a aprendizagem do português enquanto língua de acolhimento...

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Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras Departamento de Língua e Cultura Portuguesas A Aprendizagem do Português enquanto Língua de Acolhimento: A Comunidade Punjabi em Portugal Orientadora: Professora Doutora Maria José Grosso Dimple Rajput Mestrado em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 Área de Especialização em Didática do Português – PLE/PL2 Lisboa, 2012

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  • Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras

    Departamento de Lngua e Cultura Portuguesas

    A Aprendizagem do Portugus enquanto Lngua de Acolhimento: A Comunidade Punjabi em Portugal

    Orientadora: Professora Doutora Maria Jos Grosso

    Dimple Rajput

    Mestrado em Lngua e Cultura Portuguesa PLE/PL2

    rea de Especializao em Didtica do Portugus PLE/PL2

    Lisboa, 2012

  • i

    Dedicatria

    Este trabalho inteiramente dedicado aos meus pais, meus amigos e especialmente ao

    meu marido pelo carinho, apoio e incentivo que me tm dado ao longo deste projeto e a

    deus por me dar a fora para conseguir terminar este trabalho.

  • ii

    Agradecimentos

    O presente trabalho nunca poderia ter sido concretizado sem o apoio de muitas pessoas

    que me acompanharam, encorajaram ao longo da realizao deste trabalho e a quem

    expresso meus agradecimentos.

    Em primeiro lugar, queria apresentar o meu profundo agradecimento minha

    orientadora, Professora Doutora Maria Jos Grosso, por ter aceitado orientar esta

    dissertao e pelo apoio que dedicou durante a realizao deste trabalho. Agradeo,

    principalmente, por confiar em mim e no tema deste trabalho e tambm pela sua

    pacincia, disposio e suas sugestes importantes, que me ajudaram neste trabalho,

    mas que tambm me iro auxiliar em projetos no futuro.

    Tambm deixo meu agradecimento Professora Doutora Rosa Maria Perez pelo

    incentivo e pelas suas sugestes bibliogrficas.

    Gostaria tambm de agradecer s nossas amigas Rosrio Beiro e Cludia Pereira pela

    disponibilidade, reviso do trabalho e pela amizade e carinho.

    Dirijo o meu reconhecimento aos meus colegas e amigos que partilharam comigo as

    suas experincias, sabedorias e conhecimento e a todos os respondentes que

    participaram neste trabalho, sem o apoio e colaborao dos quais este trabalho no seria

    possvel. Agradeo aos membros da comunidade punjabi e aos responsveis do templo

    sikh pelas informaes fornecidas e pelo seu apoio e entusiasmo.

  • iii

    Deixo uma palavra de reconhecimento aos funcionrios do servio acadmico, D. Arlete

    e D. Ftima que sempre me receberam com muito amor e trataram todos os assuntos

    com honestidade.

    Agradeo tambm ao Instituto Cames por me ter concedido a bolsa de investigao

    para levar o cabo este projeto, e Professora Doutora Ana Paula Laborinho, Presidente

    do IC por ter aceitado o meu pedido da renovao da bolsa.

    minha famlia, especialmente aos meus pais, pelo amor e carinho incondicional que

    me tm dado apesar de estarem to longe, deixo o meu profundo reconhecimento. Ao

    meu marido Shiv, meu inspirador , um agradecimento muito especial pelo seu

    encorajamento e apoio constantes, agradeo-lhe sobretudo por estar presente na minha

    vida.

  • iv

    ndice

    DedicatriaI

    Agradecimento II

    ndice de Quadros e Tabelas....VI

    ndice de Grficos .....VII

    Siglas e Acrnimos..VII

    Resumo...IX

    Abstract.X

    Captulo I Enquadramento geral do estudo ................................................ ............1

    1.1 Justificao e objeto de estudo .............................................................................1

    1.2 Motivao e objetivo de estudo ............................................................................2

    1.3 Procedimento metodolgico...4

    1.4 Estrutura de trabalho ........4

    Captulo II Enquadramento terico .........................................................................6

    2.1 Fluxo migratrio ....................................................................................................6

    2.1.1 O migrante ......................................................................................................6

    2.1.2 Migrao mundial..10

    2.1.3 Histria da imigrao em Portugal.13

    2.1.3.1 O perfil de imigrantes em Portugal..17

    2.1.3.2 Distribuio geogrfica.18

    2.1.3.3 Distribuio demogrfica18

    2.1.3.4 Durao da estadia em Portugal19

    2.1.3.5 Mercado de trabalho.20

    2.1.4 Integrao de imigrantes em Portugal21

    2.1.4.1 Portugal: o segundo pas da Europa com melhor integrao dos

    imigrantes................................................................................................................21

    2.2 Motivao para a aprendizagem da lngua estrangeira (LE) ou lngua segunda

    (L2).................................................................................................................................24

    2.2.1 A motivao intrnseca e extrnseca...25

  • v

    2.2.2 A motivao integrativa e instrumental...26

    2.3 Ensino - Aprendizagem da Lngua Portuguesa para falantes de outras

    lnguas..29

    2.3.1 Ensino - Aprendizagem da LE/L2...29

    2.3.2 Breve abordagem histrica de Ensino Aprendizagem da L2/LE ...32

    2.3.3 Ensino-Aprendizagem do portugus para falantes das outras lnguas

    enquanto a lngua de acolhimento .34

    2.3.4 Portugus como lngua de acolhimento......36

    2.4 Competncia sociocultural......40

    Captulo III Introduo comunidade punjabi.............45

    3.2 Religio ...46

    3.2 Os cincos principais smbolos de sikhismo.....47

    3.3 Os costumes de sikhismo....48

    3.4 Os sikh na ndia e a sua dispora em todo mundo ..............51

    3.5 Histria de imigrao dos imigrantes da comunidade punjabi...52

    3.6 Os punjabis em Portugal..................54

    Captulo IV Anlise e interpretao de dados...59

    4.1 Aspetos metodolgicos....59

    4.2 Procedimento e Recolha de dados.....60

    4.3 Anlise de resultados.62

    Captulo V Consideraes finais......77

    Referncias bibliogrficas.......82

    Anexos.........92

  • vi

    ndice de quadros e tabelas

    Lista de quadros

    Quadro 1 - As alteraes legislativas desde 1992...15

    Quadro 2 - A populao de estrangeiros em Portugal, 2010 e 2009........16

    Quadro 3 - Principais nacionalidades estrangeiras em Portugal.................17

    Quadro 4 - Populao estrangeira por grupo etrio.......................................................19

    Quadro 5 - A localizao da regio de Punjab no mapa da Repblica da ndia.............45

    Quadro 6 - A euforia dos membros sikhs na vitria da seleo portuguesa em Euro

    2004............................................................................................................................55

    Lista de tabelas

    Tabela 1 - A populao estrangeira em 2010 e 2009......17

    Tabela 2 - Estadia da populao estrangeira em Portugal...............19

    Tabela 3 - A relao entre os quartos tipos de motivao...............................................28

    Tabela 4 - Populao dos seguidores das diferentes religies na ndia..51

    Tabela 5 - Populao dos seguidores das diferentes religies no estado do Punjab...51

    Tabela 6 - A populao de sikhs no mundo em 2005....53

  • vii

    ndice de Grficos Grfico 1 A distribuio dos respondentes por sexo...................................................62

    Grfico 2 A distribuio dos respondentes por escolaridade.......................................63

    Grfico 3 A distribuio dos respondentes por profisso............................................64

    Grfico 4 A distribuio dos respondentes por tempo da estadia em Portugal...........64

    Grfico 5 As razes para emigrar do pas de origem...................................................65

    Grfico 6 A distribuio dos respondentes por razes de vinda para Portugal...........66

    Grfico 7 A distribuio dos respondentes por pases de imigrao...........................66

    Grfico 8 Os problemas na integrao dos respondentes na sociedade de

    acolhimento....................................................................................................................67

    Grfico 9 Fatores que facilitam a integrao dos respondentes..................................68

    Grfico 10 A distribuio das diferenas entre a cultura dos respondentes e a de

    Portugal..........................................................................................................................68

    Grfico 11 As razes para a aprendizagem da lngua portuguesa...............................70

    Grfico 12 Os instrumentos para aprendizagem da lngua portuguesa.......................70

    Grfico 13 As dificuldades enfrentadas na aprendizagem da lngua portuguesa........71

    Grfico 14 O uso das ferramentas para aperfeioar a lngua portuguesa....................72

    Grfico 15 Os locais de uso da lngua portuguesa.......................................................72

    Grfico 16 O domnio da lngua portuguesa dos respondentes...................................73

    Grfico 17 A influncia da lngua portuguesa na vida dos respondentes....................74

    Grfico 18 A opinio dos respondentes sobre Portugal...............................................74

    Grfico 19 A opinio dos respondentes sobre os portugueses.....................................75

  • viii

    Siglas e Acrnimos ACIDI Alto Comissariado para a Imigrao e Dilogo Intercultural

    CAPLE Centro de Avaliao de Portugus Lngua Estrangeira

    CIPLE Certificado Inicial de Portugus Lngua Estrangeira

    CNAI Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante

    L2 Lngua segunda

    LA Lngua de acolhimento

    LE Lngua estrangeira

    MIPEX Migrant Integration Policy Index

    OCDE A Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    OIM Organizao Internacional para Migraes

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PALOP Os Pases Africanos de Lngua Oficial Portuguesa

    P.ex. Por exemplo

    QECR Quadro Europeu Comum de Referncia

    SEF Servio De Estrangeiros e Fronteiras

  • ix

    Resumo

    Enquadrada no actual mundo globalizado, a sociedade portuguesa acolhe migrantes

    internacionais, para os quais o portugus funciona como lngua de acolhimento em

    Portugal, construindo uma ponte entre os imigrantes e a cultura portuguesa. Portanto, a

    lngua portuguesa desempenha um papel significativo na vida do imigrantes e nesta

    investigao discutiremos o processo da aprendizagem do portugus enquanto lngua de

    acolhimento, incluindo o seu papel e importncia na vida dos imigrantes.

    A presente tese centra-se na dispora punjabi em Portugal, vinda do estado do Punjab

    no noroeste da ndia, e, particularmente, nas suas relaes com a lngua e cultura.

    Pretendo demonstrar os fatores que motivam os imigrantes punjabis a aprender a lngua

    portuguesa e as suas trajetrias da aprendizagem do portugus, o que inclui o modo

    como aprendem o portugus, o papel que a lngua tem na sua vida enquanto lngua de

    acolhimento, bem como a sua insero na sociedade e cultura portuguesa.

    Faz tambm parte dos objectivos da tese, apresentar a comunidade punjabi em Portugal,

    ainda por explorar nos trabalhos acadmicos. Para tal, ser analisada a sua cultura,

    religio, lngua e crenas, j que embora seja uma comunidade minoritria, est em

    crescimento, notando-se j a sua presena numa regio como Lisboa.

