3

13,9 14,2 18,7 18,3 21,5 22,2Carteira bruta de operações de microcrédito / carteira bruta total do setor bancário (%)

2008 2009 2010 2011 2012 2013

Carteira bruta de operações de microcrédito / PIB (%)

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RUMOS – 45 – Março/Abril 2015

trajetória das políticas de fomento a microempre-endedores bolivianos é uma história de sucesso, especialmente a partir de 2006, com o início do governo de Evo Morales. Em relatório sobre ambi-ente de negócios para microfinanças, produzido

anualmente pela revista The Economist, a Bolívia usualmente apa-rece em posição de destaque – em 2013 obteve a segunda classi-ficação no ranking dos 55 países analisados pelo estudo. A “cam-peã do microcrédito”, como ficou conhecida, apresenta longa trajetória e vasta experiência em operações financeiras para microempreendimentos, com iniciativas duradouras, que remontam a meados da década de 1980, e que fazem do país um importante laboratório de inovações gerenciais e tecnológicas no ramo.

A princípio, as atividades de microcrédito na Bolívia foram organizadas em torno de organizações não governamentais (ONGs), estabelecidas especificamente para esta finalidade, contando, para sua capitalização, com recursos oriundos de agências de cooperação internacional, do setor privado nacional e do Fondo Social de Emergencia, do governo boliviano. Acreditava-se, então, na capacidade da economia local em absorver créditos desta natureza e no potencial de desenvolvi-mento de microempresas no país. De fato, em menos de cinco anos, em torno de 45 mil operações já haviam sido realizadas, totalizando mais de US$ 28 milhões em empréstimos.

Na primeira metade da década de 1990, o sucesso das ONGs viabilizou sua conversão em bancos especializados em microcrédito, transição pioneiramente empreendida pelo Banco Sol, sendo na atualidade o maior operador de microcré-dito da Bolívia, com mais de 248.960 clientes e carteira de crédi-to da ordem de US$ 1,1 bilhão (valores de outubro de 2014). A conversão de parte das ONGs em bancos especializados em microcrédito, regulados pela Autoridad de Supervisión del Sistema Financiero (ASFI), possibilitou ampliar ainda mais as atividades destas instituições, visto ter permitido captarem recursos do público, em geral por meio de depósitos em pou-

pança de seus próprios clientes, além de contribuir para o aumento da bancarização na Bolívia. Ao longo da década de 1990 e até princípios dos anos 2000, as operações cresceram e as instituições se consolidaram, tendo se tornado instrumentos fundamentais para a manutenção do crédito a microtomadores de empréstimo.

Em parte, o sucesso inicial da Bolívia, nas operações de microcrédito, se deve ao envolvimento de instituições de natu-reza privada, com e sem fins lucrativos. O apoio governamental se dava principalmente na definição de marcos regulatórios favo-ráveis, que permitiram o florescimento e aprimoramento da ati-vidade entre bancos comerciais, fundos financeiros privados, cooperativas e ONGs. No entanto, se o apoio inicial do poder público ao setor pode ser considerado coadjuvante, desde 2007, o governo boliviano não tem poupado esforços para que a expe-riência bem-sucedida do país com o microcrédito seja integrada a uma política mais ampla de fomento à atividade produtiva e ao desenvolvimento econômico, estratégia que tem contribuído em muito para sua expansão.

Cabe traçar, em linhas gerais, as características mais marcan-tes das operações de microcrédito na Bolívia e sua evolução recente. Em primeiro lugar, cumpre notar a convivência de modalidades distintas de instituições no setor. Além dos bancos comerciais regulares, que possuem operações de microcrédito em suas carteiras, de fundos financeiros privados e de coopera-tivas reguladas pelo poder público, os dois principais tipos de entidades atuantes são:

Entidades financeiras especializadas: subordinadas à regu-lação financeira da ASFI, estas entidades especializadas em microcrédito podem se capitalizar captando recursos junto ao público, o que contribui para sua relevância nas operações de microcrédito e no conjunto do sistema bancário boliviano. Altamente competitivas no mercado de crédito, as principais entidades estão organizadas na Asociación de Entidades Financieras Especializadas en Microfinanzas (Asofin), entre elas o Banco Sol, e tem papel central no aprimoramento geren-

cial e tecnológico das operações de microcrédito. Em dezembro de 2013, as sete principais entidades financeiras especializadas do país respondiam por carteira bruta da ordem de US$ 3,9 bilhões.

Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs): não podem captar recursos junto ao público, haja vista não estarem sujeitas à regulamentação da ASFI. Esta característica inibiu a ampliação das atividades destas instituições que, em dezembro de 2013, contavam com carteira bruta de aproximadamente US$ 525 milhões, bastante inferior ao valor verificado para as entidades financeiras especializadas, especialmente se levarmos em conta a quantidade comparativamente maior de IFDs em funcionamento. Atualmente, a Bolívia conta com 11 destas ins-tituições, organizadas na Asociación de Instituciones Financieras de Desarrollo (Finrural).

A relevância das operações de microcrédito no conjunto do sistema financeiro boliviano é evidenciada por seu peso relativo na carteira bruta do setor bancário, indicador marcado por traje-tória acentuadamente ascendente entre 2008, quando represen-tava 13,9% das operações, e 2013, quando alcançou 22,2%. Se considerarmos também as operações de instituições não bancá-rias, como as IFDs, a participação na carteira bruta total ultra-passa 26%, porcentagem bastante elevada, comparável a pou-cos países. Igualmente, a carteira bruta de operações de micro-crédito sobre o Produto Interno Bruto (PIB) boliviano cresceu 130%, no mesmo período, atingindo a marca de 8,3% em dezembro de 2013 (ver Tabela 1). Considerando apenas os dados apresentados pela Asofin, que não correspondem à tota-lidade das operações de microcrédito, mas são bastante repre-sentativos do conjunto do setor, temos 836.395 operações, con-centradas principalmente nas áreas de comércio, serviços e transportes, com valor médio de US$ 4.715, para dados de outu-bro de 2014. Entre janeiro de 2006 e outubro de 2014, o núme-ro de operações de microcrédito das instituições ligadas à Asofin cresceu 2,6 vezes, enquanto seu valor médio percebeu aumento de 178%.

