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1 AGROCOMBUSTÍVEL E AGRICULTURA CAMPONESA NO NORDESTE PARAENSE: O CASO DE NOVA ESPERANÇA Cátia Oliveira Macedo UEPA/IFPA [email protected] Resumo Este artigo apresenta considerações preliminares acerca dos impasses entre agricultura camponesa e a Biovale, empresa produtora de dendê no Nordeste do Pará. Nosso objetivo é discutir as transformações ocorridas na região e em particular em Nova Esperança, comunidade localizada na PA 140, no município de Concórdia do Pará, em decorrência do contato com a referida empresa. Ao longo do trabalho de campo, constatamos que de forma direta ou indireta as atividades desenvolvidas para a produção dendê, tais como aquisição de terra e de mão-de- obra impactou negativamente a produção camponesa, externalizando problemas agrários já conhecidos, mas concentrados em outras regiões do estado. Palavras-chave: Agricultura camponesa. Agro combustível. Comunidade. Introdução A introdução da cultura do dendê na Amazônia e no Pará data do inicio da década de 1950, com o Instituto Agronômico do Norte (IAN), precursor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) no intuito de avaliar a viabilidade econômica desta palma na região Norte. Posteriormente do convênio entre a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), e o Institut de Recherches pour lês huiles et les oleagineux( IRHO) da França inicia o cultivo em escala comercial 1 . Desde a sua introdução, na Amazônia, o cultivo do dendê, apresenta relações estreitadas com órgãos governamentais. Porém, na década de 1980 o estado alia-se a iniciativa privada e cria novos projetos no intuito de expandir a área cultivada justificando-se através da suposta aptidão “climática revelada pela região para o seu cultivo, assim como as perspectivas de mercado para os seus produtos tornando-se numa importante alternativa de investimento na Amazônia 2 ”. Ao longo das três últimas décadas do século XX 3 , o Estado do Pará ganhou destaque como produtor de dendê, passando a concentrar a maior parcela cultivada na região, com cerca de 85% da área total. Destaca-se o cultivo do Grupo 4 Real (AGROPALMA S.A), nos Municípios de Moju e Tailândia e mais recentemente, primeira década deste século o cultivo da BIOVALE, nos Municípios de Bujaru, Acará, Concórdia e Tomé

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AGROCOMBUSTÍVEL E AGRICULTURA CAMPONESA NO NORDESTE PARAENSE: O CASO DE NOVA ESPERANÇA

Cátia Oliveira Macedo UEPA/IFPA

[email protected]

Resumo Este artigo apresenta considerações preliminares acerca dos impasses entre agricultura camponesa e a Biovale, empresa produtora de dendê no Nordeste do Pará. Nosso objetivo é discutir as transformações ocorridas na região e em particular em Nova Esperança, comunidade localizada na PA 140, no município de Concórdia do Pará, em decorrência do contato com a referida empresa. Ao longo do trabalho de campo, constatamos que de forma direta ou indireta as atividades desenvolvidas para a produção dendê, tais como aquisição de terra e de mão-de-obra impactou negativamente a produção camponesa, externalizando problemas agrários já conhecidos, mas concentrados em outras regiões do estado. Palavras-chave: Agricultura camponesa. Agro combustível. Comunidade. Introdução A introdução da cultura do dendê na Amazônia e no Pará data do inicio da década de

1950, com o Instituto Agronômico do Norte (IAN), precursor da Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) no intuito de avaliar a viabilidade econômica

desta palma na região Norte. Posteriormente do convênio entre a Superintendência para

o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), e o Institut de Recherches pour lês huiles

et les oleagineux( IRHO) da França inicia o cultivo em escala comercial1.

Desde a sua introdução, na Amazônia, o cultivo do dendê, apresenta relações estreitadas

com órgãos governamentais. Porém, na década de 1980 o estado alia-se a iniciativa

privada e cria novos projetos no intuito de expandir a área cultivada justificando-se

através da suposta aptidão “climática revelada pela região para o seu cultivo, assim

como as perspectivas de mercado para os seus produtos tornando-se numa importante

alternativa de investimento na Amazônia2”.

