revista rumos

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ANO 36 – Nº 261 – Janeiro - Fevereiro de 2012 ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO PARA OS NOVOS TEMPOS EDITORIAL ABDE Perspectivas Entrevistas Desenvolvimento regional Clélio Campolina Banco do Nordeste Jurandir Santiago Inteligência Competitiva Marcos Cavalcanti Entrevistas Desenvolvimento regional Clélio Campolina Banco do Nordeste Jurandir Santiago Inteligência Competitiva Marcos Cavalcanti

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Uma publicação da Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento.

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Page 1: Revista Rumos

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Perspectivas

Entrevistas

Desenvolvimento regionalClélio Campolina

Banco do NordesteJurandir Santiago

Inteligência CompetitivaMarcos Cavalcanti

Entrevistas

Desenvolvimento regionalClélio Campolina

Banco do NordesteJurandir Santiago

Inteligência CompetitivaMarcos Cavalcanti

Page 2: Revista Rumos
Page 3: Revista Rumos

om a notícia de que a soma de todos os bens e serviços produzi-

dos no país em 2011 totalizou R$ 4,143 trilhões e cresceu 2,7%

no ano passado, na comparação com 2010, aumentam as

expectativas com relação ao desempenho da economia brasile-

ira em 2012. Com a crise internacional rondando os mercados

e provocando grande suspense sobre seus possíveis e indesejá-

veis impactos, foi ouvir o que pensam economistas, acadêmicos e líde-

res empresariais a respeito de como deverá ser 2012 para o Brasil. A síntese de

seus comentários recomenda cautela.

Um dos entrevistados desta edição é Clélio Campolina, reitor da Univer-

sidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que nos fala sobre um assunto no

qual se especializou e se transformou em referência nacional: desenvolvimen-

to regional. Na esteira do mesmo tema está outro entrevistado deste número:

Jurandir Santiago, presidente do Banco do Nordeste, um ícone do desenvol-

vimento da região. Fechando o rol de entrevistados, o professor Marcos

Cavalcanti, da Coppe-UFRJ, nos dá uma aula sobre conhecimento, destrin-

chando as nuances e a importância da inteligência competitiva no universo

corporativo.

Entre os articulistas deste número está Helena Lastres, coordenadora do

Comitê de Arranjos Produtivos e Desenvolvimento Regional da Presidência

do BNDES. Ela defende a atuação das instituiçõe financeiras de fomento

como instrumentos de planejamento estadual. Boa leitura!

Rumos

CAO LEITOR

Seções FOMENTO

LIVROS

44

52

20ENTREVISTA

Desenvolvimento regionalPela desconcentração territorial

Clélio Campolina

40 INOVAÇÃO

Reforço para a área industrialEMBRAPII

RUMOS - 3 – Janeiro/Fevereiro 2012

4 EntrevistaJurandir Santiago

12OPINIÃO

Investimento e credibilidadeEconomiaAntonio Delfim Netto

Pela redução dasdesigualdades

48MICRO E PEQUENAS

Oscip, papel estratégicoMicrofinanças

30 CAPA

CautelaRetrospectiva 2012

Noel

Joaq

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46REFLEXÃO

Instrumentos de planejamento estadualInstituições financeiras de fomentoHelena Lastres

10PANORAMA

Às portas de uma nova eraO antropocenoIgnacy Sachs

NORDESTE EMPREENDEDORAlgodãoProdutividade na Bahia supera média mundial38

14 EXPERTISE

A alma do negócioConhecimento

EM DIA

Rio+20Desafio energético

7 Adilson de Oliveira

42 Amazônia

Crescimento exponencialComércio

Divu

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SUMÁRIO

Extremo Sul

Rio Grande do Sul lança política industrialGestão18

Page 4: Revista Rumos

ENTREVISTA

RUMOS - 4 – Janeiro/Fevereiro 2012

umos –

Santiago

Rumos –

Santiago

Rumos –

Santiago

Qual o balanço que o senhor faz dosseus primeiros meses à frente do BNB?

Como o senhor avalia a interação do BNBcom as agências de fomento do Nordeste?

O senhor entende que essa interação pode serainda mais ampliada?

– Um balanço bastante positivo, emfunção da satisfação e do enorme aprendizado que é estar àfrente de uma instituição tão importante como o BNB. Trata-se de uma oportunidade especial, sobretudo pelo fato de queé missão do banco contribuir para reduzir as desigualdadesregionais do Nordeste brasileiro em relação ao restante dopaís. Poder conhecer uma equipe de funcionários tão deter-minada e consciente do objetivo de representar a principalagência de desenvolvimento do governo federal na regiãoNordeste do Brasil também é motivo de muita satisfaçãopara mim.

– Avalio essa interação como uma relação extre-mamente positiva. O BNB já tem, por exemplo, alguns con-vênios celebrados com os estados de Sergipe, Bahia e RioGrande do Norte, e entendemos que essas iniciativas podeme devem ser replicadas nos demais estados da região, tendoem vista que por meio desses convênios é possível ampliar osbraços de atuação do banco, contando sempre com o especi-al apoio das agências de fomento locais. Com todos juntos,remando na mesma direção, reduziremos as desigualdades epromoveremos o desenvolvimento do Nordeste.

– O Banco do Nordeste sempre estará à disposiçãodas agências de fomento dos diversos estados da região paraampliar ou estabelecer novas parcerias. Acredito que sempre

Jurandir Santiago preside o BNB desde junho de 2011. Este ano, sob oseu comando, o banco – um ícone do desenvolvimento do Nordeste –completará 60 anos, e suas bem-sucedidas ações de fomento continuamservindo de inspiração a outras instituições do país.

Pela redução das

Por Luiz Cláudio Dias Reis

Jurandir Santiago

há uma possibilidade de ampliação, de melhoria e de busca denovas alternativas, sobretudo quando se usa a capacidade ili-mitada da criatividade.

– De diversas formas. O BNB estabeleceu convê-nios com vários ministérios visando participar, ativamente,dos programas de combate à miséria, o principal objetivo dogoverno federal. Um deles, por exemplo, é o Programa Águapara Todos, que prevê a construção de cisternas para capta-ção de água da chuva em locais onde não há água encanada.O BNB está participando ativamente da construção de 25mil dessas cisternas em toda a região Nordeste. Nesse senti-do, temos parcerias com o Ministério de DesenvolvimentoAgrário, com o Ministério da Ação Social, mas destaco comoprincipal ação de inclusão do BNB – para garantir dignidadeàs pessoas de menor renda no Nordeste brasileiro –, o pro-grama de Microcrédito Produtivo Orientado. Por meio daconcessão do crédito a pessoas que, em geral, não teriam aces-so a crédito em outra instituição, possibilitamos a inclusãobancária e, principalmente, a inclusão produtiva. Ou seja, apessoa, por meio da sua própria força de trabalho, conseguegerar recursos capazes de garantir a sua alimentação, a educa-ção do seu filho, enfim, o seu sustento.

O BNB também atua fortemente na área da inclusão cul-tural. Afinal, por meio da cultura é possível recuperar crian-ças e jovens expostos às drogas e a outras mazelas das ruas edar-lhes a esperança de um futuro melhor.

Rumos –

Santiago

Rumos –

Como o banco atua em função da questão dainclusão social?

Quais as perspectivas do BNB com relação aoCrediamigo, que já ultrapassou a marca de um milhão

BNB

R

Page 5: Revista Rumos

RUMOS - 5 – Janeiro/Fevereiro 2012

desigualdades

Jurandir Vieira Santiago é graduado em Direito pela Uni-versidade de Fortaleza (Unifor) e em Geografia pela Univer-sidade Estadual do Ceará (UECE). Com pós-graduação emConsultoria Empresarial pelo Curso de Extensão Universitá-ria da Universidade de Brasília (UnB) e em Direito Empresa-rial pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), é diploma-do pela Escola de Formação de Governantes (EFG). Comvasta formação curricular nas áreas financeira, de gestão denegócios e de recursos humanos, é instrutor gerencial da Cai-xa Econômica Federal (Caixa), onde exerceu cargos comissi-onados em praticamente todos os níveis da hierarquia no esta-do do Ceará, tendo sido superintendente Regional de Forta-leza, de 2003 a 2006. Exerceu o cargo de secretário de EstadoAdjunto da Secretaria das Cidades do Estado do Ceará, de

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2007 a janeiro de 2011, onde coordenou, entre outros proje-tos, o desenvolvimento e início da implementação do ProjetoRio Maranguapinho, a maior intervenção urbana da históriado Ceará. Nesse mesmo período, representou a Secretariadas Cidades em diversos Órgãos e Conselhos, tais como: Con-selho Consultivo de Políticas de Inclusão Social (CCPIS),Conselho Municipal de Habitação Popular de Fortaleza, Con-selho de Administração do Instituto Agropolos do Ceará,Conselho de Administração da Fundação Cearense de Mete-orologia e Recursos Hídricos (Funceme) e Conselho deAdministração Agência de Desenvolvimento do Ceará (Ade-ce). De janeiro a maio de 2011, Santiago foi diretor-presidente da Companhia de Água e Esgoto do Estado doCeará (Cagece).

Page 6: Revista Rumos

RUMOS - 6 – Janeiro/Fevereiro 2012

de clientes? O senhor acredita que essaexperiência exitosa pode ser reeditada emoutra região do país?

Que importância osenhor confere às micro e peque-nas empresas, sobretudo no que tange ao processo dedesenvolvimento do país?

Santiago

Rumos –

Santiago

– Não só pode ser reeditada, comoisso já começou a acontecer. O governo federal

utilizou o modelo aplicado pelo BNB no Microcrédito Pro-dutivo Orientado visando ampliá-lo para as demais institui-ções públicas de crédito, como a Caixa Econômica, o Bancodo Brasil e o Banco da Amazônia. No microcrédito urbano,o BNB já tem mais de um milhão de clientes na carteira ativae, no microcrédito rural, mais de 700 mil clientes. Ou seja, obanco está atingindo, assim, quasedois milhões de famílias, pois é pre-ciso entender que cada uma dessasoperações tem uma família por trásque está tendo acesso a esse tipo deoperação de crédito exclusiva. E asperspectivas são extremamente posi-tivas. Crescemos, em 2011, 40% dovalor contratado nas operações demicrocrédito, e a expectativa paraeste ano é que o banco supere a mar-ca de R$ 4 bilhões aplicados noMicrocrédito Produtivo Orientado.Portanto, esse programa é uma dasprincipais e mais concretas ferra-mentas que possibilitam ações deinclusão produtiva, cuja consequên-cia é a geração de dignidade e a redu-ção da miséria extrema que aindaatinge grande parte dos nossosirmãos nordestinos. E esse objetivoestá em absoluta harmonia comuma das grandes ações que a presi-denta Dilma Rousseff definiu parao seu governo.

– Uma importância fundamental. As micro epequenas empresas, não só no Brasil, como em várias outraspartes do mundo – e isso já ficou amplamente comprovado–, são as principais geradoras de emprego e renda. No Nor-deste brasileiro não é diferente. A maior parte dos empregosgerados na região provém de micro e pequenas empresas, tan-to na área urbana como na área rural. E o BNB não só acredi-ta muito fortemente nesse segmento como, desde 2011, vemredefinindo o foco de atuação para priorizá-lo. Por exemplo,do total de recursos do Fundo Constitucional de Financia-mento do Nordeste (FNE) previstos para 2012 – R$ 11,5bilhões –, 51% serão destinados a empresas de micro epequeno porte, exatamente atendendo a uma direção origi-nada da Presidência da República, mas, principalmente, por

acreditar que este é o segmento que mais contribuirá parao desenvolvimento do Nordeste brasileiro.

– São várias as vantagens observadas com areclassificação. A mais importante delas é a igualdade decondições, uma vez que, anteriormente, para a obtençãode crédito, as empresas do Nordeste brasileiro eram clas-sificadas de uma forma diferente das empresas de outras

regiões do país, o que, no meuentendimento, não fazia nenhumsentido. Portanto, empresas bra-sileiras que faturem, por exemplo,R$ 10 milhões têm direito aosmesmos benefícios, independen-te da região onde estão localiza-das. E isso foi bem entendidopelo Conselho Deliberativo daSuperintendência do Desenvolvi-mento do Nordeste (Sudene),que aprovou essa alteração, umademanda antiga, apresentadapelo BNB, em novembro de2011, e que possibilita ao bancooferecer, a um número muito mai-or de empresas, condições opera-cionais diferenciadas nas linhasde crédito do FNE para empresasque antes se sujeitavam a condi-ções menos favoráveis, sobretu-do no que se refere a prazo e ataxa de juros. Isso é muito impor-tante, porque se a empresa temacesso a linhas de crédito em con-dições diferenciadas e mais favo-ráveis, ela consegue gerar umresultado bem maior.

– O Etene é uma referência, não só no contextode atuação do BNB, mas também para além das fronteirasdo banco, inclusive, para fora da própria região Nordeste.Ao longo da sua bem-sucedida história, o Etene contribu-iu com inúmeros estudos que possibilitaram, a diversosgovernos, um planejamento substancial das suas ações dedesenvolvimento. O BNB apoia o trabalho do Etene, porentender que se trata de um instrumento que deve se fazercada vez mais presente na busca de soluções para grandeparte dos problemas do Nordeste, além de ser inspiradorde políticas governamentais nos três âmbitos: federal, esta-dual ou municipal.

Rumos –

Santiago

Rumos –

Santiago

Que vantagens podem ser observadas coma recente reclassificação dos portes das empresas nor-destinas?

Qual é a importância do Escritório Técnicode Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) para odesenvolvimento da economia nordestina?

o microcrédito

urbano, o BNB já

tem mais de um

milhão de clientes

na carteira ativa e,

no microcrédito

rural, mais de 700

mil clientes. Ou

seja, o banco está

atingindo, assim,

quase dois milhões

de famílias.

N

ENTREVISTA Jurandir Santiago

Page 7: Revista Rumos

assados pouco mais de dois séculos de desen-volvimento econômico assentado no consu-mo intensivo de combustíveis fósseis, a traje-tória de desenvolvimento econômico baseada

na exploração desses recursos mostra diversos sinais de dis-função. A evidência mais forte desse problema, porém não aúnica, é o risco de mudanças climáticas vinculadas às emis-sões de gases que provocam o efeito estufa.

Apesar de o consenso científico sugerir a urgência demedidas efetivas para reverter a trajetória atual de emissõesde gases, o protocolo de Kyoto perderá vigência em 2012,sem sinais de progresso na reunião de cúpula programadapara junho deste ano, no Rio de Janeiro. A transição das eco-nomias industriais para sociedades com baixo consumo decarbono vem sendo negociada há pouco mais de duas déca-das. Porém o otimismo gerado em Kyoto desvaneceu após arecusa americana em ratificar o tratado. Os países industria-lizados não querem correr o risco de perda da competitivi-dade de diversos segmentos produtivos de sua economia.

Economia em expansão, a principal fonte atual de emis-sões de gases que provocam o efeito estufa no Brasil é o des-matamento. Porém, com a redução do desmatamento dosúltimos anos, a parcela das emissões de CO do sistema ener-gético nas emissões totais passou de 15% para 25% entre2005 e 2010. Mantida essa trajetória, os “ganhos climáticos”obtidos com a redução do desmatamento serão anuladospelas “perdas climáticas” do sistema energético. Para evitaresse problema, é necessário minimizar as emissões de COdo sistema energético. O grande desafio da política energéti-ca brasileira é alcançar esse objetivo sem comprometer aexpansão do consumo de energia, indispensável para aten-der à melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.

O Brasil adotou precocemente políticas indutoras douso de fontes renováveis na década de 1970. A matriz ener-gética atual, com intensa participação de fontes renováveisde energia, é fruto de políticas adotadas no passado, quandoo país era fortemente dependente de importações de petró-leo. Atualmente a participação das fontes renováveis namatriz energética brasileira é muito superior (mais de 50%) àdos países industrializados (menos de 10%). Estruturadoem torno de hidrelétricas, o consumo marginal de combus-

2

2

tíveis na geração elétrica é marginal e nossa logística detransportes, apesar de fundamentalmente alimentada comderivados de petróleo, utiliza parcela significativa de etanole, crescentemente, de biodiesel.

O princípio da precaução indica a necessidade de acele-rar a transição verde da economia global. Processo comple-xo, essa transição contém riscos elevados, cuja dificuldadede gestão vem inibindo decisões urgentes. Credenciado porsua matriz energética, a Rio+20 oferece ao Brasil a oportu-nidade de ocupar posição relevante no núcleo coordenadorda transição da economia global para sociedades de baixocarbono.

Sua posição geográfica e a dimensão de sua economiabrasileira criam condições para o Brasil assumir a liderançada transição verde da América do Sul. A identificação de vas-tos reservatórios de petróleo no pré-sal indica que o país pas-sará à situação de significativo exportador de petróleo nofinal da presente década. Nessa condição, o Brasil pode ofe-recer a segurança energética para seus parceiros da transiçãoverde, que é indispensável para a condução da transição semgraves conflitos sociais. Em contrapartida, o Brasil deveobter condições mais favoráveis para sua inserção (e a daAmérica do Sul) na economia global.

Ao trocar o desmatamento de matas nativas por flores-tas plantadas, o Brasil deu o passo mais importante para suainserção no núcleo coordenador da transição verde global.A mitigação de emissões de CO do sistema energético é tare-fa menos complexa. No entanto, o foco da política energéti-ca verde não deve ser no setor elétrico, onde as oportunida-des de redução de emissões de CO são pouco relevantes.Nossas maiores oportunidades residem na promoção da efi-ciência energética, na aceleração da difusão do uso do gásnatural e, principalmente, na reorganização da logística detransportes, com a expansão da substituição dos derivadosde petróleo por fontes alternativas.

Há muito ceticismo quanto aos resultados efetivos quepodem ser alcançados da Rio+20. Como país sede do even-to, o Brasil tem a responsabilidade de superar esse ceticismo.Uma agenda clara e objetiva de suas políticas para exploraressas oportunidades contribuirá muito para que esse ceticis-mo desapareça.

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Adilson de Oliveira

RIO+20

Desafio energético

RUMOS - 7 – Janeiro/Fevereiro 2012

Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do

Rio de Janeiro (IE-UFRJ).

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Page 10: Revista Rumos

omo já tive a ocasião de escrever em (n°259, de setembro/outubro de 2011), tudo indi-ca que a Cúpula da Terra do Rio de Janeiro de2012 passará à história como a primeira grandereunião das Nações Unidas marcando a entra-

da da humanidade numa nova era – o antropoceno finalmenteassumido com um atraso de mais de dois séculos com relaçãoà Revolução Industrial.

Essencialmente, o antropoceno implica no reconhecimen-to, por parte dos humanos, da sua responsabilidade pelosestragos provocados por uma economia predatória (a

) e da necessidade que daí decorre de buscar novosrumos para estratégias de desenvolvimento. Estas devem aliara prudência ecológica ao imperativo social – a prioridade a serdada à redução drástica das desigualdades abissais que hojeseparam as minorias abastadas da maioria ainda condenada alutar em condições difíceis pela sobrevivência. Lembrandoque somos hoje mais de 7 bilhões e que seremos 9 bilhões emmeados deste século!

Os próximos decênios dirão se fomos capazes de enfren-tar este desafio como verdadeiros geonautas – neologismofeliz proposto pelo escritor francês Erik Orsenna. A alternati-va é de nos comportarmos mais uma vez como aprendizes defeiticeiro. Lembram-se ainda da , o belíssimo desenhoanimado de Walt Disney e do pobre Mickey Mouse lutandocontra a inundação?

Aos que dizem que o futuro pertence a uma economia ver-de, direi que a sua bandeira deve ser ao mesmo tempo verde evermelha (os portugueses que me perdoem essa apropriação).Não temos o direito de sacrificar os objetivos sociais sob o pre-texto de evitar impactos ambientais negativos. Da mesmamaneira, não podemos alegar urgências sociais para justificar airresponsabilidade ambiental sob o risco de provocar catástro-fes naturais acarretando, por sua vez, graves consequênciassociais. Mais do que nunca, devemos basear a nossa condutanum tripé, juntando à responsabilidade social a prudênciaambiental e a viabilidade econômica. Sem esta última, nadaacontece, por isso, devemos nos esforçar para assegurá-la emtodas as nossas ações.

Como proceder para avançar a partir da próxima Cúpulado Rio de Janeiro, considerada para fins práticos o ano zero do

Rumos

raub-wirtschaft

Fantasia

antropoceno? Não devemos ceder à ilusão que os mercados,deixados a si mesmos, sabem melhor. Bem ao contrário, elessão míopes e socialmente insensíveis. Embora o planejamentonão esteja atualmente na moda, convém reabilitá-lo. Não deixade ser um paradoxo que o planejamento prosperou na era doábaco e está sendo posto de lado na era dos computadores. Noentanto, estes últimos por si sós não garantem um planejamen-to eficiente na ausência de um diálogo democrático quadripar-tite entre o Estado desenvolvimentista, os empresários, os tra-balhadores e a sociedade civil organizada. É nesta direção quedevemos avançar com a maior urgência.

Os países-membros da Organização das Nações Unidas(ONU) deveriam ser convidados a elaborar planos nacionaisde desenvolvimento socialmente includente e ambientalmentesustentável, usando conceitos e metodologias comparáveis,tais como a pegada ecológica e a biocapacidade, por um lado; eoportunidades de trabalho decente, por outro. Os planos deve-riam abranger um horizonte temporal de quinze a vinte anos,com detalhamento maior para o primeiro quinquênio (2016-2020). A etapa seguinte consistiria na harmonização destes pla-nos nacionais, começando por consultas no âmbito das comis-sões regionais da ONU e culminando na elaboração de umeventual plano mundial com a coordenação assumida pelo Pro-grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).Para tanto, a ONU poderia ser posta à contribuição de duasmaneiras brevemente mencionadas no meu artigo anterior.

Por um lado, as Nações Unidas deveriam criar um impor-tante Fundo de Desenvolvimento Includente e Sustentável,constituído por 1% do PIB dos países ricos, a taxa Tobin sobreespeculações financeiras, um imposto sobre o carbono emiti-do (com a dupla finalidade de incentivar a redução das emis-sões e o financiamento do desenvolvimento) e pedágios sobreares e oceanos, cobrados pelo uso destes bens comuns dahumanidade, a começar por uma pequena sobretaxa sobre pas-sagens de avião e fretes da qual os aviões e os navios dos paísesmenos desenvolvidos poderiam ser isentos.

