a categoria trabalho nos livros didáticos de sociologia do ensino médio do estado do paraná

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CARMEN GONÇALVES ORTEGAL GEISA MELO DE OLIVEIRA GILBERTO DE MIRANDA MARIA LUCIA GOUVEIA MAURICIO MARQUES DE SOUZA A CATEGORIA TRABALHO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE SOCIOLOGIA DO ENSINO MÉDIO DO ESTADO DO PARANÁ Trabalho acadêmico apresentado como requisito parcial para obtenção de aprovação na disciplina de Prática Profissional III do curso de Licenciatura em Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, sob orientação da Professora Rosane Nicola

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Page 1: A categoria trabalho nos livros didáticos de sociologia do ensino médio do estado do Paraná

CARMEN GONÇALVES ORTEGALGEISA MELO DE OLIVEIRA

GILBERTO DE MIRANDAMARIA LUCIA GOUVEIA

MAURICIO MARQUES DE SOUZA

A CATEGORIA TRABALHO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE SOCIOLOGIA DO ENSINO MÉDIO DO ESTADO DO PARANÁ

Trabalho acadêmico apresentado como requisito parcial para obtenção de aprovação na disciplina de Prática Profissional III do curso de Licenciatura em Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, sob orientação da Professora Rosane Nicola

CURITIBA2011

Page 2: A categoria trabalho nos livros didáticos de sociologia do ensino médio do estado do Paraná

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................3

O LIVRO FOLHAS DA SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ..5

O LIVRO SOCIOLOGIA PARA O ENSINO MÉDIO...................................................10

O LIVRO CIDADÃO DE PAPEL.................................................................................14

RESENHA DO TEXTO: A CATEGORIA TRABALHO NOS TEXTOS DIDÁTICOS UTILIZADOS PARA O ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO.................17

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................22

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INTRODUÇÃO

Trabalho é uma palavra cuja origem provém do latim tripalium, que era um

instrumento agrícola usado para bater o trigo, milho e o linho. É uma palavra

associada à tortura.

Em seu dicionário de sociologia, Johnson define o trabalho da seguinte forma:

“de modo geral, trabalho é toda atividade que gera um produto ou serviço para uso

imediato ou troca.”(Johnson, 1997, p. 241)

O presente artigo apresenta os resultados de uma revisão bibliográfica

realizada por alguns alunos do curso de Licenciatura em Sociologia da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná / PUC-PR, e que teve por objetivo a análise da

categoria trabalho nos livros didáticos utilizados para o ensino da disciplina de

sociologia no ensino médio no estado do Paraná.

A grande questão norteadora da revisão bibliográfica realizada foi buscar

saber “em que medida tais materiais, quando abordam os temas relacionados ao

mundo do trabalho, como o subemprego, desemprego, trabalho infanto/juvenil,

novas tecnologias, flexibilização do processo de trabalho, entre outros, estariam

oferecendo elementos para a realização de uma crítica radical que a realidade

exige?” (COAN e TUMOLO, p. 1)

Nesse sentido, foram utilizados os seguintes livros didáticos e paradidáticos

para a análise do objeto de nossa revisão, qual seja, a categoria trabalho nos livros

didáticos utilizados para o ensino da disciplina de sociologia no ensino médio do

estado do Paraná, e seguiu-se a metodologia da revisão bibliográfica para que

pudéssemos chegar a algumas considerações finais acerca da apresentação,

explicação, conscientização e conseqüências da categoria trabalho nas obras:

SEED (2006), Tomazi (2007), Dimenstein (2001)

Embora apresentado em conteúdo e forma diversas, percebemos que a

categoria trabalho se faz presente em maior ou menor grau em todos os livros

didáticos analisados. O principal autor utilizado para a abordagem do tema é Karl

Marx o que, poderíamos supor, demonstra um certo tipo de orientação no trato do

tema.

Na primeira parte de nosso artigo, apresentaremos e analisaremos as

características de cada um dos livros analisados separadamente em função do

nosso objeto de pesquisa, para que se torne possível observar de que maneira se

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dá a apresentação da categoria trabalho e suas vertentes para os jovens estudantes

do ensino médio do estado do Paraná.

Na segunda parte, apresentaremos a base teórica que deu origem ao

questionamento base desse artigo.

Na terceira e última parte, apresentaremos a conclusão parcial a que foi

possível chegarmos com nossa revisão bibliográfica.

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O LIVRO “FOLHAS” DA SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO

PARANÁ

O livro Folhas é um livro didático público cuja produção se deu de forma

coletiva com a participação efetiva dos educadores do estado do Paraná, na

confecção do produto final, apoiados pela Secretaria de Estado de Educação do

Estado do Paraná, responsável pela sua edição.