Ao longo das três últimas décadas do século XX3, o Estado do Pará ganhou destaque

como produtor de dendê, passando a concentrar a maior parcela cultivada na região,

com cerca de 85% da área total. Destaca-se o cultivo do Grupo4 Real (AGROPALMA

S.A), nos Municípios de Moju e Tailândia e mais recentemente, primeira década deste

século o cultivo da BIOVALE, nos Municípios de Bujaru, Acará, Concórdia e Tomé

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Açu. Além disso, deve-se destacar que, desde a década de 1990, a produção do dendê

vem se pulverizando pelos municípios que englobam a região metropolitana de Belém.

Com a promulgação do Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel- PNPB, em

2004, a produção do dendê é redirecionada5, agora voltada para a extração do óleo da

palma e, posteriormente transformação do óleo vegetal em biodiesel6. Apresentado

como política publica prioritária, foram estabelecidas “as diretrizes para a organização

da cadeia produtiva, definição das linhas de financiamento, estruturação da base

tecnológica e edição do marco regulatório” (OLIVEIRA, 2011, p. 49).

Destacam-se como diretrizes do PNPB, a implantação de um programa sustentável,

promovendo inclusão social; garantia de preços competitivos e qualidades de

suprimentos; produção do biodiesel de diferentes fontes oleaginosas e em diversas

regiões. Além disso, foram estabelecidos os “leilões periódicos como forma de

organizar a produção e garantir o abastecimento gradativo do mercado” (idem).

A Lei da obrigatoriedade de 2005 estabelece um percentual mínimo de biodiesel a ser

adicionando ao diesel: Dessa forma, a partir de janeiro de 2008 todo diesel comercializado no pais passou a ser obrigatoriamente 2% de biodiesel e, a partir de julho do mesmo ano, passou para 3%. Em 2009, o percentual foi elevado para 4%. Porém, embora o percentual de 5% devesse ser atingido somente em 2013, foi a partir de 2010 que este percentual de mistura passou a ser adotado (B5). Quando utilizado puro, o biodiesel é denominado B100 (OLIVEIRA, 2011, p. 50).

Ainda como parte das metas para a implementação do programa, o Governo Federal

lança em 2005, “o Selo Combustível Social”, espécie de certificação que seria dada as

empresas que estimulassem a inclusão social de pequenos produtores na cadeia

produtiva do Biodiesel. Além disso, (...)os camponeses poderiam participar como “sócios quotistas de empresas que operassem como extratora do óleo ou produzam diretamente biodiesel, ou via associações ou cooperativa de produtores (OLIVEIRA, 2011, p. 50).

Apesar das perspectivas positivas com relação a incorporação da agricultura camponesa

na cadeia de produção do biodiesel tal questão está longe de apresentar-se como

consenso. Elias (2010, p.12) nos propõe três questões que considera essenciais para

alcançarmos “o âmago dos processos mais importantes inerentes ao incremento da

produção do biodiesel”. Refere-se, Elias a relação entre a produção do biodiesel e a

soberania energética; a expansão do biodiesel e a inserção não excludente dos

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camponeses e, por fim, o alcance das políticas publicas do biodiesel e as mudanças das

formas de produção e consumo da sociedade atual.

Em consonância com Elias, Oliveira (2010, p. 58-59) no texto “Os agrocombustiveis e

os dilemas da agricultura camponesa e familiar” chama atenção à relação entre

soberania alimentar e soberania energética, colocando-os, no centro deste debate. Isto

implicaria segundo o autor na compreensão do papel que os camponeses teriam na

agricultura capitalista no século XXI. A condução da produção do setor alimentar para o

setor industrial traria inevitavelmente escassez do produto e aumento de preço. Além

disso, destaca o autor, a relação existente entre a produção agrícola brasileira e o

mercado mundial indica uma futura redução da oferta deste produto no mercado interno

e seu direcionamento para o mercado externo.