    Este trabalho baseia-se num trabalho de campo realizado em Lisboa, Portugal, em que

    foram aplicados e analisados 40 inquritos aos imigrantes.

    Palavras-chave: dispora punjabi, lngua portuguesa, lngua de acolhimento, migrao

    internacional, imigrao, lngua segunda, lngua estrangeira

  • x

    Abstract In the current globalised world, the Portuguese society receives international migrants

    and Portuguese acts as an host language for immigrants in Portugal and this leads to

    constructing a bond between migrants and the Portuguese culture. Hence, Portuguese

    Language plays a significant role in the life of the immigrants so this research-work

    intends to discuss the process of learning Portuguese as a host language as well as its

    role and importance for immigrants.

    The present thesis focuses on the Punjabi Diaspora in Portugal, mostly coming from

    Punjab, an Indian state, situated in the north of India and particularly their relationship

    with Portuguese language and culture. We aim to show the factors that motivate punjabi

    immigrants to learn Portuguese language and their trajectory of learning Portuguese

    which includes the way they learn Portuguese, what role does Portuguese language play

    in their life as a host language, as well as their integration to Portuguese society and

    culture.

    One of the objectives of thesis is to introduce the Punjabi community in Portugal which

    is still to be explored in academic works. For this, their culture, religion, language and

    beliefs will be analyzed. Despite of being a minority community, it is a growing one and

    their presence can be felt in places like Lisbon.

    This work is based on the field work done in Lisbon, Portugal and forty surveys were

    applied and analyzed on Punjabi immigrants.

    Key words: Punjabi Diaspora, Portuguese language, Host language, International

    migration, Immigration, Second language, Foreign language

  • Captulo I

    1. Enquadramento geral do estudo

    1.1 Justificao e objeto de estudo

    Estamos a viver num mundo que est a mudar a cada segundo, num mundo em que nada

    constante, como o espao em que os seres humanos vivem, pois, as pessoas esto a

    migrar, quer seja de um estado para outro, quer seja para outros pases. Milhares de

    pessoas movimentam-se todos os dias e esses movimentos produzem certas alteraes

    na sociedade. A sociedade portuguesa, tal como outras, no podia ficar alheada dessa

    realidade. Alm de ser um pas predominante emigratrio, Portugal continua a receber

    imigrantes de todo mundo.

    Os fluxos migratrios, em territrio nacional, dividem-se em vrias fases e os

    imigrantes podem ser diferenciados de acordo com as suas caractersticas lingusticas.

    Por exemplo: por um lado, h imigrantes vindos das antigas colnias portuguesas que

    tm o portugus como lngua materna ou lngua segunda e que se mantm prximos da

    cultura portuguesa; por outro lado, existem os que imigram dos pases de leste da

    Europa e dos pases asiticos, como a ndia e a China, e que no tm qualquer ligao

    com a lngua e cultura portuguesas.

    Assim, os recm-chegados colocam as suas questes relacionadas com a integrao nas

    instituies disponibilizadas pelo governo. Consequentemente, o governo portugus

    est a tomar medidas no sentido de os imigrantes se sentirem mais integrados na

    sociedade de acolhimento, sendo j reconhecida pelas entidades governamentais a

    importncia da lngua na integrao dos imigrantes. Por conseguinte, o ensino do

    portugus como lngua de acolhimento uma das 90 medidas da poltica da integrao,

    de acordo com o II Plano para a integrao dos imigrantes, 2010-2013 (ACIDI).

    Portugal tem tido muito sucesso nas suas polticas de integrao, as quais foram

    reconhecidas e premiadas internacionalmente.

  • 2

    No que diz respeito a imigrantes, encontram-se em Portugal comunidades de diferentes

    etnias, sendo que este trabalho se foca nos imigrantes da comunidade punjabi. Os

    punjabis so indivduos que imigraram do estado indiano do Punjab, que fica no

    noroeste da ndia. Esta comunidade alvo tem crescido muito nos ltimos anos em

    Portugal.

    Portugal surge para os punjabi, o pblico-alvo, como pas de acolhimento e a lngua

    portuguesa como a lngua de acolhimento. De facto, esta comunidade, bem como outras

    imigrantes, enfrenta o problema lingustico que dificulta a sua insero na sociedade.

    Deste modo, o presente trabalho permite-nos perceber a trajetria da imigrao punjabi

    em Portugal, focalizando-se no processo de ensino-aprendizagem do portugus, para

    alm de refletir sobre outros aspetos ligados sua integrao.

    Em Portugal foram j realizados muitos trabalhos sobre as comunidades minoritrias,

    mas a comunidade punjabi ainda est pouco estudada, lacuna que procuramos preencher

    com esta tese. Ao focarmo-nos no processo de ensino-aprendizagem da lngua de

    acolhimento, procuramos que as concluses desta pesquisa possam contribuir para uma

    melhoria do processo entre os imigrantes indianos de origem punjabi, bem como para

    uma melhor integrao destes na sociedade portuguesa.

    1.2 Motivao e objetivo de estudo

    Nas cincias humanas e sociais, a imigrao global e ensino-aprendizagem de lnguas

    de acolhimento tm sido alvo de interesse dos investigadores, pelo que em Portugal

    muitas pesquisas tm sido realizadas nestes campos de estudo.

    A escolha deste tema est profundamente relacionada com motivaes pessoais. Por um

    lado, a relao muito prxima e ntima com a cultura e as pessoas da comunidade

    punjabi; por outro lado, uma vontade de apresentar esta comunidade, o que poder abrir

    o caminho a futuras investigaes.

  • 3

    Neste mbito formulmos as seguintes questes para conduzir esta investigao:

    A motivao para a aprendizagem do portugus enquanto lngua de

    acolhimento;

    Como que a comunidade alvo aprende portugus e quais as dificuldades na

    aprendizagem;

    Perceber se a aprendizagem do portugus pode ajudar na integrao do

    pblico-alvo;

    Qual o interesse dos imigrantes punjabi na lngua portuguesa;

    Qual a opinio do pblico-alvo sobre os portugueses e Portugal.

    A fim de responder a estas perguntas foram aplicados e analisados 40 inquritos, atravs

    de questionrios, aos imigrantes da comunidade punjabi. Sendo o campo da

    investigao restrito a Lisboa, os resultados no podero ser generalizveis, visto que a

    amostra no significativa para que seja representativa de toda a comunidade punjabi

    em Portugal. Apenas pretendemos, a partir deste grupo, fazer uma anlise da

    comunidade punjabi em Lisboa e uma reflexo acerca dos objectivos gerais da tese.

    Tencionamos ainda ter uma representao geral do pblico-alvo sobre Portugal e

    portugueses.

    Para a conceo deste trabalho, delinemos os seguintes objetivos:

    Apresentao geral do pblico-alvo;

    Escolheremos motivos da escolha de Portugal para imigrarem;

    Investigao dos fatores que motivam o pblico-alvo para aprender a lngua

    portuguesa;

    A importncia e a influncia da lngua portuguesa na vida do pblico-alvo ;

    O conhecimento sociocultural acerca da comunidade de acolhimento;

  • 4

    As ferramentas utilizadas para aprender o portugus;

    As barreiras na adaptao sociedade portuguesa.

    1.3 Procedimento metodolgico

    A primeira fase da investigao inclui a pesquisa dos autores e a bibliografia ligada ao

    nosso tema. As fontes utilizadas e consultadas na reviso da literatura abrangem livros,

    dissertaes de mestrado, teses de doutoramento, artigos publicados, revistas, livros de

    atas e ainda os meios eletrnicos.

    Analismos o corpus na segunda fase, utilizando a metodologia da aplicao de

    inqurito por questionrios para analisar as questes relacionadas com o ensino-

    aprendizagem da lngua portuguesa como lngua de acolhimento e os aspetos

    socioculturais.

    1.4 Estrutura do trabalho

    O presente trabalho divide-se em cinco captulos. O primeiro dedicado justificao,

    objeto e importncia deste trabalho; seguindo-se as motivaes, bem como os objetivos

    do estudo; e, no final, as metodologias utilizadas e a estrutura e a organizao desta

    dissertao.

    O segundo captulo centra-se na produo terica e constitudo por vrios tpicos. O

    primeiro foca o fluxo migratrio que abrange a contextualizao de migrante, a

    migrao global, a histria da imigrao em Portugal e a integrao de imigrantes, o que

    nos permite perceber melhor a perspetiva histrica e atual destes movimentos. Segue-se

    a motivao para a aprendizagem de lngua segunda ou estrangeira, em que se

    demonstram vrias teorias acerca de motivaes, dadas por diversos linguistas, tais

    como, Brown, Gardner, Norris, entre outros. O terceiro tema, intitulado o ensino-

    aprendizagem do portugus para falantes de outras lnguas, desenvolve diversos

    princpios fundamentais de ensino-aprendizagem das lnguas, com as explicaes dos

    termos que se usam frequentemente, como L2, LE, LA; a realizao do processo de

    ensino-aprendizagem do portugus, enquanto lngua de acolhimento por imigrantes

  • 5

    residentes em territrio nacional; a importncia da aprendizagem da lngua de

    acolhimento na vida deles. Na ltima parte do captulo discutida a teoria da

    competncia sociocultural, que demonstra os diversos saberes que um aprendente deve

    adquirir para ter competncias socioculturais na lngua aprendida.

    O terceiro captulo tem como objetivo apresentar a comunidade alvo de estudo. Neste

    mbito faz-se uma breve apresentao da comunidade punjabi, incluindo a religio,

    crenas, tradies e lngua. A partir dessa introduo traamos um retrato da populao

    da comunidade sikh, em termos globais, e na ndia, o seu pas de origem. A histria da

    imigrao do pblico-alvo e a situao atual ser dada na parte a seguir. Mais

    especificamente, segue-se a contextualizao da comunidade punjabi em Portugal, com

    uma perspetiva histrica de imigrao do pblico-alvo para Portugal e uma anlise da

    vida quotidiana dos imigrantes punjabi em Portugal. No final ser apresentado o perfil

    dos imigrantes punjabis.

    A anlise de resultados ser feita no quarto captulo, que comea com a apresentao e a

    estrutura do inqurito, bem como o procedimento para a recolha de dados. Segue-se a

    anlise do corpus e as interpretaes de dados.

    O ltimo capitulo reflete as concluses retiradas do presente trabalho e algumas

    consideraes finais, seguindo-se o glossrio e as referncias bibliogrficas consultadas.

    Nos anexos encontram-se o inqurito por questionrio e alguns documentos

    importantes, como o glossrio e o inqurito.

  • 6

    Captulo II

    2. Enquadramento Terico

    2.1 - Fluxo Migratrio

    Human beings migrate. Life itself is movement and if our definition of

    migration is not artificially restricted, all of us migrate, not one but many

    times.

