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Economia Solidária: Bases para a sua construção Ano 5 - Número 04 - 2013 A principal estratégia da Ecosol é a solidariedade entre homens e mulheres Paul Singer A experiência do Projeto Brasil Local - Economia Feminista Helena Bonumá Rede de Cooperação Solidária como estratégia de expansão da liberdade pública e privada Euclides Mance

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Economia Solidária:Bases para a sua construção

Ano 5 - Número 04 - 2013

A principal estratégia da Ecosol é a solidariedade entre homens e mulheres Paul Singer

A experiência do Projeto Brasil Local - Economia FeministaHelena Bonumá

Rede de Cooperação Solidária como estratégia deexpansão da liberdade pública e privadaEuclides Mance

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Esta publicação foi realizada com apoio da Secre-taria Nacional de Economia Solidária e Ministério

do Trabalho e Emprego, através Projeto Brasil Local Nordeste I, coordenado pela Associação de Apoio às Comunidades do Campo - RN. Seu con-teúdo não expressa necessariamente, a opinião

das respectivas organizações.

Conselho EditorialMarialda Moura da SilvaLidiane Freire de Jesus

Janaina Henrique dos SantosRégia Cristian de Medeiros

TextosBethânia Lima

Janaina Henrique dos SantosJuscilene Barbosa

Lidiane Freire de JesusMarialda Moura da Silva

Maria Iranilza dos Santos AzevedoMaria Aparecida Ramos (colaboradora)

Revisão de textosBethânia Lima

Janaina Henrique dos SantosLidiane Freire de Jesus

Luciara AndradeMarialda Moura da Silva

Fotografi asIvi Aliana Carlos Dantas

Jacinta Maria AguiarJuscilene Barbosa

Lidiane Freire de JesusMarialda Moura da Silva

Marina Zaneti ManceWalmira Penha

Projeto gráfi co, diagramação e capaWaldelino Duarte

ImpressãoOff set Gráfi ca

Tiragem3000 exemplares

Revista da Associação de Apoio às Comunidades do Campo do RN - AACC/RN

ISSN 2178-8561Editorial

Notícias

Após dois anos e meio sem a Revista Camponesa, estamos de volta. Nessa edição, o debate e as práticas em torno da temática “Economia Solidária:

Bases para a sua construção”. Para aprofundamento do debate, temos o Prof. Paul Singer, Secretário Na-

cional da Economia Solidária que aborda diferentes aspectos relacionados ao for-talecimento da economia solidária no Brasil; contamos também com a importante contribuição de Helena Bonumá, coordenadora da Guayi, uma Organização Não Governamental do Rio Grande do Sul e que hoje coordena a articulação da Rede de Economia Solidária e Feminista no Brasil, no debate sobre economia solidária e economia feminista. Uma refl exão que se fortalece com questões fundamentais, levantadas pelo Prof. Euclides Mance da Universidade de Brasília que aprofunda aspectos importantes sobre a organização da economia solidária no contexto de Redes. Lidiane Freire da AACC/RN e Ivi Aliana Dantas do Centro Feminista 08 de Março, faz um balanço do Projeto Brasil Local, apresentando seus principais resul-tados. Juscilene Barbosa da Associação do Loreto no Maranhão, amplia o deba-te sobre Etnodesenvolvimento e seus fundamentos conceituais e históricos. Joa-quim Apolinar Diniz, Agrônomo, faz uma abordagem sobre os diferentes ações de economia solidária desenvolvidas no Rio Grande do Norte com a participação daAACC/RN. Para fi nalizar a temática Marcos Leonez, membro da equipe do Projeto Economia Solidária RN e Marialda Moura da Silva Coordenadora Geral da AACC/RN apresentam o processo de organização do Banco Comunitário de Desenvolvimento Sustentável de São Miguel do Gostoso.

Também foram entrevistadas algumas pessoas que participaram do Projeto Brasil Local Nordeste I através do Conselho Gestor, Fórum de Economia Solidária e da equipe do Projeto.

Finalizamos a Revista, contando mais uma vez com o dom poético de Chico Morais de Parelhas com o “Sonho de Muitos”. Afi nal, todos que elaboramos essa Re-vista, sonhamos com um mundo melhor para se viver e temos a economia solidária como um caminho para a construção desse mundo.

Uma ótima leitura!!

No período de 25 e 31 de agosto de 2013, estará acontecendo

no Brasil o Encontro Internacional da Marcha Mundial das

Mulheres. O evento será momento preparatório para a Ação

internacional da Marcha em 2015 e aguarda a participação

de 50 países, sendo a maioria de suas participantes, mulheres

do Brasil e da América Latina. Seguiremos em Marcha até que

todas sejamos livres!!

Nos dias 22 e 23 de agosto será realizada em Natal a Conferência

Estadual do Desenvolvimento Rural Sustentável Solidário, preparatória

para a Conferência Nacional. Um espaços de debate de fundamental

importância para o avanços das políticas públicas territoriais no Brasil.

O Conselho Nacional de Economia Solidária convoca empreendimentos da economia solidária, instituições de fomento e o poder público para participação na III Conferência Nacional de Economia Solidária (CONAES) que será realizada em Brasília, no período de 26 a 29 de novembro de 2014.

Ministério doTrabalho e Emprego

Secretaria Nacionalde Economia Solidária

Associação de Apoio às Comunidades do Campo do RN - AACC/RN

Rua Doutor Múcio Galvão, 449, Lagoa Seca Natal - RN - Cep: 59022-530

Telefone: 84.3211.6131/6415E-mail: [email protected]

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Nesta edição

Entrevistas04 A principal estratégia da Ecosol é a solidariedade

entre homens e mulheres Paul Singer

07 A experiência do Projeto Brasil Local - Economia FeministaHelena Bonumá

10 Rede de Cooperação Solidária como estratégia deexpansão da liberdade pública e privadaEuclides Mance

Artigos17 A ação de ADLS como estratégia de fortalecimento da

economia solidária e políticas públicas - Projeto Brasil Local Nordeste IIvi Aliana DantasLidiane Freire de Jesus

19 Etnodesenvolvimento:histórias, lutas e conquistas no Brasil Juscilene Barbosa

22 Os aprendizados das experiências com Economia SolidáriaJoaquim Apolinar Nóbrega Diniz

25 A experiência do Banco Comunitário de Desenvolvimento Solidário de São Miguel do Gostoso/RNMarialda Moura da SilvaMarcos Antônio Leonez

Reportagem15 Olhares para o Brasil Local Nordeste I

Bethânia Lima

Seção27 Para aprofundar

Livros/Cartilha

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CAMPONESA - 2013 www.aaccrn.org.br

Paul Singer, nascido em 24/3/32, em Vie-na (Áustria), no Brasil desde 1940 Ele-trotécnico, militante do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo de 1952 a 56. Atualmente é Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego desde junho de 2003. Formado em Economia pela Universidade de São Paulo em 1959. Tornou-se doutor pelo Departamento de Sociologia da USP em 1966 e livre docente em Demografia pelo Depar-tamento de Estatística da Faculdade de Higiene e Saúde Pública em 1968. Aposentado compulsoriamente pelo governo à base do AI-5, foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Planejamento. Trabalhou no CEBRAP de 1969 a 1989, fazendo pesquisas e escrevendo livros e artigos sobre Eco-nomia Política, Economia do Trabalho,

Reprodução Humana, problemas ur-banos, economia da saúde e outros temas. Lecionou na PUC/SP entre 1979 e 1983 e em 1980, com a anistia, retor-nou à USP, onde se tornou professor adjunto (1981) e titular (1984), lecio-nando na FEA até ser (mais uma vez) aposentado compulsoriamente em 2002, por ter atingido a idade limite de 70 anos. Tem vários artigos e livros sobre o tema da Economia solidária.

REVISTA CAMPONESA: Consideran-do que há três forças que constroem a economia solidária no Brasil, quais sejam: as instituições de fomento, os gestores públicos e os empreen-dimentos econômicos solidários e que é denominada de diferentes formas, economia solidária, econo-mia popular, socioeconomia solidá-

ria, economia popular e solidária, como o senhor define a economia solidária?

Paul Singer Eu denomino a economia solidária exatamente de economia so-lidária, nada menos e nada mais. Não concordo que as instituições de fo-mento, os gestores públicos e os em-preendimentos econômicos solidários concebam a economia solidária sob diferentes aspectos. Cada uma destas “forças” tem uma missão específica dentro do grande movimento da eco-nomia solidária, mas isso não implica que os homens e mulheres que mili-tam nestas forças concebam a econo-mia solidária exclusivamente do ân-gulo de sua missão. Não ignoro que há diferentes formas de conceber a econo-mia solidária e que algumas delas se ex-

Nesta entrevista o estudioso Paul Singer analisa os principais pontos para o fortalecimento da Economia Solidária, nos quais destaca: a importância do entendimento pelas instituições de fomento, gestões públicas e dos empreendimentos solidários, em relação ao princípio da propriedade coletiva dos meios

de produção na autogestão; a contribuição dos meios legais como a Lei Geral da economia solidária e dos Fundos de Economia Solidária no enfrentamento das dificuldades da Ecosol; a superação dos desafios sofridos pelos EES, e a prática da solidariedade ente homens e mulheres como as estratégias de fortalecimento da Ecosol; o papel crucial dos ADS para o desenvolvimento local; a participação das mulheres pelo contexto da economia feminista na economia solidária, e a experiência imprescindíveis das organizações em Rede, no fortalecimento da comercialização, na realização de assessoria técnica e na articulação das políticas de apoio à economia solidária.

A principal estratégia da Ecosol é a solidariedade entre homens e mulheres

Paul SingerPor Marialda Moura da Silva

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Entrevistas | 5

2013 - CAMPONESAwww.aaccrn.org.br

primem mediante denominações como socioeconomia solidária, economia po-pular solidária ou simplesmente “econo-mia solidária”. Acho estas divergências normais, contanto que nenhuma delas conteste os princípios em que a econo-mia solidária se baseia: propriedade co-letiva dos meios de produção, autoges-tão com iguais direitos de participação de cada sócio ou sócia, repartição da renda de acordo com critérios de justiça distributiva acordados pelos sócios.

REVISTA CAMPONESA: A auto-organi-zação de trabalhadores e trabalhado-ras em grupos e espaços coletivos por meio de cooperativas e associações e atualmente no Fórum Brasileiro de Economia Solidária organiza uma Campanha Nacional para criação da Lei Geral da Economia Solidário e no Rio Grande do Norte há uma Campa-nha em prol da criação do Fundo Es-tadual de Fomento a Economia Soli-dária. Na sua opinião, em que aspecto a criação dessa lei contribui para a superação de dificuldades e desafios enfrentados pela economia solidária? Como o senhor avalia a realização dessas campanhas no contexto or-ganizacional da economia solidária? Como a criação de um Fundo Nacio-nal ou Estadual de Economia Solidá-ria contribui para o desenvolvimento dos empreendimentos econômicos solidários no Brasil?

Paul Singer A Lei Geral ou Orgânica ou outra denominação que venha a ter vai facilitar o reconhecimento legal da existência e dos direitos dos empreendi-mentos de economia solidária, de suas redes, instituições de fomento etc.. O seu papel será análogo à que a Lei do Cooperativismo desempenha para as cooperativas. O decreto que legalizou o Sistema Brasileiro de Comércio Justo e Solidário já deu um importante pas-so nesta direção ao definir critérios que permitem reconhecer a aptidão de um empreendimento de poder praticar com legitimidade o comércio justo e solidá-rio em nosso país.

O papel da Lei Geral da economia solidária deverá estender estes

efeitos a todos os âmbitos de ação além

do comércio. Os Fundos de Economia Solidária facilitarão a obtenção de recursos públicos – federais, estaduais e

municipais – para investir no desenvolvimento da

economia solidária.

Até o momento, apenas a Lei que criou a SENAES cumpre esta função ao possibi-litar à Secretaria o acesso ao orçamento do governo federal.

REVISTA CAMPONESA: A literatura que trata da economia solidária a co-loca como uma prática que articula diferentes aspectos da organização, desde um empreendimento econô-mico solidário, a produção coletiva, a autogestão, a comercialização e consumo solidário. Por outro lado, os EES buscam resultados concretos e capazes de impactar positivamente em suas vidas. Na sua análise, quais as principais estratégias para o for-talecimento da economia solidária e como essa ação pode se desenvolver de forma articulada?

Paul Singer: As estratégias que podem fortalecer a economia solidária são as que permitem enfrentar os principais desafios com que os EES lidam: o aces-so a capitais, o acesso a mercados e o acesso ao conhecimento. E de fato tais estratégias têm sido desenvolvidas nos últimos anos. Quanto ao acesso a capitais, as finanças solidárias estão sendo desenvolvidas por toda parte na forma de bancos co-munitários, fundos rotativos solidários e cooperativas de crédito solidárias. O volume de financiamento concedido por bancos, fundos e cooperativas pro-vavelmente ainda não satisfaz todas

as necessidades; para tanto, estas en-tidades terão de crescer o que vai de-pender dos avanços dos próprios EES e das comunidades que autogerem os bancos, os fundos e as cooperativas. Pode parecer paradoxal, mas o único jeito de superar os desafios é avançar e assim acumular forças, que no caso das finanças solidárias significa aumentar a renda das EES e das comunidades para que possam poupar mais. O acesso a mercados e a conhecimentos passa pela mesma lógica: os acessos só podem ser conquistados à medida que os recursos disponíveis aos empreendimentos e às comunidades puderem ser expandidos. No caso do acesso a mercados a criação do sistema brasileiro de comércio justo e solidário provavelmente contribuirá significativamente para que este desafio possa ser superado.Quanto ao acesso aos conhecimentos a estratégia tem sido oferecer formação aos trabalhadores dos EES e aos agentes de desenvolvimento local que assesso-ram comunidades empenhadas na pro-moção de seu desenvolvimento através dos Centros de Formação em Economia Solidária e da prestação de assessoria técnica. Além destas, a principal estraté-gia para fortalecer a economia solidária, a meu ver, é difundir a prática da solida-riedade entre homens e mulheres das classes trabalhadoras do Brasil.