O objetivo principal desse projeto intitulado Folhas foi a valorização dos

saberes práticos dos profissionais de educação do estado do Paraná e o

preenchimento de uma lacuna existente: uma carência de livros didáticos para o

ensino da disciplina de Sociologia no ensino médio.

Com uma editoração que pode ser considerada simples, apresenta algumas

poucas gravuras e pouquíssimas atividades abertas para serem realizadas pelos

próprios alunos como complementação para seus estudos em suas 280 páginas.

A categoria trabalho é apresentada em um capítulo intitulado: “Conteúdo

estruturante: Trabalho, Produção e Classes Sociais” que inicia na página 172 e

termina na página 200.

Na obra analisada a primeira definição de trabalho surge já na página 173, na

qual trabalho aparece como a retirada da natureza de matéria-prima para produzir

objetos necessários à sobrevivência humana.

Na primeira parte do capítulo intitulado: “o processo de trabalho e a

desigualdade social a autora Katia Picanço menciona Karl Marx (1818-1883),

pensador alemão que, segundo a obra, afirma que “para resolver as suas

necessidades básicas, o ser humano vai se apropriando da natureza, estabelecendo

relações com outros seres humanos, pensando sobre a sua vida e criando novas e

novas necessidades.” (SEED, p. 176)

A obra afirma ainda que, para que haja o processo de trabalho, são

necessários os seguintes elementos: um ser humano, o conhecimento, a matéria-

prima e os instrumentos; e que é o trabalho que possibilita a existência da

sociedade.

Neste ponto podemos apontar um erro conceitual que afirma que matéria-

prima é uma “natureza que já foi modificada” o que a nosso ver nem sempre

corresponde à verdade, já que produtos da natureza, ainda não alterados, servem

também de matéria-prima para o trabalho.

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O ser humano é considerado o principal elemento dessa unidade pela sua

capacidade de construção e transformação.

A abordagem do trabalho não deixa escapar a destruição do planeta e de

outros seres humanos, ainda que esses assuntos sejam tratados de maneira

extremamente superficial.

O livro Folhas afirma que no início da vida humana a hierarquização entre e

intersociedades se dava com base nas diferenças sexuais e na divisão sexual do

trabalho. Exemplifica com os povos indígenas e seu modo de vida antes da

chegada dos povos europeus ao Brasil e destaca a importância da Geografia, da

História e da Sociologia no estudo sobre o processo do trabalho e suas

consequências.

Nas páginas 178 e 179, há uma extensa descrição histórico-antropológica do

trabalho que, pela obviedade do relato, torna-se desinteressante para o aluno.

A obra assegura que com a produção de excedentes resultantes do processo

do trabalho, a sociedade se transformou. Surgiram a propriedade privada dos meios

de produção (ferramentas, matérias-primas, conhecimentos) e a desigualdade social

entre os homens.

Nesse momento, o livro estabelece uma conexão entre o surgimento do

capitalismo e a dificuldade da busca de empregos nos dias atuais, ressaltando que

as conquistas humanas que dizem respeito ao trabalho surgem sempre em meio às

contradições.

Em determinadas páginas é inevitável a sensação de que os quadros

complementares, em destaque na cor verde, são mais esclarecedores que a própria

explicação dada a respeito do tema. Karl Marx foi citado apenas três vezes e tanto

suas obras quanto a de Max Weber e Durkheim, que nem sequer foram citados,

poderiam ter sido melhor aproveitadas mesmo em linguagem mais acessível para os

alunos de ensino médio.

Nos campos “pesquisa” e “atividade”, não há embasamento teórico disponível

na obra para que o aluno possa compreender o que se quer dele. As questões são,

por vezes, muito abertas e dão margem a respostas que não demonstrariam o que o

aluno efetivamente absorveu do conteúdo dado.

A indicação de filmes e música é bem aproveitada, com filmes razoavelmente

atuais o que possibilita um entendimento maior tanto do conteúdo da disciplina

quanto dos filmes por parte dos jovens. Já as referências bibliográficas são poucas

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e muito densas, o que impossibilita um aprofundamento do aluno por meio de

pesquisa. Talvez fosse possível acrescentar indicações de leitura para que os

alunos que por ventura se interessem pelo tema, possam buscar mais

conhecimento.

Com relação a essa primeira etapa do capítulo, elaboramos uma tabela com a

quantidade de vezes em que as palavras relacionadas ao trabalho/sociedade, foram

citadas:

PALAVRA NÚMERO DE VEZES EM QUE É

MENCIONADA NO TEXTO

ESTADO 24

TRABALHO 15

INSTRUMENTOS/FERRAMENTAS 9

DESIGUALDADE 6

IGUALDADE 2

ORGANIZAÇÕES E/OU

RELAÇÕES SOCIAIS

5

RELAÇÕES COLETIVAS 4

PROPRIEDADE 4

JUSTIÇA 3

CLASSES SOCIAIS 2

MOVIMENTOS SOCIAIS 1

SOCIEDADE HIERARQUIZADA 1

Percebe-se pela tabela acima que temas como desenvolvimento sustentável

e responsabilidade social, não são sequer citados pela autora, embora amplamente

debatidos nos dias atuais, o que, por vezes, torna o livro didático extremamente

distante dos assuntos que poderiam vir a interessar os alunos do ensino médio.