Por outro, devemos envidar esforços para tornar operacio-nais redes de cooperação científica e técnica organizadas a partirda geografia dos grandes biomas, privilegiando, portanto, maisos paralelos do que os meridianos e a indispensável cooperaçãoSul-Sul, com o Brasil e a Índia como os dois abre-alas. �

PANORAMA

Ignacy Sachs

O ANTROPOCENO

Às portas de

uma nova era

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RUMOS - 10 – Janeiro/Fevereiro 2012

C

Professor Emérito da Escola de Altos Estudos emCiências Sociais em Paris.

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Page 12: Revista Rumos

objetivo de fazer a economia crescer acima de4% em 2012, defendido pela área econômica dogoverno Dilma Rousseff, tem condições bas-tante razoáveis de ser atingido. Há razões paraacreditar que ele é factível, olhando-se o retros-

pecto mais recente da forma como foram conduzidas as polí-ticas econômica e social neste primeiro ano da atual adminis-tração das equipes do Ministério da Fazenda e do Banco Cen-tral. Os resultados foram bastante bons, na medida em quetiveram de enfrentar o agravamento do quadro internacionalde desintegração das economias desenvolvidas e a perspecti-va de forte perturbação no sistema bancário europeu.

Hoje ficou evidente que a mudança que deu ênfase à polí-tica fiscal proporcionou maior grau de liberdade à políticamonetária para usar outros instrumentos como, por exem-plo, o

IOF) sobre transações que envolvem a taxa de câmbio. Aescolha demonstrou, com grande competência, que a açãodo governo estava mais antenada com a realidade do mundoe com o desenvolvimento recente da economia do que umaboa parte dos seus críticos. Isso é objetivamente revelado naenorme aprovação popular do primeiro ano da presidentaDilma Rousseff.

É justo comemorar como o fato mais significativo de2011 a credibilidade crescente da política fiscal – em meio adúvidas iniciais – pelo cumprimento do objetivo de fazer osuperávit primário em torno de 3,2% do Produto InternoBruto (PIB). Isso deu conforto ao Banco Central para queexercesse a sua musculatura iniciando uma queda da taxa realde juros. O compromisso de fazê-lo em 3,1% do PIB em2012, como prometido pelo governo, é importante para acontinuação da redução cuidadosa da taxa de juros real paraum nível parecido aos do mercado internacional. Esta é umadas condições necessárias para que funcione adequadamenteo sistema de câmbio flutuante.

É preciso lembrar que, em primeiro lugar, a taxa de câm-bio – juntamente com adequada matriz de tarifas efetivas –determina o equilíbrio entre o valor do fluxo de bens e servi-ços exportados e dos importados e é um dos preços maisimportantes para manter a economia num alto nível de utili-

Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Segu-ro (

zação dos fatores de produção internos, inclusive o empregoda mão de obra e, em segundo lugar, que ela é sensível à políti-ca fiscal.

Uma sólida política fiscal que controle o ritmo de cresci-mento das despesas de custeio e transferências abrirá espaçospara o investimento público, permitindo à política monetáriacontinuar a reduzir a taxa de juros real e, simultaneamente,ampliar o crédito ao setor privado. Ela é condição fundamen-tal para um crescimento mais robusto em 2012 com uma taxade inflação convergindo para a meta de 4,5% e a sustentaçãode um câmbio real mais amigável com o setor industrial brasi-leiro.

Com relação à situação fiscal (dívida/PIB), não há nadaque no momento nos atrapalhe. Não podemos esquecer,entretanto, que a relação dívida líquida/PIB não satisfaz àcondição de transparência. Melhor seria usar – como a gran-de maioria dos países – a relação dívida pública bruta/PIB,que hoje anda em torno de 64%, ou seja, 2/3 maior que a dosemergentes, excluído o Brasil.

Quanto aos objetivos para 2012, não há nenhuma razãopara supor que não possamos crescer entre 4 e 4,5% (comodefende o ministro Guido Mantega) se o governo cumprirseu programa fiscal e ativar os investimentos do

PAC), atento à flutuação estaci-onal das despesas num ano eleitoral; transferir com rapidez omáximo possível dos investimentos em infraestrutura para osetor privado através de concessões e parcerias; prosseguir napressão para aprovar o sistema previdenciário público; e eli-minar absurdos tributários que continuam a destruir nossasexportações industriais.

Nada disso é impossível com a credibilidade da presiden-ta e sua cômoda maioria no Congresso.

Para crescer 4 ou 4,5% em 2012, com a inflação sob con-trole, o governo tem que fazer a sua parte. Cumprir transpa-rentemente sua meta fiscal e cooptar o setor privado – traba-lhadores, empresários e banqueiros – para acreditar nodesenvolvimento e realizar os investimentos nos setores deenergia, transportes, comunicações, habitação e em pratica-mente toda a infraestrutura física do país, que dispõe de pro-jetos de altíssimas taxas de retorno.

Programa deAceleração do Crescimento (

ECONOMIA

Investimento

e credibilidade

RUMOS - 12 – Janeiro/Fevereiro 2012

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OPINIÃO

Antonio Delfim Netto

Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administraçãoe Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e doPlanejamento.M

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Correa

Page 13: Revista Rumos
Page 14: Revista Rumos

Marcos Cavalcanti

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CONHECIMENTO

A alma do

RUMOS - 14 – Janeiro/Fevereiro 2012

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Page 15: Revista Rumos

conteceu no fim da década de 90, no Rio deJaneiro, em plena febre dos videocassetes: umapessoa, após constatar que em seu bairro nãohavia locadora de filmes, resolveu usar o dinhe-iro da aposentadoria para abrir uma. Sua limita-da “análise” do mercado local não previu nempesquisou o interesse dos moradores. Três

meses depois, a empresa quebrou. Seu “plano de negócios” foià falência por uma razão muito simples: no bairro, a maiorianão tinha aparelho de videocassete em casa.

O exemplo singelo dá uma pista da importância da informa-ção no mundo dos negócios, qualquer que seja o porte doempreendimento. O caso é contado pelo professor MarcosCavalcanti, coordenador do Centro de Referência em Inteligên-cia Empresarial (Crie), do Instituto de Pós-Graduação e Pesqui-sa de Engenharia (Coppe), UFRJ, para mostrar que o sucessoou o fracasso de um negócio estão intimamente ligados ao fatorconhecimento das diversas variáveis que o envolvem.

“Na falta de informação, toda a sociedade perde. Ele per-deu dinheiro, o empregado que contratou ficou sem o empre-go, o aluguel não foi pago. Ninguém ganhou”, diz Cavalcanti,professor do curso de Engenharia da Informação, da Coppe,que este ano forma sua primeira turma.

Ele explica que a competitividade das empresas brasileirassempre esteve baseada em vantagens comparativas oriundasdos fatores clássicos de produção – terra, capital e trabalho. Nanova economia, estas vantagens deixam de ser relevantes dian-te do novo fator de produção, o conhecimento.

“No mundo globalizado, onde a informação se transfor-mou num insumo absolutamente crítico de qualquer negócio,o conhecimento tornou-se imprescindível”, constata. Nestecenário, ganha mais importância o sistema de InteligênciaCompetitiva, que surgiu na década de 1980, ganhou impulsonos últimos 20 anos, e é adotado por metade das empresas nosEstados Unidos e em países da Europa, embora no Brasil ape-nas 10% o apliquem.

Doutor em informática pela Université de Paris XI, o professor Marcos Cavalcanti, que afirmater grande capacidade de entender o todo, as relações entre os diversos componentesdesse todo e definir por onde as coisas devem caminhar, numa visão de longo prazo, e apartir daí sugerir estratégias de ação, nos dá uma entrevista (aula) exclusiva sobre oassunto que domina: a inteligência competitiva.

Por Yolanda Stein

Trata-se de um processo sistemático de coleta, processa-mento e análise de informações, por meios legais e éticos, queimpactam o negócio de uma organização. Ao adotar o sistema,a empresa ganha um instrumental para monitorar e analisar omovimento dos concorrentes, as tendências de mercado, epoder consolidar sua estratégia de ação.

Para obter sucesso e ser mais lucrativa, é fundamental paraa empresa enxergar além dos próprios limites, avaliando itenscomo lançamento de novos produtos, mudança na estratégiade preços, público alvo, inovação tecnológica, fusões, aquisi-ções, tendências políticas, econômicas e sociais, legislação eperspectivas futuras. Ou seja, identificar oportunidades e amea-ças, antecipar o desenvolvimento do mercado em vez de sim-plesmente reagir a ele.

Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvi-mento Econômico (OCDE), metade da riqueza gerada nomundo atualmente vem do conhecimento. Mas ainda é muitogrande o índice de concentração em empresas e países. Embo-ra as multinacionais descentralizem sua produção, com fábri-cas em vários continentes, a inteligência das operações, a pes-quisa e o desenvolvimento, ficam nas matrizes.

“Em qualquer setor, a inteligência é fundamental, oconhecimento faz a diferença. Hoje quem acumula riqueza équem gerencia melhor o conhecimento. Quem planta e fabricaestá ficando para trás, como é o caso do Brasil, que voltou a serum país agroexportador”, analisa Cavalcanti.

“O mundo nos aplaude, porque o Brasil está inserido nelecomo um país exportador de matéria-prima e produtos indus-triais e importador de conhecimento, acrescenta.

O exemplo clássico, segundo ele, é o da indústria automobi-lística que, teoricamente, é muito competitiva no país, com maisde 15 montadoras de automóveis. Apesar disso, o preço do car-ro é duas vezes e meia maior que nos Estados Unidos e o dobroda Europa. O motivo, em seu entender, não é o imposto, porquemesmo descontando as taxas, o carro é muito mais caro aqui.Isso considerando que os fatores de produção, como mão de

negócio

RUMOS - 15 – Janeiro/Fevereiro 2012

A

Page 16: Revista Rumos

obra e energia, são mais baratos no Brasil.A explicação estaria “nas estatísticas de remessa

de lucros das montadoras para as matrizes, com valo-res gigantescos, além do fator tecnológico”.

O exemplo citado é o do carro flex (movido agasolina e álcool num mesmo tanque), único no mun-do, cuja produção resultou do desenvolvimento de170 patentes. Nenhuma brasileira. A inteligência, por-tanto, está no exterior.

Cavalcanti afirma que a indústria brasileira, lon-gamente protegida por uma economia fechada, tempouca tradição de investimentoem pesquisa e desenvolvimento(P&D), embora existam sinais deaumento de interesse nessas ativi-dades por parte do setor privado.

– Para consi-derar a viabilidade de uma estra-tégia empresarial, seguindo as

normas da Inteligência Competitiva, énecessário avaliar cinco variáveis: política,jurídica, tecnológica, econômica e social.

Na área , se houver mudança degovernos ou da presidência de instituiçõespúblicas, como Banco Central, Banco doBrasil, instituições de desenvolvimento efomento, as diretrizes podem ser alteradas,as prioridades mudadas, impactando as empresas. Por isso, essaárea precisa ser monitorada regularmente.

Assim também acontece na esfera . Se a lei muda,pode prejudicar ou favorecer algum ramo empresarial, comoaconteceu com a Vésper, que entrou no Rio de Janeiro para serespelho da Telemar em telefonia fixa. Sua estratégia de implanta-ção para poder competir era baseada em uma nova tecnologia,de telefone por onda de rádio, de longo alcance.

“Os concorrentes da Vésper entraram com recurso na Agên-cia Nacional de Telecomunicações (Anatel), alegando que se tra-tava de telefonia móvel e não fixa. A Anatel, que regula o merca-do, interpretou a lei dessa forma e acabou com a Vésper. Aempresa faliu porque não avaliou adequadamente essa variáveljurídica, que é também política”, conta o professor.

A terceira variável é . Um negócio pode acabar ououtro abrir em função de uma nova tecnologia, capaz de revertertodo o cenário de um determinado ramo empresarial.

Cavalcanti cita o exemplo da Renault, fábrica francesa deautomóveis, que decidiu se antecipar ao mercado de carros movi-dos a hidrogênio e montou um laboratório de pesquisas na Cop-pe. O Cri foi contratado porque a indústria queria conhecer omercado automobilístico brasileiro, saber o que estavam fazen-do os concorrentes na área de hidrogênio.

Numa análise usando as técnicas de Inteligência Competiti-va, soube-se que a Ford e a General Motors estavam também rea-lizando pesquisas na área. “Há cinco anos, a Renault resolveufechar o laboratório, embora a Coppe tenha um excelente grupoestudando o assunto. A empresa continua pesquisando o tema,mas lá fora”, lamenta.

A quarta variável é . Alterações na política podeminfluir decisivamente para a execução ou continuidade de uma

Cinco dimensões

política

jurídica

tecnológica

econômica

estratégia empresarial. O país passa por um momento de visí-vel mudança na política de juros, com seguidas baixas na taxabásica (Selic) e gestão junto aos bancos para que reduzam seusspreads (diferença entre a taxa de captação e empréstimo dedinheiro), com o propósito de propiciar o crescimento da eco-nomia.

As equipes de Inteligência Competitiva das empresas, pri-vadas ou públicas, grandes ou pequenas, certamente irão tra-balhar em cima dessa variável para estabelecer ou manter umaestratégia de negócios, prospectar mercados e antecipar cená-rios e tendências. Principalmente levando-se em conta o

momento de crise internacional. Numaeconomia em recessão, dispor de um siste-ma de Inteligência Competitiva pode fazerduplamente a diferença.

No campo do financiamento, Caval-canti cita o exemplo das linhas existentespara inovação tecnológica, que não são usa-das, por total desconhecimento de sua exis-tência. “Isso é problema de inteligência, defalta de informação”, constata.

O Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico (BNDES) e a Financiadorade Estudos e Projetos (Finep) oferecemempréstimos a fundo perdido para proje-tos a serem desenvolvidos em parceriacom centros de pesquisas de universida-des. São linhas de financiamento público

destinadas a negócios de pequeno porte, microempresas. Masos potenciais clientes são completamente desinformados, dizo professor.

Pelo lado dos bancos, incluindo os de desenvolvimento,também falta um trabalho de inteligência capaz de levar a seuspotenciais clientes todo o espectro de financiamento disponí-vel. Assim como as instituições bancárias, os gerentes desco-nhecem as necessidades dos clientes. Daí a importância de umsistema informatizado que ajude esses gerentes em suas análi-ses e decisões.

Na microempresa, o empresário é igualmente desinforma-do, com o agravante que dispõe de menos tempo para correratrás da informação, pois a empresa é ele. No caso citado, dapessoa que decidiu montar uma locadora de vídeo e fracassou,ela poderia ter obtido informações através da Pesquisa Nacio-nal de Amostragem de Domicílios (Pnad), elaborada peloInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quedetalha o que cada domicílio possui em cada bairro das cidadese é de domínio público.

Cavalcanti diz que uma saída seria o Serviço Brasileiro deApoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) contar com umsistema de inteligência que se valesse de informações como asdo Pnad e de outros bancos de dados, para orientar os peque-nos empresários na tomada de decisões.

Existem algumas iniciativas no sentido de dotar de infor-mação as pequenas empresas, mas tudo ainda é incipiente.Uma delas se deu através de uma parceria da Coppe com o Ban-co do Brasil para a execução do Programa de Geração deEmprego e Renda (Proger), no final da década de 1990. Omicroempresário apresentava ao banco um plano de negócios,que era analisado por uma equipe da Coppe.

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EXISTEM DIVERSASFORMAS DE SEANTECIPAR AOMERCADO E À

CONCORRÊNCIA PARALEVAR AVANTE, COM

SUCESSO, UMAESTRATÉGIA

EMPRESARIAL.

RUMOS - 16 – Janeiro/Fevereiro 2012

Marcos Cavalcanti

Page 17: Revista Rumos

A quinta variável é e envolve conhecimentos de perfildemográfico, faixa etária, perfil de consumo, fatores indispen-sáveis para que a empresa possa oferecer um produto adequadoaos seus clientes.

São estas as dimensões levadas em conta para que umaempresa possa estabelecer um sistema de Inteligência Competi-tiva. É fundamental, no entanto, segundo o professor, estabele-cer a estratégia antes de buscar as informações.

“O que mais se vê no mercado é a prática ser feita ao contrá-rio: coletar informação para depois montar a estratégia. A regraé: penso primeiro e depois saio em campo em busca de infor-mações. Numa última etapa, determina-secomo disseminar isso na empresa, ou seja, queinformação vai para quem”, ensina.

– Ele expõe o caso de sucessoda Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embra-er), que formulou sua estratégia, correu atrás dainformação e transformou-se numa grandeempresa de aviação, competindo em pé de igual-dade no mercado internacional.

Há 25 anos, a Embraer detectou, através deum trabalho de inteligência, a tendência de cres-cimento do mercado de aviação no mundo, tan-to de pequeno como de grande porte, mas prin-cipalmente a aviação regional, atendida por aero-naves com pouco mais de cem lugares.

A empresa tomou então a decisão de serlíder nesse mercado, e partiu para uma análise deInteligência Competitiva. Não só formuloucomo concretizou essa estratégia.

A estratégia é, portanto, o primeiro capitaldo conhecimento. O segundo é o capital finan-ceiro; o terceiro, o humano, ou seja, a capacidadede atrair as competências necessárias para ser um impor-tante no mercado. Em último lugar vem o capital de relaciona-mento, uma avaliação se a empresa tem a estrutura necessáriapara o negócio dar certo.

Entre 2008 e 2010, o Crie desenvolveu, a pedido doBNDES, uma metodologia de avaliação de empresas, a partir deelementos chamados intangíveis, ou seja, que vão além dosaspectos financeiros: capacidade de inovação, governança, graude credibilidade do gestor, aptidão para atrair talentos, capaci-dade de relacionamento no mercado, relação com os fornece-dores, acesso a clientes.

A metodologia envolve 53 indicadores. E o objetivo foianalisar a capacidade das empresas de formular e estabeleceruma estratégia e identificar mercados, um trabalho diretamen-te relacionado à Inteligência Competitiva. De posse dessametodologia, o banco pôde auferir o das empresas, seunível de risco.

– Não é preciso ser Sherlock Hol-mes nem seguir os passos de James Bond, o agente 007, paradesenvolver um sistema de Inteligência Competitiva. Mas sãonecessários certos atributos que envolvem algumas qualidadesdesses personagens, como perspicácia, ousadia, intuição, capa-cidade de discernimento, de farejar informações, persistência,criatividade, curiosidade.

social

player

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Caso Embraer

Nem detetive, nem espião

Também é importante ser dotado de habilidade de expres-são, ser influente socialmente, ter bom relacionamento e capa-cidade de liderança, ter conhecimento setorial, entre outras qua-lidades que ajudam no exercício do trabalho.

Segundo Marcos Cavalcanti, existem diversas formas de seantecipar ao mercado e à concorrência para levar avante comsucesso uma estratégia empresarial. Há muitas informaçõesque são de domínio público e estão ao alcance de qualquer pes-soa. Saber onde obtê-las, como processá-las e analisá-las é o xisda questão.

A maneira mais usada é participar de eventos, conferências,simpósios, debates, em que são apresentadosprojetos de uma determinada área. Entrevis-tar pessoas também é uma prática comum.Outra fonte de informações é o banco depatentes, o Instituto Nacional de PropriedadeIndustrial (INPI).

Sem falar na pesquisa e coleta de informa-ções em bancos de dados comerciais, estatísti-cas, relatórios de empresas privadas e públicasdo mundo todo. Além da mídia e da internet,inclusive redes sociais. É o trabalho de inteli-gência que indica como chegar a essas infor-mações e existe muita gente oriunda dessaárea, que conhece o caminho para extraí-las.

O profissional de inteligência parte paraestudar tudo sobre a(s) empresa(s) concor-rente(s) e suas linhas de pesquisa, assim comosobre os professores e equipes que desenvol-vem os estudos, no intuito de descobrir qual ée como, por exemplo, vem sendo desenvolvi-da uma determinada tecnologia.

“Uma das técnicas é explorar a vaidadedas pessoas, instigar e provocar para que reve-

lem detalhes de projetos. Em vista disso, aconselho meus alu-nos que vão trabalhar nessa área a não se precipitarem em colo-car nas redes sociais aquilo que não querem ver divulgado”,conta o professor.

Informações, portanto, podem ser obtidas sem que uma leiou a ética pessoal sejam infringidas. É possível extrair informa-ção sem partir para a escuta, a espionagem. A estimativa é que,dessa forma, se consegue obter 70% das informações deseja-das e necessárias para realizar um trabalho de inteligência,tomar decisões e agir estrategicamente.

Profissionais que se dedicam à Inteligência Competitivaprovêm de diversas áreas, como negócios, finanças, comunica-ção, recursos humanos, informática, marketing, análise de mer-cado, gestão de projetos. E já começa a existir o que reúne maisde uma dessas competências, tornando-se um especialista noassunto.

Além das especializações e pós-graduações, existem cursosde graduação para formar esse tipo de profissional, como o deEngenharia da Informação, da Coppe, que ensina como geren-ciar a informação, produzir conhecimento, analisar e difundir.

A formação dos profissionais é fundamental, uma vez quea matéria-prima desse sistema são as pessoas. Embora não sejauma panaceia, Marcos Cavalcanti garante que 90% das empre-sas bem-sucedidas dispõem de um processo de gestão doconhecimento e de Inteligência Competitiva. �

RUMOS - 17 – Janeiro/Fevereiro 2012

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RUMOS - 18 – Janeiro/Fevereiro 2012

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O objetivo é fazer

com que o PIB

do RS cresça

acima da média

do PIB nacional.

Política industrialFormulada para atrair e consolidar

investimentos para a economia

tradicional e para a nova economia.

Política para economia de cooperaçãoFormulada para apoiar as cooperativas,

as redes de cooperação e os APLs.

Política para firmaFormulada para tratar cada projeto

de maneira sistêmica.

Rio Grandedo Sul lançarásua políticaindustrial – oterceiro e últi-

mo pilar do Modelo deDesenvolvimento Indus-trial – .Este pilar envolve a con-solidação e a atração deinvestimentos da econo-mia tradicional do estado,como agroindústria, e desua nova economia, comoindústria oceânica. Ossetores estratégicos con-templados são, ao todo,22, definidos com base em 12 critérios, como geração deempregos, posicionamento competitivo do estado e poten-cial de desconcentração e alocação em regiões deprimidas.

