a afrocentricidade como um novo paradigma

Upload: o-alquimista-de-chad

Post on 14-Jul-2015

329 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 5/12/2018 A Afrocentricidade Como Um Novo Paradigma

    1/8

    * MOLllFI KllTIl ASANTll *disclplina dedicada a renascence do mundo africano. Assirn, nao e urnadernanda geografricamente especffica, mas urn desafio de ambito mun-dial para os povos de ascendencia africana,

    Por fim, a afrocentrlcidade, como geradora dinamica da disciplinaafrologica, possivelmente nos ajudara a corrigir muitos enos em nossasanaltses e a superar todas as visoes distorcidas e brutalizadas de nOssapropria libertacao, Comecando por nossos sonhos de urn mundo ondepode ocorrer a transicao dos povos africanos de uma consciencta dese-quilibrada (off-centered) a uma consciencia plenamente centrada, rea-firmaremos nossa devocao e dedlcacao ao trabalho intelectual no inte-resse da humanidade,

    NOTAS

    1 1 Neste livro, 0 termo "africano" se refere aos afrndescendentes no contlnente afr i-cane e r ia dlaspora em todo 0mundo. [Nota da.organizadora.]

    21 "Gluon" e urn termo emprestado da ffs ica qull .ntica. Compos to de duas palavrasde lingua Inglesa, glue (verbo "colar"] e on (junto], refere-se a particulas elements-res que promovem a interacao entre os quarks. Essas particulas sa o indiretamenteresponsavels pela jun

  • 5/12/2018 A Afrocentricidade Como Um Novo Paradigma

    2/8

    "" AMA MAZA~IA ""

    brancos em todo 0plan eta. A supremacia branca tarnbem pode ser urnprocesso social e econ6mico pelo qual milh6es perdem a soberania,muitas vezes em sua propria terra, sendo seus "recursos" (por exemplo,terra e trabalho) apropriados pe\os europeus em funcao dos interessesdestes, Mas a supremacia branca tambern pode ser urn processo men-tal, mediante a ocupacao do espalfo psicologico e intelectual dos quedevem ser subrnetidos, levando ao que Wade Nobles denominou, deforma certelra, "encarceramento mental" A tomada do espaco mentalafticano ocorre par meio do disfarce de ideias, teorias e conceitos eu-ropeus como universals, normais e naturais. Todos sao "etnicos" menosos europeus. Mas essa aceitacao nao questionada da Europa como nor-mativa e altamente problernatica para os africanos. Com efeito, a Europaforjou grande parte de sua identidade moderna a custa dos african os ,particularmente por meio da construcao da imagem do europeu como 0mais civilizado e do africano como seu espelho negativo, isto e , como pri-mitivo, supersticioso, lnclvilizado, alstorico e assim par diante.

    Quatro grandes visoes forarn apresentadas durante 0 Iiuminismo. Aprimeira foi a de que a vida mental dos nao-brancos [sic], especial-mente dos indios e africanns.e significativamente diferente da dosbrancos (Hurne, Lineu etc.). A segunda foi a de que ser nao-branco[sic] e sinal de doenca, mas, devido a fatores ambientais lamentaveis,algumas pessoas perderam sua brancura e, com ela, parte de sua na-tureza humana (Buffon, Blumenbach etc.). Uma terceira teoria era ade que alguns seres que pare cern humanos realmente nao 0 sao, es-tando na parte inferior da grande cadeia do ser e representando urnelo entre 0 hornem e os simios (Edward Long). E a quarta teoria eraa de que houve diferentes criacdes da humanidade, sendo a cauca-siana a melhor: as outras, as criacoes pre-adamaticas, jamais conti-veram a substaneia dos homens genuinos. (Popkin, 1973, p.247)