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Na segunda parte do capítulo que trata do tema trabalho, intitulado

“Globalização”, a autora Katya Picanço, relata a importância da internet nas

modificações sociais, inclusive nas relações de trabalho.

Cita a globalização como um fenômeno capaz de fazer pessoas de diferentes

países terem as mesmas preferências por determinadas marcas de roupas e

acessórios, assistirem aos mesmos filmes quase que simultaneamente, ou seja, um

fenômeno capaz de unificar alguns interesses de diferentes povos. Entretanto, não

defini o termo globalização de modo mais específico o que faz com que talvez o

aluno não perceba a real importância desse fenômeno nos dias atuais.

Cabe aqui uma crítica aos quadros com notícias inseridos no livro a título de

exemplificação do fenômeno da globalização: embora a autora traga as fontes,

esqueceu-se de destacar a data das notícias, o que contextualizaria melhor,

historicamente, para o aluno o assunto trabalho.

Talvez também não fique claro para o aluno do ensino médio o que é

exatamente a “mais-valia” e, infelizmente, não houve citação da fonte dessa

denominação: Karl Marx.

Traz relato extenso a respeito da crise do petróleo e ignora por completo

outros temas globais de igual relevância para a compreensão dos alunos.

Um ponto positivo a destacar é a pesquisa da página 190 que incentiva os

alunos a pesquisarem a respeito do MERCOSUL: tema atual e de extrema

importância para os latino-americanos.

O texto apresenta-se um pouco longo e possivelmente desinteressante entre

as páginas 188 e 198, pois trata de vários temas em um único bloco, sem

subdivisões que facilitariam ao aluno do ensino médio uma visão facilitada do início

e do término de cada tema tratado. Nas referidas páginas são tratados assuntos

como crise do petróleo, organização do trabalho segundo a “proposta fordista” e “o

padrão toyotista”, Estado Intervencionista e Estado Neoliberal, de forma contínua e

por vezes aleatória, sem uma ordem, seja ela cronológica ou de relevância do tema.

Por fim, na página 198 há uma proposta de pesquisa bem interessante,

porém abrangente demais para alunos do ensino médio. Talvez se fosse um pouco

mais específica o resultado seja mais facilmente alcançado.

Novamente um tabela para demonstrar as palavras e a quantidade de vezes em que essas

foram mencionadas:

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PALAVRA / TERMOS

ESPECÍFICOS

NÚMERO DE VEZES EM QUE É

MENCIONADA NO TEXTO

Capital/capitalista 29

Globalização 23

Anti-globalização 2

Crise 15

Produção 12

Tecnologia 3

Internet 4

Mercado formal de trabalho 6

Organização do trabalho 1

Leis trabalhistas 2

Exploração 2

Desemprego 2

Nesta tabela observa-se que: (i) a autora tratou no seu texto muito mais da

crise (que a seu ver é uma espécie de consequencia da globalização) do que do

trabalho em si; (ii) que apesar de não dar uma definição concreta para globalização

tal palavra foi citada 23 vezes no texto, (iii) que mais uma vez restou uma lacuna a

respeito de assuntos importantes tais como: trabalho infantil, trabalho escravo,

responsabilidade social das empresas para com o mundo e os seres que o habitam

etc.

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O LIVRO “SOCIOLOGIA PARA O ENSINO MÉDIO”

Na Unidade 2 do livro “Sociologia para o Ensino Médio”, Nelson Tomazi nos traz o tema

“Trabalho e Sociedade”. Desenvolvido com enfoque histórico para explicar os fatos e

fenômenos sociais, Tomazi conceitua o tema “trabalho” a partir de exemplificações básicas,

de fácil associação ao universo jovem do mundo atual.

Palavras-chave para tal sequência, trabalhador, energia, infra-estrutura, matéria-

prima e, principalmente, sociedade, aparecem no texto repetidamente. Somente a última,

sociedade, o autor coloca 12 vezes em apenas uma página, sugerindo que os traços do

texto seguirão a sociologia reflexiva de justificativas econômicas.

Dividida em três capítulos - “O trabalho nas diferentes sociedades”, “O trabalho na

sociedade moderna-capitalista” e “A questão do trabalho no Brasil”, a Unidade 2, objeto de

nossa análise, busca esclarecer o leitor, aluno de Ensino Médio, sobre as origens e as

consequências da atividade humana “trabalho”. O autor busca esclarecer fatos e fenômenos

sociais, como, por exemplo, a divisão do trabalho, a sociedade de classes e a coesão social.