Os outros dois fundamentos do Modelo de Desenvolvi-mento Industrial do estado do Rio Grande do Sul – políticaspara economia de cooperação e para firma – já estão emandamento. A meta global é fazer com que o Produto Inter-no Bruto (PIB) do estado cresça acima da média do PIB naci-onal. “O modelo, alinhado com o Programa de Inovação doBrasil e o Programa Brasil Maior do governo federal, se dife-rencia dos anteriores pela retomada do planejamento de lon-go prazo e pelo desenvolvimento de um sistema econômi-co”, diz Junico Antunes, secretário-adjunto da Secretaria deDesenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI).

em março próximo

Por Juliana Cariello

GESTÃO

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Rio Grande do Sul la nO Modelo de Desenvolvimento Industrial do RS ficará completocom a instalação do seu terceiro e último pilar: a políticaindustrial. Os outros dois são: políticas para economia decooperação e para firma.

O porto do Rio Grande ficará, basicamente, com produtos de maior valor agregado. A produção debarcos de apoio e módulos será deslocada para outros municípios gaúchos, como Charqueadas.

Page 19: Revista Rumos

RUMOS - 19 – Janeiro/Fevereiro 2012

A política para firma tem dois objetivos: tratar cada pro-jeto de forma sistêmica, com um gestor profissional dogoverno como responsável pelo acompanhamento; e arti-cular todos os atores envolvidos em cada empreendimento:as secretarias estaduais, os órgãos do governo federal, osmunicípios, as universidades, entre outros. Criada em 2011,a trata cada negócio de maneira global. Jáa política para a economia da cooperação objetiva contribu-ir com o desenvolvimento das cooperativas, formadas porpessoas físicas e pelos arranjos produtivos locais (APLs) epelas redes de cooperação, integradas por pessoas jurídicas.

“Só as redes de cooperação do Rio Grande do Sul fatu-ram, somadas, R$ 5 bilhões por ano”, contabiliza Antunes.Ele também lembra o quanto foi investido nos APLs no anopassado: R$ 2,3 milhões em 13 projetos de cinco APLs etrês núcleos de extensão produtiva, o que beneficiou umconjunto de 2,1 mil empresas pelo menos. As ações foramcoordenadas pela Agência Gaúcha de Desenvolvimento ePromoção do Investimento (AGDI).

A AGDI é o braço operacional do sistema de desenvol-vimento do Rio Grande do Sul. A agência cuida de ques-tões como infraestrutura e energia, desenvolvimento pro-dutivo e inovação, promoção comercial e atração de inves-timentos e políticas e programas. Já o financiamento doprojeto é responsabilidade da agência de fomento gaúcha(Badesul), do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Ban-risul) e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-mo Sul (BRDE).

Sala do Investidor

Este último também está diretamenteenvolvido na formulação de estudos setoriais cujo objetivoé auxiliar no desenvolvimento de políticas para os segmen-tos selecionados. Entre eles: cadeia do leite e da maçã, gera-

Agroindústria(economia tradicional) R$ 5,3 milhões 3,6% 658 0

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento do Rio Grande do Sul (SDPI)

(nova economia) R$ 2,7 bilhões 18,7% 19.200 26.000

Indústria Oceânica

RS tem R$ 14,8 bi de investimentos produtivos anunciados em 2010-2011

(setor líder em investimentos

anunciados no período) R$ 4,2 bilhões 28,2% 10.500 16.500

Celulose

Segmento Investimentos

anunciados

Percentual dos

investimentos

totais no estado

Empregos

diretos

estimados

Empregos

indiretos

estimados

a nça política industrialção de energia a partir de resíduos, suinocultura e indústriaoceânica.

instituição financeira pública defomento que opera desde 1961.

englobando desde o fornecimentode matérias-primas, componentes e sistemas àintegração final dos módulos, até cascos e gran-des equipamentos, o que origina plataformas,sondas, etc. O percentual financiado peloBRDE depende do porte da empresa, e astaxas de juros, da finalidade do crédito.

– A indústria oceânica, principal seg-mento da nova economia do Rio Grande do Sul, é responsá-vel por 18,7% dos investimentos anunciados no estado em2010-2011. Os sete projetos do setor, somados, chegam a R$2,7 bilhões contra R$ 4,2 bilhões do segmento celulose, líderem investimentos no período, com 28,2% de participação.

O principal motor da indústria oceânica no estado, comono restante do Brasil, é a construção de plataformas e compo-nentes para a Petrobras. A estatal projeta gastos de US$ 224bilhões de 2010 a 2014 com conteúdo nacional de cerca de70%. Para aproveitar esta e outras oportunidades, a políticaindustrial do setor engloba a capacitação de mão de obra, a cria-ção de infraestrutura para as empresas e a descentralização dasatividades do porto do Rio Grande. Municípios como o deCharqueadas é um dos beneficiados por esta iniciativa.

“Vamos deixar os produtos de maior valor agregado noporto do Rio Grande devido ao seu calado maior e, ao mes-mo tempo, deslocar a produção de barcos de apoio e módu-los para regiões da bacia hidrográfica de menor profundida-de. Essas áreas antes eram subaproveitadas ou não utilizadaspara essa finalidade”, adianta Junico Antunes.

Com a coordenação da Secretaria de Desenvolvimentodo Rio Grande do Sul, o BRDE prospecta empresas-âncora para a indústria naval, auxilia na discussão do proje-to e, ainda, busca as fontes de recursos mais adequadas parao empreendimento. “O banco ajuda a companhia a redi-mensionar o tamanho do projeto de acordo com a oportu-nidade de mercado e indica a melhor localização para o seu

desenvolvimento, com o intuito de torná-loo mais viável possível”, explica Carlos JoséPonzoni, gerente de Planejamento doBRDE,

O banco dispõe de recursos para financia-mento de longo prazo para investimentos emobras civis e instalações novas, ou reformas,em projetos de implantação, ampliação, relo-calização ou modernização. O crédito tambémcontempla a aquisição de equipamentos nacio-nais novos para a cadeia produtiva da indústriaoceânica,

Indústria Oceânica

Page 20: Revista Rumos

ENTREVISTA

RUMOS - 20 – Janeiro/Fevereiro 2012

umos –

Campolina

Rumos –

Campolina

Quais são, no seu entendimento, os prin-

cipais entraves que dificultam o desenvolvimen-

to mais harmônico das regiões brasileiras?

Quais são as linhas mestras da política de desen-

volvimento regional mais adequada para o Brasil?

– A situação atual do desenvolvimento regionalbrasileiro decorre de um processo histórico. O Brasil vincu-lou as regiões produtoras no período colonial aos portos. Por-tanto, nunca houve na história brasileira, até JuscelinoKubitschek, uma política de integração territorial que pudes-se contribuir para formar um mercado interno e, ao mesmotempo, uma infraestrutra de suporte a essa integração. Comoa economia mercantil pressupõe trocas, e no período colonialas trocas eram, fundamentalmente, orientadas para o exteri-or, não havia uma relação mercantil forte entre as regiões bra-sileiras, o que foi determinante para a desigualdade no pro-cesso de desenvolvimento do país. O desafio, hoje, é corrigiros efeitos desse processo histórico à luz de muitas dificulda-des, porque à medida que se concentra a população – e odesenvolvimento econômico, por consequência –, enfrenta-se uma resistência à mudança, em função do que chamamosde espaço construído. É preciso haver muita vontade políticana perspectiva de médio e longo prazos, uma vez que as ques-tões estruturais não têm solução de curto prazo. É necessáriopensar uma política nacional orientada para uma maior har-monia territorial do desenvolvimento brasileiro, o que passa,também, por maior igualdade social.

– A dinâmica territorial do desenvolvimento édeterminada por dois grandes elementos estruturais: a redeurbana, a rede cidades; e o sistema de infraestrutura, em espe-cial, os transportes, que determinam o sentido dos fluxos. Nãose pode pensar uma política regional desvinculada da políticaurbana. O casamento dessas duas dimensões é decisivo. Parapensar uma política coerente de desenvolvimento regional nomédio e no longo prazos no Brasil, é necessário ter clareza das

Referência nacional no tema do desenvolvimento regional, ClélioCampolina faz uma análise, nesta entrevista esclusiva à , de comoo Brasil tem tratado dessa questão.

Rumos

Pela desconcent

Por Luiz Cláudio Dias Reis

Clélio Campolina

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

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Page 21: Revista Rumos

RUMOS - 21 – Janeiro/Fevereiro 2012

ntração territorial

O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG), Clélio Campolina Diniz, é professor titularda Faculdade de Ciências Econômicas (Face-UFMG), pesquisador do Centro de Desenvolvimen-to e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cede-plar) e representante do Brasil junto ao Comitê Cien-tífico da Rede Iberoamericana de Globalização e Ter-ritório. Engenheiro, mestre e doutor em Economia,especializado em desenvolvimento e planificação,Campolina foi bolsista, pesquisador e professor dasuniversidades de Oxford, Rutgers, Roma, Sevilla eJean Monet. Exerceu diversas funções de administra-ção acadêmica, entre elas a de diretor da Face, chefedo Departamento de Economia, diretor do Cede-plar, presidente do Conselho de Curadores da Fun-dação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep),presidente da Câmara de Ciências Sociais e Humanasda Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado deMinas Gerais (Fapemig), membro do Conselho Téc-nico Científico da Coordenação de Aperfeiçoamentode Pessoal de Nível Superior (Capes) e vice-presidente da Comissão de Desenvolvimento Localda União Geográfica Internacional. Campolina foidiretor-presidente do Parque Tecnológico de BeloHorizonte (BHTEC). Orientou dissertações e teses,é autor de dois e organizador de quatro livros e pos-sui dezenas de trabalhos publicados. Recebeu cincoprêmios por reconhecimento técnico ou acadêmicoe duas condecorações.

ações sob a estrutura da rede urbana brasileira e das vincula-ções entre esses polos urbanos com hierarquias diferenciadas.Não faz mais sentido se pensar em política de desenvolvimen-to regional para regiões isoladas, como ocorreu em vários paí-ses da Europa, nos EUA e em especial no Brasil, que teve polí-ticas exclusivas para o Nordeste, para a Amazônia e para o Cen-tro-Oeste. As especificidades regionais precisam ser tratadascom o devido cuidado, e numa perspectiva de projeto nacio-nal. A recriação da Sudene e da Sudam, por exemplo, se deunum contexto já ultrapassado. Elas fizeram sentido nomomento histórico em que foram criadas. Hoje, podem ser ele-mentos, digamos, coordenadores da ação regional, mas nãoformuladores das grandes políticas.

– As políticas de natureza assistencial, humani-tárias, são vinculadas à justiça social como o princípio maiorde qualquer projeto de desenvolvimento. Sou a favor das polí-ticas sociais, distributivas, mas elas precisam ser casadas coma política de desenvolvimento, que implica orientações estru-turais de investimento de médio e longo prazos. A políticaassistencial, puramente, é capaz de minorar as desigualdades,mas não é capaz de induzir estruturalmente um processo dedesenvolvimento. Além do benefício social, ela pode criarmercados, mas não tem capacidade de induzir mudançasestruturais do ponto de vista da economia e do território.

– Em 2009, o Ministério do Planejamento, atra-vés do CGE, encomendou um trabalho intitulado

. Foram constituídos cin-co grupos para desenvolver o projeto, e eu fui o coordenadorde um deles – composto por nove professores –, cuja propos-

Rumos –

Campolina

Rumos –

Campolina

As correções de desequilíbrios regionais exigem

medidas que vão além de programas de abrangência nacio-

nal, como os programas assistencialistas?

O senhor defende que o governo deve apostar num

país policêntrico, com vários centros de crescimento. Como

seria isso?

DimensãoTerritorial do Desenvolvimento Brasileiro

Page 22: Revista Rumos

RUMOS - 22 – Janeiro/Fevereiro 2012

ta era a de organizar uma nova regionalização dopaís para efeito de políticas públicas. Com essedesafio, dividimos o país em 11 macrorregiões eem 88 sub-regiões, com a ideia de que a políticaregional deveria ser pensada em função dascaracterísticas de cada região. Por exemplo, o

Vale do Ribeira de São Paulo poderia estar junto com algumaregião nordestina; e Recife, ou Fortaleza, não necessariamenteestarem juntos, embora sejam duas cidades vizinhas do Nor-deste. A estrutura dessa nova regionalização estava baseada narede urbana policêntrica, em macropolos e em subpolos,estando o sistema de transportes articu-lado a tudo isso. A ideia pode parecer umtanto utópica, mas cabe a quem tem aobrigação de pensar refletir sobre as uto-pias, porque muitas delas se transfor-mam em realidades do presente. Eu jáfui um planejador que pensava quepodia, na minha mesa, mudar o mundo.Isso não é possível. O mundo tem queser mudado politicamente, socialmente.

– Com certeza! Frei Vicen-te Salvador, que viveu no século XVI,dizia que os portugueses estavam “arra-nhando a costa do Brasil”. Já o teólogofrancês Jacques Lambert, dizia quehavia “dois brasis: um da costa e outrodo interior”. A observação do mapa doBrasil mostra que a maior densidadedemográfica está na região litorânea,com algumas pequenas infiltrações parao interior, destacando-se, ainda, umgrande vazio populacional nas regiõesCentro-Oeste e Norte. Esse fato foi ate-nuado com a decisão de incorporar àfronteira agrícola, a tecnologia para a utilização produtiva doscerrados. A mudança da capital para Brasília também teve umefeito estruturante muito significativo, inclusive com a deci-são de formar os grandes eixos de integração nacional, sobre-tudo os rodoviários.

Como resultado desse processo histórico foram forma-das megaconcentrações urbanas no país. Hoje, são 22 aglo-merações urbanas e mais de um milhão de habitantes. Aregião metropolitana oficial de São Paulo, por exemplo, tem,hoje, cerca de 20 milhões de habitantes, e só é comparável aovale central do México. Com essa região ampliada, levando-seem consideração as pessoas que se deslocam de Campinas,Sorocaba, Santos e São José dos Campos, diariamente, para otrabalho, o número de habitantes ultrapassa a casa de 30milhões. Trata-se, portanto, de uma megaconcentração. Em1950, a população brasileira era de 50 milhões de habitantes.Em 2010, chegou a 190 milhões de habitantes. Ou seja, multi-

Rumos –

Campolina

O desenvolvimento brasilei-

ro se deu com fortes concentrações terri-

toriais?

plicou por quase quatro em 60 anos, com forte migraçãodo meio rural para o urbano. Em 1950, o país tinha 35% depopulação urbana e 65% de rural, sendo que da parcelaurbana uma boa parte era formada por pequenas cidades,ou vilas, que tinham uma característica muito mais rural doque urbana. Hoje, cerca de 85% da população urbana viveem megacidades. Foram essas características estruturais dodesenvolvimento brasileiro que constituímos nas últimasdécadas. O atenuante foi a expansão do Centro-Oeste,sobretudo com Brasília e Goiânia. Do ponto de vista estru-tural predominou a faixa de cidades que já vinham crescen-

do anteriormente, o que é uma questãoestrutural grave.

A proposta que defendo é que opaís eleja novas centralidades para con-centrar investimento, e que estas sejamarticuladas por um sistema de infraes-trutura, em especial de transporte, que,como já disse, determina o sentido dosfluxos materiais. A literatura mencionaisso há 200 anos. Uma política de novascentralidades urbanas, articulada a umgrande projeto de infraestrutura inte-grador, resultaria em melhor distribui-ção da população e das atividades eco-nômicas do território, sem, necessaria-mente, homogeneizar, afinal, o proces-so de desenvolvimento é, por natureza,desequilibrado.

Brasília, Goiânia, Palmas e BeloHorizonte, que foram construídas paraserem capitais, geraram grande capaci-dade de atração e receberam prioridadede investimento público e privado. Hojenão é mais possível reproduzir expe-riências nesse formato, mas pode-se, aose decidir fortalecer certas centralidadesurbanas, orientar, por exemplo, a respei-to da estruturação dos sistemas educaci-

onal e de saúde e de como concentrar o centro de apoio àcomercialização e armazenagem. Tudo isso articulado como sistema de transporte, é possível reorientar o processo dedesenvolvimento.

A megaconcentração urbana no Brasil se transformounum grave problema a ser enfrentado, visando à sustenta-ção do processo de desenvolvimento. Além de transportepúblico caro e deficiente, as facilidades oferecidas para acompra de automóvel “engarrafou” as cidades e criou gra-ves problemas de trânsito. A solução, a meu ver, seriam sis-temas de transporte sobre trilhos mais modernos, ou mes-mo sobre rodas, com fluxo predeterminado, fundamental-mente, o metrô e suas variantes. Mas construir uma estru-tura desse porte depois da cidade construída custaria mui-to caro. A concentração populacional implica concentrarrecursos para resolver questões estruturais, a exemplo detransporte público, saneamento, habitação e segurança

proposta quedefendo éque o país elejanovas centralidadespara concentrarinvestimento,e que estassejam articuladaspor um sistemade infraestrutura,em especial detansporte.

A

ENTREVISTA Clélio Campolina

Page 23: Revista Rumos

RUMOS - 23 – Janeiro/Fevereiro 2012

pública, hoje um desafio nacional que afeta todas as classessociais.

O mundo está correndo para ser competitivo e produti-vo. Todos querem se modernizar para competir no mundoglobalizado. O mercado tomou uma força tal que a sociedadeestá a serviço do sistema produtivo, quando deveria ser o con-trário. O sistema produtivo deveria estar a serviço da socieda-de para gerar o seu bem-estar. Estamos vivendo um fenôme-no mundial dramático com a quebra do paradigma do socia-lismo. Não há projeto novo de sociedade com essa volúpia domercado integrado à escala mundial. O objetivo, hoje, é com-petir, ter eficiência, agora, se isso vai gerarbem-estar social, ou não, é secundário.Mas só acumular riqueza material nãogera bem-estar para a sociedade. O cida-dão precisa do básico para viver digna-mente. Ele quer se vestir, comer, estudar,ter assistência médica.

Hoje, se alguém for morar nos EUA enão quiser comprar nada, basta recolherprodutos descartados nas ruas, que écapaz de montar uma casa absolutamentefuncional. É uma pena, mas a sociedadevai destruindo tudo. E reverter essa situa-ção é um grande desafio para o mundomoderno. A verdade é que estamos escra-vos disso. Todos os governos e toda a soci-edade estão querendo criar condiçõespara produzir eficiência e capacidade decompetir para gerar riqueza. Mas qual é obenefício social que isso gera? Nós nãotemos paradigma de sociedade. A expe-riência do socialismo não é mais reprodu-zível. Não adianta querer implantar a dita-dura do proletariado, ou a propriedadecoletiva dos meios de produção. Essasexperiências não deram certo por um pro-blema central: falta de liberdade. É preci-so combinar igualdade com liberdade, afi-nal, uma não existe sem a outra. É difícil propor elementosestruturais para o desenvolvimento econômico que só deemresultado no médio e no longo prazos, pois os governos elei-tos têm que mostrar realização imediata.

– Claro! O crédito de longo prazo é decisivo. Ofinanciamento tem duas dimensões: o público e o privado.Mas no Brasil os bancos têm uma grave anomalia: enquantoem todo o mundo desenvolvido o sistema bancário privadofaz financiamento de longo prazo com taxa de juros adequa-da, aqui o sistema bancário privado está fundamentalmenteorientado para o curto prazo. Só o sistema financeiro públicobrasileiro, por intermédio dos bancos de desenvolvimento edas agências de fomento fazem financiamento de longo pra-

Rumos –

Campolina

Mas o crédito de longo prazo é fundamental para

sustentar uma política de desenvolvimento regional ade-

quada ao Brasil?

zo no país. Já os bancos privados emprestam para o governo.Eles captam dinheiro da sociedade para bancar a dívidapública. Essa é a situação mais desconfortável possível, por-que o sistema bancário privado não faz o esforço do risco,que fica todo por conta do governo. Esse é um problemacomplexo. O sistema bancário privado deveria ser condicio-nado a emprestar para projetos de investimento de longo pra-zo, com taxas de juros adequadas, de padrão mundial: 4, 5,6% ao ano, e não 10, 12 15%. Acaba que o setor privado nãoresolve problemas estruturantes, porque estes não dão recei-ta de curto prazo. Sabemos que estamos vivendo a era do capi-

talismo da empresa privada. Ninguémestá propondo acabar com isso, e nem épossível no atual cenário político.

– Esses bancos têm umpapel muito importante a cumprir,sobretudo porque operam os fundosconstitucionais – FNO e FNE – e têm aespecificidade e a capilaridade regional.Brasília pode ser a matriz das grandesdiretrizes do desenvolvimento nacional,mas não é possível ter uma políticaexclusivamente comandada a partir dacapital. Capilaridade é fundamental, epara ter capilaridade é preciso formarredes. O BNDES, por exemplo, não temcapilaridade. Ele depende dos demaisagentes de crédito para alcançar todo oterritório nacional. Por isso, a aliançaentre o sistema central e os bancos regio-nais é muito importante. E nesse contex-to, o Banco do Nordeste e o Banco daAmazônia cumprem muito bem essepapel.

– Tenho uma visão muito diferenciada sobre oCentro-Oeste. O Brasil trata política regional pensando, fun-damentalmente, em três regiões: a Nordeste, que é de ocupa-ção antiga, ainda com muita pobreza e com deficiência deinvestimento estrutural; a Amazônica, que é um bioma muitoespecífico e que merece um projeto de desenvolvimento par-ticular, calcado num padrão produtivo que aproveite a biodi-versidade e a potencialidade da região; e o Centro-Oeste, umafronteira rica e dinâmica do Brasil que caminha praticamentesozinha. Mato Grosso, por exemplo, é, hoje, o maior celeirodo país em termos de produção de algodão. Temos que apro-veitar o potencial do desenvolvimento do Centro-Oeste, semdescuidar do controle das questões ambientais. Diferente doNordeste e da Amazônia, o mercado, por si só, já leva o Cen-tro-Oeste para a frente. A região não precisa de um indutorespecífico. Ou seja, ter um banco regional não é uma necessi-

Rumos –

Campolina

Rumos –

Campolina

Qual a sua avaliação da atua-

ção dos bancos regionais?