    Embora tais teorias possam nao ser discutidas em publico - pelo menosabertamente -,0mesmo olhar ainda orienta a atual designacao dos pai-ses e povos africanos como "em desenvolvimento" ou "em progresso" eassim POI diante, enquanto a Europa lidera e 0 resto do mundo deve se-

    112

    * A AFROCJ

  • 5/12/2018 A Afrocentricidade Como Um Novo Paradigma

    3/8

    *

  • 5/12/2018 A Afrocentricidade Como Um Novo Paradigma

    4/8

    ... AMA MAZAMA . ..

    sol que teve algo construtivo a dizer sobre 0 povo africa no e , entao, in-formalmente rotulada de afrocentrica, desde David Walker ate KwameNkrumah. Nao obstante, e multo facil entender por que essa posi

  • 5/12/2018 A Afrocentricidade Como Um Novo Paradigma

    5/8

    * AM/\ MAZAMA *e permanecer cego aos pressupostos eurocentricos, ao metaparadigma,cornpartilhado pelos intelectuais europeus em virtude de terem nascidona cultura, na hist6ria e na ancestralidade europeias.

    E o verdade, porern, que grande parte daquilo que passa por EstudosAfro-Amerlcanos nao e outra coisa que estudos europeus sobre a Africaall os africanos, Tal confusaoe usurpacao tornaram-se possfveis devido aacaitacao sem questionamento da perspectiva europeia como universal.Tarnbem apontam para 0 fato de que a perspectiva, mats que 0 foco deestudo, e 0 criterio fundamental para localizar urn trabalho particular,o que pode unir os Estudos Afro-Americanos e fazer deles 0que elesafirmam ser, e nao outra coisa qualquer, apesar das diferente areas deinteresse, e 0 foco na experiencia africana com base em uma perspec-tlva africana, ou seja, a afrocentricidade. Qualquer outra coisa, como dizMolefi K.Asante, nao pode ser eharnada de Estudos Afro-Americanos.

    Para evitar a confusao conceitual que cerca os Estudos Afro-Amen-canos, assim como para enfatizar a crucial conexao metaffsica entre 0estudo das vidas africanas e a centrallzacao africana, ou afrocentricl-dade, Asante cunhou 0 termo africalogia, definida como "0estudo afro-centrico dos fenornenos, eventos, ideias e personalidades relacionadosa Africa" (1990, p. 14).

    Num ensaio intitulado "Estudos Afro-Americanos: 0 futuro da dis-ciplina" (2003a, p. 105), Asante discute com detalhe 0 vinculo existenreentre a afrocentricidade e a disciplina Estudos Afro-Americanos. Em-bora os departamentos e programas de Estudos Afro-Arnericanos te-nham se estabelecido no final da decade de 1960, Asante sustenta quea chamada discipline de Estudos Afro-Americanos esta intimamente li-gada ao desenvolvimento da afrocentricidade e ao estabelecimento doprogram a de doutoramento da Temple, 0 primeiro prograrna de Ph.D.em Estudos Afro-Americanos nos Estados Unidos, no final dos anos1980. A afrocentricidade contribuiu para os Estudos Afro-Americanoscom a perspectiva, as teorias e os metodos que a definem como urnadisciplina, a africalogia, enquanto 0 programa de doutorado da Tem-ple permitiu seu desenvolvimento: "0 simples estudo dos fen6menosafricanos nao e africalogia, mas outro empreendimento tntelectual" es-creve Asante (2003a, p. 105). A afrocentricidade, explica ele, e baseada