A partir da trilogia clássica do pensamento sociológico alemão – Karl Marx, Max Weber e

Emile Durkheim, Tomazi busca esclarecer como se deu o que chamou de “linha do tempo

do trabalho” (TOMAZI, 2007: 37) associando tais clássicos com a escravidão, o servilismo e

o fordismo, por exemplo.

De forte orientação histórico-cultural, o tema é tratado de forma eficiente e tende a

proporcionar ao professor de posse da obra, uma rica experiência em sala de aula, em que

pese o rebuscamento do discurso e a extensão exagerada de certas reflexões.

Capítulo 4 – O trabalho nas diferentes sociedades

Neste trecho do livro, Tomazi apropria-se das teorias de solidariedade mecânica e

orgânica, propostas inicialmente no século XIX por Durkheim. Baseado na organização de

determinadas sociedades, como a tribal e a moderna, Tomazi esboça, de maneira

superficial, justificativas para a existência de diferentes funções sociais do trabalho. Neste

ponto, a diferenciação de mão de obra por aspectos de gênero, idade e etnia são

trabalhados. Tomando o cuidado de não tentar traçar um estudo etnográfico, o autor segue

de maneira eficaz, com a apresentação de imagens relevantes ao contexto. A apresentação

de conceitos gregos sobre o ato de trabalhar (pág 38) e de gráficos (pág. 41), entretanto,

tendem a serem ineficazes na transmissão da ideia original e a provocar uma reatividade no

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leitor, devido a aspectos como complexidade de conceitos e o rebuscamento de palavras

utilizadas.

Surge, aqui, uma análise apropriada sobre a questão da organização do trabalho.

Buscando momentos históricos específicos, o autor esclarece como se deu a separação

entre casa e trabalho, a formação de cooperativas, de manufaturas e o papel da igreja no

processo da formação das sociedades.

Antes de passar ao capítulo adiante, na seção “Cenários”, o autor faz uma

interessante contextualização histórica antes de evoluir com o tema para as questões

relacionadas à sociedade moderna. Baseado nas necessidades primitivas que

desencadearam na consolidação da prática laboral, Tomazi traz um texto de José Carlos

Rodrigues, em que o enfoque antropológico das relações humanas que envolvem o trabalho

é o ponto chave da reflexão.

Capítulo 5 – O trabalho na sociedade moderna capitalista

Nesse capítulo, o pano de fundo para a reflexão é, inteiramente, a teoria marxista.

Mais detalhadamente, o autor explica ao leitor a definição de alguns dos conceitos centrais

na obra do sociólogo alemão, quais sejam: divisão social do trabalho, alienação e sociedade

de classes.

Novamente com base na sequência histórica dos acontecimentos, Tomazi utiliza o

surgimento das fábricas como ponto de partida para trabalhar uma sociologia econômica, de

cunho contestador, trazendo o aluno de ensino médio para o clima dos tempos de revolução

do século XIX, em que a Europa via-se num momento de total renovação de hábitos,

organização social e de política.

A questão da luta de classes é rapidamente colocada, mas de maneira eficiente.

Aqui, a impressão é de que o autor compreende a complexidade do tema e as inúmeras

referências bibliográficas que o próprio Marx nos deixou e, portanto, não arrisca a traçar

mais do que um panorama geral da teoria. A eficaz abordagem é calçada pela utilização de

imagens e figuras que, acompanhadas de legenda apropriada, encarregam-se de firmar o

assunto nas mentes dos seus jovens leitores.

Com o box “Nas palavras de...”, o autor explica, de maneira pertinente, o conceito

marxista para a alienação (que Marx considerou ser da consciência, tendo em vista que

engloba os âmbitos político, econômico e social da vida do operário) que a prática do

trabalho – como se dá na sociedade moderna – é capaz de provocar quando o operário não

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possui discernimento sobre o seu papel na produção. Apesar de utilizar-se de vocabulário

requintado para o atual estudante de ensino médio no Brasil, Tomazi acerta em colocar a

questão que, por ter forte ligação com a vida prática dos seus leitores, não resulta em

reflexão entediante, apesar de complexa.

Tomazi traz, ainda, à discussão do capítulo, os conceitos de Durkheim para a coesão

social, explicada pelas sociedades mecânica e orgânica. Aqui, a leitura assume posição

desnecessária e redundante, tendo em vista que o mesmo assunto é igualmente abordado

na introdução da unidade. É possível que, na ausência desse trecho, o capítulo, de uma

forma geral, ficasse mais “enxuto”, de leitura mais ágil, sendo, assim, melhor assimilado

pelos seus leitores.