Caberia a criação de um ban-

co regional no Centro-Oeste?

m todo o mundodesenvolvido osistema bancárioprivado fazfinanciamento delongo prazo, comtaxa de jurosadequada. No Brasilo sistema bancárioprivado estáorientado para ocurto prazo.

E

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RUMOS - 24 – Janeiro/Fevereiro 2012

ENTREVISTA

dade econômica. O Banco do Brasil e a Caixa jácumprem a contento esse papel porque têm acapilaridade necessária no Centro-Oeste.

– Insisti muito com o Ciro Gomes, quando coor-denei a consultoria para ele, em 2004, de que haviam muitaslocalidades em que o problema da infraestrutura precisava serresolvido de forma prioritária, e que os agentes adequadospara financiar os respectivos projetos deveriam ser os bancosde desenvolvimento regionais. Não adiantava dar o incentivopara o investidor privado. Há certas regiões em que para seinduzir o desenvolvimento e se resolver determinados pro-blemas de infraestrutura, só mesmo o governo pode ser asolução, porque o setor privado não investe. Acho tambémque as prefeituras devem ter algum sistema de crédito especí-fico, pois há infraestruturas que são de responsabilidade dogoverno federal, outras são de responsabilidade dos gover-nos estaduais, mas há certas infraestruturas que poderiam serde responsabilidade dos governos municipais. E, para isso, osistema de crédito de longo prazo é fundamental. Paralela-mente, o crédito via setor privado também pode ser bem-vindo, isto é, se houver estímulo para o investimento, se hou-ver possibilidade de retorno.

O desenvolvimento regional tem que estar acoplado aoplanejamento nacional. Já houve várias tentativas de regiona-lizar o orçamento nacional, mas isso não é simples de ser fei-to. Não se pode dividir os recursos utilizando-se o critério dotamanho da população, porque muitos investimentos deinfraestrutura são indivisíveis, embora já existam algunsinvestimentos indutores disso. Nos projetos da Financiadorade Estudos e Projetos (Finep), por exemplo, a contrapartidados estados das regiões mais pobres é bem menor do que acontrapartida dos estados das regiões mais ricas. É precisopensar o planejamento nacional de acordo com a dimensãoterritorial.

– Apoio. Essa, aliás, é uma boa política. A educa-ção é um elemento central no Brasil, que tem que ser encara-do de forma integral: da creche à pós-graduação. O grandeproblema da educação brasileira hoje - e eu sou reitor de uni-versidade, doutor, pesquisador, professor titular, então estouà vontade para dizer - é o enfrentamento da questão da educa-ção fundamental e média. Não se constrói a casa a partir dosegundo andar. Nós temos uma pós-graduação pujante, vári-as fronteiras de pesquisa, e temos que continuar investindonelas. Eu estou o tempo todo correndo atrás da excelênciados meus cursos: são 70 programas de pós-graduação, sendoque 25 já têm classificação 6 e 7 de excelência da Capes.

O Brasil tem que enfrentar o desafio da educação funda-mental e média, que tem que ser interiorizada com diretrizes

Rumos –

Campolina

Rumos –

Campolina

Que características o crédito de

fomento precisa ter, no âmbito regional, para

ser eficiente no apoio a investimentos produtivos e na obten-

ção de contrapartidas sociais adequadas?

O senhor apoia a interiorização das universida-

des e das escolas técnicas?

gerais. A escola fundamental tem que estar onde a populaçãoestá, e a escola média pode ser um pouco mais concentrada.As escolas técnicas têm que estar adaptadas aos desafios e àspotencialidades regionais. Eu disse aos reitores dos InstitutosFederais de Educação Tecnológica, numa recente palestraque fiz em Poços de Caldas (MG), que vincular a orientaçãoeducacional técnica às necessidades da região é uma questãofundamental. Por exemplo, 85% da formação do InstitutoTecnológico de Macau é destinada à preparação de mão deobra para trabalhar em cassino. Não estou dizendo que issoseja bom ou ruim, mas que o fato é que lá o emprego está nocassino, seja como , técnico das máquinas de jogo, gar-çom, etc. Cada região tem as suas especificidades a seremexploradas.

A sociedade e a estrutura produtiva estão mudando. Anti-gamente, pensávamos no agrário, depois no industrial. Hoje,cerca de 70% da população está empregada no setor de servi-ço. Por isso, temos que adaptar a formação tecnológica à novademanda do mercado de trabalho, o que não é nada simples.Não estou contra o torneiro mecânico, nem contra o eletricis-ta, mas a demanda da sociedade hoje é outra. É preciso ter gen-te qualificada que saiba língua estrangeira, informática, que sai-ba escrever na sua língua nacional e que tenha alguma base dematemática. Essa é a formação básica da escola média. Depo-is, dá-se a orientação tecnológica, de acordo com as especifici-dades da região. No Centro-Oeste, por exemplo, é preciso for-mar gente que entenda de agronegócio. No Nordeste, por suavez, a energia solar é a matéria, do futuro. Eu sei que isso não ésimples, mas esse esforço precisa ser feito.

– O interior não tinha renda monetária e era mui-to comum, até pouco tempo, sobretudo no interior do Nor-deste, a prática do escambo. O trabalhador rural brasileiro,com o passar do tempo, se tornava um miserável, em geraldependente do filho, ou um pedinte. As políticas sociais colo-caram renda nessas sociedades. Hoje, as pequenas cidades dointerior têm comércio, têm supermercado. O salário mínimopara a pessoa que mora no interior tem um significado especi-al: é renda monetária e representa capacidade de compra. Issoculminado com o crescimento das oportunidades de trabalhoestá ampliando o mercado de massas, mas a renda no Brasilcontinua muito mal distribuída. Embora o mercado de con-sumo esteja sendo ampliado, ainda existe uma elite de consu-mo no Brasil. A sociedade está tendo acesso a todo o tipo debem de consumo: eletrodoméstico, automóvel, etc., mas odesejável mesmo é que tivesse primeiro, por exemplo, trans-porte público.

Essa coisa de dizer que a prioridade tem que ser a expor-tação é um equívoco que, felizmente, está sendo superado. Aprioridade tem que ser o mercado interno também. As duascoisas precisam crescer em conjunto. Para um país com otamanho do Brasil, o que dá sustentação é o mercado interno.Nós não somos uma Coreia, uma Holanda. Nós somos um

croupier

Rumos –

Campolina

Como o novo mercado de consumo, baseado na

ampliação da Classe C, pode estar associada ao desenvolvi-

mento regional, especialmente do Norte e Nordeste?

Clélio Campolina

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RUMOS - 25 – Janeiro/Fevereiro 2012

país de quase 200 milhões de habitantes, com 8,5 milhões dequilômetros quadrados. A nossa dicotomia – mercado inter-no mercado externo – já foi superada. Ao se produzirpara exportação, está-se gerando emprego e renda e, portan-to, está-se crescendo o mercado interno, que é extremamentepositivo. O Brasil continua crescendo com um problema gra-

versus

muito próxima. Aqui no Brasil você repara esses detalhes napessoa e já faz uma certa distinção a que grupo social ela per-tence. Na Austrália, todos frequentam os mesmos restauran-tes, enfim, os mesmos lugares, embora ocupem, profissional-mente, funções diferentes. Do ponto de vista do bem-estar,das condições sociais de vida eles são semelhantes e têm umarenda muito mais bem distribuída.

– O Brasil tem muitos desafios a enfrentar. É pre-ciso levar em consideração que o mundo está passando porum processo acelerado, e imprevisto há poucas décadas, de

reorganização da sua geografia econômica epolítica. As crises americana e europeia,

a ascensão chinesa e indiana e deoutro conjunto de países,como o próprio Brasil, estãomostrando que estamos dian-te de um processo de pro-funda reorganização nospadrões do desenvolvimen-

to da economia mundial. Aoportunidade, agora, é dos países

emergentes, e eles têm característicassingulares. A China está em franco pro-

cesso de desenvolvimento, mas é umpaís muito difícil de entender, pois apre-

senta um nível de desigualdade altíssimo.A Índia, por sua vez, é um país com lideran-

ça cultural pesada, com castas religiosaspoderosas. E o Brasil é um país muito desigual

também, mas com várias potencialidades, como oseu tamanho geográfico e o significativo desenvolvimento

da sua fronteira tecnológica. O Brasil tem analfabeto, mastem fronteira tecnológica. Temos professores com condiçõesde trabalhar em Harvard, que é considerada a melhor univer-sidade do mundo. Nós somos uma sociedade multirracial,como dizia Darcy Ribeiro, mas falamos a mesma lingua, denorte a sul. O Brasil é integrado, não é como na Índia, porexemplo, em que cada lugar fala um dialeto. Além disso, temosmuita criatividade, e não vejo nenhum risco de ruptura institu-cional. Nós temos, sim, uma democracia burguesa, o estadode direito funcionando com deficiência, critica-se a justiça, apolícia, mas não está na cabeça de ninguém que vai haver umgolpe de Estado no Brasil. Essas são vantagens que o país pos-sui.

Quanto aos desafios, o primeiro deles diz respeito à redu-ção das desigualdades. Quando o governo reajusta o saláriomínimo, o resto todo corrige também. Além disso, temos ogrande desafio educacional. A população brasileira como umtodo precisa de escolaridade. Não estou querendo dizer quetodo mundo deve virar doutor, mas precisamos dar mais ênfa-se à educação. Outro grande desafio é a nossa integraçãointernacional, principalmente com a América do Sul. O Brasilé um , mas a nossa posição geográfica na América

Rumos –

Campolina

Quais são os grandes desafios para o Brasil no

futuro próximo?

global trade

TIPOLOGIA DOS POLOS

Macropolos consolidados

Macropolos induzidos

Subpolos induzidos

(11)

(7)

(22)

ve: tem o maior leque salarial oficial do mundo. Tínhamos umsalário mínimo de R$ 545,00 e um teto salarial oficial de cercade R$ 26 mil. O salário mínimo passou para R$ 622,00, masainda temos um leque salarial de 41 vezes. Não há país desen-volvido no mundo que tenha esse leque salarial. É óbvio quefora dessas faixas oficiais há quem ganhe muito mais e háquem não ganhe nada. Esse é um problema estrutural grave.

– A faixa ideal deste leque não poderia de nenhu-ma maneira passar de 10 vezes. Por exemplo: o salário míni-mo em R$ 2 mil, e o teto salarial em R$ 20 mil. Isso é muitomais compatível. O ideal mesmo é que fosse ainda menor: cin-co vezes. Na Austrália, que é um país capitalista, não se perce-be a diferença de faixas salarias das pessoas pelas suas aparên-cias físicas, pelas roupas que usam, pelos automóveis que pos-suem, nem pelas casas em que moram, porque a renda delas é

Rumos –

Campolina

Qual seria a faixa ideal deste leque salarial?

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RUMOS - 26 – Janeiro/Fevereiro 2012

ENTREVISTA

do Sul é imperativa. Portanto, temos que arru-mar uma consertação com os nossos vizinhos,caso contrário será impossível se pensar um pro-jeto vigoroso de nação. Corre o risco, inclusive,de o Brasil ser visto como um inimigo, um país

imperialista, hegemônico etc. Mas essa não é uma tarefa sim-ples, haja vista a nossa relação com a Argentina. Sem umentendimento entre o Brasil e a Argentina não dá para pensara América do Sul. A exemplo da Europa, em que a Alemanhavai pagar a conta da Grécia e de Portugal, alguém terá quepagar a conta do Paraguai e da Bolívia,por exemplo, na América do Sul, e essealguém principal é o Brasil, que é o quetem mais.

Outro grande desafio, no meuentendimento, é como nos preparar-mos, do ponto de vista científico e tec-nológico, para termos condições deigualdade na competição do mercadomundial. Esse é um desafio paradoxal,porque o mercado busca eficiência sempreocupação com a questão do social.Mas não existe solução isolada nessecaso. Portanto, não podemos ser autô-nomos, como uma ilha. O Brasil precisaser global, pode ser diferente, inspira-dor, mas nunca autônomo.

A questão urbana brasileira tambémé um grande desafio. O que fazer com asmegaconcentrações urbanas, sem umsistema de transporte público eficiente?É preciso muito dinheiro para resolverisso, e muita consertação com o merca-do, que quer ganhar dinheiro. Há aindao problema da exploração e da especu-lação imobiliária, que me preocupa mui-to. Acho que estamos vivendo umabolha imobiliária, com os elevadíssimospreços dos imóveis.

Temos também o grande desafio ambiental. A sociedadeainda não aprendeu a tratar a questão do meio ambiente. Aprimeira conferência mundial sobre meio ambiente foi reali-zada em 1971, em Estocolmo. A preocupação anterior aindaera com a questão de recursos para a guerra. Depois, o Clubede Roma deu o alerta sobre o esgotamento dos recursos natu-rais. E hoje, esta questão está na ordem do dia. O desenvolvi-mento produtivo nos dá a satisfação tecnológica, mas a inter-ferência na natureza é crescente. Essa relação precisa ser maisbem monitorada. Nesse aspecto, ainda temos um desafioespecial e específico, que é a Amazônia brasileira, que desper-ta a cobiça internacional. Em conjunto com os países vizi-nhos, parceiros na região, temos que cuidar da segurança daAmazônia. Precisamos também de uma grande concentra-ção de investimento para pesquisa nessa área, visando identi-ficar novos padrões produtivos para a Amazônia, de forma a

produzir sem destruir a biodiversidade.O Brasil precisa voltar a colocar no bojo do planeja-

mento nacional as grandes questões estruturais. E uma dasgrandes questões estruturais é justamente a dimensão ter-ritorial do desenvolvimento brasileiro, inclusive, no quetange à nossa articulação com o mundo. Isso não pode sertratado como uma questão isolada. O Ministério da Inte-gração Nacional é fraco, sem poder. E por isso esse assun-to fica sendo tratado de forma minorada. Eu não sou ingê-nuo, nem estou almejando o planejamento compreensivo.

Isso está superado, não dá certo, mastemos que pensar alguma forma de iden-tificação de grandes temas nacionais epensar a articulação entre eles.

O Ministério do Planejamento, porsua vez, tem cuidado muito de orça-mento. O orçamento é a última etapa doplanejamento. A primeira etapa é a dedecisão sobre o que é prioridade parainvestimento. Me preocupa a falta deuma articulação mínima entre as políti-cas de governo. Por exemplo, a políticaurbana, a política de transportes e o pla-nejamento nacional precisam conver-sar, mas de uma maneira mais intensa,mais permanente. Nós destruímos mui-to o aparelho de Estado. Na era Collor,tivemos aposentadorias de forma acele-rada, e a própria administração anterior,com ideias neoliberais, interveio na eco-nomia reduzindo a presença do Estado.Isso fez muito mal ao Brasil.

Os concursos públicos, hoje, porsua vez, estão trazendo uma geraçãomais nova e qualificada que pode daruma certa estabilidade à marca pública.Os grandes dirigentes continuam sendoeleitos politicamente, mas a marca tem

que ser a sua lógica, a sua racionalidade, o seu funciona-mento. A lógica não pode ficar sendo desmontada, ourecriada a cada governo eleito. A Universidade Federal deMinas Gerais (UFMG) tem muitos defeitos, mas tem umaqualidade especial. Nenhum novo reitor, ao assumir o car-go, muda o rumo da universidade. A UFMG é muito insti-tucionalizada. O reitor não passa por cima do ConselhoUniversitário, e sequer integra esse Conselho. Isso traz cer-ta morosidade às decisões, mas dá muita estabilidade à ins-tituição. Portanto, da mesma forma o Estado precisa serfortalecido. Nós precisamos de mais Estado, e não demenos Estado.

Um outro problema estrutural grave, contemporâ-neo, que precisa ser combatido no Brasil, em todas as esfe-ras e instâncias, é a corrupção. A falta de ética pública cor-rói os valores sociais e é o pior e mais danoso dos mausexemplos. �

Clélio Campolina

m problemaestrutural grave,que precisa sercombatido, emtodas as esferas einstâncias, é acorrupção. A faltade ética públicacorrói os valoressociais e é o pior emais danoso dosmaus exemplos.

U

Page 27: Revista Rumos

( ) O cenário perfeito para um grande resort.

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Page 30: Revista Rumos

A possibilidade de um agravamento da crise internacional é o principal fator areduzir as expectativas para o desempenho da economia brasileira em 2012.Cautela é a palavra de ordem de todos os especialistas consultados, quelembram que no ano passado, ao não considerar os efeitos do cenário externo, opaís acabou desacelerando mais do que previa o governo no início do ano,quando precisou colocar o pé no freio após a forte expansão de 2010. Assim,2012 começa num cenário completamente diferente com o país tendo que voltara aquecer a economia ao mesmo tempo que tem no radar a crise na Europa.

sas pessoas é com a sobrevivência do dia.Na medida em que se assegura uma rendamínima, elas deixam de ser prisioneiras docurto prazo e têm oportunidade de poderse dedicar a capacitação”, resume.

– CezarManoel de Medeiros, economis-ta mineiro, observa que o atualmodelo de desenvolvimentobrasileiro está baseado naestruturação de um mercadode massas através de mecanis-

Questões estruturantes

Por Carmen Nery

E

Cautela

“ m 1011, o contexto era de desaceleraçãoprogramada. Foi um ano que ficou aquémdo desejado, mas que não se pode dizerque foi negativo, pois geramos 2 milhõesde empregos, reduzimos os juros e a eco-

nomia cresceu. Iniciamos 2012 de forma diferente e vamoscrescer mais que 2011. Mas teremos que inovar nas decisões ena gestão. Será um ano eleitoral, e isso é sempre tenso peloembate político, o que pode criar dificuldades de aprovaçãode programas no Congresso”, avalia Márcio Pochman, presi-dente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Para ele o governo terá que ser mais eficiente na execuçãodos gastos, e o ideal é uma coordenação das políticas fiscal,monetária e cambial, o que, na sua avaliação, o governo Dilmavem conseguindo executar por meio de articulação e conver-gência de ações entre a Fazenda e o Banco Central. Ele tam-bém recomenda a adoção de medidas mais ousadas para apro-veitar a crise internacional a favor do país: “Uma forma é usaro Fundo Soberano para a compra de ativos e por meio de umaação mais integrada com os ministros de economia dos paísesda América Latina para conter o avanço chinês, como estraté-gia de defesa”.

Pochman, que considera adequadas as políticas sociais dogoverno Dilma, também observa que 2011 foi o ano da pactu-ação para transformar a questão da miséria num tema político.O Plano Brasil Sem Misérias acrescenta outras formas menosdependentes de recursos diretos, como levar o Estado maispróximo dessas populações com inclusão produtiva por meiode capacitação profissional. Mas ressalva também que não hámal em medidas assistencialistas como o Bolsa Família, quegarante renda mínima para 16 milhões de brasileiros que têmrenda de R$ 2 por dia. “A principal preocupação des-per capta

CAPA

RUMOS - 30 – Janeiro/Fevereiro 2012

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RUMOS - 31 – Janeiro/Fevereiro 2012

mos de inclusão social: programas de transferência de renda,valorização do salário mínimo e crédito abundante de modo aexpandir o mercado interno. A sustentação a longo prazo des-te modelo exige aumentos das produtividades do capital e dotrabalho para evitar pressões inflacionárias. Elevações dasprodutividades do trabalho podem ser obtidas com educaçãode longo prazo e qualificação profissional, enquanto a produ-tividade do capital exige investimentos em expansão emodernização de máquinas e equipamentos e na construçãocivil. “A formação bruta de capital fixo, que hoje está em 20%do PIB, deveria estar em 23% para garantir um crescimentodo PIB de 5% ao ano”, alerta Medeiros.

Ele também defende reformas argumentando que énecessário minimizar obstáculos resultantes de um sistematributário complexo e injusto, reduzir os déficits previden-

ciários, modernizar o código trabalhista e eliminar custosadministrativos institucionais e, o mais importante, diminu-ir o custo Brasil e elevar a produtividade sistêmica queenvolve a modernização, diversificação e a melhor explora-ção da matriz energética, promoção da infraestrutura e dalogística. “É imprescindível acelerar o Programa de Acelera-ção do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida”,recomenda.

Mas, em geral, tirando a conjuntura externa, as expectati-vas são relativamente positivas e apontam para um cresci-mento médio do PIB entre 3 e 3,5%, uma inflação sob con-trole na faixa de 5 a 5,5% e a taxa de juros entre 9 e 9,5%. Ocâmbio ainda divide opiniões entre os que apostam que oexcesso de liquidez na Europa e nos EUA deve contribuirpara uma nova desvalorização com o dólar fechando o anoentre R$ 1,60 e R$ 1,70; e os mais otimistas que apostam queo patamar atual acima de R$ 1,70 se mantenha até o final doano. A preocupar mesmo está a perda de competitividade daindústria e a escalada das importações, e a necessidade de seavançar nos investimentos em infraestrutura e na formaçãobruta de capital.

“O risco que enfrentamos hoje seria o de um evento des-ruptivo na Europa com a saída de um país do porte da Espa-nha ou Itália da zona do euro, ou a falência de um grande ban-co europeu. A Grécia o mercado já assimilou”, diz José LuizOreiro, professor do Departamento de Economia da Univer-sidade de Brasília (UnB) e diretor da Associação KeynesianaBrasileira. Neste cenário, poderia haver um congelamento domercado de crédito como ocorreu em 2008 após a quebra doLehman Brothers. “Mas se a Itália e a Espanha saírem doEuro, o efeito no mercado de crédito internacional será mui-to pior que em 2008, e teremos, inevitavelmente, uma reces-são como em 2009. A minha aposta é que a Grécia sai, mas oBanco Central Europeu, por intermédio da sua linha de cré-dito aos bancos, sustentará o preço dos títulos da Itália e daEspanha, impedindo um alastramento da crise”, avalia.