Ser solidário é ajudar e ser ajudado pelos que partilham

o mesmo solo e, muitas vezes por isso mesmo, a

mesma sina.

O que se faz mediante inúmeras modali-dades de formação que o movimento de economia solidária vem desenvolvendo, mas mais importante ainda, a prática consistente de pessoas e de coletivos da solidariedade não só entre si, mas em re-lação a todos que dela carecem.

REVISTA CAMPONESA: A experiência do projeto piloto envolvendo comu-nidade quilombolas, contribuiu para a criação do Projeto de Promoção do Desenvolvimento Local e Econo-

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CAMPONESA - 2013 www.aaccrn.org.br

mia Solidária (PPDLES) e posterior-mente o Projeto Brasil Local, sendo que este foi estruturado por meio de diferentes metodologias. Primeiro foi coordenado pela Universidade de Brasília (UnB), em parceria com diversos órgãos governamentais, e posteriormente o Brasil Local firmou convenio com dez instituições em di-ferentes regiões no Brasil. A AACC/RN coordenou o projeto Brasil Local Nor-deste I que em sua essência coloca-se como uma proposta de implantação da ação de Promoção do Desenvolvi-mento Local e da Economia Solidária por meio da atuação de Agentes de Desenvolvimento Solidário. Os Edi-tais públicos realizados pela SENAES em 2012 mantêm a figura do agente de desenvolvimento solidário no con-texto da organização e articulação da economia solidária. Porque a SE-NAES fez opção por essa continuida-de? Como o senhor analisa a figura do ADS para o desenvolvimento da polí-tica de economia solidária?

Paul Singer: O agente de desenvolvi-mento ADS constitui o elo estratégico entre a SENAES e o processo de desen-volvimento local, cujo protagonista principal tem de ser a própria comuni-dade.

O motor do endo-desenvolvimento

solidário tem de ser a mobilização de todos os

que compõem a população economicamente ativa da

comunidade,

responsáveis pela elaboração dos pla-nos de desenvolvimento e sua realiza-ção por meio da criação de uma nova economia solidária em lugar das ativida-des dispersas que são características do subdesenvolvimento. Mas este processo geralmente precisa do apoio dos pode-res públicos federal, estadual e munici-pal. O ADS tem os recursos e o encargo de conquistar este apoio ao desenvolvi-mento da comunidade além de contri-buir para a superação das eventuais di-

ficuldades que o desenvolvimento local encontrar em seu caminho.

REVISTA CAMPONESA: No Sistema de Informações da Economia Solidária (2007/09), as mulheres constituem 37% da economia solidária e os ho-mens 63%. No entanto, esses dados parecem não refletir a realidade, cuja participação das mulheres tem sido hegemônica, seja nos espaços de co-mercialização, conferências, seja no próprio movimento. No Projeto “Bra-sil Local -Economia Feminista”, foram realizados diagnósticos e acompa-nhamento a grupos de mulheres e fomentada a criação de uma rede de economia feminista no Brasil, visan-do o fortalecimento de iniciativas das experiências com mulheres. O Senhor considera esse processo como um avanço da organização das mulheres na economia solidária? Como a SE-NAES pretende fortalecer a participa-ção das mulheres na política de eco-nomia solidária?

Paul Singer: De fato, também acredito que a proporção de 37% apenas de mu-lheres subestima a participação femini-na muito provavelmente porque nosso mapeamento das cooperativas de agri-cultura familiar ignorou a participação das mulheres na produção. A razão é a malfadada divisão sexual do trabalho que atribui apenas aos homens o ga-nho resultante do trabalho produtivo, ao passo que às mulheres caberia ape-nas o chamado trabalho reprodutivo – o cuidado dos filhos e das necessidades de consumo dos membros da família. O fato bem conhecido é que a mulher participa do trabalho agrícola cuidan-do de hortas e da criação de pequenos animais, além de ajudar na colheita e em todos os demais trabalhos de respon-sabilidade dos homens. O valor do tra-balho feminino no lar, tanto no campo quanto na cidade, não deve ser medido pela renda monetária que ele propor-ciona, pois ele é vital ao bem estar e à sobrevivência da família.Acredito que o Projeto “Brasil Local – Economia Feminista”, e a rede de econo-mia feminista que dele resulta, é de fato um avanço das mulheres na economia

solidária. Além deste avanço, as mulhe-res têm uma participação frequente-mente hegemônica em todas as ativi-dades da economia solidária em nosso país. Acabo de voltar de uma impor-tante Conferência Internacional sobre potencialidades e limites da economia social e solidária em Genebra (Suiça) pa-trocinada pela Organização Internacio-nal do Trabalho OIT e pelo Instituto de Pesquisa do Desenvolvimento Social da ONU. A ampla maioria de mulheres en-tre os participantes é um sinal de que a predominância das mulheres na econo-mia solidária acontece no mundo inteiro e não somente em nosso país.

REVISTA CAMPONESA: Em 2012 a SENAES/MTE realizou chamadas pú-blicas referentes tanto a realização de processos de Certificação como também no tocante a organização dos empreendimentos econômicos solidários em Rede. Nesse contexto, há também a organização de Bancos Comunitários que tem adquirido for-ça no Brasil. Como o senhor avalia as experiências de Rede produtivas soli-dárias existentes? É possível o desen-volvimento de uma ação articulada entre essas diferentes políticas?

Paul Singer: Sou de opinião de que as redes produtivas solidárias são impres-cindíveis porque, entre outras razões, os EES ainda sofrem de fragilidades, como vimos acima. As redes promo-vem o trabalho conjunto dos EES que as compõem, o que os fortalece graças aos ganhos de escala assim obtidos. A dificuldade na comercialização pode ser melhor superada se diversos EES asso-ciados tratam de vender seus produtos em conjunto, partilhando o custo da comercialização e, deste modo, alivian-do o peso deste custo para cada EES. O mesmo se aplica ao eventual custo do acesso a assessoria técnica, que tam-bém pode ser partilhado pelos EES que participam da rede. A existência de redes possivelmente fa-cilita também a articulação das políticas de apoio à economia solidária dada a facilidade de coordená-las entre EES or-ganizados em rede.

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Entrevistas | 7

2013 - CAMPONESAwww.aaccrn.org.br

Helena Bonumá, é Socióloga, Coorde-nadora técnica e integra o Núcleo femi-nista Lua Nova da Guayí e atualmente Coordena o Projeto “Rede de Economia Solidária e Feminista: Tecendo Redes, Sustentabilidade e Solidariedade para o Bem Viver” em parceria com a SENAES/MTE.

REVISTA CAMPONESA: Diversas au-toras feministas têm desenvolvido questões importantes relacionadas ao trabalho doméstico e do cuidado, atividades hegemonicamente reali-zada pelas mulheres, sendo que esse trabalho não tem visibilidade e não é reconhecido. Na sua visão, o movi-mento de economia solidária tem as-sumido esse debate?

Helena Bonumá: Está começando a assumir. O feminismo tem cumprido o importante papel de desvendar a mag-nitude do trabalho realizado pelas mu-lheres na dimensão reprodutiva da vida, nos cuidados, todos necessários para

criar filhos e manter famílias, no cotidia-no do trabalho doméstico, apontando para o problema de sua invisibilidade e desvalorização. A economia feminis-ta tem questionado este ocultamento buscando trazer à tona a relação da eco-nomia feminista com a sustentabilida-de da vida humana e o bem-estar das pessoas. Assim, a reprodução humana adquire centralidade para a economia, aparecendo com clareza seu entrela-çamento essencial e inseparável com a esfera produtiva. Se, pela divisão sexual do trabalho, ela tem sido historicamente responsabilidade das mulheres, está na ordem do dia seu assumimento pela so-ciedade e pelo Estado (e, dentro de casa, pelos homens) e a economia solidária tem tudo a ver com isto. Não podemos pensar uma economia alternativa, a ser-viço da vida, sem incorporar estas ques-tões. A SENAES deu um passo impor-tante neste sentido quando incorporou no Brasil Local a modalidade “Economia Solidária e Economia Feminista” possibi-litando a socialização deste debate. Mas

é um processo que está começando no movimento da economia solidária e ain-da encontramos preconceito em relação ao feminismo, e temos muito o que an-dar, junto/as.

REVISTA CAMPONESA: O tema da divisão sexual do trabalho tem sido recorrente nos estudos e ações femi-nistas. Como a economia feminista aborda esse tema com as mulheres trabalhadoras rurais?

Helena Bonumá: As mulheres trabalha-doras rurais têm uma longa trajetória de lutas pelo seu reconhecimento como trabalhadoras e como cidadãs, e isto já se expressa em conquistas concretas que vem da luta para melhorar a vida. Mas ainda há muito o quê conquistar. O trabalho no campo, no quintal, na horta, a floricultura, o cuidado com os animais acabam sendo quase que considerados como “extensão” do trabalho doméstico. Então, não é apenas o trabalho domés-tico e de cuidados que é invisibilizado

Não podemos pensar uma economia alternativa, sem incorporar a questão da divisão sexual do trabalho.A discussão realizada por Helena Bonumá traz à tona o debate da valorização do trabalho realizado pela mulher, enfatizando o lugar deste debate na economia solidária feminista. Outro importante aspecto

apontado é a reflexão em torno da divisão sexual do trabalho, especialmente em relação ao papel da economia solidária para o reconhecimento do trabalho reprodutivo e produtivo realizado pelas mulheres. A organização de mulheres em grupos produtivos, e as atuais inciativas de superação da desigualdade econômica entre homens e mulheres, através das ações da SENAES, em 2006, e as propostas da Economia Solidária e feminista, em 2009. A autora trata ainda do desenvolvimento organizacional do Projeto Brasil Local feminista.

A experiência do Projeto Brasil Local - Economia Feminista

Helena BonumáPor Marialda Moura da Silva

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e desvalorizado, mas o trabalho produ-tivo das mulheres na atividade agrícola também. A economia feminista, na me-dida em que busca “desnaturalizar” a di-visão sexual do trabalho e desvendar a desigualdade de poder entre homens e mulheres decorrente dela, contribui efe-tivamente para o resgate das mulheres como sujeito da história e para a visibili-dade e valorização de seu trabalho. Isto gera reconhecimento, autoestima, espe-rança e subsidia processos de organiza-ção e de luta.

REVISTA CAMPONESA: Nos anos 90, em consequência do desenvolvimen-to de políticas neoliberais, o desem-prego, a precariedade do trabalho, as desigualdades salariais fez surgir à busca de alternativas. Nesse con-texto, a economia solidária toma for-ça e são criadas diversas associações, cooperativas e grupos organizados. Como as mulheres participaram des-se processo e como estão, no momen-to atual, frente à problemática da de-sigualdade de gênero?

Helena Bonumá: Segundo o SIES – Sistema de Informações da Economia Solidária (2007/09), as mulheres cons-tituem 37% da economia solidária e os

homens 63%. No entanto, o que vemos nos espaços de comercialização, nas fei-ras, nas atividades do movimento, nas Conferências, é o contrário disto. Enten-demos que as mulheres são uma base importante da economia solidária como forma de resistência e de construção de alternativa para gerar trabalho, renda e cidadania, mas ainda não estão visíveis desta forma para as pesquisas e para as políticas públicas. A experiência do nos-so projeto nos mostra as dificuldades da situação da maioria destas iniciativas de mulheres, um verdadeiro esforço de sobrevivência que, com criatividade e coragem para enfrentar as carências e dificuldades de um processo de pro-dução e de comercialização em muitos aspectos improvisado e precário. Neste quadro, pesa bastante a falta de políti-cas públicas mais estruturadas e perma-nentes que possam apoiar efetivamente o desenvolvimento destas iniciativas, potencializando suas capacidades. Por outro lado, aparece a importância des-te trabalho para a sustentação das pró-prias mulheres e de suas famílias, tanto no sentido financeiro, como também de inclusão social e simbólica, de pertenci-mento, de engajamento em um proces-so coletivo que contribui para resignifi-car a vida, trazendo novas perspectivas.

REVISTA CAMPONESA: Como ação de fortalecimento da economia solidá-ria, em 2006 foi criado pela SENAES/MTE o projeto Brasil Local, por meio da ação de agentes de desenvolvi-mento solidário. Em 2009 foi incluída na proposta do Brasil Local a modali-dade Economia solidária e economia feminista. Como a senhora avalia essa mudança no programa? Podemos considerar como um indicativo de transformação para a vida das mu-lheres, no contexto da luta feminista o Brasil?

Helena Bonumá: A SENAES e seus diri-gentes devem ficar na história da política pública brasileira pela lucidez e ousadia em propiciar o encontro, neste âmbito, da economia solidária com a economia feminista. Isto não é pouca coisa.

Estamos falando de uma compreensão do trabalho,

de um conceito de economia, de uma visão

de sociedade, de uma perspectiva de futuro, e

muito mais...

Com sua iniciativa, a SENAES assume o desafio de contribuir com esta reflexão e com a construção de indicadores e de re-lações efetivas com as mulheres da eco-nomia solidária para encararmos, em conjunto, a construção de instrumentos, ações e políticas que contribuam para a superação da condição de subordinação e de desigualdade que ainda caracteriza a situação de um grande contingente de mulheres em nosso país acumulan-do assim para o desenvolvimento de uma economia a serviço da vida. E isto começa pela sua valorização como mu-lheres, como trabalhadoras, como pro-tagonistas da história, capazes de, pela sua transformação, contribuírem para a transformação da sociedade.

REVISTA CAMPONESA: O projeto Bra-sil Local feminista é uma ação que envolve agentes de desenvolvimento local feminista e realiza acompanha-mento à auto-organização das mu-lheres no Brasil. Fale-nos sobre esse projeto, quais os fundamentos para o seu desenvolvimento e que meto-dologia foi utilizada nesse processo? Quais aprendizados, avanços e difi-culdades surgiram no processo de organização e articulação do Brasil Local feminista?