Em outra perspectiva Abramovay e Magalhães (2007) tratam da parceria entre grandes

empresas e movimentos sociais para garantirem o acesso a agricultura camponesa e

familiar a cadeia produtiva do Biodiesel e destacam que, O objetivo governamental de vincular a produção de biodiesel a geração de renda para agricultores familiares recebeu imediatamente a adesão de dois atores cujas relações oscilam de forma permanente entre o conflito e a indiferença: grande empresas processadoras de matéria primas para a produção do biodiesel e o movimento sindical de trabalhadores rurais (2007, p. 3).

Refletir sobre as implicações da inserção da agricultura camponesa na cadeia produtiva

do biodiesel é o que perseguimos neste artigo. Particularmente trataremos dos desafios

enfrentados pelos camponeses da Comunidade Nova esperança7, com a chegada da

Biovale em meados da primeira década do século XXI. A comunidade é formada por

migrantes de regiões vizinhas (região do Salgado, região metropolitana de Belém, e um

número menos expressivo de nordestinos) que ocuparam a. PA 140 ainda na década de

1970. Deve-se ressaltar que a conformação do território da comunidade está

intimamente relacionada à construção de rodovias na Amazônia e, por conseguinte, ao

projeto de ocupação da região do início da segunda metade do século XX. Esta PA 140

liga os município de Bujaru e Concórdia à Belém-Brasília, importante rodovia dentro do

projeto de integração da região ao restante do país8.

Própria da ocupação “espontânea” da Amazônia ocorreu na comunidade intensa

rotatividade das famílias nos primeiros anos de ocupação, vindo refecer o momento

migratório, somente na década de 1990. No início da ocupação das terras da

comunidade, os camponeses cultivavam a predominantemente, a pimenta-do-reino e a

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mandioca para a fabricação da farinha. Na última década a produção agrícola da

comunidade se diversificou com a introdução da fruticultura nos lotes e a criação de

uma associação de produtores.

Sob o slogan do desenvolvimento regional e da potencialidade do dendê como geração

de renda para os pequenos produtores o Estado do Pará9 se torna o epicentro da

deindeicultura na região amazônica. Rapidamente a área de cultivo se expandiu e a

produção se consolidou. Em 2010, o lançamento do Pólo de Tomé- Açu evidencia a

importância da produção estadual. O lançamento pelo Presidente Lula do Plano Palma Verde em Tomé-Açu (Pará) em maio do corrente ano (2010), de estímulo ao plantio e à produção do óleo de palma, desencadeou grande procura pela atividade. Porta vozes do governo informaram que se hoje há apenas 66.800 ha plantados com dendê no país, pelo menos 15 empresas já planejam aumentar a área plantada para 235,5 mil ha nos estados do Pará, Bahia, Roraima e Rondônia10 (BECKER, 2010 p. 33).

Ainda de acordo com Becker (2010), em meio aos alardes das propagandas do Governo

Federal, “empresas já instaladas investem na ampliação da área cultivada e novos

investidores estrangeiros indicam intenção de investir, movimentando fortemente o

mercado imobiliário de aquisição de áreas rurais nos pólos de produção tradicional. Em

aproximadamente cinco anos a Empresa Biopalma, hoje denominada Biovale, consórcio

formado pela mineradora Vale e um grupo canadense adquiriram terras as margens e no

entorno da PA 140, somando aproximadamente 130 mil hectares. Estas se coadunam

com a perspectiva do governo do estado que era atingir até 2014, 210 mil ha de área plantada, aumentar o número de plantas industriais das atuais nove para doze, ampliar os empregos diretos de 4.700 para 15 mil, de 900 parceiros na agricultura familiar atualmente chegar a 13 mil, e dos 300 médios e grandes produtores chegar a 14.500 (BECKER, 2010 p. 33).