    Isaac, 2007: 218

    A migrao est sempre presente na vida dos homens e at responsvel por criar a

    histria do mundo contemporneo, tanto a migrao do Homo Sapiens na procura de

    melhor terra e condies de vida, como dos romanos, para outras partes da Europa e do

    mundo para expandir o seu imprio. As razes podem variar, mas o fenmeno de

    migrao sempre existiu, portanto, to antigo como o ser humano.

    Homo migrant has existed ever since Homo Sapiens came into existence

    Klemencic, 2007: 27

    Esse tema sempre desempenhou um papel importante na vida dos seres humanos. Nesta

    poca de globalizao, a migrao est a aumentar cada vez mais, as pessoas esto a

    movimentar-se, de um pas para outro, devido a vrias razes, sendo a principal

    procurar uma vida melhor. Embora a migrao internacional no seja um fenmeno

    recente, hoje em dia tornou-se num dos temas discutidos globalmente devido

    frequente migrao em larga escala e fluxo incontrolvel.

    2.1.1 O migrante

    A Organizao Internacional da Migrao (OIM) explica a migrao como o

    movimento de indivduos ou grupo de pessoas, quer atravs da fronteira internacional,

    quer dentro do estado, por outras palavras, um movimento ou deslocao de pessoas

    que inclui migrao de refugiados, pessoas deslocadas, ou pessoas que esto a deslocar-

    se por outras razes. Em Portugal, o Servio de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para

  • 7

    efeitos estatsticos usa uma terminologia, que engloba os estrangeiros detentores de

    ttulo de residncia e os estrangeiros a quem foi prorrogada a permanncia de longa

    durao.

    Matjaz Klemencic v a migrao como um movimento com a inteno de permanncia

    temporria ou permanente no pas de imigrao:

    Migrations are the spatial movement of individuals or group of people from

    emigrants (place being left) to immigrant (arrival area) with the intention of

    temporary and permanent settlement."

    Klemencic, 2007: 8

    O mesmo historiador tambm explica os dois tipos de migrao, na migrao

    temporria o indivduo abandona o seu pas natal com a inteno de regressar depois de

    algum tempo. Na migrao permanente o migrante sai do seu territrio com a inteno

    de se estabelecer noutro pas (Klemencic 2007).

    Migrao um fator que diminui as fronteiras tradicionais entre lnguas, culturas,

    diferentes grupos tnicos e nacionalidades, as pessoas que no migram tambm so

    afetadas pelos movimentos das pessoas da sua comunidade. Logo, afeta todo o pas,

    migrao no s o ato de atravessar as fronteiras, na realidade trata-se de um processo

    que afeta todos os aspetos da vida. Quando algum imigra, no s traz os seus haveres

    como tambm os seus costumes, tradies, cultura e lngua.

    A emigrao e a imigrao so dois conceitos diferentes da migrao, mas tendem a

    confundir-se, a emigrao a sada de pessoas do seu pas para se estabelecerem noutro

    ou quando um indivduo abandona o seu pas e vai para outro, a estadia pode ser curta

    ou longa; por outro lado, a imigrao a entrada de estrangeiros num pas com a

    finalidade de se estabelecerem.

    Migrante um indivduo que est envolvido na emigrao e imigrao, portanto, que

    muda de regio ou pas. Segundo a definio da UNESCO, o imigrante uma pessoa

    que vive temporria ou permanentemente num pas onde no nasceu e que adquire

    algumas ligaes sociais a: "any person who lives temporarily or permanently in a

  • 8

    country where he or she was not born, and has acquired some significant social ties to

    this country.1

    A Conveno das Naes Unidas sobre os direitos dos trabalhadores migrantes define

    um migrante trabalhador como uma pessoa que para contratar, est contratada ou foi

    contratada numa actividade remunerada num pas de onde no originrio: "person who

    is to be engaged, is engaged or has been engaged in a remunerated activity in a State of

    which he or she is not a national."2

    De acordo com a definio das Naes Unidas, o migrante um indivduo que reside

    num pas estrangeiro h mais de um ano, independentemente das causas, voluntrio ou

    involuntariamente. Conforme esta definio os turistas ou comerciantes que viajam a

    curto prazo no devem ser considerados imigrantes.3

    Enquanto explica o migrante, a OCDE demonstra o valor econmico do trabalhador

    imigrante, Foreign migrant workers are foreigners admitted by the receiving State for

    the specific purpose of exercising an economic activity remunerated from within the

    receiving country. Their length of stay is usually restricted as is the type of employment

    they can hold. A mesma organizao distingue entre os vrios tipos de imigrantes

    segundo a durao da estadia no pas de acolhimento. O migrante a longo prazo aquele

    que emigra do seu pas de origem para outro pelo perodo de pelo menos um ano (12

    meses), contrariamente, aquele que emigra por menos de um ano (12 meses) do seu pas

    de origem o migrante a curto prazo.

    1 Migration and integration - basic concepts and definitions. Vejam mais em:

    http://www.unesco.org/new/en/social-and-human-sciences/themes/social-transformations/international-

    migration/glossary/migrant/

    2 Vejam mais em: http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001435/143557e.pdf 3 Vejam mais em : http://www.iom.int/jahia/Jahia/about-migration/key-migration-term

  • 9

    Segundo Castles (2000), os imigrantes internacionais podem ser divididos nos

    seguintes grupos:

    Imigrante temporrio pessoas que imigram por tempo limitado com o fim de

    trabalhar e enviar o dinheiro ou salrio para o pas de origem.

    Imigrantes qualificados e imigrantes comerciantes pessoas cuja alta

    qualificao lhes permite serem gerentes, executivos, profissionais e tcnicos.

    H muitos pases que tm uma poltica de imigrao que d preferncia a

    imigrantes com alta qualificao e mo-de-obra especializada, um bom exemplo

    disso o Canad que encoraja esse tipo de imigrao.

    Imigrantes irregulares (sem documentos ou ilegais) pessoas que entram no

    pas, normalmente, procura de emprego, sem autorizao ou os documentos

    necessrios.

    Imigrao forada no s inclui os refugiados, os que procuram asilo, como

    tambm inclui as pessoas que so obrigadas a imigrar devido a vrios fatores

    externos tais como catstrofes ambientais.

    Reunio familiar esta categoria abrange imigrantes, que imigram porque j tm

    os familiares no estrangeiro. H muitos pases que reconhecem o direito

    reunio familiar a imigrantes legais.

    Retorno de imigrantes os imigrantes que regressam ao seu pas natal.

  • 10

    2.1.2 A migrao mundial

    Os dados das Naes Unidas referem que o nmero de migrantes internacionais j

    ultrapassou os 210 milhes, este nmero representa 3% da populao mundial (Pires,

    2010: 15). Austrlia, Canad, Nova Zelndia e EUA so conhecidos como os pases

    tradicionais de imigrao. Nas ltimas cinco dcadas, a forma de migrao em todo o

    mundo mudou bastante. Por exemplo, a Europa tambm se tornou num dos destinos

    preferidos da imigrao. Com a transformao dos pases tradicionais de emigrao para

    pases de imigrao, muitas preocupaes emergiram e uma delas foi a integrao dos

    imigrantes. Diz-se que 210 milhes das pessoas vivem e trabalham num pas que no

    o pas do seu nascimento ou nacionalidade. Ou seja, podemos dizer que 3% da

    populao total do mundo est envolvida na migrao internacional (Pires, 2010).

    A Segunda Guerra Mundial deixou marcas na histria do mundo, como logo a seguir a

    migrao em todo o mundo ter mudado, principalmente na Europa. Houve uma

    migrao em massa intraeuropeia, como por exemplo, a sada de alemes de vrios

    pases, tais como Checoslovquia, Polnia, Hungria. Assim, houve uma migrao em

    massa em todas as regies da Europa, onde as fronteiras foram alteradas depois da

    Segunda Guerra Mundial.

    Depois da Segunda Guerra Mundial, muitos imprios coloniais foram derrubados e o

    processo da descolonizao comeou, nomeadamente, os da Gr-Bretanha, Frana,

    Holanda, Blgica, o que levou a muitas pessoas regressarem das antigas colnias para o

    seu pas de origem. Em 1961, 541,000 pessoas das colnias britnicas regressaram

    Gr-Bretanha, este nmero aumentou para 1.4 milhes at 1971 (Klemencic 2007). Os

    outros pases, como a Frana e a Holanda tambm tiveram que enfrentar o mesmo

    problema, e a partir da deu-se uma migrao internacional em grande nmero. Por este

    motivo foram criadas organizaes para apoiar e facilitar a migrao internacional,

    como a OCDE (Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico), que

    foi estabelecida oficialmente em 1961, e a OIM (Organizao Internacional para

    Migraes) que foi estabelecida em 1951.

  • 11

    A recesso de 1973 (devido crise do petrleo) fez as economias poderosas repensarem

    as alteraes das suas polticas de imigrao. Os pases da Europa Ocidental e a

    Austrlia comearam a restringir a imigrao, especialmente a imigrao de

    trabalhadores estrangeiros no especializados. Aps a limitao imigrao dos pases

    da Europa Ocidental, alguns pases da Europa do Sul, nomeadamente, Itlia, Grcia,

    Espanha e Portugal, que tradicionalmente eram os pases da emigrao, emergiram

    como pases de imigrao. Por exemplo, a imigrao na Itlia aumentou de 300,000 em

    1980 para 781,000 em 1990 (Klemencic, 2007: 43).

    Na dcada de 1950, houve um aumento de trabalhadores estrangeiros no especializados

    na Europa, devido exigncia de mo-de-obra, esse nmero continuou a aumentar na

    dcada seguinte e na dcada de 70 registou um nmero de imigrantes ainda mais alto.

    Com a entrada de trabalhadores estrangeiros no qualificados, a ateno foi dirigida

    integrao dos mesmos.

    Depois da abertura da Cortina de Ferro4 em 1989, mais uma vez houve uma imigrao

    em massa da Europa Oriental e de outras partes do mundo para a Europa Ocidental.

    Outros fatores encorajaram tambm a migrao durante a dcada de 90, tais como, a

    recuperao da liberdade de movimento, o aumento do desemprego, a grande diferena

    entre os salrios do Oriente do Ocidente (International Migration Outlook: SOPEMI,

    OCDE, 2011). Nesta dcada nota-se uma diferena na populao, que mais

    diversificada, em termos de raa e religio.