Helena Bonumá: A Guayí assumiu com muita responsabilidade o Projeto Brasil Local Economia Solidária e Economia Fe-minista e procurou se colocar à altura do desafio proposto partindo do acúmulo da economia solidária e da luta – práti-ca e teórica – do movimento feminista, do qual nós reivindicamos. Realizamos mapeamento, diagnóstico, atividades de formação e discussão da política pú-blica com 300 empreendimentos produ-tivos de mulheres em nove estados (RS,

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Entrevistas | 9

2013 - CAMPONESAwww.aaccrn.org.br

PR, SP, RJ, DF, PA, CE, PB, RN) abrangendo as 5 regiões do país numa mostra signi-ficativa da diversidade do trabalho das mulheres na economia solidária, além de parcerias diversas com entidades, instituições públicas, fóruns e movimen-tos sociais. Realizamos esta caminhada com a ação das Agentes de Desenvol-vimento - companheiras vindas da eco-nomia solidária e/ou do movimento de mulheres com as quais construímos afi-nidades importantes para a realização desta missão.O diferencial de nosso projeto foi o foco na ação das mulheres na economia soli-dária bem como o debate da economia feminista, a partir da visibilidade do tra-balho das mulheres na esfera reproduti-va, no trabalho doméstico e nos cuida-dos necessários para a preservação da

vida, a necessidade de sua valorização social e pública, bem como sua relação com o trabalho produtivo.O resultado do Projeto aponta para a necessidade de avançarmos na articu-lação de possibilidades concretas para garantir a continuidade, a qualificação e a viabilidade econômica das iniciativas produtivas das mulheres. A economia solidária tem crescido como alternativa econômica, como movimento social e como política pública, mas ainda temos muito o que andar.

As mulheres são uma base importante da

economia solidária, mas economicamente ainda

continuam sendo os segmentos mais vulneráveis.

Precisamos avançar em nossas práticas organizativas e autogestionárias, tanto na produção quanto na participação nos espaços de discussão política, nas decisões sobre as políticas públicas, nos fóruns de economia solidária e instân-cias dos diversos movimentos sociais. É

necessário o fortalecimento de nossos empreendimentos para o empodera-mento e a conquista da autonomia eco-nômica das mulheres.Com este objetivo, o Projeto Economia Solidária e Economia Feminista segue em frente com a proposta da REDE DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E FEMINISTA, uma rede nacional articulada em nú-cleos estaduais integrando os empreen-dimentos participantes do projeto em cada estado para avançar em estraté-gias e ações para sua sustentabilidade.

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CAMPONESA - 2013 www.aaccrn.org.br

Euclides Mance é filósofo e diretor exe-cutivo do Solidarius Brasil, a empresa de economia solidaria que mantém o portal solidarius.net. e tem vários livros publicados no Brasil e no exterior sobre redes de economia solidária. No primei-ro mandato do governo Lula colaborou com o Programa Fome Zero, na área de políticas estruturantes. Atuou como consultor da Unesco e da FAO em pro-jetos de Desenvolvimento Sustentável nos anos de 2004 a 2006.

CAMPONESA: O que são Redes de Cooperação Solidária e de que modo essas experiências se constituem no Brasil? Como se organizam?

Euclides Mance: No final dos anos oi-tenta o conceito de economia solidária vai sendo elaborado a partir de dife-rentes realidades. Práticas de economia solidária sempre existiram na historia

da humanidade e podemos dizer que economia solidária é tão antiga quanto a própria humanidade. Mas o conceito e o uso da expressão economia solidária para caracterizar essas diferentes prá-ticas econômicas fundadas na solida-riedade é algo bem recente. Então, nos anos 80 surgem reflexões sobre práticas já existentes com relação ao comércio justo, finanças solidárias, consumo críti-co, movimentos de agricultura orgânica, empresas de autogestão, cooperativas, empreendimentos associativos, práticas com moedas sociais e muitas outras. Na verdade, o termo economia solidária apareceu também neste mesmo perío-do em políticas públicas na Colômbia para o setor cooperativista e associativo e em outros lugares para caracterizar atividades econômicas de enfrentamen-to ao desemprego. Então, o termo vai se propagando. Agora, essas diferentes práticas, quando ficam isoladas, não

têm condições de construir alternativas sistêmicas [...]. Se os insumos vêm de empresas capitalistas, a economia soli-dária continua contribuindo para reali-mentar o capitalismo, mesmo usando moedas sociais para fazer intercâmbios em seu interior na última etapa de circu-lação dos produtos. Também no caso de empresas de economia solidária, mes-mo sendo totalmente autogestionadas, tendem a continuar realimentando o capitalismo se não derem a devida aten-ção aos fluxos de valores que são reali-mentados por elas com suas práticas de consumo, de gastos, de compras [...].

CAMPONESA: Mas como se dá essa relação entre fluxos econômicos de empreendimentos solidários e a rea-limentação da concentração de rique-za no capitalismo?

Euclides Mance: Se o empreendimento

A experiência de organização em Rede dentro da Economia Solidária encontra-se em expansão. É sobre esse tema que Euclides Mance se debruça na sua fala, trazendo as definições sobre Redes de Cooperação Solidária no cenário brasileiro e internacional; sua forma de organização e funcionamento;

o desenvolvimento dos fluxos econômicos nos empreendimentos solidários; as perspectivas da economia solidária dentro das Redes como um exercício da liberdade, desenvolvendo a noção de Bem Viver; faz uma análise da importância das políticas públicas para o fortalecimento da Ecosol, além de destacar a economia solidária e os seus desafios frente as imposições do sistema capitalista

Rede de Cooperação Solidária como estratégia de expansão da liberdade pública e privada

Euclides MancePor Marialda Moura da Silva e Lidiane Freire

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solidário, com seus fluxos econômicos, permanece isolado de outros empreen-dimentos de economia solidária, mas continua conectado a empreendimen-tos capitalistas, seus valores econômicos vão alimentar a concentração capitalista e não a distribuição dos valores no setor da economia solidária [...].Desse modo, conectada a empresas capitalistas, seja comprando insumos, usando serviços financeiros ou vendendo produtos, a economia solidária contribui para a acumulação capitalista. E o consumidor continua pagando preços injustos. En-tão, o que acontece, se esses empreen-dimentos solidários, se essas iniciativas, ficam isolados eles não transformam a realidade e acabam contribuindo para reprodução do sistema capitalista.

CAMPONESA: Então, enquanto os empreendimentos solidários não se conectarem em redes eles tendem a realimentar o capitalismo?

Euclides Mance: É preciso entender os fluxos de matérias, de produtos (bens e serviços) e de matérias-primas. É preciso entender os fluxos de valores econômi-cos movimentados e como é que circu-lam no sistema com um todo. É preciso entender o fluxo de representações de valores, tais como moedas e créditos, e como elas são usadas para mediar flu-xos de concentração de valor econômi-co ou podem ser usadas em estratégias sustentáveis de distribuição de valor. Quando fazemos essa análise de fluxos econômicos, fica claro o seguinte: ou reorganizamos esses fluxos econômi-cos para que eles realimentem o setor da economia solidária, reorganizando as cadeias produtivas de fornecedores e clientes, para que elas realimentem o processo de desenvolvimento orgânico do setor da economia solidária, ou en-tão, não há como a economia solidaria se tornar uma alternativa sistêmica ao capitalismo. Como é que fazemos pra reorganizar esses fluxos econômicos, fluxos de produtos, de matérias primas, fluxos de valores econômicos, fluxos de representação de valor? Isso se faz organizando redes colaborativas soli-dárias, conectando Empreendimentos Econômicos Solidários e consumidores

realizando ações de finanças solidárias e desenvolvimento tecnológico criando laços de retroalimentação dentro dessas cadeias de consumo-compra-produção e, com isso, consolidamos os fluxos de produção-comércio-consumo-financia-mento-desenvolvimento tecnológico. Então, são processos que chamei, lá no final dos anos 90, de Colaboração Soli-dária; não é só atividade econômica, é também cultural, é também política [...] é uma economia de libertação.

CAMPONESA: Qual é o horizonte des-sa economia solidária organizada em redes colaborativas como economia de libertação?

Euclides Mance: A economia solidária, como economia de libertação, contribui para expandir as liberdades públicas e privadas. E, para expandir as liberdades, ela necessita considerar as condições concretas do seu exercício, que podem ser resumidas em quatro: a dimensão material, o exercício de poder, a edu-cação e informação e a ética. Tudo tem que ser visto em conjunto para realizar o bem-viver. [...] trata-se de romper cone-xões que nos fazem cúmplices da explo-ração de outras pessoas e da destruição dos ecossistemas [...]

se existe exploração do trabalho existe negação do bem-viver. Se existe degradação do planeta,

tem-se a negação do bem viver. Se existe discriminação da mulher, religiosa, sexual, pelo clube de futebol que a pessoa torce, já se está

negando o bem-viver das pessoas.

A integração dessas diferentes dimen-sões econômicas, políticas, culturais do processo de libertação é possível com uma estratégia que eu chamo de revolução das redes. A Revolução das Redes conecta o econômico, o político e o cultural de forma colaborativa. [...] Do ponto de vista da economia solidá-

ria, essas redes colaborativas podem se organizar como redes de cooperação econômica, mas se fazem só isso, elas se tornam limitadas, porquê a questão não é só cooperar economicamente. O que se pretende é construir outra so-ciedade; então elas tem que cooperar também do ponto de vista da educação e das outras dimensões da realização do bem-viver das pessoas. É necessária a autogestão, participar de processos de desenvolvimento territorial, com envol-vimento da comunidade [...]

Então, é bem mais que cooperar economicamente. A Economia somente é um dos elementos do exercício

da liberdade.

CAMPONESA: Então, como se estrutu-ram esses processos?

Euclides Mance: Partimos do consumo. [...] O que se busca é produzir e oferecer bens e serviços que atendam às neces-sidades das pessoas, gerando meios econômicos para assegurar o consumo para o bem-viver de todos [...]. Depois, num segundo momento, mapeiam-se os processos produtivos, de financia-mento, de comercialização que existem no território. [...] Há muitas formas de consumo não-monetário. Temos que mapear os diferentes fluxos para enten-dermos como podemos ativar circuitos que são poderosos na geração de bens e serviços, que muitas vezes não vão ao mercado, que são produzidos e circulam fora do mercado. [...] Na Pesquisa de Or-çamentos Familiares do IBGE são consi-derados os rendimentos não-monetá-rios referentes à alimentação, vestuário, higiene e cuidados pessoais, transporte, educação, recreação, etc. [...] A terceira etapa é conectar consumo e produção; é fazer a conexão entre consumo e aten-dimento sob demanda. Então, se temos uma demanda de pequena quantidade, vamos produzir pequena quantidade. Você não tem que produzir em esca-la para acessar mercados pelo mundo afora. Se a demanda é pequena, então é preciso encontrar uma solução de eco-

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nomia solidária para produzir aquele vo-lume e garantir o bem-viver da pessoa que vai consumir o produto, o bem-vi-ver de quem trabalha comercializando e produzindo, criando um circuito eco-nômico local que seja sustentável. [...] A quarta etapa do processo, de fato, é você reorganizar as cadeias produtivas como um todo fazendo diagnóstico dos fluxos nessas cadeias e reorganizan-do esses fluxos de modo que se possa expandir a sustentabilidade dessas ca-deias. [...] Então a opção poderá ser o comércio de tais produtos pelo fato de que serão igualmente gerados postos de trabalho locais no setor do comércio, haverá maiores excedentes para o fundo de desenvolvimento da rede local e me-nor escape de valor econômico da rede em seu conjunto [...].

CAMPONESA: Então, com a organiza-ção de redes colaborativas evita-se a evasão dos fluxos de valor e com isso os recursos gastos no consumo fortalecem os circuitos produtivos da rede?

Euclides Mance: Isso mesmo. Para que os fluxos de valores não escapem do circuito solidário que distribui renda e não sejam acumulados pelo circuito ca-pitalista que concentra a renda que nele circula, todos os produtos finais, servi-ços e matérias-primas que essas cadeias necessitam, devem ser servidos pela própria economia solidária; toda neces-sidade de logística, de comercialização, necessita ser atendida dentro da econo-mia solidária. Atualmente é impossível substituir tudo, pois não temos oferta. Mas, trata-se de avançar nesse sentido. [...] Com essa remontagem progressiva das cadeias produtivas, vão sendo forta-lecidos e consolidados os circuitos eco-nômicos solidários. Então, basicamente, esse é o modo para operacionalizar. Tem uma coisa super importante nessas re-des que é a organização de fundos de economia solidária. Toda rede de econo-mia solidária tem que ter um fundo que integra o capital de giro dos empreen-dimentos e os excedentes que eles ge-ram com um sistema interno de créditos resgatáveis a qualquer momento pelos empreendimentos. [...]. A gestão desse

fundo tem que ser tão cuidadosa quan-to à do capital de giro dos empreendi-mentos.

CAMPONESA: A organização de redes colaborativas de economia solidária avançou no Brasil nos últimos anos?

Euclides Mance: Sim, temos várias re-des estruturadas. Avançou-se muito na última década. Temos basicamente dois tipos de redes: as redes setoriais, por exemplo, a Rede Abelha que trabalha com o mel, a Justa Trama, com cadeia produtiva do algodão orgânico, a Rede ECOVIDA com produtos orgânicos e sis-tema participativo de garantia, a Rede Xique Xique, a rede de Bancos Comu-nitários e várias outras redes que são referências importantes, bastante con-solidadas, com toda uma trajetória de aprendizados a partir de suas próprias práticas que têm muito a nos ensinar. [...]

Estamos trabalhando Rede aqui no sentido de sua complexidade,

rede de sistemas abertos, redes nas quais emergem singularidades, nas quais estruturas são dissolvidas,

são dissipadas, e novas estruturas emergem permitindo expandir liberdades públicas e

privadas.