    120

    * A AJ'ROCENTRICIDADIl COMO Ullt NOVO PARADIGM/\ *na Ideia da centralidade da experiencia africana para os africanos. Terncoma foco os africanos como sujeitos, e nao como objetos definidos defora por supremacistas brancos. Dentro da africalogia, devern-se discu-tir assuntos pertinentes a cosmologia, epistemologia, axiologia e ests.rica africanas. AMm disso, seguindo Karenga, Asante identifica os setecampOS tematicas da africalogia (comunicativo, social, hist6rico, cultu-ral, politico, econornico e psicol6gico) e reconhece tres abordagens pos-sfveis (funcionai, categ6rica e etimoI6gica). Nem e preciso dizer que aafricalogia se acupa de todo 0mundo africa no, ou seja, e pan-africanaem seu escopo. Uma aplicacao concreta desses preceitos se encontranos programas de mestrado e doutorado da Temple, em que os docentesafrocentricos cometeram "sulctdio disciplinar" e os estudantes podemescolher entre dois campos de estudo, 0 da estetica cultural (que com-preende 0 estudo da etica, da hist6ria, dos temas e rnodelos esteticos,entre outros) e 0 do cornportamenro social (que lida, por exernplo, comreiacionamentos , raca, classe, genero, e assim par diante). Asante con-clui sugerindo que a africalogia como disciplina, ou seja, como urn em-preendimento fundamentalmente intelectual, esta aberta a todos quepossam cornpartilhar de sua perspectiva e metodologia.

    E , portanto, no contexto da africalogia que se deve conceber 0 as-pecto sociol6gico do paradigma afrocentrico. As dirnensoes metaffsicase sociol6gicas estao profundamente interligadas, como fica explicito nasseguintes declaracces de Asante: "Como disciplina, a africalogia e sus-tentada pelo compromisso de centrar 0estudo dos fen6menos e even-tos africanos na voz cultural particular do conjunto de povos african os"(1990 p 12)' "0 t . ianifi I,. , cen nsmo, que signr ca p antar a observacao e 0 com-POrtamento nas experiencias historicas proprias, modela os conceitos,os paradigmas, as teorias e os rnetodos da africalogia" (1990, p. 12).

    APARATO CONCE .. ~_ ITUAL DO PARADIGMA AFROCENTRICO

    as conceitos-chave em q b .' .._ue se aseiam os afrtcalogistas sao os seguin-tes: centro, localiza9ao I dd ' ugar, eslocamento e realocacao, 0 conceitoe centro (tambem localiza Ii I )f 0 ugar ocupa, como se poderia esperar,

    121

  • 5/12/2018 A Afrocentricidade Como Um Novo Paradigma

    6/8

    * AMA MAZAMA *urna posicao fundamental no aparato conceitual afrocentnco, Baseia-seessencialmente na conviccao de que a hist6ria, a cultura e a ancestraIi_dade determinam nossa identidade. Esta, por sua vez, determina nos alocalizacao, nosso centro, no so lugar na vida, tanto material quantaespiritual. Conceber-se de uma forma compatfvel com sua hist6ria,cultura e ancestralidade e esrar centrado, ou proceder a partir de seucentro. Por outro lado, 0 deslocamento ocorre quando alguern apreendea realidade pelo centro de outro grupo. Por exemplo, nao e incomumque africanos da diaspora viajem para a Europa como se tivessem umaconexao cultural e historica especial com esse lugar, enquanto viajarpara a Africa nao Ihes ocorre sequer como opcao, muito meno comoImperative, Embora seja razoavel que os descendentes de europeus te-nham uma ligacao especial com a Europa, com base em sua realidadehistorica, cultural e ancestral , tal l igacao e altamente problematica paraos africanos, ilustrando muito bern 0 que significa deslocamento. Talcomportamento s6 dernonstra a aceltacao da Europa como centro domundo, e as implicacces dessa aceitacao vao multo alern do mero as-pecto fisico de uma viagem a esse continente. Pols, embora os africanospossam voltar fisicamente da Europa, a verda de e que sua psique aindaniio voltou para 0seu lar; a Africa. A realocacao ainda esta para ocorrer.