Ainda no capítulo em questão, Tomazi coloca a visão da teoria crítica sobre o tema

trabalho. O autor acerta ao trazer os teóricos da chamada Escola de Frankfurt, da primeira

metade do século XX, pois a compreensão do referido pensamento é de suma importância

quando o contexto é relacionado à sociedade moderna. O exemplo trazido pelo autor para

ilustrar a questão é o “fordismo-taylorismo” (pág 48), em que a linha de montagem

consolidou-se como principal modo de produção para a ascensão do capitalismo

proporcionada pela indústria automobilística emergente a partir dos anos de 1910. A

“condição operária” (pág 49) é trabalhada de forma a estimular o pensamento crítico do

leitor, função básica e essencial do pensamento sociológico.

Ao final do capítulo, uma interessante problematização do tema central é colocada.

Tomazi traz o assunto “desemprego” (pág 53) a partir de um trecho de O Horror Econômico,

da economista Viviane Forrester. Uma importante reflexão é proporcionada ao leitor,

partindo-se do pressuposto de que o trabalho encontra-se flexibilizado na sociedade atual,

moderna e capitalista. Espera-se que seja possível ao leitor refletir, por exemplo, sobre o

papel dos empregos informais nas economias de todo o mundo, não só no Brasil.

Capítulo 6 – A questão do trabalho no Brasil

A partir da colocação superficial do momento histórico em que a sociedade brasileira

convivia com a escravidão como principal modo de produção (pág 55), Tomazi centraliza, de

maneira eficaz, o tema trabalho na sociedade brasileira. Fazendo um breve retrospecto

sobre a sequência de revoltas produzidas pela classe operária brasileira desde a abolição

da escravatura até o final da Era Vargas, o autor focaliza sua reflexão nos últimos sessenta

anos de história no Brasil, trazendo à reflexão o papel dos povos indígenas, do agro-

business, dos trabalhadores lotados nos grandes parques industriais do País, no

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funcionalismo público e, finalmente, nos trabalhadores escravizados por dívidas tanto nos

sertões quanto nas grandes cidades brasileiras.

Essa forma de organizar o texto, fragmentada e pontual, revela-se útil, pois, torna-se

possível abordar um grande números de temas complexos e distintos, de forma ágil e a

facilitar as associações possíveis com a sociedade que envolve os leitores.

A utilização de imagens, charges e quadrinhos, novamente revela-se eficaz.

Compreendendo que a forma natural de escrita do autor tende ao rebuscamento linguístico

e à complexidade de temas escolhidos, é possível entender que a colocação de tais

mecanismos textuais visa à assimilação adequada do assunto e revela-se apropriada.

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O LIVRO “O CIDADÃO DE PAPEL”

Em vista da orientação teórica, a partir da pergunta delimitada anteriormente,

o olhar sobre a obra O cidadão de Papel, de Gilberto Dimenstein, foi direcionado

para a caracterização e análise da categoria trabalho como se apresenta no decorrer

do texto e de que maneira o conteúdo abordado pode, de alguma maneira,

responder à pergunta proposta na introdução do trabalho.

Parece-nos que o capítulo analisado, intitulado Trabalho e renda, contém

elementos de uma abordagem típica de livros paradidáticos (COAN, 2004), nos

quais diversos temas a respeito da temática são desenvolvidos, geralmente com

pontos de conexão entre eles. Entretanto, nesse material didático em especial, não

se visualiza com clareza um esforço do autor em construir uma conceituação de

trabalho, muito preso ainda a questão econômica e a sua relação com o trabalho

enquanto fonte de capital, “gerador de renda” (DIMENSTEIN, 2005, p. 68).

Ainda que seja levantada a problemática da má distribuição de riquezas, em

especial no cenário brasileiro, e suas consequentes mazelas sociais, Dimenstein se

abstém de comentar temas concernentes à alienação no trabalho, subempregos e

outros assuntos que apontam para o esboço de uma crítica social. Há, ainda, uma

breve consideração sobre as raízes da causa do trabalho infantil. Porém, as

constantes retomadas de dados históricos e estatísticos por vezes fazem o texto

assumir tom demasiado historicista, que em seu máximo constroem uma frágil crítica

econômica.

Pontos a serem destacados na presente obra:

O capítulo sobre trabalho possui:

- 13 subitens

- 5 boxs explicativo-práticos

- 12 imagens

- 7 questões (no final do capítulo)

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-> O Preço do Cheeseburguer:

O item (assim como quase todo o texto) é construído sobre metáforas, e

nesse há uma crítica à má distribuição de renda per capita, em diversas famílias

brasileiras;

-> A Injustiça de uma pizza:

Mais metáforas que exemplificam a situação de subemprego no Brasil

aparecem, expondo assim o quão ruim está a distribuição de renda no Brasil a nível

mundial.