Em meio a uma projeção ambiciosa à área de cultivo o governo paraense lança o

protocolo socioambiental, uma espécie de planos e metas a ser seguido pelas empresas

atuantes11 na produção do dendê no Estado. “Tal protocolo apesar de não apresentar um

caráter oficial representaria segundo a Secretaria de Programas Estratégicos do Estado

um acordo de cavalheiros” que regeria esta atividade. São elas:

- Não estabelecimento de novos empreendimentos produtivos em área cujo

desmatamento da cobertura florestal primaria tenha sido realizado após o ano de 2006;

-implantação das áreas produtivas de forma a evitar a ocorrência de plantios

contínuos (monoculturas) entre duas ou mais unidades produtivas e a uniformização da

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paisagem; a integração de agricultores familiares e produtores de pequeno, médio e

grande porte;

-não estabelecimento de plantio em áreas de populações tradicionais, indígenas

e quilombolas, sem o seu livre, prévio e informado consentimento;

- adoção de relações de trabalho pautadas pelo respeito, confiança,

comprometimento às normas da legislação trabalhista.

Apesar do discurso oficial, a formação de grandes propriedades monocultoras,

associadas a um movimento de ocupação da margem da rodovia saltam aos olhos nos

últimos anos. Formaram-se nos últimos cinco anos aglomerados humanos a beira da

estrada, ao mesmo tempo em que se multiplicaram os relatos de saída de camponeses

para a cidade, quer seja, para a sede do município ou para os municípios vizinhos.

As implicações sócio-espaciais e os desafios da Agricultura Camponesa no Nordeste Paraense - o caso da comunidade Nova Esperança Transcorrido meia década da introdução da produção do dendê na área de abrangência

da Comunidade Nova Esperança, uma série de questões se colocam como elementos

importantes para compreendermos a dinâmica territorial local, ainda marcadas pelas

incertezas versus euforia de parcelas da comunidade, com relação a presença da Biovale

e por conseguinte, da implantação da cadeia produtiva do dendê nesta região da

Amazônia.

Para Oliveira (2011, p. 48) o PNPB é uma “espécie de cereja do bolo” das políticas

publicas para converter os camponeses brasileiros em produtores especializados em

agrocombustivel”. Esta política, por sua vez, estaria diretamente relacionada a

empreitada do Estado Nacional em transformar a Petrobras na maior empresa de

agrocombustiveis. Ao mesmo tempo tal programa acomodaria as esperanças dos

camponeses na possibilidade de geração de renda através da produção do dendê.

A introdução da produção do dendê na PA 140 recortando, fracionando e mesmo

reduzindo as áreas das comunidades rurais que estão no seu entorno despertou nestes o

sentido de pertencimento e busca de estratégias para garantir a sua permanência na terra.

Em 2006 foi criada a Associação de Produtores Rurais Nova Esperança (ASPRUNE).

Esta surge com o objetivo de organizar a produção para comercializar com a

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Em 2008 eram cerca de 25

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associados, que contam com o apoio da EMATER nas atividades como: produção de

muda, apicultura, horta, polpa de fruta, piscicultura e avicultura.

A dinâmica das terras, implementada pela Biovale, na comunidade e nas comunidades

vizinhas, imprimiu nova dinâmica a estas localidades. Soubemos em pesquisa de

campo realizada na comunidade, ao longo do ano de 2010, que muitas das famílias desta

e das áreas contiguas a empresa, mas distante da estrada que possuíam lotes distantes da

estrada foram persuadidos a venderem suas terras. Assim, a empresa foi comprando os

lotes e montando uma espécie de mosaico de dendê comprimindo as famílias que

decidiam ficar. Muitas famílias venderam seus lotes e trouxeram suas casas para a

“beira da estrada”, ou migraram para as sedes dos municípios de Bujaru e Concórdia ou

para a cidade de Belém. Nestes espaços, a beira da estrada, se observa junto a casa uma

pequena produção de mandioca, milho e outros produtos típicos da lavoura branca.

Observamos que a presença da empresa pressiona duplamente a comunidade. Pressão

física e pressão psicológica: física pela forma como os canteiros de produção do dendê

estão dispostos, muitas vezes intercalados, cortando roças, casas e quintais, impedindo a

perambulação de animais e pessoas. Psicológica, por impor aos camponeses o ronco dos

motores dos maquinários, a presença de estranhos e maquinários que adentram os lotes

vizinhos da empresa e o cotidiano das famílias.