    N6s africalogistas frequentemente usamos outros terrnos, comovisiio de mundo, cosmologia, axiologia, estetica e epistemologia, emnossa tentativa de delinear de modo consciente e preciso os contornosmetaffsicos do paradigma afrocentrico e da visao de mundo africana emque ele se baseia,

    EPISTEMOLOGIA, METODOLOGIAE METODOS AFROCENTRICOS

    E inegavel que rnetodos e metodologias derivam de determinado pa-radigma e par ele sao orientados. A metodologia e os metodos afro-centricos niio sao excecao, A literatura examinada para este ensaiO(Akbar, Myers, Harris e Asante) revela 0 seguinte consenso: a visao demundo de urn povo deterrnina 0que constitui problema para ele, alem

    122

    * A AFROCE!IITRlCIOADE COMQ UM NOVO PAIlADIGMA *resolve seus problemas. Em resultado, a produyao acadernicade como . . ., rrlca deve refletir a onrologia, a cosmologia, a axiologia a es-~oan . . '" e assim por diante, do povo africano: deve estar centrada emteOca, Aas experimcias. A essencra da VIda, e portanro dos seres humano ,

    :uespiritual. Isso nao ~ig~ifica ~egar 0aspecto material da vida; entre-nta, quando tudo foi dito e teito, 0 que permanece nao e a aparencia

    :as coisas, mas a essencia lnvisfvel que permeia tudo que 13,0 espfrito,a derradeira unidade com a natureza, a lnterconexao fundamental detodas as coisas. Portanto, as rnetodos afrocentricos, assirn como 0co-nhecimento afrocentricamente gerado, devern refletir a primazia doespiritual, a rela

  • 5/12/2018 A Afrocentricidade Como Um Novo Paradigma

    7/8

    * AMA MAZAMII. . .Os metodos usados pelos afrologistas variam, dependendo do seu

    topico particular de estudo. Entretanto os metodos afrol6gicos arquite_tados por intelectuais particulates devem ser orientados pelos princL-pios delineados anteriormente.

    TEORIAS AFROCBNTRICASHa uma multiplicidade de teorias afrocentrlcas aplicadas a uma amplegama de topicos. Isso nao surpreende, ja que, como expusemos ante-riormente, os Estudos Africanos sao devotados a todos os aspectos davida. Aseguir fazemos uma revisao dessas teorias afrocentrtcas.

    Clenora Hudson-Weemse Nah Dove fizeram contrtbulcoes parti-cularmente uteis ao discurso afrocentrico sobre mulheres e homensafricanos. Clenora Hudson-Weems (1993, 2004) cunhou 0 terrno "rnu-lherismo Africana". em 1987, depois de perceber a total inadequacaodo feminismo e das teorias semelhantes (por exernplo, feminismo ne-gro, mulherismo, mulherismo negro) em apreender a realidade dasmulheres africanas e, sobretudo, proporcionar-lhes os meios de alteraressa realidade, Os problemas com a adocao do ferninismo par mulheresafricanas tern duas dimensoes. Em primeiro lugar, 0 feminismo e fun-damentalrnente urn fenomeno europeu. Como tal,esta carregado deprincipios metafisicos europe us, tais como a relacao conflituosa entreos generos, em que os hornens sao vistos como inimigos das mulheres.Em segundo lugar, 0 feminismo, tal como se desenvolveu na decada de1880, era francamente racists. Por essas razoes, afirma Hudson- Weems,o feminismo nao reflete nem pode refletir as crencas ou as interessesdas mulheres africanas. Em particular, ela assinala que as mulheres afri-canas nao percebem os homens african os como inimigos, Nem seria in-teressante para n6s, comopovo, que nos permitissemos dividir segundoa linha de genero enquanto vivemos em uma sociedade altamente ra-cializada e racists. No lugar do feminismo, Hudson-Weems demandaurn mulherismo Africana "al icercado na cultura africana e, portanro,enraizado em experiencias, lutas, necessidades e desejos singularesdas rnulhetes africanas" (p. 158). Hudson-Weems afirma corretamente

    124

    . .. A AFROCENTRICIDADE COMO Ul\I NOVO PAItADIGMA *ue a coopera~ao de homens e rnulheres africanos Contra a suprema-

    ;ia branca e necessaria para a sobrevivencia eo bern-estar do povo afrl-cano. 0 termo "mulherisrno Africana" constitui, em slmesrno, urn pri-meiro passe para nos definirmos e estabelecermos objetivos que sejarncompatfveis com nossa cultura e nossa historia, Em outras palavras, e 0primeiro passo para existirrnos em nossos.praprios termos, .