Diante da indiscutível relevância das operações de micro-crédito para o setor bancário e para o conjunto da economia

boliviana, além do reconhecido potencial de expansão de tais operações, o governo boliviano tem procurado estender sua atu-ação, promovendo medidas estimuladoras e buscando rearticu-lar a inserção e experiência das já existentes instituições de microcrédito a seu programa de desenvolvimento econômico. Do ponto de vista do ambiente financeiro, em geral, e de seu impacto sobre as operações de microcrédito, em específico, é importante notar que o enfrentamento da crise econômica por parte do governo Morales levou à redução das taxas de juros, marcadamente daquelas com prazos relativamente mais curtos, como é o caso das operações de microcrédito. Para emprésti-mos com prazo entre 180 e 360 dias, por exemplo, a taxa de juros nominal praticada pelo setor bancário caiu de 35,02% em 2002 para 7,39% em 2013. Esse estímulo possivelmente favore-ceu o crescimento observado nas operações de microcrédito.

Além disso, com a implementação do Plan Nacional de Desarrollo, foi criado o Banco de Desarrollo Productivo (BDP), com a missão de atuar como braço financeiro do gover-no central para a execução de seu plano de desenvolvimento. A instituição, que opera na intermediação de recursos públicos para entidades financeiras privadas, tem entre seus principais fundos o Fideicomiso para el Desarrollo Productivo (FPD), contando com cerca de US$ 300 milhões em empréstimos acu-mulados, destinados ao microcrédito individual e associativo. O valor pouco significativo, em relação ao conjunto das operações de microcrédito, acompanha a presença ainda incipiente do BDP no sistema bancário boliviano, com participação de ape-nas 2,4% no total da carteira bruta, e 0,9% em relação ao PIB. Cabe observar, entretanto, os esforços recentes do governo para ampliar o montante de recursos disponível, bem como a forma de atuação do banco, que passará a conceder emprésti-mos diretamente. Espera-se que essa experiência com o fomen-to de economias locais via microcrédito, que sempre contou com a participação da iniciativa privada, se beneficie da disposi-ção do governo Morales em atuar mais decididamente no setor.

Ainda nesse sentido, os dispositivos da Ley de Servicios Financieros, promulgada em agosto de 2013 e também articula-da ao Plan de Desarrollo Productivo, define novo marco regula-tório para as operações de microcrédito, estabelecendo, entre outras disposições, quotas para empréstimos a setores produti-vos e habitação, requisitos especiais para operações na zona rural e teto para definição de taxas de juros. As medidas previs-tas para o setor, nessa nova legislação, podem representar um incentivo interessante ao direcionamento de recursos privados para setores considerados estratégicos, conforme definição do plano de desenvolvimento.

Espera-se que a integração entre a bem-sucedida trajetória boliviana nas operações de microcrédito e o novo Plan Nacional

de Desarrollo produza resultados altamente positivos, possibilitando uma política estruturada de desen-volvimento econômico, e também inclusiva das potencialidades dos microempreendedores da Bolívia. Seguramente, trata-se de um exem-plo que nos convida a repensar o potencial de políticas de fomento ao microcrédito no interior da pro-blemática mais geral sobre desen-volvimento econômico.

RUMOS – 44 – Março/Abril 2015

Andrej Slivnik

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O oitavo artigo da série foi escrito por Andrej Slivnik e trata do sistema de microcrédito da Bolívia. Aprendemos com o texto que o vizinho sul-americano conta com uma vasta rede de apoio a microempreendedores, conciliando o público e o privado, na missão de fortalecer o sistema. Andrej é economista, formado pela Universidade de Campinas (Unicamp), e mestrando pela mesma instituição. Foi pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), e assessorou a Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo.

Microcrédito e Desenvolvimento Produtivo na Bolívia

Participação das operações de microcrédito no setor bancário e no PIB – Bolívia

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Bolívia. Elaboração própria.

3,5 4,0 5,8 5,9 7,5 8,3

13,9 14,2 18,7 18,3 21,5 22,2Carteira bruta de operações de microcrédito / carteira bruta total do setor bancário (%)

2008 2009 2010 2011 2012 2013

Carteira bruta de operações de microcrédito / PIB (%)

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A Agência de Fomento do Estado de Roraima (Aferr) se prepara para grandes mudanças. De acordo com o presiden-te da instituição, Weberson Reis Pessoa, o atual desafio da Aferr é sedimentar as bases de nossa economia e inserir o estado na agenda desenvolvimentista do século 21, tendo como pauta o uso de novas tecnologias e de serviços de valor agregado.

Para alcançar esse objetivo, a agência iniciou um traba-lho para expandir o apoio às micro e pequenas empresas e também para ampliação das parcerias em setores da chama-da “Economia do Conhecimento”. “No conceito Econo-mia do Conhecimento vamos buscar parceiros interessa-dos em unir forças. Também está no nosso planejamento estratégico a capacitação e treinamento de nossos colabo-radores para poder oferecer um atendimento de qualidade e identificar os potenciais tomadores de crédito.”, destaca o presidente.

De acordo com o presidente, a instituição já tem assegu-rado pouco mais de R$ 4 milhões, valor aprovado no orça-mento do estado e disponibilizado no Fundo de Desenvol-vimento do Estado de Roraima (Funder). Com esses recur-sos, serão mantidas as atuais linhas de investimento, entre elas a do microcrédito que disponibiliza recursos na ordem de R$ 3 mil reais para pessoa física e até R$ 7 mil reais para pessoa jurídica. “Temos uma grande agenda a cumprir por-que nossa economia está carente da injeção de recursos em atividades que vão gerar bens e serviços, aumentando assim nossa produção.”

Já no que se refere à produção, a Aferr realiza estudos para ampliar as ações no interior do estado e incentivar os pequenos agricultores, comerciantes e trabalhadores autô-nomos da economia informal. Haverá também a retomada de um dos produtos já desenvolvidos pela agência, o Balcão de Ferramentas, para promover o financiamento de ferra-mentas essenciais ao trabalhador autônomo. Máquinas para a venda de cachorro-quente e de sorvete, ferramentas de serralheria, máquinas de costura são os itens a serem traba-lhados nesta modalidade.