    O novo milnio comeou com a falncia do sector da tecnologia informtica e o ataque

    areo s torres americanas a 11 de Setembro de 2001, factores que levaram a que a

    migrao fosse controlada em 2001 e 2002, tendo comeado a aumentar mais uma vez a

    partir de 2003. A mobilidade dos estudantes internacionais sofreu um acrscimo. Muitos

    pases membros da OCDE reformularam a sua legislao para que os estudantes

    pudessem ficar a longo prazo e comeassem a trabalhar (OCDE, 2011):

    4 Cortina de Ferro foi um termo usado para designar a fronteira que dividiu a Europa em duas reas, a Europa Oriental e a Europa Ocidental, separadas de influncia poltica desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

  • 12

    International employers began to target such people mobile and multi-

    lingual as part of their human global resources.

    International Migration Outlook: SOPEMI, OCDE, 2011

    A integrao dos imigrantes nos diferentes pases e no mercado de trabalho melhorou

    mas ainda continuou a haver um nmero elevado de desempregados.

    A crise global originou uma reduo na migrao. permanent migration into OECD

    countries fell by about 2.5% in 2010 from the previous year, to 4.1 million people.

    (Interational Migration Outlook 2012) Todos so afetados pela crise, no s o nmero

    de pessoas deslocadas reduziu como tambm muitos imigrantes voltaram a regressar ao

    seu pas de origem, especialmente os imigrantes de pases com uma economia

    emergentes como o caso da ndia e do Brasil.

  • 13

    2.1.3 A Histria da imigrao em Portugal

    A presena de estrangeiros em Portugal, particularmente na regio de Lisboa, nota-se

    desde o final do sculo XV, devido localizao geogrfica, o pas atraiu viajantes e

    comerciantes vindos da Inglaterra, da Holanda, de Espanha e da Itlia. Muitos escravos

    africanos foram tambm trazidos das colnias africanas portuguesas no incio de sculo

    XVI, e por isso, Lisboa tornou-se a capital europeia com a maior populao africana

    residente na altura.

    Depois da metade do sculo XVII, Lisboa comeou a perder o seu estatuto de capital

    europeia, no final do sculo XVIII e durante o sculo XIX, o fluxo imigratrio foi

    oriundo principalmente da Espanha, nomeadamente, das regies da Galiza (Migration

    Information Source). Este intervalo durou at 1960, quando Portugal, mais uma vez,

    registou novos fluxos imigratrios (SEF 2010).

    Embora a imigrao no seja um fenmeno novo em Portugal, em comparao com

    outros pases, recente o seu grande volume de imigrao. Portugal era considerado um

    pas predominantemente emigratrio mas tem vindo a tornar-se simultaneamente num

    pas imigratrio desde cerca de 1970.

    Apesar das vrias reactivaes das sadas at actualidade, o certo que

    tanto a pesquisa cientfica como a opinio pblica se concentraram no

    fenmeno das entradas. A imigrao estrangeira tem dominado os debates

    cientficos e o imaginrio pblico.

    Peixoto, 2007: 452

    A histria da imigrao em Portugal divide-se em trs fases principais (Pires, 2010). O

    primeiro fluxo de imigrao regista-se na dcada de 1970 por duas razes. A primeira

    a revoluo de 25 de Abril de 1974 com o incio da democracia e a independncia das

    colnias portuguesas, que leva ao regresso em massa dos chamados retornados, por

    retornarem a Portugal (embora alguns j tenham nascido nas antigas colnias). Para

    este fluxo foi determinante a implementao da lei que entrou em vigor em 1981, Dec.

  • 14

    Lei 308-A /75, onde um dos artigos diz que qualquer cidado que tivesse nascido numa

    das antigas colnias portuguesas at data da sua independncia (1974/75) era para

    todos os efeitos um cidado portugus. Assim, grande nmero das pessoas que estavam

    nestas circunstncias acabaram por regularizar a sua situao como cidados

    portugueses. O efeito dessa lei nota-se nas estatsticas do SEF, em 1982 a populao

    total dos estrangeiros residentes em Portugal era 50.750, mas no ano seguinte o nmero

    aumentou para 67.484, tendo um crescimento de 15%, o dobro comparativamente com

    o crescimento do ano anterior (7.8%).

    A segunda razo pela qual o fluxo imigratrio aumenta na dcada de setenta, deveu-se a

    muitos pases terem reformulado as suas polticas de imigrao, restringindo-as devido

    crise. Portugal tambm surgiu como um dos pases novos de imigrao, bem como a

    Itlia, a Espanha e a Grcia.O relatrio anual das migraes da OCDE diz Na

    perspectiva migratria, Grcia, Irlanda, Itlia, Portugal e Espanha partilham um

    estatuto duplo. Por um lado, todos tm sido, desde que terminou a Segunda Guerra

    Mundial, pases de emigrao significativa. Por outro, todos se tm transformado

    tambm em pases de imigrao ao longo dos ltimos 15 anos.5

    O segundo fluxo imigratrio ocorreu nos anos 1990. A causa principal para esse fluxo

    se dar foi a falta de mo-de-obra na rea de construo civil em Portugal, trabalhos que

    tiveram poucos trabalhadores nacionais, no mbito de obras como a Expo 98, a Ponte

    Vasco de Gama, a Autoestrada do Sul: Acresce que este aumento de imigrao se

    deveu a um perodo de grande crescimento econmico em Portugal, na segunda metade

    dos anos 90(ACIDI). Em 1993 e 1994 Portugal regista-se o aumento de imigrantes em

    10,77% e 14,70 %, respectivamente:

    Os anos 90 caracterizam-se pela consolidao e crescimento da populao

    estrangeira residente, com destaque para as comunidades oriundas dos pases

    africanos de expresso portuguesa e do Brasil.

    SEF 2010: 17

    5 Foi publicado em Publico.pt - http://www.publico.pt/Sociedade/fluxo-migratorio-mais-modesto-do-que-se-pensa-nos-paises-da-crise--1552243

  • 15

    A terceira fase da imigrao em Portugal mais recente e a razo principal deve-se a

    alteraes nas legislaes das polticas da imigrao, devido introduo do novo

    regime legal das autorizaes de permanncia, previsto no Decreto-Lei n. 4/2001, de

    10 de Janeiro em 2001, que refere que Considera-se residente o estrangeiro habilitado

    com ttulo vlido de autorizao de residncia em Portugal (Artigo 3.). Em caso de

    devidamente fundamentada, pode ser autorizada a permanncia a cidados estrangeiros

    que no sejam titulares de visto adequado. Em 2001, regista-se um aumento

    exponencial de 69,02%, que o maior de todos, devido alterao nas polticas de

    imigrao.

    A prxima imagem mostra as alteraes na legislao sobre as polticas de imigrao na

    dcada de 90 e na primeira dcada do deste sculo.

    Quadro 1- As alteraes legislativas desde 1992, Fonte: SEF

  • 16

    Quadro 2 - A populao de estrangeiros em Portugal, Fonte: SEF 2010

    Conforme as estatsticas de SEF, a populao estrangeira residente em Portugal em

    2010 regista 445.262 cidados (stock provisrio), este nmero mostra uma diminuio

    de 1.97% na populao estrangeira, em comparao ao ano precedente (SEF, 2010:17).

    Relacionando a imigrao e a emigrao em Portugal, um artigo publicado no

    jornal pblico, tendo a base de dados do relatrio anual das migraes da OCDE

    revela: Para apurar o volume da emigrao, Portugal socorre-se de pases de

    destino. E, por a, em 2011, no houve surpresas. Tero partido mais de 70 mil,

    mais de metade dos quais com menos de 29 anos. Foram para outros pases

    europeus, como o Reino Unido, a Frana, a Sua, a Alemanha ou o Luxemburgo.

    E para pases de lngua portuguesa, sobretudo para a Angola. A imigrao, essa,

    mede-se por c e caiu 12% - 30 mil.6

    6 Foi publicado em Publico.pt - http://www.publico.pt/Sociedade/fluxo-migratorio-mais-modesto-do-que-se-pensa-nos-paises-da-crise--1552243

    Essas fases notam-se nas

    estatsticas do SEF, em 1980

    havia 50.750 habitantes

    estrangeiros em Portugal, mas

    no ano 2010 (dentro de quase

    vinte anos) este nmero

    aumentou nove vezes,

    454.191 estrangeiros

    legalizados residentes em

    Portugal.

  • 17

    2.1.3.1 O perfil de imigrantes em Portugal

    Em 2006, a populao estrangeira em Portugal representava 4.1% (OCDE, 2008) da

    populao total do pas, segundo a OCDE, o fluxo migratrio em 2009 um pouco mais

    alto que em 2008 (34000 em comparao com 32000), mas em 2010 houve uma

    diminuio no nmero de imigrantes, segundo as estatsticas de SEF.

    Ano Populao total de estrangeiros TRs7 VLD8

    2010 454.191 451.742 2.449

    2009 445.262 443.055 2.207

    Tabela 1- A populao estrangeira em 2010 e 2009, Fonte: SEF 2010

    As comunidades mais representativas

    As dez nacionalidades estrangeiras mais representativas em Portugal so oriundas do

    Brasil, Ucrnia, Cabo Verde, Romnia, Angola, Guin-Bissau, Reino Unido, China,

    Moldvia e So Tom e Prncipe. No total representam cerca de 79,8% da populao

    estrangeira em territrio nacional (SEF 2010).

    Quadro 3 - Principais nacionalidade estrangeiras em Portugal, Fonte: SEF 2010

    7 Ttulo da residncia 8 Visto da longa durao

  • 18

    A dcada de 1990 caracterizou-se pelo aumento de imigrantes, principalmente, dos

    PALOP, como foi mencionado atrs. No incio do novo sculo surgiram novos fluxos

    dos pases do Leste Europeu, designadamente, da Ucrnia, que logo se tornou numa das

    comunidades estrangeiras mais representativas em Portugal. Da dcada de 1990 a 2010

    no se notou grandes alteraes nas dez principais nacionalidades, em termos de

    nmero, com exceo da Moldvia (-24,7%) que foi ultrapassada pelo Reino Unido

    (+5,0%) e pela China (+9,5) (SEF 2010).

    2.1.3.2 Distribuio geogrfica

    A distribuio geogrfica da populao estrangeira residente em territrio nacional em

    2009 concentrada em trs distritos: Lisboa (189.220), Faro (71.818) e Setbal

    (47.935). Os imigrantes desses trs distritos, no total, representam, cerca de 69.4 % do

    valor total do pas (308.973 cidados estrangeiros, face ao universo de 445.262).

    Embora os estrangeiros se encontrem distribudos em todo o pas, os outros distritos

    onde tambm se encontram bastantes imigrantes so os do Porto, Leiria, Santarm e

    Aveiro (SEF 2010).

    2.1.3.3 Distribuio demogrfica

    Os imigrantes portugueses em 2009 demonstram uma paridade entre os dois sexos, com

    uma ligeira diferena: os homens representam 51 % (ou seja 225.564) da populao

    total e mulheres representam 49 % (219.698) (SEF 2010: 22). Historicamente, os

    homens imigraram em nmero superior ao das mulheres, mas devido ao reagrupamento

    familiar os nmeros esto em paridade. A populao imigratria em Portugal

    relativamente ativa e jovem, ou seja, 47.8% da populao estrangeira situa-se entre os

    20 e os 39 anos (218.060).