    A pl'eocupal;ao de Nah Dove com a VIda das rnulheres afncanas, ea abordagem que faz delas, e muito sernelhante a de Clenora Hudson-_Weems. Com efeito, em seu artigo intitulado "Definindo a reoria rnu-lherista afrtcana" Nah Dove (2003) afirrna que so no contexto da supre-macia branca e de seus sustentaculos culturais podemos compreendero desdno enfrentado pelas mulheres africanas nas socledades ociden-tais. Dove dedica particular atencao a analise dos dois bercos, de CheikhAnta Diop, aplicando-a ao tratamento duro e humilhante que as mu-lheres recebem nas sociedades dorninadas pelo Ocidente. Comefeito,Dove aponta os vtnculos entre esse tratamento e as poderosas correntespatriarcals e xenof6bicas que tern caracterizado desde 0 inicio a cultura~cidental. Dove destaca corretamente as grandes conrribuicoes que asmulheres africanas dao ao bem-estar do seu povo, desde a antiguidadeate os dtas atuais, como guerreiras e rnaes, A cultura africana constroisuas relacoes de genero com enfase na complementaridade, e nao noconflito, entre homens e mulheres. 0que faz 0homem e a mulher; darnesrna forma que 0 que faz a mulhere 0 homem. Apreclar e compre-ender essa complementaridade esta na raiz de qualquer teoria que tratedas muIheres africanas segundo 0 paradigma afrocentrico. Alias, essaabordagem nao e apenas coerente com a cultura africana, mas tambemUrn ato de resistencia as tentativas da suprema cia branca de destntegrare dividir ainda mais a cornunidade africana.

    Para concluir, creio que sera util revisitar 0 trabalho teor ico de doisimportantes intelectuais afrocentncos, Shujaa e Hilliard, na area crfticada educa~ao. 0proposito e a forma da educacao constituem uma prio-ridade do paradigma afrocentrico em razao de seu potenciallibertador.Estabelecendo uma distlncao bastante util entre educacao e escolari-dade, Mwalimu Shujaa (1995) afirma que a educacao e urn imperativocultural para as africanos nos Estados Unidos. Enquanto 0 principal

    125

  • 5/12/2018 A Afrocentricidade Como Um Novo Paradigma

    8/8

    * MA MAZAMA *prop6sito da escolaridade e 0 controle social, juntamente com are.producao da hegemonia do segmento populacional dominante eurn,-norte-americano sobre a sociedade, a educacao assegura a transmis.sao a geracao eguinte de valores e atitudes que reflitam a cultura de de-terminado grupo. Com esse e tado de coisas, e clare que os africanosque frequentarn as escolas publlcas eurc-norte-americanas nao estaoadquirindo "educacao" nem devem esperar se educar, ja que recebemuma quantidade enorme de imagens negatives e debilitantes de si me _mos. Em resultado, multos de nos se comportam como "idiotas inst rul.dos" incapazes de dar qualquer contribuicao que seja a nossa cornum.dade, aderindo a ordem europeia individualis ta, mater ialista e racist a,