RUMOS – – Março/Abril 2015 46 RUMOS – – Março/Abril 2015 47

A Agência Es-tadual de Fomento (AgeRio) e a prefei-tura de Vassouras firmaram convênio para viabilizar a oferta do Microcré-dito AgeRio, linha que disponibiliza créditos de R$ 300 a R$ 15 mil, com taxas de juros a partir de 1,21% ao mês, a empresários dos municípios conveniados. A assinatura, feita pelo presidente da agência de fomento Domingos Vargas e o prefeito Renan Vinicius, ocorreu na sede da prefeitura da cida-de da região sul fluminense.

O acordo prevê que as prefeituras disponibilizem espaço e mão de obra para atuar na captação de operações de micro-crédito, enquanto a AgeRio fica responsável pelas análises de projetos e de risco das operações, além dos financiamentos em si. Os servidores que atuam no programa recebem treina-mento da agência de fomento e do Sebrae.

A AgeRio já firmou convênios com as prefeituras de Itatia-ia, Levy Gasparian, Macaé, Miracema, Pinheiral, Piraí, Resen-de, Seropédica, Três Rios e Volta Redonda, todas no interior do estado.

F FOMENTO

A Agência de Fomento do Ama-z o n a s ( A f e a m ) iniciou, em abril, as ações itinerantes de crédito, que acon-tecerão ao longo deste ano nos 61 m u n i c í p i o s d o interior do Amazo-nas. A primeira etapa do atendimento acontece nos municí-pios da calha do Juruá: Guajará, Ipixuna, Envira, Eirunepé, Itamarati, Carauari e Juruá. Neste ano, a sistemática de atendimento será diferenciada: demandas para o setor pri-mário terão a recepção de propostas de financiamento de abril até outubro do corrente ano. Para essa ação, a agência contará com o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (Idam) como parceiro técnico. Já o atendimento dos setores secundário e terciário será realiza-do, na primeira etapa, pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (Sebrae) e, na segunda, pela própria Afeam.

Fomento Paraná e BRDE se unem para apoiar projetos de inovação

Novo foco e desafio da Aferr

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A Carteira de Desenvolvimento do Banco de Brasília (BRB) apoia diversos projetos destinados ao empresariado do Distrito Federal, principalmente aqueles voltados para as micro e pequenas empresas. Em março, foram inauguradas as fran-quias Giraffas e Tostex. O projeto de implantação contou com o apoio do banco por meio do financiamento com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). “Estamos muito satisfeitos com esta operação, pois tra-ta-se de um banco local, financiando um empreendimento tam-bém local, por meio de recursos do Fundo Constitucional. Além disso, o novo negócio permitirá a abertura de 37 empre-gos diretos e de 12 indiretos, e contribuirá para o desenvolvi-mento do DF”, afirmou Nilban de Melo Júnior, vice-presidente do BRB. O banco financia projetos de implantação, ampliação e modernização de franquias, por meio dos recursos de repasse do FCO e do BNDES.

BRB apoia investimentos em franquias no DF

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AgeRio firma convênio com prefeitura para microcrédito

O Paraná está participando da criação de um fundo de investimento para apoiar novas empresas que apresentam projetos inovadores e com altíssimo potencial de crescimento e de geração de lucros em pouco tempo, mas que não possuem recursos próprios para investir, nem garantias suficientes para oferecer. Por meio da Agência de Fomento do Paraná (Fo-mento Paraná) e do Banco Regional de Desen-volvimento do Extremo Sul (BRDE), o estado

comprometeu-se em aportar recursos em um Fundo de Investimento em Participação (FIP), que está sendo criado com apoio financeiro da Finep.

O fundo terá capital inicial de R$ 50 milhões e será gerido pela BZPlan. A empresa, que tem sede em Santa Catarina, venceu o edital público nacional lançado pela Finep e desde 2011 administra outro fundo semelhante, no estado vizinho, com histórico de sucesso em projetos de investimento pro-missores.

Para o presidente da Fomento Paraná, Juraci Barbosa, o estado possui importantes ativos institucionais na área de inovação e amplia sua atuação na área ao entrar em um fundo desse tipo, equiparando-se aos estados vizinhos que já são referência no assunto. “Dinheiro é um produto muito caro. Especialmente em um país com altas taxas de juros. Precisa-mos apoiar alternativas como este fundo, para viabilizar recursos mais baratos para que as empresas possam crescer e se desenvolver.”

O superintendente da agência paranaense do BRDE, Paulo Cesar Starke Junior, exaltou a importância do trabalho que está em curso para a criação do fundo e lembrou que a instituição foi a maior repassadora de recursos para inovação no Brasil, em 2014. Dentro dos programas do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – MPME Inovadora e Inovagro – o banco aplicou R$ 208,35 milhões em 309 contratos. E, entre os credenciados à Finep, o banco alavancou R$ 54,40 milhões para 22 projetos de investimento.

“O BRDE voltou-se para a inovação em 2014 com linhas para financiamento e aprovou a possi-bilidade de aportar recursos em fundos de investimento em empresas nascentes. Vamos a fundo nos estudos com o objetivo de viabilizar a ação que está sendo proposta”, disse Starke.

Na prática, o fundo de investimento em participação, ou fundo de capital semente, é um sócio que entra com o dinhei-ro e com as responsabilidades de sócio. O projeto de implan-tação do fundo prevê quatro anos de investimento nas empre-sas escolhidas e outros quatro anos para desinvestimento, que é a venda da participação do fundo na empresa apoiada.

O BNDES criou nova modalidade de garantia para o Fundo Garantidor para Investimentos – FGI. Nela, passa a ser permitido que micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) e microempreendedores individuais também contratem garantias para operações com recursos de outros bancos.

Dessa forma, o banco continua fomentando o desenvol-vimento do país sem a exigência de alocação de recursos financeiros próprios e estimula a ampliação dos investimen-tos com recursos privados.

Anteriormente, só era possível contratar a garantia do BNDES FGI para operações com recursos do próprio BNDES. O novo produto, denominado BNDES FGI Crédi-to Livre, permite que o cliente contrate o financiamento com recursos de outra instituição financeira e a garantia com o BNDES FGI.