O economista observa que o Brasil poderá adotar os mes-mos instrumentos de 2008 para dar conta da crise, mas ressal-ta que a capacidade do BC de reduzir juros é menor em fun-ção das regras de remuneração da poupança. No cenário atu-al a taxa de juros, hoje em 10,5%, poderia chegar a 8,75% semcomprometer a rolagem da dívida pública. Mas se for neces-sário reduzir abaixo disso, poderá haver uma migração derecursos dos fundos de investimento para a poupança. “Esão os fundos os grandes responsáveis pela rolagem da dívi-da. Então, em algum momento, se houver realmente um agra-vamento da crise, o governo terá que mexer nas regras da pou-pança. Para preservar o pequeno poupador, seria recomen-dável fazer a indexação pelo IPCA, garantindo, a não perdade valor, mais 2% de juro real ao ano”, propõe.

Antonio Correa de Lacerda, professor do Departamentode Economia e dos Programas de Estudos de Pós-Graduação em Economia Política da Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo (PUC-SP), observa que o cenário mos-tra que os bancos centrais jogaram para baixo suas taxas dejuros para tentar recuperar suas economias. E uma economiaglobal cada vez mais dependente dos emergentes como a Chi-

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na, que também está desacelerando para umataxa de crescimento em torno de 8%. Com a cri-se e a recessão na Europa, as empresas dessespaíses estão mais agressivas. Lacerda lembra queo Brasil continua atrativo, mas em 2012 terá queir na contramão do que ocorreu em 2011, quan-do a economia desacelerou muito.

“O desafio de 2012 é reaquecer a economiamantendo uma política fiscal austera com incremento dosinvestimentos. Os juros têm que cair, o câmbio tem que estarcompatível para barrar as importações e evitar a perda decompetitividade sistêmica. Hoje é caro produzir no país ebarato importar, o que pode ser uma solução de curto prazo,mas a médio e longo prazos é ruim. Temos que encontrarmecanismos para viabilizar a produção, o investimento e ainovação”, defende.

Na avaliação do economista, o câmbio é o principal pro-blema a reduzir a competitividade da indústria, mas não é oúnico. O Brasil ainda tributa muito a produção e o investi-mento, ao contrário de outros países em que o investimentoindustrial gera um efeito multiplicador. Além disso, a infraes-trutura é ineficiente, e o custo de capital, elevado. “Há todauma agenda de competitividade que precisa ser atacada. Daí aimportância de políticas industriais para o enfrentamento deum cenário bem mais complexo. O Brasil não pode se dar oluxo de abrir mão de sua indústria”, resume Lacerda.

– Para salvar a indústria, Oreiro pro-põe uma desvalorização cambial de 30 a 40%. Mas admite umcusto político, porque haveria aumento de inflação e, conse-quentemente, queda do salário real no curto prazo.Mas se nada for feito, a indústria brasileira estarácondenada a desaparecer. “Não há país que tenha setornado desenvolvido sem uma indústria forte e atu-ante. Se perdermos a indústria voltaremos a ser umpaís primário exportador, com empregos ruins e bai-xos salários”, alerta.

Para o economista Luiz Carlos Mendonça deBarros, o maior perigo que a indústria brasileira cor-re, hoje, é se fixar apenas no câmbio, pois reduzirum problema estrutural, de natureza microeconô-mica, a uma questão de um preço desalinhado éuma simplificação perigosa. Para ele, as liderançasindustriais serão cobradas no futuro por este erro,se não passarem a defender mudanças sensíveis nosistema tributário, inclusive o aplicado aos serviçospúblicos e mercado de energia e petróleo, e que tor-nam os custos em reais destes produtos incompatí-veis com os de outros mercados. “A Petrobrascobra pelo gás natural que distribui a um preço qua-tro vezes superior ao que vigora nos EUA”, obser-va.

Na sua análise, o real é uma moeda forte em fun-ção da relação de troca que há entre os produtos pri-mários – dos quais o Brasil é um dos mais importan-tes produtores e exportadores – e os produtosindustriais. Além do fato de o Brasil estar entre osemergentes de maior crescimento em um momento

Indústria estagnada

em que as moedas do G7 estão perdendo sua importânciaentre os grandes investidores institucionais mundiais.

“Portanto, nos próximos anos, temos que conviver comuma taxa de câmbio próxima de R$ 1,60 em relação ao dólar ebuscar a redução do chamado custo Brasil, sobretudo nosetor industrial”, recomenda. Barros observa que a simplesmanutenção da vitoriosa política macroeconômica – fiscal,monetária e cambial - dos últimos dez anos não garante a con-tinuidade do crescimento na próxima década. “Apenas a con-tinuidade dos superávits primários capazes de estabilizar nos-sa dívida pública em relação ao PIB, ponto central da políticafiscal há muitos anos, não é mais suficiente. Da mesma for-ma, a política monetária precisa ser operada com o objetivode trazer os juros no Brasil para níveis mais próximos deoutros emergentes, inclusive promovendo uma revisão dosmecanismos de indexação e tributação da poupança financei-ra interna”, acrescenta.

Ele também recomenda uma agenda de ações microeco-nômicas para enfrentar os elevados custos de produção dasempresas brasileiras em um ambiente em que o real se fortale-ce. “Este é um desafio enorme, pois ainda não faz parte dasprioridades da presidenta Dilma e exigirá uma redução grada-tiva do nível de gastos do governo federal”, observa.

Para Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústriasde São Paulo (Fiesp), na constelação de problemas que sufo-cam a competitividade da indústria brasileira, a taxa de câm-bio sobrevalorizada é um dos principais fatores, mas é apenasum entre diversos entraves já bem conhecidos, como o eleva-do custo da energia e do capital, infraestrutura precária eescassez de mão de obra qualificada. Skaf observa que a

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Queda acentuada

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Total dasempresas

Volume de produção

Vendas no mercado interno

Exportações

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indústria de transformaçãoficou praticamente estagnadaem 2011, crescendo apenas0,2%, enquanto o comérciovarejista registrou crescimen-to de 6,6%. Esta dissociaçãoentre a velocidade de cresci-mento da demanda domésti-ca e a produção industrial,num ambiente de forteaumento da penetração deprodutos importados, sugereum claro vazamento do cres-

cimento da indústria para o exterior.“O saldo comercial do segmento saltou de um déficit de

US$ 36,5 bilhões, em 2009, para um déficit de US$ 71,2bilhões, em 2010, e US$ 92,4 bilhões, em 2011. Acreditamosque 2012 não reserva um quadro mais promissor para aindústria de transformação. A nossa previsão é que a indús-tria cresça apenas 1,5% em 2012. Para reverter esse quadrosão necessárias medidas que reduzam o custo Brasil, tais

como o aperfeiçoamento dainfraestrutura e a redução docusto de energia e do capital”,reivindica.

– Nesta conjuntura, a par-ticipação do BNDES, que em2008 teve papel crucial noenfrentamento da crise, é fun-damental para destravar osgargalos e impulsionar osinvestimentos na economiabrasileira. Segundo ClaudioLeal, superintendente daÁrea de Planejamento, o cená-rio externo é desafiador parao comércio internacional bra-sileiro que mantém exporta-ções muito concentradas ain-da em produtos comoditiza-

dos e dependente do crescimento da China e exportaçõesindustriais mais diversificadas, mas também dependentes demercados que hoje estão fracos. Por outro lado, a crise temproduzido movimentos protecionistas.

Leal diz que a atual conjuntura acaba direcionando muitoas prioridades do banco. Para 2012, os técnicos da instituiçãovêm monitorando os fluxos de curto prazo, o financiamentoao comércio e já há sinais de fechamento ou o encurtamentode linhas de crédito ao comércio exterior, os chamados

. “Temos monitorado e identificado um encarecimen-to e encurtamento de prazo, mas não há sinais de crise deliquidez”, sinaliza.

A área de infraestrutura está entre os principais focos dobanco e respondeu por 40% dos R$ 139,7 bilhões desembol-sados em 2011. Embora o volume represente uma queda de17% em relação aos desembolsos de 2010 (R$ 168,4 bilhões),

Infraestrutura precisa avan-çar

tradefinances

as liberações ficaram em patamar semelhante às realizadasnaquele ano se subtrairmos os R$ 24,7 bilhões aplicados peloBNDES na capitalização da Petrobras.

Fernando Cardim, economista da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ), observa que os gargalos na área deinfraestrutura são muitos e bem conhecidos, especialmentena área de transportes e energia. Para ele, numa concepçãomais ampla seria necessário incluir também obras de melhorade vida da população como o saneamento. Em sua análise hádois desafios importantes: fundos e gestão. Os fundos sãopoucos, especialmente na esfera pública, uma vez que investi-mentos públicos são, em geral, as vítimas de qualquer políticade rigor fiscal. E a gestão, muito ineficaz.

“É tudo lento demais, burocratizado demais, descoorde-nado na prática. O Brasil é um país muito grande e suasdemandas são extremamente altas. Um aparato de gestão econtrole muito mais eficaz que o existente é uma demandapara ontem. Certamente, os recursos do PAC não são sufici-entes para dar o impulso necessário à construção da infraes-trutura que este país demanda, mas, se a utilização dos recur-sos disponíveis fosse mais eficaz, já deveríamos estar vendoresultados muito mais impressionantes em termos de investi-mento público, crescimento da economia e aumento de com-petitividade”, analisa.

Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira deInfraestrutura e Indústria de Base (ABDIB), observa que nosúltimos dez anos o investimento anual total em infraestruturano Brasil cresceu de 2,5% para 4,0% em relação ao PIB,somando esforços e recursos públicos e privados, nacionais eestrangeiros. No entanto, a necessidade anual de investimen-to mínima também aumentou, de 3,5% para 5% ao ano emrelação ao PIB. O corte de R$ 55 bilhões no orçamento preo-cupa, mas ele entende que é possível conciliar um persistenteajuste fiscal com crescimento dos investimentos em infraes-trutura no longo prazo.

Um dos caminhos é aprofundar a eficiência na gestãopública, de forma que o Estado brasileiro possa entregarmais serviços com menos recursos, ou com os mesmosrecursos. Outra é transferir a responsabilidade de investi-mento em infraestrutura para o setor privado, uma das ban-deiras da ABDIB. Em relatório divulgado em janeiro, a enti-dade informa que as próximas concessões podem atrair R$90 bilhões, mas o potencial é bem maior.

“Quando há decisão política e eficiência administrativa,os leilões de concessão de projetos de infraestrutura são con-cretizados em um tempo bastante ágil. Um exemplo foi o lei-lão de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas eBrasília, que foram bem estruturados e bem-sucedidos. Issomostra que o setor apresenta boas e sólidas perspectivas decrescimento e há interesse forte dos investidores privados emapostar na infraestrutura brasileira no longo prazo”, dizGodoy.

Outro dado surpreendente no desempenho do BNDESfoi o volume de financiamento às micro pequenas e médiasempresas, que saltou de uma média histórica de 24% para36%, atingindo o recorde de R$ 49,8 bilhões. Carlos Albertodos Santos, diretor Técnico do Sebrae observa que como asmicro e pequenas empresas (MPE) são fortemente voltadas

RUMOS - 33 – Janeiro/Fevereiro 2012

Márcio Pochman, do Ipea

Cláudio Leal, do BNDES

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para o mercado interno, foram beneficiadas em2011.

“Os dados do Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE) mostram que os seto-res de comércio e serviços têm apresentadobom desempenho, e 85% das MPE se encon-tram nesses setores. Por sua vez, a agropecuáriatambém tem apresentado bons resultados, e

toda vez que o agronegócios vai bem, as MPE do interior tam-bém se beneficiam. Apenas o setor da indústria destoa entreos demais, pois a produção física cresceu 0,3% no ano passa-do, se comparado com 2010”, observa Santos.

O diretor do Sebrae destaca, ainda, que mais negócios seformalizaram no país: hoje são 1,9 milhão de empreendedo-res individuais, que saíram da informalidade e conseguiraminscrição no CNPJ, direitos previdenciários, entre outrosbenefícios. O total de MPE e empreendedores individuaisque aderiram ao Simples Nacional – sistema tributário dife-rencial – alcançou mais de 5,7 milhões ou 28% de crescimen-to frente a 2010. No ano passado, também foram gerados 1,9milhão de empregos com carteira assinada no país, um volu-me em que MPE respondem por 52%. “Odesafio para os pequenos negócios cresce-rem está no aumento da produtividade, oque requer inovação e práticas sustentáveispara ganhar competitividade”, diz.

Em 2012, os números ainda não estãofechados, mas o BNDES deverá repetir ovolume de desembolsos de 2011, algo entreR$ 140 e R$ 145 bilhões. O foco perma-nente continua em infraestrutura, inova-ção, qualificação profissional e gestãopública. Leal diz que a meta é continuar sus-tentando o investimento no Brasil a taxassuperiores ao crescimento do PIB. Suaexpectativa é que em 2012 o PIB cresça emtorno de 2,8%, e a taxa de investimento6,7%. “Não sei se vamos conseguir alcan-çar a meta de elevar a taxa de investimentopara 24% do PIB, mas temos que caminharnesta direção e com o foco na melhoria da competitividadedo país”, observa.

Mas há também o consenso que é preciso desenvolverfontes alternativas de financiamento de longo prazo, e o ban-co não só tem interesse como se engaja nisso. No ano passa-do, o presidente Luciano Coutinho esteve pessoalmenteenvolvido em diversas iniciativas conjuntas com a Associa-ção Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e deCapitais (Anbima) para concepção e desenvolvimento de ins-trumentos financeiros de longo prazo. Desse esforço surgiuo Novo Mercado de Renda Fixa (NMRF), que criou condi-ções vantajosas para emissão de títulos de empresas destina-das a projetos específicos com características que no fundosão de títulos de longo prazo.

Enilce Melo, gerente da assessoria econômica da Anbi-ma, observa que se estima que para crescer 5% ao ano de for-ma sustentada, o Brasil precisa investir algo entre 22 e 25%do PIB. Na média dos últimos cinco, dez e vinte anos, a de

investimento foi de 17,2%, 16,8% e 17,3% do PIB, respecti-vamente. “Vale dizer, registramos, sistematicamente, um hia-to de investimentos de 5% do PIB, ou mais, que precisa sercoberto para permitir a almejada aceleração não inflacionáriado crescimento. A questão é se o mercado de capitais desem-penhará um papel relevante como fonte de financiamento delongo prazo. A nossa expectativa é que sim, especialmenteconsiderando as naturais limitações da participação do crédi-to bancário”, diz.

Contribuem para esta percepção a coexistência doNMRF, a pleno vapor, com o avanço na regulamentação daLei nº 12.431/11, que isentou do imposto de renda pessoasfísicas na aplicação em debêntures de SPE voltada para ofinanciamento de infraestrutura, e investidores estrangeirosna aplicação em títulos destinados ao financiamento de inves-timentos, observadas as condições específicas definidas nalei. O BNDES, porém, continua apostando no engajamentodo setor bancário.

“O banco tem consciência que sustentar um investimen-to a essas taxas de que o país precisa não é uma tarefa que temque ficar com uma única instituição, e vamos fazer todo o

esforço necessário para desenvol-ver este mercado. Estamos redu-zindo os níveis de participação eao mesmo tempo convocando osetor privado. É uma agenda ende-reçada, e este convite continua depé. O BNDES tem o maior inte-resse em ver a participação dosbancos no financiamento de lon-go prazo”, assegura Leal.

O supe r in t enden te doBNDES também visualiza opor-tunidades na crise para o desen-volvimento de políticas industriaisde tecnologia e inovação naciona-is. Para Leal, inovação é um itemem que o país como um todo pre-cisa avançar muito. O Brasil vemse destacando em diversos indica-

dores, junto aos BRICs, mas sobretudo no que se refere aoesforço privado de inovação ainda está bastante abaixo. “Boaparte das pesquisas e desenvolvimento no país é de caráterpúblico, por isso o BNDES apoiou fortemente a iniciativa daMobilização Empresarial pela Inovação (MEI) liderada pelaConfederação Nacional da Indústria (CNI) como um com-promisso de diversas indústrias. E os recursos são crescentes.Em 2011, o banco investiu R$ 2,63 bilhões em inovação, qua-se o dobro dos R$ 1,37 bilhão de 2010”, observa.

– Se já é consenso que a inovação é itemvital para a competitividade do país, pode-se dizer que o anocomeça com perspectivas surpreendentes. Na Financiadorade Estudos e Projetos (Finep) os planos são ambiciosos. Noano passado a agência executou 100% dos recursos do FundoNacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico(FNDCT), que somou R$ 1,8 bilhão e comprometeu R$ 3,9bilhões de crédito de fontes que incluem os R$ 3,7 bilhões do

Inovação acelera

Paulo Mol, da CNI

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públicos federais, as entidades regionais e estaduais e as coo-perativas de crédito trabalhando como parceiros estratégicos.A ABDE está concluindo o seu planejamento estratégicopara consolidar o Sistema Nacional de Fomento e definir aslinhas de ação que, neste ano, devem focar em políticas regio-nais de desenvolvimento. A ideia é desenhar

a cadeia produtiva, agregando mais valor, levando a infraes-trutura e focando na formação de mão de obra.

“2011 foi muito positivo e a demanda foi bastante forte, oque deve se repetir em 2012. Mas é preci-so reduzir a burocracia como um todo. Oprazo médio para obtenção de financia-mento é muito longo, muitas vezes supe-rior a um ano, o que pode inviabilizar umprojeto. Outra questão importante dizrespeito à carga tributária que é muitoalta. Hoje, por exemplo, para investir R$100 milhões, a empresa tem que pagarantecipadamente cerca de R$ 20 milhõesem impostos, sem ter ainda qualquer fatu-ramento proveniente deste investimento.Por isso, repito, é preciso desonerar oinvestimento e reduzir a burocracia.Caberia, ainda, avaliar até que ponto a efi-cácia dos financiadores é comprometidapelo papel que lhes é atribuído de fazerseus clientes cumprirem as legislações fis-

cais, ambientais, trabalhistas dentre outras. Se o processo deconcessão de financiamento for destravado, a concessão decrédito vai explodir, porque a demanda existe”, prevê Cha-cur.

políticas dedesenvolvimento integradas que possam ser trabalhadas emconjunto pelas instituições associadas da região, fortalecendo

Desafios no setor privado – Guilherme Lima, vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvol-vimento das Empresas Inovadoras, observa que 2011 foi umano de contrastes. Houve pontos positivos como o Plano Bra-sil Maior, o fortalecimento da Finep, a estruturação daEmbrapii e o lançamento do programa Ciência sem Frontei-ras. Por outro lado, foi o ano do maior déficit da balançacomercial, em que apenas 36% das exportações são de pro-dutos manufaturados, o mesmo patamar de 1977.

“Inovação é fundamental para a competitividade. Tive-mos avanços nos instrumentos de apoio, mas a balançacomercial nunca esteve tão desfavorável. O déficit de US$ 90bilhões foi 30% superior ao de 2010. Isso mostra que o paísnão está se tornando mais competitivo na agregação de valoràs agrícolas. Um ponto chave para reverter estequadro é colocar a inovação como foco de estado de longoprazo, e não ficar dependente do cenário conjuntural”,defende Lima.

Uma das críticas é que, embora positivo, o Plano BrasilMaior ainda não definiu o orçamento e nem os instrumentosque serão usados no fomento à inovação, o que preocupa aindústria. A expectativa é que em 2012 o Plano passe por umdetalhamento, pois hoje ainda é macro e genérico.

“O ponto positivo é que o Plano trouxe a inovação para o

commodities

Programa de Sustentação do Investimento (PSI). A subven-ção econômica ficou na linha tradicional de cerca de R$ 500milhões. Mas o mais animador, segundo Glauco Arbix, presi-dente da Finep, é que a agência encerrou 2011 com uma car-teira de projetos de R$ 9,7 bilhões, dos quais R$ 3,9 bilhõesforam executados.

“Isso significa que entramos em 2012 com uma carteirade solicitações de R$ 5,9 bilhões para analisarmos e contra-tarmos. O volume é absolutamente surpreendente, porém,mais do que o volume é a qualidade dessa carteira”, destaca.Cerca de 70% são projetos incluídos dentro das prioridadesdo Plano Brasil Maior: energia, pré-sal, eta-nol ou energias renováveis; aeroespacial;TICs; saúde e defesa, áreas críticas de tec-nologia em que o Brasil é mais frágil. “Hácinco anos a informação é de que haviarecursos disponíveis, mas não havia bonsprojetos. Isso se inverteu e é sinal demudança chave no Brasil”, comemora.

A Finep também conseguiu reduzir em50% o tempo médio de análise de projetos,passando de 248 dias para 102 dias. Essasduas dimensões – interna e externa – quali-ficaram a agência a solicitar R$ 6 bilhões doPSI para 2012, mais que os R$ 3,7 bilhõesde 2011. O FNDCT deve girar em tornode R$ 3,5 bilhões se não houver contingen-ciamento. “A expectativa é que o orçamen-to da Finep seja em torno de R$ 10 bilhões,somando FNDCT, PSI, FAT e recursos internos”, sinalizaArbix.

Mas a maior novidade é que a Finep avançou muito naproposta de se tornar uma instituição financeira. O estudoencomendado à empresa Ernest Young já foi aprovado pelonovo ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, MarcoAntonio Raupp, pelo Banco Central e pela Fazenda. E estáem vias de ser apresentado para a presidenta Dilma Rousseff.Além de se tornar uma instituição financeira, a ideia é criaruma gestora de ativos de fundos de investimento, o que per-mitirá à Finep captar recursos no mercado e passar a atuar namodalidade de investimento, participando dos projetos dasempresas que poderão contar com uma participação acioná-ria da agência.

“A meta para 2012 é aprovar este plano no ConselhoMonetário Nacional, que nos concederá um prazo para adap-tar todas as regras de prudência e montar o sistema de fiscali-zação da agência para os próximos três anos. Depois vamosmontar um plano de voo detalhado para construir a gestorade fundos e ativos e a nossa qualificação. É evidente que nãoqueremos dar este passo sem termos uma estabilidade de

que hoje ainda é instável. A segurança do viria dadiscussão com a presidenta da República para saber quais sãoos fundos alternativos para a Finep”, anuncia Arbix.

fun-ding funding

O ano de 2012 também deverá ser marcado pelo fortale-cimento do Sistema Nacional de Fomento, no âmbito daABDE, segundo afirma Maurício Chacur, presidente da enti-dade. Ele observa que o sistema está sendo consolidado, ten-do o BNDES como âncora, e contando ainda com os bancos

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Maurício Chacur, da ABDE

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centro do debate e da política industrial quandoantes era apenas um capítulo. Das dez macro-metas do Plano quatro são claramente de inova-ção como base do aumento da competitividade.O discurso está bem montado, mas é preciso cri-ar instrumentos que ainda não foram explicita-dos”, diz Paulo Mol, gerente-executivo de Políti-cas Industriais e Inovação da CNI e um dos inte-

grantes da MEI. Ele admite, porém, que por parte da indús-tria há dificuldades para cumprir as metas que são ambicio-sas: dobrar os investimentos privados que hoje representam0,56% do PIB para 0,9% até 2015.