Então fluxos econômicos dentro de uma rede estão necessariamente conectados com o ambiente, sejam fluxos materiais dos ecossistemas, fluxos culturais da so-ciedade em que a rede está organizada, etc. [...] na medida em que a gente tem uma estratégia de desenvolvimento ter-ritorial sustentável, temos condições de projetar a remontagem dessas cadeias produtivas e a conexão delas entre si. E aí o que acontece? Vamos buscar aten-der todas as demandas existentes no circuito da economia solidaria. Não se trata de atender somente no território em que estamos, mas sim, no circuito da

economia solidária, local e global, a co-meçar pelo território onde estamos. As-sim, para atender a todas as necessida-des, pessoais ou dos empreendimentos e organizações, vamos buscar ofertas no setor da economia solidária, vamos tratar de consumir bens e serviços da economia solidária, a começar pelos produtos do território em que estamos. [...] Assim, quando projetamos a reorga-nização dos fluxos de bens e serviços, ficamos muito atentos, igualmente, na reorganização dos fluxos de valor para fortalecer o circuito de economia solidá-ria. Há redes estruturadas assim. [...]

CAMPONESA: Diante da perspectiva de que ações em Rede de Cooperação Solidária são estratégias para avançar em uma nova formação social, em sua opinião quais os principais desafios da organização e articulação dessas experiências?

Euclides Mance: Temos que enten-der que a superação do capitalismo, a superação das suas estruturas precisa compor ao mesmo tempo a dimensão cultural, política e econômica. [...] O problema é que ainda há uma falta de compreensão da própria dimensão eco-nômica da economia solidária. Há uma ênfase de que a economia solidária é um movimento social. [...]. O que iden-tifica a economia solidária, frente a to-dos os demais atores conhecidos como movimentos sociais, é o fato de que ela produz meios econômicos. [...] A econo-mia solidária pode se caracterizar como um movimento social que reivindica políticas públicas, reivindica recursos do Estado. Mas, se for desconsiderada a dimensão verdadeiramente econômi-ca da economia solidária, se não forem reorganizadas as cadeias produtivas, se não forem feitos investimentos solidá-rios em conjunto, não forem comparti-lhadas as tecnologias desenvolvidas, se os atores da economia solidária não or-ganizarem processos logísticos, se não fizerem finanças solidárias de maneira colaborativa e solidária, a economia solidária não vai superar o capitalismo [...]. Então, são fundamentais essas três dimensões no processo organizativo. A economia solidária é, antes de tudo, ati-

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vidade econômica. É produzindo meios e valores econômicos que a economia solidária torna-se capaz de atender às suas próprias necessidades de expan-são. Por isso um importante desafio é difundir a prática do consumo solidário. Conforme o mapeamento de 2007, que alcançou pouco mais da metade dos municípios do Brasil, temos 22 mil ini-ciativas de economia solidária mapea-das no país. São um milhão e setecentos mil trabalhadores e trabalhadoras. [...] A questão é entender o potencial de con-sumo de milhões e milhões de famílias que, de alguma maneira, estão integra-das na economia solidária, no movimen-to sindical, no movimento popular, em comunidades eclesiais, no campo que luta pela transformação da sociedade, mas que, com seu consumo, continuam reproduzindo a mesma concentração de riqueza que elas combatem em seus discursos. [...]

CAMPONESA: O que é o Bem Viver? E como se consolida na construção das práticas da Economia Solidária no Brasil?

Euclides Mance: O bem-viver, como conceito filosófico, surgiu dentro da filo-sofia da libertação. Quando se trata da libertação e não apenas da liberdade, afirma-se que é necessário assegurar a todas as pessoas as condições econô-micas, ecológicas, políticas, educativas, informativas e éticas para realizar as suas liberdades, tanto públicas quanto privadas [...]. Ao analisar as condições para realizar as liberdades podemos agrupá-las em quatro eixos. O primeiro é a condição material que é tanto ecológi-ca quanto econômica [...]. Uma segunda condição é a condição política, tanto do exercício do poder em nossa vida priva-da, do dia a dia, quanto do seu exercício na esfera da vida pública, da sociedade. No primeiro caso, temos a micro-política do cotidiano [...]. Não podem ser discri-minadas nenhuma mulher, nenhum ne-gro, nenhum índio ou qualquer pessoa em particular, por qualquer coisa que seja relacionada a características físicas ou raciais ou ao exercício ético da sua autonomia privada. No segundo caso, tem-se a esfera pública, de participar na

decisão do que se refere à auto-regula-ção pública da sociedade [...], ter a pos-sibilidade de participar nos conselhos, dos referenduns e plebiscitos e de todos os demais mecanismos de participação popular, que devem ser assegurados para se exercer o direito de decidir sobre a política pública. A terceira condição é da informação e educação, pois se te-nho as condições materiais e as condi-ções políticas de decidir, mas não tenho as informações relevantes e suficientes; se só me deram acesso a uma parte da informação e não me deram a outra parte dela, acabo por decidir em favor de algo, mas talvez decidisse por outra coisa se tivesse a informação relevante e suficiente para formar o meu juízo. [...] Então é fundamental que tenhamos acesso a amplos conjuntos de informa-ções que possam ser pesquisadas em sua relevância para os nossos diferentes propósitos, que tenhamos a abertura à interculturalidade [...]. E, por fim, a quar-ta condição também fundamental, é a condição ética. A liberdade somente é eticamente exercida quando promove a liberdade dos outros. [...]. Então, o bem-viver é uma categoria filosófica muito importante para criticar toda forma de dominação e toda forma de libertação. [...].

CAMPONESA: A articulação e orga-nização entre experiências de pro-dução, comercialização e consumo solidário desencadeiam um proces-so educativo, com resgate cultural, e foco nas dimensões sociais, políticas e econômicas. Em que impacta na or-ganização da sociedade?

Euclides Mance: A economia solidária, em sentido geral, tem um projeto de sociedade. Mas, dependendo do modo como se compreende a economia so-lidária, os traços desse projeto variam. Muita gente está na economia solidária pensando em como ampliar a sua renda. E esse comportamento é legítimo, pois se a pessoa se encontra na exclusão, na pobreza, tem que se preocupar em como melhorar o consumo dos filhos, de toda a família e de si mesmo, ter uma casa, serviços de saúde e educação. Mas, além de atender às demandas imediatas

a economia solidária deve reelaborar e explicitar cotidianamente visões de mundo dialogicamente formuladas, co-nectadas a um projeto de mudança es-trutural de sociedade. [...] é fundamental entender isso: o capitalismo concentra valor e a economia solidária distribui valor. [...] é necessário ir reorganizando as cadeias produtivas, substituindo pro-vedores não-solidários e não-ecológicos por provedores solidários e ecológicos, não apenas pelo motivo dos fluxos econômicos, mas igualmente em razão dos fluxos de poder. [...] No local onde as pessoas trabalham elas tem que ter o poder de decidir juntamente com os demais trabalhadores. As pessoas têm o direito de participar nas decisões sobre as coisas que consomem, sobre o preço dos produtos que compram [...]. A eco-nomia solidária, quando fala em outro projeto de sociedade visa empoderar as pessoas no sentido de que todo mundo deve ser respeitado em sua dignidade como pessoa, que o bem-viver de cada uma delas tem que ser desejado e pro-movido, considerando-se as quatro con-dições da liberdade já citadas anterior-mente, especialmente a condição ética. [...]. Trata-se de propagar relações de solidariedade entre todas as pessoas em todas as dimensões da vida.

CAMPONESA: Diante de processos participativos de avaliação das polí-ticas públicas em economia solidária no Brasil vem sendo percebido que a estratégia de articulação entre EES em Redes pode ser uma alternativa viável para o fortalecimento social e econômico dessas experiências. Com isso como você percebe a criação de Redes a partir do fomento das políti-cas públicas em economia solidária (a exemplos das chamadas 2012 da SE-NAES/MTE)?

Euclides Mance: É preciso entender que há muitos e diferentes tipos de re-des. [...] Do ponto de vista da sociedade todos nós participamos de muitas redes, redes familiares, redes de amigos, redes econômicas, entre tantas outras. [...] a ló-gica das redes colaborativas de econo-mia solidária, que são redes integradas com o objetivo de diversificar a oferta de

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meios econômicos para o atendimento das necessidades diagnosticadas, reor-ganizar os fluxos de valor no interior do próprio setor da economia solidária, para promover a sua expansão auto-sustentada a partir das necessidades de consumo das famílias, governos e em-preendimentos a serem atendidas com fluxos do próprio setor solidário e para organizar sistemas de crédito solidários sob o paradigma da abundância e não para unir-se em busca de disputar mer-cados não se sabe onde - se no bairro ou no outro lado do mundo - sob o mesmo paradigma da escassez em que a entre-ga do produto somente é feita mediante o recebimento de dinheiro ou de crédi-tos lastreado em propriedades. Corre-se o risco de defenderem a remontagem de cadeias produtivas para ampliar a capacidade dessas cooperativas em ge-rarem resultados para si mesmas e para fazerem maiores investimentos para a redução de custos de aquisição, comer-cialização, logística, etc.[...]. Porque tem muita gente que entende a economia solidária a partir da forma de organizar um empreendimento. “Se nós estamos aqui no empreendimento autogestio-nado e supra-familiar, cooperamos e somos solidários entre nós, então so-mos economia solidária” [...]. Vejo com grande alegria que estão avançando as discussões sobre redes colaborativas no setor da economia solidária. Mas tenho a preocupação de que não seja apenas para criar redes ao estilo de redes capi-talistas, porque se for para criar redes ao estilo capitalistas, colaborativas no modo capitalista de ser colaborativo, en-tão estamos perdendo uma oportunida-de histórica que é de fato fazer avançar

uma verdadeira revolução econômica. Por que as redes solidárias são isso, uma revolução econômica para expandir o bem-viver de todo mundo, não só de quem está dentro do empreendimento, que já tem assegurada a possibilidade de satisfação de suas demandas. Temos que desenvolver uma estratégia que inclua: expandir as redes por territórios mais amplos, alcançando suas diferentes populações com atenção especial aos mais empobrecidos; diversificar o con-junto da produção para o atendimento dos diferentes segmentos de consumo; produzir os bens e serviços que ainda não sejam oferecidos na economia soli-dária; gerar soluções de comercialização e de logística para alcançar maiores re-giões; criar e consolidar novos empreen-dimentos com os próprios recursos da economia solidária, levando em conta a importância da auto-organização eco-nômica das populações em suas enti-dades de economia solidária, do modo como elas queiram se organizar, porém respeitando os princípios e valores éti-cos da economia solidária [...]. Isto é, se de fato forem construídas redes de economia solidária, compreendendo-se a economia solidária como economia de libertação, será um avanço impor-tantíssimo [...] A organização solidária de seu consumo gera riqueza. A orga-nização de suas atividades de compras gera riquezas. A organização de suas atividades de comercialização, produ-ção e serviços, gera riquezas. Ou com-preendemos que a economia solidária, como economia de libertação, organiza estratégias econômicas colaborativas que asseguram a sua própria autossus-tentação pelo compartilhamento das

riquezas que ela gera incluindo as po-pulações empobrecidas dos territórios em fluxos de consumo, comércio, pro-dução e serviços ou então continuará sendo reproduzido o discurso que fala de economia solidária, mas a pensa com as chaves da lógica capitalista [...]. A pro-moção do bem-viver de todos e a auto-sustentabilidade da economia solidária devem estar no centro de qualquer rede colaborativa de economia solidária indi-cando a capacidade que ela tem de se sustentar, integrar progressivamente as populações - particularmente as mais empobrecidas - e de se auto-expandir em proveito do bem-viver de todos. Isso implica em considerar tudo o que conversamos anteriormente sobre flu-xos econômicos, Fundos Solidários e a economia solidária como economia de libertação.

Se for com essa perspectiva avalio que a organização de redes solidárias com o apoio de recursos públicos poderia significar um grande avanço

para o fortalecimento da economia solidária no Brasil e, igualmente,

para o desenvolvimento sustentável de nosso país.

Acessar a entrevista completa no link: http://www.fbes.org.br/index.php? opt ion=com_docman&task=doc_ d o w n l o a d & g i d = 1 7 8 7 & I t e m i d = 99999999.

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Mais de 50 municípios foram con-templados pelo projeto e conseguiram promover e consolidar mudanças que dizem respeito às políticas relacionadas à Economia Solidária. Desde o fortale-cimento dos fóruns e espaços que dis-cutem essa economia, ao acompanha-mento aos grupos produtivos e ainda o apoio às atividades de formação. Esse projeto contou com um vasto leque de metas a ser alcançado, assim como tam-bém contou com uma grande e diver-sificada equipe para operacionalizar e sistematizar as ações pensadas e enca-

deadas para o sucesso do projeto.“Foram 54 agentes para acom-

panhar 163 empreendimentos econô-micos solidários, 04 Articuladoras Esta-duais, 02 auxiliares administrativas e 01 coordenação regional. Juntos, enfrenta-mos o desafio de realizar oficinas para identificar problemas e soluções viven-ciados pelos EES, sistematizar essas in-formações, acompanhar a organização e gestão dos EES, além de articular polí-ticas públicas territoriais para o seu for-talecimento” explica a coordenadora do projeto Marialda Moura da Silva. De for-

ma que, a dimensão e as possibilidades de desempenhar o trabalho no campo da Economia Solidária foi o tempo todo muito articulado entre essa equipe.

O projeto foi concebido a partir da atuação da AACC/RN com a expe-riência acumulada do Núcleo Estadual de Assistência Técnica à Economia Soli-dária (NEATES) e o acúmulo através da participação no Fórum Estadual de Eco-nomia Solidária do RN, explica Marialda, também coordenadora da instituição, que há mais de 27 anos trabalha em prol da agricultura familiar sustentável

Olhares para o Brasil Local Nordeste I

Por Bethânia Lima

Com o objetivo de promover o desenvolvimento local através do fortalecimento dos empreendimentos de economia solidária nos estados do Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará e Maranhão, a Associação de Apoio às Comunidades do Campo desenvolveu o projeto Brasil Local Nordeste I – Projeto realizado com

apoio da SENAES-MTE desde 2009.