No desenvolvi-mento do produto, o BNDES contou com a colaboração da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), da Finep e dos agentes financei-ros cotistas do Fundo.

BNDES amplia oferta de garantias para MPMEs

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Afeam promove ações itinerantesde crédito

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A Agência de Fomento do Estado de Roraima (Aferr) se prepara para grandes mudanças. De acordo com o presiden-te da instituição, Weberson Reis Pessoa, o atual desafio da Aferr é sedimentar as bases de nossa economia e inserir o estado na agenda desenvolvimentista do século 21, tendo como pauta o uso de novas tecnologias e de serviços de valor agregado.

Para alcançar esse objetivo, a agência iniciou um traba-lho para expandir o apoio às micro e pequenas empresas e também para ampliação das parcerias em setores da chama-da “Economia do Conhecimento”. “No conceito Econo-mia do Conhecimento vamos buscar parceiros interessa-dos em unir forças. Também está no nosso planejamento estratégico a capacitação e treinamento de nossos colabo-radores para poder oferecer um atendimento de qualidade e identificar os potenciais tomadores de crédito.”, destaca o presidente.

De acordo com o presidente, a instituição já tem assegu-rado pouco mais de R$ 4 milhões, valor aprovado no orça-mento do estado e disponibilizado no Fundo de Desenvol-vimento do Estado de Roraima (Funder). Com esses recur-sos, serão mantidas as atuais linhas de investimento, entre elas a do microcrédito que disponibiliza recursos na ordem de R$ 3 mil reais para pessoa física e até R$ 7 mil reais para pessoa jurídica. “Temos uma grande agenda a cumprir por-que nossa economia está carente da injeção de recursos em atividades que vão gerar bens e serviços, aumentando assim nossa produção.”

Já no que se refere à produção, a Aferr realiza estudos para ampliar as ações no interior do estado e incentivar os pequenos agricultores, comerciantes e trabalhadores autô-nomos da economia informal. Haverá também a retomada de um dos produtos já desenvolvidos pela agência, o Balcão de Ferramentas, para promover o financiamento de ferra-mentas essenciais ao trabalhador autônomo. Máquinas para a venda de cachorro-quente e de sorvete, ferramentas de serralheria, máquinas de costura são os itens a serem traba-lhados nesta modalidade.

RUMOS – – Março/Abril 2015 46 RUMOS – – Março/Abril 2015 47

A Agência Es-tadual de Fomento (AgeRio) e a prefei-tura de Vassouras firmaram convênio para viabilizar a oferta do Microcré-dito AgeRio, linha que disponibiliza créditos de R$ 300 a R$ 15 mil, com taxas de juros a partir de 1,21% ao mês, a empresários dos municípios conveniados. A assinatura, feita pelo presidente da agência de fomento Domingos Vargas e o prefeito Renan Vinicius, ocorreu na sede da prefeitura da cida-de da região sul fluminense.

O acordo prevê que as prefeituras disponibilizem espaço e mão de obra para atuar na captação de operações de micro-crédito, enquanto a AgeRio fica responsável pelas análises de projetos e de risco das operações, além dos financiamentos em si. Os servidores que atuam no programa recebem treina-mento da agência de fomento e do Sebrae.

A AgeRio já firmou convênios com as prefeituras de Itatia-ia, Levy Gasparian, Macaé, Miracema, Pinheiral, Piraí, Resen-de, Seropédica, Três Rios e Volta Redonda, todas no interior do estado.

F FOMENTO

A Agência de Fomento do Ama-z o n a s ( A f e a m ) iniciou, em abril, as ações itinerantes de crédito, que acon-tecerão ao longo deste ano nos 61 m u n i c í p i o s d o interior do Amazo-nas. A primeira etapa do atendimento acontece nos municí-pios da calha do Juruá: Guajará, Ipixuna, Envira, Eirunepé, Itamarati, Carauari e Juruá. Neste ano, a sistemática de atendimento será diferenciada: demandas para o setor pri-mário terão a recepção de propostas de financiamento de abril até outubro do corrente ano. Para essa ação, a agência contará com o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (Idam) como parceiro técnico. Já o atendimento dos setores secundário e terciário será realiza-do, na primeira etapa, pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (Sebrae) e, na segunda, pela própria Afeam.

Fomento Paraná e BRDE se unem para apoiar projetos de inovação

Novo foco e desafio da Aferr

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A Carteira de Desenvolvimento do Banco de Brasília (BRB) apoia diversos projetos destinados ao empresariado do Distrito Federal, principalmente aqueles voltados para as micro e pequenas empresas. Em março, foram inauguradas as fran-quias Giraffas e Tostex. O projeto de implantação contou com o apoio do banco por meio do financiamento com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). “Estamos muito satisfeitos com esta operação, pois tra-ta-se de um banco local, financiando um empreendimento tam-bém local, por meio de recursos do Fundo Constitucional. Além disso, o novo negócio permitirá a abertura de 37 empre-gos diretos e de 12 indiretos, e contribuirá para o desenvolvi-mento do DF”, afirmou Nilban de Melo Júnior, vice-presidente do BRB. O banco financia projetos de implantação, ampliação e modernização de franquias, por meio dos recursos de repasse do FCO e do BNDES.

BRB apoia investimentos em franquias no DF

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AgeRio firma convênio com prefeitura para microcrédito

O Paraná está participando da criação de um fundo de investimento para apoiar novas empresas que apresentam projetos inovadores e com altíssimo potencial de crescimento e de geração de lucros em pouco tempo, mas que não possuem recursos próprios para investir, nem garantias suficientes para oferecer. Por meio da Agência de Fomento do Paraná (Fo-mento Paraná) e do Banco Regional de Desen-volvimento do Extremo Sul (BRDE), o estado

comprometeu-se em aportar recursos em um Fundo de Investimento em Participação (FIP), que está sendo criado com apoio financeiro da Finep.

O fundo terá capital inicial de R$ 50 milhões e será gerido pela BZPlan. A empresa, que tem sede em Santa Catarina, venceu o edital público nacional lançado pela Finep e desde 2011 administra outro fundo semelhante, no estado vizinho, com histórico de sucesso em projetos de investimento pro-missores.