-> Fome Zero:

A sigla ‘PIB’ aparece 3 vezes neste item para explicar o conceito de

“distribuição de renda", e no final (do item) o autor faz uma rápida comparação da

vida de um empresário e de um operário.

-> Distribuição desigual:

Numa mudança rápida de ‘forma’ de apresentação de conteúdo, o autor

passa para os números, mostrando a prática da desigualdade social, no ano de

2002 (dados do IBGE). O item mostra quais regiões detém maior renda.

-> A empregada e o patrão tratados de modo igual:

Os três primeiros parágrafos apresentam-se como exposição do senso

comum. Do quarto parágrafo até o sétimo, temos uma explicação sobre impostos (o

que são e como são cobrados). No entanto, não maior aprofundamento dos

conceitos expostos.

-> Sonegar é para poucos:

Nesse item notamos que a apresentação do conceito de sonegação também

resvala no senso comum.

-> A importância do orçamento:

Apesar de o título ser bastante peculiar, a abordagem não tem uma

importância curricular e o tema se deixa cair numa crítica de senso comum.

-> Por que se teme a recessão?

Faltou uma significação para a palavra recessão. Para o aluno pode gerar

não entendimento.

-> Qual a raiz dessa tragédia?

Um item extenso, mas bem estruturado (com introdução, desenvolvimento e

conclusão). Um dos poucos tópicos que fazem nexo com o seu anterior (remete-se a

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expressão “década perdida”). O autor usa um termo curioso e faz menção prática-

histórica dela (estagflação).

-> A criança trabalhadora

Pequeno item que retoma ao termo estagflação, tentando justificar o trabalho

de crianças e adolescentes inexperientes em prol de obter recursos para a

sustentação.

-> Efeitos políticos

A palavra recessão aparece novamente sem que o autor a conceitue.

Entretanto, a linha de raciocínio cria certa lógica, e o leitor pode compreender

facilmente o assunto com eventuais fatos históricos que modificaram a economia do

país. Faltou uma explicação do significado da palavra impeachment. O cunho

político é aqui explicitado.

-> Circulação financeira, governo e universidades

Gilberto Dimenstein projeta uma linha de efeitos sucessivos causados pelo

dinheiro, nas universidades. Se o cliente não ganha dinheiro, a loja não vende, a

indústria não vende, gerando desemprego e aumento nos impostos. O governo, sem

outra forma de arrecadação, reduziria o investimento nas universidades federais o

que levaria a um déficit de transmissão do conhecimento.

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RESENHA DO TEXTO: A CATEGORIA TRABALHO NOS TEXTOS DIDÁTICOS

UTILIZADOS PARA O ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO

Em artigo científico produzido para apresentar os resultados de uma pesquisa

que analisa as abordagens da categoria trabalho nos textos didáticos para o ensino

de sociologia no ensino médio no estado de Santa Catarina, Paulo Sérgio Tumolo,

professor adjunto do Centro de Ciências da Educação e do Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina e Marival

Coan, mestre em educação pela UFSC, analisam diversas obras entre livros

didáticos de Sociologia, livros didáticos não temáticos, livros didáticos de outras

disciplinas utilizados para o ensino de Sociologia, livros didáticos de introdução geral

à Sociologia, livros paradidáticos, apostilas do sistema educacional Expoente e

dicionários especializados.

Os autores ressaltam ainda que, juntamente com a pesquisa bibliográfica das

referidas obras, realizaram uma pesquisa de campo que se utilizou de um

questionário exploratório e uma entrevista com professores que lecionam a disciplina

de Sociologia nas redes pública e particular do Estado de Santa Catarina.

Na citada pesquisa, TUMOLO e COAN buscam saber dentre outras coisas:

em que profundidade a categoria trabalho aparece nos livros didáticos, qual a

mensagem que é transmitida aos alunos do ensino médio, a respeito do trabalho,

qual a visão do professor acerca do tema, “em que medida tais materiais, quando

abordam os temas relacionados ao mundo do trabalho, como o subemprego,

desemprego, trabalho infanto/juvenil, novas tecnologias, flexibilização do processo

de trabalho, entre outros, estariam oferecendo elementos para a realização de uma

crítica radical que a realidade exige?” (TUMOLO e COAN, p. 1)

Quanto à pesquisa bibliográfica das obras, os autores constataram diferentes

níveis de abordagem da categoria trabalho cujas variações se dão em função da

categorização da obra.

Em um primeiro bloco cujos livros eram didáticos temáticos de nível médio,

indicados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e um deles, indicado

pela Proposta Curricular de Santa Catarina de 1998, os autores observaram pela

pesquisa de campo feita com os professores de Sociologia que esses livros são “os

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mais conhecidos, utilizados e considerados como bons autores de livros didáticos.