Reportagem | 15

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junto às famílias do semiárido no RN. As contribuições junto à Rede Xique Xique - rede que comercializa e desenvolve vá-rias atividades junto aos grupos produ-tivos em vários territórios do estado, e que tem como princípios vários valores que fortalecem a Economia solidária e a agroecologia - também foram decisivas para consolidar a AACC/RN e o seu tra-balho em Economia Solidária e assesso-ria, junto ao Brasil Local.

Tão importante quanto a refe-rência da AACC/RN foi o forte trabalho de parceria desenvolvido para que esse amplo projeto ganhasse “corpo”. “Se faz necessário pensar a Economia Solidária como uma estratégia na construção de um desenvolvimento realmente susten-tável que passa pelo consumo respon-sável, cuidado com o meio ambiente e com as pessoas”, ressalta Marialda. A Economia Solidária se coloca como uma alternativa real de organização da pro-dução e da comercialização tendo como princípio fundamental a autogestão e a solidariedade entre indivíduos.

As dinâmicas das parcerias e as conquistas solidárias...

Para o trabalho do Brasil Local chegar aos estados foi realizada uma parceria no Ceará, com o Instituto Flo-restan Fernandes; no Piauí, com a Coo-perativa de produção e Serviços de Téc-nicos Agrícolas (Cootapi); no Maranhão, a Associação Agroecológica Tijupá completou a cadeia de parcerias que ajudou a conceber a estruturação do projeto e operacionalizar as ações, res-gata Marialda.

Todas as instituições parceiras possuem um histórico com trabalho de apoio aos agricultores familiares e alter-nativas de convivência com o semiárido, respeitando e considerando ainda as perspectivas da agroecologia, de gêne-ro e da comercialização solidária.

Para Maria Luiza Mendes, do Gru-po de Mulheres Negras Maria Firmina, o Brasil Local foi muito positivo, porque aconteceu com a parceria e em harmo-nia com o Fórum Local do Maranhão. Era uma decisão do Fórum de Economia Solidária do Maranhão, acompanhar “de perto” o desenrolar do projeto, pois o entendimento sempre foi o de que “as

políticas públicas, que são reivindica-ções nossas precisam estar em sintonia conosco e se essas políticas não servi-rem para fortalecer o movimento de economia solidaria, não nos interessam”, diz convicta Maria Luiza.

Segundo Maria Luiza, no estado o avanço devido ao projeto foi grande, pois não houve apenas uma aproxima-ção e sim uma integração entre o Brasil Local e o Fórum, e isso ajudou a ampliar e interiorizar o fórum estadual, além de ajudar a criar novos fóruns locais.

Para ela, integrante de um em-preendimento autogestionário consti-tuído por mulheres, pode-se dizer que a expectativa é que o movimento da economia solidária de fortaleça ganhe corpo e seja reconhecido pela socieda-de, por outros movimentos e pela aca-demia. “Ganhamos experiência a partir das participações em eventos, cursos de formação, coordenações e, principal-mente, com o nosso empreendimento”, conclui Maria Luiza.

A atuação dos Agentes de De-senvolvimento Solidário.

O fato dos Agentes de Desenvol-vimento Solidário estar sempre envol-vidos e participando dos fóruns foi um dos pontos que enalteceu e agilizou o funcionamento do projeto. “Como os agentes estavam muitas vezes envolvi-dos com os empreendimentos, e estes ligados a rede, então os informes e os andamentos eram bons”, lembra Izabel Forte, do estado do Ceará.

A Rede Cearense de Socioecono-mia Solidária também foi contemplada e soube contemplar o Brasil Local, ao ser um espaço de circulação de infor-mações e encaminhamentos para a fun-cionalidade do projeto, a Rede Cearense acabou exercendo um importante pa-pel para a troca de experiências e ainda o controle social das ações. “É preciso ainda melhorar em alguns pontos para o fortalecimento do movimento, mas foi uma boa aproximação entre o Brasil Lo-cal e a Rede”, conclui Izabel.

O fortalecimento da ação do agente também foi relevante em outros aspectos, como enfatiza Lidiane Freire ao se referir a atuação de um dos agen-tes, os resultados e ganhos no seu de-

senvolvimento “Tivemos um agente, de origem quilombola, da comunidade Ca-poeiras, município de Macaíba. Jovem, tímido, e teve muita dificuldade em ini-ciar os trabalhos nos grupos da comu-nidade. Tradicionalmente há lideranças e hierarquias na comunidade, e por ser jovem teve o desafio de se fazer ouvir e convencer os grupos sobre a importân-cia da ação e do fomento a economia solidária na comunidade. Também apre-sentava dificuldade com a escrita, em sistematizar os processos e experiência vividas, além de ter vergonha de se ex-por, de fazer falas e apresentar algo no coletivo. Com os processos de formação e acompanhamento no Brasil Local con-seguiu superar boa parte desses limites, melhorou a escrita, compreendeu a di-nâmica de sua comunidade, fortaleceu politicamente suas opiniões, e hoje re-lata que fazer parte do Brasil Local e ser agente de desenvolvimento solidário, foi de muita importância para sua vida”.

Isso confirma a economia solidá-ria como um espaço de mobilização so-cial e de articulação de pessoas em prol de objetivos comuns. Nesse aspecto, a articulação d economia solidária com as diferentes temáticas, desenvolvimento local sustentável, agroecologia, econo-mia feminista e sua viabilidade através de metodologias participativa, se apre-sentam como elementos que tem moti-vado a busca por outro mundo melhor e mais justo, a luta pela igualdade social, especialmente no que se refere a igual-dade entre mulheres e homens na so-ciedade, a credibilidade nas pessoas, o respeito a natureza e todos os atributos que ela nos proporciona. A confiança na responsabilidade de cada pessoa no trato com a natureza e zelo pela coleti-vidade. A busca cotidiana pelo conheci-mento e reconhecimento dos sujeitos locais e a troca de experiências indica que outro mundo possível de se viver.

16 | Reportagem

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Artigos | 17

No Brasil, com base em experiências de grupos de mulheres, mistos, quilombolas, ribeirinhos, dentre outros que buscam promover o desenvolvimento social, político e econômico a partir da realidade e potencialidade local, seja na agricultura, na pesca, no artesanato ou agroindústria da agricultura familiar.

Seja no meio rural ou urbano, por todos os cantos e atividades, percebe-se a economia solidária ou sinais de sua construção. Reconhecida como modelo de economia que nasce da necessidade eminente de transformação da vida de mulheres e de homens, que diante de sua prática buscam na organização coletiva e autogestionária de trabalho a alternativa para superar as consequências do modelo econômico neoliberal como pobreza, o desemprego e a desigualdade social.

A ação de ADLS como estratégia de fortalecimento da economia solidária e políticas públicas - Projeto Brasil Local Nordeste I

Ivi Aliana Dantas1 Lidiane Freire de Jesus2

No Nordeste brasileiro é possível perceber, a partir dos dados disponibili-zados no mapeamento dos empreendi-mentos econômicos solidários, apoiado pela SENAES/MTE no ano de 2007, a di-versidade de experiências coletivas que em seu cotidiano envolvem-se nos prin-cípios políticos sociais da economia soli-dária no ambiente da produção, comer-cialização, consumo e serviços, sejam em redes de produção/comercialização,

seja os grupos individualmente. O sis-tema registra 9.498 empreendimentos econômicos solidário identificados.

Neste cenário é elencado e de-mandado políticas públicas que venham atender as necessidades das experiên-cias coletivas como o acesso ao crédito, assistência técnica, apoio a produção, comercialização, formação, etc. Dentre as ações de políticas públicas destaca-mos o Projeto Brasil Local - Desenvolvi-

mento Local e Economia Solidária NE1, executado pela Associação de Apoio às Comunidades do Campo do RN, nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.

O projeto desencadeou um pro-cesso de avaliação que aponta alguns elementos relevantes que podem con-tribuir para ações sistemáticas e de con-tinuidade para política nacional de eco-nomia solidária.

1Ivi Aliana Dantas. Engenheira Agrônoma. Foi contratada como consultora para realizar a avaliação do projeto Brasil Local Nordeste I, trabalha com assessoria a organização de mulheres no Centro Feminista 08 de Março.

2Lidiane Freire de Jesus. Especialista em Economia Solidária. Participou do Projeto Brasil Local NE-1, como articuladora Estadual do Rio Grande do Norte.

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Foram realizadas diferentes ações de articulação institucional tanto nos Es-

tados como nos municípios de atuação do projeto que envolveu os fóruns es-taduais de economia solidária, as ações de formação do Centro de Formação de Formadores/as em Economia Solidária (CFES), a participação nos colegiados ter-ritoriais e espaços de articulação local.

Foram fortalecidas e apoiadas a or-ganização de feiras de economia

solidária e espaços de comercializa-ção solidária que contribuíram para o fortalecimento dos empreendimentos econômicos solidários, bem como a gestão e auto-organização dos gru-pos.

O projeto conseguiu atender 2.319 mulheres, 1.148 homens e 719 jo-

vens organizados através de 71 associa-ções, 05 cooperativas, 78 grupos infor-mais, 01 banco comunitário, conforme apresenta o Banco de dados organiza-dos pela AACC/RN, no início do projeto. Os EES estão organizados através de ex-periências de apicultura, artesanato, be-neficiamento (coco babaçu, mandioca, castanha, mel, peixe, frutas), produção agrícola diversificada (hortifrutigran-jeiros, criação de pequenos animais), panificação (massas, doces, salgados), corte e costura, turismo comunitário e reciclagem.

Foram capacitados 54 agentes de de-senvolvimento solidário, 06 profis-

sionais que se responsabilizaram com a articulação da economia solidária em cada Estado, 01 coordenação regional, e 02 profissionais dedicadas às atividades administrativo-financeiras do projeto.

O Processo de Planejamento Monito-ramento, Avaliação e Sistematização

(PMAS) contribuiu para identificar possí-veis problemas no uso da metodologia utilizada e também foi uma ferramenta de monitoramento das ações do Projeto.

A missão desta ação foi “promover o desenvolvimento local através do fo-mento, e/ou fortalecimento de empreen-dimentos de economia solidária por meio de Agentes de Desenvolvimento Solidá-rio, envolvendo 47 municípios da região Nordeste 1 (RN, CE,PI e MA)”, com equipe de 1 coordenação geral NE1, 4 articula-dores estaduais, além de 54 agentes de desenvolvimento local - ADL, apoiando e acompanhando a experiência de 162 em-preendimentos econômicos solidários.

Mediante metas estabelecidas que solidificaram a ação, tais como o fortaleci-mento ou criação de espaços locais de dis-cussão da economia solidária (GT’s Locais);

realização de diagnósticos e planejamen-tos estratégicos com os empreendimen-tos; formação permanente da equipe, é relevante destacar que o processo desen-volvido no âmbito de sua execução não aconteceu de forma isolada, fechada em seus objetivos e metas a serem alcança-das. O Projeto Brasil Local-NE1 percorreu o caminho do diálogo e construção par-ticipativa envolvendo fóruns locais e esta-duais no seu processo de organização.

O eixo balizador do projeto e suas ações é o desenvolvimento local, dialo-gando assim com a prática da economia solidária como alternativa de um desen-volvimento que estabelece relações hori-

zontais no ambiente do trabalho e demais dimensões da vida. Diante dessa perspec-tiva os empreendimentos solidários estão na luta para realizar mudanças estruturais e se apropriar dos meios para as transfor-mações necessárias em suas vidas, não se tratando, portanto, apenas de alternativa para o emprego, mas efetivamente, con-solidando-se como um amplo processo de cooperação em torno do desenvolvi-mento local enquanto um caminho ver-dadeiro na construção de uma sociedade baseada na solidariedade.

A presença de Agentes de Desen-volvimento Local, atuando como mobi-lizadores da economia solidária possi-

bilitou reduzir em diferentes aspectos o isolamento em que uma parcela signifi-cativa de empreendimentos econômicos solidários se encontram. O agente traz consigo a responsabilidade de mobilizar, de articular parcerias, de auxiliar no acesso a políticas públicas e de sensibilizar os ato-res locais, tais como sociedade civil orga-nizada e gestores públicos, para a econo-mia solidária, envolvendo diretamente os empreendimentos apoiados na dinâmica social do município.

Observa-se a ausência de políti-cas municipais em economia solidária no âmbito de atuação do projeto Brasil Local NE1, dificultando a evolução e manuten-ção dos empreendimentos existentes, condição esta que revelou-se em obstá-culo ainda maior a ser superado também pelos ADL´s na execução de suas ações e alcances de suas metas.

Parte das principais ações desen-volvidas no âmbito do projeto se deu com uma metodologia própria, desen-volvida e sistematizada em uma cartilha publicada e amplamente divulgada pela AACC/RN com orientações referentes as etapas para realização de diagnóstico participativo e planejamento estratégico, junto aos empreendimentos beneficia-dos. Do mesmo modo, foi elaborado e entregue ao Agente de Desenvolvimento Solidário, um caderno composto de orien-tações sobre os principais temas aborda-dos pela economia solidária no Brasil, e de técnicas de construção participativa dos planos de economia solidária, subsidian-do o seu trabalho. Estes instrumentos se evidenciaram como um dos resultados destacados pelos ADS, refletindo na con-solidação de uma metodologia de traba-lho, norteadora de processos formativos

sistemáticos, ampliando uma ação para servirá de orientação para além dos obje-tivos Projeto Brasil Local Nordeste I.

Por fim, pensar o contexto de in-serção da experiência desenvolvida pelo projeto Brasil Local NE1 dentro de um programa de política pública, torna-se im-prescindível perceber e reconhecer a ca-pacidade de interlocução desta ação com as diferentes ações locais e territoriais no âmbito das políticas públicas e de organi-zações da sociedade civil. Dessa forma, é necessário abordar a economia solidária enquanto estratégia de desenvolvimento local, que prima por melhores relações e qualidade de vida, fomentando a necessi-dade da organização política, econômica e social dos empreendimentos econômi-cos solidários.