Para o presidente da Fomento Paraná, Juraci Barbosa, o estado possui importantes ativos institucionais na área de inovação e amplia sua atuação na área ao entrar em um fundo desse tipo, equiparando-se aos estados vizinhos que já são referência no assunto. “Dinheiro é um produto muito caro. Especialmente em um país com altas taxas de juros. Precisa-mos apoiar alternativas como este fundo, para viabilizar recursos mais baratos para que as empresas possam crescer e se desenvolver.”

O superintendente da agência paranaense do BRDE, Paulo Cesar Starke Junior, exaltou a importância do trabalho que está em curso para a criação do fundo e lembrou que a instituição foi a maior repassadora de recursos para inovação no Brasil, em 2014. Dentro dos programas do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – MPME Inovadora e Inovagro – o banco aplicou R$ 208,35 milhões em 309 contratos. E, entre os credenciados à Finep, o banco alavancou R$ 54,40 milhões para 22 projetos de investimento.

“O BRDE voltou-se para a inovação em 2014 com linhas para financiamento e aprovou a possi-bilidade de aportar recursos em fundos de investimento em empresas nascentes. Vamos a fundo nos estudos com o objetivo de viabilizar a ação que está sendo proposta”, disse Starke.

Na prática, o fundo de investimento em participação, ou fundo de capital semente, é um sócio que entra com o dinhei-ro e com as responsabilidades de sócio. O projeto de implan-tação do fundo prevê quatro anos de investimento nas empre-sas escolhidas e outros quatro anos para desinvestimento, que é a venda da participação do fundo na empresa apoiada.

O BNDES criou nova modalidade de garantia para o Fundo Garantidor para Investimentos – FGI. Nela, passa a ser permitido que micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) e microempreendedores individuais também contratem garantias para operações com recursos de outros bancos.

Dessa forma, o banco continua fomentando o desenvol-vimento do país sem a exigência de alocação de recursos financeiros próprios e estimula a ampliação dos investimen-tos com recursos privados.

Anteriormente, só era possível contratar a garantia do BNDES FGI para operações com recursos do próprio BNDES. O novo produto, denominado BNDES FGI Crédi-to Livre, permite que o cliente contrate o financiamento com recursos de outra instituição financeira e a garantia com o BNDES FGI.

No desenvolvi-mento do produto, o BNDES contou com a colaboração da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), da Finep e dos agentes financei-ros cotistas do Fundo.

BNDES amplia oferta de garantias para MPMEs

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RUMOS – 49 – Março/Abril 2015

á quase 30 anos os profissionais que analisam empresas se depararam com o que passou a ser chamado de para-doxo da produtividade. O conceito

foi popularizado como sendo o Paradoxo de Solow, em referência ao Prêmio Nobel de Eco-nomia de 1987, Professor Robert Solow, que afirmou (em 1987): “eu vejo a era dos computa-dores em todos os lugares exceto nas estatísti-cas de produtividade!”.

Apesar de relativo avanço recente na pesquisa acerca deste paradoxo, muitas questões permane-cem sem respostas definitivas. E a dificuldade pare-ce residir na velocidade, na profundidade e na com-plexidade das transformações impostas pela revo-lução digital em curso. No livro The Second Machine Age, os Professores do MIT/EUA Erik Brynjolf-sson e Andrew McAfee apontam que os computa-dores e outros avanços estão trazendo para o poder mental aquilo que o engenho a vapor e seus descendentes trouxeram para o poder muscular.

As empresas estão no centro desta discussão, já que são elas que transformam insumos em pro-dutos, e a forma como elas fazem esta conversão é a chave para o entendimento da origem do suces-so econômico. Mas para entender a produtividade na atual revolução digital, faz-se necessário enten-der como a empresa é idealizada, seu modelo de negócio, como ela é constituída e gerenciada, e como ela evolui no tempo.

Este foi o desafio que levou ao desenvolvimento do livro recentemente publicado nos EUA, intitulado Effects of IT on Enterprise Architecture, Governance and Growth. Para enfrentar este desafio, partiu-se da constatação inicial de que existem três visões dominantes associadas com a empresa: a visão econômi-ca, a visão do homem/mulher de negócio, e a do profissional de tecnologias de informação e comunicação – TICs. No entanto faltava na literatura um arcabouço unificado que pudesse articu-lar estas três distintas, mas inter-relacionadas, visões.

E foi assim que se chegou ao modelo sugerido no livro, que trata destas três visões a partir de três dimensões da vida da empresa, e ajuda a entender como estas três dimensões afetam uma a outra. O modelo é denominado Arquitetura-Governança-Crescimento. A tese central deste modelo é a de que as caracte-rísticas arquiteturais da empresa determinam as suas questões de governança, e que a agenda de governança determina suas con-dições mensuráveis de crescimento.

A empresa no século 21

L LIVROS

A ideia básica do modelo repousa sobre o conceito da arquitetura da empresa (conceito hoje padronizado internacionalmente pelo Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Ele-trônicos – IEEE). As características observá-veis da empresa são aquelas relacionadas com seu projeto, estrutura, funcionamento e ges-tão. No modelo elas são constituídas tanto pelas peculiaridades do domínio corporativo quanto por aquelas do domínio dos conteú-dos, dos sistemas e das TICs.

Além da sua dimensão arquitetural, o modelo incorpora as dimensões de governan-ça e de crescimento. No livro é argumentado em detalhe que a dimensão de governança (que compreende tanto a esfera corporativa como a esfera das TICs) é chave para conectar a arquitetura das empresas e a arquitetura dos mercados (conceito também definido no livro) ao crescimento da empresa e ao cresci-mento dos mercados. Neste sentido, a partir desta dimensão é possível compreender melhor a complexa questão de como a estru-tura de propriedade da empresa está relacio-nada à sua arquitetura e ao seu desempenho. Através dela também se podeM observar dois outros canais pelos quais a governança pode ser analisada: a conexão entre a governança corporativa e a estrutura do capital, e a cone-

xão entre a estrutura do capital e a estrutura de propriedade.O último componente do modelo é a sua dimensão de cresci-

mento, já que há importantes argumentos para a inclusão desta dimensão: a) Primeiro, o crescimento da empresa está relacionado à sua sobrevivência; b) Segundo, associando-se à importância do crescimento da empresa, está seu efeito sobre o crescimento eco-nômico; e c) Terceiro, o crescimento da empresa é um meio para a introdução de inovações, e está na base da mudança tecnológica.