    As reformas educacionais nao conseguem melhorar essa realidade,pois 0 que se questiona nao e 0sistema opressivo, mas suas modalida-des de operacao. Shujaa sustenta que, em ultima instancia, e respon-sabilidade das famflias encarregar-se da educacao de seus [ovens, prl-meiro avaliando 0 conteudo cultural que deve ser transmitido e depoiscriando os caminhos adequados, se necessano, para passar 0 conhe-cimento as criancas. Shujaa acredita que apenas escolas afrocentricasindependentes poderiam ter condicoes de nutrir e reforcar a orienta-cao dos estudantes africanos, permitindo assim que eles conhecarn asi mesmos, compreendam os mecanismos pelos quais se perpetua aopressao e trabalhern para destrul-los,

    Entendendo a Importancia do passado africano para 0 nosso pre-sente eo nosso futuro, Asa Hill iard III (2002) conduziu urn estudo muitouti! da educacao no Antigo Egito. Embora sua pesquisa tenha sldo obs-truida peJa destruicao dos textos, ass irn como pelo sigilo que cercava 0processo educacional no Kemet, mesmo assim sua jornada foi frutlfera.Hilliard comeca afirmando e estabelecendo a existencia de tradi(fi'iOafricana muito grande e antiga (inclusive anterior ao Kemet), responsa -vel pelo desenvolvimento de uma visao de mundo particular, especificae comum aos africanos ate os dias de hoje. Nao podemos compreendera educacao no Kemet fora do contexto da visao de mundo africano-k~-metica. Com efeito, 0objetivo ultimo da educacao e experimentar a un!-dade com Deus, tornar-se urn com Ma'at. Isso seria alcancado mediante. mo 0 de-a unidade da pessoa com 0grupo e com a natureza, assim co

    126

    * AAFROCE TIlJCIDADE COMO UMNOVO PARADIGMA *envolvimento da responsabili~ade s.oci.al,do carater social e do poderspiritual. A inicial;ao era de pmnordialllnportAncia, mas 0processo de

    e '0 e aprendizado era abrangente, lnterativo e coletivo tendo Ingarenslll .. . 'nun1 ambiente que ref letia e transmtna a cultura integral dos africanos.Hil liard sugere que, na medida em que os africanos procuram se educarde maneira adequada, permitem que a tradicao africana seja seu guia.

    CONSIDERAC;:OES FINAlS

    Ao abordar a crise criada para os africanos pela suprernacia branca, for-necendo urn corretivo na forma de uma realocacao conceitual e cultural,oparadigma afrocentrico busca redefinir nossas prior idades de estudo epe quisa e, de modo mais geral, nossas opcoes de vida, de rnaneiras quenos beneficiem. Devemos lembrar que 0 prop6sito final da afrocentrici-dade e a libertacao dos african os. 0 que se necessita urgentemente e deurn espaco seguro e conceitualmente estavel , que, afirmam os afrocen-tr istas, deve besear-se nas melhores e mais ant igas t radicoes africanas eser ativado por uma vitoriosa consciencia africana.

    NOTA

    1, "Empoderam to" d . .. . en 0, erivado do mgli!s empowerment, e terrno que surgtu na soclo-lagla, ria DSlcolagia e . . I. . no servico socia com refersncta a pessoas e populacoes dis-cnmmadas ( rnulh .M"d d eres, mmgenas, afrodescendentes, pessoas portadoras de neces-SI a es espe . . )ld ciars ou pertencentes a grupos tradicionalrnente excluidos do padraoOCI ental do chamad" I" /I "ber c . . 0 norma . Empoderarnento se refere ao processo de perce-fltlC3ll1ente0disc d dl .. - .Pr6pr .. d. urso a rscnmrnaeao sofrida: reconhecer-se e a ssumlr sua(aI entidade co. . . .a aUloesti rno peltencente ao grupo discnminado: embasar e consolidarrna necessaria para to . . . .criminac;- fr o rnar-se protagomsta da preprla VIda, apesar da dis-ao so Ida Esse pr . ifiem rela'"a .. ocesso sign CO l construir e exercer uma forma de poder

    y 0 a SI ruesrno e 11 Vida.

    127