  • 19

    Quadro 4 - Populao estrangeira por grupo etrio, fonte: SEF 2010

    2.1.3.4 Durao da estadia em Portugal

    Atravs dos dados fornecidos pela OCDE, a maioria da populao estrangeira, em

    Portugal, imigra a longo prazo, ou seja, por mais de 10 anos.

    Estadia em

    anos

    % da populao estrangeira em Portugal

    Homens Mulheres Total

    0-5 anos 13.7 12.9 13.3

    5-10 anos 15.9 14.3 15.1

    Mais de 10 70.4 72.8 71.6

    Tabela 2 - Estadia da populao estrangeira em Portugal, Fonte: OCDE 2008

    Os dados mostram que 71.6 % dos imigrantes vm para Portugal por mais de 10 anos e

    13.3% por um curto prazo, inferior a cinco anos.

  • 20

    2.1.3.5 Mercado de Trabalho

    Trabalhar uma das causas importantes da imigrao: A grande maioria dos que

    migram internacionalmente para Portugal f-lo para trabalhar. Por isso, as taxas de

    actividade dos imigrantes so sempre mais altas do que as dos auctotones (Pires et al.

    2010: 70). Em Portugal, o perfil profissional pode ser dividido em trs grupos. O

    primeiro o grupo dos imigrantes qualificados, englobando os profissionais

    intelectuais, cientficos, mdicos, diretores ou gerentes de empresas multinacionais,

    entre outros. Nesse perfil encontram-se, sobretudo, imigrantes dos pases europeus mais

    ricos e uma pequena parte de brasileiros.

    O segundo perfil o dos trabalhadores pouco qualificados, do setor da construo civil,

    da agricultura, dos servios, da restaurao, entre outros. A maioria so brasileiros,

    imigrantes africanos e dos pases do Leste da Europa.

    O ltimo o dos imigrantes que montaram o seu prprio negcio, que criaram micro

    empresas familiares ou atividades independentes, como lojas, servios, restaurantes. Os

    asiticos, nomeadamente, chineses e indianos enquadram-se nesse perfil.

  • 21

    2.1.4 Integrao de imigrantes em Portugal

    Portugal precisa, tal como os restantes pases da Europa, dos trabalhadores

    imigrantes para satisfazer as carncias do mercado de trabalho.

    Trends in International Migration, OCDE, 2003: 27

    Os imigrantes desempenham um papel importante na economia portuguesa, por

    exemplo, atualmente os imigrantes representam 6% do Produto Interno Bruto (PIB), em

    2007, foram responsveis por 9,7 por cento dos nascimentos9. Em 2001, os imigrantes

    com a idade ativa representam 80,3%, ou seja, idade entre a faixa etria de 20 ao 44,

    este nmero elevado em comparao com o dos nacionais, apenas 63,8% do total de

    populao ativa em Portugal (ACIDI). Portanto Portugal valoriza a sua importncia e

    contribuio na economia portuguesa.

    2.1.4.1 Portugal: o segundo pas da Europa com melhor integrao dos imigrantes

    Nmeros recentemente divulgados indicam que Portugal o segundo

    pas da Europa que mais reconhece a importncia e o contributo dos

    imigrantes para a economia nacional.

    Feliciano Barreiras Duarte

    Secretrio de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares10

    Segundo os resultados da terceira edio do ranking internacional, realizada pelo British

    Council e pelo Migration Policy Group em 2011, Portugal o segundo melhor pas da

    Europa e da Amrica do Norte a apoiar a integrao de imigrantes, depois da Sucia.

    Portugal manteve o segundo lugar, entre 31 pases da Europa e da Amrica do Norte, no

    ndice de Avaliao das Polticas de Integrao de Migrantes (Mipex III). Portugal tem

    melhorado as suas polticas de integrao de imigrantes, da que o seu percurso no

    ranking de MIPEX tenha sido positivo. Assim, em 2005 obteve o 4 lugar entre 15

    pases, em 2007 subiu para o 2 lugar em 28 pases e em 2011 ficou novamente em 2

    9 Foi publicado em http://www.publico.pt/Sociedade/regresso-de-imigrantes-esta-a-deixar-o-pais-mais-

    pobre-e-envelhecido-1382690,10 feb.2010).

    10 Foi publicado em revista ACIDI N 92

  • 22

    lugar entre 31 pases. Segundo Pedro Pereira, anterior Ministro da Presidncia e jurista:

    Fico muito satisfeito por esta excelente notcia, sobretudo um reconhecimento

    internacional que honra e dignifica as polticas sociais em Portugal"11

    Pedro Silva Pereira

    Portugal obteve o primeiro lugar, no mesmo ranking, ao acesso aquisio da

    nacionalidade e nas polticas de reagrupamento familiar, sexto lugar ao acesso

    educao; quarto s autorizaes de residncia permanente; quinto s polticas anti

    discriminao e stimo na participao poltica dos imigrantes (MIPEX).

    " muito importante que neste momento de crise os pases, a comear pelos

    europeus, permaneam atentos ao respeito pelos direitos dos imigrantes"12

    Pedro Silva Pereira, O ministro da presidncia,

    jurista e poltico portugus

    Em 2009, o Relatrio de Desenvolvimento Humano das Naes Unidas classifica

    Portugal em 1 lugar na atribuio de direitos e servios aos imigrantes. Nesse relatrio,

    as iniciativas de Portugal nesta rea so destacadas como um pas que est na vanguarda

    da Europa (ACIDI).

    Todos estes resultados, acima mencionados, mostram que Portugal um pas que

    favorece a integrao dos imigrantes. Leis como a Lei da Liberdade Religiosa e

    facilidades criadas por organizaes como o ACIDI, Alto Comissariado para a

    Imigrao e Dilogo Intercultural, e os CNAI, Centros Nacionais de Apoio ao

    Imigrante, facilitam a vida dos imigrantes. O ACIDI tem vrios programas, a saber,

    Portugus para todos, Comisso para a igualdade e contra a discriminao racial,

    Portugal acolhe, Gabinete de apoio ao imigrante consumidor. Todos estes programas

    ajudam os imigrantes na integrao do pas de acolhimento.

    11 Foi publicado em : http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2011/02/28/portugal-em-segundo-no-ranking-de-

    politicas-de-integracao-de-migrantes3

    12 Foi publicado em : http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2011/02/28/portugal-em-segundo-no-ranking-de-politicas-de-integracao-de-migrantes3

  • 23

    O Dilogo inter-religioso, um caminho para paz, uma iniciativa do ACIDI desde

    2007, para promover o dilogo entre as diversas religies. De acordo com o Primeiro

    Presidente do Secretariado Interculturas (ACIDI, Revista n 85, 2010), o Padre Vtor

    Feytor Pinto:

    Se somos um pas de acolhimento, temos que acolher cada pessoa como ela

    (......) dilogo inter-religioso supe que cada um tem elementos que oferece

    ao outro, e recebe do outro elemento. Isto dilogo, dar e receber.

    Padre Vtor Feytor Pinto

    O controlo legal e a integrao dos imigrantes so fatores positivos no progresso de

    Portugal como pas de imigrao. Estas prticas so tambm bastante significativas

    porque desempenham um papel importante no desenvolvimento econmico e social do

    pas.

  • 24

    2.2 Motivao para a aprendizagem da lngua estrangeira (LE) ou lngua segunda

    (L2)

    Os cursos de lnguas estrangeiras esto a ser introduzidos cada vez mais nas

    Universidades, a nvel internacional, havendo diversas razes para tal.

    As principais motivaes podero ser as seguintes:

    Traduo e interpretao;

    Interao frente a frente;

    Ajudar nos estudos ou facilitar a vida num pas estrangeiro;

    Formao na lngua estrangeira que pode ser til na rea do intercmbio

    comercial ou misses militares de paz;

    Intercmbios culturais.

    As pessoas tm muitas razes para aprender uma lngua estrangeira e esse processo

    afetado por vrios fatores, sendo a motivao um deles. A motivao de quem aprende

    um aspeto no s importante, mas tambm determinante na aprendizagem de qualquer

    lngua estrangeira ou segunda lngua. A motivao uma fora decisiva em qualquer

    situao e tambm no processo da aquisio da L2/LE, onde desempenha um papel

    preponderante e funciona como um elemento contribuidor que acelera todo o processo

    de aquisio da L2/LE, tendo assim uma relevncia crucial. Assim, fundamental que o

    aprendente de uma L2/LE seja motivado e se sinta motivado, o que certamente ter um

    impacto em todo o processo de aquisio de um bom nvel das respectivas lnguas.

    De acordo com Gardner (1985), o processo de aquisio da L2/LE depende de vrios

    elementos e a motivao um fator central; podemos dizer que muitos outros aspetos

    esto sob a sua dependncia. Por exemplo, se o estudante no est motivado para

    aprender uma lngua alvo, nenhuma estratgia da aprendizagem da lngua poder ajud-

    lo (Gardner 1985).

  • 25

    De acordo com Penny Ur, o termo motivao pode ser difcil de explicar, sendo mais

    fcil e prtico pensar em termos de um aluno motivado que participa, dedicadamente,

    nas atividades da aprendizagem e aperfeioa progressivamente a lngua:

    The term motivation` on its own is rather difficult to define. It is easier and

    more useful to think in term of motivated learner: one who is willing or even

    eager to invest effort in learning activities and to progress.

    Ur, 2000: 274

    Gardner tambm concorda que definir a motivao uma tarefa difcil, focando-se nas

    caractersticas de um aluno motivado:

    The motivated individual is goal directed, expands effort, is persistent, is

    attentive, has desires (wants), exhibits positive effect, is aroused, has

    expectancies, demonstrates self-confidence (self-efficacy), and has reasons

    (motives).

    Gardner, 2007: 2

    2.2.1 A motivao intrnseca e extrnseca

    A motivao intrnseca algo que as pessoas fazem por gosto e por satisfao interna,

    por exemplo, aprender o hindi porque o aprendente gosta de Ioga ou aprender portugus

    porque gosta de fado. Pelo contrrio, a motivao extrnseca envolve, como o prprio

    nome o indica, motivos externos, por exemplo, algum aprender portugus para

    alcanar uma promoo numa empresa multinacional ou para conseguir boas notas num

    exame:

    Those who learn for their self own self-perceived needs and goals are

    intrinsically motivated, and those who pursue a goal only to achieve an external

    reward from someone else are extrinsically motivated.