O livro, que contém 15 capítulos, está organizado em cinco partes. Espera-se que ele preencha as expectativas de analistas de empresas, gestores de negócios, gestores de TICs, bem como estudantes em geral, interessados numa perspectiva multidiscipli-nar da análise das empresas, a partir de um modelo simples e ino-vador para lidar com a complexidade da empresa neste século 21.

O professor José Carlos Cavalcanti apresenta para a Rumos sua mais recente obra, editada por uma editora americana, que trata dos efeitos da Tecnologia da Informação na arquitetura, na governança e no crescimento das empresas. O livro, em inglês, também pode ser encontrado no Brasil.

RUMOS – 48 – Março/Abril 2015

H

Nos últimos dois séculos, a população e o produto per capita dos países latino-americanos cres-ceram exponencialmente. Por isso, a história econômica da América Latina neste período pode ser apre-sentada como uma história de desenvolvimento. Também foram observadas melhorias relevantes em expectativa de vida e educação, enquanto a porcentagem da popu-lação em condições de pobreza tem caído substancialmente. No entanto a história econômica da América Latina também é uma his-tória de frustrações. Nenhum país conseguiu se juntar aos líderes do desenvolvimento mundial e, mais além de flutuações e saltos de cres-cimento, no longo prazo a distân-cia entre a região e o mundo desenvolvido vêm aumentando.

Esta obra apresenta uma visão concisa deste processo, que articu-la os avanços mais recentes nas dis-

Economia latino-americana

cussões teóricas com as importantes conquistas das últimas décadas em matéria de produção de informação empírica e investigação histórica.

O desenvolvimento econômico da América Latina desde a Inde-pendênciaLuis Bértola e José Antonio Ocampo Elsevier, 400p., 2015.

Na 14ª edição da coletânea Cadernos do Desenvolvimento, organizada pelo Centro Internaci-onal Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, nove arti-gos dão conta de tecer um quadro atual com foco no tema do desen-volvimento em suas diferentes dimensões, da estratégia do pré-sal como política de desenvolvimento nacional às convergências e diver-gências entre as agendas de desen-volvimento de Brasil e China, entre outros enfoques. Os dois tex-tos iniciais são inspirados em Cel-so Furtado, com reflexões sobre a constituição do Estado brasileiro e a relação entre desenvolvimento e cultura.

Além dos artigos, que tratam também de questões regionais da economia brasileira, a publicação traz uma entrevista com o econo-mista colombiano José Antonio Ocampo, professor da Universi-

Desenvolvimento em pauta

Cadernos de desenvolvimentoCentro Internacional Celso Furtado, 316p., 2014.

dade de Columbia, con-cedida a Marcos Costa Lima, Ricardo Biels-chowsky, Ricardo Ismael e Rosa Freire D’Aguiar.

Empreender é uma marca do brasileiro, mas manter e desen-volver ideias inovadoras nem sempre é fácil. Nesta obra, espe-cialistas falam sobre o desafio do empreendedorismo de base tec-nológica, com relato de experiên-cias e dicas de como fazer uma startup crescer. O livro traz uma apresentação do contexto do empreendedorismo no Brasil e do mercado para empresas de tec-nologia. Apresenta vantagens e desvantagens de se ter sócios, for-necendo sugestões e dicas que podem ser muito úteis nessa esco-lha. Os textos também focam na ideia e não apenas no empreen-dedor, ao relatar como nasce uma ideia, mostrando como a prototipagem pode ajudar a ava-liar se a sua ideia resultará em um produto ou serviço com potenci-al de mercado. Para ajudá-lo na

Inovação para empreender

modelagem de seu negó-cio, há elementos de cria-ção de valor, entrega de valor e captura de valor. Ao todo são 24 capítu-los, sendo que a obra é construída de forma que cada texto pode lido de maneira independente.

Empreendedorismo InovadorNei Grando (org.)Évora, 582 p., 2015.

Franco de Matos, autor desta obra, nos oferece uma prévia de seu estudo no artigo das páginas 24 e 25 desta edição. No livro, ele aprofunda suas análises sobre a ins-titucionalização e a execução de políticas de crédito voltadas a pequenos empreendimentos. Para tanto, Matos faz uma análise com-parativa da capacidade de inter-venção do poder público, na Argentina e Brasil.

A relevância da obra se deve à própria importância do segmento analisado, principalmente em sua capacidade de gerar empregos e renda, e sua dificuldade de acessar crédito produtivo. Os resultados alcançados pretendem apontar avanços e limitações do poder público desses dois países, de for-ma comparativa, com vistas a ampliar o acesso dos pequenos empreendimentos, formais e

Políticas de crédito

informais, ao crédito, por meio de medidas de intervenção no marco ins-titucional, ou da própria execução de instrumen-tos de política.

Políticas de Crédito para Pequenos EmpreendimentosFranco de MatosAnnablume, 313 p., 2015.

Divulgaçã

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José Carlos Cavalcanti*

* José Carlos Cavalcanti é professor dos departamentos de Economia e de Sistemas de Informação da UFPE. E-mail: [email protected]

Empreendedorismo InovadorNei Grando (org.)Évora, 582 p., 2015.

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RUMOS – 49 – Março/Abril 2015

á quase 30 anos os profissionais que analisam empresas se depararam com o que passou a ser chamado de para-doxo da produtividade. O conceito

foi popularizado como sendo o Paradoxo de Solow, em referência ao Prêmio Nobel de Eco-nomia de 1987, Professor Robert Solow, que afirmou (em 1987): “eu vejo a era dos computa-dores em todos os lugares exceto nas estatísti-cas de produtividade!”.

Apesar de relativo avanço recente na pesquisa acerca deste paradoxo, muitas questões permane-cem sem respostas definitivas. E a dificuldade pare-ce residir na velocidade, na profundidade e na com-plexidade das transformações impostas pela revo-lução digital em curso. No livro The Second Machine Age, os Professores do MIT/EUA Erik Brynjolf-sson e Andrew McAfee apontam que os computa-dores e outros avanços estão trazendo para o poder mental aquilo que o engenho a vapor e seus descendentes trouxeram para o poder muscular.