“O investimento em inovação é portador de futuro. Émenos conjuntural e mais estrutural. O impacto não é imedia-to. Passamos de 0,44% do PIB, em 2003, para 0,56%, em2010, que ficou estacionado em relação a 2009, quando tive-mos 0,57%. Andamos de lado”, lamenta Mol. A trajetória éascendente, mas de expansão moderada, tanto que, emboraos números de 2011 ainda não estejam fechados, a expectativaé que fiquem estáveis. “Se continuar neste ritmo, não vamoscumprir a meta. Teríamos que crescer num ritmo muito maisforte que a expansão do PIB, algo em torno de 0,08% ao ano,mas estamos crescendo 0,03%. Para superar isso precisamosde investimentos mais fortes e incentivos mais ousados”,observa.

Para Mol, a participação dos investimentos públicos eminovação já é equivalente à de países como o Reino Unido.Mas a agenda de inovação do Brasil está centrada em ciência eacademia e não nas empresas. “Essa conexão é que precisaser desenvolvida. Lá fora, quando se encontra um pesquisa-dor pergunta-se em qual empresa trabalha; no Brasil tem queperguntar em qual universidade ele dá aula. A pesquisa naempresa tem que gerar resultado; na universidade tem quegerar . O desafio é fazer com que o conhecimento gera-do se traduza em economia e riqueza”, defende.

– Na área de educação, o ano começa comexpectativas positivas em relação aos programas lançados em2011, como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Téc-nico e Emprego (Pronatec), que visa expandir, interiorizar edemocratizar a oferta de cursos de Educação Profissional eTecnológica (EPT) para a população brasileira. O programadeverá contar com uma grande operação do BNDES juntoao Sistema S, segundo adianta Claudio Leal: “O objetivo é darescala ao programa, além de atender a nossa agenda de inova-ção, uma vez que uma das metas é dotar o Senai de centros dealta , e os recursos servirão para aparelhar estes cen-tros e treinar em larga escala para dar conta da necessidade demão de obra que o país tem hoje”.

Outro programa de peso que deverá deslanchar em 2012é o Ciência Sem Fronteiras, do governo federal, que visaampliar o número de bolsas de estudos concedidas a estudan-tes do país. Até 2014 serão 75 mil, contra as 5,3 mil oferecidasem 2010. Mas o ano começou com o anúncio do corte de R$1,94 bilhão no orçamento para a educação, como uma dasmedidas do ajuste fiscal de R$ 55 bilhões anunciados pelogoverno. Ainda não se sabe onde serão feitos os cortes, mas,de qualquer forma, para o senador Cristóvam Buarque esta

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performance

Educação patina

redução é muito grave. Para ele a educação no país não estácaminhando como deveria e continua no mesmo ritmo lento,sem cumprir o seu papel na busca do conhecimento e naascensão social.

“Fala-se na ascensão das classes C e D, mas isso acaba nomomento em que houver uma crise econômica. Ascensãosocial que não muda se dá por meio da educação”, defende osenador. Ele observa que o mais grave é que o país está longedo caminho para uma economia do conhecimento. “Temosdois terços dos jovens sem ensino médio. Uma universidadeque não garante qualidade nem está situada na linha de inova-ção com muita concentração em ciências humanas e não nasciências, que são as que efetivamente permitem o desenvolvi-mento. A nossa inovação vem toda de fora. Vamos fabricar

, sem nem saber o que é que é inovação de paísesasiáticos”, dispara.

Ele também é cético em relação aos dois principais pro-gramas do governo federal. Embora apoie o Pronatec e oCiência Sem Fronteiras, ele acredita que eles não vão gerar osresultados esperados: “A maior parte desses bolsistas nemdomina outros idiomas, e o Brasil não tem 75 mil pesquisado-res para mandar para fora do país. Além disso, a maior partesão cursos de curta duração, quando o correto seria passar detrês a quatro anos estudando. Vamos ter de dois a três milbem formados”.

Buarque defende a federalização da educação de base eobserva que o país só tem 300 escolas federais de ensino fun-damental. Sua proposta é um amplo plano nacional de carrei-ra do magistério e um programa federal de qualidade escolarem horário integral, construção de novas escolas e equipa-mentos modernos. “Não é possível um aluno ainda aprendercom quadro-negro. Este programa poderia ser feito por cida-des formando 100 professores por ano. Em 20 anos cobriría-mos todo o país”, defende.

Outra proposta é que se crie um ministério exclusivo paraa educação básica, pois do jeito que está hoje constituído, oMEC fica prisioneiro do ensino superior. Ele propõe o forta-lecimento do ensino superior, sugerindo a sua transferênciapara o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. O MECficaria focado no ensino básico. “Todas estas propostasforam apresentadas à ministra da Casa Civil para serem entre-gues à presidenta e estão expressas no meu livro

”, conclui Buarque.

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A Revolução

Republicana da Educação �

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RUMOS - 36 – Janeiro/Fevereiro 2012

BNDES – Evolução dos desembolsos e aprovaçõesacumulado 12 meses

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e acordo com o penúltimo levantamento da Com-panhia Nacional de Abastecimento (Conab), opaís deverá colher cerca de 5,2 milhões de tonela-das de algodão em caroço na safra 2011/2012,com pequeno decréscimo de 1,7% sobre a anteri-

or. No Nordeste, a expectativa segue o panorama nacional,com incremento de 3,3% na área cultivada e de 0,9% na produ-ção, que pode alcançar 1,8 milhão, com destaque para os esta-dos do Piauí e Bahia, onde o cultivo é concentrado nas áreas decerrado.

Em âmbito nacional, a estimativa de área plantada é de1.405,3 mil hectares (+0,4%) para uma produção em torno de5,3 milhões de toneladas de algodão em caroço, aumento de1,7% com relação à última safra.

Tanto a pesquisa de dezembro de 2011 quanto a de janeiroúltimo da Conab mostram também que a produtividade doalgodão em caroço no Nordeste deverá se situar acima damédia nacional e do Centro-Oeste na safra 2011/12, assinalan-do 3.808 quilos por hectare, com destaque para a Bahia, onde éestimada em 3.900 quilos.

– O rendimento em território baiano, queé um pouco maior nos cerrados a oeste de Salvador, coloca essaregião do estado como campeã mundial de produtividade. Nasafra 2010/11, o cerrado local cravou produtividade de 270arrobas de algodão (em caroço) por hectare, em regime desequeiro, a mesma da Austrália em cultivo 100% irrigado, e aci-ma da obtida na China (226,1@/ ha). Segundo informa a Asso-ciação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), em 2012,mesmo com uma ligeira queda nesse patamar (265@/ha), aBahia continuaria na liderança mundial. O Conselho Técnicoda AIBA não esconde o entusiasmo, informando que em algu-mas áreas do cerrado, a exemplo do município de São Desidé-rio, maior produtor nacional de algodão e segundo maior PIB

Liderança mundial

agropecuário do Brasil, a média geral de produtividade chegoua 285@/ha.

A previsão é que, isoladamente, o cerrado colha cerca de1.542 mil toneladas de algodão em caroço na safra 2012, 3%superior à anterior. Trata-se de expansão modesta diante daregistrada em 2011 (cerca de 50%), provocada pela elevaçãodos preços. O valor bruto de produção do algodão (VBP) esti-mado para a atual safra, da ordem de R$ 2.450 milhões, é osegundo maior entre as culturas do oeste da Bahia, perdendoapenas para a soja (R$ 2.742 bilhões), que possui o dobro deárea plantada.

Para os técnicos da entidade, contribui para isso uma sériede fatores relevantes nos cerrados baianos: clima e solo em con-dições favoráveis, adoção de modernas tecnologias, informa-ção técnica e mercadológica, recursos hídricos e profissionalis-mo entre os produtores.

– Entre maranhenses e piauienses, o entusiasmocom a cotonicultura é até maior que na Bahia. No intervaloentre os dois últimos censos agrícolas do IBGE (1996 e 2006),o Maranhão elevou de 0,6% para 13,5% sua participação naárea cultivada com algodão no Nordeste, enquanto na Bahia sal-tou de 62,4% para 79,3%.

Considerado um avanço de apenas 50% na área cultivada,o Nordeste apresentou um desempenho extraordinário naprodução algodoeira: 916,5% entre 1996 e 2006, evidencian-do um grande acréscimo de produtividade em função do culti-vo nos cerrados, para onde migraram produtores do Sul eSudeste do país que praticam uma agricultura em basesempresariais.

No Piauí, o incremento foi de 241,1%, alcançando 18.530toneladas, em 2006. No Maranhão, a produção disparou de 1,8mil toneladas para 98 mil toneladas, e na Bahia, evoluiu de 43,7mil para 649,2 mil toneladas. Mais recentemente, esse desem-

Meio Norte

Os produtores de algodão das áreas de cerrado do Piauí e da Bahia deverão obter osmaiores incrementos na produção, garantindo também os melhores níveis deprodutividade na safra 2011/12, acima da média nacional e do Centro-Oeste. No casodo oeste da Bahia, o rendimento obtido é recorde mundial para algodão em sequeiro.

Produtividade na Bahia s

RUMOS - 38 – Janeiro/Fevereiro 2012

Por Ribamar Mesquita

ALGODÃO

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NORDESTE EMPREENDEDOR

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Page 39: Revista Rumos

penho avançou bastante no chamado Meio Norte em funçãoda troca da soja pelo algodão em alguns centros produtores.

No cerrado maranhense a área plantada cresceu para 18,1mil hectares na safra 2010/11, com produção de 71,1 mil tone-ladas, devendo cair um pouco na safra atual para cerca de 70 miltoneladas. No Piauí, por outro lado, nas últimas três safras aárea de plantio dobrou, de 11,2 mil hectares (2008/09) para22,1 mil hectares (2011/12). No mesmo intervalo, a produçãosaltou de 34,3 mil toneladas para 76,2 mil toneladas.

– O Nordeste, onde a atividadealgodoeira sempre foi muito relevante sob o aspecto socioeco-nômico, apresentou uma recuperação extraordinária no cultivode algodão no espaço de dez anos. Depois de praticamente dizi-mada pela praga do bicudo a partir da década de 1980 e pelaabertura do mercado no decênio seguinte, a cultura migrou dosemiárido para os cerrados, atraindo produtores do Sul e doSudeste, que praticam agricultura em bases empresariais. Oresultado foi um aumento de 50% na área cultivada e de quase1.000% na produção entre 1996 e 2006, anos que assinalam arealização dos dois últimos censos agropecuários realizados noBrasil.

Um projeto executado pela Embrapa Algodão, de Campi-na Grande (PB), com o apoio do BNB-Etene-Fundeci, tevemuito a ver com essa recuperação da cotonicultura regional.

– O norte da pesquisa foi buscar a agregaçãode valor à fibra do algodão e com isso revitalizar a atividade.Desse esforço do Banco do Nordeste (BNB) e dos cientistas daEmbrapa surgiram as novas opções para o produtor. Hoje, oalgodão de fibra colorida (marrom, vermelho, verde e bege) fazsucesso em todo o mundo. Com os resultados das pesquisasforam alcançados dois pontos importantes: agregação de valorao algodão da fibra natural e benefícios ao meio ambiente, des-de que o novo produto eliminou o processo de coloração quí-mica do fio que tem impacto ambiental.

– Além do algodão colorido, no momen-to a Embrapa de Campina Grande, com apoio do Fundo deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundeci), faz estu-dos visando ao isolamento e à introdução de um gene inseticida

Uma revolução em dez anos

Agregando valor

Controle de pragas

a supera média mundial

RUMOS - 39 – Janeiro/Fevereiro 2012

em planta de algodão para controle de insetos. A obtenção deum cultivar modificado tem impacto socioeconômico imediatoem todos os segmentos da cadeia produtiva, sem contar osbenefícios para o meio ambiente, dada a possibilidade de redu-ção do uso de agrotóxicos, e para a balança comercial, pelamenor importação de defensivos agrícolas.

– Com a recuperação da cultura noNordeste e sua adoção no Centro-Oeste, na atual década, o Bra-sil voltou ao pódio dos maiores produtores mundiais de algo-dão. Levantamento realizado pelo BNB-Etene entre os censosagropecuários de 1995/96 e 2006 mostra que a cotoniculturabrasileira, e principalmente a nordestina, experimentou pro-fundas transformações no período.

Além de quase triplicar sua produção no intervalo entre oscensos, de 814 mil toneladas para 2.350 mil toneladas, o seg-mento viu surgir uma nova fronteira agrícola para exploraçãodo produto – o cerrado – e tecnologias inovadoras como o cul-tivo de algodão colorido e orgânico destinadas a viabilizar eco-nomicamente o cultivo em áreas como o semiárido, com a con-sequente geração de mais emprego e renda.

De acordo com o trabalho do Etene, após enfrentar os per-calços provocados pela praga do bicudo (inseto), o Nordestevoltou ao mapa da grande produção algodoeira na safra2000/01. Contribuiu, decisivamente, para tanto, a disponibili-dade de terras aptas nos cerrados da Bahia, Piauí e Maranhão,onde a atividade é praticada em bases empresariais, coexistindocom o modelo que voltou a ser praticado no semiárido, em queprevalece o minifúndio e a produção familiar. Em 2006, a pro-dução regional atingiu 777,8 mil toneladas, volume correspon-dente a mais de dez vezes as 76,2 mil toneladas produzidas em1996.

– A cadeia produtiva do algodão tem gran-de importância social e econômica no Nordeste, especialmentepelo número de empregos que gera direta e indiretamente. Aárea cultivada com o produto passou de 162,4 mil hectares, em1996, para 237,7 mil hectares, em 2006, o que contribuiu paraelevar de 26,2% para 30,2% a participação no total nacional. Oacréscimo de área ficou restrito aos estados da Bahia e Mara-nhão, que respondem por 76% do total.

Transformação rápida

Relevância social

Page 40: Revista Rumos

Ano passado, o governo firmou o Termo de Referência(TR) da empresa, que funcionará como “projeto piloto” nosprimeiros 18 meses, período em que o agente operador será aConfederação Nacional da Indústria (CNI). Nesta fase, os téc-nicos do MCTI atuarão em parceria com os especialistas daCNI para definir os institutos que receberão os recursos. Atélá, a Embrapii não imobilizará capital e não terá sede até o ini-cio de 2013.

Para o então, secretário de Desenvolvimento Tecnológi-co e da Inovação (Setec) do MCTI, Ronaldo Mota, o projeto

EMBRAPII

RUMOS - 40 – Janeiro/Fevereiro 2012

licerçado na experiência adquirida na gestão deentidades da envergadura do Instituto Nacio-nal de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São Josédos Campos (SP), e do Laboratório Nacionalde Computação Científica (LNCC), de Petró-

polis (RJ), o físico Marco Antônio Raupp frisou em seu dis-curso de posse no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inova-ção (MCTI), em janeiro último, que “a inovação tecnológicanão é mais uma opção para o Brasil, passou a ser um imperati-vo para o desenvolvimento pleno do país”.

Se inovação é o norte a ser perseguido, o ministro assinalaa necessidade de se pensar numa cadeia de produção industri-al, liderada por empresas nacionais, em associação com insti-tuições de pesquisa, que garanta ao país inserção soberana emnível mundial.

Esse amálgama é uma das vertentes da Empresa Brasilei-ra de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), criada nofinal de 2011, para dar ao segmento industrial a mesma pujan-ça que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa) deu à agricultura nacional nos últimos trinta anos,e em cujos moldes a Embrapii se baseia. O outro modeloobservado para sua constituição é a Fundação Fraunhofer daAlemanha, classificada como referência de sucesso no incen-tivo à inovação, na Europa.

As isenções fiscais se destacaram no cenário econômicoem 2011, mas os maiores avanços do Plano Brasil Maior, dogoverno federal, ainda são na área da inovação. Este ano, umaoutra grande aposta do governo Dilma Rousseff é fortalecera indústria diante da concorrência com produtos importadosde alto nível tecnológico.

A Embrapii tem o consenso do governo, do empresaria-do e dos institutos de pesquisa, que consideram a iniciativaum marco histórico no segmento industrial do país.

“Esta iniciativa, faz a associação da nossa rede de institu-tos tecnológicos com empresas. Ela prestará serviço de con-sultoria, ajudará no desenvolvimento de novas ideias e tocaráprojetos”, diz o ministro Raupp. ”Agora, com a introduçãoda Embrapii, temos que chamar o setor privado para contri-buir”, convida. Para ele o desenvolvimento não é responsa-bilidade só do governo, mas da sociedade também.

Por Edilene Silva

A

Com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial(Embrapii), no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação(MCTI), o Brasil amplia as ações de desenvolvimento num segmento deelevada competitividade: a indústria.

Reforço para a

INOVAÇÃO

Page 41: Revista Rumos

piloto vai servir para se ajustar o modelo e ampliar o projetosem prejuízo da qualidade.

“O Brasil vive hoje uma explosão da demanda por inova-ção”, diz Mota. Para embasar sua afirmação ele aponta queem 2006 foram 130 empresas beneficiadas pela Lei do Bem e,no ano passado, o número saltou para 875. “A ideia daEmbrapii é que o contrato seja feito com o instituto de pes-quisa que terá autonomia para gerir os recursos, num modelodescentralizado e capilarizado, típico do mundo da inovação”destaca o ex-secretário.

Com uma gestão enxuta, a Embrapii, não terá um quadrofuncional de pesquisadores e entra com o equivalente a umterço dos recursos necessários a cada projeto, e o restanteserá dividido entre o instituto conveniado e a própria institui-ção interessada em inovar. A empresa funcionará tambémcomo um “selo certificador” dos institutos habilitados a ope-rar junto à indústria.

De partida, a Embrapii já incorpora três institutos conve-niados que foram selecionados por áreas de atuação e serãoavaliados por indicadores de competência. O Instituto de Pes-quisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, vai focar na área debionanotecnologia e investe recursos de R$ 50 milhões noCentro de Bionanomanufatura. Segundo o presidente doIPT, João Fernando Gomes de Oliveira, o instituto tem cercade 20 projetos de inovação prontos para inclusão na pauta daEmbrapii. Para ele, o financiamento vai atrair mais empresas.

Já o alvo da parceria Senai-Cimatec é a área de processos eautomação. O instituto tem grande no atendimento àindústria de processo do polo industrial da Bahia, mas aintenção é operar em todo o país. Ele agrega 25 doutores ediversos laboratórios especializados. “Temos conhecimentonesta área e no gerenciamento do ciclo de vida dos produtos.A indústria nacional já avançou no quesito qualidade e agoraentende que a inovação é essencial”, diz Leone Peter, diretordo Senai Bahia.

O Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Rio deJaneiro, vai atuar na área do complexo de petróleo e gás.Segundo o presidente do INT, Domingos Manfredi Naveiro,existem muitas deficiências tecnológicas na exploração dopré-sal. Para ele, as empresas interessadas em desenvolvernovos produtos e materiais agora terão apoio. “Algumasempresas têm no momento carência de construção de plan-tas piloto e a Embrapii vai permitir aportar investimentos nes-tes projetos”, prevê.

A intenção do governo é chegar a 30 institutos até o fimde 2014. Com olhos empresariais, a meta da CNI, em escalanacional, conforme assinala o seu presidente, Robson Bragade Andrade, é duplicar o número de empresas inovadoras até2013. “Inovar é uma exigência e um imperativo dentro de umcenário cada vez mais competitivo”, afirma ele.

expertise

área industrial

RUMOS - 41 – Janeiro/Fevereiro 2012

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Page 42: Revista Rumos

ara as grandes cidades, a abertura de umpode até parecer algo comum, mas, para as

pequenas e médias, o aparecimento de um cen-tro comercial de grande porte tem forte impac-to sobre o consumo e o lazer. Foi assim com a

inauguração, em 2010, do Capim Dourado Shopping, em Pal-mas, Tocantins. Com 90 lojas, seis salas de cinema, restauran-tes e estacionamento com mais de 1.300 vagas, o empreendi-mento contou com financiamento do Banco da Amazônia,que o considera um importante fator de desenvolvimento.“No caso dos , há um benefício direto às popu-lações locais, em face da oferta de produtos e serviços con-centrados em um só local e da possibilidade de se associaremcompras ao lazer. Os além de se tornarem polos deencontro e de entretenimento, aliam praticidade e segurançae desempenham um importante papel na economia local”,acredita Marilene Ribeiro, gerente de Grandes Clientes doBanco da Amazônia.

Ela explicou que, para financiar negócios desse tipo, obanco utiliza recursos oriundos do Fundo Constitucional doDesenvolvimento no Norte (FNO), que contempla os seteestados que integram a região Norte (Acre, Amapá, Amazo-nas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). “Esse recursoprovém da arrecadação do imposto sobre a renda e proven-tos de qualquer natureza e do imposto sobre produtos indus-trializados.”, acrescenta.

O crédito para construção do shopping foi de R$76.625.013, com prazo total de 12 anos, sendo dois de carência,concedido ao Grupo Skipton, que atua há 13 anos nas áreas detecnologia, educação e . Segundo o diretor-presidentedo grupo, Carlos Franco Amastha, antes da construção do cen-tro comercial foi feito um estudo de viabilidade. “Um projetodesse porte só pode ser feito com pesquisa, com planejamento,senão seria impossível. Quando conhecemos Palmas, obvia-mente surgiu o desejo do shopping, ainda em 1999. Na época,não havia viabilidade. A cidade ainda era pequena”, relembra opresidente.

Segundo Amastha, o município teve um crescimentoexponencial e, em 2007, o grupo decidiu que era hora de fazer

shop-ping

shoppings centers

shoppings,

shoppings

o estudo. “Foi um levantamento com números oficiais eVeio da pesquisa o tamanho que o shopping deveria ter

em 2008 e 2011. Nós executamos o projeto de 2008. Com ofinanciamento pudemos fazer um projeto maior do que oorçado inicialmente, já contemplando uma possível expan-são. Todos acharam que seria loucura. O maior problema eraencontrar empresário para abrir uma loja no coração do Bra-sil”, relata.