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A padronização desse modelo de desenvolvimento é imposta aos países ditos periféricos como possibilidade de modernização e de crescimento. Para Coraggio (2000), na América Latina, esse modelo de desenvolvimento trouxe resultados negativos que colocam em crise as economias locais, submetem ou destroem práticas e culturas tradicio-nais, por meio da exploração dos recur-sos naturais e da mão de obra local. Ao introduzir técnicas sofisticadas do capi-tal que tem provocado a substituição do trabalho humano e a degradação das condições e expectativas de vida.

No modelo de desenvolvimento capitalista, marcado por grandes proje-tos, não cabem os povos tradicionais e é na contramão desse modelo e na sub-versão dessa ordem que a discussão do etnodesenvolvimento ganha força e vai se concretizando em lutas específicas e

conjuntas das comunidades tradicionais como estratégia de outro modelo de de-senvolvimento com enfoque na riqueza da diversidade e multiplicidade de po-vos e comunidades tradicionais.

Nesse sentido, o etnodesenvol-vimento exige, como bem lembra Sta-venhagen (1985), o esforço de construir coletivamente uma proposta que parta do chão dos próprios grupos étnicos no interior de sociedades mais amplas, nas suas duas acepções, ou seja, tanto no de-senvolvimento econômico de um grupo étnico, quanto no desenvolvimento de sua etnicidade. Partindo das necessida-des das comunidades, na distribuição e de partilha dos bens produzidos, coloca a valorização e ampliação dos saberes endógenos na busca de solução dos problemas locais, numa ação de partici-pação mais plena e de autonomia frente a modelos exógenos.

Nesse aspecto, tem presente em suas práticas de produção da vida uma relação de respeito e interdependên-cia com os recursos naturais, portanto de preservação e conservação do meio ambiente num plano de auto-susten-tação da comunidade. É um projeto comunitário, de múltiplas dimensões: educativo, político, simbólico, cultural, se contrapondo totalmente ao modelo capitalista, que por sua vez, se nutre de diferentes manobras políticas para seu fortalecimento em detrimento da explo-ração e acúmulo de riquezas.

A PEC 2152 é uma prova dessas manobras e uma afronta às populações tradicionais, pois coloca os interesses dos povos indígenas à mercê da von-tade e dos interesses econômicos da bancada ruralista e de seus aliados no parlamento. As luta dos povos indíge-nas contra a PEC 215 é também a luta de

A emergência da temática e do debate do etnodesenvolvimento se inscreve na conjuntura que vai sendo desenhada nos últimos anos da década de 1980 e se aprofunda nos anos de 1990. Essas décadas se tornam palco das deliberações que estruturam as bases de uma política econômica e social para o ajuste

de todas as nações à nova ordem mundial neoliberal, baseada numa “receita” de crescimento econômico, no domínio dos mercados monetários e financeiros, no crescente processo de industrialização e do progresso tecnológico.

Etnodesenvolvimento: histórias, lutas e conquistas no Brasil

Juscilene Barbosa1

1Juscilene Barbosa é Pedagoga, estudante de Ciências Sociais. No período de 2009 a 2012 foi Articuladora Estadual do Projeto Brasil Local no Maranhão. Atualmen-te é coordenadora da Cooperativa de Trabalho e Comercialização Solidária Tecendo Sonhos –COOTECSOL no Maranhão.

2A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que retira o poder da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e do Executivo de promover a demarcação das reser-vas indígenas no país e a transfere para o Legislativo, foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

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todas as populações tradicionais pela vida e por um projeto próprio que hoje se traduz na proposta do etnodesenvol-vimento.

Nesse contexto, a Economia So-lidária é apontada como um dos eixos estruturantes do etnodesenvolvimen-to. Encontra suas raízes nas práticas produtivas e reprodutivas da vida das comunidades e povos tradicionais. Na solidariedade, na partilha, na produção, autogestão da comunidade e dos bens e riquezas de seus territórios, por meio da posse coletiva da terra e dos meios de produção.

As diferentes formas de partilha e de organização do trabalho, dos traba-lhadores e trabalhadoras que as popula-ções tradicionais mantém vivas, indicam que a prática da Economia solidária não é algo novo ou dado, mas enraizado nos fazeres cotidianos desses povos. Essas comunidades e populações não estão dispostas a colocar suas terras e sua cultura como elementos de transação comercial, visto que têm suas práticas mediadas pela solidariedade e não pelo lucro e vantagens ou crescimento eco-nômico. Colocam o bem viver, acima das práticas comerciais. Nesse sentido, pra-ticam e dão um sentido comunitário à Economia Solidária.

Se os povos tradicionais têm par-ticipado de forma intensa nas plenárias e conferências e outros eventos macros de Economia Solidária e apontado à im-portância desta é porque a proposta da Economia Solidária se coaduna com a do etnodesenvolvimento. Essa partici-pação demonstra uma relação orgâni-ca que tem se construído e ampliado cada vez mais. Há representação dos povos e comunidades tradicionais em diferentes instâncias que discutem, formulam e implementam ações, pro-jetos e políticas de Economia Solidá-ria, a exemplo do Conselho Nacional de Economia Solidária. Com propostas de projetos e políticas com foco espe-cífico nas comunidades tradicionais e com objetivos de fortalecer suas prá-ticas, sua etnicidade e sua autonomia.

Há, no entanto, uma contradi-ção nesses processos quando se pensa na autonomia como um dos valores da

Economia Solidária. Muitos projetos voltados para o etnodesenvolvimen-to, mesmo sendo apontados como avanços, ainda apresentam e encon-tram muitos limites de ordem política, econômica, cultural e muitas vezes o processo de formulação ocorre à re-velia do chão das comunidades a que se destinam e chegam às mesmas como pacotes prontos e como, “recei-tas” acertadas, que mesmo com toda “a boa vontade” negam o direito pleno de autodeterminação desses povos e de sua participação plena na constru-ção das propostas que lhes dizem res-peito.

O jornalista Quêner Chaves dos Santos, militante político e que as-sessorou o Etnodesenvolvimento do Projeto Brasil Local, lembra em artigo recente, que o etnodesenvolvimento e a Economia Solidária têm uma relação cíclica, há um fortalecimento recípro-co. Se as políticas de Economia Solidá-ria do governo federal têm programas específicos para as comunidades qui-lombolas, os povos tradicionais com suas práticas solidárias fortalecem a economia solidária. Lembra Quêner, o fato do movimento de economia soli-dária assumir, durante a I Conferência Nacional de Economia Solidária em 2006, o fortalecimento das lutas des-sas comunidades, especialmente no que concerne à titulação de suas ter-

ras. Para esses povos a regularização fundiária é um dos pressupostos estru-turantes do etnodesenvolvimento e quando a Economia Solidária assume junto essa luta, a relação orgânica se fortalece, se renova e se revigora.

No âmbito das políticas públi-cas, foi criado em 2005, o Projeto de Promoção do Desenvolvimento Local e Economia Solidária, hoje intitulado Brasil Local, como um programa espe-cífico da SENAES através do Ministério do Trabalho e Emprego. Foi construído como uma política de fortalecimento dos povos e comunidades tradicionais, por meio de uma metodologia cons-truída para o seu desenvolvimento. Em sua primeira versão, o projeto Brasil Local foi pensado para as co-munidades quilombolas, chamado de Programa Brasil Quilombola (PBQ) e considerado pela SENAES como projeto-piloto de desenvolvimento. Com questões específicas direcio-nadas as comunidades quilombo-las e contribuiu para a instituição da Agenda Social Quilombola. Essa agenda reúne questões consideradas centrais e estruturantes para o etno-desenvolvimento das comunidades tradicionais, a exemplo da regulari-zação fundiária, infraestrutura e qua-lidade de vida dessas comunidades.

Ainda em 2005, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), atra-vés da Secretaria Nacional de Econo-mia Solidária (SENAES), cria o Projeto de Etnodesenvolvimento Econômico Solidário das Comunidades Quilom-bolas, por meio da atuação dos agen-tes quilombolas, como dinamiza-dores das ações do programa. Entre essas, a identificação e um trabalho de fortalecimento dos empreendi-mentos econômicos solidários de 216 comunidades quilombolas em 23 estados brasileiros. Uma ação da atuação desses agentes que merece destaque foi o projeto que resultou na implantação do primeiro banco qui-lombola do Brasil, o Banco Quilombola de Alcântara, no Maranhão.

Criado de um projeto coletivo, com uma moeda social própria, o Gua-rá. O Banco Quilombola de Alcântara

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BIBLIOGRAFIACORAGGIO, José Luis. Desenvolvimento Humano e educação. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2000SANTOS, Quêner Chaves dos. Economia Solidária e o Etnodesenvolvimento: construindo uma política pública. S/data. STAVENHAGEN, R. Etnodesenvolvimento: uma dimensão ignorada no pensamento desenvolvimentista. Anuário Antropológico, 84, p. 11-44, 1985.

representa essas potencialidades que são possíveis de serem ativadas quan-do o desenvolvimento é pensado de forma endógena, construído nas dimen-sões da etnicidade de cada povo. Mes-mo com as dificuldades que esse banco pode apresentar a experiência rica e bela de construir um banco comunitário com uma missão de impulsionar a cons-trução do etnodesenvolvimento, de fortalecer a etnicidade da comunidade, com um conselho gestor comunitário e territorial, algo valioso que precisa ficar registrado. Essa história contribui para a contrahegemonia ao capital financeiro especulativo. O Banco Quilombola de Alcântara representa outros possíveis.

Numa nova versão, já em 2006, a SENAES amplia essas ações e cria o Pro-jeto de Promoção do Desenvolvimento Local e Economia Solidária - PPDLES. A ideia continuou alicerçada nos mesmo pilares da versão anterior, só que de for-ma mais ampliada, atingindo vários seg-mentos: comunidades urbanas, rurais, tradicionais, tendo por dinamizadores os Agentes de Desenvolvimento Solidá-rio que pertenciam às próprias comu-nidades/empreendimentos que seriam assessorados, animados e fortalecidos nas suas atividades autogestionárias. Em 2007 o projeto foi ampliado, porém sofreu problemas com descontinuida-des.

Em 2008 o Projeto PPDLES pas-sou a ser denominado - Brasil Local: Desenvolvimento e Economia Solidária, executado pela Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecno-lógicos – COPPETEC em parceria com o Núcleo de Solidariedade Técnica - SOL-TEC/ UFRJ e com a Coordenação Nacio-nal de Articulação das Comunidades Quilombolas - CONAQ. Teve como obje-tivo “Contribuir para o etnodesenvolvi-mento através do fomento à Economia Solidária e o fortalecimento da organi-zação nacional e das organizações locais dos quilombolas, junto com os agentes de desenvolvimento local, por meio de

processos de formação dialógicos, da pesquisação, formação de redes e de ca-deias produtivas.”

Em sua missão, o projeto bus-cou trabalhar o etnodesenvolvimento nas comunidades quilombolas voltado para atividades produtivas realizadas nos territórios étnicos, respeitando a diversidade cultural e étnica dessas co-munidades. Esse respeito estava inscrito na própria metodologia do projeto, que ao adotar a “pesquisa-ação” possibilitou à própria comunidade ser pesquisadora de si mesma, produzindo um conheci-mento novo, advindo de sua experiên-cia, do seu olhar diferenciado sobre essa experiência, e desse conhecimento no-vas perspectivas de ação, uma leitura endógena de promoção dos saberes e práticas tradicionais, garantindo o em-poderamento dessas comunidades.

Veja, esse foi um resgate muito, mais muito rápido, limitado e sucinto de um percurso histórico muito rico, cheios de avanços, mas também de descon-tinuidades. Mesmo esse rápido olhar sobre esses processos indica que hou-ve muito avanço no debate do etnode-senvolvimento. Então isso se configura como uma importante contribuição do Brasil Local para a organização das co-munidades quilombolas, para a forma-ção de agentes, dinamizadores locais dos processos organizativos de autono-mia e de participação.

Em 2009 o Etnodesenvolvimento passou a ser uma linha específica na po-

lítica pública de Economia Solidária, in-clusive com recursos diretamente a ele direcionado, contribuindo assim para maior visibilidade da proposta e am-pliação de suas ações. Foram diferentes aprendizados, avanços e dificuldades existentes no processo.

Quero pontuar aqui, no campo do Etnodesenvolvimento, a experiência específica do Maranhão. Neste Estado, no território Quilombola de Alcântara, houve uma intersecção de ações, que mesmo reconhecendo os limites, foi bem interessante, pois tanto acontece-ram ações do Projeto Brasil Local de De-senvolvimento da Economia Solidária executado pela AACC/RN no Maranhão, quanto do Etnodesenvolvimento.

Mesmo com muitas limitações e com problemas de diferentes ordens – substituição de agentes, dificuldades financeiras, as distâncias geográficas, entre outras - considero um avanço as ações que foram realizadas de forma conjunta. De uma forma geral houve muitos aprendizados e mesmo os agen-tes que não trabalhavam diretamente com o Projeto Etnodesenvolvimento aprenderam muitas dinâmicas, novos conceitos e seus significados políticos para uma atuação mais qualificada jun-to aos empreendimentos econômicos solidários de comunidades quilombo-las dos seus municípios. Foi o caso do município de Santa Rita. Ali, a agente do Brasil Local AACC/RN trabalhava na perspectiva de fortalecer os processos autogestionários de dois empreendi-mentos de comunidades quilombolas (Comunidade do Sítio do Meio e Pedrei-ras) e suas ações se subsidiaram nos do-cumentos, nas reflexões e nos subsídios teóricos do Etnodesenvolvimento. Isso foi interessante para que a agente entendes-se e contribuísse com o debate comunitá-rio das questões e dos desafios posto hoje para os povos tradicionais, de compreen-são do que está entranhado quando se discute o Etnodesenvolvimento e sua re-lação com a Economia Solidária.