    Brown, 2000: 162

  • 26

    Edward Deci (citado por Brown) define a motivao intrnseca como a motivao em

    que nenhum ganho ou recompensa est associada, o indivduo aprende por motivos

    pessoais, sem esperana de recompensa:

    Intrinsically motivated activities are ones for which there is no apparent

    reward except the activity itself. People seem to engage in the activities for their

    own sake and not because the lead to extrinsic award.

    Deci, apud Brown, 2000: 164

    Muitos autores referem alguns fatores externos que motivam os alunos extrinsecamente,

    tais como, sucessos anteriores e suas recompensas, insucessos, exames, concorrncia

    (Ur 2000), dinheiro, prmios ou boas notas nos exames (Brown, 2000).

    Vrios autores discutem h dcadas qual a motivao mais importante: a motivao

    intrnseca que leva o aprendente ao sucesso ou a instrumental que o encoraja na

    aquisio fcil do processo da aprendizagem de lngua estrangeira. Segundo vrios

    linguistas, tais como, Dornyei (1998), Crookes & Schmidt(1991) e Brown (2000), a

    motivao intrnseca deve ter mais relevncia que a extrnseca.

    2.2.2 A motivao integrativa e instrumental

    Em 1985, depois de muitos anos de estudos, Gardner sugeriu dois tipos de motivao: a

    integrativa e a instrumental. A motivao integrativa pode-se definir como a motivao

    para se integrar num grupo ou numa famlia particular; a orientao integrativa refere-se

    a uma disposio positiva em relao ao grupo de falantes da lngua segunda (L2) e ao

    desejo de interagir com eles, at mesmo de se tornar igual aos membros mais

    valorizados dessa comunidade (Gardner & Lambert 1972):

    An integrative motive, defined as willingness or desires to acquire a second

    language for the purposes of integrating, or becoming part of the second-

    language community, seems important primarily for the development of

    communicational skills.

    Gardner & Lambert 1972: 215

  • 27

    Por exemplo, em Goa h algumas pessoas que aprendem portugus por terem parentes

    que falam portugus, querendo assim integrar esse grupo. Um outro exemplo de

    motivao integrativa so os imigrantes que aprendem a lngua do pas de acolhimento,

    de modo a interagirem com os locais.

    De acordo com Jacqueline Norris, tanto a atitude positiva de aprendente, como o desejo

    de se integrar na comunidade da lngua alvo esto relacionados com a motivao

    integrativa:

    Integrative motivation is characterised by the learner's positive attitudes

    towards the target language group and the desire to integrate into the target

    language community.

    Norris, 200113

    A motivao instrumental refere-se aos ganhos pragmticos potenciais, advindos da

    proficincia na L2 (Gardner 2007), contrariamente motivao integrativa que deseja

    interagir com a sociedade da lngua de acolhimento. A orientao instrumental verifica-

    se quando um indivduo adquire uma lngua estrangeira com o propsito de alcanar

    alguns objectivos e razes pragmticas, por exemplo, muitos aprendem a lngua

    portuguesa na ndia apenas para conseguirem um emprego com um bom salrio ou uma

    promoo, devido s relaes comerciais da ndia com Portugal e com o Brasil.

    Norris explica a motivao instrumental como uma razo funcional para aprender a

    lngua alvo:

    Instrumental motivation underlies the goal to gain some social or economic

    reward through L2 achievement, thus referring to a more functional reason for

    language learning.

    Norris, 2001

    Os estudos de Gardner & Lambert (1972) e os de Spolsky (1969) demonstram que os

    alunos que se tinham motivado de forma integrativa receberam boas notas e tiveram 13Para mais informaes consultar:http://iteslj.org/Articles/Norris-Motivation.html

  • 28

    mais sucesso na aquisio da lngua estrangeira do que os motivados de modo

    instrumental. Outros concordaram tambm que, embora os dois tipos de motivaes

    sejam importantes, a motivao integrativa tem mais sucesso a longo prazo quando se

    aprende uma lngua estrangeira ou segunda lngua. Autores como Yasmin Lukmani

    (1972 ) e Braj Kachru (1992) mostraram outro ponto da vista: no caso pases como a

    ndia onde o ingls j se tornou uma lngua internacional, os aprendentes (da lngua

    inglesa) que so motivados instrumentalmente tm melhores resultados na aquisio da

    lngua estrangeira do que os que o so integrativamente (Brown 2000: 163).

    Todas as motivaes supra mencionadas so responsveis por acelerar o processo da

    aprendizagem de uma L2/LE, embora os aprendentes possam ser motivados por vrias

    razes, ou seja, selecionam mais do que uma motivao quando aprendem uma lngua,

    como refere Brown (2000). Por exemplo, um estrangeiro que portugus em Portugal

    para fins acadmicos, mas ao mesmo tempo com o desejo de se integrar na comunidade

    alvo. Portanto, a motivao intrnseca pode ser integrativa ou instrumental e vice-versa.

    A fim de mostrar a relao entre os quatro tipos de motivaes, Kathleen Bailey (1986)

    ilustrou o seguinte quadro:

    Intrnseca Extrnseca

    Integrativa O aprendente da L2 quer

    aprender a lngua alvo com o

    desejo de se integrar na

    cultura e na comunidade (por

    exemplo, os imigrantes

    aprenderem a lngua de

    acolhimento).

    O aprendente da L2 quer aprender a

    lngua alvo para se integrar mas por

    fora ou desejo de algum (por

    exemplo, no pas de acolhimento os

    pais chineses mandam os seus filhos

    para a escola da lngua chinesa).

    Instrumental O aprendente da L2 quer

    alcanar alguns objetivos com

    a L2 (por exemplo, aprender

    a lngua para a carreira).

    O aprendente da L2 aprende a lngua

    a fim de alcanar alguns objetivos

    motivados por uma fora externa

    (por exemplo, uma empresa japonesa

    envia os seus funcionrios para os

    EUA para frequentarem o curso do

    ingls).

    Tabela 3 - A relao entre os quartos tipos de motivao, fonte: Brown

  • 29

    2.3 Ensino - Aprendizagem da Lngua Portuguesa para falantes de outras lnguas

    "Ensinar no transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

    produo ou a sua construo. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende

    ensina ao aprender"

    Paulo Freire, professor e filsofo brasileiro

    2.3.1 Ensino - Aprendizagem da LE/L2

    O ensino pode ser definido como o conjunto de aes que se destinam a fornecer

    informaes e a transmitir conhecimentos. O ensino facilita o processo da

    aprendizagem e ajuda algum a aprender: Showing or helping someone to learn how

    to do something, giving instructions, guiding in the study of something, providing

    with knowledge, causing to know or understand (Brown 2000: 7). Por outro lado, a

    aprendizagem o conjunto de aes que levam as pessoas a adquirir conhecimentos,

    com o apoio do professor ou por si prprio, ou seja, o processo de aquisio do

    conhecimento ou de uma competncia atravs da experincia ou do ensino:

    Acquiring or getting of knowledge of a subject or a skill by study, study or

    instruction (Brown 2000: 7). Portanto podemos definir ensino - aprendizagem como

    um processo que engloba um conjunto de aes em que se articulam as atividades de

    transmisso e de aquisio de informao e de conhecimento.

    De acordo com a definio tradicional, a aquisio de uma lngua segunda decorre

    num contexto em que a maioria das pessoas fala a lngua alvo (Bot et al 2005:7). Por

    exemplo, umo indiano que aprende portugus em Portugal um aprendente da lngua

    segunda. Por outro lado, o indiano que aprende portugus na ndia considera-se

    aprendente da lngua estrangeira, visto que a lngua alvo no falada pela

    comunidade. Em geral, a lngua estrangeira ensina-se dentro de sala da aula: In most

    cases, foreign language acquisition takes place in the setting with formal language

    instruction. (Bot et al. 2005:7).

  • 30

    Geralmente, o termo lngua segunda usa-se para referir qualquer lngua alm da

    primeira lngua (Ellis 1994). De acordo com o mesmo autor, na aquisio da lngua

    segunda, a lngua desempenha um papel institucional e social na comunidade, ou

    seja, a aprendizagem da L2 decorre num contexto em que os indivduos tm uma

    lngua materna diferente, utilizando-se a lngua alvo como instrumento de

    comunicao (Ellis 1994). Como exemplo, temos a aprendizagem do portugus em

    Cabo Verde ou do ingls na ndia. Pelo contrrio, a aprendizagem de uma lngua num

    contexto onde no desempenha um papel importante, que s se aprende na escola ou

    instituio, a aprendizagem da lngua estrangeira, por exemplo, aprender o

    portugus em Nova Deli (ndia):

    In case of second language acquisition, the language plays an institutional and social

    role in the community (i.e. it functions as a recognised mean of communication among

    members who speak some other language as their mother tongue) (), Foreign

    language learning takes place in setting where language plays no major role in the

    community and is primarily learnt only in the classroom.

    Ellis, 1994: 11-12

    De acordo com Brown (2000), a aprendizagem de lngua segunda , por vezes, a

    aprendizagem de uma nova cultura que muito diferente da sua: The acquisition of

    a second language,() is also the acquisition of a second culture. (Brown 2000:

    178). O mesmo autor acredita que ensino-aprendizagem das lnguas afetado por

    vrios fatores, como o contexto, distinguindo o ensino-aprendizagem da L2/ LE

    conforme os contextos. Segundo ele, o ensino-aprendizagem da L2/LE pode ser

    efetuado nos seguintes contextos:

    Aprendizagem dentro de cultura da lngua segunda, ou seja, no contexto de

    imerso; por exemplo, o indiano que aprende a lngua portuguesa em Portugal.

    Aprendizagem dentro da prpria cultura do aprendente, onde a lngua

    segunda usada como a lngua franca; por exemplo, aprender o portugus em

    Cabo Verde.

    A terceira hiptese aprender a lngua estrangeira na sua prpria cultura; por

  • 31

    exemplo, aprender o portugus na ndia.

    Ellis (1994) concorda tambm que o contexto em que decorre o ensino-aprendizagem

    um factor importante, introduzindo dois tipos de contextos: educacional e natural.

    Por exemplo, o ensino-aprendizagem que ocorre no sistema educacional, dentro da

    sala de aula, e outro que ocorre no ambiente natural, fora do sistema educacional.

    Apresenta ainda os trs seguintes subtipos do contexto natural:

    Aprendizagem de L2 no contexto da lngua maioritria neste contexto a lngua

    alvo utiliza-se como a lngua materna ou uma das lnguas maternas para a

    maioria das pessoas, sendo que o aprendente tpico deste contexto um

    imigrante, por exemplo, o imigrante que aprende o ingls nos EUA ou no

    Canad ou o que aprende portugus em Portugal.

    Aprendizagem da L2 no contexto da lngua oficial neste contexto a lngua alvo

    utiliza-se como lngua oficial ou uma das lnguas oficiais do pas, em que as

    pessoas a usam para comunicar; por exemplo, os pases descolonizados de frica

    e da sia que ainda tm as lnguas europeias como uma das lnguas oficiais.