Com um ano de funcionamento, o Capim Dourado Shop-ping registrou 146 milhões em vendas, R$ 37,5 milhões emimpostos para a União, estado e município e foram gerados1.500 empregos diretos, injetando mensalmente na econo-mia local uma receita de R$ 2,1 milhões. “Nosso Natal foipara lá de extraordinário, muito acima da média nacional”,exaltou Amastha. O registrou R$ 37 milhões em ven-das no mês de dezembro.

– Segundo o diretor da Skipton, sãoquatro mil empregos indiretos gerados pelo centro comercial eum impacto inovador na dinâmica de consumo da cidade. “O

trouxe algo novo, com o qual a população não estavaacostumada. Mudou a matriz econômica. Ele é o maior empre-gador da cidade. Antes, o comércio em Palmas era muito infor-mal. E um funciona totalmente na formalidade, não sefaz nada sem tirar uma nota fiscal”, ressaltou Amastha. Segun-do dados da Associação Brasileira de Shopping Centers(Abrasce), que congrega mais de 243 empreendimentos, exis-tem 430 centros de compras espalhados pelo país. A maioriadas unidades está localizada na região Sudeste (55,8%), e ape-nas 3,5% na região Norte (ver quadro e boxe).

O presidente da Federação de Comércio do Tocantins(Fecomércio-TO), Hugo de Carvalho, acreditava que haviauma demanda reprimida por esse tipo de comércio. “Palmasprecisava de um grande . Com estacionamento, resta-urantes, cinema. Temos um público flutuante forte, que vãoaos bares, ao cinema e compra nas lojas daqui. A capital agoraatingiu a maioridade. Acredito que em pouco tempo seremosuma metrópole”, afirmou.

Amastha destaca que uma das inovações do Capim Dou-

inloco.

shopping

shopping

shopping

shopping

Desenvolvimento local

Por Reporter

Expansão de centro de comércio em Palmas (TO), que tevefinanciamento do Banco da Amazônia, revela o potencial decrescimento das cidades médias.

P

AAMAZÔNIA Comércio

Crescimentoexponencial

RUMOS - 42 – Janeiro/Fevereiro 2012

Page 43: Revista Rumos

rado Shopping foi o desenvolvimento de um projeto deimpacto socioambiental. Durante a construção estava previs-

ta a compensação de CO emitido pela obra e a capacitaçãodos trabalhadores. Para Marilene, do Banco da Amazônia,empreendimentos assim se coadunam com a filosofia definanciamento da instituição. “O projeto contemplava a cons-trução de um parque de preservação ambiental nas imedia-ções do , vindo ao encontro da política socioambien-

2

shopping

tal do banco, que prevê ações de preservação e mitigadoresde risco de impacto socioambiental. Além disso, a empresaapoia o projeto de qualificação ‘Tocantins + Futuro’, que visaoferecer oportunidades de qualificação e formação profissio-nal”, lembrou a gerente-executiva.

Neste ano, as obras no centro comercial recomeçam, ago-ra para a expansão do Capim Dourado Shopping, que pode

chegar a ter o triplo do tamanho do projeto original. �

Número total deA inaugurar em 2012 (*)Número previsto para dez 2012Área bruta locável (em milhões de m )Área construída (em milhões de m )Vagas para carrosTotal de lojas

Lojas-âncoraMegalojasLojas satélitesLazerLojas de serviços

Salas de cinemaEmpregos gerados em 2011Faturamento estimado 2011 (em R$ bilhões)Tráfego de pessoas (milhões por mês)Vendas em relação ao varejo nacional (**)

shoppings

2

2

(*) Número previsto de inaugurações. (**) Exclui vendas de combustíveis e GLP.Critério: Consideram-se aqui com lojas locadas, lojas âncoras e vagasde estacionamento, com área igual ou superior a 5.000m2 e todos osassociados da Abrasce. A informação sobre faturamento é estimada e podeser alterada.

shoppingsshoppings

43044

47410,3424,88

673.58280.192

3.2082.406

65.7572.4066.4152.745

775.38310037618%

GRANDES NÚMEROSBrasil - Janeiro 2012

Fonte: Abrasce, 2012.

NorteNordesteCentro-OesteSudesteSul

Total

5937

24079

430

1513,78,6

55,818,4

100,0

3,5

Regiões Nº deShoppings

% dototal

PARTICIPAÇÃO POR REGIÃO

Fonte: Abrasce, 2012.

A propalada ascensão da classe Cainda não foi suficiente para torná-la oprincipal grupo consumidor nos

do país. Segundo estudo divulga-do em janeiro pela Associação Brasi-leira de Shopping Centers (Abrasce),que representa o setor, as classes A eB respondem por 56% do total devisitantes nesses centros de comércio,acompanhada de perto pelas classesC e D, que somaram 44% do total.Para Adriana Colloca, superintenden-te de Operações da Abrasce, os núme-ros refletem o perfil da populaçãobrasileira.“Quando muda esse perfil,isso tem impacto no . Umempreendedor não constrói para umaclasse, o que se vê é um viés, umvoltadopara um lado ou outro”.

Em 2011,o mercado debrasileiro registrou crescimento

de 18,6% nas vendas em relação aoano anterior, atingindo R$108 bilhões. Foram 22 empreen-dimentos inaugurados com média de 376 milhões de visi-tantes mensais. Somente sete destes negócios foram ergui-dos nas capitais brasileiras. Para este ano, serão inauguradosmais 43 empreendimentos, sendo 29 em cidades do interi-or, com a expectativa de geração de 115 mil novos empre-

shop-pings

shopping

mix

shoppingcenters

gos. Adriana não vê nesse movi-mento um fenômeno de interio-rização, mas um processo natu-ral de crescimento.“Na verdade,da mesma forma que oscrescem na capital, isso acontecenas médias e pequenas cidades, éum crescimento generalizado, aspopulações aumentam, o investi-

mento também”, explica a executiva.Ao término de 2011, o mercado de contava com

430 empreendimentos em operação, empregando 775 milpessoas. Para este ano, o censo da Abrasce indica que 80%dos do país estão ou entrarão em processo deexpansão. Neste grupo está o Capim Dourado Shopping.

shoppings

shopping

shoppings

Um ano de expansão e boas vendas

RUMOS - 43 – Janeiro/Fevereiro 2012

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Com dois andares e área de lazer, o abriga seis salas decinema e mudou a dinâmica econômica de Palmas, Tocantins.

Capim Dourado Shopping

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Page 44: Revista Rumos

A Agência deFomento Paulistadisponibilizará cré-dito para projetosre l a c ionados àCopa do Mundo de2014. A linha espe-

cial atenderá todas as cidades paulistas candida-tas a Centro de Treinamento de Seleções (CTS),com juros subsidiados de 2% ao ano(+IPC/Fipe) e prazo de até dez anos, com carên-cia de até 24 meses. O objetivo é apoiar empresase municípios na realização de investimentos quemelhorem a infraestrutura turística das cidades

para a recepção do público e eventuais seleções que se instalemno estado. “Além de receberem milhares de turistas em decor-rência da Copa, muitas cidades paulistas ainda têm a possibili-dade de abrigar seleções, o que vai demandar muito investi-mento em infraestrutura. A iniciativa do governo estadual desubsidiar o juro da linha é um grande impulso para essasações”, diz Milton Luiz de Melo Santos, presidente da agência.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e a ministrade Meio Ambiente, Izabella Teixeira, lançaram as linhas decrédito do Fundo Clima, destinadas a apoiar projetos relacio-nados às ações de mitigação e adaptação às mudanças climáti-cas. O objetivo das linhas lançadas em fevereiro é que o Brasilatinja suas metas de redução de emissões de gases do efeitoestufa, reduza suas vulnerabilidades aos efeitos adversos damudança climática e se prepare para competir em uma econo-mia de baixo teor de carbono. O Fundo Clima, que possuidotação inicial de R$ 200 milhões, contemplará seis subpro-gramas. Eles são: modais de transporte eficientes, máquinas eequipamentos eficientes, energias renováveis, resíduos comaproveitamento energético, carvão vegetal e combate à deser-tificação. As taxas de juros e os prazos de financiamento vari-am em função do subprograma. A participação do BNDESpoderá ser de até 90% do valor dos itens financiáveis paratodas as seis categorias.

RUMOS - 44 – Janeiro/Fevereiro 2012

FOMENTO

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Um projeto preten-de aumentar em 10% arenda de cerca de 500pequenos produtoresde leite da agriculturafamiliar do Mato Gros-so do Sul neste ano. Ainiciativa, que será desenvolvida em oito municípios, vai levarconhecimento sobre gestão da propriedade rural e incentivarboas práticas na produção leiteira. “A importância do projetoé profissionalizar o pequeno produtor rural e fazê-lo perce-ber que pode agregar valor ao seu produto, caso cuide da qua-lidade e da higiene na produção”, aposta Eder RodriguesCamargo, técnico do Sebrae local. O projeto pretendeaumentar a renda dos participantes em 15% em 2013; 20%,em 2014; e 25%, em 2015. A primeira atividade será uma Ofi-cina de Planejamento Participativo, na qual será apresentada aproposta de trabalho aos produtores e será realizado umlevantamento de dados para o plano de ação.

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) promoveu,em fevereiro, o primeiro encontro com o objetivo de elaborarum programa de governo para o setor de engenharia de proje-tos no país. Representantes do setor público e do privado dis-cutiram os gargalos atuais e fizeram proposições para o forta-lecimento e a ampliação de oferta qualificada desses serviçosno Brasil. A ideia é tornar a engenharia de projetos brasileiramais competitiva, capacitar as empresas, incrementar ademanda por serviços, assegurar a adequação dos projetos àscondições brasileiras e, ainda, garantir a demanda por bens deconteúdo tecnológico da indústria nacional. O relatório

, publicado pela Agência Brasi-leira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), apontou a falta

de pessoal qualifi-cado, a desnaciona-lização crescente,as incertezas legaise a burocracia dosprocessos de licita-ção como gerado-ras de fragilidadescompetitivas paraas empresas.

Enge-nharia Consultiva no Brasil (2011)

BNDES lança linhas de

crédito do Fundo Clima

Finep promove 1º debate

sobre estímulo à engenharia

Projeto capacita produtores

para aumento da renda

Agência de Fomento

Paulista terá linha com

juros de 2% ao ano para

projetos da Copa de 2014

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Guilherme Sales Melo, diretor de Engenharias, CiênciasExatas, Humanas e Sociais do CNPq, participa do evento

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Page 45: Revista Rumos

Catorze entidades nacionais rela-cionadas ao comércio exterior, den-tre elas instituições financeiras defomento, se reunirão em marçopara dar continuidade ao Plano Naci-onal da Cultura Exportadora 2012-2015. O plano visa melhorar a distribui-ção dos estados na pauta exportadora bra-sileira. Atualmente, metade deles tem uma participação inferi-or a 1% no volume total exportado pelo país. A ideia do pri-meiro encontro realizado em janeiro deste ano foi trabalhar naconsolidação de mapas estratégicos e planos de ação para 22estados. No ano passado, foram definidos objetivos, eixos deatuação, estratégia e metodologia do plano. Entre as institui-ções participantes estão o Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior, o Banco da Amazônia, o Ban-co do Brasil, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-mo Sul, a Caixa Econômica Federal, o BNDES e o Sebrae.

A Agência de Fomento do Rio de Janeiro (Investe Rio) con-cedeu, em fevereiro, R$ 8 milhões à Axis S.A., para implanta-ção de metalúrgica no município de Valença, no Médio Paraí-ba. O investimento total na unidade, com início do funciona-mento previsto para o primeiro semestre de 2013, pode che-gar a R$ 37 milhões. O empreendimento deverá gerar, pelomenos, 150 empregos diretos e 450 indiretos. O aporte finan-ceiro contou com recursos provenientes do Fundo de Recu-peração Econômica dos Municípios Fluminense (FREMF) –administrado pela Investe Rio –, com taxas de juros de 2% aoano para o segmento industrial. As linhas de financiamentodo FREMF são oferecidas em 34 municípios para gerar maisemprego e renda no interior fluminense.

RUMOS - 45 – Janeiro/Fevereiro 2012

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O número é mais um recorde: cerca de R$ 71,4 milhões emfinanciamentos, partindo de micro e pequenas empresas, for-mais e informais, movimentaram todo o Espírito Santo em2011, pelo programa de microcrédito do estado, o Nossocré-dito. O valor é consequência das 15.016 operações realizadasnas 104 agências presentes nos 78 municípios do estado. Emrelação a 2010, houve um incremento de 36,5% no valor apli-cado e de 24% no número de contratos efetivados.

De acordo com o presidente do Banco de Desenvolvimen-to do Espírito Santo (Bandes), Guerino Balestrassi, o total acu-mulado desde a criação do programa, em 2003, é de mais de 63mil contratos, equivalentes a quase R$ 244 milhões investidosno estado: “O valor médio aprovado em 2011 foi de quase R$ 1milhão por município, representando um acréscimo de 36,5%em relação ao valor médio aprovado em 2010 (R$ 670 mil)”.

Segundo o diretor de Crédito e Fomento do Bandes, Eve-raldo Colodetti, a cada R$ 2 mil investidos foi gerado ou manti-do um emprego: “2011 foi o melhor ano da história do Nosso-crédito. Alcançamos recordes em todos os meses do ano”.

O valor médio do crédito concedido por cliente tambémaumentou, de R$ 4.316,00, em 2010, para R$ 4.755,00 em2011. “As pessoas estão mais confiantes e solicitando mais cré-dito. A maioria quita o valor e volta para pegar mais financia-mentos. Nosso total de clientes captados agora é de mais de 34mil”, ressalta Guerino.

Para o diretor Comercial do Banestes, outro parceiro doPrograma, José Antonio Bof Buffon, por meio do Nossocré-dito, o banco também incentiva e apoia o pequeno empreen-dedor. “O produto é uma modalidade especial de crédito,estruturada para alcançar um público de empreendedores depequenos negócios que não têm acesso ao mercado de créditoconvencional. Dentre os ramos financiados pelo Nossocréditoestão a indústria, o comércio e a área de serviços”, afirma.

O crédito é destinado a empreendedores com renda brutaanual inferior a R$ 240 mil, que exerçam atividades formais ouinformais; trabalhadores que concluíram cursos promovidospelos Programas de Qualificação Profissional municipais e/ouestaduais, já inseridos no mercado de produção de bens ou ser-viços; ou que atuem na economia sob forma de cooperativasou associações. Os valores variam de R$ 200,00 a R$ 7,5 mil,tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. A taxa de juros é de0,9% ao mês e o pagamento pode ser feito em até 24 meses,com carência de até três meses.

O Nossocrédito conta com recursos do Fundapsocial e éoperado por meio de uma parceria entre Bandes, Banestes,Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresase do Empreendedorismo (Aderes), prefeituras e Sebrae-ES.

Nossocrédito fecha

2011 com o melhor

desempenho da história

Investe Rio concede

R$ 8 mi para metalúrgica

Instituições de fomento

participam de plano

para exportação

Os dirigentes Ricardo Figueiró e Luiz Henrique Beviláqua, daInveste Rio, assinam contrato.

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Joa

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iad

Page 46: Revista Rumos

m dos principais objetivos da atuação do BNDESé contribuir para o desenvolvimento sustentávelintegrado e de longo prazo do país. E isso requer amobilização de processos de planejamento,

aprendizado, criação e uso de conhecimentos, adensamento eenraizamento de capacitações produtivas e inovativas e irradia-ção de sinergias positivas para os ambientes local e regional.Atenção especial deve ser dada à redução de desequilíbrios derenda, inter e intrarregionais, o que depende de uma visão sistê-mica, associando o desenvolvimento econômico com o ambien-tal, o urbano e o social, e articulando atores e pactuando ações.

Para orientar essa política, o BNDES vem introduzindo,desde 2007, dois vetores de ação: o desenvolvimento no entor-no dos projetos e nas regiões menos atendidas. O apoio aoentorno de empreendimentos estruturantes, além de diminuiros impactos negativos comumente gerados por vultosos inves-timentos, visa ampliar e enraizar o impulso dado ao desenvolvi-mento, agregar valor aos bens e serviços produzidos localmen-te e comprometer as empresas com o desenvolvimento local.

A proposta é que os interessados planejem as ações neces-sárias às fases de implantação e operação e preparem o territó-rio para a nova dinâmica socioeconômica. O envolvimento dopoder público – nas três esferas –, da sociedade civil e dasempresas responsáveis pelo projeto, ou que possam ser agre-gadas, tem papel vital para o sucesso da iniciativa. É importan-te, ainda, a participação de outros atores econômicos, políticose sociais presentes no território, como instituições financeiras,de ensino e pesquisa, de apoio e promoção, trabalhadores, enti-dades de classe e outras organizações da sociedade civil.

Tal interlocução ampla e participativa tem como objetivoformular uma agenda pactuada de desenvolvimento para o ter-ritório com reflexos no planejamento territorial e ambiental; nainfraestrutura urbana, social, ambiental e cultural; na moderni-zação da gestão pública; na adequação da educação e capacita-ção, com o envolvimento dos sistemas de conhecimentos lo-cais e regionais; e no desenvolvimento econômico, com a mobi-lização de potenciais arranjos produtivos e inovativos.

Três elementos-chave resumem essa forma de atuação: oestímulo à criação de uma institucionalidade representativa,

responsável pela definição e monitoramento de uma agendade desenvolvimento territorial, executando atividades financi-adas por um mecanismo financeiro participativo, idealmenterepresentado por um fundo.

O segundo vetor de atuação visa à atenuação dos desequi-líbrios inter e intrarregionais e à desconcentração do desenvol-vimento no território, enfocando as macro, meso e microrre-giões menos desenvolvidas. Como parte dessa estratégia, oBNDES está reforçando parcerias com o governo federal,mediante incremento de suas relações com ministérios e agên-cias, e com estados e municípios, apoiando o fortalecimentode seus sistemas de planejamento e braços executores.

A parceria com estados foi consubstanciada em uma linhade financiamento criada no fim de 2009, para estimular a for-mulação de modelos alternativos de política capazes de apro-veitar potencialidades e incluir interessados, atividades eregiões em projetos de desenvolvimento coesos e sustentáveis.A linha prevê desde o financiamento ao planejamento territo-rial e socioambiental, infraestrutura urbana, saneamento,logística, saúde, educação, cultura e fortalecimento institucio-nal, até a capacitação produtiva e inovativa para empreendedo-res e arranjos produtivos locais (APLs).

Menciona-se, ainda, a parceria com os estados para o apoioa APLs de baixa renda, que utiliza recursos não reembolsáveisdo Fundo Social, por meio de editais para apresentação de pro-postas, cuja seleção é realizada por comitês formados pelo esta-do e envolvendo representantes de outras esferas – federal,municipal, acadêmica, organização não governamental etc. –para conferir maior amplitude de interesses e sustentabilidade.

O apoio do BNDES com os dois vetores citados tem queestar baseado em planejamento de longo prazo, capaz de iden-tificar possibilidades de adensamento e expansão dos arranjosexistentes e de prospecção de potenciais que apontem para aliderança em um novo paradigma social, produtivo, inovativo eambiental. Para isso, reconhece a importância de os estadoscontarem com suas instituições financeiras de fomento, comoinstrumentos vitais da execução do planejamento, trazendoinformações sobre as necessidades dos diferentes atores elevando meios de viabilizar os investimentos almejados. �

Helena Lastres

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE FOMENTO

Instrumentos de

planejamento estadual

RUMOS - 46 – Janeiro/Fevereiro 2012

Assessora-chefe da Secretaria de Arranjos Produtivos Locais e Inovativos eDesenvolvimento Local e coordenadora do Comitê de Arranjos Produtivos eDesenvolvimento Regional, da Presidência do BNDES.

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REFLEXÃOD

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Page 47: Revista Rumos
Page 48: Revista Rumos

segmento, não sujeito à regulamentação do bancoCentral, é responsável por cerca de 200 mil opera-ções de crédito/ano dirigidas, na maioria, a mulhe-res e informais. Do total da clientela atendida, 25%são empreendedores individuais (EI) e micro e

pequenas empresas (MPE); e 75% são informais. Do públicototal, 55% estão no comércio, 28% no setor de serviços, 12% naindústria, e 5% na agricultura.

Os dados são da pesquisa, realizada pelo Sebrae e a Associação Brasileira de Enti-

dades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (Abcred) eque abrangeu 75 das 103 em funcionamento. Seis de cada dezdas entrevistadas já são parceiras do Sebrae em ações de apoioàs microempresas e empreendedores individuais, a maioria vol-tada para capacitação e consultorias.

A pesquisa aponta caminhos: o segmento deve continuarapostando na eficiência e na pró-atividade por meio dos agen-tes de crédito locais para garantir atendimento diferenciado aseu público, levando-se em conta, inclusive, os impactos no mer-cado de juros para o segmento, no âmbito do Crescer, o Progra-ma Nacional de Microcrédito (ver boxe).

Maior eficiência na concessão do crédito também pressu-põe maior capacitação empresarial dos demandantes. Para isso,informa o diretor Técnico ao Sebrae, Carlos Alberto dos San-tos, as operadoras filiadas a Abcred poderão “continuar con-tando com o apoio do Sebrae, interessado na disseminação deboas práticas produtivas e comerciais, como também na forma-lização dos empreendedores”.

Perfil das Instituições de Microfinançasno Brasil

O diretor destacou que “a radiografia do segmento, a partirda pesquisa, permitirá ao Sebrae e à Abcred desenhar propos-tas de políticas públicas que facilitem e garantam o atendimen-to das necessidades de um público fundamental para mudan-ças socioeconômicas locais. Para isso, é importante queempreendedores individuais e proprietários de micro e peque-nas empresas tenham acesso a crédito e a outros produtos e ser-viços financeiros sem burocracia e em boas condições quantoa custo”.