Além disso, todos eles foram revisados para se adaptarem às novas exigências da

reforma do ensino médio.” (TUMOLO e COAN, p. 1)

Nesses livros o trabalho surge como atividade humana de transformação da

natureza para a criação de bens úteis ao homem. Há uma contextualização

histórica acerca do trabalho, é apresentado o conceito de trabalho como tripalium

(instrumento de tortura) e o autor clássico que mais predominantemente é citado

para falar sobre a categoria trabalho nessas obras é Karl Marx.

Em um segundo bloco cujas obras eram os livros didáticos não temáticos e no

qual a ênfase foi dada às obras de Guareschi e Piletti, o trabalho vem atrelado aos

modos de produção da sociedade e, portanto, ao período histórico em que está

inserido.

Quanto às obras agrupadas em um terceiro bloco, “composto por livros didáticos de

outras disciplinas utilizados para o ensino da Sociologia” (TUMOLO e COAN, p. 2),

entre elas Ribeiro (2000), Cotrin (1996), Aranha e Martins (1995) e Cahuí (2000), os

autores perceberam primeiramente que tais obras eram inicialmente indicadas para

a disciplina de Filosofia, que nelas o trabalho é abordado pela perspectiva cultural e

que tais autores “procuram defini-lo historicamente e tecer uma crítica maior ao

trabalho” submetido ao modo capitalista de produção, sendo assim, continua a ser

Karl Marx o autor clássico mais utilizado seja na definição do que seja o trabalho ou

ainda, para fazer uma crítica ao trabalho no modo de produção capitalista.

No quarto bloco de obras pesquisadas encontram-se os livros didáticos de

introdução geral à Sociologia, dentre elas Bins (1990), Castro e Dias (2001), Dias

(2005), Ferrari (1983), Lakatos e Marconi (1999), Quintaneiro, Barbosa e Oliveira

(2003) e Sell (2002), cujo principal objetivo é fornecer elementos gerais e

introdutórios da Sociologia àqueles que ainda não tiveram contato com a disciplina.

Abordam a vida, pensamento e obra dos pensadores clássicos (Marx, Weber e

Durkheim), e suas temáticas enfatizam a “interação social, grupos e classes sociais,

cultura e organização social, controle e mudança social, os processos sociais,

Estado e política, modos de produção, dentre outros.” (TUMOLO e COAN, p. 2)

O quinto bloco de obras analisadas engloba os livros paradidáticos de Aranha

(1997), Carmo (1992, 1997, 1998), Dimenstein (2000), Gerab e Rossi (1997) e

Nascimento e Barbosa (2001)

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No sexto e sétimo blocos foram analisados, respectivamente, as apostilas dos

sistemas educacionais Expoente, elaborada por Vianna, Andrade e Filho (2006), e

Energi (2006); e os dicionários especializados, num total de cinco obras.

Das observações preliminares dos autores da referida pesquisa, constatou-se

que:

a) há um número limitado de livros didáticos para o ensino de sociologia no

ensino médio embora haja uma “esforço considerável por parte dos seus

autores no sentido de apresentarem um bom material com uma relativa

capacidade explicativa, boa seleção de textos, exercícios e dinâmicas”

(TUMOLO e COAN, p. 2);

b) Karl Marx é o autor mais citado nas obras analisadas;

c) os dicionários são bons materiais de auxílio para o preparo das aulas dos

professores do ensino médio;

d) quanto à abordagem e à perspectiva do tema trabalho, o modo como se

realiza tal abordagem depende muito mais do professor do que dos temas

trabalhados nos livros analisados pelos pesquisadores;

e) que a categoria trabalho é considerada relevante tanto para a Secretaria

de Estado de Educação de Santa Catarina que o inclui na Proposta

Curricular quanto para o Governo Federal que o sugere nos PCN’s de

1999 e de 2002;

Esclarecem os autores da pesquisa que sua produção teve como referencial

teórico o recorte Marxista pelo caráter explicativo proporcionado.

Ressaltam que algumas obras são dignas de atenção especial por apontarem

“algumas alternativas para o futuro da sociedade do trabalho” (TUMOLO e COAN, p.

3), como a geração de novos emprego, o fim da sociedade do trabalho, atuação das

ONG’s, redução da jornada de trabalho e aumento da oferta de vagas.

Constatam que as abordagens da categoria trabalho são diversas em

profundidade e que o material mais utilizado pelos autores são os “Manuscritos de

1844 de Marx”, embora considerem que “O Capital” não deva ser desconsiderado

pelos autores de livros didáticos e paradidáticos para o ensino médio por trazer “uma

análise mais elaborada para a compreensão do modo capitalista de produção e do

trabalho subsumido a esta forma social, sintetizado na categoria de trabalho

produtivo de capital, conforme explanamos anteriormente” (TUMOLO e COAN, p. 8)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na revisão bibliográfica realizada pela equipe autora do presente

artigo e na questão norteadora de nossa pesquisa, qual seja: “em que medida tais

materiais [livros didáticos e paradidáticos], quando abordam os temas relacionados

ao mundo do trabalho, como o subemprego, desemprego, trabalho infanto/juvenil,

novas tecnologias, flexibilização do processo de trabalho, entre outros, estariam

oferecendo elementos para a realização de uma crítica radical que a realidade

exige?” (COAN e TUMOLO, p. 1), iniciaremos agora a exposição das conclusões

parciais a que foi possível chegarmos.