Dois camponeses moradores da comunidade e entrevistados em agosto de 2010,

caracterizam bem a percepção e a afinidade dos moradores da comunidade com relação

a empresa: Seu Zé, e seu Boa 12. O primeiro vendeu o lote localizado no “centro”, área

mais distante da rodovia e se mudou com a família para um lote que possuía na beira da

estrada, onde plantava pimenta do reino e cultivava espécies de grande valor comercial.

Observamos que tanto a casa quanto o quintal de seu Boa pareciam uma continuação da

área sob o domínio da Biovale. Assim seu Boa e sua família conviviam diariamente

com os funcionários de uma empresa terceirizada que prestava serviços a esta empresa e

seus maquinários. Além disso, depois de longa conversa soubemos que seu Boa alugou

sua casa de moradia, para tal empresa e morava temporariamente em “um barraco”,

como denominado por ele.

Apesar dessa relação, de certa forma, estreitada de seu Boa com a Biovale, este

afirmava que só havia vendido parte de suas terras por que tinha um “outro canto para

morar13”, e que não se imaginava vivendo de outra forma que não fosse na terra. “(...)

Essa foi uma forma que encontrei para ganhar um dinheirinho, e pode continuar com a

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minha produção, criação (..) muitos dos seus conhecidos que venderam suas terras se

arrependera, mas não tinha mas como voltar atrás”, destaca seu Boa.

Já Seu Zé Maria, morador a mais de 30 anos da comunidade, trabalha com uma filha e

alguns trabalhadores que contrata no período da capina da roça e da colheita da pimenta.

Refere-se a chegada da empresa como um momento de tristeza porque observa que não

há nenhum investimento no pequeno produtor. Tamo aqui abandonado a mais de 30 anos, e agora a gente vê o governo investindo pesado nessa empresa que ta aqui. Já cansei de distribuir ou ve estragar minha colheita porque não tem transporte, o preço do transporte não me deixa levar o produto para a cidade, e agora ta todo mundo acreditando que vendendo ou plantando dendê a gente vai melhorar de vida. Me da uma tristeza em saber que a gente não tem com quem contar, só posso contar comigo mesmo. Vai chegar a hora que a gente não vai te o que comer. Quem vendeu a terra vai come o que? Daqui a pouco o projeto acaba a empresa vai embora e ninguém vai lembrar da gente que fica aqui14.

E continua, O certo era o governo investir no pequeno que ta aqui, que produz pra gente come. Tô vendo o dia que não vai ter mais mandioca. Aqui só alguma família não compra o que podia produzir. Só sei que é que tem muita gente vendendo terra, mais tarde vai sofrer, vai chorar15.

Tanto seu Boa, quanto seu Zé Maria relacionam a chegada da Biovale na comunidade

com a corrida por terra, e a possibilidade da escassez. “(...) quase todo dia vinha

alguém aqui, encostava o carro e ficava falando do preço da terra e se a gente não queria

vender”, destaca seu Boa.

Elias (2010, p. 13) sinaliza que a territorialização do grande capital no campo, através

da introdução das empresas associadas a conglomerados nacionais e internacionais,

tendem a produzir única e exclusivamente para atender as necessidades do mercado

globalizado. Esta produção, por sua vez, se associa a uma nova dinâmica do mercado

de terras, caracterizada pela concentração fundiária e direcionamento da produção para

os agrocombustíveis, afetando com isso a soberania alimentar. Ainda segundo Elias,

Isto se torna mais grave, “quando a ação do Estado se dá de maneira passiva”, não

agindo imediatamente corrigindo.

Verificamos que a relação entre os camponeses da comunidade e a Biovale limita-se ao

fornecimento de mão de obra para as empresas terceirizadas (abertura de ramais e

estradas, limpeza de terrenos para o plantio, motoristas, e canteiros de produção da

própria empresa). Soubemos em campo, realizado em abril de 2012 que apenas duas

unidades camponesas estavam envolvidas diretamente com a produção do dendê, o que

não se confirmou em visita posterior (junho 2012) a comunidade.