O presidente da Abcred, Almir Costa Pereira, enfatiza anecessidade das Oscips participarem da equalização de juros,no âmbito do Crescer, que introduziu, em setembro de 2011,mudanças significativas no Programa Nacional de Microcrédi-to Produtivo Orientado do Ministério do Trabalho e Emprego(MTE), que vinha vigorando até então. A entidade já manifes-tou oficialmente ao governo a intenção de atuar de acordo comas novas regras explicitadas pelo programa. O MTE, encarrega-do da gestão do Crescer, informou que o assunto pode ser estu-dado conjuntamente de forma que se encontre uma situaçãosatisfatória para o segmento e sua clientela.

“Praticamos a chamada finanças de proximidade. Temosforte presença direta nas comunidades. Apostamos na fideliza-ção da clientela, por meio de um atendimento personalizado edesburocratizado que implica custos operacionais maiores. Hámais de dez anos praticamos taxas entre 2,5% e 3,9% ao mês.Em 2011, o programa Crescer iniciou oferecendo 8% ao ano.Operar com taxas que não cobrem custos compromete nossaatuação”, explicou Pereira.

RUMOS - 48 – Janeiro/Fevereiro 2012

Por Clara Favilla

MICROFINANÇAS

Operadoras de microfinanças, que funcionam como Organização daSociedade Civil de Interesse Público (Oscip), continuam sendoimportante instrumento de desenvolvimento local e de redução dapobreza, mesmo levando-se em conta o grande crescimento da ofertade produtos e serviços das instituições financeiras públicas e privadaspara a população de menor renda.

Oscip, papelestratégico

MICRO E PEQUENAS

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Page 49: Revista Rumos

RUMOS - 49 – Janeiro/Fevereiro 2012

A pesquisa, segundo Lúcio Pires, da Unidadede Acesso a Mercados e Serviços Financeiros, doSebrae Nacional, permitiu: a atualização do cadas-tro das instituições, a identificação do perfil deseus clientes, a origem dos recursos utilizados e osprodutos e serviços oferecidos. Permitiu, ainda, aqualificação das relações que têm com o Sebrae,além de maior conhecimento do perfil administra-tivo e financeiro dessas entidades como agentes definanciamento de micro e pequenos negócios.

Será, portanto, afirmou Pires, uma importanteferramenta para a construção de estratégias dedesenvolvimento do segmento, mediante a estru-turação de ações conjuntas do Sebrae e da Abcred,que potencializem o desempenho das Oscips emprol dos micro e pequenos negócios. A pesquisacaracterizou-se como sendo um censo, ao coletaras informações de todas as instituições, 103 nototal, das quais 75, equivalente a 72,81%, participa-ram de forma total ou parcial, mediante respostas aquestionários e contatos telefônicos.

Oscips de microfinanças têm nichos de mercado em grandes centros do país.

Visão socioeconômica a fim de gerar emprego,

trabalho e inclusão

Sem burocracia

Agilidade no atendimento

Pessoalidade e acompanhamento por

meio do agente de crédito

Taxas de juros

Rapidez na liberação de crédito

Crédito produtivo e orientado

Atendimento

Prazo

A flexibilidade com os problemas apresentados

A metodologia de prospecção da clientela

Acompanhamento do empreendimento, a oferta de

cursos, palestras e oficinas

Acompanhamento pós-venda

Formação e capacitação para a área de gestão

dos microempreendedores

Operar nos empreendimentos sociais cooperados

Capacitação através de parcerias com as faculdades

Formação empreendedora aos clientes

Isenção da Tarifa de Abertura de Crédito ( )

Foco no público jovem

Curso de gestão de pequenos negócios

Atendimento a informais que não têm acesso

ao sistema financeiro nacional

in loco

TAC

Atendimento diferenciado às MPEs e aos EI

8,8

5,3

5,3

3,5

3,5

1,8

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14,0

14,0

12,3

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1,8

Total100

%

1,8

90,7

50,038,9

5,6

Capitalde giro/compra

de estoque

Investimento Construçãoou reformada empresa

Compra deautomóvel/utilitário

Pagamentode dívidase tributos

5,6

Fontes: Unidade de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae/NA

Aval Garantiasolidária

Garantiareal

Finança Nãoexigimos

74,1

51,9

31,5

11,1 13,0

Motivo da procura de crédito por MPEs e EI

Garantias exigidas em operações de crédito

por MPEs e EI

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Page 50: Revista Rumos

68,5%

14,8%

31,5%

46,3%

7,4%

11,1%

5,6%

Recursospróprios

BNDES

Banco dedesenvolvimentoou agência defomento

Origem dos recursos das instituiçõespara atendimento a MPE e EI

Fonte: Unidade de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae/NA

RUMOS - 50 – Janeiro/Fevereiro 2012

MICRO E PEQUENAS

Diretores Gerentes Agentesde Crédito

2,3 2,6

15

Quantidade de diretores, gerentes e agentes

de crédito por Oscip

Crescerbeneficiará3,4 milhõesaté 2013

ançado em setembro de 2011 pelo governo fede-ral, o Crescer (Programa Nacional de Microcrédi-to) ampliou os benefícios previstos no Programa

Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado(PNMPO), em vigor até então. A previsão é que atingirá,até o final de 2013, em torno de 3,4 milhões de clientes(microempresas com faturamento até R$ 120 mil/ano eempreededores individuais) do Banco do Brasil, Bancodo Nordeste (BNB), Caixa Econômica Federal e Bancoda Amazônia.

As operações de crédito (giro e investimento) indivi-duais podem alcançar até R$ 15 mil. Os recursos disponí-veis para essas operações estão estipulados em R$ 3bilhões e a concessão significará subsídios de até R$ 150milhões/ano.

A subvenção será arcada pelo Tesouro Nacional e asoperações cobertas pelo programa terão juros de 8% aoano, bem abaixo das taxas atualmente praticadas nomicrocrédito, que chegam até a 60% ao ano. Além dosjuros mais baixos, a Taxa de Abertura de Crédito (TAC)foi reduzida de 3% sobre o valor financiado para 1%.

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Dados da pesquisa Perfil da Instituiçõesde Microfinanças no Brasil

Presidenta Dilma Rousseff, durante o lançamento do Crescer.

Page 51: Revista Rumos

RUMOS - 51 – Janeiro/Fevereiro 2012

das entre 2000 e 2011. Em média, cada uma possui doisgerentes e dois diretores, além de 15 agentes de crédito e1.953 clientes.

Quanto à distribuição geográfica, 56% concentram-se nasregiões Sul e Sudeste (28% cada). Outras 27% ficam no Nor-deste, 9% no Centro-Oeste e 8% no Norte. A distribuiçãonão tem relação direta com dados demográficos. A regiãoSudeste (com 42,1% da população), por exemplo, detém omenor número proporcional de Oscip. A região Sul (com14,4% da população) apresenta o maior número proporcio-nal. As demais regiões mantêm relativo equilíbrio entre popu-lação e números de Oscip.

Os créditos tomados são aplicados em capital de giro (90%do total concedido), compra de estoques, construção e refor-mas de estabelecimentos.

Das instituições pesquisadas, 59,3% são parcerias com oSebrae. Das sugestões apresentadas para parcerias destacam-se capacitações, cooperação na divulgação do trabalho dasInstituições de Microfinanças e apoio ao acesso a recursos.

Em geral as Instituições de Microfinanças possuem visãosocial e econômica sobre seus clientes e praticam metodolo-gias de concessão que lhes facilitam o acesso ao crédito.

Mais de dois terços das Oscips usam recursos próprios nasoperações de crédito que em média não ultrapassam R$2.839,91. A taxa de juros é de 3,4% ao mês e o valor concedi-do é dividido, em média, por 11,5 parcelas mensais.

O crédito concedido aos formais (R$ 2.839,91) tem, emmédia, valor 40% superior ao negociado com empreendedo-res informais (pessoas físicas) (R$ 2.023,43).

O crédito médio por empreendimento é de R$ 2,8 mil,apresentando menor valor nas regiões Nordeste (R$ 1,8mil), Centro-Oeste (R$ 1,9 mil) e Norte (R$ 2,6 mil), e mai-or nas regiões Sul e Sudeste – a média é de R$ 4,6 mil e R$3,4 mil por crédito, respectivamente.

O crédito médio aferido para os clientes MPE e EI foi40% superior ao crédito para os empreendedores infor-mais (R$ 2,0 mil). Embora o crédito na região Norte sejaum dos menores, o tempo médio das operações de créditonessa região é de 14,6 meses, frente a uma média nacionalde 11,5 meses.

Dos clientes MPE e EI, apenas 6,3% atrasam pagamen-tos. As regiões Sul e Sudeste apresentam os maiores índi-ces, enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste possuemtaxas sete vezes menores.

Dentre a parcela de clientes pessoas físicas (75% dototal), portanto informais, pode-se inferir que 97,1% delassão potenciais clientes do Sebrae, uma vez que apenas2,9% foram identificadas como empregados de empresas.

As instituições têm um sistema de análise de créditopeculiar por realizarem, geralmente, um levantamento sóci-oeconômico e estudar as condições do cliente MPE ou EI.Exigem, preferencialmente, Aval ou Garantia Solidária.

O valor médio da carteira de operações de crédito decada instituição é de R$ 5,8 milhões. Os recursos são pro-venientes de bancos de desenvolvimento regionais, agên-cias de fomento e do Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social (BNDES).

�As operadoras são relativamente novas, 60% foram cria-

Alguns resultados e conclusões da pesquisa

Pesquisa informa que 28% da clientela do segmento são prestadores de serviço e 55% comerciantes.

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Page 52: Revista Rumos

O historiador Eugênio Vargas Garcia “narra, interpreta e constrói um livro notável”, na opinião do embaixador GelsonFonseca Júnior, sobre a participação do Brasil na criação da Organização das Nações Unidas (ONU).

A ONU e a participação da diplomacia brasileira

RUMOS - 5

Na aurora da modernidade, a forma-ção dos Estados nacionais foi a soluçãoque a Europa encontrou para pôr fim aguerras religiosas que já duravam maisde cem anos. O maior teórico dessa tran-sição foi Hobbes: para terminar com aguerra de todos contra todos era neces-sário instituir um poder de novo tipo, oLeviatã. Em vez de tentar impor algumprincípio religioso ou moral, ele deveriasituar-se acima das partes em litígio e legi-timar-se apenas pela capacidade degarantir a paz, estabelecendo regras míni-mas de convivência.

O advento da modernidade foi mar-cado pela separação de dois eixos –bem/mal e paz/guerra – que até entãose misturavam. Isso correspondeu àseparação entre moral, remetida à esferaprivada, e política, doravante submetidaà razão de Estado. Invocações de mito-logias históricas, teologias, regras decomportamento ou argumentos afins jánão podiam legitimar ações de naturezapolítica, dado o risco de elas reiniciarem,em qualquer tempo, a guerra de todoscontra todos. Nasceu o Estado moder-no, um ente soberano, detentor domonopólio do uso legítimo da força. Oproblema da paz nos territórios sobjurisdição estatal foi, pelo menos emtese, resolvido, mas não o problema dapaz entre diferentes Estados. A históriada modernidade é, também, uma histó-ria de guerras sangrentas.

No século XX, duas guerras mundi-ais, entremeadas pelo fracasso da Ligadas Nações, deram origem à Organiza-ção das Nações Unidas, encarregada deconstituir legalmente uma comunidadede Estados em escala planetária e criarum novo sistema de segurança coletiva,atuando como uma espécie de Leviatãinterestatal. O centro desse sistema éocupado pelo Conselho de Segurança,onde apenas cinco países – Estados Uni-dos, Rússia, Inglaterra, França e China –têm assento permanente e poder deveto. Ele não presta contas a ninguém,

nem mesmo à Assembleia Geral, e suasdecisões têm de ser acatadas por todos.

A composição do Conselho, defini-da em 1945, reflete uma conjunturainternacional que, em larga medida, dei-xou de existir: os grandes impérios colo-niais acabaram, inúmeros países foramcriados, parte da periferia se industriali-zou, Alemanha e Japão voltaram a sergigantes econômicos, o mundo muçul-mano e a África negra ganharam novapersonalidade, outras potências nuclea-res surgiram, a União Soviética desapa-receu. A agenda mundial também foialterada: além da tradicional questão daguerra entre Estados, prevista na Cartada ONU, questões como a proteção dosdireitos humanos e do meio ambienteadquiriram relevância.

A reforma da ONU é decisiva para aconstrução de uma nova ordem mundi-al. É um desafio tão necessário quantodifícil, pois a instituição de outras regrasexigiria 2/3 dos votos da AssembleiaGeral, incluídos aí os votos de todos osatuais membros permanentes do Con-selho de Segurança. Nos últimos anos, adiplomacia brasileira engajou-se explici-tamente na defesa dessa bandeira.

Vem daí a extrema atualidade destelivro. Eugênio Vargas Garcia mostraque a questão tem história: a estruturaautocrática da ONU foi aprovada sobprotestos e com a condição de que fosseposteriormente revista. O Brasil, sob aliderança de Getúlio Vargas, foi o únicopaís cogitado para ocupar o sexto assen-to permanente no Conselho, opção quenaquele momento não prevaleceu. Olivro reconstitui minuciosamente, pelaprimeira vez, a participação brasileira nacriação do mais importante organismointernacional da atualidade, tornando-se assim fonte indispensável paraconhecer a nossa trajetória e avaliar osrumos da nossa diplomacia hoje.

César Benjamin

LIVROS

O Sexto Membro Permanente:O Brasil e a Criação da ONUEugênio Vargas GarciaContraponto, 458 p., 2012.

2 – Janeiro/Fevereiro 2012

Page 53: Revista Rumos

RUMOS - 57 – Janeiro/Fevereiro 2012

O objetivo desta obra é aprofun-dar a reflexão sobre as implicações damídia na promoção do capital huma-no. Lançando mão de variados objetosempíricos e quadros de referência teó-ricos (com destaque para as obras deAndré Gorz, Michel Foucault, GillesDeleuze, Richard Sennett, AlainEhrenberg, Luc Boltanski e Ève Chia-pello), os participantes da coletâneaexploraram, de maneira engenhosa,diferentes facetas do fenômeno pro-posto para reflexão, permitindo umentendimento mais denso dos proces-sos de subjetivação configurados pelonovo espírito do capitalismo (cada vezmais fluido e cada vez mais baseadono modelo de rede).

A Promoção do Capital HumanoJoão Freire Filho e Maria das GraçasPinto Coelho (Orgs.)Sulina, 237 p., 2011.

O novo espírito do capitalismo

Esta segunda edição revisada abor-da temas fundamentais para a educa-ção contemporânea, por vezes ignora-dos ou deixados à margem dos deba-tes sobre política. Em 2010, em Forta-leza, ocorreu a Conferência Internaci-onal sobre os Sete Saberes Necessári-os à Educação do Presente, presididapor Edgar Morin. O documento queresultou do encontro, a Carta de For-taleza, que reitera a necessidade pre-mente da reforma da educação, estáincluída nesta reedição. O livro man-tém atualidade incontestável e deixaclaro que ainda serão necessárias mui-tas ações e posturas que garantam umfuturo sustentável e uma educação ver-dadeiramente democrática.

Os Sete Saberes Necessários à Educaçãodo FuturoEdgar MorinCortez/Unesco, 102 p., 2011.

Tema que não sai de pauta

Importante reflexão sobre o binô-mio região-desenvolvimento, o estudointerdisciplinar do professor MarcosCosta Lima, do Departamento deCiência Política da Universidade Fede-ral de Pernambuco (UFPE), e atual-mente presidente da Associação Naci-onal de Pós-Graduação em CiênciasSociais (Anpocs), traça paralelos entreas relações internacionais, a ciênciapolítica, a economia e os estudos decultura para a compreensão da dinâ-mica capitalista e de seus resultados naAmérica Latina e, em particular, noBrasil. O livro tem prefácio de RosaFreire Furtado, viúva do economistaCelso Furtado, e posfácio do econo-mista Leonardo Guimarães.

Região & Desenvolvimento no CapitalismoContemporâneoMarcos Costa LimaUnesp/Cultura Acadêmica, 331p., 2011.

Diálogo entre prática e teoria

O Brasil tem uma agenda de com-petitividade? Essa pergunta pode tervárias respostas. Todos os países têm,em alguma medida, ações que apoiama atividade econômica dentro de suasfronteiras. A experiência brasileira nopassado tem alguns exemplos bem-sucedidos visando aumentar a compe-titividade, como as conhecidas políti-cas industrial e de comércio exteriorseguidas, quase que sem interrupçãono Brasil, desde a Segunda GuerraMundial até os anos 1980. E várias des-sas políticas foram abandonadas aolongo do tempo. Além disso, paradiversos analistas, o Brasil tem umaagenda de competitividade em cons-trução. E é dela que se ocupa esta obra.

A Agenda de Competitividade do BrasilRegis Bonelli (Org.)FGV, 448 p., 2011.

Agenda em construção

A crise econômica mundial temcolocado desafios importantes à inte-gração europeia. Após mais de umadécada de governos liberais, a Europase vê confrontada com a necessidadede uma regulação reforçada dos siste-mas fiscal e financeiro. O que está emquestão é a ideia de regionalismo. Estaobra contribui para a compreensão des-se movimento e dos instrumentos dis-poníveis à Europa para lidar com a cri-se, seguindo a já tradicional combina-ção dos métodos comunitário e inter-governamental. O futuro da Europa eda zona do euro é um forte determi-nante da política internacional da pró-xima década, na qual a América Latina,unida, pode ter um lugar de destaque.

Sistema Decisório da União EuropeiaOliver Costa e Nathalie BrackSulina, 270 p., 2011.

Reflexões sobre a crise na UE

Estudo sobre a importância daeconomia solidária, em especial noBrasil, pela sua proposta de desenvol-vimento sustentável, solidário, coleti-vo e global, com ênfase nas práticaseducacionais do educador Paulo Frei-re. Visando assentar as novas bases deum sistema social e econômico capazde integrar, solidariamente, toda a soci-edade de forma digna e ética, a obra seinsere na área das ciências sociais: soci-ologia, economia e educação, eminterface com as ciências naturais: eco-logia, preservação e conservação ambi-entais. Seu público-alvo abrange: pes-quisadores, professores, estudantes etodos aqueles que atuam no movi-mento de economia solidária.

Economia Solidária: Educação &AutonomiaGrace Irene Imbiriba PastanaTecnoarte, 79 p., 2011.

Por um mundo mais sustentável

3

Page 54: Revista Rumos

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– Agência de Fomento do Amapá S.A.– Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.– Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A.

– Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.– Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.

– Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.– Caixa Estadual S.A. Agência de Fomento

– Banco da Amazônia S.A.– Banco Cooperativo do Brasil S.A.

– Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.– Banco do Estado do Pará S.A– Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A.

– Banco do Brasil S.A.– Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.

– Banco do Nordeste do Brasil S.A.– Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

– Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul– Caixa Econômica Federal

– Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.– Agência de Fomento de Alagoas S.A.

– Financiadora de Estudos e Projetos– Agência de Fomento do Estado do Tocantins S.A.

– Agência de Fomento de Goiás S.A.– Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro– Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.

– Ag. de Fomento do Estado de SP– Ag. de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.

– Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

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A

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dos Reis Velloso, Luiz Alberto Petitinga,

Luiz Cláudio Dias Reis, Maurício Borges

Lemos, Maurício Elias Chacur e Roberto

Smith

RUMOS - 54 – Janeiro/Fevereiro 2012

CASTRO I

CASTRO II

CASTRO III

INTERESSE I

INTERESSE II

INTERESSE III

Caro editor, há muito tempo que as matérias da revista , sob a suacompetente direção, vêm ganhando extraordinária dimensão de quali-dade e conteúdo. Entretanto, na última edição, registrei uma supera-ção, me permita. Refiro-me ao especial intitulado ,que tem como tema central o economista Antonio Barros de Castro,tragicamente desaparecido. O material editado se constitui na mais den-sa homenagem prestada pela imprensa àquela ilustre figura e, sem dúvi-da, o coloca no adequado altar onde se devem situar todos aqueles quedesempenharam papel relevante na história política e econômica doBrasil, com foco na causa do desenvolvimento, da qual a ABDE e arevista são valorosos e tradicionais guardiões. Parabéns.

. Curitiba (PR).

Luiz Claudio, você não tem ideia do prazer que estou sentindo ao ler aedição de novembro-dezembro da revista , com o Antonio Bar-ros de Castro na capa. Homenagem linda, texto fácil, material de exce-lente qualidade, pauta irretocável. Parabéns. , assessorade Imprensa do BNDES. Rio de Janeiro (RJ).

Depois de alguns dias de folga, retornei ao trabalho e, ao me atualizarsobre as novidades referentes aos nossos parceiros, me deparo com abelíssima homenagem prestada pela revista a Antonio Barros deCastro. Depoimentos muito interessantes e enriquecedores daquelesque conviveram com o ex-presidente do BNDES. Parabéns pela edi-ção da revista. Grande abraço, , assessora de Impren-sa da Nossa Caixa Desenvolvimento. São Paulo (SP).

Quero, inicialmente, formular votos de um excelente ano de 2012, queainda se acha no início, e agradecer o recebimento da revista ,que traz excelentes e norteadores artigos, muito úteis para a vida práti-ca, permitindo-me ser multiplicador de informações valiosas, notada-mente na área de minha atuação: o Terceiro Setor. Espero merecer oprestígio de continuar recebendo a publicação. Cordialmente,

, por .

Prezados senhores, recebemos e agradecemos o envio da ediçãonovembro-dezembro da revista . Solicitamos manter o nome daPUC-Minas em seu cadastro de doações regulares, uma vez que, avalia-da a publicação, a mesma foi considerada muito importante pelo nossocorpo docente. . PUC-Minas BibliotecaPadre Alberto Antoniazzi. Setor de Periódicos. Belo Horizonte (MG).

Prezado senhor editor, trabalho para a Procter&Gamble, onde sou res-ponsável por Open Innovation na América Latina, e busco por parce-rias com empresas, universidades e institutos de pesquisa na área de ino-vação. Recentemente, em visita ao Instituto de Economia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ), recebi um exemplar darevista . Eu achei a revista de excelente qualidade e gostaria depassar a recebê-la regularmente. . Rio de Janeiro (RJ).

Rumos

Ao mestre, com saudade

Rumos

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Rumos

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email

Rumos

Rumos

Nelsondos Santos

Lívia Ferrari

Joice Rodrigues

AgnorGurgel

Gleicimara de A. Braga

Andre Chieffi

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Ano XXXV – Nº 261Janeiro/Fevereiro 2012

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