As empresas estão no centro desta discussão, já que são elas que transformam insumos em pro-dutos, e a forma como elas fazem esta conversão é a chave para o entendimento da origem do suces-so econômico. Mas para entender a produtividade na atual revolução digital, faz-se necessário enten-der como a empresa é idealizada, seu modelo de negócio, como ela é constituída e gerenciada, e como ela evolui no tempo.

Este foi o desafio que levou ao desenvolvimento do livro recentemente publicado nos EUA, intitulado Effects of IT on Enterprise Architecture, Governance and Growth. Para enfrentar este desafio, partiu-se da constatação inicial de que existem três visões dominantes associadas com a empresa: a visão econômi-ca, a visão do homem/mulher de negócio, e a do profissional de tecnologias de informação e comunicação – TICs. No entanto faltava na literatura um arcabouço unificado que pudesse articu-lar estas três distintas, mas inter-relacionadas, visões.

E foi assim que se chegou ao modelo sugerido no livro, que trata destas três visões a partir de três dimensões da vida da empresa, e ajuda a entender como estas três dimensões afetam uma a outra. O modelo é denominado Arquitetura-Governança-Crescimento. A tese central deste modelo é a de que as caracte-rísticas arquiteturais da empresa determinam as suas questões de governança, e que a agenda de governança determina suas con-dições mensuráveis de crescimento.

A empresa no século 21

L LIVROS

A ideia básica do modelo repousa sobre o conceito da arquitetura da empresa (conceito hoje padronizado internacionalmente pelo Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Ele-trônicos – IEEE). As características observá-veis da empresa são aquelas relacionadas com seu projeto, estrutura, funcionamento e ges-tão. No modelo elas são constituídas tanto pelas peculiaridades do domínio corporativo quanto por aquelas do domínio dos conteú-dos, dos sistemas e das TICs.

Além da sua dimensão arquitetural, o modelo incorpora as dimensões de governan-ça e de crescimento. No livro é argumentado em detalhe que a dimensão de governança (que compreende tanto a esfera corporativa como a esfera das TICs) é chave para conectar a arquitetura das empresas e a arquitetura dos mercados (conceito também definido no livro) ao crescimento da empresa e ao cresci-mento dos mercados. Neste sentido, a partir desta dimensão é possível compreender melhor a complexa questão de como a estru-tura de propriedade da empresa está relacio-nada à sua arquitetura e ao seu desempenho. Através dela também se podeM observar dois outros canais pelos quais a governança pode ser analisada: a conexão entre a governança corporativa e a estrutura do capital, e a cone-

xão entre a estrutura do capital e a estrutura de propriedade.O último componente do modelo é a sua dimensão de cresci-

mento, já que há importantes argumentos para a inclusão desta dimensão: a) Primeiro, o crescimento da empresa está relacionado à sua sobrevivência; b) Segundo, associando-se à importância do crescimento da empresa, está seu efeito sobre o crescimento eco-nômico; e c) Terceiro, o crescimento da empresa é um meio para a introdução de inovações, e está na base da mudança tecnológica.

O livro, que contém 15 capítulos, está organizado em cinco partes. Espera-se que ele preencha as expectativas de analistas de empresas, gestores de negócios, gestores de TICs, bem como estudantes em geral, interessados numa perspectiva multidiscipli-nar da análise das empresas, a partir de um modelo simples e ino-vador para lidar com a complexidade da empresa neste século 21.

O professor José Carlos Cavalcanti apresenta para a Rumos sua mais recente obra, editada por uma editora americana, que trata dos efeitos da Tecnologia da Informação na arquitetura, na governança e no crescimento das empresas. O livro, em inglês, também pode ser encontrado no Brasil.

RUMOS – 48 – Março/Abril 2015

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Nos últimos dois séculos, a população e o produto per capita dos países latino-americanos cres-ceram exponencialmente. Por isso, a história econômica da América Latina neste período pode ser apre-sentada como uma história de desenvolvimento. Também foram observadas melhorias relevantes em expectativa de vida e educação, enquanto a porcentagem da popu-lação em condições de pobreza tem caído substancialmente. No entanto a história econômica da América Latina também é uma his-tória de frustrações. Nenhum país conseguiu se juntar aos líderes do desenvolvimento mundial e, mais além de flutuações e saltos de cres-cimento, no longo prazo a distân-cia entre a região e o mundo desenvolvido vêm aumentando.

Esta obra apresenta uma visão concisa deste processo, que articu-la os avanços mais recentes nas dis-

Economia latino-americana

cussões teóricas com as importantes conquistas das últimas décadas em matéria de produção de informação empírica e investigação histórica.

O desenvolvimento econômico da América Latina desde a Inde-pendênciaLuis Bértola e José Antonio Ocampo Elsevier, 400p., 2015.

Na 14ª edição da coletânea Cadernos do Desenvolvimento, organizada pelo Centro Internaci-onal Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, nove arti-gos dão conta de tecer um quadro atual com foco no tema do desen-volvimento em suas diferentes dimensões, da estratégia do pré-sal como política de desenvolvimento nacional às convergências e diver-gências entre as agendas de desen-volvimento de Brasil e China, entre outros enfoques. Os dois tex-tos iniciais são inspirados em Cel-so Furtado, com reflexões sobre a constituição do Estado brasileiro e a relação entre desenvolvimento e cultura.

Além dos artigos, que tratam também de questões regionais da economia brasileira, a publicação traz uma entrevista com o econo-mista colombiano José Antonio Ocampo, professor da Universi-

Desenvolvimento em pauta

Cadernos de desenvolvimentoCentro Internacional Celso Furtado, 316p., 2014.

dade de Columbia, con-cedida a Marcos Costa Lima, Ricardo Biels-chowsky, Ricardo Ismael e Rosa Freire D’Aguiar.