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As primeiras ações da Associação de Apoio às Comunidades do Campo do RN - AACC/RN estiveram voltadas à assistência técnica a agricultores fami-liares em comunidades rurais e projetos de assentamento de Reforma Agrária nos municípios de Touros e Serra do Mel, no Rio Grande do Norte. A intervenção foi orientada por uma assessoria técnica e social que visava atender não só aos desafios da produção agrícola e organi-zação, mas igualmente às limitações en-contradas nas etapas do beneficiamen-to e da comercialização.

Com o programa LUMIAR, a AACC/RN passou a prestar assessoria direta às famílias no Mato Grande e na região Oeste, sendo essa ação operacio-nalizada pelo Instituto Nacional de Colo-nização e Reforma Agrária - INCRA e que permitia a contratação de equipes mul-tidisciplinares para assessoria a assenta-mentos federais. O programa Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária – ATES substituiu o anterior, de 2004 a 2007 a AACC/RN participou como equipe de articulação, ocasião em que pôde acompanhar 16 entidades de

Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER em assentamentos em todo o Rio Grande do Norte.

Nos diversos Estados e no âmbi-to nacional se articulou o movimento em torno do Fórum Brasileiro de Econo-mia Solidária – FBES, que estabeleceu um diálogo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES, cria-da para coordenar as políticas públicas para esse segmento. Desse diálogo sur-giram programas de fomento, assessoria e formação voltados à estruturação dos empreendimentos solidários.

O FBES e a SENAES realizaram em 2006 a I Conferência Nacional de Eco-nomia Solidária, naquele momento foi destacada a necessidade de formação e assistência técnica e tecnológica como ações estratégicas para o fortalecimento dos empreendimentos solidários.

NEATES – Núcleo Estadual de Assistência Técnica em Economia Solidária

Em 2008, a SENAES lançou o pro-jeto Núcleo Estadual de Assistência Téc-

nica em Economia Solidária – NEATES, visando a formação de núcleos de assis-tência técnica descentralizada e o estí-mulo à criação de redes de cooperação de empreendimentos.

No Rio Grande do Norte, o NEATES teve uma operacionaliza-ção mediada pela Rede de Comer-cialização Solidária Xique-xique e a AACC/RN, iniciando as atividades em 2009 em 4 territórios junto a 4 coope-rativas, 12 associações, 5 feiras locais e 8 grupos informais. As principais ativi-dades foram a elaboração de planos de ação e estudos de viabilidade econô-mica; formação em Economia Solidária e Gestão Associativa; assessoria ao pla-nejamento, gestão e avaliação dos em-preendimentos; e, realização de planos de comunicação e marketing, consulto-rias jurídicas e boas práticas em proces-samento de alimentos.

Dentre os resultados gerados pelo projeto estão a construção partici-pativa da metodologia para elaboração dos planos de ação e planos de negó-cios; melhoria dos processos de planeja-

Esse texto visa lançar um olhar sobre as principais ações da AACC/RN no campo da Economia Solidária nos últimos anos, procurando destacar os avanços e limites das experiências, as contribuições efetivas aos empreendimentos solidários, as parcerias estabelecidas e os aprendizados gerados.

Os aprendizados das experiências com Economia Solidária

Joaquim Apolinar Nóbrega Diniz1

1Joaquim Apolinar Nóbrega Diniz, é Engenheiro Agrônomo, atualmente Professor Substituto do Instituto Federal do Rio Grande do Norte. Sócio da AACC/RN e membro do Conselho Fiscal.

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mento e gestão das atividades produti-vas com capacitação das coordenações dos empreendimentos; fortalecimento dos núcleos da Rede Xique-xique; ela-boração de 30 planos de comunicação e marketing com desenvolvimento de marcas para produtos; maior participa-ção dos empreendimentos no Fórum Potiguar de Economia Solidária, no Sis-tema Nacional de Comércio Justo e Soli-dário e em eventos.

Brasil Local

O BRASIL LOCAL foi um progra-ma também gerido pela SENAES que teve por objetivo promover o desen-volvimento local através do fomento a empreendimentos por meio de agentes.

O programa teve uma primeira experiência e foi relançado em 2010, com uma ação articulada por um con-junto de Estados e em temáticas como Economia Feminista e Etnodesenvol-vimento. A AACC/RN estabeleceu uma parceria para realizar a ação nos Estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão, com o Instituto Florestan Fernandes, a Cooperativa de Produção e Serviços Técnicos Agrícolas do Piauí –

COOTAPI e a Associação do Loreto. Os fóruns estaduais de Economia Solidária foram parceiros determinantes, tendo participado do Comitê Gestor e se cons-tituíram em espaço de controle social do projeto, sendo o Fórum Potiguar de Eco-nomia Solidária – FPES um interlocutor no RN.

As atividades foram mobilizadas por 54 agentes junto a 162 empreendi-mentos solidários, em 47 municípios. Os avanços percebidos com a ação foram a sistematização de metodologia para elaboração de Planos de Economia Solidária; a melhoria da gestão dos processos produtivos dos empreendi-mentos com a elaboração dos planos; a articulação dos empreendimentos em grupos de trabalho, redes e fóruns nos municípios; o maior acesso aos programas públicos de comercializa-ção; e, a apropriação das demandas dos empreendimentos pelos fóruns estaduais.

CFES – Centros de Formação e Apoio à Assessoria Técnica em Economia Solidária

Em 2012, a SENAES estruturou um programa voltado à formação, os Centros de Formação e Apoio à Asses-soria Técnica em Economia Solidária - CFES.

Dentre seus objetivos estão o desenvolvimento de processos meto-dológicos de assessoria técnica à orga-nização da produção, comercialização e finanças solidárias, o planejamento territorial de redes e cadeias produ-tivas e a formação de educadores. O CFES propôs como objetivo estratégi-co articular uma Rede de Formadores e Formadoras em Economia Solidária para dar suporte aos processos em curso.

A proposta de construção de uma Rede origina-se no Seminário

Nacional de Formação em Economia Solidária em 2008. As atividades de formação aconteceram no âmbito na-cional, na região Nordeste, no Estado e em oficinas locais, ocorreram também reuniões para articulação dos forma-dores no espaço do Fórum Potiguar de Economia solidária.

As capacitações contribuíram para a qualificação de educadores em temas como Desenvolvimento e Eco-nomia Solidária, Comercialização e Finanças Solidárias, Políticas Públicas e Marco Regulatório. As atividades no Rio Grande do Norte foram planejadas e realizadas com o FPES, onde se orga-niza o Grupo de Trabalho de Formação formado por representantes dos nú-cleos dos territórios.

Balaio de Economia Solidária

Uma outra ação ocorreu no RN através do projeto BALAIO DE ECONO-MIA SOLIDÁRIA, através de uma par-ceria entre as 9 organizações da REDE PARDAL, a Rede Xique-xique, o Centro Feminista 8 de Março e a AVSF – Agrô-nomos e Veterinários Sem Fronteiras, com o apoio da União Europeia.

O projeto teve suas atividades entre 2010 e 2012, junto a 50 em-preendimentos solidários dos territó-rios do Sertão do Apodi, Açu/Mossoró e Mato Grande. As atividades foram voltadas à prestação de assessoria e investimento aos empreendimentos, elaboração de planos de Economia So-lidária, formação de mulheres em Eco-nomia Feminista e elaboração de um

Encontro Estadual Brasil Local - Ceará

ADLS - Loura - Maranhão

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Plano de Articulação Política.

Os principais resultados foram relacionados ao fortalecimento dos empreendimentos nos processos pro-dutivos e capacidades gerenciais; for-mação de mulheres e realização do Seminário Internacional sobre Econo-mia Solidária e Economia Feminista; e, realização da campanha pela criação do Fundo Estadual de Fomento à Eco-nomia Solidária.

Banco Solidário do Gostoso

Os bancos comunitários são ex-periências no campo das finanças so-lidárias que podem implementar fun-dos rotativos, grupos de troca, linhas de crédito e emissão de moeda social como instrumentos de dinamização das economias locais. Uma parceria entre a SENAES e a Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do De-senvolvimento Territorial - ITES, ligado à Universidade Federal da Bahia, tem como propósito o estímulo à criação de bancos comunitários em Estados da re-gião Nordeste.

A proposta foi apresentada ao Fórum de Participação Popular nas Po-líticas Públicas de São Miguel do Gos-toso – FOPP, em setembro de 2011, na agrovila Paraíso. Em reunião posterior o FOPP aprovou a implantação de um ban-co comunitário no município. O processo de construção do banco ocorreu atra-vés de ofi cinas nas reuniões mensais do FOPP, onde se aprofundou sobre os objetivos do mesmo, a operacionaliza-ção, linhas de crédito, conselho gestor, área de atuação, além das defi nições do nome, valores e símbolos da moeda.

Em 21 de dezembro de 2012 foi criado o Banco Solidário do Gostoso na comunidade rural da Tabua, con-tando com o comitê gestor formado pelo SINTRAF, STTR, Rede Xique-xique, COOAFES, FOPP, Associação de Santa Fé, Associação de Arizona, Associação de Mulheres, Jovens e Produtores de Tábua – AMJP, AACC/RN e TECHNE.

O Banco Solidário do Gosto-so lançou a moeda social “Gostoso”, já aceita em estabelecimentos da sede do município, e iniciou seu funcionamen-

to com linhas de crédito para consumo, produção, serviços e uma modalidade para jovens.

Experiências, Parcerias e Aprendizados

O acompanhamento às expe-riências de agricultores e agricultoras familiares e outras categorias, a parti-cipação em redes e fóruns de organi-zações e a execução de programas e políticas públicas são as principais fontes de aprendizado da atuação da AACC/RN.

As condições das famílias de comunidades rurais e assentamentos demonstram que além das ativida-des produtivas agrícolas encontramos também atividades não-agrícolas com sua importância relativa. O desafi o de promover uma produção sustentável demanda aprimorar também o bene-fi ciamento e a comercialização, o que aproxima a articulação entre os princí-pios da Agroecologia, Convivência com o Semiárido e Economia Solidária.

A sustentabilidade dos proces-sos produtivos demanda superar as de-sigualdades de gênero e geração, com ações específi cas com mulheres e jo-vens e fortalecimento das capacidades das organizações. Em grande parte, as experiências de Agroecologia e Econo-mia Solidária estão sendo gestadas por mulheres, assessorar essas experiências demanda apoiar ações afi rmativas na

perspectiva da autonomia.As redes e fóruns são espaços es-

tratégicos de construção democrática e infl uência sobre as políticas públicas. Os programas públicos de Economia Solidária são ações que têm contribuí-do para facilitar o acesso de assessoria técnica, fomento e formação a em-preendimentos e instituições de apoio com resultados concretos. Por outro lado, os programas têm apresentado um alcance limitado frente às deman-das e o número de empreendimentos, e principalmente uma recorrente des-continuidade.

A participação em todas as experiências relatadas alimentaram um importante aprendizado para aAACC/RN nos últimos anos. No caso do Banco Solidário do Gostoso aprende-mos e estamos aprendendo todos jun-tos, a partir da iniciativa de mulheres e homens, grupos, associações, sindi-catos, do FOPP de São Miguel do Gos-toso e das parceiras. O banco defi niu como visão de futuro: “Atender a todo município de São Miguel do Gostoso, com responsabilidade, união, compro-misso e amor, para construir um banco sustentável, reconhecido e atuante.” A construção de um mundo novo pode facilitar a satisfação das necessidades materiais sob a perspectiva da solida-riedade e do amor. E passo a passo, o planeta começa a fi car um pouco mais sustentável.

Pemba, Cristino Castro - Piauí

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Para o fortalecimento dessas ex-periências os Bancos Comunitários de De-senvolvimento (BCDs), tem recebido apoio de diferentes organizações, sejam univer-sidades, através de suas incubadoras, ou mesmo organizações não governamen-tais. Considerando as ONGs, as mesmas que atuam com assessoria a mobilização, organização e gestão dos BCDs, as univer-sidades na área de pesquisa, capacitação,

assessoramento e implementação (ofici-nas, contratação de design e confecção das cédulas, materiais de divulgação, equipa-mentos de informática e de escritório, co-fre, pequeno investimento para estrutura física do banco, contratação de um agente de crédito, etc.) aonde quase da totalidade dos recursos necessários vem por meio de convênios, firmados entre as instituições e o governo federal, através da Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES/MTE.

É importante ressaltar que os Ban-cos Oficiais, em especial a Caixa Econômica Federal, também tem apoiado essas ini-ciativas, realizando parcerias para que os Bancos Comunitários atuem como corres-pondentes bancários nas próprias comu-nidades onde estão instaladas as experiên-cias. Enquanto instância governamental, a SENAES/MTE tem sido uma parceria impor-tante nesse processo, apoiando a criação dos bancos e viabilizando por meio de pro-jetos institucionais as ações de capacitação e assessoria ao seu funcionamento.

Conforme documento base do 3º Encontro da Rede Brasileira de Bancos Co-

munitários de Desenvolvimento, os Bancos Comunitários nasceram voltados para o de-senvolvimento integrado da comunidade com foco prioritário no atendimento dos mais pobres, para criar uma alternativa ao sistema bancário vigente e para fortalecer a organização comunitária. Nessa perspec-tiva, os bancos comunitários no Brasil tem se inserido nas dinâmicas territoriais, Redes, Fóruns e Encontros que fortalecem o de-bate e as iniciativas de Finanças Solidárias, onde o mesmo se insere.

No Rio Grande do Norte, a primeira iniciativa de organização de um

Banco Comunitário, nasceu no dia 21 de dezembro de 2012 com a

criação do Banco Comunitário de Desenvolvimento Sustentável de São

Miguel do Gostoso.

Sendo que para isso, no mês de ju-nho de 2011, a Associação de Apoio às Co-munidades do Campo do RN, fez o primeiro contato com a Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do Desenvol-vimento Territorial, incubadora essa da Uni-versidade Federal do Estado da Bahia. Na

Com a criação do Banco Palmas no Conjunto Palmeiras em Fortaleza-CE, se inaugura no Brasil, uma experiência que vem sendo multiplicada em diferentes regiões do Brasil e já soma mais de 100 Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs) em desenvolvimento no país.