Em primeiro lugar, é gratificante perceber que há um esforço em se produzir

materiais próprios para o ensino de Sociologia no ensino médio. Perceber que, após

inúmeros anos de afastamento das escolas, a Sociologia, em tão pouco tempo, já

possui livros próprios para o seu ensino já é, por si só, uma vitória da educação

sobre a burocracia.

Em segundo lugar, mesmo com os erros apontados ao longo do presente

artigo, percebemos também que há uma preocupação em se confeccionar materiais

com qualidade e que façam a contextualização da sociologia como um facilitador

para a compreensão do aluno.

O livro FOLHAS, da SEED/PR, merece um cuidado maior, em uma futura

edição, no que tange à diagramação que pode se tornar mais atrativa aos olhos do

seu público alvo, os estudantes de ensino médio.

Pode ser considerado também o mais superficial nas abordagens

relacionadas ao trabalho, teve o demérito de não definir globalização de forma

específica, embora esse assunto tenha um subcapítulo inteiro dedicado a ele e por

não apresentar os assuntos em tópicos ou subtítulos, para uma melhor visualização

e compreensão dos alunos.

Quanto à categoria trabalho, poder-se-ia explorar melhor os autores clássicos.

Novamente com relação ao livro Folhas, este poderia ter aproveitado melhor

os campos “pesquisa” e “atividade” e proporcionar ao aluno uma orientação melhor

direcionada, utilizando-se de questões mais específicas, no sentido de guiar os

estudos complementares dos jovens para o aprofundamento de seu conhecimento.

Ressaltemos também, um dos seus pontos positivos que é a indicação de filmes e

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música razoavelmente atuais o que proporciona uma aproximação da Sociologia

com o cotidiano dos jovens.

Um olhar um pouco menos pessimista, já que tanto se citou a palavra “crise”

em seus textos, também faria bem ao pensamento dos adolescentes em formação.

E ainda, observamos que temas atuais e relevantes para o entendimento da

nossa sociedade tais como: desenvolvimento sustentável, responsabilidade social

das empresas, trabalho infantil e trabalho escravo, não foram contemplados nessa

edição.

Já a obra de Tomazi (2007), traz grandes contribuições ao ensino da

disciplina de Sociologia. O autor abarca em seu texto as obras de Durkheim, Karl

Marx e da Escola de Frankfurt; problematiza alguns temas atuais e, embora haja um

rebuscamento linguístico excessivo e um vocabulário demasiado requintado para o

público alvo a utilização de charges e quadrinhos propicia ao estudante uma

assimilação adequada do conteúdo proposto.

De desnecessário podemos citar apenas a repetição da “solidariedade

mecânica e orgânica”, de Durkheim, em dois capítulos, o que, para o jovem da

atualidade pode se tornar cansativo e desinteressante.

A obra de Dimenstein (2005) apresenta como pontos negativos a limitação do

conceito de trabalho que poderia ter sido melhor explicado; a ausência de temas

como alienação e subempregos; a falta de definição para temas tratados no texto,

como impeachment e recessão e o pouco espaço dado à questão do trabalho infantil

e o tom demasiado historicista que pode causar desinteresse no público alvo.

Das considerações expostas, concluímos que, o primeiro grande passo em

direção à construção da disciplina de Sociologia no ensino médio já foi dado. Falta-

nos agora aprimorar e corrigir os erros existentes, para preparar livros didáticos de

cunho efetivamente sociológico e não somente histórico ou político.

Diferenciar a sociologia das demais disciplinas é o passo seguinte. Nesse

sentido as revisões bibliográficas podem ser consideradas de grande auxílio para o

aprimoramento do seu ensino.

A pesquisa de campo, com alunos e professores do ensino médio, para colher

informações, críticas e sugestões também seria de grande valia para que os livros

se tornassem mais próximos da realidade escolar.

Envidar esforços no sentido da melhoria da qualidade de ensino deveria ser

um compromisso diário de todo e qualquer profissional da educação.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel: a infância, a adolescência e os

direitos humanos no Brasil. São Paulo: Ed. Ática, 2001.

JOHNSON, Alan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1997

SEED. Sociologia / vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006 – 280 p.

TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. São Paulo: Ed. Atual,

2007. páginas: 36 a 65