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Desta forma, somos induzidos a pensar que não ha por parte da empresa interesse em

inserir a produção do dendê nas pequenas propriedades, o que é facilmente perceptível

pelo montante de terras adquiridas pela empresa nos Pólos de Concórdia do Pará e de

Tomé-Açu. Assim, parece-nos “que a agricultura familiar vem sendo utilizada muito

mais para dar legitimidade ao programa através da distribuição de certificados de

combustível social”, do que propriamente garantir renda as famílias camponesas

(ELIAS, 2011, p. 16).

De certo modo, ora a produção do dendê impõe uma submissão total aos agricultores,

possibilitando apenas a sua reprodução simples; ora nega-o, inviabilizando ou omitindo-

se da sua participação direta na produção. De todo modo, a inserção dos camponeses na

cadeia produtiva do biodiesel o coloca em condição marginal e subordinação. Esta

relação assimétrica entre empresas nacionais e multinacionais e a agricultura familiar,

“não passaria de um engodo e tem, entre suas consequências, a ampliação da hegemonia

do capital monopolista nas áreas rurais” (ELIAS, 2011, p. 17, 78).

Para Aracri (2011, p.77), Devemos situar a produção a produção de combustíveis agrocarburantes, no processo de expansão, nas diversas escalas, do modelo agrário consagrado pelo sistema econômico contemporâneo, a monocultura, defendida por certos atores hegemônicos como resposta a uma dup0la exigência: a necessidade de uma produção aumentada e mais eficaz para atender os processos de transformação e uniformização dos hábitos alimentares (...) e o fornecimento de matérias primas para a indústria não alimentícia, incluindo a de combustíveis verdes.

Na mesma proporção em que a Biovale expande sua área de cultivo, minimiza a

importância da inserção dos camponeses na produção do dendê. Contudo, sua presença

é sentida nas comunidades através da sua força como agente modeladora da paisagem.

Recentemente (inicio de 2012) a empresa abriu um ramal de aproximadamente 15 Km

que liga a PA 140 ( km 39) a beira do Rio, comunidade conhecida como Foz do Cravo.

Os questionamentos mais recorrente entre os moradores das comunidades que foram

cortadas pela estrada da Vale (como ficou conhecida), refere-se a intenção desta

companhia com relação ao uso desses territórios.

Dentre as questões apresentadas pelos moradores de Nova Esperança, destaca-se a

concentração de terras; a exploração do trabalho, e a poluição dos rios e igarapés pelos

insumos e agrotóxicos utilizados na lavoura do dendê.

Em fins do ano de 2009, a possibilidade de trabalho assalariado despertou o interesse de

muitos jovens da comunidade, levando muitos deles a se candidatarem a uma das

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vagas16 oferecidas pela Biovale. Contudo, hoje (junho de 2012), o número de

trabalhadores da comunidade nesta empresa é reduzido a quatro pessoas.

Em conversa com um desses trabalhadores, soubemos que: Eu pensava outra coisa, achei que empregado eu ia mudar de vida, melhorar de vida, mas eu acho que eu fiquei pior. Porque eu deixei as minhas coisas achando que is melhorar e fui lá trabalhar nas coisa dos outros. Quase perdi a minha roça, graças a Deus a mamãe e a minha mulher dero conta, se não ainda tinha perdido a roça. Aquilo é que é exploração! No papel diz uma coisa quando a gente ia receber era outra. A gente ganhava um tanto, mas só chegava um tanto menor na nossa mão. Aquilo é escravidão. Trabalho de sol a sol e no final do mês era um dinheirinho. É melhor pegar sol na cabeça e trabalhar na terra da gente, porque a gente sabe que é nossa. Agora aquilo, não é meu , não é pra mim pra minha família. Me arrependi de deixar meu roçado pra me meter lá na Bioplama, mas eu pensei que era uma coisa e era outra (O.M. 39 anos em entrevista realizada em dezembro de 200917).