A experiência do Banco Comunitário de Desenvolvimento Solidário de São Miguel do Gostoso/RN

Marialda Moura da Silva e Marcos Antônio Leonez1

1 Marialda Moura da Silva é Assistente Social, Mestre em Ciências Sociais, coordenou o projeto NEATES, o Projeto Brasil Local Nordeste I, integra o Centro de forma-ção de educadores/as (CFES). Atualmente é Coordenadora Geral da AACC/RN.

2 Marcos Antônio Leonez Bezerra é Engenheiro Agrônomo, compôs a assessoria técnica do Projeto NEATES (Núcleo Estadual de Assistência Técnica em Economia Solidária), Balaio da Economia Solidária (parceria da AACC/RN/Rede Pardal com apoio da União Europeia), técnico responsável pelo acompanhamento à criação e gestão do Banco Comunitário Solidário de São Miguel do Gostoso pela AACC/RN. Foi Articulador Estadual do projeto Brasil Local no Rio Grande do Norte (de junho a setembro de 2012) Atualmente participa do Projeto Economia Solidária RN (SETHAS/COPES).

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CAMPONESA - 2013 www.aaccrn.org.br

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oportunidade foram obtidas informações sobre o projeto Rede Nordeste de Bancos Comunitários de Desenvolvimento, projeto esse desenvolvido pela ITES. Esse projeto tinha o objetivo de fomentar o processo de consolidação dos Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs) da Região Nordeste, através do apoio e acompanha-mento a 26 bancos já existentes, além de fomentar e apoiar a criação de 6 novos ban-cos comunitários na região. No mesmo ano, sendo que em setembro, foi feito um convi-te à incubadora para fazer uma apresenta-ção do projeto na sede da AACC/RN. Após esse momento foi defi nido o apoio e acom-panhamento da AACC/RN no processo de implementação de um BCD no Rio Grande do Norte, inclusive indicando a cidade onde se iniciaria a discussão e implementação do projeto, além de designar um profi ssional da instituição para acompanhar e apoiar.

Desse processo, a AACC/RN partici-pou e apresentou a proposta no Fórum de Participação Popular nas Políticas Públicas de São Miguel do Gostoso – FOPP, a fi m de articular uma apresentação do Projeto Rede Nordeste de Bancos Comunitários de Desenvolvimento. O FOPP realizou uma reunião no dia 16 de setembro de 2011, na comunidade rural de Paraíso a 13 km da sede do município.

Foram necessárias duas reuniões do Fórum para decisão e encaminhamento dos passos seguintes, onde nos dias 08 e 09 de dezembro de 2011 estaria sendo realizada a 1ª ofi cina de criação do Banco Comunitário. É importante ressaltar que todo o processo de implantação do BC teve o apoio do Projeto “Rede Nordeste de Bancos Comunitários de Desenvolvi-mento”. Em São Miguel do Gostoso, a As-sociação de Mulheres e Jovens Produto-ras/es (AMJP) da Comunidade de Tabua, é a entidade gestora do Banco Comunitá-rio. Adotaram como Moeda Social “O Gos-toso” que se apresenta em notas de 0,50; 1,0; 2,0; 5,0; 10,0 Gostosos.

Para José Priciano Barbosa de Araú-jo, um dos agentes de crédito do Banco Comunitário de São Miguel do Gostoso, o principal motivo para criação do banco comunitário foi o de “melhorar a qualidade de vida da população dos nativos de São Miguel do Gostoso”. Ele reforça que esse processo se iniciou no ano de 2011 com a visita da ITES/UFBA e a realização de uma apresentação em reunião do Fórum Popu-

lar de Políticas Públicas de São Miguel do Gostoso, que defi niu pela sua criação, dada a importância para o município. Após essa defi nição foram realizadas ofi cinas para construção do banco, sendo inicialmente de economia solidária e de fi nanças soli-dárias, tanto na comunidade Tabua, bem como fora do Estado, nos lugares onde já se desenvolve a experiência. Também fo-ram realizadas reuniões na comunidade e intercâmbios. Priciano destaca que nesse processo, foi importante compreender a di-ferença entre um banco comunitário e um banco convencional, especialmente pelo processo participativo que o distingue e pela autonomia que é dada a comunidade local, pois é ela quem cria o banco, não é, por exemplo, a prefeitura que o cria, apesar de que ela é importante como parceira.

A comunidade de São Miguel do Gostoso tem sido bem participativa e tem apoiado, a contento, o seu desenvolvimen-to. Desde sua criação, tem se ampliado as adesões de comerciantes que passaram a aceitar a moeda social “Gostoso”. Na co-munidade de Tabua, todos os estabeleci-mentos comerciais aderiram à proposta, no momento em que foi realizada essa repor-tagem, se contabilizava 27 espaços comer-ciais que aderiram à proposta na sede do município, sendo identifi cadas entre estes, supermercados, padarias, farmácias e res-taurantes. Outras iniciativas para o Banco se fortalecer tem sido a realização de bingos e sorteios. O Banco Comunitário, já está for-talecendo a comunidade com a liberação de créditos, sendo todos para produção e consumo. Até o momento, o maior crédito acessado foi de 300 Gostosos.

Nesse processo, observamos al-guns desafi os que foram enfrentados ao longo da trajetória de construção do Banco Solidário do Gostoso, mas mesmo com as difi culdades apresentadas, existiram pes-soas e entidades que acreditaram que era possível superar e viabilizar todo o processo de fundação do primeiro Banco Comunitá-rio do estado do Rio Grande do Norte, isso no município de São Miguel do Gostoso. Um dos desafi os enfrentados, inicialmen-te, foi a pouca participação de pessoas nas primeiras ofi cinas realizadas, em média 25 pessoas. Entretanto, a organização e o com-prometimento da entidade gestora, das entidades de apoio e fomento parceiras do projeto, como também da ITES/UFBA em uma parceria realizada diretamente com

a AACC/RN, essa difi culdade foi superada, dando andamento a todo o processo de formação e fundação do Banco. É impor-tante ressaltar que sem essa organização e comprometimento, difi cilmente seria pos-sível superar outros desafi os que surgiram ao longo do tempo, dentre os quais: A fal-ta de recursos para formação do lastro do Banco, número reduzido e pouco envolvi-mento de entidades de apoio e fomento no processo de inicial de construção, descon-fi ança no trabalho realizado, pois se tratava de algo novo, recursos limitados para mo-bilização, no que diz respeito à alimentação e transporte.

Atualmente, o Banco Comunitário de São Miguel do Gostoso funciona diaria-mente no período de terça a sexta-feira nos dois turnos e contam com a contribuição de 03 agentes de crédito que se reversam no expediente e são realizadas reuniões mensais do Conselho Gestor, instância onde são tomadas as decisões relativas ao Banco e que é composto pela AMJP; a Asso-ciação de Santa Fé; Associação de Mulheres de Novo Horizonte, Associação da Comuni-dade Arizona , Rede Xique-xique, SINTRAF; STTR; a COOAFES, o FOPP, AACC/RN e TE-CHNE.

Além do Conselho Gestor tem o Comitê de Avaliação de Crédito – CAC, formado pelos 02 Agentes de Crédito, 01 participante da comunidade de Tabua e 01 participante do Conselho Gestor. Para deli-berar sobre questões relacionadas à organi-zação e gestão do Banco Solidário do Gos-toso, nome fantasia do Banco Comunitário de Desenvolvimento Sustentável de São Miguel do Gostoso, o Conselho Gestor do Banco se reúne uma vez ao mês e o Comitê de Avaliação de Crédito tem reunião sema-nal ou quando há demandas, a fi m de ava-liar e aprovar as propostas de solicitação de crédito enviadas ao Banco. Tem aumentado o número de visitas ao Banco Comunitário de São Miguel do Gostoso, estimulando o desejo de criação de novas experiências. Nesse sentido, o Banco Comunitário, bem como a AACC/RN, tem refl etido sobre essa questão, onde em conjunto está planejan-do a realização de um Encontro Estadual de Finanças Solidárias, ainda este ano, a ser realizado no município de São Miguel do Gostoso para que esse debate possa fl uir e estimular novas experiências no Estado.

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A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO POLÍTICA PÚBLICA

Autora:Rosangela Nair de Carvalho Barbosa

Editora:Cortez

Assunto:Economia Solidária, Políticas PúblicasAs transformações que vêm atingindo o modo de produção capitalista, com a construção de um novo padrão produtivo, tecnológico e organizacional que intensifi ca a exploração do trabalho, vêm provocando grandes impactos no assalariamento, gerando desemprego, excluindo trabalhadores do mercado formal e ampliando o trabalho autônomo, parcial, terceirizado e temporário.

Esse contexto, de redefi ni-ções das relações de traba-lho na sociedade brasileira atual, impõe ao Estado um conjunto de iniciativas e o desenvolvimento de novas políticas públicas, associa-das ao enfrentamento da informalidade, no campo de empreendedorismo, entre as quais as cooperativas de Economia Solidária. A partir desse quadro, Rosângela Nair de Carvalho Barbosa enfrenta, com competên-cia, o desafi o de analisar o sentido social da economia solidária como política pú-blica no Brasil, seja como estratégia emergencial de baixa resolutividade, seja como possibilidade de sua constituição como sujeito socioeconômico capaz de enfrentar o empobrecimen-to dos trabalhadores.

A ECONOMIA SOLIDÁRIA NA AMÉRICA LATINA: realidades nacionais e políticas públicas.

Organizadores:Sidney LianzaFlávio Chedid HenriquesPró-Reitoria de Extensão UFRJ -RJ

Assunto:economia solidária, america latina

Este livro é fruto de um se-minário organizado por três instituições: o Núcleo de Solidariedade Técnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SOLTEC/UFRJ), a Rede de Investigadores Lati-noamericanos de Economia Social e Solidária (RILESS) e a Secretaria Nacional de Eco-nomia Solidária do Ministé-rio do Trabalho e Emprego (SENAES/MTE).

O Seminário “Economia So-lidária na América Latina: Realidades Nacionais e Polí-ticas Públicas” ocorreu entre os dias 26 e 28 de outubro de 2011 na cidade do Rio de Janeiro, no Centro de Tecno-logia da UFRJ, e teve como principal objetivo traçar um painel das políticas públicas de economia solidária na América Latina.

UMA OUTRA ECONOMIA É POSSÍVEL

Organizadores:André Ricardo de SouzaGabriela Cavalcanti Cunha Regina Yoneko Dakuzaku

Editora:Contexto

Assunto:Economia

É possível pensar numa economia mais humaniza-da e solidária, numa época caracterizada exatamente pelo desemprego, pela de-sumanização dos mercados e pela exclusão social? Este livro prova que sim. Os tex-tos aqui reunidos mostram que, mesmo em um mundo cada vez mais globalizado, há saídas e alternativas à lógica perversa que rege o trabalho no capitalismo. Os autores relatam uma série de experiências bem-su-cedidas, que revelam, na prática, ser realmente pos-sível uma outra economia, baseada na solidariedade e na generosidade humana. O livro faz ainda uma justa homenagem ao economista Paul Singer, um dos maiores estimuladores da chamada economia solidária no Brasil.

A ECONOMIA SOLIDÁRIA EM CONSTRUÇÃO

Os agentes de Desenvolvimento Solidário e a mobilização social

Uma Sistematização de Experiências do Brasil Local

Organizadores:Ademar de Andrade Bertucci e Vanda Maria de Almeida Fernandes

Editora:Cáritas Brasileira

Assunto:Organização Comunitária, Desenvolvimento Local, Relações de Trabalho, Brasil Local.

A publicação reúne a siste-matização de experiências e práticas por empreendi-mentos e organizações do movimento de economia solidária durante o percurso do Brasil Local. Na diversi-dade das experiências siste-matizadas 05 (cinco) foram acompanhadas pelo Proje-to Brasil Local Nordeste I – coordenado pela AACC/RN.

ECONOMIA SOLIDÁRIA: Caderno do Agente do Brasil Local e empreendedores solidários

AACC/RN - SENAES/MTE

Assunto:Economia Solidária, desenvolvimento local solidário, etnodesenvolvimento, economia feminista, agroecologia

Esta cartilha é fruto de uma parceria fi rmada entre a Asso-ciação de Apoio às Comunida-des do Campo do Rio Grande do Norte – AACC/RN e a Se-cretaria Nacional de Eco-nomia Solidária – SENAES, do Ministério do Trabalho e Emprego, para a execução do Projeto BRASIL LOCAL e está organizada em duas partes, a primeira reúne informações conceituais sobre Economia Solidária – fundamentos e princípios - e temas correlacionados, como desenvolvimento local solidário, etnodesen-volvimento, economia fe-minista e empreendimentos de economia solidária - EES. A segunda parte apresenta uma síntese da metodologia que foi utilizada no acom-panhamento dos EES, espe-cialmente na construção de diagnósticos participativos e dos planos de Economia Solidária – PES para o desen-volvimento dos empreendi-mentos.

Livros/CartilhaPara aprofundar

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SolidárioEu faço muita coisaUsando meu saberBrinquedo de criança

Docinhos pra comerEu vendo lá na feiraPara sobreviver.

Eu faço artesanatoEu planto o de comerEu troco com o vizinhoO que não sei fazerE quando está sobrandoEu levo pra vender.

Não sou nem agiotaNem grande empresárioNão sou desempregadoNem sou um mercenárioEu vivo com os outrosDe um jeito solidário.

Chico MoraisNatal, 5/6/2005

Sonho de Muitos

O meu sonho é tecidoCom as mãos de muita genteÉ um sonho coletivo

E tem força de sementeNasce, cresce e frutifi caFaz um mundo diferente

O meu sonho de amorQuer que todos vivam em pazQuer comida em cada mesaIgualdade e muito mais!O meu sonho é um projeto:Coisa que a gente faz.

É bem simples meu projetoCoisa, assim, de coração,Pulsa dentro do meu peitoE ressoa em cada irmãoPorque sonho contagiaSe sonhado em união.

Chico MoraisNatal, agosto de 2010.

Natal, 5/6/2005