a agricultura camponesa e o estado brasileiro

A Agricultura Camponesa e o Estado Brasileiro Valter Israel da Silva Movimento dos Pequenos Agricultores Junho de 2012. No Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), censo 2005/2006, anunciado em 2009, cerca de 70% dos alimentos que vão para a mesa do povo Brasileiro vem da agricultura camponesa (chamada oficialmente de agricultura familiar). Compõe este grupo, as famílias proprietárias de até 4 módulos fiscais 1 . Segundo o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, 90% das propriedades rurais brasileiras possuem até 4 módulos fiscais, são familiares, portanto e detêm apenas 24% das terras. Este é um setor importante para o Brasil, do ponto de vista econômico, pois com pouco crédito e pouca terra alimenta o país. A produtividade por área é quase o dobro da obtida pelos mono cultivos do agronegócio, segundo o IBGE, a pequena propriedade obtém uma renda média de R$ 677,00 ( seiscentos e setenta e sete reais) por há, enquanto a grande propriedade alcança apenas R$ 368,00 (trezentos e sessenta e oito reais). Do ponto de vista social, gera 15 empregos a cada 100 há enquanto a grande propriedade gera apenas 1,7. Ainda assim este setor é pouco valorizado pelo estado e pelos governos brasileiros. No último período tem tido algum avanço nas políticas públicas, mas ainda de forma muito insipiente. Isto é muito fácil de perceber se observarmos o desmonte do Estado Brasileiro nos setores que atendem a este público. O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) possui apenas 130 funcionários de carreira. O restante do quadro é composto por consultores. Isto além de limitar a atuação do ministério, pois tem funções que só podem ser exercidas por funcionários de carreira, não permite criar uma cultura institucional. A CONAB, outro setor importante para a execução de políticas públicas voltadas a questão dos alimentos, que deveria ser encarada como questão de soberania nacional e que como os dados do IBGE demonstram, vem em sua maioria da agricultura camponesa, também vive um desmonte. Informações dão conta de que a média de idade dos funcionários da CONAB é de 60 anos. Isso demonstra que não há renovação nos quadros. Desde sua criação em 1991 a CONAB sofreu com a descontinuidade administrativa. A média de permanência do dirigente principal era de cerca de 9 meses. Houve também um desmonte na sua estrutura, chegando inclusive em 2001 ser cogitada a sua extinção. No governo Lula, com o programa Fome Zero a CONAB passou a ter um papel importante e obteve um esboço de fortalecimento, muito embora insipiente para a importância do tema ao qual ela está associada. Se olharmos um pouco mais além, para as estruturas do INCRA, da FUNAI, SESAI e APPIR vemos o nível do descaso com este setor tão importante para o país desde os pontos de 1 Módulo Fiscal é a quantidade mínima de terra definida regionalmente, capaz de sustentar uma família.

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A Agricultura Camponesa e o Estado Brasileiro Valter Israel da Silva

Movimento dos Pequenos Agricultores

Junho de 2012.

No Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), censo

2005/2006, anunciado em 2009, cerca de 70% dos alimentos que vo para a mesa do povo

Brasileiro vem da agricultura camponesa (chamada oficialmente de agricultura familiar).

Compe este grupo, as famlias proprietrias de at 4 mdulos fiscais1. Segundo o INCRA

(Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria, 90% das propriedades rurais brasileiras

possuem at 4 mdulos fiscais, so familiares, portanto e detm apenas 24% das terras.

Este um setor importante para o Brasil, do ponto de vista econmico, pois com

pouco crdito e pouca terra alimenta o pas. A produtividade por rea quase o dobro da

obtida pelos mono cultivos do agronegcio, segundo o IBGE, a pequena propriedade obtm

uma renda mdia de R$ 677,00 ( seiscentos e setenta e sete reais) por h, enquanto a grande

propriedade alcana apenas R$ 368,00 (trezentos e sessenta e oito reais). Do ponto de vista

social, gera 15 empregos a cada 100 h enquanto a grande propriedade gera apenas 1,7.

Ainda assim este setor pouco valorizado pelo estado e pelos governos brasileiros. No

ltimo perodo tem tido algum avano nas polticas pblicas, mas ainda de forma muito

insipiente.

Isto muito fcil de perceber se observarmos o desmonte do Estado Brasileiro nos

setores que atendem a este pblico. O MDA (Ministrio do Desenvolvimento Agrrio) possui

apenas 130 funcionrios de carreira. O restante do quadro composto por consultores. Isto

alm de limitar a atuao do ministrio, pois tem funes que s podem ser exercidas por

funcionrios de carreira, no permite criar uma cultura institucional.

A CONAB, outro setor importante para a execuo de polticas pblicas voltadas a

questo dos alimentos, que deveria ser encarada como questo de soberania nacional e que

como os dados do IBGE demonstram, vem em sua maioria da agricultura camponesa, tambm

vive um desmonte. Informaes do conta de que a mdia de idade dos funcionrios da

CONAB de 60 anos. Isso demonstra que no h renovao nos quadros. Desde sua criao

em 1991 a CONAB sofreu com a descontinuidade administrativa. A mdia de permanncia do

dirigente principal era de cerca de 9 meses. Houve tambm um desmonte na sua estrutura,

chegando inclusive em 2001 ser cogitada a sua extino.

No governo Lula, com o programa Fome Zero a CONAB passou a ter um papel

importante e obteve um esboo de fortalecimento, muito embora insipiente para a

importncia do tema ao qual ela est associada.

Se olharmos um pouco mais alm, para as estruturas do INCRA, da FUNAI, SESAI e

APPIR vemos o nvel do descaso com este setor to importante para o pas desde os pontos de

1 Mdulo Fiscal a quantidade mnima de terra definida regionalmente, capaz de sustentar uma famlia.
vista: econmico (38% do PIB Agrcola), social (gera mais quase 900% mais emprego por rea

que o agronegcio), ambiental: produo diversificada, preservao ambiental.

Para o Brasil ser soberano do ponto de vista alimentar, necessita de agricultura

camponesa forte. Para isso, precisa fortalecer as instituies que atendem a este setor da

economia e da populao.