Empreender é uma marca do brasileiro, mas manter e desen-volver ideias inovadoras nem sempre é fácil. Nesta obra, espe-cialistas falam sobre o desafio do empreendedorismo de base tec-nológica, com relato de experiên-cias e dicas de como fazer uma startup crescer. O livro traz uma apresentação do contexto do empreendedorismo no Brasil e do mercado para empresas de tec-nologia. Apresenta vantagens e desvantagens de se ter sócios, for-necendo sugestões e dicas que podem ser muito úteis nessa esco-lha. Os textos também focam na ideia e não apenas no empreen-dedor, ao relatar como nasce uma ideia, mostrando como a prototipagem pode ajudar a ava-liar se a sua ideia resultará em um produto ou serviço com potenci-al de mercado. Para ajudá-lo na

Inovação para empreender

modelagem de seu negó-cio, há elementos de cria-ção de valor, entrega de valor e captura de valor. Ao todo são 24 capítu-los, sendo que a obra é construída de forma que cada texto pode lido de maneira independente.

Empreendedorismo InovadorNei Grando (org.)Évora, 582 p., 2015.

Franco de Matos, autor desta obra, nos oferece uma prévia de seu estudo no artigo das páginas 24 e 25 desta edição. No livro, ele aprofunda suas análises sobre a ins-titucionalização e a execução de políticas de crédito voltadas a pequenos empreendimentos. Para tanto, Matos faz uma análise com-parativa da capacidade de inter-venção do poder público, na Argentina e Brasil.

A relevância da obra se deve à própria importância do segmento analisado, principalmente em sua capacidade de gerar empregos e renda, e sua dificuldade de acessar crédito produtivo. Os resultados alcançados pretendem apontar avanços e limitações do poder público desses dois países, de for-ma comparativa, com vistas a ampliar o acesso dos pequenos empreendimentos, formais e

Políticas de crédito

informais, ao crédito, por meio de medidas de intervenção no marco ins-titucional, ou da própria execução de instrumen-tos de política.

Políticas de Crédito para Pequenos EmpreendimentosFranco de MatosAnnablume, 313 p., 2015.

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José Carlos Cavalcanti*

* José Carlos Cavalcanti é professor dos departamentos de Economia e de Sistemas de Informação da UFPE. E-mail: [email protected]

Empreendedorismo InovadorNei Grando (org.)Évora, 582 p., 2015.

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CARTAS DO LEITOR

Redação e AdministraçãoAvenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906Telefone (21) 2109.6041Fax (21) 2109.6004

[email protected] Gerente de Comunicação - Editora Thais Sena Schettino

EquipeJader MoraesLivia Marques PimentelNoel Joaquim Faiad

Revisão Renato R. Carvalho

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Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andarGrupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906Telefone: (21) 2109.6000Fax: (21) 2109.6004E-mail: [email protected]

CONSELHO DOS ASSOCIADOSPresidente: Luciano Coutinho

DIRETORIAPresidente: Rubens Rodrigues Filho

1º Vice-Presidente: Milton Luiz de Melo Santos

2º Vice-Presidente: Rogério de Paula Tavares

Diretor Valmir Pedro Rossi.

Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima.

Publicação bimestralISSN 1415-4722

Instituições Associadas à ABDE

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A.AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A.AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.AGERIO – Agência Estadual de FomentoBADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.BADESUL Badesul Desenvolvimento S.A. Agência de Fomento – – BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A.BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A.BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A.BB – Banco do Brasil S.A.BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.BNB – Banco do Nordeste S.A.BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo SulBRB – Banco de BrasíliaCAIXA – Caixa Econômica FederalDESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A.DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento PaulistaFINEP – Inovação e PesquisaFOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A.GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A.MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Capa Noel Joaquim Faiad

Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas

Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta

Conselho EditorialRubens Rodrigues Filho, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino.

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

RUMOS – – Março/Abril 2015 50

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Ano 39 – Nº 280 Março/Abril 2015

Acesse: www.abde.org.br

Leia a revista e consulte as edições passadas.

DIGITALE C O N O M IA & D E S E N V O LV IM E N T O PA R A O S N O V O S T E M P O S

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EDITORIAL

Para ler

e refletirPara ler

e refletir

E mais

Carlos Alberto dos Santos

Fernando Nogueira da Costa

Entrevistas e dicas de livros

para pensar uma agenda

nacional para o desenvolvimento

Especial

Carlos Alberto dos Santos

Fernando Nogueira da Costa

Administrador de empresasTendo tido a oportunidade de ler alguns dos excelentes artigos publi-cados pela Rumos e despertado, consequentemente, o interesse em incluí-la entre as publicações que recebo e consulto profissionalmente, venho por intermédio desta solicitar a inclusão de meu nome entre os leitores, com a cessão de uma assinatura gratuita. Paulo Roberto de Oliveira. Membro do Conselho de Segurança Pública – Ética e Cida-dania da Associação Comercial do Rio de Janeiro e colaborador da Aca-demia Nacional de Economia (ANE). Niterói (RJ).

JornalistaSou jornalista e li recentemente uma edição da revista Rumos. Como faço reportagens na área e achei a revista muito interessante, gostaria de saber como posso recebê-la. Agradeço a atenção. Mauren Xavier. Porto Alegre (RS).

PesquisadorEm primeiro lugar, muito obrigado pela oportunidade da entrevista e pelo apoio na divulgação do livro Presente e Futuro do Desenvolvimento Bra-sileiro – Ipea, 2014. Em segundo lugar, gostaria de consultar sobre a possibilidade de receber um conjunto de exemplares da revista Rumos com a entrevista. Muitas pessoas estão solicitando e podemos aprovei-tar para ampliar a divulgação. Marcos Antonio Macedo Cintra. Ipea. Brasília (DF).

Nota da redação: A Rumos parabeniza o assíduo leitor Samir Curi Hallal pelos 80 anos completados em fevereiro e agradece pela per-manente comunicação com a redação ao longo dos anos. É com satisfação que recebemos as cartas e contribuições de Hallal a cada nova edição. Felicitações!

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A ABDE nasceu para fazer ecoar o ideal dos agentes que representa. Unir esforços, conhecimentos e recursos. Potencializar o desenvolvimento de um país com dimensões continentais. Agora, tem novos desafios: a partir de uma nova visão estratégica, se prepara para se tornar mais forte. Conciliando diferentes saberes, realidades e experiências.

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