A perspectiva do emprego formal, pareceu num primeiro momento como uma

possibilidade de melhoria de vida tal como apresentado no relato de seu O.M,

permitindo o acesso a bens não produzidos na comunidade tais como eletrodomésticos,

peças do vestuário, material de construção e outros. Contudo, o trabalho assalariado, os

colocou “na condição de escravos”, de acordo com o excerto acima. O trabalho fora da

terra não se traduziu em trabalho fácil de ganhos abundantes, pelo contrário, o trabalho

para outrem, se traduziu na perda da liberdade e na exploração, uma vez que “tinha hora

para entrar, mas não tinha hora para sair”.

Para este camponês, a referência ao “trabalho de sol a sol”, está relacionado a perda do

controle de seu tempo, uma vez que o tempo da empresa é o tempo regulado pelo “(...)

mundo dos relógios que controlam os horários da produção, o cartão de ponto, a

fiscalização da produção no ambiente de trabalho” (COSTA & MACEDO, 2010, p.114).

Da mesma forma, seu descontentamento com relação ao salário, uma vez que “(...) a gente

ganhava um tanto, mas só chegava um tanto menor na nossa mão (...)”, o que se choca com

a expectativa de ganhos sem pagamento prévio de impostos no trabalho da lavoura.

Trabalhar na própria terra significa ter liberdade e autonomia. Liberdade para dispor de

tempo maleável, enquanto que a autonomia está relacionada ao controle total do

processo de trabalho na terra, “o que significa ser senhor do seu próprio tempo e próprio

espaço”. Essa liberdade de não ter patrão é que vai definir o ritmo do tempo na

propriedade camponesa (BOMBARDI, 2004, p.200).

O ritmo de trabalho na Biovale, assim como as histórias introduzidas na comunidade

pelos empregados dali oriundos, contribuíram de certa forma para que o interesse por tal

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emprego fosse se diluindo sob uma percepção, de trabalho penoso e difícil, “trabalho

duro, de sol a sol” que acabou arrefecendo os ânimos daqueles que desejassem se

“aventurar”, a “ser fichado”, ou seja, ser contratado de carteira assinada, por aquela

empresa.

Considerações finais Observamos que o incentivo à expansão da produção do dendê na Amazônia e em

especial no Nordeste Paraense se assenta em velhas práticas materializadas na

supremacia do grande capital e sua dinâmica específica de uso do território. Assim, se

reproduz a exclusão e ou submissão do camponês em meio ao fortalecimento das redes

do agronegócio. Tudo indica que os territórios da produção de agrocombustíveis se

mostram como novos territórios de exclusão e de reprodução das desigualdades sócio-

territoriais contribuindo para a expansão do latifúndio e expulsão do homem do campo

(Oliveira, 2010).

Contudo, em meio ao mercado de terras que se forjou na região com a introdução do

agrocombustivel do dendê, da expulsão dos camponeses, dos problemas ambientais

decorrentes da contaminação da água pelos insumos e agrotóxicos e do trabalho duro e

penoso nas plantações de dendê, tem se forjado estratégia de manutenção da unidade

camponesa. Destaca-se aqui, o trabalho acessório, a produção dos quintais a margem da

rodovia e sua diversificação.

Notas 1 Neste momento, o plantio somava 3.000 hectares, sendo inicialmente plantados 1.500 hectares no Município de Benevides e 1.500 hectares plantados em núcleos pilotos de pequenos produtores residentes em áreas próximas a sede do projeto. 2 Ver SANTOS, M. A.S e D’AVILA, J.L. Cenários o agronegócio na Amazônia: o caso da dendeicultura. In: “Comportamento do Mercado do óleo de palma no Brasil”. Material mimeografado. Estudos especiais do Basa. 3 A partir da década de 1980 a produção passou a apresentar crescimento expressivo, estimulada por novos projetos que expandiram a área plantada, principalmente, no Estado do Pará, que atualmente, já concentra cerca de 70% da área cultivada com dendê no Brasil, além de inúmeras agroindústrias em processamento. (SANTOS E D’AVILA). Em 1980 o estado lançou o Programa Nacional de Pesquisa do Dendê- PNP-DENDE e em 1982 criou o Programa Nacional para o Dendê (PRONADEM). 4 Empresas produtoras de dendê no Estado do Pará: CRAI-AGROPALMA-AGROPAR, DENPASA, COACARA, CODENPA, DENTAUA, PALMASA, MARBORGES-RMA,MOEMA, BIOVALE e etc. 5 De modo geral a produção do dendê até a década de 1990 esteve direcionada para agroindústria alimentar. 6 No Brasil há as seguintes espécies vegetais que podem ser utilizadas: soja, girassol, amendoim, mamona, dendê (palma), babaçu, pinhão manso e naboforrageiro. Segundo a Lei no. 11.097, de 13 de