    Assim, aprender o portugus em Cabo Verde atravs de um cabo-verdiano, ou o

    ingls na ndia atravs de um indiano, so exemplos da aprendizagem da L2 no

    contexto da lngua oficial.

    Aprendizagem da L2 no contexto internacional no ltimo contexto, a

    aprendizagem sucede quando a lngua alvo no falada como lngua materna

    pela maioria dos falantes e nem se utiliza como uma das lnguas oficiais do pas,

    mas apenas como um instrumento da comunicao entre vrios falantes da

    lngua, podendo o uso do ingls servir como um bom exemplo. Por exemplo,

    hoje em dia, o ingls j se tornou a lngua internacional em todo mundo,

    portanto, quando se aprende ingls no Japo ou em Portugal trata-se de

    aprendizagem da L2 no contexto internacional.

  • 32

    Casteleiro (1988: 3) incorpora a abordagem comunicativa com o ensino-

    aprendizagem de uma LE: A finalidade do ensino-aprendizagem de uma lngua

    estrangeira que os aprendentes se tornem aptos a comunicar nessa lngua para

    satisfazeres as suas necessidades. O autor concorda que o objetivo de aprendente de

    lngua estrangeira seja a capacidade de comunicar na lngua alvo, portanto, os meios

    lingusticos usados para ensinar a LE devero alcanar esses objetivos (Casteleiro

    1988).

    Inmeros autores tm discutido estes dois conceitos, sendo vrios os que consideram

    tratar-se de dois conceitos diferentes, exigindo metodologias distintas. Todavia, h

    muitos a afirmar que, para alm da existncia de diferenas, encontram-se tambm

    muitas semelhanas nos dois processos.

    As pessoas aprendem a lngua segunda ou estrangeira por diversos motivos, como j

    foi anteriormente referido. Doughty & Long (2003) apresentam vrias razes pelas

    quais os adultos aprendem uma L2. De acordo com os dois autores, as razes podero

    ser voluntrias ou involuntrias. As razes voluntrias verificam-se sempre que um

    individuo aprende uma L2 por motivos pessoais, por exemplo, uma viagem ao

    estrangeiro, ensino superior ou casamento. Pelo contrrio, quando o aprendente

    aprende a lngua pela fora externa, as razes so involuntrias; por exemplo,

    aprender a lngua devido migrao (Doughty & Long 2003: 5). Mas ampliaremos

    essa abordagem na seco da motivao.

    2.3.2 Breve abordagem histrica de Ensino Aprendizagem da L2/LE

    Ensinar uma lngua ajudar o aprendente a aprender, no s as regras gramaticais de

    uma lngua, mas tambm a torn-lo capaz de comunicar na lngua alvo. Embora o

    processo de ensino-aprendizagem de LE seja muito antigo, foi apenas a partir do

    sculo XVIII que as pessoas comearam a ter mais interesse nessa rea. Os textos

    literrios nas lnguas estrangeiras tornam-se objeto de estudo (Nunan 1999), dando

    origem ao primeiro mtodo de ensino aprendizagem da LE, que se chama a

    Metodologia Gramtica Traduo, mais conhecido como mtodo tradicional ou

    clssico. Ao longo dos anos muitas metodologias foram introduzidas tais como:

    mtodo tradicional, direto, audio-lngual, audio-visual, entre outros.

  • 33

    At dcada de 1960, a lngua era vista como um sistema de regras com a finalidade

    de aprender a lngua, o aprendente tinha que aprender e decorar essas regras. O

    objetivo do aprendente era conseguir dominar as estruturas das lnguas. Porm, com a

    influncia de muitos linguistas, sobretudo de Naom Chomsky, a partir de 1970, o

    processo de ensino da LE/L2 tornou-se mais complexo e a lngua concebida como

    um sistema pelo qual a lngua pode ser analisada, descrita e ensinada (Nunan 1999).

    The realization that language could be analysed, described, and taught as a

    system for expressing meanings had a profound effect on language teaching.

    Nunan, 1999: 9

    Uma mudana mais persuasiva no ensino-aprendizagem da LE foi trazida pela

    competncia comunicativa. Este mtodo centraliza o ensino da lngua estrangeira na

    comunicao, ensinando o aluno a comunicar na lngua alvo para adquirir uma

    competncia comunicativa. Ao contrrio dos outros mtodos, o aluno no visto apenas

    como algum que recebe, passando tambm a participar nas aulas, interpretando o seu

    significado e transformando-se no centro da educao.

    Communicative competence became a household word in SLA, and still stands

    as an appropriate term to capture current trends in teaching and research.

    Brown, 2000: 245

  • 34

    2.3.3 Ensino-Aprendizagem do portugus para falantes das outras lnguas

    enquanto a lngua de acolhimento

    A Lngua um instrumento privilegiado de comunicao; exprimimos e

    comunicamos os nossos sentimentos, desejos, pensamentos, usando a lngua.

    Goveia e Solla 2004: 80

    O portugus ensinado em muitos pases mas com estatutos diferentes: em Portugal e

    no Brasil ensina-se como lngua materna; nos pases como Angola, Moambique e

    Cabo Verde ensina-se como lngua segunda; na ndia, China e noutros pases

    estrangeiros lecciona-se como lngua estrangeira. A expanso do portugus deveu-se

    a vrias razes, tais como, a globalizao, os fluxos migratrios, as razes

    econmicas e comerciais.

    A partir de 2000, Portugal teve o terceiro grande fluxo imigratrio, como foi j

    referido, sobretudo, dos pases da Europa de Leste, da Rssia e dos pases asiticos,

    como, China, ndia, Paquisto, Nepal e Bangladesh. Os imigrantes que chegaram,

    durante esse fluxo, falavam outras lnguas que no o portugus e o maior problema

    dessa populao era a barreira lingustica (Grosso 2007). Devido aos movimentos

    imigratrios para Portugal, surgiu a preocupao de ensinar a lngua portuguesa,

    como ajuda integrao dos imigrantes no pas de acolhimento:

    Os distintos fluxos tm trazido consigo novos hbitos, novos cdigos inter e

    intraculturais, novas competncias que se manifestam em lnguas com estatutos

    diferentes perante o ensino-aprendizagem, (.); ou ainda o Portugus para falantes de

    outras lnguas, aprendido por falantes de lnguas eslavas, de chins, de hindi, de urd,

    rabe e outras lnguas.

    Grosso, 2007: 2

    No que diz respeito ao fluxo imigratrio da ltima dcada, Oliveira e Galego

    acreditam que esse fluxo tem caractersticas especficas, como ter trazido consigo a

    diversidade lingustica e cultural das minorias tnicas: Ora, esta nova vaga

    apresenta algumas caractersticas especificas que introduz na nossa sociedade

  • 35

    contrastes sociais e culturais, conduzindo a limitao na integrao social por parte

    destes novos grupos, que designamos de minorias tnicas (2005: 13). Acrescentam

    tambm que, devido a essas diferenas, se colocam questes relativamente srias de

    integrao social perante o governo.

    Durante as ltimas quatro dcadas (desde 1970), a sociedade portuguesa, que

    tradicionalmente era homognea em termos das etnias e culturas, alterou-se bastante,

    nomeadamente com os imigrantes vindos dos PALOP, do continente asitico e da

    Europa de Leste, que agora fazem tambm parte da sociedade portuguesa. Devido a

    essas mudanas, surgiram vrios desafios para o governo e para o sistema educativo,

    pois uma lngua um dos instrumentos da integrao e de via para outros saberes.

    Aprender a lngua do pas de acolhimento um dos primeiros passos do imigrante

    para a sua incluso social e cultural na sociedade que o acolhe, como afirma Feliciano

    Barreiras Duarte: As competncias lingusticas so essenciais no plano profissional,

    no plano escolar, na possibilidade de criao de redes de conhecimento, mas tambm

    como instrumento cultural e social. (Goveia e Solla 2004:16).

    O Conselho da Europa reflecte a mesma preocupao, sendo que um dos objetivos

    o de assegurar que todos os membros do pas tenham o conhecimento da lngua da

    comunidade alvo, para poderem resolver os problemas da vida quotidiana:

    1. Assegurar, o melhor possvel, que todos os sectores da populao disponham de

    meios efetivos para adquirirem um conhecimento das lnguas de outros Estados-

    membros (ou de outras comunidades no seio do seu prprio pas), assim como as

    capacidades para o uso dessas mesmas lnguas, de modo a permitir-lhes satisfazer as

    suas necessidades comunicativas e especialmente:

    l.l. lidar com situaes da vida quotidiana noutro pas e ajudar os estrangeiros

    residentes no seu prprio pas a fazerem o mesmo;

    QECR, 2001: 21

  • 36

    Gerhard Neuner (1997) salienta que o fluxo imigratrio transformou a Europa uma

    sociedade multicultural e multilingue e receia que, na prxima dcada, centenas das

    pessoas que chegaram Europa nessa onda imigratria, tenham que aprender as

    lnguas da Europa como lnguas de acolhimento para a sua sobrevivncia. Ele

    precisa: Foreign language learning for those groups has an entirely different

    taste that for those who learn foreign languages for personal or professional

    achievement. (1997: 48). Assim, podemos afirmar que a aprendizagem da lngua de

    acolhimento uma necessidade para os imigrantes.

    Um dos pontos no Currculo Nacional de Ensino Bsico refere: No espao nacional,

    o portugus a lngua oficial, a lngua de escolarizao, a lngua materna da

    esmagadora maioria da populao escolar e a lngua de acolhimento das minorias

    lingusticas que vivem no Pas. Por isso, o domnio da lngua portuguesa decisivo

    no desenvolvimento individual, no acesso ao conhecimento, no relacionamento

    social, no sucesso escolar e profissional e no exerccio pleno da cidadania (sem

    data: 31). A citao supra mencionada mostra o grau da importncia da lngua

    portuguesa, em territrio nacional, tanto para os nacionais como para os imigrantes.

    2.3.4 Portugus como lngua de acolhimento

    Segundo uma definio dada pelo projeto GLOSSA, dirigido no mbito de estudos

    ps-graduados sob orientao de Professor Jos Carlos Pes de Almeida de Filho, a

    lngua de acolhimento: um Idioma maioritrio do pas anfitrio de estudantes

    imigrados ou refugiados, ensinado nas escolas como segunda lngua. Por exemplo,

    em Portugal, os imigrantes aprendem o portugus para conseguirem sobreviver no

    pas ou os seus filhos aprendem-no nas escolas; neste caso, o portugus considerado

    a lngua de acolhimento para os imigrantes.

    De acordo com as autoras Grosso, Tavares e Tavares (2009), a aprendizagem da

    lngua do pas de acolhimento favorece a insero social e profissional dos

    imigrantes. O seu conhecimento gera uma maior igualdade de oportunidades para

    todos, facilita o exerccio da cidadania e potencia qualificaes enriquecedoras para

    quem chega e para quem acolhe. Aprender a lngua do pas de acolhimento um dos

    pontos importantes para a integrao e insero de imigrantes. Existe uma barreira

  • 37

    entre os imigrantes e a comunidade que os acolhe por vrias razes, nomeadamente, a

    diferena cultural e social, sendo que a aprendizagem da lngua de acolhimento, neste

    caso o portugus, vai certamente diminu-la:

    () o processo de ensino/aprendizagem da lngua do pas de acolhimento se,

    por um lado, implica necessariamente uma viso do mundo que lhe est

    subjacente, por outro, no poder esquecer que o pblico-alvo igualmente

    portador de um capital lingustico cultural que no dever ser ignorado,()

    Grosso, Tavares e Tavares, 2009: 10

    () almost all refugees and migrants need to reach at least a basic threshold

    proficiency level in the second language simply to survive in their new

    environment.

    Doughty & Long, 2003: 5

    De acordo com Oliveira et al (2007), o conhecimento da lngua de acolhimento e a

    incluso social determinam igualmente o sucesso nos vrios contextos: O sucesso

    escolar e/ou profissional e a maior ou menor incluso dos imigrantes numa

    sociedade que ao princpio lhes estranha dependem, entre outros aspetos, do

    conhecimento que tm da lngua de acolhimento. (2007:7).

    Pelo contrrio, o desconhecimento da lngua poder dificultar a vida dos imigrantes,

    sentindo-se isolados da sociedade e da cultura, ficando alheados das atualidades do

    pas e de muitos aspetos importantes, tais como, o sistema social, politico e cultural

    do pas, como afirma Cabete (2010: 58):

    De facto, o desconhecimento da lngua poder representar um

    obstculo comunicao com o Outro, ao conhecimento dos seus

    direitos e deveres enquanto ator social e criar uma desigualdade onde o

    imigrante se torna mais vulnervel. A barreira lingustica leva da mesma

    forma ao afastamento daqueles que no o compreendem e a aproximar-

    se, naturalmente, de quem partilha os mesmos cdigos lingusticos.

  • 38

    Embora no haja qualquer dvida que a aprendizagem da lngua de acolhimento um

    fator necessrio e uma exigncia social, num pas como Portugal, desempenha um

    papel indispensvel, pois, no s torna a vida dos imigrantes mais fcil, como

    tambm lhes d acesso aquisio da nacionalidade. Este conhecimento permite

    resolver questes relacionadas de legalizao, de pedidos de nacionalidade e, mais

    importante, a integrao plena destes cidados na sociedade do pas de acolhimento,

    neste caso na sociedade portuguesa:

    No contexto de acolhimento, o ensino-aprendizagem da lngua alvo

    desenvolver as competncias necessrias com o objetivo de fomentar a

    igualdade entre todos os cidados, reduzindo-se a desigualdade com a

    populao de acolhimento, designadamente no trabalho.

    Grosso, 2007: 8

    Segundo a lei da nacionalidade, um indivduo para obter a nacionalidade portuguesa

    deve conhecer suficientemente a lngua portuguesa, sendo que esse conhecimento da

    lngua corresponde ao nvel A2 do Quadro Europeu Comum da Referncia (QECR):

    Nos termos do novo regime jurdico, o Governo concede a nacionalidade portuguesa,

    por naturalizao, aos estrangeiros que, entre outros requisitos, demonstrem conhecer

    suficientemente a lngua portuguesa.

    Considera-se conhecimento suficiente em lngua portuguesa o nvel A2 do quadro

    europeu comum de referncia para as lnguas.

    Dirio da Repblica, 1 srieN 24015 de Dezembro de 2006

    Conforme os dados obtidos pelo Centro da Avaliao de Portugus Lngua

    Estrangeira (CAPLE), em 2010 receberam 192 requisitos para os exames de

    Certificado Inicial de Portugus Lngua Estrangeira (que corresponde ao nvel A2 e

    necessrio para a adquirir a nacionalidade portuguesa) e em 2011 este nmero

    aumentou para 1991, o que uma diferena notvel. Em 2011, entre os 1172

    candidatos presentes a exame, 813 apareceram porque queriam adquirir a

    nacionalidade portuguesa, conforme revela um estudo feito pelo CAPLE. Podemos,

  • 39

    portanto, dizer que em Portugal a aprendizagem da lngua portuguesa

    imprescindvel para todos os imigrantes, mas sobretudo para aqueles que pretendam

    ficar por um longo perodo de tempo durao e adquirir a nacionalidade portuguesa.

  • 40

    2.4 Competncia Sociocultural

    A palavra sociocultural composta por duas palavras, sociedade + cultura, portanto o

    conhecimento da sociedade e da cultura onde a lngua falada, por exemplo,

    estrutura social, valores da sociedade, entre outros:

    O conhecimento sociocultural do pas de acolhimento , sem dvida, um factor

    importante para a integrao numa nova sociedade

    Grosso, Tavares e Tavares, 2009: 11

    A competncia sociolingustica est ligada aos aspetos socioculturais. Essa

    competncia foi introduzida por Hymes, o autor afirma que os membros de uma

    comunidade lingustica possuem uma competncia de dois tipos: um saber lingustico

    e um saber sociolingustico, ou seja, um conhecimento conjugado de formas de

    gramtica e um de normas de uso. Essa competncia explica as regras do mundo

    social por exemplo, quando falar, quando no falar, a quem falar, com quem, onde e

    de que maneira (QECR , Conselho da Europa 2001).

    As competncias sociolingusticas referem-se s condies socioculturais do

    uso da lngua (), a componente sociolingustica afeta fortemente toda a

    comunicao lingustica entre representes de culturas diferentes, embora os

    interlocutores possam no ter conscincia desse facto

    QECR, 2001: 35

    Esse conceito comea a partir da viso Chowmskiana sobre as competncias e o

    desempenho, segundo a qual a competncia significa o conhecimento da lngua, das

    suas estruturas e regras, e o desempenho se relaciona com o uso real da lngua em

    situaes concretas, sem qualquer preocupao com a funo social da lngua (Canale

    & Swain 1980):

    Competence refers to knowledge of the grammar and of other aspects of

    language while performance refers to actual use.

    Canale & Swain, 1980: 3

  • 41

    Alguns linguistas acham que a definio de competncia dada por Chomsky tem

    fragilidades, especialmente Dell Hymes (1972), por considerar a noo muito limitada,

    j que as regras gramaticais no bastam para o uso social e funcional da lngua (Brown

    2000: 246). Em 1979, surgiu a expresso competncia comunicativa, da autoria de

    Hymes, em que acrescentou comunicativo ao termo competncia, a fim de incorporar a

    dimenso comunicativa da lngua, que exige o conhecimento social e contextual da

    sociedade alvo. Portanto, a competncia comunicativa contem o conhecimento

    gramatical da lngua e, ao mesmo tempo, o conhecimento sociolinguista ou seja, o

    conhecimento do uso da lngua:

    We have so far adopted the term communicative competence` to refer to the

    relationship and interaction between grammatical competence, or knowledge of

    the rules of grammar, and sociolinguistic competence, or knowledge of the rules

    of language use.

    Canale & Swain, 1980: 6

    Cultura uma parte integral da sociedade, o contexto em que um indivduo vive,

    existe, pensa e sente. Cultura pode-se definir como as ideias, costumes, arte, tradies,

    que mostram as caractersticas de um grupo de pessoas (Brown 2000: 176). Cada

    sociedade representa uma espcie da cultura, que pode ser diferente ou similar a outra

    cultura qualquer. Portanto, o que nos parece certo ou uma prtica que est correta na

    nossa cultura poder ser errada na outra; os pontos da vista variam como variam as

    culturas.

    Provavelmente, algumas tradies e costumes que so aceitveis e praticados numa

    determinada cultura, tornam-se tabu ou at proibidos para as pessoas de outra sociedade

    ou cultura, por exemplo, na cultura indiana muito comum arrotar mesa de jantar, mas

    na cultura portuguesa este comportamento no aceitvel, e quem o faz considerado

    mal-educado. Do mesmo modo, em Portugal as pessoas do beijos quando se

    cumprimentam, mas na ndia a maneira de cumprimentar diferente, as pessoas juntam

    as mos e dizem namast:

  • 42

    What appears to you to be an accurate and objective perception of an

    individual, a custom, an idea, might be jaded or stilted in the view of

    someone from another culture. () . People from other cultures may appear, in

    our eyes, loud or quiet conservative or liberal in reference to your

    point of view.

    Brown, 2000: 177

    Por conseguinte, a cultura uma conduta que os membros de uma dada comunidade

    seguem e na aprendizagem da lngua segunda ou estrangeira tem uma relevncia

    significante. Quando um aprendente comea a adquirir uma lngua nova, consciente ou

    inconscientemente, comea tambm a aprender a respetiva cultura, mas devido

    ausncia do conhecimento sociocultural, no consegue dominar a cultura, nem as regras

    sociais da lngua alvo, que poder criar alguma confuso e equvocos a nvel da

    comunicao e do entendimento entre um falante nativo e um estrangeiro. Por exemplo,

    na ndia as pessoas no se beijam ao cumprimentar-se, por isso, quando um estudante

    indiano, que aprende portugus, visita Lisboa e uma amiga se aproxima para

    cumpriment-lo com beijos, tal poder significar um choque cultural para ele. Assim,

    muito importante que o aprendente se aperceba do ponto da vista de outro, o que lhe

    permite adotar e integrar a cultura alvo, evitando suposies e equvocos sobre a mesma,

    que poder dar origem a esteretipos: If people recognize and understand the differing

    world views, they will usually adopt a positive and open-minded attitudes towards cross

    cultural differences. (Brown, 2000: 179).

    De acordo com Neuner (1997), a competncia sociocultural um termo difcil de

    explicar, porque muito abrangente. Mais precisamente, quando referimos o

    conhecimento sociocultural de uma sociedade, devemos referir a cultura das elites? Se

    sim, ser que a cultura dos outros grupos sociais no tem qualquer relevncia? No caso

    das lnguas que se falam em mais de um pas, como o ingls ou portugus, os

    professores devero ensinar a cultura dos EUA ou Canad ou tambm incluir o Reino

    Unido, Austrlia e outros pases em que se fala ingls? Na sociedade multicultural,

    como a ndia, onde cada estado representa uma diversidade cultural distinta dos

    restantes, ser que nos devemos restringir aos hbitos socioculturais da capital ou

    tambm incluir os dos outros estados? H efetivamente muitas perguntas difceis de

    responder.

  • 43

    Byram et al (1997) a