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janeiro de 2005, biodiesel é um bicombustível derivado da biomassa renovável para uso em motores em combustão interna com ignição por compreensão, ou conforme regulamento para geração de outro tipo de energia , que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil (Oliveira, 2011,49). 7 A comunidade Nova Esperança localiza-se ao longo da PA 140, entre os quilômetros 39 e o 42, sentido Concórdia, distando 31 km desta cidade. Sua via de acesso é a PA 140. Limita com as comunidades Curuperezinho, Nova Timboteua, Perpétuo Socorro e Arapiranga. Suas terras estão localizadas na gleba Bujaru, ao lado esquerdo da rodovia, e na gleba Araxiteua, lado direito, sentido Concórdia. As moradias estão em grande parte situadas às margens da rodovia, e as demais em três vicinais. Possui um núcleo, também chamado arraial, no km 40, onde está a igreja que está sendo construída em alvenaria; a igreja em madeira; a quadra de areia bem em frente à igreja; um posto médico recém-construído, e três casas da família antiga dona das terras onde fica o arraial e que foram doadas para a igreja (no papel) (Santana, 2010). 8 Ver Santana (2010). 9 A produção de dende no Estado está concentrada em 3 polos que abrangem nove municípios: Moju, Tailândia, Acará, Tomé-Açu, Bonito, Igarapé-Açu, Santo Antônio de Tauá, Santa Izabel do Pará e Castanhal. Quase toda a produção é destinada à indústria de alimentos, embora hoje o mercado de combustíveis seja forte atração. 10 Ver BECKER, 2010. http://confins.revues.org/6609. Recuperação de áreas desflorestadas da Amazônia: será pertinente o cultivo da palma de óleo (Dendê)? 11 São elas: Novacon Reflorestadora Indústria e Comércio de Madeiras LTDA, Consórcio Brasileiro de Produção de òleo de Palma(BIOVALE), agroindústria Palmasa S/A, Dendê do Tauá-Dentauá, Dende do Pará S/A, Denpasa, Galp energia, Portugal, Marborges Agroindustria S/A e Petrobrás Combustivel. 12 Ao longo do texto utilizarei as formas de tratamento local. 13 Entrevista realizada em agosto de 2010. 14 Entrevista realizada em agosto de 2010. 15 Idem. 16 As informações sobre o número de trabalhadores da comunidade contratados pela Biopalma é muito impreciso. Soubemos em campo que grande parte dos contratos foram de períodos pequenos (em sua maioria menor que os 3 meses de experiência) além disso, não tivemos acesso aos dados da empresa, ficamos apenas com as conversas informais e as entrevistas realizadas com dois desses trabalhadores. 17 A pedido do entrevistado utilizo apenas as iniciais de seu nome para identificá-lo. Referências ARACRI, l. A. S. & BERNARDES, J. A. Novas fronteiras do biodiesel na Amazônia. Rio de Janeiro. Arquimedes Ed/CNPQ/UFRJ: 2011. BECKER, B. Amazônia. Rio de Janeiro. Ática: 1999. __________. Amazônia: geopolítica na virada do III milênio. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. __________. Recuperação de áreas desflorestadas da Amazônia: será pertinente o cultivo da Palma de óleo (Dende).In:Confins 10/2010: número 10. BOMBARDI, L. M. O Bairro reforma agrária e o processo de territorialização camponesa. São Paulo: Annablume, 2004. CAFEZEIRO, M. L. O programa selo combustível social no coração do agronegócio brasileiro: primeiras reflexões. In: ARACRI, l. A. S. & BERNARDES, J. A. Novas

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